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HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL

FRANCISCO MORATO DE OLIVEIRA

A MANIFESTAÇÃO SIMBÓLICA DA POLARIDADE PUER-SENEX:


Impactos do Mundo Contemporâneo no Fenômeno Psíquico.

JÉSSICA HARUMI ESTEVES

São Paulo
2014
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE- SES -SP COORDENADORIA DE RECURSOS
HUMANOS-CRH GRUPO DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS-
GDRH CENTRO DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS “Dr.
Antonio Guilherme de Souza”
SECRETARIA DE ESTADO DA GESTÃO PÚBLICA FUNDAÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL - PAP

JÉSSICA HARUMI ESTEVES

A MANIFESTAÇÃO SIMBÓLICA DA POLARIDADE PUER-SENEX: Impactos do


Mundo Contemporâneo no Fenômeno Psíquico.

Monografia apresentada ao Programa de


Aprimoramento Profissional - SES-SP, elaborada no
Hospital do Servidor Público Estadual Francisco
Morato de Oliveira/ Psicologia.
Área: Psicologia Clínica.

São Paulo
2014
“E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência”
(Lenine)
Jéssica Harumi Esteves: A manifestação Simbólica da Polaridade Puer-Senex: Impactos do
Mundo Contemporâneo no Fenômeno Psíquico, 2014.
Orientadora: Luciana Venturini Gutierres.

RESUMO

Este trabalho é um estudo teórico-clínico que visa explorar, a partir da visão da


Psicologia Analítica, as possibilidades de manifestação simbólica do arquétipo puer-et-senex no
mundo contemporâneo e o modo que este pode refletir no fenômeno psíquico. Desta forma,
pretende-se verificar, através da bibliografia existente sobre o tema, as possíveis formas de
manifestação nas vivências dos pacientes através de casos clínicos, a fim de compreender a
importância das polaridades puer-et-senex no processo de individuação e o quanto a
unilateridade em um dos pólos pode ser patológica e constituir-se como um obstáculo ao
desenvolvimento psicológico.

Palavras Chave: Psicologia Analítica; Manifestação Simbólica; Arquétipo, Puer-et-Senex;


Mundo contemporâneo; Unilateridade; Processo de individuação.
SUMÁRIO

 
I.   INTRODUÇÃO  .................................................................................................................................................  1  
II.   CONTRIBUIÇÕES  TEÓRICAS  -­‐  A  SOCIEDADE  CONTEMPORÂNEA  E  O  INDIVÍDUO.  ..................  5  
III.   O  ARQUÉTIPO  PUER-­‐ET-­‐SENEX  ..............................................................................................................  9  
IV.   OBJETIVO  ...................................................................................................................................................  14  
V.   MÉTODO  ......................................................................................................................................................  15  
VI.   DESCRIÇÃO  E  ANÁLISE  DOS  CASOS  CLÍNICOS  ................................................................................  17  
CASO CLÍNICO I: A INFLAÇÃO DO PUER  .......................................................................................................................  17  
CASO CLÍNICO II - A UNILATERIDADE DE SENEX  .........................................................................................................  20  
VII.   CONSIDERAÇÕES  FINAIS  ......................................................................................................................  23  
VIII.   REFERÊNCIAS  ........................................................................................................................................  25  
ANEXO  I  .................................................................................................................................................................  27  
1

I. Introdução

"O mundo no qual penetramos pelo nascimento é brutal, cruel e, ao mesmo tempo,
de uma beleza divina. Achar que a vida tem ou não sentido é uma questão de
temperamento. [...] As duas alternativas são provavelmente verdadeiras: a vida tem e
não tem sentido, ou então possui e não possui significado. Espero ansiosamente que
o sentido prevaleça e ganhe a batalha". (Jung, 1986, p.148)

A sociedade contemporânea é marcada por diversas características que dizem respeito,


resumidamente, à aceleração do tempo e ao alto nível de consumo, estas favorecidas pelo
modelo econômico atual e a globalização. Bauman (2001) denomina a época em que vivemos
de "Modernidade Líquida" ao encontrar semelhanças entre características do líquido e o
funcionamento da sociedade, tais como mudanças repentinas e estímulos constantemente
renovados, ou seja, a fluidez presente no nosso dia-a-dia.

O mundo é o ambiente em torno do indivíduo, incluindo a história e a cultura,


composto por dois aspectos: manifesto - consciente e subjacente - inconsciente. (Penna, 2013)
Sobre a inserção do homem no mundo e na história, Hillman (1926) afirma que:

"A psique não está isolada da história, e a psicologia não ocorre apenas numa
pequena sala, entre duas pessoas sentadas em duas poltronas, apartadas da cena
história. [...] E assim como a psique está situada num presente histórico, que tem por
trás raízes de mil árvores ancestrais, também a história tem uma existência
psicológica". (p.15)

Desta maneira, os acontecimentos de uma época não só são perceptíveis externamente,


mas também na vida psíquica e, por isso, a importância da psicologia atentar-se às situações
de seu tempo, já que há um compromisso com o homem, que é necessariamente inserido em
determinada época histórica. Dialogamos com o mundo a todo o momento, porém isto não
necessariamente significa que conseguimos acompanhar essa velocidade intensa proposta pelo
modelo atual de sociedade, nos falta tempo para experimentar todas as possibilidades que este
disponibiliza e, principalmente, para refletir sobre quais realmente nos faz sentido:

"Assim como nós, indivíduos, estamos atados aos fatos de nossas histórias de casos
pessoais por aquilo que lembramos de nossas vidas pessoais, também a nossa cultura
está vivenciada na história do tempo profano. Um vício que exige cada vez mais,
cada vez mais rápido. Muito de nossa inventividade serve meramente pra fazer,
reunir e reproduzir eventos. [...] Precisamos de mais "informação", temos menos
2

tempo a perder." (Hillman, 1926, p.20)

Falta de tempo é uma queixa constante, mas que tempo a mais é esse que estamos
sempre reivindicando? Consideram-se diferentes formas de tempo, o cronológico,
objetivamente medido por diversos instrumentos, conhecido na Mitologia Grega através do
deus Crono; e o "tempo do inesperado, do acaso, do instante certo de se agir diante de uma
abertura, uma oportunidade" (Bernardi, 2008, p.28), tempo experimentado de maneiras
diferentes de acordo com cada indivíduo, o Kairós. Vivencia-se um descompasso
generalizado, entre os tempos, entre "consciente e inconsciente, corpo, natureza, modelo
econômico, emoções e relação eu - outro". (Hirata, 2005)

Sob a visão arquetípica, Hillman (1926) considera o arquétipo puer-et-senex como


expressão humana da vivência do tempo:

"[...] por causa de sua relação específica com o tempo como processo, este
arquétipo específico estará envolvido com o aspecto de processo de qualquer
complexo, com a juventude e a velhice, com os enigmas da lógica ou parte da
personalidade. Senex e puer estão atados à própria natureza do desenvolvimento. [...]
A psique parece ter seu próprio curso, seu próprio tempo. O senex, assim como o
puer, pode aparecer em muitos estágios e fases e influenciar qualquer complexo".
(p.22)

