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Contemplando o céu
Autores
aula
01
Governo Federal Revisoras de Língua Portuguesa
Presidente da República Janaina Tomaz Capistrano
Luiz Inácio Lula da Silva Sandra Cristinne Xavier da Câmara
Ministro da Educação
Fernando Haddad Revisores Técnicos
Leonardo Chagas da Silva
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky Revisora Tipográfica
Nouraide Queiroz
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Ilustradora
Reitor Carolina Costa
José Ivonildo do Rêgo
Editoração de Imagens
Vice-Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz Adauto Harley
Carolina Costa
Secretária de Educação a Distância
Vera Lúcia do Amaral Diagramadores
Secretaria de Educação a Distância- SEDIS Bruno de Souza Melo
Dimetrius de Carvalho Ferreira
Coordenadora da Produção dos Materiais Ivana Lima
Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco Johann Jean Evangelista de Melo
Coordenador de Edição Adaptação para Módulo Matemático
Ary Sergio Braga Olinisky André Quintiliano Bezerra da Silva
Projeto Gráfico Kalinne Rayana Cavalcanti Pereira
Ivana Lima Thaísa Maria Simplício Lemos
Imagens Utilizadas
Revisores de Estrutura e Linguagem Banco de Imagens Sedis - UFRN
Eugenio Tavares Borges Fotografias - Adauto Harley
Jânio Gustavo Barbosa Stock.XCHG - www.sxc.hu
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
ISBN
CDD 520
RN/UF/BCZM 2007/54 CDU 52
Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Apresentação
N
esta disciplina, iniciaremos um estudo sobre um dos campos mais instigantes do
conhecimento humano, a Astronomia. Um dos principais atrativos no contato com
esse campo de conhecimento é a possibilidade de ampliar as perspectivas de tempo
e espaço com as quais costumamos pensar sobre nossa própria existência. Nesse sentido,
um objetivo central no ensino da Astronomia, particularmente nos contextos de formação de
professores e de cidadãos, é favorecer a consciência de nossa condição planetária, bem como
oferecer instrumentos para analisarmos as possibilidades de nossa história comum, nessa
grande “nave” que é a Terra. Esperamos, assim, que as temáticas e abordagens estudadas
na disciplina alcancem esse objetivo junto a você.
Nas aulas 1 a 7, estudaremos fenômenos do nosso ambiente, tais como o ciclo
claro-escuro, marés e alternâncias climáticas anuais, verificando sua relação com ciclos
astronômicos. Devido à natureza desses conteúdos, propomos sua abordagem através de
observações do céu a olho nu e da análise de modelos para os fatos observados.
As aulas 8 a 10 abordam a mudança radical na visão de mundo ocorrida no século XVI,
envolvendo a Astronomia e a compreensão do lugar do Homem no cosmos: a Terra deixou
de ser considerada o centro do Universo para ser vista como um planeta “comum” ao redor
do Sol; ao mesmo tempo, o céu deixou de ser visto como imutável. Você verá que essa
revolução astronômica exigiu também uma revolução conceitual na Física.
As aulas 11 a 15 abordam desde modelos sobre a Física dos astros, particularmente do
Sol, até modelos sobre a origem e evolução do Universo. Esses conhecimentos resultam da
introdução do telescópio na Astronomia, e do desenvolvimento cada vez mais abrangente da
Física, particularmente com o estudo das radiações eletromagnéticas. Abordaremos esses
conteúdos através da aplicação de leis físicas na descrição dos astros e de comparações
entre suas previsões e medidas observacionais.
Nesta aula, partiremos de onde tudo começou, ou seja, do contato com o céu. A proposta
é que você desenvolva uma observação noturna a olho nu e, a partir da discussão dos
seus registros, possa compreender melhor a natureza dos procedimentos e das motivações
sociais que deram início à Astronomia.
Aula 01 Astronomia 1
Objetivos
Perceber o céu como um cenário regular de eventos.
1
Reconhecer a observação do céu a olho nu como importante
2 forma de obter conhecimentos sobre os astros.
