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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS.
MARANHÃO

INTRODUÇÃO

M inha terra tem palmeiras,/Onde canta o Sabiá;/As aves,


que aqui gorjeiam,/Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias,1 Canção do Exílio, 1843)

O uso de plantas para a cura de doenças tem sido uma prática


quase tão antiga quanto a existência do homem; contudo, seu uso já
foi justificativa para que muitos fossem jogados à fogueira da Santa
Inquisição. Em um pequeno município do Maranhão, chamado Lago
do Junco, esse costume era passado de mãe para filhos, e essa prática
se dava tanto em razão da falta de recursos da comunidade para
adquirir remédios quanto da ausência de um posto médico onde as
pessoas pudessem ser atendidas.

"As plantas medicinais brasileiras não curam apenas, fazem


milagres." (Von Martius)

Possuidor de uma vasta e diversificada flora, o Maranhão tem,


entre as várias tradições do seu povo, especialmente os que vivem na
zona rural, a prática do uso de plantas medicinais no tratamento de
várias doenças. No município de Lago do Junco, essa prática
diferenciou-se, em virtude de a comunidade tê-la transformado em
uma forma de melhorar sua qualidade de vida, por meio da
implantação do Horto e da Farmácia Fitoterápica, que foi resultado do
Fórum de Desenvolvimento Local, em 1999, e que teve como
2

Dulcileide Oliveira Gonçalves, Técnica do Sebrae Maranhão, elaborou o estudo de caso sob a
orientação de José Carlos Dornelas, baseado no curso Desenvolvendo Casos de Sucesso, realizado
pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-RJ.
1
Poeta maranhense, do século XIX, nascido na Região dos Cocais.
2
F o rmado por representantes da comunidade, em seus vários segmentos (prefeitura, líderes
comunitários, igreja, etc.), não tendo limite de participantes. É uma instância de decisão, em que
são planejadas ações direcionadas para a conquista do desenvolvimento e da melhoria da
qualidade de vida.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


CANTEIROS DO HORTO FITOTERÁPICO DE LAGO DO JUNCO

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

FOLHAS DESIDRATADAS DE PLANTAS MEDICINAIS,


EMBALADAS PARA COMERCIALIZAÇÃO
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 3

principais parceiros a Prefeitura Municipal, a Paróquia São José e as


lideranças locais.

"A idéia é aproveitar a diversidade da flora local e estimular o


cultivo de plantas medicinais que, de certa forma, já é uma prática
da região, e já faz parte da cultura local. É possível, a médio prazo,
produzir o suficiente para exportar o excedente que não for
assimilado pelo mercado local", disse Edimar Nascimento dos
Santos, consultor do Sebrae para o projeto na época da criação da
Farmácia Fitoterápica de Lago do Junco.

TERRA FÉRTIL, DE UM POVO GUERREIRO

N osso céu tem mais estrelas,


/Nossas várzeas têm mais flores,
/Nossos bosques têm mais vida,
/Nossa vida mais amores.
(Gonçalves Dias, Canção do Exílio, 1843)

Lago do Junco, um pequeno município maranhense, foi fundado


em 1961, pertence à região dos cocais – micro r região do Médio Mearim –,
está situado a 315 km da capital, São Luís. Em 2000, conforme o IBGE,
sua população era de 9.211 pessoas, sendo que 6.102 viviam na zona
rural. Estatisticamente, Lago do Junco sempre apresentou indicadores
socioeconômicos inferiores aos de outros municípios.
Sua vegetação predominante sempre foi a palmeira de babaçu,
planta que outrora estendia-se por toda a região dos cocais e que, por
causa da expansão da pecuária, viu-se ameaçada. A extração do fruto
dessa palmeira, o babaçu, representava para uma parcela considerável
da população rural uma das poucas fontes de renda. Da palmeira do
babaçu, produziam-se telhado, óleo, sabonete, esteira, cesto, abanador,
carvão para fazer o fogo, além de alimentos com propriedades
medicinais: bom como antinflamatório, bom para o estômago.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 4

As quebradeiras de coco sempre fizeram parte da paisagem local,


3

tanto por executarem uma das principais atividades geradoras de renda


da população mais carente, quanto pelas bandeiras de luta que
erguem. As quebradeiras de coco de Lago do Junco, como todas as
outras espalhadas pelo Maranhão, Piauí, Pará e Tocantins, sempre
foram guerreiras que lutavam pelo direito de trabalharem. Uma das
suas últimas conquistas foi a sanção da lei municipal do "Babaçu
Livre", que lhes deu o direito de poder entrar nas áreas dos cocais sem
mais terem de pagar para os donos das terras. Essa conquista fez parte
de um longo processo de luta das quebradeiras, que incluiu a
preservação da palmeira do babaçu na paisagem do Maranhão.

