Sunteți pe pagina 1din 12

Desenvolvimento equilibrado versus

desenvolvimento desequilibrado: uma breve revisão


das principais teorias

Balanced development versus unbalanced


development: a review of the main theories brief

Vilmar Nogueira Duarte1

Resumo - Lei de Say -, em que a oferta gera ments when considered together
O presente estudo teve como sua própria demanda, enquanto que with other developments. Also show
objetivo fazer uma breve revisão a segunda tem como premissa cen- that the current that defends the the-
das principais teorias do desenvol- tral orientar os investimentos para sis of imbalance recommends that
vimento regional, com ênfase às te- setores-chave da economia, com o growth does not arise spontaneou-
ses do desenvolvimento equilibra- objetivo de maximizar os retornos sly at the same time in all regions,
do e desequilibrado, referenciando esperados. manifesting itself in specific points
também as novas abordagens. O or poles of growth, and then spread
trabalho foi desenvolvido com base Palavras-chave: Desenvolvimento throughout the economy. Finally,
numa pesquisa bibliográfica e des- Equilibrado; Desenvolvimento De- it concludes that the first stream is
critiva. Para tal, foram consultadas sequilibrado; Novas Abordagens. based on the classical foundations
publicações - livros e artigos espe- of equilibrium between supply and
cializados sobre o assunto. Os resul- Abstract demand - Say’s Law - that supply
tados mostram que a estratégia de The present study aimed to creates its own demand, while the
desenvolvimento equilibrado parte make a brief review of the main second has as its central premise
do pressuposto de que os empreen- theories of regional development, guiding investments for key sectors
dimentos não viáveis - do ponto de with emphasis on theories of balan- of the economy, with the objective of
vista individual - podem se transfor- ced and unbalanced development, maximizing the expected returns.
mar em investimentos viáveis quan- also referencing the new approa-
do considerados em conjunto com ches. The study was developed ba- Keywords: Balanced Development;
outros empreendimentos. Mostram sed on a bibliographic and descripti- Unbalanced Development; New
também que a corrente que defen- ve research. By this way, specialized Approaches.
de a tese do desequilíbrio preconiza books and articles on the subject - for
que o crescimento não surge espon- such publications were consulted. JEL: O10
taneamente e ao mesmo tempo em The results show that the strategy of
balanced development assumes that
todas as regiões, manifestando-se INTRODUÇÃO
em pontos específicos ou polos de non- viable enterprises of individual
A noção de desenvolvimento
crescimento, para depois se espa- viewpoint can become viable invest-
econômico não é universal. Em certas
lhar por toda a economia. Por fim,
conclui-se que a primeira corrente é
baseada nos fundamentos clássicos 1
Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina
de equilíbrio entre oferta e demanda - UFSC. <vilmarufms@yahoo.com.br>

194 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
circunstâncias, o termo crescimento mais desenvolvidas. O que signifi- O artigo está dividido em cinco
tem sido utilizado como sinônimo de ca dizer, em outras palavras, que a seções. Além desta introdutória, a
desenvolvimento, o que na verdade diferença entre ricos e pobres pode seção seguinte faz uma descrição su-
não é a mesma coisa, embora o cresci- estar aumentando ainda mais. cinta da noção de desenvolvimento
mento seja condição necessária para Assim sendo, o debate acerca do econômico, destacando as principais
o desenvolvimento, porém, não sufi- crescimento e do desenvolvimento correntes que estudam o assunto.
ciente. A literatura sobre desenvolvi- econômico tem provocado discus- A seção três apresenta os aspectos
mento tem ressaltado a possibilidade sões, tanto no mundo acadêmico, metodológicos utilizados no traba-
de, em países considerados ricos, quanto nas instâncias políticas, se- lho, destacando o tipo de pesquisa,
com altas taxas de crescimento do tores que, preocupados com a ques- formas de consulta e outros. O tó-
PIB e renda per capita elevada, exis- tão das desigualdades regionais, pico quatro apresenta as teorias do
tirem regiões com baixos níveis de têm se manifestado em relação ao desenvolvimento equilibrado e de-
desenvolvimento econômico e social. problema. Na esfera acadêmica, a sequilibrado, objeto desse trabalho,
Por outro lado, ressalta também que, preocupação tem sido com o desen- mostrando os aspectos mais relevan-
no grupo dos países considerados volvimento de estudos que mostrem tes dessas teorias, além das novas
pobres, cujos índices de desenvolvi- diagnósticos mais precisos da reali- abordagens que vêm sendo utiliza-
mento são relativamente inferiores dade econômica e social de países e das pelos pesquisadores. Por fim, a
aos dos países ricos, encontram-se regiões. Por outro lado, nas instân- quinta seção apresenta as considera-
regiões altamente prósperas. cias políticas as ações tendem a ser ções finais.
Mas por que isso acontece com direcionadas para planos de desen-
as economias? Pode-se afirmar que volvimento que visem a atenuar es- NOÇÕES DE
isso tende a acontecer porque o sas desigualdades - daí a importân-
crescimento e, consequentemente, o cia de se aprofundar as discussões. DESENVOLVIMENTO
desenvolvimento, não ocorre de ma- Entre os principais trabalhos ECONÔMICO
neira igual e simultânea em todas as realizados sobre desenvolvimen- O debate acerca da definição de
regiões. Pelo contrário, é um proces- to regional estão: os desenvolvidos desenvolvimento é bastante acirra-
so bastante irregular e que favorece por Von Thünem (1966), Marshall do no meio acadêmico, principal-
aquelas regiões, cujas vocações são (1919), Weber (1929), Cristaller mente no que se refere à distinção
voltadas para os setores mais dinâ- (1966), Lösch (1954), Isard (1956), entre crescimento e desenvolvimen-
micos da economia, como é o caso, Perroux (1955), Myrdal (1957), Hirs- to econômico. Para uma primeira
por exemplo, do setor industrial. chman (1958), Rosenstein-Rodan corrente de economistas, com ins-
Assim, a dinâmica do desenvolvi- (1943), Nurkse (1957), Krugman piração mais teórica, o crescimento
mento econômico, em especial, a do (1991), Stöhr e Taylor (1981), Piore econômico é entendido como sendo
desenvolvimento regional, torna-se e Sabel (1984), Schumpeter (1982), sinônimo de desenvolvimento, ou
objeto de estudo bastante complexo, Scott e Storper (1986), e outros. No seja, o incremento da renda per ca-
em função das peculiaridades exis- Brasil destacam-se os trabalhos de pita passa a ser condição necessária
tentes entre os diferentes países e/ou Furtado (1967), Azzoni (1993), Cano para o desenvolvimento, sem, no en-
regiões. (1998), Green e Cruz (1999), Cárde- tanto, se preocupar como os frutos
Todavia, quando se analisa a nas et al. (2004), Souza (2009), entre desse crescimento são distribuídos
questão do crescimento versus de- outros. entre os diferentes segmentos so-
senvolvimento é necessário ob- Diante deste contexto, este es- ciais. Neste caso, o desenvolvimento
servar, numa primeira instância, tudo teve como objetivo fazer uma é visto como um processo histórico
que nem sempre um crescimento breve revisão das principais teorias de crescimento sustentado da renda
econômico vigoroso significa que do desenvolvimento regional, por ou valor adicionado por habitante,
aquele país e/ou região esteja se de- meio de uma descrição sistemática implicando em melhoria do padrão
senvolvendo. Isso tende a aconte- das abordagens que tratam especifi- de vida da população, que resulta de
cer porque as condições de vida da camente das questões do desenvol- um processo sistemático de acumu-
população, de modo geral, podem vimento equilibrado e desequilibra- lação de capital e do incremento de
não estar melhorando como deveria do, e também das abordagens mais conhecimento ou progresso técnico
com o crescimento. Muitas vezes, a recentes. Foi desenvolvido a partir ao sistema de produção. Enqua-
expansão pode estar levando a uma de numa pesquisa descritiva e explo- dram-se nesse grupo os modelos de
concentração ainda maior da renda ratória, baseada na consulta a livros crescimento neoclássico, como os
e da riqueza em favor das regiões e publicações especializadas. modelos de Meade e Solow, e os de

