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@s artistas que prosperam são os que têm o coração na arte e os pés na terra.
Sea regular y ordenad@ en su vida para poder ser violent@ y original en su trabajo.
Gustave Flaubert
ÍNDICE
INTRODUÇÃO: @s artistas que prosperam são os que têm o coração na arte e os pés na
terra. página
6. O HABITO SIM FAZ O MONGE: De usos e costumes e demais hábitos (maus e bons)
que nos fazem o que somos página
7. O INVENTARIO DE NOSSA OBRA: Sobre as muitas opiniões que nos dão, sempre e
quando saibamos quanta obra ter página
11. FECHANDO ACORDO COM TERCEIROS: De como podemos incidir no mundo que
nos rodeia, funcionando como se deve
página
15. EXPOR NO ATELIÊ (OU QUANDO QUER QUE SEJA): De como não
necessitamos de galerias se queremos expor quando quer que seja, á nossa vontade
página
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ANEXOS
BREVE E CONCISA TIPI F ICAÇÃO DA GALERIA página
página
INTRODUÇÃO
A ARTE DE VIVER DA ARTE
@s artistas que prosperam são os que têm o coração na arte e os pés na terra!
atividade tão necessária para a sobrevivência física e espiritual dos indivíduos como o os
mil e um ofícios e profissões que permitem à humanidade florescer. Todo mundo precisa
isso pode, sem um só espaço para dúvidas, viver exclusivamente de sua produção
artística.
A missão deste livro é recuperar os esplendores de uma das mais antigas atividades
inventadas pela humanidade. Seu propósito é servir tanto a artistas emergentes que
procuram fazer seus primeiros esforços como a profissionais que já estão há anos na
lida.
Este ofício é profundo e maravilhoso, e requer muitos anos, às vezes a vida toda, para que
se possa exercê-lo em plenitude. Antes de entrar no assunto, pedirei ao meu leitor/a que
recorra à imaginação e se coloque a si mesm@ sob una lupa com o propósito de descartar
Existem alguns mitos que enaltecem, como os d@s médic@s abnegad@s ou o dos capitães
que afundam com seu barco. M a s quase sem exceção, os mitos que rodeiam @s artistas
há uns cem anos, quando muito, nos envilecem. Para ser artista – se diz – é preciso
“nascer com talento” e “esperar que as musas nos inspirem”, e enquanto isso não
casa normal), jamais sabemos que horas são e somos sempre informais; nossos bolsos
Seria difícil listar as falácias que continuam tecendo ao redor do nosso maravilhoso
mentira, é tão romântica! O pior é que há entre nós aqueles que vestem essa carapuça e
decidem, para sua desgraça, viver a farsa. Quanta gente com talento não almeja ser
Entre as falácias que se deve destacar de imediato está a crença que se não nos dão
atenção é porque “ninguém nos entende”, ou pior ainda, a que alimenta a esperança de que
esquecimento. Certamente para ser artista profissional se requer muito mais do que saber
trabalho e, sobretudo, cobrar o justo. Para viver da arte, nós artistas devemos organizar
nossas vidas de modo que tenhamos os tempos requeridos para criar, por um lado; e por
âmbito em que exercemos nossa atividade: um mundo farto, complexo e labiríntico. Não
sabem que para funcionarmos como se deve, dependemos de uma ampla rede de apoios
homens e mulheres especializados em mil e uma tarefas que nos proporcionam todo o
necessário para realizarmos nosso trabalho; existem representantes e galeristas (duas
ocupações muito diferentes) que são os principais encarregados de distribuir nossa obra;
colecionadores e toda a variedade de clientes, que são @s principais – mas não são os
bancárias, manter correspondência com terceiros, zelar por nossos direitos autorais e
Para conseguir tudo isso, devemos fotografar a obra que estamos produzindo e
inventariá- la (é necessário saber com precisão tudo o que temos armazenado), redigir
subsídios e mecenatos. Deve-se saber decidir quando vender diretamente e quando fazê-lo
empregados ou atuar de modo independente. Devemos inclusive saber como formar uma
@s que sabem disso são @s artistas que operam de maneira profissional. Alguns se
administrar- se de maneira cuidadosa: @s artistas que prosperam são @s que têm o coração
na arte e os pés na terra!
Tornam-se melancólic@s porque lhes parece que sua obra “não atinge o público”, há
muit@s caem abatid@s pelo caminho. Quem insiste em produzir sem se profissionalizar,
vão se amargurando porque não lhes chega o reconhecimento; produzem cada vez menos e
vendem pouco ou nada. Em sua frustração, se reduzem a falar mal de seus colegas e do
Aqueles de nós que conseguem ver como nossas obras comovem quando as
compartilhamos, são @s que praticam o ofício milenar com o respeito que exige a
disciplina : somos os que criam para logo fazer a entrega pontual de nossas criações. Só
assim se pode operar o verdadeiro mistério da arte, o da interlocução, através do qual nós
olhos do próximo, pode chegar a transcender. Se corrermos com sorte, nos destacaremos
em vida, mas, ainda que a fama ajude, não é o que importa: se é artista para cumprir
O senso comum
A única coisa que intermedia a desilusão e os prazeres do sucesso é o senso comum. Disso
se trata o livro: do senso comum que fui adquirindo ao longo da vida e que aplico desde
Quando voltei ao México, em 1974, depois de viver seis anos na Inglaterra, tinha 30 e
poucos anos de idade. Foi lá onde aprendi como ser profissional de fato e direito. Quero
dizer que por fim vivia daquilo que fazia. Capacitado nas artes tradicionais, mas metido
práticas e costumes anacrônicos até em seu próprio entorno, a profissão das artes visuais
(que naquele então ainda eram “plásticas”) se desenvolvia carente de suportes essenciais:
as galerias que havia podiam ser contadas em uma mão; escreviam por coincidência o
mesmo numero de crític@s nos jornais e revistas e apenas se lhes era outorgada alguma
esquina e não havia uma só tribuna especializada. Certo, umas quantas pessoas
compravam arte, mas daí a dizer que constituíam um mercado de arte seria mentira.
Nestas circunstancias, a única coisa que me permitiu avançar em minhas propostas foi
meu profissionalismo. Muita água passou por debaixo da ponte desde então. Á primeira
vista pareceria que conseguimos avançar, mas na realidade a situação mudou pouco na
os conhecimentos que aplico para administrar minha obra. No entanto, sou e continuarei
compartilhar experiências com colegas no México e outros países da América nossa, num
afã por diminuir os desgastes e dissabores que nosso trabalho encerra; também procuro
capacidade de nossa infra- estrutura de apoio. Isso nos permitirá perceber melhor a
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adiante, um passinho pra trás (e outro tanto pros lados), como acontece na atualidade.
Sedimento de nosso imaginário coletivo, a plástica, da mesma forma que todas as outras
artes (incluindo a culinária), é tão importante como uma cesta básica. Sua fragmentação
Agradecimentos
No Brasil, em 2007:
À Beatriz Arantes, alegre amiga e também ex-assistente, pela primeira revisão do texto.
circunstancias difíceis; sem seus comentários e observações este livro não seria o que é.
À artista plástica e ensaísta Paula M ast roberti, quem com muita generosidade e sem me
conhecer mesmo, cedeu graciosamente seu corajoso e esclarecedor texto, O valor da arte
contemporânea.
A escultora Sol Abadie pela tradução na última hora dos dois ensaios finais.
À M alu e Roberto Viana, pela sua paciente generosidade e o seu amor á arte.
No México, em 2000:
agradecimentos. Ainda não os conheço enquanto redijo estas linhas, mas quero que
saibam que ninguém melhor que eu sei que sem seu trabalho, este livro não existiria.
À Rosina Conde, poeta e escritora, editora cúmplice, por corrigir, melhorar e cuidar deste
Devo mencionar, assim mesmo, o Sistema Nacional de Criadores. Foi, sem dúvida
Nacional para a Cultura e as Artes, o que permitiu sentar cabeça e traduzir o oral para o
escrito; e depois, muito obrigado á confiança que o SNC concedeu à Biombo Negro
Não sou um iludido: não só aprendi que para chegar à redenção é preciso dirigir nossos
próprios esforços com precisão, também aprendi que não há possibilidade de exercer a
profissão de maneira isolada, sem contar com as cumplicidades carinhosas d@s colegas.
Neste manual resumo os conhecimentos que muita gente me ensinou ao longo da vida, teci-
admirad@s, como a historiadora e crítica Raquel Tibol, a atriz Lilia Aragón, o fotógrafo
Pedro Meyer, o situacionista Juan José Gurrola, o artista brasileiro Rubens Gerchman,
(RIP), pela confiança inicial, a Tere del Conde, o velho gringo Howie Becker, @s
fotógraf@s Nathan e Joan Lyons, @s FLUXian@s Dick Higgins (RIP), Takako Saito
e Carlos Zerpa, e a grande historiadora Shifra Goldman. Todos são amigos muito,
muitíssimos queridos que sempre exerceram suas atividades com ética e profissionalismo.
Incluo neste livro certos segredos e doces artimanhas do ofício que aprendi com
Morado, M anuel Felguérez, José Luis Cuevas, Rosa Luisa M á rquez e Antonio
M a r torell, Francisco Toledo, Silvia Pandolfi e a irmã Karen Boccalero (RIP). Seus
admitir que se ainda me depare com problemas, isto se deve a minha própria intolerância
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e teimosia.
maior mestre, Arnold Belkin. Ao mesmo tempo, também o dedico à minha filha Annatlalli
Ehrenberg Diaz, cuja tese versa sobre a comunicação em casas de cultura, e a meu
sobrinho Ary Ehrenberg Lesur, quem como artista incipiente, poderá consultá-lo para
De modo muito especial, agradeço aos deuses e deusas pela existência de meus filh@s e
meus net@s, cujas vidas são – e foram sempre – minha razão de ser artista. Suas
milagrosas vidas me impulsionam a organizar a minha num afã de legar-lhes algo mais
que minha coleção de chapéus usados. Agradeço à minha esposa Lourdes Hernandez
Fuentes (a Cozinheira Atrevida) pela tranqüila paciência que teve comigo durante o tempo
que desapareci atrás do monitor de La Calandria (meu PC), bem como pelos acertados
comentários que me fez depois de cada leitura que lhe pedi; obrigado também a Francisco
Rocha Merino, desenvolto assistente que tão bem me cobriu as costas em outros misteres,
As etapas finais do livro foram dias de trabalho braçal ingrato: um milhão (e muitos
Rosina Conde, que leu e anotou e corrigiu e limpou o deduscrito (eu teclo com dois dedos).
Last but not least, obrigado a Vampi, minha gatinha, que decidiu ter sua camada de seis
bolinhas em vez de trepar- se a meu colo. Obrigado a todos: em seu coração sabem bem o
alguns, mais recentemente, a inventar sua muito particular versão do exercício curatorial.
Longe da academia (quer dizer, fora das grandes cidades que contam com centros de
ensino superior de artes) o grau de mortalidade é talvez menor. Com outros ritmos,
outras exigências; se não há escola para compactar oito semestres em uma tese, não há
vara que regule a qualificação. Quem se torna artista na caminhada tem toda a vida
Seja como for, os números refletem a realidade: muit@s começam, pouc@s conseguem ser
entrelaçados num universo paralelo de gente sem cuja presença ativa seria impossível
sobreviver, e o contexto que nos rodeia é um labirinto cujo motor é o dinheiro, mais na
Hoje, nossos mundos de arte distam muito do que foram não há muito tempo: nós
Antanho, o uso do objeto artístico, fosse este um desenho, uma estampa, uma tela ou uma
escultura, reduzia-se a umas quantas pessoas e cumpria funções simples, ainda que
profundas.
Hoje, a arte mudou, mudaram seus materiais e seus suportes, mudaram seus alcances.
Continuamos usando tinta a óleo, mas também pintamos com uma infinidade adicional de
inusuais. M as por que não? Acaso não acontece o mesmo com as demais tarefas
humanas?
sofisticados ao extremo. Sua versatilidade permite e propicia que uma obra de arte
cumpra muitíssimas outras funções – que tenha mais usos – e que sirva a uma maior
quantidade de pessoas.
Ainda que hoje, como antes, as obras continuem sendo usadas para ornamentar luxuosas
residências e dar lustro a escritórios públicos e privados, também são usadas para
iluminar com seu brilho esplanadas comerciais e halls de hotéis e hospitais. São
utilizadas para incitar o turismo, vender produtos fotográficos, como base de programas
de computadores, para anunciar licores, como capas de livros e discos, para decorar
cenários de telenovelas, para constituir e herdar capitais, até para lavar dinheiro sujo! O
convivência.
A vida cênica é gregária e seus praticantes percebem ingressos que provém, de forma
reprodução de seus textos na imprensa e por meio da venda de seus livros, de conferências
e seminários. Para a maioria d@s artistas, no entanto, a natureza de nossas obras nos
quantidade relativamente pequena por entrada, e do que entra na bilheteria sai para os
edição de um livro se divide e seu autor/a geralmente recebe 10% de direitos. Vender
bilheteria e em livrarias requer medidas muito distintas das que se requer para convencer
Enquanto isso, nós artistas temos dificuldade para compreender quanto mudaram as
são sempre @s propri@s artistas. Tanto se amplia e se bifurca nosso território que,
para prosseguir nesta leitura, temos rever suas especializações. A plástica se parece
uma das quais tem suas particularidades técnicas, sua história, sua teoria, e claro, seu
obra retinal (ou retiniana), que inclui tudo o que se sustenta em objetos. Menos conhecido
é o da obra conceitual (ou não objetual), que privilegia as idéias relativas ao visual, o que
Desenho
- carvão e à sanguina
- grafite (lápis)
- giz e pastel
Pintura
- guache
- encáustica
- óleo
- aquarela
- acrílico
- talhada (madeira),
automotores,
- instalação (de cunho recente, freqüentemente efêmera) que pode incluir áudio e/ou
vídeo,
- ambientação (recente, frequentemente efêmera) que também pode incluir áudio e/ou
vídeo;
- carimbos e a rolo
- colografia,
- revelada,
- digitalizada,
Têxtil
- macramê,
- tecido,
- tingimento (e batik),
- misto, Etc.
Cerâmica
- modelada,
- moldada,
Artes temporárias
- vídeo,
- digitais.
como a emergência de grupos sociais outrora reprimidos já não permitem manter essa
circunstância mundial. Com isso quero dizer que é necessário colocar a grande
criatividade de artistas que se identificam com as chamadas etnias, dentro de qualquer
uma das especialidades acima elencadas. Sô um exemplo: no vale do Rio Balsas, no estado
de Guerrero ( MX), há muitos artistas ceramistas por tradição, que nos últimos anos
criadores do mais alto calibre, que já começam a ser reconhecidos no exterior. Se a política
cultural do México –e na maior parte dos paises da América latina- não fosse racista,
Pelo andar da carruagem, tudo indica que nossa lista terá que continuar sendo ampliada
mercados diversificados e uma cidadania assaz receptiva que permite a@s artistas
desenvolvidos como o México e o Brasil existem, é claro, infra- estruturas parecidas; mas
como ainda é frágil a engrenagem entre suas partes e no resto da sociedade, e como os
reduzida quase a zero. Talvez seja melhor assim: maior especialização, menor visão
o próximo.
durante séculos, e muito bem, a escultura. Legado de nosso passado pre-colombiano, ela
atualidade, no entanto, pouco se interessam por nossa história, muito menos por nosso
guiados pela frivolidade de revistas importadas de moda e decoração, imaginam que uma
escultura só pode ser de pedra, metal ou cimento, e que dizer “arte” é dizer “óleo”. Para
satisfazer seu afã de consumo conspícuo, as galerias pressionam para que @s artistas,
adiante.
ostentosos e muito mais curiosos, aos que podemos chegar sem necessidade dos serviços
de galeristas, de maneira direta, desde nossos estúdios. Refiro-me a gente como nossos
necessidades estéticas deste outro público podem converter-se em poderoso estímulo para
ampliar nossa capacidade expressiva, para utilizar uma maior variedade de técnicas,
Eu, por exemplo, não pratico apenas uma ou duas técnicas, na verdade sou (da mesma
forma que um clínico geral) um profissional geral. Tenho duas poderosas razões para
trabalhar assim: por um lado, minha desmedida curiosidade e minha impaciência (me
aborreceria só pintar ou fazer gravuras); por outro lado, a quase provinciana timidez do
mercado mexicano (que não admite nada além do que lhe seja familiar). De modo que, há
muitos anos, produzo com alguma perícia e muitíssimo prazer desenhos, estampas e
pinturas que vendo principalmente no México, a preços mais que justos; enquanto me dou
especializações que são realizadas por técnicos e profissionais, com o objetivo de enlaçar
a@s artistas e sua sociedade com maior eficácia. Tais especialistas nos podem ser de
extrema utilidade, por isso deve reconhecê-l@s com cuidado para saber o que fazem, como
Muitas dessas pessoas são cúmplices d@s artistas, outras cumprem tarefas de
como e quando recorrer a eles. No conjunto, suas habilidades e serviços nos permitem
Técnic@:
artistas;
- emolduradores de arte;
Prestadores de serviço:
arte);
- transportadores especializad@s, que sabem mexer com obras de arte sem danificá-
las;
atividades adjacentes;
no México);
Pessoal de exceção:
Trata- se de cúmplices que nos amam (pelo menos, assim supomos), que nos conhecem
intimamente, que sabem pelo que passamos para criar, e que costumam presentear-nos
Ainda se conta em muitas sobremesas, para explicar o êxito do mestre Rufino Tamayo,
que ele era um santo dadivoso e amoroso enquanto Olga, sua esposa, era uma mercenária
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avara e desalmada. A fofoca oculta um dos elementos mais importantes relacionados com
pequeno comércio, e que enquanto uns d@s dois atende o balcão, seu companheiro se
encarregue de atender os fornecedores e fazer entregas. Também não é incomum que dois
De fato, quantas empresas não surgiram do esforço conjunto de um casal que decidiu
tentar a sorte para prosperar? M as é tal o gosto pela fofoca que se perde o ensinamento
que a anedota do matrimonio Tamayo encerra. Que ignorância! Não apreciam o aspecto
pragmático do assunto: enquanto uma metade do binômio cria obras de arte, a outra
metade pode atuar como gerente para administrar a produção. Os Tamayo prosperaram
porque ambos assumiram funções complementares, O mestre Rufino pode ter sido o gênio
que quiserem, mas gênios abundam. O que falta são que gênios se administrem.
@s intermediári@s :
Diferentemente d@s técnic@s, com quem estabelecemos relações de trabalho claras e sem
geralmente têm agenda própria, quer dizer, quando recorrem a nós é para cumprir
No âmbito da IP :
funcionam bastante bem, onde comprovaram serem mais úteis que @s donos de
- historiadores/as da arte;
- curadores independentes;
- crític@s de arte;
Tudo se traduz em criar um grêmio. (Não, isto não é um erro de edição. A repetição é
proposital).
- historiadores/as de arte;
- sociólog@s da artes;
- curadores/as;
independentes;
verdadeiras...
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Acima listamos quem devemos considerar pessoal de apoio direto. Trata- se de pessoas
infra- estrutura. São, em paises desenvolvidos, figuras respeitadas, mas não temidas.
Dizer que nossa sociedade está em “vias de desenvolvimento” é querer dizer que nossa
infra- estrutura está tão cheia de buracos como uma esponja, e que é apenas um esboço
daquilo que esperamos que chegue ser algum dia. Boa parte de nossas falhas obedecem à
cultura. Também @s artistas, gostemos ou não de admiti-lo, fazemos parte desta triste
desempenham mal ou dirigem com imperícia as coisas é porque nós permitimos, seja por
a trabalhar com rigor, disciplina e honestidade teremos que fortalecer nossas relações
com os setores técnicos e de serviços. Vejamos então qual é a diferença entre PAD e PAI.
considerados pessoal de apoio. No entanto, aqueles lápis não são para uso exclusivo dos
Na mesma fábrica, outro grupo de operários produz lápis de cor com grafite de cera
(melhores do que se produzem nos EUA, diga-se de passagem), portanto são pessoal de
apoio direto, já que o destino dos ditos produtos é direitinho á mão do/a artista, ainda
cavaletes. Pode nos ser útil – como pessoal de apoio indireto - para construirmos uma
mesa de trabalho comum. O dia em que siga os planos para construir uma mesa de
desenho ou um bastidor passará a ser pessoal de apoio direto. Daqui para frente
poderemos recorrer a ele com a confiança de que nos será útil no âmbito particular.
Nosso grêmio inclui fotógraf@s, muit@s dos quais subsidiam suas propostas criativas
com o que ganham em trabalho de corte comercial, fotos para revistas de moda ou
mural de cerâmica, uma instalação ou uma performance. Podemos ser úteis a eles se os
ensinarmos como fazer. Então passam a ser pessoal de apoio direto para artistas.
profissionais de todo tipo e gente que nada sabe de arte podem, se assim o desejarem e se
Nosso público (agora sim): Públicos ativos (PA) e Públicos Passivos (PP):
De acordo com a muito sensata classificação de públicos que faz o professor Becker,
nossos espectadores podem ser divididos em dois setores: público ativo (PA) e público
passivo (PP).
O PA, que é uma minúscula minoria aqui e nas ilhas Fidji, compra arte. Quem não
compra -a grande maioria- são PP. O curioso deste assunto é que enquanto o primeiro
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(PA) representa o setor pouco entendido em assuntos de cultura e arte, é no setor PP onde
encontraremos as pessoas mais receptivas às artes. Não terá capacidade aquisitiva, mas
leilões e costuma adquirir os chamados coffee table books de luxo; enquanto o PP é aquele
que visita museus e galerias de casas de cultura, e compra revistas de arte em sebos ou
artigos de segunda mão. Embora o público ativo nos pareça, à primeira vista, mais
apoio direto (PAI) em direto (PAD), podemos também incidir para transformar o PP em
PA. Não é que podamos fazer que fiquem ricos (deram saltos de felicidade!), mas sim
podemos pôr nosso trabalho a seu alcance, quer dizer, vender nossas obras a preços
acessíveis. Parece fácil e realmente é. Basta definir como e em que circunstancias a obra
Haverá ainda quem insista em alegar que “nós artistas estamos sozinhos”?
