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Anais do XIV Encontro Estadual de História - Tempo, memórias e expectativas, 19 a 22 de agosto de 2012, UDESC, Florianópolis, SC

Memórias Sobre a Exploração Mineral nas Comunidades de Ribeirão do Ouro e


Lageado Central (Botuverá - sc - Zona de Amortecimento do Parque Nacional Serra do
Itajaí): Uma História Ambiental Baseada no Ouro e Cal.

Vitória de Abreu1

Resumo: O município de Botuverá apresenta crescimento significativo na indústria da mineração,


representando em torno de 65% da sua economia. Atualmente ocorre a exploração industrial e
comercialização do calcário para corretivo de solo, brita e cimento. O município historicamente
também se caracterizou pelo garimpo de ouro, e produção artesanal da cal, e ambas as atividades
tiveram no século XX seu auge. Estas explorações concentram-se desde o século passado nas
comunidades de Ribeirão do Ouro e Lageado Central, que estão no entorno da zona de
amortecimento do Parque Nacional da Serra do Itajaí. O artigo aborda o tema das relações entre a
sociedade e natureza. O objetivo foi compreender a História Ambiental das comunidades de
Ribeirão do Ouro e de Lageado Central que se destacam histórica e economicamente desde o
século XX na mineração de calcário e garimpo de ouro. Foi realizada coleta de dados em fontes
primárias com observações “in locu”, e através de entrevistas usando o método da História Oral.
Também foram analisadas fontes secundárias, com uma revisão de bibliografia. Os dados foram
confrontados e organizados cronologicamente. A exploração da cal representou uma mudança
socioeconômica. Com as entrevistas foi possível constatar que a exploração da natureza era feita
de forma desenfreada e sem preocupação alguma. Neste sentido foi realizada a mineração do
ouro, que era feita no rio, e não existia a preocupação com a água ou no seu curso natural. Com o
calcário o mesmo ocorre, e a exploração modificou consideravelmente a paisagem.
Palavras-chave: Ouro, Cal, Memoria

O presente estudo aborda o tema das relações entre a sociedade e natureza, dentro de
uma abordagem teórica da história ambiental que segundo Worster (1991) surge com um
compromisso moral e político, ele diz que esta nova história abandona a suposição de que a
história do homem é totalmente aparte da natureza, que não gera uma consequência ecológica,
pois assim como o homem interfere na natureza a natureza interfere na vida do homem. Para
ele deve-se estudar o lugar e o papel da natureza na vida do homem. Para Drummond 1991 a
História Ambiental coloca a sociedade na natureza e a influência que uma tem sobre a outra.
O objetivo da pesquisa foi investigar a História Ambiental das comunidades de
Ribeirão do Ouro e de Lageado Central situadas na zona de amortecimento do Parque
Nacional da Serra do Itajaí (PNSI), que se destacam histórica e economicamente desde o
século XX na mineração de calcário e garimpo de ouro no município de Botuverá.

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Acadêmica, bolsista do Grupo de Pesquisas de História Ambiental do Vale do Itajaí, PIPe art. 170,
abreudevitoria@gmail.com
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A pesquisa foi realizada em três etapas. A primeira consistiu em realizar um


