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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAAM FIAM

Cleiton de Moraes
Tamiris Nascimento
Thais Midori
Vanessa de Holanda
Yara Milan

VILA MARIA ZÉLIA: RECONHECIMENTO DOS ASPECTOS HISTÓRICOS,


CULTURAIS, URBANÍSTICOS E CONSTRUTIVOS

SÃO PAULO
2014
Cleiton de Moraes
Tamiris Nascimento
Thais Midori
Vanessa de Holanda
Yara Milan

VILA MARIA ZÉLIA: RECONHECIMENTO DOS ASPECTOS HISTÓRICOS,


CULTURAIS, URBANÍSTICOS E CONSTRUTIVOS

Trabalho apresentado como exigência parcial


para aprovação na disciplina Laboratório de
Arquitetura e Urbanismo do 3º semestre do
curso de graduação em Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário FIAM FAAM,
sob orientação dos professores Eliana Rosa e
Braz Casagrande.

SÃO PAULO
1º SEMESTRE DE 2015
RESUMO

Este trabalho contempla a análise de aspectos históricos, culturais, urbanísticos e


construtivos da Vila Maria Zélia, idealizada pelo industrial Jorge Street e projetada
pelo arquiteto francês Pedarrieux. Sendo utilizados como parâmetros para as
conclusões e análises apresentadas: Pesquisas sobre o contexto político, social,
econômico e geográfico (virada do Séc. XIX para Séc. XX), estudos da forma de
habitar relativa à época de inauguração da vila, bem como a mesma surgiu,
desenvolveu-se e se mantém na atualidade; contando também para isso com
registros fotográficos e cartográficos.

Palavras-chave: Vila Maria Zélia, Jorge Street, Vilas Operárias, habitação social, São
Paulo do início do século XX
SUMÁRIO
PÁG

1 – Introdução................................................................................................. 05

2 – Contexto político, social, econômico e geográfico (virada do século XIX


05
para o XX e início do século XX).............................................................

3 – Quadro da habitação social em São Paulo no início do século XX.......... 09

4 – A inserção da vila operária como opção de moradia e suas principais


12
características e exemplos.............................................................................

5 – A concepção da vila Maria Zélia e seus promotores................................ 13

6 – A concepção urbana da vila Maria Zélia e suas características


14
espaciais.........................................................................................................

7 – A unidade habitacional na vila Maria Zélia: tipologias e sistema


16
construtivo......................................................................................................

8 – Cartografia Histórica................................................................................. 19

9 – Concepção urbana da vila Maria Zélia e suas características espaciais


20
na atualidade.................................................................................................

10 – Conclusão............................................................................................... 22

11 – Referências Bibliográficas...................................................................... 23

12 – Anexos.................................................................................................... 25
5

1 – INTRODUÇÃO

Essa monografia é resultado de reflexões e análises sobre vilas operárias, tendo


a vila Maria Zélia, da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, de Jorge Street,
projetada em 1916, como objeto escolhido para estudo na disciplina de Laboratório
de Urbanismo, ministrada pelos professores Eliana Rosa e Braz Casagrande; a qual
visa proporcionar aos alunos o desenvolvimento de repertório e capacidade de
pesquisa, análise e interpretação das relações arquitetônicas e urbanísticas.
Este trabalho está estruturado em resumo, introdução, 8 capítulos, conclusão,
referências bibliográficas e anexos; conteúdo que busca abranger desde o contexto
histórico, político e social do início de surgimento das vilas operárias (virada do
século XIX para o XX, abordado nos 3 capítulos iniciais); até como uma construção
concebida com este fim se mantém (ou se adapta) à atualidade (5 capítulos
restantes que tratam do objeto de estudo diretamente); procurando auxiliar no
entendimento de como ocorreram, ao longo desse período, as transformações na
forma de habitar dos paulistanos e seu reflexo na estrutura urbana do município de
São Paulo.