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 195
inspiração mais keynesiana, como os cionado, deve vir acompanhado de e outros bens de consumo popular,
modelos de Harrod, Domar e Kaldor melhoria nos indicadores de quali- devido aos baixos salários, prejudi-
(SOUZA, 2007). dade de vida das pessoas. Neste sen- cando a expansão do mercado inter-
Já para uma segunda corrente, tido, o crescimento aparece, portan- no; e c) dificuldades para a implan-
mais voltada para a realidade em- to, como condicionante importante tação de atividades interligadas às
pírica, o crescimento é visto como para impulsionar o desenvolvimen- empresas que mais crescem, sendo
condição indispensável para o de- to, porém, este último deve ser en- elas exportadoras ou não.
senvolvimento, porém não suficien- carado como um processo complexo Todavia, percebe-se que a noção
te. Neste caso, o desenvolvimento de mudanças e transformações de de desenvolvimento está inteira-
implica em mudanças qualitativas ordem econômica, política e, princi- mente atrelada a de crescimento eco-
no padrão de vida das pessoas, das palmente, de ordem social. nômico, porém, com uma diferença
instituições e das estruturas produti- Diante dessas considerações fica fundamental: a de que a primeira
vas. O que significa, em outras pala- claro que o processo de desenvolvi- requer mudanças qualitativas no pa-
vras, que o desenvolvimento carac- mento não pode ser confundido com drão de vida das pessoas, no que se
teriza-se pela transformação de uma crescimento, uma vez que os frutos refere às suas necessidades básicas,
economia atrasada em uma econo- do crescimento nem sempre bene- como: água, esgoto, higiene, alimen-
mia moderna, dinâmica e eficiente, ficiam a população como um todo. tação e transporte, até aquelas rela-
com melhoria nos indicadores de Nesse caso, “além de crescimento cionadas à saúde, segurança, edu-
bem-estar econômico e social, como econômico, o desenvolvimento re- cação, acesso à informação, esporte,
pobreza, desemprego, condições de quer políticas públicas e ações priva- lazer, cultura e outras. Enquanto que
saúde, alimentação, saneamento bá- das que possam espalhar os benefí- a segunda (crescimento) está relacio-
sico, educação, segurança, moradia, cios do crescimento, alcançando um nada ao aumento da produção de
lazer e acesso a informação. Nesta número maior de pessoas” (FEIJÓ, bens e serviços de um país e a uma
corrente enquadram-se economistas 2007, p. 44). O autor salienta ainda expansão da renda média da popu-
como Lewis, Nurkse, Myrdal e Hirs- que a noção de desenvolvimento lação, o que nem sempre significa
chman (SOUZA, 2007). econômico deve funcionar como um aumentar a renda das pessoas mais
Seguindo esse mesmo raciocí- critério para avaliar se as políticas pobres.
nio, Sandroni (1994) salienta que o indutoras de crescimento, acom- De qualquer forma, deve ficar
desenvolvimento deve ser entendi- panhadas de iniciativas de suporte claro é que o desenvolvimento deve
do como um processo de crescimen- social, atingem, de fato, os objetivos ser entendido como uma resultan-
to acompanhado de alterações estru- previstos. te do processo de crescimento, cuja
turais na economia, o qual depende Em concordância com essa maturidade se dá ao atingir uma
das características de cada país ou ideia, Souza (2007) observa que em taxa de crescimento contínua e sus-
região, da sua história econômica, da alguns casos uma dada economia tentada da economia. Importa aqui
posição e extensão geográficas, das pode estar apresentando taxas de salientar que o crescimento econô-
condições demográficas, da cultura crescimento relativamente altas e, ao mico precisa acontecer em ritmo ca-
e dos recursos naturais existentes. mesmo tempo, o desemprego pode paz de atender as necessidades dos
Já na visão de Milone (1998), o de- não estar diminuindo com a rapidez diferentes países e/ou regiões, no
senvolvimento econômico é carac- necessária, tendo em vista a tendên- que se refere aos anseios das diferen-
terizado pela existência de variação cia de modernização dos processos tes classes sociais, pois o crescimento
positiva do crescimento econômico produtivos, como, por exemplo, a só se justifica quando traduzido em
ao longo do tempo, medido pelos in- robotização e a informatização. Enfa- valores crescentes de qualidade de
dicadores de variação do PIB e renda tiza também que, associado ao cres- vida das pessoas em geral. Assim,
per capita, e de redução dos níveis cimento econômico, outros efeitos um crescimento econômico susten-
de desemprego e pobreza. perversos podem estar acontecendo, tado resultará em um desenvolvi-
Souza (2007) ressalta que o de- tais como: a) redução da capacidade mento também sustentado.
senvolvimento requer um ritmo de de importar devido à transferência
crescimento econômico contínuo, de excedente de renda para outros ASPECTOS
porém, a taxas superiores às de cres- países; e aumento da concentração
cimento demográfico. Mas o autor da renda e da riqueza devido à apro- METODOLÓGICOS
enfatiza que esse crescimento, além priação desses excedentes por pou- Por se tratar de um estudo mera-
de acompanhado de alterações na cas pessoas; b) crescimento limitado mente descritivo, os procedimentos
estrutura econômica, como já men- de setores produtores de alimentos investigativos foram baseados numa