levantamento de dados em dois momentos: o primeiro consiste no reconhecimento da área de
estudo. No segundo momento foram realizadas saídas de campo para as comunidades com a
intenção de coletar informações sobre o processo histórico de formação e desenvolvimento
das comunidades.
Durante as saídas de campo foram realizadas observações, anotações e registro de
imagens através de fotografias que mostram as relações entre a sociedade e a natureza, e
entrevistas utilizando o método da História Oral.
Durante as entrevistas o questionário seguiu perguntas básicas, pois, na interação
entrevistador e entrevistado a troca e obtenção de informações superam muitas vezes as
expectativas, e conforme as particularidades sociais, econômicas e ambientais de cada
comunidade, as perguntas foram aprofundadas. Foram entrevistadas 5 pessoas com gravação e
consentimento. Para a escolha dos entrevistados considerou-se os mais velhos e que tiveram
intensa participação na história da região, ou seja, pessoas da comunidade que possuem
suficientes lembranças sobre a região e que atuaram no garimpo de ouro e mineração de cal.
“Na memória dos idosos é possível encontrar uma história social bem definida, pois eles já
passaram por certo tipo de sociedade com características bem marcadas e já viveram quadros
de referencia familiar e cultural também já conhecidos” (BOSI, 1994, p. 60).
Foram realizadas as transcrições das entrevistas e recolhimento dos termos de
autorização dos entrevistados, organizando o material para análise.
A terceira etapa da pesquisa consistiu na organização das informações analisadas de
forma linear e temporal para descrever as características bióticas e abióticas da região das
comunidades, descrever seu processo histórico, as influências antrópicas e usos dos recursos
naturais e suas conseqüências, e descrição da história da exploração da cal e do ouro, das
tecnologias implementadas, e dos seus impactos ambientais e sociais.
O município de Botuverá está situado no Médio Vale do Itajaí no Estado de Santa
Catarina. A cidade tem uma área total de 303,02 km² sendo que cerca de 2,5 km² é de área
urbana e 300,52 km² de área rural. O relevo do município é acidentado sendo compostos de
planícies 18,2%, encostas 50% e montanhas 31,8% que chegam a uma altitude de 85m.
(ARONONI; PASSOS, 2003; PREFEITURA MMUNICIPAL DE BOTUVERÁ, 2012)
algumas das localidades de Botuverá estão situadas na zona de amortecimento do Parque
Nacional da Serra do Itajaí. Entre elas estão às comunidades de Lageado Alto, Lageado
Baixo, Ribeirão do Ouro, Areia Baixa e Areia Alta. Estas comunidades têm características

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basicamente rurais, exceto Ribeirão do Ouro onde a mineração é praticada (PLANO DE


MANEJO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO ITAJAÍ, 2009) As matas da região
pertencem a Mata Atlântica e tem características de formação secundaria de Floresta
Ombrófilas Densa Sub-Montana, neste tipo de floresta pode se destacar o verde intenso das
matas com arvores que chegam a mais de 30m de altura. Os aspectos climáticos regionais
estão de certa forma, relacionados aos condicionantesgeomorfológicos da região. (SANTOS;
MOSER; GARROTE, 2009)
A formação geológica de Botuverá tem o predomínio do complexo metamórfico de
Brusque que segundo a definição de SCHROEDER (2006)

É uma extensa sequencia metavulcano-sedimentar alongada segundo a


direção NE, composto por: metapelitos, metapsamitos e metacaronáticas. A
sedimentação destas rochas foi predominantemente marinha, relacionada a
rifteamento, com turbiditos, grauvacas potássicas e sedimentos vulcanoclásticos
toleiticos. (SCHROEDER, 2006, p.25)

Dalcegio (1987), destaca que o comprimento dos corpos de calcário são superiores a
100m, com espessura de em torno de 40m, exceto a jazida do Tigre que tem 500m.
Segundo o relato de alguns entrevistados e da bibliografia especifica os primeiros
imigrantes de Botuverá eram italianos. As guerras, crises sócias e econômicas, miséria,
desemprego e a propaganda enganosa fizeram com que muitos deixassem sua pátria em busca
de novas terras (BONOMINI, 1976).
Não se tem certeza da data de chegada destes imigrantes e nem quem eram eles, mas
de acordo com algumas pesquisas a data mais correta seria maio de 1876 (BONOMINI, 1976;
ADAMI & ROSA, 2006).
O nome Botuverá, palavra que na língua Tupi-Guarani significa “Bons Brilhantes”,
foi adotado pouco antes da emancipação politico-administrativa. Deve ter se
originado em consequência da existência de vários minérios, principalmente o ouro,
cuja a extração era uma das principais atividades econômicas da região. Mas a
outros significados para a palavra Botuverá: Pedra Preciosa, e Montanhas
Brilhantes. Todos os significados tem fundamento, considerando que em grande
parte do território de Botuverá se encontram rochas magmáticas, metamórficas e
sedimentares constituídas de minério como ouro, cobre, ferro, manganês, pedras de
calcário e urânio. Os vales e montanhas que caracterizam o relevo justificam o nome
“Montanhas Brilhantes” coberta com suas verdes matas” (ADAMI; ROSA, 2006,
pág. 255)

A maior parte de seu território é montanhoso, onde localizam-se as matas que


representam por muitos anos a maior fonte de riqueza da região, com a extração da lenha e

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madeira de lei. Nas localidades de áreas planas ou menos acidentadas por onde corre o Rio
Itajaí-Mirim e seus afluentes, se pratica a agropecuária. (ADAMI & ROSA, 2006;
PREFEITURA DE BOTUVERÀ 2012).

