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DE VÁRIOS FATORES!
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FACULDADE DE FILOSOFIA DE
MINAS GERAIS
(CONDIÇÕES DE MATRICULA)
emb 2345678 10 11 12 13 14 15 16 17
1947 1948 Banco Minas Gerais S. A.
Cobranças
Caução
Descontos
A Depósitos
e demais operações
Cia. Siderúrgica
bancárias
Belgo-Mineira SA,
J. REIS
Fino acabamento
2 PANORAMA
DozeniUro de 194Í
10 11 12 13 14 15 16 17
ARTE LITERATURA
DIRETOR: JOÃO CAL.AZANS
JRedação e administrarão:
TRua da Bahia, 1065-3." and.
Sala 303
CAIXA POSTAI,, 727
BELO HORIZONTE —
MINAS GERAIS
#
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óoríeé Grandeé ?
Livraria Cultura Brasi-
leira Ltda.
Louças sanitárias
Arfcs Gráficas Indústrias
Artigos para água em geral Reunidas S. A.
Ferreira Gonçalves
Livraria AGIR Editora
4 — PANORAMA
Dezembro de 194
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J0SÉ LINS DO R b
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do "ciclo da cana de açúcar"-, qti,e acaba tl,c publicar vi-
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> as,- têÚ!. um sabor caroÇ ^'teiTay/^fodos os pupblemas do
a,'tSl òjj: os dr Es aoigusüantes de um pòvo, en-
lantesca drftuosé lãns do Rêgo. Im-
O nordeste está ali plantado nas pági-
■da a sua grandeza e exuberânlcia. Seus he.
nticos, qiue vivem conosco uma vida semelhan-
Figura^. —-"*&> facilmeatte l^fSutlflcáveis, como a dêsse Vi-
' torino íeiro da •t^anlm, o Pai» Rabo; o demagpgo dr. Res-
, jtana; seu í.ula de ;Holanda; o cornnc) José Paulino; o mestre José
Amaro e iop&yi tipos formidável, todos apresentando um conjunto
Admirável Jtíf áinaíStena e de sodtimcntos. Mas, não é somente nesse
iminente nordestino que a plira de José Lins do Rego se agiganta.
nopôrp-da nordeste ele possui um ímpeto vigoroso, íôrça
e tjoiiífiaé compj^o, oujos exemplos estão vivos em AGUA
^este^n^strai^ , EURÍDICE, . »c« que vale«v como um
um aconte
ací-
mHVrnu ~ liflcação na vida literária do grande
Não fuvidas em afirmar que José Lins do Rêgo é o
■itor ra ■o dos nossos dias, o que mais de perto toca o
sentiinpfíto do n povo e o que melhor Interpreta sua alma gene-
simples i i|
O romancista José Lins do Rego nasceu a 3 de junlio de 1901, no Otávio de Faria: — JOSE' LINS
Engenho Corredor, Estado da Paraíba, do uma ía mil ia pertencente á DO REGO (in. "Boletim de
melhor aristocracia rural. Legítimo menino do engenho, de sua vida Ariel" — III — i de dez. de 1933
desembaraçada e livro passou para os bancos escolares de Itabalana, — pág. 67) .
onde fez os estudos primários, seguindo mais tardo para o curso se.
cundárlo em João Pessoa ,onde fez todos os preparatórios. Bacharel Antônio Cândido: — BRIGADA
em Direito pela tradicional Escola do Recife, desde 1923, Nesse mes- LIGEIRA — pgs, 63-70 — Liv.
mo ano. Cia grande capital do nordeste, fundou com Osório Borba um Martins Bditôra — s. Paulo,
semanário político que deixou fama — "D Casmurro" — onde publi- 1945).
cou raognflcos estudos e ensaios de literatura. Ern 1925 foi nomeado
promotor público no Estado de Minas Cera.,s e, no ano seguinte, pas- Rosário Fusco — VIDA LITE-
sou a, exercer fn.ições de oficiai de bancos etr. Alagoas Sua estréia na RÁRIA — pgs. 109-117 — Rio
ficção verificou.se em 1932 com o romance MENINO DE ENGENHO 1940.
(Prêmio da Fundação Graça Aranha); em 1933 publica DOIDINHO; Álvaro Lins; — JOR-NAL DE
BANGÜÊ, em 1934; O MOLEQUE RICARDO, em 1935, USINA, em CRITICA — II — pgs, 83-03
193fi; PUREZA, em 1937; PEDRA BONITA, em, 1938; RIACHO DO- Liv. José Olímpio — iRo, 1943.
CE, em 1939, AGUA-MÃE, em 1941 (Prêmio da Soe. Filipe d'011velra)
FOGO MORTO, em 1943 e 1947, EURfDXCE. Desde 1935 que resido Rodrigo M.P. de Andrade: —
no Rio de Janeiro E' um apaixonado do futebol, torcida renitente do A USINA E A INVASAÓ DOS
Flamengo e colaborador diário do "Jornal dos Sports". Colabora ata. NORTISTAS (in. "Boletim de
da cm vários jornais do país. José Lins do Rego publicou ainlda os Ariel" — V — 11 de ag. de 1936
guintes livros: — HISTORIAS DA VELHA TOTONIA (Infantil. 1936) — pág. 286.)
GORDOS E MAGROS (ensaios, 1943); PEDRO AMÉRICO ínerfll Aderbai Jurema: — O ROMAN-
1944); CONFERÊNCIAS NO PRATA (1946); POESIA E VIDA
CISTA DO AÇÚCAR (in. -Bole-
(ensaios, 1947) . tim de Ariel"—VI — 13 de dez.
de 1936 — pág. 72).
OBRAS DE 1-2 MENINO DE ENGENHO
e DOIDINHO; 3 BANGÜÊ; 4 O Pedro Dantas: — Prefácio á 3."
JOSÉ LINS DO REGO MOLEQUE RIOARDO; 5 USINA; edição do MENINO DE - ENGE-
d PUREZA: 7 PEDRA BO- NHO — Liv. José Olímpio — Rio,
MENINO DE ENGENHO (1.» NITA; 8 RIACHO DOCE; 9 1939.
edição. 1932; 5." edição, 1947 ); AGUA.MÃE; 10 EURÍDICE. Des- Olivio Méntenegro: — o RO-
DOIDINHO (Ia edição, 1933; 5." plano Já foram lançados três vo- MANCE B R AiS ILEI RO — pgs.
edição, 1947); BANGÜÊ (1." edi- lumes — o primeiro, o segundo 131-143 — Liv. José Olímpio —
ção, 1934; 3.a edição, 1947); O 0 o úitimo. Rio, 19 39.
MOLEQUE RICARDO (Ia edição
1935; 4." edição, 1940); USINA 1 Jaime de Barros: — ESPE-
(1° edição, 1936; 2.a edição, 1940) ALGUMAS FONTES LHO DOS LIVROS — pgs. 101-
PUREZA 1.» edição. 1937; 3." edi- Liv. José Olmplo — Ro,
çã», 1943); PEDRA BONITA PRINCIPAIS PARA O 1936.
(1." edição, 1938; 3.s edição, ESTUDO DA OBRA DE Manrtel Anselmo: — FAMÍLIA
1943); RIACHO DOCE (1." 1939) JOSÉ LINS DO REGO: LITE RA RIA LUBO-BRAISILEI-
AGUAfMÃE (IA edição 1941; 2." RA — pgs. 203-211 — Liv. Jo-
edição, 1942). FOGO MORTO (1" Apresentamos, a( seguir algumas sé Olímpio — Rio, 1943.
edição 1943; 2." edição, 1944); das principais fontes para o es-
EURÍDICE (IA edição, 16 milhel- tudo da obra do grande roman- Ademar Vidal: — A VIDA RU-
ros—1947); HISTORIAS DA VE- cista do •ciclo da cana de agui. RAL FIXADA NOS, ROMANCES
LHA TOTONIA (1936); GORDOS car", trabalho especialmente or- — (In. Boletim de Ariel" — IV
E MAGROS — ensaios — (1943); ganizado pelo ineomparável crí- — 14 de jau. de 1935 — pág. 99)
PEDRO AMÉRICO (1944); CON- tico Otto Maria Caírpeaux: • Valdemar Cavalcanti; — BAN-
FERENCl AS NO PRATA (1946); GÜÊ DE JOSE' LINS DO REGO-
POESIA E VIDA — ensaios — Liai Corrêa Dutra: — O RO-
(1947). MANCE BRASILEIRO E JOSE' in. "Boletim de Ariel" — III —
LINS DO REGO — 42pgs. —• Bd. 10 de jul. de Í934 — pág. 266).
TRADUÇÃO; "Seara Nova" — Lisboa, 1938. Samuel Putnam: — THE BRA-
Nelson: WeDndek (Sodréi: - SILIAN SOCIAL NOVEL (in.
i ORIENTAÇÕES (DO PEN(SA-
A VIDA DE. ELONORA DUSE "Inter-American Quartetly" —
(de E. A. Rheinbart—Rio, 1946) MENTO BRASILEIRO — pgS. 11 —• 2, 1940, april — pág. 5).
1 25-149 — Vecchl editora — Rio
1942. Valdemo.r Cavalcanti; — ME-
NOTA: João Gaspar Simões — CRITI- NINO DE ENGENHO (in. "Bo-
CA
— I — Pgs. 174-203 — Lv. letim de Ariel" — 1—9 de Ju-
A livraria José Olímpio Editô. Latina, -— LiS'boa, 1942. de 1932. —- pag. 19).
ra organizou o seguinte plano ge- Mário de Andrade —• O EMPA-
ral para a publicarão das Gastão Cruls: — MENINO
LIIADOR DE PASSARINHOS DE ENGENHO (in. "BoletínT
OBRAS DE JOSÉ' LINS DO pgs'. 247-250 — Liv. Martns Edi-
REGO: de Ariel" — II — i de out. de-
tora — São Paulo, 1946. 1932 — pag. 14).
C — PANORAMA
Dezembiro de 1!I47
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RUA 00 OUVIDOR, 110 TELtGRAMAS EVARISTO DA VEIGA. 13S
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UM NOVO ROMANCE DOS ENGENHOS
ALVARO LINS
"E que obra-prima FOGO su^s gargalhadas; na vida .de rosidade para se irmanar com
MORTO, puxa!" — disse-me, ficção, uni sentimento de lá- os seres vencidos e desgraça-
em carta, o meu querido ami- grimas sufocadas. Mas, nos dos. Podemos dizer' ,de FO-
go Mário de Andrade, numa grandes criadores de ficção, a GO MORTO que é por excelên-
das suas exclamações tão ca- vida cotidiana é uma aparên- cia <) romance da tristeza bra-
racterísticas. E esta não é só cia, e a sua realidade não se- sileira. "Numa terra radiosa
a opinião dos letrados, mas rá encontrada senão nos seus vive um povò triste" esta
dos leitores em geral. Encon- romances. frase de Paulo Prado, em RE-
tro em toda parle entusiasmos A realidade que se encontra TRATO DO BRASIL, bem po-
por êste novo romance do sr. na natureza humana do sr. deria servir de epígrafe para
José Lins do Rego. Num ca- José Lins do Rego é a triste- as páginas de FOGO MORTO.
so desta espécie, a critica so za. A sua alegria exterior é Quando terminamos a leitu-
terá que confirmar opinião uma defesa contra os seus fan- ra a imagem que logo nos vem
dos leitores, o que não suce- tasmas, a visão das criaturas é a daquela estrada, cheia dè
de sempre. tristes que se fixaram na sua sol, com os pássaros cantando,
Do ponto de vista do assun- imaginação. Êle mesmo escre- as árvores fecundas, a estrada
to FOGO MORTO irepreserttta veu que "não há nada mais que é uni cenário do romance.
