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O mental
O mental define-se pelo sentimento de existir como sujeito num mundo de
objetos em relação aos quais eu me perspetivo como agente ou paciente. Existem
duas fontes que nos permitem classificar o mental são eles a experiência de mim e a
inferência que fazemos da conduta dos outros.
A experiência de mim baseia-se no facto de eu ter consciência que sou eu quem ajo,
sou autora das minhas ações, sou o centro absoluto do mundo e do meu sentir.
Independentemente do nosso estado mental num dado momento continuamos a ser
uma entidade mental. Sendo a mente representada pelo sujeito, e o estado normal
deste ser representar um objeto e estar consciente de alguma coisa, a abstração da
mente só ocorre em níveis de pensamento muito abstrato, como por exemplo o
pensamento dos filósofos.
A inferência que fazemos da conduta dos outros está presente quando: um objeto se
move de maneira que nos parece intencional, logo inferimos que tem mente, no
entanto, este movimento tem de ser interiormente causado, porque se o movimento
for espontâneo e cego não lhe será atribuída uma mente ou então será uma mente
cega e sem objetivo. Para identificarmos a mente temos que nos colocar no lugar do
outro. Ou então, compreendermos uma reação emocional, mesmo que está nunca
tenha sido sentida por nós.
Não nos incomoda pensar que depois da morte a nossa alma continua a existir
(espíritos), pelo contrário incomoda mais o facto de pensarmos que deixamos de
existir por completo, mas mesmo assim, existindo apenas como alma a nossa agência
seria limitada pois não víamos, não poderíamos agir, nem sentiríamos nada daquilo
que nos afeta normalmente. Assim, aquilo que considerámos mente, é aquilo que é
subjetivo e acompanha o nosso corpo: mente ≠ corpo. Esta mente é invisível, no
entanto é concreta: não temos nenhuma imagem da nossa mente, mas temos
consciência da sua existência. Precisamente por causa desta particularidade (ser
invisível), é difícil a sua descrição e decomposição para posterior análise. Assim, o
mundo da mente é o mundo do vago e dificilmente analisável.
Mente primitiva
A mente primitiva é a definição de mente do senso comum.
Algumas culturas não têm nenhuma palavra para mente, no entanto, todas
têm alguma para “alma”. Os etnólogos concluíram que alma em todas as culturas se
refere á inteligência ou vontade. No entanto, existem almas que são responsáveis
pela a animação do corpo e outras são mais independentes (xamãs, a alma sai do
corpo para salvar almas perdidas de doentes no inferno), são mais agentes e
conscientes e são as que se pensa sobreviverem á morte do corpo. Assim podemos
concluir que o conceito primitivo de mente é a nossa experiência de viver (agir e
sentir). Estas almas independentes podem sair do corpo, um espírito pode tomar
conta de um corpo e animá-lo fazendo com que a alma desse corpo seja afastada ou
anulada. Assim: mente ≠ matéria não animada e o mental anima o corpo.
Quando temos algo que antes pertencia a outra pessoa, dizemos que esse
objeto tem um significado sentimental, porque acreditamos que deixamos sempre
algo nosso nas coisas que possuímos, isto explica-se: fica sempre um resíduo de
identidade (marca psicológica), nas coias que possuímos. Com isto, na mente
primitiva existe a ideia de que se pode fazer magia com os restos ou pertences de
uma pessoa e esta relaciona-se com outra ideia também ela universal de que agindo
sobre a parte se tem efeito no todo. Trata-se da magia de contacto: um objeto tem
agência e ela passa por contacto, para outro objeto Homeopatia.
Platão
Afirmou que a razão não é corporal. A alma estava dividida em três partes:
razão, apetites e vontades, a primeira tinha a função de controlar as outras duas.
Para este compreender a verdade baseou-se no sujeito, a verdade seriam as verdades
abstratas e os conceitos que conhecemos, os “universais” ou ideias puras. A aparência
engana e tudo parece subjetivo, no entanto, as ideias puras ocorrem apesar desta
confusão dos sentidos e assim elas não podem provir dos sentidos, a sua origem está
na própria alma, que é passiva e possui ideias inatas, sendo assim, a verdade é
intrínseca.
