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HÁ AUTONOMIA DA LITERATURA NO

“CONTRADISCURSO”?

Marta Helena Mendes de Queiróz

“(...) O que é uma ciência? O que é uma obra? O que é uma teoria? O que é um
conceito? O que é um texto? (...)” (FOUCAULT: 2007, p.7)

INTRODUÇÃO

O papel da arqueologia é analisar o arquivo das coisas ditas – das Ciências,


das Ciências Humanas e das Ciências Sociais - e é justamente no ponto em que a
história das idéias decifra os textos, também, procura desvendar os movimentos
secretos do pensamento – sua progressão de seus conflitos, de suas recaídas e de seus
obstáculos. Orientados por esta arqueologia (FOUCAULT:2007), caminhamos pela
historicidade da análise do discurso, realizamos um contraponto entre a prosa do
mundo na escrita das coisas e o ser da linguagem, em As Palavras e as Coisas
(FOUCAULT: 2007). Ao mesmo tempo, realizamos o caminho, orientados, também,
pela concepção Saussureana na matéria e tarefa da Lingüística tradicionais nas suas
relações com as ciências conexas e enveredemos, nesse mesmo sentido para a
imutabilidade e mutabilidade do signo. Seria possível, também, diante de algumas
reflexões feitas, a transformação ou não de uma linguística geral? Seria possível uma
transformação da Ciência da Educação?
Iniciemos pela descrição histórica da Análise do Discurso, até sua chegada,
no Brasil, como pontos relevantes nas perspectivas contemporâneas de análise da
linguagem, da literatura e da língua, além das suas repercussões no campo da
educação, nas Ciências Humanas e nas Ciências Sociais. Posteriormente, uma análise
da linguagem nos seus aspectos de similitude e representação; outrossim, os aspectos
na tradição da literatura como percurso das semelhanças e dessa representação no
ensino de língua materna. Depois, um contraponto com Saussure; e, logo em seguida,
uma reflexão sobre a filosofia da práxis, no sentido de trazer as questões teóricas para
as questões práticas da realidade no ensino de língua portuguesa e literatura. Quais
as perspectivas de alterações, transformações, mudanças de paradigmas no sistema da
língua e da linguagem, no sistema da escrita, diante das situações de uso da ciência e
da tecnologia, especificamente, referente ao uso da Internet, pelas massas?
Nesse contexto histórico da Análise do Discurso, procuramos situar essa
disciplina no seu campo epistemológico, remontando-nos a um artigo (PAULIUKONIS &
MONNERAT: 2008), cujo traçado elucida, de forma sucinta, as suas instâncias, conceitos
e teorias.
Comecemos pela citação do lançamento do Cours de Linguistique Général,
de Ferdinand Saussure (1973) - é o marco. É resultado de uma convergência de
correntes, práticas e estudos de textos ligados à Retórica, à Filologia e à Estilística.
O termo discurso (PAULIUKONIS & MONNERAT: 2008) foi utilizado primeiro
por Z. Harris (1952) (discípulo de Bloomfield). Nos anos 60, surgiram várias teorias de
estudos do texto e do discurso. Estudos básicos para a subjetividade da língua como:
Etnografia da Comunicação (GUMPERZ; HYMES, 1964); Análise da Conversação
(GARFINKEL, 1967); Teoria dos Atos de Fala (AUSTIN, 1962); Teoria da Enunciação
(BENVENISTE, 1966); A Escola Francesa da AD[1] (PÊCHEUX, 1968); Estudos Semiológicos
das Categorias de Enunciação (GREIMAS; COURTÉS, 1979); avanços da Pragmática com
as ideias de Grice e sobre os atos de fala (SEARLE, 1968); além dos estudos de Bakhtin
(1969).
Surgiam os postulados da Linguística do texto apontado por Weirich na
Alemanha e desenvolvida por Petöfi, Van Dijk, Smithidit, que defendiam a Gramática
Textual. Tiveram muitos adeptos entre nós, as propostas de Van Dijk, Brown e Yule,
Beaugrande e Dressler sobre textualidade, coesão e coerência; cuja adapatação para
conceitos brasileiros foi desenvolvida por Marcuschi (1983); Koch e Travaglia (1990) e
Fávero (1991).
A correlação de Análise do Discurso com outros campos de estudos às
propostas em Arqueologia do Saber, de Michel Foucault (1969), além do resgate das
ideias de Bakhtin, com sua teoria dos gêneros e concepções de polifonia, consideradas
como todas as atividades de discurso.
A influência da publicação anterior do Analyse authomatique du discours, de
Michel Pêcheux (1967), tinha por análise textos da esquerda política, realizada por
Linguistas e Historiadores, cuja metodologia era inspirada na análise do discurso e na
ideologia, com aspiração nas ideias de Karl Marx, do filósofo Althusser e na Psicanálise
de Lacan. É o sujeito ligado a uma ideologia social, a desestruturação dos textos para a
revelação da força inconsciente, dessa coletiva ideologia. O foco é uma “problemática
ideologizante”, numa tentativa de construir discursos de representação que revelam
sistema de valores, com aproximação da linha do modelo de discurso psicanalítico, que
se chega ao sentido, decompondo a totalidade. A teoria, no entanto, sofreu
redirecionamentos: conceitos de “interdiscursividade” e “heterogeneidade discursiva”;
propostos por Maingueneau (2004) e Authier-Revuz (apud, PAULIUKONIS & MONNERAT:
2008).
No Brasil, a teoria de Pêcheux (com sua morte em 1980, outras tendências)
contou com adeptos que ampliavam as pesquisas, com análises a contextos brasileiros,
a exemplo de Eni Orlandi. Acrescentamos, dentre outros, Maria do Rosário Gregolin.
Hoje, existem inúmeras correntes da Escola Francesa: A Semântica da
Argumentação e a Semântica da Enunciação, proposta por Osvald Ducrot e Jean
Anscombre (1983). A teoria Semiolinguística, que tem como ideólogo, Patrick
Charaudeau (2004 & MENDES: 2008), diretor do CAD – Centre d’ Analyse du discours,
da Universidade de Paris. (apud, PAULIUKONIS & MONNERAT: 2008). Ressalte-se que na
teoria Semiolinguistica de Patrick Charaudeau (apud MENDES: 2008, p. 31), quanto nos
estudos da tradução e considerando a abrangência da teoria da Análise do Discurso e
Tradução, praticamente não existem pesquisas entre essas duas áreas, conforme
(MENDES: 2008).
Contudo, ressaltando as teorias e os seus conceitos determinantes para a
prática pedagógica, privilegiamos a corrente de linha francesa de Michel Foucault sobre
a linguagem no plano da similitude e da representação, que nos detemos, a realizar um
contraponto com as ideias de Saussure sobre a língua, a linguagem, a mutabilidade e a
imutabilidade.
É a Análise do Discurso que aborda discussões, sobre o discurso e
determinadas teorias, que tomam como objeto o próprio discurso (escrito). Nesse
sentido, tentaremos nos sustentar na Teoria foucaultiana.
Um dos objetos que constituem a educação – é a escrita – permeada de
teorias das palavras e das coisas, da historicidade, das sociedades, dos livros, e, por
conseguinte, as imbricações com as letras, as palavras, as frases, os discursos: a
linguagem e as relações de continuidade com a literatura. Neste ponto, emergem
algumas inquietações: O que é a linguagem? O que é a literatura? O que é a língua?
A fim de compreender as sociedades e a linguagem, além dos conceitos que
a teoria foucaultiana permite, é necessário descrever e entender (se é que podemos
denominar de método, uma vez que Foucault faz oposição ao método cartesiano;
entretanto, tem se utilizado como método e até mesmo procedimento na educação) a
arqueologia do saber, que se desenvolve e mostra a escrita, configurada na literatura,
inserida, desde o século XVI até a contemporaneidade.
Ademais, Michel Foucault (2007) escreve A Arqueologia do Saber para
explicitar os livros precedentes e em que coisas ficaram obscuras. Sim, foi exatamente
isso, entre outras palavras, a sua interrogação na aba da capa desse seu livro. Mas, não
é isso somente, o que ele pretende é retornar por uma nova volta em espiral,
caminhando, desse modo, numa linha de pensamento, a um ponto anterior, mostrando
onde ele falava, demarcava o espaço de possibilidades de pesquisas e que,
possivelmente, não concluirá, além de dar uma significação, que havia deixado vazia na
palavra – arqueologia.
Isso quer dizer que, muitas vezes, é preciso retornar ao passado em
determinados pontos, especialmente da escrita, como na análise documental ou na
análise literária, para fins de perceber, naqueles pontos de escrita, de onde se fala e
esclarecer as coisas que não ficaram claras ou, ainda, mal interpretadas ou vazias de
significantes.
Afinal, o que é a arqueologia do saber? Por que o Filósofo Michel Foucault
(2007) discrimina ou mesmo conceitua a palavra “arqueologia” como “perigosa”? Será
que, pelo fato dela ser abordada com sentidos opostos aos quais ele pretendeu, e é
exatamente, por isso que ele a retoma? É como se a cada escavação de histórias
passadas ou de resgates de fios de memória, não tivéssemos o domínio mais da
linguagem em si mesma, nem de si próprio, enquanto sujeito. É como se o olhar nessa
memória fosse um olhar petrificado para traz, naquilo que já passou; entretanto, no
pensamento (na memória discursiva), essa ideia permanece viva, latente, como algo
atual.
A evocação do passado traz à tona esses “rastros caídos fora do tempo”, quer
dizer: esses rastros, que são, por assim dizer, os resquícios de memória – que se fizeram
guardados ou escondidos ou, ainda, esquecidos que, se não estivessem presentes nela,
estariam no arquivo. Esses rastros caídos não estão dispostos numa linha do tempo,
pelo contrário, estão alheios, isto é, alhures ao tempo cronológico.
Nesse pensamento, percebemos uma tentativa de desconstituição das
narrativas literárias; também, que demandariam tempo maior para as suas leituras, uma
vez que, nas narrativas literárias, percebemos os tempos, os lugares, os espaços, melhor
constituídos e elaborados, ainda que invertidos, do ponto de vista narrativo e descritivo,
onde constituem os personagens protagonistas e os antagonistas, no imaginário
criativo. E é essa ideia de tempo, linearmente (cronologicamente, sucessivamente)
moldada, através dos séculos, que perpassa por nós, a ser desconstituída por Foucault,
contrapondo Saussure.
Ressaltemos, daí, que em muitas relações humanas, a constituição das
imagens conectadas às relações de consumo. Portanto, o “mutismo” pode se dar frente
a esse estado de coisas, de estados frenéticos, permeados por essas imagens
construídas (não somente pelos meios de comunicação em massa, ou, se frequentamos
qualquer instituição, essas imagens já estão postas lá, apenas para que haja escolha do
“sujeito”); nas quais percebemos um deslocamento e movimento rápido das informações
e acontecimentos. Não há muito que se dizer, frente à mega-aglomeração de discursos
representativos, munidos de similitude ou de interpretação. Assim, estabelecem os seus
efeitos em cadeia, nessas ondas comunicativas e maciças.
Segundo Michel Foucault (2007, Arqueologia do Saber) a arqueologia
constitui-se nessa descrição dos discursos, que não são os livros, nem as teorias nas
suas relações, mas que são os discursos científicos integrados. Por exemplo, tem-se a
medicina, com o prolongamento da vida e com a ciência da estética do corpo (que
transmite para outros saberes); a economia política a serviço dos poderes constituídos;
e a biologia a serviço da medicina. Ocorre a formação de um círculo de discursos
elaborados e constituídos em si mesmos, com autonomia e não dependência, com
automatismo e em estado de movimento. São esses discursos científicos que
sobrepõem às teorias e aos conceitos, estes últimos com suas coerências e os primeiros
com as suas incoerências. Nessa perspectiva, ocorre uma contraposição –
contradiscurso - do discurso literário ao discurso científico.
Esses domínios – científicos - constituídos dos discursos são autônomos,
entre si, e não são constituídos de sujeitos, mesmo se transformando o tempo todo, em
processos integrados de movimento. Dessa forma, surgem as indagações: Quem é o
sujeito da Medicina? Quem é o sujeito da Economia Política? Quem é o sujeito da
Biologia? Não são eles todos constituídos de discursos anônimos? Não são todos eles
institucionalizados?
E é assim que o Historiador e Filósofo – Michel Foucault – esclarece-nos como a
arqueologia se constitui:

