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H orklieim cr
Adorno
Os Pensadoiés
I
Os Pengadoiés
Kn^janiin
I It ilx T in a s
I lo r k h c im e r
A ilo r n o
TEXTOS ESCOLHIDOS
1083
EDITOR: VICTOR CIVITÁ
Título# nrigrnub:
T « I« S de Bcnjumín;
“ D u Kunsiwerk imZciCuUcr jeinet icchnlsdic-Jii Ref»L.tliiyiertjantajl" •Jc
iUumãvitioneii)
“ Ucberciisige Moúveti bei BaudeJaue-' (de Hlwmiunwrtenl
‘ í> r ErzadlIõT (ílé Uebcf Litrrulur)
''Dcr^urrc?lbrnus‘' ide UeberLiieratur)
Texío de Hkirfchíimer t Mflftuse:
' BegrilT der Aufküsrung’ ' úlc OwWlrt' der Atijklãrun# PhHowpkis^fx Fragmemr\
I íXtrt dc Hfirkheimer:
Tni,-{i:tn>ici?c und K rilix rk r Theorie
T it in tle Tlurkheimcr e M iim isc:
"Plii5«>sophtc und Kricfoehc THioarie'' ide Zeiluíirifi für Soclalfarschwiç '• f>}
Textos dr HhIutitiiis :
'AnaJyUsehc WuiKitschafis Thturie und P^íekllk "
ide D tf ('m ftúifntitf& ircil i<\ der dcutivhen SaTiQlitgtei
'■‘PjtetoJttss und Inícrcssc Ide Teehrúk muf Wissemvhan ah "ídeologie")
" I ccíinik und WisscnischiaU aEs (dcolu^c”
<£■
! fnjiwrijjhl dcsiia edição, Abril 51 A Cttllui.il,
S.í'o Paul», i u-Ki) — ; íJiçir» IW ,
Traduçâ? publicada si>b licença JeJosl Lino Ciúme wald, Rio dc bueiro
PI Obra de Arte na fyUKa de xuas Tfentea» dc ReprtMhftl )■
ADORNO HABERMAS
VIDA E OBRA
qur fi pensamento desse grupo ™ão pode ser compreendido sem ser
vinculado ò tradição d j esquerda alemã. Tara RuSCun», o significado
histórico e político das reflexões encontradas ria Revkta dc Pesquisa
S o n ji reside em sua continuidade em relação ao malxísmo e à ciên
cia social dJTiicapitalbta. Essa posição teórica foi desenvolvida tendo
como pano de fundo as experiências terríveis e contraditórias da repú
blica de Weimar, do nazismo, do cslylinismo e da guerra fria, Ainda
segundo Kusconi, a "teoria crítica' — como costuma ser chamado o
conjunto dos trabalhos da Escola de Frankfurt — é uma expressão da
crise teórica e política do século XX, refletindo sobre os seus proble
mas com uma radical idade sem pa raie to. Por isso, os trabalhos dc
seus pensadores exerceram grjmde influência, direta em alguns casos,
indireta noutros, sobre os movimentos estudantis, sobretudo na Ale
manha e nos Estados Unidos, nos tins da década de 60,
A história dessr grupo dc pensadores pode ser iniciada com a
fundação do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, sob direção ríe
CJarl Grünberg, que permaneceu no cargo até 1927. CrOnbcrg abria o
primeiro número do Arquivo de Hktôfw do Socialismo c do Movi
mento Operário (publicação que fundou cm 19113* salientando .i ne
cessidade de não se estabelecer privilégio especial para esta ou aque
la concepção, orientação científica ou opinião de partida Grünberg
estava convencido de que qualquer unidade de pontos dc vista entre
os colaboradores prejudicaria os fins t rflicos e intelectuais d.i própria
iniciativa. Postenormente, já na direção da Rcvfcfj dc Pesquisa So-
citjí, ele próprio se consideraria um marxisra, mas entendendo essa
posição não pm $çu sentido apenas polílico-partidário, mas em seu
significado cientifico; o conceito "marxismo" servia-lhe para descri
ção de um sistema econômico, de uma determinada cosmovisão e de
um método de pesquisa bem definido. Essa postura mrcial de Grün
berg vinculada a uma "escola" de pensamento, mas ao mesmo
tempo citiendendo-d cm sua dimensão crítica 0 Como perspectiva
almrtu - constitui, do modo geral, a tônica do pensamento dos cle-
méritos do grupa de Frankfurt,
Entre os colaboradores da Revisto, contam-se figuras muito >o-
nhoçidas de um público mais amplo, como Herbert Marcusc
(1898-1979). autor dc fros e CJvfttrjçjo t? O Homem Unkfirnrnsio-
núí (ou fdeotofsiã da Sociedade Industria!), c. Erich Fromm
U 900-1990), quc se dedicou a estudos de psicologia social, nos
quais procura vincular a psicanálise tríada por Freud (1856-19.Í9) ãs
idéias marxistas. Outros são menos conhecidos, como Siegfned Kra-
cauer, autor de urn cMusico estudo sobre o cinema alemão iDc Caüga-
ri a Httief), ou Leo Lòwénlfml, que se dedicou a reilexòes estéticas e
de sociologia da arte. Ao grupo da tfewi&i pertenceram lambem
Wimogol, F Ptjllot k u Grossmarm, autores dc importantes estudas de
economia política.
herói desportivo), a indústria cultural não íaz mass que exalar o pra
zer preliminar não sublimado que. pelo hábito da privação, converte-
se çm conduta masoquista, Aásim, prometer e não cumprir, ou soja,
oferecer e privar, são um único e mesmo a tu dâ industria cultural. A
situação erótica, conclui Adorno, une J‘à alusão c à excitação. a ad
vertência precisa de que não se deve, jamais, chegar a esse ponto",
Tai advertência evidencia como a indústria cultural administra o mun
do social,
Criando ''necessidades'1' ao consumidor [que deve euofeníar-se
com o que lhe é oferecido), a indústria cultural organiza-se para que
ele compreenda sua condição de mero consumidor, ou seja, ele é
apenas c tão-somente um objeto daquela indústria. Desse modo, ins
taura-se a dominação natural e ideológica. Tal dominação, como diz
May Jimênez, comentador de Adorno, tem sua moía motora no dese
jo de posse conslan temente renovado pelo progresso técnico e cienlf-
fico, 0 sabiamente controlado peh indústria cultural, Nesse sentido,
ó universo social, além de conffgurar-se como um universo de '"coi
sas', constituiría um espaço hermeifcjniente fechado. Nele, todas as
tentativas de liberação estão condrnadas ao fracasso
Contudo, Adorno não desemboca numa visão inteiramente pessi
mista, ê procura mostrar que é possível encontrar-se uma via de salva
ção, Esse tema aparece desenvolvido em su.i última obr.i intitulada
Tcorid Estéiicj.
A obra de arte c a p rà x h
C R O N O L O G IA
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WALTER BENjAM IN
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f/turtríuaifa/uit, Frankfuti am Mnm, 196 I. Çulirkmmp pp. 14K 184. firc^cnlfl Eraduç:n) Toi publiçad;’
na idéia tia C intima, Ri» iV limeira, EJiiora Civilização Brasileira, pp. 55 .
P r e â m b u lo
à mais perfeita reprodução falta sempre algo: o hic i?i nnnc da obra de arte.
a unidade de sua presença no próprio local onde se encontra. C a esta presença,
única no entanto, e só a d a que se acha vinculada toda a sua Fústória. Falando de
história, lembramo-nos também das alterações materiais que a obra pode sofrer
de acordo com a sucessão Je seus possuidores.2 O vestígio das alterações mate
riais só fica desvendado em virtude das análises físico quím icas. Impossíveis de
serem feitas numa reprodução: a fim de determinar as sucessivas mãos pelas quais
passou a obra, deve-se seguir ioda uma tradição, a partir do próprio local onde foi
criada.
O hic et nunc do original constitui aquilo que se chama de sua autentici
dade. Para se estabelecer n autenticidade de um bronze, toma-se. às vezes, neces
sário recorrer a análises químicas da sua pàtina: para demonstrar a autenticidade
dc um manuscrito medieval c preciso, as vezes, determinar a sua real provcniência
de um depósito de arquivos do século X V . A própria noção cie autenticidade não
tern sentido para urna reprodução, seja técnica ou nào.3 Mas. diante da reprodu
ção feita pela mão do homem e. em princípio, considerada como uma falsificação.
0 original mantem a plena autoridade: não ocorre o mesmo no que concerne à
reprodução técnica. E isto por dois motivos. D c um lado, a reprodução técnica
«tn mais independente do original. No caso da fotografia, e capaz de ressaltar
aspectos do original que cscupam uo Olho c sào apenas passíveis dc serem uprccn
didos por uma objetiva que sc desloque livremente a fim dc obter diversos ângulos
de visão; graças a métodos como a ampliação ou a desaceleração, pode sc atingir
a realidades ignoradas pela visão natural. Ao mcSmo tempo, u técnica pode levar
n reprodução dc situações, onde o próprio original jamais seria encontrado. Sob a
forma de fotografia ou de disco permite sobretudo a maior aproximação da obra
ao espectador ou ao ouvinte. A catedral abandona sua localização real a fim dc sc
situar no estúdio dc um amador: o musioómano pode escutar a domicílio o coro
executado numa vala dc concerto ou ao ar livre.
Pode ser que as novas condições assim criadas pelas técnicas de reprodução,
cm paralelo, deixem intacto o conteúdo da obra dc arte; mas, dc qualquer manei
ra. desvalorizam seu hic et nunc. Acontece o mesmo, sem dúvida, com outras coi
sas além da obra dc arte. por exemplo, com a paisagem representada na película
cinematográfica; porém, quando se trata da obra de arte, tal desvalorização atin
1 1-i'ictcnte que a história tle uma ohrj de anenàn sc limita a esses <jnjv elententnü: a 4a Ciinconda. par ewm
pio. Jcvc tambem levar cm coma a maneira com que a copiaram nos icculo-. X V II, X V IU c X IX c a quaati
Jade dc tasr. cópias.
* f- prccisamenie porque a uidcnlicklude escapa a ioda reprodução que ó dc-senvulviménlít iniensivâ dc al
nuns processos iocnicos dc reprodução permiuram fixar graus e diferenciações- dentro da própria autentici
dade, Com respeito a isso, o eClmcnrki du arte de£úm penhou papel importante. Mediante a descoberta 4w |trn
vurn em mndeirn. puir1 Ui/vr qu«* .1 nutanliciiIadK ii:is obras foi alocada no rnw ume-, mesmo di* atingir um
florescer que deveria mais ainda enriquece !a Na realidade, na época cm que Ioi liou. uma Virgem 4a Idade
Media auida náv cra “ aulcnlica” ; ela assim sc lortuJq no decorrer dos seculusseguintes, (uivei, sobretudo, no
sétruln XTX
s B E N JA M IM
ge a no ponto mais sensível. onde da é vulnerável como não o são os objetos natu
rais: cm sua autenticidade- O que caracteriza a autenticidade de uma coisa é tudo
aquilo que eia contém e ê originalmente transmissível, desde sua duração material
até seu poder de testemunho histórico. Com o es Lu próprio testemunho baseia sc
naquela duração, na hipótese da reprodução, onde o primeiro elemento lduração)
escapa aos homens, u segundo — □ testemunho histórico da cü í .sü — Hca üienti-
eam aiic ahalado. Nada demais certa mente. ma:- n que fica assim abalado é a pró
pria autoridade da c o is a .1
Poder sc-ia resumir todas essas falhas, recorrendo-se à noção de aura, e
dizer: na época das técnicas de reprodução, u que é atingido na obra de arte ê a
sua aura. Esse processo tem valor dc sintoma, sua significação vai além do terre
no da arte. Seria impossível dí?er. de modo geral, que as técnicas dc reprodução
separaram o objeto reproduzido do âmbito da tradição. Multiplicando us cópias-
dus transformam o evento produzido apenas uma vez num lertômcno de massas
Permitindo ao objeto reproduz:dn ofereccr-sc à visão e à audição, em quaisquer
ureunsUmeias, conferem lhe atualidade permanente. Esse$ dois processos eondu
zcm a um abalo considerável da realidade transmitida — a um abalo da tradição,
que se constitui na contrapartida da crise por que passa a humanidade e a sua
rçnovíjçíLO atual. Kstão em. estreita correlação com os movimentos de massa hoje
produzidos, Seu agente mais eficaz, é o cinema. Mesmo considerado sob forma
má is positiva ç até precisamente sob essa forma não sc pode apreender a
significação social do cinema, caso seja negligenciado o seu aspecto destrutivo e
cai ártico: a liquidação do de mmLu tradicional dentro du herança cultural. Tal
fenômeno é peculsarmethe sensível nos grande filmes, hfctóriços e quando Abel
Gartcc. cm I S>2 7 . bradava com emusiamot
'‘Shakespcarc4Rcmbrandl, BecthoVÈttfaráv cinema, .
Tocha as legotda$< toda a mitologia e todos cs mitos, rodos
os fundadores dc religiões c todas a.t próprias religiões. . .
aguardam sua ressurreição luminoso r os heróis xe empurram
diante das nossas panas para entrar"*
convidava nos, sem saber, n amo liquidação geral,
III
* A pior rcpTCscmaeSti ilc f'awu, nvi». iui*trif «ic provinciiv, j-i ^ infvií/fer n urr tllrm1 sobro íi miSrrtO !l r 1,1
naquilo cm que da. pela iikiku , nvalha com a u|iresenia(jáu ufãOal dc Wtimar. ‘Ioda A sgbsiinata (raái
danai sugerida :i nos pde dcsempcnhu Jus aiotcs sc esvazia, na leia, de todo valoi.
•' Abd Gano:: “I cTeaips tie Plmaçc rsl Vcnu". (1. arS Cínèm úlaíraphklW . II. Parts. t*»27. p]i.94-9vi,
A O B R A D E ART E 9
os autores da Gêrtuscóc Vienü.. não e apenas uma ariu diversa daquela dos amigos
que se encontra, mas uma outra maneira de perceber O s sábios da Escola VEnen-
se, Ricgel e Wieckhoff. ao se oporem u tudo o peso da tradição clássica que havia
desprezado essa arie. foram os primei ròs :i terem a idéia de extrair as inferências
quanto ao modo de percepção próprio ao tempo ao qual se relacionava. Fosse
qual losse a dimensão du descoberta, da ficou reduzida porque as pesquisadores
contentaram-se cm esclarecer as características formais típicas da percepção do
Baixo Império. Não se preocuparam cm mostrar — o que. sem dúvida, excedería
todas as suas esperanças — a.s transformações sociais, tias quais essas mudanças
do modo de percepção não eram maix da que a expressão. Hoje, estamos melhor
situado* do que cies para compreender isso. E . se c verdade que as modificações
a que assistimos no meio onde ópera a percepção poderu se exprimir como um
declínio da aura, permanecemos em condições de indicar as cansas sociais que
conduziram a ial declínio
E aos objetos históricos que aplicaríamos mais amplamcnic essa noção de
aura, porém, para melhor elucidação, seria necessário considerar a aura de um
objeto natural Poder se ia defini Ia como b única aparição de uma realidade
longínqua, por mais próxima que esteja. Num fim de tarde de verâó. caso se siga
ccnn os olhos uma linha de montanhas ao longo do horizonte ou a de um galho.
Cuja sombra pousa sobre o nosso estado contemplativo, «ente-se a mira dessas
montanhas, desse galho. T al evocação permite entender, sem dificuldades, os fato
res sociais que provocaram a decadência atual da aura. Liga sc ela a duos ciicuns
tâncias, eme e outra correlatas com o papel crescente desempenhado polas massas
no vida presente. Encontramos h o je, com efeito, dentro dos massas, duas tendên
cias igualmentc fortes: exigem, de um lado, que os coisas se lhe tornem, tanto hu
mana como wpacialmoníc. "mais próximas" f\ de outro lado. acolhendo ns repro
duções. tendem a depreciar o caráter daquilo que ê dado apertas uma vez, Dia a
dia, impõe se gradatívamente u necessidade de assumir o domínio mais próximo
possível do objeto, «través dc sua imagem c, ma is ainda, em sua cópia ou reprodu
ção. Á reprodução do objeio, tal como a fornecem n jornal ilustrado o a revista
semanal, é incoftcc&tuvclmcmc urna coisa bem diversa dc uma imagem. A imagem
associa dc moda hem estreito í e duas feições da obra de arte: a sua unidade e a
duração; ao pas.su que u foto da atualidade. a>- duas feições opostas: aquelas de
uma realidade fugidia e que se pode reproduzir ín defini dam ente. D e s e ja r o objc
to Je seu \êu, destruir a sua aura, eis o que assinaia de imediato a presença de
uma percepção, ino atenta àquilo que "se topete identicamente pelo mutulo” . que.
graças ã reprodução, consegue até estandardizar aquilo que existe uma vez.
Afirma-se assim, no terreno intuitivo, um fenômeno análogo àquele que. nu plano
da teoria, é representado pela importância crescente da estatística. O alinhamento
* IXíí.cf çuc ms asilai »í hhtouh “isumaniunoiií mios prú surtas’ puüi: ngnlScw que pts se leva rnais em
conta ü sua lunçàq soem! Nunja j>anuuc que um nnraiiâiu cun|i*mporaiKiti quurulc ?vpreveniu um rwurgii-i
cddJiv Quanto anui refeição IW dentro do seu círeiWo (familiar iiprwn-ila mais cxaiamente a sua fimçio
ci 1.1 do que um juntar du váeuhi X V I. que. çi»Uto o R-mbr Bllill, da Lição dl! Anutoniia, itprcs-eíIlBVa atl |>j
blico uc -..j. i .-.pwuau.; médicos rii> próprio ,-wivktu iic mi.. nnc
10 B E N J À M IN
da realidade pelas massas, o alínhamenLo cuncxo das rnassas pela realidade, cons
tituem um processo de alcance indefinido, tanto para o pensarnento, tomo para a
intuição.
IV
' Ao cktinir a aura como ":i miica aii.iRÇüo Jc uma realidade UtnpineiuB, |wr m.m pavomiui que t?lu esu-jn".
nós. ,-,iimipt«smi’íii ei. [weuuv: i iniii,.f,iMi,.i,i pjirii a-. cii&lvrUi* Jo «p-aç» - cUi r;mp>, in RVrmu In que Jcjignq
* Vr Ii ■ tto cullft da ohra »k- arte, l .cms>jnqeü «pòc - t a pn4'<inm O que o lá wjeriojiU atente iun&c ê irmlm^jvd.
l>c téiiL*. p qualidade prfaápat dc imua imagem que verve para i» çulio t Uo ser jinicin^ivel. Devido ;'ii sua |>ió
pna raiureía. «In ««té i«npt«’ "tonjínqua, po* inaii prúxfakia. que |<ua,MI eslú i\ H»de :.e upruiun.ir de tiuu rea
lidade material. mas sem st alcançai o car.uerkmpinq.no q i.jc cia conserva, a partia de quando aparece.
11 Nu medida cm que o valeu dc eulrn dn imagem <us fteçulJUíiiEa rcppçpçitini sc de oíloU aindfi eruiis imlü-un nii
nu do -1 ••ulwrrwo ite qeuil alu liw uma vcnlidudc 411, i Judu apcAad uma ve*. C.-ií U «w m is , o «tqKvWidDr
Sc iclcTrita a iu bsiiluir li umciditilr dos fcnú-metios liucnin antes na 1 ;.if:e:ii de culto pelo jejcilUidc «mpirica eüu
untaut c 'Jc mui «uviatulc cm p oia. A Mitetit-Jiça. n u iça i iniçjfffil. scrtl ólividsi; tt rtoçâú LU: iàulümaUatlcjn
mais CKSSl dc 50 rí morei j a g á má is iU: que himpies íMirqnm de 0 ri pinaiteiade |o cxcmpl» mais sigmficativn
6 aquele do ctiltclKiMÒr<juc sr isíirecc sempre oom um o&rr&dtir àc íslfiti 3* t que. nisJianía ;> pivipiia posse
du isbra .11 nr.,:. punícipci tk .a-.. puder de- c^uo-.i Aperai dc tixb , o papel dki conceito dc auicHr.iciJacLc' IK'
tampo da ::tcc é ambígud: gum a htjcuJaráaçio dana útrlma, a autâlllçiilwle tums-ae o substiuito du valor de
culta.
A OBR A D E A RT E 11
conceber urra arte pura. que recusa, nãa apenas' desempenhar qualquer papel
essencial, mas ale swbnicter-sc às condições sempre impostas por uma matéria
objetiva.
A fim de se esiudur a obra de arte na época das técnicas de reproJação. é
preciso levar na maiof conta esse conjunto de relações. E la s colocam em evidên
cia um Tato verdadeira mente decisivo e o qual vemos aqui aparecer pda primeira
vez na história do mundo: a emancipação da obra de arte com relação à exis
tência parasitária que lhe era imposta pdo seu papd ritualísticu. Reproduzem-se
cada vez mais obras de arte, que foram feitas justam eme para serem reproduzí
das 5 D a chapa fotográfica pode-se tirar um grande número de provas: sena
absurdo indagar qual delas è a autêntica. Mas. desde que o critério de autentici
dade não c mais aplicável ã produção artística, toda a função da arte ilea subver
tida. Em lugar de se basear sobre o ritual, cia se funda, doravante, sobre uma
outra forma d e praxis: a política,
C a sa s>e considerem os diversos modos pelos quais uma obra de arte pode sct
«colhida, a enfase c dada. ora sobre um faLor, ora sobre outro. Entre esses fatores
existem dois que se opõem diametral mente: o valor da obra como objeto de culto
c o seu Valor como realidade exibível. A produção artística inicia sc medianteIV
IV moJ<i divcíêíi do que tóèdin cm tiuruíiji ■ou i-m •mii fui a. a «entea ele te produção r w V pma q filme
urna viraplç* «encUçwi exicríní .i ícicultlte aufl diluirão maciço; a auu técnica dc produção fumia dirctaiNGflU!
&mui técnico Uc rípfüduiqii l-.la iúu apenas permite, dc modo mais uuetlLiro, n difusão mnciçoi da fiJmc. «va*,
exige u. Aa despesas de pnxllição siÜ tão ikàt q,t*e impedem ao Indivíduo adquirir um filme. ÇHffiiieQift
prasse um quadro. Os cálculos dc-tiWftiSriM.ua cjuc, ti-ií IhJV.. umartlüf.açiHj de uma grande rim implküva int
■ain (.'m Mçúo |j.h n rtíivr «uJIWi. dc opeclatitM-c.. Ck início, e ixnii. a invenção iln a n â n i Iatado diminuiu
|ifovi^i[ iiuiiL-:i(e a dlíuiiio dos filmes jpOi causa das 1'ronletras linguísticas ?5ii própria época cm que o fax
iffomo insistiu nos mi cresses nacionais, E ssíj raGssSsáo,, cm bre*e atenuada peta a-jUueem. davr inusornu' nov
nitnuK do que o m II dfl Cfni • l.iv.LiMti<t. (,K ek*ts lénõimmo: n miíuiIi nneti- |n>*,jiid rw.in h/;uii>. j cr nu
cconOmka. As mesmas palurhcrçtWs. que, a gro»**!. modo, cflftdwviríim r. procuro uoti tnvkw de guiuntir. pela
fiífçn. u eauiuío ,1a propriedade, apressaram o» capitalista» do dnema a concretizarem o mJvenio do lllme
lalttdo. F m * dvvcotiviui iKWAc lhes um tksuitopo passageiro, nimrfhijimH* para propiciar as massas O pMlP
pdo vjnemti, c, *obi etnia nneulsnilú os capitais dem i indústria imw nóvos cspkaU proveniente» da indúntrta
elétrica, Assim, visto dc h>ra, u emana baladri iftvamxu tios iiiictcmks mueicmiik. «tw, vi-.tò dedouro. pmw
crui uma mu»r ;nicrnamonalir.íiçâo do• interesse»,
• lisso oposição escapa neveisarisRienti! .■mhu .--tètiva iJealiXU; a idéia dc beleza desta «Jlliua. sumauc
tulrmtc urna dualidade indeterminada c, cm cousci|iicrieia, rocuva-scaqudqtin- liixisào HeRd.au enam a
cntfeviu o problcnu, canto quamu lhe pcrmiiia sev ulcaltsmci. Disse.cm 1:t*dfír»ufyn ühtr <i<< Phtíotajthf* der
(íVir/UtAlK "Ás imyp.cns existem ,i.i há muno. A piedade sempre as eãfiU eomo abjetos, dc devoção, mas iião
linha ftcucviidade aljqima <le íjuujíwix bcías, A iinaiuxn bela oometn. assim, um elcmcflto exterior, porem ena
medido em que 5 bota que ■ ■ -cii x.piriio lái.i. ,n.s homens, ora. com a devoção, trata se dc uma noccsSidadr
cssancml i exi.siSíwta de «nu rctaçfv.i a uma coisa. pois. por si pnipria. .áa não è msi - dti «r«e <><nteirp**i
mento e t t l w A Bela Anc . nasceu tlcwo da Iftrcja entbon a arte já haja emergido do prindpio
da aricT Uma pS-SsaKcni tfc VurSrxuii&n üht‘r <ik I athoitk indica iuufllfflMWe <iur UçfcL-l pi^-vniUii u csis-
tcncia do problema: “Não estamos mais no Mnqio em que &e t-■dut uni culto divino is obras dc arre, onde
jvmJiu dcdb»r-lhck jitucci. íi inípcuKsiio que cia;, nd;- irar.. mÍKJii c anais dbcrcLa ca soa cnpacidaik l£u «mq
c-iemar isirtda requer uma pedra ele UKjUC dc urdctB SitperiOr", A pqsw.cm do primeiro ntodn pura b -..^uncta
ciHSduuursit iir gerai «Hlo processo hislunftj da receptividade íjs obras dc arte. Ou.u.do xc ewâ dexprevenidr».
fica-se ptir princípuj. t a cada ot»m parixelar, condenado íi nsdJaf cttt.iv CsSe* ifens mekis opostos. Após os
11 BHNJ \\! IN
imagens que servem ao culto, Pode-se admitir que a própria presença dessas irra
gens- tem mais importância do que õ fato de serem vistas, O alce que ü homem ll
gura sobre as paredes de uma gruta, na idade da pedra, consiste num instrumento
mágico. F.lc e$iã. sem dúvida, exposto aos olhos de outros homens, porém —
antes dc tudo — é aos espíritos que ele se endereça. Mais tarde, e precisamente
esse valor de cuko como tal que impeie a manter a obra de arte em segredo: algu
ruas estátuas de deuses só são acessíveis ao sacerdote, na ceifa. Algumas virgens
permanecem cobertas durante quase o ano inteiro, algumas esculturas dc cate
drais góticas são invisíveis, quando olhadas do solo, Na medida em que as obras
de arte se emancipam do seu uso ritual, as ocasiões de serem expostas tornam-se
mais numerosas- L'm busto pode ser enviado para aqui ou para lá: to-ma-se mais
üxibivel. em. consequência, do que uitta. estatua dtí um deus. com ^eu lugar dilimi
tudo ao interior dc um templo. O quadro è mais, cxibívcl do que o mosaico üii o
afresco que lhe precederam. F se se admite que. em princípio, a missa foí tão exi
bível quamo a sinfonia, esta última, entretanto, apareceu num tempo cm que se
podería prever que ela seria mais fácil de apresentar do que a missa.
A s diversas técnicas de reprodução reforçaram esse aspecto em taA propor
ções que, mediante um fenômeno análogo ao produzido nas origens, o desloca
mento quantitativo entre as duas formas de valor, típicas da obra dc arte. t rans for
mcu-$e numa modificação qualitativa, que afeta a sua própria natureza.
Originariamenlc. a preponderância absoluta do valor dc culto fez antes de Ludo
um instrumento mágico dst Obra de arte. á qual só viría a ser até tkiermi
nado ponto reconhecida mais tarde como tal. Da mesmo modo. hoje a prepon
derâncifl nb:>oluiu do seu valor de exibição c o n f e r e lha f u n ç ó i s inryirãmente
novas., entre as. quais aquela de que lemos consciência n função artística
podería aparecer como acessória.11 Ú certo que, u partir do presente, u fotografia
e. mais am da.o cinema testemunham dc modo bastante claro nesse sentido.
imfaillius ik hubcn fífirnm. s.-ily §4 qu* fi Virgem dc- Sâo S-íhU» Pai pLnladu para flnii de csprtsiyiio- CrnMi
ií i.iis.iv.i .i r«f.|-tiir .Ui i niK.i úvt :ua ü* iiiadc. :i. que no primeiro plaíwdoquadíu, .«m adc uptny a Jheis
nauras ilc aiijn». pcri!«nt»’il >c ■ ' qud podei iu lu IcvaiUi um plnmi corna tttiláeJ ;i t.i^çr entM (jtc o cçu pai
rriVi. sluiDrv tiras «ipnrles. Sv,.i pesquisa revelou lhe que « p a Virgem huvia sícUs inct>mcriJa<Ja par» » ..epnlKi
•neiiuv soí cito <lii papa. Kssa cerimônia itc-Jtinralou-st muna ep-pdu Imernl n igreja J*- P^ln». O q.i.nJra t-,
lava insialndy n-u fundo d», capela. que rórnwun uma espécie Ue nielnt Rnluel rcprcferituu u Virjtcm. pnr
. ■ nu ql.í.i^r. dai|iivk- i.k'ijmiiiuJu-1 p%u ■■ ■ ■ i ii «r11 - verde .ufirn ile inançni’, *ih ie a;. n u voiv. f i ,! lÍii'C
fàv do euuüt) p iiiiilk iil. Dcsiinatb pum ns li.ui mus Jt> pupiLo quiuJro ria ftjditL-l miic* ile Iudõ. possuin um
.Jiluj dc rxpnsíçái i Pouyi> mJM.S i IIV' d :fiendurar:icn-iiú Mihrc o .1 lmrnu.11 da igreja dis-. nc/ms em
Plaisaner O morivu Jeasi* üjjIÍi 1- foi qur o fhnal riimuao proibia a u-m-uiçiiii mm nhni mur J l- ib -.rj^vu-
exnosuiíi nu íleeMní! .p lu».,*- ti-j. tal p r e u iq u i ilrctu um [xw,-.. «Ir» v.il.u <-1>ir.••••■.,-i:d iibrn Patitul, A
lu« '*■' oHwfte. vendv Ia pelo sçu vakn, 4 Cúri-"i m o lv u lolutai muliiiuaiiu- que o» cumpxgdoreít piulcv
-«nr « p i Ia num aJiui mm. fitintr nu. <«; denejuva 1 repercussão do fato, cnviu 11-se o juadru a «ns frades.,
nl rna provint:ia a1'astada.
1 1 Km nivd drv-.-rso. Brecnt npresente 'CORSidetú^iies anuioe*.: ’NX-:-:1o que a nhr:i ile ane se corna
r.n, 4SM IWçn.b Ulr íthra .k- .irle.ijj iino Ihu- puUi- n:n- st-r iipfiú-aifei abvten mihJo, (kvvinu-^voul pilidÉpcin
1 priseuuçüo más s=m r«q<r! . ienuj:ei;j: a nuçâu ttt iibra írte. ettâo des.qcrrrpa prç&crvai sim luriçao
denuv Ja. prôcria COiSa cOrnO ut dcMjpuHla. Traia se úe mt|fi 1'atíe niícmáría de Sfir atravessada snn .Jissimu
laçties; essa virada nãu ê &rntuíi;i. ela conduz 3 uma transforaMiçàn liindaraenutl dt> uhjetn e <i«e apatia sen
passami n ia) pann.5. que. cuso j jioyu noçàu deva reeiteonirar seu uso e por que miot aãu evocará «uns
qtsalLjner Oas límbrinçns vineulaüas à mui ühií^;i -.iji.niejcnção".
A O B R A Df: A R í f- 13
VI
V II
porem não se indagou antes se essa própria invenção não transformaria o caráter
geral da arte, os teóricos do cinema sucumbiríam no mesmo erro. Contudo, os
problemas que a fotografia colocara para a estética tradicional nào eram mais que
brincadeiras infantis em comparação com aqueles que o filme iria levantar. Dai
essa violência cega que caracteriza os primeiros teóricos do cinema, Abel Gance,
por exemplo, compara o filme à escritura hieroglífica:
' () cinema ainda não apreendeu sen verdadeiro sentido, suas verda
deiras possibilidades, . . Elas consistem rw poder que d c detém intnnse
camente de exprimir, por meios naturais, , com uma incomparável capa
cidade dc persuasão, o feérico, o maravilhoso, o sobrenatural15
V1JI
IX
1* mO 01 me piúfiicíã iiM-deriA propiciar). ;iu no detalhe. concluwi-i--.útrtr n rap eão lirr- cen.iu ^ humii-
n,-iv A psíflEí' itft ur-v: • ii/ ,2iu hiwinn nrui >;«? poidí* ctí-iiuvir nenhum dn» ícuk rnocivm cfc? cnmpnnamtTiiiv .1
yjklls interior da.*. posso*! num a é f u n d a i rorameiuc. d a consisti? no m u ltad e ro:im imporOinlr dc KU&
cerniu ias” (Brecíu. 1 1 rM<ch?, D w Ámpitando o ea.m pn du iijmu, ti ppi,-l rfos apa
rei hos. na rcpraoiU vâti dos Itlfnci. ileüCRípcnliu. paia o índtvsdui). uma. lEinç.ki anãln,-..i àquda do cunjumn
dc «ireunsiirtíias eccróitiicas quv wiaiurturom tlc medo cti(raarilinarin os terrenos onde d e poJe s<rf t « c a Jr
VertílL1 1 . .issim qn/ os icslcs dc iirienl.ua, 1 pjrtfiífiiúiial Is < i>nnh;un fftab importância. Cüfiiistfrp
rum poermindo número de {kcuptifttnH liai fvçfitruiattm do indivíini,i Tomadas prova*
du ui iiavAçàò -profissional. m diston.vo1* c « dianie de - ureófvyo de téenkir O ilireim Je rnontapom
tíiçonirâ-se cm sim csíudiu esalitnwnlc Iin m vsn:i «inação que 0 euiuroLidcir dc tcslca, por acatião du exame
üé orientáçà.0 profissional.
16 B h N JA M IM
Existe aí urru situação passível ile ser assim caracterizada: pela primeira vez.
e cm decorrência da obra do cinema, o homem deve agir com coda a sua persona
lidade viva. mas privado da aura. Pois sua aura depende dc seu hlc cr nunc. Ela
não sofre nenhuma reprodução. No teatro. a aura ile Macheth ê inseparável da
aura do ator que desempenha esse papel tal como a sente o publico vivo. A tom a
da no estúdio tem a capacidade peculiar de substituir o público pelo aparelho, \
aura dos intérpretes desaparece necessariamente e, com ela. a das personagens
que eles representam.
Nào se deve tlcar surpreso que. precisamente um dramaturgo como Hiran
dcllo. através de sua analise do cinema, atinja de modo involuntário aquilo que e
básico na crise atual do teatro. Nada se opõe mais radicalmente dn que o teatro
ã obra inteiramente concebida do ponto de vista das técnicas de reprodução, ou
melhor, àquela que. como o cinema, nasceu dessas próprias técnicas, Uso se con
firma mediante qualquer estudo sério do problema, Desde muito tempo, os bons
conhecedores admitem, como escrevia Arnheim em 1932. que. no cinema, “é
quase sempre interpretando o mínimo que se obtêm maus e fe ito .. . A última esca
la do progresso consiste em reduzir o ator a um acessório escolhido pelas suas
características, e que se utiliza funcional mente'*.18 Outra circunstância liga se
u esta de modo mais estreito: se o ator teatral entra na pele da personagem repre
sentada por d c. é muito raro que o interprete do filme possa tomar idêntica atitu
de. Ide nào desempenha o papel ininterruptamentc. e sim numa serie de
1 ' Luijú PitíiJHldlu. (to íou/nc. ciluüe imi IXvn Pitue Qurnt. ”Stenillcàtion dtrCmémif (L "Ari Cinctnara
i;rij/íAujun II, Pum 10.7 7, pp, 14 s.)
Rudcill Arnheim: Fíhn át* Kitnit, Bsfltiw iv j j , HP I7t> Dentro dessa i»v; .pewlivti. certas pailo-uliui
dndcft .iparuntcmaile secundárias. que Jr tino.ucm a direção cinamaco prática c o cspcrimaniti tcnual. lomain
mm-, inleri^surtu- '. erilT>e t-mlro*. a ununtiva dc rdjptm ilireiot.- r>reyer ur» soa Jcam r cíHtv áe
suprimir m rtuiqiiibiícin dos .nino.. Dreycr ,tcm<w£>- mexes par» conseguir rcur.jr j$ quttraiu inurprao que
dev criam representar os juizes nn procc-iai da inquisição Sua busca parecia a procura dc awvsõru* difíceis
d.* ••••rom ohlítkv Drcycr ••*ripr.-i-nil<-u ■
*• matam.»; -ior ... u fim evitar que houvesse entre • Intérprete»
1 menor sçmcttianv-i dc idude. dc csi.iiut;« c dc fisiuiuJTniu. QuunJo , ului se iwina ucc-üiõrio Ju cena, niio 0
r»ro que. em decorrência. os pnifm» acef.surlos dcseni|>ei’m*ii <1 papei üe atores Rdo menos não c izwüio
que 0 filme lhes 1 cilha um papel a confiar. l;rn vez lie invocar quaisquer exemplos cxlraidus da grande massa
ibtqudet que senprwcnutm. fixc«K> nos e n um. «pccnvitnemc ilustrativo, A presença no palco dc um rekipio
cm Amrtwuimwin 4»ria rempre íni'i»íl Inesiste lugar aa teatro para 0 sua ilictçici 41111 é n Jc mtnur o imi»
Mesmo numn peça realista, o letnpi» astrunòmku estaria emdiscordância com n icmpo cênico. Ne-u*. conde
Võvs, t da riuioi iinpmiUiiiuui paru o cinema poUc Ut por üe liii rekifito a fim de assinalar u tempo real. Rs.se
l um dos dados que melhor tndivarn que. numa eircupsiãnáa determinada.«ida aeesNciru» ppde desempenhar
um papd decisivo, Hstarmíx aqui bem puni ma-, clu afirmação de 1'tíiinvikin. scjuirtdo a qual “o desempenho
dü um .iIim. virir.hmlii .1 uir. ,-h; .-li, wdvfK niirinln ilvst^. s,*mpr. rnnMihii um il tu.ii . psi.l -r.' m■rifc»-urs.t .
de que dispòe o cinema", O ftltnç. então, è o primeira mçio arustiço capaz de mostrar a reciprocidade de ação
entre a matéria <o humetn. NcSscsemiUu. ek pode servir com muita eficácia a um ptasaracmu maa-rialivta.
\ O B R A Ü E A R TI 17
P«tJc se vwr-tMjM, no plano político, uma mudança iuiákqri no modo de exposição e que dc forinn
idêntica — depende dío técnicas dc reprodução * ciisc itluol dua UcrmiCntcuo. burguesas eau vinculada .1
uma e3isc da* ooiiiíIçucn que determinam » srópm aprescnuíçâo dl>s ftovcrnanics. M dÇrnoorftCi&S .ipresa*
um seus ypvemiMítes <k mode* direto, cm c.n iic < i w , dnintcdos depuetetus, O parlamento constitui o seu pú
blioo. Com a evolução dos aparelhos, que permite a um namaro indefinido Uc ouvintes escutar o discurso di>
orador, no próprio momeiuu em que ele tala, e dc. poupei écpob, difundir u suo imujtcm a uma quantidade
indefinida dc espectadores, o essencial sc transforma na apícsetuução uu homem puliaçn dinniedo apjtrçjJbo
em m, hssa nuvu técnica osviuia os parlamentos, assim como esvazia os teatros, 0 rãcJw* c o cinema n,io
modiiicant apepas a íunçafi do ator r ,v'li'. »*nnl. mas tic maneira üetnelfctiinlc - - a dc qualquer um. como
o caso d.' governante. que se àpr-c&cníe ili.-inic dn rntÇrnfone ou da câmara. Levando en* coma a difbrcftv-1
de ohjeuvoM, o itiurrprcic dc um lUmc c o cuutdiulú j©Jrcrri uon-iíai rrtuçwj puruicliu. lsuh rctu^ãu u isso. J3oti
conseguem, em determinadas condições sociais, aproximados do público. Dai a enstínda de uma nova sele
ção, diante da aparelho: as que suar. vencedores são a vedete c O ditador,
LB BENJ A MIN
das causas da opressão que o domina, diante do aparelho, dessa forma nova de
angústia assinalada por Pirandello. Na medida em que restringe o papel da aura.
o cinema constrói artificial mente, fora do estúdio, a "personalidade do ator": o
culto do astro, que favorece ao capitalismo dos produtores e cuja magia é garan-
Lida pela personalidade que, jà de há muito, reduziu-se ao encanto corrompido de
seu valor de mercadoria. Enquanto o capitalismo conduz o jogo, o único serviço
que se deve esperar do cinema em favor da revolução é o fato de ele permitir uma
critica revolucionária das concepções antigas de arte, Não contestamos, entre
tanto. que, em certos casos particulares, possa ir ainda mais longe e venha a favo
recer uma crítica revolucionária das relações sociais, quiçá do próprio princípio
üa propriedade, Mas isso não traduz o objeto principal do nosso estudo nem a
eontnbuLçào essencial da produção cinematográfica na Europa Ocidental.
A técnica do cinema assemelha se àquela do esporte, no sentido de que todos
os espectadores são. nos dois casos, scmi espeoalistas. Basta, para isso ficar
convincente, haver escutado algum dia um grupo de jovens vendedores de jornais
que, apoiados sobre suas bicicletas, comentam os resultados de uma competição
de ciclism o. Não é sem razão que os editores de jornais organizam competições
reservadas a seus empregados jovens. Tais corridas despertam um imenso inte
resse entre aqueles que delas participam, pois o vencedor tem a oportunidade de
deixar a venda de jornais pda situação de corredor profissional. De modo idênti
co. graças aos filmes de atualidades, qualquer pessoa tem a sua chance de apare
cer na teia. Pode ser mesmo que venha a ocasião de aparecer numa verdadeira
obra de arte. como Tri Pefni o Lm lnie (Três Cânticos o Lenw), dc Vcrtov, ou
numa fita de Jorís Ivcns, Nào há ninguém hoje cm dtu afastado da pretensão de
ser filmado e, a fim de melhor entender essa pretensão. vale considerar a situação
atual dos escritores.
Durante séculos, um pequeno número de escritores encontrava se em confronto
com vários milhares dc leitores. No fim do século passado, u situação mudou.
Mediante a ampliação da imprensa, que colocava sempre â disposição do público
novos órgãos políticos, religiosos, científicos, profissionais, regionais, viu se um
número crescente dc leitores — de inicio, ocasional mente desinteressar se dos
escritures. A coisa começou quando os jornais abriram suas colunas a um “ cor
reio dos leitores" c. daí em diante, inexiste hoje em dia qualquer europeu, seja
qual for a sua ocupação, que. em princípio, não tenha a garantia de uma tribuna
para narrar a sua experiência profissjorufl, expor suas queixas, publicar uma
reportagem ou algum estudo do mesmo genero. Entre o autor e o público, a dife
rença. portanto, está em vias de se tornar cada vez menos fundamental Ela é ape
nas funcional e pode variar segundo as circunsLãnctas. Com a especialização cres
cente do trabalho, cada indivíduo, mal ou bem. está fadado a se tornar um perito
em sua matéria, seja d a de somenos importância; e tal qualificação confere-lhe
uma dada autoridade. N a União Soviética, até o trabalho tem voz; e a sua repre
sentação verbal constitui uma parte do poder requisitada pelo seu próprio exercí
cio. A competência literária não mais se baseia sobre formação especializada.
A OBRA DE ARTE 19
rrvas sobre uma multiplicidade dê lêúvicas ç, assim, ela se transforma num bem
com um .20
Tudo isso apiíca-se ao cinema sem reservas, onde os deslocamentos de pers
pectiva, que exigiram séeuLos no campo literário, realizaram-se em dez anos. Pois.
na prática cinematográfica — sobretudo na R ijüsiu — a evolução já está parcía]
mente consumada. Inúmeros intérpretes do cinema soviético náo são mais atores
dentrú da acepçào da palavra, c sim pessoas que desempenham o seu próprio
papel, mormente cm sua atividade profissional, Na F.uropa Ocidental, a explora
çào capitalista da indústria cinematográfica recusa-se a satisfazer as pretensões
do homem contemporâneo de ver & sua imagem reproduzida. Dentro dessas
condições, os produtores dc filme?; têm interesse em estimular a atcttçâo das m as
sas para representações ilusórias c espetáculos equívocos.
X i
:,a 0 earàtçr privilDiyaitu dus léraicits cfirrtíponduniis lira mlm*fflrmliiBdc«. AlcSoux l-liuitey escreveu t"üs
pn^ngaMw néenittw. «ndusiriuw £ vidparinujao. Ai wcnivms de rercutluçà-ú- ü o uso das rotativas do*
jamais permitiram u«u imihifilicnçài» da íinutimi c tlu ecritt que ultropass.i iodas as prevladea.. A Nmraçâu
uferigalòlift ç v rç)AtiV'a auincnu' Jti nivid» dc viJa «irlrimm um |!t*bhcij multo grande, unjwr dc ler « :.u valer
d* leitura f das imagens A fim dc s ati.situei ,i ml demanda. (ai neçésSário or^áfitz.ir uma inilusiro impoi
lume Mas o iUhh aritmio• ■«ma «mn mrs: rcxultn disso . que por iodemos lados ;i produção arCistiíá. fua
■■iüh pruidr rmnu. Uii de puoeu vaiar Mm. ho->\ a piMCtmnuem de ÍYlCíUtuflí. na eoniunn* da pioducid ©lèfi
ca, ainda c maior tio qac mwiea . Traia se. m dc um aim(dcs prftbfewi «rritmétia» No decorrer do nfcul»
p«r,SRdc\ u pnpiulaçãik (ia nunipa Ocidental ictgnl-uii ulcm do dobro. porim.no que t po orvel calculai o núuc
rtal dc kiiur.s r dc imaiieiis avmoWHi, fio mmimu, de um para t o , talvez, dc um pum dnqwnui ou écoi. Se
ic admite que uma população dc »■milhões de habítar.ics ccuuporia, um número « dc pessoas, dotada* artisti
enmcntc. i« lulaMos serão Jr 2n pa: ,i uiuii popuUjçàc de .V mtllide Porte c assim n$nmii n sduaqao: onde.
Iili cym anu*, piblbr«>w uiuu pú^ino, jniprcis.i, o»m torto ou imapens, publisnm :>e, hoje, vinu. *en*o esm,
i.AuX, |WI muro Ibdo. esiJilta em talCTHdsrUMJeu, eMMum.iinji:, doh, Admito que,em CtWisequência da ensino
obrigatório. um -rUfide numero dc talentos Virtuais, ouiroía impedidos íc de*envole«r«« sçys dons, porte mije
cvprtKüar Supúnhamos, poi oonsepulmc.. cjue hoje rtislitei lf« ou ipestnu auairo Lokn&ps ptrfl cart*
um de m urara. De qualquer turma, rt í í ORi mf l d. textí?» e de imaeuas superou s produçoei normul de lS C íu o -
reí, e descnliisliei hum dotados. Ocorre o meamo no [erraio das sons. A prosperidade,o grèmlOlone c o rádio
cniirstm um puliiica cujo cpnMjmu de baia uuiJiscb estã dcspiroporcionrU com o «rrcscitncmo da população c,
em rtecorrétim, dom » nãmera de iEiüsictsS: dc tatenta. Dc-.sc mód& em ÍOrtiu as arK».-4ICj« em nrtrtirWWttlisrt
hiíoi. ou «cn v.-iU>rcK reblcvcss. a piOdUÇflO (ie rr^L-aK-.u1
, ê mais mtansa do q ur iiuirora; l- aiíiim o será CíltjtííVllO
:ls pessoas «mUnuafêní a consumir. düSmtididamcnte, textos, imagens e rtisoos". É claro que o ponto de vista
aqui expresso pada Eem de progrossisia.
2Ü REMIAM IN
disso existe num estúdio cinematográfico. O filme* só atua cm segundo grau_ uma
ve/, que se procede à montagem da* sequências. Em uutras palavras: ü aparelho.
110 estúdio, penetrou táo profundam ente na própria realidade que. a fim de confe
rir-lhe a sua pureza, a lim de d e s e ja la diste corpo estranho uo qual se constitui
— dentro deLa — o mesmo aparelho, deve-se recorrer a um conjunto de processos
peculiares: variação de ângulos, de tomadas, montagem- agrupando várias seqücn
cias Je imagens Jo mesmo tipo. A realidade despojada do que lhe acrescenta o
aparelho tornou-se aqui a mais artificial de todas ç, no país da técnica, a apreen
são imediata da realidade como tal é. em decorrência, lima flor azul.
Essa situação do cinema, opondo se nitidamente á do teatro, leva a conclu
sues ainda mais rac Lindas. caso a comparemos com a tia pintura. Cabe aqui im-fa
gar qual é n relação entre u operador e o pintor, A ítm de responder, permita-se
nos recorrer a uma comparação esclarecedora, extraída da própria idéia de
operação. Uit como c empregada na cirurgia. No mundo c per ator io . o c iru rg iã o e
o curandeiro ocupam os dois pilos opostos. Ü modo dc agir do curandeiro que
cura um doente mediante n atuação das mãos. difere tia que A do ciru rg iã o que pra
tiecí uma intervenção. O curandeiro conserva a distância natural existente entre
ele e o paciente, ou — melhor dizendo se ele a diminui um pouco - devido h
atuação da.s mãos aumenta a bastante por causa de sua autoridade. O cirur
g?âo. pelo contrário, u dtminut consideravelmente, porque intervém no interior Jo
doente, mas só aumenta a um pouco, graças à prudência com que a sua mão se
move pelo corpo do paciente, h.rn suma: ao contrário do curandeiro (do qual res
mm alguns traços no prático), o cirurgia». no momento qecisivo. renuncia a se
comportar face ao doenté dc acordo com uma relação de homem a homem; é
sobretudo atraves do mudo opem órm que ele porteira no doente. Entre a pintor e
o filmador encontramos a mesma relação existente entre o curandeiro o o cirur
giuo. O primeiro, pintando, observa uma distância natural entre a realidade dada
e ele próprio: o filmador penetra cm profundidade nu própria estrutura <lo dado.*'
A s imagens que cada um obtém diferem extraordinariamente, Á do pintor é gin
bfil. a do filmador dívidc-sc num grande número de parles, onde cada qual Obede
ce a suas leis próprias Para o homem h o d le irio , a imagem do real IbrmxúUa pdo
cinema é inflniiamcnte mais significativa, pois sc ela atinge esse aspecto das coi
sus que escapa a qualquer instrumento o que se rrata dc exigência legitima dc
toda obra de arte — ela só o consegue exatamente porque utiliza instrumentos
destinados a peneirar, do modo mais intensivo, no coração da realidade
•'1 A> ililicuklwltt iln rVimactor mk>, ewm etaia, cWMWàveu âqitclur. J<i cirurgíã®. Cxracw?!>.:»m m inuviman
tt» ik iubei cuja tônica |w « i« r vsprcifíeiweaie a® âmbito do gcsiç». Lut Dunam fala daqueles que tuUgCm.
niL i::inirK«» algumas invaqjSéti rfiiícçí'.. T u » *, por i.tcnspie. wu.siwi «spc^íílsi', f\li;itvló .U lílíirrifloLíuiii
^ulitgjj. chamado dc mèiodo (K-JspcvLivi) crukvnaüt! Refere >e iRmalincnic àk verUadteiras acro-h-acim imposlíer
ao cirorSUe dn luringe, pelo ÜUO dc sjei* íibríjpdo a lltO^K um tSfiCllhX Onde a imnjíem sr llic »pre*tfitâ ao
inverso A aisinalã também n itJvin.iLho do f>rí«if.!ift T-w.|ueriiln rela cirurpiu Ic ouvido, ^u- õ com paravd « i *u-
um rclojiíl-íili O címr^au.çs oev. ijwrciUr cr, seus jtitkjcukjs ate um fLiiu extremo dc piouisãu ocrobálicli. quuu-
•Io vat consertar nu uil* .ir,>corpo liomano. Hasta pensai, lambia ncis Dunaili, na«peraçãe etc çatáiutá, v-nílc
d aço do túxtuii deve poilur com wctdos qua.se fitadas. ími ainda nas importantes intervenfies na região
ingwauiI c1uparatomií í,
XII
Sí Hí s -c moUn Jc c-onsiJcriii uui-mi-. ptidt p w c ça AWMíiro. Mtt>. òumu o Janunstra o exempla do Sím Ur
leònco Leonai do l)u V Inei, üli.v.-n ,iç ú * dessa aiíttuí e/u podem sc-r 3■.vu lempo. Com pnm nài mú
wga v pinuira. tfu L,ucffl«ríki: " A supcriortçiiídç da piruiini «obre a músico uxUir jjíteflilú «leque. 1 paitir «|u
inntnétUíi l-iís q u r d a c convocada p a u viv^r iru'* ■k - motivo paru qj.c vortft-c -1 m orrer. como íw cuntrario,
c o casu Ua pnbnr música < ínúriu» w ova por a Uhjhi?- dc .»er lucadu; peioni;uda pdo usu Jij vcrnlz,a pm
luru suhMKic"
22 BENJAMIM
X III
0 que caracteriza o cinema nâo é apenas o modo pelo qual o homem se apre
senta ao aparelho, ê Lambem a maneira pela qual. graças a esse aparelho. d e
representa para si o mundo que u rodeia., Um á a m c da psicologia da performance
mostrou-nos que o aparelho pode desempenhar um papel de teste. Um odiar sobre
a psicanálise nos fornecerá um ouLro exemplo. De fato. o cinema enriqueceu a
nossa atenção através de métodos que vêm esclarecer a análise freudiana. Há ein
qücitta anos. nâo se prestava quase atenção a uim lapso ocorrido no desenrolar de
uma conversa. A capacidade desse íapso de. num só lance, abrir perspectivas pro
fundas sobre uma conversa que parecia decorrer do modo mais normal, era cuca
rada* talvez, como uma simples anomalia. Porém, depois de Psychopalhalagie tiw
Aüagslebens (Psrcopaioiogia da l ida Coiidiàfíãk as coisas mudaram muito. Ao
mesmo tempo que as isolava, o método de Frcud facultava a análise de realidades,
até então, ina dvertí dam eme perdidas no vasto fluxo das coisas, percebidas. A la r
gando o mundo dos objetos d.Os quais tomamos conhecimento, tanto no sentido
visual como no auditivo, o cinema acarretou, cm consequência, um aprofunda
mento da percepção. E c cm decorrência disso que as suas realizações podem ser
analisadas de forma bem mais exata e com número bem maior dc perspectivas do
que íifpielris oferecidas pelo teatro ou a pintura. Com relação i pintura, n superio
ridade do cinema se justifica naquilo que lhe permite melhor analisar o conteúdo
dos filmes e pelo fato de fornecer cie, assim , um levantamento da realidade incorrí
para vel mente mais preciso. Com relação ao teatro, porque c capa,? de isolar nú
mero bem maior de elementos çonsiituitites. Esse fato ■c é daí que provém a sua
importância capital tende a favorecer a mútua compenetração da arLe e da
ciência. Na realidade, quando *ç considera uma estrutura perfeílamente ajustada
ao âmago dc determinada situação (como o músculo no corpo), nâo se pode estí
pular sc a coesão refere se principalmente ao seu valor artístico, ou i\ exploração
científica passível dc ser concretizada. Clraçus ao cinema ■ e aí csié uma das
suas funções revolucionárias pode reconhecer, doravante, a identidade entre
o aspecto artístico da fu logra li u e o seu uso cientifico, ate CiHãO amiúdé
divergentes.85
Procedendo ao levantamento das realidades através de seus primeiros pla
nos que também subLinham os detalhes ocultos nos acessórios familiares, perseru
tando as ambicricias banais aob a direção engenhosa da objetiva, se o cinema, de
um lado, nos faz enserjtar melhor as necessidades dominantes sobre nossa vida.
conscpuc. de outro, abrir imenso campo de ação do qual não suspeitavamos. Os
,T Com ielav:u' i, isso, a juntura du Rcruisucnça lu m m r w itnáSOgO VCnj irtSiruiiViy Meto iam tom ejvxtn
ircinte» Lirna anc. íUjti1COienvvtvIraíntu c impt,it1áa.«a krctíPtpurayei# Ufssdain aq usti granai parus-, «b« tt
!"-|l, i ! L |: É tíg m ÜJV- ; 111. . « L i l l i e m J i : C k n C lIiS V.-'. I •• !'ll. ÍO i IIÍITÍ =i ' . ST I- V - 1 l. ' A • : -• '.I .ÍCíiVStr.
caendas R»vj«tljç:íj a ünntpinu e a pèrspcttiva, aí úsiv-tuiícui-. . i mctfflprrlo^íi < u rwria das pEms,. Como
VJçry Tc£ obüiarvor. nula Win mm rh-:eaa:i- de ní-. Jo qu.- essa ^urprcendcnU1ppelm^rin >),■um I i-Ornrilo. >iu*
via na piutaia a custa soprema e a m;iiü Lfj«vml,i il«rnOu.ai'âyãi> de saber. poi?. ttixv.T eanveitcKlo de *|w-*?ets»
requeria a d íad a universal c de pfõjjiio uãa recuava diante de uma análise luóriwa. '.aja pretisju c urofuasli
daílí (Sescsencertam AOS hoje rm. ,!in
A OBRA DE ARTE 23
bares- e as ru;u> «ie nossas grandes cidades, nossos gabinetes e aposentos mobília -
dos. as estações e usinas pareciam aprisionar-nos sem esperança de libertação.
E n tá o veio o cinema e, graças à dinâmica de seus décimos de segundo, destmiu
esse universo concentracionãrío, sc bem que agora abandonados no meio dos seus
restos projetados ao longe, passemos a empreender viagens aventurosas. G raças
ao primeiro plano, é o espaço que se alarga: graças ao ralenti, é O movimento que
assume novas dimensões. Tal como o engrandeeimento das coisas — cujo obje
tivo nào é apenas tomar mais claro aquilo que sem ele seria confuso, mas de des
vendar novas estruturas da matéria — o raíenti nào confere simplesmente relevo
às Ibrmas do movimento jtí conhecidas por nós, mas, sim. descobre nelas outras
formas. tmalmente: desconhecidas, "que nào representam dc rnode algum o retar
damento de movimentos rápidos e geram, mai.s do que isso. o efeito dc movimen
tos escorregadios, aéreos e su p ra te rre stre s".3 4
Fica bem claro, cm consequência, que a natureza que fala ã câmara è
eompletamente diversa da que fala aos olhos, mormente porque d a substitui o es
paço onde o homem age conscientemente por um outro onde sua açào é incons
ciente. Se é banal analisar, pdo menos global mente, a maneira dc andar dos
homens, nada Se sabe com certeza de seu estar durante a fração de segundo em
que estica o passo. Conhecemos em bruta o gesto que fazemos para apanhar um
fuzil ou uma colher, mas ignoramos quase todo o jogo que sc desenrola realmttUC
entre a mào e o metal, c com mais forte razão ainda devido ás alterações tmrodu
zidas nesses gestos pelas flutuações de nossos diversos estados dc espírito. É nesse
terreno que penetra o câm ara, com todos os seus recursos auxiliares dc imergir e
de emergir, seus cortes c seus isolamentos, suas extensões do campo e suas acele
rações, seus engrandecímentos e suas reduções. E la nos abre. pdn primeira vez. a
experiência do inconsciente visual, assim como a psicanálise nos abre a expe
riência do inconsciente instintivo.
X IV
Sempre foi uma das tarefas essenciais da arte a de suscitar determinada inda
g.açno num tempn ainda nào maduro para que se recebesse plena resposta.2a A
história de cada forma de arte comporta êjXícas críticas, onde d a lende a produzir
efeitos que só podem ser livremente obtidos em decorrência dc modificação do
nível técnico, quer dizer, mediante uma nova forma de arte. Daí porque as extra
vügàncius e exageros que manifestam nos períodos de suposta decadência nascem,
na verdade, daquilo que constitui, no âmago da arte, o mais rico centro de torças.
A inda bem rec em emente vimos os dadaistas u se eomprazerem com manifesta
ções bárbaras. Só hoje compreendemos o que visava esse esforço: o dadaísmo
buscava produzir, através da pintura (ou da literatura), os próprios efeitos que o
p úblico hoje so licita do cinem a.
Cad a vez: que surge uma indagação fundamentalmente nova abrindo o futuro
aos nossos olhos, ela ultrapassa seu propósito. Isso foi tão verdadeiro no caso dos
dadaístas que, em favor das intenções — das quais não estavam, evidentemente,
tão conscientes dentro da forma que descrevemos eles sacrificaram os valores
com erciais que assumiram, desde então, importância tão grande para o cinema.
O s dadaistas davam muito menos valor k utilização mercantil de suas obras do
que ao fato dc que não se podia fazer delas objetos de contemplação. Um de seus
métodos mais habituais para atingir esse objeto foi o aviltamento sistemático da
própria matéria de suas obras. Seus poemas sâo saladas de palavras, contem
obscenidades c tudo que se possa imaginar de detritos verbais. Iguulmçntcos seus
quadros, sobre os quais eles colavam botões c bilhetes de passagens de ônibus,
trens. etc. Chegaram ao ponto de privar rudicolmcnte de qualquer aura as produ
ções ás quais infligiam o estigma da reprodução Diante de um quadro de Arp ou
íle um poema de Stramm. não se tem como diante dc uma tela de Derain ou
um poema dc R ilkc o lazer da concentração para fazer um julgamento. Para
uma burguesia degenerudn. o reentrar cm si mesmo tornou-se uma escola de
comportamento associai: com o dadnismo. a diversão tornou sc um exercício de
comportamento social.3 • Suas manifestações.com efeito, produziram uma díver
gencia muito violenta, fazendo-se da obra de arte um objeto dc escândalo. O
intento era. antes de tudo, chocar a opinião pública De espetáculo atraente paru
o olho e de sonoridade sedutora para o ouvido, a obra de arte. mediante o dadais
mo, transformou sc cm choque, E la feria o espectador ou o ouvinte; adquiriu
poder [ruumfitizante. h. dentro disso, favoreceu o gosto pelo cinema, que também
possui um caráter dediversionismo pelos choques provocados no espectador devi
do às mudanças de lugares e de ambientes. Pensar em toda a diferença que separa
auiumaiicamcnic irnaccir- sucessivas ijvc •»*.*■demoravam uni instante c lojjti davam lugar u uutia seguinte. Fui
amtla com mçsu» análogos t|uc fcdisoti cailnu it pequeno «ru|«j dc espocui JartT. u |inmcn a pclicuíu lilirwlu
Ísnlíis qur *ic descobri s-o- .1 tela c .1 projeção); .1 público nthnvu cnm .-.tu por o aparelho denlrfi do quãl >.;■
dcs.cnrolavam -i'i ImíiuCtlv, \ priitdpio, o cspet/i-euto apresentado no Panorama tmpèriet lfftdu/ia dc
maneira L'hpcnialmciUa clara uma Jmlinica tln duwii volvimiauo. Pouca terrifio ame-- do cinema peimir.ii uma
vasãíi colcitv i cl.i s imaçenv. praça» a evüc sisicm.1 Uc ntercovtiúpni. Iiipu luuIu Uc muda. o que ainda picv aJc
coi foi a vhúij individual, com a mesma lorça da vumanpi4çã.»i p.i .ma; -m divina iuiia *vi um padre numa
cclji.
* * O :tr^uclífAi lúplóyico i uuio i ecollil miuâo conuislc iui . im c n nwa do rsiar a iuV- uon' Deus. N a 1
.‘.r.indes Opown. da burguesia, c ••-.i uon-.ciOnou tomou o homcin .utlctcntcmcmc fo n e pa:u uucudo a laicla Uu
Igreja: na época dc sua decadência, a mesma consciência deveria favorecer, quamo ao indivíduo, uma lendón
cin secreta de privar n comunidade das forças que ele aciona em sua rcl:i(,ãu peyMoi cum seu Deu:..
a tela na qual ,->e desenrola o filme e a tela onde se íixa a pintura! A pintura convi
da ã contemplação; em sua presença, as pessoas se entregam â associação de
idéias. Nada d isso o co rre no cinema; inai o olVu> c a p ta u m a imagem, esia j á cede
lugar a outra e o olho jam ais consegue se lixar. Mesmo detestando o cinema e
nada entendendo do seu significado. Duhamel percebeu bem vários aspectos de
sua estrutura c enfatizo isto quando escreve: ‘ J á n à o posso meditar no que vejo.
A s ímâgtíns em movimento substituem ns -meus própnos pensamentos".-' r Dc
lato, a sucessão de imagens impede qualquer associação nu espírito do especta
dor. Dai 6 que vem a sua influência Iraumatizante; como tudo que choca, o filme
somente pode ser apreendido mediante um esforço maior de a te n ç ã o .M e d ia n te
a sua técnica, o cinema libertou o efeito de choque físico daquela ganga moral,
onde o dadaísmo o havia encerrado de certa Forma.29
XV
Epílogo
3 * D w fr « rciiuJliip ih(mí c+wn ftsfiírénçia em e~>pcciiil u h jornals cfiUsnmofciilicos. cujo valor Ur propa
i:;nH!iS n3o pode Mf ■■ulü.'-.'i ni:ulo uniu tireunuinrui nkiii-L.i di- |r,\i ilsOm impíirtõniia, A mpco^wflla cm
mussa. Còmwpcmili; clétivaiLienw nnvi ■ -auuijqçãn- ac maswis. n. is pande unriejus dc festa*. ao* iwvüfs*
PiUntoeiM. 9Utí maiiitcsiiiçdtis desportiva*, sjoe eonjudíufl oaüias inteira, na gaiírra enfim, quer dizçr, em
toda» iis ocasíào onde inurrêrti a cãniam. hoje emdia b máaüft poífc v&r a *ri rmom.i. cara a carji., jwo
ee»!ia. tio q9. 1l é .li.-í.iKA.cíi-áiWio enfatizar 1 iflipurnmtii», v.lâ liyadfl estrei» rqÓMe cojn w JwmvnlvinwjHit dá?