O tempo está indubitavelmente presente em nossas vidas, já que estamos


necessariamente inseridos na história de determinada época. Deste modo, pode influenciar a
vida psíquica de uma maneira geral e também, por ser elemento constituinte da psique, os
complexos. Segundo Jung (1935),

“Um complexo é um aglomerado de associações - espécie de quadro de natureza


psicológica mais ou menos complicada - às vezes de caráter traumático, outras
apenas doloroso e altamente acentuado. [...] Trata-se simplesmente de um assunto
importante, tudo que é acentuadamente sentido torna-se difícil de ser abordado,
porque esses conteúdos encontram-se, de uma forma ou de outra, ligados a reações
fisiológicas [...]” (p.87)

De uma maneira geral, Senex e Puer são associados "às figuras do jovem e velho com
suas diferentes imagens, ações, comportamentos etc.". (Monteiro, 2008, p.12) Jung afirma que
a imagem do mundo transmitida pelo inconsciente é de natureza mitológica (Jung, 1918, p.
27). Este arquétipo, então, é relacionado à Mitologia Grega através de Crono (Senex) e Kairós
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(Puer). O arquétipo tem um caráter dual, forma um par de opostos complementares que
mantém uma relação polar de negociação. Quando há uma cisão, as polaridades se
manifestam de uma maneira considerada negativa, muitas vezes até patológica. A polaridade
Senex, manifesta-se então de uma maneira rígida, com "apego à tradição, à rotina, uma visão
conservadora da vida" (Bernardi, 2008, p.43), não abrindo espaço para o novo. Puer através
de sua irresponsabilidade, impaciência e imediatismo não consegue relacionar-se com o
tempo, não se fixa a lugar nenhum e está em constante transformação.

Para Jung, a psique é “constituída de duas metades incongruentes [consciência e


inconsciente] que juntas, deveriam formar um todo”. (p.285) O processo que possibilita essa
junção dos opostos, que gera um individuum psicológico, uma unidade indivisível, é
denominado processo de individuação.

“Consciência e inconsciente não constituem uma totalidade, quando um é reprimido


pelo outro. Se eles têm de combater-se, que se trate pelo menos de um combate
honesto, com o mesmo direito de ambos os lados. Ambos são aspectos da vida. A
consciência deveria defender sua razão e suas possibilidades de autoproteção, e a
vida caótica do inconsciente também deveria ter a possibilidade de seguir o seu
caminho, na medida em que suportamos. [...] o ferro que padece entre ambos é
forjado num todo indestrutível, isto é, num individuum.” (Jung, 1939, p.286)

Vivemos em meio à rapidez de informações e avanços da tecnologia, ao excesso de


produção e de consumo, ao imediatismo e impaciência, à valorização do novo e descarte do
velho e, principalmente, sujeitos à alta velocidade das transformações. Há, consequentemente,
um nível alto de competição e de exigência em todos os âmbitos que talvez nem seja
humanamente possível ser alcançado.

Observamos, assim, uma crise complexa e multidimensional, cujos efeitos percebemos


em todos os aspectos de nossa vida. Parece-me que o homem contemporâneo está perdido no
tempo, com dificuldades para encontrar-se meio à intensa velocidade e às constantes
transformações. Com a tendência de agarrar-se a uma identidade unilateral, se esquece que
não somos somente intelecto, mas corpo, alma e espírito; que não atendemos somente às
expectativas da sociedade e do mundo externo, mas vivenciamos ao longo da vida inteira um
processo de desenvolvimento psíquico, o processo individuação.

Nosso progresso unilateral diz respeito a questões materiais e racionais deixando fora
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de foco o irracional, o inconsciente. Sentimos o efeito dessa divisão que perpassa toda a
cultura, em um mundo no qual o espaço para reflexão é cada vez mais escasso, vivendo-se em
uma rotina automática, líquida, sem conseguir buscar e encontrar o que realmente nos faz
sentido. Deparamo-nos com uma tremenda contradição ao lidar com tantas exigências e, ao
mesmo tempo, precisar de momentos de reflexão para encontrar um modo próprio de ser,
viver e contribuir com o mundo a partir de nossa singularidade. Esta se tornou uma difícil
missão, trazendo sentimentos de insegurança, vazio e ansiedade surgindo então
funcionamentos patológicos específicos de nossa época, patologias estas que dizem respeito
as diversas possibilidades arquetípicas que ficam inconscientes e polarizadas, já que a
unilateridade que vivenciamos as impedem de emergir e serem integradas à consciência.

Frente a todas as questões expostas, qual o impacto do modo de funcionamento


contemporâneo vivência psíquica do indivíduo? É possível que a vida tenha sentido somente
através do racional, das constantes transformações, do tempo acelerado e tecnologia
avançada? O que essas mudanças e falta de "solidez" podem proporcionar ao indivíduo?
Quais as implicações no desenvolvimento psíquico/processo de individuação?
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II. Contribuições Teóricas - A Sociedade Contemporânea e o Indivíduo.

"A psicologia do indivíduo corresponde à psicologia das nações. As nações fazem


exatamente o que cada um faz individualmente; e do modo como o indivíduo age a
nação também agirá. Somente com a transformação da atitude do indivíduo é que
começará a transformar-se a psicologia da nação. Até hoje, os grandes problemas da
humanidade nunca foram resolvidos por decretos coletivos, mas somente pela
renovação da atitude do indivíduo". (Jung, 1917, p.10).

Pode-se pensar na sociedade através de fundamentos guiados pelo modelo econômico


vigente - o capitalismo; e pelo pensamento científico predominante - o racionalismo. As
ideologias que surgem a partir desses dois principais vetores resultam aspectos facilmente
identificados no mundo contemporâneo: o tempo acelerado, o consumo exagerado, a
tecnologia avançada e a valorização do novo que, por sua vez, dão corpo a uma principal
característica que rege os tempos modernos: as constantes transformações.

Sob o olhar da Sociologia, Bauman (2001) considera a qualidade de líquidos e gases -


a fluidez - como a principal metáfora para o estágio presente da era moderna, ao comparar
aspectos dos fluidos ao funcionamento da sociedade, denominando assim a época em que
vivemos de "Modernidade Líquida". Para o sociólogo, assim como os líquidos, nossa
sociedade caracteriza-se por uma constante mudança, por uma extrema "leveza" devido a sua
constante mobilidade, "não fixam o espaço nem prendem o tempo [...] Assim, para eles, o que
conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem
apenas 'por um momento' ". (p.8)

Em sua obra, o autor retorna aos tempos pré-modernos em que se considerava a


sociedade estagnada na solidez, regida pelo controle e diversas regras, em um mundo no qual
o "capitalismo pesado era obcecado por volume e tamanho, e, por isso, também por fronteiras,
fazendo-as firmes e impenetráveis". (p.69) Através do Manifesto Comunista iniciou-se um
novo modo de pensar que não propunha o fim dos sólidos, mas uma substituição da solidez
que se encontrava em estado avançado de desintegração, considerada defeituosa e insuficiente
para a época:
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“Os tempos modernos encontraram os sólidos pré-modernos em estado avançado de


desintegração; e um dos motivos mais fortes por trás da urgência em derretê-los era
o desejo de, por uma vez, descobrir ou inventar sólidos de solidez duradoura, solidez
em que se pudesse confiar e que tornaria o mundo previsível e, portanto,
administrável. [...] 'Derreter os sólidos' significava, antes e acima de tudo, eliminar
as obrigações 'irrelevantes' que impediam a via do cálculo racional dos efeitos".
(Bauman, 2001, p. 10)