uma volta do escritor aos te- triste que um menino triste". Atravessa-ia de vez em quan-i
mas do "Ciclo da cana de açú- E há muito da sua própria in- do o cabriolé que carrega o
car" Não está, portanto, o fância, sem dúvida, no "doi- senhor de engenho doente dos
seu êxito na surpresa ou na dinho" de um dos seus ro- nervos e decadente; ao lado
novidade. Será êste livro um mances. A existência do adul- está a casa do seleiro José
produto da maturidade, uma to a sua existência na grande Amaro, sombrio, amargurado,
obra definitiva de (cristaliza- cidade cosmopolita — não te- revoltado; e pela estrada, cru-
ção? Parece-me, ao contrario, rá forças jamais para extin- zando com o cabriolé do seu
que a inquietação do escntoi, guir a tristeza do menino; — Lula, ou conversando com o
a sua mobilidade, a sua juven- a tristeza da orfandade, do in- mestre José Amaro, passam o
tude, a sua atitude febril, a ternato, da sociedade particu- cego Torqualo, o negro José
sua impaciência, tudo isto es- lar dos engenhos em vésperas Passarinho, sempre 'bêbado, o
tá agora mais vivo do que de decadência. ■pintor Laurentino, soldados de
nunca. O seu estilo, por exem- Uma das forças interiores polícia, cangaceiros, trabalha-
plo, era mais tranqüilo e mais do sr, José Lins do Regõ está dores de engenho, toda uma
ordenado em BANGÜÊ ou 0 nessa fidelidade ás raizes sen- pequena população regional
MOLEQUE RICARDO. Apre- timentais da sua infância. Ele simbolicamente representada
senta nestas páginas recentes é o tipo exatamente oposto ao em algumas figuras típicas.
um ritmo ainda mais nervoso, "déraciné". A sua realidade Várias vezes o romancista vol-
apressado, inquieto. Temos a vital é a da sua ligação com o ta a falar da estrada, deste pe-
impressão que o sr. José Lins daço de terra no qual se mo-
mundo dos engenhos do Nor- vimentam os personagens, co-
do Rego viveu com intensida- deste. Dai a sua capacidade
de o drama de FOGO MORTO, mo a fixar um contraste en-
de interpretar e representar tre a natureza física e a na-
e em dado momento certas si- toda uma região. A grandeza
tuações desse drama tornam- tureza humana. A natureza fí-
de ura romancista — circuns- sica num esplendor de força e
se tão dolorosas que êle as jo- tância que ultrapassa o talen-
gou no papel de repente, com beleza que determina a ale-
to simplesmente literário — gria; a nalureza humana do-
a sensação de quem se liber ta está nos seus? dons de expri-
de um sofrimento pessoal. minada pela miséria, pela do-
mir uma situação de ordem ença e pela tristeza. E a tris-
Na verdade, um escritor de geral; uma família, uma
vida tão exuberante, com uma teza d êste romance aumenta
região, um povo. 0 sr. José quando vemos os moleques da
tendência tão espontânea pa- Lins do Rego é um romancista
ra as formas agradáveis da representativo do estado de estrada a gritar atrás de Vito-
existência exterior, deve so- rino Carneiro da Cunha-
espírito de ura povo, e a sua
frer mais do que os outros ao tristeza é o sentimento coleti- "P£çpaLRabo! Papa-Rai>o!"
contacto de seu mundo de fic- vo de um povo triste. E em E' que este Vitorino Carnei-
ção, todo marcado pela tus- nenhum moineno ia sua tris- ro da Cunha é um peoueno D.
teza e pela desgraça. Sempre teza foi mais pungente do que Quixoíe, é o D. Quixote das
o sr. José Lins do Rego per- em FOGO MORTO.. Grande popuiaçoes do interior nordes-
turbará os críticos com essa parte do seu êxito estará na tino. Talvez seja esta a mais
dualidade: — um homem ale- sua excepcional capacidade de feliz criação do sr. José Lins
gre, exuberante, apaixonado comoção, nessa tristeza que o do Rego no seu mundo de per-
da vida até o sensualismo mais romancista salvou ida sombria sonagens. Pelo seu quixotismo
frenético; um escritor triste, amargura pelos dons de sim- exprime-se a revolta, 0 incon-
um romancista que faz viver patia e generosidade. A sim- torraismo, a esperança de um
personagens desgraçados, que patia para compreender as fi- povo; e também o protesto do
descreve situações comoven- escritor, a certeza de sua iden-
tes. Na vida real, o rumor das guras mais miseráveis, a gene-
3 í- > 6 í 10 11 12 13 14 15 16 17
üficação con) a sua gente. Na- seu Lula e a decadência do en- yo para él; él supo obrar, y
da mais grandioso, é certo, do genho Santa Fé. Em FOGO yo escribir; solos los dos so-
que um D. Quixote; e nada MORTO o romancista retomou mos para en uno".
também é mais triste do que o tema esboçado em BANGÜÊ.
a incompreensão, a malícia, a Mas se o engenho Santa Fé Mas não só Vitorino Carnei-
indiferença, o riso, com que constitui o centro do roman- ro da Cunha tem esta indepen-
os bem-pensantes, os conserva- ce, como ambiente, o caráter dência dentro do romance.
dores e a ingenuidade infan- de personagem central, que Também os outros persona-
til, a dos meninos ou dos adul- talvez, o autor, no plano pri- gens. Estamos agora em face
tos, abafam por toda parte o mitivo, destinasse a seu Lula, de um novo aspecto da ficção
espírito do quixotismo. passou para a figura de Vito- do sr. José Lins do Rego; —
Pode-se acompanhar o pro- rino Carneiro da Cunha. a independência mais acentua-
cesso que levou o sr. José Lins da das suas criaturas. Quem
Era um destino natural na se lembra de Carlos de Melo
do Rego até a criação do seu. ordem psicológica; — não se
pequeno U. Quixote provinci- lanibra-ise dele misturado com
lança o espírito do quixotismo as paisagens e as cenas do en-
ano. Um processo semelhante sem que lhe seja dado todo o
ao de Cervantes criando o seu genho. DOIDIN.HO sngere, num
espaço do idealismo no jogo desdobramento complexo, to-
grande D. Quixote, O tipo dos fenômenos vitais. Vitori-
simbólico, representando toda da a visão de um internato de
no aparece nas primeiras pá- colégio. Mas em FOGO MOR-
uma família do gênero huma- ginas e o seu ridículo provoca
no, tem o recurso da varieda- TO houve um equilíbrio mais
somente o riso que se dirige firme entre o ambiente social
de, a capacidade de se dividir aos pequenos palhaços. Perce-
em diversos tipos particulares, e a natureza humana dos per-
be-se que o romancista ainda sonagehs. Isso não significa,
adaptados aos espíritos de é- não está identificado com a
pocas diversas e de lugares porém, que tenha havido qual-
incerta psicologia humana. quer alteração no carater da
diferentes. FOGO MORTO, na Ele é comico, a princípio, e
primeira impressão, fica pare- obra do sr. José Lins do Re-
cendo uma reunião de três não provoca senão o riso. Se- go. A sua qualidade funda-
personagens; _ o "mestre Jo- rá, aliás, um personagem cô- mental não é certamente a in-
sé Amaro, seu Lula e Vilorino mico até o fim. Mas há um venção no campo da fantasia,
Carneiro da Cunha". O que os momento em que o cômico, ao mas a criação no campo da
reúne a todos, além da vida cxgotar todos os seus elemen- observação e da poetização da
dos engenhos, é a ação do D. tos do riso, vem a se tornar realidade. Uma das cenas
Quixote provinciano. Este •comovente. Foi o que sucedeu mais intensas deste romance,
a Vitorino Carneiro da Cunha, por exemplo, poderia ser, nas
personagem, ao que parece, foi o que sucedeu ao D. Qui- suas linhas gerais, uma notí-
foi crescendo na imaginação
do sr. José Lins do Rego sem xote de Cervantes. As arro- "ia de jornal; — a invasão do
que êle pudesse controlar todo gâncias de Vitorino não provo- engenho Santa Fé pelos canga-
o seu desenvolvimento. Cres- cam de inicio senão o riso. ceiros. Leia-se, porém, a rea-
ceu por si mesmo, ultrapassou Mas vamos vcompreendendo, lização do romancista: —- é
os próprios limites que lhe em cada nova página, que o uma página dramática a que
seu caráter cômico está ape- descreve aquela madrugada
traçara o romancista. E esta nas na sua inconformidade num engenho em decadência:
operação criadora, como se
sabe, foi a mesma que gerou o com a miserável realidade do — os cangaceiros brutalizados
L. Quixote de Cervantes. seu ambiente. Ele representa no ímpeto do saque, o velho
um ideal de justiça naquela senhor de engenho caído co-
A idéia inicial deste roman- pequena sociedade dominada
ce — tanto quanto se pode a- mo morto nnm ataque epiléti-
companhar uma concejrção de pela injustiça., 0 seu cômico co, a senhora de engenho obri-
romancista — estava concen- decorre do caráter absoluto gada a locar velhas músicas
trada na história de seu Lula que êle imprimiu ao seu sen- no velho piano da casa-gran-
e do engenho Santa Fé. Mas timento de justiça. Vitorino de. Mais adiante está a cena
logo o mestre José Amaro ab- será colocado contra o senhor dos presos despertando na ca-
de engenho arrogante e a fa- deia imunda da vila. Tudo is-
sorveu a primeira parte do li- vor do senhor de engenho des-
vro. O senhor de engenho do- so tem uma realidade tão pro-
graçado, contra os cangaceiros funda que não sabemos nunca
minaria apenas a segunda par- e contra os soldados de poli-
te. Nestas páginas, aliás, en- se ela vem da vida objetiva ou
contramos alguma coisa mais cia, contra todos os excessos e da imaginação do romancista.
violências. O seu cômico é o Os seus tempos de verbo mais
do que o drama de um perso- seu delírio pela justiça absolu- usados são o "era" e o "foi",
nagem ; —, a síntese da bio- ta. Por isso podemos dizer de mas ambos transmitem uma
grafia de um engenho nordes- Vitorino o que se disse de D. estranha ação dè presença e
tino. Para se ter uma idéia de Quixote; _ "Quanto mais ri- atualidade. Este recurso está
que a obra do sr. José Lins mos dêlc, mais o respeitamos". apoiado ainda mais na sua ca-
do Rego não está feita ao O sr. José Lins do Rego teve pacidade de definir caracteres
acaso, mas representa a ex- a generosidade humana e artís- e sentimentos pelo jogo das
pressão de um mundo de fic- tica de se identificar com êste imagens.
ção estruturado, um univer- personagem cômico na aparên- Mas, afinal, um romance não
so de seres e paisagens, retido cia é dramático na realidade, está em seus detalhes, e sim
na memória e recriado pela Ele podqria concluir como "a sua realização em conjun-
imaginação, lembramos que já Cervantes ao encerrar as aven- to, na construção do seu pe-
em BANGÜÊ apareciam, de turas do seu herói; — "Para queno mundo. Há em FOGO
forma acidental, a figura de mi sola nació dom Quijote, y
(Conclui na pâg. 27)
1
" #
cm : 2 3 L 5 6 7 8 10 11 12 13 14 15 16 17
"EURÍDICE"
RAQUEL DE QUEIROZ
QUANDO M quatro anos vago parentesco com a lia Ma- nio do qual só se vêem as obras
atrás foi publicado FOGO ria, do Menino de Engenho, ro- e de quem mal se conhece a
MORTO pensei que o José Lins mance tido domo autobiográfi- figura.
do Rego houvesse, com aquele co. Maria Menina também fora Até mesmo a tão característi-
livro, atingido o seu máximo, amada pelo rapazinho, tambjem ca linguagem de José Lins do
o seu zênite de romancista. lhe substituirá os roubados ca- Rego surge neste romance com
Mas este recem-saido EURÍDI- rinhos maternos, e lambem se uma apresentação especial. Com
CE veio provar que o fabuloso evadira para os braços de um o mesmo vigor da linguagem an-
Lins do Rego ainda tem muita homem estranho, casando. Mas tiga, —■ mas dona agora de uma
riqueza guardada deiitio de si justamente essa semelhança ser- cspecie de acento universal; o
e que fazendo embora o seu ro- virá para anotarmos toda a im- pouco que conserva de regional
mance décimo primeiro é tao portância da caminhada feita serve unicamente para lhe em-
capaz de criar 'coisa nova e pelo romancista no caminho da prestar maior força e origina-
grande como se este fosse ago- introspecção. Em MENINO DE lidade. — mas em seu conjunto
ra o seu segundo ou seu tercei- ENGENHO o drama sentimental é ela agora, e totalmente, uma
ro encontro com o publico. do garoto é apenas ' esboçado, linguagem literária c nacional,
Em EURIDICE o romancista porque no momento, o que mais sem nada de confirmações pro-
atinge, no plano da profundida- interessava ao autor não eram vincianas. Há no livro alguns
de, uma grandeza idêntica ou propriamente os complexos da- trechos que são de uma estra-
maior à que já conseguira antes quele córação, mas o ambiente, nha beleza, de uma serenidade,
alcançar em extensão. Se aqui a paisagem geográfica e huma- uma pureza que o romancista
não criou um herói impecável na, o engenho Santa Rosa e o jamais alcançara antes. Com
e imortal como o velho \itori- mundo ao seu redor. Desta vez grande inteligência fugiu ele ao
no Carneiro da Cunha, em com- tirou ele do amor infantil do erro tão fácil do tentar uma cs-
pensação ganhou em equilíbrio, herói o máximo que artistica- pecie de regionalismo "carioca"
em 'conjunto, em sintese, em mente poderia tirar, sem des- — que seria a maneira natural
penetração e principalmente cobrir a carpinlaria freudiana de mostrar versatilidade e vir-
em densidade. EURIDICE e to- do seu estudo. tuosismo para qualquer outro
do feito de uma só peça e como escritor que, tentando renovar-
que exige ser lido dum só fôle- E José Lins do Rego mostrou se, não tivesse a inteligência
que não perde nada quando pre- criadora e os grandes recursos
go. Não tem hiatos, sem solu- cinde do pitoresco, do regional,
ções de continuidade, nem rcci- do paraibano.
