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Práticas de Gestão, Relações de Poder e de Gênero na Organização Hospitalar

Autoria: Marília Alves, Maria José Menezes Brito, Marlene Catarina de Oliveira Lopes Melo, Luciana de Paula Lemos,
Mikelli Alexandra Ferrreira

Resumo
Este estudo teve como objetivo analisar as relações de poder e de gênero nas práticas
cotidianas de gerentes de ambos os sexos em um hospital geral de grande porte. Foi realizado
um estudo de caso qualitativo em um hospital de Belo Horizonte, que teve como sujeitos da
pesquisa 10 dirigentes e gerentes, oito mulheres e dois homens. Os dados foram coletados por
meio de entrevistas e submetidos à análise de conteúdo. Evidenciou-se como características
da gerencia feminina sensibilidade, intuição, capacidade de ouvir, se colocar no lugar do
outro, dar feed back, administrar situações de conflito e ser exigente. A gerência masculina
tem como características a objetividade, pouca atenção à vida organizacional, rapidez e
exercício da autoridade. Os médicos influenciam decisões, são mais exigentes, fazem pressão,
necessitam se convencer das proposições organizacionais e são formados para mandar. As
mulheres aceitam as decisões administrativas e são menos questionadoras. A história da
mulher no Mercado de trabalho se repete no hospital: homens definem estratégias e mulheres
assumem a gerência intermediária para implementá-las, sinalizando uma escolha estratégica
do hospital. As relações de poder e de gênero se confundem com a das categorias
profissionais, nas quais homens médicos definem políticas e mulheres gerentes asseguram o
funcionamento organizacional cotidiano.

Introdução
As organizações, à semelhança dos seres vivos, possuem a tendência da conservação,
convivendo com a necessidade de mudança e correndo o risco da morte. No entanto, se
percebidas e tratadas de forma adequada, podem transcender o tempo, o que as torna
susceptíveis às tendências de cada época, apoiando-se em modelos de gerência e de produção
de bens e de serviços que sustentem as necessidades da sociedade. Essa possibilidade tem
como uma de suas base às relações interpessoais e de poder entre seus membros,
determinadas por múltiplos fatores internos e externos que configuram o sistema
organizacional.
Incluído no rol das mais importantes organizações da sociedade contemporânea
encontra-se o hospital que, destinado à prestação de serviços de saúde de alta complexidade,
tem procurado acompanhar as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais. No
entanto, possui especificidades como tratamentos personalizados de assistência, trabalho
diversificado e interdependente entre os setores, grande contingente de força de trabalho
feminina em decorrência da predominância das profissões tradicionalmente femininas como a
enfermagem e pouco controle dos administradores sobre clientes e trabalhadores,
principalmente médicos que possuem grande autonomia no trabalho (ALVES, 1996).
Entre as características da organização hospitalar torna-se importante ressaltar, ainda,
a estrutura hierarquizada, na qual os diferentes e às vezes conflitantes interesses das
corporações que nela atuam são equacionados no cotidiano de trabalho. A participação das
categorias profissionais nos processos decisórios organizacionais, a nosso ver, não guarda
proporção com o número de profissionais ou reflexos de seu trabalho no atendimento às
necessidades da clientela, mas é definido, principalmente, pelos processos históricos de
valoração das profissões na sociedade e por questões de gênero. Assim, os cargos de direção e
postos estratégicos de decisão política são geralmente ocupados por médicos do sexo
masculino e as posições intermediárias, encarregadas da operacionalização das decisões ficam
a cargo de profissionais de outras categorias, em sua maioria do sexo feminino, reforçando as
desigualdades nas relações de poder e de gênero.
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A organização hospitalar, como parte do sistema de saúde, é influenciada pelas
políticas do setor. As mudanças que ocorreram desde a década de 1990 têm privilegiado o
atendimento das necessidades menos complexas da população na atenção básica, deslocando
para os hospitais as demandas de alta complexidade (ALVES, BRITO e PENNA, 2007). Essa
nova configuração do sistema de saúde e mudança do perfil da clientela dos hospitais tem
exigido novos arranjos organizacionais capazes de elevar a qualidade e aprimorar os
processos, produtos e serviços, assim como novas tecnologias em termos de equipamentos,
qualificação profissional, estrutura gerencial e processos de trabalho, pois o sucesso
empresarial se estrutura tendo como base:
Multiplicidade de procedimentos, flexibilidade estrutural, ambigüidades na definição de
tarefas, descentralização de controles, dualidade nas fronteiras de responsabilidade,
variação em produtos e serviços, antes considerados inimigos da eficiência, passam a ser a
chave do sucesso (MOTTA, 1998:15).
As mudanças ou adequações permanentes têm ocorrido principalmente na composição
do capital humano, mais qualificado para lidar com novas tecnologias, aspectos financeiros e
visão de futuro. Nesse sentido, novas profissões vêm sendo incorporadas ao cotidiano de
trabalho dos hospitais, em atividades até então exercidas pela categoria médica. A maioria
dos hospitais tem adotado a estratégia de alocar grande contingente de trabalhadores do sexo
feminino em espaços gerenciais, o que coloca as relações de gênero e poder como uma
questão a ser desvendada no cotidiano de trabalho.
Estudos sobre as relações de gênero, perpassadas por relações de poder vivenciadas no espaço
de interações sociais nas organizações abrangem abordagens instigantes e polêmicas que
envolvem entre outros elementos, a subjetividade, o conflito, a dominação, adesões e
resistências no cotidiano de trabalho ((HARDY e CLEGG, 2001; FISCHER, 1999; 2001;
CAPPELLE, MELO e BRITO, 2002).
A análise das relações de gênero deve transcender a polarização entre o masculino e o
feminino, em que o homem desempenha o papel de “dominador” e a mulher atua como
“dominada”. Para tanto, Cappelle, Melo e Brito (2002) sugerem a adoção de uma perspectiva
politizada para o estudo do gênero nas organizações que permita a ampliação das
interpretações dadas às diferentes possibilidades de interação entre homens e mulheres de
acordo com as regras sociais vigentes nos espaços em que são percebidas. Tal abordagem
admite, ainda, que as modificações nos hábitos e condições de vida, permeadas por inovações
tecnológicas e pelo desenvolvimento sociocultural, sejam inseridas nas análises.
Considerar o caráter histórico e contingencial das relações de gênero implica acreditar
que as relações de poder entre homens e mulheres em diferentes sociedades, épocas, posições
sociais, organizações e categorias profissionais assumem configurações singulares. Sendo
assim, tais configurações devem ser investigadas em seu espaço de ocorrência, visando a
construção e a consolidação de um corpo teórico relevante e expressivo no que diz respeito às
relações de gênero e de poder. Ressalta-se, ainda, que as especificidades do espaço de
trabalho refletem comportamentos específicos e modos de convivência particulares, cuja
explicação deve envolver tanto o contexto, quanto as características das organizações,
(BRITO, 2004).
Na área hospitalar, vem se observando, gradativamente, o aumento de mulheres em
cargos gerenciais, que passam a dividir espaços de poder político com grupos hegemônicos.
Nesse contexto, a função gerencial é reconhecida como forma de ascensão dos profissionais
que exercem cargos técnicos, configurando uma nova “classe” composta por diversas
categorias profissionais. As práticas gerenciais e as relações cotidianas são marcadas por um
trabalho no qual, segundo Mintzberg (1976, p.53), os “gerentes eficazes parecem viver na
ambigüidade de um sistema complexo e misterioso com relativamente pouca ordem”. As