Neste sentido, a solidez foi substituída por uma nova ordem líquida, que por mais
volátil e fluida que fosse, foi inserida de maneira tão rígida que impossibilitou a liberdade de
escolha, deixando a sociedade tão estagnada quanto à ordem predominante nos tempos pré-
modernos. Segundo o sociólogo, os indivíduos puderam somente utilizar a liberdade para
encontrar um "nicho apropriado e ali se acomodar e adaptar: seguindo fielmente as regras e
modos de conduta identificados como corretos e apropriados para aquele lugar". (p.13) Neste
novo modo de funcionamento não há mais padrões, códigos e regras que possam ser guias
estáveis e definidos, na medida em que tendem a sofrer diversas e constantes transformações.
Surgem, assim, diversas configurações que se chocam entre si e formam contradições
conflitantes. Isto pode gerar uma angústia muito grande, já que o indivíduo é exposto a
infinitas possibilidades e que a responsabilidade pelo sucesso e pelo fracasso caem igualmente
sob ele:

"O principal cuidado diz respeito, então, à adequação - a estar "sempre pronto"; a ter
capacidade de aproveitar a oportunidade quando ela se apresentar; a desenvolver
novos desejos feitos sob medida para as novas, nunca vistas e inesperadas seduções;
e a não permitir que as necessidades estabelecidas tornem as novas sensações
dispensáveis ou restrinjam nossa capacidade de absorvê-las e experimentá-las"
(Bauman, 2001, p.90)

Vivemos, portanto, na era da instantaneidade, na qual a escolha racional é valorizada e


há a busca de uma gratificação sem que haja consequências e responsabilidades inclusas nessa
escolha. Tudo o que é sólido, que impede o movimento e a transformação, deixa de ser um
recurso para se tornar um risco. Esse modo de funcionamento reflete nas vivências psíquicas
de cada indivíduo.

Partindo para um olhar direcionado à psique, Jung também critica os fundamentos que
guiaram o pensamento científico nos últimos séculos, considerando "a psicologia "racional" e
"experimental" insuficiente e estreita demais para abordar a natureza humana". (Penna, 2013,
7

p. 85) Contrapõe-se ao propor um modelo de realidade psíquica e do ser humano baseado no


inconsciente e ao afirmar que a "união da verdade racional deve ser encontrada [...] no
símbolo, pois é da essência do símbolo conter ambos os lados, o racional e o irracional".
(Jung, 1918, p.26) Desta maneira, considera importante o papel da realidade material na vida
psíquica, porém critica a unilateridade presente no pensamento científico de sua época:

"O homem tem o direito de achar sua razão bela e perfeita, mas nunca, em hipótese
alguma, ela deixará de ser apenas uma das funções espirituais possíveis, e só cobrirá
o lado dos fenômenos do mundo que lhe diz respeito. A razão, porém, é rodeada de
todos os lados pelo irracional, [...] essa irracionalidade também é uma função
psíquica, o inconsciente coletivo, enquanto a razão é essencialmente ligada ao
consciente". (Jung, 1917, p.81)

O sistema psíquico é considerado uma totalidade que abrange diversos fatores, seja de
ordem biológica, social ou espiritual, conscientes ou inconscientes. (Jung, 1946, p.11) A
perspectiva junguiana fundamenta-se em "uma visão dinâmica e sistêmica de ser e mundo, em
que as partes se relacionam de forma compensatória e complementar num todo único".
(Penna, 2013, p. 138) Partindo de uma dialética constituída pela noção de unidade e
multiplicidade, surge a ideia de totalidade dinâmica e de mecanismo compensatório de
autorregulação da psique:

"Quando a vida, por algum motivo, toma uma direção unilateral, produz-se no
inconsciente, por razões de autorregulação do organismo, um acúmulo de todos
aqueles fatores que na vida consciente não puderam ter suficiente voz nem vez".
(Jung, 1918, p.22)

Segundo o autor, ao longo da vida há um desenvolvimento psicológico, processo no


qual o sujeito torna-se "uma personalidade unificada, mas também única, um indivíduo, uma
pessoa indivisa e integrada" (Stein, 2006, p.156), este denominado de processo de
individuação. Nele ocorre uma ampliação progressiva da consciência, na qual as polaridades
(aspectos conscientes e inconscientes) são integradas, desenvolvendo-se rumo à totalidade, ao
centro organizador e unificador da psique, o arquétipo do si - mesmo (Self). Este se refere
tanto à individualidade quanto à generalidade do ser humano.

Na perspectiva junguiana a consciência surge a partir do inconsciente, que abrange


aspectos pessoais (inconsciente pessoal) - memórias esquecidas e relembradas e complexos
(associações com forte carga emocional e autonomia reprimidas pelo Ego); e conteúdos
coletivos - os arquétipos (inconsciente coletivo), a camada mais profunda e estruturante da
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psique. Os arquétipos são disposições pré-existentes, que combinam padrões e forças


universais que possuem caráter bipolar, ou seja, são sempre compostos por polaridades
opostas. Jung afirma que são "motivos" ou "temas" da psique que "estão presentes em todo
tempo e em todo o lugar". (Jung, 1936, p.51) É importante ressaltar que para o autor, o
arquétipo em si nunca pode ser apreendido, temos somente acesso a imagens e símbolos, mas
são possibilidades infinitas que se manifestam de diferentes formas de acordo com a história
de cada indivíduo. Segundo o autor, "toda interpretação estaciona necessariamente no 'como
se'. O núcleo de significado último pode ser circunscrito, mas não descrito". (Jung, 1940,
p.157)

Vivemos, portanto, arquetipicamente e somos guiados por leis e princípios dominantes


e típicos da humanidade que são constituídos por um núcleo arquetípico. Considera-se que o
arquétipo puer-et-senex manifesta-se e direciona o funcionamento da sociedade atual. Pelo
fato de estas polaridades serem relacionadas ao tempo e, consequentemente ao indivíduo e seu
desenvolvimento psíquico, foram escolhidas como o principal fator de análise do tema
proposto. Por ter esse destaque, será dedicado um capítulo para abordar o arquétipo puer-et-
senex e suas possíveis manifestações.
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III. O Arquétipo Puer-et-Senex

"O puer inspira o brotar das coisas; o senex governa a colheita. Mas florescer e
colher dão-se intermitentemente durante toda a vida". (Hillman, 1926, p.24)

Hillman (1926) afirma que a psique está situada num presente histórico e enraizada em
núcleos arquetípicos centrais, considerados experiências mitológicas eternas, que unem os
fatos externos com um significado psicológico essencial. Para o autor, senex e puer
constituem a base psicológica do problema da história, já que são a história como "sequência
e transição, como um processo através do tempo do começo até o fim" (p.20) e também são
relacionados "ao par Pai Tempo e Jovem Eterno, temporalidade e eternidade", possibilitando
assim que o indivíduo seja lançado na história. Desta maneira, as polaridades dizem respeito
ao tempo como processo e, consequentemente, as envolvem com o processo de qualquer outro
complexo e, portanto, são conectados à própria natureza do desenvolvimento psicológico.