2 – CONTEXTO POLÍTICO, SOCIAL, ECONÔMICO E GEOGRÁFICO (VIRADA DO


SÉCULO XIX PARA O XX E INÍCIO DO SÉCULO XX)

De acordo com ROBERTS (2001), o início da urbanização das cidades tem


como responsável principal a revolução industrial, que se originou na Inglaterra, por
volta do século XVIII envolvendo um rápido progresso técnico. As invenções se
sucederam propiciando a aceleração do ritmo da produção, compreendendo
modificações no setor comercial e agrícola e acima de tudo foi marcada pelas
transformações sociais verificadas antes e durante a Revolução, essencialmente, a
passagem da sociedade rural para sociedade urbana, do trabalho artesanal e
manufatureiro para o trabalho assalariado na organização fabril.
Ainda segundo ROBERTS (2001), no Brasil, a urbanização somente começou a
se consolidar na virada do século XIX para XX, impulsionado pela emergência do
6

trabalhador livre, pela Proclamação da República e por uma indústria ainda


incipiente que se desenrola na esteira das atividades ligadas à cafeicultura e às
necessidades básicas do mercado interno.
A expansão cafeeira se dá sob o ritmo da ferrovia. A partir de fins do século XIX
são implantadas as primeiras ferrovias paulistas com o objetivo de escoar a
produção cafeeira do Oeste.
Estes caminhos ferroviários de penetração no interior da província convergiam
todos para Santos por onde deveria se escoar a produção do café. A principal
estrada de ferro era a "The S. Paulo Railway Co." (figura 1), pois era a única a levar
o café até Santos.

Figura 1 - Ferrovia responsável em escoar a produção de Café até o porto de Santos.


Fonte: www.abpfsp.com.br acessado em 03.04.2015

De acordo com PEREIRA (2008) e PIRES (2008), com o enriquecimento pela


exportação do café, as elites paulistanas começaram a mudar-se para capital com o
ideário dominador de modernidade, tendo como fim adequar a cidade de São Paulo
aos grandes centros urbanos, já que esta era o pólo de crescimento agroexportador.
Juntamente com a elite, trabalhadores rurais e escravos libertos vinham para capital
à procura de emprego ou para fugir das epidemias do interior, além de imigrantes
europeus atraídos por uma melhor condição de vida. Esta invasão populacional na
cidade causou uma grande explosão demográfica, que continuaria aumentando nos
anos seguintes, como podemos ver na tabela a seguir:
7

Figura 2 - Tabela de crescimento populacional do município de são Paulo de 1836 a 1980


Fonte: [1] Referências Bibliográficas

Até o ano de 1850 São Paulo foi uma cidade pouco expandida, concentrando
todas as atividades políticas, sociais, culturais e religiosas, no chamado "triângulo",
que era formado por três ruas: A Rua Direita de Sto. Antonio (hoje Rua Direita), a
Rua do Rosário (hoje XV de Novembro) e a Rua Direita de São Bento (hoje Rua São
Bento).
De acordo com CAMPOS; GAMA; SACCHETTA (2004), na década de 1880 a
cidade de São Paulo sofreu importantes transformações para atender a elite, tendo o
centro totalmente reformado e reorganizado, com inúmeras obras luxuosas,
transformando a paisagem urbana. Estas modificações, de inicio sob o comando do
primeiro prefeito Antonio Prado que exerceu quatro mandatos consecutivos e tinha
como objetivo a configuração de uma capital que centralizasse regionalmente um
sistema de trocas ancorado na dominação dos grandes centros do Hemisfério Norte,
foram seguidas pela criação do vale do Anhangabaú, reforma dos jardins da Praça
da Republica, alargamento de ruas, abertura de praças e a construção do caríssimo
edifício do Teatro Municipal, marco indispensável na afirmação da cultura européia.
Seus sucessores seguiram o mesmo ideal e fizeram toda a reforma e adequação
necessária para que a cidade adquirisse ares europeus.
8

3(a) 3(b)

Figura 3(a) Teatro Municipal. Fonte: historiadesaopaulo.wordpress.com


Figura 3(b) Centro cidade de São Paulo, inicio do Séc. XX. Fonte: www.portalsaofrancico.com.br

4(a) 4(b)

Figura 4(a) Praça da república. Fonte: www.encontracentrosaopaulo.com.br


Figura 4(b) Largo São Bento no inicio do Séc. XX. Fonte: www.portalsaofrancico.com.br

