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MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ

PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

Exmo(a). Sr(a). Juiz(a) de Direito Titular da ___ Vara da Comarca de Crato-CE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO


DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Democracia é o “poder em público” [...]


quem exerce o poder sente-se mais seguro de
obter os efeitos desejados quanto mais se
torna invisível àqueles aos quais pretende
dominar
[...]
O cidadão deve “saber”, ou pelos menos deve
ser colocado em condição de saber
Norberto Bobbio

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ vem, perante Vossa


Excelência, pelos Promotores de Justiça que esta subscrevem, propor a presente AÇÃO
CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER, com vistas a tomada das providências
jurisdicionais pertinentes e efetivas, à luz do disposto nos artigos 127, caput, e 129, III, da
Constituição Federal; artigos 1º, IV, 3º, 5º e 12 da Lei n. 7.347/85 com a nova redação dada
pela Lei n. 8.078/90, e art. 461 do CPC, em face do MUNICÍPIO DE CRATO, pessoa jurídica
de direito público, representado pelo prefeito SAMUEL VILAR DE ALENCAR ARARIPE
(CPC, art. 12, II), pelas razões de fato e de direito que passa a aduzir.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

I – DA LEGITIMIDADE PASSIVA
O Município, pessoa jurídica de direito público responsável pela prática
dos atos administrativos e, em sua faceta legislativa, pela produção do ordenamento legal
positivo da esfera local. Cuidando a presente actio da forma como tais atos e normas são
publicizados, naturalmente, há de figurar o município no pólo passivo a demanda. Não custa
relembrar que a publicação após a sanção aposta ao projeto de lei aprovado pela Câmara
de Vereadores é ato típico do poder executivo, seguindo a complexidade subjetiva do
processo legislativo constitucionalizado.

Por outro lado, resulta presente o interesse difuso de toda a população


na probidade dos agentes públicos, impondo-se que sejam prestigiados e respeitados os
princípios da moralidade e da legalidade, como apanágios da Administração Pública.
Noutras palavras: se o cidadão tem o direito à administração proba, tem também o
direito aos meios suficientes para fiscalizá-la. Daí a presença do município a compor o
pólo passivo da demanda.

II - DOS FATOS

A publicidade hoje

Este Município, assim como muitos outros no Ceará, movimenta a


máquina administrativa e mantém relações jurídicas com os administrados através de
normas jurídicas. Estas hão de ser publicadas para adentrarem validamente o ordenamento
e serem exigidas, devendo, também estarem à disposição dos administrados, gratuita e
facilmente.

É fato público, notório e consubstancial a toda Prefeitura Municipal que,


para viabilizar a máquina administrativa, tenha que baixar editais para licitação, portarias
para nomeação de servidores, ainda que temporários, prestar contas com a população,
sancionar leis, etc.

A publicação desses atos, segundo determina a Lei Orgânica Municipal,


será “feita em órgão de imprensa local ou regional ou por afixação nas sedes da Prefeitura
e da Câmara Municipal” (art. 16).

Aqui resta a ululante constatação de que – já no século XXI, quarenta


anos após a conquista da lua e com “lan houses” a cada esquina – não basta a mera
afixação dos atos normativos em dois prédios públicos. Tal antigo procedimento era
plausível nos tempos em que as gráficas utilizavam o sistema tipográfico gutemberguiano e
o telefone era uma novidade.

Hoje, as modernas técnicas de impressão offset, as impressoras laser de


alta capacidade e, principalmente, a amplamente acessível Internet tornam obsoletas
quaisquer formas de publicação que não as contemplem.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
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Desta forma, a vida do munícipe sofre direta influência dos inúmeros atos
publicados. Estes tanto geram despesas (desapropriações, licitações, contratos, concursos,
nomeações, incentivos fiscais etc.) como limitam direitos vinculativamente (leis e decretos
em geral). Tão importantes são que as publicações não podem se limitar ao interior dos
prédios públicos acima citados, restando contrária à Constituição Federal o referido
dispositivo de lei – por contrariar sua principiologia.

Não se pode exigir do cidadão comum que se dirija, diariamente, à


Prefeitura Municipal ou à Câmara de Vereadores para ter acesso aos atos emanados do
Poder Público. Em sentido contrário, o Ministério Público também não está exigindo que
cada cidadão receba um exemplar do Diário Oficial. Muito razoavelmente preconiza-se a
possibilidade efetiva de acesso à informação, conforme a evolução técnica atual.

A Internet chega aos lares de muitos brasileiros, e todos os municípios


contam ao menos com uma “ilha digital” fornecida pelo Estado 1 ou ao menos uma “lan
house”. As escolas públicas estão gradativamente recebendo suas conexões e as privadas
de há muito assim estão equipadas. As empresas também utilizam a rede mundial e
permitem que seus empregados acessem, quando menos, sítios institucionais e façam uso
de emeio pessoal – isto ocorre em todos os fóruns do Ceará, inclusive neste. É notória esta
realidade da aldeia global, não sendo de modo algum razoável que justamente o que
mais influi na vida do cidadão tenha sua publicidade realizada de forma medieval.

A publicidade desviada

O município possui sua página na internet, com apresentação agradável


e bem acessível. Ali encontramos as realizações do Prefeito, da Primeira-Dama, dos
Secretários, as festas programadas e inúmeras outras informações. Existem ainda
comunidades virtuais privadas (como o Orkut) com várias opções de troca de informações
utilizadas por munícipes interessados em discutir os assuntos do município, apoiar
candidatos, criticar ou elogiar a administração. No sítio virtual da Prefeitura de Crato
(www.crato.ce.gov.br), há um “link” para o chamado diário oficial eletrônico
(diariooficial.crato.eti.br), conforme afirmado pelo chefe de gabinete da Prefeitura Muncipal
(fls. 05 e 10 do procedimento administrativo). Entretanto, por diversas vezes não
conseguimos acessar informações nem encontramos a totalidade dos atos administrativos
ou legislativos municipais, conforme certificado pelo assistente ministerial (fls. 11 e 12).