Palavra perigosa, pois parece evocar rastros caídos fora do


tempo e petrificados, agora, em seu mutismo. Na verdade, trata-
se de descrever discursos. Não livros (ou relação com seus
autores, não teorias (com suas estruturas e coerências),
entretanto, os conjuntos familiares e enigmáticos, que através
do tempo, tornam-se conhecidos como a medicina, ou a
economia política, ou a biologia. Gostaria de mostrar que essas
unidades formam domínios autônomos, embora não
dependentes; regrados, embora em contínua transformação;
anônimos e sem sujeito, ainda que integrem tantas obras
individuais. (FOUCAULT: 2007, capa).

Recorremos a Saussure que estabelece a dicotomia entre a imutabilidade e


mutabilidade do signo, configurando o outro entendimento de Foucault sobre a
arqueologia. Simbolicamente, percebemos a arqueologia semelhante à língua, e não
apenas o discurso em si mesmo; mas a língua como instrumento do discurso.
A qualquer época que remontemos, por mais antiga que seja, a
língua aparece como uma herança da época precedente. O ato
pelo qual, em dado momento, os nomes teriam sido distribuídos
às coisas, pelo qual um contrato teria sido estabelecido entre os
conceitos e as imagens acústicas – êsse ato podemos imaginá-
lo, mas jamais foi ele comprovado. A idéia de que as coisas
poderiam ter ocorrido assim nos é sugerida por nosso
sentimento bastante vivo do arbitrário do signo (SAUSSURE,
Edição original 1916, p. 85-86.).

O significante aparece de forma escolhida livremente, em relação a ideia;


assim como não é livre, mas imposto, com relação à comunidade linguística que o
emprega. Este fato quer assemelha-se a uma contradição que constitui “a carta forçada”
“Diz-se a língua: Escolhe!” Acrescenta-se: “O signo será este, não outro.”(Nome do autor,
data, p.). Um indivíduo, além de incapaz de mudar a escolha feita, como a soberania não
pode ser exercida pela massa, sobre uma palavra que está atada à língua, assim como
ela é.
O princípio linguístico exibe duas características que são: a arbitrariedade do
signo e o caráter linear do significante. O primeiro não é contestado por ninguém, sendo
o laço que une o significante ao significado; já o segundo, é de natureza auditiva,
desenvolve-se, unicamente, no tempo, desenvolve-se numa extensão de uma só
dimensão, ou seja, é uma linha.
Todo o mecanismo da língua depende da lei primeira e é considerado muito
simples o seguinte princípio, acerca do caráter linear do significante, de natureza
auditiva, desenvolve-se no tempo, com características que toma desse tempo, este é
representado numa extensão e essa é mensurável numa dimensão:

Esse princípio é evidente, mas parece que sempre se


negligenciou enunciá-lo, sem dúvida porque foi considerado
demasiadamente simples; todavia ele é fundamental e suas
características são incalculáveis; sua importância é igual à da
primeira lei. Por oposição aos significantes visuais (sinais
marítimos, etc.), que podem oferecer complicações simultâneas
em várias dimensões, os significantes acústicos dispõem apenas
da linha do tempo; seus elementos apresentam um após outro;
formam uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando
os representamos pela escrita e substituímos a sucessão do
tempo pela linha espacial dos signos gráficos.(SAUSSURE: Edição
original 1916, p.84).