tativo novelistico. Raciona pai- do nordeste. O seu regionalis- Apesar entretanto dessa sua
sagens, idílios, e lirismo. É como mo. que parecia tão essencial à preocupação em fugir ao trilhe
sua linguagem e à sua arte cria- antigo, em EURIDICE, José Lins
uma espiral girando angustiada dora ele o despiu como uma
e obstinadamente cm torno cio ainda enriquece com dois tipos
si própria para chegar aíRie1.a casca de cobra, sem prejuízo ne- novos a sua galeria de figuras
«condensação de amor e de < e i nhum jiara a casca nova. Em literárias. Em primeiro lugar
EURIDICE como que apresenta aparece o Valho Campos das
rio que se resolve na brutalidade apenas almas — nem casas, nem
suprema do final. Águas, que talvez pelo quixo-
cidades, e até mesmo muito pou- tismo, pelo arrojo, pela desfor-
Em EURIDICE não temos pi- co corpos. Apenas almas se di-
toresco. nem seca. nern inverno, ra verbal que tomava dos seus
gladiando, se odiando e se vio- fracassos seja um pouco apa-
nem usina, nem barreira. Ap lentando — e só de longe per- rentado .com o meu queridíssi-
nas um homem e as suas cur- passa um detalhe físico identifi- mo e nunca devidamente louva-
tas lembranças. Angustia, soli- cando as pessoas — os olhos do Vitorino Carneiro da Cunha.
dão, e uma cspecie de espanto grendes e os cabelos pretos de O outro novo lugar da galeria
retrospectivo da mente critica e Noemia. a barba do dr. Fontes, é ocupado por Faria, o integra-
pensante ao remoer a memória a cabeleira comprida do seu lista.
das passadas torturas, que ja Campos das Águas, os olhos es-
'chegam até nós como que ene u Segundo me consta, é csla a
treitos e maus do noivo Luiz, a primeira vez em que um integra-
reciclas e ressecadas por um an- voz estridente da mãe zangada.
terior processo de recalcamen- lista nos aparece em romance.
E entre todas, conforme o notou E sem ser destorcido em cari-
to e de pavor. muito bem o nosso prezado Au-
Não sei quanto do seu tpo ta- catura, apresentado era nua e
rélio Buarque de Holanda, é lamentável simplicidade re-
lado "memorialismo" terá uti- Eurídice "a figura mais vaga,
lizado J. L. R. em EURIDICE. trato de um ambicioso c de um
mais flutuante, n-pds infixa do frio ao qual a má política ce-
Talvez só em permenores de romance". E parece que era
pouca importância tenha a sua gou, roubando-o do pouco que
essa precisamente a intenção lhe restava de humanidade. Jo-
própria auto-biograíia lhe Pre.s- do romancista: apresentar Eu-
tado ajuda: a agoniada historia rídice somente como uma pre- sé Lins que em AGUA-MÃE
do menino-moço Júlio é aparen- "lançou" na literatura nacional
sença. uma sugestão, um malefí- o jogador de futebol, lança ago-
temente toda de sua invenção cio Uma espécie de demomo,
— embora naquela irmã Isicto- de incubo, a possuir e a ator- ra, pois, o chefe fascista. Pena,
ra, tão loucamente amada, sinta mentar o pobre Juho — demô- (Conclui na página 29)
o seu leitor de boa memória ura
PANORAMA _ 13
Dezembro de 1947
111
' #
cm : 2 3 5 6 7 8 10 11 12 13 14 15 16 17
O ROMANCE DE JOSÉ LINS DO REGO
(PEQUENA ANTOLOGIA):
A QUEIMADA
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v.erdade. Baltazar morava no A cama de couro, descoberta,
Tia Maria estaria lá, na cer- engenho do meu avô e nunca a mesa onde guardava as coi-
ta Passamos pelo Comissá- lhe dera um tostão de arrenda- sas, o cabide com o seu capote
rio quase ao escurecer Os pa- mento. Ficara até mal com o dependurado. Tudo que era seu
redões do engenho, caídos, a primo, mas nunca que lhe pe- era aquilo, aqueles troços de
roda preguiçosa 'deitada poi disse a propriedade que o ou- pobre. E começou a chover, fe-
terra, com os dentes podres de chando-se o tempo. Parecia que
Jerrugem. E a .casa-g.fande tro desfrutava.
Do alto da caatinga viamos teríamos um dia bom e de re-
pendida para um lado, sem poi- o Santa Rosa, lodo branco da pente a|que)lc nguaceiro. Não
tas nem janelas, de buracos a- lua. Estávamos chegando. Co- devia deixar o meu avô ir-sc
bertos como uma caveira, hra mo não estaria a casa-grande embora sem olhar para ele. Fiz
aquilo um engenho onde há a- em reboliço! lôrça c olhei-o. A cara era a
nos, cargas de açúcar bruto mesma, a barba branca e o len-
A sala de visita com o lustre
saiam para Goiana. Aí o Prl aceso E o herreiro dentro de ço por baixo do queixo. Tinha
mo Jorge falou-me; casa. Tio Jucá quando me viu que lhe beijar como fizeram os
_ O velho comprou aos her- rne abraçou chorando. Tia Ma- outros parentes. Senti a sua
deiros. Brigaram no inventá- ria, coitada, fazia pena. En- mão fria na boca. E o cadáver
rio, que só cachorro E um contrei-a aos soluços, deitada. me gelou o corpo de pavor.
vendeu uma parte. Depois os E no alpendre, moradores sen- Quis gritar, correr d'ali. mas
o litros. Estão na miséria no tados pelo chão. de 'cabeça bai- não podia, como se estivesse
Itambé. O pai ganhou dinhei- xa, como se estivessem em pe- fulminado, não encontrando
ro aqui, nesta gangorra. Era nitência. A cozinha lavada cm forças para sair. Fechei os
um matuto direito, pagador. Mal lágrimas. As negras chega ur- olhos c os . meus ouvidos zuni-
fechou os olhos, os filhos es- ravam. 0 povo do Pilar, os pa- am. Tive medo de um ataque.
traçalharam tudo. rentes de outros engenhos. Tio Levaram-me para fora e aos
E o pobre do Comissário, Jóea estava numa cadeira, du- poucos fui recobrando o meu
naquele estado, comprado, em ro como uma estatua, de olhai natural.
mãos de outros que só queriam fixo não sei onde. Não quiseram esperar que a
sáber de suas terras. Nunca Não vira aquela casa assim chuva passasse. O meu avo ia
mais que o bagaço queimasse cheia, senão nos grandes dias se enterrar num dia bonito pa-
em suas fornalhas e que o bo- do Santa Rosa. Não tive cora- ra ele, num dia de chuva. Boa
eiro botasse fumaça para cima. gem de ir à sala para ver o manhã para plantar cana, se-
Era só terra e nada mais. mear feijão, fazer roçado. Ma-
meu avô estendido na cama.
A lua nos pegou nos Orató- Já estava vestido de casemira, nhã de agnacciro quebrando as
biqueiras de estrada correndo
rio. A casa do tio Zezé, na bei- com a roupa com que ia ao como um raio.
ra da estrada, não tinha mais inri e às eleições. Cheguei sem Vieram me dizer que eu não
frente. Viam-se os quartos, a coragem na porta. E o Povn devia acompanhar o enterro.
sala de jantar, as paredes de rodeava o seu corpo, gente de Não agüentaria. Quase que tive-
taipa, ruindo. Ali morava o pé no chão. ra uma coisa na sala de visita.
Zezé Cabeça de Comarca, aque- 0 capitão Costa do Pilar, nu- Podia morrer, mas iria.
le de quem meu avô contava ma cadeira biem defronte, dava O caixão saiu da casa-grande
tantas histórias. a sua última conversa com ele. na mão dos parentes. Tio Ju-
Já andávamos em terras do Voltei com medo. Nem o meu ca, tio Jóea, o primo Jorge e
Santa Rosa. Tínhamos léguas avô morto me vencia aquele eu. Lá fora entregamos aos ca-
e léguas a andar, mas o que terror, aquela covardia de mu- bras, para os seus ombros ro-
pisámos era dele, do meu avô lher. No alpendre, o povo con- bustos, Iam levando agora o
que morria. Ficaria rico com versava . Ouvi João Rouco sc senhor que lhes dera tantos gri-
a sua morte. E quando dei de lastimando: tos. Eram os filhos da puta, os
mim estava pensando nesta mi- Acabou-e tudo. ladrões que conduziam para a
séria. Corri da cabeça esta im E Li ca Calixto que nem de- cova o coronel Zé Paulino re-
dignidade. Fazer cálculos com sengada, chegou com os seus duzido a nada. Saíram na fren-
ele morto, de braços cruzados cravos. Trouxera lambem no te com ele.
e eu procurando as gavetas, re- casamento da tia Maria. O caixão dourado c preto en-
mexendo os baús, como um la- Vinha chegando gente, senho- cobria-se nas voltas da estrada
drão. Em que engenho ficaria? res de engenho do Itambé, de por detrás do mato verde. Bai-
O Santa Rosa, o Concórdia, o perto, o padre do Pilar, o cai- xava e subia nas ladeiras, como
Folguedo? Acabasse com aqui- xão da Paraíba. Vi nascer o um andor de santo. Mais de mil
lo, que era uma infamia. sol. Berrava o gado no cur- pessoas marchavam a passo mo-
Avistava-se de longe um ca- ral. Aquela hora e os mole- roso, Muitos choravam e por
valeiro desembestado. Chegou- ques não o haviam Içvado para onde passava o caixão, as mu-
se para nós. Era um portador o pasforeador. 0 pátio da casn- lheres dos moradores vinham
do ensenho, com um recado pa- grande coalhada de gente, de para a porta ver. Os meninos
ra o Cameleira. 0 velho estava cabras, velhos e novos; — os nús não Se importavam com a
morto. Morrçra ás quatro horas que o velho Zé Paulino criara água que Deus lhes dava. No
da tarde. aos gritos e trompaços. Maravalha pararam. Gente de
Os meus olhos se encheram Tio Juca me procurou para lá botou em cima do caixão
de lágrimas e os do primo Jor- tomar as providencias do en- uma coroa de rosas. Ouvia-se
ge também. . terro . O caixão seria carrega- de dentro da casa o choro das
— Acabou-se o melhor ho- primas.
mem da varzea, me disse ele. do pelos cabras até o cemitério Agora, não podia contar o
de S- Miguel. povo que acompanhava. Des-
E fomos andando, a passo Não queria pensar nisso.
lento. O primo Jorge me talan- ciam do Itaipú, do Riachão. tra-
Chorava. Fui ao quarto dele. (Conclui na pdgina 19)
do dele. Fora um parente ue
1
cm : ; 3 15 6' ! ' 10 11 12 13 14 15 16 17
Chegara de Alfenas o velho
Faria. Esperava-se um pai em
desespero e nos aparece um
homem calmo, de olhar manso, O PAI TRISTI
de voz suave, embora uma tris-
teza sombria se refletisse nas a casa liberta do pavor da po- Estivera mesmo na Polícia Cen
suas palavras. Quisera saber
lícia, pôde o velho Faria en- trai e lá não havia noticia al-
de tudo. e antes de qualquer
trar em contado com os restos guma do Campos.
providência procurou informa- do filho. Quis que êle ficas- Mais tarde tive que procurar
ções sòbre o paradeiro do cor-
se a sós, no quarto; e na sala o quarto para dormir. Euri-
po do filho. E quando soube
de jantar, em voz baixa, entra- dice me dera a impressão dc
que ainda estava no necrotério,
mos a conversar. D. Glójria um sofrimento que se disfarça
saiu para preparar-lhe um en-
não soubera nada sòbre o pa-. va. Não era possível que aque-
télrro .de gente de condição. radeiro do velho .Campos. 0 la sua paz, que aquela sua
Tive medo de acompanhá-lo;
chefe de seção do Ministério tranqüilidade fosse coisa na-*
mas pelo telefone me preveniu
da Justiça alarmara-se com a furai. Vi mais sofrimento em
que, à tarde, o filho estaria no. noticia da prisão do amigo. Noêmia, Vi lágrimas copiosas
cemitcAio de S. João Batista.
