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Jorge Alves
CMAV
Há muito que se afirma uma tendência que considera a visão e a audição como
dois sentidos que entre si mantêm relações privilegiadas de
complementaridade e de oposição. No Homem, a associação entre som e
imagem é, desde muito cedo, estabelecida a partir do contacto com o meio
exterior e «naturalizada» pela aprendizagem.
1 - Sistema Audiovisual
b) Num sentido restrito, estabelece-se uma íntima relação entre os termos para
originar um outro produto. A percepção simultânea de som e imagem vincula
de tal maneira estes elementos que eles originam uma unidade expressiva,
total e autónoma. Exemplo: cinema sonoro, televisão, algumas aplicações
multimedia. Adoptando-se o conceito ela configura um sistema que oferece
duas possibilidades: 1- o funcionamento baseado na primazia de um dos
subsistemas e 2- a integração do visual e auditivo no que Cebrián Herreros
(1995: 54) denomina o audiovisual pleno - um sistema no qual não é possível
examinar em separado cada um dos componentes se não quisermos destruir o
sentido que transmitem.
É esta dupla acepção que iremos reter para definir "audiovisual" - um sistema
que engloba os subsistemas auditivos e visuais que se combinam em múltiplas
variáveis. Esta simbiose resulta num sistema novo, que não deve ser encarado
como mera justaposição ou combinação híbrida. O audiovisual não é a soma
dos seus elementos, constrói outra realidade, qualitativamente diferente. É um
sistema tecnificado2, com uma mediação técnico-retórica3 que concilia e
dirige o sentido dos subsistemas que o integram.
Retemos aqui a ideia Peirceana de signo tal como o autor a definiu em 1873 -
algo que representa outra coisa4. O signo é uma entidade própria, quer seja
um objecto material, um fenómeno ou uma acção; remete-nos para outra
coisa, que poderá ser um signo de outra realidade, mas nunca é signo de si
mesmo.
Ele compreende, de acordo com Saussure (1916), uma parte material (imagem
acústica) - o significante -, um conteúdo ou conceito - o significado -, e um
plano que remete para o objecto - o referente. De acordo com a materialidade
(o significante) do signo audiovisual, Cebrián Herreros (1995: 308) reconhece
que o conjunto pode subdividir-se em três grupos:
Toda a criança descobre que os sons provêm de lugares e coisas que também
pode ver, tocar, olhar e saborear, e inicia um processo de associação entre
sons e objectos concretos que ela irá guardar na sua memória para sempre(...)
Este primeiro nível de aprendizagem é um nível absolutamente comum e
generalizado para todo o ser humano. (Rodriguez Bravo, 1998: 204)8.
a) Expressão oral - Saussure (1916) concebe a palavra como um signo que une
um conceito e uma imagem acústica. Para o autor, as relações que o signo
mantém com a realidade são absolutamente convencionais. No entanto,
interessa também destacar os fenómenos paralinguísticos que se produzem na
realização dos actos de fala - entoação, inflexões, modulações de voz.
Cebrián Herreros (1995: 360) observa que os sons técnicos mantêm estreitas
relações com os signos icónicos, pois ambos se assemelham, em maior ou
menor grau, à realidade representada. Acresce que o ouvido humano tem a
capacidade, devido à sua hiperestesia, de gerar imagens. Elas não são imagens
reais, concretas: são absolutamente subjectivas, dependendo da sensibilidade,
do estado físico e psíquico de cada pessoa.
4 - Criar "atmosferas";
7- Definir um ambiente;
8 - Criar um contraponto.
Conclusão
Actualmente, o som não pode ser mais entendido como mero suporte da
imagem, uma ideia que se fundamentou, exclusivamente, em práticas culturais
seculares.
Bibliografia
Balasz, B. (1970). Theory of the Film: Character and Growth of a New Art.
Nova Iorque: Dover Publications.
Peirce, C. (1991 [1873, 1901-5]). Peirce on Signs. Chapel Hill: The University
of North Carolina Press.
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8 Élisabeth Dumaurier (1992), citada por Chion (1999: 275), regista que "os
bébés, entre as dez e as desasseis semanas de vida, prestam uma maior
atenção a fenómenos sincronizados de sons de fala e de movimentos de lábios
(...) Desde os três meses de idade, uma criança olha fixamente durante mais
tempo um ecrã associado a uma pequena melodia do que um ecrã associado a
um altifalante mudo".
19 O sublinhado é nosso.
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