Ademais, o Chefe do Legislativo de Crato informou que “até a presente


data não existe Diário Oficial no Município do Crato” e que os atos administrativos e
normativos da Câmara Municipal do Crato “por meio de edital afixado em lugar próprio
na sede do Poder Legislativo” (fls. 06). A verdade é que não existe local exato onde possa
alguém (inclusive Vossa Excelência) ter a certeza de encontrar publicados as normas
municipais, editais de licitação e outros.

AO CONTRÁRIO, É NOTÓRIO QUE AS FESTAS, OBRAS E


“REALIZAÇÕES” RECEBEM TODA A DIVULGAÇÃO POSSÍVEL – inclusive com
1
Sempre com imensa propaganda durante as inaugurações, como é notório.

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elaboração de panfletos, cartilhas e publicações escritas em múltiplas cores e papel


brilhante e repetidas intervenções nas rádios.

Não adianta saber-se (de qualquer lugar do Brasil) qual banda irá
apresentar-se na festa da padroeira quando não se consegue descobrir o custo de certa
obra ou o teor de certo decreto. A inversão de valores é óbvia. Seria razoável exigir que se
dirijam os cidadãos interessados à Prefeitura e à Câmara Municipal de para ter acesso às
informações fundamentais ao exercício da cidadania? É exigível que pesquisem no ainda
complicado e, muitas vezes, desatualizado Sistema de Informações Municipais (SIS) do
Tribunal de Contas dos Municípios? É claro que NÃO.

Na prática, ao que todos sabem, o Município tem passado por várias


obras de infraestrutura e, quanto aos atos imprescindíveis para que essas obras sejam
implementadas (licitação, contratos, custos e meios de execução) é praticamente impossível
o acesso antes que eles passem a vigorar. Também o administrado e este órgão não têm
acesso aos atos que concedem diárias para os agentes públicos municipais.

No que tange aos servidores públicos, também é gritante a ilegalidade e


ausência de publicidade dos atos. Não se tem notícia de um ato de nomeação de servidor
temporário, muito menos de sua retirada dos quadros da Prefeitura Municipal ou da Câmara.

Pois bem, esses exemplos bem ilustram as arbitrariedades da gestão


municipal negando-se a dar a devida e imprescindível publicidade aos atos da
Administração Pública, como se no município de Crato não estivesse sujeito a tal princípio
constitucional.

Como se não bastasse a dificuldade em se ter acesso aos atos


administrativos, a fim de verificar a sua legalidade, o mesmo se pode dizer em relação às
leis vigentes. É imprescindível, para que a lei entre em vigor, que a mesma seja publicada.
No município de Crato, em que pese as alegações de que as leis são publicadas e afixadas
no interior do prédio da Prefeitura ou da Câmara, é inegável que essa simples providência
não satisfaz ao que determina a Lei e a Carta Magna.

Não é com a simples afixação no interior do ente público que se deu


publicidade à lei. É necessário que chegue, efetivamente, ao conhecimento dos munícipes.
Num município com mais de 120.000 habitantes, a simples publicação no prédio da
Prefeitura não possibilita a publicidade dos atos. Ademais, quem nos garante que
determinado ato tenha sido publicado em mural da Prefeitura; não há como comprovar tal
fixação.

Em 13 de fevereiro de 2007, enviamos recomendações ao Prefeito


Municipal e ao Presidente da Câmara de Vereadores para que fosse providenciado o Diário
Oficial do Município de Crato, onde seriam publicados todos os atos relativos às ações do
Executivo e do Legislativo.

Ao que se percebe, a demandada se esquiva de publicar seus atos com a


antecedência que a natureza do ato exige, dando margem a toda forma de ilegalidade e
desvio de finalidade a partir de atos que existem ficticiamente, sem obedecerem a uma

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ordem cronológica transparente ou a ocultação de informações de como tem sido gerida a


coisa pública.

A Prefeitura Municipal não pode alegar não dispor de instrumentos para


viabilizar um Diário Oficial Municipal, que é básico em uma gestão transparente e
moralizada.

Os custos operacionais com a elaboração do Diário Oficial são mínimo


diante da relevância para a comunidade cratense. O mesmo se diga em relação à inclusão
da página oficial da Internet, haja vista que, da forma como a mesma é organizada, não
haveria, sequer, gasto extra na inclusão do acesso a todos os atos editados pelo Poder
Público Municipal.

O Município de Sobral-CE, por exemplo, que também mantém uma


página oficial na Internet, disponibiliza o acesso a “Impresso Oficial”, onde se pode ter
pesquisar todos os atos editados pelo Poder Público. Também disponibiliza um outro, com a
denominação “Licitações”, onde o interessado tem acesso rápido a todos os certames
licitatórios do município.

O mesmo se diga do Município de Fortaleza, cuja página oficial na


Internet também disponibiliza ampla, fácil e irrestrito acesso aos editais de licitação e Diário
Oficial do Município.

Vale dizer que se trata de municípios cearenses, com número de atos


administrativos e leis bem superior ao do Município de Crato, mas que, com ideal de
legalidade e moralidade administrativa, disponibilizam, irrestritamente, ao seus munícipes,
os atos de gestão e as leis vigentes.

Ao contrário, a publicidade da Prefeitura de Crato, na internet, somente


faz menção às obras realizadas e eventos do Município, deixando de prestar, sem qualquer
justa causa, o relevante serviço de utilidade pública, aqui pleiteado.

Desta forma, é evidente a falta de interesse do gestor municipal em


implementar o Diário Oficial Municipal, em enorme prejuízo aos munícipes, sem falar na
enorme probabilidade de se acobertar atos ilícitos.