Queria que todos de casa sou-
bessem.
Não pretendo coutar o que
foi o enterro de Faria. Que- <uã
ro somente fixar a presença e
a dignidade de um pai em di-
ligência e cuidados pelo filho
perdido. Para todos nós a
morte do amigo fôra um gol-
pe terrível, para o pai a tra-
gédia não lhe alterara a con- yi u
!Ç ,-M
duta num mínimo.
De volta do enterro, encon-
tramos a casa do Calete com a
polícia à nossa espera. Um
comissário pretendia informa- &
ções de D. Glória. O velho f
Faria, com uma serenidade es-
pantosa, dirigiu-se à autorida-
de, com voz suave, para Iho
falar que êle estava ali para
tudo dizer. E enérgico, como-
se não agravasse, pedia ao de-
legado que não nos matasse-
que todos nós nada tínhamos;
que ver com o filho. A auto- r
J iSS
ridade enfureceu-se, gritou, a-
meaçou, enquanto o pai, imó-,
vel, não denotava o menor sus-
to :
— Senhor Delegado, a única
coisa que o senhor poda fa-
zer é matar-me. E isto não mm
me amedronta. Morto está o
meu filho, que era o que mais
me valia.
D. Glória, poném, atendeu
ao pedido do homem. E com
is PANORAMA
Dczeintwo de 1947
ções de tudo. Queria que lhe
contasse das relações do filho
com Euridice. Tive coragem
)E ALFENAS para fugir do que sabia. 0
velho se calara. E da minha
sença, mas èle falou-me. E a cama observava os seus movi-
em D. Glória, em D. Olegária. mentos. Levantou-se para apa-
Vi Euridice no cemitério, e os sua voz pareceu-me de um do-
ente à morte. Era ura fio de gar a luz do quarto, e na es-
seus olhos continuavam secos, curidão senti que èle não se
e a sua fisionomia continuava voz:
— Júlio, você me diga uma deitava. Apenas a tocha do
impassível como na noite ante- cigarro me dava a certeza de
rior. coisa; — o José linha aqui uma
moça com quem pretendia se que estava vivo. Simulei que
Não me viu o velho Faria dormia, tal qual como fazia nas
quando, devagar, cntiei no casar. Na última carta que
me escreveu só me falava nis- noites das visitas de Euridice.
quarto para dormir. Estava a ressonar alto. E a noite já
sentado na cama do filho, e to. Qual destas duas é ela?
Dei-lhe o nome de Euridice. ia adiantada quando comecei a
fumava. Procurei disfarçar o ouvir os rumores de um cora-
melhor possível a minha pre- Depois ele me pediu informa-
ção que se partia. Apurei os
ouvidos e escutei o choro bai-
xinho do pai destroçado. Aqui-
lo me arrebatou a alma. De
súbito lembrei-me que, pelas
minhas próprias mãos, imagi-
nara acabar com o amigo, o
chôro baixo continuava pela
noite a dentro, e sem poder me
conter, já sufocado por uma
angústia de condenado, levan-
tei-me da cama, corri para o
comutador, e a luz se fêz no
quarto. Vi então um quadro
de agonia,-; _ estava o velho
abraçado com um terno de Fa-
ria, e, estendido na cama, de
cabeça caida sobre o travessei-
ro, soluçava como uma crian-
ça. Não tive fôrça para me
conter e caí aos seus pês. Ei®
moveu o seu braço para aca-
riciar-me a cabeça, e assim fi-
cou por muito tempo como se
fosse eu um pedaço do filho
que ainda lhe restasse.
Assaltou-me a vontade de
confessar-lho tudo. Mas as
lágrimas me abafaram. Ouvi
depois que o velho falava.
1^5
^ y'K
Guignard, 1947 V A N O 11 A M A 17
Dezembro de 1947
10 11 12 13 14 15 16 17
O MESTRE JOSÉ' AMARO
— Bom dia, mestre Zé: O pintor Liauremtlno levantou- da estrada, ouvia o velho Vitorino
Era o pintor EaurentlUo .que se para tirar o chapéu, o mestre nos sons arrancos. A égua rudada
voltava do Santa llosa. José Amaro grunhln por entre
— Acabei os serviços ontem de dentes um bom-dla de raiva. Pa. mostrava os ossos, a sela, velha,
roída, a manta furada, os freios
tarde . Hol trabalho, multo O varam de falar. A manhã brilha- de corda.
O coronel vai dar festa de arrom- va por todos os lados. Chiava lá — Sou homem de respeito. Pas-
ba. Dizem que vem até governa- paraj dentro da cozinha o toicinho sei por ali e os filhos duma ca-
dor. Também, casa a última filha. na frigideira de barro . bra saíram para a estrada para
— Pintaram a casa. toda? — Bom, mestre Zé, vou andan- me insultar. Isso é tini desaforo.
— ífiido está um brinco. Está do. Sou homem, branco como o José
lá o mestre Rodolfo, botando água — é: o que lhe digo. sou Lou- Paulino. K meu primo. E estes
encimada para o banheiro, O Co- rentino. estas mãos que estão aqui canalhas
ronel José Paullno, quando gas- não cortam sola para aquele iio- vindo, seunão me largam. Está ou.
Baurentino? o Bula de
ta gasta mesmo. mem. Holanda anda de carruagem para
■ Tcnlio visito pasmar |mui|to
troço. Há lã dias, quando você tro—dia. Está direito, mestre, até ou- ver se arranja uma besta que case
com a filha dele. Não esteja pen-
passou por aqui. eu lhe dizia que sando litio sou um camumhembe,
o velho do Santa Rosa não conta Velho danado, foi |>eiisando o
comigo para coisa nenhuma. E pintor Daurerttliw), que natureza seu Baurentino .
não me arrependo. Você passa de cobra. Que é que tem ele com olhos A égua vasava água por um dos
por aqui Jpura contar gajamleza a vida dos outros? si se fala de e a hrida arrebentada en,-
da casa dele. Está muito enga- qualquer coisa ele tem sempre o terrava-ihe de boca a doiatro. O
nado, não me bota água. na boca.. que dizer. pintor quis despedir-se mas Vito-
rino queria falar mais. A cara lar.
— Nada, mestre Zé, o senhot Vinha nadando pela estrada, ga do velho, toda raspada, os ca.
desconfia de tudo. Eu sei que o juira o Pilar, e em direção con- belos brancos saindo por debaixo
sr. não vai com o Coronel, mas
não é |>ara chegar a este ponto. trária viu um sujeito a cavalo, em do chapéu de pano sujo, davam-
marcha
lí Ixim parar, seu Tjaurentlno, se o padre vagarosa. Pensou que fos. lhe um ar dc palhaço sem graça.
sou homem pobre, sou um oficiai tava de andarJosé João, que gos-
assim como se não
— Bôa viagem, capitão Vitori-
sem nada. Estou contente, não no, tenho que chegar cêdo cm
litesse pressa de chegar. Era Vi- casa.
me lastimo. Pode o sr. ir dizendo torino Papa Rapo, na sua égua — Diga a estes cachorros que
por aí a fora; — o mestre José Vudaida. Quis passar ipor foivr., o capitão Vitorino Carneiro da
Amaro não tem inveja de nin- pelo atalho, mas Vitorino deu logo Cunha é homem para o que der
guém. Quem tiver seu dfaheiro um grito. o vier.
que meta no rabo.
— Mestre, não vim aqui para — Está com medo dc que? E esporcon a égua com fúria.
brigar. — De nada, capitão Vitorino. O animal pulou de lado, quasl que
deitando por tesTa- o cavaIc'iro.
— Não estou brigando, homem — Vocês todos pensam que sou Vltorlpo, aprumar,ao-so gitltou;
do Deus. Isto não é briga. En- bicho. Sou homem para ser res- — Bando dc cachorros.
tão eu não posso falar a verda- peitado. Bm moleque escondido atrás
de? — Não estou dizendo o contrá- duma moita de cahrclra apareceu
— Está certo, mestre Zé, está rio. de repente na frente do animal
verto, o senhor mc desculpe. — Pode dizer capitão. Sou ca- para espantá-lo..
— Não tenho que desculpar pitão, como o Lula de Holaada é — Para Rabo! Papa Raiw)!
epísa. ncnibunta, So eu quisesse coronel. Não me faz favor.
estava em Goiana, bem rico de (FOGO MORTO — 2." edição
O pintor Eaurcntino, na beira — págs. 32-35)
meu. Riqueza de ninguém me
faz sofrer.
Houve um pequeno silêncio. O _
canário cantava na biqueira, com
todo o fôlego. E rugia na sola a
quloé do mestre José Amaro.
— Seu Eaurcmino, — foi ele di-
zendo, — um homem vale pelo
que é e não pelo que tem,. Você
esteve comendo na mesa do Coro-
nel José Paullno e veio para a
minha casa me meter ifciveja.
— O sr. está enganado, mestre
Zêi não sou homem para isto.
Não é a xuámeira vez que como
em mesa de rico.
— Não estou enganado não. Eu 4:y
não me engano. .
Estalou na lama da estrada um
cavalo esqui pado. Os dois olluivam
e passou num ruço) ligeiro o velho aj&í
José Paullno de chapéu de chile,
grande, de rebenque ua mão. O romancista José Lins do Rego em companhia do editor Roberto Costa
— Bom dia, falou ele, de longe. loto tirada por ocasiao do 11 Congresso Brasileiro de Escritores rca -
zado nesta capital, em outubro passado.
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OS AMORES DO MOLEQUE
O moleque Ricardo estava gara o retrato dela na parede, cutar. Amor de negro sadio,
amando outra vez. O amor de de péga-rapaz caindo pela tes- luxaria entupindo tudo, só dei-
Guiomar rebentara' aijora mais ta, de olhos quebrados. Isaura. xando lugar para ela escorre.''
sujo, mais violento. U amor de- O nome entrava-lhe pelos ouvi- livre c gostosa. Ricardo fugia
le era mesmo da terra, vivo, de dos com recordações antigas. de tudo para só viver daquilo,
carne, amor melado de luxaria. Cantava-se «(o engenho uma mo- de Isaura, da moleca que lhe
Engraçara-se de uma mulata da com uma mulher com aque- entregava o corpo por debaixo
mais clara do que ele* a quem le nome. Era uma coisa triste. da noite, na escuridão. Q amor
entregava pão de manhãsinha. Uma amante pedia ao apaixo- invadiu o negro todo. Lavava
as vasilhas pensando na namo
Esta não fugia como Guiomar, nado o coração da mãe dele.
rada. Noite de lua não prestava
não se encolhia arisca com me- E o filho arrancou para satisfa-
para o que eles queriam. Mãe
do de pegar na mão dele. A zer a mulher exigente. A Isau- Avelino mandou uma carta fa-
moleca gostava de homem que ra dele não era assim. Roa de- lando de doença, de dores que
soubesse fazer as coisas: — sair mais. Para que pensar em coi- andava sentindo pelo rdirpo.
de noite para os lugares escuros sas tristes? A Isaura dele só fa- Nem demorou nada com o pen-
por onde a luz do gaz não des- zia amar. Via-a no portão espe- samento nela. Só pensava, só
cobrisse segredos. A moleca rando o pãa. Pelo seu gosto fi- sentia, só desejava a moleca fa-
Isaura ensinava ao negro des- caria ali até de noite. Mas o lante. Os gemidos dos padeiros
confiado. 0 coração dele batia, baloeiro chamava. nem mais lhe alternavam o sonq
asustava-se todo ao pé do muro. — Vamos, seu Ricardo, está pesado. A família de Florèncio.