196 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
pesquisa bibliográfica, ou seja, aquela elaborada a partir de material já publi- tal (ambas as áreas deprimidas), em
cado. Gil (1991) salienta que estudos dessa natureza têm como objetivo des- 1943. A ideia de Rodan consistia na
crever as características de determinada população ou fenômeno ou, então, realização de um conjunto de inves-
estabelecer relações entre as variáveis estudadas. Trata-se de um diagnóstico timentos em uma gama variada de
baseado em observações, registros, análises e correlações de fatos ou fenô- indústrias, para que a nova mão-
menos sem, no entanto, manipulá-los. Pesquisas dessa natureza podem ser -de-obra empregada pudesse gerar
classificadas quanto às características do estudo como: estudo exploratório, demanda para as novas atividades
estudo descritivo, estudo de caso, pesquisa documental e pesquisa-ação. São industriais. Assim, cada nova indús-
investigações em que não há interferência do pesquisador, o qual apenas pro- tria encontraria mercado na própria
cura entender a frequência com que determinados fenômenos ocorrem. área de atuação, através da expansão
Nesse sentido, o trabalho foi realizado com base numa revisão da litera- interna da massa salarial e do efeito
tura sobre crescimento e desenvolvimento econômico, em especial, daquela renda sobre o nível de consumo.
que trata da questão do desenvolvimento regional. As principais referências De acordo com o autor, os prin-
consultadas foram, por ordem, os livros especializados sobre crescimento e cipais desafios que um país ou re-
desenvolvimento econômico e, em seguida, as publicações que se referem es- gião deprimida devem enfrentar
pecificamente à questão do desenvolvimento regional, como artigos e outros. são os seguintes: a) oferta escassa
Primeiramente, buscou-se discorrer sobre as teorias do desenvolvimento de capital, especialmente de capital
equilibrado, através de uma descrição sucinta da essência dessas teorias. Na social básico; b) relativa ausência de
sequência, o foco foi concentrado nas teorias do desenvolvimento desequili- complementaridade de demanda;
brado, cujas ideias são apresentadas de forma clara, expressando fielmente a e c) oferta reduzida de poupança
visão dos autores. Por fim, dissertou-se sobre as modernas terias do desen- (ROSENSTEIN-RODAN, 1943). A
volvimento regional, por meio de uma breve revisão e descrição das aborda- estratégia do autor implicava na in-
gens mais recentes. serção da região da Europa Oriental
e Sul-Oriental na economia mundial,
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL mediante vultosos investimentos de
Nesta seção, são discutidas algumas das principais teorias do desenvol- origem internacional e empréstimos
vimento equilibrado, as quais envolvem as contribuições de Rosenstein-Ro- de capital. Todavia, a base de sua
dan – teoria do “grande impulso” – e Nurkse – teoria do “círculo vicioso proposta consistia em uma indus-
do subdesenvolvimento”. Na sequência, o foco são as teorias do desenvolvi- trialização baseada no consumo,
mento desequilibrado, as quais têm como precursores Perroux – teoria dos o que seria feito sem sacrifício da
“polos de crescimento” -, Myrdal – teoria da “causação circular acumulati- população local, uma vez que o de-
va” – e Hirschman – teoria do “crescimento sequencial”. A ideia central foi senvolvimento da indústria tenderia
apresentar a essência de cada uma dessas teorias, bem como seus principais a ocorrer com altos coeficientes de
pressupostos. Por fim, são discutidas as abordagens mais recentes do desen- trabalho.
volvimento regional, priorizando as contribuições mais relevantes. Para Souza (2007), o programa
de investimentos em bloco defendi-
do por Rodan exigia o treinamento
Teorias do desenvolvimento equilibrado: as de um grande contingente de traba-
contribuições de Rosenstein-Rodan e Nurkse lhadores rurais, que seriam transfe-
A estratégia de crescimento equilibrado parte do pressuposto de que ridos para o meio urbano-industrial,
empreendimentos não viáveis do ponto de vista individual podem se trans- além de um volume expressivo de
formar em investimentos viáveis, com rentabilidade positiva, quando consi- recursos investidos em infraestrutu-
derado em conjunto com outros empreendimentos. Essa estratégia baseada ra, como construção de novas mora-
nos fundamentos clássicos de equilíbrio entre oferta e demanda prega a se- dias, ferrovias, hidrovias, rodovias e
guinte ideia: a de que um projeto individual pode fracassar por insuficiência no transporte urbano de operários.
de demanda, porém, não sendo ocaso quando vários outros forem sendo im- O autor salienta que a estratégia do
plantados ao mesmo tempo, uma vez que no agregado a expansão do nível “grande impulso” necessitava, ainda,
de emprego e renda cria simultaneamente o mercado necessário (SOUZA, da produção em massa de bens des-
2007). tinados especificamente ao consumo
de trabalhadores, como é o caso, por
Rosenstein-Rodan – Teoria do “grande impulso” exemplo, da produção de alimentos,
Rosenstein-Rodan foi o precursor da ideia do desenvolvimento equi- móveis, vestuários e outros.
librado, ao desenvolver a teoria do “grande impulso” (Big Push) enquanto A tese de Rosenstein-Rodan
analisava o problema da industrialização da Europa Oriental e Sul-Orien- (1943) parte do pressuposto de que