II. OS ESPACOS PARA A PRODUÇÃO ARTÍSTICA
De o simples encontrar soluções imediatas e mediatas
para resolver nossos problemas de espaço.
quase tod@s @s artistas do mundo. Depois de formar- se, @s jovens emergentes passam
pintar no quarto entulhado de coisas na casa dos pais ou, na melhor das hipóteses,
acordo com dois ou três colegas e amontoam-se num apartamento alugado. Depois de
alguns meses entram em disputas por causa do espaço divido e, confusões daqui
confusões dali, acabam brigados de morte. Uma vez mais, sem lugar onde trabalhar.
O triste é que tem quem nunca aprenda a remediar seu problema de espaço. Deixam que os
anos passem, casam-se, têm filhos, mas persistem em trabalhar sob condições
inimaginavelmente precárias: no quintal que algum dia cobriram com placas de eternit,
escultura em pedra, pois onde colocar o tórculo e a caixa de resina e as bandejas para os
2 Antes de que se me echen encima los comentarios del mundo académico, quiero dejar bien claro: no tengo
NADA contra profesores. El grave problema son los usurpadores. Me refiero a aquellos artistas que por
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haja espaço (cruzam os dedos) para trabalhar. Poucas vezes são satisfatórios esses
arranjos. Para um/a artista, qualquer emprego se traduz, não em espaço, mas em
salário; e um salário é igual à morte criativa (bem o dizia Dick Higgins: tenure is death,
conseguir uma base é morrer...). Muit@s pouc@s artistas que ocupam espaços alheios
contam com áreas para diversificar sua produção, muito menos contam com o espaço
físico necessário para deixar as obras de ontem à vista e compará- las com a peça em
processo hoje.
Além do mais, produzir não é tudo. Se não contamos com espaço adicional para
armazenar nossa produção, como será possível ordenar o inventário necessário para
será a de conseguir espaço apropriado para criar à vontade. Só assim alguém pode
desenvolver-se e crescer. O lugar ideal deve satisfazer não só nossa produção atual: deve
servir para o que vier no futuro. No momento de montar ou desenhar um ateliê à nossa
cualquier razon, porque su trabajo no cabe en los espacios de prestigio y no estén dispuestos a exponerse en
espacios mas... digamos, inmediatos, o porque no supieron cómo ganarse el pan con su obra, sin
entermediarios; deciden entonces ganar un salario como profesores, sin haber estudiado pedagogia. Ser un
profesor especialista en el sistema circulatorio es muy distinto a ser médico hematologo y nada nos
garantiza que un buen hematologo pueda ser un buen profesor. Lo mismo en el arte. La regla en centros
avanzados de enseñanza del arte es que los profesores estudien para ser eso mismo, profesores de arte. Es el
conjunto de profesores de arte lo que forma un artista profesional. El artista se forma para ser artista, no
para ser profesor, a menos que decida NO ser artista. Debe entonces cursar una capacitación adicional.
Ciertamente, hay excepciones, ha artistas que saben transmitir correctamente su experiencia. Pero son
garbanzos de a libra.
desmontáveis), cadeiras e bancos, prateleiras para materiais e ferramentas, luminárias
Para elaborar pintura e estampa, e, dependendo, para esculpir, modelar etc. são
com uma área aberta e de múltiplos usos que nos permita experimentar e projetar antes de
exibir ao público a(s) obra(s) em turnos, de modo que possamos evitar a improvisação
Zona de escritório:
com um espaço dedicado à administração de maneira exclusiva. Com isto, além de não
entulhar as zonas de trabalho com papéis, pizzas velhas e ressecadas, cartas de amor ou
negócios, baralho, contratos, camisinhas e demais coisas, para nos facilitar aquelas
Hoje em dia, nós artistas devemos contar com um computador (com seu modem e tudo o
mais), com pelo menos com dois telefones e suficientes arquivos, tanto para documentos
Zona de armazenamento:
Assunto de máxima prioridade, o armazenamento seguro e limpo de nossa obra deve ser
planejado com cuidado, para resguardar a obra em processo, sem marcar e/ou a obra que
esteja pronta para sua exposição. Deve-se desenhá-lo de maneira que se possa incluir
Zona de exposição:
Todo ano, uma plêiade de artistas emergentes se soma aos contingentes em atividade que
competem entre si para fazer ato de presença em fóruns nacionais. Seu número
existem por aí. É ilusório e contraproducente pensar que estas empresas são nossa única
possibilidade de vender. Dai que tant@s artistas, em todo o mundo, regressam a essa
antiga tradição (que existia muito antes de ser aberta a primeira galeria): expor e vender
no próprio ateliê!
Qualquer pessoa agradecerá a emoção que lhe causa visitar um ateliê: estudantes,
que acrescentam substância à nossa lida. Esta zona deve cumprir os seguintes requisitos:
Boa iluminação, necessária para banhar de luz a obra que queremos mostrar.
Muito cuidado com focos incandescentes porque dão uma luz muito amarela, que
fluorescente.
Mobiliário e/ou suportes para exibir a obra uma por uma (cavaletes, “tesouras”
para expor obra não emoldurada, tamboretes de leitura etc., sem esquecer mesa de
luz e/ou projetor de slides e tela, para estudar transparências). Com moveis
Acessos generosos (portas, janelas, garagem... na mesma rua) para não termos
Iluminação apropriada (tubos de néon branco balanceados com luzes amarelas e azuis,
Tomadas especiais (talvez até para corrente trifásica) prevendo a possibilidade de usar
Ventilação até o exagero: em geral nós artistas descuidamos dos gases, eflúvios e pós que
o nosso trabalho causa, e com freqüência padecemos de males que poderiam ter sido
evitados.
mas só para quem desconhece as veredas da profissão. Profissionais que somos (ou
queremos ser), nossa obrigação é fixar como meta clara, imediata, a obtenção de um
espaço que, embora reduzido, nos permita trabalhar, expor e vender da maneira mais
cômoda possível. Não se pode esquecer nunca que... Quanto maior a produção, maior a
projeção!
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Existem somente dois caminhos para resolver o problema: improvisar com engenho para
A garagem?), ou ainda alugar um lugar que seja o maior possível. Ambas as opções têm
dia foi a capital da arte?). Entre as amizades que fui visitar havia um casal de artistas,
(ah! Que tempos aqueles!). O lugar era longo e estreito, mínimo!, como dizer que era quase
tão estreito como a única janela que dava para a rua. O singular é que ali viviam, ali
trabalhavam, ali recebiam visitas. Evidentemente, era um espaço de usos múltiplos, pois
elevada até o teto para abrir espaço a uma mesinha, que por sua vez saía de um armário
colado à parede. No outro extremo do apartamento estava à mesa de trabalho que ambos
usavam, cujo tampo se levantava para descobrir o espaço no qual guardavam papéis,
Eu mesmo, quando alguma vez soltei as amarras e me atirei às léguas, viajava com um
uma mesa cujas “pernas” eram dobráveis (como a porta de um elevador antigo). M ais
para produzir onde quer que me encontrasse. Quanto ao escritório, pois, um laptop era
Isto, creio, pode dar- nos uma idéia de como redesenhar o espaço que ocupamos neste
momento, e incluir pelo menos alguns dos elementos mais importantes acima enumerados.
Não se pode esquecer ter sempre à mão o que usamos com maior freqüência, para evitar
tão cobiçada zona baixa de M anhattan, ao sul da Avenida Houston (hoje conhecida como
roupas, em um empório de prósperas galerias, lojas muito chiques, bares e cafés. Tudo
obrigadas pelos novos regulamentos, iam abandonando a ilha, deixando para trás
Estou falando, claro, dos famosos lofts, cuja ocupação e transformação em ateliês de
estúdios, viram que o mais prático era abrir suas lojas e galerias perto de seus clientes e
provedores. O resto é história, um fenômeno que se estende cada vez em mais cidades do
mundo.
cultural, continua sendo um modelo a seguir. Um dos bemóis do fenômeno é que esta
Paulo, onde no início dos anos 90 os aluguéis baratos congregaram a gente de todas as
disciplinas, agora jà não convém mudar- se... Sic transit gloria mundis. M as sempre haverá
outras paragens baratas e práticas em uma urbe. Não obstante a isto, @s artistas
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restrições);
Dividir é abater gastos fixos (aluguel, luz, água e manutenção). M a s dividir é também
conviver. Daí que, para colocar-se de acordo com três, quatro, quiçá até mais colegas,
normas que devem ser consideradas tanto no que diz respeito à prática tanto quanto no
A tarefa de encontrar um lugar ideal deve ser decidida entre todos os citados cúmplices.
Falar é fácil, mas não se pode esquecer que todo grupo se divide em dois tipos de pessoas,
as ativas, que fazem tudo sem se abalar, e as passivas, que fazem pouco ou nada.
Para começar, o grupo em seu conjunto terá que determinar em que parte da cidade
rua pessoalmente. A tarefa é tediosa e pode ser delegada a um dos colegas, sempre e
É obvio que quanto mais pessoas se unam para dividir, maior deverá ser o espaço, e a
regra de ouro diz: quanto maior espaço, menor é o aluguel por metro quadrado.
U MA DICA: Acontece que em quase todas as cidades existem imóveis que são de
propriedade da prefeitura. Vale a pena começar por ai, já que por se tratar de artistas e
com a intenção de dar uso a grandes espaços, as autoridades locais costumam assinar
Responsabilidades legais:
Logo após a aprovação por consenso do espaço ideal, vêm as primeiras complicações. A
menos que o grupo se registre como associação (possibilidade que não se pode descartar),
alguém do grupo terá que se encarregar de negociar contratos: de luz, telefones e aluguel,
seja esta de comodato ou não (por um ano? por cinco?), para o qual se requererá algum
ante seu aval pela duração do contrato; que o depósito será pago em partes iguais e que
por escrito como adquirirão os bens que lhes serão comuns (muros divisórios, instalações
Acordos éticos:
Tão ou mais importante que os acordos práticos são os acordos éticos que precisam ser
entre pessoas com hábitos muito diferentes de vida e trabalho. Se para sua própria
39
comodidade alguém decide trazer, por exemplo, uma cafeteira ou uma geladeira, será ela
determinar como a usarão os demais. De fato, comprar um pacote sempre baixa custos
mesmo se aplica a coisas intangíveis como o tempo e os comportamentos de cada um, que
Finalmente, os espaços compartilhados podem ser utilizados não só para criar, mas
também para expor e realizar eventos públicos coletivos. Mil e uma experiências em todo o
mundo demonstram que o impacto de artistas unidos é sempre maior que a soma de suas
partes.
III – OS TEMPOS DA PRODUÇÃO ARTISTICA
De quão simples é encontrar soluções imediatas
e mediatas para redesenhar os tempos disponíveis,
necessários para produzir.
anos. Uma das primeiras perguntas que faço aos participantes é: “A que horas vocês
trabalham para criar suas obras?” Quase sem exceção me respondem “à noite!”
aprender a viver de sua obra, quer dizer, pessoas que desempenham dois ou mais
Como conseqüência, produz suas criações no tempo livre que lhe resta! Tempo geralmente
noturno.
Artistas ativos, ou seja, criadores/as de período integral conhecem bem quando produzem
melhor, a que horas as idéias lhes ocorrem, em que momento do dia ou da noite podem
entrar em transe e trabalhar sem se cansar e até resolver a obra. São marés internas que
nos animam para ditar quando estamos “em baixa” ou “em alta”, o que alguns
que produzem aos poucos, em impulsos esporádicos, poucas vezes chegam a dar- se conta
Uma maneira de resolver o problema, uma medida tática em nossa estratégia para viver
da arte, é não procurar ocupações alheias à própria que nos distraiam em tempos de
maior criatividade. O ideal, é claro, é não trabalhar mais que em sua própria obra. Assim
horas: umas (as altas) para desenhar, pintar, o que é muito importante, conceber idéias;
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outras (as baixas) para nos administrar e cuidar de assuntos vindos do mundo externo,
professor.
Há muitos artistas, é claro, que enriquecem a vida com atividades complementares, e para
os de mente aberta, estas adições também são medidas táticas. Conheço desenhistas que
estudam as cactáceas com a mesma seriedade (e talvez maior acerto) que muitos
biólog@s. O Dr. Atl se converteu em eminente vulcanólogista, José Fors faz bicos com
grande sucesso como músico, eu mesmo divido tempos iguais entre o visual e o literário.
A agenda de bolso
Hoje é impossível funcionar de modo profissional se não distribuímos as horas da vida.
Para isto serve a agenda, ferramenta de enorme utilidade. Muit@s a usam como parte
de medidas táticas que traçam para, em sua estratégia, alcançar a meta. O que
surpreende é o mau uso que fazem da mesma: saem de casa ou do ateliê ao vasto mundo,
agenda na mão (bom, na bolsa), e passam anotando com muita diligência quantos
perplexidade que “nunca têm tempo para nada”! Por muito simples que pareça, o
Parecerá uma trapalhada, mas quantos de nós, pelo simples fatos de saber-nos artistas,
Quem precisa controlar a agenda não é o mundo exterior, mas nós mesm@s! Dito em
outras palavras, a agenda deve ser utilizada como ferramenta de controle e proteção, deve
servir-nos em primeira instância para poder cumprir com os compromissos que nós
mesm@s nos determinamos. Só então a presença de terceir@s pode ocupar nosso tempo.
domingo anterior, e marcar com precisão que dias, que horas dedicaremos no curso da
vida familiar!). Com base nessas anotações poderemos então ir acomodando nas lacunas
que ficam, aqueles compromissos que surgem do mundo externo ao longo da semana.
Não se pode esquecer que a agenda bem utilizada (boa tática) se converte também em
diário de bordo. Daqui a muitos anos, quando alguém quiser organizar uma
sociólogo uruguaio trazendo-nos fatos que já quase tínhamos esquecido... Bom, todos
sabemos como são importantes os diários na hora da verdade. Essa verdade tem que ser a
nossa verdade.
traga malefícios o glamour que nos rodeia, baseado em nossos horários e nossa forma de
vestir (como não vamos andar com a roupa manchada de pigmentos, se isso é o que
fazemos!), existem aspectos da lenda maldita que nos colocam em plena desvantagem.
bienal, com qualquer funcionári@ cultural, inevitavelmente, nos debilita e lhes dá margem
para recusar um projeto, ou pelo menos para desconfiar de nós. Da mesma forma,
chegar na hora (ou antes, se possível) serve muito para colocá-los na defensiva: sua
desculpa, por muito automática que saia, valerá como ponto a nosso favor.
43
Ser pontuais nos dá tempo para transferirmos ao território conceitual da pessoa com quem
vamos tratar e, no processo, armar melhor nossas alegações. Trata- se sempre de alcançar
nossas metas .
extremo cuidado, dia a dia, para não desperdiçar as mil e uma possibilidades que nos
Que fazer para não nos desconectarmos quando nos roubem a bolsa ou o port-fólio,
guardados num fichário, que deve estar sempre no escritório, perto do telefone. (Uma
Eu sei, eu sei. O simples fato de pensar em fazê-lo dá preguiça, mas sem um fichário
ninguém, nem @s artistas, podem funcionar. M ais adiante falarei deste fichário e de
como dividi-lo; enquanto isso, darei uma simples recomendação: para evitar as terríveis
soçobras do isolamento que causa a perda da agenda, deve-se foto copiar (xérox ou
scanner) suas páginas cada três ou quatro meses e guardar as cópias enquanto não se
O calendário na parede
O prolongamento direto da agenda é o calendário de parede que se pendura sempre no
lugar mais visível do ateliê ou, melhor ainda, do escritório. Pode-se traçar um à mão, mas
prazo.
parede é útil para organizar universos de trabalho mais complexos, como para projetos
Nos países desenvolvidos, quem se encarrega de boa parte dessas funções operativas são
exclusividade. Nem o México ou Brasil, nem o resto da América Latina costumam manter
essas relações tão úteis, o que nos obriga, a nós artistas, a fazê-lo nós mesm@s.
Cronologias regressivas
No calendário de parede se marca a data de inauguração de uma exposição. M a s a
abertura não é tudo. É preciso cuidar do sucesso de sua permanência, portanto, devem-se
consignar, em ordem cronológica regressiva, outras datas- chave que assegurem que tanto
a inauguração como os dias que durará a obra exposta cumprira bem sua função:
Quanto tempo demorará em ser editado o catálogo, mas ainda antes disso,
Em que dia devemos emoldurar a obra (e quantos dias demoram em fazê-lo), e antes
disso,
Em que dia deverá ser fotografada a obra (levando-se em consideração que se a obra é
sobre papel ou fica atrás de um vidro, sua foto deve ser feita antes de emoldurá-la... e
levando-se em consideração o tempo que o/a fotógraf@ levará para revelá-la e entregá-la)
45
Tempos e temporadas
Se a economia do país se dinamiza no rumo do final do segundo semestre e aumenta o
fluxo de dinheiro, o lógico é apresentar as exposições mais importantes nessa época, senso
comum posto em prática. Daí que, há muito tempo, as cidades mais importantes do
mundo estabelecem uma temporada de exposições, temporada esta que começa na segunda
programar mostras paralelas: se o Museu Tal Qual anuncia que apresentará uma mega
Do mesmo modo que há um tempo para expor, também há o tempo para produzir: a
meses que também são dedicados a@s artistas emergentes que, ao emular as ações da
estabelecem planos de trabalho para o resto do ano e os que estão por vir.
Planejar é adiantar- se para que as coisas saiam melhores. Não se pode esquecer que @s
mostra necessitam tempo para contemplar as obras e depois redigir seus textos...
Rapadura é doce, mas não é mole não! Quanto mais tempo lhes dermos a esse pessoal de
apoio direto (PAD), melhor sairá o texto que nos escreverão. Se tais escritos não saírem a
tempo será difícil para os repórteres e cronistas (também PAD, lembra?) redigir a
informação.
Em relação à maneira de nos movermos no tempo, creio que o mais importante é reconhecer
que temos uma única oportunidade para vivê-lo. Não existe assunto que mereça nosso
tempo se este não pode estimular nossa imaginação e enriquecer nossa tarefa criativa.
Os bloqueios
Há ocasiões em que “as musas se esquecem do artista”, quando simples e absolutamente
não nos ocorre absolutamente nada, por mais que folheemos livros de arte e conversemos
com os colegas. Estes períodos de vazio duram poucos dias, quando muito um par de
prolongar por meses. Então começamos a nos deprimir, certo de que perdemos o “dom”.
Alguns artistas ficam tão espantados que cheguem a extremos como o suicídio ou a
política.
Tod@ criador/a profissional sabe que os ditos bloqueios são coisas comuns; aparecem
sentimos que ninguém nos nota e temos a impressão que nossa obra não repercute em
nosso âmbito.
Saber que quase todo artista sofre deles periodicamente e que logo desaparecem é
importante para não se mortificar demais e colocar o sol no mau tempo. No entanto, é
as anotações, os esboços e os mil e um projetos que nos vão surgindo dia a dia e para os
quais nunca temos tempo suficiente. Chegado o tempo de secas, um bom banco de idéias
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tempo.
Tirou de debaixo da escrivaninha um grande frasco com uma larga boca. Colocou-o sobre
a mesa, junto com uma bandeja com pedras do tamanho de uma mão e perguntou:
- Está cheio?
Todo mundo olhou e assentiu. Então ele tirou de debaixo da mesa um cubo com cascalho.
Pôs parte do cascalho no frasco e o agitou. As pedrinhas penetraram pelos espaços que
- Está cheio?
– Bem! – disse o homem, e pos à mesa um cubo com areia, que começou entornar dentro do
- Bem! -, disse e pegou uma jarra com água e começou a vertê-la no frasco. O frasco ainda
não transbordara.
Um aluno respondeu: - Que não importa o que enche sua agenda, se você tentar, pode
sempre fazer que caibam mais coisas.
- Não – concluiu o especialista. O que esta lição nos ensina é que se você não coloca as
Quais são as grandes pedras? Seus filhos, seus amigos, seus sonhos, sua saúde, sua
decidir ser ou não ser artista. Traduzindo, quer dizer: viver ou não de nossas criações.
Não é a mesma coisa pintar nas horas vagas, que exercer a disciplina da arte da mesma
suas vidas.
Existem mães que sabem como cuidar de expectorações, diarréias, sarampo, catapora e
tudo o que atacar seus pimpolhos, com muita perícia. Daí a considerá-las médicas, no
representam um leque muito amplo de pessoas. Todas professam um grande amor pela
arte. Existem pessoas que gostam só de “desenhar” e outr@s que levam anos fazendo
cerâmica ou pintando. Também existem pessoas que, muito de vez em quando, apresentem
uma exposição. A maioria tem a (muito equivocada) crença de que assim é a vida, pensam
que “as musas nos visitam de vez em quando”, ou que “a arte e o dinheiro são como água
Gostar de artes plásticas como passatempo e exercê-las de modo profissional são coisas
muito diferentes. Para ilustrar a diferença, costumo comparar as artes visuais com três
atividades que tod@s conhecemos muito bem: além da medicina, há semelhanças com a
tauromaquia e a gastronomia.
3 do Gr. tauromachía < taûrós, touro + mácre, combate; s. f., arte de tourear.
Como já havia dito, se comparamos nossa profissão com a medicina, podemos vê-la como
forma, cuidar de um braço quebrado, assistir um parto e curar uma infecção de pele, há
artistas gerais que sabem gravar, que pintam murais em afresco e, além disso, esculpem.
ainda como artista a secas (ou seja, geral), com o que talvez consigamos evitar que as
pessoas lhe digam “pintor” a um/a escultor/a que em sua vida usou um pincel para
pintar um quadro.
O momento da decisão
Só os deuses sabem o que nos pica quando nos apaixonamos pelos touros. Passa o tempo e
nos familiarizamos com a tauromaquia, sua história e suas diversas escolas, aprendendo
reconhecemos as sutilezas dos distintos passes. Uma ou outra pessoa decide ainda muito
jovem, a entrar seriamente no mundo dos touros e, depois de intensos anos de treinamento,
aplausos. Chegada a hora que a tradição estabelece, todo novilheiro enfrenta a decisão
Não se trata de um curso medido em semestres nem há exames em grupo. Nada disso. A
alternativa é uma decisão que cada novilheiro enfrenta na solidão. Há quem opte por
deixar as coisas como estão. Nunca se distanciam da Festa, mas passam a converter-se
@s que decidem continuar, por sua vez, buscam padrinhos, que em uma tarde gloriosa,
lhes outorgam A Alternativa! Dai para frente serão toureir@s. Farão exatamente o que
faziam antes, só que agora nas grandes temporadas, diante de platéias muito maiores,
Um/a bom/a artista pode ou não se formar na academia, mas a todos chega o dia de
A diferença está radicada na visão que temos da arte. Quem insiste em crer que não se
possa viver da arte, fica como simples taurófilo. Quem entende que há que emular os
Questão de graus
Finalmente, as artes plásticas podem ser comparadas à gastronomia: não é a mesma
coisa ser cozinheir@ que ser chef. Como cozinheiro a pessoa pode ser maravilhosa, mas
aos olhos (e paladares) de um limitado círculo de gente, quando muito. Ser chef implica
comensais.