Isaura não queria saber de ne- as conversas do caixeiro, a D.
ficando tarde.
gro assustado. Queria negro Izabel morrendo, tudo para uma
páu paru toda obra. E com Na volta a moleca esperava, distancia de léguas. Isaura en-
pouco mais Ricardo sabia di por ele ainda. Sorria, arrega- chia o negro da cabeça aos pés.
tudo. Mas foi se pegando, se nhava a boca grande. Um riso (O MOLEQUE RICARDO _ 3.»
grudando a ela, que quando c uma bôea diferente do de edição — pags. 114 — 117)
abriu os olhos, não podia mais. Guiomar. Ã noite saia para os
Criou paixão, ficou besta peta passeios. O que mais queria Ri-
cardo? Fizera muito bem ter 0 ENTERRO DO MEU AVÔ
cabrocha. Andavam os dois pe- (Conclusão da página 15)
fugido do engenho. Por tá ter-
la linha do trem até chegarem minaria com o gálico das Zéfas balhadores de mãos abanando.
os esquisitos, em travessas sem O outro, acabara-se de vez. Não
Cajús lhe entrevando o corpo.
casas, com mangueiras velhus- mais bateria pelas suas portas,
Fizera mnto bem. Ali no Recife para saber de dias atrazados de
' cas pelos sítios. Não se via nin- era outro, gozando a vida. Os que serviços.
guém, somente a luz das casas ficaram por lá, o que seriam no Eles também morriam, os se-
aPredadas, espalhavg-se até a final de contas? Carreiro, desti- nhores. Mas estavam conster-
estrada. Os dois juntos se per- nados. Não choravam porque
lador. mestre de açúcar. Ele ouvissem os grandes chorando.
diam, andavam sem saber po'' era mais do que tudo isto junto, 0 velho era bom. Iria para o
onde, atrás dos escuros, dos re- Tinha dinheiro no fundo da ma- céu. Ursolino não. O que dava
cantos que fossem feitos para la, jbotina para calçar, gravata, nos negros, o diabo viera bus-
cá-Io.
eles se espojarem como bons cinema para ir. Podia lá se com- Com pouco mais subia-se a
animais. O amor para Ricardo parar com o povo do Santa Ro ladeira do cemitério. 0 mato
era bom demais. Porque diabo sa? podia lá querer voltar mais cobria as catacumbas e a enxada
Florèncio vivia pegado com dr. para aquelas bandas? 0 negro abria a cova em terra, mole,
Pestana, Francisco com viagens inchava de felicidade. O san- terra molhada de chuva, embe-
bida dágua.
para S. Paulo, seu Lucas com gue dele corria nas veias à De longe, esperava que cavas-
os santos dele? Todos eram uns vontade, o coração batia no sem os sete palmos. Não que-
bestas muito grandes. 1 odos se compasso certo. No mundo ria ver o fim. Mas tinha que
perdiam atôa, se desgraçavam. não podia haver um ho- ver. Tôdos os parentes ficaram,
com ele no último encontro.
Se eles tivessem uma Isaura, só mem que lhe batesse em alegria O padre fazia o sinal da cruz.
cuidariam dela. A negra eia O moleque andava babado de A chuva fina não cesara de vez.
falante. Falava como as bran- contentamento. Histórias de Flo- Ouvi o batuque de pás de pe-
rèncio, de Francisco, da pada- dreiro e a queda do caixão no
cas do Santa Rosa, usava sapa- fundo da terra.
tos de salto alto, lia o jornal. ria, de tudo mais ele se esque- Tinha plantado meu avô.
Um assombro para o moleque cia. Até as .cantigas trisfonhas
do seu Antonio não sabia es- (Obras de José Lins do Rego — 3
embeiçado. No seu quarto pre- BANGUft — págsi. 131-135).
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O ULTIMO ROMANCE DE IOSE' LINS DO REGO
OL1VIO MONTENEGRO
ÇONRAD não gostava que o megantes de vida do que os de- sis os romances de côr mesmo mais
chamasse "o poeta do mar", mais — com um fogo elétrico realista de José Lins do Rêgo.
e que a critica não tivesse olhos nas veias. Mias não! Quando o B' O que explica a maravilhosa
deslumbrados senão para o ho- leitor depois de um longo per- arte com que o autor ccnsegue
rizonte marítimo da sua obrla,. curso mo romance, já esquecido plasmar de repente numa imagem
E bem que tinha razão Con- de, EtlrjLidice, encontra Euridioe, deliciosamente poética atitudes e
rad. Nenhum romancüath, pode- é uma mulher comum que êle gestos de um temerário realismo.
ria se sentir lisongeado vendo encontra, sem nada de particu- A descrição por exemplo do re-
exaltar de todos os lados o que larmente profundo e forte no juvenescimento de Noêmla, a irmã
é apenas complementar da sua seu carater. E apenas com o do Eurídice e que não adoecera
obra de ficção, que ê o elemen- vago e inquletante mistério do senão dos pecados da carne, é de
to paisagístico, para s® deixiar seu sexo. A'® vezes a sua sen- um colorido admirável. E que va-
em segundo plano o seu elemen- sualidade respira à flôr da pele. le a pena transcrever: - Via de per-
to de maior elasticidade e for- Da mesma forma que Julhlnho; to o rejuvenescimento de Noêmia.
ça que é o homem êle mesmo. por mais que se comprima em O corpo sêco, á pele amarelecida
Entre nós um dos autores fundos exames de consciência, os olhos fundog ^s cabelos esti-
mais exaltados pelo caráter, e apesar de tôda a sua timidez, rados e velhos desabroohavam ou-
regional da sua obra, pelos par- >a sensualidade transborda -dãle tra vêz para a vida. Uma chuva
ticularismos de côr e de senti- por-todos os póros do corpo e de janeiro caira sôbre Noêmia, e
mento da paisagem e das figu- da alma. A carne nease-s per- tôda a sua carne rebentava como
ras dos seus romances é José sonagens é forte. O espírito é brotos de uma árvore .Os galhos
Eins do Rêgo. De muito se que ê fraco. reverdeciam, a selva corria pelo
•exaltar o que na obra de José Mas, Eurídice, esse t,lpo de caule, as raízes comiam as ri.
Lins há de vividamente pegado mulher, que não se pode colher quezas da terra. E a primeira flor
íl natureza e ao homem do nor- nem agarrar, de um contacto abriu joara o sol e a noite com
déste canavieiro, é como se os "fiou", esquiva para o leitor o seu cheiro e as suas côres. Noê-
seus romances já pente ncesBem tanto qua/nto foi ipara Jullnho, mia capitava pela primeira vêz.
menos ao domínio da ficção do o seu involuntário amante, aca- Ouvi bem a voz macia, a ponta da
que ao domínio da história. Co- ba insensivelmente com a mes- volúpia que vinha do samba mo-
mo se neles a inerte experiên- ma e inexplicável atração que le e triste. Ouvi bem as palavras
c|Ia documental se sobrepusesse exercia sôbre o herói do livro. que eram de amor derrotado;
à. da imaginação, e a matérlia O leitor, em verdade, não des- "As lágrimas rolaram da face da
unil\vea1s!alniente viva e humana cobre nela nada quem em atos, mulher".
do livro não dominasse a cõr gestos ou palavras vá exprimir
local. O dom de contar, de narrar, de
um caráter, vá especificar uma reproduzir tôda a história que
É possível que reproduzindo personalidade. Descobre, entre-
a natureza e o homem do nor- tanto, o que menos espera sob o da sendo de pura imaginação parece
ídéste; que em oontacto com nome de Eurídice: a mulher co- Josémais flagrante realidade ê em
Lins do Rêgo uma das suas
tudo o que acendeu os primei- mo ordinâriamente ela nasce, vi- melhores virtudes de romancista.
ros e misteriosos sonhos da sua ve e ama — com uma fidelidade
Infância e coloriu os primeiros canina aos impulsos primordiais aE tendência
que de certa maneira explica
autobiográfica que não
sentimentos da suh, adolescên- do seu sexo. ETurídice é como se poucos leitores
cia, o autor pareça imprimir representasse um símbolo. Todo Julgam descobrir
uma fôrça vital estranha e mais o seu sutil encanto vem das qua- em muitos dos <seus romances.
convulsiva á sua obra; que ve- lidades do sexo puramente. Não Mas o que há é história pura e
nha a impregná-la de um san- vem de nada que dependa do espí- simples! E ou o romance ê isto
gue mais penetrante, mais acre rito; vem da. própria natureza, co- mesmo, uma história, uma histó-
e mais vivo. Mas o que enten- mo uma qualidade simplesmente se ria humana ou não é nada. O que
de com essa coisa que se cha- biológica. Há um personagem do _ Qtter nesta história é que ela
ma "sentimento /romântico da livro, o velho Campos, que expli- ■ não veníha com o cheiro cadavé-
realidade" e faz a força de to- ca bem êsse sentido e alegre ci- rico do documento; que o seu tes-
do verdadeiro romancista» isto inismo: "Mulheres, meu filho, ve- temunho — porque todo o livro
não falta á arte de José Lins do nham de onde vierem, mas mu- como todo indivíduo precisa de
Rêgo. E', pelo contrário, o seu lheres". E' uma doutrina de gosto um testemunho .— não repouse
elemento sempre de maior sur- erótico e pagão mas que müito unicamente sôbre a observação es-
presa. tempo ocupou a imaginação de tritamente material dos fatos so-
EURÍDICE bastaria para pro- todos os gregos. E essa doutrina bre a lógica, mas antes de tudo
vá-lo. Mas# por que EURÍDICE? de tão sensual raiz bem que sôbre a sensibilidade e a imagi.
Por que êste nome de mulher poderia sacrificar ao romance os nação.
como um signo? A impressão é seus valores ideais, torná-lo de um A imaginação é a força por ex-
que vamos nos defrontar com realismo bestial, sem nenhumq celência dos principais romances
uma Individualidade original; significação pelo lado da literatu- de José Lins do Rêgo. Há muito
que vamos ter o estudo de um ra e da arte. Mas a verdade é que quem queira transferir essa fôrça
carater. E os autores, como Jo- êsses valores Ideais, ligados não para a memória mas é unia ilu-
sé Lins do Rêgo, de >um ardor apenas ao seintlmento da realida- são. Sempre as cenas mais im-
convulsivo, quando escrevem, de mais profundamente humana, pressionantes dos ptinciapis ro-
sempre que inventam caracte. como também â sensibilidade poé- mances de José Lins e que dei-
res, estes devem ser mais fu- tica penetram como uma catar-
(Conclui na pág. 22)
1
" #
cm : 2 3 5 6 7 8 10 11 12 13 14 15 16 17
NOTAS SOBRE JOSÉ' LINS DO REGO
PEDRO DANTAS
dade não c a boa medida do va- cc é narrativa. Pouco importa, que
Quando o sr. Tristão de Atal- lor literário. Mas no caso do nos- essa narrativa seja de fatos obje-
<le já na última. >a~e da sua so romance, a reação do publico tivos ou apenas dc estados c mo-
carreira do crítico sem comia o- parece ter acertado institi vãmente vimentos do nosso minado inte-
missos, ao efetuar o descolmmen. rior . Pouco importa, num ou nou-
com algumas razões profundas que
to do sr. José Américo do Almei- caberia á crítica desprender. tro caso, que se trate do mundo
da. langou o grito de -romancis- O assunto não é fácil de ser tra- realizado dos românticos, ou da-
ta do norte!" nada permitia su- tado em termos gorais. De autor quele outro, cada vez mais real,
por que o aviso devesse, antes, ser a autor deveriam variar os dados dos naturalistas e ainda dos mais
emitido no plural. O tempo se do problema. A todos, porém, li- ipie naturalistas coiitempo.âneos.
encarregou de mostrar que assim Pouco importará, até, que nos sin-
era; só no plural aquele gnto ad- gava uma deficiência comum, que
cada um procuraria suprir a, seu tamos transportados ao puro hna-
quiriria sentido histórico que í' i - modo, e que residia antes na té- gluário, como numa. das obras-
namente o justificasse: — mais do primas do século, o I.fi GRAND
que como realizuçiu) individua , a cnica do romance propriamente
dita do que nos prlneipios gerais MEAI'J/NES, de Alain-Foiirnicr.
