Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
3 UNIDADE 1 - Introdução
4 UNIDADE 2 - Direitos fundamentais
4 2.1 Os Direitos Fundamentais
SUMÁRIO
16 UNIDADE 3 - Deveres dos presidiários
20 UNIDADE 4 - Restrição de direitos
22 UNIDADE 5 - Reabilitação moral
24 UNIDADE 6 - Prestações previdenciárias
44 REFERÊNCIAS
3
UNIDADE 1 - Introdução
Com limitações inerentes à sua con- a) Vida – afirmar o direito dos presos
dição penal, outras idealizações do ser à vida, uma garantia óbvia devida a todo
humano permanecem à sua disposição; ser humano, avulta na medida em que ele
muitas dessas garantias serão examina- permanece ameaçado, no comum dos ca-
das em particular nos capítulos seguintes. sos, pelos próprios colegas de infortúnio
Excetuadas aquelas garantias próprias do (a despeito do dever da autoridade de
privado das liberdades físicas, os presidi- zelar pela sua segurança pessoal). Pouco
ários gozam de todas as demais faculda- significando agora o que eles tenham fei-
des humanas. Em seu art. 3º, a LEP diz: “Ao to para serem apenados, melhor dizendo,
condenado e ao internado serão assegu- exatamente por isso. Destacando-o como
rados todos os direitos não atingidos pela um dos principais, Barros (2006) assinala
sentença ou pela lei”. que essa defesa fundamental está inscul-
pida lapidarmente na Carta Magna.
Vimos em outro momento do curso que,
em vez de condenado, o certo é ler “preso” b) Segurança – no seu art. 38, o Código
ou “apenado”. Após consagrar “o respeito Penal diz que “o preso conserva todos os
à integridade física e moral dos condena- direitos não atingidos pela perda de liber-
dos e dos presos provisórios” (art. 40), a dade, impondo-se a todas as autoridades
LEP enuncia 16 “direitos do preso” (LEP, o respeito à sua integridade física e mo-
art. 41, l a XVI). Entre esses benefícios do ral”. Quando a situação requerer, o preso
cidadão não está o de fugir. Aliás, a ten- será beneficiado pelas normas de prote-
tativa e a consumação da evasão, ao con- ção à testemunha.
trário, constituem infrações disciplinares c) Dignidade – o respeito à dignidade
graves. da pessoa humana é uma exigência po-
No entendimento de Martinez (2010), tencializada quando de sua prisão. Daí,
como a sociedade evolui e materialmente todo o tempo, precisamos nos lembrar da
logra alcançar alguns benefícios conquis- teoria jurídica do dano moral.
tados pela tecnologia, amanhã se discu- d) Igualdade – significa pouco o que
tirá quais são os limites dessas intenções aconteceu antes da condenação; todos
dos presidiários. Com certeza, no início
5
rentes hipóteses em que são possíveis as aquele que foi penalizado possa tentar
saídas autorizadas. reabilitar-se moralmente perante a socie-
dade.
j) Pecúlio – quem tem renda constitui-
rá um pecúlio. Por fim, sobre as condições carcerá-
rias, é importante saber:
k) Fiança – nas condições previstas na
lei, a pessoa pagará a fiança estabelecida a) Alimentação – no mínimo, os presos
pela autoridade policial e responderá ao farão jus a três refeições diárias (LEP, art.
processo em liberdade. 41, I). Quando elas provierem de tercei-
ros deverão ser previamente examinadas
l) Recursos – todos os remédios jurídi- (RIEP, art. 23, II, a).
cos previstos na CF e no CPP ficam à dis-
posição de quem está com a sua liberdade b) Vestuário – as roupas devem se ade-
restringida. quadas às condições do presídio e à esta-
ção do ano (RIEP, art. 23, II, b).
m) Inocência – ainda que tenha sido
condenado em sentença transitada em c) Repouso – o descanso noturno é as-
julgado, um dos mais relevantes direitos segurado na medida do possível. Quem
do presidiário é o de tentar provar a sua trabalha faz jus a descanso diário.
inocência.
d) Habitabilidade – será ofertada em
n) Sensacionalismo – o Diretor do Pre- condições normais “conforme padrões es-
sídio tomará todas as providências para tabelecidos pela Organização Mundial de
evitar que o presidiário seja objeto de Saúde” (RIEP, art. 23, II, c).
sensacionalismo, especialmente da mídia
e) Recreação – o entretenimento diu-
televisionada. Se não quiser, este último
turno é saudável para o cumprimento da
não é obrigado a dar entrevistas a nin-
pena.
guém.
f) Atividades esportivas – praticar es-
o) Dano moral – provado que o Estado
portes, preferivelmente coletivos, é sem-
é responsável pela diminuição do patri-
pre recomendado.
mônio material ou moral do indivíduo, nas
inúmeras hipóteses em que isso é possí- g) Guarda de bens – a unidade prisio-
vel de acontecer num presídio, impõe-se nal incumbe-se da preservação dos bens
o processo de dano moral (MARTINEZ, do presidiário, liberando-os quando de
2007). sua soltura.
eles tem seu lugar, uma vez que os pre- vivência pacífica, ou seja, definir regras de
sos, na maioria das vezes, conhecem seus comportamento e formas de inibição da
direitos e deveres e em muitas situações transgressão que sejam seguidas dentro
conversará com você utilizando-se des- da legalidade.
ses conhecimentos.
