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A primeira versão do artefato pesava sete toneladas, a segunda versão, quase duzentas; seu
mecanismo era capaz de ocupar uma sala inteira. O instrumento consistia em um dínamo
elétrico associado a indutores eletromagnéticos, capazes de produzir diferentes frequências
sonoras (WILLISTON, 2000). O telarmônio é considerado o primeiro sintetizador. Aliás, na
patente de 1896, quando descreveu o processo utilizado na produção sonora do instrumento,
o próprio Cahill denominou o instrumento como synthesizing (HOLMES, 2002, p. 45 apud
BENTO, 2005, p. 74). Como ainda não existiam amplificadores os sinais produzidos eram
difundidos pela linha telefônica. Era necessário pagar uma inscrição para que fosse possível
ouvir as execuções musicais do instrumento pelo telefone público ou de casa, desde que estes
terminais estivessem equipados com amplificadores acústicos. A comercialização do
telarmônio não teve sucesso, o instrumento apresentava inúmeros problemas e
inconvenientes, entre eles os derivados da amplificação ineficiente promovida pelos
amplificadores utilizados então. Imprescindível à existência de um instrumento eletrônico, era
o sistema de amplificação do som, motivo pelo qual o desenvolvimento do órgão eletrônico só
deslanchou depois da década de vinte, quando a válvula a vácuo começou a ser utilizada na
tecnologia de fabricação dos amplificadores (DAVIES, 2006). A partir de então, muitos
instrumentos eletrônicos de teclado surgiram por todas as partes do mundo. Foi em 1934 que
Laurens Hammond patenteou um órgão que produzia sons de forma bastante semelhante
àquela que Cahill havia empregado no telarmônio. Contudo, ele pode se beneficiar da nova
tecnologia que surgia, a válvula eletrônica. Ao contrário do telarmônio, o órgão Hammond,
como foi denominado, alcançou rapidamente grande sucesso, tornando-se uma alternativa
bastante atraente nos mais variados segmentos musicais, popular ou clássico, secular ou
eclesiástico. Em comparação ao órgão de tubos, o instrumento se revelou altamente
econômico, seja do ponto de vista financeiro ou espacial. Ele dispensava o enorme aparato do
órgão de tubos - foles, someiros e os próprios tubos - bem como oferecia muitas vantagens
adicionais, como prescindir de afinação. Em 1935 o instrumento foi disponibilizado para a
venda no varejo por 1250 dólares, o equivalente ao preço de um bom piano, enquanto que um
órgão de tubos custava entre 6000 e 200.000 dólares (ALDRIDGE, 1996). Em 1936 foram
vendidos 1763 órgãos Hammond, o equivalente a mais de três vezes o número de órgãos de
tubos comercializados no mesmo período (ALDRIDGE, 1996). Não obstante o alto índice de
vendas de órgãos Hammond, “nem todos estavam felizes com ele”197 (ALDRIDGE, 1996, p.3).
Instalou-se uma grande polêmica acerca da legitimidade do Hammond ser denominado
“órgão”: “Os puristas torciam o nariz dizendo que estes eram instrumentos que não eram
realmente ‘órgãos’ e criticavam sua sonoridade como sendo sem cor e monótona”198
(ALDRIDGE, 1996, p. 3, grifo do autor). Os organeiros também viam com preocupação a
ascensão da preferência pelo novo instrumento, que ameaçava a já debilitada indústria de
órgãos acústicos (ALDRIDGE, 1996). O descontentamento com o instrumento eletrônico foi de
tal ordem que, em 1935, os construtores de órgão de tubos entraram com uma queixa junto à
Federal Trade Commission199 (FTC). Eles questionavam não apenas o direito do novo
instrumento ser denominado “órgão”. Com o processo, tentavam impedir que os fabricantes
do Hammond utilizassem na propaganda um de seus motes mais importantes, que seu
artefato eletrônico era capaz de produzir uma sonoridade tal qual a de um órgão de tubos. Na
época, a FTC explicou que:
O órgão espineta já foi descrito na seção 3.9. Já o órgão combo surgiu entre os anos 60 e 70
nos EUA. Era um instrumento eletrônico transistorizado, normalmente com um ou dois
teclados, cada qual abrangendo entre três e cinco oitavas, portátil e de manuseio
relativamente simples. Alguns deles tinham, assim como órgão espineta, suas oitavas divididas
de forma facilitar a produção das partes mais agudas – melodia – pela mão direita e as partes
mais graves - baixos ou acordes – pela esquerda. Permitia, eventualmente o acoplamento de
uma pedaleira de uma oitava, com teclas curtas, para fazer soar os baixos. No Brasil, a
utilização do Hammond, inicialmente, e depois de outros órgãos eletrônicos, tornou-se
frequente nos cultos de muitas igrejas protestantes. Nessas igrejas, predominavam os pianos e
órgãos eletrônicos, instrumentos que desfrutavam de notória acessibilidade física, visual,
operacional e sonora. Ocupavam pouco espaço, permitiam fácil transporte e muitas vezes
ficavam situados à frente da nave, quando estavam disponíveis à visualização constante dos
fiéis durante sua execução. A importância do aparecimento e do estabelecimento do órgão