BAGACEIRíV tenderia a situar-se No próprio imaginário que se con-
na nossa História literária como de estilística , Se nem a todos se
pode aplicar a fórmula "um estilo fessa, iiá uma realidade que somos
o preuúncio da floração que es- á procura de um assumto", i>o- forçado a acolher. Ninguém- ja-
jtava tiara vir. dcr-se.ia dizer, invertendo o títu- mais se lembrou de negar valida-
Não se creia num simples ferio, lo pirandelia.no, que eram. auto- de ás novelas de Poe, mesmo as
meno de influência social e lite- res á procura de personagens. Re- mais extraordinárias, nem ãs for-
rária — que seria aliás, muito me- almente, o que costumava faltar ao ças ocultas que, por vezes, assom-
nos literária que social; escrito- nosso romance era aquela força bram o drama , sbalíespcarcano
res como Raquel do Queiroz, de convicção, aquele poder espe- Onde começa o malestar é na rea-
Amando Fontes. José Uns do Re- lidade que não convence, ainda
go, Jorge Amado, Gracillano Ra- cial que desde o Inicio desarma a
nossa reslstênca c tios introduz do que feita de parcelas vivas. Ques-
mos, não se improvisam de um mo- tão de téoniea. e de perspectiva.
mento para outro. E as obras suce- golpe num mundo cuja realidade
os absorvo e que aceitamos sem Todos sabemos como pintava o
deram-se, denunciando o amadu- "douanier" Rmisseau o que extra-
recimento. a lenta preparação an- hesitação. Como diria Manuel
Bandeira, isso 6, "a iufânoia da ordiiMÍrios efeitos a suo técnica
terior. No centro e no sul o ro-
mance começou a encontrar seus arte", o pressuposto mesmo do ro- "ad boc" por vê/es lhe permitia.
mance, como gênero literário; mão Mas, de toda evidência., o processo
cultores, multo diferentes, sem du- métrico se aplicaria mal á repre-
vida, mas não menos babeis . E o obstante;, era o que nos faltava-
E cada um a substituir como pu- sentação de cdJícios, paisugenE
gênero Hastalon-se definitivamen- marinlins; — aqui uma transpo-
te na nossa vida literária, como desse a condição essencial: no
fundo percebia.se a luta do escri- sição se faz necessária, que é a
uma, de suas atividades normais, essência da pintura, enquanto est»
sem o caráter, que costumava te , tor com a -sua mensagem, que se
esforçava por humaulzar-sc e pas- se quer uma representação do
de fato esporádico, em geral de mu ido objetivo. f-i uma. (ranspo-
pouca importância para as letras sar a viver por si-
Não se dirá que os romancis- süção oorespondeiite, da vida,
e indiferente ao público. considerada quer cio plano da ação
Até então o romance era, evi- tas contemporâneos teciham re-
dentemente um problema nacio- solvido definitivamente a dificul- quer no das puras tendências e
nal Depois de Macedo e de Alen- dade, mas alguns por vezes a re- reações psíquicas, que o romanoe
car, de Bernardo Guimarães c de solveram e isso basta. Resolveu-a exige. E niCiguém diga que o co.
Taunay, os nossos escritores pei - o sr. Amando Fontes, nos OO- nhecimomto literário deva ser, a
deram, em grande parte, um dos RUMBAS, o sr. Graciliaiio Ra- respeito, menos exigente que o da
princípios, sobre os quais se cons mos no S. BERNARDO, a sra. simples visão.
truiu a arte do romance: -o sc- Raquel de Queirós, em grande Aquela é. pois, a primeira das
giedo de ii tcressar. Cln ncordo parte dos seus três livros, a sra. virtudes do sr. José Uns do Rê-
plenamente em que as mais altas Eúeia Miguel Pereira, ao apare- go, c na verdade, parccc-mc de.
realizações do gênero, não as de- cer-nos transfigurada, tio seu no- clslva. Desde as prlmeftras pági-
vemos a nenhum dos romancistas tai,lllsslmo AMANHECER. Rc- nas do MENINO DE ENGENHO
citados, mas a Aluizlo Azevedo, a soiveu.a. Instintivamente, como os a narrativa se apodera de nós,
Raul pompéla, principalmente românticos, o sr. João Uns do impondo-nos o seu ritmo. Em to-
Machado de Assiz. Isto nao m- Rêgo. nos seus livros que ficarão do o "ciclo da cana dc açúcar" o
pede que «^^^crhores como dos mais signiiicativos c ri- que é "ação" não deixa margem
cos deste momento literário. Mas, para discussões ociosas, uma vez
como ele a resolveu que se apresenta com a força dos
naturalistas — •IU,io_ . ' uza, Da. maneira mais simples, mais fatos consumados, Udcpcndentes
mingos Olimpio, Inglês et . fácil, mails direta: — não escre- do arbítrio do autor, que é como
r im Bar,e
Adolfo Caminha, ' ^ rOÍsa vendo sem ter alguma coisa que se apenas os tivesse recolhido. Por
se tivesse perdido alguma coisa editar. Isso. dito assim, com cla- isso mesmo, não se queira sujei-
que, tudo bem evaminado cn reza, não parece nada, dir-sc-ia tar ás regi-as lin hilua s da cons-
que assegurava a incessante po uma bobagem; entretanto, é fun- trução do romance e da composi-
polaridade dos românticos. ■ damental. Por definição, roman. ção das figuras uma. obra nascida
ignoro, também que a populan-
A N O R A M A 21
Dezembro do 19-11
cm
O OLTIMO ROMANCE DE JOSÉ LINS DO RÊGO José Lins do Rego
— Conclusão da pag, 24 —-
— CONCLUSÃO DA PAG. 20 —
o complexo libidinoso do seu pe- usada por José Lins do Rego,
xam uma sensação vertigiinosa seu proc.esso mnemônico, suas
da vida no espirito do leitor, queno personagem. Não dando ja-
nunca são as de um realismo mais o ar de especular sôbre a qualidades de "contador de his-
mais cru, e que parecem copia- teoria de Freud. Nada expondo ao tórias", enquanto outros obser-
das "d'aprés. nature", mas as leitor que não seja da mais con-
creta e viva experiência humana. vam que o traço característico
que a imaginação intensifica dra
màticamente. Estas é que sur- Assim, ao lado do sentimeinto in- do escritor não é a invenção
gem como uma realidiade ^tniais cestuoso que obscuramente inqui. no campo da fantasia, mas a
real do que as outras. Como tam- eta o herói do livro, desenvolve-se criação no campo da observa-
bém não são as lembranças ime- com uma força muitas vezes mala ção e da poetização da realida-
diatas do passado o que parece dominadora, o sentimento da boa
desdobrar em memórias o caráter proteção que lhe vem da irmã. de. Trata-se de um dos prosa-
dos seus romances; mas aquelas Como se íô-sse ela o seu anjo da dores de maior mobilidade^
lembranças feitas já carne, sangne, guarda, e em quem por vezes des-
cobria um aceno másculo na voz; força interior e capacidade de
nervos e que ficam inseparáveis
do seu espirito e do seu corpo. alguma coisa de menos femimil e narrativa da literatura posl-
XiOIDINHO e um dêsses romances mais irradiantemente masculino. modernista. Há evidente equi-
Com páginas de uma evocação Outras vêzes não; era uma visão líbrio entre o assunto e a rea-
admirável, e onde não se sabe apenas deliránte que êle tinha da
lização dos seus romances, ca-
ao certo onde o autor está recor- irmã, como1 a que vem descrita no
dando ou onde está criando. capítulo sôbre "O monstro", e des- bendo-uos, apenas, reconhecer
Nesse romance de agora, EU- crita em linguagem de uma pe- que em FOGO MORTO, seu dé-
RÍDICE, são dos melhores capí- netrante poesia, dessa romáintioa cimo romance, os seus "pode-
tulos os que se referem á infân. e explosiva poesia Com que não res de criação" se encontram'-
cia de Jullnho, quando êste per- raro José Lins do Rêgo elastece
sonagem começa a evocar o dra- musicalmente os valores verbais de fato, no apogeu. 0 tempo
ma todo da sua meninice. E dêste da sua linguagem. tem diluído alguns dos defeitos
drama a parte sem dúvida mais E so o romance EURÍDICE por de José Lins do Rego que, nu
intensa é a da vida febril e in- algumas das suas cenas pode pa- realidade, pertencem, mais à
queta de Julinho ao lado da irmã recer forte demais a um leitor
Izidora que êle adorava como a menos extrovertido, então seria o arte do romance, à composição»-
uma mãe s já ,a desejava surda- caso de dizer como Renan: "Mon em suma, á própria técnica dês-
mente como a uma amante. Em Dieu! peut-être ia litterature im- se gênero literário.
todas estas cenas revela-se o au- plique-t-elle un peu de peehê". (FORMA E EXPRESSÃO - ROMAN-
tor com um tato magnífico mar
cando de uns certos toms indecisos (Diário de Noticias, 09-11.947) CE BRASILEIRO - púgs. 348-350).
diretamente da vida e que, visi- dai; — é o estilo oral que atrai testável alcance social, sua obrai
velmente, o sr. José Lins do Hego e liga os episódios, que delineia avulfa na nossa literatura não ape-
não íem. mais do que nós, o po- os personagens, que dá unidade á nas por isso, mas antes pela for-
poder de alterar. Ele não é tan- obra o cm certo sentido a com- ma poética do conhecimento, pe-
to um verdadeiro romancista, mas põe, não como coisa que se escre- la qualidade do depoimento hu-
nritcs 11 in narrador, o recitador ve, mas como coisa que viveu. E' mano, não desvirtuado, que nos
admirável mente vivo de uma rea. ainda êsse estilo que peemite ao oferece. Seria indefensável que-
lidade que não lhe é possível senão recitador atingr, eomo tafitas vê- rer (íaiacUrnzii-tu por um ma-
transpor o revi vi ficar. zes acontece na sna obra, um pla- tiz pohtiqo: — leia é humana,
Essa conclusão, que não supo- no quase poético, uma interpreta- antes c acima de tudo. represen-
nho inevitável, ajusta-se perfeita ção que, no fundo, é lírica, da vi- tativa do meio em que se desen-
mente ás condições que o estudo da e do mundo das suas criaturas. volve, poderosa, e cheia de suges-
da forma pode fornecer. Tara al- A exposição de certos estados sub- tão, porque essencialmente e em
guns, inveterados homens de ga- jetivos, tão freqüentes e de tais todos os sentidos, é viva. Outras,
bitiete, essa forma ó a falta- do es- conseqüências na obra do sr. Lins qnc a, moda dita, poderão des-
tilo, seria antes o informe literá- do Rêgo. não é analítica, mas merecer e passar com o tempo-
rio, o gênero "mal escrito". Jnizo descritiva, e feito nos termos des- 1-bta não passara. exata monte
apressado, fruto de lameíntável se estilo oral, como que taquigra- porque as suas ligações com o
confusão. Por não ser literário, no fado pelo autor, muito mais pró- meio o o momento são grandes
sentido que hoje se empresta á ximo dos contadores de todos os dcmqis, fortes demais e ela não
palavra, o estido do sr. Uns do tempote que dos romancistaa-es.
critores dos nossos dias. Nesse sen- pretendo ser senão unia decorrên-
líêgo não deixa de existir; é, ao cia do transitório. Mas acontece
contrário, dos mais característicos, tido, aliás, dizem-ine que se tem
manifestado a eritirfii itfUtugne- que os valores que a. sl mesmos se
dos mais saborosos, que possuí-
mos. Apenas não é o estilo es- sa. Se realmente êsse ponto de proclamam eternos são sempre
crito a que estamos habituados, vista já tem sido sustentado em artificiais e só pela aceitação do
mas o dos recitadores orais, hau- Portugal, veja-se na coincidência transitório nos ó dado alcançar o
um argumento a mais. nosso momento de eternidade.
rido diretamente na fonte da lin-
guagem viva. E' isso, precisamen- Recitador do estilo oral, pois,
te, que lhe dita o ritmo <(;i narra- o sr. Lins do líêgo narra-nos o (Obras de José Lins do Rêgo —
tiva. Dir-se.ia, até, que a pró- que viu e o que sabe da vida do 1-2 -r- MENINO EB ENGENHO'
pria ação nasce, era grande parte, noroeste. IKwumanto Oe meoii- 0 DOIDINHO)
# llll
cm : 3 í-1 5 6 " 3 r 10 11 12 13 14 15 16 17
UM NORTISTA VISTO DA MONTANHA
ARTHUR VERSIANI VELLOSO
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JOSE' LINS DO REGO
BEZERRA DE FREITAS
José Lins do Rego é institivo. Uma das virtudes supremas debate em busca de claridades
O que o torna diferente dos sim- da obra de José Lins do Rego solares.