■Ctirueas dc lepiodnçiUi e ik gravaçAo Dt- mioti.» i*cr<tl. o aptirdhti »:api:i «iBvimoitos de massa meUtor" dl<J
quiO olho tiinttuno. Os. qiimírus dc ewHUFifs dc uriíltiaras de hamsit só sàu han npi vradkkwac 1uvis de ri^un
cu» E si? 11 islho humano pode aniiiandè-Jo* láo iktr. quauin u iiparclh»», hão pnd,- níqpíar. conn» o faz- tisie
ijlismo. n Intòp/m que m lhe oferece. Éhrt outras palavras; os inovirncnlos de mâsKi. l- niito também 3 Biena,
representam uenn forma dc comporta m in 10 I iu iiu ia o qu* eorrosponde, de forma toLalraente csjuvinl. á lécnica
dos aparelhos,
2S RH N J A M I N
Baudelaire contava com leitores aos quais a leitura da lírica oferecia dificul
dade?. A esses leitores destina se o poema introdutório Fteurs da Mui. Sua força
de vontade, consequentemente também deconcentração, não vai muito longe: pre
ferem os prazeres sensíveis e conhecem bem o spleen que anula o interesse e a
receptividade. Causa espanto encontrar um lírico que se dirige a tal publico, o
mais ingrato de todos. L fácil encontrar unia explicação para isso. Baudelaire que
ria scr compreendido: dedica o livro àqueles que se lhe assemelham. A poesia
dedicada ao leitor termina com a apóstrofe: Hypoerile iecteur. mon sonblable.
mon frèrc! A relação, porém, revela-se mais fecunda de consequências, inverten
do se a formulação: Baudelaire escreveu um livro que tinha, u p rio ri. escassas
perspectivas de sucesso imediato. Contava com um tipo de leitor como o que des
cieve no poema introdutório, E poder sc iu ver que o seu cálculo fora de longo
alcance O leitor a quem se dirigia ter lhe ia sido oferecido pela época suhsc
qíiente. Que esta seja a situação; que. em outras palavras, as condições para o
acolhimento da poesia lírica tenham se tornado mais d esfavo ráveis é provado,
enlre outras coisas, por três fatos, Antes de mais nada o lírico já não c conside
rado como o poeta em si. Jú não é o ‘‘vaie" como ainda o era Lam artinc: tornou
se um gênero. (Vcrlaine faz tangível esta especialização; Rimbatid já é um esoté
rico. que ex-oljflcio mantém o público afastado de sua obra.) Segundo falo: depois
de Baudelaire. nunca mais ocorreu um sucesso de massa de poesias líricas. (A li ri
ca de Hugo ainda teve ao surgir uma vasta ressonância. Na Alemanha o limite é
assinalado pelo Btích do l-ívdod Isto implica ainda um terceiro elemento: o pá
blico tomou-se mais frio até mesmo em relação à poesia lírica que já conhecera
do passado. O lapso de tempo cm questão pode ser situado mais ou menos na me
tade do século passado. Durante esse mesmo peno do a lama de F leu rs du Mal
não sofreu interrupção, O livro que contara com os leitores mais estranhos, c que.
de início, havia encontrado bem poucos leitores favoráveis, em alguns decênios
Inrngai-se um c lá s s ic o ; c tam b ém um dos m ais reeditsidos.
Dado que as condições de acolhimento de poesias líricas tornaram sc mais
inglórias, é natural supor que só excepeionalmenie a poesia lírica mantenha cnn
tato com a experiência dos leitores. Isto podería ser devíclo ao lato de que tal expe
riência transformou se em suu estrutura. Esta suposição talvez seja comprovada,
mas cnLào encontraremos uma dificuldade ainda maior em delinir o que é que se*
transformou nessa experiência. Diante disso leremos de nos voltar para a liloso
fia, Onde encontraremos um fato sintomático. Desde o fim do século passado esta
tem realizado uma série de tentativas com <> intuito de assenhorear se da “ verda
clcira" experiência, em contraste com a que se decanta na vida bitolada c desnatu-
rada das massas civilizadas. Costuma se catalogar essas tentativas sob o conceito
de filosofia da vida. Elas não partem, natural mente, da vida do homem na socie
dade. mas ligam-sc à poesia, ou melhor, à natureza, c. por fim. de preferência à
época mítica. A ópera de Dilthey A Vivência v a Poesia é uma das primeiras ten
tativas da série; que termina com Klages c com Jung. que sc dedicou ao fascismo.
Dessa literatura sobressai, como monumento de grande eminência, a obra juvenil
de Bergson. Matière ei Mêmotre: a qual mais que as outras se aproxima da inves
tigação exata. Orienta-se pelo modelo da biologia, O próprio título já diz que a
estrutura da memória c considerada decisiva para a estrutura filosófica da çxpc
riência. N a verdade, a experiência c um fato de tradição, tanto na vida coletiva
com o na particular. Consiste não tanto cm acontecimentos isolados lixados cxaia-
mente na lembrança, quanto em dados acumulados, não raro inconscientes, que
con fluem na memória, Bergson. porém, não se propõe a especificar historicamente
n memória; pelo contrário, rejeita qualquer determinação histórica da experiência.
Com isso evita, primária c essencialmeme. ter que aproximar-se daquela expe
riência de que surgiu sua própria filosofia, ou melhor, contra a qual cia foi mobilí
zada; a experiência hostil c ohcecamc dn época da grande indústria. Ao olho que
sc fecha diante dessa experiência assoma uma outra de tipo complementar, como
a sua imitação, por assim dizer, espontânea. A filosofia de Rergson é uma tenta
tiva de especificar e lixar essa imitação. Assim , remete indireta mente à expe
riência que se afigura diretamente a BaudcUtirc no seu “ leitor” .
Matière itt Mémoire define o caráter da experiência na durév de tal modo que
o leitor é levado a dizer de si para si; somente o poeta pode ser o sujeito adequado
de umâ experiência sim ilar. I- foi dc fato um poeta que pôs á prova a teoria berg
soniana da experiência. Pode se considerar a obrn de Proust. À lu Recherche da
Temps Perdtt, a tentativa dc produzir artificialmente, nas condições sociais
hodiCrnits, a experiência como foi entendida por Bergson. (Visto que sernpre será
mais difícil contar com a sua gênese espontânea.) L)e resto. Proust nào toge, em
sua obra. á discussão desse problema. Ao contrário, introduz um momento novo
que contêm uma critica imanente a Bergson. Este não se descuida do sublinhar o
antagonismo entre a vita activa c a vita contemplativa particular que c patenteada
pela memória. Parece, no entanto, que eni Bergson. o fato dc voltar sl- para a atua
lização intuitiva do fluxo vital é unia questão dc livre escolha. A convicção diver
sa dc PrOu.st já sc anuncia na própria terminologia. A tnérrwirc purc da teoria
bergsoniana torna-se nele rnémoirv Pwolontaire. Desde o inicio, Proust confronta
essa memória involuntária com a voluntária, que está a disposição da inteligência.
A s primeiras páginas da grande obra destinam sc a esclarecer essa relação. Na
reflexão que introduz o termo. Proust faia da pobre?a com qyc por muitos anos se
oferecera ã sua lembrança a cidade de Com bray, onde. no entanto, transcorrera
uma parte de sua infância. A ló que o gosto da madelaine (um doce), aO qual retor
na a seguir com frequência a devolvesse certa tarde aos tempos antigos, limitara
se ao que lhe havia oferecido uma memória pronUi a responder ao apelo da aten
çâo. Essa é a métnoire volontaire, a lembrança voluntária, da Cjtíhl se pode dizer
que as informações que nos dá sobre o passado nada conservam dele. "O mesmo
vale paru o nosso passado, F.m vão tentamos rewocá-lo: todos Os esforços do
nosso intelecto são inúteis." Por isso. Proust não hesiLa em afirmar que o passado
esta “ fora do seu poder e dc sua alçada, cm qualquer objeto material (ou na sen
saçâo que tal objeto provoca esn nós), que ignoramos qual possa ser. Encontrar ou
não esse objeto antes de nossa morte depende unicamente do acaso” .
Segundo Proust, depende do acaso n Fntc> dc cada urti alcançar uma imagem
de si mesmo, tornar-se senhor da própria experiência. Depender do acaso em
semelhanLc coisa, uâo é de modo algum natural. Os interesses interiores do
homem já não tem por natureza esse earátei irremediavelmente privado: mas o
adquirem somente quando diminui, por interesses externos, a possibilidade de
serem incorporados a sua experiência, O jornal é um indicio dentre muitos dessa
diminuição. Sc a imprensa sc propusesse a lazer com que o leitor pudesse se upro
priar de suas informações como de um a parle da sua experiência, faltaria inteira
mente com seu objetivo. Mas seu objetivo é exata mente o oposto, c d a o atinge;
excluir rigorosamente os acontecimentos Jo contexto em que poderíam afetar a
experiência do leitor. O s princípios da informação jornalística (novidade, brevidu
de. inteligibilidade, c. sobretudo, falia dc qualquer conexão entre uma notícia c
outra) contribuem para esse resultado tanto quanto a díapramação e a Ibrma
linguística. (Karl KLraus mostrou infatigavelmente como c até que ponto o estilo
linguístico dos jornais, paralisa a imaginação dos leitores.) A rígida exclusão da
informação do âmbito da experiência depende também do lato dc cia não entrar
na “ tradição”. Os jornais aparecem cm grandes tiragens. Nenhum leitor tem mais
facilmente qualquer coisa para ivoder contar ao outro. í lú uma espécie de concor
rcncia histórica entre as várias formas ik comunicação. Na substituição da ntais
antiga relação pela informação, da informação pela “ sensação” , i eflutc sc a
progres$iva atrofia da experiência rodas essas formas sc afastam por sua vez da
narração, que é uma das mais antigas formas dc comunicação. Esta não visa.
como :i inform ação, comunicar o puro em-si do acontecimento, mas o faz pene
trar na vida do relator, para oferecê-lo aos ouvintes como experiência. Assim aí sc
imprime o sinal do narrador, como o da mào do oleiro no vaso dc argila.
A obra em oito volumes de Proust dá uma idéia das operações necessárias
para reintegrar ao presente a figura do narrador. Proust pós mãos a ubru com
extraordinária coerência. Desse modo, deparou se desde o inicio com a tarefa ele
mentar dc contar a respeito de sua infância: e pôde medir toda a dificuldade, ao
apresentar comn deito do «c-truo, ir simples fato de sua possibilidade;,
N o decorrer d essas reflexões forja a expressão nwmoire invalQtilúire que iraz ú
cunho da situação em que fní criada. Pertence ao repertório da psssoa particular.
BENJAMIM
A procura de uma definição mais concreta daquilo que aparece como sub
produto da teori.i bcrgsortiaaa rta mémoíre de f mieltimice de Prousi. convem
remontar a hrcud. Em t ‘>2 I era publicado o ensaio Alêm do Principio do Praccr
que estabelece uinu correlação entre tt memória (no sentido da màniaire involoft
t a i r c ) c a consciência. Apresenta se como uma hipótese. A s reflexões seguintes,
que remetem a cia. não se propõem demonstrá-la, Limitar-se ào a experimentar a
sua fccundidade tendo como base as uítàOCi ações muito distantes daquelas que
Frcud unha presente no ato de formular :l hipótese, V. mnis. provável que alguns de
seus alunos se tenham deparado com associações desse tipo. As reflexões com que
Reik desenvolve a sua teoria da memória, em parte se orientam ex.namciltc na
linha da distinção proustluna entre reminiscèneia involuntária c lembrança volun
tária. “ A lunçâo Ou memória, escreve K e ik c u proteção das impressões. A Itíffl
brança tende a dissolve Ias A memória ò essencial mente eonHcrvadora. a lem
brnnça è destrutiva," A proposição fundamental de I'i cnd. que está na base de tais
desenvolvimentos, é formulada na hipótese segundo ;» qual consciência surge
em lugar dc uma impressão mnemónica", (O s conceitos Je lembrança ed e memó
ria não apresentam, no ensaio freudiano, nenhuma diferença, fundamental dc
significado em função do nosso problema.) F ns:l nnpressna “ seria, portanto, mar
cada pelo fato de que o processo da estimulação não deixa nela. como cm todos
os outros sistemas psíquicos, uma modificação durado ura dúü seus ciumentos,
mas. por assim dizer, esfria nu fenômeno da tomada de consciência” . A íormula
básica dessii, hipótese c que “tomada de consciência e persistência de tnn traça
mncmônico suo reciprocamente incompatíveis pelo próprio sistema*'. Ao contra
rio. resíduos muemômeos apresentam se “ frequentemente com a maior força e
tenacidade, enquanto- o processo que os deixou jam ais chegou a ser consciente*'.
Traduzido eni termos proiistianas: somente pode tornar sc pane integrante da n k
mokc mvühntairc aquilo que uâu fbi vivido expressa c conscientemente, em
suma. aquilo qtie não foi “ vivência” . Acumular “ impressões duradouras como
fundamento da memória" de processos estimuladore.% é reservado, segundo Freutí.
a "outros sistemas que devem ser tidos como diversos da consciência. Segundo
Freud, a consciência como tal não acolhería traços rnnemõmcos Tcria. ao invés,
umu função diversa e ímportame: servir de proteção contra os estímulos. "Para O
organismo vivo. a defesa contra os estímulos é uma tarefa quase tao importante
SGB RK A L G U N S TB M A S EM B A U D E L A ÍR E 33
4.
Quanto maior for a parte do chòc em cada impressão isolada: quanin mais
estímulos: quanto maior for o sucesso com que ela opere; e quanto menos
estímulos; quanto maior for o sucesso Baudeiaire que ela opere: c quanto menos
eles penetrarem na experiência, tanto mais corresponderão ao conceito de “ viveu
cia" A função peculiar da defesa contra os cfwcs talvez se possa discernir, cm úl
tima análise, na tarefa de assinalar ao acontecimento, ás custas da integridade do
seu conteúdo, um exalo lugar temporal na consciência. Seria este o resultado úHt
mo a maior da reftexâò. Esta fnria do acontecimento uma “ vivência". No caso de
funcionamento íallio da reflexão, ocorrería o espanto, agradável ou. no mais das
ve/es, desagradável, que. segundo Freud. sanciona a falência da defesa contra os
chocs. Esse demento foi lixado por Rauddaircnum a imagem crua. Ele fala de um
duelo no qual o artista, antes dc sucumbir, grita dc espanto. Esse duelo è o
próprio processo da criação. Buudduirc colocou, portanto, u experiência do choc
no próprio centro do seu trabalho artístico. Este testemunho direto ê da maior
im ponência; e é confirmado pelas declarações de muitos contemporâneos, Sob 0
domínio do espanto, Baudeiaire não escapa de provoeá to no seu redor. Vallès
fala du jogo excêntrico de seus traços; Ponimartin observa num retrato de Nar
goot o expressão alheada do seu rosto; Cladcl detém-se no tom cortante de que se
servia na conversação: G auiicr fala. das interrupções no seu modo de declamar;
Nadar descreve o seu passo miúdo.
A psiquiatria conhece tipos traumarôfitós. Bauddairc assumiu a si a missão
de aparar os chocs dc onde quer que proviessem, com a sua pessoa intelectual e
tísica. A esgrima fornece a imagem dessa defesa. Quando tem de descrever o
amigo Conxtamiu G u ys. vai buscá-lo na horn em que Paris está imersa no sono.
enquanto “inclinado sobre a mesa, dardeja sobre uma folha o mesmo olhar que
pouco antes dirigia às coisas, dá golpes dc esgrima com o lápis, a pena, o pincel,
buirifa y tutu com a água Uo copo, enxuga a pena na cam isa: apressado, violento,
ativo, como que temeroso que as imagens lhe fujam; em luta apesar de só e como
quem desfere golpes contra si mesmo". Nesse fantástico duelo. Baudeiaire retra
tou sc a si mesmo na estrofe inicial do poema L c Soieil, que é o único passo dc
Fleurs du Mal que o mostra no ecu trabalho poôlíeo:
Ou ainda:
l a/cr justiça a essas leis secretas também fora do verso éo que Baudelaire se pro
pôs em Spleen de Paris, seus poemas em prosa. Na dedicatória dessa coletânea ao
redator chefe da “ Presse", Arsene Koussaye, ele d iz: ‘'Quem Je nós nâo sonhou,
nos dias cfc ambição, o milagre de uma prosu poética, musical sem ritmo nem
rirnn. bastante dútil e nervosa para saber adaptar se aos movimentos líricos da
alma. às ondulações do sonho. aos. sobressaltos da consciência? é sobretudo da
frequentasão das cidades imensas, do emaranhado de suas relações inúmeras qut
nasce esse tdeal obsedame".
liste passo permite uma dupla constatação. Informa nos. antes dc mais nuda,
da íntima rckiçâo existente em Baudelaire enrrv a imagem Jo choc c o contato
com as grandes massas cita binas. Além disso, nos diz n que devemos entender
propriamente por essas massas. Nào se trata de nenhuma classe, de nenhum cote
tivn articulado e estruturado. Trata-se unicamente da multidão amorla. Jos iran
scunits, do publico das rua».1 lista multidão, cuja existência Baudelaire jamais
esquece, não funcionou como modelo em nenhuma de suas obras. Mas esta escrita
na sua criação como figura secreta, como è também a figura secreta du fragmento
citado acima. A imagem do esgrimista é decifrável no seu contexto: os golpea que
ele desfere são destinados a abrir-lhe um claro entre a multidão. í verdade que os
faubourgs através dos quais o poeta do Svleil abre passagem são vazios c desei
B a r tirri.l aJrtlrt ,i éíla multidão c i* v írJ a J tiii.i übjetiVu iiu jlá rtiitr. O i encontras. turn cia suiu a capcncncia
que jaraaiü sc euivui decomar Permanecem na obra de I5.m Jflairc dciírm iiu d o. rcflcMi* dc-.-..i iluiàú. A I j.i »,
uiniia rjiit deixou dc agir. 0 Pmnimtsme de J A s ftnnsairis ê um elas setis frutos icmpoiâes dos Ulox mais
uprecuüus.
Ki R E N J À M 1N
LOS. Mas a constelação secreta (onde a beleza da estrofe toma-se transparente até
o fundo} deve entender se assim: é a multidão invisível das palavras, dos frasmen-
ro$. dos co moços de versos, com que o pociu combale na.s vielas abandonadas a
suu luta peta presa poética.
A multidão: nenhum outro objdo im pôsse com mais autoridade aos litera
tos do Oitocentos. Com eçava ela em amplos estratos aos quais a leitura setor
nara hábito a organizar-se como público Com eçava a ascender aü papd de
constituinte: e pretendia encontrar se no romance contemporâneo.como os funda
dores nos quadros da Idade Média. O autor de maior sucesso do século confor
mou sè por íntima necessidade a tal exigência. Multidão era para d e. como «t>
sentido antigo, u multidão dos clientes, do público. Por primeiro. Hugo dirige se
à multidão nos títulos Lcs Misctahíes. f.eü Travailleurs i/e tu Mer. E foi na França
o único qué pude rivalizar com 0 feuiUehm. O mestre nesse gênero, que para, o
populacho começava a st tomar a fonte de uma espécie de revelação, era. como
sc sabe. Eugctie Sue. que foi eleito pura o parlamento em 1851). com grande
maioria, eomo representante da Cidade de Paris. Não ê por acaso que o jovem
Vlarx houve por bem ajustar contas com os Mystèrvs t/c Paris Fo rjar daquela
massa amoríu que então era cxpo&u às lisonjas de um socialismo literário, u
massa férrea do prulcLariado, apresentou sc de imediato como umn missão.
Assim, a descrição quv En g d s fíiz dessa massa, na sua obra juvenil, prclmlia, cm
bora timidamêtue. um dos temas marxistas Na obra Si/naçm Jas Cfasscs Traba
Ihaâoras m1 1ngtüterra, afirma >e: **uma cidade como Londres, onde se podccami
nhar horas a fio Sêm chegar sequer ao início de um fim. tem qualquer coisa dc
desconcertante. E sta concentração colossal, esta acumulação de dois milhões c
meio de homens num só ponto, ccmuplicou a força desses dou# c meio milhões de
homens. Mas tudo o que. isto custou, somente se descobre a seguir. Depois
de ter vagabunde ado alguns dias pelas calçadas das ruas principais. . ,
começa se a ver que esses londrinos tiveram de sacrificar u melhor parte de sttít
humanidade pura realizar os milagres dc civilização dc que n sua cidade fervilha:
que centenas de força» latentes neles permaneceram inativas e foram sufoca
das Jn o bulícto das ruas tem qualquer coisa de desagradável e fastidioso, algo
contra que a natureza humana se rebela. Estas cenlenas de milhares de pessoas, de
todas as classes c condiçõ» ^ sociais, que se cruzam nessa balbúrdia, não serão por
acaso todos homens, çom as mesmas qualidades c capacidades, e com o mesma
inLcrcsse em ser felizes? . No entamo passam pelos outros com pressa. como «
nada iivtsscm cm comum, ntirln que ver uns com os ou:?os: no entanto, o único
entendimento que os une é evsc, tácito, de cada um se conservar do seu lado da
calçada, á direita, para que as duas correntes Jc multidão que avançam em dire
çôcs opostas nào .se estorvem reciprocamente: no entanto, não passa pela cabeça
de ninguém h o n rar os demais nem sequer com um ulhur. A indiferença brutal, o
fechamento insensível de cada um nos seus próprios interesses- privados, manifes
SC)RRf \l ( i í \ s l ! M AS 1 M B M DF.I \ I R h }~l
ta-se taftto mais repugnante e ofensiva quanto mais alto é o número dc indivíduos
condensados cm espaço apertado".
Esta descrição é sensivelmente diversa das que se podem encontrar nos
pequenos mestres franceses do gênero, um Go/.lan. um Dclvau ou um Lurinc. Fal
ta lh e a facilidade e a desenvoltura com que o JJâncur se move através da multidão
e que o JèuiUetoiusle copia e dele aprende. Lm Lngels, a multidão tem algo que
provoca angústia. Suscita nele uma reação moraL A que sc acrescenta uma reação
estética: o ritmo em que os transeunies se cruzam e se ultrapassam atelam-no
desagradavelmente. 0 fascínio dc sua descrição reside exalam cm c no modo em
que o incorruptivel hábito crítico ai confunde com o tom patriarcal- O autor
procede de uma Alemanha ainda provinciana: talvez jam ais o tenha atingido a
tentaçao de perder se numa maré dc homens, Quando Hegd chegou pela primeira
vez a Paris, pouco antes de sua morle. escreveu a sua mulher nesses termos: ‘"Se
ando pelas ruas. o povo tem o mesmo aspecto que em Berlim — veste-se da
mesma maneira, mais ou menos as mesmas caras; a mesma cena. porem numa
massa populosa". Mover-se nessa massa era. para o parisiense, algo de natural.
Por maior que pudesse ser a distância que ele. por própria conta, pretendia assu
mir diante dela. continuava embebido, impregnado dela e não podia como um Ln
gels considera Ia dc fora. No que sc refere u Baudslâire. a massa é para ele algo
de tão pouco cxtrínseco, que se pode acompanhar na $un obra, como ele é enre
dado e atraído por ela e como dela se defende.
A massa c dc tal modo intrínseca a Bauddairc que cm voo se procura nele
uma descrição da mesma. Com a os seus abjetos essenciais jam ais aparecem, ou
qua.se nunca, cm forma de dcscriçõea. Com o diz argutameme Dcsjardins. para ele
"trata-se ames dc imprimir a imagem na memória que dc colori Ia c enfeita Ia” .
Lm vão sc procurará cm Fieurs du Mal ou no Splesn dc Paris qualquer coisa de
análogo u«s afrescos citadinos cm que V icio r llugo era insuperável, Bíuidelítirc
não descreve nem a população nem a cidade, h c evntameiUc esta renúncia que lhe
permitiu evocar uma nu imagem da outra. A sua multidão é sempre a das metró
poles: a sua Paris ó sempre superpovoada, F isto O que o toma tào superior n tí«r
hier. no qual. sendo o seu processo a descrição, as massas e as cidades caem fora
uma da outra.2 Em Tableaux Purísicns quase sempre se pode experimentar a pre
5 f ti|THwM Ut» fiiocrnso d. f*;>ilMtrr .» «un .;i l oni/c,‘í quv irrn * itUv v ^vj.il 'o vvf.o? vXVSKVv u cblíiOw ?4rn
•i concluir pc&açamctHC oulni
fnftJi Jrmt un twwv . jV nu'\>,<\ soiiftfff. fifíJWitíc.
Un pcttpíc no ir. rfvant ct trunirú/it *vi rtí& icr.
U r * t i n t jn ir m /fíiçrs, sitw aW 1‘b lfllu c i /uiji,
/ i f«»uruni tip r b i\\r p#r &• {fh if L-f [g un lí,
(AUfíiiM hüiúier Jaoriurs ct ptitiu<% t’ari> I Si l i Hiuüdiiiri: uu maiMtUhicnciau»! UU^uc -.i/CoMuniii nUrniiu
(Wl« pi.úíis ifr- Ir v Ut H.ifbiei. 0 %úbrirludci pelu tido Lutulrinu t.azair. O fiou'. iln i rrptneulc du Sair
bautldsirinwi re/a:
. th Jlnigsérti
L i’ur ífwitiite (f tvm yçrs h’ yju jfrv ç v m n w j;
I 'tiripitaf ,vi*iTíTjpítt /ir Ic iir i m upirj, ii )tt,
\ r x lrn d ra p ita cbcrch er ln v m p r p p rfu rtitv,
1tt eo/ri *iu f r u . I r s o b , nupros rf'uttr ât rie1níntrc.
3Í B E NJ A MIN
:%cnça secreta de uma massa- Quando Baudeiaire escolhe por lema a aurcra, há cm
suas ruas desertas um quê do “ silêncio formigaílte" que Hugo sente na Pans
noturna. H suficiente que Ekiudelnire ponha o olho nas lâminas dos mapas amuo
micos expostos à venda nos quais em poeirados da Serra para que nessas folhas a
massa dos defuntos imperceptívelmente ocupe o lugar em que apareciam os esque
letos isolados, Um a massa compacta avança nas figuras da Dsnse M ac abre.
Emergir da massa, com seu passo que já não consegue manter ü ritmo, com seus
pensamentos que já não sabem mais nada do presente, c o heroísmo das mulherzi
nhas murchas que o ciclo Les Petites HeMes acompanha em suas peregrinaqòcs-
A massa era o vçu fluluanLr do qual Baudelaíre via Paris. A sua presença
domina um dos trechos mais famosos de I-leu rs iht Wal. Nenhum torneio de frase,
nenhuma palavra lembra a multidão no soneto 4 une Passante- Mas o processo
apóia-se íiniçiiminti* nda tomo ii murcha de um veleiro se liítscifl no vento.
La ruc assourdittsante auíour de moi hurlait.
Lvtigue. mitict', en grand deuil, douleur majeslueuse,
UneJemme passa, (Pune mainfastueuse
Súfiievant, baltmçant le f m m ei lburlei;
6.
I riste t* confusa como a luz de gás em t.|uc se move, aparece em Poc a pró
pria multidão de Londres. Isto vale não someme pura a gcnialba que sai com a
noilè “ dos seus antros". A classe dos funcionários superiores c descrita por Poe
nos seguinies termos: 'Todos eram liseiramenic calvos: e a orelha direita, habi
tuada a suporiar n pena. um pouco destacada da cabeça. Todos tocavam regular
mente o chapéu e Lruziurr curtas correm cs de ouro de modelo antiquado” . Ainda
mais estranha é a descrição do modo como a multidão se move, l'A maior parte
dos (juc passavam tinha o aspecto de gente satisfeita consigo e solidamente insta
lada na vida. Parecia que não pensavam em outra coisa a não ser abrir uma pas
s a g e m por entre a multidão. Franziam as sobrancelhas e dirigiam olhares para
todos os lados. Se recebiam um enconLrào dos transeuntes mais próximos, não se
dês com punham mus tornavam a arrumar a roupa c seguiam apressados, Outros,
e também este grupo era numeroso, moviam se desordcnaílamcnt^ tinhnrrt o rosto
inflamado, falavam entre si e gesticulavam exatamenlc como se na multidão
inumerável que os cercava se sentissem per feita mente uds, Quando tinham de
paiür. deixavam rcpcniinamtmte de murmurar, mas intensificavam a gesticulação
e. com um sorri.vo ausente e forçado, esperavam que passassem os que os atrapa
lhavam. Quando eram a ba! roa dos. saudavam profunda mente aqueles dc quem ha
viam recebido o cneontrão c pareciam extrema mente confusos “ 4 Daria pára crer
que sc tratava dc miseráveis e bêbados, Qual nada; são "pcsstms de condição de
va tia. comerciantes, advogados e especuladores da bolsa'*, »
Sem dúviütu o quadro esboçado |xjr Poc nao sc podo definir conto "realista .
Nde trabalha uma fantnsín consdetiumntUc defôrmante, que alVista de muito um
texto como esse dos que sào recomendados como modelos dc um realismo socia
lista. Por L-Jíemplo, fòarbierfurn tios melhores ;i quem se podería atribuir ujii re;t
lismo desse gênero). descreve as COÍSás dc modo menos desconcertante Também
ele escolheu um tema dc caràtci mais univoco: a massa dos oprimidos. Pela não
se laia em Poe: o seu objeto é o “•povo” como tal. No espetáculo que oferece, de
vislumbra como fingefe algo de hmeaíadür. E ê exata mente essa imagem da multi
dào metropolitana que se tornou decisiva puni Bauddnire, Sc de sucumbe ;i via-
1 p.i-i i-ictii cflovuin iwi pin .iJcIu cra ju iív Wc pfcWc 1'JmbUHL k v e o u u ii .MinnCuia, es-xa ptiL-ua dc\\-
>>c .ilntiuíigi ,i líaiulclwri:, h úlliinu vctm»qu.' tln » pím-sM um íoiji psniCuluimwtc lupuhíc icnt ..iinuf1te?
ptindíncia c-sau cm tj Hmin-fit c/u Mutlidm “ O i rtih>s %\in l.irnpinev dc eis * v .tvc Poi |u ...... cruni f:,i
COS ■'("ILlIlí-rtín IliíOCCIIH íünl Cl liWpr.. :i !i"i_ hitviaifl ViMIÇmJa i l.n,^ iv. >H ,„> : íç|, i ujiui !tii viim - móvnl, lnJi'
i. rVL‘i’,1(t e 0Cirno cluiuv..»•»ijslSll m u.-»tn;JUfC»u vJ C-.cilfi Uc ‘fcrtuliaflt»". Ai o C1ie<>lU'i' Uc ÜIU*Ui4si! ç çottl
êi’c 0 nicula mal:, .mgui.u peiv mu* Jv que»» v f V i »:■vj^uerUv^ u v , i « i c x t í I lo, ,io iuiís umlai cm IS-I.V nu sejn,
tjtmnío ESijJeí.lifç; nintlu não s:cbei ctiisr nJi'um:i dc Fiv
Chutam, jnujt\ wtndiiyimf. ri/r In )rt>rt(tir xfixxntib
hí\o.w ,'f bfuinl. pas-si t‘; Hàtn cclobousSi
O o .p a U f eottrrr p fa * rth 1, cri s 'M jp Jtw «<mo p u m ir ,
Panou* Ja/fw , Jêtuit-?. afwrarilè ifu c k l.
V, ijr iarblaiti cfif ria m v Jr unir Ertlvfríi f.
* Os luitncnjs ',1o rte^piüv tcai qual-iucr coisa ílc cLnsiocunc:» cm Pm1, D;i pau pensar uii Mais. l|ul siriSuj m>
"crmviiTUTiiLi rebrilincniC jCiVcm ,lu priHim,ü11 nvuvnüí” . nos IMuiliv, lia d o s, a causa Jt> fum de ^ue nac luruee
~rumi icmpo nem ueaaiiw” cie "liqvldar ti vcít.i• muiidu J ms tViiiKismaa". Ens Bautlelairc, an cali tia ptmumSrj)
os 'xkmfmios mulsãüi ' puiran prcjniiçouimcatr nn ;unvi.-.ít*m "Zi -tIO I(Vj: lcBh J. níesõciu". J .«Imi líSir pasíH>
do Crtpiis(:uk' 4 - ,W r scjfi mna reitliflLtC&ldá do lerto dc Por
iéncia com que estao atrai e faz dele, com o Jlàneur, um dos seus. n consciência cio
seu carãicr desumano nem por isso o abandonou jam ais. Etc toma-sc ü .seu eum-
ptice c quase no mesmo instante dela se aparta. Mistura-se eenerosamerue com elo
para jogã 3a de repente ; lo ruída com um olhar de desprezo. Esta ambivalência tem
aigo de fascinante quando a admite com relutância: c Lambem podería depender
dela o encarno tão difícil de explicar do Crépusctílt du sosr.
“I
h
" Oc«M<in»liiMi«c « (fcsk-scc sabia s.slbn Uu riHiüu provocante j sua mwrWfl/i.v Por volta de t84U 101
iiiadfi. duritnu j|p:<m CCinpi. Comjuzir nrtárugis atreladas pelos “ inisslW O jlâm vr rovisva dc inarctr o
vtfü rllmu' por ela-i Se Kitssc por ctc. u cfíVífift U-r oar.íii, Mas nàn lln- d.iybe a úllimu palavra,
mm a l~aj.Sm i|ue íe? e,i * k ii Ií H c àfláairti umii p.iIt<v:-.i ileOíden
7 Mii tipo criado por Gtssfercnncí'. o paniCttlfti jp uieer çoin» ani rçbínUi tbvfniTndcj do erfrjvm N imHm i Üu
u-ni molii’U pítrw afobar x . Lie SC planta iw rua Eqile eviiirrUememc nao leva 1 |u| ,ir lu-aluimI lAn ■nriLuic
enmp o filtsteu entri -.u;is quatro paredes
42 B E NJ A M IN
guir a corrente mesmo sentindo a na própria carne, hte está antes acima dessa
multidão como lhe sugere o seu posto de vigia num quarto de sobrado. L á de cim a
ele passa em revista a multidão*- é dia de feira e esta sente se no seu elemento pro-
prio. O binóculo lhe permite isolar pequenas cenas típicas. Hm plena conforrni
dade com o uso desse instrumento está a atitude interior de quem dele se serve.
Pretende iniciar o seu visitante (como ele mesmo o diz) "nos princípios da arte de
olhar'*.9 Que consiste na faculdade de deleitar se com “quadros vivos" como
aquele cm que se compraz Biedermeier. Sentenças edificantes fornecem a inter-
preiaçào.* Pode-se considerar o texto como urna tentativa cuja atuação começava
:> amadurecer. Mas é claro que era empreendida cm Berlim, cm condições que não
permitinm o seu pleno êxito, Se HofFmann iivesse algum dia estado em Paris ou
cru Lom ircs. sc se tivesse proposto representar uma massa como tal. nunca leriít
escolhido uma feira; não teria dado av mulheres um lugar predominante na cena:
c talvez teria chegado aos motivos que Poe extrai da multidão em movimento â
luz. dos lampiões de gás. Mas não havería necessidade desses motivos para porem
evidencia o elemento de inquietação que foi percebido por outros Sisionomistas da
grande cidade. Vem a propósito uma palavra pensativa de Heinc. "H cinc. escreve
um correspondente n Vamhagen em 1938. esteve muito doente dos olhos na pri
mavera. D a última vez., percorrí com ele um trecho dos boulenirds. A claridade,
n vida desta avenida única no «eu gênero impclin-me n uma admiração sem limt
tes. enquanto Heine. desta vez. sublinhou eficazmcntc o que há de horrível nesse
centro do mundo".
S.
11 h wípriiiii iiiv.i i.'iMno si- dnv i .1 1.1I f.infis ã.;\ S«|iundn n wu lunpwtlc.o primo iiciu.i ao mavínumio íln ru.-l
unicamente porque st deleita no variado joga tlns c»«es. Mas u lu-ripo pnw»>. dw. esse divertimento devccun
«ir. Ds* nn»N' svmctluinlV C nav #11111.1 rmiis .-vuicve í inrnl .1 IL-. 1L-i 1. >ili uiiij IcifiS • -i tícranio I lavifl
tanta ^onic .1 min imcmiír—ií n:i£|>i4 a üircvhi* ^ul av eilhos ,< ofuscaram" Pw»ii elmcnle 1 l-oI íi Í íímvi <le
uma multidào cm movimento Iim |ru ul^uilk ler;!3» ufll CSpCC-àCüio ;i qiw o olho teve Je liabK.ua- :.c. Admitiu
do sc cs.s.;j hipótese. lalvcx se possa supor que. unin VC7 reíiliííutn c-.- n ! trela, ttmha sprpVcil;i do Uh Iu e c|uíiI
-iuwr ecitioso Oe m,u«vni <•< po- : J. n fuc ildfiilc rcc ementem adquirida \ ivcme i da pintura imprcsüiv
riisin. l|uc sNtrai a imagem <!ú cjos das manetiiis de cor. .-.erm portanto um refleM' de oxptriêocin^ que se tor
n.irúm lamfliarcs ,ii> olho habitante «k uma .arantfc cidade- Um quadro emnu .1 CoifrtVhrir th t V / r a de
Monel, que é aigw parecido tom um lormÍRueiroilc pedras. podería ilustra* essa hipélvse.
a Fnire . 1111:. coisas. KctíTmarm ..leditfa ru.vse U'v:o rerW.c% edificantes m lv w qm mninetn .1 cabeça
cTiçuídii para a teu Baudulairc. qmr conheei.i esse conto, um as ccin.ider ações. de I lutTmanrt. no ultimo verso
dc A veugtes, urna i^uc JhC im pugna o objetivo ivltlicanur çiierahtW fls utf C ivi, tons ce.\
aveuçlex? ’
SO SR K A L G U NS l'E MAS E VE B A U D E L A IR E 4,7
trabalho na máquina. Ji;z st; no trecho supra citado, exige do operário um aprendi
zado precoce." Esse aprendizado é diferente do exercício. O exercício, único fator
decisivo na profissão, ainda tinha vez na manufatura. Na base da manufatura
“ todo ramo particular de produção vc na experiência a forma técnica up l- lhe é
adequada, e aperfeiçoa 3 t&tta*nertle", t verdade que a cristaliza rapidamente
"‘mui atinge um certo grau de matur idade” . Mas a própria manufatura produz, por
outro lado. “em cada emprego cm que investe, uma classe de operários assim cha
mados não especializados, que a adnijiuslraçàu üa empresa excluía rigorosa-
meute. Enquanto desenvolve até t> virtuosismo a especialidade extremamente
simplificada, às custas da capacidade cie trabalho de conjunto, começa a fazer
uma especialidade ate mesmo da falta dc qualquer formação. A o lado da ordem
hierárquica entra a simples distinção dos operários, em especializados c não
espeeiaiizaciosT. O operário nào especializado é 0 mais profunda mente degradado
pelo aprendizado da máquina. O seu imbuído í impermeável à experiência. Nele
o exercício nào tem mais nenhum direito. 10 Aquilo que o lunapark realiza nas
sttas jaulas voadoras e em outros divertimento» do gênero» não c mais que umü
amostra do aprendizado a que o operário nào especializado é submetido na fá
brica (uma amostra que por vezes teve de substituir para efe todo o programai
visto que a arte do excêntrico, em que qualquer nussou podia exercitar-se nas
lunapark, prosperava npç períodos dc desemprego). O texto de Poe evidencia a
relação entre desordem t disciplina. Os seus transeuntes se comportam como se.
adaptados para autônomos, já não m - pudessem exprimir a nào ser dc forma auto
mática, O seu com porta memo é uma reação u chocs. 'Quando eram uhalrtttdCK.
saudavam profundamente aqueles vlc quem haviam recebido o encontrão,1'
10 Quanto itimr b e if ve lemii o período J i i rdiníuronao <iç» npernrio indusírinl- uinto mais tongn h* fü*a cfc>s
rw ru ías T,i(v©d fa ça parw da pn:rint^:;n> Ja vuciedjuiç puxa u j .uí.-itu cmU que O CXerdcio passe da p r f à ii
prnúuiJvrt p.ir.'i .1 ikínaUa.
SO B R F A L G U N S T E M A S EM BAU DHL Al RE
•J n ■;:0 exe 11 :t‘i íirdoi\ iLi svpia bna.i. I §4o\ -..‘jji uri alwtsci.i Kfntini.mut slos-a' lUin .1q11, f.i. |vtpu|u,
.•lar-imfniu- ailn: os jnpni.lim.-’!,. .1 ■ >pelo veljuir a n" n ;r;\ijnr di? ", *wu..... .. ... tomo *1 libiv
linu Jí. ’ . !#eu !ijm - I in lin U>- ^c.iiiiiiUi, fnj|iví ui .. vy.i itnLalLdiJ.ee l*l|líL* ,|«vn o ,um "No htiuh^-artlcu
íKintuiJ :ií!iiiu«.i ituLi ji -iia.rtv'. tiaasi rfliSFttfttítítHte í fiívoríiiitii jpfl.bi iqsartíti qut l’ uin intcu Jfjin.r ,ms itixinuci
ui-.iiii 1ui 1 Liuurn Jç i-hur, ÜL :iii'ih" ii" m çcíEíJtlü lIl csiwrirneiii. J'arg .1 hlinmesiiL 45C iIICmihi uss
acoiKiKimeillOis piiíílica-, tmcfi.irn n .'issumir • ■brm.,i .ft >ni ni„v ua meia Jc «1^0
O poeta não participa «io jogo. Permanece a um canto e não se sente mais
Icliz: que cies, os jogadores. Também ele é um homem roubado pela própria expc
ríêneia, um moderno., Ele porém recusa o estupefaciente com que os jogadores
IcnLitm aturdir a consciência que os entregou ao ritmo dos segundos: 12
E i mmi com í t 'ijjrü y n iV u n v itr m iiuil p a u v r e h o m m c
C ouram avec Jervcur a f abime btiant,
E t tjui, s o ü i th1 so u süfifá, p tc f é f v r u h tv? wwwrr
L a douí&r u ia m o rt c' f en fer a a n êã n i.
10 -
1 A embriague* em tiuesiciti c ttecrminnela lempnralmeniz wwim n Uai qm; ,|«jvltió mJ w hu '. O uírnpfl í- a e*i
Uifo* tií-i i.^iui! iãu iccitfeis n> CltllAhrenedrla-. J>' jo v . fiourUiin <^»cvç t»*ni F u ík Miv o th \un. " \ f ií inti
í|MW .1 %Ju jp|H» > J inur- uub-li eas. w i W l-. |W , WICCtTU c « d 11‘lJb |lci ias*. Uniu ,4 11. Ji- :.lll\.L Ixan
sueediJtrx itte prup>reivna .-"i ptnt.ur niftiut Uu que « uní pussu oiperi mentor um i m i i k k . m u ji^ra.
<luram< tino Jullji.i.ii« que- <n i <íiu j i >j í w . k lucrr* n. num ipie mi cabe',’ l ni ii 'm v íjo « ulMrcfcp íifte g
Haí.eíM 1111c me propoxeicmB. I. i|Uv vonhom ttctnaniudi) rápida pare nnslurpru n . *ii <- , nunw r.irin ljid r
/.rftíUlc pftfll P kU-A'111 ’íli ■
li!..|,:i mi V.V,. t\-iv vijlls. tlu«.l »'• Sv VM.i|sJ, taç<»'^ "i M.-nwlluHiça thi
iaíat4 í ü i 'i t ’4 . S« vm .(vjun >i H iim n v «> miiihíri mnn*, d« hsmea pnm jiipar i porque ca.nltcço Ucnuis.ijti.Ji
Ik i i i h «'ah)»' Uo tci ií |.h> pam tfijiprtuá Io coínu o Iq/cnj us-ik-üiuiaí. t n> ceno pr;tívr 4, ms nu ^:<nv,:cU<Js.v,‘. cuSiru
me ia mil outras pnoeres. E‘enhí>« a s prezrrís nn «Kpciiio r min qmw ourras". Hnatole lrrançe aprçscnui
ii eqii'j4 «rrr.dinirtlijrp.BnlB em ■uas» Iwl.is retloròes s íi Iwc n .iov.n nu Jimiut ríV piruri'
48 BENJAMIM
■1 □ hei'1 * pode ser Uéiimd-' dr tíbís rmHk?s .i relacA-u èimi . história « a>« a ariiturcau Sub ambos o--
.'upeütijs lar-sc-A rales a. aparem: ea, i> elemento aponteira d*» belo, IQuíiatO .ni primeiro. $ '-nficíaitc uma
oljiicrvayà-ií. N.i mu ic.did.iJi: ftwAirrcn;, v Iküo t um apelo mqu-v acendem os qu<i> .^teormurn amei íouiicofie.
A exjwxic‘nei:i do hdc é um a í fitares tre. eu?in) ramnnas clujnw«í*i,i a mora, Sol>esse aspecto a aparência
do W ú e>,inslM0 l-hi qut n iibjdn idcmira prncarsdii pela jtlmiraçi»» nãa se |wdu encontrar n:i obra, A suími'
ração outra c$i*ít iw*i fa* iíoào rccoflw o que as BCfaçAc*. preceder»c* nela iMimiraram Hâ uma palavra dc
GoccJk l|uc dá «qui a última pui.-ivra dn nabeiturint Ttidü1iiquíle» q«if exerceu uma p/andç influência, rm venhi
de. iiíw iiiiiEN pude julpitltí.! I;1» sua. rcluçúo rarr -• naturezn, o bçlo pode ser definido tomu aquiki que
"snmente permureee «jisciieialrnilillL' s,tendeu .t sí «éítmtí- *nB um .invólucro". Aí. nos díyeen
o que se deve e»mnJ« pur r-sv invólucro l-.ssr nu-di.- sa emmucrMiki. nsun remirmi nititmcruc oumkIu, Ct>mo
ci elemento rcfinidutiVA timii.il.*vi>>na .i'Hr.1 i1e smc As eorm/Hftffíancvs repretemaín a imtànna ame a qual
y Mbjew Óv arte «pítreee uomo fielinentr fcpnsdu?.ivcl niniJa que. eswamenle por isso. COmpkiariltmic íií>ç>r*-
bcsr.-Se »e eiH<‘nln»f etwt apo*M ny pfõpiio ntaterlid Ungiii.sik-t». «h^w -.«• ú «Min.ifão Uo bettt
COTTU1 0 ubjtiu d.i experièndiB no estado Jc scmclilBtiça. Tal dcfmíçai> coincidi ria um íónmilííàfi de
Valtrv: *"0 bek» ewjte. quem sabe. a irtiiiaçào «frvV daquilo que» luttelnivel nas coisas" Se tbwm rdomíi
l-uiii uiitv pr’.iMi a e«i; icnm <qaí aparLCt nck como o icmpo recnconircirUO. ruio se piulc ituer nue L-te C jíiúi
..." vfpfcócs. I- jiw <taNlecíns mai?. tlewinccnantc! do eu mtjtk* de aifir oukivaif aooiijiuaruenií no centno. dc
&uas consiikraçòifti, prcciaunCcitc u concciUi de, obr» de arte contó cópia ou reprptiuçún, o uuiiiceuo do tmlo.
iTiliiT. o aspecto ptopriarncJnç hcmunen du arte. J.le iruia da eèucsc c iias micnções ik id,i própria obra com,
a ilcsenvvluirn e urbanidade dc um ewiliíCcílOí -ellrado Isso turt indiihiiaveimente um cosucspcmácnic «m
Hcriison. lissas palavras com ípie o fiJA&ttfo mostra u que se pode esperar de uma atualização du lluso tntictü
da vir a ser, tem un lom que nscnrtla Pídiim. -'Poderem* >faz'cr pm lnr estn visao cm nona viela ttíâria e
de;. hu mamata, p SJovUia. .jurar dc sutis facões scntClhadtCS .iquelas de qu«! [tuzatnos pela anc. com a
dircrença de que >criam mais Irpi-enn». nois auminuas e jnuis facilincntc accsísívci* aa homem comum
Bcrjtson v< su>.ilcancc- da mâo aquilo íijí apa:c« para a melhor comprçcnsi»' jsbeihíana dc Valérv- comu o
■■jqiu” cot uúl* 'o iirsuílcsanie sr i.nua eventoY
S O B R E A L G U N S T E M A S EM BAU D E L A IRE 49
Num inivuvu UiõJujsi emrc Mmins t: I .fiíi, Poc enteou por u siin t|iír<i irsi 41» r í <? v;u«o l|*HIWSíj içuipMrnt
.1. que o imiivi\ÍM.i *; : lI iiiiiln.i ui., riu jtptfí-H, l (uirc'.'L fíiw in im iíii a in » ) umn Itduiiiufc » líhrm çõci ,n,-. «
K-rroTtA. 0 “ síUrt í-Caind' ■" que pertence ao dcfwu. • ' i faculdade Uv txim ii Uui.i liüi rYiOrli.i i lc mesmo du
vaz.ni Jocuriti u-rripumt. t verdatte qw í chi é iík iliilcntc pcrlurlMila pelo i k ]ik - uiQue dos 5te$ttiwtis- “ I mh;i ,i
imfircssiiLi de que cnlraf# ru minhu cabeça ol *■um :i ítMSíl do que real mente não posso tlíir uma m^m.'
Wígn Hixmfusa. ll um intelecLi) humano. Mâí« qiíe *1e* qualquer unira puisu, ílirie d? uma vihr»çã« {kl regula.
Lí<ir mental r.-ai.i .,*•,I,-i i#|uiv’ilimiç ciipíriuiil Uri sh o - LUi representação liustt.ina Jn : l iu |x i . C! i ietír lEih'-
r c l A ^ - uh regybdu mu perleini lun nniin i ,urn c a c mueuncnLii (<iu et uri ei nitavimeum Loircspuntlcnici.
A&iira l:u puiLiu mwJü sc. In^ulH í iilAijcs de pênduli» MJhre a «h,i nine, ou iKH ivlu^íüb J c hulM.* ihus prcsetnc*
\ãnlia 9 ieu liqyc iaque nos íiuvtckja. Uí ecsvi-ja iio rir mu Lsitiu. por menures que iíis-.c-rti rae perLurbavtíft
cxuuuaaiiccomn u- fero, *-«iei-i- os Ihiiikiiv . .i viubçju Ja vcrilaUcabsiraia
SO B R E A E G l NÍS TF. M A S E M B A U D E L A I RE 51
lamenle. adjudicar a <\ as coisas caducas que tem direito “ a um lugar nos arquivos
da nossa memória", contanto que pare anteu “domínio l!o impai páv-ei e do imagi
nário": ante o domínio da arte, tie “tudo aquilo que existe unicamente graças à
alma que o homem lhe acrescenta", l. difícil considerar saluntônico esse ve rédito.
A constante disponibilidade da lembrança voluntária, discursiva, reduz o espaço
da fantasug. Que latvez « possa entender como a faculdade de formular desejos cie
um tipo especial: desejos tais que se possam considerar realizados por “ algo de
belo" lambem aqui foram definidas por Valcry as condições desta realização:
“Reconhecemos a obra de arre pelo fam de que nenhuma idéia que ela suscita em
nós. nenhum ato que ela nos sugere pode esgotá-la ou conclui-la. Respire-seft von
tade uma flor agradável ao olfato: jam ais se chegara a esgotar esse perfume, cujo
gjOxO renova a necessidade: e tlão há lembrança, pensamento ou ação que possa
anular lhe n efeito ou libertar nós inteiramoníe do seu poder, F:$ aí a. finalidade
que persegue àquele que pretende criar urna obra cie arte". Segundo es:rs concep
ção. um quadro reproduziría de um espetáculo aquilo de que o olho jam ais poderá
saciar se. Aquilo pdo qual isso satisfaz o desejo que se pode projetar rctrospccti
va mente ate sua origem seria algo que. ao mesmo tempo, rtylriria continuam eme
aquele desejo, Fica. portanto, claro o que é que separa a fotografia tfo quadro c
por que não pode haver um só princípio formal válido paru ambos: paru um olhar
que jamíiis pode saciar se com o quadro, u íbto grafia significa ames aquilo que o
atimemo ê para :i reme ou a bebida pari] a sede.
A crise da reprodução artística que assim >e delineia pode considerar-se
parte integrante dc «ma crise da própria percepção. Q que faz insaciável o prazer
do belo é a Imagem do mundo amcrioi que Buudelnirc díz coberto com o véu das
lágrimas de nostalgia. "Ach du nun.v/ in ahgck-bui; 7viicnJtwintr Schwviiwr oder
mviiU' Frait Z”1 *•: csíh confissão é o tributo que o belo como Cil pock estgir. Na
medida em que j arte visa uo belo e o "reproduz", uma vez que simplesmente o
rcevoen fcomo F-austo o Helena) das profundezas do tem po.' y Isto já não cabe n?i
■reprodução técnica. (Nesta o belo não tem lugar.) Quando Prolist aeu-sa a insuíi
ciência e is Falta de profundidade das imagens que a mómaiw vohntaire lhe o fere
cc sobre Veneza, diz que diante da palavra "Veneza". sem mais. este repertório dc
imagens lhe aparecera v:v/ío e insípido como umn exposição dc fotografias. Se a
marca das imagens que afloram dc dentro uh mêmoíre invoíomoire se divisa no
lí»o dc possuírem umn aura. 6 preciso dizer que a fotografia tem uma pane deci
siva no fenômeno da “ decadência Ja aura” O que na daguerreotipia devia ser sen
tido como desumano, dtria mesmo mortal, cra o olhar dirigido (além do mais,
longamente) ao aparelho, enquanto ade acolhe n imagem do homem sem retri
buir-lhc u:n olhar, No eiHanUt. esta implícita nú olhar a expectativa de ser corres
pondido por aquilo u que se oferece. Se tal expectativa (que poete associar-se no
pensamento tanto a um olhar intencional de atenção comP a um olhar no sentido
'■Tal douv.n- ijtt. niitlfuiCiál iít [kwüiü-Qu.iuiíJu 0 ncwswai..' uniiiuhsu ,üii isteccu iimjiiruaJn. Jouih Uc-- a
capamlnde iki pncla, craut l". •T1ujs j ■ ■uJluu . ísílí s,- p síj; n.l l^tãncti; 11 ulh»r J j iwI imcjíí] itC3|MOTíldft
innhn l nu sru soilho anaiia ■ ■ xwii. Até m w :is paíir-u.iü pudera tia ri vúu aura 1 Timo esvriwvu IS.nl
Krausr'‘QlKinto mais de perra se olha uma palnvnijanln mais Lnnge cLa nihj"
1 0 MluiIimmiu dutiincí» II- iiit|Vde do vir ViUltuli* I:i>a:jnadu. 1 N . iJjjs T i
S-t B E N JA M T N
12.
F leu rs cht mal ê o último texto de poesia lírica a alcançar ressonância curo
peia: nenhum dos que apareceram depois conseguiu ultrapassar os limites de um
âmbito linguístico mais ou menos restrito. Acrescente sc a isso o Oito de Baudc
laire ter dirigido a sua capacidade criativa quase exclusivamcnte para este único
livro. I enfim nãó se pode negar que alguns de seus temas, de que tratou o pre
sente estudo, torna problemática a própria possibilidade du poesia lírica. Rssa tri
plice constatação define Baudelaire historicamente, Mostra que ele se manteve
solidamente no seu posto: que fui irredutível rui consciência via sua missão. Che
gou a ponto tle definir como sua finalidade a "criação de um poneff". Nisto via cie
a premissa de qualquer futuro poeta lírico. Tinha em pouquíssima conta todos os
que não sc mostravam a altura dessa exigência. “ O que 6 que bebeis? Caldos de
ambrosia? 0 que e que comeis? Costeletas dc Patos7 Quanto vos dão por unia
lira na casa de penhores?*' Para Baudclaire o poeta com a auréola c antiquado. O
próprio Baudclaire lhe reservou um lugar de figurante num texto em prosa irnitu-
lado i \ r l c daurèvle. O texto só foi publicado mais turde. Ao primeiro exame da
obra póstuma foi descartado como "inadequado para publicação": e até hoje pas
sou despercebido nu literatura buudcluirianu.
Que é que vejo. amigo meu í Você aq u i! Você em um luuur mal a fuma.
d o ! Voei* iiu.? hehe essências e se nutre dc ambrosia ! I siou na verdade estupefato.
— Você hem sabe. meu caro. do medo que tenho de cavalos e de carruagens.
Pouco antes, enquanto atravessava a avenida muito apressado, saltando no barro,
através desse caos móvel cm que a morte chega a galope dc todos os lados ao
mesmo tempo, a auréola num movimento brusco escurrcgaiwnt da cabeça e caiu
no barro do calçamento. Não tive coragem de apanhá-la. Julguci menos desagra
56 B E N JA M IN
dável perder as minhas insígnias do que ter os ossos quebrados. Al em disso, disse
de mim para mim, as desgraças servem para algo. Posso andar por aL como
'incógnito, praticar ações baixas e dedicar-me à glxitonaría como o comum dos
mortais. Aqui estou, como me vê, em tudo semelhante a você! Você deveria,
pelo menos-, por um aviso ou mandar o comissário procura Ia. - Nem pensar
nisso! Esluu muito bem aqui. Só você me reconheceu Além dá mais a dignidade
me abafa. E achu divertido pensar que algum mau poeta haverá de apanhá-lã e
será làü impudeiitc que se enfeitará com d a! Que alegria tornar alg uém feliz! t
sobretudo alguém que me faz rir! Pense em X ou em Z \ Como será eõmiêü!" 0
mes-mo tema encontra se nos diários: mas a conclusão e diversa. O povos sç apres
sa era apanhar a auréola; mas é acometido pda desagradável sensação de que isso
seria um incidente dc mau augúrio.30
O autor desse esboço não é um jlâneur. Exprimem ironicamente a mesma
experiência que Kau dela ire confia de passagem sem enfeite de qualquer espécie a
um período como este; "Perdu dons ce viiain monde, coudoyé par tes fo u le s.je
suis comme un homme Jassé dom to cií ne voií en arrière, Jaus les artnées profon
des, que désahusemcnr ei ameriume, et. devam íui. qu'un orage oii rim de nçuf
n est com mu, rti citscignement m douíettr Ter sentido os encontro cs da multidão
ê. entre todas as experiências que fizeram da vida de Bcndelaire o que eln foi, a
experiência que d c tem por decisiva c insubstituível. A aparência de uma muhi
dão, viva c movimentada, objeto da contemplação do ftânmr, dissolveu se aos
seus olhos. Pura melhor fixar a sua baixeza, ele tmagina o dia cm que, atê mesmo
as mulheres perdidas, as rejeitadas, hão dc pronunciar-se |xnr uma conduta regu
lar, condenarão a libertinagem e não admitirão outra coisa senão o dinheiro. Trai
do por cs$cs sçus últimos aliados, Bauddairc lança sc contra a multidão; c o faz
com a cólera impotente de quem se lança contra o vento ou contra a chuva. E is
ai a “vivencia" a que B au d ckire deu o peso dc uma experiência. Ele mostrou o
preço que custa a sensação de modernidade: u dissolução da aura na “ experiên
cia", o choc. Custou-lbí cttro o eru en d i mento com esta dissolução. Mas esta ê .1 lei
da sua poesia que brilha no céu do Segundo Império, como “ um astro sem
atmosfera”.
!0 Não c ímpoisível que n Qca.ai.do ttessçcsboço lenha iidio um choc patogênico. Tanto mais instrutiva é b
tuduboni^àu tòcri ri a que çi incorpora, ,1 obia dc Baudchire.
O NARRADOR*
O narrador — par mais familiar que este nome nos soe — de modo algum
conserva viva, dentro de nós, u plenitude de sua eficácia. Para nós ele já é algo
distante e que ainda continua a se distanciar Apresentar um Leskow como nar
rador não significa aprovimá-lo de nós — significa, antes, aumentar nossa dis
tancia em relação a ele. Observados com certo afastamento, os traços fortes c
simples, que constituem o narrador, nele preponderam. Melhor: nele se eviden
ciam da mesma maneira como, num roehído. pode surgir unia êabeça humana
ou um corpo de animal paru o observador que mantém a distancia certa e o :m
guio dc visão correto. Esta distância e este ângulo nos suu prescritos por uma ex
perieneia que quase lodo dia temos ocasião cic fazer. E la nos diz que a farte de
narrar caminha para o fim. Iorna se cada vez mais raro o encontro com pessoas
que sabem narrar alguma coisa direito. É cada vez mais Frequente espalhar se em
volta o embaraço quando se anuncia o desejo de ouvir uma história, fc como se
uma faculdade, que nos parecia inalienável, a mais garantida entre as coisas se
guras, nos fosse retirada Ou seja: n de trocar experiências.
Uma causa deste Fenômeno é evidente: a experiência caiu na cotação. E a
impressão i dc que prosseguirá na queda interminável, Q u a lq u e r olhada aos jor
riais comprova que ela atingiu novo Limite inferior, que não s'ô a imagem do
mundo externo, mas Lambem a do mundo moral, sofreu da noite para o dui mu
danças que nunca ninguém considerou possíveis. Com a Guerra Mundial come
çou a manifestar-se um processo que desde então não %e deteve, Não se notou, no
fim da guerra, que as pessoas chegavam mudas do campo dc batalha não
mais ricas, mas mais pobres em experiência comunicável? O que dez anos mais
tarde desaguou na marc dc livros de guerra cra tudo, menos experiência que
undfl du bí>ca èiYt boca. I-. isso não cra dc estranhar. Pois nunca as experiências
foram desmentidas mais radicaImentç do que as estratégicas pela guerra de posi
ções, as econômicas pela inflação, as físicas pela batalha dc maicriuL bélico, as
morais peios detentores do poder, Uma geração que ainda Fora à escola dc bonde
puxado d cavalos, ficou üob céu aberto numa paisagem onde nada permanecera
inalterado a não ser as nuvens e, debaixo delas, num campo magnético da corren
tes e explosões desiruidoras. o minúsculo, frágil coipu humano.
El
IV
VI
V II
I e>k.iw frequentou a escola dos antigos. O primeiro narrador dos gregos foi
Heródolo, No capitulo décimo quarto do terceiro livro de suas Histórias crtcon
tra se uma em que se aprende muita coisa. I la truta de Psumcniia.
Quando o rei dos egípcios. Psamenita. foi batido e preso por Cambixes. rei
dos persas, empenhou-se este cm humilbttr o prisioneiro. Deu ordens para que
Psuntenita fosse colocado junto ã estrada pela qual deveria passar o desfile de
triunfo persa. Além disso determinou que o delido visse sua filha como escrava
dirigindo-se ix fonte com a jarra I nquunto todos os egípcios reclamavam desse
espetáculo, lastimando o. Psamcnua permanecia mudo e imóvel, os olhos prega
dos no chão. ficou igual mente sem se mover quando depois viu seu filho ser k
vado à execução. M as cm seguida. a<» reconhecer um dos seus criados, homem
velho c empobrecido, nas filas de prisioneiros, bateu com os punhos na cabeça e
deu todos os sinais da dor mais profunda,
A partir desta história pode se deduzir o que acontece eom a verdadeira
narrativa. O mérito da informação reduz-sc ao instante cm que era nova. Vive
62 HL NJ AM IN
VJII
IX
ama forma artesanal de comunicação. Não pretende irun.Miiiiii o puro "erri .si" da
coisa, como uma informação ou um relatório. Mergulha a coisa na vivia de uucivi
reluta, a fim de extrai-la ouira ve/ dela. I. assim que adere á narrativa a marca dc
quem Rilrra. como a tigela de barro a marca das maos do oleiro. A tendência dos
narradores é começarem -.ua historia com uma apresentação das circunstancias
em que eles mesmos tomaram conhecimento daquilo que segue, quando não as
dão pura c simplesmente como experiência pessoal. Leskow inicia A Fraude com
a descrição de uma viagem de trem. da qual ouvm de um companheiro de viagem
os acontecimentos que cm seguida reconta, ou então pensa nu enterro de Dos
toiévski. para onde desloca o contato com :i heroina do um conto Por Ocasião da
Sitnuiu f\reuzer; ou evoca a reunião num clube de leitura cm que >uu discutidos
os sucessos que ele rtos reproduz em Homens Interessantes. AssinVe que. de truil
liplas maneiras, atlura sua marca na coisa narrada — se não como a de quem vt
vencia, pelo menos como a de quem reluta.
Esta arte artesanal. a narração, o próprio Lcskow a sentia, aliás, como um
trabalho de artesão. "A arte de escrever, consta numa de suas cartas, não c para
mim nenhuma arte livre, mas um trabalho de artesão." Não surpreende que ele se
sentisse ligado ao artesanato, m.m permanecesse estranho, por outro lado. a tée
nica industrial. Tolstúi. que deve lei 1ido compreensão por este lato. ocasional
mcnlc toca o nervo do dom narrativo de l.eskove. quando o caracteriza como o
primeiro “que apontou para o que há de insatisfatório no progresso econômico...
I estranho que se leia tanto Dostúiévski... Por outro lado simplesmente nào
compreendo porque l.eskow não ê lido. FIc é um escritor fiel á verdade". Fm Mia
história astuciosa e petulante A Pulga de Aço, que mantém o meio termo entre
saga e farsa, l.cskow enalteceu n artesanato local nas ourivosarias de prata de
Tula. A obra prima destas, a pulga de açu. aparece a Pedro, o Grande, e o ct>n
vence de que os russos n.no precisam envergonhar se pernnis* os ingleses
A imagem espiritual daquela esfera iirtexannl de que procede o narrador tal
vc/. nunca tenha .sido circunscrita de modo tão significativo como vi foi por Paul
Vuléry. Fie tala das coisas acabadas da natureza, das pérolas imaculadas, do*
vinhos plenos e amadurecidos, das criaturas real mente consumadas e as chami
de "obra preciosa de uma longa cadeia de causas que sc aswnielhant umas as ou
iras". A acumulação dessas causas, porém, só encontra seu limite temporal na
plenitude. "Hste procedimento paciente da natureza, continua Paul Valcry. fui
uutrora imitado pelo homem. Miniaturas. cninlhes em marfim elaborados com a
mais alta perfeição, pedras irrepreensíveis no polimento e na cunhagem, trabu
Ihos cm verniz ou pinturas em que superpõe uma série de camadas fimis, transpa
rentes... todos esses produtos do esforço resistente c abnegado, estão a ponto
de desaparecer, c acabou o tempo em que o (empo nào vinha ao caso. O homem
de hoje não trabalha mais naquilo que nào pode ser abreviado . Na verdade ele
conseguiu abreviar ate a narrativa. Assistimos a formação da sftort story, que fu
giu ã tradição oral e nào permite mais aquela lema superposição de camadas |]
nas c transparentes, que oferece a imagem mais exata da maneira pdu qual a nar
riuiva perfeita emerge Uu esinuificução Je múltiplas renarrações,
&4 B E N JA M IM
Valery conclui sua observação com esta frase: "'É quase como se a atrofia
do pirnsamtnni de eternidade coincidisse com u aversão crescente ao trabalho
prolongado"- A idéia dc eternidade leve rui morte, desde sempre, sua fome mais
fone. Se ela desaparece deduzimos — o rosto da morte deve ter-sc modifl
cada. Verifica se que ene prolongamento é igual ao que reduziu a imediatez da
experiência na medida em que a ar re caminhava para o fim.