A alma como é imaterial e racional tem consciência das ideias puras e para
além de racional, é motivada por desejos de posse e materiais, sendo que numa alma
harmoniosa esses desejos dão lugar ao desejo de possuir ideias puras. Para
encontrarmos a verdade, a razão tem que tomar conta dos apetites e vontades.
Assim, o sujeito mental resume-se a um palco de luta entre a razão e a paixão e os
apetites corporais e, nesta luta, as ideias puras só se podem comtemplar através da
alma libertada pelo corpo (após a morte).
Quanto ao “eu”, para Platão, a alma não é una (devido aos conflitos interiores),
mas sim racional e imortal (mente ≠ corpo). A alma faz parte do “eu” e é lá que se
encontram as ideias puras (a verdade). Assim, os platónicos partem da consciência
da experiência mental: eu sei que sinto, que ajo, que recordo e por isso eu sou o centro
das representações (1ª pessoa - introspecionismo).
Aristóteles
Veio reinterpretar os conceitos platónicos. Os “universais” ou ideias puras
não existem nos homens, mas a mente tem capacidade inata para categorizar os
objetos que recebe através dos sentidos, o que é inato são as estruturas mentais
(mente passiva / ativa) que possuímos e que nos permitem chegar á verdade, o que
está então presente (inato) é a capacidade de aprender as ideias através dos
sentidos (acidentalmente) e de as formular. Assim, a mente não é uma cópia das
imagens mentais que recebe dos sentidos, porque têm que existir na mente, antes
de qualquer cópia, formas prévias que reconhecem o que os sentidos lhe fornecem, e
a mente é isso mesmo, um armazém de formas.
Aristóteles diferenciava forma e matéria, sendo que, a forma determina a
essência de algo e a matéria pode ser transformada numa outra forma. Com isto, a
alma é definida como a forma do corpo e seria assim responsável pelas funções que
o mesmo desempenha Hilemorfismo (base do pensamento de Aristóteles). A
alma é tripartida: vegetativa, racional e percetiva. Para Aristóteles a alma não é
una e por isso as suas três partes são independentes, mas estão relacionadas.
Aristóteles divide então a mente em duas: a ativa (motor da mente e imortal) e
passiva (“espaço” onde as ideias se relacionam por influência do motor). Os
aristotélicos com a sua teoria tripartida da alma e das faculdades que atribui
funções á alma que fazem manter a vida e pensar, faz com que multipliquem os
conceitos fazendo deles aprioristas.
Crítica nominalista/conceptualista:
Ockham, Bacon e Hobbes (Páginas 29, 33, 43)
Ockham
Ockham, dúvida: será que as categorias existem ou Conceptualismo ≠ Nominalismo
são apenas um produto da nossa mente? Esta é a questão
dos universais de Ockham e para ele (conceptualista), os
Conceitos Os universais
conceitos (universais) eram apenas representações mentais
existem, mas não existem
que nos permitiriam pensar são, portanto, as coisas a que
não são na mente, são
damos nome. construídos construídos
pela mente e pela
Bacon por isso não linguagem.
Bacon, tal como Ockham valorizava a experiência, são um bom
guia para a
opôs-se a Aristóteles criando uma filosofia que se refere
verdade.
apenas ao mundo físico. As palavras são apenas meras
etiquetas das coisas que até então têm sido estudadas em
relação umas com as outras, sem perceber realmente as próprias coisas em si.
Hobbes
Hobbes, foi um nominalista e defendia que as classes do nosso pensamento
são apenas nomes convencionais que se aplicam ao real, diz que o facto de se poder
pensar que a mente pode ser independente do corpo não significa que o seja, é um
erro no uso de palavras e conceitos. Além de nominalista, foi empirista, mas não anti
inatista. Defendia que: o conhecimento mental vem dos sentidos (empirista), porém
é inatista quando constrói a teoria das paixões, diferente das outras. Enquanto
Descartes e Espinosa relatam emoções de um solitário Hobbes completa-a com a
observação do comportamento em sociedade. O resultado foi uma ênfase maior do
papel das emoções na relação social Teoria das emoções. As emoções seriam
provenientes do movimento do corpo que geraria uma paixão, seguida de debilitação
(assegurada pela imaginação). A chave para compreender as paixões é, o conatus,
impulso primordial que desencadeia a ação e toda a vida humana ou animal. A
questão que se coloca a seguir é a da competição pela sobrevivência que acontece pelo
facto de todos os seres terem necessidades e características semelhantes, para
Hobbes, todo o ser procura poder, o que resulta numa guerra contínua, perigo
constante, desgraça e sofrimento. Além da vontade de poder, o Homem tem
capacidades racionais que o permitem pensar e compreender que pode ser bom
prescindir do seu poder entregando-o a alguém superior que os defende em conjunto
Estado leviatã, este funcionaria ao transmitir o medo a quem tentasse expandir
demais o seu poder, garantiria a paz comum. Assim, Hobbes é importante graças ao
seu estudo introspetivo da mente e das tendências para a ação, motivação e emoção,
de acordo com ele, a riqueza e ambição são mal vistas porque todos as queremos de
forma egoísta (não querendo também para os outros).