Nenhuma sociedade conhece nem conheceu a língua de outro modo, que não
fosse como um produto herdado de gerações anteriores. Eis a questão da origem da
linguagem. O objeto da lingüística é a vida normal e regular de um idioma já constituído.
É produto de fatores históricos um dado estado de língua e, são esses fatores que
explicam por que um signo é imutável e resiste a toda substituição. Eis a questão da
imutabilidade. Por que o fator histórico da transmissão a domina totalmente e exclui
toda transformação lingüística geral e repentina? As modificações de uma língua não
estão ligadas à sucessão de gerações que, longe de se colocarem sobrepostas como
gaveta de um móvel, mesclam-se e interpenetram-se e contém, cada uma, indivíduos de
todas as idades. Os esforços do aprendizado na língua materna concluem pela
impossibilidade de uma geral transformação, no dizer de Saussure (sem data de
edição). Os indivíduos não têm consciência das leis da língua, se as tivesse poderiam
modificá-las?
Dentre essas considerações, outras se fazem relevantes como o caráter
arbitrário do signo, a multidão de signos arbitrários para constituir qualquer língua, o
caráter complexo do sistema, a resistência da inércia coletiva a toda renovação
lingüística, segundo Saussurre (Edição original 1916).
Não basta, todavia, dizer que a língua é um produto de forças sociais para
que se veja claramente que não é livre; a par de lembrar que constitui sempre herança
de uma época precedente, deve-se acrescentar que essas forças sociais atuam em função
do tempo. Ambos os fatos são inseparáveis. A língua tem um caráter de fixidez por estar
ligada ao tempo, e não apenas a coletividade. A todo instante a solidariedade com o
passado põe em xeque a liberdade de escolher. Logo, dizemos homem e cachorro, por
que antes de nós se disse homem e cachorro, são exemplos de Saussure (sem data de
edição).
O signo é arbitrário, não conhece outra lei senão a da tradição e é por
sustentar-se na tradição que ele é arbitrário.
No ponto em que a história das idéias, no que diz respeito a decifrar os
textos, esta procura desvendar os movimentos secretos do pensamento (sua progressão
lenta, suas recaídas e conflitos, o contorno dos obstáculos), revelando o nível das “coisas
ditas”, além da sua condição de surgimento, as formas de encadeamento e seu acúmulo,
as regras de sua transformação, as descontinuidades que escande (no ato de decompor
versos ou palavras, contar, enumerar, examinar minuciosamente, etc.). O arquivo é o
domínio das coisas ditas; cabe a arqueologia analisá-lo, consoante Foucault (2007). O
Enunciado e o arquivo serão objetos de outros estudos.
É a estabelecer uma reflexão que se estende desde as sociedades feudo-
monárquicas, até os regimes autoritários (modo de produção socialista), do século XX.
E, ainda, como perfazem essas relações entre as edificações urbanas e o controle dos
usos lingüísticos, bem como os embelezamentos do corpo na sociedade de controle
(século passado e início deste).
Michel Foucault descreve com “elucubrações” sobre as passagens históricas
das sociedades de soberania para as de disciplina e dessas para as de controle ². Entre
as fronteiras, muros e normas: o visto e os sentidos (SENNETT: 2003). Michel Pêcheux
(SENNET: 2003) observa uma mobilidade rigorosa nas relações sociais (como
disponibiliza Richard Sennett, que até a Idade Média assentava-se no princípio
“fisiológico” hipocrático do ardor corporal (cidadãos, escravos, gregos, bárbaros,
homens e mulheres nas Monarquias feudais, onde o nobre era diferenciado, já no
nascimento) sob a fronteira que seccionava nobrese plebeus: os primeiros com muros,
fossos, castelos, o latim; os segundos com as cercas frágeis e simbólicas, as casas
simples e os falares vulgares.
Podemos, assim, considerar as barreiras que vão da língua para a arquitetura
e vice-versa:

As ideologias feudais supunham a existência material de uma


barreira lingüística que separava aqueles que, por seu estado
eram os únicos suscetíveis de entender claramente o que tinham
a se dizer e a massa de todos os outros, tidos como inaptos para
se comunicar entre si, e a quem os primeiros só se endereçavam
pela martelação retórica da religião e do poder. (GREGOLIN:
2007, p. 9-10)

Uma das características do dispositivo feudal é a tática de distanciamento


por meio da construção de uma barreira visível. No século XVI, a arquitetura feudal eleva
muralhas, escava os fossos – uma vez que nos castelos está o supremo poder. Já, no
século XIII, a arquitetura religiosa idealiza tribunas, estalas e coros separados, a título
de isolamento do clero da multidão dos laicos.
No momento que a apoteose teocrática dá o poder supremo à Igreja; o corpo
eclesiástico reforça sua clausura. Le scribe (data apud DEBRAY, data, pp. 23-24) dispõe,
ainda: “As necessidades da administração restabelecem o uso da escrita. O latim é
reestruturado como instrumento de comunicação ‘internacional’, comum à Igreja e à
chancelaria. Com os cléricos, os reis e os príncipes serão os únicos que poderão
aprendê-lo”. Em “línguas vulgares” convertem-se as falas vernaculares – modo de
demarcação entre os dirigentes e dirigidos (ibid, p.25).
O latim seria a “língua madeira” da ideologia feudal realizaria ao mesmo
tempo a comunicação e a não comunicação. (apud, PÊCHEUX, 1.990. p. 20-1) Instaura-
se uma cisão do mundo feudal em dois mundos, assegurada por delimitações
arquiteturais visíveis e limites lingüísticos expressos. Os dois mundos eram divididos
pelas diferenças dos corpos: a estatura maior do corpo do nobre diante do plebeu, era
reforçada por trajes volumosos e opulentos. Havia o fundamento da presença (ausente)
de um terceiro mundo invisível, no qual não ocorre separação, sendo “todos iguais
perante Deus”: a formação sócio-histórica, feudal e monárquica dominava a ideologia
religiosa; consistia em administrar essa relação com o ‘alhures’ que a funda,
representava e tornava visível este ‘alhures’, tornando-o visível nas cerimônias e festas
– inscrevendo os discursos – que afirmava “em cena este corpo social unificado, radioso,
transfigurado, que manifesta o “existente constitutivo” da sociedade
feudal”. (apud PÊCHEUX, 1.990, p. 10)
Em As Palavras e as Coisas, Michel Foucault (2007) realiza “a escrita das
coisas”, sob a perspectiva do olhar arqueológico da Prosa do Mundo, desconstruindo
aspectos históricos lineares, trazendo a continuidade da literatura na escrita. Por que a
literatura na escrita de modo contínuo? É para estabelecer a tradição como marco da
linguagem a dar conta de todo o movimento contemporâneo de desconstrução da
história a ser desvelada. Vale dizer que a obra As Palavras e as Coisas (2007) nasceu
de um texto de Borges, do riso provocado em Foucault, com a sua leitura e a sua
perturbação de “todas as familiaridades do pensamento – do nosso, daquele que tem
nossa idade e nossa Geografia –, abalando todas as superfícies ordenadas e todos os
planos que tornam sensata para nós a profusão dos seres, fazendo vacilar e inquietando,
por muito tempo nossa prática milenar do Mesmo e do Outro”.
No século XVI, a linguagem “é a coisa opaca, misteriosa, cerrada sobre si
mesma, massa fragmentada e ponto por ponto enigmática”, que se relaciona com as
figuras do mundo e se dispõe umas sobre as outras (à maneira de “escamas”): todas
juntas formam uma rede de marcas, em que cada uma pode desempenhar o papel de
signo ou de conteúdo, de indicação ou de segredo em relação a todas elas.
Nesse período, a linguagem não é um sistema arbitrário, faz parte do mundo
e está depositada nele, simultaneamente, isto é, ao mesmo tempo, as coisas se
escondem e como uma linguagem manifesta seu enigma em razão das palavras que se
colocam como coisas a decifrar. A grande metáfora do livro é a mais profunda porque
constrange a linguagem a ficar do lado do mundo, em meio às plantas, às ervas, às
pedras e aos animais. Por isso, a distribuição dassimilitudes e das assinalações fazerem
parte da linguagem, sendo estudada como coisa da natureza. Seus elementos têm,
ainda, as suas analogias obrigatórias como os animais, as plantas ou as estrelas.
Ramus dividia a Gramática em duas partes: a etimologia(“propriedades”
intrínsecas das letras, das sílabas, das palavras inteiras); e a sintaxe (que era ensinar a
construção das palavras entre si mediante suas propriedades) e consistia na comunhão
mútua (dessas propriedades), como a do nome com o nome, ou com o verbo, do
advérbio com todas as palavras, “da conjunção na ordem das coisas conjugadas”
(FOUCAULT: 2007, apud P. Ramus, Grammaire, Paris, 1572, pp. 3, 125-6).
Os gramáticos do século XVII e XVIII darão importância ao conteúdo
representativo da linguagem servindo de fio condutor para suas análises. Porém, a
gramática não é o que é em razão de ter sentido, pois não tem papel a desempenhar,
segundo Foucault. Como no mundo as marcas se opõem ou se atraem umas às outras,
assim as palavras agrupam sílabas, estas letras, depositadas nestas, virtudes que as
desassociam e as aproximam.
² Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires, capital da Argentina e faleceu em Genebra,