Ainda segundo CAMPOS; GAMA; SACCHETTA (2004), São Paulo crescia


desenfreadamente, porém escondia os problemas gerados por todas estas
transformações, já que os melhoramentos só beneficiavam a elite, enquanto ao
restante da sociedade, como trabalhadores industriais e negros eram expulsos de
suas residências, com o fim de ocupar o centro com obras que valorizassem a
classe mais alta. Enquanto a cidade oficial recebia crescentes cuidados, esse
método excludente fazia surgir uma oportunidade econômica aos proprietários de
aluguel e simultaneamente um grande problema habitacional, já que com a urgência
e escassez na oferta de moradias, edificações construídas as pressas de forma
precária, formavam um quadro decadente de casas insalubres, carentes de
9

condições de higiene, trazendo á tona problemas de saúde, educação e poluição.


Segundo o geógrafo Elisée Reclus, a zona leste contrastava pelas ruas pouco
asseadas e lodaçais, com construções elegantes dos quarteirões ocidentais.
A instalação de fazendeiros de café na cidade de São Paulo propiciou o
crescimento industrial na capital, pois vinham com a família e gastavam parte da
renda obtida com o café, favorecendo a expansão dos setores de serviço
artesanato, comercio varejista, além da contratação de mão de obra de imigrantes
que apareciam em busca de serviço na região.
O crescimento industrial foi especialmente rápido no período de 1910-20, e um
pouco mais lento nos vinte anos seguintes, a fase entre guerras. Os conflitos
contribuíram para a diversificação da indústria nacional, uma vez que as grandes
fábricas dos Estados Unidos e Europa estavam voltadas para as necessidades
geradas pelas guerras. Na década de 50 o país e seu mercado consumidor
considerável são descobertos pelas empresas multinacionais, mudando o perfil
industrial que vigorava até então. No início do século XXI, 400 delas já tinham filiais
em São Paulo.

3 – QUADRO DA HABITAÇÃO SOCIAL EM SÃO PAULO NO INICIO DO SECULO


XX

Figura 5 - São Paulo Industrial


Fonte: [2] Referências Bibliográficas
10

Com a industrialização em alta, os velhos sobrados do "triângulo" onde residiam


os grandes comerciantes e fazendeiros de café até 1880-1890 se deterioraram ou
foram transformados em casas comerciais ou cederam lugar a novas construções. A
elite paulista aos poucos foi ocupando o quadrante sudoeste da cidade, chegando à
atual Avenida Paulista, porém a progressão cafeeira se interrompera. Agora as
novas fortunas saem da indústria e do comércio quase todo em mãos de
estrangeiros: a Av. Paulista (de 1891) será o bairro residencial dos milionários desta
nova fase da economia paulista.
No início do século XX, a classe trabalhadora seguia sendo prejudicada em prol
do enriquecimento crescente da classe elitizada. O Estado preocupava-se somente
com a produção e não com a qualidade de vida social dos trabalhadores.
Conforme descrição de BONDUKI (1994), a classe proletariada que habitava a
periferia da cidade crescia desordenadamente para o aumento da ganância de
proprietários que recebiam benefícios fiscais para construção de casas, que tinham
como fundamento resolver o déficit habitacional que se instalava na cidade de São
Paulo.
Ainda de acordo com BONDUKI (1994), inúmeras soluções habitacionais
surgiram neste período, todas com a prioridade de economizar materiais e espaços
nos terrenos, assim o negócio ficava mais lucrativo para os proprietários que além
de economizar nos materiais construtivos, diminuíam a quantidade de instalações
elétricas e hidráulicas. Os cortiços ou habitações coletivas precárias de aluguel,
como eram chamados essas unidades de moradia, eram germinadas, eliminando
recuos frontais e laterais, em uma seqüência de pequenas moradias ou cômodos
insalubres ao longo de um corredor. Tinham utilização coletiva multifamiliar,
constituídos de uma ou mais edificações construídas em lote urbano, com excessiva
ocupação, subdivididos em vários cômodos conjugados alugados, sublocados ou
cedidos. O uso de instalações sanitárias, banheiros, cozinha, tanques eram de uso
comum. Quase sem luz e ventilação, essas construções desprezavam as regras de
higiene, tornando-se inimigo número um da saúde pública. As tipologias mais
comuns, que constam no relatório de Comissão de Exame, apresentada a Câmara
Municipal em 1893, segundo BONDUKI (1994), eram o cortiço de quintal, este
ocupava o centro do quarteirão, com acesso através de um pequeno corredor;
cortiço casinha, também chamada de pensão, com frente para rua; casa de cômodo,
sobrado com varias subdivisões internas; cortiços improvisados, ocupação precária
11