Há artistas que decidem trabalhar a vida inteira para satisfazer aos gostos de um
círculo limitado de amizades, para quem produz obras de pequeno e médio formato. E há
artistas que optam por trabalhar em grande escala e uma grande quantidade de obras
última comparação. Todo general (tod@ executiv@, tod@ pensador/a) sabe qual é a
meios necessários para alcançar esse objetivo. Em outras palavras, elaborar uma
Com grande precisão define o General Vallarta Cecena: “Ao iniciar uma guerra as
estratégias fixam um objetivo e os interesses que esperam conseguir ou manter nos quatro
campos do poder: político, econômico, social e militar. Depois de fazê-lo e conhecendo seu
respectivos para combater a capacidade, ameaça e danos que o inimigo pode provocar-
lhes, para mais tarde impor-lhes sua vontade. Nos planos se estabelece quando e como se
M al faria um/a artista em desdenhar o conceito: hoje em dia, tudo parecia conspirar
contra o avanço das artes (e dos artistas), e em especial, de todo aquilo que signifique
avanços de cultura.
Tod@ profissional da arte trabalha com base em estratégias, de curto, médio e longo
prazo. Ora uma série de monotemática de óleos de grande formato para, dentro de três
anos, mostrá- los em um museu brasileiro, ora conceber uma performance com nove anões e
uma girafa, de uma hora de duração, para um encontro internacional por realizar-se na
Cada estratégia requer passos táticos: se nosso espaço de trabalho é pequeno demais,
teremos que localizar e alugar um lugar especial para pintar esses quinze quadros de
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formato monumental, para o qual será necessário procurar com tempo um financiamento
em seis fundações; além disso, é preciso estabelecer prazos-limite e assinar contratos com
o museu brasileiro. Ou ainda, para reunir aos nove pessoas de estatura mínima, deverá
publicar anúncios nos jornais de Sydney; enquanto isso se deve solicitar com meses de
passos táticos necessários, nossa estratégia não terá servido de nada, posto que será
impossível cumprir.
Para acabar logo: de onde surgiu a palavra “vanguarda” se não do mundo militar? De
fato a palavra contém todas as conotações para cumprir com seu uso. A vanguarda é
formada por aqueles soldados que, de maneira irregular, são enviados pelo general muito
além da fronte a explorar o território desconhecido. Com o relato dos sobreviventes que
regressam, o general planeja as medidas táticas necessárias para sua estratégia, que é
ganhar!
adiantam com o objetivo de ajudar aos que vem atrás a avançar até consolidar novas
recebem sua medalhinha. Os méis da glória, no entanto, são para o general e seus
novilhada que se tomam para consegui-lo são táticos, então também se compreenderá que
que devemos levara cabo para prosperar. Estudar este livro/manual, fazer a tia rica
apaixonar-se por você, jogar na loteria ou exibir nossa obra para sua venda dentro do
dedicar a vida às artes visuais. Devemos aprender a traçar- nos estratégias e, como
Não há uma única estratégia de vida. Podemos definir uma para seguirmos adiante com
nossa obra, outra para dar aulas sem ser empregado de uma escola, outra ainda para
conquistar a pessoa que amamos. Há, como já disse, estratégias de curto, médio e longo
prazo, mas também há estratégias que, ao cabo de um tempo de prova, terão de ser
descartadas.
Finalmente, todo bom estrategista sabe que perder uma batalha não significa perder a
guerra; e que não existe pior luta que aquela que não se faz. Há quem perca uma
privada) e que oferecem bolsas para desenvolver algum projeto. As bases estabelecem
sonham no que aconteceria se ganhassem o dinheiro. Às cinco para o meio-dia (quer dizer,
três, dois, um dia! antes de vencer o prazo de entrega), põem-se a armar sua solicitação.
pasta na mão, olheiras profundas e cabelo em pé, e o tumulto se forma na recepção. Logo
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voltam a suas casas (poucos tem o próprio ateliê, claro, por isso pedem bolsas) e se
resultados.
dos solicitantes rejeitados não definiu nem sua estratégia muito menos sua tática, e que
Este assunto não é como uma loteria, que depende da sorte! Os membros de um júri nunca
fecham os olhos, metem a mão num saco e tiram o numero da pasta para “premiá-lo”.
Trata- se de um concurso cultural de arte, como tantos outros no mundo; que procura
estimular, com uma espécie de estipêndio, o talento e o propósito, atributos que tod@s @s
rejeitad@s, sem exceção, estão cert@s de ter. Talvez os tenham. O que não tem é o senso
distribuir o orçamento em bolsas; porque não sabem como se constituem ou mudam, ano
após ano, os jurados qualificadores; porque não se aplicam com disciplina para
desenvolver um projeto ganhador nem fazem bem as suas contas; porque não reúnem
corretamente os materiais solicitados (CV, fotos, textos etc.). Muitos solicitantes sequer
coisas do estilo, e o que é pior, chegam sempre na última hora! Exemplos perfeitos de más
táticas.
Cinco passos para conseguir uma bolsa
1. Estar preparado de antemão
Ler com muito cuidado todos os pontos enumerados pelo edital e segui-los ao pé da letra
parece óbvio, mas pouc@s o fazem. Só assim saberemos se nos convém ou não as
oferecido.
são cíclicos: ano após ano lançam-se e outorgam-se nos mesmos meses. Portanto,
que, chegado o dia em que se anunciam, tenhamos tudo pronto para armar nossa
A última observação é muito importante: cada inscrição recebida (não, não são
“aplicações”, só falam assim aqueles que falam mal o português e pensam “to apply
de pastas numeradas em quantidades que podem passar de três dígitos. Então, cada
jurad@s começam fresc@s e terminam cansad@s; quero dizer que são mais atent@s
A lógica continua sendo inexorável: se solicitamos fundos para algo nebuloso, seremos
rejeitados. É aqui que se põe à prova a habilidade – que devemos desenvolver – para
verbalizar nossa obra e sintetizar sua explicação de modo que qualquer pessoa, seja ou
não membro do júri, nos entenda. Não se pode esquecer que o que dizemos é cotejado
57
beneficiad@s. O xis da questão é não somente participar, mas puxar para ganhar!
Não podemos impugnar a lógica que se refere às cartas de aval: a informação teórica
que esses escritos proporcionam serve muito ao jurado, não importa se quem a assina
Warhol, bastaria que pusessem: dêem a bolsa a ele! para que o jurado outorgasse seu
quando o/a artista solicitante redige uma carta modelo para que assinem as
justamente recusá-la.
Usualmente um júri é composto por pares, artistas de trajetória que sabem muito bem se
um orçamento é viável ou não; portanto não devemos nem aumentá-lo nem calculá-lo
mal. A idéia proposta pode ser muito boa, mas se os cálculos estão mal feitos, causará
desconfiança. Pelas mesmas razões, nunca se deve prometer o impossível, nem ser
mirabolantes e tratar de impressionar com linguagem rebuscada.
dinheiro. Tudo isso se perde se a nossa solicitação é recusada. Outra maneira de elevar as
variantes se for o caso) a mais de uma instituição do país e no exterior, ao mesmo tempo!
embaixadas, etc., para contatá-los e pedir-lhes que nos incluam em suas listas de correios
Finalmente, uma opinião: o estado nunca pode funcionar como mecenas. O mecenato é
publica) é distribuir dinheiro público para beneficiar a cidadania em sua totalidade, não
impostos) creio injusto que a solicitemos para criar uma obra que terminará em mãos
solicitar dinheiro público para produzir a obra de consumo suntuoso, que nos
propuséssemos a devolver uma porcentagem à instituição por cada obra feita com seus
fundos e vendida em galeria, a fim de ressarcir o orçamento que nos beneficiou, mas que
a cada ano se reduz mais. Isso, por exemplo, é assunto de consciência. A pergunta é: @s
*=*=*=*=* =* =* =* =*
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Como se verá: a diferentes estratégias, diferentes medidas táticas. Não é a mesma coisa
(público ativo), que procurar a interlocução com a maior quantidade possível de pessoas,
digamos “normais” (público passivo). Quero dizer que para ver pendurada nossa obra em
que necessitamos para chegar, por meio de museus e instituições parecidas, ao coração de
administração solicitada, lida que por sua mesma definição é para nós aborrecíveis.
Como é preciso sorrir também em tempos de dificuldade, será preciso nos organizarmos
de tal maneira que o trabalho administrativo seja o mais indolor possível. Continuemos
na leitura...
V. A TRANSIÇÃO DA PAIXÃO A PROFISSIONALIZAÇÃO
De como é aconselhável educar-se em academias,
mas também por caminhos não tradicionais
qual gosto muito, pois vem de “deleite”. @s diletantes são pessoas-chave nas artes, pois
na arena cultural.
Os latino-americanos têm uma visão das profissões artísticas que vem se deformando
começam muito pequenos e que devem praticar diária e incessantemente; que os atores e
atrizes passam noites em claro para memorizar seus papéis e que, na hora de trabalhar
claro, errada – que vivemos de ar e produzimos somente “quando nos visitam as musas”.
Com tais referências, não é de se estranhar que uma família seja tomada pelo pânico
quando um/a jovem anuncia sua decisão de estudar artes visuais e que @s genitores
façam até o impossível para convencê-los a estudar desenho gráfico (antes era certamente
arquitetura). Quando você se formar (nos dizem) e se ainda insistir nessa aberração,
você pode desenhar, pintar e o que quiser, nos teus tempos livres! Acreditam que se pode
Podemos provar o quão ridícula é essa atitude, se nos perguntamos: no caso de uma
doença de um bebê, a quem recorremos: a alguém que nos aconselha atrás da vitrine da
farmácia ou alguém que cura nos fins-de-semana, ou ainda a um/a pediatra com diploma
estagiária de arquitetura que trabalha como moto-boy da Pizza Hut ou a alguém que se
arte).
academias de arte, mas é sabido também que muit@s outr@s se formam pelo caminho da
vida. Cada opção tem suas armadilhas: quantos egressos da licenciatura, até do
não se destacam apesar de nunca ter tido uma educação formal? No fundo, tudo depende
das pessoas, de sua vocação, de sua obstinação, mas, sobretudo, da visão que podem ter
de sua profissão.
nosso redor: se a cidade onde vivemos conta com mais de um centro de ensino de artes, a
Da mesma forma que no México, muitos países da nossa América contam apenas com
dois ou três centros de ensino superior das artes, que se concentram na capital ou em
grandes centros. Para muitos a decisão está em “fugir ou ficar”. A menos que alguém
goze de uma posição econômica confortável, será sempre muito difícil migrar para
europeu, nossos centros de ensino artístico e universidades não estão pensados para as
Quem se muda quase sempre acaba se fixando onde se forma, longe da cidade natal. A
lamentáveis que sofram as "pátrias pequenas" quando seus filhos as abandonam serão
Por circunstâncias que não vêm ao caso relatar, eu me capacitei à moda antiga (do jeito
que ainda se faz em muitas partes da América), no caminhar de minha profissão, como
assistente em ateliês de artistas maiores, fazendo cursos, e acima de tudo, lendo livros de
De uns quinze anos para cá, tenho me servido mais e mais de La Calandria (meu querido
fascinante de informação gerada por nosso universo hispanoparlante que oferece todas
consulta de sites em inglês. Please, please, não façam isso! Tudo bem?
pátria para fazermos méritos no caminhar, é indispensável não perder tempo. O melhor
cumprir como o nosso prometido. Empregos com mestres artistas, cursos, oficinas,
escolha.
Dir-me-ão que se faz aquilo que se tem. Hmm... Possivelmente, mas só até certo ponto,
pois pelo que se refere “aquilo que nos chega” é preciso discernir: quem nos traz esses
públicas contratam instrutores/as que oferecem seus serviços grátis. O mal é que, como os
honorários são baixos, atraem pessoas que aceitam contratinhos justamente porque não
conseguiram defender-se em outros trabalhos. Suas intenções podem até ser boas, mas
nada nos garante que sabem transmitir um ensino de qualidade. Não se pode esquecer
sairá caro. Pelo demais, de que nos servirá fazer um curso de macramé se somos
escultores/as em pedra?
privadas, nacionais e estrangeiras (como fundações dos grandes bancos) que também
têm fundos para organizar programas breves de ensino básico ou especializado, sempre e
quando se saiba solicitar os serviços. Tratar- se-ia, então, de contatá-los em grupo para
garantir resultados.
Usos e costumes
Não é que se queira insistir no assunto dos hábitos (bem, na verdade quero sim!).
Acontece que ao longo deste instrutivo manual (outros autores diriam “modesto”, rá!)
tentei sugerir formas para substituir os maus hábitos que nos alastram, por outros bons,
visuais. Existem os de ação e os de tradição. Os hábitos de ação têm a ver com técnicas,
com tratos compartilhados entre o pessoal de apoio direto que nos acompanha, com os
colegas, com os tempos das grandes cidades (por exemplo, bancos e escritórios abrem a
certa hora), com elementos similares de natureza prática. Por sua vez, os hábitos de
tradição são de natureza ritual, se tratam de hábitos e atitudes que são transmitidos de
Os problemas surgem quando assumimos sem questionar aqueles hábitos que nos inibem
ou que nos submetem a interesses alheios. Isto, por simples que seja, se complica com o “o
que vão dizer”. O exemplo clássico é a idéia que “o dinheiro corrompe”, e que se nos
mostrarmos demasiado agressiv@s para divulgar nossa obra, se dirá que somos
Boa parte dos maus hábitos apela a idéias vagas sobre a essência da arte. Chegam-nos
tarde e de outros lugares (por exemplo, da França de há mais de cem anos). São
lar para viajar, tanto para aprender como para dar aulas e expor, ou de manter-se
O costume da assinatura
Na hora de assinar uma obra, muit@s artistas costumam adicionar uma data. A data
lhes serve para localizar as obras de um/a artista no contexto de sua vida. Acontece com
freqüência, no entanto, que ao ver a data em uma obra realizada quatro, oito ou mais
anos atrás, cert@s possíveis clientes, em sua ignorância, sentem que “a peça está velha”.
Para quê ostentar a data se tanto incomoda a clientela? Artistas como Francisco Toledo
O hábito epistolar
Uma magnífica porção da história da arte se nutriu do epistolário havido entre artistas,
historiadores/as, poetas, critic@s, marchands (bom, dealers, para não ofender ouvidos
castos), e até colecionadores. Durante séculos, a carta foi o único meio para comunicar-se
alcançado categoria de gênero literário – foi caindo em desuso. Volta a renascer com o fax
dia, na proteção autoral, em tudo. Na rede, por exemplo, se realizam toda sorte de fóruns,
alguns dos quais já existem há vários anos, como não se via há muito tempo.
Em uma missiva dirigida a algum/a colega podemos sempre discorrer sobre assuntos de
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com confiança. Essa mesma carta, escrita na íntima segurança da amizade, no entanto,
pode logo transformar- se em um texto público que sirva para alimentar a teoria estética
do momento. Os arquivos pessoais dos grandes artistas estão cheios desses casos.
Creio que fica claro que dificilmente poderemos retomar o hábito epistolário nem operar
com eficácia como profissionais se não comprarmos nosso computador e nos conectarmos
ao internet.
Entre os costumes mais destrutivos de que padecemos nós artistas existe um que há
milênios foi elevado à categoria de pecado. Refiro-me ao orgulho, que não é senão uma
menos, mas como “somos artistas”, nos sentimos as graças mais divinas do paraíso.
Com o tempo, aqueles que se liguem para funcionar melhor, aqueles que expõem fora de
sua querência (talvez no exterior, onde dão os ombros aos profissionais visuais de outras
orgulho.
meus colegas jamais esquecer que sem cada um destes técnic@s esquecid@s, não
poderiam andar presenteando suas publicações pelo mundo afora.
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aparentemente.
Veremos aqui tudo o que concerne a inventários, pactos, arranjos, negociações, congressos
e contratos, acordos fiscais, proteção autoral, promoção, vendas, faturação... Para que
continuar, se a lista é interminável? Quase sem exceção, nós artistas nos aborrecemos com
este assunto porque “disso eu não sei nada...”, afirmamos. “Eu me ocupo de questões
espirituais”. Será que por pensar que a arte e o dim-dim não se bicam, acabamos sempre
zuretas e confusos? Eu só posso dizer que no momento em que aprendi a negociar e a por
as coisas por escrito, minha vida começou melhorar. Mortifico-me menos que antes e meu
destino com extremo cuidado, o que nos exige ver as coisas panoramicamente,
Vale a pena reler esses três pontos com cuidado e ponderá-los. Uma vez digeridas as suas
sustenta o nosso processo criativo, ou seja, o tedioso mas importante trabalhão que
significa administrar com eficácia nosso trabalho.
É preciso admitir que ninguém goste de responder cartas, organizar seus currículos
especializados, chegar a tempo nos encontros, subir e descer para entregar mercadoria,
enfim, realizar as tarefas feitas por qualquer pessoa normal, ou seja, as pessoas que
Em que pesem todas as lendas negras que insistem no contrário, deve-se sublinhar que
nós artistas profissionais somos tão normais como a filha do vizinho. E mais, somos
pessoas normais plus, quero dizer que somos tão cidadãos como qualquer pessoa, tanto
que devemos pagar impostos e aluguel, alimenta-nos, pôer gasolina no carro e, além
disso, tiramos férias de vez em quando; mas somos plus porque, ao termos escolhido
obra que produz. Volto a insistir: quanto maior a produção, maior a projeção.
Existem pessoas prolíficas e as pessoas que demoram ao criar. Isso pode obedecer aos
processos internos de criação de cada individuo, mas depende mais ainda do tempo que
temos disponível. Cert@s artistas são meticulos@s e exigentes ao exagero. Se ainda por
cima recorrem a técnicas muitas trabalhosas, o volume de sua produção pode ser baixo.
Também é obvio que se produzimos só á noite, nos fins de semana ou entre um emprego e
outro, nunca conseguiremos encher nosso atelier e as gavetas de planos com obras.
Não se pode esquecer que uma galeria, até a mais desorganizada, dirige uma média de
71
dez artistas “de base”, grupo que constituem os que elas chamam “seu estábulo”. (A
Alem disso, as empresas melhor organizadas administram obras de uns dez ou quinze
artistas adicionais cuja obra, mesmo sem contrato de exclusividade, fica a disposição da
galeria. Afinal, todo negocio que se aprecie como tal, compra e venda o que pede sua
clientela (seja o que for) e por tanto conta com uma ampla gama de objetos artísticos
Como a escassez das galerias é uma realidade, nós artistas, que queremos distribuir a
nossa produção com o sem ajuda de uma galeria , também devemos oferecer uma seleção
de produtos tão variados quanto possível. Quanto maior a nossa versatilidade, maior a
Quero fazer um parêntese para falar da diferença que existe entre objeto de arte e
uma obra de arte (objet d’art VS l’oeuvre d’art) já que atualmente a mais e mais
artistas que renegam – ou de caso pensado, abandonam – a produção de objetos
tradicionais para criar obras seja de vida efêmera ou virtual (conceituais,
instaladores/as, performances, ciber e vídeo artistas, etc.).
O objeto de arte, que é conhecido por quase todo mundo, passa de mão em mão do
mesmo modo que uma mesa, um carro ou um imóvel. Bom ou mau, é - ou deve ser -
acompanhado de um certificado de autenticidade e uma nota fiscal, da mesma forma
que um carro ou um terreno. De outra maneira, seria difícil a esses revendê-los a
outros compradores/as.
Por outro lado, a obra de arte não é necessariamente uma “coisa”,um objeto. Pode
ser uma instalação ou uma performance, uma fita de vídeo-arte ou um DVD.As
instalações e as performances, por sua vez, se cobram como um serviço. Do mesmo
modo que um concerto de flauta, um recital de piano ou inclusive uma conferência
magistral, @ artist@ combina uma percentual dos bilhetes ou cobra por honorários.
No caso de uma fita de vídeo, um CD-ROM ou um DVDnão tem retorno, a copia é
vendida da mesma forma que um CDou um livro. Seu conteúdo não requer um
certificado de autenticidade, mas a fita ou o disco (o suporte) pode precisar ser
faturado.
Na era midiática em que vivemos (e isso é extremamente importante) existem formas
adicionais de vender nossa obra e ganhar dinheiro. Trata-se do uso secundário que se
pode dar às reproduções, em revistas, catálogos, telas de computador, selos postais
ou bilhetes da loteria, ou como parte de um desenho gráfico ou de telas... O que se
cobra, então, é o uso, além do direito de autor.
Há mais: podemos alugar nossa obra! O alugue de obras é cada vez mais freqüente,
para casamentos ou reuniões no fim do ano de uma empresa, para servir de cenário a
telenovelas, e o que é em especial atrativo, simplesmente para o deleite de quem
gosta de arte, como se trata de um smoking ou de um carro de aluguel. Como se pode
ver, isso de ganhar dinheiro com o que fazemos não é simples, mas tampouco é tão
limitado... E continuamos:
como:
1) reunir,
2) armazenar,
Sublinho esse ultimo, pois a totalidade da produção de um/a artista profissional não se
Devemos, pois reunir todas as nossas criações, armazená-las bem e chegar a um registro
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razoavelmente classificado que nos sirva para explorar melhor nossa produção. Cadernos
de instalações, serigrafias feitas sobre pão sírio, até fotos polaroid ou digitais
A ficha técnica
A ficha técnica é uma descrição que se anexa a uma obra em toda e qualquer
2) como ficha técnica, para acompanhar a peça em seu périplo por salas de exibição;
A ficha técnica não deve ser vaga. Não podemos, por exemplo, descrever um óleo pintado
sobre acrílica, empastado com pó de mármore e intervindo com craion, como “técnica
Obra plana
ANO: 2000
MEDIDAS: Ainda que o sistema métrico seja reconhecido em todo o mundo, convém
acrescentar – como cortesia aos anglos, mas também por conveniência – as medidas em
polegadas. Para isso não são necessárias complicadas operações matemáticas, basta
pegar uma fita métrica com as medidas em polegadas (ou conferir no google!)