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 197
de nada adiantaria empregar uma grande quantidade de trabalhadores em baixos níveis de renda e poupança,
uma única indústria, se os salários desses trabalhadores fossem gastos na reduzindo o mercado interno, altos
aquisição de produtos e serviços importados de outras regiões ou países. custos médios e baixa taxa de lucro.
Mas, segundo ele, se a mesma quantidade de pessoas fosse empregada num A insignificante propensão marginal
conjunto de indústrias diferentes, estaria, assim, criando um mercado novo a investir resultante fecha esse círcu-
para cada setor industrial, que seria resultado da expansão da renda – hi- lo vicioso, gerando acumulação in-
pótese da Lei de Say. Dessa forma, de acordo com o autor, estariam sendo suficiente de capital (NURKSE apud
construídas as bases para o desenvolvimento das regiões ou países com difi- SOUZA, 2007).
culdades econômicas, que seriam garantidas pela redução do risco de insu- Para Nurkse (1957), a validade
ficiência de demanda. da Lei de Say para regiões econo-
A ideia era criar um mercado com mão-de-obra nova, advinda da grande micamente atrasadas é restrita, uma
massa de desempregados. Para isso, à medida que os trabalhadores fossem vez que a produção de qualquer
sendo treinados pelo Estado, tenderia a aumentar não só a produção dos indústria isolada, recém-criada,
setores envolvidos, em função da maior qualificação, mas também o consu- não cria sua própria demanda. Isso
mo agregado da população. Assim, quanto maior o número de indústrias ocorre porque é bastante provável
envolvidas nesse processo, maior seria a diversificação da produção e maior que as pessoas ocupadas na nova in-
tenderia a ser o crescimento e, consequentemente, o desenvolvimento das dústria não gastem toda a sua renda
economias de modo geral. na aquisição de produtos da mesma,
Diante deste contexto, cabe uma observação: a de que as estratégias de dadas às diversas necessidades hu-
investimento dependem, em primeiro lugar, da expectativa de lucro dos em- manas. Dessa forma, o estímulo para
presários. Porém, é papel do Estado coordenar esses investimentos, sejam investir é anulado pela pobreza e o
eles nacionais ou estrangeiros. A presença estatal nessa coordenação tende- investimento em uma nova linha de
ria, segundo Rodan, a acelerar o processo de industrialização das áreas depri- produção se torna inviável.
midas. Isso se fazia necessário porque de acordo com o autor, se dependesse O problema central da teoria de
da livre iniciativa dos empresários privados, o desenvolvimento tenderia a Nurkse visto pela ótica da demanda,
ser mais lento nessas áreas, em decorrência de um nível de investimento me- é que o baixo nível de consumo das
nor e de uma renda nacional também menor (ROSENSTEIN-RODAN, 1943). economias subdesenvolvidas faz
Mas por que isso acontece? A justificativa é simples. Acontece que a ini- com que a propensão a investir tam-
ciativa privada, por si só, não distribui os investimentos de forma uniforme bém seja baixa. Do ponto de vista da
em todas as regiões, o que faz com que o resultado final dessa alocação fique oferta, quando se trata da formação
abaixo do ótimo. Daí a importância da coordenação estatal. de capital, as relações circulares vão
Souza (2007) ressalta que, apesar dessa proposta ter como pano de fundo do baixo nível de renda até a escassa
um processo de industrialização baseado na ampliação do mercado interno, capacidade de poupança e daí para
uma das preocupações de Rodan era de que as novas indústrias precisavam a falta de capital, seguindo para a
ser voltadas também para exportação. Como grande parte dos recursos que consequente baixa produtividade
financiariam o “grande impulso” seria proveniente do exterior, haveria a ne- dos fatores de produção (NURKSE,
cessidade de gerar divisas para o pagamento desses empréstimos e permitir 1957).
a remessa de lucros. Assim, o fluxo de exportações deveria ser estrategica- Dessa forma, pode-se observar
mente orientado para os países de origem desses recursos. que a ideia de círculo vicioso do sub-
desenvolvimento está relacionada
Nurkse – Círculo vicioso do subdesenvolvimento com a propensão marginal a pou-
O crescimento com base no equilíbrio entre oferta e demanda também foi par dos países pobres. De acordo
proposto por Nurkse (1957). Em sua teoria denominada “círculo vicioso do com Nurkse (1957), a solução para a
subdesenvolvimento”, o autor ressalta que a insuficiência de mercado inter- acumulação de capital desses países
no é o grande obstáculo para o desenvolvimento de um país. Segundo ele, os não pode ser alcançada sem nenhum
países pobres são caracterizados por uma população de baixo poder aquisiti- esforço interno. A ação interna é cru-
vo, que decorre do baixo nível de produtividade dos fatores. Como resultado cial tanto no que se refere ao uso
tem-se uma produção de bens e serviços restringida em função do tamanho efetivo dos recursos já disponíveis,
desse mercado e, consequentemente, a falta de incentivo para investimentos. quanto para abrir novos caminhos
O círculo vicioso do subdesenvolvimento, segundo o qual “um país é para captar e formar novos capitais.
pobre porque é pobre” pode ser identificado através da seguinte sequência “O círculo vicioso do subdesenvol-
lógica: a acumulação insuficiente de capital gera lento crescimento econô- vimento”, tratado pelo autor, está
mico e não eleva a produtividade dos fatores. Estes por sua vez, provocam relacionado à dificuldade de um

198 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
país em formar capital. Essa dificul- como seu potencial para investir, são induzem no ambiente em que estão
dade condiciona a procura de capital determinados pela sua propensão a inseridas, através das relações que
e o seu uso efetivo no processo pro- poupar. estabelecem com as indústrias cor-
dutivo. O significado desse conceito relatas ou secundárias, importantes
pode ser exposto da seguinte forma: Teorias do efeitos de encadeamento em direção
desenvolvimento à inovação, através de um processo
Implica ele numa constelação cir- de imitação, causando, por conse-
desequilibrado: as
cular de fôrças, tendendo a agir guinte, impulsos significativos sobre
e reagir uma sôbre a outra de tal contribuições de Perroux, o desenvolvimento local e regional
modo a conservar um país pobre Myrdal e Hirschman (PERROUX, 1955).
em estado de pobreza. Não é difícil Os defensores dessa corrente Souza (2007), com base na teo-
imaginar exemplos típicos destas
preconizam que o crescimento eco- ria de Perroux, argumenta que a
constelações circulares: um homem
nômico não surge espontaneamen- indústria motriz, líder do complexo
pobre não tem o bastante para co-
mer; sendo subalimentado, sua te e ao mesmo tempo em todas as industrial, obrigatoriamente deve
saúde é fraca; sendo fisicamente regiões. Argumentam que este se apresentar as seguintes característi-
fraco, a sua capacidade de trabalho manifesta em pontos específicos ou cas: a) crescer a uma taxa superior à
é baixa, o que significa que êle é po- polos de crescimento, para depois média da indústria nacional; b) pos-
bre, o que, por sua vez, quer dizer se espalhar por toda a economia suir inúmeras ligações de insumo-
que não tem o bastante para comer;
(PERROUX, 1955). Essa estratégia -produto, através da compra e venda
e assim por diante. Tal situação,
de crescimento busca orientar os de insumos, realizada em seu meio;
transporta para o plano mais largo
de um país, pode ser resumida nes- investimentos para setores-chave c) apresentar-se como uma ativida-
ta proposição simplória: um país é da economia, fazendo com que esse de inovadora, geralmente de grande
pobre porque é pobre (NURKSE, processo de concentração resulte na dimensão e estrutura oligopolista; d)
1957, p. 8). maximização dos retornos. Essa teo- possuir grande poder de mercado,
ria parte do pressuposto de que as influenciando os preços dos produ-
O circulo vicioso do subdesen- desigualdades regionais aumentam tos e dos insumos e a taxa de cresci-
volvimento é utilizado pelo autor com a polarização em situações de mento das atividades satélites a ela
para apontar que nessas relações crescimento econômico acelerado, ligadas; e) produzir para o mercado
circulares existem dificuldades para atingem seu máximo em algum dado nacional e mercado externo.
acumulação de capital em países momento do tempo, para declinar Para o autor, o conceito de in-
considerados atrasados economica- em seguida, quando um processo de dústria motriz é mais abrangente do
mente. Vale destacar que Nurkse se despolarização se inicia (WILLIAM- que o de indústria-chave. Argumen-
reporta a essas dificuldades ineren- SON apud SOUZA, 2007). ta que toda a indústria motriz é, por
tes à acumulação de capital como conseguinte, uma indústria-chave,
um conjunto de circunstâncias que Perroux – Polos de mas nem sempre uma indústria-
podem levar as economias atrasadas crescimento -chave é uma indústria motriz. En-
ao que podemos chamar, digamos A teoria dos polos de cresci- quanto que a primeira induz efeitos
assim, de um “estado estacionário mento (ou de desenvolvimento) foi significativos sobre o crescimento
do subdesenvolvimento”. desenvolvida por François Perroux, local e regional, o mesmo pode não
É interessante ressaltar, que Nu- em 1955, ao observar a concentração acontecer com a segunda, uma vez
rkse segue claramente as ideias de- industrial em países europeus, mais que esta pode não estar induzindo o
fendidas pelos pensadores clássicos precisamente, na França, em torno crescimento no interior do complexo
na elaboração de sua teoria, onde de Paris, e na Alemanha, ao longo (SOUZA, 2007).
a moeda é vista apenas como um do Vale da Ruhr (SOUZA, 2007). A O agrupamento dessas indús-
instrumento de intermediação de noção de polo de crescimento tem trias constituem, de acordo com
trocas, sendo neutra nos seus efeitos uma forte identificação geográfica, Perroux, uma combinação de forças
sobre a economia, ou seja, não de- por ser produto das economias de oligopolistas “instabilizadoras e con-
sempenha nenhum papel relevante aglomeração geradas pelos comple- flitivas”, porém necessárias para o
na determinação da dinâmica eco- xos industriais, lideradas pelas in- crescimento da região. Para o autor:
nômica das nações. Em seu trabalho, dústrias motrizes ou indústrias-cha-
assume explicitamente que a pou- ve (SOUZA, 2007). Estas indústrias o fato elementar mais consistente
pança precede o investimento e que além de contribuírem para o cresci- é este: o crescimento não surge em
a oferta de capital em um país, bem mento global da produção, também toda parte ao mesmo tempo; mani-