de fundo de depósitos, bares, armazéns, cocheiras e estábulos e hotel cortiço, tinha


uso de restaurantes de dia e a noite local para dormir.

6(a) 6(b)

Figura 6(a) Cortiço no bairro do Bixiga. Fonte: Cortiços em S.P. 1919-1925. Acervo da Biblioteca
FAU, S.P
Figura 6(b) Cortiço do inicio do Séc. XX. Fonte: https://prefaciocultural.wordpress.com

BONDUKI (1994) comenta ainda que este meio de contratação inquilino e


proprietário era feito de forma particular e não tinha proteção da legislação, gerando
conflitos entre as duas classes, já que a falta de intervenção do Estado nestas
negociações possibilitou aos locatários a exploração dos inquilinos através de altos
aluguéis.
Em 1921 o Estado faz sua primeira intervenção, criando a Lei do Inquilinato, não
porque se preocupava com os trabalhadores e sim como estratégia do governo de
Getúlio Vargas para alavancamento industrial, já que com o congelamento dos
alugueis, ditado pela nova lei, este tipo de investimento se tornaria inviável,
liberando recursos para aplicação do capital nas indústrias. A Lei permaneceu por
apenas seis anos, já que os locatários usavam a lei de despejo para fugir da
regulamentação e recompor os valores dos aluguéis.
Os conflitos moviam inquilinos a se mobilizarem em torno do problema de
habitação, descartando o apoio do Estado, já que o mesmo não assumia a
responsabilidade em solucionar o problema, apenas se preocupando em incentivar o
crescimento indústria.
De acordo com CAMPOS; GAMA; SACCHETTA (2004), construções
habitacionais de forma privada foram incentivadas pelo o Estado, que propunha aos
12

industriais a construção de empreendimentos habitacionais para servirem de


moradia a seus empregados, assim surgem as vilas operárias na cidade de São
Paulo.

4 – A INSERÇÃO DA VILA OPERÁRIA COMO OPÇÃO DE MORADIA E SUAS


PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E EXEMPLOS

Segundo VIANNA (2004), as vilas operárias começam a surgir entre as duas


últimas décadas do século XIX até os anos quarenta do século XX, podendo ser
dividas em dois tipos: vila operária empresa e vila operária particular. Sendo suas
principais características diferenciadas por quem patrocinou e quem vai morar. A do
tipo empresa é planejada pelos industriais para seus operários e a do tipo particular
é construída por setores privados voltados para o mercado de locação.
Ainda na visão da autora, a vila operária empresa surge da necessidade de
inserção das indústrias em áreas rurais. A fixação dos operários se deu como uma
estratégia de sedentarizar, disciplinar, moralizar os trabalhadores da fábrica e
difundir ideais de higiene. Com a intervenção do poder público sobre as vilas
operárias tipo empresa, impondo regras restritivas, houve a estimulação e promoção
das vilas operárias particulares.
VIANNA (2004) ainda descreve que a maioria das indústrias próximas ao centro
constroem vilas operárias aos mais qualificados, seguindo leiautes em séries com
programas de necessidades mínimas que atendem a seus habitantes. Esse tipo de
configuração faz os industriais terem maior controle tanto moral como político dos
submissos e mais produtivos funcionários.
Santos descreve mais criticamente sobre as vilas operárias serem uma versão
melhorada do cortiço. Elas são construídas nos arredores dos povoados, nas
estradas e em fileira. Uma série de cubículos com portas para o pátio. Entre os
exemplos citados pela autora tem-se a Vila Marquesa de Itu, na Luz, construída em
1910 e o Parque Residencial de Savóia, em Campos Elisios, construído em 1939.
13

