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A NOSSA ORAÇÃO
– O Senhor, do Céu, continua a interceder por nós. A sua oração é sempre eficaz.
– Frutos da oração.
– As orações vocais.
Jesus dirigiu súplicas ao Pai e a sua oração sempre foi escutada3. Os seus
discípulos conheciam bem este poder da oração do Senhor. Depois da morte
de Lázaro, a sua irmã, Marta, disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui,
meu irmão não teria morrido; mas eu sei que tudo quanto pedires a Deus, Ele
te concederá4. No momento em que ia ressuscitar Lázaro, Jesus, elevando os
olhos ao céu, disse: Pai, dou- te graças porque me tens escutado. Eu sei que
me escutas sempre5. Pedirá por Pedro antes da Paixão: Simão, Simão, eis que
Satanás vos procurou para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para
que a tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos6.
E Pedro converteu-se depois da sua queda. Jesus rogou igualmente ao Pai
pelos Apóstolos: Não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do
mal... Santifica- os na verdade...7 Jesus sabe do abatimento em que os seus
discípulos mergulharão poucas horas mais tarde, mas a sua oração os
sustentará; obter-lhes-á forças para serem fiéis até darem a vida por Ele.
Nessa oração sacerdotal da Última Ceia, o Senhor pediu ao Pai por todos os
que haviam de crer n’Ele ao longo dos séculos. Pediu por nós, e a sua graça
não nos falta. “Cristo vivo continua a amar-nos ainda hoje, agora, e
apresenta-nos o seu coração como a fonte da nossa redenção: Semper vivens
ad interpellandum pro nobis – Ele vive sempre para interceder por nós (Heb 7,
25). Esse coração que tanto amou os homens e que é tão pouco correspondido
por eles, envolve-nos a nós e envolve o mundo inteiro a cada momento”8.
Do Céu, Jesus Cristo, “sentado à direita do Pai” 9, intercede por todos os que
somos membros da sua Igreja, e “permanece sempre como nosso advogado e
nosso mediador”10. Santo Ambrósio recorda-nos que Jesus defende sempre a
nossa causa diante do Pai e que a sua oração não pode deixar de ser
atendida11; pede ao Pai que os méritos que adquiriu durante a sua vida terrena
nos sejam aplicados continuamente.
Que alegria dá pensar que Cristo vive sempre para interceder por nós!12, que
podemos unir as nossas orações e o nosso trabalho à sua oração. Por vezes,
faltam à nossa oração a humildade, a confiança, a perseverança que lhe
seriam necessárias; apoiemo-la na oração de Cristo; peçamos-lhe que nos
inspire o modo conveniente de orar, de acordo com as intenções divinas; que
apresente as nossas preces ao seu Pai, para que sejamos um com Ele por
toda a eternidade13. Mais ainda, façamos de toda a nossa vida uma oferenda
intimamente unida à de Jesus, por intermédio de Santa Maria: “Pai Santo! Pelo
Coração Imaculado de Maria, eu Vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado,
e me ofereço a mim mesmo n’Ele, com Ele e por Ele, por todas as suas
intenções e em nome de todas as criaturas”14. Assim, a nossa oração e todos
os nossos actos, intimamente unidos aos de Jesus, adquirem um valor infinito.
Santa Teresa faz-se eco das palavras de um “grande letrado”, para quem
“as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido, que,
embora tenha pés e mãos, não os pode mexer”17. A oração é necessária para
amarmos mais e mais o Senhor, para nunca nos separarmos d’Ele; sem ela, a
alma cai na tibieza, perde a alegria e as energias necessárias para fazer o
bem.
O diálogo íntimo de Jesus com Deus Pai foi contínuo: para pedir, para
louvar, para agradecer; em todas as circunstâncias, Jesus dirige-se ao Pai. Nós
devemos aspirar ao mesmo: a procurar sempre o colóquio com Deus,
especialmente nos momentos que dedicamos exclusivamente a falar com Ele,
como na Missa e agora, nestes minutos de oração. Mas devemos procurá-lo
também ao longo do dia, nas situações que entretecem o nosso dia: ao
começarmos e terminarmos o nosso trabalho ou estudo, enquanto esperamos
o elevador, ao encontrarmos na rua uma pessoa conhecida. Aquela invocação
cheia de ternura do Senhor – Abba, Pai! – estava constantemente nos seus
lábios, com ela começava muitas vezes as suas acções de graças, os seus
pedidos ou o seu louvor. Quanto bem fará à nossa alma chamar Deus
assim: Pai!, com ternura e confiança, com amor!
O Santo Cura d’Ars costumava dizer que todos os males que muitas vezes
nos preocupam na terra vêm precisamente de não orarmos ou de o fazermos
mal19. Formulemos o propósito de dirigir-nos com amor e confiança a Deus
através da oração mental, das orações vocais e dessas breves fórmulas que
são as jaculatórias, e teremos a alegria de viver junto do nosso Pai-Deus, que é
o único lugar onde vale a pena viver.
III. O ESPÍRITO SANTO ensina-nos a procurar o trato íntimo com Jesus não
só na oração mental como também na oração vocal, e até por meio dessas
orações que aprendemos, quando pequenos, das nossas mães. Mesmo sendo
omnisciente enquanto Deus, Jesus, enquanto homem, deve ter aprendido dos
lábios de sua Mãe a fórmula de muitas orações transmitidas de geração em
geração no seio do povo hebreu, e deu-nos exemplo de apreço pela oração
vocal. Na sua última oração ao Pai, utilizou as palavras de um Salmo. E
ensinou-nos a oração por excelência, o Pai- Nosso, em que se contém tudo o
que devemos pedir.
(1) Lc 6, 12-19; (2) cfr. Lc 16, 1; (3) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 21, a. 4; (4) Jo 11,
21; (5) Jo 11, 42; (6) Lc 22, 32; (7) cfr. Jo 17, 15 e segs.; (8) João Paulo II, Homilia na Basílica
do Sagrado Coração de Montmartre, Paris, 1-VI-1980; (9) Missal Romano, Símbolo
niceno- constantinopolitano; (10) São Gregório Magno, Comentário ao Salmo 5; (11) cfr. Santo
Ambrósio, Comentário à Epístola aos Romanos, 8, 34; (12) Hebr 7, 25; (13) cfr. R.
Garrigou-Lagrange, O Salvador, pág. 351; (14) P. M. Sulamitis, Oferenda ao Amor
misericordioso; (15) cfr. Sl 41, 2; (16) São João da Cruz, Cântico espiritual, Canção 29, 2 b;
(17) Santa Teresa de Jesus, Castelo interior, Morada primeira, I, 6; (18) João Paulo II, Homilia,
13-I-1981; (19) São João Maria Vianney, Cura d’Ars, Sermão sobre a oração; (20) São
Josemaría Escrivá, Caminho, n. 92; (21) cfr. G. Chevrot, En lo secreto, Rialp, Madrid, 1960,
págs. 100-101; (22) São Josemaría Escrivá, Forja, n. 432.