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http://portal.filosofia.pro.br/o-que--ideologia.html
1. Características gerais
“Qual a ideologia que está por trás disso?” – eis aí uma pergunta estranha, mas
que várias pessoas formulam, descuidadamente. Não há ideologia “por trás”. Caso
exista algo “por trás” de um texto ou de um vídeo ou de uma peça de teatro ou de
uma bula de remédio ou de uma legislação, pode acreditar, você não está diante da
ideologia. Por uma razão simples: ideologia é algo que não vem “por trás”,
ideologia é o que vem em primeiro plano, é o que está “na frente”.
“O amor é a única lei” é uma idéia cristã, contra a idéia pagã da “lei do olho por
olho e dente por dente”. Todavia, quando já ninguém sabe o que é que se quer
dizer por amor, dado sua transformação em palavra abstrata, então a frase pode
ser endossada por todos. Todo mundo diz que a coisa mais importante do mundo é
“ter amor”. Assim, o próprio cristianismo, se está ligado a isso, se comporta como
ideologia.
A terceira característica da ideologia é que ela quer antes mostrar a verdade “que
se tem de seguir” do que um conjunto de enunciados que, possa levar à reflexão a
respeito de outros conjuntos de enunciados e assim por diante. Ela, a ideologia,
aceita pouco aquilo que Robert Brandom, louvado por Rorty, chamou de “o jogo de
dar e pedir razões”. Nesse sentido, é próprio da ideologia o engodo, a ilusão ou o
erro.
Nesse caso, não falamos de erro psicológico (da percepção ou do raciocínio). Trata-
se de engano, certamente, mas como uma feição bem especial, a saber, nem
sempre a ilusão ideológica se desfaz uma vez que seu mecanismo de engodo é
revelado. Trata-se aqui do contrário do erro percetivo ou de um raciocínio
equivocado, que pode ser corrigido, e geralmente o é, quando vemos que em que
lugar a frase endossada está dando problemas O engodo ideológico permanece,
mesmo quando denunciado. A realidade que vemos ideologicamente não muda,
mesmo que o que tomamos por realidade esteja, então, denunciado como produto
ideológico.
Não raro, a filosofia também se põe como um conjunto de idéias, uma doutrina e,
nesse sentido, se parece com a ideologia. E muitos confundem uma com a outra
quando ambas assim se apresentam, como doutrinas. Todavia, a filosofia, isto é, a
filosofia que não se corrompeu em ideologia, não se apresenta “na frente”. Ela é o
que vem “por trás”. Não que esteja escondida. Ela vem por trás por uma razão
simples, a filosofia é uma atividade racional, e só podemos usar da razão de modo
explicativo e como fornecedora de boas justificações, quando os fatos já se
passaram e quando o discurso histórico, ao menos em parte, já se fez.
A coruja é ave de rapina, precisa enxergar todo o terreno à noite, caso queira
conseguir alimento. Deve ver longe e de modo bem amplo, e não pode errar a
rasante e não pegar sua presa. Nada tem a ver com as outras aves pequenas. O
pardal acorda cedo e sai para revirar o esterco. Come bichinhos do esterco, mas
quando perguntado por outros animais sobre o que é seu alimento cotidiano, vive
dizendo que são bons pedaços de pão da mesa dos humanos. A coruja é a filosofia,
o pardal, a ideologia.
O senso comum mais ou menos cru toma a filosofia e a ideologia como doutrinas. E
há verdade nisso. São doutrinas. Mas não de modo absoluto. O senso comum não é
analítico e, então, não fazendo o trabalho de distinguir o joio do trigo (alguns
gostariam de dizer, crítico), engole indistinções que não se deveria engolir de modo
algum. Então, não vê que se em algum momento a filosofia e a ideologia quase se
igualam, ao serem doutrinas, ainda assim elas não podem ser tomadas como a
mesma coisa. Pois há a doutrina da coruja e há a doutrina do pardal.
O senso comum não acredita que é necessário, a todo o momento, fazer distinções.
Ele não aprendeu a lição dos filósofos medievais, que diziam que quando
encontramos uma contradição, o que temos de conseguir esboçar é uma distinção.
Sendo assim, ele toma ideologia e filosofia como doutrinas e não vê as
características da primeira como bem distintas da segunda. Por agir assim, sem
grandes preocupações com a distinção, sem achar que contradição é algo que não
pode ser engolido, ele é mesmo o senso comum, o pensamento que tem dificuldade
em se engajar na filosofia. Não raro, ele está envolto na ideologia e imagina estar
fazendo filosofia.
É claro que a proteção contra a ideologia é o uso da razão. Todavia, temos de nos
lembrar que o uso da razão, a racionalização de tudo, pode também ser ideológica.
Ideologia
A vitória das idéias é a vitória dos portadores materiais das idéias.
Brecht
Althusser
Exemplo: 'Todos são iguais perante a lei' (verdade, numa
sociedade burguesa) sugere que todos são iguais no sentido de
terem oportunidades iguais (o que é falso, devido à propriedade
privada dos meios de produção).
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A ideologia é produzida na podução intelectual e acadêmica, é consolidada nas
instituições e divulgada na imprensa especializada e diária (Exemplos ).
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http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html
Bibliografia