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BRASÍLIA/DF
2005.
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
E TRADUÇÃO
MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA
_________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Brasília/DF
2005
2
Silva, Rosângela Elias da
Contribuições da abordagem comunicativa e da
tradução para o ensino de inglês técnico:
uma nova proposta/
Rosângela Elias da Silva – Brasília, 2005.
123p.
3
ROSÂNGELA ELIAS DA SILVA
Brasília/DF
2005.
4
CONTRIBUIÇÕES DA ABORDAGEM COMUNICATIVA E DA TRADUÇÃO PARA
O ENSINO DE INGLÊS TÉCNICO: UMA NOVA PROPOSTA
5
A Deus, a minha mãezinha e ao meu filho Victor,
com muito amor.
6
AGRADECIMENTOS
À Professora Aline Pessôa que tanto me apoiou e deu-me suporte nas pesquisas
realizadas.
Ao meu filho amado Victor Ulisses, especialmente por entender minha ausência
nos momentos de estudo. E claro, por todo amor que tem me dedicado.
7
SILVA, Rosângela Elias da. Contribuições da abordagem comunicativa e da tradução para o
ensino de inglês técnico: uma nova proposta. 2005. Dissertação (Mestrado em Lingüística
Aplicada) – Universidade de Brasília.
RESUMO
8
SILVA, Rosângela Elias da. Contributions of the communicative approach and translation to
the technical English teaching: a new proposal. 2005. Study of Master Degree in Applied
Linguistics – University of Brasilia.
ABSTRACT
The main objective of this study is to ascertain the validity of an eclectic ESP teaching
approach which combines technical English, the communicative approach and translation.
This study examines technical English teaching in two private colleges in Brasilia (Brazil).
The data were collected by means of observation, teaching diary, interview and questionnaires
applied in different classes. The results indicate that a dynamic technical English class based
on principles of the communicative approach, on the application of the reading strategies and
on the use of translation activities provides effective foreign language learning.
9
SUMÁRIO
Agradecimentos
Sumário
Lista de gráficos
Lista de figuras
Lista de quadros
Lista de abreviaturas
Resumo
Abstract
1. INTRODUÇÃO 15
1.1. Descrição 15
1.2. Pergunta 16
1.3. Estrutura da dissertação 16
1.4. Previsão de resultado 17
2. CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18
2.1. A leitura e o inglês instrumental 18
2.1.1. Breve histórico da leitura 19
2.1.2. O inglês instrumental 20
2.1.2.1.Estratégias de leitura 30
2.1.2.2.Estratégias de aprendizagem 32
2.2. A abordagem comunicativa 34
2.2.1. Características de uma aula baseada em abordagem comunicativa 36
2.2.2. Princípios da abordagem comunicativa 38
2.2.2.1.Objetivo do professor 38
2.2.2.2.Papel do professor 38
2.2.2.3.Papel do aluno 40
2.2.2.4.Características do processo ensino-aprendizagem 41
2.2.2.5.Natureza da interação professor-aluno/aluno-aluno 42
2.2.2.6.Os Sentimentos dos alunos 42
2.2.2.7.Conceito de língua e de cultura 42
2.2.2.8.Áreas e habilidades da linguagem 42
2.2.2.9.Papel da língua nativa do aluno 43
2.2.2.10. Avaliação 43
10
2.2.2.11. Tratamento do erro 43
2.2.3. Técnicas e materiais 44
2.2.3.1.Atividades comunicativas funcionais 44
2.2.3.2.Atividades de interação social 44
2.2.3.3.O papel do material instrucional 45
2.2.3.4.Atividades comunicativas 45
2.3. Tradução 46
2.3.1. Tradução como comunicação 49
2.3.2. Como a tradução funciona 50
2.3.3. O declínio da tradução como componente de ensino 55
2.3.4. Benefícios da tradução na aprendizagem de língua estrangeira 57
3. CAPÍTULO II – METODOLOGIA DA PESQUISA 62
3.1. Ambientação 62
3.2. Instrumentos e procedimentos de coleta de dados 63
3.3. Tipo de pesquisa 66
3.4. Descrição dos momentos 68
3.4.1. Primeiro momento 69
3.4.2. Segundo momento 70
4. CAPÍTULO III – ANÁLISE DOS DADOS 71
4.1. Primeiro momento – fase exploratória 71
4.2. Segundo momento 81
4.2.1. Primeiro procedimento 81
4.2.2. Segundo procedimento 82
4.2.3. Terceiro procedimento 87
4.3. Triangulação dos dados 93
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 96
5.1. Nova abordagem: Atividades práticas de ensino 96
5.2. Sugestões para o ensino com a triangulação inglês técnico –
tradução – abordagem comunicativa 97
5.3. Conclusão 98
5.4. Limitações da pesquisa 100
5.5. Caminhos a explorar 101
6. BIBLIOGRAFIA 102
6.1. Referências bibliográficas 102
11
6.2. Outras referências 109
8. ANEXOS 111
Anexo I- Questionário para pesquisa exploratória 111
Anexo II- Questionário para os possíveis sujeitos 113
Anexo III- Questionário aplicado às turmas 115
Anexo IV- Roteiro para entrevista semi-estruturada 116
Anexo V- Ficha de observação de aula 117
Anexo VI- Diário escrito pela professora observada 120
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1- IES 2: Questão 01 71
Gráfico 2- IES 2: Questão 02 73
Gráfico 3- IES 2: Questão 03 74
Gráfico 4- IES 2: Questão 05 75
Gráfico 5- IES 2: Questão 06 77
Gráfico 6- IES 2: Questão 07 78
Gráfico 7- IES 2: Questão 08 78
Gráfico 8- IES 2: Questão 09 79
Gráfico 9- IES 2: Questão 10 80
Gráfico 10- IES 3: Questão 01 87
Gráfico 11- IES 3: Questão 02 88
Gráfico 12- IES 3: Questão 03 89
Gráfico 13- IES 3: Questão 05 90
Gráfico 14- IES 3: Questão 06 91
Gráfico 15- IES 3: Questão 07 91
Gráfico 16- IES 3: Questão 08 92
Gráfico 17- IES 3: Questão 10 93
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Contexto instrucional 29
Figura 2- Competência comunicativa 36
Figura 3- Procedimentos de atividades comunicativas 45
Figura 4- Modelo de tradução 52
Figura 5- Proposta de ensino instrumental eclético 100
LISTA DE QUADROS
12
Quadro 1: Definições de inglês instrumental (ESP) 26
Quadro 2: Características do inglês instrumental (ESP) 26
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
14
1. INTRODUÇÃO
1.1. DESCRIÇÃO
1
ESP (English for Specific Purposes) conhecido aqui no Brasil como inglês instrumental e em algumas
instituições de ensino como inglês técnico.
2
O inglês técnico, comumente, é uma das disciplinas da grade curricular que tem como objetivo desenvolver
habilidades e estratégias de leitura visando à compreensão de textos técnicos nos Cursos de Tecnologia em nível
de graduação, a exemplo de vários cursos oferecidos em instituições de ensino superior no Distrito Federal.
3
Ver seção 2.1.1.
4
Ver seção 2.2.
15
1.2. PERGUNTA DE PESQUISA
5
Ver seção 2.3.3.
16
1.4. PREVISÃO DE RESULTADOS
17
2. CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
6
“We can seek knowledge about our own beliefs and teaching behaviors as we work toward solving the problem
or addressing our concern.”
7
Ver figura 02, na seção 2.2.
8
Seguem algumas definições de tarefa: Widdowson (1978): “A tarefa é um meio de usar a linguagem para
aprender a linguagem”. Breen (1984): “[...] qualquer esforço estruturado para a aprendizagem de uma língua que
tem um objetivo particular, apropriado, um procedimento especificado de trabalho, e uma série de resultados
para aqueles que se encarregam da tarefa. Indicadora de uma série de planos de trabalho os quais têm o objetivo
geral de facilitar a aprendizagem de línguas desde atividades simples e rápidas até as mais complexas e longas,
tais como a solução de problemas em grupo, simulação e tomada de decisão”. Nunan (1989): “Unidade de
trabalho que permite dar um sentido ao conjunto de atividades de aprendizado feitas na aula. É uma unidade que
deve envolver o aluno na compreensão, manipulação, produção ou interação na segunda língua (L2), enquanto a
sua atenção está concentrada prioritariamente no significado mais do que na forma”. Almeida Filho (1993): “A
tarefa como ambiente para ações propositadas que servirão para a aquisição de uma LE, na qual os alunos podem
produzir a língua–alvo de modo mais significativo, desenvolvendo habilidades “na” e “com” a língua alvo. O
foco está na própria atividade e não na linguagem. O professor fornece oportunidades de uso da língua–alvo em
situações o mais próximo possível daquelas que ocorrem fora da sala de aula, a atenção do aluno está voltada
para o significado”.
18
É desejável que o professor não se esqueça que a leitura9 e o ensino de inglês técnico
podem ser trabalhados com uma abordagem diferente, com temas atinentes à área de estudo,
concomitantemente com atividades dinâmicas. Livros de inglês instrumental10 e/ou técnico
com ênfase em estratégias de leitura são comumente adotados e seguidos na íntegra por
professores, conforme observado por esta pesquisadora. Atitudes como essa podem restringir
o trabalho do professor, bem como limitar o desenvolvimento da capacidade dos alunos. Os
livros didáticos são ferramentas úteis, mas poderiam apresentar uma diversidade de tarefas
que englobassem as quatro habilidades ou, porque não dizer, as cinco habilidades, incluindo a
tradução, mesmo que privilegiassem a leitura.
É importante que alguns fatores sejam considerados, pelo educador, quanto às
expectativas do aluno no processo de leitura: objetivo, percepção, valores, motivação e
conhecimento prévio. Esses fatores orientam o professor na escolha e na utilização de
materiais instrucionais adequados à realidade e à necessidade de seus alunos. Nesse sentido,
possivelmente a motivação e o interesse deles se tornarão maiores e, conseqüentemente, a
satisfação também.
9
A leitura é o foco principal do inglês técnico aqui referenciado, podendo beneficiar o desempenho acadêmico
do estudante em outras disciplinas do curso de graduação.
10
Por exemplo: OLIVEIRA, Sara Rejane de F. Estratégias de Leituras
para Inglês Instrumental. Brasília. Ed. UNB, 1996; DIAS, Reinildes “Reading Critically in English: inglês
instrumental. UFMG, 2002; CRUZ, Décio Torres. Inglês.com.textos para informática . Salvador: Disal, 2001.
148p. entre outros.
19
leitura o seu conhecimento prévio e as suas idéias (GOODMAN apud URQUHARD e WEIR,
1998). Nos anos oitenta, surge o modelo interacional11 , a leitura é reconhecida como um
processo cognitivo e social, e o fluxo de informação é ascendente e descendente. Rumelhart
(1977 apud URQUHARD e WEIR, 1998). Durante a leitura, o leitor faz previsões sobre o
texto e verifica se elas são falsas ou verdadeiras.
Este modelo trouxe algumas contribuições, tais como: aprendizagem mais rápida,
aulas de leitura mais desafiantes e motivadoras. Com o desenvolvimento de
métodos/abordagens de base cognitiva, a leitura passa a ter sentido pela construção e
negociação de significados. Atualmente, seu papel é fundamental na aquisição do
conhecimento, no desenvolvimento das habilidades cognitivas, bem como na construção de
um ser pensante e crítico. Segundo Grellet (1994), a adivinhação é um processo constante na
leitura e a bagagem de conhecimento do leitor é freqüentemente mais importante do que a
expressa no texto.
A leitura, hoje, faz parte dos currículos das escolas do Brasil, presente inclusive nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s)12 cujos objetivos englobam a leitura no processo
de formação do indivíduo. O vestibular, por exemplo, tende a cobrar dos alunos,
essencialmente, a compreensão de textos. Os concursos públicos, as provas de mestrado, entre
outros, têm aumentado consideravelmente a demanda por inglês instrumental.
No processo de ensino/aprendizagem de inglês técnico, a leitura é uma ferramenta
fundamental, pois permite que o aluno adquira autonomia no aprendizado, sendo capaz de
entender, discutir, reformular idéias em situações reais de leitura na língua inglesa. Além
disso, a utilização e aplicação das estratégias de leitura o tornam mais crítico e menos
dependente.
11
No modelo interacional, o sentido é alcançado através da interação entre o leitor e o autor do texto.
12
De acordo com os PCN, é fundamental que o ensino de LE esteja baseado na função social que seu
conhecimento exerce na sociedade e “[...] tal função está, principalmente, relacionada ao uso que se faz da língua
estrangeira via leitura, embora se possa também considerar outras habilidades comunicativas [...]”
(SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL, 1998, p. 9).
20
Instrumental em Universidades Brasileiras, coordenado pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo (cf. SOARES, 1981). Este ensino teve seu cume com a criação do Centro de
Pesquisa, Recursos e Informação em Leitura (CEPRIL) na publicação do periódico
ESPecialist (cf. CELANI e outros, 1978).
Originalmente, o inglês instrumental foi concebido em língua inglesa para não-
falantes da língua e tornou-se conhecido internacionalmente como English for Specific
Purposes (ESP), ou seja, "Inglês para Propósitos Específicos", tanto em LE13 como em
segunda língua14 (L2) para promover o acesso às informações científicas e tecnológicas. Com
o passar do tempo, o ESP passou a ser denominado inglês instrumental, sendo utilizado não só
em universidades, mas também em escolas técnicas, em cursos preparatórios para leitura de
textos de vestibular e de concursos públicos, em algumas escolas públicas e também em
cursos preparatórios para candidatos à seleção dos cursos de mestrado e doutorado
(SEDYCIAS, 2002).