A relação puer-senex pode ser apreendida de diversas formas. Jung não abordou
amplamente este arquétipo, porém há em sua obra arquétipos que são associados a eles, tais
como Velho Sábio (Senex) e a Criança-Divina e o Trickster (Puer). Outros autores, como
James Hillman (1926) e Marie-Louise Von Franz (1992), o fizeram de maneira mais extensa,
apesar de explorar a temática sob óticas diferentes. Von Franz estuda o puer aeternus a partir
da relação com o complexo materno. Já Hillman o compreende através de sua polaridade
oposta, o senex, considerando-os um só arquétipo: puer-et-senex.

Para Jung, o arquétipo da criança-divina tem uma unidade e pluralidade em suas


manifestações, assim como todos os arquétipos, porém representa, principalmente, o futuro
em potencial, mesmo que seja associado num primeiro momento com o passado:

"O motivo da criança não representa algo que existiu no passado longínquo, mas
também algo presente; não é somente um vestígio, mas um sistema que funciona
ainda, destinado a compensar ou corrigir as unilateridades ou extravagâncias
inevitáveis da consciência. (Jung, 1940, p.164).

Assim, para o autor, a "criança" é o símbolo da síntese da personalidade ainda


incompleta, remete a um estado psicológico do não conhecer, indiferenciado, inconsciente e
do “vir-a-ser”, desenvolvendo-se rumo à autonomia. Representa, portanto, a totalidade
humana, "tudo o que é abandonado, exposto e ao mesmo tempo o divinamente poderoso, o
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começo insignificante e incerto e o fim triunfante". (Jung, 1940, p.181)

A imagem do Trickster também é associada ao puer, termo que pode ser traduzido
como "truque". Caracterizado por sua "tendência às travessuras astutas, em parte divertidas,
em parte malignas, sua mutabilidade, [...] sua vulnerabilidade a todo tipo de tortura e sua
proximidade da figura de um salvador" (Jung, 1954, p.256), designa heróis de contos
populares que conseguem realizar, através de sua estupidez e façanhas, alcançar objetivos
com menor esforço que os demais, com fins lícitos ou ilícitos. Para o autor, as manifestações
deste arquétipo, representado por tendências opostas no inconsciente, é um reflexo da
consciência humana indiferenciada, ou seja, inconsciente e pela sua incapacidade de
relacionar-se e não por ser uma figura má. Aproxima-se à figura de um salvador pelo fato de
ferir, já que para a psicologia junguiana através do arquétipo do curador ferido "o feridor e o
ferido cura, e o que padece repara ou remedia o sofrimento". (Jung, 1954, p.257)

Von Franz, em uma análise da obra de Saint-Exupéry "O Pequeno Príncipe", aborda o
puer aeternus em sua relação com o complexo materno. Puer aeternus é o nome aplicado a
um deus-criança, presente em Metamorphoses de Ovídio (Von Franz, 1992) e significa
"juventude eterna". Por ser diretamente associado à imagem da criança, Von Franz aproxima-
se da visão de Jung em relação ao arquétipo.

Segundo a autora, as pessoas que se identificam com este arquétipo comportam-se


como adolescentes e geralmente são muito dependentes da mãe. Há normalmente um
individualismo associado, no qual ao considerar-se alguém especial não vêem necessidade de
adaptação, muitas vezes assumindo atitudes arrogantes em relação aos outros e dificilmente
submetendo-se a algo que consideram inferior a toda sua genialidade. Desta maneira, pode
haver grandes dificuldades de adaptação social. Há sempre algo que as impedem de se ligar
ou de se prender a qualquer coisa, existindo uma constante recusa interior de viver o presente,
já que sempre esperam que no futuro algo "melhor" e "certo" aparecerá. Assim, não se
submetem a nada, não querem se sobrecarregar e apresentam dificuldades para suportar
tensões e conflitos e para se implicar para alcançar algum objetivo. Responsabilizar-se com a
própria vida e comprometer-se com alguém ou com alguma atividade, torna-se, portanto, uma
difícil tarefa.

Entretanto, não há somente características negativas no puer aeternus, há também


certo tipo de espiritualidade aproximada ao inconsciente coletivo e é visto como
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representação da renovação, espontaneidade, mudança, liberdade, etc. Há o charme da


juventude, apresentando-se de maneira profunda, verdadeira, interessante e estimulante,
vivenciando situações não convencionais, já que não suportam o tédio da rotina.

Na polaridade oposta, o arquétipo presente na obra de Jung associado ao senex é o


Velho Sábio, que simboliza geralmente o fator "espírito", uma manifestação arquetípica
geralmente associada ao complexo paterno, "afirmações, ações, tendências, impulsos,
opiniões etc." (1945, p.214), posicionando-se a partir de convicções decisivas, proibições e
conselhos. Há também prontidão para submeter-se diante de todas as normas e valores
espirituais. Entretanto, em meio a todas essas regras rígidas, também remete a vivas
aspirações e interesses espirituais:

"O Velho representa, por um lado, o saber, o conhecimento, a reflexão, a sabedoria,


a inteligência e a intuição e, por outro, também qualidades morais como
benevolência e solicitude". (Jung, 1945, p.227)

Para Jung, o arquétipo manifesta-se então em situações que necessitam de "intuição,


compreensão, bom conselho, tomada de decisão, plano etc." (1945, p.216), neutralizando a
reação puramente emocional através de sua tendência à reflexão, proporcionando assim
confrontações e conscientizações internas.

Hillman (1926) propõe um olhar diferente às figuras senex e puer, ao considerá-los


como uma figura única com aspectos duplos: puer-et-senex, que quando cindidos constelam-
se de uma maneira negativa e podem gerar uma série de situações problemáticas e
patológicas. Assim, as manifestações ditas negativas somente ocorrem quando as polaridades
não estão em negociação. Segundo o autor, quando em relação podem sustentar sua tensão e
constituir o seu próprio significado:

"Ao continuarmos verdadeiros com nosso espírito puer passado, e ao


conscientemente afirmá-lo, já assumimos a virtude senex da responsabilidade e da
ordem". (Hillman, 1926, p.52)

Segundo o autor, puer-et-senex juntos dão ao ego intencionalidade ou significação de


espírito e por isso a extrema importância deste arquétipo no processo de individuação. O
senex é necessário para a estruturação do ego, tornando possível que este consiga se
consolidar através dos limites fixos que este oferece. Já o puer carrega nosso futuro e é a
"inspiração do significado e traz o significado como mensagem onde quer que apareça".
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(p.44) Quando ocorre a inflação de um dos pólos, há uma gama de humores e ações
igualmente perigosos: possessão pelo senex promove a depressão, o pessimismo e dureza de
coração; possessão pelo puer traz a falta de realidade psíquica.