2 Aula 01 Astronomia
Muitas pessoas identificam a Astronomia apenas com as belíssimas imagens coloridas
produzidas em observações dos astros com telescópios. Contudo, já nas civilizações
ocidentais mais antigas identificamos a Astronomia sendo desenvolvida inteiramente por
observações a olho nu.
Atividade 1
Nesta atividade, você vai contemplar o céu noturno, fazendo uma observação
sistematizada. Identifique um lugar escuro e seguro da sua cidade, sem
construções próximas que limitem a visão do horizonte, onde possa desenvolver
uma observação do céu. Leve uma caderneta e uma caneta para anotações e,
se possível, providencie também um colchonete, uma esteira ou uma coberta,
para se deitar sobre ela no chão.
Aula 01 Astronomia 3
Vamos, agora, refletir sobre suas observações.
Todo o texto de Marcos Pontes, do qual apresentamos apenas uma parte (MEDEIROS,
2006), ilustra como nossos conhecimentos científicos, e em particular a Astronomia, podem
e devem integrar nossa forma de ver o mundo, nossa sensibilidade ao interagir com ele.
Nesta disciplina, você certamente atribuirá novos significados a esse texto, da mesma
forma que novas aproximações com o céu possibilitarão aprimorar sua sensibilidade e
percepção do espaço em que nos encontramos. Por enquanto, são muitos os questionamentos:
o que seria essa grande esfera e por que considerar o nosso mundo como 1% dela? Como
é possível dizer que estamos a essa tremenda velocidade se não percebemos? E o que
imaginarmos sobre esses pontos cintilantes?
4 Aula 01 Astronomia
A observação do horizonte e a
percepção da forma da Terra
U
ma dessas questões relaciona-se com a observação do céu e da linha do horizonte,
na atividade 1. É muito comum que essa observação gere as seguintes idéias: a Terra
é como um disco achatado, com as estrelas todas a uma mesma distância de nós,
sobre uma casca esférica no céu.
Figura 1 - Percepção do céu e da forma da Terra, muito freqüente ao se observar o céu em local aberto.
Ainda que você possa ter outros conceitos sobre a forma da Terra, a percepção do planeta
como um disco achatado, numa observação como esta, permite entender por que muitos
povos, de fato, atribuíram à Terra a forma de disco. Segundo Neves (1999), poemas gregos
datados de 900 a.C. apresentam essa representação da Terra, circundada ainda por um enorme
rio de nome oceano. Idéia semelhante era defendida pelo filósofo grego Tales (640-562 a.C.),
que via a Terra como um cilindro achatado, à deriva sobre o oceano; Anaximandro (611-545
a.C.), que a considerava uma coluna em equilíbrio no centro do mundo; e ainda Anaxímenes
(585-528 a.C.), que acreditava numa Terra chata, mas suspensa no ar (NEVES, 1999).
Já a idéia de uma forma esférica para nosso planeta foi proposta inicialmente por Parmênides,
com base na narrativa de viajantes, os quais perceberam que algumas estrelas deixavam de ser
visíveis quando se viajava mais para o Norte. Pitágoras (580-500 a.C.) defendeu essa mesma
idéia acrescentando outras observações registradas pela cultura vigente, como a forma com que
um barco desaparecia da vista ao se afastar da costa: via-se primeiro sumir sua base e, por fim,
suas partes mais altas, indicando que ele navegava sobre uma superfície curva.
Perceba que, embora hoje sejamos bastante bombardeados com a informação de
que a Terra é esférica (e achatada nos pólos), é comum encontrarmos pessoas, inclusive
professores de Ciências, que ainda não construíram uma representação dessa esfericidade.
Aula 01 Astronomia 5
As pesquisas sobre o ensino envolvendo concepções alternativas acerca dos fenômenos
astronômicos evidenciam dificuldades com essa representação. Uma pergunta muito usada para
evidenciar e discutir a concepção das pessoas sobre a forma da Terra é explorada na atividade 2.
Concepções
alternativas
Uma das dificuldades comuns nesse tipo de atividade é que, para uma representação
esférica da Terra, é necessário dar novos significados à idéia de “embaixo” e “em cima”.