O Inglês Instrumental emprega estratégias de leitura, tais como: fazer previsões do
conteúdo do texto a partir da análise de títulos, gráficos e ilustrações (non-linear information);
concentrar a atenção nas palavras cognatas (cognates) e advinhar o significado de palavras
desconhecidas pelo contexto (contextual guessing); procurar informações específicas
(scanning ou locating information) ou fazer uma leitura rápida (skimming) para verificar a
idéia central do texto (main idea); uso do conhecimento de mundo e conhecimento prévio
(world or previous knowledge) do assunto pelo leitor, entre outras (OLIVEIRA, 1994).
Neste trabalho, no entanto, é proposto um ensino instrumental de cunho comunicativo.
Reconhece-se a leitura como uma atividade interativa, não apenas entre leitor e autor, mas a
leitura de textos em inglês visa principalmente às tarefas comunicativas. Vale destacar que,
mais do que a leitura de textos, estas tarefas requerem do leitor e aprendiz ciência e
comprometimento com as estratégias de aprendizagem15. Ao ler, neste ambiente, o aluno está
trabalhando com várias áreas do conhecimento e isso requer dele maior consciência de seu
agir para atingir os objetivos e superar as barreiras lingüísticas.
Na área de ensino instrumental, o problema pode aparecer quando se determina o quê
e como ensinar para atingir determinados objetivos. Segundo Widdowson (1984, p. 175-212)
não se pode delimitar o programa de um curso que, segundo o orientador/professor, seja
13
LE – Língua estrangeira é quando a língua estudada em sala de aula não é falada pela comunidade em que se
vive (Ex.: alunos brasileiros que estudam inglês no Brasil).
14
L2 – Segunda língua é a língua adquirida e utilizada pelo aluno fora da sala de aula (Ex.: um americano que
vem estudar português no Brasil).
15
Ver seção 2.1.2.2.
21
suficiente para suprir as necessidades do aprendiz, limitando o conhecimento do aluno a partir
de sua profissão.
O foco do Inglês Técnico está quase sempre na leitura (CRUZ, 2001). Normalmente,
os cursos e instituições criam seus próprios materiais instrucionais que começam com as
habilidades micro16 para atingir a habilidade macro17. Também são ensinados itens lexicais e
gramaticais relevantes à compreensão de textos acadêmicos.
De acordo com Scott (1981a e 1981b apud GUTHRIE, 2001), a metodologia usada
para ensinar inglês técnico é distinta da dos cursos regulares: as aulas são administradas em
português, o que permite maior aprofundamento com discussões sobre os aspectos
lingüísticos do texto e a dedução de significados pelo contexto. Em alguns aspectos, as aulas
parecem um ambiente voltado à solução de problemas pela análise aplicada de discurso, com
professor e alunos analisando em grande detalhe o funcionamento de um texto em inglês. Por
outro lado, vale destacar que o uso excessivo da L1 pode levar o aluno a se acomodar, tornar
o ensino de inglês técnico pouco motivador e também provocar um desperdício de tempo.
Essas argumentações realçam ainda mais o papel do professor como mediador no uso da L1,
pois ele é quem deve sinalizar que as contribuições devem ser dadas, quando possível, na
língua alvo. Muitas pesquisas sinalizam os benefícios do uso da L1 no desenvolvimento e
aprendizagem da LE. De acordo com o estudo de Mello (2004), seu uso pode:
- propiciar a transferência das competências entre as línguas;
- promover a proficiência nas duas línguas quando bem monitoradas;
- integrar o aprendiz e o ambiente numa perspectiva holística que concebe a
aprendizagem como uma atividade sócio-historicamente situada;
- permitir ao aluno apropriar-se da fala da interação para construir suas próprias
enunciações;
- facilitar a aquisição de vocabulário, noções de sintaxe e da pragmática em LE;
- oferecer um “suporte mediado”18;
- suscitar a reflexão e otimizar a construção do conhecimento lingüístico na LE19;
16
O termo é frequentemente utilizado para referir-se aos processos individuais e habilidades que são usadas para
realizar uma atividade complexa.
17
Munby (1978) subdividiu as macro habilidades em uma série exaustiva de micro habilidades que um bom
leitor deveria desenvolver a fim de ler eficientemente. Há quatro macro-habilidades, que são a expressão e a
compreensão oral, a leitura e a escrita. Correspondem, portanto, as quatro habilidades lingüísticas tradicionais ao
ensino de línguas.
18
“Scaffolding” inicialmente usado por Vygotsky, apresenta-se no estudo de Mello (2004) como a idéia da
compreensão por intermédio da ajuda do outro.
19
Conforme apresentado na figura 05, seção 5.3 deste trabalho.
22
- orientar, esclarecer dúvidas, dar explicações, discutir dificuldades no uso e na
estrutura da língua alvo;
- levar o aprendiz e o professor a atingir seus objetivos comunicativos e
instrucionais20;
- mediar o conhecimento, funcionar como meio de socialização e proporcionar
maior segurança aos aprendizes para participar ativamente nas atividades em LE.
Stern (apud MELLO, 2004) afirma ainda que não há como negar que a L1 está
incorporada no processo de aquisição da L2.
Na concepção de que a aquisição21 de um idioma é facilitada pela existência de um
interesse real, um propósito em adquiri-lo, ou seja, uma finalidade específica para tal, isso
torna a tarefa do professor menos árdua. As teorias mais recentes de aquisição de língua
estrangeira indicam que a aprendizagem demanda a exposição à língua alvo em contextos
significativos de uso. Assim, Wardhaugh (1987) assinala que o interesse em adquirir outra
língua está na necessidade individual e que, quando a necessidade deixa de existir, a língua
torna-se inútil, seja no âmbito social, político, cultural ou religioso.
O ensino deveria estar amplamente relacionado ao desenvolvimento das
competências comunicativas, não à determinação de exercícios que visam somente controlar o
comportamento e ações dos alunos. Na realidade, o que se observa é o inverso: o ensino serve
mais ao enquadramento social e ao controle do comportamento do que à libertação ou à
promoção de um espírito crítico e independente no aprendiz. Ainda hoje, nota-se até na
disposição das carteiras dentro da sala de aula que o professor continua desempenhando papel
centralizador. Mas se o aluno deve ser o centro das atenções, como mensurar a necessidade
individual de cada um deles?
É possível trabalhar com diferentes temas e textos com níveis de dificuldades
variadas para ajudar o aluno a diminuir sua ansiedade relacionada às dificuldades com a
língua em estudo e tratá-las de forma individual no campo profissional, acadêmico ou social.
Além disso, pode-se aplicar um teste diagnóstico para checar o nível de conhecimento e
interesse do aluno pela língua alvo ou prepará-lo para ter um comportamento diferenciado em
diferentes situações do convívio profissional, principalmente quanto à utilização de
vocabulário adequado e de conhecimento específico. Vale dizer que, em algumas instituições,
esse tratamento individual é desconsiderado: os alunos são colocados em turmas mistas
20
Ver figura 01 na seção 2.1.2 sobre contexto instrucional.
21
Entende-se por aquisição o desenvolvimento informal e espontâneo da L2 de forma inconsciente. Deve-se
lembrar, no entanto, que no ambiente de língua instrumental no Brasil, trata-se de aprendizagem de LE e não de
aquisição de L2.
23
oriundas de vários cursos. Então, um estudante de computação faz inglês na mesma turma de
um do curso de Comunicação Social. Em tais situações, não parece possível que o professor
atenda às necessidades individuais de todos os alunos, oferecendo um ensino que seja
relevante em cada área de estudo.
É importante que o professor tenha sensibilidade para perceber as diferenças entre
seus alunos além de domínio do conteúdo abordado no ensino de inglês técnico. Ele deve
apresentar um conhecimento mínimo do conteúdo a ser ministrado, da grade curricular do
curso em questão, das tarefas relevantes e materiais adequados ao curso. O ambiente de inglês
técnico é propício para desenvolver tarefas que promovam a interação; basta que o professor
saiba aproveitar e se preocupe em promovê-las. Os alunos de cursos técnicos, geralmente,
carregam uma bagagem de conhecimento que é de grande valia para que o professor promova
um ensino comunicativo baseado no processo de negociar sentido, trocar experiências pela
participação e interação. Observa-se também que na grade curricular da maioria das
faculdades e universidades, esta disciplina é oferecida logo no primeiro semestre letivo. Este é
um fator que dificulta a interação e participação entre os membros da classe, pois alguns
alunos ainda não têm maturidade intelectual para participarem ativamente. Por outro lado, o
inglês técnico é interdisciplinar e deve subsidiar as demais disciplinas do curso oferecendo
suporte e condições de extensão, de pesquisa e informação ao aprendiz.
Um curso técnico baseado em objetivos previsíveis e estáticos possivelmente não
desenvolverá a capacidade discursiva no aluno e, conseqüentemente, comprometerá seu
processo de aprendizagem. Cabe ao educador propor desafios aos seus alunos, torná-los
sujeitos críticos, criativos e intelectualmente preparados para lidar com diferentes problemas e
não simplesmente usar técnicas, treinando-os, limitando sua capacidade de processar e
solucionar problemas.
Outro aspecto relevante no panorama do inglês instrumental é a percepção por parte
da instituição da necessidade dos alunos e os seus verdadeiros “desejos” (HUTCHINSON e
WATERS, 1987). A ausência dela pode resultar em baixa motivação do aluno e desilusão de
professores. Isto não é exclusividade do ensino instrumental. Allwright (1984) já havia
perguntado: “Por que os alunos não aprendem o que os professores ensinam?” Nesta
pergunta, ele sugere que os objetivos do professor e, porque não dizer, da instituição não estão
compatíveis com os do aluno. Já Prabhu (2003) diz que:
24
suas salas possam então reconhecer, mesmo que intuitivamente e, com crescente
discernimento, a aprendizagem22 como um efeito geral do ensino produzido.
22
A aprendizagem, segundo Prabhu, é essencialmente um acidente, ou seja, um verdadeiro acaso da mente.
23
“Language use promotes acquisition just as acquisition promotes use: the relation is reciprocal. So it is with
discourse and learning. Every act of discourse engages the learning process and every act of learning engages the
discourse process.”
25
que são normalmente encontradas e estudadas na língua inglesa. Algumas definições e
características do inglês instrumental (ESP) apresentados por alguns pesquisadores reforçam
as ponderações acima:
Projetado para atender às necessidades específicas. Pode relacionar-se ou ser projetado para disciplinas
Utiliza uma metodologia específica e atividades específicas.
voltadas ao curso do aluno. Mais freqüentemente utilizado para alunos de nível
É centrado na linguagem, habilidades específicas às intermediário ou avançado.
atividades. Pode usar situações específicas de ensino, diferente do
Vai ao encontro das necessidades específicas do ensino de inglês em geral.
aprendiz. É normalmente projetado para adultos de níveis
Tem uma metodologia própria. Faz uso da acadêmicos e profissionais variados.
metodologia (interação professor X aluno) e é ligada Normalmente aplicado aos alunos de nível avançado ou
às atividades fundamentais da disciplina ou profissão, intermediário, embora possa ser aplicado ao básico
mas não necessariamente ao conteúdo. também.
É centrado na linguagem (gramática, léxico, registro),
habilidades, discurso e gêneros que os alunos
necessitam para realizar as atividades.
STREVENS (1988)
ABSOLUTAS VARIÁVEIS
Atende às necessidades especificadas do aprendiz. Pode restringir-se a uma habilidade (ex.: leitura).
Relaciona o conteúdo (temas e tópicos) às disciplinas Não deve ter uma metodologia pré-determinada.
específicas, atividades e ocupações.
É centrado na linguagem apropriada às atividades em
sintaxe, léxico, discurso, semântica, análise do discurso,
etc..
Contrasta com o ensino de inglês em geral.
ROBINSON (1991)
26
Os quadros acima reforçam o papel que o inglês instrumental exerce no ensino-
aprendizagem de LE. O aluno pode, ainda, escolher um curso de inglês instrumental que seja
de curta duração e atenda de pronto às suas exigências.
Segundo Holmes (1981) a abordagem instrumental apresenta três características
específicas:
- as necessidades dos aprendizes constituem-se em um dos fatores mais
importantes no planejamento de curso;
- procura-se desenvolver habilidades e estratégias específicas;
- a experiência prévia do aprendiz, sua capacidade de raciocínio, bem como sua
formação lingüística, mesmo que sendo apenas na língua materna, são fatores que
devem ser considerados, dando-se prioridade ao que ele conhece, e não ao que
ele desconhece.
O profissional que trabalha com inglês instrumental deve analisar:
- o prazo de validade do material utilizado e se as informações contidas nos textos
não estão ultrapassadas e obsoletas;
- os diferentes níveis de conhecimento dos alunos e seus pré-requisitos
- as etapas no processo de ensino das estratégias de leitura;
- etapas seguidas na apresentação de conteúdos;
- contextualização e relevância na apresentação de vocabulário e estruturas;
- atividades lúdicas e jogos para ativar conhecimentos;
- seqüência lógica na apresentação dos assuntos;
- uso da língua materna nas explicações e instruções;
- material adequado e específico da área.
A abordagem instrumental supõe que a relevância do curso de inglês para atender
suas necessidades aumente a motivação interna dos alunos e, com isso, a aprendizagem se
torna melhor e mais rápida (HUTCHINSON e WATERS, 1987). A metodologia atualmente
aplicada por muitos professores de inglês técnico, cujos propósitos em ensinar a língua alvo
não estejam bem definidos, não se confirma como um fator de motivação. A motivação
interna e externa do aluno depende de vários fatores, entre eles a abordagem do professor.