5 – A CONCEPÇÃO DA VILA MARIA ZÉLIA E SEUS PROMOTORES

Construída entre 1911 e 1916, e inaugurada em 1917, a Vila Maria Zélia,


projetada pelo arquiteto francês Pedarrieux, foi promovida pelo médico e industrial
Jorge Street (figura 7(a)) e concebida com a finalidade de alojar em torno de 2100
funcionários que trabalhavam na filial de sua Companhia Nacional de Tecidos da
Juta, erguida no terreno ao lado da vila, localizado próximo ao rio Tietê, no bairro do
Belenzinho, entre as ruas Celso Garcia e Cachoeira.
O nome Maria Zélia foi dado em homenagem à filha (Figura 7(b)) do industrial
promotor, pela sua morte prematura no ano de inauguração da vila.

7(a) 7(b)
Figura 7(a) - Industrial Jorge Street. Figura 7(b) – Maria Zélia Street
Fonte: [3] Referências Bibliográficas

Street era muito preocupado com a saúde de seus funcionários, o que o fez
buscar um arquiteto que trabalhasse a estrutura, tipologias e equipamentos sociais
da vila de forma a transformá-la em uma miniatura de cidade européia. Entretanto,
para erguer toda essa estrutura, os gastos eram exorbitantes; assim, por maior que
fosse o lucro com a produção industrial, não era suficiente para quitar as dívidas da
obra, e, em 1924, Street viu-se obrigado a vender a vila para a Família Scarpa que
alterou seu nome para Vila Scarpa. Cinco anos depois, em 1929, a crise que
assolou o mundo, os Scarpas não conseguem quitar suas hipotecas, vendendo
então a Vila para o grupo Guinle, que passa a denominá-la novamente de Maria
14

Zélia. Na virada dos anos 30, o grupo Guinle começa a acumular dívidas e a vila
acaba sendo confiscada pelo IAPI, atual INSS.
Entre os anos de 1931 até 1939 a fábrica é desativada, chegando a funcionar,
segundo MORANGUEIRA (2006), como presídio político. Após esse período a
fábrica é reaberta como Goodyear, e os moradores da Vila tornam-se inquilinos. Mas
somente em 1968 são autorizados a comprar seus imóveis através do sistema BNH.
Ainda segundo MORANGUEIRA (2006), em entrevista com Dona Cintra, uma
das antigas moradoras, muitos operários viam a Vila como um paraíso, com o
conforto de terem tudo que precisavam sem terem que se deslocar para outros
locais.

6 – A CONCEPÇÃO URBANA DA VILA MARIA ZÉLIA E SUAS CARACTERÍSTICAS


ESPACIAIS

Jorge Street, idealista, era visto com certa reserva pelos colegas industriais pelo
fato de não se preocupar apenas em seu próprio bem estar, mas considerar os
sonhos e anseios de seus operários em ter um teto para morar.
A vila Maria Zélia foi uma das primeiras vilas operarias com proporções de
cidade e qualidade de vida construída no Brasil. Até 1929, a casa operária era ainda
definida como uma edificação que devia contar no máximo com três ambientes,
tendo os moradores de adequar a eles aposentos, salas, cozinha e áreas privadas.
Conforme mencionado anteriormente, para projetar a vila com a qualidade
ansiada por Jorge Street, foi contratado o arquiteto francês Paul Pedaurrieux, que
optou por não pensar apenas no projeto de ruas, lotes e quadras, mas também nas
edificações de usos coletivos, idealizando o funcionamento da vila como o de uma
cidade, trazendo maior conforto aos moradores que não teriam que se deslocar para
longe, já que a vila iria ser construída em um local afastado e escondido em meio às
fabricas e as linhas férreas.
De acordo com MORANGUEIRA (2006), foram erguidas 198 casas com dois,
três e até quatro dormitórios, de tamanhos que variavam entre 75 e 110 metros
quadrados. Havia água encanada, energia elétrica e calçamento.
15