Com freqüência (por exemplo, para esculturas de médio ou grande formato), deve-se
VALOR E PREÇO: Nem sempre significam a mesma coisa. A palavra preço se usa
quando se trata de vender, valor serve para seguros. O termo preço se aplica à operação
de venda, enquanto que o termo valor é utilizado para fazer o seguro da obra. A diferença
é importante porque no momento de exportar a obra, quanto menor o seu preço, menor o
imposto a ser pago, mas por outro lado quanto maior o valor declarado ao seguro, mais
Cotar em dólares? Sim, ainda que as leis do país determinem que toda cotação deva ser
feita em moeda nacional, não podemos dar- nos ao luxo de permitir que a cada espirro ou
tosse do ministério da fazenda balancem nossas, já por si, precárias finanças pessoais.
De fato, todos os cúmplices dos grupelhos no poder cotizam seus assuntos em dólares
75
Obra tridimensional:
ANO: 1997
TITULO: Aeolia
cânhamo, folhas de prata e ouro falsas, unhas de caranguejo, alfinete de gravata com
perola de fantasia.
PESO: 9.458 kg
Como se pode ver, quando se trata de uma peça de construção complexa, lista-se todos os
materiais.
Obra estampada:
TECNICA: estampa em água- forte, agua-tinta e ponta seca sobre lâminas de zinco e de
O estampado representa uma das possibilidades mais viáveis de venda para um público
leigo, mas sensível (PP) que, depois de sua primeira aquisição costuma transformar- se
É comum que as pessoas comecem a colecionar obra estampada se inventar certas regras,
como em um jogo, para fazê-lo; assim muit@s particularizam sua coleção, e em caso de
revenda, incrementam sua cotação. Existem comprador @es que só adquirem a cópia
Outr@s, ao contrário, compram a última (por ex: 120/120) por ser o encerramento da
que juntam só provas de artistas (P/A) ou do ateliê (P/A) . E existem ainda pessoas que
colecionam exemplares com falhas, como na filatelia. Portanto os dados da ficha técnica
quem colaborou em sua realização, pois como há ateliês muito prestigiados, sua reputação
se transmite a quem consegue produzir neles. Se forem desconhecidos, quem melhor para
próprio ateliê, pois as tiragens são quase sempre muito menores aos que podem imprimir
numa gráfica.
lâmina ou a pedra sobre a qual trabalhamos, cujo preço se divide entre o número de cópias
que configuram uma edição. Assim, um jogo de lâminas (para imagem policromada)
77
poderia ser avaliado em U$12.000,00. Se 100 cópias são impressas, o preço de casa será
hoje em dia pode ser uma fonte de renda em ocasiões maior ao que produz a venda de uma
Fotografando a obra
O registro fotográfico de nossa obra, em vídeo ou digitalizado, pode ser realizado por nós
mesm@s. É muito mais barato e, em ocasiões, mais preciso, pois dependendo do que trata
a obra, pode-se fazê-la destacar- se como não saberia fazer um/a terceir@. Hoje
cobrar sua tarifa, talvez sejam amigos, e aceitem intercambiar seu trabalho por uma obra
nossa.
Não devemos nunca omitir ou permitir que se omita o crédito autoral d@s fotógraf@s.
Não só é uma imperdoável falta de ética, como também a lei o exige. Se o/a fotógraf@ não
põe seu carimbo atrás das impressões que nos entrega, deve-se fazer o seguinte:
CRÉDITO OBRIGATORIO
Nome e sobrenome / ano
Domicilio e/ou telefone e/ou e-mail d@ fotógraf@
vídeos e imagens digitalizadas, tudo ajuda a aproximar a nossa obra de quem queira
Do jeito antigo
- Fotografia em branco e preto: ideal para reprodução em diários e hebdomadários (se
não conhecem a palavrinha, peguem o dicionário, caramba!) Deve ser impressa em brilhante,
Atenção: no caso de fotos P/B, seu negativo é propriedade inalienável d@ fotógraf@, que
Cada impressão P/B deve ter no dorso, além do crédito autoral, uma etiqueta com a ficha
técnica da obra.
contanto com galerias e museus, onde existe sem exceção projetores de carrossel ou mesas
computador.
entanto, perderão um pouco de qualidade; por isso quando fotografamos nossas obras
79
em transparência, é muito recomendável tirar na hora, pelo menos, cinco fotos adicionais:
a melhor será guardada no nosso arquivo intocável de fotos, as outras quatro servirão
O trabalho mais chato do mundo é marcar cada transparência, uma por uma, com sua
ficha técnica e o crédito d@ fotógraf@. Não tem jeito, é preciso fazer. Em certas
ocasiões, eu contratei um sobrinho abusado ou a filha mais inteligente de meus caros para
fazê-lo. Conheço artistas que usam seu computador para imprimir diminutas etiquetas
- Impressões em cores: de pequeno e médio formato, essas quase sempre são reveladas em
instantânea (@s neófit@s não exigem qualidade, mas rapidez). @s operários nestas
empresas são muito descuidad@s, não ajustam suas maquinas para cada novo rolo nem
mudam os líquidos reveladores como indica seu manual de instruções. O resultado são
fotos variadas, de cores falsas, e não em poucas ocasiões, até fora de foco. Dai que, a
menos que sejam impressões da mais alta qualidade, a maioria das galerias e
Contudo, uma impressão em cores nos pode ser útil quando queremos mostrar nosso
trabalho de modo informal. Ainda assim, não se pode descuidar e mostrá- las soltas, mas
tradicional. Muitos até o fazem com voz e textos, o que parece agradar as pessoas. O
- Imagens digitais (jpg): Sem duvida, hoje o médio mais eficaz (e talvez de melhor
casa.
2) em um lugar seguro (as boas lojas de móveis tem arquivos especiais para as fotos);
Nos títulos esta a função, por isso atenção: Não mexer no intocável!
Arremato este capitulo sublinhando o óbvio: tanto as fichas técnicas como o inventário da
circunstancia.
Depois de trabalhar seis, sete meses criando uma serie de obras sobre o tema que nos
1. batizar ou intitular cada peça, cada obra (até “Sem titulo” é um titulo);
4. envolver cada uma das obras com plástico elástico ou plástico-bolha, ou montá-la
provisoriamente sobre cartão branco envolvido em PVC (o mesmo que se usa para
cabelo).
preço da obra. A importância de fazê-lo nesta etapa em que podemos avaliar nossa
de fazê-lo sem nenhuma pressão de um/a cliente presente. M ais adiante veremos como por
8. ter a lista sempre ao alcance das mãos, muito@s artistas pegam uma etiqueta
atrás da obra com o preço. Serve para vê-lo rapidamente sem ter que consultar a lista.
muito mais vulneráveis frente às incertezas com respeito ao futuro que os formados por
outros cursos, inclusive de outros ramos artísticos. Será por que alguns (não tod@s) de
seus professor@es, que ensinam porque não se abriram ao mercado, pouco ou nada
sabem a respeito? Cheguei a suspeitar de que cert@s mestres e diretor@s não os ensinam
Levo quase 20 anos tentando convencer sem sucesso, por todos os meios possíveis, às
administração. Este livro, por exemplo, não teria razão de existir se ensinassem a@s
jovens a mover-se no labiríntico mundo das artes, ao invés de levá-los a cometer erros
Na vida real sempre há um roto para um descosido. Sejam ou não capacitados em centros
de ensino artístico, @s artistas mais sagazes de cada geração seguirão adiante, ainda
modalidades:
1) O currículo extenso:
83
Lista de todos os passos que demos ao longo da vida profissional, ponto por ponto e, de
Lista ponto por ponto certos dados específicos, e faz menção aos demais termos gerais. O
nossa experiência docente, que desejemos promover em uma situação particular, como
conseguir um patrocínio para produzir uma capa gráfica, ou para dar aulas;
É uma narração, em prosa simples, das etapas mais significativas em nossa vida
terceira pessoa só é utilizada quando o redigiu um terceiro. A narração pode abarcar toda
O currículo extenso
1. Dados pessoais
legalmente registrado ou não. Será difícil, ainda que não impossível, descontar um cheque
Há mulheres que jamais admitem sua idade. Não admiti-la poderá ser a norma em seu
para editais que determinam limite de idade, especialmente para que os pesquisadores/as
Telefone(s) com códigos completos, correio eletrônico (e-mail), página web (se a possui).
E incrível quanta gente esquece de mencionar dados vitais como o CEP e os códigos de
longa distância, ainda que se deva escrever assim:
Idem
cronológica; as exigências atuais nos obrigam a inverter a ordem. Hoje, há mais artistas
e menos tempo para dar- lhes atenção; funcionári@s e don@s de galerias recebem não
três ou quatro CVs por semana, como antes; mas em seus escritórios chegam a
acumularem-se pilhas com cem currículos de uma única vez. Como suas ocupações não lhes
atividades mais recentes d@s artistas; se lhes interessa, então lêem o CV com calma. Por
O titulo da mostra (se houve) deve ser o mesmo referido nos convites;
curador/a responsável;
província ou o pais.
85
Exemplo:
1999
- Virgens e vitimas e algo mais; 15 anos de estampas gráficas (água- forte, aquatintas,
1998.
- ...pra’ logo é tarde: ao redor da Morte, desenhos com caneta e tinta sobre papel;
Racotta.
3. EXPOSIÇOES COLETIVAS
1999
1998
1997
- Latin American Artists: a travelling exhibition; exposição itinerante curada por Carol
ESPECIALIDADES
É cada vez mais comum que @s artistas distingam entre sua produção de obra de arte de
corte tradicional (como desenho, pintura e estampa), e não tradicional (como instalação,
vídeo arte e performance). A razão está em que cada vez mais espaços públicos e privados
estão se especializando. Uma galeria estadual na Escócia, que dedica seus espaços a
qual.
Nossa obra se apresenta não apenas em salas de exposição, mas também in situ, de acordo
com sua natureza. (escultura monumental, murais externos, instalação e outras obras
fora de serie). Trata- se com freqüência de obra comissionada por empresas, instituições
- titulo;
- técnicas utilizadas;
- medidas;
- instância da comissão;
Exemplo:
1997
3 x 5,60 metros
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Assistentes: M a ria Verde, Juan Delgado e Benito F. Juarez. Salão de uso múltiplo, sede
Morelia, México.
Assinala-se a data, o nome do premio, a razão que nos acreditou o mesmo, o nome e a
1983
7. COLEÇÕES
Pela lógica, esta lista deve ser feita estritamente em ordem alfabética. Ela deve especificar
o nome completo das pessoas e/ou instituições que possuem nossa obra (não importa se foi
recebida em donativo ou aquisição), bem como seu país de origem. A lista se divide em
7.2 Particulares
Aqui só podemos listar o nome completo dos particulares que nos autorizam mencioná-los,
preferivelmente por escrito. Há quem, por qualquer motivo, prefira não ser mencionad@.
O assunto do colecionismo é muito interessante. Como se define uma coleção? Será acaso
qualquer acumulação sem pé nem cabeça de objetos de arte, sejam ou não de qualidade? O
assunto é vital quando se trata de coleções publicas ou corporativas, que devem guardar
coerência conceitual, e que, por ser publicas ou ter a ver com acionistas, devem justificar
os gastos com transparência. Pelo menos nos países desenvolvidos, pois no México e em
muitas partes da América do Sul as coisas costumam ficar ocultas em uma neblina de
quem exigiram informação a respeito de alguma coleção que se forme de modo duvidoso.
Toda coleção particular é assunto privado e ninguém pode exigir informação alguma,
salvo quando seus donos decidem exibir, doar ou vender suas coleções a uma instituição
publica. Há pessoas e casais que possuem uma quantidade eclética de peças (velhas,
novas, más, boas, muito a seu gosto). Muit@s não se consideram colecionadores/as,
talvez porque não começaram a comprar com essa intenção. Determinar se são ou não
depende da decisão que tome cada quem depois de amassar certo numero de peças. Decide-
se definir o acervo como coleção, então o é e tomará medidas que julgue necessárias ou
convenientes: legitimará a procedência de cada peça (se não o fizer, corre riscos – no caso
restaurar obras e molduras quando seja necessário, e para cada objeto ou conjunto terá
As questões que decorrem da decisão de criar uma coleção particular são conseqüência do
dos mercadores. Adquirir uma obra de arte não é moleza, não. Deve-se conhecer algo de
arte, ou então saber ouvir o chamado da intuição. Desgraçadamente, pouca gente com
obviedade insistir em que os corretores estão com todo o direito de dirigir o que mais lhes
convenha, e mais vale calar que falar mal desses, pois chegará o momento em que lhes
classe social. Como todo mundo, os membros de cada círculo buscam parecer-se com seus
pares e, mais ainda, quando se trata de dinheiro. Assim, se o conhecido banqueiro E____
C_____ F____ compra um Gerchman, já aconteceu que seu vizinho em Moema, Edimilson
Ramires (ou quem seja) também adquirira o seu, ainda que se vomite cada vez que passe
na frente da peça.
Disso vivem as galerias, que no México e na América Latina são em sua maioria de
exterior, graças aos esforços de seus autores/as (ver anexos: Galerias). Contam-se nos
dedos as empresas que sabem como projetar devidamente seus artistas. Por sua
pressionar, pelo que preferem logicamente trabalhar com aqueles/as artistas que
compartilham sua predileção pelo jogo cortesão (que existem, sim, perto de nós e em
qualquer parte).
Sobre gosto se rompem gêneros: cada um de nos saberá decidir em seu coração se prefere
cortejar políticos e empresários grandes para, na melhor das hipóteses, decorarem suas
primeir@s terão que expor em galerias elegantes e ajustar- se aos gostos da clientela
mistérios da estética e da historia. Não nos reconforta saber o que acontece na região. O
que não se pode perder de vista é que nenhuma opção anula as possibilidades de incidir no
prossigamos:
8. OBRA PUBLICADA
publicamos o fato público de nossa obra, sejam essas capas, ilustrações, antologias,
Biombo Negro, revista de literatura negra, Cidade do México, n.1 ao 8, Rolando Trokas, o
camionheiro intergaláctico, quadrinho seriado, sobre roteiro de Jaime Lopez, 1993 e 1994.
Reforma, A, México D.F; Vinhetas semanais para Diário de uma cozinheira atrevida,
Universitários Os, Órgão de Difusão UNA M, Cidade do México; desenhos de Dia dos
9. BIBLIOGRAFIA
Sob esta categoria, listamos os livros e ensaios publicados sobre uma pessoa em
Exemplo: - BECKER, Carol et all. The subversive imagination – artists, society and social
KASSNER, Lilly. Diccionario de Escultores Méxicanos del Siglo XX. Colección Arte e imagen.
4
10. HEMEROGRAFIA
Sob esta categoria, listaremos as crônicas, entrevistas, resenhas críticas e textos símiles
sobre uma pessoa, publicados em jornais e revistas. Consigna-se o nome do/a autor/a e
ordem cronológica, depois o título do texto, o nome da cidade onde foi publicado, a editora
e finalmente o ano.
Exemplo: MAYER, Mônica. Gráfica periférica: o que fiz primeiro. Cidade do México, El
reportagens ou entrevistas transmitidas pela radio ou pela televisão. Talvez não se dêem
conta de que os meios eletrônicos têm maior penetração no público que os impressos.
Diferentemente desses últimos, o elenco sob essa categoria deve seguir também ordem
Exemplo: 1997 A cozinheira atrevida, conversa com Lourdes Hernández Fuentes, Cidade do
ANEXOS
- Associações em organizações culturais.
sociólog@s e demais acadêmic@s, uma vez que no momento de recriar o passado, seja
esse distante ou imediato, possam recorrer a esses dados para localizar @s artistas em
artísticas nas quais participou, tais como clubes, sindicados, frentes, etc. A lista é em
4 Hemerografia - substantivo feminino: catálogo ou depósito de jornais, revistas, e outras publicações periódicas
- Trabalho docente ou jornalista ou qualquer outra atividade que manteve de importância.
inversa.
- Outras atividades
imaginação e é lógico que isso nos impulsiona à aventura. Qualquer experimento, viagem
ou conquista que tenha sido determinante em nosso trabalho deve ser elencado nessa
- Formação profissional
artistas. Ninguém esta interessado em saber qual maternal, jardim de infância e escola
academias, oficinas, cursos, inclusive viagens de estudo, para informar dos quais se deve
conseguir bolsas, receber apoios especiais, cumprir residências e dar palestras. Este
no CV deve ser fidedigna e comprovável. Por essa razão e para respaldar a lista, será
vida, irão aparecer oportunidade que nos ofereçam opiniões inesperadas. Não se trata de
93
“abandonar” as artes, mas sim encadeá-las a um plano maior. Quanto mais experiência
pudermos acumular, mais substância terá nossa obra. Para aproveitarmos ao máximo
algum panorama novo, temos que cumprir com os requisitos de rigor, em primeiro lugar,
Assim, ao ir revisando as opções que nos vão apresentando – esta bienal de gravuras, o
qualquer motivo tenhamos que trabalhar para terceiros, então, tomamos no nosso CV
extenso e selecionamos o que mais poderá interessar à pessoa com quem tratamos: nossa
O CV relato
Por muito útil que possa ser um elenco ponto por ponto, não deixa de ser um documento
frio, chato inventario de datas, nomes e dados. Muitas pessoas estão interessadas em
uma narração biográfica anedótica, texto que serve para nos apresentarmos em uma
mesa redonda ou nos inclua em antologia, para atualizar a informação requerida por
vida profissional. Há artistas que podem escrever com maior facilidade que outr@s,
portanto podem redigir em primeira pessoa. Quem tem maior dificuldade para fazê-lo,
pode recorrer aos serviços de algum/a amig@ literat@ para fazê-lo. Claro, em terceira
conseqüências, o mais danoso é aquele que reza que @s artistas não pensam, só sentem.
Nos dois ou três qüinqüênios recentes, muit@s artistas, especialmente @s mais jovens,
deu-lhes para cultivar uma sorte de balbuciar gago, quase troglomegalítico, ao falar de
motivos que os impulsionam. A incapacidade para verbalizar nossa lida reflete o vazio
uma gradual diminuição na qualidade dos debates das artes atuais. O pior é que, com a
falta de apoios conceituais, muit@s d@s autores/as que publicam catálogos e discorrem
Nas escolas e academias dos paises desenvolvidos, o alunado começa desde o terceiro
semestre a expor-se à critica de seus pares e de seus professores/as. Tem que exibir
periodicamente sua produção mais recente em petit comitê, e racionalizá-la, de modo que
não só aprendem a ouvir opiniões que retro alimentam, mas também a explicar seus
motivos e madurecer frente á critica. Ao sair pelo vasto mundo, tem as armas para
defender-se com argumentos requeridos para abrir passagens nos âmbitos acadêmico e
mercantil.
É essencial verbalizar sobre a nossa obra. Cada novo projeto, cada ação visual que
realizarmos tem sua razão de ser. Ninguém melhor que nós para conhecê-la, ninguém
pode verbalizar nossos motivos melhor que nos mesmos. Os dados que possamos oferecer
servem para informar a quem não conheça nosso trabalho, repórteres, promotor@s e
curador@s, até os clientes. Eventualmente, esses dados passam a fazer parte do discurso
Para escrever sobre a nossa obra é preciso praticar, redigir textos breves e uma vez
restauradores e muitas outras pessoas. E todo o nosso mundo interno está rodeado,
Tanto as pessoas que apóiam nosso trabalho como as que o desfrutam devem ser
consideradas laços: é tal a sua importância que devemos aprender a tratá- los com todo o
cuidado que merecem. Para mantermos contato com tantas pessoas, utilizamos o fichário
de endereços, e para dar um bom prosseguimento as nossas relações de trabalho com cada
É preciso combater o caos onde este surgir. A única forma de não nos afogarmos em um
mar de papéis soltos, convites, mostruários, cartas pendentes, uma meia velha sem par e
e atividades, cada um dos quais exige uma pasta própria, que se classifica de acordo com
construir este arquivo no inicio da carreira, quando temos apenas três cartas, seis
preferir).
Comecemos por definir as divisões de nosso arquivo (classificação), para então acomodar
cada pasta em um lugar apropriado. Meu arquivo, por exemplo, está dividido assim:
ÍNDICE
Assunto Caixa
1. Informação Biográfica (CV) A
2. Assuntos domésticos A
- passivo C
6. Administração - ativa D eE
- passiva EeF
7. Correspondência
7.1 Geral
7.2 Grêmio F, G e H
8. Inventario da obra J eK
11. Museus
11.1 Nacionais
11.2 Exterior M
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Note-se que as seções mais importantes, a 13 e a 14, têm seu próprio móvel.
Comecei a acumular e ordenar meus papeis há pelo menos quarenta anos. Não me deu
trabalho fazê-lo, já que comecei com muito poucos papeis. O tempo e o costume de guardá-
los se encarregaram do resto. Agora tenho um total de quinze gavetas repletas, todas
razoavelmente arrumadas (isso só eu que digo, pois, provavelmente, se alguma vez algum
muito bem, pois como surgiu de maneira orgânica partir de meu trabalho, responde às
minhas necessidades particulares. Hoje, quem quer que busque algum dado, uma
segundos.
Logicamente, desde o inicio dos anos 90 meu arquivo começou a ser virtual, pois se
estendeu ao interior de meu computador (os espanhóis e franceses, muito sagazes, dizem
“ordenador”, por algum motivo será). Juntos os dois sistemas, o físico e o virtual, são as
ferramentas mais úteis de meu trabalho. As pastas de cada uma das pessoas,
localizam no momento graças a uma lista, ou cardex, que se duplica no escritório virtual.
um pode inventar seu método para fazê-lo, mas qualquer papelaria grande oferece uma
variedade de fichários da qual podemos selecionar o que mais convier. São muito bons os
fichários circulares chamados “rolex” (ou algo do gênero), pois admitem uma boa
quantidade de cartões que se pode consultar com um simples movimento da mão. Hoje há
uma série de softwares que podem nos ajudar neste trabalho de classificação.
Confesso que sou um pouco obsessivo nisto de manter-me em contato com as pessoas.