Vista como uma abordagem centrada no processo de aprendizagem (HUTCHINSON
e WATERS, 1987), a abordagem instrumental presume que descrever e exemplificar o uso
que se faz da língua não leva alguém a aprendê-la. A abordagem deve, então, se basear na
compreensão dos processos de aprendizagem da língua por meio de um trabalho de reflexão e
conscientização. Ainda segundo eles, é necessário distinguir entre o que as pessoas realmente
27
fazem com a língua (produto) e a série de conhecimentos e habilidades que as capacitam a
fazê-lo (processo). Daí a importância de estudar e conhecer o processo, identificando
estratégias24, ou, porque não dizer, utilizar uma nova abordagem de ensino baseada na
interação que possa tornar mais efetiva a aprendizagem da língua.
Com o desenvolvimento mundial nos diversos campos do saber, o inglês
instrumental se sedimenta, e se torna cada vez mais difundido. Conseqüentemente, aumenta a
diversidade de tipos de materiais voltados a este tipo de ensino.
De acordo com Hutchinson e Waters (1987), a cooperação, a elaboração e o ensino
em equipe (integração entre língua e conteúdo) são alguns tipos de relações na prática deste
ensino.
A cooperação entre os membros envolvidos no processo de ensino-aprendizagem de
LE deve existir para atender às expectativas e ir ao encontro dos desejos dos alunos, bem
como suprir suas necessidades específicas. O professor deve ter interesse nos vários campos
de formação do curso para oferecer tarefas desafiantes aos aprendizes, tornando o ensino mais
interessante, desafiante, motivador e com temas mais específicos e variados.
A cooperação do professor pode levar, não só o aluno, como ele próprio professor a
novas descobertas e à formulação de novos conceitos sobre os conteúdos presentes no curso.
24
A maioria dos educadores concorda que é importante ensinar seu aluno a buscar independentemente novas
informações e adquirir novas habilidades. Aprender a ser estratégico denota intenção, monitoramento,
planejamento e esforço de forma consciente.
28
então, o professor de língua instrumental e de telecomunicações, por exemplo, partilhando
uma mesma aula. No Brasil, observa-se que são raros os casos de instituições e professores
que praticam esta modalidade de ensino.
Por fim, a combinação dos três níveis mencionados (a cooperação, a colaboração e o
trabalho em equipe) pode ser um caminho para o êxito. Conforme Ames (1992 apud
GUTHRIE, 2001) as pessoas com uma orientação específica procuram melhorar suas
habilidades, aceitam novos desafios e consideram o ensino motivador. Estas pessoas dedicam-
se à compreensão do conteúdo e à aquisição de habilidades. Thorkildsen e Nicholls (1998
apud GUTHRIE, 2001) revelam que pessoas orientadas tendem a intensificar a avaliação de
suas habilidades. A orientação de desempenho é vista como uma motivação extrínseca25.
Schunk e Zimmerman (1997 apud GUTHRIE, 2001) afirmam, com base em pesquisas,
que estudantes auto-suficientes aceitam tarefas difíceis de leitura como desafios e trabalham
para cumprí-las usando estratégias cognitivas produtivamente. Eles lêem uma maior
quantidade de textos e têm uma maior realização pessoal por meio da leitura. De acordo com
Guthrie (2001), estudantes com motivação intrínseca e orientação das tarefas são leitores
ativos e relativamente bem sucedidos. A auto-suficiência do aluno também é um aspecto de
motivação na leitura e, se houver mudança na motivação, mudanças acontecerão nas
condições de sala de aula. Guthrie apresenta, ainda, um diagrama que contém um modelo de
ensino aplicado ao contexto instrucional que promove a interação e favorece a motivação do
aprendiz.
FIGURA 1: Contexto instrucional
25
Ver nota 34, página 39.
29
O autor sugere que estas características de aula influenciam tanto o compromisso com
a leitura quanto a motivação do aluno. Professores que almejam aumentar a interação na
leitura podem construir um contexto instrucional para o ensino de inglês. Para isto, podem:
- anunciar o objetivo de sua aula;
- oferecer um ambiente propício à troca de experiência relacionada ao objetivo da
aula;
- negociar a escolha dos livros e outros recursos disponíveis a serem utilizados;
- dar ao aluno alguma escolha de sub-tópicos e textos para aprendizagem;
- ensinar estratégias cognitivas que enriquecem a leitura de textos;
- assegurar a colaboração entre alunos e professores nas aulas;
- adequar a avaliação do aluno ao contexto instrucional (por exemplo, elogiar o
desempenho, pontuar a participação, incentivar o crescimento nas atividades,
principalmente quando o aluno estiver produzindo uma proposta de tradução).
Considera-se que a interação entre estes elementos é uma estratégia chave para a
motivação que, em parte, cabe ao professor promover. Ao interagir, o aluno pode encontrar
razões para ler, discutir, inferir; enfim, achar um sentido para o aprendizado de inglês por
meio da leitura.
No ensino instrumental voltado para a leitura e compreensão de textos, não basta que o
professor adote e siga os passos do livro didático. É aconselhável que ele ouse, crie e desafie,
tendo chances de testar atividades que possam alcançar os objetivos da disciplina. Assim,
propõem-se as seguintes estratégias de leitura para melhorar a compreensão de textos por
parte dos alunos:
- ensinar habilidades de decodificação (formação e ordem das palavras, cognatos);
- ensinar sobre a utilização adequada do dicionário;
- ensinar vocabulário específico26;
- encorajar os alunos a construir o conhecimento do mundo através da leitura e
relacionar o que eles já sabem com o que lêem;
- ensinar os alunos a usarem um repertório de estratégias de compreensão ativa,
incluindo predição, análise de textos técnicos, gramática contextualizada quando
26
Uma forma de se trabalhar com vocabulário é solicitar ao aluno a criação de um glossário de palavras
desconhecidas (técnicas ou não) elaborado por ele mesmo que atenda às suas dificuldades individuais.
30
houver necessidade de explicação, construção de conhecimento específico,
elaborar perguntas sobre o texto e resumir;
- encorajá-los a monitorar sua compreensão27, notar se as palavras decodificadas e o
texto fazem sentido. Quando os alunos detectarem problemas, notificá-los da
necessidade de processar novamente as palavras.
SHENG (2000) acrescenta atividades associadas com um modelo cognitivo para o
ensino de leitura. O professor pode oferecer ao aluno:
- o treino da compreensão literal;
- o treino da compreensão usando inferências;
- a avaliação do texto julgando o seu conteúdo, analisando sua veracidade e
adequação à realidade vivida por ele;
- a oportunidade de apreciação, valendo-se da imaginação, impressão, e estilos do
escritor.
O educador deve levar em conta as diferenças, os interesses, os diferentes níveis, a
preparação e escolha do material autêntico28 a ser usado em sala que possibilitem a interação e
o desenvolvimento das estratégias de leitura auxiliando o aprendiz na compreensão de um
texto. Richards (2001, p. 253) aponta que as desvantagens do material autêntico são as
estruturas complexas, o vocabulário de difícil compreensão e muitas das vezes desnecessário,
principalmente quando presente em texto utilizado em turmas de aprendizes iniciantes. Por
outro lado, as principais vantagens do uso do material autêntico (PHILIPS e
SHETTLESWORTH 1978; CLARKE 1989; PEACOCK 1997, apud RICHARDS, 2001) são:
- o efeito positivo no aumento da motivação dos alunos para aprendizagem;
- o acesso à informação cultural autêntica;
- a exposição à linguagem “real”;
- o atendimento às necessidades específicas dos alunos;
- o suporte mais criativo às aulas.
Vale dizer que, o material quando bem adaptado, não oferece nenhum prejuízo ao
ensino, desde que seja bem elaborado.
27
Por exemplo, solicitar ao aluno que faça a releitura do texto que produziu em atividades de tradução, buscando
a legibilidade.
28
O material autêntico sugerido na abordagem comunicativa deve ser selecionado de acordo com o nível e
interesse da turma. Os textos devem ser oriundos de revistas, jornais, etc. O discurso deve ser natural.
31
2.1.2.2. ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM
32
contexto desta pesquisa, pode ser adquirida quando o professor aplica tarefas orais, por
exemplo, discussão do tema do texto proposto em inglês.
Oxford (1990, p. 9) cita alguns fatores que mostram a importância das estratégias de
aprendizagem:
- contribuem para se atingir o objetivo principal;
- permitem que o aluno se torne mais independente;
- são ações específicas usadas pelo aluno;
- envolvem muitos aspectos do aluno (cognitivo, metacognitivo, emocional e
social);
- nem sempre são observáveis;
- são geralmente conscientes;
- podem ser treinadas e ensinadas;
- são flexíveis;
- são influenciadas pela idade, sexo, cultura, estilo de aprendizagem, motivação e
nível de conscientização.
O’Malley e Chamot (1990) classificam as estratégias da seguinte forma:
metacognitivas, cognitivas, sociais/afetivas.29 Eles as definem como pensamentos e
procedimentos que os indivíduos utilizam para ajudá-los a compreender, processar e
armazenar informação nova de forma consciente nos estágios iniciais da aprendizagem e,
posteriormente, passam a ser empregadas automaticamente. Eles apontam também que as
estratégias podem ser ensinadas e fornecem subsídios para as dificuldades existentes no
aprendizado de línguas.
De acordo com Chamot e outros (1999, p. 2), o treinamento das estratégias permite
ao aprendiz conhecer a si mesmo e tornar-se independente. O interesse em adquirí-las
constitui um fator importante para aprendizagem (OXFORD, 1990, p. 10). As estratégias de
leitura e aprendizagem são, portanto, instrumentos importantes que podem conduzir os alunos
a uma maior autonomia. O treinamento destas estratégias é crucial para a aprendizagem do
inglês, visto que o aluno deve estar munido de uma série de “instrumentos” para atingir o
conhecimento da língua. Na proposta desta pesquisa, busca-se a integração entre a
potencialização das estratégias, os princípios da abordagem comunicativa e as atividades de
29
As estratégias cognitivas lidam com a compreensão e produção de novos enunciados através da manipulação e
da transformação da língua alvo pelo aprendiz. As metacognitivas se referem ao conhecimento e ao
regulamento que os alunos exercem sobre as estratégias de leitura com o planejamento, controle e avaliação da
aprendizagem. Já as afetivas/sociais regulam a emoção, atitudes, valores e motivação, bem como a interação e
cooperação com os outros.
33
tradução em um ambiente de inglês técnico, na tentativa de demonstrar que a comunhão
desses elementos pode levar a uma aprendizagem mais eficaz e a um ensino mais efetivo.
30
Relação Abordagem X Método - De acordo com Almeida Filho (1998), a abordagem, em Lingüística
Aplicada, é tida como um conjunto de pressupostos filosóficos (crenças e princípios) que orientam a maneira de
produzir o processo de ensino-aprendizagem e determinam um método; ainda duas abordagens podem
compartilhar do mesmo método. O método é visto como um conjunto de procedimentos de aprendizagem
sintonizados com um determinado currículo e, ao mesmo tempo, direcionados por uma abordagem ou método
teórico. Pode, por exemplo, determinar os componentes na elaboração de um determinado curso (LEFFA, 1988).
31
As denominadas “Situational Language Teaching” ou Método audiovisual.
32
No reconstrutivismo, a educação é vista como um meio de proporcionar mudanças sociais que são
engendradas pela comunicação verbal e interação social.
34
Europeu aos adultos. A educação foi uma das áreas de maior atividade no Conselho Europeu,
que patrocinou as seguintes atividades:
- conferências internacionais sobre o ensino de línguas;
- publicação de monografias e livros sobre o ensino de línguas e
- formação da Associação Internacional de Lingüística Aplicada.
A abordagem comunicativa no ensino de línguas veio em contraposição ao método
audiolingual - psicologia behaviorista dentro da prática oral onde o aluno reagia por meio de
estímulo e resposta, repetindo diálogos, ouvindo depois falando e então lendo. Em 1985, o
norte-americano Stephen Krashen traz ao ensino de línguas as teorias de Chomsky, Piaget e
Vygotsky, e estabelece uma distinção entre estudo formal (aprendizagem) e assimilação
natural (aquisição) de idiomas, entre informações acumuladas e habilidades desenvolvidas,
redefinindo os rumos do ensino de línguas.
O Conselho Europeu incorporou a análise semântica e comunicativa da linguagem,
exercendo uma forte influência na elaboração de programas comunicativos para o ensino de
línguas e na publicação de livros na Europa. No entanto, percebe-se nos materiais utilizados
(nos livros-texto, principalmente) a persistência de uma agenda ou programa gramatical que
dita a seqüência das lições.
Atualmente, tanto os britânicos quanto os americanos vêem na abordagem
comunicativa um instrumento para fazer com que a competência comunicativa seja o objetivo
principal do ensino de línguas e para desenvolver procedimentos para o ensino das quatro
habilidades da linguagem.
A abordagem comunicativa respeita certos pressupostos teóricos na aquisição de uma
competência comunicativa, ou seja, bases implícitas de regras sociais, culturais e psicológicas
que regem os atos interacionais e comunicativos de uma determinada sociedade.