Ainda segundo MORANGUEIRA (2006) a estrutura da vila ainda contava com


duas escolas (Uma de meninos e a outra de meninas); o jardim de infância e a
creche; uma capela construída em estilo gótico; um consultório médico; consultório
odontológico; farmácia, açougue, restaurante e armazém, cujos valores eram
descontados dos salários dos trabalhadores. Existiam também equipamentos
destinados ao lazer: um salão de baile, teatro, campo de futebol, grupo de escoteiros
e um coreto. Toda esta estrutura contava ainda com policiamento com o intuito de
manter a ordem.
A vila contém uma arquitetura que faz referência à linguagem clássica com
elementos tais como frontão, platibanda, coluna, pilastra e alpendres, tendo sido
necessário aliar a isto a solução de casas geminadas, para maior aproveitamento do
lote e redução do uso de materiais.

Figura 8 – Foto aérea Vila Maria Zélia


Fonte: http://www.cultura.sp.gov.br/StaticFiles/SEC/Condephaat/Bens%20Tombados/24268-1985-F.JPG

A Vila Maria Zélia pode ser considerada uma cidade dentro da cidade de São
Paulo, pois sua dinâmica sempre foi independente do bairro do Belém, considerando
elementos que variam desde sua concepção, passando por suas relações sociais
como o "duplo mecanismo de extração da mais valia” e sua auto - suficiência até seu
traçado urbano de malha ortogonal, isolado do resto da cidade. (vide mapa anexo 8)
16

7 – A UNIDADE HABITACIONAL NA VILA MARIA ZÉLIA: TIPOLOGIAS E SISTEMA


CONSTRUTIVO

A vila Maria Zélia foi construída em grande parte por alvenaria em tijolo,
revestida de cimento e pó de pedra. Nos edifícios maiores a estrutura é de ferro
fundido. Todas as edificações, incluindo as casas, possuíam assoalhos em pinho-
de-riga, forro e esquadrias em madeira e portas em madeira maciça.
Conforme cita MORANGUEIRA (2006) e descreve Teixeira (1990), as casas da
vila Maria Zélia possuíam as tipologias conforme apresentado no trecho extraído de
citação e apresentado como figura 9 neste trabalho.

Figura 9 – Trecho extraído de citação


Fonte: [3] Referências Bibliográficas

Segundo MORANGUEIRA (2006), as casas eram distribuídas seguindo critérios


que iam do número de operários de uma mesma família trabalhando na fábrica, à
especialização e à necessidade de seu trabalho.
17

Além disso, os solteiros dispunham de aposentos próprios, com quartos


individuais em um prédio denominado de moradia dos solteiros (figura 10)

Figura 10 – Entrada da antiga moradia dos solteiros – Vila Maria Zélia 2006
Fonte: [3] Referências Bibliográficas

Com relação aos edifícios sociais foi possível encontrar as descrições de


tipologias e plantas, conforme segue abaixo.

Figura 11 – Planta dos pavimentos do prédio onde foi o restaurante da vila Maria Zélia em 1919
Fonte: https://museudeteatro.wordpress.com/a-vila-maria-zelia/
18

Na figura 11 (acima) pode ser observada a planta dos pavimentos do Prédio que
foi o restaurante São Lourenço em 1919. Além disso, o mesmo prédio possuía
outros tipos de uso comercial: fábrica de sapatos, salão de baile e padaria.

Figura 12 – Planta dos pavimentos da escola de meninos


Fonte: https://museudeteatro.wordpress.com/a-vila-maria-zelia/

Na figura 12 temos as plantas dos pavimentos da Escola de Meninos, onde o


térreo possui quatro salas (60 alunos cada), amplo espaço para recreio, WC, etç; e
no pavimento superior, vemos que o espaço foi organizado de forma a conter seis
classes amplas, cinco terraços, quatro quartos, uma copa e uma sala.
A partir do croqui da figura 13 abaixo é possível imaginar como eram as
fachadas originais tanto das escolas de meninos quanto a das meninas.