A idéia de uma Terra plana sugere que há uma única direção (e sentido) para a qual
podemos usar as palavras “em cima” e “embaixo”. Ao contrário, o pensar a Terra como
sendo redonda impõe novidades: atirar uma pedra “para cima” agora significa atirá-la para
longe do centro da Terra; enquanto “para baixo” significa para perto do centro.
Figura 2 - Pessoas em diferentes lugares da Terra atirando uma pedra para cima.
6 Aula 01 Astronomia
Dessa forma, quaisquer das pessoas descritas na Figura 2 estão atirando uma pedra
“para cima”. Note, inclusive, que após alguns instantes as três pedras irão atingir o solo.
Por outro lado, alguém pode se perguntar: mas como conciliar a percepção que temos
do disco delimitado pela linha do horizonte com a idéia de uma Terra esférica? Você imagina Terra esférica
alguma solução? Pensar a Terra esférica é
pensar que ela está solta
A resposta a essa questão está num fator importante: a dimensão da Terra. Devido à
no espaço sem se apoiar
Terra ser tão imensamente maior do que nós, num desenho em que ela possua 10cm de raio, sobre nada, a não ser
não conseguiremos visualizar sequer a maior elevação do planeta, o Monte Everest (menos sobre si mesma. Na aula
9 (Galileu e a nova Física),
de 10km de altura). Toda a troposfera (13km de espessura) terá a dimensão de uma linha de
você conhecerá como
aproximadamente 1mm, ou seja, a própria linha de desenho da Terra. Imagine o que significa diferentes modelos de
a altura de um ser humano frente às dimensões do planeta! mundo lidaram com essa
possibilidade.
Nosso campo de visão acaba delimitando apenas um pequeno disco da superfície
gigantesca do planeta (Figura 3). Talvez uma boa estratégia para nos visualizarmos de fora
da Terra seja compará-la com uma laranja: devemos lembrar que não habitamos o interior
dessa “laranja” (o núcleo e o manto), mas a sua “casca” (litosfera), da qual enxergamos uma
pequena região circular.
Figura 3 - Ao olharmos o céu num local aberto, a Terra nos parece ser um disco e não uma esfera.
A Figura 3 pode ser usada ainda para explicitar que, devido à esfericidade da Terra,
observadores em diferentes lugares da Terra visualizam partes diferentes do céu. Como exercício,
identifique na Figura as estrelas que não são visíveis para o observador, no momento ilustrado.
Note que, se a Terra fosse um disco “chato”, as estrelas vistas por um observador
seriam vistas de qualquer outro lugar sobre o disco.
Aula 01 Astronomia 7
Padrões de estrelas
Retomemos agora seus registros da atividade 1 sobre as estrelas.
Você deve ter percebido que a melhor estratégia para reconhecer estrelas é memorizá-
las juntamente com a “vizinhança” delas. Nesse processo, é comum imaginarmos desenhos
no céu, associando conjuntos de estrelas a padrões que nos são familiares, a imagens como:
sinos, tercinhos, chapéus etc.
A um conjunto de estrelas que, vistas de onde estamos, nos sugerem uma associação
Constelação a algum padrão conhecido, chamamos de constelação.
Diferentemente da Note que dissemos: “vistas de onde estamos”, pois esses padrões, de fato, não se
idéia de constelação, o
baseiam nas posições reais das estrelas. Como exemplo, veja na Figura 4 uma situação
conceito que caracteriza
um conjunto de estrelas em que as estrelas k e β, mais afastadas entre si do que o par α e γ, são vistas por um
fisicamente próximas observador como se estivessem bem mais próximas entre si, influenciando os padrões que
umas das outras com
ele irá identificar no céu.
um movimento coletivo
comum em relação a
outros corpos é o de
aglomerado estelar.
α
γ δ
O ε
ζ
Esfera β
Celeste
Figura 4 - Estrelas projetadas numa casca esférica imaginária, no céu de um observador O. Para este, as estrelas
k e β parecerão tão próximas entre si quanto o par α e γ.