Desde há vários séculos pode-se acompanhar a perda cm onipresença e
lorça plástica que c» pensamento de morte sofreu nu consciência comum. fc‘m suas
últimas fases este processo se desenrola cm rimno acéierado. 1- no decorrer do sé
culo X I X a sociedade burguesa produziu, com ritos higiênicosc sociais, privados
C públicos, um efeito secundário que talvez tenha sido seu objetivo principal, em
bura inconsciente; oferecer às pessoa* a possibilidade dc se furtarem à visão dos
moribundos. Morrer, ouirora um processo publico e al lamente exemplar (pense
■se mis imagens da Idade Media, nas quais n ledo dc morte se metamor fosca va
num trono, de encontro ao qual. através da* portas escancaradas da casa mor
w âria o povo ia-se apinhartdo) - morrer, durante n brtt Moderna. é cada ver
mais repelido do mundo perceptível dos vivos. Antigamenie não havia uma casa.
quase nem um quarto, em que alguém ja não tivesse morrido. (A idade Média
sentia também espacia lmente o que aquelu inscrição nu relógio de sol de Ibiza
torna relevante como sentimento do tempo: Ultima multisj Em espaços que fica
ram purificados de morte os cidadãos hoje suo habitantes enxutos de eternidade
e. quando seu fim :*• aproxima, u|cg suo dispostos pelos herdeiros em sanatórios
ou hospitais. No entanto não c só o saber ou a sabedoria, do homem, mas acima
dc indo sua vida vivida a matéria dc onde surgem as historias que assume
Ibrma transmissível primeiro naquele que morre. Da mesma maneire como no 5n
Liiiu) do homem entra cm movimento, com o correr da vida. uma seqüéncia de
■mugens que consiste nos pontos de vista du própria pessoa, erure os quais
sem %' aperceber ele encontra a st mesmo aos seus gestas e olhares incorpora»
sc Jc repente o inesquecível c transmite, a tudo que lhe disse respeito, a autori
dade de que ;tté o mais miserável pé de chinelo dispòc diante dos vivos, na hora
dc morrer. INia autoridade está na origem dn narrativa,
XI
A nioric è a sanção dc tudo o que o narrador pude relatar Ele derivou sua
autoridade da morte. Em outras palavras: ela é a história natural a que suas his-
tórias rcmcicm, Isso foi exprimido dc modo exemplar numa das mais belas liistò
rias que ternos do incomparável Jobann Peter HçbeL Está oa Caixinha de Tesou
ros do Amigo Renmw, chama xc Reencontro Inesperado c começa com o noi
vado de um jovem que trabalha nas minas dc Falun. Na véspera do casamento a
morté düs mineiros o surpreende no fundo de uma galeria. A noiva permanece
lhe fiel após a morre e vive tempo sullctenre para um d ia já velhinha, reconhecer
O NARRADOR h5
X II
Ô estudo dc uma determinada forma épica, seja d a qual for, estâ as voltas
com a relação entre forma c a historiografia. Pode se mc mesmo ir adiante in
dagar sc a historiografia nSo rcpreáenla u ponto dc indiferença criadora entre to
das as formas épicas. Nesse caso, a História «scrim se comportaria cm relação ns
formas épicas como a lu/ branca cm relação às cores do espectro. Seja como for,
entre todas as formas da narrativa não há nenhuma cujo aparecimento na luz
pura c incolor da H isto ria escrita esteja mais escoimada dc dúvidas J n que n
crônica, L. nu ampla faixa cromática da crônica graduam sc. como matizes
de uma mesma cor. os modos pelos quais se pode narrar. O cronista é o narrador
da História. Pense-se no trecho citado dc Hehel. que conserva todo o tom da erô
nica, c meça depois. .sem esforço, a diferença que há entre aquele que e.Ycmv
História, o historiador, t aquele que a narra, o cronista. O historiador está obri
^ado a explicar, de uma maneira pu outra, os incidentes de que traia; não pode.
em circunstância alguma, contentar-sc em apresenta tos como peças exemplares
do mundo, M»s é exata meu ie isso que o cronista faz. com ênfase especial nos
seus representantes clássicos, os cronistas da idade Média, precursores dos hisio
riadores modernos. Na medida em que eles subordinavam a historiografia ao
piano divino da salvação, que c impcrscrucável, livravam-sc Jc antemão do peso
da explicação derrtonstrável. Entra Um seu lugar i interpretação, que nada tem a
ver entn «.» encadea mento preciso dos acontecimentos, mas com a maneira de en
quadrá-los no curso insondávcl do universo,
Nãü laz diferença se o andamento Jas coisas do mundo c natural nu condí
w BRNJAM IN
X III
X IV
"Ninguém di? Pascal morre láo pobre que não deixe alguma coi ,.i
i certo que deixa também recortl ações só que esia.s nem sempre encontram
um herdeiro. 0 romancista entra na posse dessa herança, c c raro que o faça sem
profunda melancolia, Pois aquilo que num romance de -\rnold Iknnctt se div. Jc
uma morta “ela não havia aproveitado nuda da verdadeira vida " vaie para
o total de herança que o romancista assume, 'sobre este lado da questão devemos
o esclurceirnunto mais importante a Ocurg Lukacs. que viu no romance "a forma
do desterro irnnsççndírUflr \o mesmo tempo o romance c, segundo Lukqçs, a
única forma que incorpora o lempo na série dc seus princípios consntuiivos. 'O
tempo eonsoí na ‘Teoria do Romance' mi pode ser constitutivo cüs,*u-u a
vinculação com a pàiriâ transcendental Só no romance separam se sentido c
vida, e an u isso o csscnci.il v o temporal: pode ,se quase drzer que toda li uçào m-
terna do romance não é ouiru coisa senão a luta contra o poder do tempo.. 1
dclu... emergem as legitimas vivências épicas do tempo: a esperança e n recorda
çào... Só no romance ocorre uma recordação criadora que acerta c mctamorlo
scia t) sibjeto... A dualidade dc mundo interno e externo podo .ser superada pelo
sujeito ‘só’ se ele vislumbra a unidade de sua vida inteira... no fluxo da virin pus
(A BUNJ AM IN
iXsdii e concentrada na lem brança ... A percepçiio qu-e apreende csla unidade...
torna se a apreensão iniuiLivo-divinatória do sentido inalcançado e por isso indi
zível da vi.fdá/*
O “ sen (ido da v ida" c. nu verdade. o centre em tòrno do qual n romance se
move. Ma?» a pergunta qne m faz sobre ele não é outra coisa senão a expressão
inaugural da desorientação com que seu leitor se vê inLroduíddo nesta vida es
crita. Aqui “sentido du vida" alí “ mural da hisLÕriá” : corrí estas senhas con-
irapòcm se romance e narrativa, c nelas pode-se ler o csunulv histórico lotai-
mente distinto destas formas artísticas. Se n modelo perfeito mais remoto (3o
romance c o Dom Quixate, talvez o mais. recente seja a Hducatiwj Sfniimv-nrale.
Nus últimas palavras desti romance scdlmCmou-sc. como fermento no caltce da
vtda. t> sentido que. nn inicio da decadência da era burguesa, corria ao encontro
de acus ales c cimissóes. F rc d m c c Dcslauriers. amigos de juventude. relembram
sua amizade naquele tempo. Ocorrera então urn pequeno episódio: um dia. furti
va mente c com medo, cies se apresentaram no prostíbulo dc sua cidade natal, não
fazendo outra coisa senão oferecer k pairortnc um buquê de dores que haviam co
lhido no jardim. "Três anos depois ainda se falava nessa história, h agora eles
continuavam a contá-la entre m. uiti completando a memória dn outro. 'Talvez
isso tenha sido a coisa mu is bela de nossa vida', disse l :rédcric*, quando termina
ratn. ‘Sim. é poxxivd que você tenha razfio‘, disse D csku ricrs. hnlve? isso tenha
aido a coisa mais bela de nossa vidaV" Cum esse reconhecimento o romance
chega ao fim um fim que lhe é adequado em sentido mais estrito do que a
qualquer narrativa. N h realidade não hã narrativa nltpima cm que a pergunta:
eomo continuou1.1 pudesse perder o seu direi Ui. O romance* ao contrário, nâo
pode alimentar a esperança de dar o mínimo passo nlcm daquele limite em que.
convidaiído o leitor n capou iniuiitvMinemc o scmidii tia vida. convida o também
a escrever um ‘T in is " embaixo da última página.
XV
Quem ouve uma história esta na companhia Jo narrador: mesmo quem lê.
participa dessa companhia. Mas o leitor de um romance ó solitário. Htc o c mais
dn que quukiucr nutro leiior. (Pois a lê quem lê um poema está disposto a dar voz
ás palavras para um ouvinte.) I m sua solidão o leitor de romance se- apodera da
matéria deste com mais fervor do que qualquer outro, hsiã pronto a apropriar se
integral mente ddc de certa forma a engolí Io. Sim : de aniquila, devora o as
sunto como o fogo devora a lenha na (sreirm A tensão que atra vo -..i o romance
sc usscmellu ú corrente de ar que anima a chama c dá vida ao seu jogo na lareira.
0 material de que se alimenta o interesse candciue do leitor e sl-c o - - O
qqe quer dizqr issoê “ Um lioniun que morre aos trinta e einco anos — disse
cena vez. Moritz Meimann ê em qualquer momento de sua vida um homem
que morre aos trinta e cinco anos.” Nada mai-s discutível do que esta frase. Uni
eameme porque se equivoca nu tempo do verbo. Um homem que morrer: aos
trinta e cinco anos assim diz a verdade a que aqut se refere aparecerá à
o NARRADOR
lembrança, ura qualquer momento de >ua vida. como um homem que morre aos
trinta e cinco anos. Km outras palavras: a frase, que não dá sentido ã vida rea],
torna se incontestável para a vida recordada. Não .se pode representar melhor a
essência do personagem dc romance do que naquilo que acontece nesta frase. Ela
di7 que "o sentido" de sua vida so se manifesta a partir de sua morte. Contudo, o
leitor dc romance procura realmerue homens ern que ->e possa ler o “ sentido da
vida”. Consequentemente precisa, de uma maneira ou outra, estar dc antemão
certo de que participa de sua morte, hm caso de necessidade apela para a morte
figurada: o fim do romance, M as a morte reai c melhor. De que modo cies lhe
dão ciência de que a morte já os espera uma morte bem definida, num lugar
bem definido? E essa pergunta que nutre o interesse voraz do leitor pela suçâo
do romance.
Portanto, o romance não tem significado porque representa, talvez de ma
neira instrutiva, um destino estranho, mas porque esse destino estranho, graças ü
chama pela qual ê devorado, nos transmite um calor que nunca podemos obter
do nosso. O que arrosta o leitor paro o romance é a esperança dc aquecer sua
vida enregelüda numa morte que ele vivência através da leitura
XV I
primeiro narrador verdadeiro é e continua sendo o dos contos de fadas, Onde era
difícil obter o bom conselho, o conto de fadas sabia dá-lo, e onde a aflição se
mostrava extrema, mais próxima estava sua ajuda. A aflição vinha do mito O
conto de -fadas dá nos noticia dos ritos mais and aos que a humanidade insLiiuiu.
para espantar o pesadelo que o mito depositara no seu peito. Mostra-nt>s. na fí
glifa. ílo bobo. como a humanidade se faz de boba diante do mito: mostra-nos. na
iip ura. do irraào mais moço, como aumentam suas chances com a distância em
relação ao tempo mítico primitivo, mostra-nos, na figura daquele que parte par:i
aprender o temor, que as coisas de que ternos medo são transparentes: mostra
nos. na lisura do inteligente. que as perguntas que o mito faz são simplórias
como a pergunta du Esfinge: mostra-nos. na figura dos animais que socorrem a
criunça do conto de-fadas, que a natureza ruvo está obrigada apenas cm relação
oo mito. mas prefere reunir se em torno do homem. O mais aconselhável - os
sim o conto-dc fadas ensinou h;í tempos ã humanidade, c assim ainda hoje ensina
ás crianças — e enfrentar os poderes do mundo mítico com astúcia e superiori
dáde. [Dçssa forma o ccntode-fadas polariza n coragem (Mut), ou seja, dialeti
camentc: na consciência de pouca coragem (UntermuO, isto c. na asiticia. e na
petulância (Ubermur). A magia liberador a de que dispõe o conto de fadas nao
põe cm jogo, de rmido miticp. a miturexa. mas aponta para sua cumplicidade
com o homem liberado. 0 homem maduro .só sentí essa cumplicidade de vez cm
quando, ou sejá: na felicidade: mas ela aparece primeiro ã criança no conto de
fadas», v a faz feliz.)
X V II
— a luz da vida que e própria ao homem e que arde tranquila, tanto demro
coma fora"
"Saídas dc um conto-de-fadas’ são hs criaturas que ostentam o iruço das
criações de Leskow ; os Justos. Pawlin, F igura. o peruqueiro. o vigsa do:-, ursos, o
scniinela solicito todos os que encarnam a sabedoria, a bondade, o consolo do
mundo, envolvem o narrador. É inconfundível que estão peneirados pela imago
da mãe de Leskow "F-da era tào bondosa — assim ele a retrata — que era inen
paz de causar .sofrimento a quem quer que fosse, até mesmo aos animais. Não
comia carne nem peixes porque tinhn a maior compaixão pelos seres vivos. Meu
pai costumava ás vezes censurá-la por issn. Mas ela respondia: Fu mesma criei
os bichinhos, paru nmn é como se fossem meus filhos. Nào posso comer meus
próprios filhosf Mesmo na casa dos vizinhos ela não comia carne. Fu os vi Vivos,
dizia, são meus conhecidos. Nã<> posso comer meus conhecidos."
O Justo é o defensor da criatura e. simultaneamente, sua encarnação mais
alia. Fim Leskow cie lem um vinco materno que as vezes se intensifica aié o mí
tico (c com isso cerittmcme ameaça sua pureza de como de fadas), fc. tipicu. nesse
sentido, a figura principal da narrativa "koiin. ama-homem. e Plaionida" lista
figura central, um camponês. Pisonski. ê licrinafrodita. Durante doze anos a mãe
o criou corno menina. Sua parte masculina se desenvolve ao mesmo tcnvpo que a
feminina e seu hermafroditismo “ se toma símbolo do homem deus"
Leskow vê. com isso, alcançado o ápice da criatura, ao mesmo tempo que
lançada a ponte entre n mundo terreno e extralerreno Pois estas figuras terrena
mente poderosas c maternais de Itomcns que coniinuamcnte se apoderam da arte
dc fabulaÇao dc Leskow, foram retirada* a tutela do impulso sexual no apogeu de
sua força. Mas nem por isso elas encarnam propriamente um ideal ascético: a
continência destes Justos terrt antes, um caráter dc privação tua reduzida que etc
se transforma no pólo oposlo elementar d:t sexualidade sem freios que o narrador
eorporifica na Lady Macbeih de Mencz. St a distância entre uma Pawlinc esta
mulher de comerciante serve paru medir a amplitude do mundo das criaturas,
nào e menos verdadeiro que Leskow sondou, na hierarquia delas, a sua profundi
d ade.
X V III
A hierarquia do mundo das criaturas, que no Justo atinge seu pomo mais
elevado, desce por múltiplos degraus ao abismo do inanimado Aqui e preciso
lembrar umu circunstância especial. Tixlo esse mundo dc criaturas manifesta sc
para Leskow não só na voz humana, mas lamhcm naquilo que. dc acordo com o
titulo de uma de suas narrativas mais significativas, se poderia chamar dc ” vo?
da natureza . A narrativa traia do pequeno funcionário Felipe Fcltpuviich, que
aciona todos os mei<v possíveis para poder receber em sua casa, como hóspede,
um marcchul-de-campo que passa pela ciduüczinhu no curso de uma viagem, t
consegue. O hóspede, que a pnncípio tica admirado com o convite insistente do
funcionário, com o tempo acredita reconhecer nele alguém que havia conhecido
ames. Mas quent'.’ Nào consegue Icmbrur-sc. O curioso é que o anfitrião, por seu
FJLM AM IN
lado, não vsuí di&posLO a ktentinear-se. Ao invcs disso, iodos os dias ele da a alia
personalidade a esperança dc que a "voa du natureza" nào deixará de lhes falar*
um dia. de modo perceptível. Isso continua assim até qnc. finalimente, pouco an-
re.s dc prosseguir viagem. o marechal tem dc conceder ao dono da casa permissão
pLiHlicamcnlc solicitada por este — para que a "voz da natureza" ressoe.
Logo a seguir a mulher do anfitrião se afasta, Ria "voltou com uma grande
trompa de cobre, bem polida, e entregou a ao marido. liste pegou a irompa, colo
cou íi nus lábios e. no mesmn instante, ficou comí» que transfigurado. Mal havia
inflado as bochechas e produzido um som possante como o rolar de trovão, o
marechal dc campo bradou: Pare. agora eu sei. irmão, eu o estou reconhecendo.
Você é cr músico do regimento de caçadores que. por causa de sua honestidade,
eu mandei fiscalizar üm funcionário vdhajg® da intendcncia. Ê verdade, FtxCc
IcnckL. respondeu o anfitrião, bu não queria Icmbrá-ln pessoalmente disso, mas
sim deixar que a vo* da natureza' falasse". O modo pelo qual o sentido profundo
desta história fica escondido atras de suu parvo ice dá uma idéia tio humor excep
cional de L.tískow.
liste humor confirma sc. na mesma história, dc um modo ainda mais rc
euado. Tínhamos escutado que o pequeno funcionário fora incumbido, "por
causa dc 1,1)\i honestidade. dc fiscalizar um fuiiciimãrin velhaco da intendência"
L. assim que esta no final na cena do reconhecimento Mas logo no começo da
história ouvimos o seguinte a respeito dt> anfitrião: "Todos os moradores do lu
: ar conheciam o homem e sabiam que cie não ocupava nenhum pçyLo elevado,
pois nào era netn funcionário do h. stado rtem militar, mas um in&petnrzinho da
pequena repartição dc viveres, onde rota com os ratos as bolachas e as solas das
botas estatais, tendo com o tempo chegado a roer uma bela casinha dc madeira".
Com o sc w . evidencia se nesta história a tradicional simpatia que o narrador
alimenta por malandros e mandriões, Tpda a literatura burlesca chi testemunho
disso. Bla nào e negada nem mesmo nas alturãv d;i arte: acompanharam um Hc
hct. da maneira mais fict, entre todos os personagens que d c criou, o moleira de
Rrassenheim. p Zundclfried. e Dtctcr, c Vermelho. E no emamo. também para
Hebel, o Justo tern o papel principal no ih e a im m m itfitfi. Mas pelo fatn de nc
nhmri csirii á sua ukura. ele passa de um para nutro. Ora é o vagabundo, ura o
judeu usuráno, ora t> tapado que entra em cena para excetuar esse papel. Lm
cada um desses casos trata-se sempre dc uma represenLaçào cm palco diferente
uma improvisação moral, Hebel é Casuisia. Por preço algum se solidariza com
um princípio qualquer, mas também não rejeita nenhum deles, pais iodos podem
um diâ ser instrumento do Jusio. Compare sc isso com a aulude dc Leshow, ‘vEs
toa consciente - escreve Cie na história P o r O c a s iã o d a S o n a ta K re u c ú r — dc
que m eus raciocínios se fundam muito mais unmy concepção prâcíeá da vida do
que num a filosofia abstrata ou m im a moral elevad a, mas nem por ík *o crio u ha
biUiado a pensar com» ajo." A lias, as catástrofes morais do mundo leskowiano
Com portam sc. cm relação aos. incidentes morais do mundo dc Hebel. com» as
grandes correnie/ys silenciosas do Volga em relação ao riacho dc moinho que
fica pairando enquanto sc precipita. I lá, entre as narrativas históricas de Leskow,
várias onde a paixão lavra tão avassaladora quanto a cólera dc Aquiles ou o ódio
O NARRADOR 73
dc Hagen. L espantoso como o inundo pode anuviar-se tanto neste autor: e es:-
pauto s a a majestade w m que o mal pode nele levantar o seu ceiro. Leskow viví
ve 1 mente conheceu estados de ânimo em que enleve próximo a uma ética aníino-
micu — c este podería. ser um dos poucos traços que o colocam em contato com
Df>$túiév«ki. As naturezas elementares de suas Narrativas dos Tempos Passado*
vão ao extremo na sua paixão descontrolada. Mas justamente para os mistieíw é
que este extremo aparecia de preferência como o ponto em que a vilesíá
mada se transforma cm santidade.
X IX
" Trndwüído J.t *irígjn,il ukmàü: "Der Siirrfaltsmuh" em Vcher Liieram . Frankfurt am M:iin, i #69, Sahr-
Limp Vcrlftjí, pp. $7 1U3.
76 B E N JA M IN
cerne dos problemas suscitados mais definitiva e coram temente do que o fez Rim-
baud no seu exemplar pessoal do livro mencionado? Anotou na margem, onde se
diz: "na seda dos mares e das flores árticas" — “Não existem" ( “Files n 'existent
pa s').
Em 1924. numa época em que não era previsível ainda o desenvolví mento d<
movimento surrealista, demonstrou Aragon na sua Vague de Rê\'es em que subs
Lancia Jeseofada e díspar repousava o ceme dialético, mais tarde desdobrado no
surrealismo. Hoje podemos prevê Io. Pois não há dúvida de que o estágio heróico,
cujo catálogo de façanhas nos foi legado naquela obra de Aragon. chegou a seu
fim. Em tais movimentos existe sempre um determinado instante no qual as ten
sões primitivas, próprias da aliança oculta, explodem na luta objetiva, profana,
pelo poder e pelo domínio ou se decompõem como manifestação pública, sendo
levadas a transformar se. Nesta fase rransfbrmacionista encontra se presente
mente o surrealismo. Mas naquela oportunidade, quando irrompeu na forma de
uma onda onírica engolfando seus próprios criadores, parecia o que havia de mais
integral, mais definitivo e mais absoluto. Integrou em seu bojo tudo aquilo que
tocava. A vida parecia digna de ser vivida, apenas na medida em que u soleira a
separar dormir de acordar era destruída como por passos de inúmeras imagens a
flutuarem dcsordcnadamcmc. cm que a linguagem parecia autônoma, na qual som
c imagem, imagem e som. se ligavam com exatidão automática dc maneira tao
perfeita que não restava lugar algum para o “sentido**. À imagem e à linguagem
pertence a ordem dc precedência. Quando, ja quase manhã, Saint Pol Roux deci
dia deitar sc para dormir, afixava na sua porta o aviso: Le poèic iravaille. Breton
anota: "Silencio. Quero passar por onde ninguém passou, silêncio! - - Em segui
da a você. língua querida'1. E la tem a precedência.
Esta precedência não se aplica apenas ao sentido. Também an E u No siste
ma do universo, o sonho afrouxa a individualidade corno sc fosse ura dente oco.
K esse afrouxamento do Eu pelo êxtase é ao mesmo tempo a experiência frutífera
c viva que permitiu a esta gente escapar ao círculo dc fascínio do próprio cxU sc.
Não e aqui o lugar dc apresentar a experiência surrealista cm sua total disposição,
M as aquele que reconheceu que os c s c .-íló s deste círculo não são literatura, mas
outra eoisa; manifestação, senha, documento, blefe, falsificação se quiser, mas ele
modo nenhum literatura, sabe também que aqui sc trata literalmente dc experiên-
cias e nào dc teorias, c muito menos de famasmagorias. Essas experiências não sc
restringem dc modo algum a sonhos, a horas de haxixe ou de fumo opiático. Pois
engano corrente e enurme é supor que das “experiências surrealistas” apenas
conhecemos os êxtases dc religião ou de drogas. Ópio para o povo, foi assim que
Lenine denominou a religião, aproximando essas duas coisas mais do que deve ser
do agrado dos surrealistas. Ainda teremos de tratar Ja rebelião apaixonada e
amargurada contra o catolicismo, no curso da qual o surrealismo foi criado por
Rimbaud, Lautréamont e Apollinaire. Mas realmente não reside nos estupefa
cientes a qualidade dc superar a inspiração religiosa dc forma real e criadora.
Reside, isto sim. numa revelação profana, numa inspiração materialista, antropo
lógica. para a qual o haxixe, o ópio e outras coisas mais podem constituir o está
gio preparatório. (Mas um esiájio perigoso. E o das religiões c mni--* severo.) E^ta
inspiração profana nem sempre deparou com o surrealismo nas alturas devidas e
justam ente os escritos a atestarem-na do forma mais evidente, o incomparável
Paysan de Paris de Àragon e Núdja de Brcton. revelam sinais perturbadores de
deficiência nesse campa. Assim encorttra-se, por exemplo, uni trecho excelente em
.Vflí^ci acerca dos ” arre ba Lado rcs dias rfe saque parisienses sob o signo de Sacco
C VanzeUF', e Breton acrescenta ainda a asseveração de que o Boulevard ftnraie
Nouvçllc cumpriu nesses dias a promessa estratégica da revolta, que desde sempre
tinha sido feita por seu próprio nome. Mas também aparece uma Mme Sacco, e
não sc iratá da mulher da vítima de Fttller. mas de uma vovnn/e, de umn vidente,
que mora no número três da Rue des Usines e que revela a Paul Eluard que nada
de bom. lhe será reservado por Mndja. Admitimos que o caminho temerário do
surrealismo, que passa por telhados, pára-raios, calhas, varandas, cata ventos e
estuques — o homem aranha tem de íiprovcstar-se dc todos os ornamentos — ,
admitimos pois que esse caminho leve Inmbém ao úmido quarto de Fundos do
espiritismo. Mas nâo gostamos de ouvi-lo bater cautelosa mente â janela para
fazer consultas acerca de seu futuro. Quem não gostaria de ver «rscs filhos adoti
vos da revolução bem distantes de tudo aquilo que sc verifica nos ccuiventícuias
de cônegas frustradas, de majores aposentados e dc ccnirabítndisuti emigrados?
De resto, presta-se o livro de Breton admiravelmente paru a demonstração de
alguns traços fundamentais dessa “ revelação profana", Ele chama Nadja dc livre
è portê haílanfe, um “ livrn no qual bate m porta ' (Em Moscou hospedei me num
hotel, ent que quase todos os quartos eram ocupados por lamas tibetanos. que
estavam em Moscou para assistir a uni congresso dc todas as igrejas budistas. O
lato de munas das porias dos quartos estarem apenas encostadas chamou mc a
atenção nos corredores do hotel. O que inicial mente parecia acaso, passou depois
a tomar feições de um mistério. Fui informado: ness&s quartos estavam hospeda
dos indivíduos lllittdus it uma seita em que tinltam jurado não ficar jam ais em
iijwsentôs fechados. O choque que Bofri naquela octtsiàc deve scr sentido por
qualquer leitor dc \ a d jn j Viver em casa com telhado dc vidro è uma virtude
revolucionária par exctllm cr, Trata- m: dc outro êxtase, de um exibicionismo
moral, dc que nrtuito necessitamos. À discrição em questões relativas a própria
existência deixou de ser virtude aristocrática para tornar-se problema de pequenos
burgueses enriquecidos. Nadja encontrou a sínteuc verdadeira, c rindo ra L-nirc o
romance artístico e o romance de chave.
Basifl. aliás. levar a sério o ei mor. para reconhecer também nde uma "revela
ção profana" — c também isto revela Nadja. O autor relata que “justamente
então (L e.. na época de .seu contato com Nudju) ocupei-mc intensívamente com
a época de Luls V U , por ler sido a época das ‘cortes amorasa.s' e procurei ler pre
sente com grande intensidade :■ > maneira com que a vida era encarada". Autor
recente, oferece algumas noções exalas acerca du conceito do amor provençtl.
que nos aproxima surpreendem emente da concepção surrealota do amor. “Todos
os poetas do 'estilo novo' possuem assim di? Frich Auerhadh em seu excelente
D a n íe c o m o P o a a do M u n d o Terreno - uma amante mística, todos passam por
aventuras amorosas muito semelhantes, mas de cunho bastante arran ho , n todos
des o amor concede ou recusa Favores, que mais se assemelham a uma revelação
7ü B E N JA M IM
do que a gozo SCnsual, c todüs pertencem a uma espécie de associação secreta, que
determina a sua existência íntima, e talvez mesmo a externa/' A dialética do êxta
se oferece aspectos curiosos. Não será talvez qualquer êxtase próprio de um
mundo, u rn a sobriedade vergonhosa d o mundo complementar'? Se não. o que pre
tende a concepção medieval amorosa — e é ela. e não o amor. que liga Breton
àquela moça telepática além de estabelecer que castidade seja lambem afasta
mento? Afastamento para um mundo que confina não apenas com Jazigos Cora
çãú de Jesus ou Altares da Virgem Maria, mus também w m a manha antes de
uma batalha ou depois de uma vitória.
No amor esotérico, a dama è o que hà de menos essencial. Assim lambciti em
Bicitm . £ mais correto d k w que ele »e situa mui* próximo às cubas que são pró
ximas a Níidjn do que a d a mesma. Ei quais essas coisas que são próximas a
Nadja? Seus cânones são bastante elucidativos para o surrealismo. Por onde
começar? Cabe lhe* a glória de surpreendente descoberta. Apefcebeu-.sc cm pn
medo lugar das energias revolucionarias, comidas naquilo que é "ohcolei o"\ nas
primeiras construções dc ferro, nas primeiras fábrica*, nas fotografias mais anti
gas, nos objetos que começam a desaparecer de circulação, nos piano; de cauda,
nos vestidos de cinco anos atrás, nos locais mundanos de reunião, quando a moda
principia a considera los ultrapassados. Du posição dessas coisas perante a revo
luçàü ninguém pode ler idéia mais precisa a esse r&pcilo do que exa lamente
tais autores. Antes desses videntes e augures ninguém percebeu até que ponto u
rniserim. e não apenas n miséria social, ma* da mesma forma a arquitetônica, a
iniséria dos interiores, as coisas escravizadas e escraviza.»! es são capazes de ee
transformar em niilusm» revolucionário. Silenciando acerca da Fas suge Ue! 'Opérít
de Aragqili Hrelort c Nadja é o casal de amantes que transforma em experiência
revolucionária, senão cm açãó. tudo aquilo que percebemos nu curso dc tristes
viagens nà estrada dc ferro (ç os trens começam a envelhecer), em ae&brunh antes
tardes domingueiras nos bairros proletários das fun des cidades, pila olhadela
mente toi Ápolltnaírc quem deu origem a esta técnica. Utilizou-a no seu volume
oovelislico L líóréshirqui' com cálculo maquiavelisia. a fim de Jazer ir pelos ares
o catolicismo (ao qual. no intimo, se sentia ligado).
No centro desse universo coisificado situa se o mais sonhado dos seus obje
tos. a própria cidade de Paris. Mas só a revolta consegue fazer aparecer na sua
totalidade o seu rosto surrealista. (Ruas absolutíimentç vazias, nas quais apitos ç
tiros ditam a decisão.) F- não há rosto algum que apresente uma fisionomia são
surrealista quanto o verdadeiro rosto de uma cidade. Não há quadro de De G iir i
co ou Marx F.mst que possa medir se com as divisões cortantes de suas Fortifica
ções interiores. que rem de ser conquistadas c ocupadas para dominar o destino,
c no destino das suas massas, o seu próprio. Nndja é expoente dessas massas c de
tudo aquilo que ela inspira revolucionariam ente: La grande mconscience eive et
sotwre qui m Inspire nies senis ades probants dans íe sens oü tQUjouts je rcfi.v
prmiver. qu eUt dispvse à lout jamais de lout ce qui esl à moi. f aqui. portanto,
que se encontra o registro dessas fortificações. a começar daquela Placc Mnubtírt.
onde, como em nenhum outro lugar. & sujeira conservou toda a sua força sinibó
Itca. até o “Theátre Modernc” , que não conhecí mais. o que me deixa incenso
lávcl. Mas cxisle algo na descrição do bar do pavimento superior, feita por Rrclon
— “ reina total escuridão* caíamaJlChòes em forma de túneis, impossível de atra
cessar, um salão nu fundo de um lago" * que nte traz à memória aquela safa
mais mui compreendida do velho C a le Princesa, Tratava sc da sala de fundo do
primeiro andar, com som casais envoltos na luz a/uí, Demos-lhe a alcunha de
'Anatomia ': era o derradeiro abrigo do amor. Em trechos semelhantes, u íixogra
Ha começa a interferir na obra de Breíon. Ttartsforma as ruas, os arcos, as praças
da cidade em ilustrações de um romance de divulgação, pnva essas arquiteturas
sccukires de sua evidencia banal para envolví* Ias. com a mais primitiva iniünsi-
dadf, no noontí>vimcnt^ci IW íi IÍzílüü S. que MIO CütílpfOvadOS, t.ll COrflO acontece
em velhos livros de cozinheiras. c«m citações literais c indicações dc paginas. I
i o d o s os reçuntos dc Paris que aqui aparecem são lugares a movimentar, como
portas giratórias, aquilo que se situa entre as pessoas.
Mesmo y Pane dos surrealistas é um “ pequeno mundo" Isto significa que o
grande mundo, o cosmo, não lem aparência diversa, lambem aí existem cruza
inemos. no» quais surgem dc repente, entre o transito, sinais fanusmagórieos, nus
quais sucedem analogias incomensuráveis c entrelaçamentos de eventos deKneon
irados í o espaço relatado na poesia lírica do surrealismo, f: necessário ter-se
ciência disto, mesmo que não sejn para mais do que defender-ac contra o rnal-cn
tendido obrígíiiôrio do l ‘a n paut t dri. Pois este i un pour /‘ar! quase nunca preten
deu sur tomado ao pé da letra; quase sempre sc traia de urna bandeira, sob fl qual
singram bens que não podem ser declarados. por ainda carecerem de nom cnch
tura. Seria esle o momento propício para elaborar um trabalho que, como nenhum
outro, podería aclarai a crise das artes que testemunhamos: uma história da litcru
iiira esotérica F não c acaso que d a ainda não tenha sido CSCrila. Pois escrevê-la
como se impõe — não como uma “coletáneró-, para a qual os “ especialistas" indi
viduais contribuem, eada um uo seu campo, aquilo que è “ mais digno dc ser sabi
*0 BE NJ A MIN
do — , mas sim como obra fundamentada dc um indivíduo, que por neveis idade
íntima se metería a representar nao tanto a história do desenvolvimento e snn um
sempre renovado reviver original da literatura esotérica — da viria a scr uma
daquelas eruditas profissões dc fé. que cm Lodos os séculos aparecem em pequeno
numenú_ A sua última página Lería dc apresemar o raio X do surrealismo. Rretnn
indica nti fmroduciion au discou rs sttr íe peu de rêalilé até que ponto a experiência
poética sc baseia no realismo poético da idade Média. Mas esse realismo e.
pürumtü, a crença em uma existência real a parte dus conceitos* seja fora seja den
tro dos objetos — encontrou sempre com rapidez a passagem do campo da
concêítuaçâo lógica para o camtxi das palavras mágicas. Assim , os apaixonados
jogos dc transformação Fonética e gráfica, a perpassarem, já ugora laz quinze
anos toda a literatura de vanguarda, quer se intitule futurismo, dadaísmo ou
surrealismo* sàu experimentos mágico-lingüisticos e não brincadeiras artísticas. A
maneira cümO Sü entrelaçam ser,ha, fórmula mágica c conceito é demonstrada
pelas seguintes palavras de Apollinaire. extraídas do seu último manifesto:
“L 'esprir nouveau et les poeles". É o seguinte o que diz em 19IS ; “ Nâo existe
correspondência moderna na literatura para a rapidez e a simplicidade com qutr
nos acostumamos iodos a designar com uma única palavra essência^ Uio comple
xas como multidão. povo, universo, Mus os poetas hodiernos preenchem esta
lacuna: suas obras sintéticas criam novos seres, cuja figura plástica è lào com
plexa quanto a das designações de coletivos". Pór oulro lado. pretendem as arre
metidas ainda mais enérgicas <lc Apdllirtaírc c Breton, executadas sempre na
mesma direção, integração dem asi adam ente impetuosa. Assim , ligam o surrea
lismo âo mundo cm tomo com a explicação: " A s conquistas da ciência funda men
tam-sc antes num pensamento surrealista do que numa reflexão lógica“ c assim
encaram, com outras palavras, u mistificação, cuja culminância Srcton enxerga
na poesia (o que é defensável), como fundainento mesmo dc desenvolvimentos
científicos e técnicos, fi multo conveniente comparar as fantasias luxuriantes c a
união precipitada deste movimento como o milagre da máquina não conveniente
mente compreendido com as utopias muito bem ventiladas de um Schecrbarl
(AjinUirisUrc: "A* fábulas amigas tornaram-se realidade cm boa parte, agora eabc
aos poetas imaginar novas, que por sua vez podem ser tornadas realidade pelos
inventores".).
A manifestação de Aragon ‘Ta/, ma rir pensar cm qualquer atividade huma
na” indica com clareza qual o caminho percorrido pelo surrealismo desde as ori
gero até a sua poliLização, t razão leve Pierrc Naville. que miçíalrncnic perten
cera a esse grupo, ao chamar Jc dialético este desenvolvimento em sua excelente
obra La R e v o lu t ío n er les fn iê íle c it ie ls . No processo desta transformação deuma
posição extremam eme contemplativa para oposição revolucionária, representou
papel predominante a oposição da burguesia contra qualquer manifestação radi
cal dc liberdade inLdccLuàl. Este antagonismo empurrou o surrealismo para a
esquerda, Acontecimentos políticos* principal mente a guerra marroquina, acelera
ram este desenvolvimento, A o ser publicado, no Muntüttitij. o manifesto “ O s inte
lectuais comru a guerra marroquina", havia sido conquisiaüa uma plataforma
O S T R R F .A U S M O KI
Tr.nn sc ,1c rrfert*nci:is ao “ frólit^p rn Cèu" iku çiarlc mUinliil<’in;i .n> F auxttt, p;irlc 1. tlc I VV Cuirjlhf
0 S U R R E A L IS M O K?
qsic SoiLpault consultou provaram ser frutos de engano? Por outro lado. foi coroa
da do êxito uma tentativa correspondente com Rimbaud, sendo o mérito de Mar
ccl Coulon ter defendido a sua imagem real contra n tisurpação católica realizada
por Ciaudet e Berriehon. É verdade que Rimbaud e católico. mas o è, de acordu
com sua própria opinião, na sua parte mais desprezível, que nunca se cansa de
denunciar e dc entregar ao ódio e ao desprezo próprio c dos outros. naquela que
o força à confissão de não entender a revolução. Entretanto, Iruta se da confissão
dc um enmunardo. sempre descontente pnnsigü mesmo e que, ao ahandonar a lite
ratura. já há muito se despedira da religião nas suas pramieia,? literárias. “ Odio.
confiei a l i o meu tesouro", escreve nu Saison **n Enfer. Também nesta sentença
podería vslribar se uma poética do surrealismo, e ela viría mesmo a enterrar a?
suas rai/.cK mais profundameriLc do que aquela teoria da surpríset da composáçàu
poética inesperada, de ApOllinairô. até as profundezas de pensamentos dc Poe.
Desde Bakiínin não existiu tnt Kurüpa um conceito radicai de liberdade. Os
surrealistas, entretanto, o cultivam. Sào os primeiros a acabar com o esclerosado
ideal de liberdade, liberal, moral e humanista, porque não duvidam dc que 'a
liberdade, que nesta terra apenas pode ser conquistada com milhares dc sacrifícios
os mais pesados, tem de ser usufruída sem quaisquer limitações, em sua plenitude
c s-ãm qualquer cálculo de ordem pragmática, enquanto d u rar', O que, por sua
v rv , lhes prova, “ que a luta dc libertação da humanidade na sua forma revolucio
nária mais simples (que c afinal, a libertação cm todos os sentidos'! é a única causa
digna de ser servidn" Mas conseguem unir esta cxpcricncip dc liberdade com
aquela outra experiência revolucionária, que tomos dc reconhecer, porque a vive
mos: com o caráter construtivo, ditatorial da revolução? Em breves palavras con
seeuem fundir u revolta e n revolução? De que maneira temes de imaginar uma
exislenda, intcinuncmc calculada para o Soulcvnrd Bonne Nnuvdle. nos salões
de Le C o rb u sicr e Qud?
O surrealismo, cm iodos os seus livros e empreendimemos, empenha se cm
conquistar as forças do êxtase para u revolução. I: isto o que se pode chamar de
sua Utrefa predpua. E d a não se satisfaz com a verdade, de nós conhecida, de que
em qualquer ato revolucionário existe vivo um componente extático. Este c icfên
fico ao anárquico. Mas frisar çxelusivnmcxilc esse ftito .significaria dar precedência
indevida a uma prática oscilante entre aplicação e festejo? preparatórios sobre o
preparo mdódico e disciplinar hu revolução. Acresce uma concepção muito
sum ária c jtouc< dialética dn essência do cxrase. A estética do pirnor, do poeta cn
úiai t/i sttrprfse, da arte como reação do surpreendido está presa a alguns prccon
cetuv; romântico:, bem fatais. Qualquer pesquisa béria dos doLes e fenômenoS
ocultos, surrealistas e fantasmagóricos estriba se num entrelaçamento dialético,
que nunca seiá aceito por uma cabeça romântica. Pois dc nada nos adianta subli
nhar fanática ou pateticamente o lado enigmático do enigma; muito pelo contrá
rio. conseguimos penetrar no mistério apenas no grau em que o reencontramos no
cotidiano, graças a urna ótica dialcric^ que reconhece scr impenetrável õ colidia
no e cotidiano o impenetrável. A ssim » pesquisa mais apaixonada dc faiõmcnos
telepáticos não lançará tanta luz sobre ü ato da leitura (que è eminentemente tele-
fw BENJA MIN
; A iiu g am au c .i I. ti. Fartai cr» a mtiim eirnipJwuj industrial ajepiiíi nu campo da indústria q^imicu i-n
nruiioremproridimcnia ecooòfnico d&iudte país,Foi fundado cm 1425 i!N iki T.|
O S U R R E A L IS M O K5
' IVadurido du originiil alemão: BüyrílT iler Auíirtaemnp”. cm Diatirklik iifí Au/kàêeruttg, Frankfurt atn
Mrun, U.írZ.S Fisçhci Verlaít, pp. 1-fi
1 Vçdrtúrç, {.vítrea Fhífosnphitfw ; AÚ/, Ocui>ies c#rtipiètt£, Kd- ■UamifiT, Paris. US7V. vul.. XAlL. p. ! Li.
( N . d o À .1
f Èuçoti, J n P t m s c ú f K tiQ ttjC tig i', M à c e U a n c m e s -Tra çar ( f p o n fit t m a n F h i t o s o p U y , T h e - IMwtí & J F r ú f& fS
{S u c u ri, edL tlnsií XionliifiLi LortdlCí. ÍX2J. vr>|_ I, pp. 254 6. (N. du A.)
WJ HORKHEIMER ADORNO
a superstição. dcvc ter vo/ de comando sobre a natureza des enfeitiçada. Na esera
vização du criai ura ou na capacidade dc oposição voluntária aos senhores do
mundo, o saber que c poder nào conhece limites. Esse saber serve aos empreendí
mentes de qualquer um. sem distinção de õrigern, assim como. na fábrica e no
campo Je batalha. está a serviço Je todos os fins du economia burguesa. Os reis
não dispõem sobre n técnica de maneira mais direta do que os comerciantes:
o saber é tão democrático quanto o sistema econômico juntamenle com o qual
se desenvolve. A técnica é a essência desse sabor. Seu objetivo não suo os eoncd
tos ou imagens nem a felicidade da contemplação, mus o método, a exploração
do trabalho dos outros, o capital. Por sua vez as inúmeras coisas que. segundo
Bacon, ainda são guardadas nele não passam de insLrumcntos: o rádio, enquanto
impressora sublimada, o avião de combate, enquanto artilharia eficaz, o teleco
mando, enquanto bússola de maior confiança. 0 que os homens querem aprender
du natureza é eonu> aplica la pura dominar completam ente sobre ela e sobre os
liomcns. Fora disso, nada conta. Sem escrúpulos para consigo m am o , o ilumi
nismo incinerou gs últimos restos, da sua própria consciência de si. Só uni pensar
que faz violência a si próprio é sub dentem ente duro para quebrar os mitos.
Diante do triunfo atual do tino para os fatos, até mesmo o credo nominal isto
dv Bacon sçriy suspeito de scr ainda unia mct;i!Ísica c cairia sob o ve rédito de
futilidade que ele próprio pronunciou COfttru a escolas dem Poder e conhecimento
são sinônimos.J À felicidade estéril. provinda do conhecimento, ò lasciva tanto
para Bacon como para t.uiero. O que importa não é aquela satisfação que os
homens uh&mam de verdade, o que importa é a opefatiou, o proceder d ica /. “ O
verdadeiro objetivo c serventia da ciência'* não reside nos "discursos plausíveis,
deleitam cs. veneráveis, que fu/em efeito, ou em quaisquer aríumentoN intuitiva
mciuc evidentes, mas sim no desempenho e no trabalho. na descoberta dos fatos
pni'íiciilurijr tm tcrio m icn u rle-íí oriticvã Jun que m is uufliltcni C lios equipem m ullior
na vida ' / Portanto, nenhum mbtério há de restar e. tampouco, qualquer desejo
de revelação.
ü díseElbiltçamenlo do mundo é a erradicação do unimismo, XcnóJancs
/.ornbu dos muitos deuses, por serem eles semelhantes ans homens, que os produ
zíram. no que estes têm dc acidental e de pior. e a lógica mais iceeulu denuncia
as palavras erh que se cunha a linguagem. Como moedas- falsas, que melhor seriu
m- fossem substituídas por fichas neutras de um jogo. (I mundo vira caos e a
síntese c a salvação Entre o animal totem ico. os sonhos de um visionário c a
id e a absoluta. não cabe nenhuma diferença C a min liando Cfn busca da ciência
moilnírn.i, os homens se despojam do sentido. Eles substituem o conceito pela
lórTmúm .1 causa pela regra ü pela. proba bilt Jade. -\ noção de causa foi o último
conceito filosófico a entrai na âçcrip dc contas da crítica científica e, por ser
n único que ainda com parada perante a ciência, era por assim dizer a secalari/.a
çào mais Laidia do princípio criadpi Desde Bacon, um úo\\ objetivos dft filosofia
era o de redefinir, um conformidade com o espiriLo Jo tempo. substância, qualj-
diidé, ação u paixão, scr c existência. mas a ciência se safüu, mesmo sem tais
categorias. Elas ficaram para trás. como fdola Theatri da velha, metafísica: e.
mesmo no tempo dessa última, já eram elas mementos de entidades e potências
do ante passado, que tinham, nos mitos, vida e morte explicítad&s e entrelaçadas.
A s categorias, nas quais a filosofia ocidental determinara sua eterna ardem da
natureza, marcavam os lugares, amigam eme ocupados por Ocnos e Pm éJòne.
Ariadne c Nureu. A$ co&m o b tia s pré socrálicas fixam o momento de transição.
A umidade, o indifercnciado, o ar, o togo. nelas tratados como material primitivo
da natureza, são justam eme sedimentações m eram eme nacionalizadas da visão
mirica do mundo. Assim como as imagens da criação a partir tio rio e da terra,
imagens que chegaram do Niln así1 ns gregos, (.ornaram se aqui princípios hikv
/.oísticos, elementos, assim Ltunbéni a profusa umbigiiidadc dos demônios míticos
sc espi riLtializou nas formas puras das esscncías ontológicas. Pelas idei as platòni
eas, o togos filosófico tínalmcnte também toma conta dos deuses patriarcais do
Olimpo. Mas. reconhecendo rts antigas potências na herança pi a tônico âristote
Itca <k metafísica. o iluminismfl combateu a preteri sã n â verdade dos universais.
como superstição. Ele julga ver ainda, na autoridade dos conceitos universais,
ü medo dos. demônios, por meio de Cujas imagens os homens procuravam, no
ritual mágico, influir na natureza, A ptmir de agora, a matéria deverá fimiltnentc
ser dominada, sem apelo a Ibrça?, ilusórias que a governem ou que nda habitem,
sccn apelo a propriedades ocultas. O que não se ajusto às medidas da caleulabili
dàde t da utilidade è suspeito para o ilumbiismo. Um a vez que pode destncol
ver‘SC sem ser perturbado pcln opressão externa, nada mais há que lhe possa
servir de freio, Com as suas próprias idéias sohrc os direitos humanos acontece
o mesmo que avorUveern com os amigo.-, universais Cad a resistência espiritual
que de encontra serve apenas paru multiplicar a sua Força,& Isso se explica pelo
fato d eq u eo iluminhirtio se auto reconhece até mesmo nos mitos. Quaisquer que
Stíjam os miros para os quais c m resistência po^n apelar. e*se* mitos, pclõ sim
pks lato dc sc tornarem argumentos numa ml contestação, aderem ao princípio
da racionalidade demo li dor» pela qual censuram o ilimimísmo, O iluminismo é
Loialitúria.
Paru ele. o fundamento do mito desde sempre estivera no antropomoillsmo.
na projeção do subjetivo nobre a natureza.'1 Ü sobrenatural, os espíritos e os dc
rnônios seriam imagens nas quais sc espelham os homens que se ddxam atemorb
wir pelo natural, Segundo <» ihami»ismos as múltiplas figuras míticas podem ser.
todas das. remetidas u um mesmo denominador comum, d as sc reduzem ao su
Jeito. A resposta de Édipo ao enigma da esfinge, " Ê o homem”, ê inüifc-
rcnctadamcmc repelida como uma saída estereotipada, pouco importando
que se Lenha diante dós olhos um fragmento do sentido objetivo, os contornos
dc uma ordem, a angústia perante as. potências do mal ou a esperança dc salva
çau. O que o iluminismo reconhece de anrcmào como ser e c a n o aenntcccr ê
* f !’- Hepcl. Phwiom atBíoxi? Ut.v t/VtsjV*. UVr^r. wo|. I I , pp. -I |(J-1 I. (N , 00 A.)
" Xçnòtiines. Montatgsse, Elaine. Feacrliarii e Saintnnr Reinaclt estão dc acorde sobre esse pinto. Cf em
Kciiiaeh; rra.au/idn frantís púr F. Sinraoru;, Lowtre» v Nov* York UW9, pp. ò $s, {N, fo
A.i
91 H Ü R K H EL M E R -ADORNO
O que pode ser abrangido pela unidade; seu ideal é o sistema, do qual tudo
Nesse ponto, suas versões raeionalísta e empirista não divergem. Ainda que as
diferentes escolas interpretem os axiomas de diferentes maneiras, a estrutura da
ciência, unitária é sempre a mesma. Apesar de todo o pluralismo dos domínios
de pesquisa, o postulado de Bacon da Una sciantia imiversalis 7 é tão hostil ao
desconexo quanto a malhesi.s wüversatis de l.etbniz è inimiga do salio. A muilipli
cidade das figuras é reduzida a posição e ordenação; a história, ao fato; as coisas,
à matéria. Mesmo Sêgündo Bacon, deve existir entre os princípios supremos e
os enunciados de observação uma conexão lógica univoca através dos níveis de
generalidade. De Maistre túmba de Bacon, acusando-o de cultuar une hloíç ü'é-
ctieüe.* A lógica formal foi a grande escola de unjíoritir/ação F h ofereceu aos
Üuministas o esquema da calculabi lidada do mundo. A equiparação milologizante
díts idéias aos números, nos úlLimos cçcritos de Platão, exprime a ânsia própria
a qualquer desmitologizaçâo: u numero se tomou o cãnon do ilumutismo. As
mesmas equações dominam tanto a justiça burguesa quanto a ovea de mercado
rins, "Pois a regra de que é desigual a soma do igual com o desigual não será
um princípio fundamental tanto da justiça Como da matemática? E será que miO
exi-ste uma verdadeira correspondeu ei u entre a justiça çomutâtiva e JisLributiva.
por utn lado. c as proporções geométricas e aritméticas, por outro?” 5 A sociedade
burguesa é dominada pd-o equivalente. Ela toma comparáveis as coisas que não
têm denominador comum, quando as redio n grandezas* abstratas. O que não
sc pode desvanecer cm números, e. cm última análise, numa unidade, redu? se.
para o tlunrtirtkmit. a aparência e é desterrado, pelo positivismo moderno, para
o domínio da poestu. De Parménídcs a R iisstll, a senha é b unidade. Insiste se
na destruição dos deuses e das qualidades.
Mas os mitos que tombam como vitimas do íJurmnísmo já eram. por sua vez.
seus próprios produtos. No cálculo científico do acontecer, anula sc a justificação
que uma ve? Ihc fora dada pelo pensamento, nos mitos. O mito pretendia relatar,
denominar, direi a origem; e. assim, expor, fixar, explicar. Com a escrita e a
compilação dos mitos, cvsu tendência se fortaleceu. De relato que eritrn. eles logo
passaram a ser doutrina. Todo ritual inclui uma representação do acontecer cn
quanto processo determinado que se destina a ser influenciado pelo feitiço, liste
elemento teórico do ritual tornou se independente nas mais amigas epopéias dos
povos. O s mito?:. cais como encontrados pelos autores trágicos, jã estavam sob
o s-i^no daquela disciplina e daquele poder louvados por Bacon como o objetivo
a ser perseguido. Em lugar dos deuses» e demônios locais. aparecem o céu y a
sun hierarquia, ern lugar das práticas de conjuração do fciiiccirei e da trih,í. «nr
gem os sacrifícios de vários níveis h ierá rq u ico s c o trabalho dos escravos medi rui
zado pelo mundo. A* divindades olímpicas não são mais imediatameme idênticas
aos elementos, das os significam. Em Homero. Zeus preside o céu diurno, Apoio
1 * ( , lti l . C t h ( N . iln A , )
1 ArchitochítK, 1*. * 7. Ctuda por JltaiiCrtn. A ll& m tin * ttwtrfiteiite dt*r JPhfíaKrtpkit. vai. 11. 1‘fimar: [wru-.
Lçipíijí. D l l. p. 11 (N-dn A.i
l! . np. /'ir,, p 20 ítV tia A I
Sótijffi. Ir I I , 25 ■
Y4 H O R K H E IM E R A D O R N O
11 C!.. p. e#„ H.irhc=” l ( l,gwig. ,\n frwtiifaaktt) tu i-tit/nrat Aiitírrvpfititsil « Rov& Vorfc. I Wtf, pp,. 4>.
EN dn- A i
' 4 i ’l, fotvw unJ Tí/íki. íir.iinwwiii' fl i-vív, vul. X . pp 11>f>ss. I IS!. ilu A t
4 Oç‘. l-í i ., p. IJ1MN- do A )
C Q N C E .n o DE ILUMINISMO 95
ria. só vem com uma dominação do mundo adaptada à realidade, feita |Wf mCiu
de uma ciência mais astuta, Para as praticas locais do curandeiro poderem ser
subsLítuídas pela técnica industrial universal mente aplicável, foi necessário, cm
primeiro lugar, ter havido um processo em que os pensamentos se tornaram indc
pendentes dos objetos, semelhante ao que se perfa/ no cu adaptado à realidade.
Enquanto totalidade verbal mente desenvolvida — cuja pretensão á verdade
reprimiu a lê mítica mais antiga, as religiões primitivas - o mito solar patriarcal
é por sua vez iluminismo com o qual o iluminismo i doso fico pode medir se no
mesmo plano, Ele recebe agora o pagamento na mesma moeda. \ própria mitolo
gta desencadeou o processo sem fim do iluminismo, no qual qualquer visão teó
rica determinada sucumbe, inelutável e necessariamente, como vítima da crítica
arraxadora de ser apenas uma crença, n ml ponto que o< próprio*, conceitos de
espírito, dc verdade c ate mesmo dc iluminismo são relegados ao domínio do
feitiço animistu. O principio daquela necessidade do destino que se trama qual
uma consequência lógica do Oráculo, e pela qual perecem o* heróis do mito. uma
vlv. purificado a pomo de atingir o rigor da lógica formal, não predomina apenas
em qualquer cisterna racion alista da filosofia ocidental, mas governa até mosmu
u sequência dus .sistemas, que começa com a hierarquia dos deuses e. no crepús
culo permanente dos ídolos, lega. a líiulo de conteúdo idêntico, d ira contra as
OOnUü ma! prestadas Assim como os mitos já são iluminismo. assim nimbem
o ilum inism o sc envolve cm mitologia a cada passo mais prolundamente. Ele
recebe todo o seu material tios mitos, paru oitâo destruí los. c. enquanto iusti
ceirc. cai sob u encantamento uiiiico, file pretende wuhirpir-.se ao processo do
destino e dá retaliação, exercendo a retaliação sobre cSse próprio processo. Nos
mitos, todo acontecer tem que expiar seu ter acontecido. 0 iluminismo Jica nisso
rru-smoi o fato se anula, mal tendo acontecido. A doutrina da igualdade da ação
e da reação alegava o poder da repetição sobre a existência, muito depois de
o* homens se terem desfeito da ilusão ac identificar se por repetição com a exix
tòncia repetida c de subtrair-se assim a seu podei. Porém, quantu mais se desva
nece a ilusão mágica, mais implacavelmente1 a repetição, sob o rótulo de legtili
dude. amarra o homem àquele círculo, por meio dc cuja objetuah/.açáa em lei
du nuture/íi o homem se pretende garantido cnmo sujeito livre. Q principio de
imanêneia. dc explicação de todo acontecer como uma repetição, sustentado pelo
iluminismo contra o poder tia imaginação mítica, è o princípio dc próprio milo.
A sabedoria ressequida, para a qual nada de nova vige sob o soí, desde que.
no jogo sem sentido, todas, as curtas já Ibrum jogadas, c os grandes pensameruos.
todos cies já pensado*. que ás possíveis descobertas podem ser ÈSltecipadmncrUe
construídas, c que os homens estão comprometidos a se autoconservarem pela
adaptação essa sabedoria ressequida limita sc a renovar a sabedoria fantástica
que jusLamenfe rejeita: sanção do destino que reproduz snce^anicmeniv por rem
lí ação o que sempre já cru. O que podería ser outro é Jeito ijtual. Tal c o verediio
que estabelece ciitícnmente os confins da experiência possível, A identidade dc
tudo com tudo c paga com o não haver nada podendo ser ao mesmo tempo idén
tico a sí mesmo. 0 iluminismo dissolve a in justiça da antiga desigualdade, a do
% H O K K H E IM L K A DO K NO
Iluminado ptir mil Fogos. pode adormecer tfanqiiilarriente: ele sabe que seus bra
vos servíçaus velam para, manter a distância os animais selvagens e para afugentar
os ladrões dos recintos confiados ã sua gu arda.'18 A generalidade dos pensame-
toft, tal como a lógica discursiva a desenvolve, a dominação na esfera do conceito,
erige-se sobre n fundamento da dominação na esfera da realidade. Na substituição
da herança mágica, das antigas representações difusas, pda unidade conceituai,
exprime se :i constituição da vida articulada pelo mando e determinada pelos hc-
m«ns livres. O si mesmo quç. com a sujeição do mundo, aprendeu a ordem ç
a subonlmação. não tardou a identificar a verdade em geral com um pensar que
dispõe, cujas firmes diferenciações sào imprescindíveis para que possa subsistir.
Com o feitiço mimético, o si-mesmo transformou cm tabu o conhecimento que
atinge efetiva mente o objeto, Seu ódio se volta, contra a. imagem do ante-m undo
vencido e contra a sim felicidade imaginária. O s deuses ctónios dos aborígenes
sàu desterrados para o inferno no qual a terra mesma se transforma, sob a religião
de so3 e luz de In Jra c Zeus.
Mas céu tf inferno estavam estreitamento ligados. Assim como- o nome de
Zeus convinha, em cultos que não se excluíam reciproca mente, tanto a um deus
subterrâneo como a um deus de lu z .19 assim como os deuses do Olimpo cultiva
vam todo tipo de convivência com os ctònioã. do mesmo modo as potências boas
c más. a salvação c si perdição, não estavam isoladas uma da outra «cm amhigui
dades. Idas sC encadeavam como geração e corrupção, vida c morte, verão c in
verno. No mundo luminoso da rdigjão grega sobrevive a turva in diferenciação
do princípio religioso que, nas mais antigas fases conhecidas da humanidade,
era venerado como m a n o . Originaria mente, in diferenciado é tudo aquilo que è
desconhecido, estranho, aquilo que transcende o âmbito da experiência, aquilo
que nas coisas excede o seu existir antecipadamente conhecido. O que aqui e
experimentado como sobrenatural pelo primitivo não o a substância espiritual,
em OpOsíçào n material, mas o crurdnça mento do natural face ao membro singu
Uu isolado. O grito de terror que acompanha a experiência do insólito, fica sendo
o seu nome. Ele fi xíé a transcendência do desconhecido face ao que é conhecido
e converte assim o tremor em santidade. A duplicação da natureza em aparência
c essência, ação c força, que faz com que taiuo u mito como a ciência venham
a ser possíveis, provém da angústia do homem, cuja expressão .se toma explica
ç lo . Não que a alma seja transferida para a natureza, core o f.v ercr o psicolo
gism-o; rrnna, o espírito motor, não c nenhuma projeção c sim o eco da suprema
cia rçiil da natureza nus almas fracas dos selvagens.. Só a partir desse
pre animismo è que è feita a cisão entre o animado e o inanimado, ç que determM
nados lugares são invesLidos de demônios e divindades. Nele já e*tú implícita
a separação entre sujeito c objeto. Se o homem não considera mais a árvore ape
nas como uma árvore, mas como testemunho de um outro, como sede do
“ llutarr c Míi-iSs ikSéftverti <* Us*r represcnraiivo Jn ‘"simpíiUfl" da mimou.', J j . Li.-uinu in fla m "I "un
Cri íir U lu t, to uf ■.*•-1 i Vin>. I ' l i ' . lá rtal ii tu IrtiMTipln' 1/ l,i iKili.irq’" 11. I l u W n % M Min. T h iu iu ; G tiliêiiilc
A* in M 9 $ p . tn I ' I jjb . v X a e / íih fflç tú . Z, ,i. j f f l / V J i I J
• 1 Ci 'kVesteriiHircK. Urspmn# Jvi .itotàiàcrxrijjfa, LcipzifL, t^J3, vliI, tp 4U2.t N. di> Aq
C O N C E IT O D E 1LU M IN ISM Ü 99
exercem n seu poder imediata mente. tnas através da consciência dos homens, não
resultou cm alterarão alguma na principia dit igualdade. Sim , os homens tiveram
■que expiar, justa mente por esse passo. com a adoração daquilo a que antes eram
<i,penai submetidos, assim como todas as outras criaL tiras. Antes, o fetiebes esta
vam sob a lei da igualdade. Agora, a própria igualdade se converte em leLichc.
A venda sobre os olhos da JtíSfítíà não s itn iik à somente a proibição de intervir
nu direito; cia diz ainda que o direito não provém da Liberdade.
A filosofia evita o abismo que se abriu oom essa separação* na relação entre
conceito e intuição, e tenta sempre c em vão cobri-lo: sim. na verdade* eia se
define por essa tentativa, £tàS mais das vezes, ela se posta decerto do lado do
qual recebe o nome. PEatào baniu a poesia, no mesmo espirito cem que o positi
visnio desterrou a doutrina tias idéias. Com sua arte tão louvada* Homero não
impôs reforma* nem pública* nem privadas, nãu ganhou guerras nem fez desco
bertas. Desconhecemos a existência de um grande número de seguidores que o
Leríam venerado uu amado. A arte aindà terá que comprovar sua utilidade.22
Em Platão, como nr> judaísmo, u imitação ê pro senta. Razão e religião banem
o princípio tia feitiçaria. Enquanto arte. numa abnegada distância da existência,
esse princípio ainda é desonesto; os que o praticam tornam-se erranfox. nômades
sobreviventes que não tèm mais pátria entre os que sl- tornaram sedentárias. A
natureza não deve mais ser influenciada pur assemeíhação. mas domirtaida pelo
trabafho. À obra de arte tem ainda em comum com a feitiçaria a fixação de
11111 domínio próprio fechado cm si. subtraído da contextura do existir profano.
Vigem aí leis particulares. Assim como 0 feiticeiro começava a cerimônia delimi
tando. contra lodo o mundo circundante, o lugar próprio para o jogo das forças
sagradas, assim também em cada obra de arte destaca-se do real o seu âmbito
fechado. A renúncia ;i influencia, pela qual a arte se desliga da simpatia mágica,
é justamente o que mais profunda mente preserva a herança mágica. Ela impõe,
cm oposição ã vxistcrwia cm carne c usso. a imagem pura que supera em si os
elementos dessa existência, O sentido da cbra de arte, á aparência estética, exige
que ckt seja aquilo cm que sc convertia, naquele feitiço do primitivo, o novo e
terriííctmte acontecer: a aparição do todo no particular. Perfaz -se mais unia vez,
na obra dc arte. a duplicação pela qual ;;i coisa aparecera como espiritual. como
extemuçuo do mana. É isso que faz it sua aura. Enquanto expressão da totalidade,
a arte se firvora cm dignidade tio absoluto. As vezes isso levou a filosofia a alri
buir à arte a primazia sobre o cünhecimemu conceituai Segundo Shdling. a arte
começa onde o saber abandona o homem i\ sleíi sonc., E la c. para Shelling, “o
modelo dn ciência, que ainda está para chegar onde a arte já se encontra” . 23
A separação entre imagem c signo c« no sentido da sua doutrina, “cumpla.amt.mu'
superada jvir cada apresentação singular dn arte’’*,? 4 Raros vezes., o mundo bur
guês mostrou abertura para umn tal confiança na arte. Quando ele restringia o
saber* via dc regra, isso acontecia PflO a fim dc dar lugar â arte, mas sim ú fé.
E pda fé que a retigiosidede militante dos tempo® modernos, Torqucmada. Lu
icro, Maome, pretendiam reconciliar espírito e existência. Mas fé é um conceito
privativo: cia c anulada enquanto fé se não acentuar conrinuamente sua oposição
ou sua concordância com o saber. Enquanto depende da restrição du saber, d a
é por snn vez restringida. A teaiativa empreendida pela fé, no protestantismo,
ctos. quer por tribos estranhas, quer pelas suas próprias camarilhas dirigentes,
corno cadência de trabalho marcada pelo ritmo do pilão e do açoite. que ressoa
em cada tambor bárbaro, em cada ritual monótono. Os símbolos assumem a ex
pressão do fetiche. A repetirão da natureza, que eles significavam, evidencia-se
ciai por diartre sempre como a repetição dâ permanência de coação social por
des representada, O terror objdualizado na imagem fixa Uíma-se signo da domí
nação fortalecida rios privilegiados. Mas os conceitos gerais continuam a scr esses
mesmos signos, embora tendo eliminada do si qualquer afiguração. A forma dedu
tiva da ciência espelha ainda a hierarquia e a coação, T al como as primeiras
categorias representam a tribo organizada e seu poder sobre o indivíduo, toda
n ordem lógica, dependência, concaicitação, extensão e conexão dos: conceitos
fundamentam-se nas relações correspondentes da realidade w c ia l. da divisão do
trabalho.3s Contudo, esse caráter social das formas do pensar não ê. como ensina,
Durbhdm . expressão de solidariedade social, mas testemunho da unidade impene
trável entre sociedade c dominação. A dominação confere maior força e con&is
tencia uo Ledo social no qual se estabelece. A divisão do trabalho, na qual a
dominação sc desenvolve social mente, serve à autocouservaçao do todo domi
nu do. Mas com isso. o todo como Lal, a atividade da razão a ele im&nente. ior-
na se execução do particular. A dominação faz frente uo indivíduo a título de
gorai, dc razão na esfera da realidade. O poder de todos os membros da sociedade,
que enquanto tais não dispõem de outra .saída aberta, soma-se. sempre de novo.
por meio da divisão dc trabalho que lhes ê imposta, para a realização justa meme
do todo. cuja racionalidade assim e por sua vez multiplicada. O que c feito a
io d o s p o r poucos, perfaz sempre pela xubjug&çào dc alguns por muitos: a
opressão da sociedade cxihe sempre, ao mesmo tempo, os traços da o presa, uo
exercida pot um coletivo. I essa unidade dc coJciivida.de o dominação, ç não
a imediata generalidade social a solidariedade, que se sedimenta nas formas do
pensamento Q s conceitos filosóficos com os quais Platão e Aristóteles expõem
o mundo, pela pretensão á validade universal, elevaram as relações pot eles lurtda
mentadns ao S!a!ns da realidade verdadeira. Esses conceito* provêm, como se
lê em V icu .5* do mercado dc Atenas. Eles espelham, com a mesma pureza, as
lei- da física a igualdade dos cidadãos de pleno direito c a inferioridade das
mulheres, crianças c escravos, A própria linguagem conferiu ao dito. as relações
de dominação, universalidade que cia própria assumiu enquanto meio de com uni
cação dc uma sociedade burguesa. A insistência metafísica, a sanção por ideiús
e normas, não passava da hipósiase da dureza c exclusividade que deve sempre
caracterizar os conceitos onde quer que n linguagem tenha unido a comunidade
dos dominantes no exercício do comando Quanto mais crescia o poder social
da linguagem, mais supérfluas tomavam-se as idéias para fortalecê-lo. c a lingua
gem da ciência lhes deu o golpe de misericórdia. A sugestão, que tinha em xí
ainda algo do terror perante o fetíche, não se prendia à justificação consciente.
os ídolos, icm lhes opor. como faz, o rigori&mo. u idcia para a qual cies são insull
cismes. A dialética manifesta, em vez disso, ioda imagem como escritura, Ela
ensina a ler. nos traças da imagem, a confissão da sua falsidade, que lhe rouba
o poder, adjudicando-a à verdade. Com isso a linguagem toma-se mais do que
um mero sistema de signos, Com o concedo de negação determinada, Hegel des
tacou um elemento que distingue o iluminismo da decomposição positivista. à
qual ele o atribui. Contudo, ao tran sfo rm ar firutlmente em absoluto o resultado
consciente do processo global dc negação — a Lüíal idade em sistema e em histó
ria . ele infringe a proibição e cai por sua v / na mitologia.
