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Módulo VIII - Fases do Processo Disciplinar (Rito Ordinário)

Objetivos

Ao final do Módulo VIII, o aluno deverá ser capaz de Conhecer as fases do


processo administrativo disciplinar ordinário.

Contexto

De acordo com o art. 151 da Lei nº 8.112, de 11/12/90, as fases do processo


administrativo disciplinar são:

1- instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;

2- inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório e o

3- julgamento.

Unidade 1 - 1ª FASE: Instauração e Designação da Comissão

Antecipando, muito sinteticamente, tudo o que se verá adiante, na


regulamentação infraconstitucional da repercussão dos princípios da ampla
defesa e do contraditório no processo administrativo disciplinar, por um lado, no
art. 143, a Lei nº 8.112, de 11/12/90, prevê a garantia do direito à ampla defesa
no curso de todo o processo. Mas, por outro lado, o art. 153 da mesma Lei
garante o direito ao contraditório apenas na segunda fase do processo,
chamada de inquérito administrativo (que compreende a instrução, defesa e
relatório).

Assim, a primeira fase (da instauração), a cargo da autoridade instauradora,


após o exame de admissibilidade, na verdade, é pontual e não comporta
contraditório. A segunda fase (do inquérito) tem vedada a participação da
autoridade instauradora, sendo conduzida autonomamente pela comissão, e, a
rigor, é a única fase contraditória, marcada pela dialética entre a condução
imposta pelo colegiado e as contestações do acusado (inovação do atual
ordenamento constitucional e legal, visto que, no antigo regramento,
assegurava-se tão-somente ampla defesa, por ocasião da entrega de defesa
escrita). Por fim, na terceira e última fase (do julgamento), já dissolvida a
comissão, não há rito contraditório e atua apenas a autoridade julgadora (que,
em regra, é a mesma autoridade que instaurou).

Parecer-AGU nº GQ-55, vinculante: “6. O comando constitucional para que


se observem o contraditório e a ampla defesa, no processo administrativo, é
silente quanto à fase processual em que isto deve ocorrer (cfr. o art. 5º, LV).
É tema disciplinado em norma infraconstitucional: a Lei nº 8.112, de 1990,
assegura a ampla defesa no curso do processo disciplinar e, o contraditório,
no inquérito administrativo (v. os arts. 143 e 153), que corresponde à 2ª fase
do apuratório (art. 151, II).”

Quanto à competência para instaurar, deve-se observar o regramento interno


do órgão, de forma que o ato seja realizado pela autoridade expressamente
competente para instauração do processo administrativo disciplinar. Nos casos
de incidentes após o cometimento da infração, tais como remoção para outra
unidade, investidura em outro cargo, pena capital em processo administrativo
disciplinar anterior, aposentadoria, exoneração, licenças ou afastamentos a
competência para apreciar a representação ou denúncia e para instaurar
reporta-se à autoridade jurisdicionante à época do cometimento.

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Defesa e do Contraditório no Processo Administrativo Disciplinar” e faça
seus comentários, fomentando trocas de conteúdos e vivências entre
seus colegas de curso.
Publicação da Portaria

Após o juízo de admissibilidade, inaugurando a sede disciplinar propriamente


dita, a primeira fase do processo é chamada de instauração.

A autoridade competente, diante de indícios de irregularidade, designa


comissão (de sindicância ou de inquérito), por meio de portaria de instauração.
Definindo esta que é a primeira fase do processo, o art. 151, I da Lei nº 8.112,
de 11/12/90, diz que a instauração se dá simplesmente com a publicação da
portaria. A instauração, portanto, a rigor, não compreende uma fase
processual, mas sim se condensa em um único ato formal, não comportando
contraditório, que se estabelecerá somente na segunda fase, do inquérito.

STJ, Mandado de Segurança nº 8.102:


“Ementa: 4. O fato da impetrante encontrar-se em licença para tratamento de
saúde, quando da instauração do processo administrativo disciplinar, por si
só, não enseja a sua nulidade, por ofensa ao princípio do contraditório e da
ampla defesa.”