em 1986.

No século XVI, o estudo da gramática repousa, na mesma disposição


epistemológica, em que dispõem à ciência da natureza ou disciplinas esotéricas.
Foucault, no livro As Palavras e as Coisas, a Prosa no Mundo ganha destaque
determinante, do ponto de vista arqueológico do saber sobre a linguagem. Se não,
vejamos as diferenças: há uma natureza e várias línguas e, no esoterismo, as
propriedades das palavras, das sílabas e das letras são descobertas por outro discurso
secreto, enquanto na gramática são as frases e palavras de todos os dias, enunciam suas
propriedades por si mesmas. A linguagem está entre as conveniências esotéricas dos
discursos esotéricos e as figuras visíveis da natureza.
É uma natureza que perdeu sua transparência primeira, é fragmentada,
dividida contra ela mesma, alterada, constitui em si mesma um “segredo” - com as
mascas decifráveis daquilo que se estabelece uma claridade ascendente, pouco a pouco.
Isso, porque a linguagem se assemelhava aos homens, sob sua primeira forma – “foi
dada pelo próprio Deus” – signo das coisas absolutamente transparente e certo.
Os nomes eram depositados sobre o que designavam, pela forma da
similitude: a força está escrita no corpo do leão, no olhar da águia, a realeza; na fronte
dos homens está marcada a influência dos planetas.
Tornaram incompatíveis, depois que as línguas foram separadas umas das
outras. Somente falamos línguas que conhecemos com sustentação na similitude
perdida e no espaço vazio por ela deixado. Somente uma língua guarda a primeira
memória, que deriva desse vocabulário esquecido; que Deus não quis que o castigo de
Babel não escapasse aos homens pela lembrança; essa língua serviu para narrar a Aliança
de Deus com o povo; enfim, nessa língua Deus se dirigiu aos que o escutavam. O Hebreu
carrega reminiscências da similitude.
A linguagem não assemelha mais às coisas que nomeia imediatamente, não está
separada do mundo, está a ser o lugar das revelações e a fazer parte do espaço onde a
verdade se manifesta e a fazer parte do espaço onde a verdade se manifesta, se enuncia,
de modo simultâneo, isto é ao mesmo tempo. Não é a natureza na sua visibilidade de
origem, nem um instrumento misterioso, todavia um mundo a se redimir à escuta
da verdadeira palavra. E, então, liberam o signo do mundo salvo.

A denotação está presente nos diferentes modos de escrita e diversidade


cultural dos povos. Claude Duret (FOUCAULT: 2007, p.50-52, apudDuret) atenta que os
hebreus, os cananeus, os samaritanos, os caldeus, os sírios, os egípcios, os púnicos, os
cartagineses, os sarracenos, os turcos, os mouros, os persas, os tártaros escrevem da
direita para a esquerda, seguindo o curso e o movimento do céu, diariamente, que é
perfeito, conforme Aristóteles, “aproximando-se da unidade”.
Os gregos, os georgianos, os maronitas, as jacobitas, os coflitas, os
tzvernianos, os posnanianos, os latinos e todos os europeus escrevem, da esquerda para
a direita, seguindo o curso e o movimento do céu, conjunto de sete planetas. Os
indianos, os catânios, os chineses, os japoneses escrevem de cima para baixo, de acordo
com “a ordem da natureza, que deu aos homens a cabeça no alto e os pés embaixo”. Já
os mexicanos escrevem ora em “linhas espirais” como as que o sol faz em cima, ora em
“linhas espirais”, como as que o sol faz em seu curso anual sobre o Zodíaco. Portanto,
por esses cinco modos de escrever e mistérios da janela do mundo e da forma de cruz,
constituem o conjunto do céu e da terra que são denotados (FOUCAULT: 2007, p. 51).
As línguas estão para o mundo, mais numa relação de analogia do que de
significação, ou sobrepõe sua função de duplicação e seu valor de signo. Elas são: a
imagem do céu e da terra. Elas reproduzem na arquitetura mais material a cruz
anunciada pelo advento que se estabelece pela Palavra e pelas Escrituras. A linguagem
exerce uma função simbólica, contudo desde o desastre de Babel não se deve buscá-la
nas palavras, a não ser em exceções. (FOUCAULT; 2007 apud, Gesner, em Miithiridates)
Deve-se buscá-la na existência da linguagem em si mesma, na “sua relação com a
totalidade do mundo, no entrecruzamento de seu espaço com os lugares e as figuras
dos Cosmos” (FOUCAULT: 2007, p.52. ).
No final do século XVI e início do século XVII, a fórmula do projeto
enciclopédico não refletiu o elemento neutro da linguagem. Na segunda metade do
século XVII, surgirá o uso do alfabeto – elemento neutro da linguagem - como ordem
arbitrária. O privilégio absoluto da escrita dominou todo o Renascimento – num
entrelaçamento da linguagem com as coisas – e foi um dos grandes acontecimentos da
cultura ocidental.
Os sons da voz humana, apenas, na sua tradução transitória e precária”. “[...]
a lei foi confiada a Tábuas, não a memória dos homens, e a verdadeira palavra é um livro
que a devemos encontrar”(FOUCAULT: 2007 p. 53).
Tanto Vigenére como Duret Blaise de Vigenére. (Traité dês Chiffres. Paris,
1.587, pp. 1-2, Claude de Duret. Trésor de I’historie des langues, p.19-20) diziam que a
escrita precedera da fala, da natureza, mesmo no saber dos homens; certamente.
No século XVI, o esoterismo não é fenômeno de fala, mas de escrita. A fala
despojada de seus poderes, a parte fêmea da linguagem, como seu intelecto passivo. Já
a escrita é o intelecto agente (FOUCAULT, 2008), o “princípio macho” da linguagem.
Somente ela detém a verdade.
Quando se tem de fazer a história de um animal, inútil e escolher entre o
ofício de naturalista e o de compilador: é preciso recolher uma mesma e única maneira
do saber, tudo o que foi ouvido e visto, tudo o que foi contadopelos homens, ou
pela natureza, pela linguagem do mundo, das tradições ou dos poetas. Essa é a maneira
de saber pela linguagem.
Recolher a espessura de signos depositados no animal, na planta ou de qualquer
coisa da terra ou sobre eles, é reencontrar as constelações de formas no valor de insígnia
(assumidos por eles).
O olhar de Aldrovandi (FOUCAULT: 2007) não era ligado às coisas pelo
sistema, nem pela disposição da epistémê, mas contemplava uma
natureza escrita. Saber consiste em referir a linguagem à linguagem, em restituir a
planície uniforme das palavras e das coisas. Em “fazer nascer, por sobre todas as marcas,
o discurso do comentário”.
É próprio do saber interpretar; a cada um dos discursos: Escrituras dos
artigos, relatos dos viajantes, lendas e fábulas. Quando se solicitam comentários sobre
os discursos, não se solicita, a cada um que se interpreta seu direito de enunciar uma
verdade, mas requer falar sobre ele somente. Esse é o significado simples que se dê a
um discurso: apenas falar.
Porém, a linguagem tem um sentido interior de proliferação e de propagação.
“Há mais a fazer interpretando as interpretações que
interpretando as coisas, e mais livros sobre livros que sobre
qualquer outro assunto, nós não fazemos mais que nos
entregrossar.” (Essais, Montaigne. l. IV. III. Cap. XIII, apud).