8 Aula 01 Astronomia
Após esse esclarecimento, retome as constelações – observadas na atividade 1 – e
verifique se elas parecem com as indicadas nas cartas celestes das figuras 5 e 6, no decorrer
da aula. Estas mostram constelações vistas do hemisfério Sul, em diferentes épocas do
ano. Observe-as e note que o Oeste está representado à direita e o Leste à esquerda da
carta celeste. O usuário da carta deverá girá-la para fazer coincidirem os pontos cardeais da
figura com os pontos cardeais do horizonte dele. Dessa forma, a carta deve ficar acima da
cabeça do usuário, com as constelações voltadas para baixo. Assim, ao olhar para a carta,
verá uma reprodução do céu. No nosso caso, por enquanto, desejamos utilizá-la apenas para
reconhecer as constelações.
É provável que algumas de suas constelações coincidam com aquelas apresentadas
nas Figuras 5 e 6, ou com partes delas. As estrelas de Ursa Maior, por exemplo, no Nordeste
brasileiro são usualmente associadas a um barco ou a uma panela. Já as três estrelas que
ficam bem no centro da constelação de Orion são conhecidas pelo nome de Três Marias.
Aula 01 Astronomia 9
Figura 5 - Céu visível no dia 10/10/07 às 19h16min, para um local de latitude -7° 13’ 50’’ e longitude -35° 52’ 52’’
(coordenadas geográficas de Campinha Grande-PB).
10 Aula 01 Astronomia
Figura 6 - Céu visível no dia 10/04/2008 às 19h, para um local de latitude -7° 13’ 50’’ e longitude -35° 52’ 52’’
(coordenadas geográficas de Campinha Grande-PB).
Aula 01 Astronomia 11
As semelhanças e diferenças entre as constelações que você identificou e aquelas
apresentadas nas cartas, adotadas pelos gregos há aproximadamente dois mil anos, apontam
aspectos interessantes. Mostram, por exemplo, que é característico da mente humana buscar
padrões, relacionar as coisas que vê com aquelas que já conhece. Além disso, vemos que as
experiências culturais influenciam a forma como as pessoas enxergam um mesmo conjunto
de pontos no céu. Os mesopotâmios, de quem os gregos adotaram parte das constelações,
relacionavam esse pontos a animais (leão, escorpião) e personagens míticos da cultura deles.
Assim, além do céu noturno que visualizamos, não ser “o mesmo” que aqueles povos viam, haja
vista que a experiência cultural deles os levaram a padrões distintos dos que projetamos hoje.
Para visualizar as diferenças de padrões entre as culturas, compare, por exemplo, a
constelação da Ema, identificada em várias tribos indígenas do nosso país, com a interpretação
do mesmo pedaço de céu pelos gregos (Figuras 7 e 8). Nesse exercício, aproveite a leitura
do estudioso Germano Afonso sobre pequenos detalhes da constelação indígena (AFONSO,
2007), afim de entender essas comparações:
[...] As estrelas α Centauri (Rigel Kentaurus) e β Centauri estão dentro do pescoço da Ema.
Elas representam dois ovos que a Ema acabou de engolir. [...] A constelação Scorpius,
excluindo suas garras e as estrelas que estão acima de Antares, representa uma Cobra (Mboi,
em Guarani) para os índios brasileiros, sendo Antares a sua cabeça. De fato, é muito mais fácil
imaginar uma cobra que um escorpião nessa região do céu. [...] (AFONSO, 2007, p. 2).
Figura 7 - Padrões identificados pelos gregos antigos, Figura 8 - Padrões identificados por vários grupos indígenas, na
uma região do céu. mesma região do céu.
Note que, na percepção dos grupos indígenas, a constelação de Escorpião é apenas uma
pequena parte do padrão que identificam no céu, a Ema; isso ilustra uma tendência recorrente
nesses grupos: a de utilizar regiões bem maiores no céu, ao identificarem constelações.