Isso não aconteceu apenas com a sua filosofia, enquanto apoteose do pensar
que progride, mus ao próprio iluminismc. á sobriedade pela qual pretende di.siirt
guir-se de Hegd c da metafísica em geral. Pois o iluminismo é tão totalitário
quanto qualquer nutro sistema. Soa inverdade não è. como Ehe acusavam desde
sempre seus inimigos românticos, o método analítico, a volta aos elementos, a
decomposição por reflexão, mas o fato de que. para ele, o processo esta decidido
dc antemão, Ao tomar-sc. no procedimento matemático, a incógnitu de uma equa
çrío, o desconhecido fica assim caracterizado como um velho conhecido, mesmo
antes de se tei determinado o seu valor. Antes e depois da teoria dos quanta,
a natureza è aquilo que deve ser compreendido matematicamente; mesmo o que
não se encaixa, insolubilidade e irracionalidade, é cercado por teoremas matemá
ticos. Identificando por antecipação o mundo matem afiz ado, pensado até as últt
mas conscqiiências. com a verdade, o üuminismo acredita estar a salvo diante
do retorno do mito. Ele identifica pensar e matemática. Assim, esla fica como
que deixada á solta, convertida em instância absoluta. “ Um mundo infinito, aqui
um mundo dc ideal idades, è concebido como um mundo cujos objetos não se
tornam acessíveis a nosso conhecimento um por um. Je maneira incompleta c
como que acidenta]mente, mas um metódo racional, sisrematicumentc unitário
atinge fínulniènte num progredir sem limites - cada objeto segundo o seu
pleno ser cm si. Na maicmati/açào galiltna da nature/n, a própria rtaiurcza
é então idealizada, sob a orientação da nova matemática: cia própria - moderna-
mente lâlando toma se uma multiplicidade matemática.'’ 50 0 pensar se coisi-
fica tio processo automático que transcorre por conta própria, competindo com
a máquina que de próprio produz para que esía possa final mente substiLuí-lo.
O ilum inism o3 1 deixou de Indo a exigência clássica de pensar o pensamento
da qual a filosofia de Fiehie é o desenvolvimento radical porque ela o desviava
do imperativo de comandar a prâxis. imperativo que. entretanto, o próprio Fichte
queria satisfazer O procedimento matemático tomou $c como que um ritual do
pensar, Apesar dc auto-restrição axiornãlica, ele se instaura como necessário c
objetivo: transforma o pensamento cm coisa, cm ferramenta, como eíe próprio
o denomina. Mas, com essa mímese. na qual o pensar sc faz igual ao mundo.
o tatirai orna-se agora a tal ponto único qut* atê mesmo a negação de Deu? n
corre na condenação formulada contra a metafísica. Para o positivismo, qu.e ocu
pou (3 posto de juiz da razão esclarecida, uma digressão pelos mundos inicliui* ei?>
não c mais: apenas proibida, mas é vista como uma tagarelice wm sentido, O
positivismo para a sita felicidade — rtào precisa ser atasia, pois o pensamento
rei ficado não pode nem mesmo pôr a questão. O censor positivista deixa passar
o culto oficial, enquanto setor particular de atividade social destituído de conhecí
mento, com a mesma benevolência com que deixa a arte: mas nunca u negar
que se levanta com a pretensão de ver. ele próprio, conhecimento. O distância
mento do pensar com respeito á tarda de ordenar o faturil. a saída do círculo
encantado J: l existência, significa para a consciência ciem illcisU . loucura e auLu
destruição, aquilo mesmo que. para o feiticeiro primitivo, era representado pela
saída do círculo mágico por d e traçado para :i conjuração; c nos Jois casos
providencias são tomada;- pura que a violação do tabu sc converta também efeti
vamenLc um perdição paru o sacrílego. A dominação da natureza delineia o cm
cu!f> para o qual o pensar foi exilado pela Crítica dú Razão Pura. Karn ligou
u doutrina do trabalhoso e ininterrupto progresso sem tlm do pensar a insistência
sobre a swa in suficiência e eterna limitação. A resposta que dou é um oráculo.
Não há ser nn mundo em que a ciência não possa penetrar, mas aquilo em que
a ciência pode penetrai não é u scr. Segundo Kant. o juízo tllosollco visa á n o vi
dade l contudo não conhece mtd» ik* novo, pois limita se u repelir continuamente
aquilo que a razão desde sempre implantou no objeto, Mas. & esse pensamento,
garantido nos diversos MiuOs da ciência face aos. sonhos de um visionário, é apre
sentada a conta: n dominação mundial sobre a nature/a vira se contra o próprio
sujeito pensante, dele nada mais m ia do que jrist.inicntc aquele cfcrnameíite iden
tico eu penso que deve poder acompanhar todas as minhas representações!. Sujeito
c objeto tornam sc ambos nulos. O si mesmo abstrato, o título legal para lã/er
relatórios e sistematizar só lem diunie de si o material abstrato que não possui
outra propriedade senão p k ser substrato dk semelhante posse. A equação entre
cspí/lLo l mundo ê solucionada sem deixar resto, mas devido apçnax a seus dois
membros serem reciprocam ante simplificados. Na redução do pensar ao aparam
matemática está impliuím a consagração do mundo como medida de sí mesmo.
O que aparece come triunfo da racionalidade subjetiva, a ttujeiçao de todo ente
:k i formalismo lógico, é pago com a subordinação dócil da razão aos achados
imediatos. Compreender o achado uuno tal. nouu nos dados não aperta* >uas
relações espaço temporais abstratas, por onde podem então ser apanhados, mas
pensá-los. em vez disso, como superfície, t»m o nrnmmtA* mwliíiHvadrK do eon
ceito que ,ó se prúcnehem no desdobramento dc seu sentido social, histórico.
humano toclá a pretensão ao conhecimento è abandonada, I Ia não consiste
no muro perucher. classificar e calcular, mas justumuite na negação determinante
do que ;t cada momento ê imediato, MôS o formalismo matemático, cujo meio
e o número, a figura mais abstraia dti imediato, lixa. em vez disso, o pensamento
nn mora imcdistez, o ÉuLual conserva o seu direito, o conhecimento sç restringe
è sua repetição, o pensamento converte-se em mera tButdogia, Quanto mais a
106 H O R K H E IM E R A D O RN O
como coisa, como demento cstaiís Lico, como sucúvss or fmluic. 5>ya mu
dida c a autoconservaçâo. a adaptação à objetividade bem ou mal a c e d id a das
suas funções. e o modelo imposto para csly adaptação. Todo o restante, Idéia
tf criminalidade, experimenta a força do coletivo que tudo vigia, desde a sala
de aula aLe o sindicato. Todavia, mesmo 0 coletivo ameaçador pertence apenas
a superfície enganosa sob a qual se albergam as potências que o manipulam na
sua violência. Sua brutalidade, que mantém o indivíduo no seu lugar, representa
Eiío pouco a verdadeira qualidade do homem, quanto o valor com respeito à ver
dadeira qualidade dos objetos de uso. A figura d emon taca mente deformada, que
as coisas e os homens assumiram à Iliz clara do conhecimento sem preconceitos,
remete à dominação. ao principio que já havia efetivado a especificação do mana
tem espíritos c divindades e capturado o olhar pelas miragens dos feiticeiros e
dos curandeiros. À fatalidade pda qual o ante-tenapu sancionara a morte incom
preensível é transmitida ã existência compreendida sem lacunas. O pânico meri
diano m> qual o-s homens mbitamente sc inteiraram horrorizados, du natureza
enquanto totalidade, encontrou seu correspondente no pânico que hoje eslu pres
tes a irromper a qualquer momento: os homens esperam que o mundo sem saída
sejii posto em chamas por uma totalidade que eles prpprios são e sobre a qual
não tem nenhum poder.
O ilutninísmo experimenta um pavor mítico perante o mito. Ele o avista
não somente cm palavras c conceitos mio esclarecidos, como presume a critica
semântica da linguagem, mas cm qualquer expressão humana que não tenha lugar
ná contextura de lins daquela autoCOnservaçàu, A proposição de F.s pi no sa 'Co
miiM Si>sr i onservarnii primum et unieum virtutiu fundamentam 3' ‘S1 contém
a verdadeira máxima dc toda a civili/açào ocidental, na qual sc aplacam as dife
rctiçfis religiosas e lílosóficusr da burguesia, o si mesmo que depois de todos
os traços naiurms terem dilo metodologicnmemo eliminados como mitológicos
não devia mais ser nem corpo, item sangue, nem alma. nem mesmo o cu natural
constituiu, sublimado em sujeito transcendental ou lógico, o ponto Jc referên
cia da razão, da instância Icgisladoru do agir, Quem se abandona ã vida sem
referir st* lucionalmenie â sua autoconservuçào recai, segundo o juízo do iluini
nisrtio c do protestantismo no pré história. O impulso como tal seria mítico, as
sim como u superstição; servir a uin deus que o si-mesmo não postula é tão insen-
sato como o vício da bebida. O progresso reservou para üs dois o mesmo destino:
a adoração c o afundamento no scr natural imediato; ele amaldiçoou o esqueci
mento de >i do pensamento «mim como o do prazer. O trabalho social de cada
indivíduo na sociedade burguesa ú mediai izado pelo princípio do si-mesmo: deve
restituir a uns o capital acrescido, a outros, a força para o mnís rrahalho. Porém,
quanto mais longe chega o processo líís autoconscrvâçào pela divisão burguesa
do trabalho, mais d e força o autodesixnjamento dos indivíduos, que devem mt>l
dar se, corpo e alma, ao aparato lécnico. Isso C por sua ve/ levado em conta
pelo pensamento esclarecido: até mesmo o aijeito transcendental do conhecí
n arte. Elas sabem dc "tudo quanto se pas.*u na terra Fecunda '.3i sobretudo aquilo
de que o- próprio Ulisses participou, “ tudo quanto os argivos e troianos sofreram
na arrasada Tróia pela vontade dos deuses".3*
Evocando diretamente o passado mais recente, elas ameaçam. com a irresisü
vel promessa de prazer percebida no seu canto, a ordem patriarcal que só devolve
a vida de cada um contra sua plena medida do tempo. Quem vai atrás das artima
nlias das sereias cai na pcrdtçan, desde que só a permanente presença de espirito
arranca a existência da natureza. Se as sereias sabem de tudo o que se passou,
d a s exigem o futuro como preço disso e a promissão do feliz retorno è o engano
pelo qual o passado captura o saudoso. Ulisses foi prevenido por Ciree. divindade
que transforma os homens em anim ais: ele lhe soube resistir e. em compensação,
d a lhe deu a força etc resistir a outros poderes de dissolução. Mas a seduçáó
das sereias é assim mesmo Forte demais. Ninguém que ouça o seu canto pode
escapar lhe. À humanidade teve que infligir sc terríveis violências até ser produ
z.ido o si mesrpo. o caráter do homem idêntico, viril, dirigido para Fins. c algo
disso sc repete ainda ein cada infância. O esforço para maniei firme o eu pren
de sc ao eu em todos os &eus estágios e a tentação de perdê-lo sempre veio dr
píir com a. cega decisão de Cún&ttrvà-lo. A embriaguez naTCÓLica que faz expiar,
com um sono semelhante u morte, a euforia que suspende y se mesmo, c uma
das mais antigas instituições sociais que fazem a mediação entre autoconservaçào
u auto aniquilamento, urna tentativa do si mesmo de sobreviver a si próprio. A
angustia de perder o si mesmo e de suprimir com d e ,i Fronteira entre si próprio
ç a outra vida. u pavor perante morte e destruição, irmana sc cora uma promessa
Jò felicidade que ameaçava a civilização cuda momento. Seu caminho cr a u da
Obediência c do trabalho, sobre u qual u satisfação rcluzia permaneruemente
como mera aparência, conto beteza esvaziada de força. Inimigo tanto da própria
morte como da própria felicidade, o pensamento de Ulisses sabe Jb.so. Ele ço
nhecc apenas duas saídas possíveis. Uma ele prescreve n seus companheiros. Ele
lh.es tapa as orelhas com cera e manda os remar cora toda* as forças que têm.
Quem quiser subsistir não deverá ciar ouvidos à tentação do irrestituivol e isso
só poderá ser evitado caso rtào lhe for possível escutá-la. Disso n sociedade sem
pft Cuidou, Viçosos e concentrados, os trabalhadores devem olhar para frente
e deixar de lado o que estiver ao Indo. Eles devem sublimar o impulso que os
ao desvio, afcmmdo se ao esforço suplementar. Assim cies se somam
práticos. — À outra saidu é a que é escolhida peto próprio Ulisses, o senhor
Uc terras, que faz os outros trabalharem para si. Ele escuta, porém privado de
forças. atado ao mastro e. quanto maior se toma a tentação, mais íoncm cnic
ele se faz acorrentar, da mesma maneira que. cm épocas posteriores, os burgueses
recusarão n felicidade para si méSmOs, com tanto maior obstinação quuntu rriais
a tenham ao sou alcance, com o crescimento do seu poder. O escutado não- tem
consequências para ele. que pode apenas acenar com a cabeça para que u soltem -
J j Út/rsítra, \íi. (N iln A .jT rad . Jaim e Brnnji, Ç u lirji. IVGSóN, i1o I’..]
i 1 ( ) p Ctt . V//|N, ,7*n A,)
porém tardo demais; os companheiros, que nào podem escutar sabem apenas do
perigo do canto, não da sua beleza, e deixam-no alado ao mastro para salvar
a de e a ú próprios. Eles reproduzem a vida Jo opressor ao mesmo lempo que
a sua própria vida e ele não pode mais fugir a seu papel social. Os vínculos
pelos quais ele c irrevogávelmente acorrentado ã prâxis no mesmo tempo guar
dam as sereias à distância da práxis: sua tentação é neutralizada cm puro objeto
de contemplação, em arte, O acorrentado assiste n um concerto escutando imóvel,
como fará depois o público de um concerto, c seu grito apaixonado peta liberação
perdé-se num aplauso. Aissim o prazer artístico e o trabalho manual se separam
na despedida do nnte-mundo. A epopéia já coniêm n teoria correta. Os bens cultu
rats estão em exata correlação com o trabalho comandado ç os dois se Fundamen
tam na inelutável coação à dominação social sobre a natureza.
Medidas tais como as que foram tomadas; diante das sereias na nave de L lis
sés. são uma alegoria premonitória da dialética do iUiminismo, Assim como a
possibilidade de se lazer representar é a medida da dominação, sendo o mais
poderoso aquele que pode fa/.ei -sc representai Tio maior número dc Funções, essa
possibilidade é tombem o veículo do progresso e. nu mesmo lempo, da regressão.
Dependendo das circunstancias, não estar envolvido no trabalho significa tam
bém ser estro piado, não apenas para os desempregados, mas até mesmo para
OS de pólo social oposto. O- que estâõ dc cim a. não estando mai.s ás voltas com
a existência, só .1 experimentam ainda como substrato, e petrificam sc inteira
mente no si mesmo que comanda, O primitivo Fc/. a experiência dil cuisu natural
apenas 3 titulo Je objeto que se subtraí ao desejo, ‘'mas 0 sêniior, que inseriu
o escravo entre e le c a coisa. liga-se assim apenas ã não-independência da coisa,
gozando íi puramente; mas abandona 0 lado da independência no servo que iraba
lha a co isa".3'• Ulisses sc fu/, represem ar no trabalho. Assim como não pode
ceder ;e tentação dc renunciai ao si mesmo, enquanto proprietário ele acaba por
não mais participar do trabalho, deixando fin.ilmer.te até de dirigí Io. no passo
que o.s companheiros, apesar dc unia a proximidade às coisas, não podem na
verdade gozar do trabalho, pois este se fay sob coação, no desespero, os sentidos
obstruídos pela violência. O servo permanece subjugado de corpo e alma. o se
nhor regride. Nenhuma dominação pode até agora deixar dc pagar esse preço
c o aspecto cíclico da história no seu progresso è explicado também por esse
enfraquecimento, u equivaleme do poder. Enquanto Sttaw habilidades c conheci
mentos sl- diferenciam pela divisão do trabalho, a humanidade c coagida a retro
ceder íi mjüis etapas antropológica mente mais primitivas, pois, com a existência
facilitada pela técnica, a permanência da dominação condiciona a fixação dos
instintos por uma opressão mais forte. A fantasia è atrofiada, A perdição não
está cm que os indivíduos nào correspondam n sociedade ou à sua produção mate
rinl. Onde quer que a evolução da máquina já sc Lenha transformado cm maquina
ria dc dominação, fazendo com que as tendência* técnica * social, desde sempre
entremeadas, convirjam para um envolvimento total lIo homem, os que não eor
respondem não representam apenas a inverdade. Em oposição a isso, a adaptação
4■ PJiüjioineni-iíi/gir (.Oi 6'w .s fíí. fíp. rí/ ., p. [-!(-• (".N i.ki A .]
112 H G R K H B IM L R A D O RN O
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ha d " [Ttu‘ Kocfccfdlrr I fuulUaltílin > Arvim for (QJ* Navr« Varfc, UJ-W. pp 5.1-55. í Ni ,M> A I
(~A quC-tlúo -suprema cwni a qmil Btwsáa gvtiiçía haje #ç dupEiris ÇitoMiiu du ,|wil losl.it as iíuWJWf js4»
..t i n ià ric i •* a «!i ,a lv r ...• A DCei»í»|ajíiá píuU k.st goma- v»t) cv>fiíii:»lc Níu>jiii'ni pmfc I s*f .tç.uriJiJíça
qunrno s- fórtm&ll p-u qu^O cwc fim pode ser jitcançadí» É |nceian .diiçur mão ér rodos 0: r-tXItrJKH
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T E O R IA T R A D IC IO N A L E T E O R IA C R IT IC A *
“ Trad u riiln Jn o r ir i» * 1 •lantniv “ T • uli • •iinHIu mui Lriiitm lv T h«»rl i*" -mu K.ith-rli, Víi.viir^. fim-
DvkumivtaiHirt, FrrnkAm Ma Muin. J%É>S. Flscheí Veunji. II. pp. IJ7 191, |*iiblLcaiki jwla pfiineàm v»
cm Z e ilv h iijtfa e r SfíZHiffõrscfrung ............... I9B-J, pp. C-1S 21)4, |N dn fc.J
1 11. i'omcarv lí ts-iMiwhif/r jiHiJ tf> r< íA. r. Ii., m ,.í >;i I l 1 I imt-.-ninnn. I .i(.v.i>. I ‘1i-I. p Mr
íN do A.)
: "pfí;tii-Millsna ctliwiu dc Alfrcil &dimldi. IN, div, T,5.
1IS I tOR KH EI MER
Prscaíic.s, Olsc.ours c/r In \l,'m nh\ tl. ir:id, ul<MTiã i|p \ Ruclicc.ui. f '-i[V!í- |‘>| l. p. I < ■
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'' tttm. U IN. Un A I
M*w, fi- PI, H
l1SI, uíii A [i
H, Wcvl "tMiíl ^opliic J-.j jNalunvib.ivnscfPfi". ia Hattdbueh ífrr nrilnxrtpffie prirto II. Mumijui r Kerlira,
1957, pp- 11s e ms.
raciona ti radas a tal pomo que, pelo menos em grande pane dà ciência natural,
a. formação de teorias tornou sc construção matemática,
ÀS cièrichus do homem e da sociedade têm procurado seguir o modelo ( Vt í r -
biid) das bem sucedidas ciências naturais. A diferença entre as escolas da ciência
social, que .se dedicam mais à pesquisa de latos, c outras que visam mais os
princípios, não tem nada a ver com o conceito de teoria como tal. A laboriosa
atividade dx colecionar, cm iodas as especialidades que sc ocupam cuni a vida
social, a compilação de quantidades enormes de detalhes sobre problemas, as
pesquisas empíricas realizadas através de etiquetes cuidadosas ou outro* expe
dientes, que. desde Spencer. constitui uma boa parle dos trabalhos realizados nas
universidades anglo-Jtaxõnicas. oferecem e m a mente uma imagem que aparenta
estar mais próxima cxlcriormeme da vida em geral dentro do modo de produção
industrial do que a formulação de princípios abstratos c ponderações sobre ctm
coitos fundameiitui.s. ei:r gabinete, como Ibi característico de uma porte da socio
logia alemã. Mas isto nào significa diferença estrutural do pensamento. Nas ulti
mas épocas da sociedade aluai .as assim chamadas d é n e iis do espírito têm tido
apenas um valor de mercado oscilante; elas se veem na commjiència de fazer
de qualquer maneira o mesmo que as ciências naturais. muD v cm u rosas, cuja
possibilidade de aplicação está fora de duvidas. De qualquer maneira existe uma
i dem idade na concepção (A i^fossung) de teoria entre as diferentes escolas sociu
lógicas u entre estas c as ciências naturais. O s empíricos não têm nutra representa
çào melhor de teoria do que os teóricos. F.stào meramente convencidos dc que.
em vista da complexidade des problemas sociais e do quadro atual da ciência,
o trabalho com princípios gerais deve ser considerado como odoso e cômodo.
Na medida em que seja necessária a realização tíe um trabalho teórico, isso o-cor
rtirã- pensam des. através do manuseio crexcvnie do material: não é de kl- esperai'
a curto prazo exposições teóricas de grande alcance. São os métodos de formula
ção CsatJL ‘Kpcdíilmcmç métodos matemáticos, cujo sentido está em estreita eo
ncxào com o conceito de teoria esboçado acim a, que são muito apreciados por
estes. dentistas. Nao é o signifiendo Ju teoria em geral que c questionado aqui.
mas a teoria esboçada “ de cima para baixo" por outro*, elaborada sem o contato
direto eom os problemas de uma ciência empírica particular. Diferenciações
como, por exemplo, entre coletividade c sociedade [Toenniesg entre solidariedade
mecânica c solidariedade orgânica (D u rfh cim h entre cultura e civilização (A .
Wtíber), em proadas como formas fundamentais da socialização humana, dcüven
tianj imediatamente sun problemática, se se intenta nplica-bs a problemas concre
tos. Lm vista do quadro atua! da pesquisa, o caminho que a sociologia terift que
percorrer seria a d dlcíl nscensão da descrição de fenômenos sociais até campara
ções detalhadas, e só então a panír dai passar para a formação de conceitos
gãraiü.
A oposição f Geg&waiz} acima exposta está buscada no fato de o* empiristas.
cm conformidade com sua tradição, considerarem apenas as induções concluídas
como eis mais elevadas proposições da teoría: e ao mesmo tempo acreditarem
que ainda se estaria longe da realização de tais induções. Seus opositores conside-
120 H O R KH KIM F.R
ram corretos outros modos Je prove J lineiALu. que ná» são totnlmente dependentes
da acumulação do material coletado, para a formação das intdccções e tias cate
porias mais elevadas. Pode ser que, por exemplo. Durkhdm concorde em muitos
aspectos com as teorias hasteas dos empiristas. mas. na medida em que se trata
de princípios, cie declara redutivej o processo da indução. A classificação de pro
ccs sos sociais por meio de inventários empíricos não t possível, nem tampouco
traria facilidades na pesquisa, na forma que se espera. 'Sen papel é o dc colocar
nos â mão pontos de referência, aos quais podemos relacionar ouLras. observações
além dnqueho pelas quais adquirimos c-si.es pontos de referência. Para satisfazer
esta FirtHlidüde eia nào necessita ser concebida secundo o inventário completo
dc todos os traços individuais, maç do um número pequeno, cuidadosamettte cs
colhido dentre eles. t . .) fcta pode poupar muitíssimos passos ao observador,
pois d a o guiará (. ) I l-hhb portatitó que descobrir traços panicutarmenlL:
essenciais para nossui classificação,G Mas. com relação à sua função un sistema
teórico ideal U(kaien). não faz diferença nlguma qüe os princípios mais elevados,
por sua vez. sejam adquiridos por escolha, por intuição d dê ti ca do ser ( Wvsert
schau)oa pela simples convenção, f certo que o cientista aplicará suas proposj
çòes mais ou menos gerais como hipóteses aos novos fatos surgidos. Depois da
constatação dc uma lei essencial { l-¥esef:sgtrst'i:)t o sociólogo de orienLação feno
menológica estará indubitavelmente seguro dc que cada exemplar lería que procc
der de conformidade corrí essa lei. Mas o caráter hipotético da Id essencial se
impõe no problema: xc kc traia de um exemplar da respectiva essência ou de
uma essência próxima; se $e truui de um mau exemplar dc um gênero, ou de
um bom exemplar de utn outro. Tem se sempre.de uma lado. o saber formulado
intekciualmente e. dc outro. um faio concreto (Saehverhalt) que deve ser subsu
mido por esse saber subsumír, isto é. este estabelecer u relação entre rt mera per
cepçáo õu Constatação do fnto concreto e n ordem 9 conceituai do nosso saber
chama sc explicação teórica.
Não será necessário lalar aqui dos diferentes tipos dc classificação Indicare
mos apenas cm hrevçx palavras como se procede com a explicação dos aconicc:
memos históricos segundo este conceito tradicional dc teoria. Isto sc torna na
controvertia entre Lduaril Muyur u Mas Weber. A respeito de certas decisões
voluntárias de dcieiniinqdov personagens históricos que desencadearam guerras,
Vleyer havia afirmado que u questão de saber se estas guerras sc dariam ou não.
caso não tivessem sido tomadas tais decisões, è irrespondível e ociosa. Tomando
par tido contrário. Webci tentou provar que admitir jsslk si tiris ficaria q tte a explica
ção histórica é impossível, Segundo as teorias do lisíólogp Vou Kries, de juristas
e ççonomiitas como Mcrtcl. Liefmann ç Radhruçh, WcbCr desenvolveu a 'V ó riíi
da possibilidade objetiva", Segundo este autor, do mesmo modo que para o espe
cialista cm direito penal, a explicação para o historiador nào consisLe em uma
enumeração mais completa possível de todas as circusm ándas aí presentes, mas
0 Cf. Xtas. Wcbci. ”K riii. chc Studiua .iuf ik-m Gcbicl Jct kukurwi-.'■aivc!i;if(Iichm 1 *<t».iC” . in Ccuamnwlít'
. lujsw tzi-. T11f.k>i11rc;n i 4)?!*.. pp, üfcZ c -.k. i N cV a .)
’ 1 nranssorpwçãu", tut eü.rk A. sdimiüu N. des ip
1 - “tCFcs", nn ud. tlc A. SchmidL (N UU•- T 1
122 H O R KH EIM H R
que para o próprio oioniisia só on motivos imanentes sejam válidos» corno determi
nanto-s. novas teses se impõem e >e enquadram nas conexões históricas concretas.
Isto não é negado pelos cpistcmòlogos modernos quando pensam mais em gênio
e acaso do que nas relações sociais, também no que se refere aos fatores extra
científicos decisivos. No século X V I I. ao invés de resolver as dificuldades nas
qual;» u procedimento gnos to lógico da astronomia tradicional havia se envolvido
tentando supera las por meio de construções lógicas, passou-se a adotar o sistema
eopemieiano. liste fato não se deve apenas ãs qualidades lógicas deste sistema,
como sua simplicidade, por exemplo. Mesmo as vantagens que estas qualidades
representam conduzem à base da prâxis daquele período histórico. O modo pelo
qual o sistema de Copèm ico, que era pouco mencionado durante o século X V J .
tomou se um poder revolucionário. constituí ttma parte dü processo social, no
qual o pensamento mecânico passa a ser dominante,1a Contudo não ê só para ieu-
rias tâo extensas, como o rislema copermciano, que a mudança da estrutura
científica depende da respectiva situação social: isto se Fílí presente também nos
problemas especiais da pesquisa coLidianu. Não se pode ite lõrma alguma deduzir
simplesmente da situação lógica se ;i descoberta de nov a i variedades em campos
isolados da natureza orgânica ou inorgânica, seja cm laboratório químico ou cm
pesquisas pai conto lógicas. implicara na alteração de antigas classàfiçnçOes OU nu
surgimento de novas. O s cpixtemologos costumam neste caso recorrer n um con
cdtn aparentemente Jimincnte y sua ciência — o conceito de conveniência
(Zwecknttwmgkcti). Se c c«mo novas são formuladas convenièiUemenlc- Isto. nu
verdade, não depende só da simplicidade e da coerência do sistema. mas também,
entre outra» coisas, da direção e Jos objetivos da pesquisa que náo explica e
não pode tomar nada inteligível por d mesma. Tãnto quanto :i influenciado mate
ríul .-.Libre a teoria, a aplicação da teoria ao material Pão é apenas um processo
ínt meiem i tico, mas também um. processo sucml, Afinal a relação entre hipóteses
c fatos nâo se realiza na cabeça dos cientistas, mas na indústria. A s regras como.
por exemplo, u de que o alcatrão de hulha quando submetido a determinadas
reações desenvolve um corante, mi a. de que i« nitrogUuerina. o snlitre c outro*
elementos possuem grande força explosiva, constituem um saber acumulado que
ê aplicado cttòvamcnte aos fatos no interior das fábrica* dos grandes tiusie-í,5 *
Dentre as diferentes escola* filosóficas parecem ser particularmente os posi1
tívástas ü pragmático* que tomam cm consideração o entrelaçamento do trabalho
teórico com o processo de vida da sociedade, F.íes assinalam como tarefo da cicn
eia a previsão e a utilidade dos resultados. Na realidade, este caráter resoluto,
u crença no valor .social da sus profissão, é para o cientista, todavia, um assunto
privado. Lie pode crer tanto num »uber independente, '"supra-saciar e desligado,
como no significado social da suu especialidade: esta oposição na interpretação
não exerce u mínima inlluência sobre ú sua atividade prática, O cientista e sua
11 ^«n* trn ae síü fui t^posm jvtr H G ■-‘Ss-maim cm «•» vnftmn “ D k jgcsáOchafUiehçn Crundtagcn dei
mcChanistÍRchcn PhilcWiYpIm! um! .11 . UiiputuLlg»” . na ytfrschrtfl '■!,,■> S<n!ulfbr.\rhuni;, . mu* TV. l lI^5. pp.
30] uSi-aN J j A..I
l+ "inilListriai ena ed. d* A .S c h m fii.IN , ittiT .}
Ih U K IA 1K A D K A O N A L E T E O R IA C R IT IC A 123
ciência Csíãa atrelados íu» aparelho social, suas rcalkaçòcs constituem um mo
mento da auto preservação e da rep rod u zo contínua do existente. in dependente -
mente daquilo que imaginam a respeito disso. BI cs Lem apenas que se enquadrar
ao seu “conceito’, ou seja. fazer 1cúria no sem ido descrito acima. Dentro da divi
são social do trabalho, o cientista icm que conceber e classificar ’ 5 ns fatos cm
ordens conceituais c dispô-los dc tal forma que cie mesmo e todos os que devem
utilizá-los possam dominar os fatos o mais amplamerae possível. Dernro da ciên
cia o experimento tem. o sentido dc constatar os fatos de tal modo que seja parLi
cu larmente adequado ã respectiva situação da teoria. O material em fatos, a mate
riu. é fornecida dc fora. A ciência proporciona uma formulação clara, bem visível,
de modo que se possnm manusear os conhecimentos como se queira. Nâo importa
se ac trata de exposição da matéria, como na historio e partes descritivas de outras
ciências particulares, ou de sinopse de grandes quantidades de dados e obtenção
ilc regras gerais, como na física; pitru o cientista a tarefa dc registro, modificação
da forma c racionalização total do saber a respeito dos fatos é sua espontanei
dade. é a sua atividade teórica. O dualismo entre pensar c ser. ertLendtmontu c
per ccpçao. Ihe é natu ra 1.
A repicscíLiaçàu iradicional de teoria é abstraída dc> funcionamento da ciên
cia, tal como este ocorre a um nível dado dá divisão do trabalho, LJá cor responde
ã atividade cientifica tal como c executada ao lado dc todas as tlemais atividades
Noeiüis. sem que a conexão entre as atividades individuais se tome irmxli a lamente
transparente. Nesta representação surge, portanto, não a função real da ciência
nem o que a icofiü significa para a existência humana, mas, apenas o que significa
na esfera isolada cm que é feita sob as condições históricas. Na verdade, a vida
da sociedade é um resultado dn totalidade do trabalho nos diferentes rumos de
profissão, c mesmo que u divisão dú trabalho funcione mal Súb a modo dc prodti
çâo capitalista, os seus. ramos, e dentre eles a dênein. nno podem ser vistos eymo
autônomos c independentes. Estes constituem apenas partícula ri/ações da ma
neirsa comn a sociedade se defronta com a natureza c se mantém nas formas da
das. Sim, portanto, momentos do processo de produção social, mesmo que. pnp
príiurtcme falando, sejam pouco produtivos ou áié improdutivos, Nem a estrutura
dá produção industrial e agraria nem a separação entre funções diretoras e fun
ções executivas, entre serviços c trabalhos, entre atividade intelectual e atividade
manual, constituem relações eternas ou naturais» pelo contrario, estas relações
emergem do modo de produção em formas de terminadas de sociedade. A aparente
autonomia nos processos de trabalho, cujo decorrer se pensa, provir dc uma essên
cia interior ao seu objeto, corresponde á ilusão dc liberdade dos sujeitos cconomí
eos na sociedade burguesa. Mesmo nos cálculos mais complicados, des são ex
poentes- do mecanismo social invisível, embora, ciciam agii segundo vuas decisões
individuais.
À autoóonseiência errônea dos cientistas burgueses durante a era líboralista
aparece nos. ma A diferentes sistemas filosóficos. Pode-se encontrar uma expansão
1H
Ci. 11 Cdum. Um,«a. riiT m nar l-rium tm h, llerlmv IVU, pp. ju c *>.. IN <|C' \,i
I fcOKIA T R A D IC IO N A L I T E O R IA C R IT IC A 125
entre homem c nalurev.i e dos homens entre si. Nào é por meio dessa referência
a relatividade da conexão entre pensamento teórico e fatos, imanentes á ciência
burguesa. que se dá o desenvolvimento do conceito e teoria. mas por uma ponde
ração que não tange unicamente ao cientista, mas também a Iodos os indivíduos
cognosoentes.
A totalidade do mundo perceptível, tal como existe para o membro da socie
dade burguesa e tal como e interpretado em sua reciprocidade com da. dentro
da concepção tradicional do mundo, e para seu sujeito uma sinopse de fatie ida
des; ísse mundo existe c deve ser aceito. O pensamento organizador concernente
a cada indivíduo pertence as reações sociais que tendem a se ajustar ás neeessida
des dc modo o mais adequado possível. Porém, entre indivíduo c sociedade, existe
uma diferença essencial. O mesmo mundo que. para o indivíduo, c algo cm si
existente c que tem que captar c tomar cm consideração c. por outro lado. na
figura que existe e se mantem, produto da práxis social geral. O que percebemos
no nosso meio ambiente, as cidades, povoados, campos e bosques trazem em
rí a marca do trabalho. Os homens não são apenas um resultado da história
cm sua indumentária e apresentação, em sua figura c seu modo de sentir, mas
também a maneira como veem e ouvem é inseparável do processo dc vida social
tiil como este se desenvolveu através ik»s séculos. O s latos que os sentidos nos
fornecem são pré formados dc modo duplo: pelo caráter histórico do objeto perce
bido e pelo caráter histórico do órgão perccplivo. Nem um nem outro sào mera
mente naturais, mas en formados pela atividade humana, sendo que o indivíduo
sc autopcrcche. no momento da percepção, como perceptivo c passivo. A oposi
ç.ào entre passividade e atividade que na gftOsiologia surge como dualismo da
sensibilidade e entendimento não c válida para a sociedade na mesma medida
cm que é válida para o indivíduo. Enquanto este se experimenta como passivo
e dependente, a sociedade, que na verdade é composta de indivíduos, é entretanto
um sujeito ativo, atndu que inconsciente e. nessa medida, inautcntico f-.sta dife
rençü na existência do homem e da sociedade é uma expressão da cisão que no
passado e no presenteiem sido própria ás formas sociais da vida social. A existên
cia da sociedade se baseou sempre na oposição direta, ou é resultado de forças
contrárias: dc qualquer modo não 6 o resultado de uma espontaneidade consciente
de indivíduos livres. Por isso altera se o significado dos conceitos de passividade
c dc atividade, em conformidade com a sua aplicação u sociedade ou ao indiví
duo. No modo burguês de economia (biuvgvrhcht Win\schafts iveise) a atividade
da sociedade é cega e concreta, e a do indivíduo ç abstrata e consciente,
A produção humana contem lambem sempre algo planificado. Na medida
cm que o fato surge como algo exterior que se acrescenta a teoria, c portanto
necessário que contenha em si razão t Vernunft), mesmo que num sentido limitado.
Com efeito, o sabei aplicado e disponível esta sempre contido na práxis social;
em consequência disso o ímo percebido antes mesmo da sua elaboração teórica
consciente por um indivíduo cognoseeme. já está eodeterminado pelas representa
çóe.x c conceitos humanos. Não se deve pensar aqui apenas nos experimentos
da ciência natural. A assim chamada pure/u do processo efetivo que deve ser
126 H Ü R K H E IM E K
'fB C r‘ K rllít iJrr r<v)4ti W nnju/i. frawKmtltMfair fitflttkUtin der reme» l (■ rstandrsbcxrifíi!. 2 " cU. # 11.
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11 ”$fljuindon próprio Kiira", na c l dc 4. Sdimi.li, (1M dnsl ■
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Í2Ã HORKHEI ML R
zos. ainda atuante na consciência mais simples, e, além disso, pda aç;u> reciproca
Ljuk‘ ocorre entre os fatos e as formas teóricas por mouvo das tarefas profissionais
cotidianas* Desta atividade inlekttuid passaram a fazer parte as necessidades e
fins. as experiências e hôbdidtRte, e os costnrnes e tendências, da forma atual
de sei Etum ano. ComO .se tora um instrumento material de produção, da repre
senta,. segundo as suas possibilidades, um elemento não só do presente, como
também de um todo mais justo, mais diferenciado í cultura [mente mais harnio
meo. No momento em que o pensamento teórico deixa de se adaptar conseioitc-
mente a interesses exteriores, estranhos ao objeto, e se além efetiva mente aos pro
blemas tal como cies aparecem diante deste pensamento, em consequência do
desenvolvimento du sua cspcciuJidade, que cm conexão com isso lança novos pro
btemas e modifica conceitos antipos onde isso se faz necessário, pode com direito
ver as realizações na técnica e na indústria da época burguesa como sua legitima
ção c eslar seguro de si mesmo. Sem duvida o pensamento teórico compreende
a si mesmo Como hipótese e não como certeza. Mas tate caráter hipotético e com
pensado de algum modo. A insegurança não e maior do que dcvtf ser. se sc leva
cm conta os meios intelectuais c técnicos existentes, que tem em geral sua utili
dade comprovada, c a íormul&çào tíc uris hipótese^. |*u maus reduzida que seja
:i sua probabilidade, é considerada inclusive unir» realização SOCtalmenEc rtcccssá
ria e valiosa, que de qualquer maneira não è cm si hipotética. A formulação de
hipóteses, a realização teórica em geral è um trabalho paia 0 qual existe possibili
da de fundamental de aplicação, isto c, k*m uma demanda sob ns condições sociais
cxistcnLes. Na medida em que d e è pago abaixo do seu valor, ou tàü encontra
demanda, a uniea coisa que lhe pode acontecer é compartilhar o desuno de outros
trabalhos concretos, possivelmente uteis, qtie sucumbem sob estas relações econó
m ieas,34 Estes trabalhos pressupõem coniudo essas mesmas relações que fazem
parle da totalidade do processo econômico, ml corno ele se desenrola snh condi
çóca históricas determinadas, hso nãó tem nada a ver com a questão de sc os
próprios esforços científíç.oH, em sentido estrito, vão produzidos ou não, Neste
sistema existe uma demanda para um sem numero de produtos pretensa mente
científicos. Eles recebem honorários dos modos mais diversos. Lio c. uma parle
dos bens provenientes do trabalho efetivamente produtivo são gastos com eles,
sem que isso altere um mínimo da süü prôpríu produtividade. O s esforços inúteis
de certos setores da atividade universitária coma também a perspicácia vã. a for
mitção, metafísica ou nâo, dc ideologias, assim corno outras necessidades prove
mentes da oposição das classes.15 s tem sua importância social sem corresponder
efetivnmenie nu período mnnl noa bitore í-jcü de ul£,umu maioria notável ,i:i xocic
dade. Uma atividade que contribui para a existência da sociedade na sua forma
dada nào prccLít ser ubsolutarncntc produtiva. isto é. ser formadora tle valor para
uma empresa. Apesar disso ela não pode pertencer n esta ordem LodaJ| e. com
isso, tomada possível, como é rcalncnte o caso da ciência especializada.
" lisLe eoni|>oniamenti> jierà denuminaílo a se*Lilr de ^nnpo;rtW.eiTto “CffíiÇB" Mils>■ . ".rmien” naíi hnin
nu senifoii ir. crines iilcatisrs >ia r? 2ão pura corvo no «ntiJu l-i critica -diiájtiea J ü i-aan<>tniri política.
r.í.[L‘ temeo inlicci u m pntprrcdadc essencial Ja learia di.iSêiicn U . j sociududc. 1N J» A.)
11 - c retaifrizaUv na teorin crilic-üT, ilu sJ. tfe A-Sdmiiíll,{!S. des 3 .,1
rcec como uma inverdade torpe: n reconhecimento crítico das, categorias dorni
nariLo na vida social contêm ao mesmo tempo a sua condenação. O caráter
dialético desta auíoconcepção do homem contemporâneo condiciona em ühimu
instância Lambem a obscuridade da critica kantiana da rarão. A razão não pode
tornar-se. cta mesma, transparente enquanto os homens agem como membros de
um organismo irracional. Com o uma unidade naturalmente eres-ceme e decadente,
o organismo nâo c para a sociedade uma espécie de modelo. m$s sim uma forma
apática do ser. do qual Lem que se emancipar. Um comportamento que esteja
orientado para essa emancipação, que tenha por mela .1 transformação do todo,
pode servir-se sem dúvida do trabalho teórico. Lal como ocorre dentro da ordem
dcsla realidade existente. Contudo ele dispensa o caráter pragmático que advêm
do pensamento tradicional como uni trabalho profissional social mente útil.
O pensamento teórico no sentido Lradicioiml considera, como foi exposto
acima, tanto a gênese dos latos concretos determinados como a aplicação prática
dos sistemas de conceitos, pelas quais estes latos são apreendidos, e por eonsc
pumie seu papel na pnrxh conto algo exterior. A alienação que se expressa na
terminologia lilosufica ao separar valor de ciên cia.*3 saber de agir.com o também
outras oposiçoes, preservam o dentista das contradições mencionadas c empresta
30 seu trabalho limites bem demarcados. Um pensamento que não reconheça cs
sés limites parecv perder suas bases. Que outra coisa podería ser um método teu
ríctX que em última instância nâo coincide com a determinação dos fatos dentro
de sistemas conceituais diferenciados c bastante simplificados além de um diver
li menu» intelectual desorientado, em pai té poesia racional, e cm parte expressão
impotente de estados de espírito? A investigação do condicionamento de fatos
f*üCLius assim como de teoria podem muito bem constiluii um prúblcma da pes
qtúsa. inclusive um campo próprio do trabalho teórico, mas não se vê por que
este iipu de estudo deveria ser funda mem a Lmente diferente dos outros esforços
teóricos. A análise da ideologia ou a sociedade do saber, retiradas da teoria crítica
da sociedade e esiâbckcidíiS como ramos particulares dc pesquisa, não se encon
fiam em oposição w fu ceio na meu to normal da ciência ordenadora. nem quanto
n sua essência nem em relação n sua am bição. Nisso a autognose do pensamento
c redu/ida a revelação das relações entre in tu içõ es” ’ c posições sociais. A csiru-
uma do comporta mento crítico, cujas intenções ultra passa ram a> da prúxís social
dominante, não está certamente mais próxima destas disciplinas soeíais do que
das ciências naturais. Sua oposição ao conceito n adicional dc teoria não surge
nem da diversidade dos objetos nem da diversidade dos sujeitos. Para os represen
1antes deste comporta mento, os latos, tais como surgem nn sociedade, frutos cio
trabalho, não são exteriores no mesmo sentido em qu-e o são para 0 pesquisador
nu profissional de outrov ramo*. que se irnuginu u si mesmo aomo pequeno eien
lista. Para os primeiros Ç importante uma nova orgartixaçào do trabalho. Os fatos
concretos que esLão -Judos nu percepção devem despoja: se do caráter de mera
faticídndé na medida em que forem compreendidos como produtos que, como
tais. deveríam estar sob o controle humano e que. em todo o caso. passarão 1'utJ-
ramente a este controle
O especialista cicmism vê a realidade social o seus. produtos
como algo exterior e "■enquanto" cidadão mostra o seu interesse por essa realidade
através de escritos políticos, de filiação i organizações partidárias ou beneficentes
c participação uni eleições, sem unir ambas as eoisíis e algumas outras formais
suas de comportamento, i não ser por meio da interpretação ideológica. Ao con
erário, o pensamento critico c motivado pela tentativa dc superar realmente a
icnsão- de eu minar ;i otvrsiçãa entre a consciência dos objetivos, espontaneidade
c racionalídlade. inerentes ao indivíduo, de um lado. e us relações do processo
de trabalho, básicas paru a sociedade, dc outro, O pensamento crítico contém
um conceito do homem que contraria a si enquanto mio ocorrer esta identidade.
Se c pfóprío do homem que veii u iir seja determinado pela razão-, a prãxist social
dada. que dá forma ao modo de ser (Daseni), é desumana, e essa desumanidade
repercute sobre tudo o que ocorre na sociedade. Sempre permanecerá algo exte
rior .a atividade intelectual e material, a saber, a natureza como uma sinopse dc
fntos ainda não dominados- com os quais a sociedade se ocupa. Mas neste algo
exterior incluem-se Lambem as relações constituídas unicamente pelos próprios
homens, isto c. seu relacionamento no trabalho e o desenrolar dc sua própria
história. et>TYto i-m prolongamento dn natureza. l 'ssa cxtcríuridade não 6 contudo
uma categoria supra-histórica ou eterna - isso também não seria a natureza
no seruitto assinalado aqui . mas sim o sinul de uma impotência lamentável,
tííjãúcá Ia seria nmi humano e anti nacional.
O pensamento burguês c constituído dc uti maneira que. ao voltar30 no seu
próprio sujeiio. reconhece com necessidade lógica o ego que se julga autônomo.
Segundo a sua essência cie é abstrato, e seu princípio é a individualidade que»
isolada dos acontecimento»» stt deva á condição de causa primeira do mundo
ou sc considera o próprio mundo. O oposto imediato a isso é a convicção que
se julga expressão não problemática dc uma coletividade, como uma espécie de
ideologia da raça. O nós retórico e empregado u serio. O falar se julga o nislru
mento de todos, Na sociedade dilaceradu do presente, este pensamento é. sobre
tudo- cm questões sociais, hannomeislu c ilusionista. O |)cnsarnento critico com
sua teoria sç opõe a ambos os ripos referidos, l í k nào tem a função ik um indiví
duo isolado nem a de uma generalidade de indivíduos. Ao contrário, ele considera
conscientemente como sujeito n. um indivíduo determinado em seus relacionamen-
Lus efetivos çom outros indivíduos ç grupos. Cm seu confronto oom uma classe
determinada, c. por ultimo, mediado por este entrelaçamento, em vinculaçào com
o todo social e rt natureza, físte sujeito não é pois um ponto, como o eu da filoso
fia burguesa; sua exposição (Dtir&ieUmg) consiste na construção do presente his
tórico. Tampouco o sujeito pensante é o ponto onde coincidem sujeito e objeto,
c donde sc pudesse extrair por isso um saber absoluto, Líbia aparência» da qual
Nu dc V Sdimuli. * 1 invos dc rrr der fitJrrív.TiidMf!, 4 -e ti ;i.hu unos |»r ,Jati voJlai' ac". cu n u
íif Jt r JtrJJivdmt Infl rrfteJíguK IN. -Jus T.J
T E O R IA T R A D IC IO N A L E T E O R IA C R ÍT IC A 133
\ •• rnnwi-j l‘ ú ■.■ i. hu* Lípci Jc i i i i v í i :i \ ( . ' u n ^ c i J < S í a ppiísiç-âo uãu- pim-om da fsniaíin m.-.-.
da uXpenenLÍa. Todu ia*e irecia) uíím j|>üicee nu ctf de A. Sdiniiril.tN. dc» T )
J J “ a alij-Ac! UbfCiajndntí pRutetlvuriirmitidci na aU dlé A.. SchituUt, r.N. Ui.-. I . i
3* "qu*.-»i liz dada ve? m;us miserável e impotente"1, não apjrccc ua«L Jc* A.Schimdt. ( H . & k T )
J; " U lI w bv os pi.KtuhmtK r » encima ' l m .taiui:” . . i nri Lido nti <*u dc A f iftim iO i, ( N . diiS ’!
ção da miscria e do aumento, da injustiça, a diferenciação de sua estrutura social
estimulada de cima. e a oposição dos interesses pessoal e de classe, superadas
apenas em momentos excepcionais, : mpede que o proletariado adquira imediata
rtieatc consciência disso. Ao contrário, também para-o proletariado o mundo apa
rece na Sua superfície de uma outra forma. Uma atitude que nào estivesse em
condições de opor ao próprio proletariado os seus verdadeiros interesses e com
isso também os interesses da sociedade como um todo. c. ao invés disso, retirasse
sua diretriz dos pensamentos e tendências da massa, eaíria numa dependência
escrava du situação vigente, ü intelectual que. numa veneração momentânea da
força de criação do proletariado encontra sua satisfação cm adaptar se e em faüer
apoteoses, não vê que qualquer poupança de esforços do seu pensamento e a
recusa a uma oposição oiomcnLânca às massas, para a.s quais ele podería levar
os próprios pensamentos, faz com que estas fiquem massas mais cegas e fracas
do que precisariam ser. Seu próprio pensamento faz parte do desenvolvimento
das massas como um elemento critico e cstimulador. Submetendo-sc total mente
às situações psicológicas respectivas da ciasse, que em st represem» a força para
a transformação, esse intelectual é levado ao semi mento confortador de estar li
gado Cüm um enorme poder o o conduz a um otimismo profissional, Mas quando
este otimismo é abalado cm períodos de duras derrotas, surge então o perigo
para muitos intelectuais de caírem num pessimismo e num niilismo, inutilmente
profundos, tão exagerados como foi o seu otimismo. Não suportam o fato de
que justa mente o pensamento mais atualizado. 0 que compreende com mais pro
fundidado 0 momento histórico e o qut mais promete para o futuro, contribui
um determinados períodos para o isolamento c abandono de seus representantes.
Eles esqueceram n relação entre revolução e independência.™
Se íj teoria critica sc restringisse csscncJ&lmcntú a lormular rexpeçiivamente
sentimentos c representações próprias de uma classe, não mostraria diferença cs
trutural çm relação a ciência especializada; nesse caso liuvcria uma descrição
de conteúdos psíquico». típicos para um grupo determinado da sociedade, nu seja,
tratar se ia de psicologia social. A relação emrc .ser ç consciência c diferente nas
diversas classes da sociedade. As idéias com as quais » burguesia explica a >.un
própria ordem n troca justu, a livre concorrência. u harmonia dos interesses,
etc. mostram, se tomadas ri sério e se, como princípios da sociedade, levadas
até as ultimas consequências. :i sua contradição interna e com isso também a
sua oposição a esta ordem, A simples descrição da aulOeonsciêiiua burguesa não
c suficiente parn mostrar a verdade sobre sobre sua classe. Tam pouco a sistemaó
z.açào dos conteúdos da consciência do proletariado fornece uma verdadeira ima
gem do seu modo de ser e dos seus interesses, Ela seria uma teoria tradicional
caracterizada por uma problemática peculiar, tr não a lace intelectual do processo
histórico de emancipação do proletariado. Isto lambem c váüdü, mesmo qliando
sç deixam de lado as representações do proletariado em geral, para assumir c
divulgar as representações de uma parte progressista dele, de um partido ou de
unia direção. Registrar e classificar por meio dc um aparato conceituai que esteja
adaptado ao máximo aos fatos constitui, também nesse caso, a tarefa peculiar
e a previsão de futuros dados sócio-psicológicos aparece corno a última meta
do teórico. O pensamento, a form ulação da teoria, seria uma coisa, enquanto
que o seu objeto, o proletariado, seria outra. Contudo, a Função da teoria crítica
Luma-se ciara se o teórico e a sua atividade especifica são considerados cm uni
dade dinâmica com a classe dominada, dc tal modo que a exposição das contradi
çóes sociais não seja mcrainenre um a expressão ca situação histórica concreta,
mas também um fator que estimula e que transforma, O desenrolar do confronto
■.nire os setores mais progressistas da classe e os indivíduos que exprimem a ver
dade dela. e rrirm disso, o confronto entre esses setores inclusive us seus teóricos
c o re$to da classe, se entende com um processo de efeitos recíprocos, no qual a
consciência desenvolve, junto com suas forças, libertadoras, suas forças estimula
tiyras. disciplinadoras e vm lenlas.;i f O vigor deste processo se manifesta nn possi
bilidade constante dc tensão efttrc o teóriüo c a classe, à qual se aplica o seu pen
sar. A unidade das forças sociais, das quais sc espera a libertação 6. em sentido
hegeliano, ao mesmo tempo sua diferença: cia existe só como eonfiiro. o qual
ameaça constantemente os sujeitos nela envolvidos, bso sc torna evidente na pes
soa do teórico: sua crítica ê agressiva não apenas frente aos apologcla* cons
cientes da situação vigente, corno também frente a tendências desviactonistas.
conformistas ou utópicas nas suas próprias filei ms.
A figura tradicional da teoria, da qual a lógica formal é uma parte, pertence
ao processo de produção por efeito da divisão do irnbítlho cm sua forma atual.
O fato de a sociedade ter que sc confrontar também em épocas futuras com a
natureza não uirna irrelevante essa técnica intelectual: ao contrário, essa técnica
terá que ser desenvolvida ao máximo. A teoria enrno momento dc uma pnixls
que conduz n novas formas sociais não é uma roda dentada dc uma engrenagem
cm movimento. Se vitórias e derrotas cotistiLuem uma analogia vaga á confirma
çáo ou invalidação dc- hipóteses na ciência, o teórico da oposição riem por isso
tem u tranquilidade de incluí Ias na sua disciplina. Ele não pode fazer a si mesmo
a exaltação que Poincarc3 6 fez. â acumulação dc hipóteses que tiveram que ser
rejeitadas Sua vocação è a luLa ã qual pertence o süli pensamento; mas não um
pensamento como algo autônomo ç separável. No seu comportamento existem,
sem dúvida, muitos elementos teóricos correntes: o conhecimento e prognóstico
de fotos relâlivamenle isolados, os juízos científicos c a formulação dlc problemas
que sc afastam dos elementos hahmiais devido aos seus interesses específicos.
Contudo apresentam a mesma forma lógica. O que a teoria tradicional admite
como existente, sem ertganjar se de alguma forma; seu papel positivo numa socie
dade que funciona, a relação medíalizada e inirtm.sparetUú com a satisfação das
necessidades gerais, a participação nn processo renovador da vida da totalidade,
inclusive a.s exigência* com as quais a própria ciência não costuma .se preocupar.
*' "forças vtolenl:!*" passaram a ser "fprçtn a^nv$ivas na «J. ik A., SçhtüidtdM. Uos T. I
** CJ'. I ( Pniiicare. idem. p. I.S7
TEORIA T R A D ICIO N A L E TEORI A CR ÍT ICA 137
* ■ fvlj cil dí A. Schiaiül Ibi “J.v; c;«n'..iJit • Jaw -..m .,- |n>. i-ç juNlumcnTe UviiUu Ü£>KVi cam.’idíi‘-
que ou* itiijIos seMcmlnm ativos*’. flV dos T )
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340 HORKHE1MER
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•'.i.iun^ii» ot.p«dlii:a c (ki nicidci dc fiens*» d»i Im i-íiígiwfíiiQ rui gpwa burguesa. [N. ge A, Saginiiüi-j
11* -f-viquunw » uitçíj. a,n,órji;.i t-rítiui.-, v tiimtuitii i uxtxãtf.Rj t;iL ec a tkihnmlc (N. dus T.)
4' M.ts. Wíbri. "Wi-sstnsiSi^fi ala Bcr«r. (J-tsaifMteü-e .iitjãran .-ui <1wíjriwústth.', j'us*im.gfli, 1922
Tp. 54V .150 iN.de A •
T E O R IA T R A D IC IO N A L H TEORIA C R ÍT IC A 141
anseio de paz. liberdade l* felicidade não podem ser atribuídos no mesmn senado
■i qualquer outra teoria e prâxis. Não existe teoria da sociedade nem mesmo a teo
ria do sociólogo generalizador. Que rtào inclua interesses políticos, e por cuja ver
dade. ao invés de manter se numa reflexão aparentemente neutra, náo tenha que se
decidir ao agir e pensar, ou seja. na própria atividade histórica concreta. E incon
cebívcl que u intelectual pretenda previamente realizar, ele próprio, um trabalho
intelectual Jilícil. para so depois poder decidir entre metas e caminhos revolucio
nários. liberais ou fascistas. Há décadas a situação não é mais propícia para isso.
\ vanguarda necessita de perspicácia para a ItiUi política e não de lições acadê
micas sobre :i sua pretensa posição social. Ainda mais agora que mesmo as forças
libertadoras da Europa estão desorientadas e tentam organizar sc de novo. que
tudo depende dc nuançav dentro do próprio movimento, que ti indiferença frente a
i'!er«;rminaitos conteúdos, proveniente tia derrota, desespero e burocracia corrupta,
ameaça aniquilar ioda espontaneidade, experiência e conhecimento das massas,
apesar de seu heroísm o.Sl' a concepção abstrai.: e supra partidária da btrcttigcrttsia
significa uma versão dos problemas que nada mais faz que ocultar as que*;toes
decisivas. O espírito é liberal. Ele não suporta coação externa nem adaptação dc
seus resultados aos caprichos de um poder qualquer Todavia •> espírito não está
separado da vida da sociedade, não paira sobre ela. Na medida em que a lendân
cia a autodeterminação e ao domínio do homem, tanto de sua própria •«ida como
da natureza, é imancnic ac> espirito, este iimã cm c o n d iç õ e s ' dc divisar essa ten
dencia como força atuante na história. Considerar isoladamente n constatação
dessa tendência aparece como uma atitude imparcial, mas assim como o espírito
mtü pode reconhecer essa tendência sem estar interessado dc alguma forma, nâo
conseguí também transforma la cm consciência gerul sem luta real. Ne.s*e.sentido
o espírito não c liberal Os eslorços do pensamento não conectados consciente
mente com uma práxis determinada caplicados aqui e ali. conforme as tarefas que
sc alternam entre acadêmicos e outras e que lõmeniadas prometem êxito, podem
ser dc grande utilidade para essa ou aquela tendência histórica. Contudo ov esJbr
ço -í do pénsamcnio podem, apesar da exatidão formal, inibir e desviar o descnvol
vi menu) imdgctuot. Afinal que construção teórica, por mais equivocada que seja.
não pode preencher v requisito dc exatidão formal! O conceito abstrato, fixado
como categoria sociológica, de uma itiwilig&usia que. além de tudo, deve preen
cher funções missionárias, faz parte, segundo n sua estrutura, da hypòxivsfc da
ciência particular. A teoria critica nâo está nem “ enraizado" como a propaganda
totalitária nem é 'divre-flutuante" corno a tnlplligenista liberal,
Da diversidade de função entre o pensamento tradicionaj e o pensamento
critico resultam as diferenças na estrutura lógica As proposições mais elevadas
da teoria tradicional dellncm conceitos universais que devem abranger iodos os
fatos dc um campo determinado, como, por exemplo, na física, o conceito dc um
peito. Alterações no sistema, seja a introdução de novos gêneros, seja outra qual
quer. não sào concebidas costiimeiramente no sentido de que as determinações
suu ncceasariamente rígidas e por isso inadequadas. Nem tampouco as alterações
do sisrema são concebidas como resultado da alteração da relação com o objeto
ou mesmo dentro do próprio objelo, sem que este perca sua identidade. Ao contra
rio, as alterações são tomadas como urna falha do nosso conhecimento anterior
Ou como substituição de partes isoladas do objeto por outras. cDmú. por exemplo,
um mapa desatualiza-se pela derrubada d e mal eis . pelo surgimento lÍc novas cida
des ou pda modificação de limites. É dessa maneira lambem que o desenvolví
mento dinâmico é compreendido pula lógica discursiva, ou lógica do entendí
mento. Dizer csu ser humano ç agora unia criança c depois será um adulto
implica para esta lógica afirmar que existe um único núcleo imutável: “ este ser
humano"'; ambas as qualidades dc str c r i a n ç a c ver u d u f o o são grampeadas ride.
uma após outra. Segundo o positivismo, não permanece ubsolutamédte nada idên
tico; ao contrário, primeiro existe uma criança, depois um aduílo. ambos eonxti
luem dois complexos de tatua diferentes, lista lógica nào está em condições de
compreender que o hómem se crnnslorma e apesar disso permanece idêntico a si
mesmo.
A teoris
crítica começa tgualmcntü com determinações abstratas; cia começa
com a caracterização de uma economia baseada nu troca, pois se ocupa com a
época atual, *3 Os c-onceiim que suigerrt em seu inicio, tais como im?retidoriu.
valor, dinheiro,50 podem funcionar como conceitos genéricos pelo fato de consi
derai as relações nu vida social concreta cumo relações de troca, e tkt se referir
aos bens a pari ir ác seu caráter de mercadoria. Mas :t teoria não se exaure pelo
simples fato Je relacionar os conceitos com a realidade pela mediação tle hipótc
se*, O começo jà esboça o mecanismo social, que, apesar do principio anárquico
da sociedade burguesa, não a deixa perecer imediata mente após a abolição dos
regulamentos feudais, do sistema eorpuiiiiívo c da servidão nas glebas: no CürUfá
rio. n sociedade burguesa sobrevive por força deste m«ünisraur A teoria crítica
A rrspaEd iU -jxLniurs lúpicu da oHiiea céi oconoAiia políiiuú ctHnjMirc «u*i “ Stmn PinMvlem der Wahi
hu-li” ,s .ib iv P ‘\ ' l > l c i n ; í , í. i V sm I.iiíií I. íí<'itsvkri/i JU e r V u rü j^ » \.:hu»fí, m u IV . i**3J. pp, 3-U •.• cunv
taui !>. in 11 li- 35 f .£ v í N râ>A.l
13 "Os- oçHxeiujs 4urgem coijj Marx", nu tsl. de A, icftmidUN ite T j
T E O R EA T R A D I C I O N A L h T E O R I A C R Í T I C A 1 v-.
54 ■rm txpaços -du sntkcléde rtinda prè rnjHiatfstiK. na vj Je A Sehmiclr <K. fk T .>
5r' "exército I n d i u t r i a f iíe rísérva" iui cd. J c A. $ch mide CN-dos Tá
J44 HOKKHf 1MER
atual a partir do conceito da Lruca simples, mas com a ressalva de ser relativa*
mente indiferente ã forma liipoletiea «craJ. O acento não c colocado no fato de
que. onde domina a sociedade baseada na troca simples, o capitalismo sempre
se desenvolverá necessária mente, ainda que Isso seja verdade, mas na simples
dedução desta sociedade capitalista real — que partiu da BurOpa e se estendeu
pelo mundo todo. e para a qual a teoria reclama a sua vnlida.de — , dedução
que pane. exdusivameme- da relação básica da troca. Enquanto os juízos Categó
ricos possuem no fundo um caráter hipotético, c juízos existenciais (ExiSíenZÍalur‘-
tuila), sc c que aparecem, são admitidos apenas em capítulos próprios, cm partes
descritas c práticas,50 a Leoria critica da sociedade em seu todo c um único juízo
cxisiendal desenvolvido. Formulado cm linhas gerais. <i$tc juízo existencial
allrma que a forma básica da economia de mercadorias, historicamente dada c
sobre u qual repousa a história uai* recente, encerra cm si as aposições internas
c externas dessa época, c se renova cnnlinuamentc de ukui forma mais aguda
c. depois Je urn período de crpsd mento, de desenvolvimento das forças humanas,
dc emancipação do indivíduo, depois de uma enorme expansão do poder humano
sobre u natureza, acaba emperrando a continuidade do desenvolvimento r leva
a humanidade a uma nova barbárie. Os passos isolados do pensamento dentro
dessa teoria possuem, pelo menos em sua intenção, o mesmo rigor que as dedu
ções dentro da teoria dc uma ciência cspeciülizadít. Cada passo consiste num
momento da constituição daquele juízo existencial dc amplo alcance. A.s partes
isoladas da leoríít critica da sociedade podem transformar se cm juízos hipotéti
cot universais- ou puniculnics, o ser utilizados no sentido da teoria tradicional.
Corno, por exemplo: com 0 aumento da produtividade, o capital se desvaloriza
consLiuricmentcn DcMc modo surgem cm algumas parles Ja tcorra proposições
que têm uma relação difícil com a realidade. Pois. se u exposição de um objçio
unitário % verdadeira na sua totalidade, o ac erro na aplicação dc algumas panes
separadas dela em sua isolução dc partes isolada do objeto depende de condições
muito especiais. A problemática que resulta da aplicação de proposições parciais
da teoria crítica a processos únicos e repetitivos da sociedade atual estabelece
:i junção da teoria críiten com as realizações do pensamento tradicional. Esta
problemática alende a um fim progressista, inas não corresponde â verdade da
teoria critica, A incapacidade Jas ciências especializadas, principal mente da eco
nomia política contemporânea, dc sc valer da teoria crítica no estudo fragmen
tário das suas questões não está nem nestas nem na teoria critica em si. mas nos
diferentes hJ ; papéis que desempenham na realidade efetiva.
Também a teoria critica e oposicionista, como foi exposto acima, deduz dc
conceitos gerai.-- básicos ns suas afirmações sobre relações reais, deixando trans-
>B Kllire tHf Éormas d í juj/ u s c ns ^sríe'(teii hi iiíiflufr. cMÍttah cuTi-miie, que eMhoçflreniíJs aqui um pouca*
|i:ilavrn‘. O iuiw> calC*i>ríco t !i» í» du sociedade uic a •ijueui C'-»u juiao nw> permite lu-nhiMn.i tlinji^ii
J li minuto |Xu ^arw du homem. A> formas llipuldusi v Uisjumiwi ils hjjzc íscííí intima mente li^ulps ao
mundo hmv.ub: em itelermirwiiiN çireujislàmriai pode :tpíir.-l-lM 1 -jih certo <f«M th.,-,:: .111 J.-uju. l.i htrrna.