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informações para as decisões principais aparecem em pequenas partes e em meio a um
emaranhado de pequenas tarefas e de arenas políticas permeadas por jogos de interesses.
Nessa perspectiva, a análise do contraponto entre grupos na organização hospitalar
justifica-se em face das particularidades deste tipo de organização com destaque para os
modelos de gestão que mesclam o tradicional e o novo em um mesmo ambiente. Assim
sendo, torna-se relevante a análise das relações de poder e de gênero no contexto, visto que
homens e mulheres possuem comportamentos gerenciais diferenciados. Acredita-se, ainda,
que hospitais constituem espaços privilegiados de vivências, cujas representações atuam
simbolicamente para expressar as relações estabelecidas em seu interior, refletindo as
singularidades e conflitos inerentes ao exercício da gerência. Este estudo tem como objetivo
de Analisar as relações de poder e de gênero nas práticas cotidianas de gerentes de ambos os
sexos em um hospital geral de grande porte de Belo Horizonte.

Percurso Metodológico
Esse Estudo de Caso de natureza qualitativa foi realizado em um hospital geral de
grande porte de Belo Horizonte. O estudo de caso vem sendo utilizado de forma extensiva em
pesquisas da área das Ciências Sociais e segundo Yin (2001), apresenta-se como estratégia
adequada quando se trata de questões nas quais estão presentes fenômenos contemporâneos
inseridos em contextos da vida real e podem ser complementados por outras investigações de
caráter exploratório e descritivo. O Estudo de Caso, segundo o autor, é utilizado como
estratégia de pesquisa nos estudos organizacionais e gerenciais, contribuindo, de forma
inigualável, para a compreensão de fenômenos complexos, nos níveis individuais,
organizacionais, sociais e políticos e permitindo a preservação das características
significativas dos eventos da vida real.
Segundo Becker (1999), a utilidade prática desse tipo de estudo é que o mesmo
oferece espaço, ao investigador, para lidar com descobertas inesperadas, exigindo a
reorientação de seu estudo à luz de tais descobertas. Além disso, o pesquisador é levado a
considerar as múltiplas inter-relações dos fenômenos específicos por ele observados.
Em relação às características ou princípios do estudo de caso, Lüdke e André (1986)
destacam que os estudos de caso visam à descoberta; enfatizam a interpretação em contexto;
buscam retratar a realidade de forma completa e profunda; podem várias fontes de
informação; procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista
presentes numa situação social e utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que
os outros relatórios de pesquisa. O caso é construído durante o processo de estudo, somente
materializando-se como um caso no relatório final (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).
A respeito dos problemas apontados, ressalta-se que o fato de o caso ser ou não
‘típico’, afeta diretamente a questão da generalização. Considerando que “cada ‘caso’ é
tratado como único, singular, a possibilidade de generalização passa a ter menor relevância”
((LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p.23). Ainda em relação à possibilidade de generalização,
salienta-se a possibilidade da “generalização naturalística” (STAKE, 1978), a qual é feita com
base na percepção do leitor acerca de semelhanças de aspectos do caso particular estudado
com outros casos ou situações por ele vivenciado. Esse tipo de generalização ocorre no nível
individual, por meio de um processo que envolve o conhecimento formal prévio do leitor,
assim como de suas impressões, sensações e intuições (conhecimento tácito). No estudo de
caso, parte-se do pressuposto de que o leitor utilizará seu conhecimento tácito para fazer
inferências, generalizações, desenvolver novos significados e compreensões.
O Hospital eleito como campo de investigação é um hospital geral, de grande porte de
Belo Horizonte que atende a todas as especialidades médicas, em nível ambulatorial e de
internação e reconhecidas como referencia para atendimentos clínicos e cirúrgicos.
Os sujeitos da investigação foram 10 profissionais que ocupam cargos de direção,