ples narradores de fatos é a consiste exatamente na segu- Haveria um longo estudo a
sua faculdade mnemonica, é a rança com que êle soubr reco- realizar sôbre os processos de
sua magnífica vitalidade, é a lher e transportar para o ro- composição de José Lins do
sua energia criadora. Tanto em mance aquela numerosa socie- Rego, sua técnica, suas tendên-
BANGÜÊ como em USINA, em dade de chefes políticos, senho- cias, seu temperamento, por-
RIACHO DOCE como em PU- res de engenho, cangaceiros, que não se trata de um escritor
REZA, o autor nos transmite velhas bruxas, rezadeiras, pes- dominado por formulas ou arti-
expressivos documentos sociais, cadores, caiçáras. moleques, pe- fícios literários, mas um autên-
documentos que encerram his- quenos operários, moças sequio- tico criador de tipos, de tipos
tórias de heróis desconhecidos, sas de aventuras. 0 escritor do curiosos, reais, surpreendentes,
de almas puras, de seres toca- nordeste brasileiro, voltando-se definitivamente integrados no
dos de irresistível substância para o homem ou para a terra, romance brasileiro. Os sofri-
poética. Não se trata de um fic- para o mundo da casa-grande mentos populares, as crendices
cionista p.retencioso, desses que Ou para os retirantes agoniados, da gente humilde, suas dores,
se valem mais da imaginação para os elementos da natureza
suas alegrias, tudo isso a aguda
do que da realidade para movi- ou para os famintos em fuga. sensibilidade de José Lins do
mentar os tipos do romance. para a mata virgem ou para a Rego nos revela em páginas da
A super-estrutura das suas per- gente do sertão, deixa entrever
mais alta emoção, e não have-
sonagens provém do fundo da a sua constante psicologia — rá reservas em considerá-lo o
memória, das recordações da a unidade literária. retratista sem contraste dos pá-
infância, da gente dos cana- Estamos diante de um roman- rias da gleba, dos escravos dos
viais e do nordeste, dos canta- cista que construiu, a sua obra engenhos, escala de necessida-
dores de feira, das horas des- sem apelar para o verbalismo des que o movimento perene
cuidadas e longas da província, puro, sem jogos de palavras, da vida marca até à extrema
dos grandes momentos da exis- preferindo reconstruir o meio miséria. Sem dúvida, a obra
tência no sertão obscuro e trá- social do nordeste com os re- literária de José Lins do Rego,
gico. cursos decisivos da sua opulen- não obstante as múltiplas res-
ta memória. USINA marca uma trições que se lhe têm feito,
Entre os romances de Jose fase da evolução da economia
Lins do Rego — alguns de cará- encerra muito da nossa subs-
rural, a luta entre dois sistemas
ter autobiográfico — BANGÜÊ tância social e econômica. O
de produção, o ciclo derradei-
pertence ao primeiro plano. cangaço, a sêca, o fanatismo, o
ro do engenho. PUREZA emol-
Mas, tanto neste livro como em latifúndio, o nordeste pastoril
dura-se de sugestivas recorda-
PUREZA, em PEDRA BONITA constituíam, até há pouco, me-
ções. MENINO DE ENGENHO ros enfeites em nossos roman-
c em RIACHO DOCE sentimos
vale pela doçura das recorda-
a mesma força primitiva, a mes- ces, orientação de que o autor
ções. O MOLEQUE RICARDO do ciclo da cana de açíúcar"
ma tristeza da vida, um turbi-
entremostíra a faculdade 'de
Ihão de sensações e reflexões, haveria de se afastar para nos
onde desfilam tipos desiguais narrativa do autor, e, assim co-
mo não esquecemos a crônica transmitir, em grande estilo, a
como Maria Alice, Totonia, Ze paisagem social de uma região
Marreira, Padre Amancio, o ve- viva das queimadas e das en-
chentes também do nosso espi- sempre cheia de angústias, de
lho José Paulino, Carlos de Me-
rito não se apagará o quadro paixões e de esperanças.
lo, o esplêndido Vitorino Car-
neiro da Cunha. esplêndido das crianças que Seus romances resumem a
Logarejos, vilas e cidadelas rodeavam a casa-grande. DOI- existência agitada dos peque-
marcam a presença dessa gente DINHO revela o desencanto da nos produtores de açúcar. A
esquecida da grande civiliza- infância, o amargor do inter- desordem aparente da sua obra
ção, e saltamos de. Itabaiana nato, a ânsia profunda de li- tem sido assinalada pelos críti-
■para Campina Grande, do enge- berdade gerada por um regime cos mais exigentes, que conde-
nho Santa Rosa para a serra de humilhações e tristezas em nam a "técnica da repetição'
do Ariticum, que a alma do adolescente se
(Conclui na pag. 2Í)
24 — F A X O R A M A Dezemtüco de J»4Í
10 11 12 13 14 15 16 17
II
II
RIACHO DOCE
Oflário de Andrade
1
cm : 3 í-1 5 6 " 3 ' 10 11 12 13 14 15 16 17
José Lins do Rego se insurgiu
contra o valor "documeruo ' oue
6 atribudo aos, seus romances. José Lins do Rego
Tenho a impressão de que, mo- RAUL LIMA
mentane ara ente, o romancista
não refletiu bastante sobre o Com o aparecimento de EURÍ- 'gjular colocação rta galerta da
quf, significa arte como trans- DICE, um dos verdadeiros suces- melhor ficção que conta na lite-
po-iqão da vida, (nem sobre a sos de livraria já verificados nes- ratura brasileira.
largTieza de conceito da palavra te país, tanto mais indicativo da Naquelas obras cujo cenário é
'■documento". Está claro que extensa e profunda popularidade a zona canavieira do nordeste on-
de José Lins do Rego quanto é de o romancista viveu sua infân-
Lins do Rego faz, antes de mais sabido que os tempos se torna-
nrubi, arte, como ele 'mesmo cia, não é sómente grande e for-
ram sériamente bicudos para o te a narrativa do que ocorre com
proclamou. E da milhor arte. negócio de livros, ocorre o lança-
Assim sendo, os seus livros não os seres vivos, mas também Ihá
mento da quinta edição de ME. uma participação saliente da na-
são obras ciontiflcas de lantro- NINO DE ENGENHO e DOIDI-
pogeografia, tal como esta é con- tureza e das coisas, cuja presen-
NHO num só volume. ça é valorizada em Ipinceladas
cebida! contemporâneamente, em- São os dois primeiros do cria- vigorosas sublinhando os fatos e
bora, muitas vezes o romancista dor de Vitorino Carneiro da Cunha as reações íntimas. Em determi-
po-.-a servir, pm caracterizar e d© certas personagens de sin-
seus ambientes, de fatos e figu- nado momento, uèn arbusto qual-
ras üs vezes até do documento Em RIACHO DOCE Lins do quer, apresentado com sabedoria
Rego nos dá a sua visão possan- e senso estético absoltteumente
mais estritamente iconográfico expontâneo e instintivo (expon
e citdtífico. Por que o roman- te dos desequilíbrios sociais e dos
dramas humanos individuais e taneidade e instino que os críticos
cista chamou os seus persona- mostram predominar na obra de
gens sitecos de Edna ou Tana- coletivos, provocados pelo pro- ■José Lins do Rêgo) dá uma con-
kaoca? E' a tal e documentalfs- blema do petróleo em Alagoas.
Tudo decorre deste trágico pro- tribuição de extraordinária beleza
tima "cor local" que fez Lins io e fôrça â história.
Rego nos dar uma Suécia cau- blema da nossa vida contempo- A nova edição de MENINO
telosa, sem grande interesse co- rânea. As marés sucessivas de DE ENGENHO, fiaz necordar o
mo Suécia, mas não menos plau- entusiasmo, de desapego ás tradi- •aparecimento dêsse livro, há quin-
sível que o México de Aldous ções provocadas pelo engôdo da ze anos, e o autor que habitava
Huxley, que no entanto esteve riqueza e das desconfianças su- então em Maceió, grandes costele-
no1 México. O romance não jn- persticiosas e cóleras nascidas das tas negras e o estouvamento que é
d . como permanência do seu demlusões çaflMtda mansa terra a sua característica mais visada.
conceito, fiígir á côr local, ao va- de pescadores são descrições de Aliás, não têm sido justos os
lor de qualquer forma documen- psicologia coletiva das mais vivas perfiladores e biógrafos, de José
tal. Porque, de todas as mani- e reais que o romancista já fez. Lins, acentuando.lhe os hábitos
festações artísticas da licção, 6 A psicologia de Edna, a fraqueza d© acordar e dormir cedo, as duas
a que mais se aprjuxima, mais superclvllizada do engenheiro sue- grandes manias — futebol e doen-
se utiliza necessariamente da jn- co, a mãe Aninha que é a milhor ça — as maneiras desbragadas ou
, teligemcia consciente e légic?. análise de psicologia supersticio- molecagens, e esquecendo v'm
Apenas, por ser arte, tem de ser sa já feita pelo romancista, são atributo que, entretanto, êle pos-
também necessariaimen'a, uma todos seres da vida empolgante.- sui bem pronunciado e que não de-
transposição |da vida, uma sín- De Nô se dirá a mesma coisa, ve ser ressaltado apenas, conven-
tese nova da vida (e daí o seu talvez a figura (de mestiço, ou cionalmente post-mortem c na3
valor crítico), por mais analíti- milhor, talvez a figura popular senhoras feias. José Lins é um su-
co que seja. Lawrence não po- mais delicada, mais impnessio- jeito bom, um sentimental, um
deria nunca fazer, dos seuu jei- nantemente exposta em tõdas as coração de grande receptividade
sonagens, tapuios araldoniccs, incongruências e males de sua con para conhecer e sentir os males
está claro. E o romance, por dição, da nossa literatura. Não "alheios e capacidade de interes-
será mais humana mais .profun- sar-se pelas conquistas e aspira,
mais arte que seja e ded.ireres- da que a do moleque Ricardo, ções dos amigos.
tado imediatamente, ê se.npre mas é de uma delicadeza incom- A desgraça dos intelectuais po-
um valor crítico, um va^or "do- parável. bres e a indiferença dos confra-
cumentai. E mesmo quanto vma E páginas como a descrição dos des ricos. O poeta milionário tem
exclusiva análise de almas; co- primeiros tempos de Edna no Ria- muito prazer em conlhecer o jo-
mo em Proust, ainda mesmo as- cho Doce (que linguagem saboro- vem escritor que lhe é a-presenta-
sim, êle persevera documental sa, que imagens qüe mornidão 'do, apreoia_Ihe ■ Imensamente ios
Como sfntose nova (e por isso acaricfamte de dizer!...) ous ca- contos, os artigos, as observações
transposição obrigatoriamente pítulos como o estouro da mãe literárias e estéticas, oferece-Ih©
crítica) de uma sociedade situa- Aninha, em que a maldição é um livro com amável dedicatória.,
da dentro do tempo. Nem mes- criada com uma intensidade trá- recita-lhe dois ou três poemas
mo ag psicologias sfinteseu, os gica maravilhosa, são verdadeira- inéditos. Mas não é capáz de mo-
"horois" psicológicos de ordem mente passos geniais. A meu ver, ver uma palha para assegurar ao
critica, destacâveis do tempo momentos cies mais elevados da moço talentoso nem o almôço do
ihistorioo, ,tais cornlo um Otelo ficção americana. dia seguinte.
ou um Sancho, escapam a essa "(Obras Completas de Mário de Objetarão que «linguem pode
fatalidade documental de ordem Andrade — XX — O EMPALHA- garantir que José Lins também
emlnentemeinte critica, como do- DOR< DE PASSARINHO — págs não seria assim, se fôsse rico. Mas
ciímentos humanos que são. 119-122) .