Embora deva se cuidar para que a instauração emane sempre de ato de


autoridade competente, a instauração por autoridade incompetente pode ser
objeto de convalidação.

A instauração do processo administrativo disciplinar se dá, pontualmente, com


a necessária publicação da portaria no boletim de serviço (ou no boletim de
pessoal) do órgão responsável por publicação interna na jurisdição da unidade
instauradora. Recomenda-se juntar aos autos cópia do boletim. Neste rumo,
em atendimento ao Decreto nº 4.520, de 16/12/02, que disciplina a publicação
de atos oficiais no DOU, a Imprensa Nacional editou a Portaria-PR/IN nº 310,
de 16/12/02, vedando expressamente a publicação de portarias de instauração
de feitos disciplinares delimitados a apenas um órgão. A publicação da portaria
em DOU somente é exigível nas hipóteses de se ter apuratório transcorrendo
fora do órgão instaurador ou envolvendo servidores de diferentes órgãos ou
Ministérios, quando a portaria será ministerial ou interministerial, nesse último
caso como ato conjunto de mais de uma autoridade.

Portaria-PR/IN nº 310, de 16/12/02, Art. 17

Ademais, a eventual falta de publicação da portaria, sequer internamente, não


necessariamente inquina de nulidade o processo se restar comprovado nos
autos que a parte interessada, de qualquer outra forma válida (pela notificação
para acompanhar como acusado, por exemplo) teve conhecimento do feito, de
forma a não se configurar prejuízo à defesa.

Parecer-AGU nº GQ-87

Unidade 2 - 2ª FASE: Inquérito Administrativo (instrução, defesa e relatório)

Após a instauração, dá-se início à segunda fase do processo, chamada


inquérito administrativo.

Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 151. O processo disciplinar se desenvolve


nas seguintes fases:
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão;
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório;
III - julgamento.
Em síntese, o inquérito administrativo (ou, simplesmente, inquérito), que é a
parte contraditória do processo, conduzida autonomamente pela comissão,
comporta os seguintes atos, na ordem: atos iniciais do inquérito (instalação da
comissão processante; comunicação da instalação; designação do secretário);
atos de instrução (notificação do servidor, depoimentos, perícias, diligências,
interrogatório, indiciação e citação para apresentar defesa escrita); defesa
escrita; e relatório.

Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 153. O inquérito administrativo obedecerá ao


princípio do contraditório, assegurada ao acusado ampla defesa, com a
utilização dos meios e recursos admitidos em direito.
Art. 155. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a tomada de
depoimentos, acareações, investigações e diligências cabíveis, objetivando a
coleta de prova, recorrendo, quando necessário, a técnicos e peritos, de
modo a permitir a completa elucidação dos fatos.
Parecer-AGU nº GQ-55, vinculante: “6. O comando constitucional para que
se observem o contraditório e a ampla defesa, no processo administrativo, é
silente quanto à fase processual em que isto deve ocorrer (cfr. o art. 5º, LV).
É tema disciplinado em norma infraconstitucional: a Lei nº 8.112, de 1990,
assegura a ampla defesa no curso do processo disciplinar e, o contraditório,
no inquérito administrativo (v. os arts. 143 e 153), que corresponde à 2ª fase
do apuratório (art. 151, II).”

A indiciação, como último ato da instrução, é o instrumento de acusação formal


do servidor inicialmente notificado para acompanhar o processo administrativo
disciplinar, refletindo convicção preliminar da comissão de que ele cometeu
irregularidade.
Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 161. Tipificada a infração disciplinar, será
formulada a indiciação do servidor, com a especificação dos fatos a ele
imputados e das respectivas provas.