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 199
festa-se com intensidades variáveis, em pontos ou polos de crescimento; propaga- controlado, tende a promover desi-
-se, segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto da economia gualdades crescentes que, de acordo
(PERROUX, 1967, p. 164).
com seu entendimento, é prejudicial
para o desenvolvimento da socieda-
A questão fundamental da teoria dos polos de crescimento centra-se no de nos diferentes países, por colocar
conceito de polarização, uma vez que este determinará o grau de transforma- as nações subdesenvolvidas em des-
ções provocado pela inserção das indústrias motrizes no sistema econômi- vantagem, em comparação com as
co. Entende-se por polarização o fenômeno pelo qual o crescimento de uma mais ricas.
atividade econômica movimenta outras atividades por meio das economias Ao trazer essa ideia para o âmbi-
externas. É importante ressaltar que este processo se realiza em espaço eco- to da economia, o autor argumenta
nômico abstrato e funcional, embora cada atividade propulsora esteja locali- que o processo de desenvolvimento
zada no espaço geográfico (BOISIER, 1988). tende a promover severas desigual-
A concentração industrial através da formação de polos de crescimen- dades econômicas em um país e se
to possibilita algumas vantagens para as unidades industriais instaladas na opõe às teorias do “desenvolvimen-
região. Entre estas vantagens pode-se destacar: os ganhos proporcionados to equilibrado”. Para ele, existem
pela aglomeração, no sentido de possibilitar que as unidades ali instaladas dois grupos de países: os países
operem em escala máxima; além de outras, como aquelas relacionadas aos “desenvolvidos”, caracterizados por
efeitos técnicos para frente e para trás (sendo os efeitos para trás os mais sig- altos níveis de renda per capita, e os
nificativos), as melhorias no setor de transportes e a expansão da produção países “subdesenvolvidos”, caracte-
e da renda regional. rizados por níveis de renda per capita
No entanto, é necessário deixar claro que o surgimento de empresas ino- extremamente reduzidos e baixos
vadoras é determinante para o aparecimento de novos ciclos de investimen- índices de crescimento econômico.
tos no polo industrial, os quais provocam modificações na estrutura e no Ressalta que pode haver disparida-
funcionamento da sociedade, por desencadearem efeitos desestabilizadores des de crescimento econômico den-
na economia. Uma inovação bem sucedida gera desigualdades de ganhos tro dos próprios países, visto que
em favor da empresa inovadora, porém, com o tempo isto gera imitações nos países desenvolvidos existem
que propagam o crescimento e melhoram o resultado da economia como um regiões estagnadas, assim como nos
todo. De acordo com essa ideia, a constituição de polos industriais estrutu- países subdesenvolvidos existem re-
rados pode modificar toda a estrutura econômica existente. A proximidade giões prósperas (MYRDAL, 1957).
entre as empresas integrantes do polo tende a diminuir os custos e aumentar A partir dessas constatações, o
a produção, em função de ganhos decorrentes das economias externas. autor faz algumas considerações im-
A presença das indústrias motrizes no polo de crescimento atrai empre- portantes. Primeiro, que existe um
sas satélites, fornecedoras ou compradoras de insumos, desencadeando o pequeno grupo de países em uma si-
crescimento local e regional. No entanto, cabe aqui uma observação impor- tuação econômica bastante favorável
tante: a de que a presença destas grandes empresas pode não promover o e um grupo muito maior de países
desenvolvimento do local e/ou regional como deveria. Isso acontece porque em situação econômica precária. Se-
suas relações de insumo-produto se dão, muitas vezes, em nível de país ou, gundo, os países do primeiro grupo
até mesmo, com o exterior, fazendo com que os efeitos de encadeamento da têm apresentado um padrão de de-
produção e da multiplicação da renda ocorram com outras regiões do país senvolvimento contínuo, enquanto
ou, pior ainda, com regiões de outros países (SOUZA, 2007). que com o segundo grupo ocorre o
Assim, as autoridades devem ficar atentas às políticas de isenção fiscal oposto. Terceiro, que as disparida-
destinadas à atração de indústrias motrizes, uma vez que a renúncia fiscal, des econômicas entre esses dois gru-
além de prejudicar as finanças públicas da região, pode estar favorecendo, pos tende a aumentar cada vez mais.
através dos efeitos de encadeamento, o desenvolvimento de regiões fora de A ideia do autor foi de desenvolver
sua esfera geográfica de atuação. Daí a importância de se prestar esse tipo uma teoria para explicar a dinâmica
de auxilio àquelas empresas, cujos efeitos de encadeamentos se dão em nível econômica regional, entre e dentro
local e regional. dos países, baseado num processo
de causação circular acumulativa,
Myrdal – Causação circular acumulativa no qual o sistema econômico é con-
A teoria de Myrdal foi elaborada a partir de um estudo sobre o problema siderado como sendo algo eminente-
dos negros nos EUA (leia-se racismo), o qual identificou que a essência do mente instável e desequilibrado.
problema social envolvia um complexo de mudanças interdependentes, cir- A ideia principal da teoria é de
culares e acumulativas. Segundo ele, esse processo acumulativo, quando não que os países subdesenvolvidos, por

