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Comunicar à bomba!

O que é isso de comunicar à bomba? No latim, usava-se bombu para significar


estrépito, entre outras coisas. Hoje, desta bomba diz o dicionário que é um
engenho que, contendo substâncias explosivas, rebenta com estampido. A
palavra em si é onomatopaica… BOMBA. A boca enche-se para expelir, de um
estampido só, os sons desta fala. Aliás, na melhor esteira anarquista
passadista, ficou a expressão: “Isto só vai à bomba!” Para da destruição erguer
o novo. Ou, pelo contrário, “isto nem à bomba!” O que acontece sempre que,
estando as coisas tão emaranhadamente mal feitas, não há bomba que as
destrua. E descansem que não vou fazer, sequer, alusão a qualquer política
educativa com que todos estamos por demais familiarizados.

Escolhi esta forma ligeira de introdução para abordar uma questão que
preocupa toda a humanidade pensante: o terrorismo. Evidentemente que, na
nossa memória, permanecem dois actos que abalaram o mundo ocidental: a
destruição das torres gémeas em Nova Iorque e o mais recente atentado à
população madrilena na estação de Atocha. Sem falar em Bali e Casablanca.
Desde que alguém descobriu que os actos terroristas eram a única forma de,
facilmente, serem notícia, o terror vulgarizou-se.

De uma forma simples, os dicionários definem terrorismo como “actos de


violência praticados contra um governo, uma classe ou mesmo contra a
população anónima, como forma de pressão, visando determinado objectivo,
forma violenta de luta política com que se intimida o adversário, modo de impor
a vontade por meio da violência e do terror”.

Para Piñuel, Terrorismo é definido como, traduzindo, “um uso do sistema de


comunicação social em razão do qual, uma interacção social agressora se
incorpora de forma expressiva para a codificação e descodificação de
referentes míticos sobre a luta política”. (“un uso del Sistema de Comunicação
Social, debido a que una interacción social agresora se incorpora a pautas
expresivas para la codificación e decodificación de referentes míticos sobre la
lucha política”. Piñuel Raigada, J. L. El Terrorismo en la Transição española
Fundamentos Madrid 1986).
O problema que se coloca para a análise do fenómeno terrorista é o de saber
qual é o sentido que prevalece na codificação e descodificação das referências
em função das quais se estabelece a Comunicação Social.

Um exame mais cuidado da prática do jornalismo a propósito de


acontecimentos terroristas leva à conclusão de que a “significação” dos textos
produzidos pelos Meios de Comunicação de Massas adquire sentido não tanto
por força de se narrar uma transgressão da interacção social (a agressão
terrorista) mas mais em função de que esta transgressão de códigos
axiológicos fica patente na narração como uma ameaça à estabilidade política
e social, miticamente concebida. Em conflito estão o Poder e o contrapoder.

Sintetizemos os factos e vejamos como eles se entrelaçam com as diferentes


propostas teóricas que os estudiosos nos têm legado em termos de elaboração
teórica.

1. O discurso de Aznar, inicialmente, sem nomear a ETA, é dirigido a ela


sem contemplar outra possibilidade. Fala de “bando de terroristas”, que
cometeu crimes muitas vezes.

2. Seis horas depois dos atentados, os ministros do Interior e Porta-voz do


Governo afirmam claramente que a responsabilidade é da ETA. Ao
mesmo tempo que se calaram dados importantes que orientavam noutra
direcção.

3. Não falaram da descoberta de uma furgoneta na estação de Alcalá de


Henares, origem da viagem dos comboios da morte, contendo sete
detonadores similares aos utilizados nos atentados... e uma fita
magnética com versos do Corão.

4. Nem citaram o testemunho do porteiro de um edifício próximo que


identificou os três ocupantes da furgoneta, vestidos como fedayines.
Tudo isso aconteceu apenas três horas depois dos actos terroristas.

5. Nenhum destes governantes fez menção de que um polícia municipal,


que ajudava no socorro aos feridos, encontrou um saco desportivo
intacto, com uma bomba no seu interior e com um telefone celular
programado, que devia actuar como detonador. O mecanismo, a
substância explosiva que continha e os componentes dos detonadores,
nunca tinham sido utilizados pela ETA.

6. Em Londres era dado todo o crédito a esta informação, que era


menosprezada pelas autoridades governamentais.

7. Ou seja, aparecia evidente que não interessava ao Governo, nem ao


Partido Popular, que se falasse no terrorismo da Al Qaeda, porque seria
a evidência de que a sua política de apoio a Bush tinha colocado
Espanha no objectivo dos terroristas de Bin Laden. E as eleições eram
nesse fim de semana com os inquéritos à opinião pública a darem
confortável vantagem ao PP.

8. No sábado, a cadeia da rádio SER dava a notícia de que tinham sido


detidos em Madrid dois indianos e três marroquinos, ligados à Al Qaeda.
Mais tarde, através de um vídeo, depositado num recipiente de papéis
duma avenida próxima da Mesquita de Madrid, um dirigente europeu da
Al Qaeda reivindicava os atentados.