Figurativamente, é como se, a partir deste momento, após a instrução


contraditória, a comissão deixasse de se referir à “suposta” irregularidade e
“possível” autoria (ou concorrência) para afirmar estar convicta do cometimento
do fato por parte do indiciado (sem prejuízo de tal convicção poder ser alterada
com a defesa). Deve-se sempre atentar que a responsabilização disciplinar
pode não atingir apenas quem comete o ato ilícito, mas, em determinados
casos, pode recair sobre quem, embora não o tenha cometido, tenha
propiciado, com sua ação ou omissão, que outro o cometesse, concorrendo
para a ocorrência. Assim, a “autoria” deve ser lida tanto no sentido estrito
referente a “autor do ato” quanto no sentido amplo de “responsável pelo ato,
por concorrência”.

Com a indiciação, o servidor passa da qualidade de acusado para indiciado. Os


termos da Lei nº 8.112, de 11/12/90, são impróprios: no momento em que se
chama o servidor aos autos por haver indícios contra ele, chama-o de
“acusado”; no momento em que, após a instrução contraditória, formaliza-se a
acusação contra ele, chama-o de “indiciado”.

STJ, Mandado de Segurança nº 7.074: “Ementa: (...) 2. Na fase instrutória do


inquérito administrativo, o servidor figura como acusado e, nessa situação,
terá o direito de acompanhar o processo pessoalmente ou por intermédio de
procurador, produzir contraprovas, reinquirir testemunhas, devendo, logo
após, ser interrogado (artigos 156 a 159 da Lei 8.112/90).
3. Somente depois de concluída a fase instrutória, onde o acusado terá
direito à ampla defesa, é que, se for o caso, será tipificada a infração
disciplinar, formulando-se a indiciação do servidor, com a especificação dos
fatos e das respectivas provas, sendo, então, na condição de indiciado,
citado para apresentar defesa (artigo 161 da Lei 8.112/90).”
Idem: STF, Mandado de Segurança nº 21.721; e STJ, Recurso Ordinário em
Mandado de Segurança nº 11.625.

Esta convicção é momentânea, antes de se analisarem os argumentos da


defesa escrita, em relação aos quais a comissão não deve ser refratária,
podendo vir a alterar seu entendimento. A indiciação deve ser precedida de ata
de deliberação, considerando encerrada a busca de elementos de convicção e
decidindo indiciar o acusado.

Havendo mais de um servidor a ser indiciado, pode ser redigido um termo de


indiciação para cada quando os servidores têm diferentes situações,
enquadramentos, provas (sobretudo se forem provas sob garantia de
inviolabilidade, como sigilos fiscal ou bancário). Por outro lado, sendo idênticas
as condições, também pode-se redigir apenas um termo de indiciação e, em
seu curso, especificar, de forma individualizada, as acusações contra cada um.
Decerto é que não se aceita que, na ausência de prova da autoria de
irregularidade (ou da concorrência para o fato), a comissão dilua a
responsabilidade por todos os servidores arrolados no processo por estarem de
alguma forma envolvidos com o fato.

Art. 5º, XLV


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A indiciação delimita a acusação e dentro deste limite o servidor deverá


apresentar sua defesa escrita. Portanto, o termo de indiciação (além da
notificação como acusado e da intimação para interrogar) é peça essencial no
processo em que se cogita de responsabilização funcional.

Em seguida à indiciação, a comissão, por meio do presidente, deve elaborar a


citação para que o indiciado apresente defesa escrita. Trata-se de peça
extraída em duas vias, para que seja entregue pessoalmente ao indiciado (a
menos que o procurador tenha poder expresso para receber), coletando-se
recibo datado em uma via que fará parte do processo. Por não haver previsão
na Lei n° 8.112, de 11/12/90, e por se tratar de ato de relevância especial
dentro do processo administrativo disciplinar, não se recomenda o emprego de
via postal com Aviso de Recebimento (AR) para citar o servidor, para
intimações e atos de comunicação em geral no curso da instrução. A
interpretação de que a citação deve, a princípio, ser pessoalmente entregue ao
indiciado advém do § 4º do art. 161 da Lei nº 8.112, de 11/12/90, quando
expressa a possibilidade de este recusar a receber.