200 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
definição, têm estruturas desequi- ainda mais com as trocas desiguais, lecionados (setores com grande pro-
libradas e o equilíbrio destas não pelo fato das regiões mais ricas ex- babilidade de sucesso), com ampla
deve ser o fim, uma vez que o ob- portarem produtos manufaturados possibilidade de desencadear um
jetivo deve ser o de atingir o desen- de maior valor agregado para as processo propulsor do crescimento
volvimento a partir de um processo regiões mais pobres, enquanto que do produto e do emprego. O autor
de industrialização impulsionado estas são exportadoras apenas de salienta que os mecanismos capazes
por desequilíbrios (MYRDAL, 1957). matérias-primas básicas e alimentos de induzir o desenvolvimento de
Para o autor, a noção de circulo vi- não processados, cujos preços, de uma economia poderiam ser encon-
cioso explica a forma como um pro- acordo com Souza (2009), tendem a trados em certos investimentos es-
cesso se torna circular e acumulati- se deteriorar ao longo do tempo, ou pecíficos, os quais possibilitassem a
vo, no qual um fator negativo pode pelo menos, apresentar grandes os- propagação e a criação de novos in-
ser ao mesmo tempo causa e efeito cilações de um período para outro. vestimentos produtivos, via efeitos
de outros fatores negativos. Defende Para Myrdal, grande parte dos complementares (efeitos em cadeia
a ideia de que o processo de causa- males dos países subdesenvolvidos “para trás” e “para frente” como in-
ção circular acumulativa reflete de reside no fato de os efeitos propulso- dutores do crescimento econômico),
maneira mais realista a forma como res serem fracos. Ressalta que se as que pudessem consolidar as cadeias
as mudanças tendem a ocorrer na forças de mercado não forem contro- produtivas setoriais, no sentido de
sociedade, quando comparado à hi- ladas por políticas intervencionistas, romper com o estágio de atraso eco-
pótese clássica de equilíbrio estável. a produção industrial e as demais nômico das economias subdesenvol-
A essência dessa teoria está rela- atividades econômicas tendem a se vidas.
cionada ao enfoque dado à dinâmi- concentrar em determinadas locali- Assim como Myrdal, Hirschman
ca – centro versus periferia. Segundo dades ou regiões, deixando o resto (1958) também concorda que o cres-
essa ótica, o desenvolvimento nunca do país relativamente estagnado. cimento não tende a ocorrer de for-
será igual entre as regiões, pois é de- Esta é uma das relações de interde- ma simultânea em todas as regiões.
sequilibrado e tende a favorecer as pendência, por meio das quais, no Constrói sua teoria com base nos
economias mais desenvolvidas, em processo de acumulação, a pobreza desequilíbrios de mercado que, se-
detrimento das mais pobres. O pró- se torna sua própria causa (MYR- gundo ele, são inerentes à economia
prio processo de desenvolvimento DAL, 1957). Esta é uma conclusão e constituem, por si só, poderosas
cria economias externas favoráveis que tem grande semelhança àque- engrenagens propulsoras do cresci-
à sua continuidade, porém, a ex- la apresentada por Nurkse (1957), mento. Salienta que as estratégias de
pansão de uma determinada região quando o autor define o círculo desenvolvimento regional são capa-
tende a produzir efeitos regressivos vicioso do subdesenvolvimento e zes de induzir as decisões de inves-
em outras. A migração da população menciona que um “país é pobre por- timentos numa sequência eficaz, que
mais jovem em idade de trabalhar, que é pobre”. asseguram um novo padrão de cres-
bem como de pessoal técnico mais cimento regional desequilibrado.
qualificado; o movimento de capi- Hirschman – Crescimento Para o autor, além do efeito multipli-
tais em busca de taxas de retorno sequencial cador da renda e do emprego e do
mais elevadas; e o comércio se des- Para Hirschman (1958), a teoria efeito acelerador do produto, o in-
locando para as áreas centrais são os do desenvolvimento equilibrado, vestimento tem o poder de induzir o
meios pelos quais o processo de acu- além de ser impraticável, é antieco- surgimento de novos investimentos
mulação se desenvolve, para cima, nômica. Para ele, a viabilidade de se no sentido da complementaridade
nas regiões mais desenvolvidas, e empreender um grande volume de técnica, a qual se manifesta através
para baixo, nas mais pobres (MYR- recursos nos diversos setores econô- das múltiplas relações intra e inte-
DAL, 1957). micos de um país subdesenvolvido é rindústrias de insumo-produto.
Além da evasão de capitais e de questionável. Além do mais, deve-se Chama atenção também para os
trabalhadores, as regiões menos de- levar em consideração que esses paí- efeitos de encadeamento de produ-
senvolvidas enfrentam ainda uma ses apresentam grande escassez de ção. Para Hirschman (1958), esses
série de outros problemas, como é o recursos. efeitos refletem diretamente os seus
caso, por exemplo, de deficiências na Sua teoria gira em torno dos impactos econômicos sobre a cadeia
área de infraestrutura e de serviços efeitos de encadeamento para trás produtiva como um todo. Nesse
públicos básicos, que dificultam o e para frente, cuja essência está no sentido, argumenta que é preciso ca-
processo de acumulação. Ademais, pressuposto de que os investimentos racterizar duas modalidades de efei-
os efeitos regressivos aumentam devem ser efetuados em setores se- tos de encadeamento: a) os efeitos