A omissão do Poder Público, negando o irrestrito acesso aos atos da


Administração Pública, deve ser imediatamente coibida como forma de preservar o Estado
Democrático de Direito, os princípios constitucionais e, principalmente, o respeito ao cidadão
cratense.

III – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

O princípio da publicidade

O Estado recebe parcela da liberdade dos administrados para tornar


viável a convivência social. O titular do poder, o povo, confiou uma missão ao Estado e, para

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atingi-la, deu-lhe poderes. A Administração pública nada mais é do que atividade de quem
não é proprietário, de quem gere interesse alheio. Enquanto que, com a propriedade
privada, o titular se comporta de acordo com sua autonomia de vontade, com a coisa pública
(bens, interesses e serviços públicos), o administrador deve se pautar pelo interesse de
outrem e não o próprio nem pode agir com autonomia de vontade. O Estado deve buscar
sempre o interesse público. O administrador ou agirá nestes termos ou praticará atos
passíveis de censura, quando não eivados de nulidade, ilicitude ou caracterizadores de
improbidade.

Sendo o interesse público indisponível e superior ao interesse privado,


assevera CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO:2

... se são interesses de toda coletividade, os atos emitidos a título de


implementá-los hão de ser exibidos em público. O princípio da publicidade impõe
a transparência na atividade administrativa exatamente para que os
administrados possam conferir se está sendo bem ou mal conduzida.

A lei das licitações determina a publicização dos gastos públicos com


compras:

Art. 16. Será dada publicidade, mensalmente, em órgão de divulgação oficial ou


em quadro de avisos de amplo acesso público, à relação de todas as compras
feitas pela Administração Direta ou Indireta, de maneira a clarificar a identificação
do bem comprado, seu preço unitário, a quantidade adquirida, o nome do
vendedor e o valor total da operação, podendo ser aglutinadas por itens as
compras feitas com dispensa e inexigibilidade de licitação.

Ora, se simples compras devem ser publicizadas, que dizer de obras de


engenharia e de outros atos administrativos e normativos? De forma bastante óbvia, ou o
Estado age em público ou sua ação será presumidamente ilegítima, inconstitucional e ilegal.

Constituição Federal

O inciso XXXIII do artigo 5º determina que todos têm direito a receber dos
órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral,
que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Eis a redação, verbis:

Art. 5º...

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no
prazo de lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

2
In Curso de direito administrativo. 17. ed. rev. e atual. São Paulo : Malheiros, 2004, p. 75.

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a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra


ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e


esclarecimento de situações de interesse pessoal;

Lei 9.051, de 18 de maio de 1995

Já criado o direito à informação pela Carta Magna, vai nesta norma a


delimitação, com estipulação de prazo improrrogável, para o fornecimento de certidões pelo
ente ou órgão público. Literalmente:

Art. 1º. As certidões para a defesa de direitos e esclarecimentos de situações,


requeridas aos órgãos da administração centralizada ou autárquica, às empresas
públicas, às sociedades de economia mista e às fundações públicas da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão ser expedidas no
prazo improrrogável de quinze dias, contado do registro do pedido do órgão
expedidor

Lei 8.159, de 8 de janeiro de 1991

Tal norma estabelece que, em princípio é assegurado o direito de acesso


pleno aos documentos públicos. Os casos de sigilo são excepcionais, conforme
regulamentado em decreto. Ademais, expressamente garante-se que nenhum documento,
por mais sigiloso que seja, estará inacessível ao Poder Judiciário:

Art. 22. É assegurado o direito de acesso pleno aos documentos públicos

Art. 23. Decreto3 fixará as categorias de sigilo que deverão ser obedecidas pelos
órgãos públicos na classificação dos documentos por eles produzidos.

(...)

Art. 24. Poderá o Poder Judiciário, em qualquer instância, determinar a exibição


reservada de qualquer documento sigiloso, sempre que indispensável à defesa
de direito próprio ou esclarecimento de situação pessoal da parte.

Parágrafo único. Nenhuma norma de organização administrativa será


interpretada de modo a, por qualquer forma, restringir o disposto neste
artigo.”

Neste ponto, lembramos que o E. Superior Tribunal de Justiça reafirmou


tal posição no Mandado de Segurança nº 5370-DF, Relator Ministro Demócrito Reinaldo,
publicado no DJ de 15/12/97, p. 66185. A REGRA É A PUBLICIDADE. O sigilo é excepcional
e jamais pode ser absoluto.

3
Trata-se do Decreto 2.134/97 – que de modo algum estabelece sigilo para os documentos de que se cogita.

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Após a legislação, vejamos dois casos candentes em Direito Comparado


e da práxis social decorrente de sua aplicação4.

Nos Estados Unidos da América

O Freedom of Information Act (FOIA) é resultado de uma campanha


liderada por jornalistas e empresas jornalísticas em 1954, e faz parte de um arsenal jurídico
que garante um governo aberto. O pedido do cidadão deve ser atendido em dez dias. Em
caso de apelação do cidadão, o órgão público tem 20 dias para responder. Cada repartição
tem de informar ao Congresso sobre todos os documentos que se negou a liberar no ano e
explicar os motivos. Em 1996, emenda do ex-presidente Bill Clinton adaptou a FOIA para a
revolução tecnológica, criando o E-FOIA (Internet). As repartições públicas são obrigadas a
se antecipar aos pedidos, colocando na Internet o máximo possível de dados. Em 2000, o
governo atendeu a 2,2 milhões de pedidos de informações.

Jurisprudências

O E. Supremo Tribunal Federal, através de trecho de voto proferido pelo


Min. Celso de Mello em Mandado de Injunção, evidenciou a dimensão do direito à
informação:

Alguns dos muitos abusos cometidos pelo regime de exceção instituído no Brasil
em 1964 traduziram-se, dentre os vários atos de arbítrio puro que o
caracterizaram, na concepção e formulação teórica de um sistema claramente
inconvivente com a prática das liberdades públicas.