Lei nº 8.112, de 11/12/90, Art. 161

A citação deve conter: o prazo e local para apresentar a defesa; o registro do


direito à vista do processo na repartição; e o registro de que tem como anexo
cópia da indiciação (convém complementar a cópia integral do processo,
deduzindo-se o que já foi entregue desde a notificação como acusado ou
desde o interrogatório, caso este tenha sido o último momento em que se
entregou cópia dos autos, preferencialmente, digitalizada em mídia eletrônica).
Havendo mais de um indiciado, elaboram-se citações individuais (ainda que o
termo de indiciação seja único).
Após a instrução (que vai desde os atos iniciais da comissão, passando pela
busca de prova e fechando com a indiciação), a segunda fase do processo,
chamada inquérito administrativo, prossegue com a defesa.

Em função do princípio do formalismo moderado que vigora no processo


administrativo disciplinar, o único requisito de forma que se impõe sobre a
defesa é que seja escrita. A defesa pode ser feita pelo próprio indiciado ou por
seu procurador já devidamente qualificado no curso do processo ou
apresentado, com o devido mandato, apenas para efetuar este ato. Tampouco
se exige do próprio servidor ou do seu procurador que possua formação
jurídica e que seja advogado. Mas, em atenção à tipificação do crime de
advocacia administrativa, a defesa não pode ser feita por outro servidor (a
menos da exceção da defesa dativa, em que o servidor designado formaliza a
defesa de outro com a excludente de ilicitude do cumprimento do dever legal).

Obviamente, a citação e a defesa (além da notificação como acusado, da


intimação para interrogar e da indiciação) são peças essenciais no processo
em que se cogita de responsabilização funcional. É inadmissível passar direto
da instrução probatória para a conclusão contrária ao servidor sem formalizar
acusação e sem apreciar defesa.

Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 161.


§ 1º O indiciado será citado por mandado expedido pelo presidente da
comissão para apresentar defesa escrita, no prazo de 10 (dez) dias,
assegurando-se-lhe vista do processo na repartição.
Formulação-Dasp nº 47. Direito de defesa Com base em processo
disciplinar, não se pode punir por infração, embora leve, de que o acusado
não se tenha defendido.
Pode ocorrer de, no prazo para apresentar defesa, o indiciado solicitar a
realização de algum ato de instrução probatória, seja a seu próprio encargo,
seja a encargo da comissão. Tanto no caso de ato a ser realizado pelo próprio
acusado, sem participação da comissão e para o quê a defesa entende ser
necessário prorrogar o prazo, e sobretudo no caso em que o acusado solicita a
realização de ato a ser conduzido pela comissão, antes de apreciar o pedido,
pode o colegiado intimar o acusado a justificar a sua pertinência. Com isso, a
comissão adquire maior respaldo para, se for o caso, indeferir ou acatar o
pedido, à luz do art. 156, § 1º da Lei nº 8.112, de 11/12/90.

Destaque-se que, independentemente de quem tenha partido a realização ou


juntada de provas no prazo de defesa, à vista do princípio do prejuízo,
analogamente ao que se abordou em 4.4.16.6, somente se justificam a coleta
de novo interrogatório (acerca apenas do novo elemento) e, se for caso, o
refazimento da indiciação se esta nova prova tem o condão de agravar a
convicção originalmente esposada pela comissão. Se o fato novo não altera ou
abranda a convicção, não se faz necessário reinterrogar e reindiciar o servidor.

Por fim, no caso de prova solicitada pela parte, sendo indeferido o pedido,
convém notificar o requerente da decisão, não postergando a resposta apenas
para a redação do relatório, quando não mais poderá ser contestada.