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gerencia intermediária e 01 membro do Conselho Diretor. Tendo em vista que a pesquisa foi
desenvolvida por meio de Estudo de Caso, envolvendo análise qualitativa, a utilização de
amostra probabilística não se mostrou apropriada, tendo sido utilizada a amostra do tipo não
probabilística, denominada “amostra intencional” ou por “escolha racional.”
(CONTANDRIOPOULOS et al, 1994). Foi adotado o critério de amostragem por saturação
que é definido no decorrer da pesquisa e as entrevistas são encerradas quando nenhum fato
novo estiver sendo acrescentado (MINAYO, 2000).
Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas, pelas
pesquisadoras, o que possibilitou interação com os entrevistados, exploração da situação de
entrevista e esclarecimentos adicionais, configurando uma conversa a dois com objetivos pré-
definidos e acordados entre as partes. Os entrevistados foram esclarecidos sobre os objetivos
da pesquisa, autorizaram a gravação das entrevistas e assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido como preconiza a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Os dados coletados por meio de entrevistas gravadas foram transcritos e submetidos à
análise de conteúdo (BARDIN, 1979, MINAYO, 2000). Na busca de “atingir os significados
manifestos e latentes no material qualitativo” (MINAYO, 2000, p.204), foi utilizada a técnica
de Análise Temática. Essa nova compreensão do material textual, que vem substituir a leitura
dita “normal” por parte do leigo, visa a revelar o que está escondido, latente, ou subentendido
na mensagem.
A fase de categorização ou análise temática consistiu de dois momentos distintos:
no primeiro momento, foram feitas repetidas leituras das entrevistas em sua totalidade; no
segundo, foram extraídos os temas relevantes que emergiram dos discursos dos entrevistados.
Para tanto, os dados foram classificados tendo em vista o princípio de que o dado é
construído, sendo fruto de uma relação entre as questões teoricamente elaboradas e dirigidas
ao campo em um processo inacabado de perguntas originado pelo quadro empírico às
referências teóricas do pesquisador. A classificação dos dados envolveu a leitura repetida das
entrevistas (leitura flutuante) e possibilitou a apreensão das estruturas de relevância dos atores
sociais, bem como as idéias centrais transmitidas. Em seguida, procedeu-se à constituição de
um “corpus” de comunicações as quais originaram duas categorias empíricas centrais: Des
(igualdades) nas relações de poder e de gênero e quebrando o teto de vidro. Na análise final
foi realizado um movimento entre empírico e o teórico e vice versa sobre as relações de poder
e de gênero nas praticas gerenciais do hospital

As significações de poder e de gênero: uma construção recíproca no espaço


organizacional

O espaço organizacional é influenciado por determinantes econômicos, políticos e


simbólicos. De acordo com Srour (1994), ao se constituir como entidade política e tomadora
de decisões que afetam diferentes forças sociais, a empresa, ao mesmo tempo em que abriga
um sistema de interesses (relações de poder), funciona como uma arena na qual se relacionam
agentes externos e internos (proprietários, gestores e trabalhadores). Neste contexto, segundo
o autor, a empresa incorpora um sistema de referência (relações de saber) e opera como
“palco” em que contrapartes em confronto sofrem um mútuo processo de inculcação cultural
que procura responder às exigências de adaptação externa e de coesão interna (p.36).
Assim, as divergências que polarizam os agentes organizacionais são o resultado
simultâneo das posições sociais ocupadas por esses agentes e dos diferentes interesses
provocados pelas clivagens da sociedade. Significa dizer que qualquer organização incorpora
os inúmeros recortes existentes no espaço social, com suas múltiplas hierarquias e
diferenciações relativas às categorias e classes sociais. Categorias sociais se referem às
coletividades que se distinguem por estatutos sociais diferenciados: gêneros, raças, ocupações,

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gerações, etnias, origens regionais, preferências sexuais, condições de capacidade, etc.
Classes sociais dizem respeito às posições contraditórias na ocupação e relação econômica
com os meios de produção (SROUR, 1994, p.37).
A organização consiste segundo Melo (1991), em uma estrutura social organizada,
caracterizada pelas múltiplas relações de poder, sendo, ainda, portadora de conflitos, assim
como de processos de regulação. Nessa perspectiva, ganha relevância a abordagem do poder
nas organizações, tendo ele ocupado lugar de destaque nas discussões na área das Ciências
Sociais aplicadas. No campo organizacional, o enfoque das relações de poder tem se
difundido nos meios acadêmicos, constituindo instigante vertente de estudos (HARDY e
CLEGG, 2001; FISCHER, 2001; CAPPELLE, MELO e BRITO, 2002).
No âmbito organizacional, o poder é discutido por Crozier e Friedberg (1990) na
década de 1960, como sistema de relações. Segundo esses autores, os sentimentos expressos
no cotidiano de trabalho variam de acordo com as interações impostas pela natureza concreta
das relações de trabalho. Para os autores, se por um lado, o poder constitui um fenômeno
simples e universal, de outra parte, seu conceito é vago e multiforme, o que leva à formulação
daquilo que constitui o denominador comum de todas as manifestações de poder “qualquer
que seja seu ‘tipo’, quer dizer, suas fontes, sua legitimação, seus objetivos ou seus métodos de
exercê-lo, o poder, em um plano mais geral, implica sempre na possibilidade, para alguns
indivíduos ou grupos, de atuar sobre outros indivíduos ou grupos (p.55). A formulação
apresentada aplica-se a qualquer forma de poder e dirige a atenção para o que constitui a
essência do poder, ou seja, seu caráter relacional. Atuar sobre o próximo é, portanto, entrar
em relação com ele, e é nessa relação que se dá o desenvolvimento do poder de uma pessoa
sobre outra. O poder é, pois, uma relação e não um atributo dos atores e se desenvolve por
meio do “intercâmbio dos atores comprometidos em uma determinada relação” (p. 56),
estando diretamente ligado à negociação.
As relações de poder, analisados por Crozier e Friedberg (1990), são resgatadas
por Sainsaulieu (1997, p.149), com vistas a identificar sua aplicabilidade e pertinência na
atualidade. Assim, em estudo realizado em 81 estabelecimentos nos inícios dos anos 90, o
autor reafirma que “a organização de bens e serviços continua a produzir numerosas relações
de poder [...]. Tal como nos anos 70, a organização continua a ser uma terra de poderes e de
atores estratégicos no próprio centro dos funcionamentos da produção.” (p. 150). No entanto,
são identificadas nesses estudos mais recentes importantes modificações na realidade das
relações de poder, as quais, segundo o próprio autor, resultam das transformações da
produção na década de 1980. Tais modificações dizem respeito à complexidade, à criatividade
e ao emprego, e sobre as mesmas, ressalta-se que as novas tecnologias possibilitam o aumento
da autonomia e da colaboração por parte das equipes e serviços incorporados às tarefas e às
funções. Diferentemente da lógica norteadora do trabalho (sistemas técnicos, burocráticos e
tayloristas) dos anos 60, na atualidade, o poder é difundido do especialista para os níveis de
execução. Verificam-se a abertura dos mercados, o aumento da concorrência internacional e
as intervenções políticas nos campos: ecológico, da legislação do trabalho e nos processos de
privatização. Impera a incerteza no meio organizacional; as organizações sofrem mudanças
profundas para alcançar a qualidade e para se adaptarem ao novo contexto.
Ainda em relação às mudanças observadas, o autor destaca a importância
atribuída às questões relativas à comunicação e à necessidade de interface com os
fornecedores, clientes e usuários. “As estruturas matriciais de organização em redes ou por
projetos tornam-se indispensáveis para gerir a inovação, ao mesmo tempo em que, o exercício
hierárquico do controle e do poder de decisão se torna infinitamente mais complexo.” (p.150).
No tocante à questão gerencial, o autor adverte para o aumento do poder estratégico nos
níveis intermediários da organização, os quais normalmente são ocupados por técnicos e por
especialistas.