A competência comunicativa teve sua origem em trabalhos de Chomsky (1965),
Campbell e Wales (1970), Hymes (1972), entre outros. Contudo, concretizou-se efetivamente
com Canale e Swain (1980) que reformularam alguns termos essenciais e criaram quatro
ramificações da mesma, classificadas como:
35
FIGURA 2: COMPETÊNCIA COMUNICATIVA
COMPETÊNCIA COMUNICATIVA
- Qualquer recurso33 que ajude o aluno é aceitável – variando de acordo com sua
idade, interesse, etc.
- O sistema lingüístico será mais bem aprendido pelo empenho para se comunicar.
33
A tradução, neste sentido, é uma atividade enriquecedora, pois amplia o vocabulário, trabalha com a estrutura
do texto, entre outros benefícios.
34
Vale notar que o uso da qualificação “criterioso” sugere uma atitude de restrição e desconfiança com relação à
LM e à tradução. Novamente, o uso sensato da L1 abre caminho para o code-switching e a tradução.
(RICHARDS, 1997)
37
- A motivação intrínseca nascerá do interesse no que está sendo comunicado pela
língua.
A inserção da tradução neste contexto, segundo Nunan e outros (1989, apud RIDD,
2003) é aplicada em tarefas com propósitos interacionais. Da mesma forma, Ulrych (1986a
apud RIDD, 2003) assinala que entender o que se quer transmitir em outra língua significa
traduzir. Ridd (2003) aponta ainda a inexistência de incompatibilidade entre o uso de tradução
e os preceitos de AC.
As características citadas na seção anterior podem também ser desenvolvidas com base
nos princípios que norteiam a abordagem comunicativa, conforme estabelece Larsen-Freeman
(1986). Seguem os papéis desempenhados pelos componentes desse processo:
2.2.2.1.Objetivo do professor
O objetivo é tornar o aluno competente na comunicação. O que muda na Abordagem
Comunicativa em relação aos outros métodos é a idéia bem mais ampla de “competência na
comunicação” (ser capaz de usar a linguagem apropriada para um dado contexto social e de
acordo com os papéis dos interlocutores). Para tal, o aluno necessita ter conhecimento das
formas, significados e funções lingüísticas, sabendo escolher entre eles. Deve também ser
capaz de negociar o significado com seus interlocutores.
2.2.2.2.Papel do professor
Na abordagem comunicativa, o professor tem um papel secundário, cuja função é
facilitar a aprendizagem, criando situações de comunicação entre os participantes,
promovendo atividades interativas e selecionando textos, preferencialmente autênticos. O
professor age como um co-participante; o aluno é o ator principal em busca do processo de
aprendizado.
O professor inicia as atividades. A partir deste momento, ele participa apenas quando
necessário. Além disso, ele deve respeitar o turno dos alunos, possibilitando a troca de idéias.
38
Ele é o organizador da aula, responsável por selecionar os recursos e procedimentos
adequados às atividades propostas.
O professor exerce o papel de pesquisador em constante aprendizado. As experiências
vividas por meio da observação e da convivência no ambiente de sala de aula são
fundamentais ao crescimento profissional do professor reflexivo. Conforme a FAZU (2004),
“o docente reflexivo pensa no que faz, na forma como faz, no porquê faz, e nos efeitos que
esse ensinar proporciona, buscando encontrar significações da sua prática que podem levar a
um novo fazer e não somente como um adjetivo vazio que qualifica um professor que pensa.”
O professor deve ter capacidade organizacional.
Ele deve analisar as necessidades dos alunos e fornecer meios para que elas sejam
supridas. Além disso, ele deve perceber o aluno, respeitando o seu estilo próprio de
aprendizagem, bem como os seus objetivos pessoais. Baseado nas necessidades dos alunos, o
professor é o selecionador de materiais instrucionais.
O professor age como conselheiro verificando a intenção do falante e a interpretação
do ouvinte. Neste sentido, ele responde às perguntas e elucida as dúvidas dos alunos.
Como gerenciador do processo, o professor organiza a sala para favorecer a interação
e as atividades comunicativas; encoraja os alunos e monitora seus desempenhos; cria
oportunidades de expressão e participação. Ainda, supre as dificuldades que os alunos
apresentam nos itens lexicais e gramaticais após as atividades, oferecendo alternativas que
promovam auto-correção, assistência e extensão das discussões.
Conclui-se que compete ao professor:
- respeitar a individualidade e a motivação intrínseca35 do aluno;
- desenvolver competências;
- utilizar materiais que gerem discussões e sejam de real interesse e/ou necessidade
do aluno;
35
Deci (1975) explica a motivaçao intrínseca da seguinte maneira “As atividades motivadas intrinsecamente são
aquelas para as quais não há nenhuma recompensa aparente a não ser a própria atividade. As pessoas parecem
empenhar-se nas atividades por prazer inerente e não porque elas conduzem a uma recompensa extrínseca”.
36
Novamente, a tradução é providencial a este respeito, especialmente com alunos adultos (FRACARO, 2005).
39
- avaliar o desempenho e a capacidade de expressão do aluno nas tarefas
comunicativas;
2.2.2.3.Papel do aluno
Os alunos devem agir como agentes interativos, exercer acima de tudo o papel de
comunicadores e aprender a comunicarem-se, comunicando-se. Devem estar ativamente
envolvidos em negociar o significado – em tentar se fazer entender – mesmo quando seu
conhecimento da língua-alvo é insuficiente.
Conforme observado por esta pesquisadora, os estudantes que têm compromisso com
a aprendizagem aceitam as tarefas difíceis como desafios e trabalham para cumpri-las usando
estratégias cognitivas produtivamente, e também apresentam motivação intrínseca.
40
O aluno deve relacionar seu novo conhecimento às experiências anteriores. Embora a
orientação do professor contribua para a motivação, os alunos necessitam de foco no conteúdo
em um contexto que favoreça a aprendizagem.
Cabe ao aprendiz buscar a interação com o mundo real. Esta interação refere-se às
experiências pessoais e sensoriais dos alunos. No mais, as experiências com o mundo real
despertam o interesse e a atenção deles, tornando o contexto de aprendizagem motivador.
O aluno deve criar autonomia e ser capaz aos poucos de selecionar os materiais
instrucionais de acordo com a sua necessidade. Além disso, deve ser capaz de buscar o
conhecimento de forma independente, tornando-se responsável pelo seu aprendizado.
Ele é um colaborador, visto que sua participação serve como meio de aprendizagem
aos demais colegas.
37
Lacuna de informação, ou seja, é possível a interação a partir dos diferentes saberes, assim um colega pode
ajudar o outro, definição de Richards e outros (1997). Isso ocorre no contexto de inglês técnico quando o aluno é
chamado a dar nomes aos termos técnicos, haja vista suas definições. O conhecimento prévio de cada um é
importante nesta atividade.
38
Os seminários apresentados na aula de inglês técnico, além de contribuir com o conhecimento específico,
permitem que o aluno selecione o tema de seu interesse.
39
O locutor pode avaliar se seu propósito foi alcançado, baseado na informação recebida de seu ouvinte, ou seja,
a recepção da mensagem pode ser avaliada e discutida a partir do ponto de vista dos ouvintes.
40
Para maior esclarecimento do termo, confira nota de rodapé 27.
41
2.2.2.5.Natureza da interação professor-aluno/aluno-aluno
O professor é o iniciador das atividades, mas nem sempre ele interage com os alunos.
Às vezes, ele é um co-comunicador, mas geralmente propicia situações que iniciam a
comunicação entre os alunos. Por sua vez, os alunos interagem intensamente entre si: em
pares, trios, pequenos grupos e na classe como um todo.
2.2.2.8.Habilidades lingüísticas
As funções da linguagem sobrepõem-se às formas. Uma variedade de formas é
introduzida para cada função, sendo que os alunos trabalham com a linguagem no nível do
discurso, aprendendo sobre coesão e coerência. Trabalham as quatro habilidades desde o
41
Refere-se aqui a cultura no sentido antropológico, em oposição à alta cultura.
42
início. Assim como a comunicação oral acontece pela negociação entre o locutor e o ouvinte,
o significado é derivado da palavra escrita pela interação entre o leitor e o escritor.
2.2.2.10. Avaliação
O professor pode avaliar informalmente a atuação de seus alunos como orientador ou
co-comunicador. Para avaliações mais formais, o professor pode usar um teste comunicativo
(teste integrativo com uma função verdadeiramente comunicativa, com discussões orais de
temas baseados em pesquisas em inglês). Como o objetivo principal do inglês técnico é a
compreensão de textos, questões discursivas podem ser utilizadas. Para avaliar a habilidade
escrita, o professor pode pedir ao aluno que escreva em inglês (dependendo do nível da
turma) ou até mesmo, na língua materna, um resumo do texto em inglês.
42
A esse respeito, confira Medgyes (1994) e Deller e Rinvolucri (2002).
43
limitado e, ainda assim, serem comunicadores bem sucedidos. No contexto de inglês técnico,
em uma atividade de tradução, por exemplo, o professor aponta as estruturas que precisam ser
re-elaboradas, pede ao aluno que reestruture seu texto, caso exista uma discrepância entre o
texto e a versão traduzida, lembrando ainda que não há uma única versão correta e que a
expressão de cada um é o que o torna único na sua forma de pensar e agir.
- simulações;
- improvisações;
44
- debates.
2.2.3.4.Atividades comunicativas
Segundo Littlewood (1981, p. 86), as atividades abrangem as pré-comunicativas e as
comunicativas propriamente:
Atividades pré-comunicativas
Atividades Atividades
Estruturais Quasi-estruturais
Atividades comunicativas
Atividades Atividades
de comunicação de interação
funcional social
2.3. TRADUÇÃO
46
Este seção visa dar um panorama geral da eficácia da tradução em um ambiente
escolar. Ela não será tratada como um modelo preparatório para um tradutor/interprete e sim
como um instrumento para aquisição de língua estrangeira. Segundo Bell (1991), a tradução
tem três eixos norteadores: modelo, significado e memória. O modelo representa um conjunto
de princípios, um construto teórico, uma representação baseada em explicações que podem
ser avaliadas e medidas por meio do desenvolvimento do processo e da competência
tradutória43. O significado está relacionado à compreensão incorporada a um sentido mais
amplo com uma visão interpessoal e pragmática aproximando o ideal do textual. A memória
requer conscientização da estrutura, do discurso, da construção do texto e negociação entre a
escrita e o sentido que a mensagem traduzida exprime.
No inglês instrumental, é comum o ensino de estratégias de leitura, pincelando as
regras gramaticais, conectivos, formação de palavras, etc. para suprir o aprendiz com
ferramentas que possam auxiliá-lo em sua aprendizagem na compreensão de textos. Já na
tradução, a aquisição desses elementos é dada como conseqüência do processo; ela não só
desenvolve a capacidade de compreensão em outra língua como aprimora a habilidade de
expressão escrita e oral.
De acordo com Ridd (2000) a atividade tradutória envolve contraste e comparação
entre a língua estrangeira e a língua alvo. Ela faz-nos perceber os aspectos positivos e
negativos de ambas, bem como suas peculiaridades nos campos semântico e
morfossintático.44
Tradução não é apenas um meio de comunicação, mas também uma ferramenta de
ensino que ajuda o aprendiz a entender e usar a língua alvo de forma clara e precisa.45
Novos métodos de ensino foram surgindo no intuito de melhorar as quatro
habilidades da linguagem: compreensão oral, fala, leitura e escrita. Acreditava-se, no entanto,
que a tradução era uma estratégia útil apenas nas duas últimas. Com isso, hoje, a maioria dos
professores de LE são treinados a usar uma abordagem que não contemple tarefas de
tradução. Há aproximadamente duas décadas, a tradução tem sido excluída dos cursos de
idiomas autônomos. Muitos professores, hoje em dia, adotam a abordagem comunicativa e
excluem os métodos tradicionais da sua prática. Contudo, no sistema educacional regular,
público e privado, a tradução continua em uso em moldes do Método Gramática Tradução
(MGT). Vale lembrar que no MGT, a tradução, embora muito presente, não tem papel central,
43
Bell (1991) explica que competência tradutória requer um conhecimento abstrato do sistema lingüístico e do
mundo real e habilidades práticas de leitura e escrita.
44
Ver também Ribeiro (2003).
45
A este respeito, vê Duff (1989) e Ridd (2000).
47
pois serve mais para conferir a aprendizagem do que para desenvolver uma competência
tradutória. Praticava-se mais a tradução de frases e vocábulos do que a tradução de textos e,
quando a tradução de textos era praticada, trabalhavam-se textos literários para os quais os
alunos dificilmente produziam adequadamente.
Aqui, no entanto, defende-se o reestabelecimento da tradução aliada a outros métodos
a fim de ajudar o aluno a melhorar sua aprendizagem e atingir proficiência mais rapidamente.
Muitos cursos discriminam e até reprimem o uso da tradução no ensino de LE,
justificando essa prática pela crença de que a tradução restringe o desenvolvimento do aluno.
Nota-se, entretanto, o contrário, que ele funciona como um facilitador da aprendizagem e
estimula o desenvolvimento intelectual, pois o tradutor deve esforçar-se em negociar
significados, encontrar sinônimos que se adequem à sua produção, enriquecer seu
vocabulário, expressar-se de forma clara e concisa, e isto exige uma maturidade intelectual
que pode ser trabalhada na tradução. Além disso, o tradutor constantemente enfrenta desafios
externos nas áreas profissionais, acadêmicas, sociais e culturais, conforme Stern (1992, p.
286): “ [...] claramente, uma estratégia interlingual ganharia maior destaque em situações
em que o aprendiz de outra língua utilizasse qualquer forma de tradução ou interpretação
para alcançar seus objetivos”46 (tradução nossa)
Constata-se novamente, que a tradução compartilha dos princípios do ensino
instrumental, atendendo às necessidades específicas do aprendiz.