9. À meia-noite, o Governo espanhol reconhecia a autoria do radicalismo


islâmico.

10. O povo espanhol saiu para a rua, indignado. De forma espontânea, as


pessoas mobilizavam-se através de mensagens por telemóvel e pela
Internet, milhares de pessoas começaram a concentrar-se frente às
sedes do Partido Popular, em várias cidades importantes de Espanha:
Madrid, Barcelona, Corunha, Sevilha....para gritar: 'Las guerras son
vuestras...los muertos son nuestros'.

11. O povo espanhol reagiu prontamente, com contundência e indignação,


saindo para a rua e desrespeitando, legitimamente, o “Día de Reflexão”
das eleições.

Assim, a tentativa de manipulação foi evidente. Que pode um professor de


comunicação dizer aos seus alunos perante uma realidade tão chocante como
esta aqui traçada? Perante estes factos, pedi aos meus alunos que
descobrissem nesses factos manifestações da teoria da comunicação.
O Cristiano Pereira identificou o efeito boomerang e, citando Jorge Pedro
Sousa no seu livro “Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos
Media”, na página 166, esclarecia “O efeito boomerang ocorre quando uma
mensagem provoca efeitos contrários aos esperados, atingindo
retroactivamente” está bem patente na seguinte situação: o executivo
espanhol, logo a seguir aos atentados, em conferência de imprensa, atribuiu a
autoria dos atentados à ETA. Talvez pensando que assim segurava o seu
eleitorado pois é bem conhecida a repressão que este executivo fez durante a
sua legislatura à ETA e, assim, esperando que os eleitores fossem continuar a
apostar na continuidade desse trabalho, e apostar na estabilidade desse
trabalho.

Mas o que é facto é que o efeito boomerang aconteceu, os receptores


receberam esses comunicados precipitados e peremptórios, com desconfiança
e, assim, se constata que o efeito pretendido pelo governo naqueles
comunicados saiu totalmente oposto do pretendido.

A Fátima Assunção explicou que não se pode mentir ao povo tendo como única
finalidade a manutenção e conservação do poder; não se pode subestimar a
relação entre os meios de comunicação e a opinião pública, como refere a
socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann que, na Teoria da Espiral do
Silêncio, parte do pressuposto de que as pessoas têm de permanecer atentas
às opiniões e aos comportamentos maioritários e procuram expressar-se
dentro dos parâmetros da maioria. Esta socióloga defendeu ainda que a
formação das opiniões maioritárias é o resultado das relações entre os meios
de comunicação de massas, a comunicação interpessoal e a percepção que
cada indivíduo tem da sua própria opinião quando confrontada com os outros.
Noelle Neumann perspectiva a opinião pública como uma espécie de clima de
opinião, onde o contexto influencia o indivíduo independentemente da sua
vontade.

A Juliana Pereira identificou a teoria da dependência. O modelo mostra que os


media podem relacionar-se de várias formas com as suas audiências, umas
vezes acompanhando e reflectindo, outras desempenhando um papel de
alguma liderança. Espanha é um país estável, onde um atentado deitou por
terra alguma dessa estabilidade política e financeira. Os media assumiram o
seu papel na sociedade e, durante o atentado, foram essenciais para as
pessoas obterem informações e saberem como poderiam ajudar todas as
vítimas.

A Mariana Carvalho localizou a teoria da agulha hipodérmica. Nesta teoria


defende-se que as pessoas apresentam o mesmo comportamento mecânico ao
serem atingidas pelas mensagens mediáticas. Nela, a comunicação é vista
como um processo reactivo, enquanto a sociedade é avaliada como sendo
constituída por indivíduos aglomerados numa massa uniforme e passiva.

No entanto, esta teoria já foi contestada e provou-se mesmo o contrário: as


pessoas, afinal, não reagem todas da mesma maneira às mensagens
mediaticamente difundidas.

Foi isto mesmo que se verificou quando toda a população espanhola ficou a
saber dos atentados ocorridos na manhã de 11 de Março na capital espanhola
pelos meios de comunicação. As características psicológicas e a personalidade
das pessoas predispõem-nas, ou não, para reagir de uma determinada
maneira. Assim, e como era de prever, as pessoas reagiram distintamente à
notícia dos ataques. Houve quem ficasse impávido e sereno, houve quem
corresse logo aos hospitais, houve quem desmaiasse, chorasse… Muitas
foram decerto as reacções, o que vem reforçar ainda a ideia de que esta teoria
já está ultrapassada e tida como errada também.