STJ, Mandado de Segurança nº 7.464: “Ementa: IV -A comunicação do


indeferimento da prova requerida deve operar-se ainda na frase probatória,
exatamente para oportunizar ao servidor a interposição de eventual recurso
contra a decisão do colegiado disciplinar, sendo defeso à comissão indeferi-lo
quando da prolação do relatório final.”
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Após a instrução probatória sem indiciação de servidor ou após análise da


defesa escrita apresentada, deve a comissão apresentar relatório à autoridade
instauradora, encerrando a segunda fase do processo, chamada de inquérito
administrativo. Não obstante, não há impedimento de a comissão, ao longo da
instrução probatória, já ir antecipando trechos iniciais do relatório, tais como
resumos dos fatos antecedentes à instauração do processo e dos atos de
busca de prova realizados -limitando-se à descrição fática dos atos, sem lhes
agregar nenhum juízo de valor ou mérito, como forma de preservar a vedação
de prévia formação e sobretudo manifestação de convicção por parte do
colegiado.

A Lei nº 8.112, de 11/12/90, dispõe ao servidor a instrução e a defesa como


momentos do processo para que ele exerça seu direito de intervir a fim de
fornecer à comissão e à autoridade julgadora elementos a seu favor na
formação da convicção acerca dos fatos. Assim, não há previsão legal para
que o indiciado intervenha na fase de elaboração do relatório e tampouco para
que a comissão lhe ofereça a oportunidade de apresentar alegações finais,
entre a defesa e o relatório e muito menos após estar concluído o relatório.

STJ, Mandado de Segurança nº 7.985

Este relatório deve ser minucioso, detalhando todas as provas em que se


baseia a convicção final, e conclusivo quanto à responsabilização do indiciado
(inclusive se houve falta capitulada como crime ou dano aos cofres públicos) ou
quanto à inocência ou insuficiência de provas para responsabilizá-lo. O
relatório não pode ser meramente opinativo e muito menos pode apresentar
mais de uma opção de conclusão e deixar a critério da autoridade julgadora
escolher a mais justa.

Por um lado, não estando convicta da responsabilização do indiciado, à luz das


provas coletadas, recomenda-se que a comissão altere a postura inicialmente
adotada acerca de benefício da dúvida, passando a adotar a máxima do in
dubio pro reo, em detrimento do in dubio pro societate. Por exemplo, milita a
favor da defesa a dúvida reinante em processo cuja instrução se resume tão-
somente a um testemunho contrário ao acusado e seu interrogatório não
reconhecendo a acusação. Com as cautelas devidas, pode, delimitadamente, a
comissão atentar para o princípio da insignificância.

Parecer-AGU nº GM-3, não vinculante

Por outro lado, destaque-se que, quando se cogita de imputação contrária ao


servidor, tanto pode se cogitar de o servidor ter sido efetivamente o executor do
fato em si quanto pode se cogitar de ter sido responsável por sua ocorrência,
de ter propiciado com sua conduta concorrente que o fato ocorresse ou que
terceiro o praticasse.

Em qualquer caso, havendo divergência de mérito ou de convicção entre os


integrantes da comissão acerca da decisão de absolver o servidor ou de propor
sua responsabilização.
Descrição Fática, Enquadramento e Proposta de Pena

Formalmente, extrai-se da leitura sistemática da Lei nº 8.112, de 11/12/90, ao


amparo de manifestações da Advocacia-Geral da União (seus Pareceres-AGU
nº GQ-12, GQ-35, GQ-55 e GQ-121) e da jurisprudência, que existe uma
coerente linha evolutiva a se seguir em caso de responsabilização.
Primeiramente, a portaria instauradora apenas se reporta ao nº do processo,
sem indicar fato irregular, enquadramento e autor. Em seguida, a notificação
para acompanhar o processo como acusado é o primeiro momento em que se
identifica o possível autor ou responsável nos autos, ainda sem descrever a
irregularidade e enquadrá-la. Somente após a instrução contraditória, com toda
a riqueza de verdade que lhe é inerente, eis então que a comissão, na
indiciação, pela primeira vez ao longo do processo, tem autorização legal para
formalizar acusação do fato apurado. Todavia, neste momento, a rigor, a
comissão ainda não é expressamente obrigada na Lei a enquadrar (embora se
defenda a conveniência de já poder fazê-lo). Por fim, no relatório, seu último
ato, é que a comissão é legalmente obrigada a enquadrar o fato.