A exploração das matas da região de Botuverá foi extremamente intensa desde sua
colonização, a extração de lenha, madeira de lei e outros tipos de madeira, foi responsável
pela maior parte da renda do município durante vários anos. (ADAMI & ROSA, 2006).

É de grande de importância destacar a riqueza do subsolo de Botuverá, ele rico em


jazidas minerais como: ouro, pirita, tungstênio, mármore e manganês. Contudo a maior
riqueza mineral do municio de Botuverá é a pedra de cimento, pedras de cal e pedras para a
fabricação de adubos e corretivos do solo. “Nossos solos são de natureza ácida, esta acidez
repercute negativamente na agricultura e a solução está no uso do calcário”. (DALCEGIO,
1987).

Cal

O calcário representara uma parte muito importante para a economia e vida dos
moradores da região. “Somente as reservas de pedra de cimento no subsolo de Botuverá
estão calculadas em 50 milhões de toneladas sendo que as maiores jazidas se localizam em
Ribeirão do Ouro” (BONOMINI, 1976) As empresas de exploração de cal foram durante
muito tempo as maiores empregadoras de algumas localidades do município. Segundo Santos
a exploração do cal começou na década de sessenta. Durante as entrevistas podemos perceber
como a exploração da cal interferiu na natureza e no modo de vida da comunidade.

Segundo o Diagnostico Sócio-Economico e Ambiental da Indústria da Cal no


Município de Apodi/RN, existem registros do uso da cal que datam de antes de cristo.
A indústria da cal no Brasil está presente desde 1549. Neste período se instalaram as
primeiras “cairas” que fabricavam a cal virgem, a partir de conchas marinhas e que era usado
para argamassa, revestimento e pintura. (TERRA, sem data)
A extração da cal é feita em etapas. Na primeira etapa os trabalhadores perfuram a
pedra, isto é chamado de furação, a profundidade varia de acordo com estudos geológicos pré-
existentes, e a quantidade de rocha que se deseja extrair. Em seguida é colocado o explosivo
nos furos feitos anteriormente, para que a pedra se solte. (TERRA, sem data) Como podemos

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perceber na fala do senhor Leoni que trabalhou durante muitos anos na exploração e extração
da cal.

Broca, dinamite, usava a mão broca, uma broca de ferro assim, tinha um metro dois
até dois metros assim, até meio metro. Quando começava com meio metro tinha que
bater com a marreta né. Para fazer sete palmos de furo tinha que trabalhar um dia
inteiro, ai depois colocava dinamite (...) É, mais de um metro, mais ou menos né,
conforme o lugar. Tinha paredão que tinha um tanto de lugar para a gente mexer,
fazia fundo ai vinha aquele monte, se tinha alguma bola assim que não rachava com
o malho, nós furávamos ela também e colocava um dinamite para estourar ela.
(LEONI, 2011).

Durante este processo aconteciam alguns acidentes de trabalho como fica perceptível
na entrevista com o senhor Jorge (2011) que afirma ter ficado com problemas pulmonares
devido à falta de proteção.
É um serviço tudo a mão tudo manual não tinha máquina né ia lá furava a pedra,
botava o explosivo e o que acontecia alguém foi ali mexer no explosivo antes do
prazo, ai detonou na cabeça dele né, ficou cego, ficou tudo cortado um, aguentou
doze horas, e o outro aguentou anos e anos.

Depois da detonação as pedras eram colocadas no caminhão, o que ainda estava um


pouco preso é solto com auxílio de ferramentas como a alavanca e garfão. Os entrevistados
afirmam que todo o trabalho é feito manualmente.

Tudo a mão, o malho de cinco quilos de ferro, tinha que quebrar a pedra no chão, e
jogar lá em cima do caminhão (...) O que uma pessoa podia né, trinta quarenta
quilos, cinquenta quilos às vezes pegava em dois botava em cima do caminhão. A
pedra era tudo detonada, furada com compressor, furada a mão. Tudo com a mão,
uma alavanquinha que um metro um metro e meio no começo né. Depois melhorou
mais né trocaram as maquinas. Furava tudo, às vezes para fazer cinco palmos de
furo numa pedra, um furinho assim o ia um dia um dia e pouco, depois detonava
aquilo ali com explosivo caia pedra grande pedra pequena (JORGE, 2011).