Da mesma forma que se percebem variações na forma com que diferentes culturas produzem
suas constelações, semelhanças inesperadas também têm sido encontradas, sugerindo que
culturas hoje distantes podem ter tido pontos de contato em suas histórias. É o caso do
12 Aula 01 Astronomia
2.500 km, em linha reta) e pelo tempo (quase 400 anos). [...] algumas
das constelações dos índios brasileiros, utilizadas no cotidiano, são
as mesmas de outros índios da América do Sul e dos aborígines
australianos (AFONSO, 2007, p. 1).
Outros eventos
astronômicos noturnos
Você deve ter notado em sua observação noturna que as estrelas se apresentam em
padrões estáveis no céu e que este está em aparente movimento.
Desde a hora em que você chegou até ir embora, o conjunto de suas constelações
mudou de posição em relação ao horizonte, realizando um lento movimento coletivo,
“desenhando” frações de círculos semelhantes à trajetória diurna do Sol. Esse movimento
coletivo é repetido diariamente.
Se repetirmos a observação que você realizou, num mesmo horário da noite, por
meses seguidos, constataremos um terceiro evento de natureza astronômica: o fato das
constelações visíveis acima do nosso horizonte mudarem ao longo do ano.
A passagem de algumas “estrelas” errantes, de brilho intenso, através do cenário
estável das constelações foi outro tipo de fenômeno que os antigos observaram durante
meses, anos, séculos. Foi assim que identificaram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno,
todos a olho nu. Planetas, cujo significado é astros errantes, era como denominavam essas
“estrelas” que não mantinham um mesmo lugar no mapa das constelações. Hoje sabemos
que os planetas diferem das estrelas, por não emitirem luz própria.
Aula 01 Astronomia 13
O movimento do Sol e
outros eventos diurnos
Certamente, todos já tivemos a oportunidade de acompanhar um nascer do Sol e
verificar a noite se desfazer lentamente, enquanto estrelas que se encontram acima do nosso
horizonte tornam-se invisíveis aos nossos olhos.
Você já parou para pensar por que o Sol é a única estrela que vemos durante o dia? Afinal,
durante a manhã, da mesma forma que à noite, temos uma miríade de estrelas espalhadas
no firmamento! A questão é que, pelo fato de estar muito mais próximo de nós que qualquer
outra estrela, a intensidade de luz que chega do Sol até nós é bem maior. Tão maior que
mesmo a atmosfera, ao espalhá-la, ofusca a luz de estrelas e astros mais distantes.
Além do Sol, há um conjunto de astros e fenômenos celestes que podem ser vistos à
luz do dia. Nesse sentido, podemos citar a Lua, em certos períodos do mês; o planeta Vênus,
também conhecido como estrela D´Alva (até as primeiras horas do amanhecer, quando
visível); e eventos menos freqüentes, como as chuvas de meteoros e cometas.
Vemos a partir dessa listagem – ainda incompleta – que para uma primeira sistematização
sobre o céu diurno, a regularidade que mais interessa é o comportamento do Sol. A relação do
Sol com a alternância entre dia e noite será nosso ponto de partida, embora devamos chamar a
atenção para o fato de encontrarmos, na história das civilizações, e na visão de algumas pessoas,
idéias que não identificam o movimento do Sol como a causa do dia e da noite. Exemplos dessas
visões, que não são coerentes com o que se compreende hoje na Ciência, são, por exemplo, a de
que a Lua ou, alternativamente, a presença de nuvens ocultando o Sol, seria a causa da noite.
Atividade 3
De frente à sua casa, identifique o lado em que o Sol “nasce”. Anote
1 informações sobre essa localização do nascente, de tal modo que se
alguém chegar pela primeira vez em casa, à noite, possa utilizá-las
para descobrir esse local.
Novamente, de frente à sua casa, peça para uma pessoa ler sua descrição
2 e apontar o lugar que você indicou. Se necessário, ajuste sua descrição.
14 Aula 01 Astronomia
Pergunte a essa pessoa se o Sol nasce sempre nesse lugar e peça para
3 ela justificar a resposta. Em seguida, anote a resposta identificando
que elementos foram usados para justificar o “sim” ou o “não”.