A indiciação delimita faticamente a acusação, sendo vedado à comissão


acrescentar à acusação fatos não incluídos naquela peça, pois sobre eles não
terá sido ofertado o contraditório. A indiciação, a defesa e o relatório reportam-
se a fatos. Assim, não há nulidade pelo simples fato de a comissão,
motivadamente, alterar, no relatório, o enquadramento legal acaso incluído na
indiciação. Até porque, a rigor, sequer é obrigatório que a comissão indique o
enquadramento legal na indiciação (o art. 161 da Lei nº 8.112, de 11/12/90,
exige apenas a descrição dos fatos). Mas não se pode alterar a descrição
fática, acrescentando novos detalhes não incluídos na indiciação.

Parecer-AGU nº GQ-121
Quanto à apresentação, por parte da comissão, de proposta de pena no
relatório, é de se reconhecer que a matéria comporta polêmica. De um lado,
pode-se interpretar que, no art. 165 da Lei nº 8.112, de 11/12/90, o legislador
cuidou de elencar todos os elementos essenciais ao relatório e não incluiu
proposta de pena por parte da comissão. Essa interpretação vem a favor da
visão estanque de que a segunda fase do processo, o inquérito administrativo,
funda-se em diálogo entre comissão e acusado acerca tão-somente do fato,
não devendo o colegiado se reportar à pena. Nessa corrente, se entende que a
comissão, ao abordar a pena, antecipa a terceira fase, do julgamento,
invadindo a competência do julgador e criando-lhe maiores dificuldades caso
este tenha entendimento diverso.

Por outro lado, pode-se adotar o entendimento de que a interpretação extraída


do art. 165 da Lei nº 8.112, de 11/12/90, acima reproduzido, é meramente
literal e não pode prosperar sobre a interpretação sistemática da Lei, obtida
quando se lê o seu art. 168. Nessa linha, se compreende que, além da
descrição do fato e de seu enquadramento, a comissão deve apresentar a
proposta de penalidade a ser aplicada. O caput do art. 168 do Estatuto
estabelece que o julgamento, como regra, acata o relatório. Se não se discute
que o ato de julgar inclui a aplicação da pena, defende-se então que o relatório,
que a priori é de ser acatado, deve abordar a pena. Além disso, se o parágrafo
único do mesmo artigo menciona que a autoridade pode abrandar ou agravar a
“pena proposta”, é porque a Lei prevê que algum agente proporá pena ao
julgador, restando óbvio, nessa linha, que tal agente só pode ser a comissão.

Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 168. O julgamento acatará o relatório da


comissão, salvo quando contrário às provas dos autos.
Parágrafo único. Quando o relatório da comissão contrariar as provas dos
autos, a autoridade julgadora poderá, motivadamente, agravar a penalidade
proposta, abrandá-la ou isentar o servidor de responsabilidade.
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Diante de duas formas aceitáveis de se interpretar, parece mais recomendável


a segunda linha. Afinal, ninguém mais habilitado que a comissão para se
manifestar sobre o objeto de apuração e sobre a conduta do acusado. Por este
fato, é de se defender que pode a comissão destacar, para o julgador
distanciado do fato, qual a exata dosimetria da pena que, na visão qualificada
de quem apurou, melhor atende às condicionantes de atenuação ou de
agravamento. Ademais, a recomendação de proposta de pena no relatório
contribui para incutir no integrante da comissão maior senso de
responsabilidade ao indiciar e enquadrar, ao fazê-lo ver a repercussão do
enquadramento proposto.