Acontece que não me custa muito trabalho, pois já tenho meus hábitos para fazê-lo da
forma menos indolor possível. Além dos domicílios e telefones que anoto na minha agenda
de bolso e que logo copio em fichas, também guardo na bolsa direita de minha camisa uns
chegar ao escritório, os coloco em uma caixinha e a cada oito ou dez dias, me sento para
Obviamente essa tarefa nunca termina, pois a mobilidade das pessoas, a fugacidade de
constantemente.
No caso de precisarmos de dados que não estejam em nosso fichário, sempre podemos
ainda sabendo de sua existência, muit@s artistas não sabem como localizar telefones ou
endereços e depois se queixam por se sentirem isolados. Internet, por sua vez, também tem
informações equivalentes aos telefônicos, basta clicar na cabeça do nosso ratinho para
consultar a rede.
- Seção Artistas
- Seção Exterior
Esses últimos, repito, em ordem de subdivisão para conservar sob a lupa os contatos que
vou conhecendo.
vida produtiva. Na hora de preparar uma exibição, por exemplo, se consulta a seção
- imprensa,
- televisão,
- radio
É fácil usar telefones, fax ou correios eletrônicos de jornais e revistas, para depois
páginas amarelas e na pior das hipóteses, comprando na banca de jornal mais próxima.
importante. Por exemplo, não é preciso guardar os dados de qualquer jornalista, a menos
que seja uma amizade. Armazenamos só os dados daquelas pessoas cujo trabalho nos
Correspondência
As cartas- caracol, correio tradicional que bem ou mal continuam funcionando, se
acrescenta agora a eficaz velocidade dos correios eletrônicos. O resultado é que ganha
novos brios aquele importante adjunto da literatura de todos os tempos, a arte epistolar.
A escritura que resgata para nosso deleite (e para bem da memória coletiva) o mais
com precisão assuntos que de outra maneira poderiam ficar no balbuciar ou perder-se no
silencio.
Com uma produção em marcha sobre rodas e arrumadela, e com o fichário atualizado à
mão, pronto para descobrir que se nos aproximará mais e mais das pessoas. E não é só
isso, descobriremos com prazer que contaremos com muito mais tempo para criar nossa
obra.
Todas as cartas que enviamos passam a ocupar seus lugares nos arquivos de nossos co-
Certamente antes mandar imprimir nossa papelaria era um luxo. Hoje, com o computador
podemos criar até nossos cartões de visita. Artistas com cartões de visita? Claro que sim!
Como podemos figurar nos fichários de outras pessoas melhor organizadas que nos, se
Com certeza a vida de artista não é fácil. Porém não temos porque complicá-la mais
atuando como seres passivos. Contas claras e amizade longa, diz o ditado, que traduzido
queremos ser, é preciso pôr as cartas sobre a mesa, deixar as coisas claras e por escrito.
Infelizmente ficaram para trás os dias em que o que valia era o fio da barba. Hoje só por
escrito é que as coisas têm valor, por isso é necessário saber quando e como escrever
cartas.
Deve-se ponderar com cuidado, isso sim, como responder à nossa correspondência. Uma
a quem devemos proporcionar de imediato as medidas das seis peças que viajarão ao
Canadá. Também é diferente entabular comunicação com um/a crític@ de arte e com um/a
ofereço uma série de cartas que podem nos servir como modelo.
Modelos de cartas
A carta técnica:
Estimado F...,
Depois de uma ligação internacional e dois envios de fax falidos, envio-lhe a confirmação
oficial de seu muito grato convite para participar da mesa redonda “Estética, niilismo e
violência” a se realizar no dia 25 de novembro do ano em curso, no Museu Nacional
Centro de Artes Rainha Sofia.
Considero, também, aceitável o pagamento de R$ 750,00 reais pela participação.
Assim mesmo, terei muito prazer de dar um curso de quatro sessões sob o nome “Novas
artes e comportamentos estéticos”, no Instituto Estético e Teoria das Artes, da UA M, do
dia 22 ao 25 do mesmo mês. Também considero justo o honorário de 1.000 reais.
Com esta mensagem , F., lhe envio também meus mais sinceros e agradecidos
cumprimentos,
Fico a sua disposição,
Felipe Ehrenberg
PS- Lembro-lhe que estarei fora da Cidade do México do dia 23 de outubro até dia 3 de
novembro, por motivo da exposição olímpica (!) em Atlanta, EUA.
Carta de conteúdo:
EHRENBERG
GONZALEZ ORTEG 58-1 COL. MORELOS 06200- MEXICO DF
Tel e Fax: ++(52 55) 795-7975
A atenção de:
M.G. e/ou L.M.S
Coordenação de Difusão Cultural
Museu Universitário do Chopo/UNA M
Presentes
Cidade do México, dia 20 de abril de 1992
Queridas amigas,
Acuso o recebimento de sua carta (10/08/1992) com referencia aos donativos de esculturas que
solicitam para sua coleção permanente. Respondo-lhes:
1. Sempre acreditei prejudicial insistir na cronologia para distinguir gerações de artistas
plásticos. Não se faz isso em outras categorias de atividades sociais (ninguém, por
exemplo, se refere a advogados ou a médicos jovens e não se fala da arquitetura ou da
engenharia jovem).
O tempo se reflete certamente nas artes, mas a palavra jovem, na imprecisão que lhe outorga
a moda, é incapaz de descrever as diferenças geracionais e muito menos estilísticas. Meu
conselho é que tomem o touro pelos chifres, que a palavra “jovem”fique com o que é, um
mero recurso de marketing de nossos marchantinhos da arte, e que em seu afã pedagógico, o
museu assuma frontalmente tarefa de redefinir para precisar.
2. O governo atual delineia com claridade sua política fiscal, e cobra impostos a@s artistas
plásticos com rigor. Sendo a UNAM uma instituição publica, não entendo porque a
recadação não é distribuída de tal forma que os museus oficiais contem com orçamento
de aquisição para enriquecer seu acervo.
Enquanto não mudem a mencionada fiscalização dos artistas, não vou dar de presente
um só bem cultural que deveria ser comprado com os impostos que pagamos.
3. Além disso acredito – e isso como membro fundador da Sociedade de Amigos do Museu
do Chopo – que nós amigos deveríamos marcar como prioritária a tarefa de criar uma
coleção permanente da sociedade, mesma que se albergaria no museu, para protegê-la
das inconstâncias e desacertos de administrações futuras... Mas isso é, talvez, farinha de
outro saco.
Agradeço a oportunidade que sua carta me deu para expressar minhas inquietudes e reitero
minha admiração pelo trabalham que vocês realizam frente ao Chopo.
Atenciosamente,
Felipe Ehrenberg E.
Á atenção de C.P.
Av. Miguel Angel de Quevedo, 3967
Coyoacán, D.F
Tel: 5539-5270
Já faz algum tempo, tentei comunicar-me com você por todos os meios sem nenhum resultado.
Quero pensar que foi o azar que impediu você de responder a minha solicitação. Portanto agora,
em minha ultima tentativa amistosa por aclarar o assunto, volto a pedir-lhe que me traga as
obras (no endereço acima mencionado), que me envie pelo correio ou indique onde meu
assistente poderá pega-las.
Agradeceria se isso não passasse deste mês.
Despeço-me,
FAX zangadissimo!
Temos n@s artistas a reputação de sermos muito dóceis, e a julgar por mil e uma
historias de maus tratos e despojos, talvez a mereçamos. Porém assim não é a vida: se
+++ + + + + + + + + + + + + + + + + + + + + +
Reitero neste fax o que lhe disse no telefonema que mantivemos há alguns minutos: em minha
qualidade de co-curador da coleção de imagens digitais produzidas por meia centena de plásticos
para a empresa Edumac, EM NENHUMMOMENTORECUSEIA IMAGEMPORVOCECRIADA– a
única que você ofereceu a escolha, certamente – nem soube que tivesse sido excluída da coleção
final.
G.L(em sua qualidade de organizadora, não de curadora, como você afirma), me informou sem
ambigüidades:
2. até a data em que se publicou a sua nota, não havia sido oferecido o pacote de imagens a
nenhum possível comprador. Eu não poderia ter-me “submetido”, portanto à censurar-lhe, nem
você afirmar o que só pode ser considerado um calunia.
O que você publicou no citado texto é absolutamente falso. Continuará sendo uma mentira até
que não a esclareça e evite que o libelo a fique assentado como verdade na crônica de artes
destes dias.
C___, eu havia considerado você até essa data como um amigo. Quero pensar que você se afastou
do rigor acadêmico e profissional que sempre o caracterizou por equivoco. Sob nenhum motivo
quero pensar que a gravíssima acusação de censor que você me dá, obedeça a outra obscura
razão. Sei que de seu cavalheirismo e sua disciplina, lhe permitirão de dar-me a satisfação que
exige nossa profissão e uma amizade que temos mantido ao longo de muitos anos.
Será, lhe asseguro, apagado e começaremos do zero quando você me entregar os exatos 19,5 cm
(medindo a partir de “O(neo)costume... etc.) seu próximo artigo em O financeiro.
M ais que evidenciar, o que quero mostrar aqui é como nenhuma arbitrariedade ou ato de
prepotência cometidos contra n@s por ocupantes de postos de poder ou tribunas da mídia,
E-mail íntimo:
De: felipe ehrenberg (S MTP: kbajin@yahoo.com)
Para: M.B
M___, vamos ver se vocé responde ao meu e-mail A.Z. - ...se não, terei que ligar para ela. É M. H. ,
quem anda trás de V.S. -... e onde vivia, dizem que “sumiu”(?) hmmmmmm.....
Me super mega hiper encantaria participar da mesa redonda Arte VS Desenho. Bem difundida,
poderia resultar não só esclarecedor, mas também, quem me dera, determinante para acabar com
as confusões e limpar AMBOS OS territórios... E por tabela, evitar duplicidades...
Quando você volta de Nova Orleans?????Por mim, voltarei de Monterrey no dia 25 de maio. Aí
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- não devemos deixar para amanhã a carta que devemos enviar hoje.
embaixada ou num boteco, com alguém interessante, com quem conversamos como se nos
conhecesse há muito tempo. Em algum momento surge a pergunta inevitável: “bem, e por
- Pois eu, como lhe disse, - responde alguém, pondo-se tod@ vermelho no rosto e varrendo
@s únicos artistas que respondem “sou artista” ou “sou pintora” são @s que já
chegaram, @s que já organizaram sua vida. Nunca cruzei com um médico, por mais
modest@ ou desconhecid@ que seja, que me diga com pena: “pois, olha, eu curo...” Ah,
O assunto é preocupante, porque a maneira pela qual nos identificamos e nos (mal)
promovemos como artistas pode levar a que nos tratem com desdém.
Quantas vezes não acontece que um/a possível comprador/a de nossa obra pechinche o
preço ?: “E... para mim?”, costumam dizer, “você faz por quanto?” Uma pergunta que
acaso esses cobram caro, ou querem pagarem parcelas, por que diabos não perguntam
que desconto podemos fazer-lhes para pagamento a vista? Por que nos tratam como um
camelô na rua (que também não merece esse tratamento)? Sem dúvida, isso se deve ao
fato de que nos custa a muit@s admitir que somos artistas... Como sentimos que não nos
Talvez um/a analista possa descrever melhor a confusão de sentimentos encontrados que
construídos ao nosso redor (tcha tcacha tchãn!) e que também são a causa das
Artista como vocábulo descritivo costuma ser usado de maneira admirativa para descrever
excelência em qualquer atividade (essa cozinheira é uma artista, aquele trombadinha que
rondava pelo metro era um completo artista). Utiliza-se também de modo genérico no
mundo da mídia e das celebridades (os artistas do Globo ou SBT, tanto faz). Para
nossos propósitos, é e será sempre o nome da profissão, tão acertado como dizer mineiro,
profissão com a seriedade e a disciplina que merecem, inclusive até que não nos assumam
como pequenos empresários com intenções de crescer, nunca avançaremos mais do que os
preparam para jogar este livro no lixo.. Estarão exclamando em seu interior,
essa! Se nos não somos feitos da mesma matéria do que a desses mercenários!”.
A isso só posso responder: leiam a sua Historia... Estudem como operavam @s artistas
que mais admiram, aprendam como cuidaram de seu próprio dinheiro. E se não quiserem
seguir seu exemplo, não joguem esse livro no lixo, dêem-no a outr@s...
Maneiras de promover-nos
Métodos artesanais:
A maneira mais antiga e eficaz de pôr nosso próximo a par do que fazemos é mostrando-
lhe a obra de modo direto, quer dizer, convidando as pessoas par ir à nossa casa ou ao
nosso ateliê, em cujas paredes e espaços de exibição penduramos nossa obra, velha e nova.
Descobrimos depois de cada visita o quanto é eficaz a noticia transmitida boca a boca.
Claro, se nosso espaço de trabalho é uma biboca, todo sujo e virado de pernas para o ar, o
O passo seguinte é expor trabalhos com a maior freqüência possível e avisar meio mundo,
até a vovozinha, quando e onde estamos expondo, e se necessário entregar todos os convites
em mãos. Adiante veremos como, quando e porque é mais pratico exibir no ateliê e em casa,
com todas as da lei, ao invés da andar procurando uma galeria que nos faça o favor.
Ainda que dependa do prolífico que sejamos, se temos bem organizados nossas gavetas de
coletivas por ano. No que se refere às exposições individuais, o ideal é apresentar pelo
Métodos surpreendentes:
Sei de um artista colombiano de grande renome que logo depois de fazer a via crucis no
México nos anos setenta, decidiu emigrar para Nova York, naquele tempo uma
importante capital da arte. A primeira coisa que fez ao chegar foi uma lista de
absolutamente todos os museus, grandes e pequenos, que existiam nos Estados Unidos.
“Prezado/a diretor/a... sou artista da Colômbia... acabo de chegar dos EUA... impactou-me em
especial o trabalho que realiza o museu que tão dignamente o Senhor(a) dirige... como sinal de
minha admiração gostaria de doar a seu acervo a seguinte obra...”.
... E a enviou, com uma de suas gravuras, a todos os museus. Sem exceção, todos
aceitaram sua “doação”. Ao fim de um par de meses pode este artista arrumar seu
obras aos museus, ainda que estes agora se apóiem em um conselho de especialistas e
curadores para assim construir suas coleções de modo coerente. O importante do exemplo é
Por sua parte, José Luis Cuevas também é muito bom exemplo de como tratar @s
amigo@s nos meios de comunicação. Sabendo que merecem uma atenção muito especial,
sempre deu jogo. Como compreende bem que um/a jornalista cultural tem tanto apreço por
seu trabalho como ele o tem pelo seu, nunca esquece de mandar uma nota, invariavelmente
manuscrita, para agradecer a todas e cada uma das menções que o citam, sem exceção. E
nada lhe custa acompanhar suas linhas com um delicado desenho, que sabe será
Métodos de marketing:
mostrando uma grande confiança em seu rebento, investiram ao longo de dois anos, com
catálogos, e vendendo suas obras entre parentes e amizades. Em menos do que canta o
Sirva o botão de mostra para ilustrar o assunto. A promoção não faz a@s artistas, mas
pode funcionar.
XI. FECHANDO ACORDO COM TERCEIROS
De como podemos incidir no mundo que nos rodeia,
funcionando como se deve
negócio comercial. De qualquer forma, para que perder tempo se podemos expor no ateliê?
Daqui para frente vou me referir a elas como “empresas”, simplesmente porque é isso que
são. Para cada objeção que nós artistas expressemos contra as galerias, elas
expressaram cinco vezes mais contra nós. Para dizer a verdade, tem-se que admitir que
elas têm muitas razões para fazê-lo: nos somos são tão doidos, e se eu fosse dono de
Sempre que se pactua uma exposição com uma empresa, seja publica ou privada, devemos
levar a cabo uma série de passos para suavizar o que costuma degenerar em uma relação
ríspida, para transformá- la em uma associação agradável que beneficie ($$$) ambas as
partes.
1. Intercâmbio de lembretes onde se põe por escrito tudo que foi falado.
piscar de olhos e as conseqüências podem ser nefastas. Sobre o desenho dos convites,
descontada do preço da obra ou da obra toda, com moldura... Aliás, o assunto das
molduras é um bom exemplo: para um/a artista emoldurar pode chegar a ser um gasto
proibitivo; é mais conveniente, então, chegar a um acordo para que a empresa cubra esse
gasto e logo, ao encerrar a mostra e fazer as contas, que se desconte o gasto que nos
corresponde das vendas (também é comum dar obra em troca de molduras). É diferente se
113
pactuamos com uma instituição, que normalmente protege a obra com os vidros e as bases
que guarda em seus depósitos. Não há pior luta que aquela que não se faz: se não
podemos negociar o pagamento ou a troca de obra por moldura, podemos sugerir a quem
fazemos as contas…
Da mesma forma delicada (e típica) pode ser o seguinte exemplo, que se refere ás listas
envio, ou te empresto a minha lista para que a envie junto da sua? Porque se a galeria
vende para um de meus clientes o contrato diz claramente que a comissão será menor, não
é?
(CONTRATO? O que é que isso de contrato? De onde mesmo saiu essa historia de
O assunto dos convites físicos, impressos, pouco a pouco está ficando no passado. Tenho
recebido por e-mail mais e mais convites lindos e bem desenhados; com o qual, alias,
Outro exemplo: o que é que será servido para o coquetel de inauguração e quem se
encarregará de pagá-lo? (na Europa e nos Estados Unidos é costume cobrar dos
justamente lá onde se tem mais dinheiro e que se cuida melhor que nós, justamente porque
pagar aos nossos amigos pessoais uma porcentagem de comissão, para o caso de venda
dentro de nosso circulo de amizade. Se a galeria não concorda, não nos impeça de
Começo por tocar em um assunto de senso comum: na hora de negociar, seja com @s
a dona da galeria da zona mais elegante da cidade, se não soubermos abertamente como é
que queremos trabalhar como eles antes de passar aos negócios maiores, corremos o risco
de acabar sendo puxados pelos cabelos. A culpa será nossa. Pensemos em só algumas
possibilidades:
Na Instituição
- Vai inaugurar em fins de janeiro do ano que vem…
No Festival
- Finalmente ficou pronta a programação. Você vai apresentar a sua performance na
ultima terça-feira às sete e meia da manha…
- COMOASSIM? Lembro-me perfeitamente que a minha performance iria abrir o festival.
(Talvez, mas não por escrito). Quem, quando e como é que vocês decidiram a
mudança…?
- Em nome do diretor e de todos seus colaboradores, é para nós uma honra entregar-lhe
este diploma como sinal de nosso agradec…
- O que?? O que? Como assim? E as 350 notas de um real que vocês prometeram me pagar?
(Ficou por escrito?)
Na galeria
- Bom, aí está o que ficou de tuas obras, menos o óleo que me cabe...
- O óleo que lhe cabe...? O que? Não tínhamos combinado que eu pagava a impressão e o
coquetel e você cobriria o…?
(Talvez, mas não por escrito).
- O que é que aconteceu!!!?? Eu me lembro de termos combinado que você ficaria com 55%
e não com 97%. Segundo meus cálculos…
E assim por diante. Se não se estabelece em detalhes nos tempos de negociação prévia, se
não pusermos por escrito e se não assinarmos as partes, vão nos prejudicar de todas as
múltiplos usos, quer dizer, suas diferentes partes oferecem cada uma, um modelo a
seguir , de acordo com a circunstância. Chegada a oportunidade de elaborar um acordo,
O resultado não pode ser mais longo que uma, no máximo três, folhas .
modifica. O dito encontro deve ser uma reunião tranqüila, calorosa, com alguma coisa
para beber. Ganhamos pontos se convidamos a outra pessoa para comer ou jantar em
casa.
Uma vez que amb@s cheguemos a um acordo, qualquer das duas partes redige o
O maior problema que enfrentamos tem sua origem na falta de costume e pouca seriedade
com que costumamos levar os assuntos de arte. Nem os artistas nem @s don@s de
galeria têm o habito de assinar acordos. Não é de se surpreender que surjam, quase
inevitavelmente, os mal-entendidos.
amiga, Angelina Cué, me explicou que convênio é um termo mais suave, mais cortês que
operam igualmente diante da lei. Além disso, lembra me essa eminente especialista em
direito autoral que há convênios privados e convênios registrados no cartório. Quase sem
exceção, os acordos assinados serão privados. Decidir entre um e outro dependerá, claro,
da magnitude dos acordos que queremos pactuar, mas mais das conseqüências que
poderiam ocorrer no caso de alguém (qualquer uma das partes) mudar suas clausulas.
Nossa conveniência deve estar acima de tudo, sem duvida. Insistir sempre na assinatura
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de acordos é útil tanto para @s artistas como para @s contratantes, pois nos
proporciona a seriedade exigida por qualquer operação seja ou não comercial. Muita
atenção.
Duas advertências
Primeira : O modelo de convênio que exponho a seguir foi elaborado com base na média de
contratos que tenho assinado ao longo de minha vida profissional tanto no México
(poucos, muito poucos) como na América Latina, Europa e Estados Unidos, mas que
razões me levam a precisamente este modelo: por um lado, o universo legal que até então
regia a nossa vida social começou a mudar, sobretudo no que se refere aos tratos
arte dos europeus e dos estadunidenses. Por que não? A César o que é de César. Se vamos
Segunda : Os comentários que irei acrescentar para ilustrar pontos e cláusulas estão
MODELO DE CONVÊNIO
Acordo assinado no dia _______________________, de_________________ de
__________, entre (nome legal completo, pseudônimo se o usa). Residente em (número da rua,
bairro, cidade, CEP,estado e país), daqui por diante denominado “O ARTISTA”; e ( nome do
dono ou responsável legal, nome da instituição ou empresa), com domicílio fiscal em (número
Considerando que o ARTISTA, como profissional nas áreas (desenho e/ou gravuras e/ou
esculturas etc. Você que escolhe) deseja por vontade própria mostrar obras de sua autoria
(Exclusividade é proteção, mas para ambas as partes. Pode-se outorgar exclusividade á empresa ,
pode-se determinar em um único caso: só se a empresa pode vender tudo o que produzimos, e se
fosse assim já seriamos quase exclusivos de maneira automática. Uma opção quando uma
empresa nos pede exclusividade è assegurar-nos que se comprometa a representar-nos, e não só
a vender nossa obra em ocasião da exposição. Em todo caso, podemos estabelecer por mutuo
acordo uma duração justa para o período de exclusividade que costuma ser de dois a cinco anos –
ao cabo do quais ambas as partes avaliam os resultados e, de acordo com esses, assinam ou não
um novo acordo. Outra opção é outorgar exclusividade somente em uma das modalidades que
praticamos, por exemplo, só no que se refere a obra gráfica ou a desenho, mais não a pinturas ou
esculturas. Capito?).