As pedras eram transportadas até os fornos, em Botuverá a maioria dos fornos eram os
chamados “fornos de barranco”, mas existiam também os “fornos de contínuo”, “Ai tinha o
forno continuo e o forno de barranco esses dois tipos... Mais de quarenta forno de cal, forno
de barranco” (BAMBINETTI, 2011) Durante as entrevistas percebemos que não se tem bem
certeza da quantidade de fornos na região, foram ditos números como cinquenta e até sessenta
fornos de barranco. Esta é uma das etapas mais importantes de todo o processo, é onde ocorre
a calcinação da rocha calcária e a transformação em cal. (TERRA, sem data)

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As pedras eram transportadas de caminhão até o forno, onde as eram colocadas uma a
uma. Tudo era feito de forma manual. Existia todo um procedimento para colocar as pedras
no forno como descrevem os trabalhadores.

Fazia tipo de uma volta assim, dentro do forno, então, fazia a volta, nós dizíamos a
volta né. Depois tinha que pegar pedra e botar até a metade, aí pegava a escada,
descia a pedra, às vezes em quatro a pessoa de cima da escada um dava para o outro
e ia descendo ia botando pedra lá para não derrubar a volta né, ai quando chegava na
metade para cima ai nós jogávamos, com cuidado nós jogava e enchia até em cima.
Ai tocava fogo (LEONI, 2011).

Depois eles se queimavam naquela pedra ali né, eles se queimavam ia doze horas de
fogo se cada empregado, botava a lenha em baixo na boca né para o cal para a pedra
cozinhar né, ai ficavam, era quatro cinco dias de fogo né, dia e noite né virava né,
era doze hora cada empregado (JORGE, 2011).

Depois que todas as pedras são colocadas é colocado fogo na parte de baixo do forno,
o tempo de permanência das pedras para que ocorram todas as reações varia de acordo com o
tipo de forno. No caso dos fornos de barranco eram de mais ou menos cinco dias. (TERRA,
sem data)
Durante este processo de cozimento a pedra sofre a calcinação que é a
descarbonatação do calcário ou seja “o carbonato de cálcio e o carbonato de magnésio são
transformados em óxido de cálcio [CaO] e óxido de magnésio [MgO] respectivamente” isso
se da traves da ação do calor que é obtido através da queima da lenha. (TERRA, sem data)
Na época não existiam leis ambientais, e nem a preocupação dos moradores em
preservar as matas da região, a lenha para alimentar os fornos era toda retirada da floresta da
região.

Até na Água Negra nós íamos buscar lenha, Água Negra aqui rio acima tudo era
derrubava tudo, naquela época não tinha... Tudo, o que vinha pela frente pegava um
trato de máquina assim, lá para dentro é mato ainda é mato virgem, aqui é tudo
pegava o mato virgem, ai pegava e entrava tudo, era cada tora assim, meu Deus
botava ali no forno, tinha que atravessar uma pau assim, carregar ele ali, botar uma
ponta em cima daquele pau atravessado e pegava daqui e empurrava para dentro do
forno, vinha cada labaredas assim fora do forno que queimava tudo a sobrancelha
assim (LEONI, 2011).

Durante as entrevistas percebemos que não houve um numero exato para a quantidade
de lenha utilizada para cada fornada, mas em media eram utilizados entre cinquenta a oitenta
metros de lenha “Média de trinta, trinta e cinco metros de dois metros né, de dois metros,
então dava cinquenta metros, quatro dias queimando direto” (LEONI, 2011) “Olha cada

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fornada de cal queimava quarenta metros de lenha de dois metros.” (BAMBINETTI, 2011). E
cada fornada em média de vinte mil quilos de pedra como afirma seu Leoni.