Sabemos que, após o nascente, o Sol continua se elevando numa trajetória aparentemente
circular, de tal modo que, após atingir uma determinada altura, desce pelo lado oposto do
céu, até sumir do nosso horizonte de visão.
O fato do Sol “nascer” sempre de um mesmo lado propiciou um mecanismo de
referência espacial, através das direções Norte, Sul, Leste e Oeste. As direções do Leste e do
Oeste associam-se aos lados em que o Sol nasce e se põe, respectivamente. Você lembra a
forma comumente usada para identificar essas direções, provavelmente vista nas aulas de
Ciências e Geografia?
Apontando o braço direito para o Leste, do lado em que o Sol nasce, se você direciona
o braço esquerdo para o lado oposto, estará identificando o Oeste. À sua frente, tem o Norte
e, às costas, o Sul (Figura 9).
FONTE: <www.cdcc.sc.usp.br/cda/producao/sbpc93/index.html> Acesso em: 12 maio 2007.
Leste
Norte
Sul
Oeste
Aula 01 Astronomia 15
Na verdade, é comum escutarmos das pessoas, ou lermos em livros de Ciências, a
informação de que o Sol nasce sempre num mesmo lugar. Mas, se conversarmos, com
pessoas que têm a experiência cotidiana de colocar roupa para secar ao Sol, por exemplo,
elas dirão que em horários bem semelhantes, em meses diferentes, o Sol ocupa posições
distintas. Assim, devido à mudança de posição do Sol em relação ao muro, ao longo do ano,
determinada parte do quintal, meio dia, pode receber luz ou ter sombra.
De fato, o Sol não nasce sempre no mesmo lugar, e o movimento circular que realiza
ao longo do dia não se dá sempre sobre um mesmo círculo.
FONTE: <http://pessoais.ov.ufrj.br/massaf/cursos/iam/iam2004_fundamental_arquivos/apostila_fund4.htm>.
Trajetórias diurnas do Sol
14h 15h
7h 6h 5h
15h
Leste
Na Figura 10, cada semicírculo corresponde à trajetória diurna do Sol num período
específico do ano para um mesmo observador. A figura ilustra que a posição do nascer do
Sol não é exatamente a mesma ao longo do ano, ela varia continuamente num intervalo de
pontos cujo centro é o verdadeiro ponto cardeal Leste.
Dias Note que, como conseqüência desse nascimento do Sol em diferentes posições, os dias
Dia (com D maiúsculo) têm duração diferente ao longo do ano: o Dia correspondente ao círculo superior é aquele
é o período em que a em que o Sol se mantém por mais tempo (das 5h às 19h) acima do horizonte, enquanto no
Terra realiza uma rotação
completa em torno de si;
Dia representado pelo círculo inferior da figura, o período de Sol visível é o mais curto do
dia (com d minúsculo) é o ano (das 7h às 17h). Assim, o Sol não nasce no mesmo lugar todos os Dias, e os dias não
período do Dia em que o
possuem a mesma duração. O período em que ele volta a nascer no mesmo lugar, e os dias
Sol se encontra acima do
horizonte. a repetirem uma mesma seqüência de duração é o que denominamos de ano solar.
16 Aula 01 Astronomia
A prática da Astronomia nas
sociedades antigas
Com os exercícios e discussões anteriores, será bem mais fácil para você compreender
a natureza das observações e saberes que deram início à Astronomia.
É importante chamar a atenção para o fato de que, como alguns autores (NEVES,
1986; VERDET, 1991) apontam, é difícil precisar o início de uma observação consciente e
sistemática do céu pelo Homem e, por essa razão, sendo a Astronomia um conhecimento tão
antigo, não há consenso sobre os seus primórdios.
Ainda assim, costuma-se assumir que, por ter adquirido uma vida sedentária, o
ser humano, por volta de 10.000 a.C. (conforme você estudou na aula 5 – Formação da
sociedade –, da disciplina Educação e Realidade), havia acumulado, necessariamente,
conhecimentos astronômicos sistemáticos. Porém, pesquisadores têm defendido que as
cavernas de Lascaux, na França, apresentam registro das estrela das Plêiades. Se aceita
essa interpretação, essa carta pré-histórica de 17.000 a.C. seria o indício mais antigo
de um conhecimento astronômico.