Esse sistema, fortemente estimulado pelo “ perigoso fascínio do absoluto “ (Pe.


Joseph Comblin, “ A Ideologia da Segurança Nacional - O Poder Militar da
América Latina “, p. 225, 3. Ed., 1980, trad. de A. Veiga Fialho, Civilização
Brasileira), ao privilegiar e cultivar o sigilo, transformando-o em “ praxis “
governamental institucionalizada, frontalmente ofendeu o princípio democrático,
pois, consoante adverte NORBERTO BOBBIO , em lição magistral sobre o
tema ( ‘ O Futuro da Democracia ‘, 1986, Paz e Terra ), não há, nos modelos
políticos que consagram a democracia, espaço possível reservado ao
mistério.

O novo estatuto político brasileiro - que rejeita o poder que oculta e não tolera o
poder que se oculta - consagrou a publicidade dos atos e das atividades estatais
como valor constitucionalmente assegurado, disciplinando-o, com expressa
ressalva para as situações de interesse público, entre os direitos e garantias
fundamentais.

A Carta Federal, ao proclamar os direitos e deveres individuais e coletivos (art.


5º.), enunciou preceitos básicos, cuja compreensão é essencial à caracterização
da ordem democrática como um regime do poder visível, ou, na lição expressiva
de BOBBIO, como um ‘modelo ideal do governo público em público’.”5 (g. n.)

4
E que também é motivadora do mesmo regramento jurídico, dada a via de mão dupla existente entre a superestrutura
normativa e a infraestrutura sócio-econômica de todas as sociedades. O Direito não é realidade estanque em relação à
sociedade, como bem sabemos.
5
Mandado de Injunção nº 284-DF, Relator o Ministro Celso de Mello, DOU 26/06/92. pp. 10.103, in RTJ 139-03, p. 712.

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O preclaro ministro referiu-se ao trabalho de Bobbio – o qual, por sua vez,


baseou-se na obra A Paz Perpétua, de Immanuel Kant. Ali verificamos que os segredos
profissionalmente guardados também têm um limite – e não estamos falando da
constatação da prática de ilícito, quando há o dever legal de levar o fato à autoridade
competente para apuração.

Existe a responsabilidade política relativa à publicização dos atos


praticados pelos governos e, principalmente, de sua motivação. A publicidade é condição
sine qua non para o controle democrático do conteúdo das ações e planos levados à cabo
pela administração pública. Bobbio assim se expressou:

(...) Kant afirma que o Iluminismo consiste na saída do homem do estado de


menoridade que ele deve imputar a si mesmo e que na base do Iluminismo está
a mais simples de todas as liberdades, a liberdade de fazer uso público da
própria razão: (...) Para o homem que chegou à maioridade possa fazer uso
público da própria razão é necessário que ele tenha um conhecimento pleno das
questões de Estado. Para que ele possa ter pleno conhecimento das questões
de Estado, é necessário que o poder aja em público. (...) Sustenta que o único
modo de garantir que isso ocorra é a condenação do sigilo dos atos de governo
e a instituição da sua publicidade, vale dizer, uma série de regras que obriguem
os Estados a prestar contas das suas decisões ao púbico, tornando desse modo
impossível a prática dos arcana imperii, que caracterizou os Estados despóticos.
A solução do problema é formulada da seguinte maneira: ‘TODAS AS AÇÕES
RELATIVAS AOS DIREITOS DE OUTROS HOMENS, CUJA MÁXIMA NÃO É
COMPATÍVEL COM A PUBLICIDADE, SÃO INJUSTAS.’”6

Feita a digressão, continuemos com a jurisprudência. Seguem-se duas


decisões do C. Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL.


TERCEIRO.ASSERTIVA QUE CARACTERIZA EM TESE A VIOLAÇÃO DE
DIREITO LÍQUIDO E CERTO. CABIMENTO DE MANDADO DE SEGURANÇA.
INDEPENDENTEMENTE DE RECURSO. SÚMULA/STJ. ENUNCIADO Nº 202.
RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO.

I - Se os fatos descritos na inicial em tese configuram violação de direito


líquido e certo dos impetrantes, que alegam ter sido privados do direito à
informação, o mandado de segurança é instrumento adequado à proteção
do direito, desde que presentes os seus requisitos de admissibilidade,
notadamente o "direito líquido e certo", que ocorre quando a regra jurídica
incidente sobre fatos incontestáveis configurar um direito da parte.

...

Data da Decisão 28/03/2000 Orgão Julgador T4 - QUARTA TURMA” 7

6
BOBBIO, Norberto. Teoria Geral da Política. Rio de Janeiro: Campus, 2000, pp. 406 e 407.
7
ROMS 11326 / ES ; RECURSO ORDINARIO EM MANDADO DE SEGURANÇA
1999/0100774-7 DJ DATA:05/06/2000 PG:00161 Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA

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Quanto às posições adotadas pelos tribunais de segunda instância,


vejamos alguns arestos do C. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – notoriamente
conhecido por seus posicionamentos juridicamente avançados.