(Conclui na pag. 29)
5 — PANORAMA
Dozomhtro dc 1947
cm i 14
Conselho Fiscal da Associação
Brasileira de Escritores;
panorama literário Não tivesse ocorrido, no ple-
nário do H Congresso Brasilei-
desse interessante divulgador ro de Escritores o incidente da
livros novos que é Hildebrando de Lima. moção política do sr. Aires da
a)Oo——• Mata Machado, e eu não teria,
Vário Sete é u™ d08 escritc naquela ocasião, reassumido a
res mais interessantes de sua A Ipê lançou ultimamente
geração. Um grande vulto da mais um livro da sra, Lidia presidência da Associação, e do
Congresso. Horas antes, ao reu-
literatura nordestina. Estudioso Besouchet, conhecida escritora nir-se a Comissão de Direito
do nosso passado, cronista iu gancha, que mantém em Buenos Autoral, tive a surpresa de en-
teligente do velho Recite, autor Aires um escritório de propa- contrar em aberta hostilidade
de romances consagrados, como ganda do Brasil, instituido pelo ao Projeto de Lei de Direito
SENHORA DO ENGENHO, Ma- Estado Novo. Trata-se de O Autoral, que a ABDTÍ apresenta-
rio Sete nos apresenta agora um MESTIÇO, novela empolgante, ra à Gamara dos Deputados, al-
novo livro que e um r ' que tem como personagem cen- guns dos que, como nossos com-
vo dos usos e costumes dos ho tral a figura do um mestiço, ti- panheiros de diretoria e cola-
mens e imagens dos velhos tem- po complexo que "carrega o boradores. tinham a obrigação
pos na capital pernambucana. lastro da raça branca e negra". de defendê-lo pelo menos en-
ARRUAR é o titulo desse cun quanto dessa diretoria fizessem
So trabalho, magmfieamen TRADUÇÕES parte. Um mês antes do II Con-
bem lançado pela Casa do E gresso, a diretoria da ABDE
tudante do Brasil, com desenhos Eis o discutido livro de Elliol reafirmou em documento publi-
o vinhetas dos conhecidos ar Roosevelt, que vem empolgan- co, o seu apôio aos princípios
tistas pernambucanos Perci Lau do a opinião pública de todos em que assenta o 1 proieto. e
c l.uis Jardim, além de várias os paises. COMO MEU PAI OS protestou contra o substitutivo
■fotografias e fac-símiles da ep VIA encerra depoimentos da apresentado pelo sr. deputado
ca. niaior importância e oportuni- Jorge Amado, porque feria de
0O0 dade em torno de fatos e de ho- frente a moderna doutrina an-
mens que tiveram relevo na se- toralista os interêsses da ABDE
A Liv. José Olímpio ac.abaal de gunda guerra mundial. Uma e de seus membros. Para sur-
,™ç„- um novo '^ ro- edição Ipê em tradução de Sil- presa minha, na Comissão de
dio Jurandir — MAKaju, via Mendes Cajado, já em 2." Direito Autoria] do It Congres-
mance cuja açao se des edição. so, assisti a inopinada mudan-
na grande ilha. da ^Trln- oOo ça de opinião do nosso delegado'
nica, característica como o ce e diretor-tesoureiro, sr. Floria-
A Liv. José Olímpio Editora no Gonçalves, que. liderando
tro pastoril mais vasto da lançou um livro momenloso so-
gião norte e ^^^ b^racha, ontro.s representantes, muitos
bre a reprodução dos seres. dos quais ignoravam conipleta-
S oíâmicn o ntuar Trata-se da obra de Gcorga W. mente a matéria, pretendeu des-
Comer _ OS MISTÉRIOS DA truir o trabalho em torno do
mente {i.iirando entre .. areg REPRODUÇÃO, magnificamen- projeto,
<!e petroleo do Brasil 0 rmnan para em seu lugar pres-
te traduzida por Cláudio da tigiar o infeliz substitutivo.
ce fixa aspectos ainda nao Araújo Lima. Tanto mais estranhavel era essa
piorados, dramas obscenos oOo atitude quanto o diretor-tesou-
campos imensos ® jq, reiro havia sido releilo precisa-
gens. A vida social de MA - Horace Mc Coy é um dos au-
| narrada nesse livro com pio tores mais discutidos da litera- mente para prosseguir conosco
tura americana. Brusco, rude, a luta a fim de qn- o projeto
funda emoção. se transformasse cm lei.
indomável, agressivo, áspero,
OQO ele próprio é uma personagem Diante do que eu presencia-
dos seus dramas violentos. A va, eníreguei, ao proprio sr-
Apareceu o livro d0 Poe^? Floriano Gonçalves, na mesma
Liv do Gíobo acaba dc lançai
sua novela MAS NÃO SE MATA sessão da Comissão, a minha
CAVALO?, considerada como a renúncia, que os acontecimen-
■MANINO DE LUTO. mais importante das obras de tos supervenientes com a mo-
OQO Mc Coy. A tradução é de Erico ção política do sr- Mata Macha-
Veríssimo. do impediram se tornasse ime-
A Com^^^Sr 4Í oOo—— diata porque preferi evitar um
cional acaba Hildebiran-
novo incidente no Congresso,
1 «cioso livro W mUNT)0,
novidades literárias Mas desde logo estabeleci que,
do de Lima — sim. O escritor Guilherme Figuei- encerrado o Congresso, recebi-
redo presidente da Associação do o credito do Governo rela-
Brasileira de Escritores secção tivo ao mesmo, e satisfeitos os
do Distrito Federal, endereçou compromissos assumidos pela
acessíveis ao espin " mf ^^ aos seus companheiros de dire-, ABDE para a sua promoção, eu
cujos livros, como NOSSO BJA toria a seguinte carta: nada mais tinha a fazer dentro
SIL, por exemplo, sao Rio de Janeiro, 5 de dezem- da diretoria, que dera à Asso-
e conhecidos era todo o tem_ bro de 1947 — Prezados com- ciação um rumo que eu consi-
torio brasileiro. NOSSO . - panheiros da DIireto.ua e do derava divergente daquilo que
DO constitue mais uma vitoria
P A X O R A M A —
Dezembro de 191'
cm 1 10 11 12 13 14 15 16 17
entendia e entendo ser o que filosóficas ou religiosas. Mas REFLEXÕES SôBRE A RE-
deve seguir uma entidade de se nos inclinamos a uma posi- LATIVIDADE é o titulo do li-
defesa dos direitos fundamen- ção política que exclua tais ou vro que o prof. Carlos Campos,
tais e interesses dos escritores, quais escritores, não será lici- da Universidade de Minas Ge-
na forma do artigo primeiro de to nos arrogarmos o direito de rais, lançará brevemente numa
seus estatutos. legislar sobre a proteção de edição José Olímpio.
Acresce que, há muito sentia suas obras ou fiscalizá-las. Se ——0O0
que alguns dos nossos compa- a ABDE é uma entidade de defe-
nheiros de diretoria se interes- sa profissional, permaneço den- A Liv. do Globo lançará ain-
savam mais em dar à ABDE tro dela para que defenda os da este mês o 2." volume da
uma finalidade essencialmente meus interesses profissionais; se grande edição brasileira da CO-
política do que um caráter de é uma entidade política, perma- MEDIA HUMANA, dirigida por
proteção à pesosa do escritor, à neço dentro dela porque con- Paulo Rónai, contendo amplo
sua ohra, e de fiscalização dos cordo com os rumos democrá- material ilustrativo dedicado
proventos devidos por ela. Se ticos que se traça, e assim farei inteiramente às caricaturas que
em muitas ocasiões protestamos enquanto assim concordar, mas de Balzac fizeram os artistas
justamente contra os atentados recuso-me a presidi-la na ilu- da época.
à pessoa do escritor e ao seu são de poder empregar os meus 0O0
pensamento, na defesa demo- humildes esforços no amparo
crática de sua atuação indivi- à profissão do escritor. Comemora-se este mês o cen-
dual, cm outros fomos erronea- Por estar certo de que é es- tenário do aparecimento da fa-
mente solicitados por manifes- te segundo caminho que deseja mosa obra de Emily Bronte —
tações que não escondiam atrás seguir a maioria dos ilustres WURTHERING HEIGHTS, as-
de si interesses visivelmente membros da diretoria e do Con. sim como o centenário da mor-
partidários. Contra esta segun- selho Fiscal da ABDE, renovo ite da autora. Essa obra univer-
da atitude sempre me insurgi, e a minha declaração de que re- salmente admirada, como um
me insurjo agora, quando é sub- nuncio ao cargo de seu presi- livro de viva atualidade, apa-
metido à diretoria um protesto dente, e agradeço aos associados receu pela primeira vez, no
contra a cassação dos mandatos que me honraram com o apoio Brasil, em outubro de 1938,
de parlamentares. e estimulo as iniciativas que to- por sugestão de Oscar Mendes,
mei nos quase dois anos de mi- que a traduziu mesmo antes de
Quero deixar bem claro que nha gestão. haver encontrado editor. A
sou radicalmente contrario à primeira edição é da Liv. do
cassação dos mandatos, violên- Muito atenciosamente. a.) Globo. Recentemente a Liv.
cia que reputo inútil e ostensiva Guilherme Figueiredo, José Olímpio lançou a obra pu-
aos meus brios democráticos PS — Já se achava escrita ma tradução de Raquel de Quei-
de cidadão e escritor. Entendo esta carta quando deparei, nos roz.
que os escritores, como todos jornais de hoje, dia 6, com a oOo
os cidadãos democratas, devem publicação do "protesto" a que
protestar contra êsse crime Dois livros de Aires da Mata
ela se refere, assinado pela "Di-
contra a Constituição brasilei- retoria" da ABDE, sem menção Machado Filho incluídos na li-
ra. Mas entendo, também, que dos nomes dos diretores que teratura infantil; — HJSTóRIA
um tal protesto não cabe à o aprovaram. Creio que teria DE CASTRO ALVES PARA
ABDE porque apenas virá im- sido mais elegante, para comi- CRIANÇAS e TTRADENTES,
primir a Asociação uma fina- go e para com o meu amigo dr. HERÓI HUMANO. Dada a enor-
lidade politica. diversa daque- Rodrigo Otávio Filho, se os sig- me projeção do ilustre autor
la para a qual foi fundada, e mineiro no cenário das letras
natários do protesto, srs. As- nacionais é de se esperar o
com a qual não concordarão trogildo Pereira, Floriano Gon-
os associados interessados em maior êxito para os seus novos
çalves e Alina Paim, ali tives- trabalhos, que serão lançados
que ela seja eminentemente sem aposto seus nomes. G.F."
profisáíonail. )É certo que os por estes dias.
Congressos de Escritores assu- ——0O0 oOo
mem posição de ordem politi- Vai aparecer em francês o Logo após a posição asumi"
ca; mas tal posição, no meu en- livro de Josué de Castro — da pelo sr. Guilherme Figueire-
tender, pertence à assembléia GEOGRAFIA DA FOME. do, renunciando à presidên-
soberana do Congresso, que cia da Associação Brasileira de
reúne escritores filiados ou não 0O0——. Escritores (secção do Distrito
â ABDE. Gilberto Freyre, que se en- Federal), em sinal de protesto
Se, pelo projeto que tivemos contra no Recife há alguns me- contra a atitude comunista nas
a honra de encaminhar ao Par- ses, õnde está ultimando diver- deliberações daquela entidade
lamento, pretendemos tornar- sos trabalhos, já tem um novo profissional, o sr. Rodrigo Otá-
nos um órgão fiscal de Direitos livro no prelo. Intitula-se IN- vio Filho ficou inteiramente so-
Autorais dos escritores brasi- GLESES NO BRASIL (aspectos lidário com o seu companhei-
leiros, sejam quasi forem as da influência britânica sobre a ro de diretoria, renunciando ao
suas convicções políticas, filo- vida, a paisagem e a cultura do cargo de vice-presidente da
sóficas ou religiosas, não deve- Brasil). Este estudo do eminen- ABDE. A renuncia do ilustre
mos, de modo algum, situar a te sociologo patrício será prefa- acadêmico teve larga repercus-
posição da Associação de, ma- ciado pelo historiador Otávio são. Eis a carta do sr. Rodrigo
neira a que dentro dela não Tarquinio de Souza e aparece- Otávio Filho aos seus compa- j
possam permanecer êstes ou rá na "Coleção Documentos nheiros de ABDE:
aqueles escritores, pouco impor- Brasileiros" da Liv. José Olím- "Rio de Janeiro, 8 de dezem-
tando suas convicções políticas, pio Editora. bro de 1947. — limos. srs. di-
P
cm i 10 11 12 13 14 15 16 17
Od novoé
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A MÊDALHA
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