Em períodos mais “recentes”, cerca de 3.000 anos a.C., encontramos evidências da
prática astronômica em monumentos que impressionam pela grandiosidade, e cuja disposição
indica que se tratava de observatórios. Pedras e outros tipos de marcos, nesses monumentos,
mostram que os povos antigos acompanhavam as diferentes posições dos astros ao longo
do ano: o nascer e o pôr do Sol, da Lua e, por vezes, de planetas. Pela grandiosidade e pelos
arranjos dessas construções, sugerindo altares em posições diferenciadas, imagina-se que
além de observatórios esses monumentos consistiam em espécies de templos.
FONTE: <www.artelousa.com/saibamais.php?id=1>. Acesso em: 12 maio 2007.
Aula 01 Astronomia 17
Entre essas evidências, destaca-se o monumento de Stonehenge, na Inglaterra. Construído
em diferentes períodos, de 3.000 a.C. a 1.000 a.C., até hoje, milhares de pessoas o visitam por
ocasião do nascer do Sol no Solstício de Verão, para celebrarem o dia em que se inicia o Verão.
De modo geral, a Astrologia supõe que há uma relação entre padrões formados pelas
posições dos astros e os acontecimentos na vida das pessoas. Em seu início, os padrões
formados pelas posições dos astros foram utilizados para a leitura de grandes acontecimentos,
que atingiriam a sociedade como um todo: as previsões abrangeriam a corte real, e não
pessoas comuns da sociedade. Segundo Whitrow (1993), somente por volta de 410 a.C..na
Babilônia, com os Caldeus, é que se encontram registros de uma Astrologia horoscópica,
a qual toma a posição dos astros no nascimento da pessoa para deduzir aspectos do seu
destino individual.
18 Aula 01 Astronomia
associado à Astrologia foi a identificação do Zodíaco, um “círculo” de constelações
localizadas por trás do Sol, enquanto este se move ao longo do ano. Herdamos desses
povos os nomes que damos a algumas dessas constelações: Leão, Touro, Escorpião,
Gêmeos, Capricórnio e Sagitário.
Além das demandas sociais colocadas pela prática da Astrologia, deve-se reconhecer
nesses povos a influência da necessidade de medir a passagem do tempo, e ainda de organizar
as atividades sociais em função de ciclos naturais, ou seja, através de calendários.
A Astronomia egípcia
No caso dos egípcios, sua motivação em relação à Astronomia centrava-se na construção
de um calendário que organizasse as atividades agrícolas, intimamente relacionadas com as
cheias do Rio Nilo. Em função das cheias, foi adotado um calendário que dividia o ano em três
estações: tempo de inundação, da semeadura e da colheita. Percebeu-se uma sincronia entre
o ciclo das estações e o intervalo entre dois nascimentos da estrela Sírius ao alvorecer, e
utilizou-se esse evento para contabilizar o período do ano solar em 365 dias. Posteriormente,
através de observações indiretas do Sol, com o uso do gnomon, chegaram a um valor ainda
mais próximo do atual, acrescentando 1 dia a cada quatro anos, em sua contagem do ano.
Os egípcios não desenvolveram estudos sobre o movimento dos planetas, mas deixaram
uma contribuição importante, a divisão (até certo ponto arbitrária) do dia em 24 horas.
No Egito, a exemplo de Stonehenge, encontramos monumentos gigantescos com
arquitetura cuidadosamente estruturada em função de pontos astronômicos, como é o caso
das pirâmides construídas em Gizé. A maior delas (de Quéops) possui cerca de 147m e foi
construída por volta de 2550 a.C., sendo que, do ponto de vista da Astronomia, o que chama a
atenção é o alinhamento dos lados dessas pirâmides com as direções Norte-Sul e Leste-Oeste.