MANDADO DE SEGURANCA. ATO DE PREFEITO MUNICIPAL QUE SE OMITE


E NAO PRESTA AS INFORMACOES SOLICITADAS POR VEREADOR NO
PRAZO PREVISTO NO ARTIGO 1º DA LEI 9051/95. DESCABIMENTO.
DIREITO A INFORMACAO ASSEGURADO A TODOS, INCLUSIVE AOS
VEREADORES, POR PORCA DO ARTIGO 5º, XXXIII, DA CONSTITUICAO
FEDERAL. PEDIDO DE INFORMACOES FORMULADO POR VEREADOR.
OMISSAO. NAO OBSERVANCIA DO PRAZO DE QUINZE DIAS PREVISTO NO
ARTIGO 1º DA LEI 9.051/95. VIOLACAO AO ART. 5º, XXXIII, QUE
PREVALECE SOBRE QUALQUER OUTRA. O DIREITO A INFORMACAO E
ESSENCIAL EM UM REGIME DEMOCRATICO, VISANDO A
TRANSPARENCIA DOS ATOS ADMINISTRATIVOS, SENDO INADMISSIVEL
QUE A PREFEITA MUNICIPAL SE OMITA A PRESTAR INFORMACOES AO
VEREADOR NO PRAZO LEGAL. SENTENCA CONFIRMADA.”8

Agora, trecho do lapidar e erudito voto do Relator desta mesma decisão,


enaltecendo o papel do mandatário membro do legislativo municipal, inclusive trazendo
jurisprudência:

O direito de informação tem como destinatária à própria coletividade, sendo


instrumento relevante no processo democrático em virtude de que não existe
sociedade democrática sem que haja a liberdade de informação, uma vez que
esta serve à própria sociedade, tendo a população plena ciência dos atos
praticados, ressaltando-se que os atos administrativos devem ter publicidade,
possibilitando que qualquer cidadão tenha conhecimento dos atos praticados
pela administração, evitando-se distorções.

O direito à informação é tão essencial à democracia porque no momento em que


há a ruptura do processo democrático o Governo ditatorial imposto logo censura
a imprensa e pratica inúmeros atos reservados que não são levados ao
conhecimento da população, visando à manutenção do regime político adotado.

Em um regime democrático, quando há a publicidade dos atos administrativos e


é assegurada a liberdade à informação, a possibilidade de se criar um regime de
força é mais difícil, ficando claro que o constituinte assegurou o direito de
informação a qualquer pessoa, visando a manutenção do atual sistema
democrático.

Neste sentido, Celso Ribeiro Bastos, na obra Comentários à Constituição do


Brasil, p. 163, volume 2, Saraiva, São Paulo, 1989.

(...)

O Chefe do Poder Executivo, como administrador público, está ligado ao


cumprimento da norma constitucional, não lhe assistindo o direito de inviabilizar
8
REEXAME NECESSÁRIO Nº 70004696894, PRIMEIRA CÂMARA ESPECIAL CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS,
RELATOR: DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO, JULGADO EM 25/09/02

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as informações pretendida pelos integrantes do Poder Legislativo, eleitos pelo


povo para representarem e defenderem os interesses da coletividade.

Conveniente repetir que o direito à informação é uma garantia para o indivíduo e


para a sociedade, decorrente do próprio princípio democrático, tendo o
administrador a obrigação de prestar as informações solicitadas, dando absoluta
transparência a sua administração, que é vital a qualquer Estado Democrático de
Direito, onde o poder reside no povo, não se admitindo a obstaculização por
parte daqueles que detêm o poder, que se encontram nesta condição em razão
de mandato outorgado pelos cidadãos, em prestarem informações sobre os
assuntos de interesse da sociedade em geral.

Vemos, então, que a única limitação possível ao pleno exercício do


Direito à Informação é o caso do sigilo legal em razão da própria sobrevivência do Estado e
da Sociedade. Outro entendimento qualquer será afrontoso à Constituição. Nenhuma norma
poderá trazer limitação, condição, requisito ou qualquer forma limitativa.

O Ministério Público deseja o progresso da práxis democrática e não o


retrocesso. Se o Administrador não for obrigado a dar publicidade de seus atos – pelos
meios necessários e eficientes – estaremos retornando ao estágio colonial da Administração
publica.

Neste ponto trazemos o exemplo do teórico-administrador-ditador a


serviço da coroa britânica Lorde Cromer. Dizia ele que a “influência pessoal” bastaria para
realizar eficientemente a supervisão dos negócios públicos nos países estrangeiros.
Prescindiria o administrador colonial de leis e decretos, já que sua influência informal seria
preferível a uma política bem definida9. A condução dos negócios de estado na colônia
poderia ser alterada de um momento para o outro, sem envolver necessariamente o governo
da metrópole em casos de dificuldades. A garantia da estabilidade jurídica não teria o
mesmo valor em ambas as realidades, mesmo porquê ali se tratava de povos dominados,
de raças inferiores – e ali o objetivo do Estado não era, nem teoreticamente, o bem comum,
mas simplesmente a exploração econômica daqueles territórios10.

Que o povo seja senhor de seu destino e não seja escravo da imposta
ignorância. Muito singelamente, sem acesso à informação, a Democracia não subsiste.
Somente isto já bastaria para configurara a justeza do pedido.

In casu, visa-se também a proteger o Direito Fundamental à


Administração Proba, de modo a que a população local não seja vilipendiadas na
expectativa de bem fiscalizar o uso do dinheiro que compulsoriamente entregaram ao
Município exator.

Equilibre-se a coexistência da necessária autonomia administrativa (que


não se confunde com a autonomia política) com os princípios da Administração.

9
Na Alemanha nazista pululavam ordens diretas e memos para realizar a vontade do Führer – não sendo necessárias
constantes inovações normativas formais, como leis e decretos, além dos textos mencionados neste trabalho.
10
ASSY, Bethânia. Artigo in AGUIAR, Odílio Alves e outros. Origens do Totalitarismo - 50 Anos Depois. Rio de Janeiro:
Relume-Dumará, 2001, p. 244.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

NUNCA É DEMAIS FRISAR QUE NÃO SE COGITA EM INTERFERIR NO


FUNCIONAMENTO DE QUAISQUER PODERES, POIS SUAS ATUAÇÕES POLÍTICAS
FINALÍSTICAS SÃO DIVERSAS DAS FORMALIDADES INTRÍNSECAS E EXTRÍNSECAS –
REGULADAS PELO ORDENAMENTO CONSTITUCIONAL. ESTAS SÃO ÍNSETAS À
ORGANIZAÇÃO ESTATAL ENQUANTO CONJUNTO DE “REPARTIÇÕES PÚBLICAS”
OCUPADAS POR EXERCENTES DE CARGOS PÚBLICOS. A PUBLICIDADE NÃO É
DISCRICIONÁRIA, MAS OBRIGATÓRIA E COGENTE PARA O ADMINISTRADOR.