O senex é constantemente associado à Saturno-Cronos, demonstrando dualidade e


ambivalência na medida em que é o pai dos deuses, deus benevolente da agricultura e, por
outro lado, o devorador de crianças, o solitário. Saturno-Cronos, como imagem arquetípica de
senex, é o Velho Sábio, Sábio Solitário e Velho Rei – representa virtudes morais e intelectuais
positivas, mas também o pai que a tudo consome, castra, de caráter frio e vagaroso (expresso
nos humores de tristeza, depressão e melancolia). Segundo o autor, representa o “princípio da
ordem, quer seja através do tempo, da hierarquia ou das ciências e sistemas exatos, quer dos
limites e fronteiras, do poder, da interioridade e reflexão”. (p.27)

Frente a essa rigidez, o novo conteúdo é assimilado por velhas atitudes e antigos
hábitos, mantendo-se assim apegado à tradição, rotina e uma visão conservadora da vida. A
maneira unilateral que a polaridade senex pode ser vivenciada aponta para a ausência do
feminino, de modo que a consciência perde o contato com a vida. Entretanto, a rigidez de
senex também pode manifestar-se de uma maneira positiva, como ponto de resistência a
mudanças que não fazem sentido (Bernardi, 2008. P.44). Já como sinônimo do arquétipo do
Velho Sábio, o aspecto de sabedoria se sobressai e, caso vivenciado de maneira unilateral, o
saber pode tornar-se arrogância.

Já em relação ao puer, Hillman (1926) afirma que este representa o espírito eterno que
é auto-suficiente e contém todas as possibilidades, é primordialmente perfeito e por isso não
necessita de desenvolvimento e relacionamentos. Transmite a sensação de que pode retornar
outra hora e recomeçar, assim não atribui importância à morte. Por conseguinte, não suporta a
espera e não compreende o que se ganha com repetição e consistência, ou seja, com o
trabalho. Busca, questiona, arrisca e impulsiona o ego, porém é o princípio que não coagula e
desintegra, pois não há espaço e paciência para reflexão:

"O aspecto puer do significado está na busca, com o dínamo do eterno "por que" da
criança, a procura, o questionamento, a busca, a aventura que pega o ego por trás e
impulsiona para frente. Todas as coisas são incertas, provisórias, passíveis de
questionamento, portanto, abrindo o caminho e levando a alma em direção a um
questionamento ainda maior”. (p.44)

Manifesta-se assim de maneira negativa, com traços acentuados e sem sentido


13

inerente, num complexo que "des-relaciona", que se move depressa demais, deseja demais e
está sempre insatisfeito, na medida em que é praticamente impossível que o mundo satisfaça
as demandas do espírito. Sem relação com o senex, "transforma-se no eterno “vir-a-ser” nunca
realizado no Ser, somente possibilidades e promessas". (p.44)

Por fim, é importante ressaltar que estas atitudes e comportamentos são apenas
possibilidades, não tendo a intenção de determinar e definir tipologias, patologias e formas
estáticas, mas um modelo dinâmico com diversas possibilidades que se manifestam de acordo
com a época histórica e aspectos pessoais do indivíduo. Não são características positivas ou
negativas em si, na medida em que dependendo da situação podem trazer benefícios ou não ao
sujeito.
14

IV. Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo proporcionar uma reflexão a respeito do


funcionamento da sociedade contemporânea e o modo como este pode impactar a
subjetividade, a depender da maneira que cada indivíduo vivencia as características dos
tempos "líquidos".

A partir do acompanhamento psicológico de pacientes encaminhados pela Seção de


Psiquiatria do Hospital do Servidor Público Estadual, pretendeu-se abordar os temas citados
acima a partir da dinâmica arquetípica puer-senex e a forma como os símbolos podem ser
representados coletiva e individualmente na sociedade atual de uma maneira unilateral e,
consequentemente, patológica, constituindo-se como obstáculo para o processo de
individuação.
15

V. Método

“Como ponte entre o mundo arquetípico, o mundo da consciência e o mundo


externo, o símbolo se constitui o fenômeno psíquico apreensível e compreensível”.
(Penna, 2005, p.90)

Este trabalho objetiva a partir da perspectiva teórica da Psicologia Analítica ilustrar


possibilidades de manifestação simbólica das polaridades puer-et-senex. Considerou-se a
temática relevante na clínica na medida em que estes arquétipos são relacionados ao tempo,
presente em diversos complexos e tornando-se extremamente importante para o processo de
individuação.

Segundo Penna (2005), o universo humano é compreendido em uma dimensão


simbólica, que inclui aspectos biológicos, ambientais, culturais e espirituais. Assim,
considera-se a psique uma totalidade constituída pelo "âmbito inconsciente, relacionado aos
fenômenos do mundo subjacente, e o âmbito consciente, relativo aos fenômenos do mundo
manifesto". (Penna, 2005, p. 82) O fenômeno psíquico investigado pela Psicologia Analítica é
o símbolo, que é considerado a única forma possível de conhecimento, a expressão ou
manifestação de um arquétipo, o encontro entre o mundo subjacente e o manifesto. O
arquétipo em si não é acessível de maneira direta, somente através da manifestação mediada
pela imagem, pelo símbolo.

Desta maneira, este é um trabalho teórico-prático, realizado a partir do estudo de dois


casos do Ambulatório de Psicologia do Hospital do Servidor Público Estadual e um
levantamento bibliográfico focado na perspectiva junguiana, que visa compreender a
sociedade contemporânea, possibilidades de manifestação dos arquétipos puer-et-senex e as
implicações que podem acarretar coletiva e individualmente. As reflexões sobre a sociedade
foram fundamentadas também na obra "Modernidade Líquida”, do sociólogo polonês
Zygmunt Bauman.

A adoção desse procedimento de análise qualitativa do tema objetiva interpretar e


compreender os processos psicoterapêuticos em pauta, buscando o significado e sentido
individual da manifestação simbólica do arquétipo puer-et-senex e, nestes casos clínicos
específicos, a maneira unilateral que se apresentam tornando-se um obstáculo para o processo
de individuação.
16

É importante ressaltar que, para elaboração deste trabalho foi utilizado o registro de
informações em prontuários e arquivo exclusivo do Ambulatório de Psicologia do HSPE o
que, de acordo com o Código de Ética do Conselho Federal de Psicologia (CFP) isenta da
necessidade do consentimento informado (Anexo I). Além disso, para garantir o sigilo
profissional e preservar a identidade dos pacientes em questão, os nomes dos pacientes foram
alterados.
17

VI. Descrição e Análise dos Casos Clínicos

Os casos clínicos abaixo serão utilizados para ilustrar manifestações unilaterais do


arquétipo puer-et-senex. Ambos os casos foram atendidos semanalmente em psicoterapia
breve no Ambulatório de Psicologia do Hospital do Servidor Público no primeiro semestre de
2014. Normalmente é feito um contrato com 12 sessões, entretanto, os processos
psicoterapêuticos foram interrompidos pelos pacientes. Serão analisados três aspectos de cada
caso: relações interpessoais, trabalho e sociedade contemporânea.

Caso Clínico I: A Inflação do Puer

F. tem 34 anos, é casado, tem dois filhos e é auxiliar administrativo. Apresentou como
queixa principal crises de ansiedade. No decorrer dos atendimentos, foi possível o início do
contato com suas queixas de maneira mais implicada, porém ainda pouco aprofundada. Era
evidente a dificuldade de F. em fazer escolhas, lidar com renúncias e o modo como
frequentemente atendia demandas do mundo externo sem conseguir refletir e agir de acordo
com as suas vontades e possibilidades, características estas frequentemente presentes na
polaridade puer, quando não há relação com o senex, e que angustiavam e desencadeavam
diversos sintomas que incomodavam o paciente.