119
2. SOBRE AS CONSIGNAÇÕES
Durante a vigência deste CONVÊNIO, o ARTISTA dará a EMPRESA as obras
que se anexa a este acordo sejam listadas com seus respectivos recibos, mesmo que
(___) Toda obra nova criada pelo ARTISTA a partir da assinatura deste
CONVÊNIO, excluindo a obra que o artista reserve para sua coleção pessoal, e que
EMPRESA, mas excluindo aquilo que o ARTISTA reserve para sua coleção
pessoal, e que tampouco inclua a obra que o ARTISTA retenha para vender DE
e suportes:
___________
___________ (etc.)
(______) Não menos de _______ obras ao ano sobre as que se chegue a um acordo
___________
___________ (etc.)
representantes.
(Será necessário ler o ponto dois (2) varias vezes. Essencialmente, nos serve para reduzir qualquer
possibilidade de confusão. ATENÇÃOao ultimo parágrafo deste ponto. Não se trata de prejudicar
ninguém, mas de jogar o jogo mais limpo possível. Isso implica em entrar em cumplicidade
verdadeiramente amistosa com a empresa).
3. SOBRE A PROPRIEDADE E OS RECIBOS
O ARTISTA afirma como verdade ser autor e dono exclusivo e incondicional de toda a
propriedade da obra consignada, até que esta não seja liquidada em sua totalidade.
(O primeiro parágrafo deste ponto pode parecer néscio. Não o é. Deve-se oferecer sempre a quem
lida com nossa obra a absoluta segurança de que não está comprometida. Quantas vezes, quando
nos vimos pressionad@s por questões econômicas ou qualquer outro motivo não tomamos essa
tela e damos a alguém que diz ter um cliente? Essa mesma noite chega á casa a nossa cara-
metade e CARAMBA! O que é que aconteceu com o quadro que você me presenteou quando…E aí
que estamos tentando explicar que o aluguel, o veterinário, que… NAO ME IMPORTA!Esse quadro
è meu! E na hora de telefonar para recuperá-lo…“Pois, já o vendi”Não me importa! ESSE
QUADROÉ MEU!Agora vou buscá-lo…Ufff… a encrenca na qual nos metemos, por não respeitar
o que presenteamos).
- Visitas periódicas a seu ateliê para familiarizar- se com seus logros e avances;
(UAUAU!!Leram isso? Visitas? Periódicas? Ao ateliê? Estamos muito mal acostumad@s a ir vira-
latas em galerias levando obrinhas embaixo do braço, fazendo filas e ante-salas, enquanto nos
recusam com a mão na cintura ou nos fazem o favor de pó «por aí, vamos ver se vendem» Puxa,
nem se fossemos... Pois, me ocorre uma ignomínia para colocar aqui.
O problema é que assim não se fazem as coisas. Ponto. O que procede é fazer chegar nosso port-
fólio à galera para que possa ser estudado uns dias. Se os proprietários gostam do que
produzimos, eles irão marcar um primeiro encontro em nosso ateliê – e, por favor, que não
esqueçam de devolver o port-fólio, pois nos custou os olhos da cara fazê-lo – e dai, sem duvida,
poderá florescer uma boa relação. O miolo do assunto estriba que as visitas de ateliê devem
pactuar-se e ficar estabelecidas como prática usual.
obra;
- Descrevendo a maneira pela qual exibirá a obra tanto em seus espaços como em
ATENÇÃO
Em todo e qualquer caso, o uso da obra fica amparada pela Lei de Defesa do Direito
sempre e quando esses não excedam _____ % do preço pactuado, e unicamente quando
EMPRESA.
b) O preço de venda de cada obra inclui os pagamentos de impostos previstos pela lei.
d) Os preços das obras NÃO incluem os custos de entrega ao cliente. Os ditos custos
sujeitarão aos acertos feitos por ela para que a obra chegue a seu cliente.
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cuidará em respeitar o preço de varejo no mercado, nas vendas que se levam a cabo em
seu próprio ateliê, ou dado o caso, em acordos que se façam com outros representantes
e empresas. Isto inclui cotizações que façam sobre as obras consignadas ou doadas
mais de __ dias.
(Conheço um artista que há nove meses anda atrás de uma galeria para que essa o devolva duas
pinturas em acrílicos que saíram de seu espaço « como mostruário ». Resulta que as obras foram
pedidas por um possível cliente, um restaurante que as tem penduradas em sua sala principal
desde então. Ele, por descuido, não especificou suas condições, e agora chora. Isto pode acontecer
com qualquer pessoa, de modo que mais vale que nestes casos também fique claro e por escrito).
comissão que resultara das vendas será dividida segundo conveniência, entre a
(Como assim? Não acabaram as surpresas? O que é isso de aluguel? Pois hei de avisar, se não
pularam paginas atrás quando falei de aluguéis, que esse costume, muito saudável em minha
opinião, já se pratica há muito tempo. Parece-me que começou no Museu de Arte Moderna de
Nova York há mais de 40 anos, de onde se difundiu a mil e um lugares. Na América Latina apenas
começa. Costumam alugar obras as companhias produtoras de telenovelas, serviços de
banquetes… Assim que «coloquem a massa cinzenta para trabalhar, minha gente! »
abonada por conceito de aluguel será (___) // não será (___) dedutível do preço total
da obra citada.
7. SOBRE AS COMISSÕES
(Atenção redobrada: este é um ponto que exige cuidado especial e diplomacia, já o adverti
acima. Todas as distintas comissões devem pactuar-se de antemão, sempre de acordo com o
trabalho que invista a galeria. Da minha parte, não teria nenhum impedimento de pagar até 75%
de comissão, sempre e quando o único, absolutamente o único! que tivera eu que fazer è produzir.
Que lindo, não?
A mesma importância em um futuro não muito distante, @s artistas terão de pensar em lograr
acordos sobre o máximo de comissão que se poderá cobrar que adquira sua obra para revender
(“droit de suivre”, ou direito de seguimento). É lógico – e justo – que se o revendedor investe
adquirindo obra e a pagando em dinheiro, possa ganhar uma comissão maior do que a que se
paga em consignações).
a) (___) % sobre o preço convênio para venda ao varejo, tal e qual se estipula no
RECIBO DE CONSIGNAÇÃO.
c) (___) % do preço de obra em venda realizada pelo ARTISTA do seu ateliê durante a
d) (___) % do preço de venda realizada pelo ARTISTA em seu ateliê, sempre e quando
ditos eventos.
participação no concurso.
EMPRESA.
ARTISTA.
do artista.
Em todo caso, esta liquidação prioritária será feita dentro dos 30 dias posteriores ao
pagamento (aparcelado).
á EMPRESA em um tempo não maior de 30 dias a partir de que o cliente liquide sua
divida. Se for com cartão de crédito, será a partir de 30 dias de que a quantidade
para cobrir a parte que lhe corresponde. O pagamento á EMPRESA se fará dentro de
(Todos estes pontos e incisões podem soar complicados. Não o são. Trata-se de evitar, no
momento de fazer contas e até onde seja possível, diferenças que podem chegar a ser maiores. Se
estas incisões ficam claramente escritas, tudo se dirime na pratica com a uma calculadora de
bolso: “Vamos ver, você vendeu tanto e eu devo tanto de comissão para você, mas eu vendi este
tanto pelo que você me deve… tiremos a diferença e pronto.
pormenorizado
c) Data da venda (e/ou aluguel), com preço e condições de pagamento (em dinheiro,
pactuada;
acordo de que não se fará nenhuma negociação sem o consentimento pleno (por
meses de antecipação.
(Muita atenção aos assuntos como o das fotos da obra, quando podem-se dividir os custos da
documentação. Em troca, é claro, das concessões do uso das mesmas. Será conveniente reler
varias vezes o ponto 14, que trata dos direitos autorais).
condição que, por questões de espaço e movimentação, limite o tipo de obra a exibir.
recepção etc.).
mostra.
_____________.
_____________.
ARTISTA.
(Assunto de constantes fricções entre artistas e galerias, mas, sobretudo, entre artistas e
instituições, isto de danos e perdas e molduras pode chegar a maiores discussões. Se queremos
que se respeitem nossas obras, @s artistas devemos por força entregar toda e qualquer obra,
emoldurada ou não, devidamente envolvida para sua total proteção. E assim devem devolver-nos
depois da exposição. Para entregar nosso trabalho em condições ótimas para sua transferência e
seu manejo, é muito recomendável ter sempre a mão, no ateliê, um rolo de papel Kraft e outro de
plástico bolha.
pormenorizada por escrito, no qual descreve a condição física da obra que entrega
em consignação.
RECIBO DE CONSIGNAÇÃO.
ARTISTA poderá exercer seus direitos conforme as leis vigentes na entidade onde se
a) A petição de qualquer das partes, este CONVÊNIO pode ser rescindido mediante
b) Este CONVÊNIO não poderá ser rescindido por nenhuma das duas partes em um
EMPRESA.
condições tomadas oralmente e por escrito entre os contratantes; e não poderá ser
modificado em suas parte exceto por CONVÊNIO mutuo e previamente avisado por
escrito.
- Rua e número:
- Rua e número:
(LUGAR E DATA)
___________________ ___________________
O ARTISTA A EMPRESA
___________________ ___________________
=- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =- =
Para finalizar este longo e complicado capitulo volto a insistir em que o documento acima
selecionar as partes necessárias para aplicá-las ao caso especifico. O resultado poder ser
PS-
Agradeço de maneira muito especial e carinhosa a revisão feita pelo bom amigo Ricardo
O que é um port-fólio?
É totalmente inútil lançar-se pelo mundo afora em procura de... de... dealers! (Antes eram
Ninguém sai de seu ateliê, com o carro (próprio ou emprestado) cheio de obras,
freqüentes em nosso ateliê. Quem ainda não o faz deve entender que a única maneira que
isso, primeiro é preciso despertar o interesse deles pelo nosso trabalho, coisa que
Coisa estranha, a única palavra parecida a port-fólio que está no Pequeno Larousse
conceito tal e como nos chega do mundo dos negócios de arte que fala inglês. Vejamos pois
Port-fólio (it. Portafoglio, fr. Portare + folgio: carregar a folha, pagina 1. uma capa
com dobradiça ou estojo flexível para carregar folhas soltas, retratos, ou panfletos. 2. um
em uma pasta.
pessoas interessadas em gerenciar (ou estudar) nossa obra, para que logo passe a ve-las
em nosso ateliê.
Sempre servem os velhos ditados, como o que reza “segundo o sapo, a pedrada”, quer dizer,
teremos que apresentar port-fólios distintos para distintas ocasiões. Por exemplo, para
mostrar ou vender uma obra a uma empresa que distribui só estampas gráficas, não
será preciso mostra a seu representante fotos de nossos murais e esculturas.
Deve-se estar preparado, além do mais, para ter à mão três, quatro, sete port-fólios, dez
uns quantos dias nas mãos da pessoa apropriada que trabalha em galerias e nos museus
que nos interessam, afim de que possa decidir se nos recebem ou não. Dai que se deve
“armar” nossos port-fólios da maneira mais convincente e persuasiva possível. Se não cai
impactada aos nossos pés, que nos devolva o port-fólio! M as se entramos em acordos,
então sem duvida nos pedirá outro, armado sob medida das correções que faremos chegar
até aquela pessoa. Normalmente, os custos dos subseqüentes port-fólios que a empresa
Como a esta altura do campeonato já aprendemos muitas coisas, nos será facílimo armar
Os conteúdos do port-fólio
- Currículo vitae: geral e especializado (capítulos VII I)
VII). Ainda que hoje em dia os diapositivos são menos usados, continuam sendo práticos.
Não se pode esquecer que quanto melhor a apresentação, melhor o impacto: um port-fólio
137
que contenha o CV limpo e bem redigido, boas fotos, fotocópias arrumadas de crônicas e
resenhas, apresentado em um estojo elegante, faz a diferença entre uma rejeição e uma
proliferado em tal quantidade de propostas artísticas que, entre tantas informações que
sentido a primeira vista, e a segunda também. Cada um de nos pratica algum dos mil e
um “dialetos”, que por sua vez se desprendem das centenas de “idiomas” visuais que
convivem contemporaneamente. Por isso mesmo, nossa obra precisa ser traduzida e
transmitida. Por que – nos perguntamos perplexos – temos que explicar o inexplicável?
Não se trata de “explicar” a obra. O que devemos saber fazer é complementar para
contextualizar.
Outrora quando as condições que rodeavam o uso da arte eram relativamente simples, os
textos complementares não eram necessários posto que o que @s artistas produziam se
Tomemos como exemplo El Guercino (1591-1666), aquele grande pintor barroco do Sul da
Europa, a quem chamavam assim porque era vesgo. A obra mais conhecida deste bolonhês
é “Aurora”, que pintou no teto do Cassino Ludovisi, em Roma. Trata- se de uma obra de
seu mestre, D. Ludovico Caracci, mas logo adotou um estilo de chiaro-oscuro muito
marcado (à Caravaggio, porém mais suaves). Depois, muito atento á seu tempo,
todas as voltas REVIRADAS? que deu sua obra, nunca confundiu a seus espectadores! A
seus arredores naquela época não ultrapassava os 60 mil habitantes e de Bolonha era
Para fechar a historia com chave de ouro: o Guercino deixou uma resma de cadernos de
anotações que cobrem um período de 37 anos (1629-1666), nos quais podemos ver que sua
principal preocupação foi a clientela, suas dividas e os pagamentos que fazia, detalhes e
A novos tempos, novas maneiras de informar! Não em vão a humanidade inventa mais e
melhores modos para comunicar-se: de tambores e sinais de fumaça até a rede das redes.
Assim simplesmente é a coisa. Não seria lógico continuar a grande tradição e emular
Os convites que costumamos enviar para atrair ao publico uma EXIBIÇÃO (palavra
contraria a inibição):
Não há pior desperdício que um convite sem informação. Toda a minha vida eu guardei
pseudopoéticos), uma foto d@ artista ou de sua obra, uma breve nota biográfica. Está na
139
moda o habito de desenhar convites como cartões postais desprendíveis. E por que não?
Os catálogos que são sempre bem-vindos já que além de alentar as vendas de cada uma
das peças exibidas, ficam como memória do que se apresentou naquele momento. Ainda
que você não crie, ha muit@s artistas que não conhecem a diferença entre um convite e um
catálogo. Na palavra está a diferença. O convite convida, pelo que dever ser o mais
cada uma das obras apresentadas, pelo que, em ocasiões, deve incluir um ou vários textos
Os cartazes que podem acompanhar uma mostra, mas podem também ser produzidos sem
maior motivo que luzir nossa obra nas paredes dos escritórios, escolas, oficinas,
quartos... Os cartazes (ou pôsteres, como dizem alguns) são especialmente úteis para
promover exibições itinerantes. Desenham-se de maneira que seja possível colar uma
etiqueta diferente pra todas as sedes, nas que se consiga data e domicílios. De resto, não
Podemos publicar nossos próprios cartões postais, ou vender nossas imagens a don@s de
discotecas, bares e cafés, para sua distribuição gratuita. Ha inclusive criadores/as que
desenham e imprimem seus próprios carimbos postais, com tudo e picotagem, que logo
colam em cada envelope que enviam pelo correio. Se nos decidimos por fazer disso um
costume dos postais, podemos logo em seu tempo reuni-las para vendê-las como pacotes.
O que a imaginação propuser: selos de borracha para onde seja, formas para estarcir
nos muros da rua, panfletos para colocar nos vidros de carros parados ... Ou em bolsas
Já posso ouvir os comentários: Ah! Caramba! Vamos nos queimar, que idéias tão
palurdas, não pois não, isso não vai comigo, eu que sou tão frufru,...
Não resta duvida que “o que dirão” é um poderoso elemento inibidor. Coisa estranha entre
que goza de reputação de boêmios desinibidos, não? Na realidade são pruritos que
atentam contra o que motiva a nossa lida profissional: comunicar-nos com o próximo.
roubo, sem dúvida alguma. Existem alguns empréstimos ou apropriações que são lícitos,
quando sua intenção é construir sobre o fato, como homenagem, ou como parte de um
diálogo em tempo. O plágio, seja cometido por dolo ou ignorância, é penalizado quando se
normas respeito à “honestidade acadêmica” e em seu lugar na rede tem um espaço especial
para este capitulo, pois enquanto nós artistas sofremos muito com plágios cometidos
referir-se às idéias como se fossem objetos como mesas e cadeiras. É evidente que não o são.”
idéias visuais de outr@s podem ser – de fato, são – mecanismos disparadores que fazem
“para a frente” (como pretendia o modernismo), fuçam o passado para retomar e recriar
idéias que ficaram pendentes, ou que voltam a ser-nos de utilidade. As ditas idéias podem
O que é que acontece quando Alberto Gironella retoma As meninas que Diego Rodríguez de
Silva Velásquez (1599-1660) pintou a seus 57 anos de idade? Da mesma maneira, o que é
que acontece quando Rupert García pinta um quadro no qual transcreve a foto Obreiro de
García pinta um quadro baseado na foto de Álvarez Bravo, estão citando. Seu propósito é
inspiração, mas a incluem no título de sua obra. Ao devolvermos as imagens que criaram
O plágio se comete quando se oculta a origem da idéia, quando se nega o crédito devido a
seu autor/a ou quando não se pagam os direitos. Alguns copiam uma obra de arte linha
por linha; outr@s incorrem no que a literatura chama de “parafrasear” e tomam traços
e cores reconhecíveis de outr@s autores/as, porém há muit@s que, muito no estilo da era
eletrônica em que vivemos, reproduzem por meios virtuais e/ou fotomecánicos uma
pintura, uma escultura, uma proposta visual, para usá-la em um cartaz publicitário, um
cardápio ou uma camiseta, sem pedir permissão, sem dar créditos a@ autor/a e sem
proprietários herdeiros de Van Gogh. Ao mutilar a obra e compará- la com seu pão
banalizam o grande holandês diante dos olhos públicos que mereceria ser conhecido em
melhor circunstância.
Outro exemplo, menos insultante mais igualmente imoral, é o da Loteria Nacional para a
Assistência Publica (no México) quando reproduz em seus boletos obras de artistas vivos
sem pagar- lhes direitos por seu uso, sem sequer avisá-los do que está fazendo. O dolo se
autarquia se nega a fazê-lo por escrito! Seu plágio vulnera nossos direitos autorais e deve
Basta saber quantas pessoas vivem de processar a informação (entre as que se incluem
capitais que geram; basta ver o impacto na sociedade para nos darmos conta que o tema
refletido nas artes) e a necessidade que se requer para resguardar os direitos criados
por intelectos individuais, sejam ou não reconhecidos, o tema exige atenção prioritária.
O terreno das artes plásticas, por sua vez, é talvez o espaço gerador de idéias mais
dos depredadores que nos rondam. Porém boa parte da culpa é responsabilidade d@s
nossas idéias sem nos dar conta alguma nem a nos nem ás leis: “deixa aberta a gaveta e
terá um ladrão”.
O universo que rodeia às artes plásticas é hoje muito diferente do que foi no passado
imediato. Até pouco tempo atrás, a obra d@s artistas se transladava a mãos de terceiros
fosse um desenho, uma gravura, uma pintura em tela, um mural, ou uma escultura se
A situação agora é muito mais complexa. Mudou a arte, mudaram os materiais; suas
de reprodução e dos meios de difusão que se tornam cada vez mais sofisticados e
versáteis. Uma obra de arte cumpre hoje muitíssimas funções a mais: tem mais usos e
destinatários, os usuários.
computação.
Todo esse universo de pessoas recorre com mais e mais freqüência ao engenho de
folhetos publicitários, etc., relacionada com seus objetivos. Ninguém a primeira vista
poderia objetar esse desenvolvimento, mas isso tem seu lado trágico: entre a multidão que
usufrua do produto artístico, quem menos se beneficia são nós própri@s, os artistas.
Deve-se, pois, ampliar nossa cultura autoral. De outra forma, não saberemos como
as possibilidades de nossas obras, ainda mais depois que o objeto físico deixe nossas
mãos.
É preciso saber, portanto, como negociar com eles as licenças de uso de nossas obras,
Também os usos que tem uma obra fora dos mercados de arte tem se estendido. Somem-se
depredadores.
formar sociedades de autores que nos brindam com representatividade e proteção, que
buscam sanear nossas relações com o mundo que nos rodeia, que estimulam a atitude
lhes as quantidades que por conceito de direitos do autor se geram a seu favor. Assim
mesmo, proporciona ajuda mútua entre seus associad@s e funciona com alinhamentos
definidos pela lei (precisamente a que a converte em uma entidade de interesse público).
titulares de direitos patrimoniais de autor, não importa onde se localizem. Isso implica
Nisto, como em tantas outras coisas, os países desenvolvidos estão à frente, mas o
México e o Brasil não ficam muito atrás. Existe há quase 20 anos, uma sociedade
autores chamada “de interesse público” sem fins lucrativos. Atualmente é uma
grêmio.
Todos os países têm a sua legislação. Para regular sua relação com os vizinhos, a
maioria ajusta suas leis autorias com os tratados internacionais assinados entre as
nações. Como entre dizer e fazer há um caminho a percorrer, toca-nos transitá- lo.
Passemos agora a outro grande tema, o de nossa relação com o Fisco (iiiiiiiiiich!)