Trata-se de uma relação da linguagem do século XVI consigo mesma. Daí,


não é a constatação de uma cultura “soterrada” sob seus “monumentos”.
Decorre, então, a permissão de uma mobilização infinita da linguagem, que
não cessa de se desenvolver, de se retornar, de fazer “imbricarem-se” (sobrepor sobre
escamas) suas sucessivas formas. Descobre-se na cultura ocidental essa dimensão alerta
de uma linguagem que não se pode encerrar numa palavra definitiva; pois somente
enunciará sua verdade num discurso futuro, “consagrado” a dizer o que irá dizer; porém
não tem o direito de deter sobre si mesmo e encerra aquilo que diz levado a outro
discurso – “como uma promessa legada”. Assim, faz-se incompleta a tarefa do
comentário. Este é voltado, para a parte enigmática e oculta da linguagem comentada.
É a mobilização infinita da linguagem.
Sobre o discurso faz-se nascer um outro discurso muito mais fundamental,
com a sua tarefa da restituição. Se, acontece a soberania de um texto primitivo, há
comentário sob a linguagem que se lê e se decifra. Sua descoberta final é a recompensa
desse texto fundado em comentário. A exegese é proliferada nesse reino silencioso.
Uma experiência cultural global – é a linguagem do século XVI, entendida não
como um episódio na história da língua (foi tomada entre o Texto primitivo e o infinito
da Interpretação).
Ressaltemos os dizeres do Filósofo, ainda acerca da escrita, enquanto
transformação de seus signos, com inovadores discursos, de conformidade com uma
escrita primeira.
9
Fala-se sobre o fundo de uma escrita que se
incorpora no mundo; fala-se infinitamente sobre ela, e cada um
de seus signos torna-se, por sua vez escrita para novos
discursos, mas é cada discurso que se endereça a essa primeira
escrita, cujo retorno ao mesmo tempo promete e
desvia”. (FOUCAULT: 2007)