Relações Interpessoais

No âmbito familiar, F. afirma que pais se separaram quando criança e que sua mãe foi
morar com seu padrasto logo após o divórcio. Não tinha um bom relacionamento com seu
padrasto, considerando-o controlador e alguém que sempre o impediu de ter uma relação
próxima com a mãe. Já o seu pai era muito próximo de sua irmã e sentia-se igualmente sem
espaço nessa relação. No que diz respeito às questões amorosas, F. demonstrava insatisfação e
instabilidade em relacionamentos ao longo de sua vida e também em seu casamento. Separou-
se duas vezes de sua esposa e referiu só ter reatado casamento pela falta que sentia de seus
filhos. Queixava-se que esposa era ausente, não demonstrava que o amava e não colaborava
para que tivessem uma boa convivência. Por esse motivo, caso conhecesse outra pessoa
interessante que tivesse as características que gostava (e que esposa não tinha), acreditava que
se separaria novamente, como havia acontecido anteriormente.
18

De uma maneira geral, F. não conseguia manter relações próximas com as pessoas
com quem convivia, nem com figuras parentais nem com a esposa. Ao referir que só retomou
o casamento por sentir falta da convivência com os filhos, demonstra uma possível
identificação com a imagem da criança, únicos que se aproximavam de maneira mais
afetuosa, de acordo com relato do paciente.

Chama a atenção a falta de referência positiva maternal ou paternal, ambas


consideradas pelos autores como essenciais para se pensar na figura puer. O padrasto como
controlador e como obstáculo para aproximação com a mãe pode ser pensado como
representação da figura oposta senex, que castra e é rígido (era militar) e também o impede de
ter uma relação especial com a figura materna, considerado fato geralmente presente nas
manifestações do puer. No que diz respeito a insatisfação no casamento, pode-se considerar
que F. estava sempre em busca da mulher perfeita e idealizada, "com as características que
gostava" e assim justificava o fato de não conseguir se relacionar ou se prender a alguém,
outra característica bem presente na manifestação unilateral do puer.

Trabalho

No âmbito do trabalho, demonstrava instabilidade e insatisfação e relata ter tido


diversas vezes dificuldade para se relacionar, característica essa que ocorreu também nas suas
relações familiares e amorosas e que são consideradas pelos autores comuns na inflação do
puer.

Matriculou-se em três faculdades, porém não concluiu nenhum curso. Começou a


trabalhar desde cedo para se sustentar, trocou de emprego diversas vezes e queixava-se das
muitas responsabilidades que lhe eram atribuídas por se tratar da área financeira. No setor
público, a instabilidade continuou e pediu remoção duas vezes, ambas por problemas de
relacionamento com a equipe. Foi na primeira escola que teve o seu primeiro episódio de
ansiedade. No período em que foi atendido, trabalhava há quatro anos na terceira escola e
ainda demonstrava insatisfação com a profissão. Não gostava de sua função por ser muito
burocrática e por problemas de relacionamento com um colega, apesar de gostar da equipe
como um todo. Incomodava-se pelo fato de seu colega querer ser perfeito e seguir as regras à
risca. Sentia-se acomodado e com medo de sair do cargo público que lhe proporcionava
estabilidade para procurar um emprego que houvesse maior identificação.
19

Na sua vivência, pode-se observar a dificuldade em ter que se responsabilizar e a


mudança constante de emprego. F. não se identificava com o setor público por associá-lo a
pessoas acomodadas, mas ao mesmo tempo não se implicava para buscar alguma atividade
que fizesse sentido para ele. O incômodo com o colega por ser "perfeito" e "seguir as regras"
pode indicar a manifestação do senex em suas relações, que se torna insuportável para ele. A
insatisfação com as atividades burocráticas que realizava pode ser analisada também em
relação ao senex, que representa rigidez, ordem etc., o que é muito difícil para uma pessoa que
se mostra instável, agitado e com uma constante mudança de rotina.

Sociedade Contemporânea

Em diversos momentos trouxe questões relacionadas ao âmbito financeiro e uma


discordância com os valores da sociedade contemporânea, como dinheiro e consumo. Diz que
na sua família isto era muito valorizado, contando situação em que tio não tinha boas
condutas, mas por ter bastante recursos financeiros ninguém o criticava. Em comparação,
outro tio que era uma boa pessoa, não era reconhecido por não ter dinheiro. F. teve insônia
dos 16 aos 32 anos e preocupava-se principalmente com questões financeiras, já que começou
a se sustentar desde cedo.

Neste relato, pode-se pensar nas características da sociedade atual, na extrema


valorização do consumo e o quanto pode ser fator angustiante para quem não consegue
acompanhar esse movimento por não ter condições financeiras. Não só o consumo, mas o
modo como se preocupa constantemente com o seu sustento em um mundo cada vez mais
competitivo e que demanda cada vez mais para conseguir um espaço no mercado de trabalho.
20

Caso Clínico II - A Unilateridade de Senex

C. tem 36 anos, professor de educação física, casado e com dois filhos. Refere ter
procurado o serviço da Psiquiatria quando se percebeu sem paciência, irritado e sem controle
de sua força e agressividade, questões estas que se tornaram tão intensas que resultaram dois
episódios de agressão com alunos. A partir dos conflitos apresentados pelo paciente,
observou-se que C. buscava somente soluções práticas e racionais para lidar com as suas
dificuldades e parecia ter a necessidade de estar no controle das situações. Referiu que em
todas as suas crises havia pensamentos negativos e uma sensação ruim, "de morte".

Em síntese, estes são aspectos que podem ser interpretados como uma inflação do
senex que se manifesta de maneira rígida, com caráter vagaroso expresso pelo humor
deprimido, com o contato com pensamentos negativos e com a morte. Destaca-se também a
maneira que C. se irrita e se descontrola com seus alunos (crianças), representações da figura
do puer, que é intolerado justamente pelo fato de o senex estar inflado e não aceitar a
manifestação da polaridade oposta, impedindo que esta seja integrada a consciência.

Relações Interpessoais

No âmbito familiar foi criado de maneira rígida e sem uma relação afetuosa com pais.
Mora em uma casa com quintal compartilhado com a residência de seus pais e referia que,
mesmo depois do casamento, seu pai tentava controlar a sua vida. C. identifica-se com pai em
relação à necessidade de controle, na medida em que se considera controlador em relação à
sua casa, família e dinheiro. Afirma que sempre gostou de seguir regras e reconhece que
talvez tenha problema com quem não as siga, na medida em que tem dificuldade para aceitar e
entender como as pessoas podem ser tão injustas e não cumprir o que falam e que
constantemente as pessoas a sua volta incomodam-se por agir tão corretamente. Já foi
extremamente organizado no âmbito financeiro, anotando detalhadamente os gastos em um
caderno. Em relação à esposa, sabia a hora em que terminava seu expediente e, caso se
atrasasse por cinco minutos, ficava angustiado. Ao longo do tempo, pôde perceber que
imprevistos acontecem e que nem tudo aconteceria sempre da forma que costumava acontecer
e era esperada por ele, tornando-se um pouco mais flexível.