Seguir o princípio da dignidade huma-
Em cada ramo do direito encontramos na também é imprescindível, pois mesmo
princípios próprios, mas todos os ramos tendo cometido um delito, o presidiário é
seguem primeiro aos princípios comuns um ser humano. Este é um dos chamados
a todos os ramos que são os princípios princípios estruturantes do Estado Demo-
gerais (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, crático de Direito.
2006).
Princípio da integridade física, embora
Princípios são normas que fornecem haja disputa de poder e busca por privilé-
coerência e ordem a um conjunto de ele- gios dentro das prisões, que podem levar
mentos sistematizando-o, são funda- a violência entre presos, esta não deve
mentos que servem para regular as rela- prevalecer e o preso tem direito de viver e
ções entre as pessoas. São proposições conviver preservando-se sua integridade
que se colocam na base da Ciência Jurídica corporal e moral.
Processual e auxiliam na compreensão do
O presidiário tem o direito de recorrer
conteúdo e extensão do comando inseri-
da condenação da pena e eventual puni-
do nas normas jurídicas e em caso de la-
ção que sofre por força do regime repres-
cuna da norma, servem como fator de in-
sivo do presídio, respeitando-se o princí-
tegração.
pio da inconformidade jurídica.
A palavra princípio, em sua raiz latina
A preservação da personalidade é ou-
última, significa “aquilo que se toma pri-
tro princípio que deve ser respeitado, por
meiro” (primum capere), designando iní-
exemplo, deve o presidiário ser chamado
cio, começo, ponto de partida. Princípios
pelo nome, de preferência de senhor. Afi-
de uma ciência, segundo Cretella Júnior
nal, como já dito, ele não é um número,
(1989, p. 129), “são as proposições bási-
mas um indivíduo do grupo.
cas, fundamentais e típicas que condicio-
nam todas as estruturas subsequentes”. Outros princípios seriam: individualiza-
Pois bem, em se tratando do regime dos ção da disciplina; tratamento igualitário;
presídios, os princípios que o regem prati- recuperação o apenado e participação do
camente são os mesmos do Direito Penal juízo, ou seja, conhecer as normas, os re-
e Processual Penal, adaptados quando gulamentos penitenciários para compre-
convier. ender sua situação (MARTINEZ, 2010).
Falaremos brevemente sobre eles:
2.4 Responsabilidade do
Princípio da absoluta legalidade – uma
vez que a população carcerária é enorme e
Estado em relação aos De-
subjetivos são os seus desejos e anseios, tentos
é premissa básica para se buscar uma con-
11
O preso não tem somente deveres a sua violação gera responsabilidade civil,
cumprir, mas é sujeito de direitos, que de- por atos de seus agentes, seja pela ação
vem ser reconhecidos e amparados pelo ou omissão.
Estado. Quando o sentenciado estiver re-
Se é dever do Estado re(educar), (re)so-
cluso, seja por qualquer motivo, não está
cializar e (re)inserir o condenado (preso)
sem direitos, exceto aqueles limitados em
ao convívio social, evitando que reincida
face da sua condenação (KLOCH; MOTTA,
na criminalidade, então é de sua respon-
2008). Por isso, a sua condição jurídica
sabilidade indenizá-lo quando não efeti-
não é suprimida, mas sim, é igual a das
vou sua obrigação.
pessoas não condenadas.
A partir do momento em que o preso
Quando o apenado estiver sob a cus-
reivindicar indenizações, por ineficiência
tódia do Estado, passa a ser deste a res-
da execução penal, o Poder Público certa-
ponsabilidade de manter a integridade e
mente admitirá que a forma em que está
a dignidade do detido, bem como, salva-
sendo executada a pena, na maioria dos
guardar seus direitos e deveres.
casos, é inoperante, falida, antiética e
O desrespeito à integridade física e onerosa.
psíquica deprecia a personalidade do
Se o Estado enclausura um delinquen-
apenado sem motivo justificável e apli-
te analfabeto por quase dez anos, deveria
ca inconscientemente a pena de tortura,
transformá-la num profissional culto, mas
tornando-se instrumento para solicitar
quando consegue mantê-lo aprisionado,
indenização por danos morais, devidos
apenas o deixa apreender as artimanhas
pelo Estado. Para Carrara (2002, p. 419),
da criminalidade organizada.
“é a tortura a mais bárbara, a mais execrá-
vel e a mais ilógica das sugestões reais”. O
Estado é responsável pela prática da tor-
tura, quando realizada por seus agentes 2.5 As Consequências Jurí-
ou por intermédio de terceiros, quando o
ofendido estiver sob sua custódia.
dicas pela Afronta ao Princí-
A constante insegurança nas celas; o
pio da Dignidade do Deten-
fato de ser atacado por outro detento; as to
lesões; a morte; a perda dos sentidos; são
Segundo estudos de Kloch e Mattos
atos considerados desumanos, não pre-
(2008), o descaso com a tutela do direi-
vistos em nenhuma lei brasileira vigente
to à personalidade do detento, especial-
como forma de castigo. Por isso, é verda-
mente com relação à integridade física e
deiramente uma afronta aos princípios
psicológica, reflete em vários segmentos
fundamentais da dignidade humana, não
sociais, pois são tidos como atos negati-
resguardando os direitos da personalida-
vos no tocante à recuperação e até para
de, positivados na legislação brasileira.
a punição do apenado. As consequências
Manter a integridade física e psíquica geradas pelo desrespeito à dignidade do
do detento é dever indelével do Estado; apenado podem refletir:
12
mesmo pelos outros detentos, pois o ape- execução da pena, quando o condenado
nado quando segregado está sob a res- não é liberto, após regular cumprimento
ponsabilidade do Estado. da pena estabelecida na sentença.