Observa-se, todavia que a “experiência da linguagem pertence à mesma rede


arqueológica a que pertence o conhecimento das coisas da natureza”. Patentear o
sistema das semelhanças é conhecer essas coisas, próximas e solidárias umas às outras.
Contudo, somente poderia ser feito o levantamento das similitudes na proporção em
que um conjunto de signos formava um texto (de uma peremptória indicação). Os signos
consistiam em um sistema de semelhanças e conduziam a uma infinita tarefa,
inacabada, de conhecer “o “similar” (o “semelhante”, o “igual”, o “parecido”, etc.).
É tarefa da linguagem, restituir um discurso primeiro, tentando dizer coisas
similares a ele, fazendo nascer fidelidades vizinhas e semelhantes de interpretações ao
infinito. Ou seja, indefinidamente, assemelha-se o comentário ao que ele comenta, e que
não pode enunciar; bem como novos signos de semelhança são encontrados pelo saber
da natureza; uma vez que os signos são similitudes.
E, portanto, como encontra seu liame (sua forma, sua limitação) esse jogo
infinito na relação do microcosmo com o macrocosmo. Assim, na tarefa de um texto
escrito efetivamente, se assemelha à tarefa infinita do comentário que a interpretação
revelará por inteiro, mas futuramente.
Percebe-se o sistema de signos no mundo ocidental, de acordo com Foucault:
no Estoísmo: o significante, o significado e a conjuntura; no Século XVII: um significante
com um significado; no Renascimento: domínio formal das marcas, o conteúdo que se
acha assinalado, as similitudes que ligam as marcas - as coisas designadas (tanto a
semelhança de signos quanto a forma dos signos e o conteúdo, os três se resolvem
numa figura).
Essa disposição encontra-se invertida na experiência da linguagem. Esta
existe em seu ser bruto e primitivo, uma escrita, sob a forma simples e material, de um
estigma e de uma marca sobre as coisas espalhadas pelo mundo e que as suas figuras
fazem parte (de uma marca). A camada da linguagem é única e absoluta. No entanto,
ela faz nascer duas formas de discursos: o comentário e o texto; o primeiro, retoma os
signos dados, como propósito novo; o segundo, cujo comentário supõe a oculta
primazia (sob as visíveis marcas).
A partir do ser único da escrita – encontra os três níveis de linguagem. Com
o final do Renascimento desaparece esse jogo complexo, ora porque a linguagem
encontrará seu espaço no regime dos signos representativos em vez de existir com a
escrita material das coisas; ora por que as figuras que oscilam entre um e três termos
fixarão em uma forma binária estável.
Surge um novo problema: como reconhecer que um signo designasse aquilo que
significava? A partir do Século XVII: como um signo pode estar ligado àquilo que ele
significava? Questão respondida pela análise da representação na Idade Clássica. A qual
pensamento moderno responderá pela análise da significação e do sentido?Logo, a
linguagem será um caso particular de representação, para os clássicos e da significação
para nós. É desfeita a “interdependência” da linguagem e do mundo. Fica, então,
suspenso o primado da escrita. A camada uniforme desaparece: onde o visto e o lido, o
invisível e o enunciável se entrecruzam. Separar-se-ão as palavras e as coisas. Destinados
o olho a ver, o ouvido a ouvir, somente. O discurso terá tarefa de dizer o que é.
A reorganização da cultura de que a idade clássica talvez a mais importante,
posta ser ela a responsável pela disposição na qual estamos presos; uma vez que “ela
nos separa de uma cultura onde a significação dos signos não existia”, já absorvida
na soberania do semelhante; contudo onde seu ser enigmático e primitivo, cintilava
numa dispersão infinita. Em nosso saber e em nossa reflexão, nada mais há que nos
traga a lembrança desse ser – salvo a literatura, nada mais.
Na idade moderna, a “literatura” manifesta o surgimento – do ser vivo da
linguagem - onde não era esperado. Nos séculos XVII e XVIII, a existência própria da
linguagem, na solidez de coisa inscrita no mundo forma dissolvidas no funcionamento
da representação; como discurso valia toda linguagem. É a literatura a revolver o ser da
linguagem.
Um modo de “fazer signo” consistia na arte da linguagem; simultaneamente
significa alguma coisa e de dispor em torno dessa coisa – signos (uma arte de nomear,
reduplicar, captar esse nome, encerrar, encobrir com outros nomes que eram a sua
presença, o seu signo, a sua figura, a sua retórica).
Do século XIX até os nossos dias, a literatura existiu em sua autonomia,
desprendeu de outra linguagem qualquer, por um profundo corte, na proporção que
constitui um “contradiscurso” e “remontou” da função representativa ou significante da
linguagem àquele ser bruto e esquecido, desde o século XVI. De que maneira atingir
a essência da literatura? Por que ela diz na sua forma significante? Interrogando-a,
permanece-se no estatuto clássico da linguagem.
Na idade moderna, a literatura é que compensa o funcionamento
(significativo) da linguagem. Nos limites da cultura ocidental e em seu coração - o ser
da linguagem “brilha de novo” por meio da literatura - pois é o coração que lhe é mais
estranho, desde o século XVI. O coração está no centro que a literatura descobriu.
Contudo, a literatura surge preocupada com o que deve ser pensado e o que não poderá
ser pensado, a partir de uma teoria da significação.
Ressalte-se que não passa de um episódio: se analisemos de um lado o
significado (suas “idéias”), ou do lado do significante (esquemas da lingüística ou da
psicanálise). Em ambos os casos, “buscam-na fora do lugar onde, para nossa cultura,
ela jamais cessou, desde há um século e meio, de nascer de se imprimir”.
No século XVII, esses modos de decifração provêm de uma situação clássica
de linguagem. No século XIX, “a literatura repõe à luz a linguagem no seu ser”, não
como surgiu no final do Renascimento (não há aquela palavra primeira, inicial, pela qual
se achava limitado o discurso). De agora em diante, “a linguagem vai crescer sem
começo, sem termo, sem promessa”. O texto da literatura traça esse caminho, isto é,
esse percurso.
Foucault (2007) traz à tona o “contradiscurso” da revisão: a revisão da/na
escrita por si mesmo e da história da própria escrita, como modo de perceber-se, alterar,
corrigir-se naquilo que foi dito e mal entendido, desfazer mal entendidos, alterar aquilo
já escrito que encontrava obscuro e clarear os significados da escrita, do ser na
linguagem.
Além disso, alerta-nos para as retomadas de leituras realizadas, para uma
reavaliação e resignificação do ato de pensar e problematizar as relações institucionais
com os saberes, a linguagem, a língua, com o “sem sujeito”, o espaço, o tempo e o lugar
definidos e/ou indefinidos, por fim a literatura. A linguagem, em seus inúmeros modos
de se revelar, permeia os espaços, os tempos e os lugares da prática escolar nos atos
comunicativos dos sujeitos e dos sem sujeitos, nas relações entre si e com as coisas -
os objetos.
E, ainda, é a Literatura que constitui em fonte infinita de linguagem do
despertar do ser e as repercussões, ainda nos dias atuais da representação na literatura,
caracterizando a tradição da língua e da linguagem nos seus aspectos de mutabilidade
e de imutabilidade, em consonância com Saussure (sem data de ediçãodata). A
continuidade do signo no tempo, ligada a teoria do tempo, constitui um princípio da
Semiologia geral, sendo que a sua confirmação se encontra nos sistemas de escrita, na
linguagem de surdos e mudos, como ele elucida.
Quando se aceleram os modos de comunicação, desconectando tempo e
lugar geográficos (instituídos na tradição) e estabelece uma conexão maciça, são
situações que também afetam ao mesmo tempo uma movimentação nos fluxos de
comunicação e, consequentemente nos usos da língua e da linguagem, modificando as
suas relações e entrecruzamentos com as significações. Ainda que imperceptíveis no
momento, os efeitos estabelecem-se em cadeias discursivas, nos nós na rede, esses
nós que são discursivos, em escamas, na sobreposição discursiva, caracterizando
novas e possíveis configurações no jogo discursivo.
Essa ilusão do sujeito de ter a fonte de sentido é denunciada por Pêcheux
(GREGOLIN: 2004 ), uma vez que a escrita estaria imbricada numa ideologia social, que
para revelar a força inconsciente dessa ideologia coletiva é preciso desestruturar os
textos. Faz-se necessário, a decomposição da totalidade dos discursos para se chegar a
um sentido, talvez, aplicando sua análise a contextos de escrita.
Assim, tomemos o enunciado, numa perspectiva epistemológica
foucaultiana, centrando a análise diante de algumas questões: a escrita como tecnologia
dos discursos infinitos.

Em suma, a história do pensamento, dos conhecimentos, da


filosofia, da literatura parece multiplicar as rupturas e buscar
todas as interpretações da continuidade, enquanto a história
propriamente dita, a história pura e simplesmente, parece
apagar, em benefício das estruturas fixas, as irrupções dos
acontecimentos (FOUCAULT: 2007, p.6)
As causas da continuidade para Saussure (Edição original 1916) estão a priori
ao alcance do observador; contudo isso não acontece com as causas de alteração do
tempo. Provisoriamente, para ele é melhor renunciar do que dar conta delas, isto é,
limitar-se a falar do deslocamento das relações. Afinal, o tempo altera todas as coisas e
não existe razão para que a língua escape dessa lei universal.
A Literatura, para Saussure (Edição original 1916), constitui-se na lembrança
do ser da linguagem, a sua função de representação da linguagem são ingredientes
relevantes de atuação na língua e na própria linguagem. Mas para Foucault, na busca
da continuidade, em suas reflexões, ele vai além das idéias de representação e de
similitude, pois ele desconstitui a história literária de Dom Quixote e de Borges, em As
Palavras e as Coisas, dando outras interpretações.
Elucidamos, assim, com Saussure sobre a língua e a massa falante - levando
em conta somente a realidade social e não o fato histórico visto ser um fenômeno
semiológico, há que se lembrar:

Se se tomasse a língua no tempo, sem a massa falante –


suponha-se o indivíduo isolado que vivesse durante vários séculos –
não se registraria talvez nenhuma alteração; o tempo não agiria sobre
ela. Inversamente, se se considerasse a massa falante sem o tempo,
não se veria o efeito das forças sociais agindo sobre a língua Para
estar na realidade, é necessário, então, acrescentar ao nosso primeiro
esquema um signo que indique a marcha do tempo: A língua já não é
agora livre, porque o tempo permitirá às forças sociais que atuam
sobre ela desenvolver efeitos, e chega-se assim ao princípio de
continuidade, que anula a liberdade. (SAUSSURE: Edição original
1916, p 93.)