A partir de suas relações, observa-se a identificação com o pai controlador que pode
ser considerado a manifestação Saturno-Cronos de senex, o pai que tudo consome, rígido, frio
21

e distante. O paciente também demonstra a prontidão a submeter-se às regras, fato que pode
ser associado ao arquétipo do Velho Sábio.

Trabalho

Seu primeiro emprego foi como guarda civil. Nesse período os sintomas surgiram, não
tinha vontade de ir trabalhar e seus colegas percebiam que estava agressivo e irritado. Era um
ambiente com muita hierarquização e foi a partir disso que surgiram problemas de
relacionamento com um colega de cargo superior ao dele. Discordavam em diversas condutas
e a palavra do colega sempre prevalecia devido ao maior tempo na instituição. Após uma
discussão intensa e com ameaças do colega, pediu demissão e foi trabalhar na área da
educação, já que havia concluído sua graduação de educação física. Conseguiu um emprego
em escola e um centro de convivência e os sintomas retornaram. Desentendeu-se com alunos
de sete anos, não conseguiu conter agressividade.

No período de atendimento no Ambulatório de Psicologia, começou a discordar com o


modo como as ações da escola eram guiadas pela política e até mesmo por interesses pessoais,
sem haver uma reflexão sobre a educação. Referiu estar em uma rotina muito estressante e
dinâmica, com dois empregos em que alunos demandavam muita disposição. C. percebeu que
os sintomas retornaram e novamente se afastou do trabalho, a fim de evitar o
desencadeamento de uma nova crise.

A escolha de seu primeiro emprego como guarda civil pode relacionar-se às


manifestações de senex, já que exige rigidez, controle e que há intensa hierarquização no
ambiente. Ao mudar de área de atuação e ir para um ambiente mais flexível, demonstra
dificuldades de adaptação, pelo fato de crianças demandarem maior flexibilidade, dinamismo
e leveza, o que sobrecarregou C. por ser muito rígido e se identificar com aspectos presentes
na polaridade senex. Por sua extrema rigidez, não tolerava hierarquização e estar submetido a
outras pessoas, porém não se adaptou à rotina dinâmica e acelerada. Em ambos os empregos
surgiram sintomas que o afetaram ao ponto de desencadear crise e ter de ser afastado do
trabalho.

Sociedade Contemporânea

Queixava-se em relação à velocidade e valores do mundo contemporâneo e sua


dificuldade para lidar com esse funcionamento. Não se sentia adaptado à rapidez em que tudo
22

acontecia e à constante pressa presente nas relações interpessoais, não havendo tempo para
aproveitar filhos e família devido à grande quantidade de preocupações, obrigações e
responsabilidades. Aparentava ter dificuldades para lidar com o ritmo acelerado, considerando
a necessidade de afastamento médico de sua rotina para que conseguisse se estabilizar
novamente. Trazia questões relacionadas ao dinamismo de sua grade de aulas, com
diversidade de atividades que realizava com alunos de diferentes turmas e idades (aula para
crianças pequenas e para idosos), que eram dadas em seguida sem ter um intervalo para que
ele pudesse se adaptar à nova atividade. A liquidez das relações, a aceleração e dinamismo da
rotina e constantes mudanças podem ser consideradas tendências presentes no funcionamento
puer e, devido à unilateridade em que vivenciava senex, tornou-se praticamente intolerável
viver nessa liquidez.

Em relação aos valores presentes na sociedade atual, não concordava com a conduta
de sua esposa com seus filhos, já que quase diariamente os presenteia com bens materiais.
Percebeu que filhos se acostumaram a isso e que certa vez foi cumprimentá-los e ao invés de
responderem, perguntaram o que lhe daria de presente. Assim como no caso clínico I, há o
incômodo com a valorização do consumo e do materialismo presente na sociedade atual.

Em ambos os casos clínicos, as polaridades puer-senex não se comunicam e se


manifestam de maneira unilateral. A psique, por ter uma função autorreguladora, apresenta
sinais (no caso, sintomas) que indicam que algo precisa ser olhado, cuidado e talvez
ressignificado, já que as queixas trazidas pelos pacientes em questão proporcionavam angústia
e sofrimento. O espaço psicoterápico poderia proporcionar uma reflexão e integração desses
aspectos, porém os pacientes não toleraram e interromperam o processo psicoterapêutico
antes do término proposto.
23

VII. Considerações Finais

"Nossa obsessão contemporânea com idade e juventude reflete a queda da alma no


sistema de tempo e medidas do materialismo histórico. Atrás de tudo isso há uma
divisão arquetípica entre puer e senex, começo e fim, temporalidade e eternidade".
(Hillman, 1926, p. 21)

Articulando a Sociologia e a Psicologia, pode-se analisar a sociedade e o indivíduo a


partir de diferentes vertentes que se encontram em diversos pontos, já que a perspectiva
teórica escolhida neste trabalho considera o indivíduo sempre inserido num contexto
histórico.

A liquidez de Bauman (2001) pode ser associada à figura puer, que representa o novo,
o futuro em potencial, a busca eterna por algo "melhor", a volatilidade, a oportunidade, a
constante mudança e a dificuldade para se fixar em algum lugar, todas essas características
presentes na sociedade "pós-moderna". Para o autor, a "pré-modernidade" apresentava-se de
maneira oposta: solidez, proibições, controle, regras e rigidez podendo, portanto, ser vista a
partir da polaridade senex. Desta forma, a solidez "pré-moderna" foi substituída pela liquidez
"pós-moderna", entretanto, a modernidade líquida demonstra sinais de falhas tão graves
quanto as que existiam antigamente. Ambos os funcionamentos são unilaterais e sem espaço
para uma integração e, consequentemente, manifestando-se de maneira problemática.

As características da liquidez-puer e da solidez-senex são igualmente importantes, no


entanto devem estar sempre em negociação, o que não parece ocorrer no funcionamento da
sociedade atual. Uma pitada da rigidez, limites e rotina de senex possibilita momentos de
reflexão e desaceleração; o impulso à mudança e a leveza de puer dá espaço à renovação que
também é necessária ao longo da vida para o fechamento e renascimento de ciclos. Como
pontuado por Hillman (1926):

"Ao responder a nossa própria pergunta somos senex-et-puer. Ao questionarmos


nossa própria resposta somos senex-et-puer. As duas faces voltadas uma para a outra
em diálogo. Esse infindável diálogo com nós mesmos e de nós com o mundo é o que
nos mantém no significado". (Hillman, 1926, p.58)
24

As polaridades puer e senex, quando em relação, dão sentido e significado à vida, fator
muitas vezes ausente na vida de muitas pessoas. Como ilustrado nos casos clínicos
apresentados, alguns podem simplesmente mergulhar no mar de transformações que a
sociedade atual proporciona e não conseguir parar para refletir e fazer escolhas frente a
inúmeras e tentadoras possibilidades. Outros, devido a sua rigidez, podem não encontrar
saídas criativas para lidar com a aceleração do tempo e ficar preso naquele velho hábito, não
admitindo mudanças que possam trazer benefícios. De uma forma ou de outra, a unilateridade
surge como obstáculo ao processo de individuação. Em ambos os casos, os indivíduos
vivenciavam extrema angústia e sofrimento, tornando-se assim estagnados e impedidos de
caminhar em direção ao desenvolvimento pessoal - rumo ao Self.