"O meu sonho é que nós possamos ter tudo o que a gente pobre
precisa, né? Nós somos pobres, mas nós temos direito de viver uma
vida digna e essa vida digna se encontra junto com todos, a gente
sozinho não pode fazer nada." (Sebastiana Ferreira – Moça,
quebradeira de coco).

Outra conquista dessas guerreiras foi a criação da Cooperativa de


Quebradeiras de Coco de Ludovico (povoado de Lago do Junco), onde
elas produziam artesanalmente sabonete e extraíam o óleo do babaçu.
Passaram a vender para a indústria de cosméticos Body Shop, com lojas
no mundo inteiro. Essa empresa adquiria vinte e cinco por cento de
toda produção de óleo das quebradeiras de coco de oito povoados. A
indústria Body Shop pagava para as quebradeiras do Maranhão o dobro
do preço de mercado pelo litro do óleo de babaçu. Do Maranhão, para
a Inglaterra, da Inglaterra para Paris, Nova York, Milão, para todo lugar
elegante onde existisse uma loja Body Shop.
Quanto à educação, era dada por parte da Prefeitura uma atenção
para o fornecimento de material didático, transporte escolar, merenda
escolar, atividades de lazer. No entanto, o material didático não era
suficiente para todo o ano letivo. Havia a necessidade de livros
didáticos para o ensino Supletivo, pois a sua falta dificultava o
aprendizado do aluno e o trabalho do professor. A inexistência de
Coordenação Técnica do Projeto: Edimar Nascimento dos Santos, Maria do Amparo Araújo
Melo e Regina Elizabeth Dias Vieira.
3
São mulheres que vivem da coleta e quebra do coco do babaçu – nos estados do Maranhão,
Piauí, Pará e Tocantins – de onde extraem o óleo e produzem artesanalmente sabonete.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 5

biblioteca nas escolas como fonte de pesquisa contribuía para o não


desenvolvimento das atividades educacionais. A merenda escolar
funcionava satisfatoriamente e de forma constante, havendo, portanto,
a necessidade de variação no cardápio, com inclusão de frutas, mais
higiene e cuidado na sua preparação e fiscalização na distribuição. No
município, existia somente o curso profissionalizante de Magistério,
havendo a necessidade da criação de novos cursos, já que este curso
não atendia a todas as necessidades e ao interesse dos alunos. 4

A saúde c o m p rovadamente sempre foi um indicador que


5

comprometia o desempenho do município quanto ao IDH – Índice de


Desenvolvimento Humano. Melhorar esse índice, considerado um dos
6

mais baixos do Estado, era mais do que um sonho, era uma


necessidade. Dentre os problemas mais latentes nessa área, verificava-
se a ausência de um posto médico, sendo os casos mais emergenciais
atendidos no município de Lago da Pedra.
Em 1997, iniciou-se a reorganização dos serviços de saúde com a
formação do CMS (Conselho Municipal de Saúde), criação do FMS
(Fundo Municipal de Saúde), implantação de programas voltados à
área de saúde pública, com o objetivo de minimizar os problemas
ligados à saúde, atuando na prevenção, controle e erradicação de
doenças e agravos existentes na comunidade.
No município, existia, também, o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), com 28 Agentes Comunitários de
Saúde (ACS), que atendiam a 1.542 famílias (zona urbana e rural),
totalizando 7.025 pessoas, correspondendo a 72,87% das famílias do
município e 77,22% das pessoas cadastradas.
Quanto à medicação fitoterápica, de um modo geral, todos
usavam e grande parte dos moradores possuía plantas em casa. As
ervas mais usadas pela comunidade eram: erva-cidreira, camará, batata
de "purga", capim limão, boldo, bacurau, hortelã, folha de laranja,
malva-do-reino etc.
Essa era a realidade do município quando, em 1999, o governo
federal por meio do Programa Comunidade Ativa em parceria com o
Sebrae implantou no município uma das cinco experiências-piloto de
4
Fórum de Desenvolvimento Local de Lago do Junco. Diagnóstico do Município, 1999.
5
Taxa de Mortalidade Infantil: 72,11% (IBGE, 1998); Número de Hospitais e Leitos: 0 (IBGE,
Malha Municipal Digital, 1997).
6
IDH Infantil: 0,366 (UNICEF, 2001); IDH Municipal: 0,403 (IBGE, 1991).