De modo explícito, a Lei das Licitações e Contratos da Administração


prevê as publicações obrigatórias em diversos momentos. Logo em seu início é ressaltada a
principiologia constitucional a que a norma visa atender:

Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional


da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e
será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da
legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da
probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do
julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

Aqui, salientamos, explicita-se a publicidade AMPLA como o principal


instrumento para evitar ilegalidades e desvios de finalidade vários – o cidadão comum e os
interessados em participar das licitações devem saber com antecedência o que planeja o
administrador realizar. Dizemos ampla pois, do contrário, nem publicidade seria: tornar algo
público é – por inferência lógica – permitir amplo acesso ao que é publicizado. Afixar uma
norma ou edital em um flanelógrafo numa parede aos fundos da repartição é um tipo de
publicidade, sim. Todavia não pode o intérprete do direito considerar tal “publicidade” como a
mesma que é exigida pelo ordenamento, pois falta-lhe o requisito ao amplo acesso. Noutras
palavras: ou a publicidade é ampla ou não será publicidade em termos de direito público.

Vejamos os dispositivos específicos da Lei 8666/93 – que nada mais


fazem do que garantir a aplicabilidade pela positivação e especificação dos princípios 11
antes esposados:

Art. 21. Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das
tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da
repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo,
por uma vez:

I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou


entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de obras
financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas por
instituições federais;

II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar,


respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração
Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal;

III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver, em


jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a obra,
11
Que desta forma são “densificados”, conforme antes ventilamos.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
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prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo ainda a


Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros meios de
divulgação para ampliar a área de competição.

O C. Tribunal de Contas da União também dá o exemplo, ao bem cumprir


a Lei Federal nº. 9.755/98 – que especificamente prevê a utilização da Internet para
publicizar os atos da administração federal sob controle daquele sodalício:

Art. 1º O Tribunal de Contas da União criará homepage na rede de


computadores Internet, com o título "contas públicas", para divulgação dos
seguintes dados e informações:

I - os montantes de cada um dos tributos arrecadados pela União, pelos Estados,


pelo Distrito Federal e pelos Municípios, os recursos por eles recebidos, os
valores de origem tributária entregues e a entregar e a expressão numérica dos
critérios de rateio (caput do art. 162 da Constituição Federal);

II - os relatórios resumidos da execução orçamentária da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios (§ 3º do art. 165 da Constituição Federal);

III - o balanço consolidado das contas da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, suas autarquias e outras entidades, bem como um quadro
estruturalmente idêntico, baseado em dados orçamentários (art. 111 da Lei nº
4.320, de 17 de março de 1964);

IV - os orçamentos do exercício da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios e os respectivos balanços do exercício anterior (art. 112 da Lei nº
4.320, de 1964);

V - os resumos dos instrumentos de contrato ou de seus aditivos e as


comunicações ratificadas pela autoridade superior (caput do art. 26, parágrafo
único do art. 61, § 3º do art. 62, arts. 116, 117, 119, 123 e 124 da Lei nº 8.666, de
21 de junho de 1993);

VI - as relações mensais de todas as compras feitas pela Administração direta ou


indireta (art. 16 da Lei nº 8.666, de 1993).

A lei que criou a modalidade licitatória Pregão12 remeteu á norma antes


citada para também garantir a ampla publicidade pelos meios eletrônicos. Senão vejamos:

Art. 4º A fase externa do pregão será iniciada com a convocação dos


interessados e observará as seguintes regras:

I - a convocação dos interessados será efetuada por meio de publicação de


aviso em diário oficial do respectivo ente federado ou, não existindo, em jornal de
circulação local, e facultativamente, por meios eletrônicos e conforme o vulto da
licitação, em jornal de grande circulação, nos termos do regulamento de que
trata o art. 2º.";

12
Realizando a visão do jamais esquecido Hely Lopes Meirelles.

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II - do aviso constarão a definição do objeto da licitação, a indicação do local,


dias e horários em que poderá ser lida ou obtida a íntegra do edital;

III - do edital constarão todos os elementos definidos na forma do inciso I do art.


3º , as normas que disciplinarem o procedimento e a minuta do contrato, quando
for o caso;

IV - cópias do edital e do respectivo aviso serão colocadas à disposição de


qualquer pessoa para consulta e divulgadas na forma da Lei nº 9.755, de 16 de
dezembro de 1998;

O mesmo fez a Lei Complementar nº. 101/00 (Responsabilidade Fiscal),


verbis:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada
ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos,
orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o
respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o
Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos.

Observe-se que a norma não foi apenas “indicativa”, mas explicitamente


determinou que se “dará ampla divulgação” aos “instrumentos de transparência” elencados,
prevendo literalmente os “meios eletrônicos de acesso público”.

Emerson Garcia ensina que:

Com exceção das hipóteses expressas na Constituição, todos os atos do Poder


Público devem ser levados aos conhecimento externo, permitindo sua
fiscalização pelo povo e pelos demais legitimados para o seu controle.

Inexistindo transparência, não seria passível de aferição a necessária adequação


que deve existir entre os atos estatais e a consecução do interesse público,
razão de ser do próprio estado. Tal culminaria em impedir que os interessados
zelassem por seus direitos, pois, se não conhecem os motivos que embasaram o
agir da administração, tornar-se-ia tarefa assaz difícil impugná-los, o que torna
obrigatória a declinação destes.

A publicidade haverá de ser ampla, sendo ilícitas as omissos ou incorreções


eventualmente detectadas. O princípio, ademais, é de observância obrigatória
por todos os entes da administração pública, direta ou indireta, de qualquer dos
Poderes e de todas as esferas da Federação (in Improbidade Administrativa,
2004: 56).