“(...) apresentação, pela Comissão Processante, de um relatório, no qual


apreciará, em relação ao indiciado ou indiciados, as irregularidades
apontadas, as provas colhidas, as razões de defesa apresentadas, propondo
ou indicando absolvição ou punição, inocência ou responsabilidade,
mencionando, no caso positivo, a pena cabível e sua fundamentação legal.”
Edmir Netto de Araújo, “O Ilícito Administrativo e seu Processo”, pg. 148,
Editora Revista dos Tribunais, 1ª edição, 1994.
“Apesar da Lei não ser clara, deverá ser sugerida a penalidade a ser
aplicada. Porém, a ausência de indicação de pena não é causa de
deficiência no relatório.” Simone Baccarini Nogueira, “Manual de Sindicância
Investigatória, Sindicância Punitiva e Processo Administrativo Disciplinar do
Servidor Público Federal”, pg. 46, Universidade Federal de Minas Gerais, 1ª
edição, 2004
“(...) a indicação da penalidade é procedida pela comissão à autoridade
superior. De acordo com o apurado no processo, e a gravidade dos fatos
acontecidos segundo ficou demonstrado, irá a comissão indicar uma pena ao
indiciado (...).” Ivan Barbosa Rigolin, “Comentários ao Regime Único dos
Servidores Públicos Civis”, pgs. 276 e 277, Editora Saraiva, 4ª edição, 1995.
Mas, a rigor, a discussão parece ser apenas teórica, diante da vinculação
reinante na sede disciplinar para a pena legalmente prevista para cada
infração. Configurado o ato, a Lei prevê exatamente qual pena é cabível. A
única margem de relativa discricionariedade na matéria disciplinar é entre
aplicação de advertência ou suspensão. E, nesses casos, reforça-se a tese de
que pode a comissão, como melhor conhecedora do fato, opinar ao julgador
qual das duas penas melhor se aplica (registrando-se que, caso se adote a
postura de a comissão propor a pena, na hipótese de ela entender cabível
suspensão, deve apenas se manifestar pela pena, sem adentrar na quantidade
de dias a suspender). Já nas hipóteses graves, puníveis com pena capital, tal
discricionariedade não se aplica, sendo inafastável a aplicação da pena
expulsiva.

Por fim, diante da inconclusividade do tema, por um lado, não se configura


qualquer nulidade se a comissão acatar a recomendação de apresentar a
proposta de pena no relatório (que não vincula o julgador) e tampouco caso se
restrinja a descrever o fato e a enquadrá-lo, deixando a matéria punitiva a
cargo apenas da autoridade julgadora.

Decerto, não cabe à comissão se manifestar subjetivamente acerca da justeza


ou não da penalidade cabível; todos os itens que se exige constar do relatório
são de natureza objetiva, para subsidiar a decisão da autoridade competente.

Caso a comissão tenha, por dúvida, no momento da indiciação, optado por


provocar a defesa - em atitude de in dubio pro societat aceitável até aquele
momento -, no relatório, após sopesar as teses de defesa, ela deve concentrar
sua convicção (se for o caso de responsabilização), em termos de
enquadramentos, atentando-se para a necessária inversão da postura, agora a
favor do in dubio pro reo.
O relatório é o último ato da comissão, que se dissolve com sua entrega, junto
com todo o processo, à autoridade instauradora, para julgamento. Concluído o
relatório, nada mais a comissão pode apurar ou aditar, pois juridicamente
sequer ela não mais existe.

Lei nº 8.112, de 11/12/90 - Art. 166. O processo disciplinar, com o relatório


da comissão, será remetido à autoridade que determinou a sua instauração,
para julgamento.
STJ, Mandado de Segurança nº 8.259: “Ementa: 6. Inexiste qualquer
determinação legal no sentido de que o indiciado seja intimado pessoalmente
do relatório final elaborado pela comissão processante, não havendo falar,
assim, em violação do princípio do devido processo legal”.

Convém que a comissão, juntamente com os autos originais, entregue cópia do


processo (preferencialmente, digitalizada em mídia eletrônica), a ser arquivada
no órgão ou unidade onde tramita o processo.

Não há previsão legal para que a comissão forneça cópia do relatório ao


servidor. Por se inserir na garantia à ampla defesa e ao contraditório, caso seja
solicitada, a cópia deve ser fornecida, mas pela autoridade instauradora (até
porque, juridicamente, não mais existe comissão desde a entrega do relatório).