Os danos podem ser físicos, psíquicos O art. 37, § 6º, da CF/88, estabelece
ou intelectuais, causados muitas vezes essa responsabilidade, quando expressa
pela falta de ética, por um serviço não que as pessoas jurídicas de Direito Pú-
efetivo, pela brutalidade e descontrole do blico responderão pelos danos que seus
poder disciplinador do Estado-Penal. agentes causarem a terceiros.
g) não participar de movimento indivi- çado a trabalhar, mas o apenado deve co-
dual ou coletivo de tentativa e consuma- laborar com a política de labor do regime
ção de fuga. prisional, esforçando-se por participar
das atividades laborais internas e exter-
h) não liderar, participar ou favorecer nas.
movimentos de greve e subversão da or-
dem e da disciplina. Cultos Religiosos – não só respeitar
as opções religiosas dos demais detentos
como submeter-se às condições para a
CIRCULAÇÃO E MOVIMENTAÇÃO – a prática religiosa coletiva ou individual.
entrada e a saída do estabelecimento pe-
Participação Geral – alguns aspec-
nal é tema que diz respeito à segurança
tos da convivência pacífica devem ser res-
de todos. Daí:
saltados. Observar as condições para a
a) submeter-se às normas de transfe- posse e uso de aparelho de radiodifusão
rência e remoção de ordem judicial, técni- e aparelho de TV e atender às condições
co-administrativa e às solicitadas. das sessões cinematográficas, teatrais,
artísticas e socioculturais (MARTINEZ,
b) cumprir rigorosamente o horário de 2010).
retorno quando de saídas temporárias.
i) Proibição do exercício de cargo públi- mente ser condenado também à pena res-
co – o apenado não poderá exercer qual- tritiva de liberdade.
quer cargo público. Pela importância da
restrição, a hipótese reclama justificativa.
Qualquer que seja ela, atendidas algu- Reabilitação (arts. 93/95), para tratar do
mas condições, quem cumpriu a pena tem tema. No Código de Processo Penal, os
permissão para requerer a reabilitação de arts. 743/750 também dispõem sobre o
sua personalidade, seu nome e sua repu- assunto.
tação.
b) Alcance da Providência – não há
À evidência, não se trata mais de um distinção quanto às punições que possam
preso, mas de alguém que já se desobri- ser objeto da reabilitação (CP, art. 93). Ela
gou perante a sociedade. A hipótese de se estende às penas de restrição de direi-
um apenado, durante o recolhimento à to. Vale também para as ilicitudes comina-
prisão, tentar reabilitar-se em relação a das da Lei das Contravenções Penais.
um crime anterior será rejeitada se ele for
c) Iniciativa Processual – o interes-
novamente condenado.
sado é quem tem a iniciativa de promover
O que fundamenta a reabilitação é o sua reabilitação. Trata-se de uma relação
bom comportamento da pessoa humana intuitu personae, ou seja, em relação à
na vida em sociedade. pessoa, mas que, a rigor, também poderá
ser intentada pelos seus sucessores. So-
O Decreto nº 6.049/07, em seu art. 81,
brevindo os efeitos próprios em relação
trata da reabilitação carcerária, fixando
a um falecido. Da decisão concessória há
prazos para a reabilitação:
recurso de ofício (CPP, art. 746).
a) 3 meses para faltas leves.
d) Reedição da Concessão – exceto na
b) 6 meses para faltas médias. hipótese de o indeferimento ter decorrido
da falta ou insuficiência de documentos,
c) 12 meses para faltas graves. E, negada a reabilitação, um novo pedido
d) 24 meses para faltas graves com vio- somente será instruído após dois anos e
lência (art. 81, I / IV). com a apresentação de novos elementos
convincentes.
a) Idealização Mínima – por intermé-
dio da reabilitação, o indivíduo tentará e) Condições Administrativas – as
apagar de sua vida todos os consectá- exigências materiais e formais para que
rios, desdobramentos e efeitos possíveis tenha o direito à reabilitação são as se-
dos processos anteriores, da prisão e do guintes:
cumprimento da pena. Para o art. 748 do
a) Residência no País há pelo menos
CPP: “A condenação ou condenações an-
dois anos.
teriores não serão mencionadas na folha
de antecedentes do reabilitado, nem em b) Tenha tido efetiva e constantemen-
certidão extraída dos livros do juízo, sal- te um bom comportamento público e pri-
vo quando requisitadas por juiz criminal”. vado.