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 6

Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável (DLIS) no Maranhão.


O DLIS procurou valorizar a participação comunitária e estimulou o
c o m p rometimento dos moradores locais com a questão do
desenvolvimento e, a partir desse despertar, buscou desenvolver
lideranças capazes de dar sustentação a ações que visassem à
promoção do desenvolvimento. Como resultado dessa experiência,
formou-se o Fórum de Desenvolvimento Local em Lago do Junco,
tendo como principais parceiros a Prefeitura Municipal, a Arquidiocese
e as lideranças locais.
Com o diagnóstico socioeconômico, realizado pelo Fórum de
Desenvolvimento Local de Lago do Junco, foram identificadas como
potencialidades locais a diversidade da flora medicinal e mais a
tradição cultural no cultivo e na utilização destas plantas, fazendo com
que fosse elencada pela população na Agenda Local do Fórum a
implantação de um horto de plantas medicinais e de um laboratório
para a manipulação de fitoterápicos.

SE COLHE O QUE SE PLANTA, E PELO QUE SE LUTA

S ou bravo, sou forte,


/Sou filho do Norte;
/Meu canto de morte,
/Guerreiros, ouvi.
(Gonçalves Dias, I Juca-Pirama/Últimos cantos, 1851)

O povo de Lago do Junco tem entre suas características a de ser


um povo batalhador, humilde, porém não subserviente. Cada dia é o
iniciar de uma nova conquista ou manutenção de outra. Logo, quando
o Programa Comunidade Ativa do governo federal aportou na cidade,
encontrou um terreno propício para desenvolver suas atividades vindo,
então, a escolher aquele município para ser um dos cinco municípios
maranhenses para realizar a experiência-piloto de Desenvolvimento
Local, Integrado e Sustentável (DLIS).
HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 7

Inicialmente, a equipe do DLIS articulou com a Prefeitura


Municipal de Lago do Junco e outras lideranças comunitárias a
realização de um seminário, buscando sensibilizar a comunidade para
a questão do desenvolvimento sustentável e, ainda, conquistar o seu
comprometimento. Nesse momento, foi criado, também, o Fórum de
Desenvolvimento Local, formado pela Prefeitura Municipal de Lago do
Junco – Secretaria Municipal de Saúde –, Paróquia São José e
lideranças comunitárias locais.
A partir desse primeiro momento, as ações existentes partiram da
própria comunidade, por meio do Fórum, que organizada, passou a
dividir as tarefas, agir, articular-se, firmando parcerias e desenvolvendo
atividades econômicas sustentáveis, capazes de responder pela
melhoria da qualidade de vida, que era compartilhada por todos.
Para Ildo Lopes, líder dos trabalhadores rurais, a grande conquista foi
a participação da comunidade.

"Temos consciência do nosso papel e a sociedade compreendeu que


não é somente com emprego que se faz desenvolvimento.
Desenvolvimento tem de levar em conta saúde, educação, uma
agricultura mais produtiva, preservação do meio ambiente e,
principalmente, cidadania."

Como primeira ação do Fórum, foi realizado, em novembro/1999,


um diagnóstico socioeconômico da localidade, que identificou, entre
outras potencialidades do município, a diversificada flora medicinal e
a tradição cultural no cultivo e utilização destas plantas, resultando na
elaboração, pela comunidade, de uma Agenda Local de Pacto, em que 7

ficou definida a implantação de um horto de plantas medicinais e de


um laboratório para a manipulação de fitoterápicos, objetivando o
fortalecimento da tradição cultural e da iniciativa local no cultivo, na
manipulação e no consumo de plantas medicinais. Vindo essa ação a
se concretizar em dezembro de 2001.
"Lago do Junco já pode mostrar como se faz um processo de
desenvolvimento local sustentável. Hoje, temos um marco para o
nosso desenvolvimento que é o diagnóstico do município." (Edimar
Nascimento, consultor do Sebrae)
7
Documento em que fica registrado o plano de ação.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 8

O próximo passo foi capacitar os membros do Fórum, reforçando


a capacidade de liderança, estimulando o trabalho em equipe e o
conhecimento da realidade local. O Sebrae ofertou aos participantes
cursos como "Líder Cidadão" e "Saber Empreender", sendo que, além
da ca pacitaçã o dos lídere s, também e stimulou a vocaçã o
e m p reendedora, que despertou na comunidade a idéia de que
desenvolvimento também era uma questão de vontade, que era
possível crescer e melhorar a qualidade de vida.
Fazer acontecer um lugar depende muito do potencial da
localidade e da força impulsionadora de seu povo. Conforme Anselmo
Pereira , depende da "vontade de levar adiante" e da certeza de que o
8

"verdadeiro desenvolvimento traz mudanças de vida".