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 201
retrospectivos (para trás), que são alavancar a industrialização dos paí- dispersão. A primeira tem origem
aqueles que induzem a novos inves- ses subdesenvolvidos. nas economias externas marshal-
timentos produtivos nos setores for- Todavia, é necessário ressaltar lianas, enquanto que as forças de
necedores de insumos; e b) os efei- que esta teoria não desconsidera as dispersão incluem a imobilidade da
tos de cadeia prospectivos (ou para forças externas ao mercado. Hirs- mão-de-obra, os custos de transpor-
frente), que são aqueles gerados por chman pressupõe que o setor públi- te e os efeitos externos do meio am-
qualquer atividade produtiva (que co deve intervir em situações de pro- biente (KRUGMAN; VENABLES,
não abastece exclusivamente as de- blemas de oferta no curso desigual 1996).
mandas finais) capaz de direcionar do progresso dos setores, principal- A Escola da Especialização Fle-
sua produção como insumo em al- mente naquelas áreas onde o capital xível procura explicar as transforma-
guma atividade nova. privado não atua (como infraestru- ções ocorridas na esfera produtiva
No primeiro caso, os efeitos de tura, por exemplo). Nesse caso, o com o surgimento de um novo para-
encadeamento para trás manifes- Estado deve assumir o planejamento digma tecnológico a partir de 1980.
tam-se porque há estímulo a investir e a coordenação de todo o processo, Essa corrente tenta identificar os im-
na produção doméstica de insumos, incentivando o desenvolvimento pactos dessas transformações sobre
inclusive na produção de bens de de setores-chave da economia, com as economias regionais e como essas
capital para atender setores exporta- prioridade para aqueles cujos efeitos regiões podem tirar proveito delas
dores em expansão. No segundo, os de encadeamento são maiores. para se desenvolver. A proposição
efeitos de encadeamento para frente de formação de distritos industriais
induzem a novos investimentos em Novas abordagen nasceu com essa corrente, cuja carac-
setores correlatos ao da produção, No contexto das novas teorias do terística mais marcante do sistema
como é o caso do setor de embala- desenvolvimento regional é possível é a presença de um grande núme-
gens, por exemplo. A ideia de enca- identificar uma grande variedade de ro de pequenas e médias empresas
deamento para frente reflete a indu- visões. Neste sentido, procurando envolvidas em vários estágios de
ção de se investir devido à estrutura sistematizar essas visões, Bekele e produção, que usufruem de econo-
industrial inter-relacionada das ati- Jackson (2006) propõem a seguinte mias externas positivas e retornos
vidades econômicas, o que significa classificação de abordagens: a Nova crescentes, devido à facilidade de
dizer, em outros termos, que um Geografia Econômica (NGE); a Esco- circulação de informações, novos co-
passo numa dada direção tende a la da Especialização Flexível; os Sis- nhecimentos, troca de experiências e
exercer fortes estímulos para deci- temas de Inovação Regional; a Teoria outros. Sendo assim, um aglomera-
sões de investimentos direcionados da Competitividade de Porter; e as do de empresas com essas caracte-
à etapa seguinte. Teorias do Crescimento Endógeno. rísticas tende a se beneficia das eco-
A vantagem da abordagem de Como não é o objetivo deste traba- nomias externas, sejam elas formais
Hirschman é que ela abre espaço lho fazer uma revisão profunda des- ou informais, sejam elas econômicas
para a ação do investimento indu- sas abordagens, optou-se apenas por ou sociais. Marshall (1919) tinha isso
zido, o que facilita a administração fazer um esboço bastante resumido em mente quando definiu a “atmos-
dos recursos escassos, bem como a da essência dessas teorias, explici- fera favorável” para os negócios.
maximização da capacidade de in- tando suas origens e contribuições. Quanto ao Sistema de Inovação
tervenção do Estado. A teoria pres- A proposta da Nova Geografia Regional, este enfatiza a importância
supõe que o desequilíbrio é o ele- Econômica é baseada nos trabalhos da inovação e da tecnologia como
mento que move a economia. Assim, de Krugman (1991; 1991a) e tem forma mais adequada de promover
a necessidade de superação dos gar- como principais contribuições à teo- o desenvolvimento regional. A ideia
galos gerados pelo avanço desigual ria das aglomerações produtivas, a central dessa ênfase tecnológica é
de um setor, em relação aos demais, introdução dos modelos que envol- tornar as regiões mais competitivas
dá maior dinâmica ao processo de vem retornos crescentes e competi- e menos vulneráveis a problemas de
desenvolvimento. O que signifi- ção imperfeita. Sua origem está re- ordem conjuntural. A criação de am-
ca, em outros termos, que a criação lacionada às teorias de aglomeração bientes inovadores pode ser um di-
permanente de gargalos no sistema e localização espacial, procurando ferencial importante para uma dada
produtivo conduz ao investimento explicar a distribuição das ativida- região, em relação às demais, em
induzido em determinados setores, des no espaço geográfico. De acordo caso de situações econômicas adver-
fazendo com que estes investimen- com essa proposta, a configuração sas. A consciência inovadora possi-
tos passem a ser fundamentais para das atividades econômicas é resul- bilita o enraizamento e a atualização
tado das forças de aglomeração e de constante das atividades econômicas

202 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
da região. Uma questão importante essencialmente endógeno, que é decorrente de um conjunto de elementos
a ser obervada em relação a essa cor- políticos, institucionais e sociais existentes na região. O autor salienta que o
rente é que a mesma defende a cons- processo de desenvolvimento regional deve ser considerado como a interna-
tituição de redes de cooperação, com lização do crescimento e, em consequência, como de natureza essencialmente
o estabelecimento de parcerias entre endógena.
os setores produtivos, as instituições
de pesquisas e as universidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No que se refere à Teoria da O trabalho mostrou que a estratégia de crescimento equilibrado pres-
Competitividade de Porter, esta tem supõe que os empreendimentos não viáveis do ponto de vista individual
como principal contribuição enten- podem se transformar em investimentos viáveis quando considerados em
der e expor a relação entre aglome- conjunto com outros empreendimentos. Por outro lado, os defensores do
ração industrial e seu impacto sobre crescimento desequilibrado preconizam que o crescimento econômico não
desenvolvimento regional, através surge espontaneamente ao mesmo tempo e em todas as regiões, argumentan-
da noção da competitividade dos do que este se manifesta em pontos específicos ou polos de crescimento, para
clusters industriais. Cluster, aqui se- depois se espalhar por toda a economia. Estes últimos se opõem à tese do
gundo Porter, citado por Casarotto desenvolvimento equilibrado, por entender que se trata de uma abordagem
Filho e Pires (2001), pode ser enten- que não se enquadra na realidade dos países subdesenvolvidos.
dido como sendo “um agrupamen- A primeira corrente é baseada nos fundamentos clássicos de equilíbrio
to geograficamente concentrado de entre oferta e demanda, ressaltando a importância de se implantar diversos
empresas inter-relacionadas e insti- projetos ao mesmo tempo como forma de expandir o emprego e a renda e
tuições correlatas numa determina- gerar o mercado necessário para toda a produção - Lei de Say. Já a segunda
da área, vinculadas por elementos defende a orientação de investimentos para setores-chave da economia, le-
comuns e complementares”. Dessa vando a concentração e maximização dos retornos. Essa abordagem parte do
forma, percebe-se que a noção de pressuposto de que o processo de polarização tende a aumentar as desigual-
prosperidade econômica está vin- dades regionais em situações de crescimento econômico acelerado, mas que
culada à competitividade das firmas após atingir seu máximo em algum dado momento do tempo, começam a ser
que formam o cluster industrial que, reduzidas, quando se inicia um processo de despolarização.
por sua vez, pode ser considerado Como se percebe, as teorias do desenvolvimento equilibrado e desequi-
como sendo a fonte de emprego, ren- librado levam a diferentes conclusões acerca dos caminhos que um país ou
da e inovação de uma região. É im- região deve seguir a fim de alcançar um estágio mais avançado de desenvol-
portante deixar claro que boa parte vimento econômico. No entanto, é importante ressaltar que os novos ciclos
dos benefícios produzidos no cluster, de expansão não dependem apenas dos fatores clássicos que movimentam o
decorrentes de aumento da produti- desenvolvimento regional, como o aumento dos gastos públicos, dos investi-
vidade e da inovação tecnológica, mentos privados, das exportações e da qualificação técnica da mão-de-obra,
estão diretamente relacionados ao mas, também, do papel que as lideranças locais e regionais assumem na cria-
desenvolvimento de pesquisas rea- ção de um ambiente institucional que viabilize a modernização das ativida-
lizadas por universidades e outras des tradicionais, bem como a realização de novos investimentos.
instituições públicas e privadas. De qualquer forma, o trabalho deixou claro que explicar os diferentes
Em relação à Teoria do Cresci- desempenhos entre países ou entre regiões tem se constituído num grande
mento Endógeno, esta tem origem desafio para os teóricos do desenvolvimento econômico. Todavia, seja pela
nas novas teorias do crescimento estratégia de desenvolvimento equilibrado e/ou desequilibrado, ou pela óti-
econômico, principalmente a partir ca das novas abordagens, deve-se levar em consideração que o desenvolvi-
dos trabalhos realizados por Romer mento das regiões mais pobres de um país cria condições para a redução
(1986) e Lucas (1988), as quais ten- dos índices de pobreza e de desigualdades de renda. Além disso, estratégias
tam endogenizar o processo tecnoló- dessa natureza têm efeitos positivos sobre as regiões ou centros mais desen-
gico. A ideia básica dessa teoria é de volvidos, uma vez que tende a reduzir o fluxo migratório de pessoas em sua
que a aglomeração tem significativo direção, diminuindo, assim, as demandas por gastos sociais.
impacto sobre a inovação e a trans-
ferência desse conhecimento, crian-
do, dessa forma, um mecanismo de REFERÊNCIAS
autorreforço. Nesse sentido, Boisier
AZZONI, C. R. Equilíbrio, progresso técnico e desigualdades regionais no
(1988) argumenta que o crescimen-
desenvolvimento econômico. São Paulo: Análise Econômica, p. 5-28, 1993.
to de uma região possui um caráter