Obrigações fiscais
147
Pareceria que nós artistas sentimos que as leis que afetam aos mortais comuns não são
aplicadas a nós: apenas uma bem pequena proporção do grêmio cumpre com suas
Entretanto, quando buscamos retificar o caminho, deparamo-nos com o fato de que o fisco
não só não nos contempla em suas leis e regulamentos, mas que nos impede de exercer
sobre o Imposto de Renda, a única que nos reconhece como artista. Embora as disposições
desta chave nos impeçam de estender faturas, o que nos obriga a vender obras em troca de
recibos honorários. A medida é claramente uma aberração, pois sem fatura, um/a
comprador/a nunca poderá crer ser don@ legitimo da peça, não poderá assegurá- la, e
Sem outorgar reconhecimento à profissão de artista, o único lugar onde o fisco nos
empresariais). Isso nos obriga a registrar- nos sob duas chaves e embaralhar nossas
presidente anterior inventou , sem duvida com boas intenções, mas que foi modificado pelo
tristemente célebre Salinas. Está tão mal organizado que só alguns artistas podem
recorrer a este sistema, já que opera em apenas algumas zonas do país. Rege-se por
Resumindo, a atual legislação em toda a América Latina é tão confusa que até parece
maquiavélica: proporciona aos malandros de colarinho branco os mecanismos ideais para
sine qua non da nossa profissão, por mais que existam pessoas insistindo que “a arte é
japoneses, tanto como são diferentes as sensibilidades de uma cidade sulista e calorosa
recreativos de uma operaria são completamente diferentes aos de seu patrão ou patroa,
De onde viemos, onde trabalhamos, em que direção vamos são fatores que também
proveito de nosso trabalho, é bom repensar nossa relação com as instituições culturais
publicas, por um lado, e com fundações e empresas privadas, por outro. Dito de modo
honorários?
Se quisermos produzir com base em salários e subsídios, teremos que procurar lugares
onde esses sejam oferecidos. Geralmente isso ocorre em instituições publicas e fundações
procurar cultivar a freguesia. A opção do subsidio, não se esqueça, será sempre e por sua
natureza, de curto prazo. A das vendas vai aumentando à medida que se ponha em
marcha.
Conseqüentemente, a pergunta: que preços devemos por na nossa obra? Será determinada
pela resposta que formulemos a uma pergunta anterior: Com quem procuramos
estabelecer a interlocução: com gente comum ou com gente poderosa? Com a enorme classe
publico ativo (PA), entre a multidão de rendas médias ou em pequenos grupos de altos
salários?
Enquanto mais caro queiramos vender, mais teremos que cortejar setores de alto poder
tudo e com seu marketing, pois pelo menos recebem conselhos, úteis ou não, a respeito do
“investimento” que fazem. Se pelo contrario, estabelecemos preços mais acessíveis, mais
Assim simples? Não, não tanto, porque os riscos do primeiro caminho são enormes, não
menos o de ter que fazer pré-vendas aos pudentes, concessões que possam lesar o espírito
caminho. E, já não há com o que se preocupar. Afinal de contas, o que se impõe é o acerto
começam a passar, a obra pode chegar a ser muito cotizada. Francisco Toledo, artista
Salinas, no México dos 90s, muitos colegas ficaram gulosos com a riqueza que se dizia
Hoje a maioria daqueles artistas sofre as conseqüências, já que lhes foi impossível
151
acomodados/as e sua obra pessoal. No melhor dos casos, dão aulas em casa. As exceções
De minha parte, vendo a um modesto ritmo, duas ou três peças por mês, a preços
igualmente modestos, pelo que meus compradores são pessoas de minha condição social,
Pelo mais, nunca, nunca joguemos fora a nossos próprios colegas aliad@s, quem
costumam ser nossos melhores promotores, que em ocasiões atuam como curadores/as e
até funcionári@s: eles também podem chegar a ser nossos melhores colecionadores. Se
não fosse assim, como poderia ter-se dotado de obras o Museu Rufino Tamayo, o de José
Luis Cuevas, os dos irmãos Coronel em Zacatecas, o do José Garcia Ocejo em Córdoba,
Veracruz...?
ai. M as não é preciso trigonometria para anotar uns números e por preços ao nosso
trabalho. Vejamos:
O lógico é que nosso trabalho cubra os gastos do lar. A primeira coisa que precisamos
profissional.
- Telefones (média) R$
- Alimentos (média) R$
- Dependentes (média) R$
- Transporte (média) R$
- Vestimenta (média) R$
- Geral R$
- Imprevistos: R$
Total R$
Digamos que a média mensal total é de... (o colocarei em dólares? Não melhor em reais...
Para estarmos tranqüilos em casa, teremos que ganhar esse total em nossa lida visual,
MAI S o que se precise para produzir nossa obra, MAIS o gasto fixo de nosso ateliê e
imprevistos diversos.
Digamos outro tanto, a soma do doméstico e profissional sejam R$ 2.200 por mês.
produzem muito. Seja como for, devemos calcular de modo realista que média de obras
podemos criar por mês, entre esboços, desenhos, gravuras, pinturas, esculturas,
instalações, objetos, etc. Se as condições de trabalho são boas, quer dizer, se podemos
possibilidades, vamos criar muito mais obras que se trabalhássemos em meio à desordem.
153
A aritmética nos indica que se fazemos um só quadro por mês, teríamos que vende-lo a
2.000 reais, mas se produzimos quatro quadros, poderíamos vendê-los a 500 reais.... E
que tal se criamos 9 obras, e as avaliamos em 300 reais cada uma. Fácil não?
Continuemos com a aritmética: se por mês podemos produzir dois quadros médios, oito
Total: R$ 2.160,00
O que nos indica que ultrapassamos o orçamento por 160 reais. Se além disso vendermos
uma das esculturinhas (o que não pus em minha listinha porque não esperava vendê-la)
em 300 reais, pois chegamos a poder viajar no feriado prolongado para o Guarujá.
Quando se trata de arte, as coisas podem complicar-se (quem sou eu para negá-lo?), por
Como a freguesia nunca é abundante devemos ser realistas e fazer nossos cálculos de
outra maneira. Digamos que demoraremos um mês para produzir e um mês para vender
nossa produção. Para cobrir os gastos dos dois meses (R$ 4.000) deve-se dobrar o preço
de cada coisa, teremos que vender cada óleo a R$1.200 e os desenhos a R$240 cada um.
Não existem mecanismos que tabulem os preços. No momento de calcular nossos gastos
fixos e custos de produção a máxima prioridade, acima de qualquer outra, são nossas
próprias necessidades. M as não podemos ignorar o mundo que nos rodeia. Ver por onde
andam os preços de colegas que trabalham temas ou técnicas ou formatos similares aos
nossos, ver como vendem no ateliê ou na galeria, pode nos ser útil. Se o mercado local
agüenta a barra, podemos subir nossos preços um pouquinho. Se não, cuidado! É muito
fácil cair na tentação (nunca faltam os delírios de grandeza) e por preços tão
estrambóticos ao trabalho, que ainda que chegue a interessar a alguém, não poderia
paga- lo.
Todas essas decisões são táticas, medidas que devem ser pensadas e repensadas para
cumprir de modo mais cabal nossa estratégia: que é – nesse caso especifico – vender nossa
A vida não é um sonho, até que possamos descansar sabendo que já funcionamos
profissionalmente. Duas das opções que temos em vista são vender um pouquinho por
mês, como vimos acima, ou vender de uma só tacada um bom número de obras, uma vez ou,
ao máximo, duas vezes por ano. Para isso temos que organizar uma ou duas exposições
Pode-se exibir em uma galeria privada que tenha boa carteira de clientes, ou em uma
institucional onde teremos que vender por conta própria. M as também podemos exibir
durante vários meses, logo que separarmos outro tempo exclusivo para organizarmos o
evento, depois inaugurar com pompa e circunstância, para finalmente dedicar os dias que
Essa ultima opção tem sido a mais comum, começa, no entanto, a cair em desuso, em parte
porque nos obrigar a cuidar do dinheiro que entra de repente e fazê-lo durar até a
exposição seguinte. Com outras palavras, exige de nós calcularmos o tempo e programar
Pode-se compreender que países mais civilizados que o nosso marcam suas temporadas, a
Todos esses cálculos se baseiam em que, efetivamente, tenha clientela que adquira nossa
obra, o que quer dizer, que haja quem queira o produto de nosso talento, ou ainda que @s
artistas sejamos capazes de detectar quem goste de nossa obra. U U F FAA! A coisa, vista
assim, fica preta. É quando pensamos: melhor que outra pessoa se encarregue de vender!
Que preguiça!
M as se já lemos até aqui, é porque já entendemos como ter nossos assuntos sob o nosso
controle: sabemos, por um lado, que temos que contar com o ateliê, seu armazém e o
clientes e de noss@s amig@s do meio); por outro lado, sabemos que se deve ter suficientes
sobrinha do senhor que não sabe nada de arte, para vender nosso trabalho em troca de
M as não! Não! Ainda faltam coisas: dada a cabeça dura do PP, que não se deixa
converter em PA com facilidade, dada a situação econômica que atravessa o país (o país?
O continente inteiro!), visto que vivemos na querela que vivemos, a quem passaria pela
Não íamos viajar para outras cidades, outros países? Não é no escritório que temos
concurso no Japão? Então, o que estamos esperando? O mundo inteiro é nosso, NÃO
I M PORTA ONDE ESTEJA NOSSO ATELIÊ.
Voltemos ao ateliê, onde estamos a ponto de decidir que preços dar ao que acumulamos. O
sensato, na hora de decidir que preços dar aos 19 acrílicos e aos 60 desenhos de diversos
modelinhos em barro cozido que queimamos quando fomos a Minas Gerais, é com papéis
nas mãos listando as fichas técnicas – escrever o preço de cada peça em uma etiqueta
Com esta previsão economizamos intocáveis mortificações quando alguém nos visite ou
quando os das lojas ou da galeria venham ao ateliê pegar as obras: já não haverá
possibilidade de que pechinchem o preço, que o esqueçamos ou erremos. Está por escrito, a
Espera um pouquinho... Uma ultima lembrança: uma coisa é o preço na obra e outra coisa
descontinho, então podemos oferecer-lhe o desenho SEM moldura (mas já tinha dito isso
Boa sorte!
só porque dizem por ai que “nos convém”. Claro que nos ajuda fazê-lo, mas a quem
convém mais é à instituição, se não, de que maneira justificaria seu trabalho aos
funcionári@s? A nós cabe cobrir os gastos mais pesados: criar as obras, emoldurá-las,
trata de obra não vendável, como instalações e performances, que pelo geral apresentamos
157
atividades que logo listam no relatório anual, esse sim muito importante para as
instituições.
O que é pior: ainda que um outro museu da capital comece a pagar honorários aos
artistas para expor suas instalações e performances em seus espaços (como se costuma
a@s escritores/as por suas apresentações e conferencias. Além disso, cobram ingresso e
vendem livros. Por acaso não mereceríamos o mesmo tratamento? Poderiam estabelecer,
no pior dos casos, uma porcentual pela venda da obra, ou permitir a uma comissionista
vender durante os dias que duram a exposição. A final de contas, tudo volta a depender de
mesmos.
XV. EXPOR NO ATELIÊ (OU QUANDO QUER QUE SEJA)
De como não necessitamos de galerias
se queremos expor quando quer que seja, á nossa vontade.
dificuldades que têm para exibir sua obra. Seu lamento sempiterno é: “Ah, aqui em Lagoa
do Bauzinho (ou onde for) não há boas galerias”. Só posso responder o lógico: não há
galerias boas ou más. Só se pode distinguir entre as que vendem e as que não. O que por
acaso existe sim, é obras boas ou más... E nem isso, porque, o que é bom e o que é mau?
Uma galeria não é nem mais nem menos que uma loja, uma loja privada de mercadoria
vendem muitas obras, podemos considerá-l@s bons empresário@s. Se não vendem, jogam
casinha de bonecas, simples assim. Como qualquer loja, uma galeria empresarial oferece
só o que apreciam, ou seja, seus don@s ou gerentes vendem precisamente porque gostam
A capacidade de qualquer uma dessas empresas que se queira respeitar está logicamente
limitada ao numero de artistas que seus don@s podem gerenciar com soltura e
essas...) Vender arte não é fácil, e “gerenciar uma obra” é ainda mais complicado que a
compra-e-venda de imóveis. Uma má galeria limita-se a aceitar obras que tragam ao seu
propósito de ganhar uma comissão injusta. Ao contrario, uma boa galeria se compenetra
até onde lhes seja possível com a obra e a vida do artista, assume suas propostas
159
marinha e naturezas mortas, a galeria lhes poderá vender isso e mais nada... A menos
que seu dono seja especialmente persuasivo em seus métodos e consiga convencer suas
amizades de ampliar seu panorama de gostos. Este ultima é o que pode distinguir uma
educando-@s no processo.
Muit@s de nos, por desconhecer a realidade, nunca vamos conseguir ajustar- nos a essa
demasiada facilidade quando somos rejeitados pel@s don@s de uma galeria, quando
segundo eles nosso trabalho “não é bom”. O que na realidade está dizendo é que, bom ou
mal, nossa obra não é do agrado a sua galeria nem a sua freguesia, nada mais. Em vez de
nos sentirmos rejeitad@s pelo mundo, devemos tomar suas opiniões com uma medida de
Nunca se pode esquecer que, no fundo, uma galeria é só um espaço de quatro paredes que
alguém habilitou com carpete e luzes para expor. Todo o resto, sua capacidade para
promover sua mercadoria, para cuidar de seus provedores (nos), para publicar
operacional d@s don@s. A maior parte das pessoas que abre galerias, por aqui e por
acolá, as fecha em um par de anos simplesmente porque não soube fazer de sua galeria
para alguma coisa, se já conseguimos nos organizar ainda que fosse a uns 25%,
5. Adaptar nosso ateliê, casa ou lugar onde será realizada a exposição (cap. II);
10. Programar novos lugares para expor a mesma mostra ou o que ficar dessa (cap.
161
II I, IV e IX).
Cada um dos passos necessários para a organização com sucesso de uma mostra está
claro. Todos se sustentam no que temos estudado ao longo deste manual. Não há nada
que nos empeça de levar a cabo esta ou qualquer ação que eu tenha proposto, salvo pelas
inibições que cada um guarda em seu coração. Saberão os deuses por quais motivos
inculcados desde que somos pequen@s. Acreditar, por exemplo, que se não exibimos em
uma galeria “famosa” não o faremos pelo mundo afora, impedirá que organize as nossas
próprias exibições onde, na realidade, é melhor para n@s mesm@s. Acreditar que @s
critic@s não visitam exposições se não em museus e galerias é uma falácia. Acreditar que
o preço de nossas obras seja determinado pelas forças desconhecidas de algum lugar do
Olímpio artístico, impedirá que coloquemos preços justos, concordes com as nossas
Retomo as palavras da introdução deste livro: sempre tá um sujo para um mal lavado.
Sempre é possível viver da arte de maneira exclusiva! Basta assumir que a profissão que
escolhemos, a de artista visual, não é incomum nem envergonhante, nem coisa de outro
humana.
ANEXOS
Li, em 1996, um livro cujo teor reacionário, apesar de generalizar e salientar apenas os
precedem, ainda assim oferece uma pertinente e corajosa reflexão sobre os bastidores do
Brasileira, 256 págs.), de James Gardner, com tradução de Fausto Wolff. Afinal, ele
regem este mundinho maluco do qual muitos artistas são, consciente ou inconscientemente,
cúmplices.
certas expressões artísticas dos últimos vinte anos, apesar de amargas, foram úteis na
compreensão de como qualquer juízo de valor, desde que Foucault e sua tribo gritaram
aos quatro ventos o fim das ideologias totalitárias, havia se tornado precário, dependente
os envolvidos se posicionam, para que uma obra de arte mereça ser denominada como tal.
Não que o objeto-arte não tenha valor em si mesmo. Eu acredito que sim, que ele pode
conter e agregar sobre si informações importantes, cuja leitura sempre rica apenas
163
variará conforme a época ou do contexto em que for analisado. Algumas obras (e, por
favor, quero incluir qualquer forma de expressão humana, literatura, música, etc.)
certamente preencherão requisitos para uma leitura mais perene e universal do que
outras. Paradoxalmente, parece que toda vez que insistimos em determinar regras para
estes valores, ou toda vez que um artista pensa ter inventado uma fórmula que conduza
arte contemporânea. Tanto quanto a polêmica (esta mais danada) sobre o que ela
mero objeto utilitário e, como tal, sujeito às regras capitalistas que abarcam qualquer
Ou ainda, tentativas no sentido contrário: a verdadeira arte não pode ser útil e não se
consome – ponto final. Fica a questão: A arte tem valor de consumo? Ou não?
Ante esta provocação difícil, cuja resposta requereria que citássemos uma penca de
fonte, ou seja, pelo próprio homem, que é quem a produz e para a qual ela se volta.
Pois a diferença está aí. Na fonte. Na verdade, o modo como se consome, circula ou se
gerencia o objeto-arte pouco tem a ver com o sentido de valorizá-lo enquanto arte-autêntica
(notem que eu liguei por um hífen as duas palavras). A autenticidade já nasce agregada
ao próprio processo criativo do artista. Ou, como pretendo dizer: ela já nasce arte-
seu protótipo, antes de concluída. Se o artista realmente comprometido com seu labor
marchands, curadores, críticos (e os há?), vão contribuir apenas com um glacê que pode
linguagens subiram, mas nada disso determina o que é bom ou ruim de fato. Tanto em
geralmente é quem não entende nada, e obedece dieritinho às orientações do arquiteto (bem
última linha pra exibir aos amigos (e quanto mais esfíngicas, maior o impacto). O que
não quer dizer que ele acabe comprando uma obra ruim. Quem sabe?
Artistas iniciantes sempre são uma promessa. Que podem não se cumprir. Aposta quem
tem olho profético. Ou quem tem menos dinheiro. Artistas já consagrados – bem, aí já
Entende-se por Artistas consagrados aqueles que já têm por aí uns dez anos pra mais de
carreira, os que foram aprovados após cumprirem o percurso necessário para sua
bienal (qualquer uma, desde que tenha esta palavra escrita no currículo), quem sabe uma
acervo em galerias e museus, catálogo com textos em jargão acadêmico intraduzível etc.
Então o investidor vê todo aquele dossiê e pensa: estou seguro. O marchand garante. O
curador abaliza. Até o jornal, que geralmente não dá mais que uma notinha sobre artes
plásticas, já fez o cara merecer pelo menos meia-página no caderno de cultura. Ele
Artistas consagrados são certamente seguros, pra quem vê a arte como um objeto de
carreiras. É provável que continuem a aumentar seus currículos, a produzir até o fim de
suas vidas coisas boas e às vezes nem tanto (Artistas consagrados também falham,
também sucumbem às modas, patinando num mesmo estilo, o que pode desvalorizá-lo no
marchands, e o investidor arrisca. Simples assim. Como a bolsa de valores, como uma
um objeto de arte, o desejamos com que intenção? Notaram que eu usei dois vocábulos
arte é um ou outro, ou os dois juntos. Há, entretanto, uma diferença sutil entre eles: o
aparentemente inicia uma coleção para ganhar dinheiro. Nenhum dos dois está errado.
Porque a arte não pode ser destinada a enfeitar o espaço residencial ou a ante-sala de um
mercado de arte é um dos mais valorizados no mundo, cujas cifras podem atingir bilhões.
Ambos, consumidor e investidor, compram arte com intenções diversas, porém ambos
podem ter ainda uma segunda, mas não menos importante intenção, a do colecionador – o
que compra arte pela fruição estética. E é aí que a cobra fuma. Voltando ao nosso
princípio:
qualquer obra de arte será tanto mais autêntica e pontual se tiver aplicados sobre si
conceitos tanto mais profundos e universais acerca da visão de mundo de quem a cria, e
se exprimir estes conceitos através de uma linguagem tanto mais bem elaborada, clara e
sistema e o mercado, esta obra já nasceu carregada de auto-estima pela própria mão do
consagração de certos padrões, são obrigados a rejeitar outros. Em geral, tudo o que se
se está em busca da arte-autêntica ou de uma arte que preencha quesitos mais exigentes,
terá, portanto, que estar atento não só ao que o marchand ou curador lhe diz, ou o
tamanho do currículo parece provar, mas sobretudo à pessoa do artista – ele deve
investigá-lo bem. Todo aquele que se pretende um connaisseur deve educar-se e ao seu
olhar (e quanto mais cedo começar, melhor). Intuição vale mais do que a razão, na
maioria dos casos. M as esta intuição só vale se instruída pela educação e a convivência
com o meio.
Afinal, a arte-autêntica está também presente no mercado de arte (e porque não estaria?
vezes pode ser levada para casa, às vezes terá efeito temporário ou volátil, só podendo ser
O que se quer dizer aqui é que não se pode esperar que o sistema de arte determine o valor
absoluto de uma obra, seja ela pintura, instalação, ou um site-specific. O sistema está
momento), interesses mercadológicos e é em nome destes valores que julga o que é arte ou o
que não é. Exigir que o mercado de arte atue de forma puritana e idealista é um absurdo
tão grande quanto querer o mesmo do supermercado onde você faz as compras ou mesmo
quantidade de lixo.
Como um bom livro, ou uma boa música, que recebe maior ou menor aclamação mediante
nossa sensibilidade e preparo intelectual, assim também é com a obra de arte. Feliz ou
167
Neste momento, a escala de valores mais importantes é a sua, e é com base nela que você
Anexos
Breve e concisa tipificação de galerias.
Onde se entende como publico ativo @os que podem adquirir, e o passivo @os que se limitam a
contemplar
Tradução: Sol Abadi
É possível que alguém, em algum lugar, tenha escrito um texto que recolha a historia da
texto algum que classifique os diferentes tipos de galerias que tem surgido desde que se
institucionalizou este conceito empresarial. Do que eu tenho certeza é que não tem um único
estudo sistemático que trate, em concreto, das galerias mexicanas, nem da sua historia e
desenvolvimento, nem das repercussões que tiveram e tem na plástica deste país.
Pela sua magnitude, é difícil calcular a quantidade de dinheiro envolvida neste setor.
Nem México, nem Brasil não éstao à margem deste fenômeno. O desenvolvimento de nossa
economia assim como os desafios aos quais nos enfrentamos exigem uma investigação
sobre o funcionamento das galerias que funcionam na América Latina, para analisar o
exclusivamente nos meus conhecimentos e experiências como artista (como se isto não
para bem ou para mal, os setorer mais privilegiados de nossas sociedades, a chamada
Encerro este ensaio com uma listagem dos diferentes tipos de galerias que operam na
1
Do Palácio a periferia
Praticamente desde que o homem deixou de ser nômade, o acesso e o desfrute da alta
cultura se estabeleceu como um direito outorgado por deus e privilegio exclusivo de todas
especializados.