O Código Penal reserva o Capítulo VII – Da
c) Prove que ressarciu a vítima ou que
23
Na oportunidade de disciplinar a ocupa- tipo, que seja praticado por companhia se-
ção do presidiário, o art. 39 do Código Pe- guradora. Claro que o segurador levará em
nal diz que “o trabalho do preso será sem- conta as condições atípicas do apenado.
pre remunerado, sendo-lhe garantidos os
Ainda que não trabalhe, o presidiário é
benefícios da Previdência Social”.
mantido pelo Estado e, nessas condições,
Como se vê, esse dispositivo de 1940 raramente reunirá os requisitos da Lei nº
trata apenas dos direitos previdenciários 8.742/93.
do reeducando que trabalha e não ampla-
a) Filiação E Inscrição – a situação do
mente dos direitos previdenciários do pre-
presidiário deve ser considerada em três
so ocioso. Pretensões parcamente discipli-
momentos básicos: i) antes; ii) durante o
nadas na legislação e carentes de doutrina
processo penal; e, iii) depois do recolhi-
especializada (MARTINEZ, 2010).
mento à prisão. Isto é, o que ele perde e o
Embora já em 1960 a Lei Orgânica da que ele adquire após essas datas-bases.
Previdência Social (LOPS) falasse da quali-
Se filiado, regulamentado e inscrito
dade de segurado do preso livre da cadeia,
como segurado obrigatório ou facultati-
o tema só interessou ao legislador jus-
vo, portanto com qualidade de segurado,
previdenciarista com a Lei nº 10.666/03.
avaliar-se-á a manutenção desse status
Entretanto, de longa data, o Ministério da
jurídico após a detenção. Pelo menos na
Previdência Social (MPS) havia se manifes-
condição de facultativo ele pode continuar
tado sobre a filiação e a contribuição.
contribuindo e somando tempo de serviço
No que diz respeito ao recluso, releva para fins de benefícios.
também definir os direitos dos seus depen-
Caso não seja, pode filiar-se como fa-
dentes, enfaticamente no caso de fuga,
cultativo (se não trabalhar no presídio) por
recaptura ou morte. Cuida-se aqui daquele
sua vontade ou obrigatoriamente como
recolhido à prisão, já que em outras situa-
contribuinte individual (se trabalhar den-
ções como do regime semiaberto, da liber-
tro ou fora do presídio).
dade condicional, da prisão domiciliar, etc.,
a pessoa tem mais possibilidade de se or- Normativamente, o correto parece ser
ganizar em matéria de previdência social. o legislador definir um tipo de segurado,
designado como presidiário, como fez com
Aposentado presidiário que esteja cum-
outros protegidos (MARTINEZ, 2010).
prindo pena mantém os direitos antes
assegurados pelo INSS. Os seus depen- b) Qualidade de Segurado – quem foi
dentes, evidentemente, não farão jus ao preso perderá a qualidade de segurado nos
auxílio-reclusão cujo pressuposto é a não termos do art. 15 do Plano de Benefício da
percepção de renda. Previdência Social (PBPS). Mas poderá con-
tribuir como facultativo ou contribuinte in-
Caso queira, o presidiário celebrará um
dividual (se trabalhar). Se já possuía, con-
contrato de seguro de vida ou de outro
forme o inciso IV, manterá essa qualidade
25
tadoria especial. Esses direitos podem ser o benefício é acumulável com a remunera-
inteiramente realizados no presídio, pelo ção do presidiário e b) não há direito ao au-
menos para quem está condenado a 30 xílio-doença (o legislador esqueceu-se da
anos de prisão. Nenhum desses benefícios aposentadoria por invalidez) ou à aposen-
agora lembrados exige exame médico pe- tadoria combinada com o auxílio-reclusão.
ricial e bastará ao segurado preencher os
i) Previdência Complementar – a Lei Bá-
requisitos legais.
sica da Previdência Complementar - LBPC
e) Salário-Maternidade – mulher sen- (LC nº 109/01) não enfoca assinaladamen-
tenciada cumprindo pena que se filiou à te os presidiários. Entende-se que afas-
previdência social fará jus ao salário-ma- tado temporariamente da empresa pa-
ternidade na condição de contribuinte in- trocinadora em virtude do recolhimento à
dividual ou facultativa. prisão, ele poderá continuar contribuindo
como autopatrocinado com aportes men-
f) Salário-Família – em virtude do re-
sais que serão materialmente operados
cluso não ser empregado é difícil configu-
pelos seus dependentes.
rar o direito ao salário-família. Recebendo
benefício em razão de filhos e de um con- Com a internação no presídio, sobrevin-
trato de trabalho (que foi suspenso ou até do ruptura do vínculo trabalhista, pensar-
extinto), cessará a remuneração laboral e o -se-á no art. 14, l/IV (autopatrocínio, ves-
benefício previdenciário. ting, portabilidade ou resgate). No caso do
assistido, continuará auferindo a comple-
g) Prestações Acidentárias – traba-
mentação antes devida. Estando em risco
lhando, um detento ou recluso pode sofrer
iminente, requererá o benefício a qualquer
quatro tipos de infortúnios: i) acidente tí-
tempo. Nada impede que um presidiário
pico (traumático); ii) doença do trabalho;
filie-se a um plano aberto de previdência
iii) doença profissional; e, iv) acidente de
complementar. Da mesma forma, sacará os
qualquer natureza ou causa.
valores correspondentes como foi conven-
Os três primeiros no exercício de ati- cionado.
vidade profissional; o último, fora dessa
j) Seguro-Desemprego – enquanto es-
atividade (por exemplo, durante o entrete-
tiver recolhido à prisão e na condição de
nimento esportivo). Durante o transporte
presidiário não há direito a essa prestação
de ida da cela para a empresa ou desta de
securitária; o desempregado vive custea-
volta à cela, poderá ser vítima de acidente.