Para preencher um forno, era seis depende do tamanho do forno tinha forno que ia
cinco carradas, tinha forno que ia sete é a conta da é conta de mentira né e tinha
forno que ia menos quanto menos pedras mais rápido para encher e quanto maior o
forno mais grande ia mais pedras e tinha que acabar no dia eram cinco pessoas,
cinco quatro menos não podia ser porque passava da escada ara o chão tinha que ser
cinco pessoas tinha que acabar de encher o forno no dia de noite botar fogo no forno
o encarregado dizia se vocês não querem pegar o domingo apura com o fogo que
vocês escapam do domingo se não vocês entra no domingo e tinha que trabalhar né,
tinha que trabalhar os domingos se não acabassem, às vezes a lenha era meio ruim
demorava né, ao invés de ser quarenta e oito horas ia cinquenta e cinco sessenta
horas e pegava o domingo. Uma fornada de cal ia na média de trinta e cinco a
quarenta e cinco metros de lenha, porque se a lenha fosse boa com menos lenha vai
menos dias, se a lenha é meio ruim a lenha não tem força, nós dizíamos e se a lenha
é de nós dizíamos de capoeirão, de mato a lenha assim de mato tem mais força né é
lenha nativa né, de capoeirão é lenha mais fraca da mais labareda só que não tem
força e se a lenha era boa em cinco dia quatros dias e meio terminada a fornada. Ali
acabou a fornada tinha que tirar aquele monte de brasa, aquele monte de pau de fogo
que eles dizia né, de dentro do forno jogar tudo barranco abaixo pra dentro da agua
para apagar, porque era meio perigoso né tinha que derrubar aquela volta, que nos
fazíamos tudo com volta, tudo bem que nem gruta, tudo bem empilhadinho tudo a
mão, meu Deus do céu (JORGE, 2011)

Após este processo, a cal é retirada dos fornos e levada para o moinho. Inicialmente os
moinhos da região eram movidos pela força d’agua. Esta etapa é uma das ultimas de todo o
processo mas é de grande importância, depois de moído a cal era ensacada e vendida.

Ela sai inteira, só que ela sai levinha, sai tudo como se diz? O carbono dela sai tudo
né. Se ia cinco caminhões de pedra seis caminhões de pedra, se dava cinquenta
toneladas ela quebrava muito, mais da metade dava mais ou menos vinte e duas
vinte e cinco toneladas ela fica leve né, ai era moído e depois era transportado para
fora para quem queria fazer construção né (JORGE, 2011).

Ouro
Os primeiros relatos que se tem sobre ouro na região do Itajai-Mirim é de 1727, nesta
ocasião o Sargento mor de Carollana Francisco de Souza Faria era o encarregado de abrir um
caminho que ligasse Laguna a Curitiba. Faz menção ao ouro no Itajaí-Mirim. Mas tarde em
1840 existe o relato de três irmãos Roberto, Augusto, Leweson Leslie vindos do Estados
Unidos, estes teriam encontrado ouro onde hoje é o bairro de nome Ribeirão do ouro. Existem
relatos de que Lauro Miller por volta de 1930 tenha achado ouro em um lugar chamado
‘Recervat’ (nome em italiano da localidade) (AYRES GEVAERD, 1971; apud NIEBUHR,
2005; BONOMINI, 1976)

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A descoberta do ouro trouxe a Botuverá por volta dos anos de 1930 uma verdadeira
corrida do ouro muitas pessoas largaram todas as suas atividades para se dedicar a exploração
ao ouro, vieram pessoas de outras localidades porem a grande maioria era da região. As
localidades mais promissoras eram entre Lajeado Grande e Ourinho no bairro Ribeirão do
Ouro. Eram achados em média 9 quilos por mês. (BONOMINI, 1976; NIEBUHR, 2005;
Tomio, 2003; apud Santos 2010)
Os mineradores vendiam o seu quinhão para os revendedores em Botuverá e estes
revendiam para os compradores de outros municípios. (BONOMINI, 1976; TOMIO, 2003;
apud SANTOS 2010) Como as quantidades não eram muito grandes eles vendiam em postos
de gasolina, armazéns... “Todo mundo comprava, até vendemos no posto de gasolina. Tinha
um que morava aí em Brusque e veio em Botuverá, pegava trinta grama em um vinte e cinco e
outro, um queria fazer uma joia outro um anel.”(TOMIO, 2011) Também eram feitas trocas
de ouro por comida, querosene e tecidos, o que possibilitou a compra de vários utensílios
domésticos para os garimpeiros já que o dinheiro era escasso na época.
Algumas mulheres também trabalhavam no garimpo “Até a minha mãe tirou muito
ouro” (TOMIO, 2011), estas permaneciam perto de suas casas. No período da manha elas
cuidavam das crianças, de casa, da roça e da criação. No período da tarde trabalhavam no
garimpo. Os homens se afastavam mais de casa e na maioria das vezes passava o dia inteiro
trabalhando no garimpo. Em alguns momentos as crianças também ajudavam no garimpo.
(TOMIO, 2003; apud SANTOS 2010)
Existiam varias etapas para a extração do ouro, que na maioria das vezes era feito
perto no rio ou em suas encostas. “A referência na demarcação das propriedades dos colonos
são os cursos de água, possuindo dimensões em geral de 200 metros de frente e 1.000 metros
de profundidade em direção às encostas.” (TOMIO, 2003 apud SANTOS; GARROTE;
DAMBROWSKI, 2010) Isto permitiu que as famílias garimpassem, e retirassem o ouro do
fundo do rio e nas correntezas com o auxilio de calhas.
O processo de retirada do ouro era na grande maioria das vezes rudimentar. Era um
trabalho braçal, os minerados usavam matérias como pás, enxadões e picaretas e o material
retirado do rio era levado até a margem em baldes, latões ou carrinhos de mão. Entre os
processos de garimpo utilizados era a abertura de tuneis.