Na aprendizagem de língua estrangeira, a tradução desenvolve também, a capacidade
de escrita e leitura. O aprendiz passa por um processo natural de aproximação e cotejo das
duas línguas, conforme Ulrich (1986, p. 27) explica:
46
“Clearly, a crosslingual strategy would gain greater prominence in situations where L2 learners include any
form of translating or interpreting among their objectives”.
47
“[...] translation conceived of as intra- and interlingual interpretation leads to a deeper awareness of the
complexity of language and enhances students’ ability to develop SL analysing techniques and SL/TL transfer
strategies”.
48
professor, por livros, entre outras formas. Esta informação é filtrada pela experiência anterior,
inteligência, cultura, etc. até ser processada e aprendida. Um facilitador do processo é a
capacidade tradutória da informação, pois mentalmente processamos o que pensamos em L1 e
depois transferimos essa informação em código lingüístico compreensível para a L2.
Gohn (1998) em seu artigo sobre o ensino da tradução apresenta uma análise
comparativa entre a língua portuguesa e a língua inglesa numa abordagem lingüístico-textual.
Para isso, ele usa o exemplo do Present Perfect da língua inglesa contrastada com vários
tempos verbais na língua portuguesa. No entanto, ele parte do elemento gramatical e realiza a
tradução para permitir o contraste em vez de deixar que a questão gramatical aflore
naturalmente no processo de tradução conforme preconiza Ribeiro (2003).
- capacidade de síntese.
49
Quando trata dos requisitos necessários a um tradutor, Bell (1991) aponta o
conhecimento e habilidades desenvolvidas pela atividade de tradução. Neste sentido, o
tradutor deve buscar uma competência bilíngüe ideal. Deve-se lembrar que, Bell prevê o
desenvolvimento da competência tradutória para tradutores em formação, enquanto o foco
desta pesquisa é o uso da tradução como componente no ensino-aprendizagem de línguas.
Isso faz com que a exigência não recaia tanto sobre a perfeição do texto traduzido, mas sim,
na compreensão da informação que o texto traz.
Nesta pesquisa sugere-se que o tradutor/aprendiz não necessariamente tem que ser
proficiente nas duas línguas. Do ponto de vista pedagógico, o aluno deve compreender a
mensagem do texto, adquirir o vocabulário apresentado no texto lido, ter conhecimento da
língua fonte e da língua alvo, decodificar e codificar a informação do texto, inferir, conhecer
os diferentes tipos de textos, analisar, relacionar a informação lida com a mensagem
adquirida, organizar as idéias, entre outros atributos. Nisso, observa-se a relação existente
entre o processo de tradução e as estratégias de leitura aplicadas ao ensino instrumental
apresentadas na seção 2.1 deste trabalho.
Novamente é possível fazer a triangulação entre o ensino instrumental, a tradução e os
princípios da abordagem comunicativa visto que a tradução desenvolve a competência
comunicativa (BELL, 1991 p. 41) conforme descrito na seção 2.2 desta pesquisa.
Oxford (1990) explica que atividades desafiantes são aquelas que expõem os alunos
a uma variedade de processos intelectuais, tais como: pensar sobre formas e significados entre
duas línguas; compreender além do sentido literal das palavras, interagir com o texto, inferir e
extrair suas idéias, resolver problemas, monitorar a saída dos dados como na checagem da
versão traduzida, avaliar e comparar, assim como deduzir.
O simples ato de ler implica um processo de tradução do que está escrito, mesmo que
inconsciente. A primeira fase da tradução é justamente a leitura que se transforma em uma
espécie de linguagem mental; a segunda fase é a projeção da mensagem em um texto
compreensível na língua alvo em concordância com os usos dessa língua, ou seja, passa-se de
um processo inconsciente para um processo consciente que é a formulação da tradução.
A tradução com fins pedagógicos de acordo com Osimo (2004) é aquela para dar aos
alunos um conhecimento vocabular e estrutural do texto. Normalmente, ela é feita por meio
de textos não-autênticos adaptados ao nível de conhecimento dos alunos e seu vocabulário é
50
previsível. O professor usa a tradução para certificar-se que seus alunos adquiriram o objetivo
por ele pré-estabelecido na escolha do texto. Vale lembrar que esse é o papel reservado à
tradução no Método Gramática-Tradução.
De certa forma, este modelo de tradução não se aplica ao proposto neste trabalho,
pois na sala de aula de inglês técnico o principal foco é o acesso à informação de fontes
autênticas que possibilitem ao aluno um enriquecimento vocabular específico e ampliação dos
seus conhecimentos. Volta-se, então, à questão do material autêntico. Nada impede que o
professor adapte a partir de textos autênticos - que frequentemente são extensos – para o
tempo de que dispõe em sala de aula e à necessidade dos seus alunos.
Antes da tradução propriamente dita, existem alguns estágios pelo qual o tradutor
deve passar. Primeiro, acontece a leitura do texto fonte. Depois ele busca o seu conhecimento
prévio sobre o assunto e, em seguida procura relacionar as convenções e características do
texto fonte às que terá que ter o texto alvo. A velocidade do processo é determinada pela
proficiência do leitor com base em suas competências lingüística, enciclopédica, entre outras.
O texto é analisado de duas formas, conforme Osimo (2004): a micro-análise que tem como
objetivo a verificação da coesão interna entre as unidades do texto; e a macro-análise, que
controla a coerência e coesão entre o texto criado e o modelo/tipo ao qual o texto se refere.
Os caminhos percorridos na tradução vão além do contato com dois sistemas
lingüísticos diferentes, do entendimento de como a tradução opera na interação e como ela
pode acontecer quando dois códigos estão em contato e segue até que o tradutor transforme o
texto fonte em comunicação na língua alvo.
As micro- e macro-estratégias utilizadas pelo tradutor são determinantes da sua
competência. De acordo com Catford (1965), o significado é a propriedade de uma língua.
Portanto, cada versão de um texto tem seu próprio significado. Além dos tipos de textos, o
tradutor tem que conhecer a linguagem própria de cada um deles.
A tradução, segundo Bell (1991), pode ser descrita como um processo de tomada de
decisões – lexicais, de ordenamento, de registro, etc. A análise contexto (tanto do co-texto
interno quanto do contexto externo) determina a inter-relação das sentenças no texto e seu
valor comunicativo como um todo. Segue um modelo didático do processo tradutório criado
por ALVES (2000) com as estratégias de tradução, que retrata a série de tomadas de decisão
envolvidas no processo:
51
FIGURA 4: Modelo de Tradução
TEXTO DE
PARTIDA
UNIDADE DE BLOQUEIO
TRADUÇAO - UT
n
n UT no BR
ESCOLHER UT
s
UT no BA RECUPERAÇÃO DA
UT na MEMÓRIA
s MPL
ACESSO DIRETO A
MCP s
- Estratégias Cognitivas
- Apoio Interno
- INFERÊNCIAS
- Automatizações - CÓDIGO
- Correspondências 1:1 - RELEVÂNCIA
n (geralmente conscientes)
- INFERÊNCIAS
- CÓDIGO
-RELEVÂNCIA
(geralmente SOLUÇÃO
n n
inconscientes)
s
- Estratégias
Cognitivas TRADUZIR n ELIMINAR
TRADUZIR n - Apoio Interno UT UT
UT - INFERÊNCIA
- CÓDIGO s
- RELEVÂNCIA
- RELEVÂNCIA
- BAGAGEM CULTURAL
- PRÉ-TEXTO
s n- não
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BURILAR UT
s
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TEXTO DE CHEGADA PROVISÓRIO
OUTRAS
UTs
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TEXTO DE
CHEGADA MUDAR TC APERFEIÇOAR MUDAR TC
n s TC
n
n
48
“[...] Since foreign language students generally approach their translations in a form-oriented way, the monitor
which checks on the sense to the respective SL texts nor grammatically or stylistically acceptable texts by
54
2.3.3. O DECLÍNIO DA TRADUÇÃO COMO COMPONENTE DE ENSINO
Esta seção descreve alguns momentos metodológicos pelos quais o ensino de língua
estrangeira passou até os modelos modernos49.
Nos estudos de língua estrangeira, os lingüistas aplicados vêm tentando mudar a
concepção do ensino da gramática e da tradução. No Método Gramática-Tradução (GMT), o
professor dava aula expositiva com explicitação da gramática. A tradução de frases isoladas
servia para averiguar a aprendizagem da gramática. O professor era visto como autoridade e o
possuidor do “saber”. Por conseguinte, o aluno tornava-se totalmente passivo. O material
didático era baseado em textos literários e em livros didáticos estruturados para o estudo
sistemático do vocabulário, das regras gramaticais e suas exceções. A tradução era
considerada uma habilidade necessária a ser adquirida, mas inteiramente tributária da
gramática. Ela visava o domínio das estruturas lingüísticas. Dava-se ênfase à forma, à
tradução de textos literários e à memorização de vocabulário. As habilidades de ler e escrever
eram as primeiras a serem cobradas dos alunos. Na maior parte do tempo, as avaliações
escritas eram elaboradas com questões de tradução da L1 para a LE e vice-versa. Com o
passar do tempo, verificou-se que o MGT não era eficaz no desenvolvimento da capacidade
oral do aprendiz.
Em resposta à necessidade de comunicar-se na LA, surge o Método Direto que tem
como principal objetivo a comunicação na língua alvo. Para isso, o professor utilizava
recursos da vida real; era proibido o uso da tradução ou da língua materna; o professor ideal
era o nativo; a gramática era ensinada indutivamente, nunca explicitamente. As avaliações
eram informais; o uso da língua precedia a forma. O objetivo era levar os alunos a pensar na
língua alvo.
Os métodos foram surgindo em oposição um ao outro. A verdade é que todos os
métodos surgiram em resposta a uma necessidade específica seja de comunicação ou de se ter
acesso a uma informação, como aconteceu no método audiolingual nos Estados Unidos
durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse tempo, havia uma necessidade de se aprender
línguas estrangeiras para fins militares. Em seguida, vários outros métodos foram testados e
adotados até chegar à Abordagem Comunicativa que previa tornar o aprendiz totalmente
proficiente na LA.
Na verdade, não houve um declínio total do Método Gramática-Tradução, visto que
ele está latente e observável em nosso cotidiano escolar (Silveira, 1999). A abordagem
themselves. This is even true of texts in the subjects’ mother tongue.” (LÖRSCHER 2005, p. 605).
55
tradicional em muitos ambientes educacionais lidera a preferência metodológica dos
professores de LE por ser fácil e fortalecer a idéia da autoridade máxima do professor em sala.
A condução inadequada da atividade de tradução leva o educador a ter certas crenças
ultrapassadas quanto ao seu uso para ensino de LE. Duff (1989, p. 5) resume alguns dos
sentimentos dos professores em relação à tradução conforme prescrito no Método Gramática-
Tradução anteriormente adotado:
- é uma atividade que contempla apenas duas habilidades – leitura e escrita;
- não é apropriada para o uso em sala, pois os alunos devem produzir seus textos
individualmente;
- faz com que o aluno pense na língua materna ao invés de expressar-se na língua
alvo, quer seja na forma oral ou escrita;
Segundo Duff (1989), embora esses itens possam ainda fazer parte da crença de
alguns profissionais e de cursos de idioma, a tradução não tem que existir sozinha, ou seja,
pode associar-se as outras abordagens, pois beneficiarão a aprendizagem, tornando-a
consciente e efetiva. Pelo uso da tradução e outras abordagens, os alunos podem adquirir
competência e um bom desempenho na língua alvo.
Voltando ao contexto escolar, o grau de conscientização do aluno a respeito da troca
de códigos é determinado pela consciência metalingüística. Quando o aluno aprende uma
língua na escola, ele aprende regras e este processo de aprendizagem se dá de forma racional e
controlada. Vários fatores podem interferir no processo; por exemplo, a afetividade, o
49
A descrição dos métodos dessa seção tem como referência o livro de Larsen-Freeman (1999, p. 01-141)
56
interesse, o ambiente, etc. Portanto, o ambiente propício à atividade de tradução pedagógica
deve ser preferivelmente descontraído e natural.
A utilização de L1 em aulas de LE tem sido amplamente discutida nas teorias de
ensino-aprendizagem de LE (MELLO, 2004; PRADO e CUNHA, 2003; MARTINEZ, 2001;
HARBORD, 1992; AUADA e FONSECA, 2003). Tenta-se provar que a tradução nos moldes
antigos cria barreiras no desenvolvimento da habilidade oral e auditiva da LE. No entanto, é
importante salientar que os benefícios de sua utilização superam os problemas enfrentados na
utilização da língua materna no ambiente de LE.
50
"[...] to understand and to produce utterances which are grammatical as well as appropriate to the context in
which they are made."
58
De acordo com Widdowson (1984): “[...] a tradução pode ser um dispositivo
pedagógico muito útil e realmente em algumas circunstâncias, a tradução bem aplicada pode
tornar-se o meio mais eficaz de aprendizagem” 51.
A tradução exerce um papel importante na aprendizagem de Língua Estrangeira. Sem
dúvida, muito tem se discutido acerca deste assunto. Algumas publicações citam o papel da
tradução no ensino de LE. Por exemplo, o artigo de Ridd (2000) aponta cinco razões pelas
quais se deve reinserir a tradução no contexto escolar.
Primeiro, a tradução leva o aprendiz a perceber diferenças e semelhanças entre
diferentes códigos e distinguir aspectos positivos e negativos de ambos. Dessa forma, o aluno
enriquece sua percepção lingüística e escolhe um produto final melhor, ou seja, a tradução.