Descartes, dualismo e antecessores
(Avicena, Agostinho, Gomez Pereira)
(Páginas 35 a 39, 18, 16 a 17 e 34)
Descartes
Descartes propôs-se a construir um edifício de conhecimento totalmente
diferente, baseado apenas na evidência da verdade, vai pôr tudo em dúvida incluindo
os sentidos. Surge assim o cogito que se resume na ideia de que sei que existo porque
me sinto, penso, tenho consciência de mim. A partir do Cogito, Descartes ruma ao
encontro da “verdade indubitável”, que estaria na base de todo o edifício do saber.
Para tal passa por todo um processo de raciocínio desde a prova das ideias inatas
(ideias claras e distintas que precisam do meio para se desenvolverem) até á
afirmação de Deus perfeito e infinito. Para Descartes a mente não seria somente
consciência de si, mas seria consciência das ideias, estas poderiam surgir de várias
fontes e permitir-nos-iam pensar no mundo. A questão do eu: O Eu seria toda a
atividade psicológica consciente. É aqui que surge o dualismo cartesiano em que eu
(alma) existe mesmo sem o corpo e este (mortal) nada pensa é apenas matéria, assim
Descartes admite duas realidades: Res cogitans (alma, mente) e Res extensa (coisa
externa: corpo, matéria), diz que as duas estabelecem uma relação entre si, mas não
sabe explicar como. Afirma ainda a mente como 2 modos principais: o intelecto puro
(independente do corpo, que pensa nas ideias inatas) e a imaginação e sentidos (que
dependem da ligação corpo e mente, são as imagens mentais).
Avicena
Avicena, foi muito influenciado por Aristóteles, mas diferem de forma
significativa. Avicena no exemplo do homem vazio, conclui que a alma é imortal e
independente do corpo. Defende ainda a existência de faculdades superiores na nossa
alma, 7: Senso comum, Retenção, Composição de imagens, Imaginação criativa,
Estimação, Memória e Evocação. A alma era também tripartida em: Sensitiva,
Vegetativa e Racional.
Santo Agostinho
Santo Agostinho era um cético, dizia que não se podia ver a mente da mesma
maneira que não vemos os nossos olhos, isto é, não podíamos ser sujeito e objeto ao
mesmo tempo, assim, não conseguíamos conhecer a nossa mente por observação.
Segundo Agostinho, existem em nós duas realidades em conflito: a razão e o desejo.
Para ele, os sentidos são a forma como a alma se apropria do corpo: não é o mundo
que nos chega pelos sentidos é a mente que procura o mundo através deles. Crê numa
mente una ou consciente, o eu é sempre o mesmo e os diferentes estados mentais é
que entram em conflito, fazendo o mesmo reagir de formas diferentes a um estímulo.