Pelo exposto acima, a publicidade de atos administrativos, normativos e


leis apenas por afixação na sede da Prefeitura Municipal e Câmara de Vereadores ofende a
Constituição Federal, posto que essas medidas não são suficientes para garantir o direito de
informação dos munícipes.

O serviço público deve ser, antes de tudo, eficiente, segundo o que reza a
própria Carta Magna, e essa eficiência não tem sido alcançada no que se refere à
publicidade de atos públicos.

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IV – DA DECLARAÇÃO INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 16 DA LEI


ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE CRATO

Segundo o art. 16 da Lei Orgânica Municipal:

A publicação das leis e dos atos municipais será feita em órgão da imprensa
local ou regional ou por afixação nas sedes da Prefeitura Municipal e da Câmara
Municipal.

Com base nesse dispositivo da legislação municipal, a Administração


Pública se nega a produzir seu próprio Diário Oficial, bem como, se acha no direito de negar
as informações necessárias ao povo em sua página na Internet, pois, o texto prevê a
conjunção “ou” e as publicações, quando acontecem, são somente nas sedes dos referidos
órgãos.

De fato, se existe uma lei municipal que permite a publicação por meio de
simples afixação em prédios públicos municipais, não seria justificável a circulação pela
impressa oficial escrita.

Pois bem, por todos os argumentos até então apresentados, o art. 16 da


Lei Orgânica Municipal, na medida em que nega a ampla divulgação dos atos públicos, fere
a Constituição Federal de 1988, e não apenas por ofensa ao princípio da publicidade, mas
também pela ineficiência do serviço público, porque a divulgação dos atos da administração
pública e das leis é serviço público por excelência.

Antes de tudo, é direito constitucional do cidadão conhecer as leis e os


atos administrativos de seu município, de forma ampla e irrestrita. Essa limitação existe até
para os poderes incumbidos da defesa do Estado, com muito mais razão praticamente
inexiste para o cidadão cratense, que não possui o poder de requisição.

Desta forma, é inquestionavelmente inconstitucional esse dispositivo da


lei orgânica que limita o acesso do cidadão à publicidade dos atos públicos, e, como tal,
deve ser declarado, para que se condene o Município de Crato a exibir seus atos e leis de
forma ostensiva e ilimitada, bem como, manter à disposição dos administrados.

V – DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL

A falta de informações precisas e amplas, ao cidadão cratense, tem


causado, ao longo desses anos, vários prejuízos, com evidente dano à legalidade e à
moralidade administrativa.

Sendo inquestionável a fumaça do bom direito, por tudo o que fora


exposto, é mais do que justa a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida,

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com a imediata publicação dos atos públicos e leis por meio impresso com periodicidade
necessária, bem como a disponibilização na Internet.

Não existe qualquer risco de dano irreparável. Ao contrário, o cidadão


cratense, alheio a essas informações é que, certamente, sofrerá danos de difícil reparação,
e, desta forma, resta fundamentado o perigo na demora.

Por tais razões, deve ser concedida a tutela antecipatória, com


fundamento no art. 273, do Código de Processo Civil Brasileiro, para que os atos e leis
editados pelos órgãos do Executivo, do Legislativos e demais pessoas da administração
pública indireta, a partir de então, sejam imediatamente disponibilizados nos termos
pretendidos nesta demanda, haja vista que não causa qualquer prejuízo ao Município, ao
contrário, consagra princípios constitucionais.

VI – DA FIXAÇÃO DA MULTA E DA RESPONSABILIDADE PELO SEU PAGAMENTO

Tratando-se de demanda proposta em face de pessoa jurídica de direito


público, a melhor doutrina vem pregando que o ônus financeiro da multa em questão deve
ser suportado pelo patrimônio pessoal do agente público destinatário do comando judicial.

De fato, se coubesse ao erário arcar com o pagamento da referida multa,


o agente público destinatário da ordem judicial poderia, através de sua omissão
administrativa, dispor indiretamente do patrimônio público, impondo gravame aos recursos
hauridos da sociedade, o que é juridicamente inaceitável.

LUIZ RODRIGUES WAMBIER e TERESA ARRUDA ALVIM WAMBIER,


discorrendo sobre a multa prevista no art. 14, parágrafo único, do CPC, lecionam que:

... estão certamente incluídos dentre esses empeços os entraves de caráter


burocrático, de qualquer natureza, inclusive aqueles criados por servidores
públicos, fundacionais ou autárquicos, de qualquer das esferas da administração
pública, que serão pessoalmente responsabilizados por sua conduta. A
atribuição de responsabilidade pessoal ao agente administrativo parece ser
a única interpretação capaz de dar ao dispositivo o rendimento desejado,
em favor da efetividade do processo, quando se tratar de responsável
vinculado ao poder público 13 (grifou-se).

Por seu turno, LEONARDO JOSÉ CARNEIRO DA CUNHA, tratando da


multa prevista no art. 461, § 4º, do CPC, ensina que “o agente público responsável pelo
cumprimento da ordem judicial deve responder tanto pela multa prevista no § 4º do
art. 461, como por aquela capitulada no parágrafo único do art. 14, ambos do CPC” 14.

No mesmo sentido FREDIE DIDIER JR.

13
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Breves Comentários à 2ª Fase da Reforma do Código de
Processo Civil. 2ª ed. São Paulo: RT, 2002, p. 30.
14
CUNHA, Leonardo José Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo. – São Paulo: Dialética,
2003, p. 103.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
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[...] para evitar a renitência dos maus gestores, nada impede que o magistrado,
no exercício do seu poder geral de efetivação, imponha as astreintes diretamente
ao agente público (pessoa física) responsável por tomar a providência necessária
ao cumprimento da prestação [...] 15

Tratando-se de pessoa jurídica de Direito Público, o que se tem observado é que


essa medida quase não surte efeito, pois a multa geralmente incide sobre o
patrimônio do Poder Público e não do agente administrativo, que acaba se
omitindo no cumprimento da decisão mandamental, causando embaraço ao
próprio Poder Judiciário que vê suas decisões serem ignoradas, para a
perplexidade do jurisdicionado, gerando uma sensação de impunidade e
desrespeito a um Poder Constituído.