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O caráter relacional do poder também é abordado por Bussinguer (1990), a qual
assinala que compreender a forma como os homens se relacionam uns com os outros, do
ponto de vista do poder, “é compreender toda a dinâmica do ser com o outro e no outro.” (p.1)
Ressalta ainda a presença das relações em toda forma de encontro humano, não somente no
trabalho, quando se assumem papéis de autoridade e subordinação caracterizados por cargos,
mas também nas relações sociais, familiares e afetivas. Nesse mesmo enfoque, Melo (1995)
analisa as interfaces do poder no setor da saúde considerando-o como a capacidade de agir,
produzir efeitos e determinar o comportamento de outros indivíduos. Para Testa (1995), essa
capacidade implica a manipulação de recursos, informações e interesses alocados nas mãos de
algumas pessoas, grupos sociais e instituições, remetendo a compreensão do poder como
fenômeno social, ou seja, uma relação entre os homens.
Na tentativa de compreender a interface do poder e o trabalho em Saúde, Testa
(1992) caracteriza os campos nos quais se desenvolvem as ações que expressam as relações
de poder, assim como os tipos de poder que resultam dessas relações. Nessa perspectiva,
menciona inicialmente o campo dos conhecimentos utilizados para o funcionamento da
Saúde, os quais definem o poder técnico; em seguida, está o campo das atividades,
consideradas como processos que manejam recursos e que definem o poder administrativo;
finalizando, ressalta a capacidade de desencadear uma mobilização, capacidade essa
considerada como uma prática construtora de sujeitos e que, somada ao saber, integram o que
é definido como poder político, ou seja, o resultado entre o saber e a prática.
O poder técnico, por envolver conhecimento, é exercido de forma mais explícita,
na forma como se organiza o processo de trabalho na Saúde. Apóia-se em informações, as
quais Testa (1992) classifica como médica, sanitária, administrativa e marco teórico. A
informação médica é aquela com a qual o médico lida habitualmente na esfera clínica e em
sua relação com o paciente. A informação sanitária diz respeito a diferentes formas de
registros, tais como morbidade e mortalidade. Quanto à informação administrativa, essa se
encontra ligada aos administradores não médicos dos serviços de Saúde e corresponde a
diferentes indicadores de utilização de recursos. Podem ser exemplificadas por meio dos
custos e da produtividade. Segundo o mesmo autor, tanto a informação administrativa como a
sanitária são utilizadas nas tomadas de decisões corriqueiras do setor. O poder administrativo
sintetiza-se, nos países capitalistas, por meio das diferentes formas de financiamento,
considerado como o “elemento central organizador dos diversos subsetores da Saúde”
(TESTA, 1995, p. 121). Na visão de Melo (1995), esse tipo de poder tem sido exercido de
forma incipiente pelas enfermeiras e as decisões não as têm envolvido diretamente. No
entanto, pode-se considerar que “as enfermeiras exercem um poder administrativo num
sentido mais amplo” (p.74), ou seja, expresso na execução de atividades relacionadas com o
manejo de recursos em geral, sendo um aspecto significativo das práticas das enfermeiras seu
papel de gerenciadora de recursos e do processo de trabalho da Enfermagem. Quanto ao poder
político, Testa (1992) o define como sendo aquele capaz de desencadear a mobilização,
estando sob a dependência do conhecimento empírico e do conhecimento científico. O saber
empírico deriva, de alguma forma, da experiência. Em geral, é a sustentação do poder
individual ou de grupos reduzidos e definidos com base em interesses de ordem
circunstancial. Por outro lado, o saber científico decorre da aquisição do conhecimento de
maneira formalizada.
As dimensões organizacionais, permeadas pelas relações de poder, envolvem também
as relações de gênero vivenciadas no espaço de interação social. Essa afirmação encontra-se
pautada na definição de gênero apresentada por Scott (1990), ao apontar que “o gênero é um
elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os
sexos, e o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder” (p.14).
A adoção de uma perspectiva politizada para o estudo do gênero nas organizações

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permite a ampliação das interpretações que são dadas às diferentes possibilidades de interação
entre homens e mulheres, conforme as regras sociais vigentes nos espaços em que são
percebidas. Permite, ainda, que sejam inseridas nas análises as modificações nos hábitos e
condições de vida, permeadas por inovações tecnológicas e pelo desenvolvimento
sociocultural.
Com a finalidade de se alcançar uma maior abrangência analítica das relações de
gênero, deve-se estabelecer a relação existente entre as especificidades do espaço social em
análise, no caso deste trabalho, da organização hospitalar, bem como as características e das
relações entre seus membros e do contexto sócio-histórico em que estão inseridos.