Chefes, caciques, duques, reis, czares, paxás , imperadores, faraós, bispos, papas,
tlatoanis, regentes e presidentes, todos competiram entre si para deleitar sua existência
com o talento dos mais destacados criadores de seus tempos, próprios ou estrangeiros.
toda a vida- para entreter a seus soberanos, interpretar as crenças de seus súditos e
Certamente, tiveram que elaborar loas aos deuses e césares , mas graças à tranqüilidade
traduziram as visões cósmicas de seu tempo. Neste processo, refinaram suas habilidades
poder.
grande patrão.
oferece sua mercadoria a um público seleto. (Não deixa de ser um dado curioso porém
significativo o fato de que isto acontecera pouco mais de duzentos anos depois do
Livraria.)
O nascimento da galeria deve ser visto como conseqüência lógica dos processos sociais na
Europa, onde as mudanças de ordem econômica se traduzem numa gradual redução dos
A ascensão da classe media não ocorre de forma homogênea, mas de forma estratificada.
Seus setores mais vorazes procuram adquirir um refinamento social para se legitimar
perante seus pares e por cima de seus congêneres menos afortunados. Alguns (os menos)
o fazem com o autentico intuito de enriquecer sua existência, mas a maioria dos que
começam a comprar, nada seguros do lugar que ocupam nas novas hierarquias sociais,
se limita a emular os ritos cortesãos das aristocracias que se desmoronam. (Se tudo isto
nos resulta familiar nos dias de hoje, não será por mera coincidência…)
apropriam, antes de qualquer coisa, dos aspectos cerimoniais da alta cultura, que tão
O poder se impõe mais quando mais se cerca de pompa e circunstancia e o luxo de todo
cortesão consiste em aproveitar o ócio para inventar coreografias sociais, eventos que
também podem ser considerados rituais de afirmação. As artes não ficam excluídas deste
processo.
os homens ambiciosos percebem que já não é necessária uma unção divina para aceder ao
poder absoluto, mas que é possível fazê-lo pelas vias econômicas, palmo a palmo, tostão
por tostão, muda a natureza das subordinações: o europeu aprende a inserta-las nos
Os novos capitais gerados em base a mais-valia não podem porém funcionar como os
antigos, que se alimentavam dos saqueios vis e do tributo direto. Pela sua própria
estabelecem novas relações sociais, onde o dinheiro muda de mão de maneiras novas.
delataram de forma direta os efeitos de todas estas transformações. Aos grandes temas
origem humilde dos novos barões, com a secularização da vida da cúpula social, aparecem
171
a natureza-morta e o fogão. (século XVI); enquanto nos lugares mais cálidos da Europa
Não devemos esquecer – e isto é muito importante- que naquela época não tinha sido
inventada a câmara fotográfica, razão pela qual os artistas eram os únicos capazes de
criar imagens.
A democratização dos temas, observa John Berger em “Modos de ver” é o fiel reflexo da
origem modesta dos novos patrocinadores das artes, que daqui para frente se verão
Ao mesmo tempo em que a arquitetura se transforma para servir ao novo homo urbis, se
agora será obrigado a negociar pela sua existência de forma diferente, e de vender seu
trabalho, obra por obra. Se antes sua produção se albergou em templos, castelos e
palácios (lugares que tinham sido de caráter público, ou ao menos semipúblico), agora,
necessariamente, terá que inventar novos espaços onde colocar sua produção, já que os
das residências e palacetes burgueses le resultam por demais íntimos. Surge então o
conceito de museu, que levará um bom tempo em adquirir as características que possui
hoje em dia.
Relações simbiôticas
Mesmo que existiram clérigos, monarcas e mercadores que são lembrados pela sua
dependeu mais de sua astúcia que de seus conhecimentos em matéria de cultura. A pesar
disso, toda classe de objetos de arte finamente elaborados por mestres artesões e
arte.
Rapidamente será difícil prescindir destes intermediários e muito pronto também, suas
marchand de arte .
Convém destacar aqui algo pouco estudado: a profissão de crítico surge e é capaz de
folhetins de caráter cultural que procuravam sua freguesia dentro de certos setores da
crônica que depois desembocaria na crítica. È este fenômeno, de fato, o que conduz ao
nascimento do que hoje chamamos Historia da Arte. São os textos de crônica e depois os
O que nos interessa aqui é também que em muito pouco tempo, os escritos destes novos
mercado que, em menos de cem anos, adquirirá proporções descomunais. São estes
mecenatos monárquicos. O que daqui pra frente levara o pão nosso de cada dia à boca dos
Não demora o marchand em descobrir que para que a arte lhe proporcione maiores
rendimentos, ela tem que ser vista, não como parte de um processo lógico dentro da
173
estrutura social, ou seja, como um diálogo vivo, porém como algo fora do comum e
principalmente alheio aos simples mortais. Teve que se criar uma demanda especial, pelo
que se envolveu ao artista numa áurea de mistério, cheio de anedotas e mitos para
maioria das lendas negras que até os dias de hoje cercam aos “poetas malditos” e aos
No seu inicio, a natureza desta nova instituição mercantil chamada galeria foi de ordem
ocasiões, para depois vende-los, não necessariamente como obras de arte (o objet d’art
legitimavam o preço dos objetos com base ao pedigree dos mesmos, quer dizer, em função
No que diz respeito á obra de artistas vivos, esta começou a entrar no mercado com o aval
dos expertos, ao receber certificação de qualidade nos vernissages anuais das também
novas academias. Logo mais, este trânsito da academia a tertúlia social beneficia aos
corretores de tal forma que eles decidem abrir seus próprios centros de reunião, lugares
que eles chamaram “galerias”, espaços onde se desenvolverá um novo universo social e
econômico.
No final do século XIX, diz Aaron Sharf , o costume de visitar galerias rendia tanto que
procura num assunto muito delicado de determinar. A incógnita é: Quem procura e por
quê?
Será essencial, então que a gente entenda as relações simbióticas que se estabelecem entre
conteúdos da obra de arte se ajustam aos gostos e expectativas dos compradores, cresce o
papel do crítico que assume, cada vez mais, a tarefa exclusiva de interpretar, e
principalmente de avalizar o objeto artístico. Por sua parte o marchand ficará imbuído de
valora-lo e distribui-lo.
forma, o mercado refina suas regras do jogo. Duas destas serão mantidas como
singular aquisição única. Como dote, fiança ou herança, sempre será um capital ativo.
-II-
Como meu objetivo é oferecer aos galeristas que estudem este livro uma análise
compra e os que não a possuem. Howard Becker os define, grosso modo, como público ativo
e publico passivo, entendendo aos primeiros os que compram objetos de arte visitando
galerias, e os segundos como os que contemplam a arte visitando museus. Este último
relações que existem entre o público mexicano e nossos museus: o que é um museu, como
surge, como é que se sustenta, quem determina suas políticas y ao serviço de quem ele
A pesar da galeria como instituição que condiciona a estética de ocidente ter nascido na
Europa e ter criado suas raízes em Paris, não foi ali onde adquire seu atual poderio,
porém nos Estados Unidos, a partir do fim da segunda guerra mundial, após uma serie
mercado mundial, o qual consiste numa complexa rede de sistemas e subsistemas ligados
de arte produzidos nos EUA, Alemanha, Japão, Inglaterra, Itália e França para
compreender a natureza desta relação. A flexibilidade do sistema é tal que permite e até
filtros de obra ou de tendências que de encontrar aceitação, logo serão consumidas nas
metrópoles.
Em sua essência, os mecanismos de compra e venta de arte mudaram muito pouco nestes
dois séculos e meio. Mesmo assim, para que a galeria possa sobreviver em diferentes
adaptar. Hoje ele oferece toda uma serie de variações dignas de atenção especial.
transformação, num processo que tem tudo a ver com o contexto socioeconômico: não é
entre as que funcionam dentro de uma economia privada, uma mista e uma de estado.
infraestrutura onde surge um perigo real: é comum que o critério da galeria privada se
erija como reitor único da estética do momento, influindo nas estratégias do setor público.
-II I-
exclusiva. Tudo indica que este processo está afetando, de forma direta e muito profunda,
gradativo que tem tido nas suas vendas e que representa o ingresso de maiores divisas
principalmente agora que assumem -no México- um grupo de funcionários aos quais a
Será necessário, por exemplo, pressionar pra que os governos criem os mecanismos
necessários, de defesa e de ataque, para nos assegurar a saúde de nosso mercado de arte;
o que em resumo significa zelar pela saúde no trato entre artistas, compradores e
intermediários. As ações que deverão realizar os funcionários no poder terão que conter
da produção artística. Isto deverá ser assunto de prioridade se queremos evitar ser
A única esperança que existe de contra arrestar esta tendência fica em mãos do próprio
que tiveram as artes plásticas no México e nos estados Unidos. Vejamos primeiro nos
Estados Unidos:
177
Após as primeiras décadas de nosso século, a produção plástica dos EEUU (assim como
americanos em seus museus, que eram poucos. Desde sua relativa modéstia, os artistas
conterrâneos.
Foi talvez depois da famosa exibição da nova plástica européia no Armory (que incluiu o
estimulados pela inovadora desobediência, começaram a assumir uma atitude que hoje
uma arte que com o tempo, seria identificada como nitidamente norte-americana.
O vigor da resposta foi ta grande que a crítica teve que tomá-la como referência, e com
pelos conflitos internos, foi decaindo e em meados deste século, já quase não prevalecia
A galeria norte-americana, com todo o apóio de seus críticos e dos meios de comunicação,
EEUU, o museu é, quase sem exceção, um organismo sem fins de lucro que nasce por
doações de seus patrocinadores, que são ao mesmo tempo seus conselheiros. Poderosos
empresários a maioria, esses conselheiros são donos, quase todos, de importantes coleções
descontos, um fisco sagaz estimula (ou estimulou) a doação de coleções aos museus.
Quanto melhor consiga o colecionador avaliar sua coleção, maior será o seu valor de
mercado e maior será a sua isenção fiscal. Por isso que é tão determinante a ingerência
nas políticas dos museus que tem, ou procuram ter, as galerias e seus clientes, os
Outro aspecto determinante tem a ver com os processos de seleção que aplicam os setores
a procura de nova mercadoria, dependem muito das academias de arte. Na sua maioria
ambiciosos jovens são ensinados que a única forma de atingir o mercado é através da
galeria . Sabem que esta os conduzirá, com o apoio da crítica e da imprensa especializada,
aos compradores e daí ao museu. O acesso à sociedade, ao grande público passivo é, por
Até inícios do século XX, nossas artes tiveram mais o menos o mesmo destino que as dos
México assume – de forma singular- o papel de cidadão ativo, cidadão primeiro e artista
resposta aos pedidos de nossos artistas e pensadores, se dispõe que o estado zele pelos
seus criadores e difunda sua obra em beneficio da sociedade. Para atender as entidades
da federação, se procede com o tempo a estabelecer casas da cultura, com base num modelo
central.
Mesmo que a cúpula no poder tenha sempre defendido de forma descarada o setor mais
privilegiado por cima das classes populares, e mesmo que na prática deixe muito, demais,
179
vigência e pelo menos até meados do sexênio de De La M adrid, este projeto podia se
Com a fundação do Instituto Nacional de Belas Artes nos anos 50s, sob a regência de
construindo-se de maneira um tanto casual: por meio de doações e legados, uma ou outra
aquisição e até impostações fiscais como o programa “Pago em espécie”, do qual sua
acreditadas não tanto pelas suas cotações no mercado como pela sua pertinência
histórica.
E bom ressaltar que praticamente até a formação do Conselho Nacional para a Cultura e
as Artes, durante o governo de Salinas, nem o setor privado, nem as galerias tinham sido
fatores de importância nas políticas institucionais. Pelo contrario, os critérios que até
então tinham regido os nossos museus tinham sido os de uma elite intelectual e
Tanto por desígnio como por acidente, quer dizer, tanto pela vontade da administração
salinista que deu a luz a CNCA como pelas condições que nos arrastar am à assinatura
do tratado de Livre Comercio e depois com a perda de bússola do Zedillismo, este grande
projeto mexicano, único no mundo, parece ter chegado ao fim. Prova disto é o que acontece
-IV-
Até pouco tempo atrás, os compradores e colecionadores mexicanos de importância se
podiam contar com os dedos. Alguns surgem do setor de classe media alta, classe
Das numerosas galerias particulares que tem nascido e perecido desde a década dos
propositivas. Desde então, quase todas – salvo as honrosas exceções de rigor- podem ser
classificadas como parasitarias, quer dizer, nunca desenvolveram uma prática o uma
ética que lhe permita ao artista viver nem sequer com alguma dignidade, nunca criaram
uma autentica consciência de colecionismo, nem sequer tem sabido estimular a imprensa
A expansão da instituição galeristica privada mexicana, do jeito que a gente conhece hoje
quando se afirmam no poder os tecnocratas que assumiram depois. Alentadas pelo boom
de arte latino-americana nos EEUU, o volumem das vendas das galerias cresceu de
maneira acelerada, obedecendo à norma de que “o que faz a mão gringa faz também a
mexicana”.
Poucas coisas mudaram desde o tempo - não faz tanto tempo- em que os dealers se
181
O funcionamento destas empresas se da por acaso: operam num clima no qual a traição e
as partes envolvidas concorrem ferozmente entre si: artistas contra artistas e contra
fisco cuja ignorância é maior, se isto é possível, que a dos comerciantes de arte.
E comum que a galeria abra e feche acordos com artistas e terceiros sem prestar contas
para ninguém, organize exposições sem que exista um contrato, maltrate a obra sem se
responsabilizar pela mesma, manipule seus ingressos, cometa evasão fiscal, explore a
ignorância administrativa dos artistas e que como se isto não bastasse, seja totalmente
geral uma impunidade que geraria inveja em qualquer empresa de outros rubros
comerciais.
Apesar do aumento dos acordos com o estrangeiro nos últimos anos, nada indica que
lojas mais do que como agentes representantes. Privilegiam o objeto e desdenham a obra.
mudança que trouxe o TLC afetaram a distribuição do produto artístico e também sua
produção, e o que é pior, seus conteúdos: basta ler a Ley Federal de Direito de Autor que
entrou em vigor em 1997 para comprova-lo. Trata- se de uma disposição que protege aos
diz: “nossa cultura não se verá afetada, mesmo que cada vez se homogeneíza mais com a
do mundo inteiro”.
Por tanto, os donos e donas de galerias, impunes em sua prosperidade e atentos ao
modelo norte-americano, marcam pautas sui generis que incluem o lavado de dinheiro.
M as existem aqueles que como eu lutamos por que as galerias se rejam por códigos éticos
claramente delineados e que levem sua administração em ordem; existem inclusive alguns
que sugerem que “alguém” controle a tabulação de preços. O que se procura estabelecer é
um modelo próprio, que responda por igual à nova economia e às características de nossa
personalidade social. Este será o desafio, não daqueles que só procuram o lucro, mas
-V-
Setor Público
A Galeria estudantil, de escola ou academia de arte
Como espaço de existência garantida, a finalidade principal da galeria estudantil é
de cultura e algumas casa de cultura dispersas pelo território nacional, onde se dedicam
ao ensino das artes plásticas. Seu público é passivo e reduzido, mas informado.
galeristas à procura de novos talentos, de forma que, às vezes, pode ser uma instancia
fornecedora, com tudo o que este termo implica. Incide raramente na historia da arte.
A Galeria Oficial
Geralmente, este espaço é uma extensão de um organismo público, de um centro de
183
Universitária Aristos, Casa Del Lago y Casa Del Libro (estas últimas três dependências
Seu público é passivo. Este espaço é potencialmente próspero, afirma seu prestigio quase
programar suas atividades. Salvo raras exceções, é geralmente dirigido por pessoas não
especializadas em questões de arte, razão pela qual suas exposições são pouco
de um museu, este espaço é mais ágil operativamente falando, já que não tem um acervo
vezes até financia a experimentação artística. Em épocas recentes, muitos destes espaços
tem servido como trampolim para uma atividade recente, a do curador independente.
Mesmo impedida de vender pela rigidez de suas burocracias, pode servir de ligação entre
casual.
Os Salões Anuais
Criados pelo INBA na década de setenta, os Salões Anuais operam como galerias
premiar, através dos júris. Na pratica, porém, ela tem se convertido em aval por
regionais destinam o orçamento público requerido para reunir os artistas jovens que
serão premiados, entra a galeria para colher os dividendos. Sua preeminência nos
projetos oficiais conduziu a um abuso no uso do termo “jovens talentos”, conceito que
historia da arte.
são: O Salón de la Plástica Mexicana e a já desaparecida Galeria Venta Direta (as duas
Sujeita aos gostos da direção de turno ou de uma direção fantasma, este tipo de galeria
recebe em ocasiões obras emergentes ou inovadoras, mas nunca proporciona fundos para
apoiar estas obras. Sua promoção depende dos departamentos de comunicação social das
instituições as quais ela pertence, pelo qual são pouco conhecidas as suas atividades.
A galeria do museu
Como galeria temporária, o museu se situa a principio no topo das galerias
institucionais.
Com capacidade de planejamento de longo prazo, geralmente expõe artistas com uma
Uma coisa alarmante nos últimos anos, é que a galeria temporária do museu responde
cada vez mais as condições próprias das galerias privadas, e funciona em relação cada
algum ou outro artista. Isto conduz a um perigo real: que os amigos “cobrem” seu apoio
Setor privado
A Galeria “independente” de artistas
Animados por artistas de espíritos independentes ou marginados pelo gosto que impera,
estes espaços surgem como cogumelos após a chuva, aparentemente do nada. No seu afã
de atrair o público ativo procuram chegar perto dos setores, quando não abastados, pelo
menos prósperos. É usual que desapareçam após uma curta existência, devido as suas
Zona, etcétera.
Estes espaços aparecem em qualquer cidade grande apesar de ter uma vida breve já que
funcionando durante um tempo maior do que dois anos, geralmente é porque aprendeu a
conhecer a dinâmica do mercado. Geralmente são dirigidas por artistas que sacrificam
um valioso tempo de sua própria produção. Este tipo de espaço galerístico geralmente
estimula a inovação , pelo que apesar de sua curta vida, logra incidir na historia da arte.
galeria já que se dirige a um publico ativo porém desinformado, daí que seu caráter seja
que de outra forma não poderiam nem mostrar nem vender a sua obra em lugares mais
exigentes. Não incide na história da arte.
A Galeria comercial
Existem inúmeras empresas que abusam do nome “Galeria”. São geralmente comércios
vendem ferramentas e material artístico. Costumam investir para acumular, pelo que as
Seu púbico é invariavelmente ativo, mesmo que desinformado. Algumas destas empresas
alugam seus espaços a marchands independentes ou a artistas para exibir. Sua natureza é
decorativas de aceitável execução que imita a moda na arte. A história da arte as ignora
de forma enfática.
A Galeria Diletante
Com o olhar atento num público ativo próspero e geralmente desinformado, a galeria
de gente com possibilidades; jovens arquitetos, gente “bem de vida”, “amantes da arte” ou
artistas. O dono deste tipo de espaços parece com o tipo “coiote de condomínio”, (vendedor
sem carteira nem registro), já que investe pouco ou quase nada em promover os artistas
de sua galeria, evade o máximo possível o fisco (aqui é onde com maior freqüência se faz o
lavado de dinheiro sujo) e com freqüência, desfalca o artista incauto. São poucas dentre
estas negociações as que sobrevivem por mais de dois anos e suas idas e vindas
parasitária já que lida com obra (mercadoria) já previamente prestigiosa, este tipo de
187
galeria funciona principalmente como centro de reunião social, pelo que em ocasiões
A Galeria corporativa
Mesmo que contados nos dedos, estes espaços são os que mais se identificam com o
modelo desenvolvido pelos EEUU: operam sob os mesmos princípios e com a mesma
coleções (atividade que adquire cada vez más importância) e a depuração de coleções
obra contemporânea, organizando esta por rubros: maestros da abstração, obra objeto,
Para criar uma reputação e valorizar o produto artístico, a galeria corporativa estabelece
das exposições dos museus, dos concursos internacionais e recentemente com as das
da arte.
O atelier do artista
Nos últimos anos, um crescente número de conhecedores com capacidade aquisitiva
(público ativo) estão começando a desfrutar das visitas ao estúdio do artista, o espaço
dedicado à produção que cada vez mais artistas estão habilitando para expor sua obra de
maquininhas para pagamento com cartão de crédito. Lugar que emociona ao comprador
pela oportunidade que oferece de conviver com o artista, este espaço só incide de forma
para a exibição e venda, cabe mencionar outras instancias que tem surgido recentemente, e
em nosso meio. Inicialmente, estes eventos –sempre muito emocionantes- vieram refrescar
beneficio de alguma causa de alta investidura (ajuda aos danificados, apoio a projetos de
diverso e convocavam um grande público, com perfil tão heterogêneo como desigual a sua
capacidade aquisitiva. Tão eficazes foram os primeiros leilões, que se acreditou que
Algumas razões que podemos citar são: a desorganização administrativa dos promotores,
México, que lhe impede de absorver o caudal de obra em oferta e a própria ignorância dos
compradores que permite que os preços se elevem fora de proporção. A isso se somam
fatores de tipo social: o leilão se converteu num ritual prazeroso para um setor
privilegiado da sociedade que procura adquirir status ostentando sua capacidade para
adquirir (consumo conspícuo). O caso é que hoje, o público de leilões prefere a certeza, à
189
a dois tipos de venda: o leilão organizado pelas contadas empresas de leilão estabelecidas
sua falta de escrúpulos podem ser extremamente nocivos, nem só para o mercado de arte
como para a cultura em geral, já que conseguem distorcer uma realidade já por si só mal
também conhecidos como promotors, entre os que podem ser incluídos certos curadores
dignos de todo respeito, apesar de que em principio se trate de uma prática não ética. São
pessoas que prestaram serviços em instituições diversas, publicas ou privadas, das quais
saíram por algum motivo (diferenças com os titulares ou suas políticas, salários
significação que normalmente. Como conseqüência lógica dos honorários baixos que
depende, em grande medida, da confiança da qual são merecedores no meio, assim como
pessoais” de artistas, gente esta que assume a tarefa de representar por sua conta e de
Num passado recente, estes representantes não eram senão a esposa ou marido do/da
artista, que demonstravam uma sensata divisão do trabalho: um produz para que o outro
provável que logo vejamos crescer o número de gente que se dedique a esta tarefa.