Hammond e de outros eletrônicos na vida musical religiosa no Rio de Janeiro se deveu, não
apenas pela quantidade de instrumentos espalhados pelas igrejas, mas por contribuir na
construção de um parâmetro sonoro e estético. O órgão Hammond não foi, contudo, o único
órgão eletrônico a surgir durante o século XX. Muitos outros instrumentos despontaram nessa
época. Na França, o físico e engenheiro Armand Givelet, em colaboração com o designer de
órgãos Edouard Coupleux, construíram entre 1928 e 1930, os primeiros órgãos considerados
completamente eletrônicos. O instrumento recebeu o nome de seus criadores, Coupleux-
Givelet. O primeiro modelo do instrumento, com dois manuais, foi instalado em várias igrejas
da França e da Suíça, enquanto que um segundo modelo de três manuais, denominado orgue
des ondes, foi instalado na estação de rádio em Paris, no ano de 1932 (DAVIES, 2006). Abbé
Pujet criou o orgue radiosynthétique, que era provido de tubos que ficavam encerrados em
três câmeras com microfone e alto falantes. Havia ainda o mutatone, desenhado por Constant
Martin e o órgão construído por Marcel Tournier, que recebeu seu nome. Na Alemanha
surgiram instrumentos como o trautonium, o lichtton-orgel e o grösstonorgel, artefato que
chegou a ser utilizado na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlin. Em
1930, ainda no mesmo país, Jörg Mager construiu o partiturophon, artefato sonoro que
permitia a seleção de timbres diferentes para cada voz, uma especialidade que beneficiava a
performance da música de Bach (DAVIES, 2006). O alemão Harald Bode foi o construtor do
warbo formant-orgel, instrumento que antecipou muitas características que vieram a ser
encontradas nos sintetizadores e teclados eletrônicos. Na Áustria, Stelzhammer construiu o
magneton, e na Inglaterra a firma de John Compton fabricou o órgão electrone (compton
electrone organ), que chegou a ser encomendado pelos estúdios da BBC com vistas a
incrementar as orquestras daquela organização. Muitas novidades eletrônicas também
surgiram nos Estados Unidos, onde inventores “exploraram todas as técnicas de geração de
som disponíveis” 205 (DAVIES, 2006). Richard Ranger criou o rangerton, Ivan Eremeeff, russo
de nascimento, construiu o photona, o gnome, e o syntronic organ. Em 1934 deu-se início à
primeira produção substancial de órgãos eletrônicos com a fabricação do orgatron, desenhado
por Hoschke e vendido principalmente para igrejas. O instrumento teria se tornado o principal
órgão eletrônico da época, caso não fosse, rapidamente, ofuscado por um instrumento mais
econômico que apareceria no ano seguinte, o órgão Hammond (DAVIES, 2006). A despeito do
grande número de instrumentos eletrônicos que surgiram durante o século XX, a tecnologia
neles empregada para a produção sonora não variava muito. Os métodos de geração de som
utilizados na produção de instrumentos eletrônicos se dividem, basicamente, em três (DAVIS,
2006, p. 165). No primeiro desses métodos, a produção sonora é resultante da amplificação de
uma fonte sonora que pode ser, entre outras coisas, uma corda, um sino ou uma palheta de
metal. Por ficar encerrada em um espaço pequeno e não possuir qualquer ressoador para que
se torne audível, a fonte sonora depende de amplificação que pode ser realizada por um
microfone, transdutor ou captador sonoro. O artefato de teclado que funcionava de acordo
com essa tecnologia era o harmônio eletronicamente amplificado, produzido e comercializado
em meados do século XX (DAVIS, 2006). O instrumento tornouse popular sendo anunciado nos
jornais, juntamente com equipamentos de som para o lar (figura 22).
Figura 22: Órgão Hammond anunciado pela loja de departamentos Sears. Fonte: Daytona
Beach Morning Journal - 28 nov. 1965, Disponível em: <>. Acesso em: 30 out. 2013.
Segundo Riley (2005), a Allen Organ Company na cidade de Allentown, Pensilvânia, foi a
primeira firma a construir instrumentos capazes de competir verdadeiramente com órgãos de
tubos. Seus primeiros instrumentos, lançados a partir de 1939, utilizavam válvulas à vácuo
para a produção sonora. Em 1958, a Allen se transformou na primeira firma a fabricar órgãos
transistorizados, abandonando a utilização das vultosas válvulas à vácuo. Em seguida, no final
da década de 60, a tecnologia permitiu a substituição dos transistores por circuitos integrados
em larga escala, que reunía em uma pequena peça de silicone milhares de circuitos
transistorizados. Eram os circuitos integrados. A partir daí, a firma Allen Organ Company, em
parceria com a North American Rockwell Corporation, lançaram, em 1971, o primeiro órgão
digital (RILEY, 2005). De acordo como especifica a própria Allen, em seu site206, “o órgão
digital computadorizado foi o primeiro instrumento a usar sampleamento, um processo pelo
qual sons são armazenados em memória digital para depois serem acuradamente
reproduzidos”