Em segundo lugar, o desenvolvimento da habilidade tradutória traz benefícios ao
aprendiz no ambiente escolar e em diversos segmentos do uso de LE, oferecendo informação
específica que atende às necessidades individuais nos campos profissional, social e
acadêmico.
Outra razão importante é o acesso ao material autêntico com textos que abordam fatos
reais de uso real da linguagem, o que raramente encontra-se em textos adaptados. Isso sem
mencionar o acesso rápido à informação mais recente na área técnica do aprendiz. Além
disso, dá acesso ao vocabulário novo e propicia o desafio intelectual de lidar com os
significados e os sentidos no mundo das palavras.
A quinta razão está na relação entre a língua materna e a língua alvo que desenvolve
no tradutor a precisão quanto à forma lingüística, acuidade na colocação das palavras,
flexibilidade, aprimoramento e clareza na expressão oral ou escrita, e por que não citar clareza
no uso da linguagem.
A tradução torna o professor mais flexível contanto que ele não insista em apresentar
um modelo pronto e definitivo de tradução.
O recurso à língua materna reduz o tempo gasto pelo professor em mímicas para
explicar o significado de palavras, pois esse uso economiza tempo e satisfaz a ânsia do aluno
em saber o equivalente em sua própria língua.
Ela também, desmistifica a imagem do professor nativo monolíngüe como o ideal,
visto que o professor bilíngüe tem mais facilidade de ir e vir nos códigos utilizados.
51
“Translation can be a very useful pedagogic device and indeed in some circumstances translation of a kind
may provide the most effective means of learning.” (Tradução nossa)
59
Ao contrário do que se pensa sobre a necessidade do professor de controlar o uso de
L1 na sala o que, aliás, e muito difícil, a língua materna é um recurso que pode agilizar o
processo de aprendizagem.
O fato de o educador ter que pensar em duas línguas distintas o obriga a explorar
campos semânticos e lingüísticos antes não trabalhados. Além disso, a tradução dá condições
ao professor de utilizar, como citado anteriormente, material autêntico, fontes de informação
atuais, o que o leva a estar sempre se aprimorando, atualizando e adquirindo novos
conhecimentos. Assim confirma Widdowson (1984) quando assevera que a tradução é um
meio efetivo para se aprender e um dispositivo pedagógico muito útil.
Apresentam-se, então, razões suficientes para valorizar o papel da tradução e reinserí-
la no ensino de LE como mais uma habilidade a ser desenvolvida, não mais como um método
visando às formas estruturais da LE e subsidiariamente, à literatura e aos clássicos.
A questão da interação é bastante polêmica quando se pensa em tradução como um
processo individual e não partilhado. O professor era tido como o detentor da verdade. Ele
tinha, e muitas vezes ainda tem um papel dominante e controlador das ações e atitudes dos
alunos. Na tradução, por exemplo, era ele quem ditava as regras e possuía, de antemão, o
modelo pelo qual o aluno seria julgado. O aceitável era determinado pelo professor. Na
verdade, na maioria das vezes, era o livro-texto do professor que determinava a tradução
correta. Visto pelo ângulo comunicativo, no entanto, ele deve ser o mediador, coordenador e
orientador das atividades.
Outro ponto a ser mencionado, diz respeito ao material usado na tradução. Na
abordagem comunicativa, os materiais devem incentivar o aluno a expressar aquilo que ele
precisa ou deseja. Na atividade tradutória, o uso de material significativo é de suma
importância. Os livros didáticos devem atender às exigências e necessidades do aluno. Neste
caso, a participação do professor novamente é essencial na seleção do material apropriado.
Quanto à avaliação, testes baseados em tradução literal e questões gramaticais são
meios desmotivadores e rotinizantes que se opõem às avaliações sugeridas no enfoque
comunicativo, que devem contemplar questões que avaliam o desempenho do aluno em
atividades comunicativas. Por exemplo, a tradução de textos retirados de fontes confiáveis da
internet para apresentação de seminários. Nesse tipo de avaliação o aluno tem a oportunidade
de interagir em trabalhos em grupo, bem como desenvolver a capacidade tradutória.
Propõe-se aqui que a melhor abordagem do professor deva ser compatível com os
preceitos do comunicativismo e promover re-introdução do ensino da tradução, vista de uma
forma inovada e reformulada.
60
Com o exposto, prevê-se a diminuição do sucesso alcançado na tentativa de
desvencilhar a tradução da abordagem comunicativa. No ensino que ativa as quatro
habilidades, recomenda-se que a inserção da tradução como a quinta habilidade ao processo
de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira. O resultado final das atividades
tradutórias, coerentes com a abordagem aqui tratada, está na condução das mesmas.
61
3. CAPÍTULO II - METODOLOGIA DA PESQUISA
Este capítulo busca apresentar os caminhos metodológicos percorridos por este estudo.
A coleta de dados foi realizada, no período de um ano, em três instituições de ensino
superior que são referidas aqui como: IES1, IES2 e IES3. Para facilitar a compreensão dessa
etapa da pesquisa, segue uma tabela explicativa dos momentos:
IES1 – Foi entregue um questionário para seleção dos sujeitos, só que não foi possível dar
continuidade à coleta de dados, devido à não disponibilidade dos alunos em responder os
questionários.
Primeiro momento:
IES2 – Foram aplicados três questionários:
- o primeiro questionário objetivava a seleção dos sujeitos;
- no segundo, dos doze selecionados apenas seis alunos retornaram o questionário, número
este que esta pesquisadora considerou insuficiente para análise dos dados.
- o terceiro questionário foi aplicado, ao final do semestre, a quarenta e sete alunos
voluntários cujas respostas foram analisadas na seção 4.1 deste trabalho.
Segundo momento:
IES3 – Foi dividido em três procedimentos de coleta de dados:
- primeiro procedimento: observação e diários de aula
- segundo procedimento: entrevista
- terceiro procedimento: o mesmo questionário aplicado ao final do semestre na IES2.
3.1. AMBIENTAÇÃO
A IES1 é uma instituição educacional com trinta anos de vida em Brasília, com
recursos técnicos excelentes. O professor pode dispor de equipamentos modernos para a sua
docência. Esta IES é uma instituição de grande porte, sendo a maioria dos alunos de classe
social média alta e com conhecimento básico ou intermediário de inglês. O interesse deles
pela aula não parece ser grande, porque muitos já freqüentaram um curso particular de inglês
e consideram o inglês técnico uma repetição do que já sabem. No geral, trata-se de um grupo
desinteressado e heterogêneo em termos lingüísticos. Essa instituição oferece inglês técnico I
e II nos cursos de Sistema de Informação e Ciência da Computação com abertura de duas
turmas por semestre com 40 a 50 alunos cada. O primeiro curso na área de computação
(Processamento de Dados, atualmente extinto) iniciou-se no segundo semestre de 1980.
62
Na IES2, os cursos de Tecnologia em Sistemas de Telecomunicações foram
implantados desde 2003 para atender a uma demanda do mercado de trabalho, acompanhando
tendências mundiais refletidas também na região de Brasília e sem seu entorno. São cursos da
área de telecomunicações fixas e móveis com duração de três anos. Esta IES é de médio porte,
possui salas de aula, biblioteca e laboratórios muito bem equipados. Os alunos, na sua grande
maioria, apresentam um nível insatisfatório de língua inglesa. Raro o caso de aluno que
freqüentou um curso de inglês fora do ensino regular. Todavia, o interesse dos alunos é bem
maior do que na IES1, pois existe uma consciência da importância que o inglês,
principalmente o técnico, exerce em suas vidas profissionais. O curso oferece 150 vagas em
ambas habilitações no turno matutino e 150 no turno noturno com aproximadamente 50
alunos em cada turma.
A IES3 é uma instituição pequena, cuja população é economicamente menos
favorecida, na qual foram feitas observações durante um semestre. A turma observada era
composta de aproximadamente 15 alunos, os quais não apresentavam conhecimento algum de
inglês e nenhum deles havia freqüentado um curso de inglês anteriormente. Essa faculdade
tem cursos de Sistemas de Informação cujo objetivo é formar profissionais dentro da realidade
do mercado de trabalho e fornecer um ambiente com linguagens computacionais em
diferentes níveis com o propósito de preparar o aluno para solucionar problemas com base
científica e tecnológica. O curso tem dois anos de funcionamento.
O diário de aula deve ser redigido pelo próprio professor a partir de uma reflexão a
posteriori sobre os acontecimentos durante cada encontro ou cada semana. Ele serve como
64
um contrapeso no sentido de que o próprio processo de redigir o diário leva à lembrança de
eventos aparentemente insignificantes que podem facilitar a avaliação da abordagem do
professor. Ao trabalhar com o diário de aula, Araújo (s.d.) recomenda alguns critérios:
2. O diário de uma aula deve ser redigido no máximo 24 horas após a realização
da aula. Pode ser conveniente, caso o professor não possa escrever o diário
neste prazo, fazer anotações rápidas sob a forma de tópicos, a fim de garantir
que eventos específicos ocorridos nas aulas não sejam esquecidos;
8. A cada período maior, quer seja semanal, mensal ou superior, o professor deve
reler os diários registrados, deve refletir sobre as questões mais importantes e
as experiências feitas e seus resultados;
65
9. Em contextos nos quais o professor sinta confiança e tenha apoio por parte de
coordenadores pedagógicos e diretores, ele pode trazer à discussão suas
dúvidas e conclusões obtidas a partir das reflexões contidas nos diários. Por
outro lado, devido ao caráter íntimo das informações registradas nos diários,
não se recomenda que o professor os exiba aos outros membros da equipe
interdisciplinar;
10. Mais importante é que o professor veja os diários como um registro processual,
e não os avalie apenas como uma série de imagens estanques e isoladas. Esta
visão do processo em desenvolvimento servirá como instrumento para desvelar
as mudanças que possam ocorrer durante o período de registro dos diários.
52
A fase exploratória durou um semestre letivo em uma sala de aula, ambiente de trabalho dessa investigadora.
67
apontamentos da observação, do diário do professor e da amostra de atividades aplicadas nas
aulas de inglês técnico. Ao final do semestre, os sujeitos secundários – os alunos da
professora observada – responderam a um questionário que será analisado adiante.
No paradigma qualitativo aqui tratado, o estudo não se exige a presença de hipóteses
nem a análise quantitativa. Os resultados desse tipo de estudo podem servir como base para
trabalhos futuros. Considera-se a sala de aula como ambiente natural de fonte direta de dados
e o pesquisador atua como seu principal instrumento. Houve, neste estudo, o contato direto do
pesquisador com o ambiente de sala de aula e com o tipo de ensino que estava sob
investigação.
Uma questão polêmica em relação às pesquisas qualitativas é a subjetividade do
pesquisador. Sabe-se que em estudos científicos, o pesquisador deve ser imparcial e seus
juízos de valor não devem afetar nem a coleta nem a análise de dados. Lüdke e André (1986)
defendem uma postura mais equilibrada reconhecendo a impossibilidade de separar os valores
pessoais do processo de pesquisa, mas sugerem que o pesquisador deve tomar alguns
cuidados especiais no sentido de controlar a subjetividade.
André (apud CHECCHIA, 2002) destaca que “o grande desafio [do professor-
pesquisador] é saber trabalhar o envolvimento e a subjetividade, mantendo o necessário
distanciamento que requer um trabalho científico.” Ainda segundo ele, a contribuição do
professor em uma pesquisa-docência é dupla porque mostra a visão de professor que detém
conhecimentos sobre o contexto e do pesquisador que observa os fatos detalhadamente,
analisando-os de uma forma subjetiva, para poder responder às perguntas de pesquisa.
De acordo com Checchia (2002) pesquisa-docência é aquela conduzida pelo próprio
professor, que tem a sala de aula como laboratório. Os dados são coletados de suas aulas e
práticas durante as mesmas. É uma maneira da voz do professor também ser ouvida, trazendo
uma diferente visão dos fatos, já que conhece bem o ambiente, os seus alunos, suas atitudes e
hábitos, possuindo informações importantes que podem contribuir durante sua análise. Além
disso, o fato de já fazer parte do contexto e conhecer os participantes (no caso, os alunos),
evita as situações de possíveis alterações de comportamento ao ser inserido um observador
participante desconhecido no ambiente.
Na fase exploratória deste estudo, a professora-pesquisadora contribuiu para o
conhecimento científico uma vez que ela analisou sua própria prática e teve com isso uma
grande oportunidade de fazer novas descobertas a partir de sua prática, questionando-se e
buscando alcançar uma nova percepção de seu fazer em seus aspectos positivos e negativos.
68
As dificuldades experimentadas no desenvolvimento da presente pesquisa fizeram com
que diferentes moldes e modalidades de pesquisa surgissem, o que torna impossível classificá-
la sob um único rótulo. Para maior clareza, descreve-se a seguir, os momentos distintos que se
sucederam.
Os instrumentos iniciais para coleta de dados foram três questionários dos quais
apenas um foi analisado devido a não disponibilidade dos alunos em colaborar. Conforme
apontado por Lakatos e Marconi (1991), o questionário como técnica de coleta de dados,
apresenta uma série de desvantagens: a percentagem pequena de questionários que voltam;
grande número de questões mal-interpretadas e sem respostas; impossibilidade de ajudar o
informante em questões não compreendidas. Por tais motivos, decidiu-se trabalhar somente
com o grupo de alunos da IES2 que melhor se dispuseram a colaborar. No decorrer do
semestre letivo, esta pesquisadora/professora aplicou em suas turmas várias atividades
utilizando estratégias de leitura e atividades interativas que continham as seguintes instruções
voltadas à proposta deste trabalho:
9 Leia os trechos em inglês e dê sua opinião a respeito;
53
Jakobsen (1999 apud ALVES 2001) afirma que a metáfora “triangulação” origina-se das técnicas de
navegação e na estratégia militar. Neste estudo, ela se apresenta na investigação de um mesmo objeto por meio
de dados coletados e interpretados utilizando diferentes instrumentos a fim de melhor observar, compreender e
explicar um determinado fenômeno.