Paul Valéry, no Prefácio do livro "Modernidade Líquida" de Bauman, questiona-se a


respeito da possibilidade da mente humana poder dominar o que ela mesma criou, referindo-
se às transformações, descontinuidades, incoerências e surpresas comuns na nossa vida, na
medida em que qualquer característica oposta pode ser traduzida como tédio. A meu ver, Jung
em 1926, já apresentava uma possível resposta a esse questionamento. Para o autor, a
psicologia dos indivíduos corresponde à psicologia das nações e, por estarem em íntima
relação, acredita que somente com a transformação do indivíduo a nação poderá se modificar.

Von Franz (1992), ao falar sobre o comportamento dos jovens - assimilado à figura do
puer - afirma que ao lidar com situações que não consideram agradáveis e ter de fazer muitas
coisas por obrigação podem sentir que não estão participando verdadeiramente da própria
vida. A autora considera que o tédio é "um sintoma que surge quando a pessoa não consegue
viver seu potencial. [...] existem crianças e também adultos que não sabem o que fazer
consigo mesmos" (p. 99). Este é um retrato do modo que vivenciamos os tempos atuais. É
necessário, portanto, que o sentido da vida seja resgatado, muitas vezes uma difícil tarefa já
que a reflexão é apagada no automatismo do dia-a-dia, que tem a tendência a focar em ações
que proporcionam o alcance e a realização de todas as expectativas que nos são colocadas. O
espaço terapêutico pode ser uma possibilidade (e tempo) para refletir e dar significados às
essas vivências, através dos símbolos que a psique apresenta.
25

VIII. Referências

BAUMAN, Z. Ser Leve e Líquido. In: Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 7 - 22.

______ - Individualidade. In: _______. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, p. 64 - 106.

BERNARDI, C. - Visão Geral. In: MONTEIRO, D. M. R. (org). Puer-Senex: Dinâmicas


Relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 17 - 53.

HILLMAN, J. - Um Aspecto do Presente Histórico e Psicológico. In: O Livro do Puer:


Ensaios Sobre o Arquétipo do Puer Aeternus. 2ª edição. Tradução de Gustavo Barcellos. São
Paulo: Paulus, 1998, p.11-64.

HIRATA, R. A. - O Complexo de Chronos e o Descompasso Emocional. Junguiana: Revista


Latino-Americana da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, n. 23, 2005, p. 67 - 77.

JUNG, C.G - Memórias, Sonhos e Reflexões. Tradução de Dora Ferreira da Silva. Editora Nova
Fronteira, 1986, p.141 -150.

__________ - Sobre o Inconsciente. In: ______. Civilização em Transição. Tradução de Lucia M. E.


Orth. 5ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 11-37.

__________ - Prefácio à Primeira Edição (1916). In: ______. Psicologia do Inconsciente. Tradução
de Maria Luiza Appy. 21ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 9 - 10.

__________ - O Inconsciente Pessoal e o Inconsciente Suprapessoal ou Coletivo (1917). In: ______.


Psicologia do Inconsciente. Tradução de Maria Luiza Appy. 21a edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p.
73-91.

_________ - Ensaios sobre História Contemporânea (1946). In: ______. Aspectos do Drama
Contemporâneo. Tradução de Lucia M. E. Orth. 5a edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p.11-12.

__________ - O Conceito de Inconsciente Coletivo (1936). In: ______. Os Arquétipos e o


Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy. 9ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 51-62.

__________- A Psicologia do Arquétipo da Criança (1940). In: ______. Os Arquétipos e o


Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy. 9ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 152-183.

__________ - A Fenomenologia do Espírito no Conto de Fadas (1945). In: ______. Os Arquétipos e o


Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy. 9a edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 207 -
254.
26

__________ - A Psicologia da Figura do Trickster (1954). In: ________. Os Arquétipos e o


Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy. 9ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 256 -
288.

__________ - Consciência, Inconsciente e Individuação (1939). In: ________. Os Arquétipos e o


Inconsciente Coletivo. Tradução de Maria Luiza Appy. 9ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 274 -
289.

__________ - Terceira Conferência (1935). In: ________. Fundamentos de Psicologia Analítica.


Tradução de Maria Luiza Appy. 9ª edição. Petrópolis: Vozes, 2012, p. 86 - 227.

MONTEIRO, D. M. R. – Apresentação. In:_______. Puer-Senex: Dinâmicas Relacionais.


Petrópolis: Vozes, 2008, p. 9 -17.

PENNA, E. M. D. - Eixo Cronológico da Obra: Do Método Experimental à Amplificação


Simbólica. In:______. Epistemologia e Método na Obra de C. G. Jung. São Paulo: EDUC:
FAPEST, 2013, p. 89- 93.

______________ - Paradigma Junguiano. In:_______. Epistemologia e Método na Obra de


C. G. Jung. São Paulo: EDUC: FAPEST, 2013, p.133 - p.148.

STEIN, M. - O surgimento do Si-Mesmo. In: Jung: O Mapa da Alma: Uma Introdução.


Tradução de Álvares Cabral. 5a edição. São Paulo: Cultrix, 2006, p.153 - 175.

VON FRANZ, M. L. - Puer Aeternus: A Luta do Adulto Contra o Paraíso da Infância.


Tradução de Jane Maria Corrêa. Edições Paulinas, 1992, Cap. 1, p. 4 - 40.
27

Anexo I

JUSTIFICATIVA DA AUSÊNCIA DO TERMO DE CONSENTIMENTO


INFORMADO

O presente documento tem como objetivo justificar a ausência do termo de


consentimento informado no projeto A Manifestação Simbólica da Polaridade Puer-Senex:
Impactos do Mundo Contemporâneo no Fenômeno Psíquico, desenvolvido como monografia
apresentada ao final do Curso de Aprimoramento em Psicologia Clínica ou Hospitalar,
realizado no Hospital do Servidor Estadual Francisco Morato em conjunto com a FUNDAP,
no ano de 2014, pela psicóloga Jéssica Harumi Esteves e orientada por Luciana Venturini
Gutierres.

De acordo com a Resolução CFP n° 16/2000 de 20 de dezembro de 2000, Ementa:


Dispõe sobre a realização de pesquisa em Psicologia com seres humanos, do Consentimento
Informado, Artigo 6° - O psicólogo pesquisador poderá estar desobrigado do consentimento
informado nas situações em que:

II – As pesquisas sejam feitas a partir de arquivos e banco de dados sem identificação dos
participantes.

Foram utilizados registros em prontuários dos pacientes referidos neste trabalho, além
de registros armazenados em arquivo exclusivo do Serviço de Psicologia; estes foram
analisados qualitativamente de acordo com o referencial teórico descrito no projeto.

Para garantia do sigilo das informações e a preservação da identidade dos pacientes, os


nomes foram alterados e a apresentação foi cuidadosa no sentido de preservar dados que os
identificassem.

Fica, dessa forma, justificada a ausência do termo de consentimento informado no


presente trabalho.

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