A tm nu nuca .'ilirmjsr k >ii iini tem ijut -.oi -r-.r-r <- Iiamcn-*, pocci,' mnJ.ii i -.1 r
n» cincunsumc v. p i-iviivaMN dr* A l
"ma* nori papeis «prctjftus“ «i «I. dc A, Schxmlt. 1N. dos, 1.1
I fcüRIA T R A D I C I O N A L F T E O R I A C R Í T I C A 145
'• •* ” n4o CuiiKiJ^ru n u m ittjith m r c tu mar níi L-d l! c A . S c h m i.L . l.N . Jo s I-I
bl‘ " A jip ltc a b iliu a J.:' n.i u J, de A .-S d u n íd u í N .d o i . l ' j
fifl JL G. f LctUe. íiriçfweehse!. cdfit. po-r HSchab 3 t. I Leipíã. 1Q25. p, 127. JN.daAã
T E O R I A T R A D IC IO N A L L T E O R IA C R Í T I C A 147
possíveis, nas formas da málemãücit. são acusada.s üc ser '‘teóricas demais". Essa
atitude positivista nao precisa ser nuccssuriumunlc hcisrLL ao progresso. Se. diante
do agravamento dos ConMitos de ciasse nas últimas década*, a classe dominante
Lem que confiar cada v c í mais no aparato real de poder, a ideologia constitui
um demento unifácatlor da enorme estrutura social que não pode ser subesLimado.
No lema de limitar sc aos fatos e tle abandonar Lodo Li.po de ilusão esconde sc
ate nos dias. de hoje a reação contra :i coligação entre opressão e metafísica,
Seria entretanto um erro desconhecer a diferença enorme01 entre o iluminismo
ettipíncu do século X V I I I e a atualidade. Naquele período histórico uma nova
sociedade se desenvolvera dentro da amiga. A. questão era de libertar a economia
burguesa já existente das travas feudais. ÍMu ê. simplesmente “ dei xá-Ia passar” ,
IDe igual modo o pensamento científico, próprio da nova -umejude, precisou ape
nas tllustui se das antigas vinculações dogmáticas para empreender u rumo já
divisado por da. Na pasaugvm da forma da sociedade acuai à futura, a humani
dade deverá erigir st pela primeira ve/ um sujeito consciente t determinar ativa
mente a sua próprio forma de vida. Mesmo que os elementos Ja cultura vindoura
sujam existentes, será necessário uma nova construção consciente das relações
econômicas. A hostilidade indiscriminada frente n teoria nâo significa por isso
um obstiáeuiü. Sc nâo hú continuidade nu esforço teórico, então a esperança dc
melhorar fundamental mente :i existência luimiut.i perderá a sua razão de ser. Re
ferimo-mis ao esforço que investiga criticam ente a .sociedade atual com viitu a
uma sociedade futura organizada racional merue, e que ê construída com base
ria teoria tradicional. formada nas ciência* especializadas- A existência <lc positi
vidade e Mibmtsssfio, que ameuça lambem tornar insensíveis á teoria os grupos
mais avançados da sociedade, afeta nfio so n teoria, mas também u prâxis libera
dora.
As parles isoladas da teoria que deduzem do esquema tis economia simples
de mercadorias ; k rdnções complexas do capitalismo liberal e Jo capitalismo
monupülNtíi*2 não sâo indiferentes ao tempo como as etapas dc um encadea
mento hierárquico dedutivo, \ssjm como na escala dos organismos a digestão,
função tão importante para a vida humano sc encontra em seu estado simples
Isso nào icm nada a ver com o princípio de questionar radical c permanentememe
qualquer conteúdo teórico e de estar iniciando sempre tudo dc novo. com o qual
a metafísica moderna e a filosofia dâ religião combateram tndü a elaboração
consciente dc teoria. A teoria nào tem hoje um conteúdo e amanhã outro. As
suas alterações nào exigem que cia se transforme em uma concepção totalmente
nova enquanto nào mudar o período histórico. A consciência da teoria critica
sc baseia ao fato de que. apesar das mudanças da sociedade, permanece a sua
estrutura econômica fundamental — a relação de classe na sua figura mais sim
pies — e com isso a idéia da supressão dessa sociedade permanece idêntica. Os
traços decisivos do seu conteúdo. condicionados por este fnLO. nào sofrem ulieru
goto tnics da transformação histórica. Por outro lado a história nào ficará estau
nada aié que ocorra esta transformação. O desenvolvimento histórico das oposí
ções. com as quais o pensamento critico está entrelaçado altera a importância
de seus momentos isolados, obriga a distinções e modifica a importância dos
conhecimentos científicos especializados para a teoria e a práxis críticas.
A questão a que nos referimos ficará mais hem explicada com o conceito
da etasse social que dispõe dos meios dc produção. No período do liberalismo
a dominação econom ka estava fortemente ligada ã propriedade jurídica dos
meios de produção. A grande ciasse dos proprietários privados tinha o comando
social, e a cultura global dessa época cru caracterizada por essa relação. Compn
ra n jo com a época atual, a indústria consistia num grande número dc pequenas
empresas autônomas. A direção du fabrica era exercida por um ou mais proprictá
rios ou seus encarregados diretos, dc acordo com o grau dc desenvolvimento tcc
meo da época. Com a rápida e progressiva concentração c centralização do ca pi
tal. propiciadas por esse desenvolví mento, a maioria dos. proprietários jurídicos
foi al&stítdn da direção díb grnrutes empresas em formação, que absorveram suas
fábricas. Com isso a direção adquiriu autonomia face ao titulo dc propriedade
jurídica Surgem então os magnatas industriais, os comandantes da economia,
fim muitos casos, os proprietários mantem no início a maior pane da propriedade
dos grupos econômicos cm suas mãos. Hoje esse detalhe deixou de scr essencial.
ü alguns poderosos nKjjiojjrry controlam setores inteiros da industria. Apenas um
número cada vez menor deles tem propriedade jurídica sobre as fábricas que dirí
gcm. Esse processo econômico ira/ consigo uma mudança da função dos apare
tlios jurídico t político, e também uma mudança üa função das ideologias. Sem
que a definição jurídica da propriedade tenha sido alterada, as proprietários sc
tornam cada vez mais impotentes diante dos diretores e seus comandos. O con
troic direto sobre os recursos das grandes empresas dá à direção uma tal força
que seria absurdo esperar uma vitória dos proprietários na maioria dos processos
que esies venham a instaurar motivados por divergências com :i direção. A in
fluência du direção, que inicialmente se restringiu ás instâncias jurídicas c ncimi
nistrativas mais baixas, alcança depois as mais altas instâncias, e. por fim, o
Estado c a sua organização dc poder. Com o seu afastamento da produção eletiva
c com a suu infitténcia redu/iíla. diminuiram se as perspectivas dos simples donos
de títulos de posse: as condições de vida e a apresentação pessoal dos proprictá
150 HORKHFJMER
nos tomam-se cada vez mais impróprias para posições sociais importantes. C.
por último, aparece a parte que ainda recebem de suas propriedades, conto moral
mente duvidosa e Noçialmentc inútil, por nào poderem realizar efetivamente algo
para o desenvolvimento de sua propriedade. Surgem então ideologias conectadas
estreitamcnlc com estas e outras transformações: a ideologia das grandes persona
Iidades e da diferença entre capitalistas, produtivos e capitalistas parasitários. A
representação de um direito autônomo de conteúdo fixo perde n sua importância.
Do mesmo grupo que, exercendo u poder sobre os meios de produção, mantém
â força o núcleo da ordem social dominante, partem os ensinamentos políticos
de que a propriedade improdutiva e a renda parasitária teriam que desaparecer
Com a redução do número dos que são efetivamente poderosos aumenta a pussi
bilidade da elaboração consciente de ideologia e do estabelecimento de uma dupla
verdade, onde o saber é reservado ao& ittsiders u a interpretação deixada ao povo.
e se espalha o cinismo contra toda verdade e todo pensamento. No fim deste
processo perdura uma sociedade nào mais dominada por proprietários indepen
dentes, mas por camarilhas dc dirigentes iridtislriais e políticos.
listas transformações condicionam também modificações na estrutura du
teoria crítica. A teoria crítica não se deixa enganar pela aparência, isto é. pela
ilusão fomcntüda meliculassijnentc nas ciências sociais, de que propriedade c lu
oro não desempenhariam mais o papel decisivo. De um lado. n teoria crítica ja
mais viu as relações jurídicas como essência. Ao contrário, considera as como
a superfície do contexto social e fcíibe que a disposição sobre homens c coisas
permanece nas mãos de um grupo especifico da sociedade, que na verdade con
corre menos no próprio país. mas que se encontra numa concorrência cada vez
mais acirrada com outros poderosos grupos econômicos no plano internacional,
O lucro provem das mesmas fontes soei sus que antes, e tem que .ser aumentado
da fôrma costumeira. Por outro lado. parece desaparecer junto com a eliminação
dc todo direito de conteúdo determinado, fruto da concentração do poder econô
mreo e realista plena mente nos Estudos autoritários uma ideologia aliada a um
fato cukurul que ao lado dc seu aspecto negativo tem tamhém um caráter positivo.
A teoria, tomando em consideração esins trunsformaçoex na estrutura interna da
classe empresarial, modifica tamhém outros conceitos. A dependência da cultura
Irente às relações sociais mudará nté nos mínimos detalhes, na medida mesma
das mudanças ocorridas nestas relações sociais, se c que sociedade c um lodo,
Também com relação à época do liberalismo as concepções morais e políticas
dos indivíduos puderam ser reduzidas dc sua situação eçonònlica. ü respeito ao
caráter franco c leal. á palavra de honra, :i autonomia de um julgamento, etc.,
é resultado dc uma sociedade dc sujeitos econômicos relaiivamente independentes,
unidos por meto de contratos. Mas essa dependência era mediada psicológica
mente, e mesmo a moral possuía uma espécie de firmeza em virtude de .«.ua função
no indivíduo. (A verdade de que a dependência da economia também tomava
conta dessa moral ficou d ara quando recentcmcnlc as posições econômicas da
burguesia liberal foram ameaçadas e a convicção dc liberdade desapareceu aos
poucos.) FrUretamo, sob o capitalismo monopolista também esse tipo de indepén
TEORIA I K A D IC ÍO N A L E TEO RIA CRÍTICA 151
dência relativa dt> indivíduo deixou de existir. O indivíduo deixou de ter um pen
sarnento próprio. O conteúdo da crença das massas, no qual ninguém acredita
muito é o produto direto da burocracia que domina a economia e o Estado. O s
adeptos dessa crença seguem em segredo apenas os seus interesses atomízados
e por isso não verdadeiros; des agem como meras funções do mecanismo econô
mico.
Com isso muda também o conceito da dependência cultural do econômico.
Esse. conceito deve ser entendido pelo materialismo vulgar, mais facilmente que
antes, como a destruição do indivíduo típico. A s explicações dos fenômenos so
ciais tomaram-se mais fáceis e. ao mesmo tempo, mais complexas. Mais fáceis
porque o econômico determina os homens de uma forma mais dircia e mais eons
ciente, c porque a força relativa de resistência e a substancialidudc das esferas
culturais se encontram num processo de desaparecimento. Mais complexas por
que a dinâmica econômica desenfreada degrada a maioria dos indivíduo» à condi
çào de meros instrumentos e traz constautemcntc. em curto espaço dc tempo,
novos espectros u infortúnios. Mesmo os grupos mais avançados da sociedade
são desencorajados, tomados pela total desorientação reinante. Também a ver
ilude na sua existência depende das configurações da realidade. No século X V I I I ,
na Fran ça, a verdade tinha o apoio de unia burguesia já economicamente desen
volvida. Nt> capitalismo monopolista83 e nn impotência dos trabalhadores diante
dos aparelhos repressivos dos Estados autoritários, a verdade se abrigou cm pe
quenos grupos dignos dc admiração, que. dizimados pelo terror, muito pouco
tempo têm para aprimorar a teoria. Os charlatões lucram com isso c o estado
intelectual geral das massas retrocede rapidamente.
O exposto acima visa u esclarecer que a transformação constante das rela
çòes sociais c resultado direto do desenvolvimento econômico, se expressa na
composição da camada dominante e não atinge somente alguns ramos da cultura,
mas. o sentido de sua dependência da economia. Com isso atinge também o eon
ceito da concepção global. Essa influência do desenvolvimento social sobre a cs
truiura da teoria faz parte dc seu próprio conteúdo. Por isso os novos conteúdos
não são incluídos mecanicamente nas partes já existentes. Ao mesmo tempo que
a teoria constitui um todo unitário, que alcança o seu significado peculiar apenas
na relação com a situação atual, da também se encontra numa evolução que,
apesar dc suas transformações mais reecnies. não sõ suprime seus fundamentos
como nào modifica a e.s.sência do objeto refletido por cia. isto c. a essência da
sociedade atual Mesmo os conceitos, que aparentemente são os mais afastados
do núeleo da teoria, sàu contudo englobados no processo. A s dificuldades lógicas
descobertas peto entendimento em qualquer pensamento que reflita uma totali
dade viva se baseiam principal mente nessa particularidade. Sc sc retiram concei
tos e juízos isolados da teoria e se comparam com os de outra concepção anterior.
surgirão contradições. Isso é válido tanto para a relação reciproca d*N etapas
do desenvolvimento histórico da teoria como para as etapas lógicas dentro dcln
própria. Nos conceitos dc empresa c empresário existe uma diferença, por maior
que seja a idetiLidadc. Eslu iHterciiça dependerá da pro1 eniêneia cios conceitos.
Se têm a sua origem na primeira forma da economia burguesa, serão diferentes
dos conceitos correspondentes ao capitabsTuo desenvolvido, do mesmo modo que
os conceitos que resultaram da crítica da economia política do século X I X . que
visava aos fabricantes libera listas, serão distintos '{aqueles que provem da critica
da economia político do século X X . que traía dos rubricamos monopolistas. D:i
mesma forma que o próprio empresário, a representação que sc la/. dclc passa
pur um desenvolvimento. A s contradições das partes isoladas da teoria não sào
portanto resultantes de erros ou definições mal cuidadas, mas resultam do fato
da teoria visar a um objeto que ve transforma çonstantemente e que apesar do
esfacelamento não deixa de ser um objeto único. A teoria não acumula hipóteses
sobre o desenrolar de acontecimentos sociais isolados, mas constrói a imagem
des envolvida do todo. dt> juiro existencial tínplohado na história, O que era o
empresário, ou melhor, o burguês -cm geral, c que está comido cm seu caráter
raciona! isi a quanto rios traços não racion alistas dos movimentos dc massa atuais
das classes médias, remonta à situação econômica inicial da burguesia c está
assinalai Io tins conceitos básice» dn teoria. Mas. desta forma diferenciada, essa
origem só se torna visível nas lulas. As atuais, e não Sãmente pelo Fnto dc a
burguesia sofrer transformações nestas lutas, mas lambem porque, em relação
n isso. o interesse c a aknçao cto sujeito teórico condicionam outras acentuações.
Pode ser que corresponda a um interesse sistemático c que não seja rambém
de lodo inútil o interesse de classificar c comparar as variadas formas de depcn
dcncia, de mei çadoriti. dc classe, de empresário, erc.. nas fases histéricas l- lógicas
díi leoria. Já que o sentido da teoria, em última instância, só se toma claro com
o todo da construção intelectual. que tein que se adequar sempre às novas situa
çõés, tuis sistemas de espécie e sabes peeies. definições c especificações dc concéí
tos emprestados da teoria critica nâo costumam nem mesmo possuir o valor dc
um inventário dc conceitos dc nutras ciências especializadas, que pelo menos po
dem scr mili/ados ua prática rclutivamcme uniforme da vida cotidiana. Transfor
mar n teoria crílicíi da sociedade em sociologia é por princípio, um empreendí
mento problemático.
A questão aqui tratada sobre a relação cm re pensamento e tempo está ligada
a uma dificuldade especifica. I simplesmente impossível falar, em sentido estrito,
de alterações de uma teoria correia. Ao contrário, a constatação dc tais alterações
pressupõe uma teoria que está afetada pelos mesmos problemas. Ninguém pode
colocar ve como sujeito, u não .scr com o sujeito do instante histórico. A discussão
SOhrs a constância ou mutabílidade da verdade- só tem valor para u.s mcruulidodes
polêmicua. isso contraria a suposição de um sujeito absoluto e supra histórico
e a substitutbifidadc des sujeitos, como se fos.se real mente possível a transposição
do m oinenio histórico atual para qualquer outro m om ento histórico, passado ou
futuro. Até que ponto i^su é possível não constitui agora o nosso problema. Em
todo o c a s o , a icoria critica ê incompatível com a crença idealista de que ela
própria representaria algo que transcende os homens, que possui algo assim como
TE O R IA T R A D I C I O N A L E T E O R I A C R Í T I C A 153
crescimento. Os documentos estão inseridos numa historia, mas a teona não está
presa a um destino. A afirmação de que momentos determinados foram engloba
dos pela teoria e de que ela teria de se adequar no futuro a novas situações sem
ter que transformar essencial mente o seu conteúdo pertence ã teoria na forma
em que ela existe e na torma em que eln procura determinar a ptáxis. Aqueles
que possuem a teoria uiilittim na como um iodo e agem em conformidade com
esse todo. O aumento constante de uma verdade independente do* sujeitos, c a
confiança no progresso das ciências só podem estar relacionados, em sua validade
limitada, com aquela função do saber que continuará também sendo necessária
na sociedade futura, isto ú\ a dominação da natureza, Esse saber pertence também
à totalidade social c existente. A condição prévia para se fazer afirmações sobre
duração ou transformação, isto c. a continuação das formas conhecidas dc produ
ção e reprodução econômica, equivale, cm certo sentido, à substituibilidade dos
sujeitos. O falo d« a sociedade ser dividida cm classes não impede a identificação
dos sujeitos humanos. O próprio saber é uma coisa quC é transmitida de geração
em geração, e que os homens necessitam para a sua própria vida. l ambém neste
aspecto o cientista tradicional pode estar tranquilo.
A construção da sociedade sob a imagem de uma transformação radical
que ainda não passou peta prova dc sua possibilidade real carece do mérito dc
ser comum a muitos sujeitos. O desejo de um mundo sem exploração nem opres
são. no qual existiría um sujeito agindo de fato. isto é. uma humanidade autocons*
cicntc. c no qual surgiríam as condições de uma elaboração tcôricíi unitária bem
como dc um pensamento que transcende os indivíduos, não representa por si só
a efetivação desse mundo. A transmissão mais exata possível da teoria critica
1- condição para o êxito histórico Mas essa transmissão não ocorre sobre ti base
firme de uma próxís esmerada e de modos dc comportamentos fixados, mas sim
medida pelo seu interesse na i rans formação. Esse interesse, que é reproduzido
necessariamente pela injustiça dominante, deve ser enformado e dirigido pela pró
pria teoria, ao mesmo tempo que exerce uma ação sobre ela. O circulo dos rçpre
sen Lurdes desta tradição não adquire novos limites nem e renovado pola* leis orgá
nicas ou sociológicas. Fssc círculo não é constituído e mantido por heranças
biológicas ou lestamemáiiaâ. mas pelo conhecimento vineulante. c esse conhcci
mento garante apenas n sun comunidade atual e não a sua comunidade futura
Provida dc todos os critérios lógicos, a teoria carecerá, até o final do período
histórico, da sua confirmação pela vitória. Até que isso ocorra, ela lutará pela ver
são e pela utilização correta Ju teoria. A interpretação feita pelo aparelho
de propaganda e pela maioria não precisa ser. por isso, a melhor. Antes da trans
formação geral da história a verdade pode refugiar se nas minorias. A história
ensina que tais grupos inquebruntáveis. apesar de serem pouco notados e até
mesmo prescritos por outros setores da oposição, podem, devido a sua visão mais
profunda, chegar a postos de comando nos momentos decisivos. Hoje em dia.
no momento cm que todo poder dominante força o abandono dc todos os valores
culturais e impele a barbárie obscura, o círculo de solidariedade verdadeira tnos
tra-se sem dúvida bastante reduzido Os inimigos, isto é. os senhores desse pe
\5i HGRKHEIMER
154 "dt Mjfjmiu i fji;u:.;í ,vj ■n c t a ! ' \ nu .:U Ji- a 3-;h a:tk. |S. Ju> T i
Bí 1 trnaç. na cJ. J c a Sslimiüi, apaiícc da segiiuttc íormü: "Suu própria condição tnutre l cia m
iransfoín ação histórica, y reelizarib de um estada tiejusiico m rrrtt ftnmms " 1N dos i }
FILOSOFJ A E TEORIA CRÍTICA1
\’uta prelim inar:2 Sobre o ensaio r'Teoria Tradicional e Teoria Crítica", publi
cado no úI limo número dtsslá revista, foram feitos muitos comentários deialhaik>s.
O significado da jüosofltt, ou m e l h o r , a questão do papel a ser desempenhado
peto pensamento atual, fo i o temo mais iinportuntc destas críticas, A nossa parti
Cipaçâo neste debute teve como base as contribuições que se seguem.
M. H.
1 fcstc ais mu foi fiublicuiio na coletanea cJu.ida por Mfrcd Schaidc iMax Horkhcnncr. Kritãehe Thtmie
rim Ktiluwitatt/m. S. Fl« h w Vertas. PrrmkFun am Main. 10ríX i wh . límlp .Se Narhtrag (Apíndici*)
<N. díis T ) Trfttli».wk> cki original ale mio: "Ptiãlo&ophu- umi kriuclK íhoorte". cm àtulschnfi fucr Sòziül
ftftschung. Ano V II l |9.1 7), pp. 7V4
} Esta n o u preliminar nào COflMO dn cillção Oc A . SchrrjwJ; (N . do» T .)
J Esta passagem Ibi omitida na «d. de A. Schmidt. Horidieimer se retiere a 1937. a«o da publicação do reíe
n.Il'i artigo no Zeitsehefp /ú<rXfulutfonehunít. 1N dos T 1
] sei H O K K H tIM E R
dos onde não se pode nem mesma pensados sem a radicai oposição ao indivíduo,
isto é. em seu sentido m a is c la r o . A coletividade c equiparada com a ordem deca
dente por de.s defendida. No conceito do egoísmo sagrado c do interesse vital
•da coletividade nacional imaginária, o interesse dos próprios homens por um de
^envolvimento sem obstáculos e e x istê n c ia feliz é confundido com a ânsia de pu
der d o s grupos d o m in a n te s. 0 material^mu vulgar, que tem a sua práxis criticada
pelo materialismo dialético, está envolto nuin palavreado idealista cujo desvendar
exerce atração sobre os seus adeptos mais fiéis.5 Kssc ripo de materialismo tor
nou-sc a verdadeira religião da atualidade. Vias, se o pensamento especializado,
manieiidu-se nurn conformismo contínuo, rejeita todo tipo de ligação interna. com
os pretensos juízos de valor, e se empreende com extremo rigor y separação entre
pensamento c decisão prática. por sua ve/ ;i falta de ilusões lor levada brutal mente
às últimas consequências pelo niitismn dos donos do poder.
Segundo esse pensamento, o juízo de valor pertence à lírica nacional ou serve
para sei proclamado diante do tribunal popular, mas nunca diante du instância
tio pensamento. A teoria crítica que visa à felicidade de todos os indivíduos, ao
contrário dn> servidores dos listados autoritários, não uçeita a continuação da
miséria. A autocomemplaçâo dü razão, que constituiu o grau máximo de Felici
da de para a velha filosofia, st? transformou, dentro do pensamento mais recetltc.
rto conceito materialista da sociedade livre c nuíodctcrminantc O que resta do
idealismo c a crença do que as p o s s ib ilid a d e s Uü homem são outras, diferentes-
tia incorporação ao existente c da acumulação de poder e lucro.
Desde a derroto, de todas as aspirações progressistas nos países europeus
alta mente desenvolvidos, tem <c alastrado a contusão mesmo entre os represen
tan icsJ da teoria crítica. Isso se dá mesmo com o aparecimento, no teoria e na
práxis a elo contrárias, de alguns de seus demento*, mas cm sentido inverso.
O próximo PbjetiYo histórico c. de fato, a abolição das relações sociais que emper
ram atualmente o desenvolvimento social. Abolição, tu> entanto, é uni conceito
dialético. A transformação dos bens privado^ em propriedade estatal, a expansão
industrial e mesmo o amplo contentamento das massas terá o o seu significado
histórico definido apenas na natureza do todo. no qual estão inseridos. Por mais
importante que sujam facc ao estudo de coisas arcaico, luis elementos podem,
rto entanto. ser englobado*. por um movimento retroativo. O mundo envelhecido
sc desmantela devido a um princípio de organização econômica ultrapassado,
A decadência cultural esta implicada nisso. A crítica teórica e prática tom que
focalizar inicial mente u causa primeira da miséria, a economia. Mas. julgar tam
bém ui* formas du sociedade futura, baseando se apenas na sua economia, não
" A forma c u íouieuvfo ,la crimçft ilifu* sàu ulilikremes um íiO ímin:- O que $ç acicdiir» re^cfeulc1no jius
■ )c títniiífci.ir íitg» vniio verdadeiro. Os cornaidííS U.i lücolnv.ia LU raça ('iwAlSfAir/ew/flflrt que icmlrn
ri.i . luiii) u^. mh, i J-í pdo espírito ao imuwfo industrial, n*i «m apreendidos d.* m;imo nrmifo que uma
vsrdaur ifiuilqtia, MiArtíu lis i|ue nuw depcmtrm ..Ma. nii com pensamaiiu-i -“pirdlctaisi u»dns
vibviti HS |>raiicn <i ,|IIC KM» danifica. S»j a . que ouvem penaam que •.« orndor min acredUa IW que dtt.
ívSii r>ã,i ii-m (hiIiil ,'on«n|uúnk‘iJ snniu? Huwcnnu o posl«r tUsic. Ldes >e cHvcncm com Uli JnStdíult1 Mu.
quarufo : -it-a/ção -ea^uvil.CMu COrtluniíladc iiãu i:i.i|lSCfUt resistir. [V. drt A I
‘ 'irn irL o*t de]htoares " lia irii, dv A. SdltUÍtll. I A ikK 1 d
F I L O S O F I A li T E O R I A C R Í T I C A 159
seguem, além dos seus perseguidores. Mesmo assim a verdade será comprovada,
pois o fim de uma sociedade racional, que hoje parece estar preservada apenas
na imaginação, pertence d ei iv amante a todos as homens.
Kssii não è contudo uma afirmação tranquilizante. A realização das pnssibi
lidades depende das lutas históricas. A verdade sobre o futuro nào é um registro
de fatos «.lados, atja única particularidade eonsislisse em estar contida num in d e x
especial. A própria vontade desempenha ni um papel, c nào deve se acomodar
pelo simples fala d:i prognose ser possivelmente verdadeira. Mesmo depois da
instauração im nova sociedade. a felicidade cíe s c ik membros nào seria um eqi^
valente para a desgraça daqueles que perecem na sociedade atual. A teoria não
iraz a salvação para os seus representantes. Apesar de seu ímpeto e eja vontade
própria, ela não prega um estudo psíquico, como o cstoicismo ou o cristianismo.
O s mártires da liberdade nào buscavam a sua tranquilidade psíquica. Sua filosofia
era a própria política. Se é verdade que suas mentes sc mantiveram tranquilas
diante do terror, isso contudo não passou a constituir a sua meta. Tampouco
o medo seria um agravante contra des. Os instrumentos de poder não perderam
a eficácia que tinham nos tempos da penitencia e da retratação de G alileu: o
ijtie estes aparelhos tinham de atrasado no século X L X , ero relação a outras ma
quinarias. foi amplamente recuperada nns ultimas décadas. Aqui o fim de um
período histórico aparece também como o retorno ao início, num grau mais ele
vado. P a ia Goeíhe a felicidade reside na personalidade. Sc isso é válido, temos
lambem que considerar o que foi recuwcrocnte acrescentado por OUtro poeta: u
posse da personalidade é uma instituição socuil que se pode perder a qualquer
hora, O fascista10 Pirande!Io conheceu seu tempo melhor do que pressupunha.
Para os homens que vivem sob a dominação totalitária do mal. não somente suas
vidas conto õ próprio Eu dependem do acaso. As retratações significam hoje
menos ainda do que na Renascença. A filosofia que pretende se acomodar em si
mesma, repousando numa verdade qualquer, nada tem a ver. por conseguinte,
com a teoria crítica.
Tr;idm,íV- ele I ui/ Joio Htirjiútm. fcvi&i.i por João Marcos Coelho
(O Prttchiam t/ tui M ú sic a t a Rcgr\ \Kãir du A u d içã o ),
Rubens Rodrigues Torres- Filho com assessoria cie Rotwrto Schwar/
H, ir ira t Sncirdade),
Wollganj; Lee Maor
(Introdução à C.'onlroxvrtía Sobre o Positivismo na Sociologia AieinâJ.
Hívhcrtn Schu-ar? (Idrlrtf paru a Sociologia do X-íâriat),
Modesto Caro ui; (Poaiçâo do Narrador nu Romance Con icmporáneu)
M
.
O F E T IC H IS M O NA M Ú SICA E A R E G R E S S Ã O DA A U D IÇ Ã O *
‘ Trateitlb iHxtrigiTiQi alcmao: 'Ueber Ketisclicharakier hsisdichrafcter tn der Musik uml die Kegrsssioa
des Hncrtps’" .-m Diasfirmrfzen, GtveUinpuri. !%3„ ViindcnhuccV umi Ruprechi. pp. 0 45
A D O RN O
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' U<c e;‘r n í0i>
ÊG8 AD O RN O
Todavta. O que eníão se emancipa da lei formal não são mais impulsos pro
dutivos uue sc opoem às convenções. O encanto, a subjetividade e a profanação
— os velhos adversários da alienação coisificantc sucumbem prectsamenie
a ela. Ü i tradicionais fermentes anti mitológicos da música conjuram. na era do
capitalismo, corura a liberdade, contra esta mesma liberdade que havia Sido ou
trora a causa de sua proibição, devido as afinidades que os uniam a ela. O s porta
bandeiras da oposição ao esquema autoritário sc transformaram em testemunhas
da autoridade ditatorial do sucesso comercial. O prazer do momento e da Tachada
de variedade transforma-se em pretexto para desobrigar o ouvinte dc pensar no
todo. cuia exigência está incluída na audição adequada, e justa: sem grande oposi
ção, 0 Ouvinte sc converte em simples comprador c consumidor passivo. O s mo
mentos parciais já não exercem função critica em relação ao todo pré fabricado,
mas suspendem a critica que a autentica globalidade estética exerce em relação
aos males, da sociedade, A unidade sintética e sacrificada aos momentos parciais,
que já não produzem nenhum outro momento próprio a não ser us codificados,
e mostram-se condescendentes a estes últimos. Os momentos dc encantamento
demonstram-sc irrcconciíiávds com a constituição imanente da obra de arte. e
esta última sucumba àqueles toda vez que a obra artística tenta elevfi.r-.se para
a transcendência. Os referidos momentos isolados de encantamento não sào re
prováveis em si mesmos» mas tão-somente na medida em que cegam a vista. Colo
cam-se a serviço do sucesso, renunciam ao impulso insubordinado e rebelde que
lhes era próprio» conjurintt-sc para aprovar c sancionar tudo n que um momento
isolado c capa? dc oferecer a um indivíduo isolado, que lia muito lim po já deixou
complciamcme de existir. Os momentos dc encanto o dc prazer, ao se isolarem,
embotam o espirito, Quem a eles sc entrega c tão pérfido quanto os amigos noéti
COs cm $eus ataques ao prazer sensual dos orientais. A força dc sedução do en
carteo c do prazer sobrevive somente onde ns forças de renúncia são maiores,
o o seja: na dissonância, que nega le t fraude da harmonia existente. O próprio
conceito dc ascética é dialéuco na musica. Se em outros tempos a ascesc derrotou
as exigências estéticas reacionárias. nos dias tfuç «correm ela se transformou cm
característica c bandeira dri arte avançada. Obviumema tal não acontece em vir
tude de sua deficiência arcaizaníe de meios, na qual a miséria e a pobre? a sào
enaltecidas, mas antes por rigorosa exclusão de tudo o que é culirtariumenic gos
toso e que deseja ser consumido de imediato, como sc na arte os valores dos
sentidos nào fossem portadores doa valores do espírito, que somente se revela
c so degusta no todo» c nào em momentos isolados du matéria artística. A arxc
considera negativa prccisametuc aquela possibilidade de felicidade, à qual se con
trapõe hoje a antecipação apenas parcial e positiva q& felicidade. Toda tfrte ligeira
e agradável tomou-se mera aparência e ilusão: o que se nos antolhu esteticamente
em categorias de prazer jã não podt icr degustadpr; a proiuessv (tu honheur —
foi assim que uma ve? se definiu :t arte — já nào se encontra cm lugar algum,
a não ser onde a pessoa lira a máscara da falsa felicidade. O prazer só tem lugar
ainda onde ha presença im ediato, tangível, corporal. Ondu carece de aparência
estética é ele mesmo fictício e aparente segundo crírérios estéticos e engana ac
O FETÍCHISMO NA MÚSICA 169
eia que <5 próprio motivo da discussau. A s vozes dos cantores constituem bens
sagfados de valor igual ;\ uma m arca de fabricação n a cio n a l. Com o se as vozes
quisessem vingar-sc disto, já começam a perder o encantamento dos sentidos em
cujo nome são tratadas. Na maioria dos casos, soam como imitações dos arrrvis
tas. mesmo quando elas mesmas são anivistas. Todo este processo cu lm in a aber
tamente no absurdo do culto que se presta aos grandes mestres do violino. Cai-se
proatamente em estado <fe êxtase diante do belíssima som convenientemente
anunciado pela propaganda de um SlradiVárius ou de um Am ati: no entanto,
só podem ser disítnguãdos de um violino moderno razoavelmente bom por um
ouvido especialiiíidu, esquecendo se de prestar atenção à composição ou à execu
çào. da qud sempre sc podería ainda Lirar aipo de valor. Quanto mais progride
a moderna técnica dc fabricação de violinos, tanto maior é o valor que se atribui
;u?.s instrumentos antigos. De vez que os atrativos dos sentidos, da voz e do instru
mento são fetiçihizados c destituídos de suas funções únicas que lhes poderíam
conferir sentido, cm idêntico isolamento lhe*, respondem — iguaimente distancia
das e alheias ao significado do conjunto c igual mente determinadas pelas lei*-
do sucesso — as emoções cegas e irracionais, como as relações com a música,
na qual em ram carentes de relação. Na realidade, as relações suo :vs mesmas
que sc verificam entre as músicas dc sucesso e os sçys consumidores. Parcce-lhcs
próximo o totalmcnte estranho: Lio estranho, alienado da consciência das massas
por um espesso véu. como alguém que lenta falar nos mudos, Se estes porventura
ainda reagirem, já não lará diferença alguma se se truta da Sétima Síufottia ou
do short de battbu.
O conceito de fetichismo musical não sc pode deduzir por meios purameme
psicológicos, O faro de que "valores’* sejam consumidos c atraiam os afetos sobre
si. sem que suas qualidades específicas sejam sequer compreendidas ou apreendí
das pelo consumidor, constitui uma evidência da suo característica de mercado
ria. Com efeito, a música atual, na sua totalidade, c dominada pela característica
dc mercadoria: os últimos resíduos pre capitalistas foram eliminados. A música,
com todos os atributos do cièreo e do sublime que lhes são outorgados com libera
lidnde, ê utilizada sobretudo nos Estados U nidos.com o instrumento pftra a propa
parida comercial de mercadorias que é preciso comprar pura poder ouvir músicu.
Se é verdade que a função propagandislica è cuidadosamente ofuscada cm sc
tratando dc música seria, no âmbito da música ligeira tal função sc impõe Cm
toda parte. Todf» o movimento do jazz, çum a distribuição grátis das partituras
ás diversas orquestras, está orientado no sentido dc a execução ser usada como
instrumento de propaganda para a compra dc discos c dc reduções pata piano
Inúmcros são os textos de músicas de sucesso que enaltecem a própria canção,
cujo título repetem cortsianiemertte em maiusculas. O que transparece em tais
Letreiros monstruosos è o vafoT de troca, no qual o qtumtum do prazer possível
desapareceu. Marx descreve o caráter feridhism da mercadoria como a veneração
do que é auto fabrica do, o qual, por sua vez, na qualidade de valor de troca sc
aliena tanto do produtor corno do consumidor, ou seja. do “homem ". Escreve
Míirx: kfcO mistério da forma mercadoria consiste simplesmente no seguinte: ela
O FETICHISM O NA M ÚSICA m
devolve aos homens, como um espelho, os caracteres sociais do seu próprio traba
Iho como caracteres dos próprios produtos do trabalho, como propriedades natu
rais e sociais dessas coisas; em consequência, a forma mercadoria reflete também
a relaçàc social dos produtores com o trabalho global como uma relação social
de objetas existente fora deles” . 5 Este é o verdadeiro segredo do sucesso. É o
mero reflexo daquilo que se paga no mercado pelo produto: a rigor, o consumidor
idolatra o dinheiro que cle mesmo gastou pela entrada num concerto de T o sc a -
nini. O consumidor ‘'fabricou' tilcralmcnle o sucesso, que ele coisifiea e aceita
corno critério objetivo, porém sem se reconhecer nele. “Fabricou” o sucesso, não
porque o concerto lhe agradou, mas por ter comprado a entrada. É óbvio que
no setor dos bens da cultura o valor de troca se impõe de maneira peculiar. Com
eleito, tal setor se apresenta no mundo das mercadorias precisamente como ex
cluido do poder da troca, como um setor de imediatidade em relação aos bens.
c c cxclusivamente a esia aparência que os bens da cu ltu ra devem o seu valor
de troca. Ao mesmo tempo, contudo, fazem parte do mundo da mercadoria, são
preparados para o mercado c sàa governados segundo os critérios deste mercado,
A aparência de proximidade c imediatidade é tão fcal quiãnto é inexorável
a pressão do valor de troca. A aceitação e o acordo social harmonizam a contra
dição. A aparência de imediatidade apodcra-sc do que na realidade não passa
de um objeto de mediação do próprio valor de troca. Se a mercadoria se compõe
sempre do valor de troca e do valor de uso, o mero valor dc uso aparência
ilusória, que os bens da cultura devem conservar, na sociedade capitalista —
é substituído pelo mero valor dc troca, o qual. prccisamcntc enquanto valor dc
iroca, assume ficticiamente a função de valui dc uso. Ú neste tiiiiproquó especifico
que consiste o específico caráter lêtiçhista da música: os efeitos que se dirigem
para o valor de troca criam a aparência do imediato, c a falta dc relação com
o objeto ao mesmo tempo desmente tai aparência. lisLa carência dc relação ba
seia se no caráter abstraio do valor de troca. D c tal processo dc substituição
social depende ioda a satisfação substitutiva, toda a posterior substituição “ psico
lógica".
A modificação dn função d.n música atinge os próprios fundamentos da rela
çào entre arte c socicdudc. Quamo mais inexoravelmente o principio do valor
dc troca subtrai aos homens os valores dc uso. tanto mais impeneiravdmenlc
sc mascara o próprio valor de iroca como obieto de prazer. Tem se perguntado
qual seria o fator que ainda mantem coesa a sociedade da mercadoria (e con
sumo). Para elucidar tal fato pode contribuir aquela transferência do valor de
uso dos bens de consumo para o seu valor dc troca dentro de uma constituição
global, na qual, fimalmeme, todo prazer quc.se emancipa do valor dc troca assume
traços subversivos. O aparecimento do valor de troca nas mercadorias assumiu
uma função específica de coesão. A mulher que possui dinheiro para as compras,
delicia-se no ato mesmo de fazer compras, Having a good time (“ Passar momen
tos agradáveis”) significa, na linguagem convencional americana, participar do
divertim ento dos outros, divertim ento que, a seu turno. tem com o único objeto
e m otivo o p articip ar. A religião do autom óvel fife com q ue. no mom ento sa c rr
m ental, todos os hom ens se sintam irm ão s ao som tias palavras ‘'este é um Ralis.
R o v c e . P o r outra pnrte, para m uitas m ulheres, as situações de intim idad e, em
que tratam dos cabelos c fazem a rnaquilagem . são m ais ag rad áveis do que as
situ a çõ e s dc intim idad e la.m íkar c conjug al para as q uais se destinam o penteado
e a m aqnitagem , A relaçã o com o que é destituído de relação trai a 5 tia natureza
so e i 5,1 n a obediência. T u d o se m ovim enta e se luz segundo 0 mesmo cornando;
o ca sa l de. autom óvel, que passa o tempo a id entificar ca d a ca rro com que cru za
c a alegrar-se quando possui a m a rca e n m odelo maus recentes- a m oça cujo
único p razer consiste em obser%rar que ela e o seu parceiro “ sejam elegantes":
o “ju íz o crítico ” do entusiasta do jazz. que sc legitim a pelo Fato de estai ao cor
rente do que é m oda inevitável. D ia n te dos caprichos teológicos das m ercad o rias,
OS consum id ores se transform am em escravo s d ó ce is, o s que cm setor algum se
sujeitam a outros, neste setor conseguem a b d ica r dc sua vontade, deixando-se
engana r totalm cnte.
Tanto no adorador feitichista dos bens- dc consumo como no dc “ caráter
sadümasoquistü“ c 110 ciienlc da arte dc massas de nosso tempo, verifica $£ o
mesmo fenômeno, sob aspectos diversos. A masoquista cultura de mascas consti
tui a manifestação necessária da própria produção onipotente A ocupação efetiva
do valor dc troca não constitui nenhuma iransubstunciação mística. Corresponde
ao comportamento do prisioneiro que ama a sua cela porque não lhe c permitido
amar outra coisa. A renúncia ã individualidade que se amolda a regularidade
rotmeira daquilo que tem sucesso, bem epifid o fazer o que iodos fazem, se
guem se do íaLO básico de que a produção padronizada dos bens de consumo
oferece pratica mente o*, mesmos produtos 11 todo cidadão. Per outra parte, à ne
cussidadc. imposta pilas Ids do mercado, de ocultar tal equação conduz à moni
pulaçãç úi> gosio c ú aparência individual da cultura oficial, a qual forçosa mente
aumenta na proporção em que se agigania o processo dc liquidação do indivíduo.
Tam bcm no âmbito da wpereslrutura. : l aparência nao é apenas o ocultamerno
da essência, mas resulta impcriosamcntc da própria essência. A iguâJdúdc dos
produtos oferecidos, que todos devem aceitar, mascara-se no rigor de um estilo
que se proclama unNcrsalmcnie obrigatório; a ficçào da rdnção dc olcrta c pro
cura perpetua âç nas nuança* pseudo individuais. Se coniestamos a validade do
go$Lc nu situação atual, è muite fácil compreender do que se compõe na verdade
c&ttí gosto, sm taj situação. A adaptação à lei comum c mcionahncntu apresentada
como disciplina, rejeição da arbitrariedade c da anarquia: a*.sim como c encarna
mento musical, pereceu também a noética musical, que tem sua paródia nos tem
pos dos compassos rigidamente contados. A isto uno se comptcmeniarmême a,
diferenciação casual no contexto estrito do quê é oferecido e preceituado. Entre
tanto, se o indivíduo liquidado acciLa rctiLineiUc e com paixão a exteriondade
consumada tias convenções coma critério, deve s í dizer que a épocu áurea do
gosto irrompeu num momento cm que não há mais gosto algum.
As obras que sucumbem ao fetichísm» e se transformam em bens da cultura
O F E T IC I1ISMO NA M ÚSICA 175
que. em virtude dos meios de comunicação de massas, são hoje atingidos pcios
programas musicais e os ouvintes do passado. O que regrediu e permaneceu num
estado infanLil Foi a audição moderna. Os ouvintes perdem com a liberdade de
escolha c eorn a responsabilidade não somente a capacidade para um conhcci
mento consciente da música — que. sempre constitui prerrogativa de pequenas
grupos mas negam com pertinácia a própria possibilidade dc se chagar a um
tal conhecimento. Flutuam entre o amplo esquecimento e o repentino reconhcci
mento, que logo desaparece de novo no esquecimento. Ouvem de maneira atonuV
tiea e dissociam o que ouviram, porém desenvolvem, precisamentç na dissociação,
certas capacidades que são mais compreensíveis em Lermos de futebol e automobi
Esmo do que com os conceitos da estética tradicional. Não são infantis no sentido
de Uma cnncepção segundo a qual o novo tipo de audição surge porque certas pe?
soas. que até ngora estavam alheias à música, foram introduzidas na vida musical.
F. ioda Via são infantis: o seu primi ti vismo não e o que caracteriza os nao desen
volvidos, e sim o dos que Foram privados violenta mente da sua liberdade. M ani
festam, sempre que lhes é permitido. O ódio reprimido daquele que tem
ã idéia de uma nutra coisa, mas a adia. para poder viver tranquilo, c por isso pre
fere deixar morrer uma possibilidade dc algo melhor. A repressão efetua se em
relação a esta possibilidade presente: mais concretomínte-, constata-se uma regres
são quanio u possibilidade dc uma outra música, oposta a essa. Regressivo é, con
tudo. também o papel que desempenha a atual música de massas na psicologia das
suas vitimas* Esses ouvintes não somente são desviados do que é mais importante,
mas confirmados na sua n&scidade neurótica. indcpcndcnlcmcncc dc como
as. suas capacidades musicais sc comportam em relação :« cultura especifica mente
musical dc etapas sociais anteriores. A sua adesão entusiasta às músicas desuccs
so e nos bens da cultura depravados enquadra sq no mesmo quadro dc sintomas
dos rostos, dc que já não sc sabe se Ibi o filme t|ue os tirou da realidade, ou a realt
dade do filme; rostos que abrem unia boca monslruosaménie grande com dentes
brilhantes, encimada por dois olhos tristes, cansados c distraídos. Junusmcntc com
o esporte e o cinema, a música dc massas e o novo tipo tlc audição contribuem
para tornar impossível o abandono da situação infantil geral. A enfermidade tem
significado conservador, Os modos de ouvir lí picos das massas atuais não são. em
absoluto, nove?*, e pode se conceder pucificamenie que a aceitação da canção dc
sucesso Puppchm. famosa antes da [1 Guerra, nao foi diferente da que se dispensa
a uma canção infumil sintética dc jazz. Todavia, ti digno de nota o contexto no
qual aparece uma ml canção infantil; a ridicularização masoquista do próprio de
sejo dc recuperar a felicidade perdida, cm o comprometimento da exigência da
própria felicidade mediante a rctroversào a uma infância cuja inacessibilidade dá
testemunho da inacessibilidade da alegria — esta é a conquista da nova audição,
e nada do que atinge o ouvido foge deste esquema dc apropriação. Sem dúvida,
subsistem diferenças sociaís, porém o novo tipo de audição vai lão longe quanto
a estupidez dos oprimidos atinge os próprios opressores: e diante da prepotência
da roda que se impulsiona a èl mesma se tornam suas vítimas aqueles que acredi
tam poder determinar sua trajetória.
O F E T IC H1SM 0 N A M Ú S IC A 181
■'.Nao-emenJo-itadn ncrnie próprio criado pof Aílamii a partir dc kanir (posso) nichis (nada)
imietidcrl, cosí» intenção irortimie.! W, di>fc..)
182 AD ORNO
posse, É possível que esta coarão o leve a rclTvlir sobre o titulo da musica de
sucesso. O texto escrito debaixo das notas musicais, que permite a identificação,
nào e outra coisa que a m arca comerciai da música de sucesso.
O modo de comportamento perceptivo. através do qual se prepara o esquecer
e o rápido recordar da música dc massas, c a descoiicemração. Se os produtos
normalizados e irremediavelmente semelhantes entre si exceto certas parttculari
da des surpreendentes, não permitem uma audição concentrada sem se tomarem
insuportáveis para os ouvintes. e$tcs, por sua vez. já nao sao absolutameme capa
zes de uma autliçãü concentrada Não consccuem míinter a tensão de uma
concentração atenta, c por isso se entregam resignadameme àquilo que acontece
e fluí acima deícs, e com o qual fazem amizade somente porque jã o ouvem sem
atenção excessiva, A observação de Wall cr Benjamim sobre a apercepção dc um
filme em estado dc distração também vale para a música ligeira, O costumeiro
ja zz comercial só pode exercer a sua Função quando è ouvido sem grande atenção,
durante um bate-papo e sobretudo como acompanhamento dc baile. Ue vez em
quando se ouvirá a opinião de que o jazz e sumam elite agradável num haile e hor
rívç] de ouvir, Contudo, se o filme cómo totalidade parece ser adequado
para a apreensão düwcniccntrada, é certo que a audição desconcentrada torna
impossível a apreensão de uma totalidade. Só se aprende o que recai exata mente
sob o facho luminoso do refletor: intervalos melódicos surpreendentes, modula
çòes invertidas. erros deliberados ou casuais, ou aquilo que cveniualmcntc se con
dena como fórmula mediante uma fusão particularmentc intima da melodia com
o texto. Também nisto há concordância cnerc os ouvintes e os produtos; a csiru-
Lura, que não têm capacidade de seguir, nem sequer lhes é ofcrcosda. So é verdade
que, cm w* tratando da música superior, a audição utQillísiita significa decomposi
çán progressiva, também é inquestionável que no caso da música inferior jâ nada
mais «xisto que seja suscetível dc decomposição. Com eleito, as formas dois succs
sos musicais sat» tão rigidamente normalizadas c padronizadas, até quanto ao
número de compassos c à sua duração, que em uma determinada peça isolada
nem sequer aparece uma forma especifica. A emancipação das partes cm relação
ao todo c em relaçao n todos os momentos que ultrapassam a sua presença ime
diata inaugura O deslocamento do interesse musical para o atrativo particular,
sensual, Ê significativa a atenção que os ouvintes dispensam não somente a deter
minadas habilidades acrobáticas: instrumentais, mas também aos diversos colori
dos dos instrumentos enquanto tais: atenção que í* ainda mais estimulada pela
pratica da música popular americana, pelo fato de que cada variação - chorus
— apresenta com predileção um determinado timbre instrumental peculiar
a clarineta, o piano, o trompete de modo quase çonçei Uirile. Chega-ac até
0 ponto em que m ouvintes parecem preocupar-se mais com o "estilo” do que
com o próprio material a música — que c em todo caso indiferente; a única
coisa importante é que o estüo assegure efeitos parricu lares de atrativo sensoraal
Evi dentem ente, esta predileção pelo colorido ou timbre como tal manifesta um
endeusamtuto do instrumento c n desejo de imitar e participar; possivelmente
entre tambern cm jugo algo do poderoso encantamento das crianças pelo muliicor.
que retoma sob a pressão da experiência musical contemporânea.
Ü FET1CHISMO NA M USICA IS?
çôes ás quais se deve anexar um a L'bula de uso” ou um texto sócia] para se ^ííber
quais são as suas motivações profundas.
Enaltccc-sí* um aspecto positivo da nova música de massas e da audição
regressiva: a vitalidade e o progresso técnico, a ampla aceitação coletiva e a rela
ção com uma prática indefinida, em cujos conceitos Cfltrou a autodeminda dos
intelectuais, ok quais em ultima análise podem eliminar a sua alienação das mas
sas porque unificam sua consciência com a atual consciência de massas. O ra.
este aspecto que se diz positivo na verdade è negativo, ou seja. a irrupção, na
música, de um fa.se catastrófica da própria sociedade. O positivo só existe na
sua negatividade. A música de massas íetscliizada ameaça OS valores culturais
fetiçhizados. A tensão entre as duas esferas musicais cresceu de tal forma que
se toma difícil à música oficial susLentar-se. Embora Lenha muito pouco a ver
com os padrões técnicos dos ouvintes da música de massas, sc compararmos
os conhecimentos musicais dc um perito de ja zz com os de um adorador de Tos
eanini. verifica-se que os do primeiro ultrapassam de muito os deste último. Entre
tanto. a audição regressiva consótui um inimigo impiedoso não só dos bens cultu
ruis que poderiamos chamar ‘'museológicos'". mas também cia função anti-
qüíssima e sagrada da música como instância de sujeição c repressão dos
instintos. Náo sem punição, ás produções depravadas da cultura musical são c*
postas ao jogo desrespeitoso e ao humor sádico. Face à audição regressiva, a
música em sua totalidade começa a assumir um aspecto curioso e cômico. Basta
ouvir de fora o som de um ensaio de coro, Com imponente impertinência esta
experiência foi retratada em alguns filmes dos irmãos Marx. que demolem uma
decoração dc ópera, como se se devesse demonstrar alegórica mente a intuição
histórico-filosófica da decadência da ópera, ou então com uma peça apreciável
dc entretenimento elevado, reduzem a ruínas o piano tlc cauda com o objetivo
de apoderar-se do acordoamcmo interno do piano, utilizando-o como uma verda
deirn harpa do futuro na execução úc um prelúdio 0 as|)ccio cômico da música
na fase atual tem como primeiro motivo o fato de que ac faz uma coisa completa
mente inútil com todos os sinais visíveis do esforço exigido por um trabalho serio
A estranheza da músiem para as pessoa* sérias denota a estranheza que reina entre
d as e a consciência desta estranheza se exprime cm uma explosão dc garga1hadã$-
Nfa música ou analogamente no poeui lírico - torna-se cômica a sociedade
que ti condena ao cômico. Daquela gargalhada participa a decadência do espírito
sagrado de conciliação. Com muita facilidade ioda a música soa hoje como aos
ouvidos de Nietzsçhe soava ó Parsifal. Lem bra ritos- incompreensíveis e máscaras
que sobrevivem dos tempos antigos. O rádio, que projeta exçessíva lu? sobre a
música, concorre para tanto. Talvez esta decadência ajude um dia a levar ao intis
perado. É possível que um dia soe uma hora mais feliz para osjoven$ "modemi
nlios"’, a hora que requeira antes a adequação rápida com matérias previameme
fabricadas, a alteração ímpro vis adora das coisas, do que aquele gênero de começo
radical que só floresce sob a proteção do inabalável mundo real. Mesmo a disci
pltnn pode ser expressão de livre solidariedade, quando o seu conteúdo ío ra liber
dade. Embora a audição regressiva não constitua sintoma de progresso na cons
O FETICH1SM0 NA M U SICA 191
Perante o anúncio de uma palestra sobre lírica c sociedade, mui Los dos se
níiurcs serão tomados de algum mal-estar, tia expectativa de uma dessas conside
rações sociológicas que se podem alinhavar ud fibitttiw a todo c qualquer objeto,
do mesmo modo que se inventavam, há cinqüe.nia anos. psicologias c. há trtnta.
íenomenologias de todas as cohui. imagináveis. Como se não bastasse, nutrirão a
desconfiança de que a discussão das condições sob as quai.s surgiram determina
das formações1 e do efeito delas quer intreme ler-se no lugar da experiência des
sas formações tais como são; do que combinações c relações bloqueiem ü inspe
ção interna da verdade ou inverdade do próprio objeto- Desconfiarão que um in
tclectual se torne culpado daquilo que I legei lançava ao rosto do “ intelecto for
ma;", ou seja. abarcando o Todo de cima. ficar acima da existência singular du
que fala, isio c. simplesmente não vè*]a e apenas etiqueui Ia. O que ha de penoso
em. tal procedimento ser lhes á particulanm.ni>.. sensiveí no cavo da lírica. I rata
se dc manusear u que ha de mais delicado, de mais Frágil, de pó Io em contacto
iustameme com aquela roda vida da qual preservar se intacta fuz parte do ideal
cia lirica. pelo menos no sentido tradicional. Trata st rtc tomar uma esfera de cx
pressão que tem sua essência dirmmenu:. seja cm não reconhecer a potência da
socialização, seja. como no ca st» de BnudeUiire ou dc Niciasehc, em Superá-la,
pelo paihü.s da distância, c. pela maneira de considera 3a. Il.i/cr dvia o contrário
daquilo que eta se sabe. Qutm seria capaz de falar de liríca e sociedade, perguii
taràn. senão alguém lotalmentc desamparado pelas Musas?
ÜbviàmciiLu. ;;il suspeita só podo ser cncarádn de frente quando formações
líricas não são tomadas abusivumuniv eomo objetos dc demonsiração de tese^
sociológicas* quando* ao contrário, sua referência ao social revela nelas próprias
algo dtr essencial, algo do fundamento dc >u«t qualidade. Essa referenda não deve
levar embora da obra de arte, mas levar mais fundo para dentro dela. Que. entre
tanto, isso seja de se esperar, é o que se depreende dn mnis simples reparo. Pois o
conteúdo de um poema ruio c a mera expressão de emoções e experiências indívi
duais, Pelo contrário. estas só se tornam artísticas quando, exatamente em vir
tude da especificação dc seu tomarTorma estético, adquirem participação no
* T r*du*idt> ê» Oficinal otwrtàc» rYofrn Zuf Llteratur t. Kuhrknmp Verla^, FranltOin mn Mam, l^SX-
HjaiçnOe hé. ''formações históricas''; o termu tttemkt c Crbitde c c m sendo empregado no semKtG hüge-
ttaiHi, Apenas em .iluunseiísíís, pareceu impor-se como preferível n iraduçno por “íííirrepoáçóc- “ i N. do T s
194 AD O R N O
universal. Não que aquilo que o poema lírico exprime tenha de ser imediatamente
aquilo que todos ^ivendam. Sua universalidade não é uma voltmié de rou s. não é
u da mera comunicação daquilo que os outros, simple-sincntc. não são capazes de
comunicar. Ao contrário, o mergulho no individuado eleva o poema lírico ou
universal porque põe em cena algo de não desfigurado, de não captado, de ainda
não subsumido. c desse modo anuncia, por antecipação, algo de um estado em
que nenhum universal postiço.2 ou .seja. panicular em suas raizes mats profun
das. acorrente o outro, o universal humano- Da mais irrestrita individuação a
formação lírica tem esperança de extrair o universal. D risco especifico que a lí
rica assume, entretanto, consiste cm que seu principio de individuação nào ga
rantií nunca o cngendríimcnto de validade, de autenticidade. Pia nào tem nenhum
poder quanto a não persistir na contingência da existência meramente marginal.
Essa universalidade do contendo lírico, todavia, é esscndalmerUe social. Sô
ertiende aquilo que o poema di? quem escuta em sua solidão a voz da humani
d ad eim ais ainda, a própria solidão da palavra lírica c prê-trtiçntia pela sociedade
individualista c. cm última análise, momísnem assim como. inversa mente, sua
posltdaçuo de vtilidadv universal vive da densidade de sua individuação. Por isso
mesmo, o pensar da obra de arte está autorizado c comprometido a perguntar
concrctamente pdo conteúdo social, a nào se satisfazer com o vago sentimento
de algo universal c abrangente. I al pensamento determinador nào é uma reflexão
alheia e externa á arte: c exigida por toda composição de linguagem, O material
próprio desta, »>s conceitos, nào ve esgota na mera intuição, Pfira pixlercm seres
teticamentc írUuidos, d e s querem sempre ser pensados lambem, c o pensar. Lima
vez posto em jugo pelo poema, nào pode m ais. a seu comando, sustai' se.
Isse pensar, porém, a íiUerpretuçào social da lirica. cOrno.de resto.de iodas
as obras de urie. nào pode por isso ter cm mira sem mediação, u assim chamada
situação social ou a inserção social de interesses das obras mi ate de seus auto
res, Tem de estabelecer, muito mais, como o Todo de uma sociedade, tomada
como uma unidade em si contraditória, aparece na obra de arte: mostrar em que
a obra de arte lhe obedece e em que a ultrapassa. O procedimento tem de ser,
conforme a linguagem da filosofia, imanente. Conceitos soei ar- nào devem ser
trazidos de fora ás formações líricas, mas sçr huuridos da rigorosa intuição delas
mesmas. Aquela frase das Máximas c Reflexões de Gocthc. que diz que o que
não entendes tu também nào possuis, nào vale somente para o relacionamento cs-
tático com obras de arte. vale também paru a teoria estética: nada que não esteia
nas obras, cm sua forma própria, legitima a decisão quânto àquilo que seu coo
icúdo (Céhali), o poetado (Üedichieie) em si mesmo, representa socmlmeme. De
termina Io requer, sem duvida, não só o saber Ja obra de arte por dentro, como
também o da sociedade fora dela. Mas esse saber só c válido quando se redesco
bre no puro abandonar se à coisa mesma, Recomenda se vigilância, sobretudo,
perante o conceito, hoje debulhado aiê o limite do suportável, de ideologia. Poi .
ideologia é inverdade, consciência falsa, mentira. Ela se manifesta no malogro da
£ fcm al-cmáü: kein sehieçhi Allpmtiws. isto c, ncanum mau tituve/sal. abstrato t Jc emcndimeiilu. no seu
lidü hcgeliaru:. por oposição ao bom universal disletico IN. ao T j
obra de arie. no que esta tem em si de errado, e c alvo da critica, Mas dizer de
grandes obras dc arte. que tem sua essencia no poder de configurar e, somente
através desse poder, na capacidade de conciliação tendencial de contradições !e
caudas. da existência real. que è!ai são ideologia, não c simplesmente fazer injus
tiça :l sou conteúdo próprio de verdade: ê também Falsificar o conceito de ideolo
gia. Este não afirma que tudo o que é espirito su serve para que homens eventuais
escamoteiem interesses particulares eventuais JazÇndo-os passar por universais,
mas quer desmascarar determinado espiriio falso e, ao mesmo tempo, concebê-lo
cm sua necessidade. Obras dc aric, todavia, tem sua grandeza unicamente em
deitarem falar aquilo que a ideologia esconde. Seu próprio êxito, quer elas t> am
bicionem ou não. passa além d3 falsa consciência
Pfiírmilam-itic que tome como pomo de partida a própria desconfiança dos
senhores Os senhores semem n. lírica como aipo oposto u sociedade, como algo
visceralmeritt: individual. Sua sensibilidade faz questão de que continue séntlo as
sim* de que a expressão lírica, desvencilhada tio peso da objetividade, conjtire a
imagem de uma vida que seja livre da coerção da pratica dominante. da utíli
dude. da pressão da nutoconscrvação obtusa. Essa exigência feita ii lírica, toda
via. ü exigência tSa palavra virginal, é cm si mesma social. Implica o proiesio
conira um estado social que todo indivíduo experimenta como lunlil. alheio, frio.
oprvssivo* c imprime nogtidvamorue esse estado 11a formação lírica: quanto mais
pesa esse estado, mais infle vivei mente lhe resiste 11 formação, nân w curvando a
nada dc heterônomo c constituindo se ínteiramente segundo a lei que lhe é pró
jiria. Sou distanciíimtnto da mera existência tonta se n medida do que lui nesta do
errado e dc ruim. Em pnueslo contra ela o poema enuncia o sonho de um mundo
em que Síria diferente. A idiossincrasia do espírito lirico contra a prepotência
das coisas c uma forma de reação ri coisificaçâo do mundo, fi dominação dc mer
cadorias -sobre lurmert^ que sc difundiu desde o começo da idade moderna c que
desde n revolução industrial se desdobrou em poder dominante do vida Inclusive
o culto à coisa, dc Rilke. está preso no circulo encarnado dc tal idiossincrasia,
como uma tentativa de recolher c resolver na expressão subjetjvamenie pura uà
coisas alienadas ede creditar meiallsicamerue cm favor delas essa sua alienação:
ts .1 fraqueza estética desse culto k Coisa, o gesto misterioso afetado, esse misto de
religião c ideologia do artesanato, denunciam ao mesmo tempo 0 real poder da
coisificaçào. que rutu se deixa mais dourar por nenhuma aura lírica. que não sc
deixa rnim resgatar pelo sentldiv
Está se apenas emprestando uma outra versão a tal compreensão da essên
cia du lírica ao dizer que seu conceito. Uil conto nos c imediato ç, cm eciUi me
d ida. uma segunda natureza, tem um caráter Eotalmeme moderno. Ana Ioga
mente, o paisagismo cm pintura ç sua idéia dc "natureza” só sc desenvolvem uu
tonomameme na idade moderna, Sei que com isso asuui exagerando e que os %e
nhores poderíam contrapor me muitos mntra-excinplos. O mais incisivo seria
Saio. N íio talo da lírica chinesa. japonesa, árabe. pois não a leio no original e nu
iro a suspeita de que através da tradução cia e apanhada por urn mecanismo úc
adaptação que torna simplesmente impossível o entendimento adequado. Mas as
1% ADORNO
J Sim 1,93.dois nlLimo-, v .. i m i Ou celebre .Vuwrnu riu Andarilha fWancJiT^rs NaektSwiit ík OnçthP- Ucbtr a!
t m G i p f t l n / t u Hat, tn afíètr m p M « / S p ü r ís t d u kan m tin e n H a u c fii / A c V S p tt e iu .s e h w ig r » ir»
Woidr.. fflarit" tfttr, haMt-i RuhcsS-du meh. Nu mu iradiiç&o jípcm*-. Flt^nU "Solwe uwlr.s o:: cu , / hy
sossego. 1emudas. as copas f nao semes / um supro, quase; / os passao.nhcis cstkm-ve iu muia Paciência,
tog-o/ SçrescjsrSs mtarntérri.” (N, do T. i
fora silencia no eco da alma. £ mais que aparência, porem, e se torna verdade m
Lcgra] purquc, pela futyit da expressão verbal do bom cansaço, persiste ainda st.)
bre a conciliação a sombra da nostalgia e mesmo da morte: ao 'Paciência,
logo", ü vida inteira se transforma, com enigmático sorriso de tristeza, no breve
instante que antecede o adormecer. O tom de paz dst testemunho de que a paz
não deu certo, sem que entretanto o sonho se rompesse. Nenhum poder tem a
sombra sobre a imagem da vida retornada a si mesma, mas somente ela em
presta ao sonho, como üUimâ lembrança de seu desfigunimemo. a pesada pro
fu nd idade sob a canção sem peso. No semblante da natureza pusla era sossego,
da qual foi extirpado o traço de toda semelhança humana, o sujeito interioriza
sua própria nulídade, Impcrceplivelmentç. sem emitir um som. a ironia cancela o
que há de consolador no poema: us segundos que antecedem a ticm-avcnLurtinça
do sonho são os mesmos que separam a curta vida da morte. Essa sublime i™
nia, depois de Gocihc, decatü c tornou se pértlda. Mas sempre foi burguesa: a
exaltação do sujeito libertado traz consigo, como sua sombra, seu rebaixamento
ã condição de objeto permutável, de mero ^er para outro: a personalidade traz
Consigo o " G que vouc pensa que é ?". A autenticidade do Noturno, entretanto,
está em seu instante: o que há de destrutivo em seu pano de fundo afasta-o do
jogo. enquanto esse destrutivo üau tem ainda nenhum poder sobre a potente rtáo
violência do consolo. Costuma se dizer que um poema liriCo perfeito tem de ter
totalidade ou universalidade, tem de dar em sua delimitação o Todo, etn sua fini
tude o infinito. Se issv> for algo rnais que um lugar comum daquela estética que
lem sempre ei mão. como panacéta universal, n concedo do sim bólico/ indica
então que cm todo poema tíriei) a relação histórica do sujeito à objetividade,
do indivíduo ã sociedade, precisa ter encontrado sua materialização no elemento
do espirito subjetivo. reverheratU» sobre si mesmo, kxsa sedimentação sem tanto
m ais perfeita quanto menos a formação lírica tetnatizar u relação entre « 1 e su-cie
tíadte. quanto mais involuntariamente cristali/.ar sç essa relação, a partir de si
mesma, nu poema,
Poderão objetar me os senhor** que eu. através dessa determinação. por
medo do Mieiologismü' grosseiro. ter ia sublimado n itil pomo a relnçíto entre li
rica e sociedade, que nada mais resta propriamente delu; esatameme •• não social
no poema lírico seria tgofa seu social. Podcriam recordar-me aquela caricatura
Je ■Gustuve DorCi de uni deputado uJuu reacionário que vai iiUCOSiflcuiido seu
louvor ao Ancien Réginn', ate chegar a exclamação: “ l a quem. meus senhores,
devemos agradecer pela revolução de l7tfV. a quem. senão a I ui/ X V I ? ” O s se
uhores poderíam aplicar isso à minha concepção de liricu c sociedade; nela a so
çicdudv desempenharia o papel do rei executado e a hrteu o papel daqueles que o
’ Keleiencia a»s lilluldfifc-i 0,1 rtoçv^ Je urutuiíum. m*e úo <1c m u a ii /Octlu.-an:i. rclttmadn por Kart Philipp-
•rn -• i prüpõai.ttí dn nÍT£<!ú(.;i j jmipu v uunck-iiiiiilme-ínr cíjh.umJy pi;i Sirltclln^, >rri /•VWi-vrJi-a ic/í/rr
<■? Frít/safia ulu . I r ; Ue 1fiu-2. -Qui: nu i-iruit-ffl nuo se iríll 4 Ut jj,irii.jceii> .-tu o i v il m;r-, dc Ufiurnhíi ureatw-uo»
CwDCíilüílI. HCl'íuüi> na dinâmica da idetw idade. r n que n ErinJuii.r prcv-.itu mnüirar itfl en^iio tj
SimhQifra em Setwlttns fíci Afowwqw CndúWus dt Literatura r Ltntaio n ‘ 7. Km- iliem*, X. Piiukc |V7K),
examinando o que L> fildsofu linha a responder A Ak\m quesião que lhe fui |>fOptisU por Guclht sobre
a d tsóncíio fntre simbtduc ahx urte, (N. dn T i
IUM adorno
combateram; mas a lirtca pode Lâo pouco ser explicada a partir da sociedade
quanto a revolução atribuída ao mérito do monarca que ela derrubou e sem cujos
desatinos eia talvez nào livesse irrompido naquele momento histórico, R csia sa
ber se o deputado de Duré era eletivamente apenas um propagam!ista estúpido
cínico, lal como o caricatura o desenhista, ou se cm sua involuntária piada nào
há mais verdade do que admite o entendimento são: a filosofia da história de He
gel lería muiLu com que contribuir para a reabilitação daquele deputado. No t?n
tanto- a comparação não sc ajusta bem. Nào se trata de deduzir a lírica da socie
dade; seu conteúdo social è éxatamenle o espontâneo, aquilo que não se segue
das relações já vigentes em dado momento. Mus a filosofia — mais uma v ez. a
de Hegel conhece a proposição especulativa que diz que o in d iv id u al é m«
diudo pelo universal e vice versa. O ra, isso quer dizer que tamhém a resistência
contra a pressão social não c nada de nbsoluiamcntc individual, que nela .se rc
volvem artisticamente. através do indivíduo e de sua espontaneidade, ns forças
objetivas que impelem para além dc um estado social estreito e estreitador na d i
reção dc um estado digno dn homem: Ibrças. portanto, de uma constituição dc
conjunto. não meramente da individualidade liirta. que se opõe cegam ente a so
cieiiade, Se efetivamente se pode falar dn conteúdo lírico como um conteúdo ob
jeiivo cm virtude da subjetividade que lhe e própria — e caso contrário o que há
dc mais simples, aquilo que institui a possibilidade da lírica como gênero anis
tico. seu efeito sobre outros que nào o poeta monologsintc, seria inexplicável
isso só ocorre se o retomar se ern si mesma, o recolher se cm si mesma dn obra
dc arte lirica. seu afastamento da superfície social, foi, por sobre a cubeça do au
tor, .sodülmciiic motivado. Ü meio para isso. porém, c a linguagem, ü paradoxo
especifico da formação lírica, a subjetividade que vira objetividade, está ligada
àquela prceminéncm da forma ímgíiísiica na lírica, dc que provém o primado du
linguagem na criação Hteráriu (f)tchiung) cm geral, até à forma da prosa. P o isa
própria linguagem é algo duplo. Através dc suas configurações cia sc molda m
teiramente is emoções subjetivas: um pouco rruiis. e se podería chegar a pensar
que somerue ela as faz brotar e amadurecer. Mus da continua a ser. por outro
lado, o meio dos conceitos, aquilo que restabelece ei referência irrenuneirivt:! uo
universal c à sociedade. As mais altas formações líricas são, por isso. aquelas cm
que o sujeito, sem resíduo de mera matéria, soa na linguagem, ate que a própria
linguagem ganha voz. O auto-esquedmciUo do sujeito, que se põe ao dispor dn
linguagem como de algo objetivo, c o que há dc imediato c invotunLárit> cm sua
expressão são o mesmo: assim a linguagem estabelece a mediação entre lírica u
‘sociedade no que há de mais imrinscco. Por isso a lírica se mostra mais prnfun
d cimente garantida socinlmente ali onde nào fah» segundo o paladar da sociedade,
onde nada comunica, onde, ao contrário, o sujeito, que acerta com a expressão
feliz, chega ao pé dc igualdade com a própria linguagem, ao ponto onde esta. por
si mesma., gostaria de ir.