Em continuidade às ações da Agenda Local, foram realizadas seis
oficinas de capacitação específica, durante a execução das seguintes
atividades:
• Implantação do horto medicinal com 30 canteiros para produção de
massa verde, construídos em sistema de mutirão pelos agentes de
saúde.
• Implantação da farmácia.
• Construção do fluxo do processo produtivo de forma operacional e
participativa.
• Capacitação de 30 agentes de saúde em controle de qualidade dos
medicamentos fitoterápicos.
• Definição e implantação da estrutura organizacional da farmácia
verde de forma participativa.
• Sensibilização dos agentes de saúde na identificação de potencial
local para o desenvolvimento de produção de matéria-prima
complementar, através da articulação de parceiros.

Após a pactuação da agenda, o Sebrae, a Prefeitura Municipal e


a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) - celebraram um
convênio para o desenvolvimento da ação, viabilizando estágios para
estudantes de Farmácia e Agronomia, que funcionavam como
multiplicadores das técnicas de cultivo e fabricação de remédios.
Essa ação se iniciou com a capacitação de 30 agentes de saúde,
em cultivo e coleta, além de secagem e manipulação de plantas
8
Agente de Saúde que preside a Associação do Horto Fitoterápico de Lago do Junco.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 9

medicinais, sob a responsabilidade da UFMA, por meio de um Curso


de Farmácia, na pessoa da professora Teresinha Rêgo.
Durante o processo de capacitação, surgiu a idéia de fabricar,
c o m e rcializar os medicamentos e usá-los, como uma estratégia
preventiva de doenças, por meio da ação dos Agentes Comunitários de
Saúde integrantes do Programa Saúde da Família (Governo Federal). A
partir disso, os participantes sentiram a necessidade de constituírem
uma associação formal para buscarem autonomia na realização de suas
atividades, e a ampliação na rede de parceiros.
A associação, denominada Associação da Farmácia Verde e Horto
de Plantas Medicinais do Lago do Junco, é formada por agentes de
saúde, autoridades municipais da área de saúde e pessoas da
comunidade, que administram o horto e a produção da farmácia.
Dentre os cursos oferecidos pelo Sebrae, houve o de associativismo
para os integrantes da Associação da Farmácia Verde.
Foi percebido, pelos agentes, durante a capacitação, que a
comunidade desenvolvia de forma inadequada o cultivo e a
manipulação das plantas medicinais; a importância da orientação
técnica nos procedimentos realizados e a oportunidade de ir ao
encontro do interesse manifestado pelo poder público local em
incorporar medicamentos fitoterápicos em sua farmácia básica foram
destacadas.
A Paróquia São José cedeu o terreno para o cultivo das plantas
medicinais, tendo a prefeitura arcado com os custos de deslocamento
dos técnicos das universidades, aquisição de material para construção
dos canteiros, re f o rma do prédio, cedido pela Paróquia São José, além
de ter adquirido os equipamentos/instrumentos necessários para sere m
utilizados na Farmácia Fitoterápica. O Fórum luta por uma sede própria.
Antes da implantação da Farmácia Verde, foi realizado um
experimento: produção de ervas medicinais, utilizada por uma parcela
da população local seguindo orientações médicas.
Em dezembro de 2001, foi inaugurada a Farmácia Fitoterápica,
com o nome de "Farmácia Verde Professora Terezinha Rêgo", uma
homenagem à profissional, orgulho maranhense e referência nacional
quando se trata de plantas medicinais. A professora Terezinha,
presente à inauguração, declarou estar emocionada por ver um sonho
concretizado e seus ensinamentos sendo usados por uma comunidade
em busca de autonomia.
HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 10