Não será esse o papel da era informacional, no caso da Internet, aplicável em


destituir o tempo, espaço e lugar a inferir as modificações em que agiriam sobre a
língua, sem que as forças sociais a percebessem em seus efeitos? Desse modo, a língua
não é livre, porque o tempo possibilitará que as forças sociais atuem sobre ela e
desenvolva seus efeitos e chega-se ao efeito de continuidade – deslocamento das
relações, consideravelmente - que anula o efeito a liberdade. Com a desconstituição do
tempo e lugar – ocorre a descontinuidade, pois, quais serão os efeitos desses
deslocamentos na língua? O lugar da língua não é o lugar nos fatos da linguagem? Uma
vez que para se encontrar a esfera correspondente à língua faz-se necessário colocar-
nos diante dos circuitos de fala, que supõe dois indivíduos, onde o ponto de partida é o
cérebro de uma delas. Por exemplo, A, onde os fatos de consciência (conceitos) se acham
associados às representações dos signos lingüísticos ou imagens acústicas e servem
para exprimi-los na linguagem. Se um dado conceito suscita no cérebro uma imagem
acústica correspondente, então é um fenômeno psíquico e um processo fisiológico. Em
seguida o circuito se prolonga em B numa ordem inversa. Se B fala esse ato seguirá e
passará pelas fases sucessivas, conforme Saussure (sem data de edição).
A língua não se confunde com a linguagem, é somente uma parte
determinada dela e essencial dela, sendo um produto social da faculdade da linguagem
e um conjunto de convenções adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos, enfim constitui algo adquirido e convencional. Já a
linguagem tem um lado social e um lado individual, sendo impossível conceber um sem
o outro. A linguagem implica um sistema estabelecido e uma evolução, ela é uma
instituição atual e um produto do passado a cada instante – aquilo que é e aquilo que
foi. Na verdade, a relação que une ambas as coisas é tão íntima que é difícil separá-las,
como elucida Saussure (Edição original 1916).
Dessa maneira, esses conceitos teóricos de língua e de linguagem são
cruciais, para perceber a importância da literatura, como linguagem do ser e do vir a
ser. Daí, a ênfase à leitura literária como modos de percepção da realidade no campo da
imaginação, da criatividade, e, também, na composição e estruturação da língua, como
tradicionalmente, vem sendo desenvolvida ao longo dos séculos. Determinadas
significações, somente são possíveis e perceptíveis, por meio da literatura, seja nos
poemas, nas poesias, nos contos, nos romances, nas aventuras, no humor etc. Em todo
desenvolvimento de ensino da língua materna, ou mesmo de língua estrangeira, a
literatura tem o seu lugar na tradição. Isso porque, tanto na similitude como na
representação, é a literatura, que possibilita as metáforas e paráfrases, a representar
algo que não é possível dizer, nem mesmo por palavras.
Outrossim, citamos o livro Filosofia das Circunstâncias (VÁZQUEZ, 2002),
para entendimento dessa práxis, levando-se em consideração os conceitos prévios sobre
a Filosofia da Práxis, a fim de evitar mal entendidos são importantes os conceitos como:
“filosofia da práxis”, “práxis”, “prática”, “teoria”, e “unidade de distinção entre teoria e
prática”. A Filosofia da Práxis constitui o marxismo, na medida que faz da práxis sua
categoria central e rechaça as interpretações, seja ontologizante (o problema é o das
relações do espírito e da matéria), seja epistemológica (o marxismo reduz a uma nova
prática teórica), seja antropológico-humanista (que considera o marxismo como projeto
de emancipação, num conceito abstrato de homem). Assim, o marxismo representa uma
nova prática da filosofia, mas o é por ser uma filosofia prática.

Em contraste com essas interpretações, a


filosofia da práxis considera em unidade
indissolúvel o projeto de emancipação, a crítica
do existente e a realidade a ser transformada.
O mecanismo em que se articulam esses três
momentos é a práxis como atividade real
orientada para um fim. Trata-se de transformar
o mundo (projeto ou fim) com base em uma
crítica e um conhecimento do existente
(VÁZQUEZ, 2002, pp. 167-168).

Doravante, as funções da filosofia da práxis vão desde a função crítica, a


função política, a função gnosiológica, a função de consciência, a função autocrítica:
todas elas determinadas por uma função fundamental: a função da filosofia, que como
teoria insere-se na práxis – uma transformação radical da filosofia, a filosofia da
revolução.
Logo, a língua tem um caráter de fixidez por estar ligada ao tempo, e não
apenas a coletividade. A todo instante a solidariedade com o passado põe em xeque a
liberdade de escolher. Se, no mundo contemporâneo com o desenvolvimento da
comunicação e seus instrumentos em massa, podemos pensar que pode ocorrer uma
movimentação e aceleração maior na modificação e transformação das línguas, por
conseguinte da linguagem, jamais perceptível antes, alternando, por conseguinte o
meio social, de maneira significativa, com novas configurações atendendo a práxis da
economia política, enquanto ideologia. Se, por outro lado, a literatura é um lance –
nesse jogo de xadrez discursivo - através das histórias faladas e escritas, na linha das
gerações, e se no mundo contemporâneo, com o avanço da era informacional os
textos são mais disseminados na linha descritiva, podemos então perceber uma
desconexão da teoria da Análise do Discurso (segundo Foucault e Pêcheux) com o
pensamento saussureano, que prevê a tradição como elemento favorável à fixidez da
língua ligada ao tempo passado, através das gerações.
Em outras palavras, numa visão histórica da Linguística, a língua não é o
único objeto da Filologia, que quer interpretar, comentar os textos, mas a leva a se
ocupar da história literária, dos costumes, das instituições, onde ela utiliza-se do seu
método próprio, que é a crítica. (SAUSSURE, Edição original 1916, p.7) Já, a matéria da
Linguística, é constituída por todas as manifestações da linguagem humana, todas as
formas de expressões.
Portanto, resta saber que a Linguística tem relação estreita com todas as
ciências, que lhe tomam emprestadas e tomam dados. Porém, deve ser distinguida da
Etnografia e da Pré-História (onde a língua intervém a título de documento), distingue-
se da Antropologia (que estuda o homem do ponto de vista da espécie), enquanto a
linguagem é fato social. Eis algumas questões a serem respondidas. Deveria incorporar
a Sociologia? Que relações existem entre Lingüística e Psicologia Social? Afinal, tudo é
psicológico na língua. Já nas relações com a Fisiologia não seria uma relação
unilateral? Daí, a utilidade da Lingüística, segundo Saussure, seria interesse para a
História e a Filologia, que tenham que manejar os textos, já que a linguagem constitui
o fator mais relevante para a cultura geral dos indivíduos e das sociedades, conforme
explica. (SAUSSURE, Edição original 1916, pp. 7-25). Eis o contraponto de Saussure.
Mas para Saussure o lugar da língua é nos fatos humanos. Para ele a tarefa
do lingüista é definir o que faz a língua um sistema no conjunto dos fatos semilógicos.
(não se deve confundir a Semiologia com a Semântica). Na mutabilidade da língua, ele
expõe o princípio fundamental da Semântica, que estuda as alterações de significado,
uma vez que ele não realizou uma exposição metódica sobre tal tema (SAUSSURE:
Edição original 1916).
Já, o filósofo Foucault movimenta os “discursos’ e “contradiscursos”,
leituras e releituras de si e dos outros, numa perspectiva não realizada, invertendo os
discursos e os olhares diante da realidade, da metalinguagem, das metáforas e
paráfrases da linguagem. Remete a uma releitura para as instituições educacionais e
para Formação de Professores – uma visão institucional de um “sujeito” anônimo. A sua
contribuição para a Educação é para um olhar na memória, nos Arquivos educacionais
– enquanto instituição, a Escola (lidando com a linguagem e a escrita). É sob esse
método da Arqueologia do Saber, da análise do discurso, da subjetividade – que é
encontrado a linguagem do ser e da literatura, com uma possível autonomia. Michel
Foucault afasta as figuras psicologizantes e humanistas do sujeito e pensa numa figura
discursiva. Assim, ele desconstitui a ideia de sujeito como origem, como fundamento
dos sentidos. Livra-se da noção de sujeito constituinte e chega a figura do sujeito
imerso na trama histórica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente às imbricações e questionamentos de tal tema no campo das teorias