Por outro lado, porém, a linguagem também não deve, como ítèriíi do
agrado de muitas teorias ontológieas da linguagem em voga nos dias de hoje. ser
absolutizada, como voz do ser, contra o sujeito lírico. 0 sujeito, cujà expressão.
LÍR ICA i - SGCU DADt 199
di/.cr que o sujeito lírico, quatuo mais adequadamente dá sinal de si. mais vali
damente corporiílca Lambem o Todo. A subjetividade lírica deve sua própria
existência ao privilégio: somente a pouquíssimos seres humanos foi dado» a des
peito da pressão da necessidade vital, captar o universal no mergulho cm si meá
mos ou, mesmo, simplesmente desenvolver-se como sujeitos autônomos, mestres
da livre expressão de si mesmos. Os outros, contudo, aqueles que não apenas sc
contrapòém ao acanhado sujeito poético como alheios, como se fossem objetos»
mas que iarnbém, no sentido mais literal, fórum rebaixados à condição de objeto
da história, têm o mesmo ou maior direito dc tatear em busca da voz cm que so
frimento e sonho se acasalam, fcsse direito inalienável sempre volta a irromper,
ainda que de maneira impura, destroçada, fragmentária, intermitente, como não
podería ser diferente, da parte daqueles que têm o tardo para carregar. Uma cor
rente subterrânea coletiva faz u fundo de toda lírica individual. Se esta visa efdi
vamente o Todo e não meramente um pedaço do privilégio, da fiuuru u da dclica
deza daquele que pode dar-se o luxo de ser delicado, então o tomar parte nessa
Corrente subterrânea pertence também, essendalmçrue, à substaneialtdade (ia li
rica individual: è somente ela que faz da linguagem o meio em que o sujeito se
torna mais que apenas sujeito. A relação do romantismo com a poesia popular c
apenas o exemplo mais visível di$$o, não. seguramente, o mais incisivo.
Pois o romantismo persegue programai icamente uma espécie de transfusão do
coletivo no individual, por força da qual a lírica individual buscava tecnicamente
0 que terá sido antes uma ilusão iJe validade universal, validade que rara mente
lhe coube em panilha a parnr dela mesma Muitas vezes, em lugar disso, poetas
que desdenhavam todo o empréstimo du linguagem coletiva tem parte com essa
corrente subterrânea coletiva pela força de sua experiência histórica. Cito Baudc
laire. cuja lírica não apenas golpeia fromalmcme ú juste mílieu. mas também
ioda simpatia social burguesa, e que no entanto, em poemas como as Peiiies
1 it ifles ou ii da servente de grande coração, dos Tabienx Parisiens, foi mais llci
às massas, para as quais voltava sua máscara trágico ulliva, do qut! Uxla a poesia
gente pobre. Hoje. quando a pressuposição daquele conceito de lírica que tomo
corno ponto Je partida» a expressão individual, parece abalada aió o mais intimo
nn crise do indivíduo, a corrente subterrânea da liricu aflora com violência rios
rmti.s diversos pontos, primeiro como mero fermento da expressão individual
mesma, mas cm ^eguida, talvez, também como antecipação dc um estado que ul
trapassa a mera individualidade. Se üs traduções não enganam, G arcia Lorca,
que os esbirros dc Franco assassinaram e que nenhum regime totalitário feria
podido suportar, ê portador de tal torça:6 e o nome de Brcchl se impõe como
o do lírico a quem foi dada integridade dc linguagem sem que por isso ele tenha
sido obrigado a pagar oprçço do esoterismo. Proibo- mede julgar se aqui o principio
poético de indíviduaçào foi efetiva mente superado (anfgehohan)* em um
'■ Vale- a penti -n CDceju çem n traduCPO CSiíMlwta. que é ancarmr na ieq«lw}frt!iíise»i« mour^Miíi iiíi I 1
li.irib.i c ttaj sirttpIt-MncrtW. twsia fiapaftemi "S i las trtutMtXMfies no enganari. Gtmrfa f-w cn .fu e ventwfero
ptâtadur de eia ju crza IN. itn T .)
" O termo esw camprçgMto im vemufo lic&diaih>de supressão conservaçjí i Uiafwta. (vinanto com ai ncce-.-
sariu conotação dc priigrc\su ufTuv» Cu nt^açan da negação. cN.doT.i
L I K I C A r SOCIHDAD3 201
' A irndisçis c ounrc literal, p-nném tentando conservar a principal cnrneiimlkadi» poema. <juc é a compJi
ccçoo formal, devida o i r n j u k M t métrica, t>» »ima% cruxada», alguma» uk loontcx, ás ritn.vi internai.
c ao cromatismo vocálico. fcro alemão, o texto è o seguinte
ln cui ftcundhchc), Siadtchcn trci'ich ein.
In den Strssítrn Iicri ratei Abcndschcm
Ausdflcm afVncn Fcnswrcben.
Uchcr den rcichxien Bliimcnflor
iftnwç^, iioin mau CJtrgl^lacksiikHK
Uiul nine Slimmc scticiniíin Nachciiigdlcricbor.
Dasy. uic BUllen beben.
Oasz dic Lufte Icbcru
Dasv in hdherem Roídie Rosín kuchcen ver
gregas sem rima. assim também, por exemplo, o fjathm que irrompe — t no en
lauto é obtido como efeito com os recursos mais discretos tia inversão da ordem
de palavras no verso fecho dn prim eira estrofe: 44h em rubro m ai« intenso in
eendiurum se as rosas” (Uasz ifí ftofteren fiúi die Rosen teuehien vor).* Decisiva
c a simples palavra Musa no final. E como se essa palavra, uma das meus esgota
das do dassi cismo alemão, polo fato de ser emprestada ao g e i i i u s l o c i , ao p.cnio
mtclar da gentil ddadezinha. rebrilhasse uma vc/ ainda, verdadeiramente como
que a [u.z du sol dculinante c. ia a ponto de desaparecer. Fosse dona de todo o po
der dc encantamento no qual a invocação dá VUfSü cotll palavras da linguagem
moderna costumo perder pé, numa escorregadela cémitea c desastrada. Difícil
mente a inspiração d;> poema se comprovará tãn perfeitameme em um de seus
traços quanto no fato de que a escolha da palavra mais chocante, no ponto cri
lieo. pftíéíividamenie tfiòtivada. pelo gesto linguístico grego em irsiado Intente,
resgata, como em uma coda musica], a premente tensão dinâmica üü U>do. A li
rica consegue, no espaço mais exíguo, ter êxito naquilo que a épica alemã,
mesmo cm concepções como f/ermai/n and Oamthva de fíoethe. tema em vão
alcançar.
A interpretação social de ml êxito visa o estágio de experiência histórica que
sc açLis.i tto poema. O das.sicisni!» alemão havia empreendido, em nome dn.hu
mímidiide, dn, universal idade do humano. a tarefa, de eximir t emoção subjetiva
da contingência t|ué a ameaça numa sociedade em que as relações entre os hn
meus não sèk* mais imediatas c só se mantêm aunia através tia mediação do mer
cado. Hfiviít se esforçado peln objctivaçâo do subjetivo, assim como Hegel na
filosofia, c tentado superar, reconciljandtbas no espirito, nu Idéia, as contratli
çòcs d ei vida real dos homens. A pernstvnciu dessas contradições nu rcalidndç.
entretanto, havia comprometida a solução espiritual: fronte à vida rtàn susícn
t»da por nenhum sentido, ã vida que sc csfalfa no luarefameruo dos interesses
coiuwrcrue* ou, como ela aparece à experiência artisticu. á vida prosaica, frente
u um mundo cm que n destino dos hometts individuais se cumpre obedecendo n
leis cegas, a arte cuja forma ,c dtí nres dc quem fala a vo/ da humanidade hem
Uiiiada torna se fraseologia oca. O conceito de homem, tal como o havia gr:m-
jeado o elas si cismo. recolheu se por isso nu existerseiã privada do homem singu
lar c cm suas imagens: somente nelas parecia o humano estar albergado nindn.
Neceisar ia mente a idéia da hum unidade como inteira, autodcicfmin ante, foi re
nunctada pela burguesia, assim na política como nus formas esiétiea.s. O emper
rar se no confinamento daquilo que è próprio a cada um e que, por si mesmo,
obedeee g uma cocrçSo, c a que torna tão suspeitos m is iüeab eorriu os do con
UiHíivül e do agradável. (> p m prh' sentido é atado a ennlingêncía dn felicidade
individual: como que usiirpaiorinmemc. é lhe airibuída uma dignidade que e h só
alcan çaria, junto com a felicid ad e Jo Todo. O vigor so cial que ha no engenho de
Mórike, todavia, consiste em ter enlaçado ambas as exp eriências, a do estilo ele
vad o do chssicismo c a da m iniaturo p rivad a do romantismo e. ao fazõ lt>, ter
M X i RVOTW i |V.flCifíiiS. 'Kl i í k w ;4lertfijii>. íiírt-rv -frpirij ■ffirK.i e ti HJ.içiln a.n trrir.r. pois a ciiiRtrihUti • ^nriiu
r j l " . iwi l im i, Mimi tencfHr/i ,lrtr H t iir M r u r 1.
nu ADORMO
3 I sliUi uUislieci. rm vuf.:t nu pfuníirj niciailu cVi sêi.1 XI V, mahiliúriai «• nu piamiu. u g»c sc «nruetsn/a
pçti. praciuso. pLiímíSCo. iJcnsu.SK fwrqMçno-tlufgEiCü. V? nome ê fomi#é9 pela jwrçàt* dus ilois perwinar.CTiü.
ímfcpmwffl c BummrhneiiT, criados pui Vjetfir von Sehçfítl, Sm tf4S, reis Ffífffefídt Bfáiter ll-nllias. Vo
:jincejs;i. oinic Ibrjira punlieudci- os poemas Biftter»tau.vs Liederíttsi. de Riehnxlt (M.do T,'l
” I.itcralmíjnw: 'VSSiU» Juventude ousta que viçou r^r volta iJl- Í4ÍX», earaewmadft polu ornanuMiação
vjigetJll CStíhoda c n^&im ch»m iíf« p w rífsrêuein ú c c.cçií, J .n - i.a d (JnvenuiitÇ)', ifirc circulou na irpocâ Chi
Munique u tinha o açfthanfâlIUi grãfiea ncvse estilo, (N. d1. T j
■ A>m; era eomo sç auuvlcnominavum os admirjKlores que sg reuniam em tomeníe Gtoree IN. do Ta
LÍRICA F. SOCIF.DADF. 205
No vira vento
Foi meu ensaio
í»õ devaneio
Sorriso apenas
U que Lu deste
D l* noite orvalho
Utn vitfrilbo bnlha —
Já urge o maio
Ja devo ao cabo
Por llli olho e cabelo
Dias, u fio
Viver de anseto, 1 }
v A u^duçà"' L-rlsU.i íkj |>t‘Lí.ivcl procutA irvniai a uiusiculidiutc lninal pjir.-K.losaI du puoirlB. nM.um3r.1ln ji
moilulftvtkb :airbcfli hjuidas du I rtCJl dc lirig.u(l portuguesa (p. cx ”0 anel q«C tU UM d£S<é era v«Jro ç jç que
br ou” cic.í. A |KnJ;i üi . , w mais i*: ave du inckçào c ,1 do uspn sctnátili eo d* cxpKjoào fm wimks-w*hpn {mn
tirilir do vento). qu<- i uma brinciukirn o>m a txpríssão Forrmuín im Windeit IVetori (no soprar Uo venial
Eis aqui a pixmn cm g;ii nc c ossor
Im wmdes suben
War m&ne ft ifyt
Nur irnumerei
Nnr fãdiéln *ur
Wa , Ju gçgçben
Aul misSer rsauhi
Eia glanz eiwíachi
Nun drun&l ücr m.n
Nun muüí icp gar
I 'm dem aug uruj haar
Aüe ia^c
tn sclmcn Iclxri.
íN. dn T.)
2.06 AD ORN O
nnm ina a postura aristocrática -de Georne. EUi não é s. pose que exaspera o bur
çuês. ao qual estes poemas não permitem intimidades. itiíí^ antes, por mais so
cialm ente hostil que seja seu gesto. c sazonada pela dialética social que recusa ao
sujeito lírico a identificação cnm o vigente ç eoni seu mundo de formas, nu
megmo momento em que ele está conjurado. até seu lundu m ais intim o. com o
vigente: ele não pode falar de nenhum outro lugar que nslo seja o dc uma socíe
d ade passada, senhoria! ela mesma. Desse lugar é tomado de empréstimo o ideal
de nobreza que dita a escolha de cada palavra, imagem c sütn no poema: e a
form a c, dc uma maneira â qual c quase impossível dar solide/ dc coisa palpável,
dc umu maneira como que impregnada na configuração verbal, medieval. Nessa
medida o poema, assim como tieorge em seu conjunto, é çfeüvarncnu: neo
rom ântico, ü que ê conjurado porém não sãn realidades nem sonoridade*, e sim
um estado dc alma absorto. A latência do ideal, uriistieam ciuc conquistada, a
ausência de indo orçai sitio grosseiro, alça a canção acim a de toda ficção iteses
perada. que ela entretanto oferece: é tão impossível confundi-la com :i poesia
adorno-de-parede de Dúna M in n e e d a s A ven tu ras 13 quanto eçt» o acervo dc re
quisitos da lírica do mundo moderno: seu principio dc esiiliznçâo resguarda o
poema do conformismo, A reconciliação orgânica dc elementos conflitantes, q«c
na época 11 realidade já não aplainava mnis. Ilea sem espaço: cies so são domina
dos par seleção, p o re x d u sa ü . Onde são adm itidas ainda coisas próximas, aquilo
que Com um ente se denomina experiências imediatas, na Ifrien de George. esse
acesso $ò IIk s c permitido :-io preço da m n o lo g i/açu .r nenhuma delas pode per
muneeer o que é. A ssim , em uma das paisagens do $ é iim o A n e i, a crian ça que
culhiti am oras é metamorfoseada. sem uma palavra, com o com a varinha dc*
condão, com violência mágica, em crian ça encantada. A harm onia da canção é
arrancada ii força dc um extremo de dissonância: repousa sobre aquilo que
Valery denominava rqfus, um inexorável recusar-se dc tudo aquilo no qual a
convenção lírica delira possuir a aura du% coisas. G procedimento só conserva
uinda. COrno restos, m odelos: fls puras idéias fnrm;u. e esquemas do lírico, os
quais, na medida cm q u í rejeitam toda e qualquer contingência, falam ain
da, reiesjfcdoa de expressão. E m méio à Aiem anlm d,c Guilherm e LJ„ ç
estilo elevado, du quul essa lírica se dcsvcncilha polemicarncme. não p o
de Inzer apelo a tradição nenhuma c. cm último lugar, ao legado d a ssid stm
Ele é granjeado, não na medida cm que sc dá de lambujem algo de figuras
retóricas c ritmos, mas na medida cm que econom iza asceticamente tudo
aquilo que podería dim inuir a distância em r.-lação ü linguagem dagimcUida
peto comércio. Pura que o sujeito, aqui. contraponha se verdadeirâmente, em soli
dão, à eoisificação. cie nem sequer deve tentar m a» recolheresc ao
próprio como a sua propriedade; os vestígios de um individualism o que. nesse
meus Lempo. jà se entregou ã tutela do merçado, no subjeLiví.siuo da crônica dc
'* Heferrnçui ,i Cüíiçãn truvad crcsca da IJpuk Mcílb iMinapsengt. «niradn no .amor ewièv <j«» csvaloins
por sun Úunii.c àepwpíiii medieval, que era dividida era. capitula diam ado- "avrniurairi A palavr* mmtrr,
em medio aJtiÃ-akmão, fiip;mFic;,v;i ‘-am o :’’ Já ;i palavra Schimick, m i ..iVnià.. modcrim. ,ui pt*li» ser irad»,
nia çom* ÍliÍ:-mêuíCíu.i liirralinunrc. iidi.jrin.t11 (N.dnT.J
I ÍR IC A l SOC II Li ADI 207
jo rn al, repelem; é preciso que o sujeito saia üe si. através tio calar-se, É preciso
que ele laça dc si como que o recipiente para a idéia de uma linguagem pura. É p
■salvamento desta que visam os grandes poem as de George, Form ado na* línguas
ro m ã n k â s. mas lambem, em particular, naquela redução da lírica ao mais Sim
ples- através da qual Verlaine p converteu cm instrumento para o m ais diícrcn
ciado, o ouvido do discípqio alemão de MaUarmé ouve sun própria língua como
se fosse estrangeira. Supera u alienação dela, causada pelo USO. huensifieandq-a
até o alheamento 14 de uma língua que propriamente já n tio c mnis falrtdn. diga
mos uma iingua im aginária, cm que lhe surge aquilo que em sua com posição se
ria possível e no entanto ja m a is ocorreu. A s quatro linhas: **Jy devo ao cabo/
Por teu olho e cabelo/ D ia s a fio/ Viver dc anseio” (Nun musz ich gari Um
dem &ug imd haari Alie tageJ hi sehnen kben), que eu considero um dqs momentos
itints irresistiveís jam ais alcançados pela lírica alem ã, são como uma citação,
mas não de um outro poeta, c sim do irreparavelmente perdido pela língua: esses
versos, leriam de ter sido trovadas (gçlungen) pelo M itm esang 1 se este. se uma
tradição da linguu alem ão, se quase estaríam os tentados a dizer a própria
língua alemã tivesse dado certo (gtíitotgen nwfi/, E ra netsse espírito que Bor
chiirdt queria Eraduzir LJante. Ouvidos sutis têm trnpeçydo nesse elíptico ,Jg a r ' f
(na tradução: “ ao cabo” ), que sepi dúvida faz as Vcv.cs de "ganz urut gar " (na.
tradução: *4ao llm e ao eâbo” ) e . cm certa medida, está im iti ado a bem da rima,
Pode-se admitir tal critica, do mesmo modo que se admite que a palavra assim
que foi encravada no verso, não oferece mais nenhum sentido exato. M as as
grandes obras de arte são niqueías que. ítrt seus pomos mais problemáticos, são
feli/c*; a s s i m , do mesmo modo como. digamos, a mais alta m úsica não se esgota
puramente em sua construção, mas se atira pura além desta com um par de notas
ou com passos supérfluos, o mesmo se passa também com o “g ítr", uma goet
hccina "sedunenuição do absurdo” , com que a íngua refoge ã intenção subjetiva
que trouxe consigo u p alavra: ê provável que .ejo simplesinetue esse "gar "aquilo
que institui a dignidade do poema com o vigor de utn d è jà v u : aquilo através do
qual sua melodia verbal alcanço além do mero significar ( Õ edeu ten J. Na época
do declínio da Itnguágcm. George apanha nela a idéia que a marcha da história
Use negou e articula linhas que soam . não com o se fossem d d c. como se tivessem
estado ai desde o com eço dos tempos e devessem necessariamente -cr pura sem
pre assim . 0 quixotism o disso, porem, u im possibilidade de ud poesia repara
dor a. o perigo da artcsaníce acrescem ainda ao conteúdo do poema: o quiméricq
anseio da linguagem pelo impossível torna-se eni expressão do inestancáve] an
seio erótico do sujeita que. na outro, se descarrega de si mesmo, Foi preciso i re
conversão da individualidade, intensificada até ao desmedido, em auto
aniquilam ento — e u que c o culto a M in in iin o do Gcorge du ultima fase, senão
IN TR O D U Ç Ã O Ã C O N T R O V É R S IA SO DRE O PO SITIVISM O
N A S O C TOL O G IA A L E MA *.
6 Lu c. cit* p. 151.
212 AD O R N O
mente de acordo coto o modelo popular, que sobre especulativo imagina aquele
que pensa [utilmente sem compromisso, justa mente sem auto crítica lógica e sem
confrotaçào com as coisas. A partir do desmoronamento do sistema heleaiano. e
talvez coam sua consequência, a. idéia <ie especulação sc inverteu deste modo. Uil
como o queria o clichê fãustico do animai em árida charneca, O que devería
designar o pensamento que se despoja de sua própria limitação, adquirindo assim
objetividade* c equiparado ã arbitrariedade subjetiva: à arbitrariedade, porque a
especulttçào carece de controles uni versai merne válidos; ao subjetivismo. porque
o conceito do fato especulativo é substituído, w m ênfase na mediação, pelo "con
ceíio" que aparece com o retorno ao realismo escoláslíco. e. conforme o rito positi
vista, corno realização do pensamento. a se confundir audaciosa mente cora um
ser em si. Frente a isto. mais força do que o argumento tu q u o q u e , 3 tuu reticente
para Albcrt, tem a tese de que j posição positivista, cujo parhos e cujo efeito se
prtrndem à sua pretensão d c objetividade» é por sua vez subjetiva. Isto o antecipou
á critica de Hegel ao que denominava filosofia á i refiexâo, O triunfo de Camap,
segundo o qual du lilosofia nào restará nada. a fiàõ ser o método: o da análise ló
gica. constitui o protótipo de uma decisão prévia quasíonrobgka paru uma razão
subjetiva.9 ü positivismo, para v qual comradições são artátentâs, possui n sua
mais profunda e inconsciente de si mesma IconlruiliçãoJ, ao perseguir, nHeiício
nalmenle. a mais extrema objetividade, purificada dc todas us projeções subjeti
vas. contudo apenas enredando se sempre mais na particularidade de uma razão
instrumental simplesmente subjetiva Os que se sentem vitoriosos frente ao idea
lismo lhe são bem mai$ próximos do que ê jj teoria critica: hipostasiarn ao con
trnlc científico o sujeito COjçnosüenle. :.c tem que nàt> mais amui sujeito Criador,
absoluto, mas ainda como o topoií novtiaw'* de toda validade Enquanto querem
liquidar u filosofia, simplesmente advogam uma que. apounfit na autoridade da
ciência, se toma impermeável a.vl mesma. E‘ m Camap. elo final da cadeia I lume
Madi bchlick. o vínculo com o positivismo subjetivo mais amigo ainda esui pre
sente através de sua interpretação sensuafistu enunciados protocolares. Como
tambêrn estes são fornecidos a ciência somente através da linguagem, e não são
imediata mente determinados pelos sentidos, aquela interpretação desencadeou a
problemática de Wiiigcnstein. Porém, de modo algum o subjetivismo latente c
rompido pela teoria da linguagem do Jraciaíus. “A filosofia nào resulta cm
proposições, filosóficas", a firma neste, “ mas em tornar daras as proposições. A
filosofia deve tomar os pensamentos, que. assim dizer. sã., vagos c obscuros e
torna los claros e bem delimita dos."10 Clareza, porém, corresponde unicamente* à
consciência subjetiva. No espirito ciemifieistu. WitLgensieiiv 'uvbrcearrcga du tal
Alguirumu» tu tfttõifae c o se volta oenjrrft sí «icfioio. S‘o vumi fircBCiuc. a crinca à CiaJética como rcile-
*à(i .lesprovida dc autocrítica lógica t confrontava*-) mm i. cm-. i:. cias mesmas. iptieíi-se ao pròffk» putiu
vi-.íno que w movv, ,i alter jí , no poi ..'vil- uperMta uu cun; cito Oc npecilIfttlVú. IM. do I i
11 Q tfonuwitu x cnceinra ’ •-•ovolvnkj em: Mas Hürkft^jmcr. Criiicu dú Rúzãn Insirumittvt. t.* omu*-
tTanJífuiT, l9{i?.
B Li>i;al dçtenBifiactí1flc ÇriohfcHneut.. iN í: T '
LuUvíii; wàugciüxeiri. 'fta c to tu s P f t i iv w p h i c t t í t.I 12, FuuikLurL. 2Vftl>l MlóVfi, pO- 31 ■ eiliiilo
pela tradução portuguesa CeJ-A. Qiwiioiu. (N, doT)
PO SIT IV IS MO N A S O C I G L O G 1A A L E M Ã 213
VJUf Helniut F Spinncf. “Wu wjusi du Pliuiüún? llin kJdncf Pnuicsi pegea cuic ‘grasse Pttilüsupliic’
cm Soziale I¥ à t; Revista 2/3. ano 18. dc I9ê7, pp. 174 « .
; fláberl. lar. nt.. p. IM4 . nota |
2 l6 AD OK NO
membros. De modo geral, iodo singular precisa., pura viver, tomar sobre si uma
Tunçào c aprende a ser grrato enquanto tem uma.” '14
A lb ert resp o n sa b iliza Habermas por uma idéia Eotaã de ratão, eom todos os
pecados da filosofia da identidade. F.m termos objetivos: a dialética procede, ruim
modo hegcliunamenic obsoleto, com uma representarão do iodo social fora do
alcance da pesquisa e que deve ver abandonada. O fascínio exercido pela Theory
o f thc Middlc Range de Mcrion há que ser explicado cm grande pane pelo celi
cismo quanto ;i categoria de tolitlidatL*, enquanto os objetos de tais teoremas são
obtido? à força de conexões alastradas. Conforme o mais simples convm n sense.
a empiria conduz à totalidade. Se estudamos. por exemplo, o conflito social em
um caso como o dos excessos cometidos em Berlim, contra o? estudantes, em
3967. então os motivos da situação Isolada (lãü são suficientes para a explicação.
Uma tese como n de que a população reagiu espontaneamente contra um grupo
que lhe parecia põr em perigo os interesses da cidade, mjmhda sob condições
precárias, seria insuficiente não ,somcru c devido á quesiionabilidadc das cçmexòíb
poli tico-ideológicos por ela imputadas De maneira nenhuma ala torn? plausível a
fúria mantlcsmdu imcdíaiamcnte por violência fisica conira uma minoria espeei•
liea visível e facilmente idenlíficável peto preconceito popular. Os estereótipos
mais. difundidos c eficazes cm voga contra os estudantes; de que participavam de
manifestações cm ver de trabalharem utna inverdade flagrante — . de que
desperdiçavam o dinheiro dos contribuintes que pagam os seus estudos, e coisas
semelhantes, evidentemente nada têm n ver com 3 exacerbada situação. Tais
lemas se assemelham visivelmente àqueles da imprensa do ‘dingo";15 mas uma Lu!
imprensa dificilmente encontraria ressonância. se não se associasse a disposições
da opinião c dos impulsos Jc numerosos indivíduos, que cia confirma c fortalece.
Anti intelectual]sírio, p disposição rfc projetar o dcscomentámcnio eom situações
problemáticas sobre aqueles que denunciam os problemas revelam se às reações
às causas imediatas; estas aluam como pretexto, como racionali/.uçua, Mesmo
que o situação tfc Berlim fosse um fator que contribuísse para liberar o potencial
psicológico das masaas, da por sua vc/. não seria inielijtsívcl fora do contexto da
política internacional. Pretender derivar da assim denominada situação Ic Berlim,
o que procede de dispuias de poder que se aiufili/um no conflito de Berlim. seria
um procedimento por demais limitado. Prolongadas. ;ls Linhas condiu»em ao plexo
social. Dada a multiplicidade infinita do seus momentos, este dificilmente admite
ser apreendido por prescrições demificistas. Contudo. uma vex eliminado da ciên
cia. os fenômenos são atribuídos a causas falsas, do que regularmente se aproveita
u Ideologia dominante. Que a sociedade não permite ser firmada como fato. isin
expressa apenas o fato mesmo <ja mediação: os latos nào $ie aquilo tido por u|ti
mr> e impenetrável pelo que os considera a sociologia dominante, conforme oh1
vista como seu substrato último, ê função da mesma sociedade .u cujo respeito
cala a sociologia cieniifrdsta. insistindo na imperscrutabilidade do substrato. A
separação absoluta entre fato ç sociedade constitui um produto artificia! da refle
xão a ser deduzido e refutado por meio de uma segunda reflexão.
Numa nota de pé de página, Albert diz: "I labei mas cita neste contexto a
indicação de Adorno ã tnvcrifieabilidade da dependência de todo fenômeno social
em relação à “totalidade*. Esta citação provém de um contexto em que Adorno,
remetetido-stí a Hcgcl. afirma que a refutação c frutífera apenas como crítica ima-
nente; para tanto, ver Adorno. S o b r e a L ó g i c a d o * C i ê n c i a * S o c i a i s . Ao mesmo
tempo, o sentido das considerações dc Poppcr acerca da verificação crítica é
transformado. mediante ‘reflexão continuada’, quase em seu oposto, Pareee-mc
que a invcrificabilitladé do citado pensamento dc Adorno se vincula de imcío
tíssencialtnentc ao fato dc que nem o conceito dc totalidade utilizado, nem o tipo
de dependência referido é orientado a um esclarecimento, por modesto que seja.
Possivelmente nada mais há por trás do que a idéia de que de algum modo tudo
se relaciona com tudo. Até que ponto, a. partir de uma tal idéia, se pode obter uma
vantagem metodológica para alguma concepção, è o que precisa ainda ser
comprovado. Meros exorcismos verbais da totalidade não são suficientes.'"1Con
tudo, a “inverilkiibitidade" não corrísfe em que. para o recurso h totalidade, nap
possa ser referida uma ru/áo plausível, mas cm que ü totalidade não c fâlica cnmo
o são os fenômenos sociais singulares nos quais sé limita o critério de vcrificabi-
Iidade de Albert. Ã objeçãu de que por trás do conceito de totalidade nada mais
exisic do que a trívlalidaik* de que tudo se relaciona cOtn tudo» ha que replicar que
a má abstração desta proposição não constitui apenas um produto débil do pensa
mento, mas o teor básico da sociedade: o da troca, Na sim realização universal,
c não apenas nn explicação científica do mesmo. é que se abstrai objetivamente;
prssctnde-sç da eonsiiititçâiJ qualitativa dos produtores e dos consumidores, do
modo dc produção, e ate mesmo da necessidade, que c satisfeita secundaria mente
pdo mecanismo social A humanidade convertida em clientela, sujeito das neço*
sídades, é ainda, além Ue todas as representações Ingênuas, preformada xocial
mente não apenas pela situação técnica dos forças produtivas, mas igual mente
pela* relações econômicas em que estas funcionam. O caráter abstrato do valor de
troca está vinculado a p r i o r i á denominação do universal sobre o particular, da
sociedade sobre seus membros coates. Ele não é social mente neutro, como simula
st logiddade do processo de redução a singularidades, urís como o tempo de traba
lho socíal médio. Através da redução dos homens a agentes e portadores da troca
de mercadoria*, realiza-se a domirtaçào dos homens pelos homens. A conexão
total configura-se concrecamenlc nn medida em que todos são obrigados a se sub
meter á lei abstrata da troca, sob pena dc sucumbirem, independente de serem ou
não subjetiva mente conduzidos por um “afã de lucro13*.20 A diferença entre a
visão dialética da totalidade, e a positivista, se aguça justa mente porque o con*
13 td m p. 207. anta 26
l f Àdcirno, vocábulo Scieittfíwcle, ,C ■
- coluna (t »y.
POSITIVISMO NA SO CIO LO G IA ALEM Ã 2lQ
ceito dialético de totalidade pretende ser “objetivo”. i$tO é, ser apljcávd a qual
quer constatação social singular, enquanto as teorias de sistemas positivistas, ten
cionam somente, pela escolha de categorias as mais gerais possíveis* reunir
constatações sem contradição em um continuo lógico, sem reconhecer os concei
tos estruturais superiores como condição dos estados dc coisas por eles subsumi-
dos. Ao denegrir este conceito de totalidade como retrocesso mitológico e prê-
eienLífico, o positivismo- cm infatigável luta contra a mitologia, mitoíogiza a
ciência. Seu caráter instrumental, quer dizer- sua orientação cm direção ao prima
do de métodos disponíveis, em ve* de à coisa e sen interesse- inibe considerações
que afetam tanto o procedimento cientifico como o seu objeto. O cerne da critica
ao positivismo consiste em que este se fedia à experiência da totalidade cega-
ment-ç dominante, tanto quanto ã estimulante esperança dc que final mente haverá
uma mudança, satisfazendo se com os destroços desprovidos de sentido que resta
ram após a liquidação do idealismo, sem interpretar e descobrir a verdade, por
sua vez. da liquidação e do liquidado. Lm lugar dislo. encontra díspar o dado
interpretado subjetivam ente. e, de modo complementar, as Formas puras do pensa
mento do sujeito, bsics momentos diferenciados do conhecimento são retinidos
pdo cicntificistno contemporâneo tão superfstíiaJrtíente como o Fez nutrory a filo
Sofia da reflexão, que por este preciso motivo mereceu a sua crítica pela dialética
especulativa, A dialética contém também o oposto da h y b rts idealista. Afasta a
aparência cie qualquer po&sivd dignidade natur&lmente transcendental do sujeito
singular, compreendendo a este e às suas formas dc pagamento como algo social
em si: nesta medida, elu é mais “ realista" do que o cienlifictsmo com lodosos seus
‘"critérios dc sentido”.
Como porém a sociedade se compõe de sujeitos e se constitui graças à cone
são funcional destes, seu conhecimento por sujeitos vivos, comensuráveis, resulta
muito mais eomensurável à '"coisa mesma * do que acontece na* ciências naturais,
obrigadas, pela estranheza de um objeto, que por sua ve/ nlo c humano, a transfe
rir a objetividade inlcirnmentc no mecanismo categoria t, à subjetividade abstrata.
Frçycr atentou para isto; a distinção atemà entre o ncmotêfico e o ideo gráfico
pode ser posta fora de consideração, tanto toais que uma teoria nao simplificada
da sociedade nào pode prescindir das leis de sua mobilidade cstmurnl. A comeu
surabilidade do objeto sociedade quanto ao .sujeito cogito scente existe tanto como
não existe; tamhcm isto dificilmente pode ser conciliado com a lógica discursiva.
A sociedade é ao mesmo tempo inteligível e ininteligível, Inidigivd na medida em
que o estado de coisas objetivam ente determinante da troca implica abstração, de
acordo com aua própria objetividade, implica um ato subjetivo: nele o sujeito
verdadeira mente reconhece* a si mesmo. Isto explica, do ponto de vista da teoria
científica, por que ã sociologia weberiana está centrada no conceito da racionali
dade. Nela de procurava, não importa ãc conscientemente ou não. aquela igual
dade enire sujeito e objeto, própria u permitir algo como o conhecimento da coisa,
cm lugar dc seu esfacelamento em faias reais ç do tratamento mecânico destes.
Contudo u racionalidade objetiva da sociedade, a da troca, pela dinâmica própria
afasta-se cada vez mais do modelo da razão lógica. Por isto 3 sociedade, o que se
220 AD O R N O
tomou autônomo, também nâo continua a ser inteligível: 0 c unicamente a lei de-
aatonomizaçio. Inintdigibilidade designa nào somente algo essencial ã sua cstru
luta. mas também a ideologia, mediante a. qual sc protege da crítica à sua irracio
nalidade. Porque a racionalitia.de. o espírito, se dissociou como momento parcial
dos sujeitos vivos, -,e limitou à racionalização, clâ continua a se movimentar ern
direção oposta ao sujeito. O aspecto da objetividade como imutabilidade, de que
da assim-se reveste, se reflete nova mente na coisilTcacüc da consciência cognos
centc A contradição no conceito da sociedade como inteligível ç ininteligível
constitui n motor da critica racional a se alastrar pela sociedade c pôr seu tipo de
racionalidade, a particular. Procurando a essência da crítica na eliminarão das
contradições lógicas do conhecimento pelo progresso deste. Pòpper torna seu pró
prio ideal em crítica à cossü. ao ter a contradição seu lugar cognoKcível nela c não
apenas em seu conhecimento. Uma consciência que nào usa nntolhes frente à
constituição antagônica da sociedade, e também frente á iiimrienLe contradição de
racional idade e irracionalidade, precisa partir para a crítica à sociedade sen;
m t i á b a s i s e h á íli} gêtws. sem outros meios do que os racionais.
Habcrmas, em seu trabalho sobre a teoria analítica da ciência, fundamentou
.1 transição à dialética como necessária, temlo em vista o conhecimento específico
da ciência social.?l Conforme sua argumentação, não apenas o objeto do conhe
cimento é meduui/ado pelo sujeito, como. aliás, reconhece o positivismo, mas
lambem inversa mente: o sujeito incide como momento na objetividade u ser pnr
ele conhecida, o processo social Neste, em relação direta à expansão eiéoiifica.o
conhecimento é força produtiva. A dialética .quer encontrar o cientificismo em seu
próprio campo, ao pretender conhecer melhor a realidade social contemporânea,
Procuíft traspassar o véu que a ciência ajuda a uscer. Sun tendência harmoniza
dora permitindo, graças a seu metódico tratamento mecânico, o desaparecimento
dos antagonismo* da realidade efetiva, repousa no método diisófiemôi io* sem
qualquer imuneiormlidatic: dos que dele sç utilixam. Reduz :i um mesrno conceito
coisas essencial mente irredutíveis c contraditórias, por meio da escolha do apara
to conceituai c a serviço de sua unanimidade. Constitui exemplo recente para esta
tendência í» mui oonfiocida tentativa de 1alcotl Passons de fundar uma ciência
unificada do homem, cujo sistema de categorias compreende t^ualmerue indivíduo
c sociedade, psicologia, e sociologia ou. pelo menos, as apresenta em um comí
nuo,* * O ideal de continuidade vigente desde Descartes e sobretudo a partir de
l .eihníz não se tornou duvidoso apenas devido ao desenvolvimento maus recente
das ciências naturais. No plano social, é enganoso a respeito do abismo existente
entre o universal e o particular, no qual y permanente antagonismo se expressa: a
unificação tia ciência desloca u contraditoricdade de seu objeto, A satisfação
indubímvclmenta contagiosu que procede da ciência unificada ccjti um preço: o
momento da divergência entre indivíduo e sociedade, socialmcnte posto. bem
J y KiWi-Jwcrgen tf ubtimas. -Teoria .nmliiica da cinK-la c dwléiic». üUtunbuLção^ w nfravérsiá entre Clipper
b ÁJaTT«)”,cm -l DinfJitiu 4o PuiSto tuírtti. . p. JJJ |.
í : JWHiowtor W. Adorno*' Acerca tl* Tdaçfó entre wcíoIo&í e nsicnlojin", w SnrMisica-' c^tríbui
rííJ tSCúlü de Frankfurt àSocifíhí;ia. 1. r»r>- 12 ss.
como as ciências dedicadas -a ambos. Lhe escapam, O esquema tataliíüdor de Uto
pedante organização. que abrange desde o indivíduo l* suas regularidade» aié as
formações sociais mai-s complexas. tem lugar paira tudo, menos- para u separuçâo
histórica de indivíduo e sociedade, embora não sejam estes radical mente di stinto».
Sua relação ê contraditória porque a sociedade recusa aos indivíduos, cm ampla
medida, o que ela sempre lhes promete, como sociedade dc indivíduos, e o que
constitui em última análise o motivo de sua constituição, enquanto por sua ve/ os
interesses cegos e des en ficados dos indivíduos >inguiares inibem u formação de
um possível interesse social global, Ào ideal dc uma ciência unificada cabe um ú
lulo que seria 0 Ültímo a Lhe agradar, o estético, do mesmo modo como falamos
de elegância cm matemática. A racionalização organizawria, em que desemboca
o programa da ciência uni ficada Irentc ãs ciências singulares díspares, prejulga ay
e.viremu as questões dc leu ria du cicrtcia levantadas pela sociedade. Se. nas pala
vras dc Wdlmer. "dotado de sentido ■se converte cm sinônimo para cientifico *,
então n cicturia. sodalmçnte mcdializiida. dirigida e controla da. que paga à socie
dade existente e à sua tradição i> iributo devido. usurpa o papel do arbittr veri et
fülst. Ao tempo de Kant. a questão da constituição lIcl teoria do conhecimento era
a da possibilidade dn ciência. Hoje. ela è novamente remetida a ciência como sim
pies tantologia. Conhecimento* ç procedimentos que, em ver. de se manterem no
interior dn ciência cm vigor, lhe concernem crítica mente, são evitados a lirtiiuc.
Assim, o conceito aparentemente neutro de "vinculo convencional tem implica
çõtò fatais. Pela poria dos fundos ila teoria dn convença» é contrabandeado o
conformismo social como critério de sentido das ciências sociais; valería a pena
analisar detalhadamente o emaranha mento de conformismo c auto csaUuçá» dn
ciência. HorfchcimcT aludiu a todo este complexo há mais de irfhisi unos em seu
enstij» "O muis reeeitu ataque á metafísica".*' i urulxih Poppca supac o conceito
de ciência corno evidente cm sua condição de fato real dado. NU> entanto, depôs
sui cm si mui dialética histórica. Quando, ria virada do século X V II1 para o X IX ,
foram escritas a Doutrina da Ciânda de F icliu e a Ciência da Lógica de I legd.
Lería permanecido critica mente m> nível do pré científico o que presememcnie
ocupa com pretensões a cxcki-sivÍLlade »• umceitu de eiénciu. cuquam» linjc é eon
denado como extracicruílic» pelo assim denominad» cicntificismo de Poppcr o
que enifu) se chamava cléndít nu, ttutis qttimerieamente, saber absolmti. t) moví
mento da história, e nâo apenas da espiritual, que levou a isto de modo algum
constitui progresso como o pretendem vaidosamerue os positivistas, lodo o rdi
namerun matemático da metodologia científica cm avanço nào dissipa a suspeita
dc que a conversão da ciência eiti uma técnica junto ãs outra» está minando o seu
próprio conccliu, O mais forte argumento para isto seria que o que a interpretação
cientiftcista considera como fim. o fact fmding, constiLui paru a ciência somente
meio para a teonu: na ausência desta não se esclarece por que n todo è çonsti
Luido. Ahás. a alteração no funcionam cato du idéiu dc ciência já se inicia com os
idealistas, sobrei udo com Hcgeb cujo saber absoluto coincide mm o conceito
H O caitátÇHf iiimbí|íUO 4n linituapem IC £*pr«JWa pela tífÇyflst:cnüÍJi. m i 41*2 su.1 ÍB tíéraíiô tfcrtii *?l pu&i(iv$*>
ias lIl- a^quiiii objctiviUiulc unii-.iwtntti nvUmnlc .1 inicflç.nt subjetiviu Sqinçfuç quem pressa Uíi mdtK»
maneira [nttfsível ü que quet ílitcr Hvbj«iivA.neflU: piugnk «Ir enninnrmlitclí Cíim nbiel ivsdíiilc da tinftiwwm.
ibrulú£ttuki'a enquanto n>da icncauva (te se confim ao .ser-c-u \i üu ün; usien, bem tamo á ma ^ièneia
tinlulãiftCG, culmina nom». subjcli vc^cro* rin IiíjVwi.íkc dc fl•wrn>de. iLEt&uaismi lá Refljan .»ha-*-i;•percebí
ini nOpOsitivisnin, iRcvçân feíi;. .tu Win ^rniMein. únicix 14.1.1211n li cr rnotiv.i po&ílivKta .ipmemu. lx-eçiiic , X
ncKligniL-ia ili».cl.-.i de muiius, cnemirip^as, pwjKivd tfc raciona liíflçiui mediante o Uibu a respeiCü Ut-
inoniçilUJ cxprcisivií .1.1 iiniíU^^çn., dei».IIlIÍJI IJIllil COmCicrti^J çtilí lllcau.. tJ m# V(f i]l(! LldcildiS í ikiymaii
ca mente convertida em uma objetividade, que nio deve ler p&SSado pet' sejeim a i-vprcsiào da lin&iuii;rm
«caba ba.gai[clccxda, Quem sempre dispõe estados íe coisas como-sendo cm si, Mm mediação subjeibL pana
esle a forrrmlaçíu tomo se iniJirtmitç, às cusi;v. da coisa dcifieadn
224 AD ORN O
? ” A vi(.;Aj«ia irinwirii U” .- J. Pnm*.| int^-rrii numa unnvr-.hViiJ.. ftlvujkU. .il;n cíiiihj um tlnui>ininiidiw
co Oiu■
■) tAtft ntiibiis. J 'Uk lÍBpjfcti, ~Dle Le^i; (ler Sim IAI.»ímíhih 11tccrT (“ Ai InMjqa das eiênejsks vouijikO . itti
I fihpwa tiaFtitiUvtsim, . [ iv.
•' " Inicmlificmc ele sc liedariNi cm eoncrM-ilãnçiii c.im i priiiea dc t*oppcr ;m "naíuralkmis .m çiemificisino
b: l-l. ujoliyieo circulei) ou imKíciiiV l iW .-Píiptv Jttr ■
■é j- m? t- >Vd«eno. " V Iflpca iin.k iü n ti. 1 '. «scmi-V.
p. 128). mas e|ttseguida não ucutumque. sqjtmdnseu eaneeiia ilt crítica, icna que ir atqsmao eiKktóSáà) por
Pii-pjper (vide Aílorttò.Jfettf- eit, pp. 128 -o?.
226 ADORNO
sistema de ordem superior. A leoria dialética precisa cada vez mais afastar-se da
forma de sistema: a própria sociedade st afasta sempre mais do modelo liberal
que lhe imprimiu o caráter de sistema, e seu sistema cognitivo perde o caráter dc
ideal, porque, na configuração pôs liberal da sociedade, sua unidade sistemática
vai se amalgamar, como totalidade, com a repressão. Alt onde atualmente o pen
samento dialético, também e justamente na crítica, segue com excessiva inflexibi
Üdade o caráter de sistema, inclina se a ignorar o ente determinado, entregando sc
u representações fantásticas I cr atentado para este fato constitui ura dos méritos
do positivismo, cujo conceito de sistema, como de simples classificação intracicn
lifica. nào sucumbe da mesma forma ;t tentação da hipóstasc A dialética hiposta
siudu loflla sí anti Jiutelieu e necessita Je oorrvçào por aquclm j a c t J i n d t n g cujo
interesse é percebido pela pesquisa social, que por sua vez c em seguida injusta-
meme hiposta^iada pela doutrina positivista da ciência. A estrutura prevíamente
dada. não proveniente apenas da classificação, o impenetrável duiklieimiano. é
algo essencial mente negativo, inconciliável Com sai próprio fim. a conservação e
satisfação da humanidade. Sem um tal fim, em verdade, o conceito da sociedade
seria, quanto no conteúdo, o que os positivistas costumavam denominar dc des
provido de sentido: nesta medida a sociologia, lambem como Leoria critica da
sociedade, é "tópica" O que obriga t ampliar o conceito dc critica além dc sua?
limitações em Puppcr, A idéia de verdade científica não pode scr dissociada da de
uma sociedade verdadeira. Apenas esta seria livre Lanto da contradição como da
nào contradição. Lsta última, resigna damente o cicmificismo a relega unicamente
às forma-, simples do conhecimento,
Contra a crítica ao objeto, em ve/ de somente ás discordãncia.s lógicas, o
eientifieismo se delendc upelundo a sua neutralidade social. Da problemática di
urna «al limitação da razão critica, lanto Alberl como Popper parecem dai se
conta: daquilo que 1laber mus exprimiu dizendo que a ascese cicntilicisia favorece
o decisionismo dos lins. o irracionalísmu. que já se imprimia n;i doutrina webe
tinna da ciência. A concessão Je Popper segundo u qual ''proposições protoco
lares não são intocáveis parece mc configurar um considerável progresso".3' dc
que hipóteses dc leis de caráter universal numa prática plena cJe sentido nào pode
riam ser compreendidas como verificáveis, e de que isto va teria inclusive pura tis
proposições protocolares.32 efetiva mente leva em frente, de modo produtivo, o
conceito de crítica, Proposital mente ou nào leva se cm conta que aquilo a que se
referem as assim denominadas proposições protocolares, as simples observações,
são pre formadas pela sociedade, que, por sua vez, novamente nào admite *er
redu/ida a proposições protocolares. Contudo, se substituímos o usual postulado
positivista da verificação por aquele da "possibilidade de confirmação , então o
positivismo c privado dc todo seu saí. Todo conhecí mento necessita de confirma
ção, todo conhecimento precisa rncioaalmente distinguir o verdadeiro e o Falso.
sem dispor tiutológica mente as categorias tk verdadeiro e falsa conforme íls re
gras do jogo de ciências estabelecidas. Pop per contrasta a sua "sociologia do
saber" com a sociologia do conhecimento, usual desde Mannhcim c Sçhçkr, E k
sustenta, uma “teoria da objetividade científica". Ela porém não alcança além do
subjetivísmo cicntíficisia,3* submetendo &c à proposição ainda válida de Durk-
heím. dc que não exisrc “um.a diferença essencial entre a proposição: eu aprecio
isLo. c a proposição: um determinado número de nós aprecia isto*’.3 '* Popper
esclarece a objetividade cicntíTica que sustenta; “ Esta pode ser explicada somente
mediante categorias sociais Laís como: competição (tanto dos cientistas isolados,
como das diversa* escolas); tradição (a tradição critica): instituição social (como.
por exemplo, publicações em diferentes periódicos concorrentes e por meio de
diferentes editores concorrentes; discussões em congressos): poder do Estado (a
tolerância política das discussões Livres)'’. 35 Estas categorias são notoriamente
problemáticas. Assim, a categoria de competição encerra todo o mecanismo da
concorrência, inclusive aquele funeslu. denunciado por Mnrx, conforme o qual o
sucesso no merendo tem primazia frente às qualidades du coisa, mesmo tratando-
sc Jc lórmuçôcs espirituais. A tradição cm que Popper xc apóiâ tornou-se inriubi
tavdmente, no interior elas universidades, cm freio das forças produtivas. Na Ale
ntnnhri há uma ausência total dc tradição crtiica. para nem mencionar as
“ discussões em congressos", que Popper lusitana cm reconhecer cmpiricamente
como instrumento da verdade, da mesma forma como não superestimará o níean
cc efetivo da "Lolerânein poliu ca da discussão livre" rui ciência. A lorçada
despreocupação frente a tudo isto respira o otimismo do desespero. A negação
ítprkmxiica dc urna estrutura objetiva da sociedade c a sim suhsriuiição por esque
mas de ordenação extirpa pensamentos que se voltam contra aquela estrutura,
enquanto o impulso poppcríann de ilustração pretende justamente pensamentos
(ie-sut ordem, A negação dc Objetividade social a mantem intacta cm sua Ibrma
p u ra; l» lôgicti absoLitízada é ideologia, Habermas afirma acerca dc Popper:
'"‘Contra uma solução positivista do problema da base. Popper insiste que as
proposições obscrvndonais adequadas á falscaçâo dc hipótese» dc icis não admi
têm justificação empiricín tcrminanTc; em lugar disto, deve ser tomada uma deci
sào cm cada caso. sc a suposição de uma proposição dc base é suficiecuementií
motivada pela experiência. No processo dc pesquisa, todos os observadores que
participam dc tentativa» dc falscação de determinadas teorias precisam chegar u
um consenso provisória e u qualquer momento refutável acerca dc proposições
observacioíiàis relevantes: esta concordância repousa em últirrui instância em uma
opção que não pode scr forçada, nem empírica nem logicamente”.3 * Ao que
corresponde a comunicação de Popper, apegar Je pleiteai que; “L inteira mente
errôneo supor que a objetividade da ciência depende da objetividade do cientis
Ui".J ' De fato, porém, aquela objetividade sofre menos em virtude da antiquada
igualdade pessoal do que pela pré-formaçao objetivo-social do aparato científico
coísificãdo. Para isto o nominal ista Popper não possui corretivo mais vigoroso do
que a inter-subjetividade no interior da ciência organizada: “O que podemos
designar por objetividade científica repousa única c exclusivamente na u adição
crítica: naquela tradição que. a despeito dc todas as resistências, possibilita tantas
vezes criticar um dogma vigente. Em outras palavras, a objetividade da ciência
nào í um problema Individual dos diversos cientistas, mas um problema social dc
crítica recíproca* da amistosa-e-Jiósti] divisão dc trabalho dos cientistas, da sua
cooperação e dc seu conTronEo” . 33 A confiança. cm que posições muito diver
gentes se conciliem graças às regras reconhecidas tia cooperação, adquirindo
assim o maior grau de objetividade possível do conhecimento, comcorda mteira-
mertte com o antiquado modelo liberal daquele# que se reúnem numa mesa tedon
da a negociar um compromisso As formas da cooperação científica contêm um
grau infinito da mediação social; apesar dc denominá las tema social", Popper
não se preocupa com suas implicações. Estas vão desde mecanismos dè seleção
que controlam o acesso à carreira c ao renome acadêmicos - m ecanismos em
que obvia mente decide a conformidade com a opinião do grupo dominante atê
a conform ação da c&mmunis o p in io e suas irracional idades. A sociologia, que
iiírmuicumcnlc trata dc interesse?, explosivos cambem quanto ò sua conformação
própria, constitui, não apenas na esfera privada, mas pracisamente em suas insii
ttilçòcs, um microcosmo daqueles imeresaes, Disto já sç encarrega o princípio
clnssific&tóriu err. si. □ alcance de conceitos que pretendem somente ser abrevia
turas de fatos encontiadiços. não ultra passam n âmbito destes. Q uão mnis profun
damente d método aprovado se introduz nu matéria social, tanto mais evidente
seu partidarismo, Por exemplo, quando : l sociologia dos “ meios dc comunicação
dc massa'* o próprio título já difunde a preconceito de que o que deve ser pia
nejado c mantido na esfera da produção deve ser obtido Júâ sujeitos, as massas dc
consumidores — . nada mais pretende do que investigar opiniões e atitude*, para
delas extrair consequências ‘"crítico sociais"; o sistema vigçrue atende silenciosa
mente ;t uma manipulação centralizada, e, reproduz.indo se por intermédio de rca
çóes de massa, erige-se cm norma de si mesmo. A afinidade dc toda a esfera deno
minada dc cuhmnbirative research por Paul F, Lazarsfdd com os objetivos da
administração é quase líimológica: contudo, nâo c menos evidente, se o conceito
de estrutura objetiva dc dominação não é, a força, convertido em tabu, que estes
objetivos são modelados conforme suas necessidades, com frequência passando
pür cima das cabeças dos administradores individuais, A admiiiis/raiive rwsmrch
constitui o protótipo Je uma ciência social que sc apoia sobre a teoria cientifícista
da ciência c que recai no âmbito desta. Assim como quanto no conteúdo social a
apatia política sc apresenta coma poliiicum. também acontece quanto à enaltecida
neutralidade cientifica. Desde Pareio, o ceticismo positivista sc arranja com qual
quer podar vigente, inclusive o de Mussotini. Uma vez que toda teoria social está1
1 7 PoppÜT. jMJ„ P i i j
u
P O SIT IV ISM O N A S O C IO L O G I A A L E M Ã 231
entrelaçada com a sociedade real, segura mente qualquer urna pode ser alvo de
abuso ideológico ou manipulação; mas o positivismo, como toda tradição cético-
POminalcsta.J 9 presta se especial mente a manipulação ideológica em virtude de
sua indeierminação de conteúdo, seu procedimento ordertador. c firialmcnLC a
preíêrêneia pela certeza frente à verdade.
A medida cicniíficistâ dc todas as coisas, o fato como aquele fixo. irredutível,
em que o sujeito não deve tocar, é tomada dc empréstimo ao mundo a ser consti-
tuído apenas tnore scienlijleo :i partir dos latos e sua conexão formada conforme
preceitos lógicos. O dado à que conduz a análise cienlifieiita. o último fenômeno
subjetivo postulado por um conhecimento crítico, irredutível, constitui por sua vez
3 côpin deficiente justamenle daquela objetividade, ali reduzida ao sujeito. No
espírito dc uma imperturbável pretensão dc objetividade, a sociologia, nào deve ve
contentar com o mero fato, somente na aparência o mais objetivo. Ali se conserva
antideali.sticamenie algo du conteúdo de verdade do idealismo, A posiçàu de
igunldude de abjeto c sujetio c valida até o ponto um que o Sujeito è Objeto, dc iní
cio nu sentido acentuado por Habermas de que a pesquisa .sociológica c por sua
vez pertinente à Conexão objetiva que pretende investigai.40 Albcn replica: "b
sua intenção” — dc Habermas — “ deefarar o sadio entendimento humano, ou
numa expressão mais relutada, 'a hermenêutica naiurtti do mundo socml’ corno
sacrossanto? Caso contrário, em que consiste u particularidade dc seu método?
Em que medida nela *a coisa’ tem 'mais valor’ quanro 3 Neu próprio peso’ doqttc
nos métodos usuais das eicncias da realidade '" 41 Entretanto, de maneira alguma
:i teoria dialética suspende, tal com o outrora H eg d, de modo artificial c dogran
tico, a crítica ã assim denominada consciência prc-científica. Nn congresso de
sociologia dc Frankfurt em 1968, Dahrciiclorf apúsirolbu ironicamente ox dinléti
co s: E le s sabem muito m ais do que cu, Duvida, d e do conhecimento de uma
objetividade social preexistente, uma ve/, que o social é eni .si mediatizado por
categorias subjetivas do entendimento. O predomínio do método, atacado pelos
dialéticos, nada mais é do que reflexão progressiva da in u m tio recta, pela qual se
realiza 0 prôgresso da ciência. Contudo, os dialéticos criticam juSlitmcnte a eriti
cada teoria do cqnlivesmemo. a tnieiulu ublhfun, em sun própria consequência.
Nisto cobram todas as proibições em que o cfantüíeismo se aguçava até 0 recente
dcsuavolvínicniu da filosofia analítica”, porque se realizam às-custas do conhecí
mento, 0 conceito de coisa mesma não reanima, eomu pretende AÈben, “ diUermi
nados preconceitos” ou mesmo a precedência da “origem" espiritual frente no
“ rendimento", no que aliás o positivismo não é tão imponente ria marcha da
sociologia. A concepção poppeiiana citada por Albeit, em consequência dc que
teoremas “ podem ser cntendidos como tentativas dc aclarar os traças estruturais
da realidade V 1* não dista tanto assitn do conceito daquda coisa mesma. Popper
v HDtkliuiinc/.. "MurtLiLíujiic e .j lUnçsiu da “SkçpsLs’ " íin T ç a n u Cnpiica, rama IJ. t & c .c h ,, p. 22u
JB t jui- vii■
paiifm.
'ía Vide Hahrrenas. "Contra uin raeioflolistno dividido pd* posíiivíteio". em A Disputa dn Posttivixtm. .
** Albert. "O mito da mdio total”, rftfrf.. r». 20-i
48 Albcn, “Pdas- casuis da |X3Kitivismo?”, ib iif., p. 285, nota 41; P«/p uuHtàlt Poppfir. “ 0 tíílaljdííilmtmo
dc otyiílivws pata a ciaicia cxpcuíticnuiL J çru Rulio, anu I. 1957: rrimpresse r:?n "Tltcórie und Xealttaicl".
editado por Hitns Álhar. T ■jbingen, ua-l".
232 ADORNO
nào renega, como a seu tempo fez Rciehenbach, a tradição filosófica. Critérios
lais como o da "relevância" 43 ou da “ força explicativa". 4 4 que não deixa de inter
pretàr posEeriormertte num sentido aproximativo de um modelo de ciência?; natu
rais. diríam pouco sc por irás nào figurasse implicitamente um conceito de soeic
Jade que muitos positivistas, como Konig e Schelsky na Alemanha, preferiríam
eliminar. A mentalidade recitada a ioda estrutura objetiva da sociedade estremece
em face do objeto que transformou cm tabu. Ao mesmo tempo que os deritifi
dstas caricato ri zam seus opositores como metafísicos sonhadores, eles próprios
deixam de ser realistas. Técnicas operacionalmente ideais distanciam SC forçosa
mente das situações em que se situa o que deve $çr investigador isto poderio $er
demonstrado sobretudo na experiência sócio-psicológica, mas também na suposta
melhora dos índices A Objetividade a que propriamente deveria servir a afinação
metodológica, o evitar fontes de erro. toma-se algo secundário, que o ideal opera
ciunal piedosa mente arrasta consigo: o que era central transforma se em perifé
rico. Dominando a vontade metodológica, desprovida dc maior reflexão, dc tomar
problemas “fítlscávoK" univoeoimenie dcctdívçis. a ciência se atrofia em aliema
tivas que emergem somente graças à supressão dc varíables» abstraindo portanto
do objeto, c assim transformando-o, Dc acordo com este esquema, o cmpiiismo
metodológico opera cm direção oposta à experiência.
Que sem referencia à totalidade, ao sistema global real porém intradu/uvcl
em i medi ater tangível, nada dc social pode ser pensado, que no entanto só pode
ser conhecido enquanto apreendido no singular fático, constituí o que na soeioto
gin confere peso ã ituerpwtaçãc. fila constitui a fisionomia social do que se mani
festa. Interpretar significa, em primeiro lugar, perceber a totalidade nos traços dos
dados sociais;, A idéia Ja "aproximação antecipada" ã totalidade, que eventual
mente um positivismo muito liberal aprovaria, nâo c suficiente: ã lembrança de
Kum. du \ isei a totalidade como algo infinitameme abandonado e adiado, porém
n scr preenchido dc princípio por dados, sem considerar ^alto qualitativo entre
essência e leriômeno na sociedade. A análise fisionômica lhe Ia/ mais justiça, já
que apresenta a totalidade que “ é" c não uma simples síntese de operações lógi
cas. fazendo as valer em sua relação ambígua aos fatos que decifra. Os fatos não
sfto idênticos com da. mas cia não existe além dos fatos. Um conhecimento social
que nâo começa com a visada fisionômica empobrece dc maneira insustentável.
Possui caráter canônico para de o s o u p ç n n quanto ao fenômeno como aparência.
O conhecimento não pode se deter nisto. Desdobrando as mediações do fenômeno
e do que ntihis se expressa, a interpretação frequentemente se diferencia e .se reti
fica de modo radical. Um conhecimento digno do homem, â diferença do registro
obtuso, que cm verdade c pre científico, tem seu inicio ao ser aguçado o sentido
paru o que em Lodo fenômeno social se dá a conhecer: se algo pode ser definido
como o órgão da experiência cientifica., então será isto. A sociologia estabelecida
expulsa este sentido: donde a sua esterilidade. Mas onde se encontra desenvolvido.