A farmácia constituía-se em uma pequena unidade (40m2) de


beneficiamento artesanal das ervas medicinais, associada a um Horto
Fitoterápico onde se cultivavam 30 espécies de plantas medicinais.
Dentre os produtos fabricados, destacam-se os xaropes de agrião,
couve, mastruz, de milho, pó de macaxeira, pomada de mastruz e chás
de hortelãzinho, boldo, capim-limão e erva-cidreira.
A Farmácia passou a beneficiar diretamente 30 agentes de saúde,
que atuavam também como multiplicadores, potencializando o
atendimento, principalmente, na zona rural. E indiretamente beneficia
a população urbana-rural, por meio do acesso à medicação alternativa
local a baixo custo. Com a expansão do projeto, prevê-se a
incorporação de mais 70 pessoas.
A prefeitura, por meio da Secretaria de Saúde, manteve seu quadro
técnico presente dando o apoio necessário para a implantação do
p rojeto e, durante essa caminhada, resolveu expandir a ação,
transformando o local cedido para a construção da farmácia em um
Centro de Saúde Municipal, levando o município à emancipação no
atendimento médico-hospitalar de sua população, até então
dependente do município de Lago da Pedra. Outra importante
contribuição desse órgão foi ter incorporado os medicamentos
p roduzidos na Farmácia Ve rde na farmácia básica e ajudado na
divulgação desse potencial e da importância dos remédios fitoterápicos
para a prevenção de doenças.
Segundo Iolete Arruda, Secretária Municipal de Saúde,
"o povo de Lago do Junco tem hoje a mensagem do desenvolvimento
sustentável gravada na mente e no coração. Palavras como pacto,
agenda, desenvolvimento sustentável, compromisso e crescimento
econômico fazem parte do cotidiano dos "cidadãos jacoenses". E as
obras que a Prefeitura realiza são, em sua maioria, resultado de
reivindicações do Fórum".
Uma importante adesão ao projeto veio da classe médica local,
que passou a atuar como parceira, receitando os medicamentos.
Um dado interessante foi o fato dos remédios fitoterápicos terem
permitido uma economia ao município de R$ 6 a 12 mil mensais na
aquisição de medicamentos para a farmácia básica. 9

9
Relatório de ações mensais, Secretaria Municipal de Saúde de Lago do Junco, março 2002.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 11

O efeito multiplicador do projeto pôde ser verificado a partir da


ocorrência da participação comunitária que, entre outros benefícios,
teve a melhora e a redução de enfermidades mais freqüentes no
município, como: gripes, verminoses, dermicoses, diarréia, infecções
das vias respiratórias (asma, bronquite e pneumonia) por intermédio
do uso orientado da medicação alternativa10 .
Todos esses fatores estimularam a expansão do horto medicinal da
sede do município para a zona rural e fortaleceu a adesão da
experiência por outros municípios, como é o caso de Cajari eTi m b i r a s .
Foi identificada a necessidade de uma unidade apícola para a pro d u ç ã o
de matéria-prima na formulação de remédios, inclusive sendo essa,
também, uma vocação local, em virtude da existência de florada.
O projeto foi reconhecido pela população, tendo re c e b i d o
também o reconhecimento do Banco Mundial, ao ser indicado para o
Prêmio Iniciativas Inovadoras 2002, durante a participação do projeto
no Encontro Nacional de Experiências Sociais Inovadoras, em Brasília.
Nesse evento, ocorreu o Seminário de Socialização do Conhecimento
para o Fortalecimento Institucional.

CONCLUSÃO – VAMOS COLHER!!!

N ão chores, meu filho;


Não chores, que a vida
É luta renhida: Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
só pode exaltar.
(Gonçalves Dias, Canção do Tamoio).

A Farmácia Ve rde e o Horto Fitoterápico nada mais são do que frutos


bem plantados, que aos cuidados de mãos habilidosas frutificaram. No
10
Relatório de ações mensais, Secretaria Municipal de Saúde de Lago do Junco, março 2002.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 12