e da práxis, naquilo que se refere a língua, linguagem e literatura; podemos deixar em
aberto tais discussões naquilo que tange aos estudos e pesquisas. Entretanto, há que
se considerar que, logo as funções da filosofia da práxis podem determinar os
destinos das pessoas nos grandes caminhos a percorrer, se a escolha é de tal teoria e
não outra teoria, de tal conceito e não de outro conceito ou se, inversamente, for um
caminho cartesiano. Mas vale lembrar, que a aplicação da teoria x ou y, na prática deve
embasar nas características de utilidade social e nas suas repercussões nas massas.
Podemos finalizar dizendo que no mundo contemporâneo, não nos
desvencilhamos, completamente, das raízes dos ancestrais, no que diz respeito tanto a
similitude quanto as ideias de representação. Ainda, ocorrem múltiplas tentativas de dar
semelhança ao mundo real e aos seus objetos com palavras; há representações nas
escritas institucionalizadas; há interpretações e comentários sobre os escritos. Talvez,
em busca de uma verdade, mas não será isso o que estamos fazendo, nesse momento?
O conhecimento (da teoria e dos alunos) e a práxis das teorias, bem como
a sua abordagem em sala de aula é determinante para que o profissional em educação
saiba o que quer e aonde chegar no ensino-aprendizagem de seus alunos, especialmente
no processo de alfabetização e ao longo da vida escolar, até o ensino superior. O
fracasso escolar, algumas vezes, pode estar imbricado ao desconhecimento das teorias
sobre a linguagem, a língua e a literatura, o que não possibilita, saber o que fazer –
como ensinar e como aprender, não se trata somente de “ler e escrever”, mas a práxis
da leitura, da escrita e da fala discursivas. Ou, o contrário, saber das teorias, mas não
conhecer as condições e instâncias discursivas dos seus alunos, nem sempre possibilita
a filosofia da práxis. A clareza ou não da práxis e seus processos sistemáticos
repercutem com efeitos dominó, isto é, em cadeia, tanto nas situações micro, quanto
nas situações macro.
Podemos assim, dizer que, cabe a educação, especificamente a Didática,
numa análise pedagógica crítica das teorias de ensino, teorias curriculares, teorias
metodológicas, teorias epistemológicas; seja no campo do ensino das línguas (numa
visão lingüística de relação semiótica), seja no campo do ensino de literatura (numa
relação de representação), seja no campo do ensino do Direito (numa relação analítica
de aplicabilidade social), podemos perceber que há necessidade desse estudo – nas suas
relações de fronteiras com o saber - para melhor aferição e interpretação dos textos
lidos; no campo da práxis, isto é da aplicabilidade das teorias nos casos concretos
problemáticos.
Afinal, quais são as teorias, conceitos, que sustentam, tais ensinos e tais
aprendizagens nas suas relações de fronteiras com o saber? Sem dúvida alguma, há
que se considerar o sistema de língua (como sistema de idéias e sistema de signos);
além disso, também o sistema de escrita (sistema ideográfico e sistema fonético),
como ponto de sustentação das relações sociais dos indivíduos e das massas, na
repercussão das suas comunicações; a fim de se ter uma noção das causas, efeitos e
conseqüências, quando ocorre a interferência estratégica nesses sistemas, por meio
até de uma hipótese de desconstrução sistemática, ou ainda, contrariamente uma
sobreposição de sistemas. Ademais, os conceitos teóricos de língua e de linguagem
são relevantes, para a percepção da literatura, como linguagem do ser. Não é
aconselhável, simplesmente desconsiderar toda a base lingüística que Saussure traz
nos seus apontamentos, pois são eles que serviram de pontos de interrogação para
outras teorias chamadas inovadoras.
Os discursos e o seu conjunto de discursos se entrelaçam e se entrecruzam
em nós de redes e em cadeias discursivas, nem sempre completas, num modo de
estruturação integrada, e até desintegrada de discurso, individual, autônomo, não
dependente e, ao mesmo tempo, numa alimentação discursiva simbiótica, em processo
de migração de discursos e de interdiscursos.
Estamos vivendo permeados por ondas de propagação, de transformação de
conceitos, de teorias, de obras, de ciências, e, simultaneamente, espalhados e
mergulhados nesses momentos de transição. É praticamente impossível ater-se aos
resquícios de memórias do passado e aos seus rastros permanentemente, e deixar de
viver o presente, aparentemente acelerado. Pois bem, o tempo não é constituído no
passado, nem no presente, nem no futuro – é um tempo célere e flexível – do “sujeito”,
aparentemente atrasado, numa percepção de que não se terá tempo para fazer tudo que
esteja disponível para se fazer, humanamente. Mas afinal, o que é a ciência? O que é a
teoria? O que é o conceito?
Vale, portanto, ressaltar e avaliar a autonomia da literatura (além da
mutabilidade e imutabilidade da língua contrapondo às relações com a diversidade
discursiva) no seu contradiscurso, que constitui a atividade laboral analítica para muitos
que detém o interesse nesse campo de fronteira. Tais aspectos históricos lineares,
trazendo a continuidade da literatura na escrita são detentores da tradição da língua.
Analogamente, podemos referendar a autonomia da educação, no sentido
das escolhas, uma vez que ela cuida do modo de ensinar e de aprender nas suas relações
em rede com os diferentes saberes. Seria possível uma práxis da didática autônoma e
crítica, que lidaria na seleção desses diferentes campos do saber, diferentes teorias e
conceitos? Seria possível a constituição de um outro sujeito que não fosse anônimo e
que exercesse a sua autonomia, num discurso crítico? Ou será sempre um assujeitado à
trama histórica?
Observemos que o instrumento ideológico-tecnológico constitui-se no meio
de desencadeamento dos processos de movimento e de mudança, e também, de
transformações céleres. O seu campo de disseminação é a memória discursiva do ser
humano (quer a memória de longo prazo, quer a memória de curto prazo), pelos não
sujeitos, constitui-se no ambiente (que não é o espaço real, nem o tempo real, mas
virtual; ou seria a justaposição de ambos?) que é o da disseminação e propagação da
ciência e da tecnologia propostas e estruturadas, pré-construídas. Isso quer dizer, a
possibilidade desse deslocamento de conceitos de tempo, de lugar, de espaço;
desconstituindo os antigos conceitos e das noções destes termos, e também das teorias,
das obras e da ciência, que até, então, eram conhecidos pela tradição. Seria um
deslocamento de conceitos e de teorias?
Portanto, as escansões mais radicalizadas são aquelas em que os cortes
efetuados por um laborioso trabalho de transformação teórica, funda uma ciência
destacando-a da ideologia do seu passado e colocando esse passado revelado como
ideológico. Destacando a análise literária tida como unidade, por exemplo, esta revela
a estrutura própria de uma obra, de um livro, de um texto. E é desse modo que
Foucault vê a análise literária, não como a alma de uma época, não como os grupos,
nem as escolas, as gerações, nem os movimentos, nem o personagem do autor que o
veiculou a sua criação. Eis as escalas microscópicas e macroscópicas da história das
ciências, onde não ocorre a distribuição do mesmo modo, seja de uma descoberta,
seja de o deslocamento de um método, seja a obra, mesmo, de um intelectual. É claro,
que a história contada, nem sempre será a mesma. Ou será?

REFERÊNCIAS

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2008, pp.45-69.)

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Editora Coutrix, sem data
de edição, Edição original 1916, 12ª ed., pp.19-23, 83-93.

VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia e circunstâncias. Trad. Luiz Cavalcante de M.


Guerra. Rio d1973e Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pp. 166-177.

Professora de Língua Portuguesa. Licenciada e Bacharel em Letras (UFG) e Bacharel em Direito (UCG).
Especialista em Estudos Literários e Estudos Linguísticos (UFG) e em Direito (UNISUL/SC). Mestranda
em Educação (UCG/UNIEVANGÉLICA).

[1]
Análise do Discurso.

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