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 203
BEKELE, G. W.; JACKSON, R. FURTADO, C. Teoria e Política LEWIS, W. A. O desenvolvimento
W. Theoretical perspectives do Desenvolvimento Econômico. econômico com oferta ilimitada
on industry clusters. Virginia: São Paulo: Editora Companhia de mão de obra. In: AGARWALA,
Morgantouwn: Regional Research Nacional, 1967. A. N.; SINGH, S. P. A economia
Institute; 2006. Disponível em: do subdesenvolvimento. Rio de
<http://www.rri.wvu.edu/pdffiles/ Janeiro: Forense, 1969.
GIL, A. C. Como elaborar projetos
bekelewp2006-5.pdf>. Acesso em: 10
de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
jun. 2013.
LOSCH, A. The Economics of
Location. Yale University Press,
GREEN, E. CRUZ, M.
BOISIER, S. Política econômica, New Haven, 1954.
Construindo um novo modelo de
organização social e
desenvolvimento para o Rio Grande
desenvolvimento regional. In:
do Sul. Disponível em <www.scp. LUCAS, R. E. On the mechanics of
HADDAD, P. R. et al. Economia
rs.gov.br>. Acesso em: 10 jun. 2013. economic development. Journal of
regional: teorias e métodos de
Monetary Economics, v. 22, n. 1, p.
análise. Fortaleza: Banco do
3-42, jul. 1988.
Nordeste do Brasil, 1988. HARROD, R. F. Domar y la
dimámica econômica. In: HANSEN,
A.; CLEMENCE, R. V. Lecciones MARSHALL, A. Industry and
CANO, W. Desequilíbrios
sobre ciclos económicos y renta trade. Londres: Macmillan, 1919.
regionais e concentração
nacional. Rosario: Instituto
industrial no Brasil. Campinas, SP:
Interamericano de Estadistica, 1956.
UNICAMP, IE, 1998. MEADE, J. E. A simplified model
of Mr. Keynes’ system. Review of
HIRSCHMAN, A. O. The strategy Economic Studies, v. 4, fevereiro, p.
CÁRDENAS, J. R. G. Teoria do
of economic development. New 98-107, 1937.
desenvolvimento. Disponível em
Haven: Yale University Press, 1958.
<www.adegua.com>. Acesso em: 10
jun. 2013. MILONE, P. C. Crescimento e
ISARD, W. Location and space desenvolvimento econômico:
economy: a general theory relation teorias e evidências empíricas. In:
CASAROTTO FILHO, N.; PIRES,
to industrial location, market areas, MONTORO FILHO, A. F. et al.
L. H. Redes de pequenas e médias
land use trade and urban structure. Manual de economia. São Paulo:
empresas e desenvolvimento local:
Cambridge: MIT, 1956. Saraiva, 1998.
estratégias para a conquista da
competitividade global com base
na experiência italiana. São Paulo: KALDOR, N. Economic growth MYRDAL, G. Economic theory and
Atlas, 2001. and the Verdoorn law. A comment under-developed regions. London:
on Mr. Rowthor’s article. The Duckworth, 1957.
Economic Journal, v. 85, Dec. 1975.
CHRISTALLER, W. Central places
in Southern Germany. Prentice- NURKSE, R. Problemas da
Hall, new Jersey, 1966. KRUGMAN, P. Geography and Formação de Capital em Países
trade. Cambridge: MIT, 1991a. Subdesenvolvidos. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1957.
DOMAR, E. D. Expansão e
emprego. In: SHAPIRO, E. KRUGMAN, P. History versus
Análise macroeconômica: leituras expectations. The Quartely Journal PERROUX, F. A economia do
selecionadas. São Paulo: Atlas, 1985. of Economics, v. 56, n. 2, p. 651-667, século XX. Lisboa: Herder, 1967.
1991b.
FEIJÓ, R. Desenvolvimento PERROUX, F. Note sur la notion
econômico: modelos, evidências, KRUGMAN, P.; VENABLES, A. de Pôle de Croissance. Économie
opções políticas e o caso brasileiro. J. Integration, specialization, and Appliquée, v. 7, p. 307-320, 1955.
São Paulo: Atlas, 2007. adjustment. European Economic
Review, v. 40, p. 959-967, 1996.
PIORE, M. J.; SABEL. C. F.
The second industrial divide:

204 Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015
possibilities for prosperity. New SCHUMPETER, J. Teoria do SOUZA, N. de J. Desenvolvimento
York: Basic Books, 1984. desenvolvimento econômico. São econômico. São Paulo: Atlas, 2007.
Paulo: Abril Cultural, 1982.
ROMER, P. Increasing returns STÖHR, W.; TAYLOR, D. R. F.
and long-run growth. Journal of SCOTT, A. J.; STORPER, M. Development from above or
Political Economy, v. 94, n. 5, p. Production, work, territory below? the dialectics of regional
1002-1037, 1986. (the geographical of industrial planning in development
capitalism). Boston: Allen & Unwin, countries. Londres: Wiley and Sons,
1986. 1981.
ROSENSTEIN-RODAN, P.
Problems of industrialization of
Eastern and South-Eastern Europe. SOLOW, R. M. A contribution to VON THÜNEN, J. H. The isolated
Economic Journal, v. 53, n. 210/211, the theory of economic growth. The state. Oxford: Pergamon Press,
p. 202-211, jin./set. 1943. Quarterly Journal of Economics, 1966.
v. 70, n. 1, p. 65-94, feb. 1956
SANDRONI, P. Dicionário de WEBER, M. Theory of the Location
economia. São Paulo: Atlas, 1994. SOUZA, N. de J. Desenvolvimento of Industries. Chicago: University
econômico regional. São Paulo: of Chicago, 1929.
Atlas, 2009.

Revista de Desenvolvimento Econômico, Salvador, v. 17, n. 31, p. 194-205, jan./jun. 2015 205

S-ar putea să vă placă și