entanto, ainda se encontram na sua primeira florada, e já é chegado o


tempo das trocas das mudas e da expansão para outros canteiros. Para
que a planta sempre dê bons frutos é necessário que ocorra sempre o
adubamento, a irrigação e algumas vezes a poda, enfim, o fruto que
colhemos depende do tratamento que dispensamos à planta.
A sina do nordestino desde o nascer é lutar. Guerreiros que são,
com o povo de Lago do Junco não é diferente. Por tradição,
caracteriza-se como um povo batalhador, que não se abate perante as
agruras da vida, buscando sempre superar os obstáculos em busca de
uma vida digna e de qualidade. Essa distinção levou a comunidade de
Lago do Junco a colher frutos, que foram regados com suor.
Quando foi realizado o diagnóstico do município do Lago do
Junco e identificou-se a necessidade da implantação de uma Farmácia
Verde, não se imaginava a extensão do que poderia ser alcançado. Em
quatro anos de trabalho, dois exclusivamente direcionados à implantação
da Farmácia Verde e do Horto Fitoterápico, a comunidade organizada
galgou espaços nunca dantes imaginados.
Na opinião de Pedrina Alves de Sousa, Agente Comunitária de
Saúde, "Há um clima diferente por aqui". Dentre tantas vitórias, pôde-
se verificar as construções de redes de esgoto e fossas assépticas, as
ruas asfaltadas, escolas recuperadas, postos de saúde equipados e uma
unidade móvel de serviços odontológicos que percorria os povoados
mais distantes.
Outra conquista significativa foi a emancipação do município no
atendimento médico-hospitalar da população urbana, além da oferta
de remédios fitoterápicos a um baixo custo. A melhoria da qualidade
de vida foi um dos fatores de maior alcance para a população de Lago
do Junco. Não foi somente a implantação de canteiros de ervas
medicinais e manipulação das mesmas, foi uma mudança de postura,
no modo de vislumbrar novas formas de viver.
Um fato primordial foi o respeito às tradições e à cultura do povo,
que pautaram as ações do Fórum. Fato esse que foi decisivo no
momento de envolver a comunidade para agir em prol de seus diretos
e melhoria de vida.
Foi satisfatório ver o projeto da Farmácia Verde e do Horto
Fitoterápico, além de reconhecido pela população, ser reconhecido
por instituições idôneas, como foi o caso do Banco Mundial. Mais
ainda, quando outras comunidades, no caso os municípios de Cajari e
HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003
MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 13

Timbiras, demonstraram o interesse em implantar a experiência em


suas comunidades.
A parceria é um fator imprescindível para o alcance de propósitos.
O projeto da Farmácia contou com parceiros comprometidos, como foi
o caso do Fórum de DLIS de Lago do Junco, do Sebrae, da Prefeitura
Municipal de Lago do Junco, da Universidade Federal do Maranhão e
Bioterra.
O projeto, sendo oriundo da demanda local, por meio da estratégia
de desenvolvimento integrado, reuniu parc e i ros dos âmbitos municipal,
estadual e federal, e estava em consonância com as políticas de
desenvolvimento econômico.
O povo organizado demonstrou que pode superar as adversidades
e, com o apoio das autoridades que são responsáveis pelo seu bem-
estar, mais longe pode chegar. Não existe limite. Quando unidos por
um propósito único, dão as mãos povo e governo.
Quem melhor exemplificou as mudanças que ocorreram em Lago
do Junco foi Ildo Lopes, quando disse:

"Ao discutir a melhoria da agricultura, nós percebemos que


precisávamos nos alimentar melhor e ter algum excedente para
comercializar. Várias famílias, hoje, têm suas hortas, onde plantam
hortaliças, porque sabem que se estiverem bem alimentadas,
evitarão doenças. O desenvolvimento é algo completo. Uma vez
começado, dificilmente retrocede".

Muito se caminhou, isso é inegável, mas esse foi apenas um


primeiro passo de uma longa jornada. Muito ainda há para ser feito, o
desenvolvimento é um ciclo vicioso, quanto mais é feito, mais há para
fazer.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


MINHA TERRA TEM PALMEIRAS - MA 14

PONTOS PARA DISCUSSÃO

Planta vive só de água e luz?

• A farmácia verde já provou sua aplicabilidade, porém o alcance


ainda é muito pequeno. O que poderia ser feito para que a área de
abrangência do projeto alcançasse toda a área do município?

• Inicialmente, foram catalogadas 30 espécies de ervas medicinais.


Para que houvesse um maior eficácia nos tratamentos, o que poderia
ser feito para que se ampliasse essa experiência?

• Os remédios fitoterápicos eram distribuídos apenas na sede do


município e localidades próximas. O que se faria para que esse
produto alcançasse a população de uma forma mais abrangente?

• Eram trinta agentes de saúde atuando no projeto Farmácia Verde.


Esse número seria o suficiente para atender a toda a demanda da
comunidade?

• Com apenas 30 canteiros, a produção não conseguia atender à


demanda. Não seria possível a capacitação de moradores da zona
rural mais distantes para um aumento de produção e lucratividade?

Diretoria Executiva do Sebrae Maranhão (2002): Afonso Celso Pantoja, João Vicente de
Abreu Neto e Maria do Socorro Haickel.

Agradecimentos:
Paula Waldira Bastos Ferreira - funcionária do Sebrae/MA.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

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