Gomez Pereira
Gomez Pereira, segundo ele, conhece-se quando se dá conta de uma
experiência mental. Ou seja, se eu vir uma árvore e afirmar “vejo uma árvore” estarei
a conhecer; se vir uma árvore e me limitar a reagir-lhe (por exemplo, procurar nela
uma sombra, como os animais fazem sem nada verbalizar) estarei apenas a
responder-lhe com aquilo que agora se chama um programa inato. Pereira afirma
que a conduta animal é determinada por «simpatias e antipatias», significando o
termo «simpatia» uma coisa semelhante à atração que o íman exerce no ferro. Os
animais teriam ainda a possibilidade de ser adestrados (a atual “aprendizagem”)
mas, não tendo consciência (diríamos agora “metaconsciência” ou “aperceção”) do que
lhes chega aos sentidos não teriam alma racional. E, como Descartes viria a dizer
mais tarde, não sentiriam. Esta segunda afirmação, estranha para as sensibilidades
modernas, assenta na ideia de que apenas se sente aquilo que se tem consciência de
sentir, isto é, apenas se sente aquilo que se aperceciona. As ideias principais de
Descartes e Gomez Pereira, são semelhantes: a alma/consciência una, racional,
separada do corpo e imortal; e o corpo material que responde mecanicamente ao
ambiente; e as duas afirmações, quase iguais (“sei, logo existo” e “penso, logo existo”).
Independentemente de ter havido influência direta ou não, a conclusão de ambos os
autores era inevitável a partir do momento em que se recusa a psicologia das
faculdades, os universais e se duvida de todo o conhecimento que não seja
experiencial. Ou seja, dadas as ideias dominantes no final do Renascimento, a
conclusão óbvia era a de Pereira e Descartes. Pereira chegou á conclusão mais cedo,
mas não foi claro quanto ás suas ideias, Descartes foi claro e ainda hoje influencia o
pensamento filosófico.
Hume
Deu primazia á sensação, para explicar os problemas da filosofia da mente
seria suficiente a utilização do método da observação, da descrição da experiência
mental. Tentou diretamente observar o processo de conhecimento como ele ocorre
Geografia Mental ou Anatomia da Mente. Hume parte da posição de que temos
acesso ás perceções do mundo exterior e reflexões do mundo interior, “temos uma
perceção ao ver uma coisa e uma reflexão ao recordá-lo”. Teríamos dois tipos de
perceções: as ideias (registo da impressão e registo em ideias simples que
combinadas formam ideias complexas) e as impressões (perceção exata, nítida e
intensa). As ideias eram guardadas mediante a intensidade da impressão, na
memória (sempre viva, cópia das impressões) ou na imaginação (atenuada, menos
realista, impressões distorcidas).
Teoria das emoções Prazer e dor, a sua noção podia ser direta (sentida por
mim) e indireta (sentido por empatia). Todas as paixões têm uma causa (impressão
ou ideia) contudo em Hume existe o “eu” sujeito e o objeto (causador e sofredor,
respetivamente). No caso do orgulho sou o sujeito e objeto, no caso do amor, o objeto
é o outro.
Reação a Hume, porque não concorda com a sua ideia. O conhecimento vem
dos sentidos, mas e antes de chegar a eles? Estes processos anteriores ao
conhecimento e eram os a priori e são inatos, determinavam a sensibilidade e razão
e seriam a condição para qualquer conhecimento. Quer a razão, quer a sensibilidade
têm regras a priori que não são apenas a associação, são algo para compreender a
origem dessa física da mente que estuda os processos mentais. Para isto, Kant vai
estudar se existem a priori sintéticos. Kant quer saber se a razão cria conhecimento
ou se o conhecimento vem só da experiência, ou seja, distinguir sintético (o que gera
novo conhecimento) e analítico (o que não gera conhecimento). Se o segundo caso se
confirmar, o metafisico deixa de fazer sentido, pois se o conhecimento deriva da
experiência para que serve a metafisica que estuda para além do físico? Assim, Kant
procurou provas de geração de conhecimento na razão, independentemente dos
sentidos: no caso de aparte ser inferior ao todo, isto não gera conhecimento, logo, é
um juízo a priori analítico, no entanto, no caso de a=b e b=c, logo a=c se verificar
sempre mesmo não estudando todos os números gera conhecimento sem
experimentação, juízo a priori sintético. Esta conclusão demonstra apenas a
necessidade de compreender em que é que a mente influencia a apreensão da
realidade exterior e segundo Kant interpretamos a nossa experiência com base nos
a priori dos sentidos e do entendimento e nenhuma atividade humana escapa a isso.
Como pode, então, o mundo ser conhecido? Kant responde com o método
transcendental, não descreve a mente , procura encontrar, por raciocínio funcional,
que operações da mente são necessárias para haver conhecimento (psicologia
cognitiva).
Cientismo e significado
(Páginas 33 e 67)