As relações de gênero como campo de articulação e de significação do poder

As questões de gênero vêm ganhando espaço no mundo científico, ao longo dos


últimos anos. Os movimentos feministas, acompanhados da inserção de mulheres no
desenvolvimento de pesquisas, entre outros fatores, criaram condições para que essas questões
fossem analisadas com novos enfoques e perspectivas. Ao abordar o desenvolvimento dos
estudos referentes à temática do gênero, Giffin (1993) chama atenção para o ressurgimento do
movimento de mulheres no sentido de contestar velhos estereótipos sobre elas próprias. Esse
movimento resultou na elaboração de um novo conceito de gênero e, ao mesmo tempo, aboliu
a definição biologizante e, portanto, imutável, da situação da mulher. Cristalizou,
cientificamente, a idéia de que o “ser mulher” não é dado pela biologia, mas por um
fenômeno construído socialmente. O assentamento da condição feminina na condição
biológica, até então adotado, reforçava o caráter natural das diferenças entre homens e
mulheres, vinculando a inserção da mulher na esfera privada à maternidade e aos cuidados
com o lar. Por outro lado, o homem encontrava-se vinculado à esfera pública, a ele
pertencendo a instrução e o poder do saber, as profissões e o poder econômico e o político,
bem como as funções relacionadas a essas esferas.
Na visão de Calas e Smircich (1997) e Cappelle et al (2001), muitas abordagens
feministas ressaltam uma bipolaridade simplificada entre o masculino e o feminino.
Entretanto, não se pode fixar uma demarcação clara entre os gêneros, pois o próprio
comportamento não oferece a possibilidade de uma delimitação tão exata. Como construção
social/histórica, o conceito de gênero pressupõe pluralidade e multiplicidade nas concepções
de homem e mulher, mesmo porque uma concepção fortemente polarizada dos gêneros
esconde a pluralidade existente em cada pólo (Louro, 1997). Assim sendo, o gênero deve ser
entendido numa perspectiva mais ampliada, alcançando as múltiplas instâncias e relações
sociais, discursos, organizações, doutrinas e símbolos. Esses elementos, ao mesmo tempo em
que são instituídos pelos gêneros, os instituem, resultando em múltiplos movimentos que
integram uma rede complexa de ações e reações, em que se distribuem e se articulam
constantemente relações de poder.
Ao abordar o fenômeno da socialização no trabalho, Sainsaulieu (1997, p.251) discute
a divisão social e sexual do trabalho chamando a atenção para a importância do fenômeno
social e cultural, relativamente recente, decorrente da inserção da mulher no mundo do
trabalho e dos seus níveis de escolaridade cada vez mais elevados. Segundo o autor, “uma
nova forma de aprendizagem cultural” resulta dessa nova dinâmica dos gêneros nas relações
de trabalho”.
No âmbito das organizações, a diferenciação técnica do trabalho também permite
evidenciar a divisão por sexos. Dessa forma, os trabalhos considerados mais centrais, estáveis
e com laços empregatícios formais, freqüentemente vinculados a cargos de chefia, são
habitualmente ocupados por homens. Por outro lado, são legados às mulheres os trabalhos
periféricos, precarizados e com menor atribuição de responsabilidades, ou destinados a

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funções de atendimento (HIRATA, 1999). Fonseca (2000) acredita que esse processo integre
o regulamento informal das organizações, funcionando como mecanismo de incorporação de
um senso de jogo socialmente aceito. Para essa autora, o capital simbólico da família, o qual é
gerido pelas mulheres e constitui as atividades de apresentação e de representação, de
recepção e de acolhida, costuma ser transposto para as empresas. A percepção desse fato não
se restringe ao mundo do trabalho, mas interfere na escolha profissional das mulheres e até
mesmo em suas posições, as quais são guiadas por esse “simbolismo familiar” (FONSECA,
2000).
Ao analisar algumas questões referentes ao trabalho nas organizações, Belle (2001)
aponta para o fato de que a prioridade masculina no emprego atualmente vem sendo cada vez
mais combatida. Chama a atenção para o direito ao emprego como algo generalizado para
ambos os sexos e discorre sobre uma redução no nível de segregação de gênero por aquelas
organizações com visão voltada para o futuro. Contudo, essa visão nem sempre é
compartilhada pelos dirigentes das organizações e, em muitos casos, a segregação de gênero
se faz presente por meio da limitação do acesso feminino a determinados espaços. O
fenômeno do teto de vidro, analisado por Steil (1997), é um exemplo de generificação velada
nas organizações que dificulta ou até mesmo impossibilita a ascensão das mulheres a cargos
hierárquicos mais elevados. Tendo em vista a situação descrita, em muitos casos, na tentativa
de vencer o teto de vidro, as mulheres são levadas a criar uma nova identidade que se adapte
às exigências organizacionais específicas, bem como ao ambiente (mais ou menos favorável
ao seu desempenho) que as próprias organizações lhes propiciam (BELLE, 2001). No entanto,
até mesmo o teto de vidro pode se apresentar de formas e intensidades diversas nas
organizações. Portanto, acredita-se que as relações de gênero devam ser interpretadas de
modo distinto, de acordo com o local onde ocorrem e com as regras sócio-culturais vigentes
nesse espaço.
Em síntese, ressalta-se a importância de se perceber a divisão sexual do trabalho para
além de uma conotação descritiva, mas sobretudo como uma diferenciação entre os sexos nas
atividades sociais. Dessa forma, o conceito de relações sociais de gênero deve ser pensado de
forma não-fragmentada, pois tais relações estão presentes em todos os níveis do social. Ao se
relacionar o conceito de relações de gênero à noção de prática social, possibilita-se a
periodização histórica dessas relações, a qual é capaz de focalizar as formas de interação
social entre homens e mulheres adquiridas ao longo do tempo. Acredita-se que as teorizações
sobre gênero carregam uma dimensão política e um desejo de transformação social, o que
favorece sua abordagem sob uma perspectiva crítica e politizada. Nesse contexto, as relações
de gênero podem ser entendidas por meio de elementos e discursos capazes de promover
dominação e mediar contradições nas relações de poder entre os agentes sociais em interação
nas organizações. Para Melo (1985:162), “o poder é uma característica fundamental e
inelutável de todas as relações sociais” e as “relações de trabalho tornam-se, na prática, o
locus privilegiado de manifestações de relações de poder, assumindo formas diversas de
expressão, conforme as relações de força existentes entre os grupos de interesse na sociedade
e na própria empresa” (MELO, 1991, p.54). Ainda segundo a autora, o poder só pode ser
considerado na sua característica relacional, ou seja, “a manifestação das relações de poder se
dá numa relação contingente aos indivíduos e à estrutura social na qual eles se encontram”
(MELO, 1991, p.100). Assim, deve-se abordar o gênero numa perspectiva politizada e,
portanto, como forma de expressão das relações de poder no espaço organizacional,
analisando as condições de sua emergência e os jogos de interesses que as envolvem. Tal
abordagem permite a ampliação das interpretações dadas às diversas possibilidades de
interação entre homens e mulheres, de acordo com as regras sociais vigentes nos respectivos
espaços em que são percebidas. Admite ainda, que as modificações nos hábitos e condições