42 Pnppcr"A lógica cinscuticeíls sociais” . cin A üitputa tfo Pusütviçw) . .tp. 114
POSITIVISMO N A SO C IO LO G IA ALEM Ã 211
há que svr disciplinado. Sua disciplina requer Lantu licn alto grau Je exatidão da
observação empírica quanto também a torça da teoria que inspira a interpretação,
$ graças a esta se modifica; Muitos clentificislas concordariam general menu:
com isto, sem que isto implique o desaparecimento Ja divergência. Constitui uma
das concepções possíveis, O positivismo encara a sociologia como uma ciência
entre as outras, c. desde Corette. considera os consagrados métodos do ciência
mais antigíL sobretudo a da natureza, como aplicáveis ã sociologia. F aqui que
está coruido o engano propriamente dito. Pois a sociologia possui um caráter
duplo: nela o sujeito de todo conhecimento, justamente a sociedade*, o portador da
universalidade lógica. é simullmeamente objeto. Subjetivam ente. a sociedade, por
remeter aos homens que a formam, e inclusive seus princípios de organização,
remetendo a consciência subjetiva e Sua forma de abstração mais universal, a íógi
ça, é aluo eüsenciai mente imersubjetiva. Ela é objetiva, porque na base cie sua
estrutura de apoio, sua própria subjetividade não lhe é transparente, já que não
possui sujeiLo global c impede a instauração deste em viriude de sua organização.
Um Lal curáler duplo. porém. ulLera u relação de um conhecimento cicnlífico-
social ao seu objeto, c disto o positivismo não toma noticia. l-lc traia sem mais a
sociedade, |ioieiicialmente o sujeito que se autodeterinitna, como se fosse um obje
to a ser determinado a partir do exterior. Literal mente, de transforma cm objeto.
ü que pof sua vez causa a objeüvaçào e a partir da qua! a objetivação hã que ser
explicada. Uma tal substituição de sociedade como sujeito, por sociedade como
objeto, constitui a consciência coi d ficada da sociologia. Desconsidera quc.com a
mudança um direção ao sujeito como algo objetiva mente oposto c estranho a si
mesmo, necessariamente o sujeila considerado, s í quisermos, precisamente o obje
to da sociologia, se transforma em algo outro. Embora é ceno que n alteração
mediante o enfoque do conhecimento tenha seu funríamwtuin in rv. Por sua ve/,
a tendência evolutiva da sociedade corre em direção a coisi fie ação; o que favorece
:i aduequatiü m uma consciência COisificada daquela. Mas a verdade exige a inclui
são clcs.ii.’ qutti pfò qut». A sociedade como sujeito e a sociedade como objeto ,sâo
a mesma coisa e também não são a mesma coisa. Os atos objetivadores du soeie
dade eliminam nu sociedade o qiiu 1\u com que não seja apenas objeto, o que
lança sua sombra por sobre toda a objetividade cientEficista, Reconhecer isto é o
mais difícil para umu doutrina cuja norma máxima é a ausência de contradito
riedade. Eis aqui a diferença muis profunda cturc uma teoria crítica da sociedade
u o que na linguagem corrente c denominado sociologia: uma teoria critica, apesar
de toda experiência de eoisifieução, e mesmu justam ente ao exterjuri/ur esta expc
riència. se ori ema pula idéia da sociedade comu sujeito, enquanto a sociologia
aceita a coísíficação, repeiimlou em seus métodos, perdendo assim a perspectiva
em que a sociedade o sua lei unicamente se revelaram, hlo daLa regressiva mente
da pretensão de dominação da sociologia anunciada por Cornte, e que hoje se
reproduz mais ou menos abenameme na convicção de que. por Lite ser possível o
controle conseqüente de situações e ccunpos sociais singulares, a sociologia pode
estender seu controle ao rodo. Se uma ml transferência fosse de algum modo i*os
Eivei, se nao desprezasse grosseira mente as relações de poder, cm cuja realidade se
234 ADORNO
‘ Hiwcnua, "Traria analítica ila ciência e aialériCA” /í«'«IUn. ISfi: V id e também rewnntáfe acima.
4u M , ihid.. p 4Xf).
2.Vi ADO RN O
que «,1 a nela s»u dissolva som vestígios. A consciência q u e se retrai nu domínio do
social liberta pelo seu auioconhedmento em filosofa o que nào se resolve sem
mais na sociedade. Contudo, quando se contrapõe ao conceiLn social dc sistema
como de algo objetivo, o lato de que ele seculari/.a o conceito de sistema da meta
física, isto certamCnte ê verdadeiro, porém sê aplica a tudo. e portanto a nada.
C o m igual direito poder se ia repreender uu positivismo que seu conceito de co n s
ciência moral desprovida dc dúvida e secu Jarizaçào da verdade divina. A recrimi
ilação dc criptoteologia ac detêm a meio caminho. O s sistemas metafísicos tinham
projetado apologeticamentc sobre 0 ser social de coação Quem pretende se dis
tanciar do sistema pela via do pensamento, precisa traduzi-lo da filosofia idealista
para u realidade social, de que sc encontrava abstraído. Deste modo o conceito de
totalidade. conservado na idéia do sistema dedutivo justamente por çienüficístas
como Popper, ê confrontado com o iluminismo: no que c decidívcl o que Há aii de
não verdadeiro, mus Uimbêm dc verdadeiro.
Não menos injusta c a recriminíiçán da megalomania a respeito dn conteúdo.
A lógica dc lleeul entendia a totalidade como aquilo que ela lambem è social
mente: nada pfcGamenLc ordenado no singular, aos momentos, como dizia I legd,
mas pelo oomntno. inseparável daqueles-e de sou movimento. O concreto singular
pesa mais à concepção dialética do que a eienciliçj .ui. que o leiitehúa pela Louria
do conhecimento, e trata como mnlòrin prima ou exemplo através da prática do
conhecimento. O modo dialético dc encarar a sociedade considera mais. a mícrolo-
gia do que faz o positivista, que. apesar dc í t t a b s i r a c i ó atribuir ao ente singular
o primado sobre seu conceito, no Am modo de proceder passa rapidamente por
ÍStt) munido dc uma pressa aterapôrab Uü corno ,i realizada nos coinpuiadorcs,
Porque o fenômeno singular encerra cm si toda a sociedade, a microltuda c a
mediação constituem contrapontos mútuos através da totalidade. Uma contribui
ção sobre o conflito social contemporâneo pretendia esclarecer isto; '1 r o antiga
controvérsia com Bcnjamin acerca du íiucrprciaçâo dialética dc fenômenos
sociais movimentava se cm torno dn mesma questão: 4ÉI o tratamento fisionômico
de Bcnj-.imin era criticado como excessivamcnlc imediato, desprovido de reflexão
sobre a mediação social global. Rsta 3x1 de ri a lhe parecer suspeita de idealismo,
mas sem elu. u construção material i$Ut dc fenômenos sociais se movimentará
claudícam c airas d;i teoria. Q empedernido nominalismo. que relega o conedlo ;1
aparência ou k abreviação, e apresenta os fatos como algo desprovido dc conceito,
indeterminado, no entendimento enfático, torna sc necessariamente abstrato cm
virtude disto; a yb-tí tração consiilui o corte irrdletido entre o nrtiversul c o particu
lar. c inio ;i visão sobre o universal como sobre a determinação do particular em
si. Na medida em que pode ser atribuída abstração ao método dialético, como.
por exemplo, frente ã descrição socio»rátiua de dados singulares, ela é ditada pelo
objeto, pela constante igualdade dc uma sociedade, que não tolera nada qualiiati
vamenie diferente e retorna monotdn amente através do detalhe. Todavia, os Icao-
■' ' I Vt1ixr»0 • 11" iiln Jacrs^uh. “ N í h .-i *; •uvftni Mo i..iiv fln ,i w*Hsil ?<xu í-n i|K>r㻫►". .m A n -s -í í i J í . W m w i
. P fíffllC ü ; >Ju‘ l|w i l-lí c' 5-:r|jrrls EVíjft. pp, I
J B 1 t t j r V V i: l í e r n.-ninm 111. C > i - r r a f p w i l i c t f c i a r [ " r a i l M u i t r p p - 7 H 2
llü AD ORN O
menos singulares que expressam o universo são muito mais su bstan ciai, cls> que
se fossem somente seus representantes lógicos. D e acordo com a ênfasse sobre o
singulat. tjuc por cansa de sua universalidade imancnle. ela nãn sacrifica â univer
salidade comparativa, a formulação dialética de leis sociais 6 mais concreta do
ponto de v iu i hituórico. A determinação dialética do singular como algo sim ulta
neamente particular c universal altera o conceito social de lei. Já nao mais detém
ú forma tio “ sempre que. então" mas stm “dado que___ c preciso” ; em prirreí
pio cia vale apenas sob a condição de não-lfberdade. uma vez que os momentos
singulares em si já contém uma determinaria conformidade a leis proveniente da
estrutura social específica, C não apenas produto de sua síntese cientifica. Assim
ho que compreender as e&nsi datrações de Hiabci mas uccroa das leis do movimento
histórico, no contexto da determinação imaneme-objetiva do singular de pró
p rio ,A? A teoria dialética se recusa a simplesmente contrastar o conhecimento his
tórico c social como de algo individual, o c-onlttícímento de leis, porque o pretensa
mente apenas individual — a indíviduaçâo é uma categoria social — encerra em
si mesmo um particular c um universal: a ueucssáriu distinção dc ambos já tem o
caráter de falsa abstração. Modelos do processo do universal <? do particular são
tendências dc desenvolvimento da sociedade, mi* como a tendência para a
concentração, a supcrücumulnção e a crise. De há muito a sociologia empírica
percebeu o que perde cm conteúdo especifico devido k generalização estatística.
Frequentemente aparece no detalhe algo decisivo acerca do universal, que escapa
á simples generalização. Donde a fundamental com plementaçio de levantamentos
estatísticos mediante os case stutUex. O objetivo, inclusive de métodos sociais
quantitativos, seria o discernimento qual uai ívo: a quantificação não constitui um
fim cm si mesmo mas um meio para janto. Os estatísticos estão mais díapostos a
reconhece Io. do que o é a lógica corrente das ciências sociais, 0 comportamento
do pensar dialético cm relação ao singular pode talvez ser assinaiado da melhor
maneira cm oposição a uma formulação de Wittgenstein citada por W cllmer: “ A
proposição mais simples, a proposição dementar, nfirma a .subsi,stcncin de um cs
tudo de coisas*".so A aparente evidencia de que a análise lógica de proposições
conduz a proposições dementarás è tudo. menos evidente. Até mesmo Wittgens
tem ainda atribui ao Discou rs de la Métfiodp carte&ano o dogma segundo o qual
o mais simples qualquer coisa que isto represente para nós — ê “ mais verda
deira" do que ü c-Q.mp0.SLo c por isto fe de serventia a prio ri it redução do complexo-
ao simples. De faw paru os cientilieistas a simplicidade constitui um critério de
valor do conhecimento sócio-científico; assim ocorre, por exemplo, na quinta tese
de Pupper na exposição de Tübingen. S1 Através da associação com a honesti
dade. a simplicidade se toma virtude científica; impossível não-ouvir a declaração
concomitante de que o complicado brota da confusão s>u presunção do observa
*" IVrfe fftdHprtwvi; "Teririti uaaifiica da dineia e tüaíéiíeu ", íoc. rí/., In?: Kí/fc também Adorno. "Sozio
k>gic uriti empirisctic Ferschtmj (riSueiolcijsw c pesquisa cmpirica"i. em  üisputa do Positivww. . . , n
/tf, ibid. p . L O S ,
*■
* M, ibíci., pp. 105í .
24U AD O R N O
dignidade. mas nunca permitiu que se convertesse num dos seres emancipados a
que. conforme Ksini. corresponde dignidade. O que lhes sucede corno histeria
natural prolongada, hoje como nutm rru eertamenle não figura acima da lei dos
grandes números, que se impõe de maneira tão consternado ra cm análises de dei
çòes. Porém é certo que a euncxâg possui em si a<? mcQos uma configuração. segu-
ramente cognoscl veh diversa da encontrada na ciência da natureza mais antiga,
donde se adotaram os modelos da sociologia eientíficista. Com o relação entre
homens, esta conexão está igual mente fundada neles, no modo de circunscreve-k>.s
e constituí-los. Leis sociais sào incomensuráveís para o conceito de hipótese. A
confusão hnbilónica entre os positivistas e os erítrco-tedricos começa ali onde,
apesar de aqueles afirmarem tolerância frente à teoria, a despojam, mediante
transformação, em hipóteses daquele momento de autonomia que lhes confere n
supremacia objetiva de sociais. Alcm disto, e Tlorkhcimcr foi o primeiro i assina
lã-In. fatos sociais náo previsíveis da mesma maneira que o são fatos das ciências
naturais no interior üo* seus contínuos mais ou menos homogêneos, Entre a ohje
Liva conformidade às leis da sociedade. conta se seu caráter contraditório, c final
rnente u sua irracionalidade. Cabe □ teoria da sociedade refleti Ia c possivelmente
der ivá Ia; mas não discuti ia através da excessiva mente zelosa adequação ao iJcal
de prognósticos a serem confirmados ou refutados.
l)c medo análogo, o conceito, igualmcrntc procedente das ciências naturais,
de ratificação universal e quase democrática de operações do conhecimento e
discernimentos da ciência social, de maneira alguma c tâo axiomatico quanto pre
I £nde ser. Ignora a violência da consciência necessariamente falsa, cia própria a
ser çriUcamente psrscruiada. que a sod&dade erige supre os seus: no lepo ambi
cioso do pesquisador de ciências sociais cia se encarna sob u figura temporal
mente correspondente do cspiritíl do mundo, Quem se desenvolveu táo inteira
mente sob «á condições da indústria cultural que cestas se tomaram sua segunda
natureza, de início, não encontra aptidão nem vímtude perna discernimentos vâli
dos para su;t função e estrutura social ã maneira da açãn reflexa, c recusará tais
discernimentos, apelando de prefcrcncia justam ente à regra do jugo eienlifieísta
da ratificação universal. Passaram se irim a anos até que a teoria crítica d» indás
iria cultural se impusesse: ainda hoje mmierosELs instâncias c agências procuram
asfixiá-la, por ser d a prejudicial ao negócio. Q conhecimento da conformidade
ohjctsva social as leis. sobretudo sua apresentação dcscompromissadíi pura cn ão
diluída, de modo algum se mude pelo comeu sus oninium. Resistência à tendência
global repressiva reserva-se a pequenas m inorias, ainda passíveis de rec ri min ação
por sc apresentarem de maneira elitista. A miifieiibilidude constitui um potencial
da humanidade, não prciente agora., aqui, sob as circunstâncias vigentes. É bem
verdade que o que um pude entender, conforme a possibilidade também qualquer
outro pode fazê-lo. pois no que; está emcndendo opera, açude todo peto qual tam
bem é posta a universalidade. Porém, para atualizar esta possibilidade, não ésufi
ciente o apelo ao entendimento dos outros, tais come sào, c nem mesmo á educa
çâo: possivelmente necessitar <e in da transformação daquele todo que. de acordo
com sua própria lá. hoje desdobra menos a consciência do que a deforma, 0 pos-
POSl l 1VÍSMO NA S O C IO L O G IA A LEM A 241
Cornou para der o espelho deformanle de tendências reais, ramo como o meio em
que se concreLi/.ou em segunda imediaicz a sua critica ao capitalismo. Os horrores
da linguagem que configurava c cuja desproporção em relação aos reais é rcssal
cada de preferência por aqueles que querem ocultar os reais, sáo excreções sociais,
que «parecem original mente nas palqv rus. untes üe destruírem rispidamente a vida
pretensamerUe normal da sociedade civil* cm que amadureceram quase desperce
bidameme, longt’ da Observação científica, corrente. A análise fisionômica da lin
guagem desenvolvida por Kr.51.j5 possui, portanto, mais força decifradoru acerca
da sociedade do que resultados mormertie cm pí ri eu-sociológicos, porque assinala
sismogra fica menu: a desordem de que a ciência, movida por vã objeto idade, se re
cusa obstinadamente a trotar. A s figuras dn linguagem, citadas c apregoadas por
K raus. parodiam e ultrapaüsüm 0 que á research deixa escapar sob a rubrica
negligente de jü icy quoies; r não-ciência dc K raus envergonha a ciência. A soeáü
lõgiit pode trazer mediações, desprezadas por Kraus como abrandamentos de suas
díagnoscís, que apesar de tudo ainda se moviam daudíCaiUcs por trás da realidade:
ele ninda estava vivo quando 0 jornal operário socialista de Vicnu assinalava as
condições sociais que transformavam o jornalismo vienense naquilo vislumbrado
por K r a u s , e numa observação de História e Consciência de Ciasse LuJkács reco
nhecia 0 [ipo social do jornalista como extremo dialcriço da coísifícação; nele o
cará-ter de mercadoria cobria o que em si é contrário à essência da mercadoria,
devorando a* a capacidade de reação primária. cspõnLánca dos sujeitos, que sc
vínde no mercado. A análise fisionômica da linguagem de Kraus náo teria
influenciado Luo pnhundatTKiue a cicn d a e filosofui da 11istoria* desprovida do
conteúdo de verdade das experiência# portadoras, relegadas com altivez subal
terna pelas corporações como simples arte.tt 4 As análises obtidas, micrü lógica
mente por Kraus de maneira alguma são ulo '■ ‘desligadas'- dn ciência, como esta
desejaria que tosse. De modo específico xuas teses de análises da linguagem íiççr
ca <k\ menulidade do cornam que passa a s>er posioriormetUe, o empregado
devm am st: encontrar como norma neo-bárbara com aspectos de sociologia da
’ *0 poxtrivitfia «1» lOfliciiü .irlL* rcquri urrui inibir vrítica Ao* pwttivtsui:. mstvc vt Inteira fiam lutlO
quL- ç «çlsriila pctti cnnccltn lientciJi^ il, liciu/i.i, qpá, ]tur rumar mnl (j^itrujaumcnce 11 yÍí Lb rtptril 11u; «orrn*
faio. píetisíi ívconliüLSii que .1 vld:i ei pi ritual nfn■-*• rvnin naquilo une ele tuleFti, Nv cnftcrítu pod-tivi:.i -1
nrif fictuioa k « prçivtisn livre invenção ik uma rtulklade llcucia. Ema MJ«ipu< tiii i.minií.'iiio nn%u^ns dc
icii, e rw pintura e literatura ik húje *jmh CMtupleuumeiik recuada. ÇrMflõ $>mptameiUP UísUj, nâo w dá 3
imjxm;"uieiii ücv uhi ú panlcipatfio da aru nu çunliifciniçauí; ou então st jj. iccush ilc jcurmno, cuntbfme eritê
rios tiitõÚfíCONhipOssinsiaik»;: <iu nttvmmil que a arte pode esprimir c quo escapa u ciènCia. pelo que
deve pnfJii o kok proço \ --■ ?.il,-i tüe« i^iriui mcrii*' u iáUa.do<s tfc coU» Un i. i,. sal coasntp pr.Uiiv. -««'• ..*plíc,i,
havería que lay.e. Io mmhém flffl rtlMjáfio' i iflit A^íjis ela não devexiu iííí sihauUi jninru» ne^açüií nh^Trpia da
ciêncLU. Itarns vbíos o n^uisimi tios postuviyurs. e|i«ga ao [XMU-ôdc jHüibirtm a«iiamCntc n arte, |wr vki> tra
irivicL t?f ceuuullf c df que reVttlain pouco cunhccimcju^. comsi alias .sena consequente Responsável por
isiw i suti (XKiviío de neuiralidatk não crítica, ria mnorii dav vetes Luvoruvet a inãústna cultural; t#i como
SchkSioj, çpjuidõram U nne c»'^.i> IW reino da liK-rdade. Sc bem que nà» o laçara Comphaa
mcnic: imatau ve/i*'. -a: compnri ntn de cnoLli ho-xii| cm xriuçán ü irti TnOtkma rnditat, que se afasta do rea
IiSiW ú llgjjjuivü: |[1l-si)io ■■,|mc ftúo i ciuilfíito t medido secretamenti: ounAirnir rainaeLu» mentslLçpü, uu.<
como o da clcmltink u-u ate do HnurolIVO. de estranha Ccini^cração na riautriná da ciência ür Win
gensiein tanto squi coma ali. se imioraaiiza ndes- a gesto do "Lao cu não entendo" ú cçmc du hostilidade
a -ane e iileorsa. no iíjndo. i idcníien
PO SITIVISM O NA S O C IO L O G IA A LE M Ã 243
' ' Albfirt. "'0 milo áa razão 101*1". A>r. ctl.. p. 207.
J4 4 ADOKNU
sociológico. defendendo por isio o afiirçu, então o postulado supõe aquela separa
ção estrita entre coisa « método, alvo do ataque da dialética, Quem tencionaste
aconchegar á estrutura de seu objeto, pensando o como móvel em si. nào dispõe
de um modü de procedimento independente dele.
Com o contrapartida à tese gerai positivista da verifteabilidade do sentido,
suja citado um tnodelo exposto nn trabalho du sociologia da música do autor; não
porque superestime a sua dignidade, mas porque n atura Ememe um sociólogo cOm
preumie ü intricar de motivos materiais o metódicos do melhor maneira em suas
próprias pesquisas. No trabalho "Sobre o ja//~ publicada na Zeitsçhrift ju e r
SozialfoFSchuníf. em 1936 c reimpressa nos Montènís Musicuux, utilizou se o
conceito do um "sujeito do j a u m a imagem do eu que se apresenta, em geral,
naquele Lipu de música; o jazz seria uma realização simbólica, cm quccSLc sujeito
do j a z i fracassa ante cxígòwias coletivas, representadas pelo ritmo fundamental,
tropeçando, “ caindo fora” , porém como dgo que cai fora revelando-se nu mu
espécie de ritual, como algo igual a todos os outros impotentes c que, por sua
auto-supressão. e integrado no coletivo. Nem o sujeito do ja z? permite ser assina
lado com proposições protocolares, nem o simbolismo da realização pode ser
reduzido cm pleno rigor a dados sensíveis. Apesar dislo. a construção que explica
o esmerado idioma do j.i//, cujos estereótipos aguardam tal dinifração à maneira,
de uma escrita cm código, dificilmente é desprovida de sentido. Para explicar o
âmago do fenômeno do jazz. aquilo que significa social mente ela será de maior
utilidade do que levantamentos acerca tias opiniões sobre o ja * / . de diferente» gru
pos etários c da população, mesmo quando baseados em sólidas proposições
protocolares tais anuo us afirmações originais de participantes de amostragem
prévia Podemos decidir ueureri du irreconciliabilidade via oposição entre posições
e critérios, apenas feitas insistentes tentativas de transpor teoremas deste íipo em
projetos empíricos de pesquisa. Até o nwmunbj Lstu |oi pouco atraem e ao w a W
tesearçh. embora dificilmente sc possa negar o possível ganho cm discernimentos
concludentes. Sem entregar se a maus compromissos. saltam ã vista critérios de
mentido passíveis de tais imerprciuções; assim por exemplo, extrapolações da an:í
Use tecnológica de um fenômeno de cultura dc massa o que está em jogo nn
teoria do sujeito do jazz uu a capacidade de vine uUiçâ» do* tgqrçnias e(»m (tu
iros fenômenos mais próximos aos critérios usuais, tais como o cíown excêntrico
e deicrmiiiudo^ tipos mais amigos do cinciaa, Hm iodo caso. o pretendido poi
uma tes-e como a do sujeito do ju/.z como portador latente de uma espécie dc musi
ca ligeira é inteligível mesmo quando não verificado uu falseado pelas reag es dc
ouvimos de Jazz.; reações suhjcíivas dc maneira alguma precisam coincidir com o
COtilcúdo determinàvol dos Jonomenos espirituais a que se reage. líã que citar os
momentos que motivam a construção ideal de um sujeito do ja zz. e isso se lento li
embora de modo deficiente, no antigo texto sobre o jazz, Como critério evidente
de sentido desiaca-se c até que ponto um teorema revela conexões que sem cie
permaneceríam ocultas; se por seu intermédio se esclarecem allcmadamenic
aspectos dispares do mesmo fenômeno. A construção pode recorrer a experiências
sociais muito abrangentes, eomo a da integração da sociedade cm sua fase mono
P O SIT IV ISM O N A S O C fO I O G IA A L E MA 245
poliitu às cx pensas c através dos indivíduos viriuul muniu impoicailtò. Num estudo
posterior sobre as "óperas de sabonete" — uma transmissão seriada para donas
de casa. então muito popular no rádio norte americana Herta Herzog aplicou
a fiirm li I n muito Kimilítr à teoria do ja z z . gcíting d u o iroubk* a n d oiti o fit a cm a
cúníent ana/ysis empírica conforme os critérios usuais, e obteve resultados anã Io
gos. Se n ampliação intrapositivista do assim diam ado critério de veriílcabilidade.
de tal maneira que não se restrinja a observações a serem verificadas, mas inclua
proposições pura as quais é possível produzir condições objetivas de verifica
ção. cria espaço para os moddos referidos, ou se a veniieabilidade daquelas
proposições, em certas circunstancias excosivamenEe indiretas e sobrecarregadas
por variáveis suplementares, continua a tomá Ias insuportáveis aos positivistas,
constitui asMiido n respeito do qual eles próprios devem se manifestar. A soeiolo
oi a cabería analisar quais problemas permitem tratamento empírico adequado, e
quais nâo o permitem sem sacrifício de sen lido: n |o é possível um julgamento
o lr i lamente a priorè a respeito. Cabe supor uma ruptura euUx a pesquisa empírica
objetiva mente realizada e n mciodoto^in positivista. Que esta até hoje Lenha sido
tào pouco produtiva para ã pesquisa sociológica. inclusive sob sua forma de "‘filo
sofia analítica", ten.i como causa que na pesquisa, e às vezes por puras considera
çoçs pragmalicas, o interesse pela coisa acuha se !irmando contra a obsessão
meto do lógica; antes sçrits preciso salvar a ciêrtcta vivu. do que a filusulãit que nela
tem suas origens e on seguieta tenciona tutelá-la. Havería, que se perguntar única
mente, ve a escalaT da aitifrontarían pmoHalilv a operar com meiodov émptri
cos, com iodas as suais delKÚèneias. poderiu tu sido iutrpduzidíi e aperfeiçoada se
dt' inicio tivesse sido esboçada conforme o critério positivista da escala Gutinan.
A expre^àu daquele professor acadêmico: ’*Os senhores estão aqui pura fazer
pesquisa c nfio para pcn&ar", constitui a mediação entre o caráter subalterno dc
inumeráveis tcvantamcnios sócio científicos e sua posição social, O espírito que
descuida o quê cm benefício Jo como, ou o objetivo du conhecimento cm benefí
cio dos meios do conhecimento, tçnde a deteriorar-se a si mesmo. Engrenagem
hcteióiumuu sacrifica nu maquimmo toda a liberdade, Através da racionalização
lonia se dçsçspiritualizadó. Um pensamento a serviço tio funcional rumo etmvcr
iç-se n u m pensamento do funcionários em si. Viri imimem ç « espirito dcscRpirilun
lixado deveria se conduzir mlabsurdum, por fracassar frente ;iv suas próprias Laro
ias pragmáticas. A difamação da fantask, u impotência dc representar o que
amdd não ê. trans formam -ss em areia na engrenagem do aparelho, logo que se
!l WiwgCíWiíiA, Tfabtofus, ■
t.116.
P O SIT IV ISM O N A S O C IO L O G IA AL CM A 247
‘ ¥ JU- p. 14)
M JJ.. p. 14.
* .Aufhcte» cwiswili rw diícr de Adorno ; .iintsiy.r.i.iaJc funwnnal ma,•: IniLrilsnil na Iui.mi.iv.ciii dc llcjiet"
l‘ dci.li; moiUi e uuli/ada lambém aijni Muncr .1 iimtnirüldodc - tui vciiv L i pui ‘'aunftcntln deixar cm
. 11 . iiim-, t i i ik So -j^Liii .,.1 o. .1 .• 1 :.ni. ■
ds .1 ,im i1inenrçTHU d.i *H|Vt'üiu, stipc
niçia. V. eoiériu qus nureii souiíxJjctc valnroj a uuúmu Ir ilr uquei.x. fl sipiiiieiHJn m;»is corrente dc onf
uebcfí t guardar. (N. ria L.i
P O SIT IV ISM O N A S O C IO L O G IA Al.F.M Á 1-0
Cí .erifjci xn 1 £iU/-!uV cnl 3'Jt'S cili b rérixluil. .i;>bfvl(ii!. Nthrii. li drfentleil i.imü '*■ »'« ikv.in qnr
' iii.ii nmi w | » -tfnáa '.cr \(>ci\,iki|-i;i" rM.rrmnaOir, pn ,*ui!a'. clcnllficn rreurdnm por vive . pavor neu
YHsíXj jío ittfltAtO. l :Majtf(;i iv wtçesülvanicntc s» iniiW I-tll! *.i J jI lin ip w .i, S^htrwáVí dil wKliJt^.iil 1-uk.fc’ v i|Llc
nòw u^iti;«|iuihU y dOuii^àg Uv Webwr ni> iiiieu- ilu £ctíttat»Jtí u SaeiftUnfc, culfl uv-iijy. OrviisovIUs» iti
iüdusiiw tnomenteis osonii fatiai», hlsairicw. $arái> c psiai lógicos ick U gb: io una :i «ueiolopii duque rodear
tenicro^ainetiU' qU4ilc|uef lovúmciHi mícúiI %suji rauVaft tf^írv nin .• ;i Jc «p UoRiimi* esptíclítliíriilu de- uma
"málriri! 1 <ftcpndHea“ roa« 1 imei- rjlwionfiiiiíiit# «HMNhíivA dn.iadc: stamúiiio'. »lv uaitlo in».. unnij
«ir<'e|u »L- j ]í; i rfitjii.3 enpirilw:il da divi-ião tío i q balia»i. qm min puür R1" : lado : ix.íUK» m-Ckinüiçii:
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Uivçraos- diimtmoH O qm.- >e d eú p ia |» f C0 0 puavai'i iiilcrtJtscipiJiiiir nao e suc-i liv iii A fiiu enbc desvelar
L-rn si üs. rnttãjiçs'itts rins caicÊorios .ibjtíJvo-,. cwln uma dm q u ü s tuadua ã uuloi riln visa 11 rnn^t»ç:To »ma-
uente dcís idementes ápurudita ik um «ttodki rui.n ivunu iiu - iBdepenrilenie f«fiíi eeomo-itiia histiVjii. p:.Ai*.do(ft;i,
■'r 1 I .■ '.ia' j’i V iiJ iii I lM im . i i rit -ill i f i m k' i <ini J i i v i c i|u.- - : - n - i(u«m i e m r, | .. 1! s e r c u .it-i.li-.. . ijtiL -.ti
ds-m po» inwDi&ifio iO dnicla. sv bem que nàu dn inien» por sun causfi, ]fodc sr pervcioè Io maix f-ieílmcme
m» irsecvniM Ja psiçolupi». Mvmuo i s i «si ■i freutlUuta, de eomoçn murindolásico, a sncjodailL* ”csia coniMa"
em mumertivels nu>mcím>í.. o oiiiivííliui. seu sabsuaia, inuuni se auiõnoxisu f«n tc à «nciádbuir |wr mntivo«
•líniais. Pni 11 tisrn ,:.l: .imi rni qgC i!:.scTiN‘c.ri irrcmcilisvt-lu'j.11111:» ínqmtfrçrviStH/neêss dfl Vpfií&tógSçs
,1 vi «uai iTiútL-snati/açãin. que ctiríiplyji-u a |U|ii(dt)ç^u da djrç roq-ií i|ualtUiin'D da sociuluma liai hüu
i is eiéftçias. e deste modo também a sua aucticiria pnKlaniada petos ctentificisLas.
250 ADORNO
nante triviaimente importuna, O que o conhecimento quer, o que altneja. ele se re
cusa, de antemlo. porque o desiderato do trabalho social mente úíÊ! 3ho proíbe, é
em seguida projeta sobre o objetivo o tabu que &e impôs, endemontn bando o que
lhe ç inacessível. O processo que doutro modo seria insuportável ao sujeito: a inte
gração do pensamento no que lhe é oposto, no que por ele deve ser atravessado,
é integrado no sujeito pelo positivismo, convertido em assunto próprio deste. A
felicidade do conhecimento não deve existir. Quiséssemos submeter o positivismo
aquela redncriõ ad kominem. que tanto lhe apraz realizar com a metafísica,
poder sé iíj suspeitar que d e logiciza os tabus sexuais, nào convertidos apenas
hoje em proibições do pensamento. Q uç não se deve comer Ja árvore do conheci
mento, torna-se no positivismo A máxima do próprio conhecimento A curiosidade
c punida na nova face do pensamento, a utopia dele deve ser expulsa sob qualquer
configuração, indusive n da negação, O conhecimento se resigna á reconstrução
repetitiva. Ele empobrece do mesmo modo que a vida empobrece sob a moral do
trabalho. Na compreensão dos fatos, u que há que sc ater. sem se distanciar,
mesmo através de sua interpelação, o conhecimento é considerado simples repro
duçâo do que já ‘existe de qualquer maneira. O ideal de um sistema dedutivo c
completo, que nãó deixa nada de fora. constitui para tanto a expressão reduzida
ã lógica. Um ituminismo desprovido de rcfksão vira reflexão. O que há dc subal
terno e melindroso na doutrina positivista nào é culpa de seus representantes,
frequentemente cies nada tem disto ao abandonarem a toga, O espírito burguês
objetivo enfunou-se um substituto da filosofia. No que é inconfundível o pttrii pris
pela princípio de troca, abstraído naquela norma do ser para-outro, a que obedece
como medida de todo espiritual o critério da ratificação posterior é o conceito de
comunicação formado ultimamente na indústria cultural, Dificilmente seria des
leal determinar o que ós positivistas consideram como empírico, como sendo 0
que c para um aturo, â própria coisa nunca deve ser concebida. A simples defi
ciência de o conhecimento não atingir o suu objeto, mas apenas pôr em relações
que llic são exteriores, c contabilizada, cm reação cornõ itnediaíez, pureza, ganho,
virtude. A repressão que o espírito positivista prepara a si mesmo subjuga o que
não lhe é igual, isto marcará nele o político-, apesar de todas as suas declarações
de neutralidade, quando não o fará em vim ide delas. Suas categorias constituem
de um modo latente aquelas categorias práticas da classe burguesa, em cujo ilumi
nismo figurava desde o inicio a negativa daqueles pensamentos que colocassem
tíi.ii dúvida a racionalidade da rcitia dominante.
Uma tal análise fisionômica do positivismo é também a de seu próprio con
cdto central, o empírico, a experiência, De um modü geral, categorias tornam se
temáticas, quando não mais são substanciais, conforme a terminologia dc Hegel,
nào mais são inquestionavelmente vivas. No positivismo está documentada uma
constituição histórica tio espírito, que nào mais conhece a experiência, motivo por
quê [anta elimina seus rudimentos como se oferece como seu substituto, como
única forma legítima de experiência. A ímancnçja do sistema que virtual mente se
imobiliza não tolera sequer algo qualitarivamente outro, que podería ser experi
mentado. nem capacita os sujeitos que lhe são adequados a uma experiência nào
V [s MO N A S O C IO L O G IA A t l. MA
P O S1TI ■ 251
relação ao positivismo como um todo. A distinção operada por Marx entre apre
POSIT1VI SM O NA s o c 101-OG TA A L E M À 255
sctuação e origem do* conhecimentos. pela qual queria ílrascar a censura de proje
Lar um sistema dedutivo, pode considerar a dialética filosoficamente com frivoli
dade excessiva, por dégoui peta filosofia. dc todos os modos, o que ha de certo
nisto é o pesado acento sobre o ente frente ao conceito liberado, a acentuação da
teoria crítica frente ao idealismo. Ao pensamento de imanente movimento
progressivo c inata a tentação dc menosprezar o fatos. O conceito dialético, con
ludo. é mediação, e não ser-em-si: o que lhe impõe a obrigação de não pretender
qualquer verdade choris dos medi afiz ados. os fatos. A crítica dialética ao positi
vismo tem seu pomo de aplicação mais importuna na coisiftcaçâo. a da ciência c
da iatleidade não refletida; UmLo menos ela por sua ve? pode eoisilicar os seus
conceitos. ÀJbert percebe correlamcnte que conceitos centrais, mas não verifica
veis pelos sentidos. Utts como sociedade ou coletividade nào devem ser hipqsla-
siudos. postos ou fixados com um realismo ingênuo, como ser-em-si. Uma teoria
exposta ao perigo de uma tal coisíileaçâo. em todo caso. é induzida àquela do
objeto, na medida em que este se encontra tão enrijecido, como sói repetir no
dogfflíitisitio da teoria, no que eslu apenas “ reflete". Sc a sociedade, um conceito
de função e não dc substância, permanece proorilenada de i ri lia I modo objetiva
mente a todos os fenômenos singulares, então lambém a sociologia dialética não
pode si11abster do aspeeio de sua Coisidade; cíisv contrario falsifica o decisivo, as
relações de dominação-. Mesmo o conceito durkJieímiann dc consciência coletiva
que eaisificit cixineniemcntc fenômenos espirituais tem seu conteúdo dc verdade
nn coação exercida pelos mores sociais: so que esta coação por syu v è £ havería
que »çr derivada das rdaçòes dc dominação no processo de vida real. e nâo scr
aceito como “-coisa", algo a ser encontrado por último. I ?n sociedades primitivei»,
a carência de alimentos — talvez exija traços orgánizacórtos dc coação, que
retornam nas situações dc carência provocadas pelas relações dc produção, c por
tjnnto desnecessárias de sociedades supostamente maduras. A questão quanto a
precedência ct& divisão socialmenie necessária de trub&ího físico c intelectual ou
do privilegio usurpniorío dó feiticeiro, tem algo da questão do primado do ovo ou
vki gaJlnhii, dc qualquer maneira o xamã necessita de ideologia, sem o que as coi
sas não funcionariam. Em beneficio da teoria snero.vvsruit, dc modo algum há que
exorcizai a possibilidade de que n coação social seja herança btológíço-animal: o
desterro sem saída Jo mundo animal se reproduz n;t dominação brutal dc uma
sociedade ainda sujeita à ItiMória mtiural. Donde contudo nâ« há que concluir
apologcttcamcnk u irrcmediabilitlíidc da coação. Afinal. <1 momento dc verdade
mais profundo do positivismo, embora resista a d a como à palavra sub cujo feiti
ço se encontra, é que os fatos, o que é assim c não dc outro modo, assumiram uni
aumente numa sociedade nâo livre, que escapa ao poder de seus próprios sujeitos,
aquela violência indcvassávcl. a seguir duplicada no pensamento cientifico pelo
culto cícm ilicista dos falo*. Até mesmo a redenção fitasóíica do positivismo
necessitaria do procedimento por d c desprezado, da interpretação daquilo que no
Curso do mundo dificulta íl interpretação. O positivismo é o fi±riómenu sem con
evito da sociedade negativa nu ciência social. No transcorrer tio debate, a díalé
cica, encoraja o posiiivisnui a consciência de uma tal negatividade, a sua própria.
256 A D O RN O
* Traduzida du aríginal il.-in h» Ww/t - y r \ fiv t t i;v z ;» ift $ n ' tlu livra K iu H ftflg u n in . SülirUmp VurliiB.
J-raulUun. aii Matn. JSjy,
:w a d o r n o
' G 1L-.1M. I- n-ytaf, <1816 FWU5). . luI lh do piirm iíru ruri :.in ;■
■
■i . j I i -;::l d,i Itict dui j itfcmá, í >í ?/ji'm> í - C ffd ilft
Segundo O. VI, Cütpeaux. “U realismo dc /jfôfta êÇiHStò é # timidez. aeriiuaila. Os ccmiln aoppb «w
; rirandütir.-,. n íinsfurrnadox em ..lilseuldiules mr m is <■lirvaitoj, |Xi í j uft. .k-síroho idilsen ck? harmonia c p:u '
OS. do I S
I D H I À 5 P A R A A S O C I O L O G I A D A M l SIC A 261
n processo soesul total. -\ m úsica. lormidu ern conjunto. c parcieularm erne aprtt
p ria d â para ideologia. pois a íiu A n c iã de conceito perm ite que os ouvintes se siti
Litnl eum o seres de semi mento. que asso ciem livrem ente, que pensem o que bem
quiserem , i la fu n cio n a com o rc-Lili/.avuu dos desejas- com o sausl ueuu- substitu
tiva. m as sem que o m ecan ism o .seja evidente, co m o o e no film e. Hsta função vai
desde estim ular u m arasm o , um estado que c.\du& com portam entos ra cio n a is e
c rític o s. ate- o c u liiv o da paixao enquanto tal. esse irrueirm alism o que já no sé
culu X I X se a sso cia ra e s im lam ente ás tendências rep ressivas e violentas da so
d cila de. A m u sica . Irequem em cnie a despeito de sua figura e sentidos próprios,
c o n irilu ii para a “ idcolm m i do in co n scien te". Cam <i "la reira an im te a ” . embora
tmpoLçnte e ilu só ria , d a conso la do progressivo esfriam ento ra cio n a l do m undo,
e doutro lado em W ag n er, por exem plo cia chega íl ju stific a i u perpetr.içuo
da irra d iiria lidada global*
Mnx W eber. auio r do esboço ute agora mtus am plo tr am bicioso d c uma so
CiüLojiin m usical em npenso a nova ed ição dc fivnnomia i 'Sociedade . res
salio u com o d ecisiva p a ra a sociolog ia da m úsica a categoria d a ruciunuli/.uvãu.
enru ritriando. fiesin nreu. o imtüiorialãMTio reina ni c - , e m que a liá s a suti se se ri
Cttnrurfltc tlocum cnladu alterasse muita co isa rui religião m usical burguesa. Não
liy d úvid a dc que a h istó ria da m ú sica é uma p rog ressiva ra cio n a liza çã o , le v e
p asso s, com o a reform a guidóm en. :i intro dução da notação m ensurai, a irtveti
çfio du baixo continuo, n afin a ção icnipei ada. v Im alm cntc a tendência à eonstru
çào integral dn m ú sica . irresistível desde Bucli. e boje levada ao extrem o. Não
obstante, u ra cio n a liz a ç ã o insep arável do processo h isto ria s do a burguesa
m enor' da m ú sica c apenas um de seus a q x x io s so cia is, a ssim com o ;i ra cio
nyltdadc cUi própria. ” A u ild á ru iig " . ç apenas um m um eriin du histo ria da m ic íc
duüe, que p cnm inccc irra cio n a l, presa ainda a forma-, cititurais" No iriteriof da
e v o lu ção loird de que p articip o u através da progressiva racio n a lid a d e. .1 m úsica
foi nim bem , e sem pre, a vo/ du que ficara paru trás no cm m nlio dessa ru cio n ali
desde, Ou do que fora vi m im . I: sta é a o v a r adição social que eMa m> centro Jw
mÚMca ela m esm a, c ú.tam bém a le m á n de que ;ue aqui a pfüdulividadtí m usical
se tem alim entado. Pm seu puro nnüxínul .1 m úsica c a arLc cm que os im pulsos
pré raeu m ais e m im étiços >e afirm am irrcd utivclifientc, enirand o ao m esm o
tempo cm ceustclaçfm com as. tcyd én cia s ao p rog ressivo d om ínio da luiiure/a e
dos m ateriais. I>)d a sun (nin.seendêíieiíl em fuce du engrenagem cotidiarui da ;m
to co n servação , transcend ência que levara Setiopenhaiier a coloca Ia no topo da
hierarq uia das artes. com o o b je iiv a çã o im ediata J a vontade, Se é que eletiva
mente ela vai além da m era repetição dn que jit existe, serã por es>u ry/ão. M as e
peta m esm a ra/Úo por nutro lado. que d a e tuo .apropriada a constante reprodu
çuo da estúpido?.. O que !'a? dela m ats que m era ideologia é também o que rnlh
I pcdi 1 e ,1 sua c a rica tu ra ideológica, t omo cam p o d elim itad o e cu ltiv ad o da irra
eiocial idade em m eio ao m undo ra cio n a liza d o . d u sc transform a no cstm am enLu
negativo. Lal com o e m d ó n iil mente planejado, produzido e adm inistrad o pela m
J A psitpivr;!, ;iífni. svjki e-»t;i u«jda s.. vcmiíIii fn-ínrátivr,. que fiybUwalnwíntí lhe d«wu»* iN. üo I . i
tD ÉIA S PÀ KA A S O r ]01 0 0 1A. DA MÚS K A 26'i
Núo que as técnicas de laboratório nãn tenham valor algum para a sociologia
m.usíea.1: cm muitos aspectos ela> csLào como que na medida lLc suas vitima*. Po
■'h” ts ser «leis a avaliação quantuaiiva dns comportamentos syemis cm fuce da
m úsica, mas mesmo isto. somente quando ; l análise sociológica confronta aos
dados quantitativos o significado da m usica ouvida, estudando as condições ><i
cia is de tais eleitos.
O conceito de produção, por outro lado. riâo deve ser posto como absoluto,
nem simplesmente identificado ú produção social de bens. Se na música houve
cristalização de uma esfera particular da produção, independente em lace da re
p ro d u ç ã o c do consumo, esta independência c!u mesma ê consequência de um
processo social, o do aburguesamento. Liga se a carcgoriiv. como. por um lado.
autonomia do sujei lu e. por unira. independência da mercadoria ç do valor. An
les de tudo. a produção musical foi separada do* outros processos musicais pela
divisão social do trabalho, Foi esta que permitiu a grande música dos últimos
350 anos fatrt negligenciado petos liumanu.arios ingênuos, que gostariam de
revogar esta separação da produção por niíinr do seu idolo. a vida musical ime
diata. Nu música, u produção não é "originária” no sentido cm que n produção
de generoso e pura a conservação da sociedade; du nasceu tarde. Não obstante,
historicamente ela .uingiu uni primado que a sociologia d:t musica não pode r»e
gar. Na produção musical há momentos como o da autonomia da çxigêhctii e\
p tossi va e principaSnienie o da, lógica tio objeto, respeitada pelo oompnsiiur. que
-e devcin distinguir das leis da produção dc heils para o mercado, leis que entre
Limo eslão prcsenles durante toda i época burguesa e se uililtrant vdiidíimenii.
tne ru>s momentos estêliao mais sublimes. \ tensão entre os dois momenLbs e es
Hcrcitil nu esfera da produção musical. Ides não m> se combateram. como eram
rceiprocamemc niedsuli/udos. pois durante um bom tempo a aulonomin formal
foi presliei.ada soculinenie cm nome da purc/a da arte c do direito do individuo:
mesmo u liberdade d™ musica em fn.ee da* finalidades sociais ganhava iiuensi
daste por força da sociedade. Somente cm nossos di;o.. quando o conjunto da eul
mrn musical estú lendençiídmenic: dominado pela administração. c que aquela li
herdade parece cancelada; e c também quando a tendência evolutiva J:i rnúsien
sv voli.i contra a sua própria lifrçrdíuk. Aliás, o individualismo da música dçi
apogeu burguês mão deve scr «ornado á ía íçrtrc\ Lia não deve ser construída se
guiulo o modelo dtt propriedade privada, eumn se os grandes compositores a
moldassem segundo o arbiirio de sua disposição psicológica. A parte da obra que
"■pçrtencc"' au entnpOSÍlor, como :i qualquer artista produtivo, é incomparável
meme menor do que supee a opinião vulgar, orientada ainda pela noção do gê
nu» Quanto mais .dut uma estrutura musical, tanto mais o compositor se rela
d an ará com ela tomo o seu simples órgão de realização, como alguém que obe
dece it exigência do objeto. A Iru*.* da l ía iu Sachà. nos Xfvntres Cuiuorex, se
gundo a qual o compositor propõe a regra a si mesmo, para depois lhe obedecer.
icMcmunha a consciência. embora vaga. do que dissemos, c rndica o ” nomhia
lisiim " da modernidade. pura a qual não existe mais uma ordem arlisLicu subs
i;tneiulmemc segura. M as ainda a regra auio-proposta-è auto-proposla só na npa
IDÉIAS PARA A SO CIO LO G IA DA MÚSí CA 365
renda. Na verdade, eia reflete í> estagio objetivo dia material e da forma. Os
sào Míeialmcniií mòjdia tu ridos. Analisa lu por dentro ê a única. maneira de clic
iiar ao conhecimento social. A subjetividade do compositor não se suma as eon
dições e aspirações. objeuvav I ki se prova prccisamenic quando leva o seu nn
pulso próprio que ruiLurulmeme n:n >pode «.er oniitiJo u >upeiar se naquela
objetividade. Ü compositor niio xõ e%iã preso ;i.s condiçòes uuciais objetivas da
produção, eomu a sua façanha mais pessoal, utna espécie de síntese lógica de na
mre/n particular, ê neta mesma social. O sujei 10 d.i composição não é individual,
m ris coletivo; Toda u música. que seja a muis i:ndindLitdisia pdu exidu, lem uma
substancia irredui h cimente socinf qualquer tom Ji/ ^nóx"
bata substância coletiva, cturclamo. rarnmetite i de urna da-.se ou &. um
grupo Tentativas de amarrar a música a sua filiação social têm ateu mu cotsn
dogmática. Nem provcniéncm. nem biografia, nem mesmo n efeito da música so
bre certas camadas sociais leffi sentido sociológico conviricemiê. <j gesto social
da música deChoput que resta descrever correia mente é m is-tocruticn. sua
popularidade, emrttsr-mto. provem m xtumcvil v des -e gesto ürístiKrãlicn. I enmci se
transformasse cru nobre o burguês, que gostaria de se reconhecer naqucEu melan
cedia ügrudáveb Hoje. a ni isieu viva é toda hurpuesd. A músicui antiga é e\eeu
luda somente por interesse histórico. c ;iv prrierisoes do blom oriental, segundo
is qunis a sim musica seriti o som do socialismo, ao refutadas pelo próprio som,
lodo composto de clichês requintados, vindos do roniaritísmo tardio e da huruuc
sia convenciona], evitando tudo aquilo que desvie t3;ts expectativas conformistas
dp Consumo. 0 que a musica rol foco snn sâo ;ts tendências C cottcrndiçócs da stt
ciedadc burguesa como um lodo. Nu grqndc iruisití.i ir adicional, a idéia da uni
dade dinâmica, da totalidade, nfns cru outra senão a da própria snctcdüde. Nela
estão, indistintos, o reflexo do processo social o processo produtivo no linal
das conta* v a utopia d urna solidária 'associação dos linniens livres". A con
tradição insolúvel pura u>du a grande música, até hoje:, enov o geral l- o panicu
lar a inuMcti tetn ,3 medida de sua eatenurh iuxtnmeiiii: nu capacidade de ev
primir c lormar ís iii contradição- l de deiui ia reaparecer no final, em lugar de
escondê-la pela harmonia dc I adi ada é :t mesma que nn realklml- ■-■■puia o m
ter esse particular do interesse da humanidade, forque e vor desta sitimçáo. poi
sim construção, a musica transcende a sociedade. e na sua imagem antecipadora
reconcilia ü inconciliável. Dfiitde meados; do século A IX . qnircUtnto. a partir de
■*Tmt5o“ . a maior profundidade com que cia sç enircuu ii esta lógica é inmbem a
medida cm que ela sl- alheia da conformidade com f.i ordem social existente, Se
ela prn-çura se f;ucr desejada, socuilmcntç úuk algo que agrada aos homem, cia
trai a sua verdade substancial, c assim os homens. A sua relação çoin o valor de
iíso , com li de qualquer une em nossos d ias. c trueir amente ditdetica
Sc c duvtdoso adjudicar a produção musical a interesses ou tendência-- \o
ciais particulares, isso mio impede que se reconheçam, na 11111 ica tradicional, çq
k lc Lltcs sociais específicos, Ê inescapável u tom de íiom burguês tccalado cm
Metldels.s<vhn. aliás um pouco forçado. cnnu> não esçiipsi :l um pi-ourcs-dslu ■•
gesto grande burguês de Richíird Strauss. u seu éhtn viutl inuiLciortisia. desgos
M(í A D O RN O
sc desdobra segundo a sua própria lei, que secrciamente é social, mas náo só sc
nndo- ia m lei pois é movimentada e desviada nu interior do campo das torças
sociais. Nesta medidn cta não forma uma unidade significativa sem rupturas,
rtâó forma um continuo. U estilo galuntc. que rm prim eira metade do século de
?o ilo tomou o lugar a Bach c ao seu nivel de dom ínio da matéria m usical, nüu
pude ser compreendido através da lógica m usical. m;ts somente pefo conxumn,
pelas preferências Jc uma cam ada ca freguesia burguesa. Tam pouco :ts n im a
çoes de Hcetor Lierlto/ são consequências dos problemas com posiionos dc ÍJçct
lioven: antes sfto determinadas pelo aparecimento <le procedimentos industriais,
externos ã m úsica, por uma concepção da técnica radica!mente diversa da que
ILítilAS PA RA A S O C IO L O G IA DA MCSJt A 2 t:
para fins adm inistrativos. espçcialm cnie as elaboradas na A m érica pela Radio
R c seurcK, acertam em cheio :i sua análise do mercado da m usica leve. monopo
listicamente adm inistrado. a banalidade ela mesma, em sua existência e eficácia
social, continua sendo até hoje o m aior mistério. O teórico vienen.se itrwin R e i*
levantou a questão de saber por q u í é que a m úsica pode ser com um , isio é. Je
saber o que seja a banalidade, estética e social mente. A resposta exige também a
resposta a pergunta contrária: como pode a musica transcender a circu lação do
meramente vigente, a qual. por outro lado. ela deve a possibilidade da própria
existência? A hipar lição rígido da m úsica, em séria e leve. hoje insmuciunali
zadri e admimstrativamente utilizada, precisa, ser socialmente interpretada cm
sa ia vário s nivets. Corresponde a ruptura entre arte alia e baixa, cslnhctcdda
desde .1 A nligíiidade, que testemunha nada menos do que o insucesso de ioda a
cultura até nossos dias, Nlo tm sl, íi indúslria da cultura de m assas se aprecia i
adm inistrar a música global menu:. Mesmo a m úsica divergente .só subsiste eco-
nomic ei mente e assim soei a Imcnte através da proteção da tnd{asLria cultum l à
qual sc opõe - uma d as conlr adições m ais llagranics da situação social da mú
sica. f verdade que a direção centralizada irá pôr a. m úsica baixa em dia com a
técnica — come nos procedimentos m ais refinados d o ja z / á maneira dõ que
se passa, aliás, cum os aspectos mais bárbaros do cinem a. A n mesmo tempo, cri
tnstanto. a música c adm inistrai ivamenie nivelada ao i.ipo de produção de merca
derta:? que se justifica com a vontade dos consum idores, vontade natural mente já
m anipulada e reproduzida, que converge com a tendência da adm inistração A
m úsica, como selor tio lazer organizado. iguala se aquilo de que. por seu sentido,
deveria divergir: eMe é o seu prognóstico sociológico. A contradição consigo
mesm a, em que se emnríinlifi, mostra que é ilusória a integração Jc produção, re
produção e consumo que sc esta esboçando. \ unidade da cultura musical con
temporàncu. como parte da indústria cultural, e a auto alienação completa. To
lera somente t> qtie traga a sua chancela, a tal ponto que os consum idores nem o
percebem mais. A lcan ço u se a falsa conciliação. O que estaria perto, a "co n s
ciência das necessidades", torna *é insuportavelmente estranho. I' o m ais alheio,
entretanto, que nau contém m ais nada dos homens, c metido neles a força de rc
petição pela rnaqum ím u. achegandò se wo m: u corpo e ao seu esp irito : c o que
esta indiscutivelmente mais próximo.
P O S IÇ Ã O D O N A R R A D O R N O R O M A N C E C O N T E M P O R Â N E O *
* Yraituvi&Üi* Cti l»rvpinsiJ nC-rrírj.i v Vjí. j ] zur ítl&tàtki1f. SsJhrkamp Wi L il , I tíliikfuri am Miiirí. IW S ,
270 \ IK JR N O
Tudo ís .so cíüI l i 1mente uím lugar nas cogitações eonsdernes do romurtctsta.
c há base para Crer que. onde tal acontece. cnmo nos; romances extremamente
am biciosas de Hermarm llro d i- << resultado não ê dos melhores para 2 coisa re
prescniada. Antes, as m udanças histórica-. da lorm a se metamorfosciam cm sen
sibilidado idiossincrática dos autores. e sua categoria e determinada essencial
monte peto alcance dc sua atuação como instrumentos Je medição daquilo que c
invocado e repelido, Lm m a te m de sensibilidade 1 o n r . :i forma do rélaso nin
guõjü superou Mareei Proust. Sua obra pertence à tradição do romance subjetivo
c pdeedõgiço. no linha de estrem a dissolução subjetiva deste. du maneira como
eia. evolui, sem qualquer continuidade histórica em relação ao autor francês, para
produções como YfW.v L y h m dc JueoHhen c \tüfU'r l.aurids Brigge di R ilkc.
Q uanto mais estrito o apego no realism o da exterioridade. ao “ foi de frito assim ",
lunlo iiiaiyuítda palavra sr torna uni meio lu/ Jc conta, inmo m ais cresce ;t cori
tradição entre -.ua pretensão e a de que nao foi assim . Mesmo aquela exigência
imanentt ã liçção. que o autor invariavelmente Icvamu a de que sabe exala
mente com o as coisas aconteceram . quer ser legitimada, c j precisão de Protist.
impelido itü quim enco, a técnica micmJógicít. sob 1 quy| a unidade do ser vivo
no final se cinde cm âtomtis. ú um esforço único do sensório estético para produ
/.ir essa prova, sem ultrapassar o circulo mágico da forma. Com eçar com o rclniu
dc uma cois.i irreal com a $$ clu tivesse rcalm cnic existido - essa resolução 0 le
nho teria tomado, fo r ivsp sua obra cíclica sç in icia cmn a lembrança de corno
lutiíí criança adormece, c todo o primeiro livro não é senão um desdobramento
das dificuldades para conciliar o sono quando a hela mãe não deu rio menino o
beijo dc boa noite. O narrador parece fundar um ospnçu interior que lhe poupa 0
pílSMi cri ado no mundo estranho, da forma como çlc se manifestaria na falsidade
do tom que torna uqude mundo familiar Im p cíccp livclm cn ic. t» mundo é puxado
para este espaço interior • atribuiu se ã técnica o titulo dc mtitwtogue tntcrieur
c o que quer que hc Uesiinruk’ nu íx iü rjo r ocorre tkt mudo com a na primeira
pagina st* diz do instante de adorm ecer: gomo um retalho interior, um momento
da enrrerue de consciência. p m tefjéa da refutação pola ordem espácto temporal
objetiva, para cuja suspensão csui rnobíli/.ida ii obra prtuiMiaiUi. Riirtindo dc
pressupostos uudrum em e diferentes. r num espirito uitulrmmu* diverso. o ro
mauce do lAprexsioiJismo alemão o l studwue Desregrado dc <it*vt;iv Sack.
por exemplo visou algo .semelhante. O empenho épico cm nao represem ar nt:
nhüm objeto, u não ser que este poss;i \er preenchido dc com eço n fim. suspende
final mente u categoria épica Urndímienutl da objeetualidude.
O romance tradicional, unja idéia lalve? se encarne mais autemieameiue em
1 lauben. deve sei com parado ao palco italiano do teatro burguês, I 'Ma lêcrtica
era uma teentea dc ilusão. O narrador ergue uma cortina; o le it o r deve participar
Je coisas acontecidas, como se estivesse de corpo presente. A subjetividade du
narrador com prova xc na força pura produzir esta ilusão c em Hriubçri dii
pureza da linguagem, que. no mesmo tempo, através da espirilurili/iiÇao. dc faro
n dispensa do campo empirieu enm n qual d a se compromete. Um pesado tabu
pesa sobre a rçflexão; ela se torna o pecado capitiu contra a purc/.a objetiva.
272 ADORNO
Com ii caril ler ilusório da coisa representada Lambem este tabu perde hoje sua
força, Mui Ias vezes rexxattuu-se que no novo romance, não so em ProusL. mas
igual mente no Gídi* dos M netiviws Fgfsos, no último I honras Mann. no Homem
sem Qualidades de M astl. ,i redes ão rompe a pura im anència da forma M as essa
reflexão cem, quando m uno. o nome cm comum com a de n .iu b e ri l-sta era dc
ordem m oral; cornada J c pari ido -i favor ou contra figuras do romance, A nova é
tomada de p;ari ii.ii t contra li mentira da representação. na verdade contra o pró
prio narrador, que. como comentador vijiLianUr dos acontecimentos, tenta co rrí
sua arrancada inevitável. A infração d a lurina reside no próprio sentido dela.
llii
Só hoje o recurso de T lio m as Mann a ironia enigm ática, '.rredutivel .1 qual
quer zom buna cum eudisiieo faz se compreender de Lodo ,1 par 1jr dc sua Fim
çào form adora: n autor despacha com o gesto irônico. que revoga seu próprio
discurso. ;s exigência dc criar algo real. no qual. porem. nen3mtn:i de huhs pala
vras pode escapar: mais manifestada mente Uilve/ na fase 1 urdiu. no Êfciitm no
i-.nxuticido. onde o escritor, hrincando com um motivo rom ântico, reconhece,
pelo ajmpurLam ento da linjiutigem. st caráter ilusório da narrativa, íi irrealidade
da ilusão, e com isso devolve à obra de afie n«s seus termos aquele sentido
da mais alta brincadeira que tiln linha antes de haver representado, na ingenui
dade da não ingenuidade, e de maneira exw-ssivamenit! ín teem .a aparência com o
nlgn verdadeiro.
Quando em Prousi o cornemáriu eslá de ral modo entrelaçado na ação que u
distinção entre ambos desaparece, então isso quer di/er que o narrado1 ataca um
demento úinda.rttcni.il na miu relação com o leiior: a distancia CRíctica b ia em
inamovível no romnnee tradicional, Agora viu varia como as posições da càmarn
no cinema; ora o leiior é deixado fora. ora guiai Io. através de- comemário. até o
palco, para irás dos haslidores. paru a casa das máquinas. O procedimento de
Kallm. de encurtar eortiplciamcme t\ distância, inclui se entre os eMiertms mis
quais e possível fiprcndci mais sobre o romance atual do que em qualquer assim
clutrnadu futo médio "tipico". Por meio dc choques cie rebenta a iríinqüiluJadc
tronlemplativa do leitor diame da coisa lidu Seu . romances sc ê que ele - de
falo ainda cahem nesse conceito são a resposta nmccipudoru a uma eondíçào
di» mundo èui que u atitude eomcinplaiivu virou escárnio touil. porque ,1 ameaça
perm&neruc de catástrofe não permite a mais ninguém a observação dcsinlerex
sida, nem mesmo >uu reprodução cMélicn A distância è encurtada também pelos
narradores mciioro quí j;i não ousam escrever mais nenhuma palavra que cn
quanto reluto de fatos, náo peça desculpas por ter nascido. Se netes sc anuncia a
fraque / .1 de mu tsi;n!u Oe consciência de EoJcgo de mas iüd um erue curto para ai
portar sua representação esnuma 0 que quase não produz m ais seres capazes
dessa representação, então isso sig n ilk a que, na produção m ais avançada, á qual
essa fraqueza não permanece estranha, o encurtamento J íi distância ê manda
menta da própria forma, um dos meios m ais eficazes para furar o com es 10 dc
prim eiro plano e expressar o que |be è subjacente. a n c j atividade do positivo.
N iis que. necessariamente, como em Knfkn. a 11tuiração do im n pn árin snbciiiun
a do real. Kafk:! se presta mal ;i um modelo. M as a diferença entre real e imago é
POS ]ÇÃQ DO MAR R AI )0M 273
anulada pela haw:. H comum aos grandes rnmanci.stns du época que a velha exi
géitcia romanesca do “c assim ". pensada até o limite, desencadeia urna Ioga dc
imagens históricas arcaicas, tanto ria memória involuntária de Proust. i^uanu»
nu.s parábola:-, de Kit Hui c rios uri programas épicos de .foxec O sujeito da criação
literária, que renega as convenções da represei lUiçfio do objeto. reconhece, ao
mesmo tempo, a própria impotência, o superptK.it1r do mundo coisa que no meio
do monólogo retorna. Prepara vc assim uma segunda linguagem. destilada dc va
rias m aneiras do rdugo da primeira uma linguagem coisa associativa e des
in.m udada, como a que entremeia o Tnnnõlngn rtão apenas do rom ancista, mas
também dos inúmeros alienados Ja linguagem primeira e|ue constituem a massa.
Quando L ,t;its . cm sua teoria do romance, há quarenta anos atrás, perguntou -.0
os romances de E)ostoícvski eram ;ls pedras basilares.díi- narrativas I.duras, caso
já rrftt.i losscm eles mesmos essas narrativas* eruão cieiocimente os romances dc
hoje que contam a ju d e s em que 1 o b jetivid ad e liberada passa da lo u ;. tle
griuidude que lhe e própria para •. seu eoriuório se assemelham a epopéias
negativas. S;io lesl mim lias de um es tudo dc coisas cm que o indivíduo liquida a
si mesmo e sc encontra com v pre individual, tia maneira como csLe um dia pare
eeu endossar o frtando pleno dc sentido. Rsitts epopéias partilham com ioda a
arte presente a ambiguidade de que nào tnmpove a d a - decidir se 1 tendência hi%
tòrie.i -jue registram é rccüidii rui barbárie ou. pelo contrário. \ sa ,.i reuh/ jçílo da
lutmanidííde c algumas sentem se demasiado ã vontade 110 barbarisino. Não
hti obi.i moderna que sirv.i para alguma coisa e que não encontre 1.inibem sim su
iisójçào n li dissnnáncia e no desJigamemo. M as 11a medula em que essas obras dc
arte encarnam sem oom prom keo jnstamente o horror. . remetem todn a M io
duJe da com em pliição n puíeva dc ml expressão, cias servem 3 liberdade, que è
apenas indiciada pela produção médin porque ela rum mostra aquilo que acon
icecti de nutu ao indivíduo da era lihcraL Sons produtos estão
acim a dtt conirovcrsiti emre arte enuajadu c URÈ-péla. arte. gcinui dii iiltcrna
uva entre a sen sabor ia d:i arte tendenciosa c 11 scnstiboria da aru* du desfrute
K a r K rau s formulou evrtii \vz 0 pensitmemu dc que tudo aquilo que rala mn
ralm cntc de suas nbrits. enquanto realidade do corpo, não esicLie:i. Ihc loi cones
d ido s .sdusó amenie sob ;i lei da linguagem, ou seja. em nome d:i ;irie pela arte.
Q emautamente da Jisum eia estética no nsniarce. hoje - c com isso o. capUulii
çao deic diante du realidade SüpCTpOderóVa que só deve ser miwlnda no real e não
traiisllgurudii nu imugem . c reçii-uiiudopor aquilo pura onde a forma, par mi
CLutivii própria, gostaria de ir
T E X T O S DE
JÜRGEN HABERMASI
*’A totalidade do socíiiÊ nao possui vida autônoma acima dos dementos que
a compõe e daqueles que. na realidade, sâo constitutivos. Ela é produzida e repro
duiidu pela determinação de seus momentos específicos Essa totalidade da
existência não deve ser isolada, da cooperação e do antagonismo Je seus demen
tos. como também nenhum demento pode ser entendido até mesmo no sen funeio-
nametup sem consideração da totalidade, que tem sua essência própria no moví
mento do específico. Sistema e especificidade se dao reciprocamente c somente
desta iórata são pas.-.ivei> de cimliccimcnto’ Adorno entende a sociedade como
categoria* reafirmando sua dívida com » lógica hcgcliana. Concebe a sociedade
como lotai idade, iillçgroda no espirito dialético, em virtüdc da afirmação axioma
uca que postula que u todo nlo é igual a soma de Mias parles, não sendo t>mesmo
passível de uma interpretação orgânica; por sua vez, a totalidade não se constitui
uma extensão lógica deierrnmávd mediante a agregação de seus componentes.
