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Ensaios para
uma sócio-história do
português brasileiro
Projeto gráfico e capa: Andréia Custódio
Revisão: Cristina Peres
Editor: Marcos Marcionilo
Conselho Editorial: Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
Kanavillil Rajagopalan [Unicamp]
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre [UFES]
Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP]
Roxane Rojo (UNICAMP)
Salma Tannus Muchail [PUC-SP]
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
CIP-BRASIL.
SINDICATOCATALOGAÇÃO NA FONTEDOS EDITORES DE LIVROS, RJ
NACIONAL
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S583p
S583e
Silva,
Silva,Rosa
Rosa Virgínia Mattos
Virgínia Mattos e e
O português
Ensaios são dois : novas
para uma sócio-história fronteiras,
do português velhos/ pro-
brasileiro Rosa
blemas
Virgínia / Rosa
Mattos Virgínia
e Silva. Mattos
- São Paulo: e Silva.
Parábola - São Paulo:
Editorial, 2004 Parábola
- (Lingua[gem];
Editorial, 2004 7)
. - (Lingua[gem]; 6)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-88456-24-2
ISBN 85-88456-22-2
1. Língua portuguesa - Brasil - História. 2. Sociolinguística. I. Título II.
1. Língua portuguesa - Estudo e ensino.
Série
I. Título II. Série
04-1725 CDD: 459.798
CDU: 811.134.3´27
04-1018 CDD 372.6
CDU 811.134.3
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Parábola Editorial
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e-mail: parabola@parabolaeditorial.com.br
ISBN: 978-85-88456-024-2
1a edição, 2a reimpressão: setembro de 2011 - conforme o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa
© do texto: Rosa Virgínia Mattos e Silva
© da edição: Parábola Editorial, São Paulo, julho de 2004.
A meus colegas do Setor de Língua Portuguesa
do Instituto de Letras da UFBa, desde 1973;
a meus alunos de agora e de outros tempos;
in memoriam:
a Serafim da Silva Neto, que, na década de 1950,
abriu novos caminhos para a compreensão
histórica da “língua portuguesa no Brasil”;
Nota do editor
✤ ✤ ✤
10 Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro
1. Abertura
O poeta Pessoa nos ensinou que, sem antes sonhar, a obra
não nasce, Deus (e nós, brasileiros, neste caso) querendo. As re-
flexões que seguem são um convite
para a construção da história do Lembrando,
português brasileiro, obra que não L. F. Lindley Cintra,
pode deixar de ser coletiva e conjun-
tamente sonhada.
Celso F. da Cunha,
Fernando Tarallo,
Passados quase cinco séculos,
está ainda por ser reconstruído, com o Ada Natal Rodrigues
detalhamento possível, o processo do (todos contribuíram para
encontro politicamente assimétrico essa história).
entre a língua portuguesa, língua de
dominação, com muitas línguas autóctones e as diversas línguas aqui
chegadas, primeiro as africanas, depois as línguas de imigrantes, que
tornaram esta área americana, multilíngue de origem, ainda mais
complexa linguisticamente.
É numerosa e bem conhecida a bibliografia que tem tratado
da língua portuguesa no Brasil. Em geral, focaliza o português,
*
A primeira versão do texto foi apresentada no Congresso Brasil: raízes e
trajetórias, na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1992 e publicada sob o
título “Português brasileiro: raízes e trajetórias (para a construção de uma história)”
in Discursos – Estudos de língua e cultura portuguesa, Lisboa: Universidade Aberta,
fevereiro de 1993, pp. 75-91.
12 Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro
Embora O escrivão
muito da frota
se tenha de Cabral,
debatido sobre na a sua nãoportuguês
Carta, do
formação poderia supor
brasileiro,
o que depois se cumpriu no correr do tempo.
sobretudo na primeira metade do século XX, e, na sua segunda metade,Explica Pero Vazmuita
de Caminha ao rei por que ficariam em terra dois degredados,
contribuição específica tenha sido elaborada sobre aspectos de diversas variantes
além dos
brasileiras, tantodois
nas grumetes
descrições que fugiram dada
e interpretações frota que seguiria
dialetologia diatópicapara
e da
as Índias:
sociolinguística diastrática, como mais recentemente também nas interpretações
gerativistas,
Mjlhorainda está por
e mujto ser enformaçom
milhor elaborada uma reconstituição
da terra daram dous quehomees
conjugue
fatores sócio-históricos,
destes degredados demográficos,
que aaquy linguísticos
leixassem dodopassado
que elese do presente
dariam seosque,
reunidos, leuassem
explicitem
por seer jente que njnguem entende nem eles tam cedoque
e espelhem os processos sócio-históricos e linguísticos
interagiram
aprederiam a falardo
na constituição português
perao sabereque tamfalamos.
bem dizer que mujto mjlhor
ho estoutros nom digam quando ca vossa alteza mandar (… )
Estes Ensaios para uma sócio-história do português brasileiro são uma contribuição e
(Pereira, 1964: fl. 6, ls. 24-31).
um estímulo a que essa história se faça, com base nas iniciativas já desencadeadas
e com atenção especialprimeiros
Esses quatro aos desafios que se apresentam
semeadores para o no
do português mapeamento
Brasil
dos aqui
trajetos de encontros/desencontros linguísticos no Brasil.
ficaram antes para aprenderem “a sua fala” (fol. 11, ls. 26-
30), a dos índios, e assim convertê-los e não para ensinar-lhes
português; quanto à terra, não seria ela mais que “pousada pera
esta navegaçom de Calecut” (fol. 13v, ls. 22-27).
O seguir da história foi outro e com aqueles quatro que fi-
caram se inicia a trajetória dizimada dos índios brasileiros e de
suas línguas, percurso etnocida e glotocida conhecido, conduzido
primeiro pelos colonizadores portugueses e prosseguido pelas cha-
madas frentes pioneiras que hoje alcançam os limites últimos da
Amazônia brasileira. Apesar desses quinhentos anos de destruição
ininterrupta, sobrevivem cerca de 180 línguas indígenas e cerca de
220.000 índios — seriam o dobro as línguas do século XVI (Ro-
drigues, 1986: 19) ou, muito mais, cerca de 1.500, como admite
verossímil A. Houaiss (1985: 100) — o que impede de dizer (mas
é o que se teima em afirmar!) que o Brasil é unilíngue.
O processo colonizador e evangelizador dos séculos XVI e
XVII teve de utilizar, como instrumento fundamental para a do-
minação, línguas indígenas brasileiras. Embora homogeneizadora
da atividade catequética — construiu um “tupi jesuítico” —, a
língua geral da costa, de base tupi, chegou a ser um risco para
a hegemonia do português no Brasil, juntamente com outras
línguas gerais indígenas que foram veículos de intercomunicação