A Patrícia Rocha chega à teoria do Agenda Setting, cuja função é a de


destacar que os meios de comunicação têm a capacidade de agendar temas
que são objecto público em cada momento, ou seja, o dia 11 de Março vai, sem
dúvida, ser um tema que vai ficar sempre na memória de todos e também
motivo de discussão em qualquer momento, pois foi um acontecimento que
marcou brutalmente um país. O Cristiano vai mais longe e comenta que a
teoria do Agenda-Setting se identifica com a capacidade dos meios de
comunicação de agendar temas que serão de debate público. Neste caso,
podemos falar num agendamento novo que aconteceu em Espanha, no dia
anterior às eleições espanholas, um dia que deve ser, por definição, de reflexão
e de total silêncio no que diz respeito aos partidos e candidatos. O que
aconteceu foi um romper dessa norma legal, e colocar na agenda dos meios de
comunicação a necessidade de saber a autoria dos atentados, e essa mudança
na agenda foi motivada por manifestações em frente às várias sedes do partido
popular, nomeadamente, Madrid, Barcelona, Valencia, Santiago de
Compostela, Gijon... manifestações essas que foram convocadas por
mensagens SMS e por Internet citando o jornal “Publico” do dia 14 de Março de
2004 “Os manifestantes foram convocados por SMS e através da Internet sem
que a paternidade da iniciativa fosse assumida por alguma organização”. Foi
possível mudar então a agenda da comunicação social e, dessa forma, a
pressão exercida pelos meios de comunicação foi tão grande que o governo
viu-se obrigado a falar. Podemos, então, considerar essas manifestações como
cirúrgicas, pois, não sendo em grande número, o impacto que estas tiveram foi
muito maior graças a essa alteração do Agenda-Setting da comunicação social
espanhola.

E vamos ficar por aqui porque o essencial da panorâmica está traçado faltando
a reflexão conclusiva perante esta situação de violência que o desespero utiliza
para comunicar. Reconhecidamente mal, mas sarcasticamente eficaz.

Efectivamente, ao contrário de qualquer outra acção que tenha por objectivo a


notoriedade social, a agressão terrorista não se limita à notoriedade do
acontecimento, também implica a notoriedade de outros:

• Os agentes (agressores e vítimas) enquanto membros de grupos ou


organizações em conflito (e não enquanto indivíduos);

• As expressões garantes da legitimidade simbólica da acção (a


reivindicação da autoria deve ser formal e demonstrada, e a reacção
social/política e policial deve dar por válida a reivindicação,
reconhecendo à acção o seu carácter expressivo);

• Os fins associados à acção (como meio) enquanto valores enunciáveis


e ajustáveis a uma ordem social real ou desejada (Por ex., liberdade,
justiça, ordem...)

Assim, se falta a notoriedade dos agentes, das expressões e dos fins, o


acontecimento é interpretado ou como “obra de maníacos”, ou “como acidente”,
ou como “delito comum”, etc.
Traduzindo estes traços para termos que descrevem os componentes e
processos de um sistema, diremos que os componentes deste sistema de
interacção, que constitui o acontecimento terrorista, são, basicamente:

 Os agentes: agressores e vítimas, cujas posições e funções são


permutáveis no sistema; a saber, quando os agressores são
membros dos denominados grupos terroristas, a vítima é o
Estado através dos membros ou instituições agredidas cujo direito
à integridade é responsabilidade do Poder que o Estado exerce;
quando os agressores são membros armados ao serviço do
Estado, a vítima são os grupos terroristas através dos membros
das colectividades a que o Estado atribui cumplicidade com eles,
e aos que os grupos terroristas consideram, por isso mesmo, a
causa por que lutam e se arriscam “generosamente”.

 Os meios da interacção, que não devem confundir-se com os


exclusivamente utilizados para a agressão, são os constituídos
pela dinâmica social da prática do Jornalismo, e que merece
especial atenção.

 O produto social da interacção é o desafio da agressão ao Poder


do outro.

 As regras de representação, que permitem identificar a agressão


e a cada actor “justificar” a reivindicação e a reacção são,
respectivamente, as modalidades agressoras (bomba, assalto,
sequestro, etc.) e os códigos axiológicos do comportamento
social.

Como os meios de comunicação se podem opor ao terrorismo?

 Reivindicando a segurança humana, no respeito pelos direitos humanos


como um elemento determinante da definição da segurança inerente ao
indivíduo.

 Negando ser parte dos que preconizam a discriminação por razões


étnicas, chauvinistas, de género, ou de qualquer outra natureza.
 Não se refugiando num ridícula neutralidade e assumir a consolidação
democrática sem terror.

 Os meios de comunicação podem opor a democracia aos propósitos


sempre latentes da remilitarização. (Cristina Eguizábal e Rut Diamint. La
guerra contra o terrorismo e el futuro de las democracias. Foreign Affairs
en español. Primavera del 2002).

O Conselho Europeu estabeleceu, em devido tempo, 21 de setembro de 2001,


que: “A eficácia da luta contra o flagelo do terrorismo será maior, dependendo
de um diálogo político profundo com países e áreas do mundo onde se
desenvolve o terrorismo. A integração de todos os países num sistema mundial
equitativo de segurança, prosperidade e melhor desenvolvimento constitui a
condição de uma comunidade forte e duradoura para lutar contra o terrorismo”.

Rui de Melo

Julho de 2004

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