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de vida, permeadas por inovações tecnológicas e pelo desenvolvimento sócio-cultural, sejam
inseridas nas análises.
Estudos realizados por Sainsaulieu (1997), demonstram que as relações cotidianas de
trabalho nas organizações podem produzir evoluções ou regressões em relação “às culturas
anteriormente ou paralelamente produzidas” (p.225). Para o autor, as transformações
organizacionais, de tecnologia, ou de pessoal impostas pelo management ou por
circunstâncias de crise podem fazer evoluir os comportamentos e a cultura. São as mudanças
externas que podem obrigar os atores sociais a modificarem seu comportamento profissional.
Tendo em vista as considerações apresentadas, ressalta-se a importância de se levar em conta
alguns aspectos culturais e sua influência na conformação do espaço social no qual os
gerentes desenvolvem suas práticas cotidianas, tendo em vista as particularidades que
caracterizam o ambiente hospitalar e os atores sociais envolvidos nos seus processos
produtivos.

Des (igualdades) nas relações de poder e de gênero

As relações de poder e de gênero foram fortemente evidenciadas nos depoimentos dos


entrevistados, sobressaindo-se a hegemonia e a autoridade médica nas relações cotidianas. A
despeito dos novos modelos de gestão e dos processos e relações horizontalizadas, no
contexto do hospital há uma mescla de antigos e novos paradigmas, refletindo a fase de
transição nos modelos de gestão e nas estruturas por que vêem passando os hospitais (BRITO,
2004). Nessa perspectiva, mesmo os gerentes médicos expressam as dificuldades em lidar
com os profissionais dessa categoria e sua influência nas relações estabelecidas no hospital.
Você sabe que médico é meio, às vezes, difícil de você lidar e administrar médico, pela
própria formação dele, desde o primeiro ano, nós somos ensinados a dar ordem, exigir, a
cobrar (E1).
O processo de formação e a reprodução da lógica hegemônica nas instituições de
ensino superior se materializam no hospital pesquisado. Há contradição entre o processo de
formação e a prática profissional se tomarmos como base as diretrizes curriculares nacionais
para os cursos de graduação na área de saúde que prevem uma formação pautada no trabalho
em equipe e na interdisciplinaridade como estratégia para o atendimento das necessidades da
população.
O cirurgião, dentro da sala de cirurgia ele é a autoridade maior, então não adianta chegar
nem o Presidente da República ali, que quem manda ali é o cirurgião. Então, ele existe, ele é
treinado para isso, então ele já sabe que ele tem que ser respeitado, aquilo vem desde o
tempo da escola. Você vai aprendendo: “oh, quem manda aqui é você” é a mesma coisa que
você querer dentro dum avião, dar ordem para o piloto. É complicado (E1)
Por parte do entrevistado há um reforço da condição de subalternidade dos demais
profissionais da área de saúde. Tal subalternidade, historicamente instituída, encontra-se
relacionada ao poder técnico referenciado por Testa (1992), ao afirmar que o poder técnico,
por envolver conhecimento, é exercido de forma mais explícita, na forma como se organiza o
processo de trabalho na Saúde. Na mesma perspectiva, Bussinguer (1990), relata a presença
das relações, para além do ambiente de trabalho, no qual são assumidos os papéis de
autoridade e subordinação decorrentes dos cargos, alcançando, também, as relações sociais,
familiares e afetivas. É uma maneira de ser e de se posicionar na sociedade, portanto imbuída
de uma visão de mundo particular, como ilustra o seguinte depoimento: “Médico, de um
modo geral, ele tem um grau de cultura, de abertura muito grande, então, quando ele
enxerga a coisa, ele aceita muito bem. Eles não gostam de ser mandados, aceitam muito bem
a lógica, quando você mostra que aquilo é o que deve ser.” (E1)

