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ARGENTINA ARGENTINA
JOSÉ MARTINS
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Não é fácil falar do capital quando ele está em forte expansão. Seu triunfante
movimento material abafa penosamente as possibilidades do pensamento crítico.
Há quase cinco anos as principais economias dominantes – EUA, Alemanha e
Japão – ampliam velozmente a produção e a acumulação. Os lucros batem
recordes nas suas cadeias produtivas globais de valor e de mais-valia. Entretanto,
o mesmo não se pode dizer das principais economias dominadas, conhecidas
como “emergentes” pela propaganda liberal. Aqui, ao contrário, o que se passa é
a desaceleração da acumulação, como explicitado em nosso boletim anterior
(Patologias do Imperialismo, 4ª Sem. Dezembro 2013).
No embalo do desenvolvimento desigual e combinado, os festejados Brics,
até algum tempo atrás os queridinhos de nove entre cada dez economistas,
transformam-se agora nos patinhos feios da retomada global. Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul lutam contra turbulências financeiras e cambiais.
Essa é a beleza do sistema capitalista: imensa capacidade de destruir e
amaldiçoar suas imundícies com a mesma rapidez com que elas foram
construídas e glorificadas.
Acrescente-se aos Brics outras importantes economias, como Argentina,
Turquia, Indonésia, Venezuela, etc. e temos à nossa frente esse quadro paradoxal
de travamento da totalidade das economias dominadas (mais-valia absoluta) no
mesmo momento em que as economias dominantes (mais-valia relativa)
aceleram suas máquinas. Essa liquidação do crescimento na periferia em plena
fase de expansão da economia global é uma particularidade muito importante do
atual ciclo econômico, iniciado no segundo trimestre de 2009.
Essa particularidade deve definir em grande medida a forma e
profundidade da próxima explosão global. Funde-se a outras particularidades
deste ciclo – notável enfraquecimento das finanças públicas das economias
dominantes e de intervenção dos seus bancos centrais; crescente
1
ingovernabilidade imperialista em amplos espaços geopolíticos; esfacelamento
do Estado social no centro do sistema, etc.
Depois das ações nos mercados emergentes terem caído para os níveis
mais baixos em cinco meses, e suas moedas sofrerem fortes desvalorizações,
calcula-se que mais de US$ 2 trilhões foram queimados nos mercados de capitais
globais neste ano. Não é uma quantia desprezível. Colapso dos preços no
conjunto das economias emergentes. Porém, no meio destes abalos, as
vicissitudes cambiais e elevação dos preços na Argentina são noticiadas como
um caso isolado ou, pelo menos, como o caso mais grave desta síndrome de
liquidação de valor do capital. Vale a pena verificar mais de perto o que se passa
na terceira maior economia da América Latina.
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No quarto trimestre de 2011 o PIB do país havia subido a um patamar seis vezes
maior que oito anos antes – terceiro trimestre de 2003. No mesmo período, pelo
mesmo critério de medição, os PIBs de Brasil e México subiram a um patamar
apenas duas vezes e meia maior, com taxas mais baixas de acumulação.
Se for verdade que predominou alguma política populista do governo
argentino nos últimos dez anos, pecado denunciado em todas avaliações liberais
imperialistas sobre a situação atual, o que se verifica pelos seus resultados é
que que essa forma de governo da era Kirchner foi excepcionalmente
conveniente à acumulação do capital e, por supuesto, aos lucros das classes
dominantes. É uma tradição do peronismo. A política de Peron, contam
argentinos inteligentes, se assemelhava a de um motorista que ao se aproximar de
uma encruzilhada dava sinal de pisca à esquerda e... entrava à direita.
Mas o neoperonismo da era Kirchner parece bem menos espetacular que o
primitivo do generalíssimo: “O kirchnerismo reconstruiu o Estado imaginando
um capitalismo regulado, subsidiando a burguesia e esperando um
funcionamento eficiente. Forjou um regime com pilares para-institucionais e as
semelhanças com o peronismo primitivo não se estendem à relação com os
trabalhadores. O kirchnerismo procura desembaraçar-se da marca que mantinha
tradicionalmente o movimento operário dentro do peronismo. Procura congraçar-
se com os capitalistas para estabilizar um regime desligado das demandas sociais.
É verdade que favoreceu no início a reconstituição dos sindicatos, mas com o
proposito de debilitar os piqueteiros. Quando os grêmios recuperaram seu peso, o
oficialismo embarcou em uma política de fratura das centrais sindicais ”1
Continuaremos a seguir com o segundo ato da tragédia.
1
– Claudio Katz “Anatomia del Kirchnerismo” in La Pagina de Claudio Katz 11/01/2013. katz.lahaine.org
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CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA, do 13 de Maio, Núcleo de Educação
Popular, S.Paulo.