do pelo Estado. Se já auferia o benefício, os
São devidos, portanto, o auxílio-doença e
pagamentos serão suspensos com o reco-
a aposentadoria por invalidez acidentária e
lhimento à prisão, imaginando-se que após
o auxílio-acidente.
o livramento possam ser retomados tais
h) Auxílio-Reclusão – o auxílio-reclusão, desembolsos.
um direito dos dependentes do preso, é
o benefício mais polêmico, principalmen-
te por ocasião da fuga ou da percepção
de remuneração ou benefício. A Lei nº
10.666/03 fornece duas informações: a)
27
Quem deixa a liberdade física que des- numa alimentação fornecida pelo detentor.
frutava e é recolhido a um estabelecimen- Frequentemente são três refeições: desje-
to penal, onde ficará um longo período, jum, almoço e jantar. Os doentes farão jus
vive com limitações dos seus movimentos à refeição apropriada. Assegura, também,
e em circunstâncias especiais que afetarão “instalações higiênicas” (art. 12).
sua personalidade.
b) Defesa da Moral – a LEP não distin-
Além de ter afetado o seu ser, isolado do guiu a assistência moral, provavelmente
mundo familiar, grupal e social, alguns não pulverizou-a em vários pequenos direitos,
mais terão contato com a evolução da tec- como é o caso da “proteção contra qualquer
nologia e restarão defasados no mercado forma de sensacionalismo” (art. 41, VIII). O
de trabalho. Os que não tinham um ofício direito à personalidade carece ser respei-
desenvolvido poderão aprender alguma tado em toda a sua integridade. A despeito
profissão. do crime que foi cometido, confessado ou
não, e que determinou sua condenação, a
Nessas condições, derivando do afas-
punição prevista na lei é a que consta do
tamento da sociedade, retenção em cela
CP, do CPC e da LEP. Todo o tempo o preso
individual ou coletiva, enfim, do cumpri-
pensa na sua liberdade, usualmente me-
mento da pena, erodindo a dignidade e os
diante a soltura legal. Na verdade, sem-
direitos de cidadão, fica pelo Estado, por
pre ele deve ser preparado para isso, mas
isso, o regime prisional, na medida do pos-
quando esse momento está para chegar é
sível, obriga-se a oferecer-lhe algum con-
mais importante ainda.
forto material e moral compatível com as
circunstâncias. Ou seja, é dever do Estado c) Assistência Social – a assistência
assisti-lo em suas necessidades de pessoa social e familiar é prevista nos arts. 22/23
física que cometeu um crime, uma vez que da LEP, devendo ser desenvolvida na medi-
vive privado da liberdade num ambiente da do possível.
excepcional, com muitas restrições, e mais
d) Acompanhamento Jurídico – o
obrigações do que direitos.
preso tem direito à assistência jurídica,
a) Assistência Material – o preso cum- que é muito importante. Poderá contra-
prirá a pena em celas individuais, coletivas, tar advogados, recebê-los e, se não tiver
colônias agrícolas, albergues ou na própria condições, contará com a assistência ju-
residência. No local em que o sistema pe- diciária estatal, particularmente a previs-
nitenciário estadual permitir. Vestir-se-á ta na Constituição Federal. Cada Estado
com as roupas trazidas pela família e con- da República tem obrigações legais para
forme o caso obrigado à utilização de uni- manter um sistema de atendimento jurídi-
forme prisional. A alimentação será forne- co. O amparo jurídico é relevantíssimo; os
cida pela cozinha do local do cumprimento direitos do preso são complexos, de difícil
da pena. O art. 41 da LEP - “constituem di- realização e, em muitos casos, todo o pro-
reitos do preso” – inicia os 16 itens, falando cesso que se seguiu à condenação pode
28
j) Inimputáveis e Semi-Imputáveis –
aqueles que tiveram de ser internados em
hospitais psiquiátricos são merecedores de
uma atenção especial do sistema peniten-
ciário. Se não for possível ressocializar, os
demais apenados terão de usufruir de um
cuidado muito maior (MARTINEZ, 2010).
31
UNIDADE 9 - Reintegração / Reinserção /
Ressocialização
Antes de começarmos nossas reflexões de e de abertura da sociedade para o cárcere
sobre os temas acima, vamos tentar defini- e de tornar o cárcere cada vez menos cárce-
-los da forma mais simples e breve possível: re, no qual a sociedade tem um compromis-
so, um papel ativo e fundamental.
Segundo o Ministério da Justiça (DEPEN,
2007), as ações de reintegração social po- Enfim, a Reintegração do preso não será
dem ser definidas como um conjunto de in- uma simples recuperação do mesmo, mas
tervenções técnicas, políticas e gerenciais deverá supor a participação ativa dos mais
levadas a efeito durante e após o cumpri- diversos segmento sociais, visando reinte-
mento de penas ou medidas de segurança, grar o sentenciado no seio da sociedade (SU-
no intuito de criar interfaces de aproximação SEPE, 2010).
entre Estado, Comunidade e as Pessoas Be-
Falconi (1998) distingue os termos ree-
neficiárias, como forma de lhes ampliar a re-
ducação e reinserção social e faz a seguinte
siliência e reduzir a vulnerabilidade frente ao
reflexão:
sistema penal.