STJ, Mandado de Segurança nº 8.249: “Ementa: O procedimento


administrativo disciplinar detém norma reguladora específica, qual seja a Lei
8.112/90, que em seu Título V trata exaustivamente da matéria, inexistindo
em seu âmbito norma que determine a intimação pessoal do acusado do
conteúdo do relatório final da comissão disciplinar.”
Unidade 3 - 3ª FASE: Julgamento

Após o inquérito, terminada a participação da comissão, o rito se encerra com a


terceira fase do processo, chamada julgamento.

É comum o processo administrativo disciplinar chegar a esta fase bastante


volumoso, podendo atingir alguns milhares de folhas, em vários volumes e
anexos. Nesses casos, como mera recomendação prática para a autoridade
iniciar o julgamento, convém que se altere a ordem de leitura, começando do
relatório. Presume-se que um relatório bem feito contenha uma síntese do fato
concreto objeto da apuração e um resumo do rito processual (quais os atos de
instrução realizados, a indiciação e a defesa). Prosseguindo, convém ler a
indiciação e a defesa, confrontando um com o outro e cotejando com as
conclusões constantes do relatório. Assim, ao se fazer a leitura dos atos de
instrução propriamente ditos, na seqüência de realização no processo, a
autoridade já possui uma relativa noção do todo e um certo senso crítico, tanto
em aspectos formais quanto de mérito, que lhe permitirão enfatizar a análise
nos atos de instrução mais relevantes.

Antes, porém, de se adentrar sobre as nuances do julgamento, convém


informar que essa fase se desdobra em duas análises, consecutivas.
Primeiramente, a autoridade instauradora (ou qualquer autoridade
hierarquicamente superior) é competente para analisar o processo sob
aspectos formais, vícios e nulidades. Superadas as questões formais, aprecia-
se o mérito da questão. Nessa análise, grosso modo, pode haver proposta de
arquivamento ou de responsabilização e aplicação de apenação (abstraindo-
se, por ora, da prescrição).

Nesse segundo momento, da análise de mérito, é de se esclarecer que o


julgamento se debruça sobre a análise se estão configuradas ou não no
processo a materialidade e a autoria do ato ilícito; manifesta como o Direito
enxerga o fato configurado nos autos, ou seja, aplica ao fato concreto a
legislação de regência; e, por fim, conclui pela inocência do servidor ou por sua
responsabilização. Nessa última hipótese, quando o julgador, após ponderar os
fatos autuados e aplicar a legislação de regência, decide pela
responsabilização do servidor, o julgamento encerra a aplicação da penalidade
prevista em norma, já considerando os parâmetros de dosimetria de pena
especificamente válidos para o caso concreto (natureza e gravidade da
infração, existência de dano, agravantes, atenuantes e antecedentes).

O que aqui se quer destacar é que, nesse caso, o julgamento e a aplicação da


pena não são atos dissociáveis e produzidos em momentos distintos e muito
menos por autoridades diferentes; ao contrário, o julgamento contém a
aplicação da penalidade, sendo ele todo um ato único da autoridade que
valorou os fatos autuados à luz do Direito. O que pode sofrer diferimento no
tempo e até ser atribuída a outra autoridade é tão-somente a execução (a
efetividade) da pena e o melhor exemplo disso é a pena de suspensão, que
pode ser executada em momento posterior à sua aplicação (à publicação da
portaria punitiva) e a cargo da autoridade local, enquanto que a advertência e
as penas expulsivas têm a execução no exato momento da aplicação (que é a
publicação da portaria punitiva). Então, assevera-se que, em um ato único e
indissociável, a autoridade julgadora julga pela inocência (ou insuficiência de
provas acusatórias) e decide pelo arquivamento; ou julga pela
responsabilização e aplica a pena vinculada, exigindo tal ato a publicação
como elemento essencial de sua validade. Quando se concretiza o julgamento
com sua publicação, a pena já resta aplicada (podendo apenas, no caso de
suspensão, ter sua efetividade postergada), com todos os seus efeitos.

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