Nesse passo, compartilho do mesmo entendimento trazido na inicial no sentido


de que a solução para esse embrólio é a aplicação da multa diária contra o
próprio agente administrativo, pessoa física, responsável pelo cumprimento da
obrigação a ser satisfeita [...] (Juiz José Flávio Bezerra Morais - 2007.0009.0549-
4 – 4ª vara de Crato)

[...] 3. Provido o agravo para que o juiz adote todos os meios capazes de dar
efetividade à jurisdição, registrando que a aplicação de astreintes à Fazenda
Pública é ineficaz como meio de coerção psicológica, já que sujeita ao regime de
precatório. 4. Nas causas envolvendo erário público, a coerção somente será
eficaz se incidir sobre o agente que detiver a responsabilidade direta pelo
cumprimento da ordem, reiterada e imotivadamente desrespeitada. (TRF 2a.
Reg. AgIn 97.02.29066-0-RJ, rel. Juiz Federal convocado Ricardo Perlingeiro)

Recentemente, a Des. MARIA CELESTE THOMAZ DE ARAGÃO, do TJ-CE, no AgIn.


2007.0012.4872-1, também concluiu categoricamente que a multa pecuniária deve ser
cominada ao agente público responsável pelo cumprimento da medida.

[...] no que diz respeito à fixação de multa pecuniária às autoridades públicas, é


de farta sabença que tal iniciativa é meio assecuratório à efetivação do comando
judicial, visto que a imposição de 'astreinte' apenas ao Erário Público (sic), sem
implicâncias ao agente público responsável pelo cumprimento da medida, poderia
importar inocuidade da determinação judicial e, por conseguinte, da própria
norma contida no art. 461, § 4°, do CPC.

Vê-se, portanto, que o ônus financeiro da multa prevista no


artigo 11 da Lei nº 7.347/85, dispositivo cuja segunda parte tem redação análoga à do § 4º,
do art. 461, do CPC, deve ser suportado pelo patrimônio particular do agente destinatário da
ordem judicial.

VII – DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, o Ministério Público requer:

15
Op cit. p. 355.

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
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a) Seja concedida contra o demandado, medida antecipatória dos efeitos


da tutela jurisdicional (inaudita altera pars), com a finalidade de:

a.1) Declarar inconstitucional incidenter tantum o art. 16 da Lei Orgânica


do Município de Crato;

1.2) determinar a publicação das novas leis e demais atos normativos


(decretos, regulamentos, regimentos, decretos legislativos etc) e administrativos municipais
(Executivo, Legislativo e entes da administração direta e indireta) em diário oficial municipal
com circulação em todo o município, podendo ser adquirido um exemplar por qualquer
cidadão;

a.3) determinar a imediata inclusão, na própria na página da Internet


www.crato.ce.gov.br de todas as leis e demais atos normativos e administrativos acima
citados, mantendo-os sempre acessíveis a qualquer pessoa para consultá-los ou baixá-los
do site;

a.4) determinar a inclusão, no prazo de 90 (noventa) dias, na própria


página da internet, de todas as leis e decretos do Executivo e do Legislativo, vigentes no
Município de Crato, mantendo-os sempre acessíveis a qualquer pessoa para consultá-los ou
baixá-los do site;

a.5) determinar a cominação de multa diária no valor de R$ 5.000,00, a


ser suportado pelo patrimônio pessoa do Chefe do Executivo, pelo descumprimento da
medida liminar, com destinação do arrecadado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos e
Coletivos do Estado do Ceará;

b) Que seja o requerido citado para que, no prazo legal apresente sua
resposta.

c) com ou sem contestação, que haja o julgamento antecipado da lide,


por tratar-se de matéria unicamente de direito para confirmar a antecipação de tutela e:

c.1) Declarar inconstitucional incidenter tantum o art. 16 da Lei Orgânica


do Município de Crato.

c.2) Condenar o Município de Crato a publicar as novas leis e demais


atos normativos (decretos, regulamentos, regimentos, decretos legislativos etc) e
administrativos municipais (Executivo, Legislativo e entes da administração direta e indireta)
em Diário Oficial Municipal com circulação em todo o município, podendo ser adquirido um
exemplar por qualquer cidadão;

c.3) Condenar o Município de Crato a incluir, na própria na página da


Internet www.crato.ce.gov.br todas as leis e demais atos normativos e administrativos acima
citados, mantendo-os sempre acessíveis a qualquer pessoa para consultá-los ou baixá-los
do site;

c.4) Condenar o Município de Crato a incluir,no prazo de 90 (noventa)


dias, na própria página da internet, todas as leis e decretos do Executivo e do Legislativo,

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ
PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

vigentes no Município de Crato, mantendo-os sempre acessíveis a qualquer pessoa para


consultá-los ou baixá-los do site;

c.5) determinar a cominação de multa diária no valor de R$ 5.000,00, a


ser suportado pelo patrimônio pessoa do Chefe do Executivo, pelo descumprimento da
medida liminar, com destinação do arrecadado ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos e
Coletivos do Estado do Ceará.

Requer a produção de todas as provas permitidas em direito, depoimento


pessoal, documental, pericial e testemunhal.

Para todos os efeitos legais, dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco


mil reais).

Termos em que pede e espera deferimento.


Crato, 13 de novembro de 2007.

ÉLDER XIMENES FILHO


Promotor de Justiça
RG 467 – PGJ CE

ANTONIO MARCOS DA SILVA DE JESUS


Promotor de Justiça
RG 412 – PGJ CE

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa
da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (art. 127 da CF/88)

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