A Ressocialização, por sua vez, busca de- Para ele, o termo possui caráter de domi-
senvolver relações sociais entre indivíduos nação, de acordo com o que se percebe pelo
que em algum tempo já o tiveram. A retira- tom do relacionamento entre funcionários,
da do homem da sociedade e de seu tempo, gestores e internos das prisões brasileiras.
prendendo-o a um passado denominado de- O sistema é de obediência cega, correspon-
lito, de forma alguma é capaz de restabele- dendo ao estilo militar, no qual o respeito às
cer socialização, partindo-se do pressuposto regras se impõe não pela conscientização,
de que esse cidadão já ter sido considerado mas pela ameaça e, do outro lado, pelo temor
socializado. Não há como conciliar prisão e ou pela “picardia” que o universo do cárcere
ressocialização. lhe transmitiu.
Reintegração social, é assim todo um pro- Para explicar a ressocialização, Falconi
cesso de abertura do cárcere para a socieda-
32
(1998, p. 116) se vale do filósofo Espino- Para ele, a dinâmica do sistema presidial
za e explica a existência de três correntes brasileiro envolve administradores retró-
doutrinárias básicas a serem consideradas. grados na sua prática, que usam experi-
A primeira que entende ser o delinquente ências convenientes sobre as múltiplas
pessoa passível de tratamento psiquiátri- relações interpessoais, a fim de que os
co, de acordo com o disposto nas seguintes reclusos possam vivenciar e conviver com
obras: “Correcionalismo”, “Defesa Social” e a problemas ordinários nas relações huma-
“Pedagogia Criminal”. Outra corrente trata nas, tentando afirmar que se trata de um
a problemática da pena como “medida que processo verdadeiramente difícil, pois ne-
castiga para ressocializar”, essas embasa- cessitará do envolvimento de profissionais
das nas teorias Psicanalítica e na Marxista. e técnicos.
A Psicanalítica afirma ter o Estado o direito
Acredita ainda que as punições carcerá-
de aplicar a pena, tendo se fundamentado
rias não são suficientes para formar nova
nos ensinamentos de Freud, enquanto que
mentalidade no recluso e deixá-lo prepara-
a Marxista teve apoio nas interpretações de
do para se reeducar ou se ressocializar.
Adler. Por último Espinoza trata de teorias
que explicam a necessidade da ressocializa- Tanto a reeducação, a ressocialização,
ção que são: “Ressocialização Legal”, “Teoria quanto a reinserção social do detento
das Expectativas” e “Teoria da Terapia Social deverá passar por reciclagens no quadro
Emancipadora” que segundo essas, “o delito funcional do presídio, devendo haver sin-
não é somente uma responsabilidade do ci- cronização entre o trabalho sociocultural
dadão delinquente, mas também da comuni- agregado aos labores próprios dos progra-
dade em que os fatos se desenrolam”. mas de ressocialização, até que se atinja a
reinserção social – trabalho de equipe.
Falconi é um estudioso da complexa reali-
dade presidial no Brasil, por isso damos ênfa- Em artigo elaborado por Onofre (2009)
se às suas falas. intitulado “Educação Escolar como um dos
pilares para a reinserção social de pessoas
Haverá de surgir o momento em que
jovens e adultas em privação de liberdade”,
o bom-senso prevalecerá, quando se en-
a autora nos lembra que os educadores
tenderá quão profunda é a problemática
preocupados com a inclusão social, mais do
do sistema penitenciário no particular e
que nunca, assumindo a identidade de tra-
presidial no geral e a permanência de so-
balhadores culturais, devem colocar o foco
luções sérias e eficazes. Fatalmente, ha-
de seus estudos num fenômeno particular,
veremos de entender que o tratamento
no qual as ações não podem mais ser adia-
do preso não pode ser tão-só um discur-
das, especificamente no caso brasileiro: a
so lacônico (...) A pena, mantendo como
elaboração e implementação de políticas
mantém, características de punição, não
públicas voltadas para a educação esco-
acrescenta qualquer benefício ao traba-
lar nos espaços de privação de liberdade,
lho da reeducação e da ressocialização,
como garantia de possibilidade de resgate
via crucis por onde, inquestionavelmen-
de vida digna ao cidadão aprisionado, prin-
te, haverá de passar o destinatário da
cipalmente porque é fato a constatação
reinserção social (FALCONI, 1998, p. 116
desta população apresentar característi-
e 117).
33
ção profissional tem sido a principal ferra- necessidades das comunidades locais. São
menta utilizada no âmbito da reintegração formas locais de governo e podem ter im-
social para a inclusão no mercado de traba- pacto na mudança do quadro da gestão das
lho e geração de renda para presos, inter- coisas públicas desde que sejam estimula-
nados e egressos (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, das, estudadas e disseminadas. Em outros
2013). termos, boas práticas são instrumentos
para:
9.2 “Boas práticas” incentivar políticas públicas, com base
As boas práticas são, segundo a ONU e em experiência que realmente funcionam;
a comunidade internacional de direitos hu-
manos, iniciativas bem sucedidas que: conscientizar os tomadores de deci-
são, os gestores e a população em geral
a) Apresentam impacto tangível na me- quanto à formulação de políticas públicas
lhoria da qualidade de vida. e à busca por soluções para os problemas;
b) São resultado de parceria efetiva en- compartilhar e transferir tecnologia,
tre setor público, privado e as organizações expertise e experiência através de redes
da sociedade civil. de intercâmbio, aprendizado, informação e
c) Têm sustentabilidade social, cultural, formação.
econômica e ambiental. As boas práticas em segurança pú-
As boas práticas assim pretendem mu- blica podem ser caracterizadas da se-
dar o quadro burocrático/profissional atra- guinte forma:
vés do qual as relações entre Estado e so- 1) Respeito aos Direitos Humanos.
ciedade civil se constituíram ao logo dos
anos e fizeram com que um e outro se dis- 2) Respeito aos princípios e garantias
tanciassem, com prejuízo evidente da qua- constitucionais.
lidade dos serviços prestados pelo Estado 3) Profissionalização, responsabilização
e da ausência de participação qualificada e transparência.
da população nas administração das coisas
públicas. 4) Políticas locais de prevenção.