9
De acordo com o depoimento apresentado a adesão do médico somente é alcançada
quando acreditam que é “aquilo que deve ser”. Caso contrário, as relações se mostram
conflitantes e diferentes mecanismos de resistência são desenvolvidos por estes profissionais
dificultando os processos de mudança, sejam elas gerenciais, estruturais e processuais. Por
outro lado, cabe salientar que o exercício da autoridade por parte do médico somente se
concretiza mediante o posicionamento de obediência ou de acatamento, seja por imposição ou
por interesse de cooperação por parte das demais categorias envolvidas no processo de
trabalho em saúde. Cabe chamar a atenção para o conceito de autonomia apresentado por
Cattani (2000), o qual corresponde à “capacidade de tomar decisões como ser, ou grupo
racional consciente” (p.147). Em síntese, a autonomia situa-se em oposição à dependência, no
sentido de submissão, de dominação. Dessa forma, observa-se que as decisões se apóiam no
processo de negociação, as quais, em algumas situações específicas, implicam o
“convencimento”, o que pressupõe a capacidade de argumentação técnica e/ou política por
parte dos gerentes.
Um outro aspecto que emergiu dos depoimentos diz respeito à integração entre os
enfermeiros e médicos. É interessante salientar que, conforme explicita E2 a participação da
equipe ocorre nas reuniões científicas: “Eu tenho reunião com os médicos, pra você ver que
há uma integração grande entre os médicos com a enfermagem. Então, toda quarta-feira eu
tenho reuniões científicas. A científica é entre toda a enfermagem superior e os médicos...
E2". Esse posicionamento expresso pela enfermeira reforça o trabalho fragmentado e a
reprodução da divisão social do trabalho, isolando os profissionais de enfermagem de nível
médio do acesso às discussões científicas.
Olha, as pressões... aqui o CTI é uma empresa. Existe dentro do setor uma empresa de
médicos. E os médicos são bem exigentes. Eles querem tudo a tempo e a hora. Eu acho isso
correto, eu acho isso adequado. Isso é exigência dos médicos e tem que ser cumprida e eu
acho que é uma exigência básica. (E2)
Observa-se o reforço da autoridade médica e a subalternidade do profissional na
posição de gerente. Posição esta favorável para o nível estratégico, uma vez que reproduz a
hegemonia sem questionamentos. Para Testa (1992), a manipulação de recursos, informações
e interesses alocados nas mãos de algumas pessoas, grupos sociais e instituições, remete a
compreensão do poder como fenômeno social. No caso analisado, a autoridade consentida é
reforçada pela gerência intermediária que julga corretas todas as exigências da classe médica
independente de qualquer avaliação ou senso crítico.
As especificidades dos diferentes setores do hospital também são referendadas por
uma das gerentes, que expressa suas dificuldades relacionais, muitas vezes decorrentes do
abuso da autoridade médica, interferindo negativamente na gestão hospitalar. Assim, percebe-
se que o médico detém o controle sobre o processo administrativo mesmo não tendo a
autoridade formal. Ressalta-se que a enfermeira não se posiciona e não exerce sua autonomia,
e sua autoridade administrativa fica subjugada à autoridade técnica do médico.
A endoscopia tem um médico que é chefe de clínica muito presente, muito atuante e ele marca
exames. Até 19:40 h é o último exame, e ele não deixa ninguém parar, é o tempo todo tirando
paciente, pondo paciente. A última funcionária sairia às 20:00h. Hoje ela sai daqui às 22:00
h, quando ele marca esse horário. Então, a dificuldade é quando eu vou falar com ele, ele
não aceita. A funcionária tem o direito de sair no horário, porque senão ela vai ficar com um
banco de horas muito grande. Eu vou ter que dar folga pra ela, não tenho quem cubra,
porque aqui é um setor específico e eu vou ter que treinar. Essas dificuldades são constantes,
principalmente neste tipo de clínica, você bate muito com o chefe, porque o negócio é
produção, quanto mais produzir, melhor. E aí fica complicado porque você não pode tanto
bater de frente com ele, como não pode também deixar de olhar o lado da funcionária. E3

10
O depoimento reforça a afirmação de Sainsaulieu (1997) de que a organização de bens
e de serviços continua a produzir numerosas relações de poder e a ser um espaço de poderes e
de atores estratégicos. No caso do hospital estudado, apesar da reestruturação organizacional
recente, o poder técnico é preservado e cultuado, a despeito das propostas administrativas para
a profissionalização dos diversos setores. O autor destaca a importância da comunicação e, no
tocante à questão gerencial, adverte para o aumento do poder estratégico nos níveis
intermediários da organização, normalmente ocupados por técnicos e por especialistas.
Diferentemente do que aponta o autor, no hospital à autoridade médica se sobrepõe à
autoridade técnica do gerente.
O Conselho Diretor trouxe uma tranqüilidade para o corpo administrativo do hospital
porque ele tem uma linha de transparência muito grande, sempre foram muito abertos. Eles
conseguiram isso... Houve uma seleção natural das pessoas que estavam aqui e aquelas que
não se enquadraram foram saindo da instituição. Então houve uma depuração. E1
Os entrevistados reconhecem que há, no hospital, uma predominância de mulheres e
que as mesmas têm apresentado um desempenho melhor do que os homens nos cargos de
gerência. No entanto, as mulheres têm seu espaço de atuação limitado até os níveis
intermediários, responsabilizando-se pelo funcionamento do hospital. Os níveis hierárquicos
de decisão política são ocupados por homens, deixando transparecer o “fenômeno do teto de
vidro” (BELLE, 2001).
Engraçado, o hospital é uma empresa numericamente feminina, mas feminina no
operacional. Se a gente pensar quantas mulheres subiram da gerência, nós não temos mulher
não. Até a gerência intermediária as mulheres predominam, dessa instância pra cima são os
homens. A gente é o retrato da relação feminina na sociedade. E5
Pelo relato são observadas as divergências que polarizam os agentes organizacionais.
Tais divergências são resultados simultâneos das posições sociais ocupadas por esses agentes
e pelos diferentes interesses provocados pelas clivagens da sociedade. Nas organizações em
geral e no hospital, em particular, são identificadas múltiplas hierarquias e diferenciações
relativas às categorias e classes sociais.
Em relação à composição do conselho diretor do hospital, o mesmo é composto por
profissionais de destaque na sociedade. Ademais, há referência explícita quanto ao fato de ter
entre seus membros 29 homens e somente 01 mulher e, ainda, de haver muitos médicos e
nenhuma enfermeira, o que é entendido como uma limitação de gênero e de categoria
profissional, o que nos remete ao fato de que homens procuram profissões cujas categorias
sejam mais reconhecidas socialmente e mulheres historicamente se contataram em ingressar
em profissões socialmente menos reconhecidas.
Os conselheiros são muitos médicos, muitos membros da sociedade, então eles são
quase todos homens, e aqui a gente tem muita mulher, enfermeira. É médico, homem. Então
não é só uma disputa entre homem e mulher, é uma disputa por espaço profissional. Você tem
médicos conselheiros; enfermeiros ou enfermeiras conselheiras, você não tem. Então, além
da limitação de sexo, tem a limitação profissional também. E5
As particularidades das relações de gênero na administração emergem como
características femininas e masculinas. Quando se busca compreender as diferenças no
exercício da autoridade por homens e mulheres na gerência do hospital os entrevistados
apontam que o homem é mais autoritário e objetivo nos posicionamentos e a mulher tem
maior capacidade de ouvir, de analisar e maior jogo de cintura para lidar com as questões.
Tem, acaba que tem. O pouco que eu já vi deles, exercem com autoritarismo e levam
algumas questões muito para o lado pessoal. Mas pode ser um defeito daquela pessoa que eu
conheci, não sei se dá para generalizar. E4

11
Não, eu acho que a mulher tem mais essa questão de ouvir, de escutar, de analisar as coisas.
Eu vejo que a mulher tem mais jogo de cintura em relação às coisas. E o homem é mais
objetivo, pronto e acabou. E2