69
9 Após a leitura do texto técnico, verifique se a compreensão dos seus colegas
está relacionada às suas idéias, etc.;
9 Faça um resumo do texto e depois relate em inglês o que você escreveu;
9 Discuta com os seus colegas a melhor versão em português do texto em
inglês;
9 Retire um texto de fontes autênticas e apresente um seminário sobre o assunto;
9 Elabore um glossário de termos técnicos que atenda às suas dificuldades;
9 Ouça o texto, responda as questões, depois verifique a resposta do colega, entre
outras.
No final do semestre letivo, o terceiro questionário (anexo III) foi entregue a todos
aqueles que quiseram contribuir, objetivando:
- verificar a opinião dos alunos sobre a abordagem aplicada;
- analisar as respostas dos alunos sob uma nova ótica do ensino instrumental.
Esse segundo momento foi dividido em três partes classificadas como procedimentos
de coleta dos dados.
No primeiro procedimento, esta pesquisadora foi a campo na IES3 realizar
observações acompanhadas de fichas de observação e gravações em fita cassete das aulas
dadas, seguidas de diários de aula redigidos pela professora regente.
No segundo procedimento, houve uma entrevista gravada com a professora regente,
da qual alguns trechos foram transcritos no capítulo seguinte. A entrevistadora seguiu um
roteiro (anexo IV) previamente estabelecido com certa flexibilidade no esclarecimento das
questões consideradas de difícil compreensão54. Essa entrevista semi-estrutura serviu para
comparar as informações declaradas com a conduta do sujeito nas aulas observadas
Por fim, no terceiro procedimento o mesmo questionário do primeiro momento
(anexo III) foi aplicado aos alunos da IES3 no final do semestre, buscando o fechamento da
análise dos dados.
70
4. CAPÍTULO III - ANÁLISE DOS DADOS
4
11
41 sim
1 às vezes
1 não
4 não respondeu
41
54
A respeito de entrevista do tipo semi-estruturada, veja Lüdke (1986, pp. 34-35)
71
liberdade de discutir as idéias, promovendo a interação entre aluno-aluno-
professor;
por meio de debates, seminários, reportagens etc., pudemos interagir com os
colegas;
desenvolvi a percepção tanto para ouvir quanto para pronunciar;
procuramos concordar sobre a melhor versão ou até mesmo discordar;
as aulas foram muito interativas;
trabalhos em grupo (cada um sabe um pouco, assim fica mais fácil de
apreender);
se há participação, há interação professor-aluno;
essa matéria faz com trocamos idéias em sala;
por meio de relatos de experiências;
quando tiramos as dúvidas;
na correção dos exercícios, o tema é debatido e cada aluno tem o direito de
expressar suas opiniões;
além da tradução, há discussões sobre a melhor maneira de interpretar o texto;
as atividades permitem relatos e aplicações na vida real e profissional;
promove discussão dos assuntos abordados, análise, questionamento sobre os
conceitos informados, além da interação com os colegas, aproveitando o
conhecimento deles e transmitindo o nosso.
Conforme abordado no capítulo I, seções 2.2.2 e 2.2.3 que tratam das características de
uma aula comunicativa e dos princípios da abordagem comunicativa, as aulas que usam
atividades interativas, despertam o interesse dos alunos e fazem com que eles aprendam
participativamente, utilizando a língua alvo para a comunicação, seja de forma oral ou escrita,
pois elas se encaixam nos padrões e exigências do comunicativismo.
A segunda pergunta visa a verificação da preferência do aluno pelas atividades que
foram desenvolvidas em sala.
72
Gráfico 2 – IES2: Questão 0255
2 em grupo
25 5 listening
21 21 tradução
20 3 estudo da gramática
6 interpretação de texto
15
15 6 pesquisa
7 em laboratório
10 6 debates
7 4 exercícios
6 6 6
5
5 4 4 1 leitura de textos
3
2 1 uso de dicionário
1 1 1
0 4 estudo do vocabulário
1
1 em biblioteca
Muitos deles disseram gostar de tradução em primeiro lugar. Talvez isso explique a
autoconfiança que essa atividade propicia a eles. Já o seminário permite que o aluno pesquise,
se torne atualizado e enriqueça seu vocabulário técnico; em terceiro lugar foi apontado o uso
do laboratório como instrumento de pesquisa de fontes selecionadas e autênticas;
interpretação de textos, pesquisa e debates foram escolhidos por seis alunos o que indica que
muitos preferem a tradução em suas variadas formas de aplicação a debates ou atividades de
interpretação propriamente ditas; a atividade de prática auditiva (listening) também apresenta
um número baixo, mas isso não significa que eles não participavam intensamente dessa
atividade quanto usada; as atividades em grupo, a leitura de textos, o estudo do vocabulário ou
o uso de dicionários (técnico e bilíngüe) por si só não parecem ser atividades que os alunos
consideram relevantes ou até mesmo motivadoras, pois elas acontecem simultaneamente com
as de maior ocorrência.
A terceira pergunta é sobre a opinião dos alunos quanto à utilização da tradução em
sala.
55
Vale destacar que a numeração lateral dos gráficos que se seguem não corresponde ao número de respondentes
e sim à escala de freqüência das respostas. Além disso, a escolha do gráfico tipo pizza deve-se à facilidade na
visualização de poucos dados.
73
Gráfico 3 – IES2: Questão 03
2 não muda a
45 44 compreensão
1 não observei
40 mudança
14 melhora e enriquece
35 o vocabulário
10 melhora a
30 interpretação de textos
1 identifica a idéia
25 principal
2 entender o inglês
20
4 aprimora as
14 estratégias de leitura
15
1 debater as idéias e a
10 compreensão do texto
10 1 acesso a informação
5 4 3
2 2 3 conhecer a estrutura
1 1 1 1 1
gramatical
0 1 aquisição de
1 conteúdo
56
As atividades de áudio citadas pelos alunos, foram feitas por meio de listening e em seguida discussão sobre
os temas propostos.
74
sem ditar regras de tradução desde que não perca o sentido;
através de questionários;
com uma análise aprofundada e comentada do texto;
com o estudo do vocabulário técnico e expressões idiomáticas através do
glossário;
no início com a tradução ao pé da letra, mais tarde com traduções mais livres e
acessíveis;
de forma clara, objetiva e segura;
com resumos, uso de dicionários e internet;
de forma simples e interessante;
com a primeira leitura rápida depois outra aprofundada.
5
4
38 sim
4 às vezes
5 não respondeu
38
75
A pergunta visa checar se a professora dava retorno e fazia a correção da produção dos
alunos. Ao todo, trinta e oito disseram que sim e acrescentaram as formas utilizadas.
O professor:
explica exemplificando com trechos do texto;
pede ao aluno para refazer o exercício em dupla;
pergunta ao aluno se houve progresso;
mostra como fazer, os porquês de tal escolha e apresenta uma versão que
melhor se enquadra no contexto;
aponta os erros e os pontos fracos da interpretação para revisão;
pede ao aluno para fazer a auto-correção e sugere o aprendizado com os
próprios erros e/ou para compartilharem as dificuldades com os colegas e o
regente;
analisa, tira dúvidas e sugere opções;
debate sobre o texto;
orienta sobre os pontos fracos da tradução literal sem sentido e como melhorar;
utiliza sinônimos;
corrige os exercícios na aula seguinte às atividades;
propõe alternativas quando os alunos apresentam dúvidas;
sublinha as partes do texto, apontando as partes que necessitam mais cautela na
execução. Durante a correção, a professora pede aos alunos para fazerem a
auto-correção, refazerem as produções, discutirem os pontos cruciais de acordo
com os objetivos da aula, alterarem o produto final à medida que a correção é
feita;
dá feedback instantâneo aos aprendizes.
Finocchiaro e Brumfit (1983, p. 91-93) apontam algumas características essenciais
para uma aula comunicativa que se coadunam com as declarações dos alunos: o significado é
mais importante. A contextualização é uma premissa básica. O uso criterioso da língua
materna do aluno é aceitável quando necessário. A tradução pode ser usada quando os alunos
precisarem e se beneficiarem dela. Leitura e escrita podem começar desde o primeiro dia. Os
professores ajudam o aluno de todas as formas para motivá-lo a trabalhar com a língua. Os
alunos devem interagir com outras pessoas em pares ou grupos ou por meio de suas redações.
O professor não pode controlar a língua que os alunos usarão. O professor como gerenciador
organiza a sala para favorecer a interação e as atividades comunicativas; encoraja os alunos e
76
monitora seus desempenhos; cria oportunidades de expressão e participação; oferece
alternativas que promovam auto-correção, assistência e extensão das discussões.
A pergunta de número seis refere-se a uma única versão aceita ao traduzir.
46 não
1 sim
46
77
Gráfico 6 – IES 2: Questão 07
3 1
2
7 34 sim
7 às vezes
2 raramente
3 não
1 não respondeu
34
A maioria respondeu que sim, pois assim eles podem comparar, melhorar, tirar
dúvidas quanto ao sentido, compartilhar conhecimento, esclarecer dúvidas, etc. As respostas
evidenciam a importância de compartilhar idéias, opinar sobre a versão final, interagir com os
colegas nas tarefas que envolvem tradução, tarefas essas tratadas na seção 2.3.2 “Como a
tradução funciona”. Além disso, indicam um papel menos centralizador do professor e
também promovem a autonomia na aprendizagem.
Na oitava pergunta, o pesquisador busca saber se as opiniões dos alunos eram
respeitadas.
10 32 sim
10 às vezes
5 não respondeu
32
Muitos responderam que sim, mas sem comentários. Isto está de acordo com a
proposta da presente pesquisa e indica um ambiente adequado para o uso correto de tradução
no estímulo da capacidade comunicativa do aluno de LE.
78
A nona pergunta questiona se os alunos consideram as estratégias de leitura
(cognatos, adivinhação da palavra através do contexto, identificação da palavra chave,
localização de idéias principal e secundária no texto, entre outras) importantes porque são
facilitadoras da compreensão de textos e da aprendizagem de inglês.
40 sim
7 não respondeu
40
Os comentários foram:
são muito úteis;
foram responsáveis pelo meu aprendizado de inglês;
ajudam a não consultar o dicionário com muita freqüência, ou seja, depender
dele;
desenvolvem o vocabulário;
ajudam a ganhar tempo, compreender textos mais técnicos, identificar
palavras-chaves, cognatos.
facilitam a tradução.
Os comentários dos alunos certificam o reconhecimento deles quanto à eficácia das
estratégias apresentadas na seção 2.1.2.1 que sugerem não só o uso de estratégias de leitura,
mas também uma fusão de outras estratégias e atividades que promovem a motivação,
interação e aprendizagem dos alunos de LE, em especial nos cursos técnicos.
Por último, questionaram-se quais atividades utilizadas em sala os alunos
consideravam comunicativas:
79
Gráfico 9 – IES 2: Questão 10
12 7 listening
11
10 9 tradução
10
9 9
1 inglês falado
8 2 correção
7
6 11 debate em sala
3 questões comentadas de V ou
4 F
3 2 pesquisas
2 2 2
2 2 conversações
1
9 não respondeu
0
1
80
alunos apresentaram uma grande evolução de conteúdo e de aprendizagem da LE. Eles
tornaram-se capazes de compreender textos técnicos na língua inglesa e sentiam-se seguros ao
discutir o assunto ali apresentado. Infelizmente em função do limite temporal, não foi possível
neste estudo provar essa evolução e mensurar o resultado por meio de suas produções escritas.
Outro grande benefício dessa etapa foi a oportunidade que a professora- pesquisadora
teve de analisar a sua prática a partir da visão dos seus alunos quanto à sua abordagem de
ensino. Em suas reflexões, ela asseverou que as aulas menos proveitosas foram aquelas em
que não ocorria a interação. Nessas aulas, os alunos não se sentiam satisfeitos e julgavam a
aula pouco rendosa e motivadora. Isto confirma a validade de buscar um viés comunicativo na
aula de inglês técnico.
57
Considera-se aqui, inglês instrumental básico como o ensino das estratégias de leitura.
81
A professora de inglês técnico observada utilizou-se de uma metodologia baseada em
atividades que visavam à interação dos alunos. Solicitou-se a ela a elaboração de um diário de
aula após as aulas observadas por esta pesquisadora. Entretanto, apenas dois diários foram
entregues ao final das observações.