No ouro, eu até ajudei a fazer um buraco ali, um túnel, era um trabalho (...) no rio
né. Secava o rio, é capaz de botar uma semana para fazer aquele cerco no rio, botava
estaca depois encostava assim madeira e jogava pedra, barro para cercar né, e eles
trabalhavam ali onde não tinha mais água né, e fazia furo ai de oito, dez, doze

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metros puxava água com aquela bomba a mão né....É. No meio do rio nós fazíamos,
nós cercávamos, deixávamos só aquele canto e desviava a água e depois puxava
tudo com aquela bomba puxada a mão. (LEONI, 2011)

Outro processo bastante comum era fazer um cerco no rio.

Fazia um cerco assim, vamos ver se entrasse muita se entrasse muita água era capaz
de ficar a noite inteira, fazia um buraco, entrava cavoucava, então de manha ele
estava cheio d’agua né, mas as vezes ficava a noite inteira bombeando aquela agua
para depois começar a trabalhar. (BAMBINETTI, 2011)

O processo mais comum para a separação do barro do ouro era através das calhas de
madeira. “Enquanto alguns garimpeiros coletavam os sedimentos aluviais e o barro, juntando
o material em determinado lugar, outros se encarregavam da lavação do material.” (SANTOS;
GARROTE; DAMBROWSKI, 2010) Existiam dois tipos de calhas mais comuns conhecidas
como calha normal e a “calha moderna” como é chamada pelos garimpeiros.
Os garimpeiros que vinham de outras regiões tinham métodos diferentes dos locais,
como o uso da batéia, como afirma seu Tomio (2011) “Os de fora viam com a batéia, eles
botam na batéia e vão chacoalhando né” O mercúrio é outro elemento que não era muito
usado pelos garimpeiros locais. “O pessoal daqui não usava, o pessoal que vinha de fora que
usava tem gente que nem sabia, nem sabe o que é o mercúrio” (BAMBINETTI, 2011).
A “febre do ouro” foi passageira em Botuverá, no primeiro momento a maioria dos
moradores da região garimparam o leito do rio Itajaí-Mirim, mas com o passar do tempo
alguns perceberam que a dificuldade e a pouca quantidade de ouro não valiam a pena o
esforço. Outro fator que, segundo Niebuhr (2005) influenciou na diminuição do garimpo foi
que no final da segunda Guerra Mundial o preço da grama do ouro diminuiu, e neste momento
aparece a Souza Cruz que começa a investir na fumicultura da região. Segundo um dos
entrevistados o grande motivo para que o ouro parasse de ser explorado foi a proibição do
governo “Não é que não podia mais. O ouro parou num dia e pronto não pode mais mexer,
não pode mais mexer no rio, isso foi num dia” (BAMBINETTI, 2011).
A exploração dos recursos naturais no município de Botuverá está presente desde sua
colonização fazendo parte da vida e da economia dos moradores locais. A exploração da cal
trouxe muitas transformações ambientais, pois sua exploração era feita sem a menor
preocupação com a natureza utilizando a madeira da região como combustível para alimentar
os fornos. Ao mesmo tempo os trabalhadores sofriam com as enormes jornadas de trabalho e
a falta de proteção. O garimpo de ouro causou mudanças ao rio da região, como a retirada da
mata ciliar das margens e o assoreamento do rio. Portanto, ao mesmo tempo que a exploração

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destes recursos trouxe uma certa estabilidade econômica para a região provocou uma grande
redução na cobertura vegetal e da biodiversidade local.

REFERÊNCIAS

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