Figura 13 – Croqui da fachada da escola de Meninos e Meninas (Fachadas Idênticas)


Fonte: https://museudeteatro.wordpress.com/a-vila-maria-zelia/

Na figura 14 (abaixo) temos um croqui dos detalhes das Fachadas das casas da
Vila Maria Zélia, desenhadas por Eduardo Bajzek. A vila, com grande concentração
de imigrantes de origens européias foi dotada de extremo ecletismo no conjunto das
fachadas, frisos e formas geométricas, produzindo formas simultaneamente simples
e ricas; onde cada fachada possuía detalhes trabalhados segundo a origem dos
seus moradores; entre eles italianos, portugueses, espanhóis e poloneses.
19

Figura 14 – Croqui das fachadas das residências da vila Maria zélia


Fonte: http://ebbilustracoes.blogspot.com.br/2015_01_01_archive.html

8 – CARTOGRAFIA HISTÓRICA

Segundo BONDUKI (1981), a partir do grande crescimento da cidade de São


Paulo iniciado em 1886, quando verdadeiramente surge o problema de habitação
(vide expansão das áreas construídas que pode ser percebida na montagem da
figura 15), a produção de moradias para operários e outros setores de baixa renda
começa a ser amplamente difundida pela cidade, com várias tipologias diferenciadas
e condicionadas de acordo com a renda dos trabalhadores. Assim, para o
trabalhador mais mal remunerado tinha-se o cortiço e para os mais qualificados e de
classe média se difundiam conjuntos de pequenas casas unifamiliares geminadas,
denominadas como vilas.

Figura 15 – Montagem de plantas da cidade de São Paulo demonstrando o crescimento demográfico


Fonte: Material fornecido pelos professores Eliana Rosa e Braz Casagrande da disciplina Lab. de Urbanismo
OBS: Esses mapas podem ser melhor visualizados nos anexos 1,2,3,4,5 e 6 desse trabalho.
20

Ainda segundo BONDUKI (1981), a vila operária mais famosa edificada em São
Paulo é a Vila Maria Zélia, construída como “cinderela” e oferecendo vários
equipamentos sociais a seus moradores (Vide figura 16 abaixo); embora similar a
várias outras vilas do tipo construídas no interior do estado, é uma exceção na
cidade de São Paulo, correspondendo mais a uma postura pessoal do seu
idealizador do que a uma racionalidade econômica das suas indústrias.

Figura 16 – Recorte do mapa Sara de 1930 para destaque da área da vila Maria Zélia
Fonte: Material fornecido pelos professores Eliana Rosa e Braz Casagrande da disciplina Lab. de Urbanismo
OBS: Esses mapas pode ser melhor visualizado no anexo 7 desse trabalho.

Nos mapas presentes nos anexos 7, 8, 9 e 10, é possível verificar as


transformações pelas quais a vila Maria Zélia passou desde sua inauguração até a
atualidade.

9 – CONCEPÇÃO URBANA DA VILA MARIA ZÉLIA E SUAS CARACTERÍSTICAS


ESPACIAIS NA ATUALIDADE.

Na atualidade, a principal característica da vila, servir de moradia aos operários


da fabricada vizinha, perdeu-se junto com suas casas de fachadas, cores e materiais
padronizados, como é possível notar nas figuras 17(a) e 17(b). Assim também, os
edifícios sociais projetados para dar autonomia à vila e conforto aos moradores,
21

antes um orgulho para quem lá residia, são hoje ruínas do que foram e as maiores
preocupações de quem lá reside na atualidade (vide antes e depois figuras 18 e 19.

17(a) 17(b)
Figura 17(a) – Vila Maria Zélia em 1917. Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/
Figura 17(b) – Vila Maria Zélia em 2012. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1526820

Figura 18 – Fachada da Escola de Meninos – à esquerda fotografia tirada em 1917 e à direita


fotografia tirada em 2012
Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/

19(a) 19(b)
Figura 19(a) – Prédio do salão de festas em 1917. Fonte: http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/
Figura 19(b) – Prédio do Salão de festas em 2012. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1526820
22