Nessa medida, pois. o conceito dialético de totalidade nào sc preocupa com a
justificação crítica dos fundamentos. lógicos destas teorias da Gestalt,* em cujo
âmbito c impossível pesquisar as regras formais da técnica analítica; c, apesar
disso, ultrapassa os limites du lógica formai, em cujo âmbito a própria dialética é
considerada uma ilusão.
A fim de que os lógicos possam manter sc cm sun tradicional postura. os
SOCÍõlOgos denominam estas ilusões - não inteira mente destituídas de sentido
eom um termo abrungcrtie; as expressões que englobam a totalidade do social
somente têm validade na época utunl enquanto ideológicas. Na medida em que .1
evidência 11 as ciências sociais é determinada peta teoria analítica da ciência, o
racionalismó aparentemente radical vê em qualquer traço dialético um elemento
mitológico — isso não sem certa razão, porque a racionalidade dialética.3 dife
rente da merameme linear, apropria sc dc urna crença abandonada pelo posili
vismo, herdada do mito. segundo a qual o processo de pesquisa orientado pck>
sujeito é, cm virtude do |wou«sso du conhecimento, do âmbito da realidade objcit
va. cujõ conhecimento se procura. Isso pressupõe a existência da sociedade como
totalidade e, também, de sociólogos que a reflitam a partir de seu encadea mento
justificam o nosso inLertrsse pela sociedade. Dando por assente que as relações
ínstitucioitalinenLe co isííicad as sào apreendidas nos meandros dos m oddos cientí
íico -so ciais. tal com o as demais rcgularidades em píricas, de igual forma é duvi
doso que um conlieeimento empírico-analítico deste tipo possa Jevnr nos a conhe
cer esferas isoladas do social ou levar nos ao domínio técnico de determinadas
magnitudes sociais no mesmo nível alcançado pelas ciências naturais. Pois bem.
tào logo o interesse cognosciúvo ultrapassa o domínio da natureza, o qué no caso
significa: alem da m anipulação da esfera naturalista, a indiferença do sistema
com referência ao seu universo de aplicação transform a-sc num a falsificação do
objeto. Sacrificad a no* afiares de uma metodologia geral, a estrutura do objeto
condena a teoria a insignificância. N a esfera da natureza, a trivial idade dos
conhecimentos aceitos não possui peso m aior: no âmbito das ciências so ciais,
entretanto, deve se contar com essa vingança do objeto onde o sujeito no processo
do conhecer se ve lim itado por forças da esfera do social sujeito a análise.
O sujeito investigador somenlL: se liberta dessa coação na medida em que
concebe a existência social como uma totalidade quç determina inclusive a pfó
pría pesquisa. A tào falada liberdade de escolha de categorias e modelos está
morta para a ciência so cial, e cada vez mais aparece no plano da consciência a
noção dc que "os dados de que dispdú não são dados que se esgotam no quantitn
liv o . mas sim c exclusi varriam*, dados estruturados no contexto geral da totais
dade do so cial,” *
A exigência dc adequação Lia teoria na sua constituição c do conceito em
sua estrutura ao objeto e do objeto no método por si mesmo T> pode tornar se rea
lídade efetiva dialcticam cnic e nãu no âmbito dc uma teoria dc modelos. O apara
to conceituai metodológico referente ã ciência natural somente esclarece os dados
referentes íl um objeto determinado, cuja estrutura lhe h dada previamente, por
outro lado, na suposição de que as categorias escolhidas estejam integradas em
seu âmbito. Nso ruk» pode se dar pela inianência aprioristica ou em pírica com o
viu de acesso; só « possível uma revisão e nova reflexão sobre o objeto no âmbito
da dialética, partindo dc uma hermenêutica natural dc mundo da existência social.
A illlCr relação hipoléiicc-dediltivü dos enunciados eede lugar à explicação
hermenêutica do sentido: emergem categorias previamente com preendidas que
sucessiva e inequivocamente obtem sua própria determinação pelo valor dc sua
postura na totalidade desenvolvida, no lugar de Lim:i correspondência biunívoea.
entre sím bolos e significados; aí os conceitos de forma relacionai são substituídos
por outros que possam expressar ao mesmo icm po a s conceitos dc função c su b s
tância, Tu is teorias, mais d inâm icas, pudem apreender reflexivamente nxi organi
ração subjetiva do universo o discurso científico, dc tal maneira que elas próprias
são consideradas como momentos do conjunto objetivo submetido por elas h
análise.
2. C ú ra a rd açn o entre a teoria e seu objetivo v a ria iguídmeme a relação
existente entre a teoria e experiência. O.S métodos empírico analítico aceilâm
somente um tipo de experiência, aquele definido por d e s. Só a observação coniro
• Alfrcd Scisax, tCrtllmed Paper*. l%ts» Hâiji, 1962. l.J Paitr. pp-. 4 ss, revaluri?.:) o cunedu* [■/tfwaswe,U
f mundo vitalK-JatKirftdB por Dihhry e 1 luswrí niih/undri « na «itfodfllo&ia dstCiêacim sociais.
* th W Ai-tvi Fl!>, IIIr. |1 I:i í
T E O R IA A N A L ÍT IC A D A C IÊ N C I A E D IA L É T IC A 2BI
cabi.1 idade, 7 Podem apresentar se como problemáticas íls leis que fundamentam
lacita mente o trabalho na analise de determinadas causas de certos aconleei
mcnLcis específicos; o historiador converte-se cm sociólogo na medida em que a
pesquisa se desvia dos enunciados hipotéticos tndividuaiizadores. dirigindo-se ao
estudo das leis que regem o comportamento .social, aceito até então como trivial.
A s uniformidade» em píricas expressas por enunciados guiais u respeito da depen
dência funcional de rmignitudes covariant.es não pertencem n mesma dimensão
das condições marginais concretas passíveis dc serem consideradas corno otemen
tos causais de determinados sucessos históricos. D aí a im possibilidade da aceita
ção de leis históricas peculiares. A s leis do âmbito das ciên cias históricas ocupam
status igual ao das leis do mundo natural. A teoria dialética, por sua vez, rejeita
o conceito restritivo da lei c estipula a dependência dos fenômenos particulares em
relação ã totalidade do social. A análise dialética define a existência de nexos
objetivos determinantes da evolução, além das relações particulares de depen
dência de magnitudes historicamente ntetras. Sem inferir-se com isso a validade
das assim definidas regular idades dinâmicas do âmbito das ciências empíricas
inseridas em modelos operacionais; As leis do processo histórico procuram uma
validade específica e, ao mesmo tempo, global. Só têm validade geral a partir do
momento cm que se abstraem do contexto especifico de uma época ou dc uma
situação individualizada. Filas têm com o referência campos de aplicação sucessi
vamcnLc concretos, definidos na evolução dc um processo Irreversível t único, isto
c. são definidos no processo da coisa c não pela via analítica ou estrutura» de um
cvntinuunt antropológico ou de uma constante histórica. O nível dc validade das
leis dialéticas é mais amplo na medida cm que clus não englobam relações parti
culares de funções específicas c contextos isolados, porém, relações fundamentais
dc dependência, por cuja mediação o mundo social aparece determinado como
totalidade, presente em todos os seus momentos: "A generalidade das tei>. eientíll
co sociats aparece sempre cotnü referência de maneira essencial ã relação
entre o particular c o geral em sua conereçãn histórica. nunca no marco eoncci
tual cm que as particularidades se integrariam sem solução de continuidade.1*HAs
fegalidadcs históricas, medidas diafeticamentc caracterizam fénóittencs
mediados pela consciência da snjeuo. impõem se como tendência. Ao mesmo
tempo, procuram apreender o semido de um nexo vital histórico. Deste pomo dc
vista, uma teoria dialética da sociedade deli nu se hermeneutiçamente. Enquanto
as teorias empírico-analíticas concedem somente um valor heurístico à compreen
são do sumido, aquela t básica ms método dialético.® Produz .suas categorias par
tindo da própria consciência vital cu iuuda da atuação do Indivíduo; a interpre
tação sociológica ídcruificadora e critica se articula no espirito objetivo onde se
dá a existência social. A form alização não se constitui para a dialética num recur
so para a eliminação cksgmáiiea das Mtuaçóe* existenciais. ao cornrârk). c no pro-
cesso çlgs mornas que encontra o significado subjetivo mui «ri alijado através das
instituições existentes, e por assam dizer mantêm-no em suspenso. Isso pelo lato
de que a dependência das idéias e interpretações de um conjunto de interesses
situado no contexto objetivo da reprodução social invalida sua permanência no
âmbito de uma hermenêutica subjetiva compreensiva do sentido; es.se momento tia
coisíficaçáo privilegiado pelos métodos objettvames deve ser aplicado por uma
teoria que procure uma explicação objetiva do processo.
Na medida cm que o objetívismo vê as relações sociais entre seres bí&lOfiea
menl.e atuantes como relações legais entre coisas. ó rejeitado pelo método dialético
que se livra tio perigo da ideOlogizaçàü. perigo esse que permanece enquanto y
hermenêutica mede e considera tais relações da mesma forma que das são consi
deradas por si mesmas no nivçl do subjetivo. A teoria procurara este sentido uni
cameme para medi-lo além do sujeito e das Instituições, de acordo com sua espç
cílica conformidade. Assim, a teoria abrange a totalidade histórica do social, cujo
conceito pertence ã natureza fragmentária de um cotuuxlo mais amplo e significa
tivo no plano objetivo, o caráter eoativo e obrigatório, sem sentido no plano sub
jetívo das relações que incidem como sendo "naturais" $t>hrç o indivíduo, reali
/ando assim seu ituhaihu cruito: cube á teoria “transformar os conceitos externos
naqueles em que n coisa tem por si própria, naquilo quç a coisa queria scr por si
própria, naquilo eni que queria transformar se por si. confrontando -a cnm o que
real mente é. Deve dissolver o objeto rígido, h i c e i num* (aqui e agora) num campo
tertxírmal enrre o real e 0 idetil. , Por isso as hjp6t«« c previsões não satísfa/em
a expectativa de uma adequação total com a teoria.” 10 A história deve abrir se no
futuro para que seja possível u formulação de um sentido objetivo do próprio na
halho histórico e para evitar uma liiposLUi/ação histérico filosófica do próprio
semido objetivo enunciado.
A sociedade somente sc renhiu nus leis de seu ctutomuvjmento ít partir du
que não é. nas tendências de sua evolução histórica: “Qualquer conceito estrutu
rui da ordenação social vigente parte da üxmència de uma vontade determinada
orientada para vias alternativas no que respeita 4 sua evolução, vontade dc redefi
nir no plano do futuro tuj estrutura, imposta ou considerada como historicamente
válida (isso é, efetiva). Entretanto, há muita diferença na visão de um futuro como
demento constituinte de uma hipótese ou teoria, nu que o mesmo seja desejado,
elaborado e efetivamente trabalhado ou politicamente impulsionado/'’ 1 Nu medi
da em que possuem essa intenção ruiva c prática* podem IS ciências sociais enfo-
csir (». renómenos no plano liAcótlco c sivicrmuiçe ao mesmo tempo. Tal intenção
deve Ler conto demento Tlmdante"' o contexto social que permite sua emergência
e torna o passível de análise: essa legitimidade é o que a diferencia das "relê
rendas axiológieas" subjetivamüUe arbitrarias, de Max Wcber.
4. A relação entre ciência e p r á x i s transforma-se ao mesmo tempo que a
relação entre a teoria e a história Conhecimentos sem nenhum valor vital nem
l-.suida remos este problema vinculando t> ás propostas de Pop per .1 solução
do cham ado problema de Iwise.? 2 Trata se Je uma questão que se coloca nu àmbí
to da análise lógico científica, tendo em vista a possibilidade de contraste em pi
rico das teoria?.. Confrontada* com a experiência, as hipóteses corretas no plano
lógico não d d l nem Sua validação empírica, Somente recorrendo a enunciados
diversos é que os enunciados teorêiicos podem sofrer a eonírastnção imediata
mente, não recorrendo ü experiência objetivada de uma ou outra fórum. Mediante
ClHiilciJulus Observáveis, as vivências e percepções podem scr expressas; cm si.
nàn constituem anunciados, L i* que os enunciados protocolares constituiram se
com o a base dedsória sobre a validação efetiva das hipóteses. Pupper, objetando
contra C u ra a p e Nuurath. argumenta que deste ponlo de vista a aporia referente
às relações entre a teoria e a experiência não é resolvida, representando sen # rela
ção problemática entre vivências protocolizadas e enunciados protocolares. I)e
um lado. u segurança sensórla protocolizada não permite base suficiente, do angu
Io lógico, para a validação eletiva das teorias do âmbito das ciências em píricas;
de outro, a aporia mantêm-se. mesmo recorrendo ao sensualismo superado, con
forme o qual os Judos sen só rios mentóis ruiu aparecem ile forma evidente e intisití
va. na sua imedialez.I-
1J cr. u p M t „pri %
L'
14 r r nn. rí!-, pp t’() v
cr. Ch. -S. Ptuc-c. Cviiravtl Popeis. cC llíinshonv Jx Wcife. CiabrulüL1 lYfiO. xi*J. v .|-i.■wu.-
“ QucMÍ«fi!> Ccmi-vniinc CctU M Kãvwllívfc CU u iik J l:ir Vt.ni "Kixatiun n f R e liirf c "H>>h T o M&kv üut
kteas Ctfcar".
* 6 E HnSücrl. Efjitftrltny unJ UrirüíKxprrimeia eJuim}, Hnmiariai, UMX
T E O R IA A N A L ÍT IC A D A C IÊ N C I A í D IA L É T IC A 291
anterior sobre os fatos a elas; sujeitos; por outro lado. tais fatos não podem ter
nível de relevância antes da aplicação daqueias regras, Hsie processo inevitável na
aplicação de regras.2S constitui um indício da imbricação do processo de pesquisa
num contexto explicável hcrmcnetiticamente e não analíttco-empiricamenu*. Os
postulados de um processo cognoscitivo, num sentido estrito, têm que considerar,
como é conveniente, uma prévia inteligibilidade não explicitada: neste processo se
efetua a vingança oriunda da desvinculação da metodologia do processo real da
pesquisa e sua função social.
A pesquisa c uma instituição social onde os seres humanos interagem: dai
determinar pela comunicação entre os pesquisadores o que pode aspirar no plano
teórico: a validação. A inteligibilidade a p r i o r i iie certas, normas sociais é básica
para decisões referentes a validação de hipóteses legais, fundadas numa observa
ção sujeita n controle, h total mente insuficiente o conhecimento do alvo específico
a pesquisar e a relevância de determinada observação ante determinadas hipóte
ses; pura assegurar-se do valor empírico dos enunciados básicos, é indispensável
d plena inteligibilidade do sentido do processo de pesquisa, considerado em sua
totalidade, similarmente ã compreensão prévia que deve possuir o juiz da jüdien-
tura s t r i c w s & is u : os fatos devem ser resolvidos rtum enquadramento jurídico. No
processo judicial qualquer um sabe: o que está em jogo é a contravenção a nor
mas positivas gerais impostas positiva mente com a sanção do Estado. A expecla
tivn de um comportamento socialmenic normativo oferece nível dc validação
empírica ,»enunciados básicos. Somente mt interpretação pragmática do processo
de pesquisa é possível encontrar alguma indicação a respeito da integração do
fato no universo dâ lei. no referem? :to processo de pesquisa e o padrão de medi
ção da validação empírica dos enunciados básicos.
Acreditamos que, futuramente. cm nível dc teste, as hipóteses referentes ao
comportamento legal dos corpos, implícitas rins suas expressões universais, obte
nham confirmação, da mesma maneira que não colocam os ern questão a validade
de um enunciado básico, cspccificamcntc considerado. Como explicar tal fato,
ignorado por Popper? Constitui uma possibilidade logicamente fundamentada a
recorrência dc uma serie infinita dc enunciados básicos, em principio, onde cada
um teria n obrigatoriedade da confirmação dos fundamentos (hipóteses) implícitos
no enunciado anterior. Nu medida em que estas hipóteses sofressem uma problc
malizaçuo sucessiva, tal possibilidade teria condições de viabilidade. Falta lhes a
insegurança das hipóteses: estão cenas enquanto representações pragmaticameme
definidas e convicções destituídas de problematízaçâo. O fundamento teórico da
segurança comportamental indiscutível funda se nexius convicções latentes (esses
helie ves c o que ns pragmáticos tomam como ponto de partida). Fundadas nestas
crenças universais, problematizam-se cm cada época algumas destas crenças
estruturadas pré cientiticamente. só perceptíveis na sun validação hipotética,
quando esíe sistema de crenças è insuficiente para garantir o sucesso procurado.
A instabilidade do comportamento sujeito à apreensão pragmática determina1
11 Kffivi GeiVf. Gadnmer. Wohrhrü uná StetfmtUtl Verdade ir MéitHto), Tubíngen, I^WJ. pp. 2V2 s.s
T E O R IA A N A L ÍT IC A DA C IÊ N C IA E D IA L É T IC A 293
uma mudança na “cren ça” básica, formulada enquanto hipótese c testada. Suas
condições reproduzem as das crenças cu ja credibilidade nâü soíreu processo de
problem atizaçãú; condições da performance de indivíduos que criam c recriam
sua existência mediante determinado tipo de trabalho. Ris que a validade empiriea
dos enunciados básicos u exinnsccam ente a adequação das hipóteses legais, in clu
sive no plano teórico, tem como ponto de referencia determinado sucesso no
comportamento reaii/ado. Jundado na interação soeíril. no conLexto intersubjetivo
de grupos trabalhadores capazes dc atuar Este c o momento cm que se dá a mLdi
gibiiidade previa hermenrutica obscurccida pela teoria anulitica da ciência
que* possibilita a aplicação dc determinadas regras aos enunciados básicos. Na
medida em que concebem os o proces.su da pesquisa como parte de um processo
plotial de atos insüluctpnáliíudlob; soeirtlmente através dos quais os grupos sociais
produzem c reproduzem sua existência, u questão dos enunciados básicos nâo sc
coloca. E is que o mesmo não obtém validação empírica fundamentando-^- numa
observação solitária, mas ssm. de uma imegraçào anterior de percepções isoladas
no contexto das convicções nâo pfobkm atizadas com amplo nível de crcdibiii
dade; isso sc dá sob condições experimentais que imitam o controle dos atos
imbrÈcados original mente, num sistema de trabalho socializado. O conhecimento
piram entc científico-empírico só pode ser interpretado a partir de um referencial
vital do domínio eonciekt dü milLtre/.a da estrutura do trabalho social, eis que ,-i
validação empírica das hipóteses contrastadas expeli mentalmente está prnlunda
mente vinculada à estrutura do processo vital acim a descrito.
As posturas técnicas que pressupõem uma alocação racional do recursos
tendo em vista determinados fins. informam nus a respeito dax regras da área téc
n ica, dã maneira pc!ã qual a técnica dom ina o natureza pelo processa do trabalho,
Tu is posturas têcnicus mio surgem vinculadas a icorias científicas posteriores, ou
pCr aenso.
A tntdigibilidãdü anterior do caráter hermenêutico que rege o equilíbrio
homoes tático do trabalho social fundamenta a "d ecisão” popperinna sobre a ac ei
tação ou rejeição dos enunciados mínimos, O h que participam de um processo de
trabalho tem que possuir 0 mínimo de consenso a respeito dos critérios de
eficiência ou deficiência de umu determinada regra técnica. E m caso s específicos,
a mesma pode estar destituída de validade; aqueles ncos ou de sua validade c defi
nida no plano empírico estão marcados pela Còerçio social. O controle <la perfor
mance das regras técnicas ê medido conforme as i urdas cum pridas, im bneadas
no sistema cie trabalho social menti! estruturado, consequentemente convertidas
cgii social mente vm eutaniev Ue conformidade com as norm as sobre as quais deva
existir certo consenso, na medida cm que a.', opiniões sopre o fracassa ou êxiiu
pretendam possuir validação inicrsubjetiva. E s tu referente vital constitui o funda
mento hermenêutico do processo de pesquisa vinculado ao modelo anahiãero-çm-
pírico.
No processo de pesquisa a validação em pírica des enunciados básicos ê me
dida pela performance socialmente definida, no processo ju d ic ia l, conforme deter
294 i IA BE R M A S
? * F tsht Risrí. jnjm Drr Übtrrgfffíg vorq F tttiínlüu .iu /: ilü rffiríicxçrt l l t f t b i l i í [ A Iü iis iç à n da Imugem PéU
dal ã Imagem Burgüeut >m Ú niítné), Paris. 1üM. pp. i Is,
296 H A BERM AS
J0 TU V\ Adumn. Zur t tttfk 'fàr Sti-iaiu h<msvhajh-n (S-tbre a búg/teti í,'üv C ii'kca \ S-K W hí,
1! Gunnit Vlyr&iJ. •Eads and Means m Pnliucol EiMinortij", m Vaíut m Thiij/y UrotN*. JV?Í, Ainda. M
Ifeirhhiíirne.r. hettpue tíf Kímon. M sii 1 e-rí. pJ47. cap, I: ed. itkiv.-i Inv Kv\ÚK derüw rum i^uiki i trmmjt
h isd iLi. FrurViiLin 1%7. p.p- l s
T E O R IA A N A L ÍT IC A D A C IÊ N C IA E D IA L É T IC A ?.07
cr. II. 1'TOyíl. Jí!£Mítef» (tj\ ii'tl'liilVtíKí‘ÍiS\ViSS'iVSC~f!í\,!l (A StMVilfOUi# I C irllfh Jii H-.'otidiuly'), pj»,
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>.> npilorKi U i-. |Wriu . <Je dnosiaaçáo '■3 fi>rmu csfit. UF'Hrn-nJi m^oernu Jc
. la m n i if.np.vi v tim ■' .iSj^íivt. ,.u- (.Mmp--irn L;i o im u ■■. . !m S V in l-li;jir un.l ii.-m-Vlni-Ti“ j Por
p « (0 tanta au tw ip it o sol* h ^.Hítatajãu lI.l esdatte, ü ptw tu iíl- b b í :i.la .■ » co m p té M k à u á i pcuiliuriü.itii? da
tfiüadc rw Ocidenu-. >ii‘* .tcl.-i. residem ;v. rnú«, tio irudumu m .;u , ih;i vai «i: u Ií.slp; a diiilile no ÜCÍ4CW# s í i Vc
dt?.elem en to is. cufeules |lc H iiu.is civilizações.. N tstJl idLiiüe, fim d jir:im i 3ilL* e v iik m ^ id íf ti üucb
pftpí h:if:s('Ji díl ^üo Ío-Iorííi (Ic hlaK Wubfflr, A pr^b líraiU iea w cbçrinim pirn ajn Lomo J á respofits a. pcffpinftu:
ií q u ? cardCtiMÍita i pccuh& ndniii’ L.vnl ,pevi !■;:» Ju itiodefíui Ijípn.i-ç.iíi ru n u v -ia c ern i h iii -.k Ul- l[lhJ « m l:
g jr a ^ â iy lí: ir,L4t;v :|r v '• A n Jc |o .|- ■ UI 1115. i O i í l K ‘ L;i S I^ 6l-|I i :sI ] l i U o 'C .llíl U ld C S ilJC JÍll:.
du- vinus U|Kâ.eonsÜtiu o caminho pçta qual a realiiliulc utu-al lüniará aulnennscicocia da sua especillcidlde
hifitodcít"
T E O R IA A N A L ÍT IC A D A C IÊ N C I A E D IA L É T IC A
postura não sc coloca para aqueles que suspendem o processo racionalizador nos
umbrais do método empírico analítico.
Qualquer reflexão sobre estes interesses leva a uma análise dialética, enten
dcncío-se como dialética a concepção da análise como parte inLegranie do pro
cesso social analisado, como sua consciência critica possível. Tat postura permite
a consideração d j inexistência desta relação casual e superficial havida entre ov
instrumentos e dados analíticos. que pode ser admitida em se tratando do poder
técnico sobre processos objetivos e objetivados. E a única for ma pela qual as ciên
cias sociais podem renunciar á ilusão de amplas consequências sociais - de
que nas mais diversas áreas da sociedade cabe um nsvel de controle cientifica
idêntico ao mundo da natureza, isto um controle obtido w m idênticos meios ao
mundo natural, e, por esta via de poder técnico cristalizada pula ciência, considc
rado uno sri possível comu desejável.
C O N H E C IM E N T O V IN T E R E S S E *
* Trad uzid o cfo nrigjtnnl a lcriâ o ; ‘"F^tívomniü und liUfitów. ’, rm Technii. u m l W iu w t c h a f t a is " It t e ik t & e í
Friin kfiu i ram M ílio , IflfiíiiSutMkump Vcrlnp;, pp. 148 IfiS
1 J . Sciwlllijjj, II l-iAt-, cii-at-bmer. m lU.p.iVV.
~ tí Snell ” flieu n e aicul Prnssih’ fu £)*<•• H ju d íC k u ftft if t s C ié m v t, H am bunw . I9 S S , pp. 401 >•-.:*-• P ic h i.
“ tJer Snin J c r 1 raLTsehdíhiají vou Tlit^ riv luiC P f » * K m a .-: firiiwhtKishvvj P h ib so p tiK " . iti K v u a g e iiic lír
t-sm, viu toAr pr i: i V-
1 W. lti.’iii.lvüinte>r. ■
■Cmiti Lk»L'th? »»nj tcblUeha Th cárie" m ZeUiçHrijt Jítf Xnztatfftrtifrting. VI IW7. jvp
243 .s>.
’ I f u ti i UiiíiLUMíaLrnto em minliis .miIa tK.iu|! ur.il n a 1.■niverifçCaçle de Frsftfc fm i i-m -S d t oinhi» d# I 465,
31)2 HABLRM A3
n
Com o estão as coisas, verdadeiramente? EiUrc a autocotnprecnsâo positi
vista da ciência c a antiga ontologia cercamente encontram *c relações. A ciência
empírico anufítivtí no suu desenvolvimento histórico, no plano tcorélicu. apresenta
uma autocompreensfio próxima às origens da pensamento filosófico; um nível de
abstração liberte dos interesses naturais da vida prática. Porém, cai nctdentemente
com o modelo que cíiicrgc com o surgimento do pensamento filosófico, ha uma
concordância tácita na intenção cosmo lógica que consiste na descrição teórica do
universo ordenado, sujei to a leis. Contrariam ente, ;i t' i à i d a h v rm w iâ u iic ii, preoci
pada com o reino do perecí vd e do opín ativo, situa se fora deste Âmbito dc ubor
dagem, tnteirameme desligada lSos problemas cosmológicos. Da se. nu realidade,
o desenvolvimento de umn consciência cim/t/idfíia, Íuiídadu no modelo da ciência
natural. A preocupação sincrànicâ. que aparece na articulação dos dados num
universo Je faios estruturados, transparece nji.s ciências do espírito no processo dc
seleção fòtual pela compreun ■«àci. embora sem a preocupação com a elaboração dc
leis gerais do sucedei histórico, integra sc no âmbito de preocupação da ciência
empírico analítica: na procura de uma descrição de uma realidade estruturada,
assumindo ante a mesma uma postura teórica. O historicrimo tornou se o posili
vU m o mi cicn cia do espirito.
O positivismo aparecem imdalm entc nas c i ê n c i a s a o e i a i s , nu medida em que
propunha â adoção de um método inerente a umn cicncia em píriconm ilíiiça do
comportamento, orientado conforme o modelo da cicncia analítica normativa,
fundada na pressuposição da ação. * A pretexta de uma autonomia ante os juízos
dc valor eonlírmu se nessa área de pesquisa próxima a pràxifi a recepção pela
ciência rnotiírníi dít herança legada pelo surgimento do pensamento teórico na
filosofia grega: psicologicamente, o cultivo de umn atuo■ suficiência teórica e.
epistemoloaiecimcruc, a separação entre conhecimento c inLcreases. No nível lópi
co, isso corresponde a uma distinção entre asserções descritivas e normativas;
UI
Efetiva mente as ciências devem perder sita relevância específica para a vida.
relevância que Hussúrl pretendera restabelecer mediante a renovação da teoria
pura. Farei o reconstrução de sua critica, nos seus três momentos básicos. No pri
meiro momento, sua critica se dirige contra o objetivismo da ciência. Para esut, o
mundo aparece ohjeiivumcnle como um universo de fatos, passível de descrição,
revelado pcia conexão interior faiuul sujeita a leis, Na realidade, o processo de
apreensão de um mundo aparentemente objetivo pelo conhecimento funda sç
transcendenlalmcntc cm posturas pré-cientificas. O possível objeto da análise
científica c concebido «iprioristicamcntc no âmbito de nosso universo existencial,
cm nível primário. A fenomenoiogia capta ílèstc momento a existência dc urna
subjetividade fundante do sentido, No segundo momento. Husscrl pretende
demonstrar que esta subjetividade constitutiva c inerente ao âmbito da auioeom
preensào objetiva, cis que u ciência nào esta râdicalmcnte desvinculada das situa
ções reais que definem o universo primário da existência. Inicial mente, a fenome
uolugiít rompe com a vineuJaçáo ingênua, desvinculando radicai mente
conhecimento e mtere.s.se. Fin al mente. Husscrl equipara a auto-reflexão transcen
dental, que ele denomina descrição IcnomenolAgícn. à teoria pura, teoria eonce
bida tradicional mente. O filósofo na sua postura teórica opera uma mudança de
atitude, livre dos interesses condición antes da vida prática. Neste aspecto a teoria
é “ nào prática", Porém, itâu se dn uma desvinculação completa da vida prática,
pois u teoria, como é- )radieionalmente concebida, orienta a ação. Â postura teó
rica assimilada c mediada com a práxis. Define se sob uma forma de pró xis dc um
304 HABERM AS
IV
A tradição grega domesticou «> que aparecia inicial mente como obra da
divindade ou dc poderes supra-humanos. A filosofia grega interiorizou e sto
demônios. O processo dc purificação dos elementos uletivos t* emocionais presen
tes na pràxis humana sempre instável e movida por interesses, ê reduzido a uma
contemplação desinteressada, significando evidenteirjuiie emancipação. Pcsvin
cular o conhecimento do interesse não depura a leoríu do subjcítvisma, reduz o
sujeito a um processo de purificação estática das paixões. 0 falo de a catarse nâo
se efetuar no âmbito do culto aos mistérios, mas situ. de ter como centro de fixa
çào a vontade individual. indica o novo nível da emancipação. Nu contexto eomu-
C O N H E C IM E N T O E IN T E R E S S E 305
7 EriíÉ -.'aitüirttiu apunecé cnUncíntln jwr K O. \pvJ. "Uir hJTTfòUuug ürr sfreclituutlyvUsuhttn Philosopttil
unJ das fccbletn iki í icistwisy.nvebaftín" Ia M iÀ^ophíicim JaHrhitch, l X X II. Munique. pp JJy $s.
HAB ERM A S
8 e t K, Popiw, <7fe Lttfnr o: ScJvmffiC Ittw u v m '. HuíChiitsna. I.isndres, 1059. f itiíu cr :s:im “ A iih Ijiüw Iu '
Wtssenscfaallsjiistrie ijnij DralebiiX."
6 Nesta parte, acompanho a pesquisa c&nutda, por U .G Dagm^r. W w kiit usui MeikuiW Muhi, Tèhíitjsen,
lítii- 2.* parte,
C O N H E C IM E N T O E IN T E R E S S E 307
VI
EL. Tupiisdi fure4inuBtk»r'l, Lüjiik <ks>S 0 ila M m w e 6 a ftfn , Kiqienhruvr & Wksch. Colàitw. [965.
1 Th, W. AJíi rno. Zur Sfatakriük áur Erkm nitm lkw fh', Sanrp.nri. I 95í
30K HÀBERM AS
rtheddo a priori. Distingue se este interesse tia natureza mediante um dado fatuaL
0 único possível de conhecimento por sua própria natureza: a linguagem. A eman
cipação c colocada por nós com sua estrutura. A primeira proposição expressa
inequivocamente a intenção de um consenso universal e não a simples imposição.
No plario da tradição filosófica, a idéia da emancipação k a única passível de
realização Daí compreendermos u razão mediante a qual o idealismo alemão uti
liza o conceito "razão compreendendo o momento, a vontade e o conhecimento,
recurso este não obsolctizatfo total mente. A razão significava, antes de
mais nada. querer a razão. Na auto reflexão, o conhecimento por amor ao confie
cimento aparece coincidentemente com o interesse na emancipação. O interesse
cognitivo na emancipação aparece corno a realização do processo reflexivo. Dai
minha quarta tese: Conhecimento e interesse identificam ve na força reflexiva.
É lógico que o processo de comunicação só pode realizar se plenamente
numa sociedade emancipada, que propicie as condições para que seus membros
atinjam a maturidade. criando possibilidades para a existência de um modelo dc
identidade do Ego formado na reciprocidade c na idéia de um verdadeiro consen
so. Neste aspecto, o nível de veracidade das proposições lunda-sc numa antecipa
ção rdauvamente ao existencial. A aparência ontofógien de uma leoria pura, na
qual aparecem mistificados os interesses orientadores do conhecimento, reforça a
noção dc que o diálogo socrático sçj;i possível uni versa Irrcnic c a qualquer
momento. A filosofia supôs que o processo emttncipatório desencadeado pela
estrutura da linguagem fosse não somente antecipado, mas sim. um dado de renll
dade. Isso é característico da teoria puni. que procura derivar w real dc si mesma,
porém, na realidade, vinculada ao exterior c transformada cm ideologia, Somente
quando a filosofia descobre nn curso dialético dn história os traços da violência
deformam es de um dialogo continuam ente tentado, leva avante o progresso ck> gé
nero humano rumo n emancipação. Com o quinta tese proporei esta afirmação: A
unidade do conhecimento com o interesse verifica -se numa dialética que recons
trua o elemento reprimida a partir dos traços históricos do diálogo proibido.
A aparência dc uma teoria pur:i foi o legado que as ciências humanas herda
ram da filosofia. Ela não determina sua técnica de pesquisa, mas sim. sua
auEOComprccnsào. Na medida cm que retro age sobre a prática científica cia
encontra um sentido.
Constitui ponto de partida fundamental para a ciência a aplicação de seus.
métodos sem hesitação, sem reflexão acerca dos interesses que determinam o
conhecimento. Cultivando a ignorância metodológica, a ciência cultiva utn alto
nível de certeza referente ao progresso metodológico operado num quadro não
pro b1cm at azado, A falsa consciência tem uma função dc proteção. No plano dc
auto-reflexâo. falecem á ciência recursos para enfrentar os riscos de uma aborda
gem que vincule conhecimento a interesse. O fascismo podaria produzir o aborto
dc umn física nacional, o stalinismo. de urna genética sóvjêtico-marxisia, eis que
faltava o elemento objetivo na aparência, que tivesse um efeito imunlzador ame os
encantas perigosos de uma reflexão desviada.
Porém, o elogio do objetivismo tem suas limitações; Husscrí, com muita
C O N H E C I M E N T O E IN T E R E SSE ill
14 Ç I. meu «lüftso "D opialisiM M , Vçtnuuft und Fncsçliéitliant'" in J'fm.irê atui frarh. p. 241. Ncnwicd, Brr-
lim, 1963,
11 tl. .Vfílccusé an 4 í» 55rn ertt -.aa ohm One Dimensionai Afan jwrrpiv. implíciu*. num» redução da n ? .jo
.‘i radm utidíulr tccalcn e num» reduçtlo Ju social a wnftipBiaçikj (« a d ip ic u iini outro « n u m a H dm n
Sefokkv formula kkuJiCu dupntraieo. U Interiirm cntui Vlffcl c ã di/Jiçiio científica pm tüw.iida, xtf fiSlh
luiii siifflâ « em upiwçn: a .■ ■ ífs.iw dn CTVolvirtiwUá tmnuno somou u nn ambíCi." ifc cupe* cm urna?, qut
mudam o amhierm» nivclaruln COIS&S ü linmens no âmbuo inbjcuvado da ação con^.iiiutivu. livU nova amo
ftllfifiaçàii do homem. (Wí pude Icvú lo á ivnbi õn noto idçfltnlmlr e iM rcconlieciimjino dt> "a u iftj". eomlllu*
c« l>i-i ii*ii onda v criudoc *.r seni* na ?.tin |wr>(iri,-| obra. o cotutiultir. c a .o j jo n .iruçjo. O *cril?4tldrp homem
um him pí n i runacendcr-sc na objclivação que ele proprlo ruBdiiiia, úum >.ur «msiruídeu eniTetwitn, i>te ira
bulha incessíintcflictiic no Ucsoiw lvinicuiu deste processa de autonhjdtvação ciau ífiea". EimamÁvis um!
pri/ffrelt. Ro^óíiU. Hamburgn, KJftl. p 7^)
M2 H A BER M A S
Para os, 7(t anns de Hcrberi More use. rin dia 10 V II !96S
entre alternativas, À plamficaçáo pode final mciHe ser concebida como um agir
racional com-respcito-aTins. de segundo grini: ela se dirige pam u instalação,
para o aperfeiçoamento ou para a amplicaçâo do próprio sistema do agir racto
nal com-respeito-a-fim. A “ ractonali/.açào" progressiva da sociedade eslá ligada
à institucionalização do progresso cientifico e técnico. Na medida em que a lêc
nica c a ciência penetram os setores institucionais üu sociedade, transformando
por esse meio as própria* instituições, as amigas legitimaçâes sc desmontam. Sc
cuLirização c “ dcsenfieitiçniiicnto" das imagens do mundo que orientam o agir.
e de toda a tradição cultural, sào a contrapartida de uma “ racionalidade' cres
CérUe do agir social.
Merbéri More use partiu dessa análise para mosimr que o conceito Ibrmal de
racionalidade — que Max Wcber tirou do agir racional com respeito a fins do
empresário capitalista e do trabalhador industrial assalariado, do agir racional
com-respeito-a-fins da pessoa jurídica abstrata e do funcionário administrativo
moderno c que ligou aos critérios u m o da ciência como da técnica — tem implí
cações materiais determinadas. Mareuse está convencido de que, no processo que
Max Weber chamou de "racionalização". dissemina-se não n racionalidade como
tal, mas, etn seu nome, uma determinada forma inconfessada de dominação poli
tica. Visto que se estende ã escolha correta írslre estratégias, ao emprego ade
quatlo de tecnologias v ú organização de sisLemas de acordo com fins (no caso,
com objetivos estabelecidos em situações dadas), essa espécie de racionalidade
* rraáitfijo ütj original alemão: Taiimi; und Wi^sensclisJt ais 'idtxilogjc"', na otira homónime. Frwit
furi :irri XíhIn. fífilf, Suhrkaii!|i Vcrlag, pf1 4BHX5.
M4 HAB ERM AS
1 pFuitmrKiJiaicruiiE unü ívapiiítliSriíu£ im West Max Wi4vi-", !it K l s l t u r mui Üesettschiffi lí. FráttJtfurPM.
■
' Triabieliri' m*lirsiiisU. «i Frêmito i/wG ^ tw a n , Franti*. Bckr l . Sík .. KiI. 6, 1457.
1 ü f eu.. ji 403 ,
T É C N IC A E C IÊ N C IA EN Q U A N T O “ID E O L O G IA ” 315
II
sua lorma refletida* serve ainda de guia para as esperanças secretas dc Benjamim
H orkhdm cr c Adorno. Assim também Mrrreuse escreve: "'O ponto que estou ten
tandn mostrar é que a ciência, em virtude deseu própria mêwdv, e de seus concei
tos, projetou e promoveu um universo no qual a dominação da natureza permane
Cvu vinculada à dominação do homem — um vinculo que tende a ter efeitos
Fatais para esse universo como um todo. \ natureza, cientificam taite
1 Dif *outitnemHMtak Mcnsch. N uiw jcA l lJ ü 7 , pp. | 7 2 mí. {IS do A l lCsiMc u n a UtLdUção bfôsilcjira de
Giaüoiic Kebuá. nitHiuada pela Zahar. I % 7 . sob o titulo dç Ideologia de Stid&lade I n d u s t r i a i
T É C N IC A E C IÊ N C IA EN Q U A N T O ‘ID E O L O G IA ’' 317
■“ f , 1/ ;ü . jip | 6Ú >,
1 üfi, vil„ p, 24V.
"fcU ;;i Ui :‘HuH. :i ... .lamUvi-i inlcrm- :•. ic.nic.i. ^r.r nruteSM: ^nc Curtir» Mm mdo. iifm Im hjliic-i. - da
vrvuüklc i Ui pin-. é iim s tíi q«e m rsvejsti, ( > - nd* ‘ pclw. cvi‘i|» i. pur a ^ i r' Jí" r. ou inruQUvuâiciiiv.
mio 1 --«ó'U stihüfkil On |mFrimíidju.t. •sUíii uir,n». nul;t ^ i's mijil.iciunjuL nãu pruk fciwi ncnl 1 . 1 1 1 1 Ui»uuvul
umençu i1lí itcnic.i que vã alcit tin r«nv íls msb completa .iLiiiHiiau/ac.i:', pois, min ê poMivcr inuie.11 iieiih...m
1. ii-.Lim u j -ít|viilaiJc tiumsinii t|iJi aiiítlíi fHitlí^ss sei obicrivinJi» v Eíelilen. /XnthnsiySnfKtrSíc Anvidu
rbr 1 odlmiL' m Twtmít; U» 7. liuStflr. I dfdt
31» HABERM AS
III
que pretendem esgotar todas a> possíveis decisões fundainemuLs. foram recorta
'• Para o cuntexto tiBiíXicn-filosôBcn desses conceitos, veja a minha contribuiçâa |ww m coletânea em
hunicnn^cin a'Lgw llh.‘*Arbcit und fatm ktion, Bím trki^gajj zu Hepcis Jenenier Pl>ilosvphiu día C fflW ’.
T É C N IC A L- C iÊ N C IÁ EN Q U A N TO “ ID E O L O G IA ” 321
tal rege se por rcg ru i, técnicas baseadas no saber empírico. E las implicam, em
coda caso. prognósticos condicionais sobre acontecimentos observáveis, físicos
ou sociais: esses prognósticos podem se evidenciar cumu ecirreios c»u como falsos,
O comportamento de escolha racional é regulo por estratégias baseadas no saber
analítico, Elas implicam derivações a partir de regras de preferência (sistemas
de valores} e de máximas universais: essas proposições são derivadas correta ou
incorreiamentç. Q íiair racional eom-respeito^a-fins realiza objetivos definidos em
condições dadas: mas. ao passo que o n.g.ir instrumental organiza os meios ade
quados ou inadequados segundo os critérios de uni controle eficaz díi realidade,
o agir estratégico só depende dc uma avaliação correta das possíveis alternativas
dü comportamento, que resulta exclusivameruc de uma dedução feita com o a u x í
lio dc valores c dc mã.\sma.s.
Por outro lado. entendo por agir comunicativo uma interação mediatizada
simbolicamente. Ela sc rege por normas que valem obrigatoriamente, que definem
as expectativas de comporia mento reciprocas c que precisam ser compreendidas
e reconhecidas por, pelo menos, dois sujeitos agentes. Normas sociais sSn fortale
eidas por sanções. Seu sentido se objetava na comunicação mediaLizada pela Itn•
guagem corrente, Enquanto a vigência das regras técnicas e das estratégias dc
pende da validade da» proposições empirieamente verdadeiras ou analítica mente
corretas, ji vigência das normas gocini:- é fundamentada exclusiv&mctuc na iruer-
subjciividadc dc um entendi mento acerca das intenções e é assegurada pelo reco
nhecimenta universal tias obrigações. A violação da regra tem, cm cada um dos
dois casos.consequências diferentes. Um comportamento fncQtnpeienic, que viole
regras técnicas confirmadas ou estratégias corretas, é por s: só condenado ao
abandono, cm virtude do insucesso: a -punição’* está. por assim dizer, irteorpo
rada ao fracasso diante da realidade. Um comportamento anômab, que violente
as normas vigente;., desencadeia sanções que só são ligada» ãs regras exterior
mente, ou seja. por convenções. Regra» aprendidas do agir radunal -com respeito
u fins nos equipam com a disciplina das habilidades, normas ititeriorr/Arfiis, com
rt disciplina das estruturas ttepvrsünalitiãdè. Habilidade» nos dão condições para
resolver problemas, motivações no» permitem praticar :i conformidade com as
normas. Lssus determinações se encontram reunidas nu diagrama, abaixo; elas
precisariam de uma explicação mais detalhada que. contudo, não pode ser dada
aqui. Sua última horizontal, por enquanto, não estará sendo considerada: cia
serve como lembrete da tarefa cm vista da qual ituioduzi u distinção entre triitw
Iho c interação.
Dispondo desses dois upus ele ação. podemos classificar os sistemas sociais
conforme neles predomine o agir racional com respeito a fins ou a inLeração. O
quadro inutíucioticil de uma sociedade consiste de norm as que guiam as i nutra
ções. verbalmente m ediai ízndas. Mas existem su b sistem as. tais como o sistema
econômico e o aparato de Estado, para ficarmos com os exemplos de Ma\ Weber.
nos quais são institucionalizadas pnrccipalmente proposições sobre ações racio
nais-com-respeito-it-fins. Do lado oposto, encontrara se subsisEem ns, tais com o
família c parentesco, que decerlu são conectados a um grande número de tarefas
322 HABER MAS
c habilidades. mas que repousam principal mente sobre :is regras morais da intura
ção Assim , no plano analítico, convém dísiirtguir. de modo geral: ( I >o quadro
insdtuaofíai de uimi sOciedruie nu do inundo da viver sócia cultural c 12) os sub
sísivnum do agir <acionai com rvspdio aJtns "encaixados" nesse quadra institu
cionnt. As ações, rui medida cm que são determinadas por esse último. são ao
mesmo tempo dirigidas e* impostas par expectaiivas de comportamento sanciona
das e que sc restringem rcciproesimcnte; c. na medida cm que são determinadas
por vubsjsicmas do agir rncionnUcom respeito a fins, elas se moldam no* esque
mas do agir inslrumcm.il ç estratégico. ÍAmiudo. é só pela institucionalização
que sc pode obter uma garantia, de que cias dc fato sigam regras técnicas dei cr mi
nadas com uma probabilidade satisfatória ou estratégias esperadas,
Com o auxilio dessas distinções (iodemos Uar uma nova Formulação ao con
ceito weberiano de " raciona liznção‘\
IV
formas sociais mais primitivas nos seguintes pontos: (1) pola existência de fato
de urn poder centrai de dominação (organização estatal do poder, em oposição
a orgüiiizHçào tribal): (2) pela separação da sociedade em classes sôcío-econõmi
eas (distribuição dos ônus c das compensações sociais pelos indivíduos, de acordo
com as classes a que pertencem. c não segundo os critérios das relações de paren
tesco); (3) pelo fato de estar em vigor uma imagem central do mundo (mito. relí
giào avançada), para fins de uma legitimação etlca/. do poder. As culturas avan
çadas se estabelecem sobre o fundamento de uma técnica relativamente desenvol
vida e de uma organização da divisão de trabalho no proccssu social de produção
que possibilitam a superprodução, ou seja. uma supcrabundância
de bens que excede a satisfação das necessidades imediatas e dementares. Elas
devem a sua existência à solução do problema que só é posto pela superprodução
gerada, ou seja. do problema de como dividir designa imeme, c contudo, legitima
mente, a riqueza e o trabalho, por critérios diferentes dos que são postos a disposi
ção pelo sistema de parentesco.1:
O ra, no contexto da nossa discussão, é uma circunstância relevante a de
que culturas avançadas baseadas numa economia dependente du agricultura c
do artesanato, apesar de sensíveis diferenças de nível, só tenham tolerado inova
çóes técnicas e melhorias urgítnizatprias dentro de determinados limites. Como
indico dos limites tradicionais dn desenvolvimento das forças produtivas, men
ciono o fato dc que. até aproximadamente trezentos anos atrás, nenhum grande
sistema social produziu mais do que o equivalente a, no máximo. 200 dólares
per capita num ano O esquema estável de uni modo de produção pré-capilalista,
de uma técnica pré industrial e de uma ciência pré moderna possibilita uma rela
çào típica entre o quadro institucional c os subsistemas do agir racional com res
peito a fins: esses sub.su temas, que se desenvolvem partindo do sistema do traha
Iho social e do estoque de saber tecnicamente aplicável acumulado nesse sistema,
apesar dc progressos consideráveis, nunca atingiram aquele grau dc propagação
a partir do qual sua ‘'racionalidade" se toma uma ameaça aberta ã autoridade
das tradições culturais que legitimam a dominação. A expressão “sociedade tradi
eiorud" refere-se ã circunstância de que o quadro institucional repousa sobre um
fundamento de legitimação inquestionudo que consiste nas interpretações míticas,
religiosas ou rnCtafisicas Ja realidade no seu todo tanto do cosmo cmno da
sociedade. As sociedades "tradicionais" só existem enquanto o desenvolvimento
dos subsistem as do agir racional com respeito a fins é contido dentro tios limites
da eficácia legUituadora das iradições cu ltu rais.1 ’ I sse fato fundamenta uma “$u
premacia" do quadro institucional, que nào exclui, por exemplo, re-estru tu rações
feitas cm consequência dr> surgimento dc um potencial excessivo de forças produ
tivas, mas que exclui, todavia, a dissolução critica da forma tradicional ite legili
A i!r.-.-.v‘ rospeilf», - <j, •- I. l HvXi . P tm ir and Prtritefie. .1 iJ w u y o i Sneiai Straiificattan. Nova Ycir-L
lynci.
13 CT. P. J Strftr Tkc Suçratl Cnwrtfly, Nova York.
32-; HAB ERMAS
mação. Esse seu caráter de ser inatacável é um critério sensato para distinguir
as sociedades tradicionais das que ultrapassaram u limiar da modernização.
O “critério de supremacia" é aplicável, ao mesmo tempo, a iodas na situa
ções de uma sociedade de classes estatal mente organizadas que se distingarn pelo
fato de que a vigência cultural das tradições participadas ituersubjetivamentefique
legitimam uma ordem dc dominação existente) nào seja posta em questão. de
m aneira explícita e com uxtas as suas consequências, de acordo com os padrões
da racionalidade, universal mente vigente, de relações meio fim instrumentais ou
estratégicas. SÓ a partir do momento em que o modo de produção capitalista
dotou o sistema econômico de um mecanismo de regras para o crescimento da
produtividade do trabalho. crescimento que. emborn sujeito a crises, revela se
continuo a longo prazo, é que a introdução de novas lecnoiOgias c de novas eslra
tégias. a inovação como tal. foi inst it uc iona //- ada. Com o já haviam sugerido
Marx c Sehumpeter. cada um à sua maneira. o modo de produção capitalista
pode ser concebido como um mecanismo que garante uma propagação pgrma
nenio dos subsrqcmas do agir raeional-eom respeito a fins e. com isso. abala u
'■supremacia ’ tradicionalista do quadro institucional, diante das forças produti
vas. Do ponLo de vista da história mundial, o capitalismo c o primeiro modo
de produção que institucionalizou o crescimento econômico auto regulado; de
produziu, em primeiro lugar* um certo tndust ri nJis.mo que. uni se puída, pode des
vincular se do quadro institucional Jo capitalismo e fixar se a outros mccanimcs
dilcrcntcs da valorização do capital em forma privada.
Õ que caracteriza o limiar cmre a sociedade tradicional e a sociedade que
eittru no processo dc modernização não c o fitlo de que uma mudança estrutural
do quadro institucional sçjy forçada pela pressão das forças produlivys relativa
mente desenvolvidas — pois is&o c um mecanismo da história do desenvolvimento
dí! espécie, desde o início. A novidade está mie» no nível de desenvolvimento
■cias» forças produtivas, respómàvd por uma ampliação permanente dos subsiste-
mas do agir i acionai oom respeito ;t tins que. por esse meio. pue em questão a
forma, própria às culturas avançadas,de legitimar a dominação por inierpreüiçòcs
cosmológieas do mundo. fcissas imagens míticas, rdigiosuu c mctalísicas do
mundo obedecem à lógica da contextura du btteraçío, têlas dão respostas aos
problemas centrais Ja humanidade, rdahvpx ã vida cm comum e á historia da
vida individual, Setts lemas são justiça c liberdade, violência e opressão, felicidade
<1 >aiisfação, miséria c morte. S«a> categorias .são vitória e derrota, amor e ódio,
salvação í danaçáo. Sun lógica se mede p e la gramática Je uma com unicação
desfigurada e peta causalidade do destino, determinada por símbolos cindidos
£ motivos recalcados.1 ' A racionalidade dos jogos dc linguagem, ügaju au agjj
comunicativo, é eonfromada agora no- limiar dos tempos modernos, com uma
*1 Cf. Leu Sirauxs. V m m dii mui ííajpW fft 1953; r B. xiacMawstai, Dia ptrtisv.eh*- 7V,>.>We, do
Bt:süzindi' sihiaiiituua CHS?- j Habatras. “ Die K la-^^eK' l.ptirç w n ,lí- IV lilii f» itircam
Vtjrholinkí .•.n* Si^iiPpíiUu-si ’phic". ht JTmwíV ttndPruxia* SícliwicU, !*,?(>
326 HABERMAS
5 fi ) 11-it'5,-1 ii i V . L t u n - i v h í und Rfv.Uiniijn’ ' íjj Thtvrie untl Pcy.vii j , Nllía u i J. I Vts 7 lN. lios I I
324 HÀBERM AS
18 C OITc. "íüui K :i‘ ■-ntfwoiit wtil HrrrsdiftftüitriitiMr nu sca^lu-h re^wlíwtai FCrpiuilimuli-" ísrumis-
Cliuó.
330 HABERMAS
OfTs vc muiw bem que a atividade do Estado O restringida por essas orienta
ções de ação preventiva a tareias técnicas admmtsT rali vam ente solúveis, de modo
que as questões práticas sào deixadas de lado. O s conteúdos práticas, são elimina
d os,
A política de estilo amigo, já pela própria forma de legitimar a dom inação,
cra levada a se determinar em relação aos fins práticos; as interpretações do
” bèm-vivcr eram dirigidas para as contexturas dc interação. Isso vale também
para a ideoíogia da sociedade burguesa. Por outro lado. o programa de substitui!
vas hoje dominante é voltado tão-somente para. o funcionamento de um sistema
dirigido. E le exclui as questões práticas c. com isso. a discussão sobre aceitação
de padrões que só seriam acessíveis a tuna form ação dem ocrática da vontade.
A solução de tarefas técnicas não depende de discussão pública. D iscussões públi
cas poderíam, antes, problematlzar as condições de contorno do sistema, dentro
das quais as tarefas da atividade do Estado se apresentam com o técnicas. A nova
política de intervencionismo do Estado exige, por isso, uma despoEiiização da
m assa da população. Na medida em que tis questões políticas são excluídas, a
opinião pública política perde u sua função. Por outro lado, o quadro institucional
da sociedade continua ainda a ser distinto do agir racional Com-respeito-a fins.
T al como artes, sua organização c uma questão da p râ x is ligada ;i com um cação
c não apenas da técnica, com o quer que ela seja dirigida ctentiftcamcmc. Por
tanto, a tendência dc pór a p r á x is entre parênteses, ligada à nova lòrma de dòmi
nação pülíLiea, nào üe compreende por .si só, O programa de substitutivos que
legítima a dom inação deixa sem legitimação um ponto importante: como fazer
com que a dcspolíligação das massas sc tome plausível para d a s próprias? Mar
cu*e poderia responder a isso: fazendo eom que técnica e ciência assumam tam
hêm o papel de uma ideologia.
VI
Desde o fim do século XIX. uma outra tendência de desenvolví mento que
caracteriza o capitalismo cm fase tardia vem se impondo cada vez mais: a r i e n t t f !
citação da têeniaa. No capitalismo. u pressão insti.iucíonul para aumentar a pro
duiívidadc do trabalho pela introdução de novas técnicas sempre existiu. Toda
via. as inovações dependiam dc invenções esporádicas que. por sua vez. podiam
ter sido induzidas economicamente. tendo entretanto ainda o caráter de um cresci
mento natural. Isso rautlou, na medida, cm que o progresso técnico entrou em
circuito retroativo ccni o progresso da ciência moderna. Corn n. pesquisa indus
trial em grande escala, ciência, técnica e valorização foram inseridas no mesmo
sistema. Ao mesmo tempo, a industrialização liga se a urna pesquisa entornai
dada pelo Estado que favorece, em primeira linha, o progresso científico l- técnico
no setor militar, De lá as informações voltam para os setores da produção de
bens civis. A ssim , técnica e ciência tomam se u principal força produtiva, com
o que caem por terra as condições dc aplicação da te o ria d o v a lo r do tra b a lh o
de Mane, Não é mais sensato querer calcufar as verbas de capital, para investi
T É C N IC A E C IÊ N C IA EN Q U A N TO ^ ID EO LO G IA 331
’ * Rívvnit «iín r.' I I u Lh1!. í . r . " M I w i / , fii‘ n*thrc QuelL- «O, Reteitiinm, I *'ia S
" e , H, SchclíA , OiJr lfí'fH;'J| j'.u ti.- h < f)n fiich im 2 ir í l i s t u i f i n . I''61; J tllul. i'ha l i e h r u fk ig H tít SnçU'! \ ,
No»« Ytwfc, iHfc4. c A. Gdilen, Ühct KutivrclUe Khsiüliií.aiiíincn . isi S tm if e f f r«r i n t h r a f i a f o t i i r . IV63:
.a.. ‘ Ülm i. Lilmrclic l v. iIuuuhi . i i i t n t P f i t h S ü j p h t c u n J < i ie F it i g t iitjcl] ü vtii F i n l s c h r t / í . |%4
Peto tfuí K0 mV> dispíttncv; Ul- im-.‘mlji^vckíí ci*prita- que ínstum. LssivrUlçriiníUiL- dta pnip.ij;a(ão dmtóu
idootogia dc línujo. ApctiiimâftifMi cm ãqrapoJaçtVe? Hdtfis á partir Hi* rmuiítaiJi*. . x uniras pptq«it$s$ díopl
niifi.
- ij. HABERMAS
mente nos setores: da liberdade aparentemente subjetiva | com porta mento nas elei
ções. no consum o, no tempo livre). A rubrica soctal psicológica da nossa época
ê caracterizada menos pela personalidade autoritária do que pela desestruturaçao
da superego. Lím aumento de compartútnenM adnpíarivo é apenas o reverso da
medalha de um processo de dissolução da esfera de interação verbalmente media
tizada. dentro da estrutura do agir racional com respeito-a fins. A isso corres
ponde, do lado do sujeito, o fato de que n diferença entre agir racional -com respei
lo a fins e interação desaparece da consciência, ruão apenas da ciência do homem,
mas também da consciência do próprio homem. A força ideológica da consciên
cia íecnocrálioa confirm a se no encobrimento dessa diferença
vn
se justifica, cm princípio não deve ser política; ela se refere imediatamente à parti
lha, neutra quanto ã sua aplicação, do dinheiro c do tempo livre de trnbaUto.
e. mediaisiTíientc. à justificação tecnoerútiea da exclusão das questões práticas.
Ponamo. a nova ideologia difere das mais antigas por separar os critérios de
justificação da organização da vida em comum e. portanto, das regulamentações
normativas da interação: nesse sentido ela cs despoliriza, fixando se, ao contrário,
nas. funções de um sistema subordinado ao agir racional com respeito-a fins.
Ma consciência tecnocrátíca o que se espelha mio é o rompimento ( D i r e m p
t i o n ) de uma contextura moral, c sim o recalque da - moralidade’' enquanto cate
geria das relações da vida cm geral. O senso comum positivista pile fora de ação
o sistema de referência da interação em linguagem.corrente, na qual dominação
T É C N IC A lí C IÊ N C IA EN Q U A N T O “ ID E O L O G IA " 337
e ideologia surgem sob condições de comunicação deformada, mas onde elas lam
bem podem ser reflexivamente evidenciadas, A dcspoiitizaçào da massa da popu
laçào. legitimada pela consciência tecnocrádca. é ao mesmo tempo uma auto ob
jclivayão do homem tanio nas categorias do agir racional-eam-respeito-a-fins
cOmo nas do comportamento adaptati vo: os modelos coisiílcados das ciências
se imiscuem no mundo do viver sócio-cultural e adquirem poder objetivo sobre
a autocam pretensão. O núcleo ideológico dessa consciência c a eliminação da difc
rença entre p r á x i s e t é c n i c a — um espelharaento. mas não o conceito de uma
nova constelação que envolve, por uni lado. o quadro institucional que perdeu
sua força, e. por o u tro tudo, u> sistemas do agir racio n al com respeito a fins. que
se tomaram independentes,
A nova ideologia fere, portanto* um interesse que se prende 4 umu Uus duus
condições fundamentais da nossa existência cultural: a linguagem, ou. muis preci-
samentt*. u forma de socialização e de individuação determinada pela comunica
ç:«> na linguagem corrente, Esse interesse se estende tanto à manutenção de uma
ilttersubjetivtdade dc compreensão mútua como à produção dc uma comunicação
livre de dominação. À consciência tecnocràtica faz desaparecer esse interesse pru
tico. por iras do interesse pela ampliação do nosso poder de manipulação técnica,
A reflexão provocada pela nova ideologia deve ir além de qualquer interesse dc
classe historicamente determinado e pòr u descoberto a contextura dc interesses
dc uma espécie, como tal. que se constitui a si mesma. 1 9
VI! I
■8 cT. t r k m m ls * tutJ internam, w - 146 r>. i N. Jo V Ncsic volume, pp. 2SÍ v,. i N. Ui <T.i
335 HAB ERM A S
' 1 "Towíird Uic Vcir 3QtKy\ m O eedaktit, i sN. tfc* A.) Traãuçâe brasileira.O uno íü f/ü , Mdhoranitín
tós. S- 1 fi9, íNi ò»;. T.)
T É C N IC A E CIF-N CIA EN Q U A N TO “ ID E O L O G IA " 34!
IX
ü. M. Lipwu V <i Alt&iurh. "Siudeni HoUttes and Higbor Iiduamon in tbe USA . ia S. Vt Llpw»,
ur£.. StUCÍerU Política. Nova York, iShT- R,_ Ft*cltít,"*THe I ibcrnusl Cencrmion An Kxjiíisr.nkw t>rtiic Roo»
uf Sttidtiil Hrntesi ". «} Jnnrn Soç, h itic i. Julí Ev67; K Kcaisiun, The Stmfces c f SlndctH D hsm t, op.
T É C N IC A F.C IK N C JA H N Q l A N T O " ID E O L O G IA ' 343
' 1 Cl. r-’)ac.k«<. "üü advii.nr. jmíijíi rudictiv., r)Lir um » puiSi ni-as «is p*is iV?1
. „mvisi;j* Káo ilüí tdid&jiierllc
imni> IUk -juhí do q u n i r a s Jc mcsnui swixíís "ç "O auvismn c rd acionada fl um compírxn t|c veÚwei
nãif usen.Nivtiinzmi putiiico*.cünqwUlhitdn1 tanls» pelos c£nuJ:ini<i-. ctun^ par 5CH?- psR”: "Os pmdí-aiivf-.
i;js s4o rniíh "permissivo* lIc.i qu?m jms de nüu HlívistaC'.
■' 1 Cf. R. L. l lúuiHOftr-.tv.. The Luniss ,y.-I nuviçan Capitaílíai, jMyva York, ISfrti.
ÍN D IC E
W ALTER BENJAMIN
A Obra de Arle na Época de suas Técnicas de Reprodução ............. 3
Sobre alguns Temas cm Baudclairc ...................... ............................ 29
O Narrador - O b s e r v a ç õ e s u c e r c a d a O b r a d e . W i c o i a u L c s k o w . . . . 57
O Surrealismo O m a ts r e c e n te in s ta n tâ n e o d a in te lig ê n c ia e u ro p é ia 75
MAX HORKHEIMER
Conceito de Jiuminismo ........................................................... . . 89
Teoria Tradicional c Teoria Crítica ....................... ............................. 117
Filosofia e Teoria Crítica ..................... .................................... 135
THEODOR W. ADORNO
O Fetichismo na Música c a Regressão da Audição ..................... 165
Lirica c Sociedade ................. ........................... .................................... 193
Introdução à Controvérsia Sobre o Positivismo naSociologia Alemã .. 209
Idéias pjtra a Sociologia, da Música ............................................... . . 259
Posição do Narrador no Romance Corílemporânco . . . . ............... 269
JÜRGEN HABERMAS
Teoria Analítica dá Ciência e Dialética — C o n t r i b u i ç ã o a p o l ê m i c a c n
tre P o p p c r c A d to rn o . 1 ? ........... . 277
Conhecimento e Imeresse ............................... ................................... . 301
Técnica e Ciência Enquanto 'Tdcòlogia" ........ .. ............................ 313
Composto e impresso nas oficinas da
Abrí! S.A. Cultural e Industrial,
Acabamento: Circulo do Livro S.A
São Paulo — Capital
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ESPIN OSA
ADAM SMITH
SCH O PEN H A U ER
V IC O
K1ERKEGÀARD
PASCAL
MAQUIAVEL
HÉCF1
E OUTROS
M eiohune
W ALTíR BENlAMilN
A OBRA DE ARTE NA ÉPOCA DE SUAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO 1936
SOBRE ALGUNS TEMAS EM 9AUDELAIRE publ 1962)
O NARRADOR (publ. 1969)
O SURREALISMO publ 1969)
Vários temas relacionados &ane são agudamenio anaíisados nesse* ensaios
o desaparecimento ou a decaríçncia da aura dos objetos artísticos; a atividade
narrativa vista como forma artesanal de comunicação; a tentativa, realçada
pelo movimento surrealista, de conquistar as forças do êxtas-e para a revolução
MÀX HORKHEIMER
CONCEITO DF ILUMINISMO i1947)
TEORIA TRADICIONAL E TEORIA CRITICA (193?)
FILOSOFIA E TEORIA CRÍTICA (1937)
Escrevendo em parceria com Adorno, Horkbeimçr mostra coma as
promessas de libertação, contidas no lluminismo, puderam ser
transformadas em instrumentos de dominação. Nos outros ensaios
apresento a teoria crítica praticada pelos frankfyctianos e
oposta ao pensamento baseado na çièru a sistemática e dedutiva.
THEGD OR W, ADORNO
O FETICHISMO NA MÚSICA E A REGRESSÃO DA AUD IÇÃ O I91S
CONFERÊNCIA SOBRE LÍRICA F SOCIEDADE M965)
INTRODUÇÃO A CONTROVÉRSIA SOBRE O POSITIVISMO NA
SO CIO LO GIA ALE MA 1972)
IDÉIAS PARA A SO CIO LO G IA DA MÚSICA ( 1959)
POSIÇÃO DO NAKRAPQR NO ROMANCE CONTEMPORÂNEO 195Br
A música, transformada pela Indústria cultural em obieiode consumo,
degrada-so c acarreta a regressão da própria percepção auditiva. A Ifrita
Interpretada n5o apenas como expressão dn subjetividade individual,
surge coma manifestação da subterrânea corrente coletiva. A crítica
a nóçào positivista de objetividade revela como "a lógica absolufizada c
ideologia' A música se torna ideologia quando w torna objciivamentc u so.
No romance atual, a "distância estética" modificada e encurtada,
altera battii anuente j relação entre narrador e leitor.
IÜRGEN H AR ERMAS
TEORIA ANALÍTICA DA CIÊNCIA DIALÉTICA 11974!
CONHECIM ENTO E INTERESSE (1963)
TÉCNICA E CIÊNCIA ENQUANTO ID EO LO GIA (1963)
Em combate à neutralidade pretendida pelo objetivísmo, H abe rimas
desvela o caráter ideológico da ciência e da técnica.