Especulações sobre o alinhamento de corredores dentro da pirâmide com certas estrelas
sugerem que ela pode ter sido utilizada como observatório.
Atividade 4
Que práticas sociais motivaram o desenvolvimento inicial da Astronomia, na
Mesopotâmia e no Egito? Sistematize a relação entre essas práticas e o tipo de
conhecimento astronômico que cada uma dessas civilizações produziu.
Aula 01 Astronomia 19
Astrologia e Astronomia
Astronomia e Astrologia são a mesma coisa? Que diferenças você estabelece entre elas?
As interações físicas conhecidas atualmente não oferecem base teórica para o principal
pressuposto ou crença da Astrologia: de que os astros influenciam a vida dos indivíduos.
As intensidades das interações conhecidas hoje (gravitacionais e eletromagnéticas) entre
astros e pessoas têm um valor muito menor do que a intensidade das interações entre essas
mesmas pessoas e os objetos que as rodeiam.
20 Aula 01 Astronomia
Atividade 5
Retome suas considerações sobre as diferenças entre Astrologia e Astronomia.
Com base nas reflexões levantadas, que informações você acrescentaria ao seu
texto inicial?
Pode-se dizer que outra característica que diferencia a Astronomia da Astrologia é o fato
da Astronomia rever a si mesma, enquanto assimila novos conhecimentos. Pela abrangência
dos seus objetos de estudo, ela articula-se hoje com os mais diversos saberes desenvolvidos
nas Ciências Naturais e Matemáticas, transformando-se e transformando essas áreas,
continuamente, nesse processo. Você perceberá isso, na continuidade da disciplina.
Para concluir a aula, antes de desenvolver a Auto-avaliação, procure sistematizar seu
aprendizado teórico, identificando palavras-chave e desenvolvendo pequenos esquemas
que resumam a idéia central de cada tópico da aula. Você poderá retomar alguns desses
esquemas quando estivermos aprofundando esses conteúdos nas próximas aulas.
Resumo
Nesta aula, você realizou uma observação prolongada do céu noturno a olho nu. Fez
registros sobre sua percepção do céu e da forma da Terra e identificou constelações
que poderiam servir como referência para acompanhar eventos astronômicos em
outros momentos. Viu que observações dessa natureza permitem acompanhar o
comportamento de constelações durante a noite, e do Sol, durante o dia, bem como
observar variações nesses comportamentos ao longo do ano. Ao final, conheceu as
motivações sociais que levaram à sistematização de conhecimentos astronômicos
pelos mesopotâmios e egípcios, no nascimento da Astronomia. Durante a aula, você
identificou concepções alternativas envolvendo conceitos astronômicos, tais como a
forma da Terra, a causa do dia e da noite, e a relação entre Astronomia e Astrologia.
Aula 01 Astronomia 21
Auto-avaliação
Retorne à sua nave imaginada na atividade 2 para um novo exercício de
1 afastamento da Terra. Desenhe esquematicamente como você visualizaria três
garrafas sobre o solo, estando uma delas no Pólo Norte, outra no Pólo Sul e a
terceira no Equador. Considere, nesse esquema, que cada uma dessas garrafas
contém uma pequena quantidade de líquido.
Um aluno do Ensino Médio está com a seguinte dúvida: “Como é possível que
2 um rio, como o São Francisco, possa subir, contra a gravidade, do Sul para o
Norte?”. Que concepções alternativas do aluno estão presentes nessa dúvida?
Aprofundamentos
1. Na disciplina Ciências da Natureza e Realidade, você identificou sítios arqueológicos
na sua proximidade. Há registros de figuras nesses sítios? Elas incluem fenômenos ou
objetos astronômicos? Compare a data dessas imagens ou dos sítios com a idade das
civilizações da Mesopotâmia e do Egito.
2. Converse com pessoas da sua comunidade que têm um conhecimento mais detalhado
sobre os astros do que comumente se possui. Que motivações levaram essas pessoas
a buscarem tais conhecimentos? São semelhantes às dos povos antigos, as quais
discutimos nesta aula? Analise o porquê.
22 Aula 01 Astronomia
Referências
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