O modelo burocrático ainda permitiu 5) Participação popular e demandas so-
que o poder público fosse capturado por ciais por segurança.
interesses econômicos e que voltasse par- 6) Práticas de educação e de cidadania.
te importante de seus esforços para aten-
der demandas de clientes poderosos, au- 7) Parcerias entre público e privado.
mentando a destinação de recursos para 8) Policiamento comunitário.
projetos sem sustentabilidade e sem im-
pacto social significativo. As boas práticas 9) Justiça em tempo real e penas alter-
procuram caminhar no sentido diferente. nativas à prisão.
Pretendem ser estratégias de governança
10) Política específica para grupos vul-
mais artesanais, mais responsáveis am-
neráveis, sobretudo, jovens.
bientalmente, mais responsáveis com as
37
lores, normas, costumes, práticas e ideais inferir então que, a não-indiferença é uma
constituem-se, como já se disse tantas ve- das principais características do valor. Po-
zes, no verdadeiro cimento das sociedades. rém não se deve esquecer que pelo fato dos
valores não serem coisas, mas resultam das
Porém, o crescimento da violência urba-
relações estabelecidas na sociedade, dize-
na e a crise dos sistemas penitenciário, ju-
mos que os valores são em parte herdados
diciário e policial são temas que ocupam um
da cultura onde estamos inseridos.
grande espaço no noticiário, no caso bra-
sileiro, nos últimos anos. A crescente cri- Aranha e Martins (2000, p. 273) afirmam
minalidade e a impunidade têm como uma que:
das consequências mais visíveis a sensação
de insegurança e medo da população que, O mundo da cultura é um sistema de
cada vez mais, busca mecanismos próprios significados já estabelecidos por ou-
de proteção: grades nas janelas, portas tros, de tal modo que aprendemos des-
trancadas, carros blindados, armas de fogo de cedo como nos comportar à mesa, na
e sistemas de segurança privada fazem rua, diante de estranhos, como, quando
parte do cotidiano de uma parcela da popu- e quanto falar em determinadas circuns-
lação que busca se proteger a todo custo. tâncias (...) como cobrir o corpo e quan-
do desnudá-lo, qual o padrão de beleza,
9.4 Valores e afetividade que direitos e deveres temos.
Os valores não são coisas, mas resultam
das relações que os seres humanos estabe- Assim, a partir da valoração, as pessoas
lecem entre si e com o mundo em que vive- nos recriminam, nos elogiam, nos admoes-
mos. Por esta razão que, diante de pessoas tam por termos faltado com a verdade, sen-
e coisas, estamos constantemente fazendo timos remorso dependendo da ação que
o que chamamos de juízos de valor. Quando praticamos, estamos sujeitos ao elogio ou
afirmamos, por exemplo, que uma moça a reprimenda, à recompensa ou à punição.
não tem atrativos, é feia na nossa concep- Chauí (2001) discute essa ideia ao dizer que
ção, ou o oposto quando dizemos que ela a cultura nasce da maneira como os seres
é muito bonita, quando descrevemos uma humanos interpretam a si mesmos e as suas
borracha ou uma caneta como muito ruins, relações com a natureza. Nossa percepção
quando colocamos que João agiu com des- sobre a origem cultural dos valores, sejam
prezo pelo fato de não ajudar naquela cam- éticos, do senso moral ou da consciência é
panha da solidariedade do bairro, estamos relativa porque somos criados, educados
fazendo juízos da realidade, porque dize- para eles e neles como se fossem naturais,
mos que as coisas e as pessoas existem, existentes em si e por si mesmos.
mas também estamos fazendo juízos de
valor porque as coisas e as pessoas podem Por fim, a afetividade! Normalmente,
provocar atração ou repulsa, avaliação es- quando pensamos no que caracteriza a na-
tética, utilidade ou não, etc. tureza humana, a resposta mais comum é a
racionalidade. É verdadeira a resposta, mas
Na medida em que atribuímos um valor a incompleta! Somos seres de desejos, afe-
alguma coisa ou pessoa, significa dizer que tos, emoções, que também retratam a nos-
não estamos indiferentes a ela. Podemos sa humanidade.