As casas acabaram sendo modificadas porque somente em 09 de Dezembro de


1992, os órgãos de preservação em nível Estadual - CONPRESP, e Municipal -
CONDEPHAAT, optaram pelo tombamento da vila (vide mapa do anexo 8); fazendo-
o em três níveis, englobando o traçado urbano, o conjunto de casas e a vegetação
de porte arbóreo. As escolas e os armazéns permanecem abandonados desde que
se tornaram propriedade do INSS. A capela é administrada pela Paróquia de São
José do Belém, sendo um dos únicos prédios sociais que estão em bom estado de
conservação.
A Vila Maria Zélia possui projeto de restauro pelos poderes públicos, onde
quatro imóveis pertencentes ao INSS foram doados à Prefeitura Municipal de São
Paulo para serem devolvidos à comunidade em forma de escolas técnicas, oficinas
de arte e um museu. Entretanto o projeto vai de encontro com parte da comunidade,
hoje dividida entre a preservação desse espaço histórico/urbano, de um passado do
qual se orgulham, e a valorização imobiliária.
Em 25 de agosto de 2006, foi assinado um termo de compromisso entre o INSS
e a Prefeitura, sendo uma das obrigações a restauração das construções e a
preservação do patrimônio. O prazo venceu em 2011, e até o momento (abril de
2015), os prédios não receberam qualquer revitalização, excetuando-se a troca do
telhado do prédio "multiuso", que abrigou uma restaurante, fabrica de calçados salão
de baile e etc.
Em abril de 2015 o ministério público federal (MPF) de São Paulo, com a
intenção de que a vila centenária não venha ser demolida, recomendou ao Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS), que fossem feitas obras de restauração e
conservação em seis edificações. O INSS teve até 15 de abril para informar as
providencias que seriam tomadas, mas não se manifestou, demonstrando o descaso
do poder publico.

10 – CONCLUSÃO

O período no qual foram construídas as vilas operárias foi um momento histórico


para a cidade de São Paulo. Inserida em uma sociedade totalmente voltada à
produção e comercialização em massa, a vila operária tinha um papel fundamental
23

na logística e desenvolvimento do sistema industrial. Assim, a temática e o objeto de


estudo abordados neste trabalho foram de extrema importância para facilitar no
entendimento do desenvolvimento urbano das cidades e como aconteceram as
transformações na forma de habitar até a atualidade.
Este trabalho nos despertou também para as questões que o processo de
tombamento traz aos imóveis, como as dificuldades de manutenção, o descaso e
falta de interesse do poder público na restauração dos bens denominados como
patrimônios históricos (como ocorre na triste realidade vivida pela Vila Maria Zélia).

11 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: vilas operárias na cidade de
são Paulo. São Paulo: Nobel, 1985;

[2] BONDUKI, N.G. Origens da habitação social no Brasil: Análise Social. vol.
XXIX (127), 1994. p. 711-732.

[3] MORANGUEIRA, Vanderlice de Souza. Vila Maria Zélia: Visões de uma vila
operária em São Paulo (1917 – 1940). Dissertação (Mestrado em História) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2006;

[4] VIEIRA, Ronaldo da Mota. A Vila Maria Zélia: Interesses, interessados e


pontos de vista divergentes sobre sua conservação. Revista Eletrônica da
FACEQ, Ano 4,v. 13, n. 13, p 1-10, fevereiro de 2014;

[5] TEIXEIRA, Palmira Petratti. A fábrica do sonho: trajetória do industrial Jorge


Street. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990;

[6] BONDUKI, N.G. Habitação Popular: contribuição para o estudo da evolução


urbana de são Paulo. Rio de Janeiro, 1981;
24

[7] CAMPOS, M.C.; GAMA, L.H.; SACCHETTA, V. São Paulo Metrópole em


Trânsito: Percursos urbanos e culturais. 1. ed. Senac São Paulo, 2004.

[8] PEREIRA, Luiz Carlos Soares; PIRES, Luana de Paiva. Revista Historiador
número 1: história do Brasil contemporâneo. 2008.7fls.

[9] NASCIMENTO, Douglas. São Paulo Antiga: Vila Maria Zélia. 11/10/2012
<http://www.saopauloantiga.com.br/vilamariazelia/> acesso em 20/03/2015 às 10:00

[10] VIANNA, Mônica Peixotto. Habitação e modos de vidas em vilas operárias.


Monografia apresentada para disciplina de Habitação, metrópoles e modos de vida
na Universidade de São Paulo. São Paulo, 2004;

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