Tem uma que é farmacêutica, tem a maioria é administrativo. O gerente homem que tem é o
da área comercial. Os outros todos somos mulheres. Então na informática é uma mulher,
todas são mulheres lá no faturamento é uma mulher, é na logística? É uma mulher. Então eu
acho que e porque não era antes predominava muito mais a administração homem, aqui
dentro do hospital. E eu acho o clima hoje muito leve, muito leve. (E8)

Quebrando o teto de vidro

Os projetos de vida das gerentes são influenciados pelo fato de as mesmas serem
mulheres. Essa situação pode ser analisada se tomarmos como referência o “fenômeno do teto
de vidro” descrito por Steil (1997), que consiste na limitação do acesso feminino a
determinados espaços, por meio de barreiras sutis, mas suficientemente fortes. No caso
específico dos hospitais pesquisados, verificou-se que essas barreiras ou empecilhos estão
presentes tanto na esfera profissional quanto na privada, tendo em vista que parte das
dificuldades enfrentadas estão relacionadas às atribuições no espaço doméstico. Tais
empecilhos, em algumas situações, restringem as possibilidades de inserção de profissionais
do sexo feminino em cargos diferenciados e seus investimentos em qualificação, gerando um
ciclo vicioso, uma vez que, o envolvimento em “Projetos e tarefas desafiadoras colocam seus
responsáveis em posições de alta visibilidade, motivam os administradores e, ainda, permitem
o aprendizado de habilidades cruciais para o desempenho de funções no topo da hierarquia
organizacional” (p.64).
No caso investigado, foi identificada a presença de uma auto-imagem positiva por
parte das gerentes. A esse respeito, salienta-se que um dos principais fundamentos da teoria
da identidade social postula a necessidade humana de preservação de elevado grau de auto-
estima (Steil, 1997; Dubar, 1997; Sainsaulieu, 1997). Assim, foram expressos sentimentos
que revelam uma auto-imagem positivo, muitas vezes ligados aos desafios vivenciados no
cotidiano:
Esse cargo foi feito pra mulher. Ela consegue dominar essa questão de gerenciar, de
direcionar, ela tem uma visão mais rápida para resolução de problemas. E4

Eu vejo um desafio todo dia. Tem hora que é bom, tem dia que dá vontade de dizer: Oh, meu
Deus! Será que eu tô fazendo certo, será que o caminho é esse? É um desafio todo dia, eu me
sinto desafiada da hora que eu chego até a hora que eu saio. Tem dia que é 24 horas, porque
eu continuo me sentindo desafiada lá em casa. Então eu vejo como um desafio que está sendo
prazeroso. E5
O comprometimento e envolvimento dos gerentes podem ser observados por meio da
ampliação do seu leque de responsabilidades e da necessidade de se dedicarem mais
intensamente às questões organizacionais. Essa situação proporciona um sentimento de
orgulho e de satisfação e de realização profissional. Desse modo, o trabalho é priorizado em
relação às demais necessidades cotidianas e a gerência assume um grande significado na vida
dos gerentes passando a integrá-la ou, seja a “fazer parte dela”.
Eu adoro! acho que eu faço pouco ainda, pelo grau de instrução que eu tenho, pelo próprio
curso de especialização que eu fiz, que eu acho que me preparou além do que eles pedem
hoje. É uma coisa que me dá uma gratificação muito grande. E3

12
Posso falar que de uns oito anos pra cá, o que eu tenho observado um aumento da procura
da mão-de-obra feminina para os cargos de liderança. Hoje todos os cargos que a gente tem
aqui, a maioria são mulheres. Tem a nossa gerente de enfermagem, gerente de infra-estrutura
é uma mulher, de suprimento, é uma mulher. As coordenações são todas coordenadoras, não
tem nenhum homem. A assessora de enfermagem. Então elas tão com muita força! Acho que é
o espaço que a sociedade abriu, e as mulheres também cada vez mais querendo ocupar um
lugar e estudar, independente se tem filho ou se não tem. A mulher se vira e sobra tempo pra
fazer ginástica, pra você olhar menino. Eu acho que isso, as empresas começaram a ver de
um outro ângulo. Porque a gente consegue conciliar bem e produzir o que eles querem. E3
Além da determinação e da capacidade de enfrentamento a função gerencial permite
maior visibilidade e valorização profissional no âmbito da organização, o que pode ser
explicado pelo status diferenciado decorrente da função gerencial. A auto-imagem positiva
reveste-se de grande importância na análise da configuração identitária da gerente e de seu
posicionamento profissional em meio aos demais membros da equipe de trabalho.
Considerando que as transformações ocorridas na sociedade e no âmbito das
organizações influenciam diretamente os indivíduos, e em particular os gerentes, chamam-nos
a atenção as instituições prestadoras de serviços de saúde, que com características
diferenciadas, exercem grande impacto tanto na vida privada quanto profissional dos
indivíduos que nelas atuam. Ao se referir às especificidades das instituições de saúde, destaca
as organizações hospitalares, cuja intensidade do trabalho e complexidade gerencial é maior
que em outros níveis de assistência.
É indiscutível a pertinência do enfoque de gênero nos estudos sobre gerência, haja
vista sua influência no fenômeno da socialização no trabalho (SAINSAULIEU, 1997).
Segundo Belle (2001), a análise de um acesso, nas organizações, de mulheres investidas de
um certo nível de responsabilidade, e, conseqüentemente, afastadas dos tradicionais esquemas
de submissão, implica a compreensão dos “mecanismos sobre os quais repousa a produção da
diferença homens/mulheres no mundo das organizações.” (p.197).
Dos resultados obtidos emergem rupturas nas experiências relacionais de gênero, por
meio das quais se observam modificações nos papéis masculinos a partir da inserção da
mulher no mercado de trabalho e, principalmente da ocupação de cargos gerenciais. Há que se
chamar à atenção para a presença de algumas “amarras” nos comportamentos de algumas
gerentes, os quais refletem os traços culturais e as desigualdades de gênero. Assim, esses
traços e desigualdades, ainda que apresentem uma dimensão menor, permanecem presentes no
cotidiano das gerentes.

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