40
volta a cometer crimes piores do que an- sam ser desenvolvidos dentro das prisões
terior, como se a prisão o tivesse tornado projetos educacionais que trabalhe para
ainda mais nocivo ao convívio social. a conscientização dos educandos, fazen-
do-os perceberem a realidade e, conse-
Partindo dessas considerações, é pos-
quentemente, seu lugar na história, pois
sível constatar que a privação da liberda-
um indivíduo que nasceu na miséria e por
de única e exclusivamente não favorece
consequência não teve acesso a uma edu-
a ressocialização. Dessa forma, é preciso
cação satisfatória ou a de nenhum tipo,
que seja feito algo no sentido, senão, de
não pode agir com discernimento em seus
resolver, ao menos, de minimizar ao máxi-
atos.
mo esse equívoco. Para isso se faz neces-
sário o desenvolvimento de programas Uma educação dentro do sistema pe-
educacionais dentro do sistema peniten- nitenciário deve trabalhar com conceitos
ciário voltados para Educação básica de fundamentais, como família, amor, digni-
Jovens e Adultos que visem alfabetizar e, dade, liberdade, vida, morte, cidadania,
sobretudo, trabalhar para a construção governo, eleição, miséria, comunidade,
da cidadania do apenado. Conforme Salla dentre outros. Existe uma necessidade
(1999, p. 67), urgente e crescente de trabalhar no re-
educando os valores acima, o ato antis-
[...] por mais que a prisão seja incapaz social e as consequências desse ato, os
de ressocializar, um grande número de transtornos legais, as perdas pessoais e o
detentos deixa o sistema penitenciário estigma social.
e abandona a marginalidade porque
Em outras palavras, desenvolver nos
teve a oportunidade de estudar.
educandos a capacidade de reflexão, fa-
zendo-os compreender a realidade para
Dessa forma um outro aspecto rele-
que de posse dessa compreensão possam
vante a ser aqui considerado é o perfil
então desejar sua transformação.
da população penitenciária no Brasil, que
segundo os dados fornecidos pelo Depar- O sistema penitenciário necessita de
tamento Penitenciário Nacional do Minis- uma educação que se preocupe priorita-
tério da Justiça, a maior parte da massa riamente em desenvolver a capacidade
carcerária deste país é composta por jo- crítica e criadora do educando, capaz de
vens com menos de trinta anos e de bai- alertá-lo para as possibilidades de esco-
xa escolaridade (97% são analfabetos ou lhas e a importância dessas escolhas para
semianalfabetos). O restante, quase que a sua vida e, consequentemente, a do seu
na totalidade, são pessoas que não tive- grupo social. Isso só é possível através de
ram condições de concluir os estudos por uma ação conscientizadora capaz de ins-
razões variadas inclusive por terem sido trumentalizar o educando para que ele
iniciadas no crime ainda cedo. firme um compromisso de mudança com
sua história no mundo.
Diante desse quadro, podemos afirmar
que a criminalidade está intimamente liga- Em sua análise, Paulo Freire (1980, p.
da à baixa escolaridade e ambas à questão 26) afirma que:
econômica e social. De modo que preci-
43
CHAUI, Marilena. Filosofia. São Paulo: lização). Maringá (PR): Verbo Jurídico, 2008.
Ática, 2001.
LABANCA, Maria Rita de Cássia Pelizari;
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRI- SOUZA, Sandoval Antunes de; PORTO JU-
NOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândi- NIOR, Gilson. Ética Profissional e Valores
do Rangel. Teoria geral do processo. 22 ed. na Educação Prisional. Módulo III. Projeto
São Paulo: Malheiros, 2006. Ressocialização educativa no Tocantins.
Palmas, TO: Secretaria de Educação do Es-
CRETELLA JUNIOR, José. Comentários à
tado do Tocantins / Gerência de Educação
Constituição brasileira de 1988. Rio de Ja-
de Jovens e Adultos, 2006.
neiro, Forense Universitária, 1989, v. 1.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. A união
DEPEN. Sistema Prisional. Acesso em
homoafetiva no Direito Previdenciário. São
28.Out.2007. Disponível em <http://www.
Paulo: LTr, 2008.
mj.gov.br/depen/data/Pages/MJD574E-
9 C EI T EMID C 37B2 A E9 4 C68 4 0 0 68B- MARTINEZ, Wladimir Novaes. O dano
1624D28407509CPTBRIE.htm> moral no Direito Previdenciário. 2 ed. São
Paulo: LTr, 2007.
DEPEN. Boas práticas do Sistema Peni-
tenciário Nacional. Brasília: Ministério da MEIRELLES, Lenilma Cristina Sena de Fi-
Justiça/Departamento Penitenciário Na- gueiredo. Responsabilidade civil do Estado
cional, 2009. Disponível em: http://www. por prisão ilegal. Jus Navigandi, Teresina,
observatoriodeseguranca.org/files/ma- ano 9, n. 505, 24 nov.2004. Disponível em:
nual_boas_praticas.pdf <http://jus.com.br/revista/texto/5961
Fapesp, 1999.
SANTOS, Sintia Menezes. Ressocializa-
ção através da educação (2009). Dispo-
nível em: http://www.direitonet.com.br/
artigos/exibir/2231/Ressocializacao-atra-
ves-da-educacao
SILVA, José de Ribamar da. Prisão: resso-
cializar para não reincidir. Curitiba: UFPR,
2003.
SILVA, Lucineide Ribeiro da. A escola no
sistema prisional. Salvador: Universidade
do Estado da Bahia, 2011.
STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e
Sua Interpretação Jurisprudencial. São Pau-
lo: Revista dos Tribunais, 1997.
SUSEPE/GO. Curso de formação profis-
sional: agente de segurança prisional. Goi-
ânia: Gerência de Ensino da Administração
Prisional SUSEPE, 2010.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da
Criança. Lisboa: Edições 70, 1968.
ZENI, Alessandro Severino Vallér. A cri-
se do direito liberal na pós-modernidade.
Porto Alegre: Sergio Antônio Fabris Editor,
2006.
47