As aulas observadas tiveram como foco atividades de tradução que são consideradas
comunicativas, mas, segundo conclusão desta pesquisadora, pouca da competência
comunicativa descrita por Canale e Swain (1980) foi desenvolvida, visto que, todas as
orientações foram dadas em português e a participação efetiva dos alunos também era na
língua materna e não havia incentivo para o uso da língua alvo. Observou-se que, mesmo com
o uso da língua materna, houve uma evolução muito significativa quanto à compreensão dos
textos voltados à área técnica. A professora regente dava instruções sobre a gramática
aplicada quando sentia a necessidade. Em todas as atividades desenvolvidas, a professora
ensinou aos alunos técnicas de tradução e estratégias de leitura no intuito de apreender as
idéias geral e específica expressas no texto. Houve uma diversidade de atividades nas quais o
conhecimento dos alunos foi constantemente aproveitado. As atividades dessas aulas
apresentaram as seguintes características condizentes com os princípios da abordagem
comunicativa e o ensino de inglês técnico:
levam em conta a necessidade dos alunos;
estimulam a interação, cooperação dos alunos nos trabalhos em grupo;
oferecem oportunidades aos alunos de compartilharem informações, idéias e
opiniões;
a professora incentiva a participação e o crescimento intelectual e profissional
dos alunos;
a professora orienta as atividades de tradução de modo que o aluno não se sinta
desamparado;
a professora trabalha a adequação vocabular e a fraseologia dos textos
técnicos;
a professora leva o aluno à autonomia.
[...] quando você trabalha com a tradução em grupos ou então trocando idéias depois que a
tradução já está pronta [...] e tradução oral eu acho que também ajuda muito neste sentido da
interação.
[...] acredito que pode, acredito muito, principalmente porque eu tenho visto os
resultados, né. [...] Os trabalhos deles no decorrer do semestre mostram que eles
evoluem. [...] a gente vê que funciona.
Apesar da declaração da entrevistada, não fica clara a prática dessas vertentes em sua
docência. Não foi possível verificar nos alunos o desenvolvimento das quatro competências
tratadas na seção 2.2 sobre abordagem comunicativa.
Não há a pretensão de dar exclusividade a esta prática, muito menos de classificá-la
como a melhor. Acredita-se que a melhor abordagem é aquela exercida pelo profissional
consciente de seu papel, de seus objetivos e essencialmente pelo conhecedor da sua realidade.
Sem deixar de reconhecer a eficácia do procedimento adotado na obtenção do resultado
pretendido, vê-se que o ensino que faz a triangulação aqui proposta possa tratar de forma mais
equilibrada as habilidades ativas (fala e escrita) na LE.
83
Ainda de acordo com a abordagem proposta nesta pesquisa, percebeu-se que as aulas
observadas em certos aspectos não atenderam aos princípios da abordagem comunicativa no
que se refere ao uso da língua alvo. Por exemplo, quando os alunos buscavam esclarecimentos
na língua inglesa e a professora não correspondia aos seus anseios, eles não demonstravam
satisfação quanto a falta da prática oral. As aulas de LE devem privilegiar a língua alvo
Almeida Filho (1998). Sugere-se que, a utilização de textos autênticos nas aulas de inglês
técnico que proporcionem um contato maior com terminologia específica da área. Este
fenômeno pode ser comprovado nos apontamentos das fichas de observação das aulas e da
citação retirada do diário de aula redigido pela professora observada:
[...] Como de costume, a aula ocorreu em português. O texto trabalhado nesta aula foi
The Computer System (Unidade 4 de Inglês.com.textos para informática). Os alunos
já haviam discutido o texto, feito os exercícios correspondentes e entregado um
resumo/tradução do texto – ou seja, uma espécie de relatório em português daquilo
que haviam compreendido do texto – em aulas anteriores. Assim, já havíamos
cumprido grande parte dos objetivos para aquela unidade.
Após análise do livro adotado pela professora, verifica-se a utilização de textos não
autênticos. Na maioria dos textos não há referência à fonte deles. Não há aqui a intenção de
condenar o uso de tais textos, mas sim de sugerir a utilização de textos mais atuais e
adequados à realidade dos alunos que possam serví-los em suas vidas tanto acadêmica quanto
profissional. Além dos benefícios do uso de textos autênticos, isso representa um dos pilares
da AC. É uma maneira de fazer com que a sala de aula se aproxime da realidade extraclasse,
evitando um descompasso entre o que se pratica na sala de aula e o que se enfrenta do lado de
fora.
Corrobora-se ainda que a carga horária de inglês técnico é insuficiente nesse ambiente
para suprir as deficiências apresentadas, razão pela qual o papel do professor torna-se mais
relevante.
O uso excessivo da tradução pode tornar o ensino um pouco desmotivador. A tradução
comprovadamente oferece vantagens e resultados positivos, mas quando aplicada em demasia
leva à predominância do uso da língua materna. As aulas que utilizam textos em inglês,
atividades que oferecem um contato maior com a língua como leitura oral dos textos ou
atividades de prática auditiva, enunciados em inglês, oportunidades de produção oral mesmo
que o desenvolvimento da habilidade oral no ambiente instrumental não seja o foco, ajudam o
aprendiz na aquisição da língua alvo.
84
Outro fator bastante preocupante é a falta de preparação dos professores no exercício
de sua profissão. Na regência em área técnica é desejável que o professor apresente o mínimo
de conhecimento técnico. Isso certamente exigirá uma maior seleção e preparo dos
professores, bem como um investimento da instituição em oferecer cursos de aperfeiçoamento
aos professores ou de preparação para a área específica. Há de se reconhecer também que, os
cursos de formação de professores de línguas ignoram o ensino instrumental e,
conseqüentemente, não preparam os professores para atuar eficientemente nesse ambiente. É
notável a contratação de profissionais nesta área sem o preparo prévio ao exercício de tal
função, além da falta de suporte por parte da instituição em promover reuniões
interdisciplinares para que os professores possam trocar materiais e fornecerem uns aos outros
o apoio que eles precisam ao iniciar o ensino em uma área nova, neste caso, a técnica. Esse
fato pode levar o professor à insegurança. De acordo com a literatura de ESP, o EAP (English
for Academic Purposes) é um ramo relativamente novo, voltado para o ensino de inglês com
propósitos acadêmicos (SHARPLING, 2002). Neste contexto, os professores não são
obrigados a dominar o conteúdo técnico, mas é desejável que eles adquiram o mínimo
necessário à sua prática, conforme aponta Bell (1999):
Outro relato descrito no diário, diz respeito à reação da professora observada ao ficar
constrangida com a presença da pesquisadora. Ocorreu apenas uma interação da pesquisadora
quando opinou sobre o uso de termos técnicos na língua portuguesa, afirmando que o
português é muito rico, e pode oferecer alternativas aos significados de verbetes em inglês, já
na opinião da professora regente, existem termos que não são traduzíveis, conforme relatou:
58
[…] EAP trainers were typically told to exploit queries about subject content, so as to provide opportunities
for the students to develop their fluency, produce extended spoken discourse, and effectively share their
knowledge of the subject, even if this knowledge goes beyond the trainer's command of the subject. This strategy
however, involves a high degree of risk for the trainers, particularly in terms of their credibility with the learners.
85
opinião de meus alunos e eles, sim, é que têm o direito de pensar diferente. Foi de fato
uma aula muito válida para mim, pois me rendeu muita reflexão.
[...] Comecei a aula com uma discussão: pedi ao grupo que listasse (sempre em
português) quais as atitudes dos homens que irritam as mulheres e vice-versa. Em
seguida, pedi que cada aluno comparasse sua lista com algum outro e depois pedi a
voluntários que lessem sua lista. Foi um momento bastante descontraído e houve um
bom envolvimento por parte de todos na discussão – principalmente para discordar
das anotações do sexo oposto. Esta discussão acabou tomando mais tempo que o
planejado, mas achei válido, pois, no momento em que tocamos a música, todos
pareciam muito interessados no clipe e no significado da letra.
A utilização de materiais que não atendam às necessidades dos alunos e que fogem do
contexto profissional e acadêmico do aluno não é indicada. Por outro lado, talvez o efeito
sócio-afetivo obtido dessa utilização, compense o desvio de foco da linguagem técnica. No
inglês instrumental de cursinhos livres, o professor tem uma liberdade maior na escolha dos
textos. No segundo diário de aula analisado, o professor regente assume a utilização de
recursos não convencionais nas aulas de inglês técnico voltado para informática.
[...] o DVD com o clipe da canção que gostariam de ouvir. Durante a aula utilizei a
aparelhagem de data show, uma apresentação de Power Point com questões para
debate e uma atividade sobre a canção, que constava da letra da música (Shut up –
Black Eyed Peas) e lacunas a serem completadas.
86
Na opinião da professora as atividades extras contribuem para o relaxamento, mas de
acordo com a literatura de EAP (English for Academic Purposes) o foco das aulas está no
conteúdo e na interdisciplinariedade com as demais disciplinas do curso. Nos cursos de inglês
instrumental não técnico o mesmo não se aplica, pois o professor tem a liberdade para atender
aos diversos gostos.
8 sim
1 não
87
Entretanto, ao analisar as razões que levaram os entrevistados a responderem sim ou
não, evidenciou-se o não entendimento do termo “interação”. Por exemplo, para o
entrevistado 1, que respondeu sim, é: “[...] porque na aula nós aprendemos a traduzir texto
etc.”. Observe que, na visão interacional Wertsch (1991) considera a língua como veículo
para a realização das relações pessoais e sociais, na qual o professor e estudantes exploram
idéias, formulam perguntas autênticas, consideram e trabalham diferentes pontos de vista.
Na segunda questão, de nove respondentes, três disseram gostar da tradução por
facilitar a compreensão, despertar o interesse em aprender e por ela oferecer a oportunidade
de o aluno debater em grupo. Baseado nestas respostas, constata-se que a tradução pode
motivar o aluno e promover a interação de acordo com os princípios da abordagem
comunicativa, bem como facilitar a compreensão de textos59. Outros três apontaram as
dinâmicas de aula, um deles afirmou gostar de atividades que estimulam a fixação e
aprendizagem da matéria, por exemplo, dinâmicas com jogos, música e textos. Seguem
trechos escritos ao serem questionados sobre quais atividades mais gostam: “Formação de
grupos para debate”; “A aula com música e texto”. Não há problema algum na aplicação de
diversas atividades, o resultado está no tipo de tarefa a ser desempenhada a partir dela.
0 1 trabalho em grupo
1
88
Na terceira questão, foi verificado como o aluno classifica a tradução. Todos
responderam que ela é útil à compreensão de textos. Segue comentário de um aluno, “[...] útil,
pois não sabia quase nada de inglês, mas agora sei algumas palavras que não me deixam na
mão [...]”. De uma forma geral, a maioria percebeu uma evolução no conhecimento do inglês.
Vale destacar que, neste estudo, não foi possível mensurar o crescimento do aluno; ele é
observado ou medido apenas por meio dos comentários relatados no questionário e de forma
subjetiva nas observações feitas por esta pesquisadora.
59
De certa forma, esta resposta compensa ou corrige o problema de confiabilidade das respostas à pergunta
número um. Uma entrevista com os alunos (triangulação de instrumentos) teria permitido sanar os problemas
com o questionário, mas não foi possível realizar uma.
89
A quinta pergunta aponta a satisfação dos alunos relacionada ao tratamento do erro
dado pelo professor. Pelas respostas, percebeu-se que a maioria dos alunos ficou satisfeita
com o retorno dado às suas produções. A professora utilizava a Internet como um recurso para
correção: os alunos colocavam seus textos no blog (ferramenta da Internet) para a professora
ter acesso a eles. Em outros momentos, simplesmente corrigia-os em sala.
6 sim
1 às vezes
1 2 não respondeu
6
7 não
2 sim
3
5 sim
1 às vezes
5
3 não
1
Segundo relatos dos alunos, essa discussão sobre a melhor versão é feita para que o
texto se adeque melhor à língua materna. Um aluno diz acreditar que a contribuição do colega
é importante. Dos três que responderam não, pode-se verificar que seus comentários
contrariam a proposta da professora regente, cujo ambiente de atuação foi interativo. No
91
comentário, “[...] os colegas são muito ocupados e nunca têm tempo” fica claro que o aluno
não percebeu que a pergunta se referia às oportunidades de troca em sala de aula. Já na
resposta de outro aluno, o “não” parece realmente não corresponder ao verdadeiro não,
conforme relato: “[...] posso dizer que se traduzo uma parte e percebo que a do colega tem
mais nexo, mudo a minha”.
Mediante análises, verifica-se que a proposta da professora regente, neste caso, foi
satisfatória promovendo um ambiente de troca de idéias.
A oitava pergunta checa se as opiniões dos alunos eram respeitadas. Entende-se que
em um ambiente participativo, o respeito é um ponto essencial ao bom andamento das
atividades. Nas respostas, oito alunos consideraram suas opiniões respeitadas, e outro julgou
que nem sempre. Assim, conclui-se que as aulas eram propícias à participação também
requerida pelos princípios da abordagem comunicativa.
1
8 sim
1 às vezes
92
Gráfico 17 – IES 3: Questão 10
1
1
1 sim
1 não
7 não respondeu
Verifica-se que apenas dois alunos responderam a esta questão, talvez por estarem
cansados. Um aluno considerou o filme sobre inteligência artificial passado em sala como
uma atividade comunicativa. Outro julgou as atividades não comunicativas, justificando que,
“[...] falamos pouco inglês e texto demais para traduzir.” Mediante esta resposta, é possível
observar novamente que os alunos entendem a fala neste ambiente uma habilidade necessária.
Embora o desenvolvimento da fala seja um elemento muito importante no aprendizado de
uma LE embora não se possa deixar esse elemento fora do contexto de sala, o foco principal
do inglês técnico não é a habilidade oral. Seguramente, no entanto, o nível dos alunos quanto
ao domínio de LE na IES3 inviabiliza a promoção da fala, já que demandaria tempo demais e
o propósito é desenvolver a capacidade de leitura.
A triangulação dos dados permite ao pesquisador uma maior precisão nos resultados
da análise. A comparação dos dados por meio da técnica de triangulação para fins da
investigação qualitativa como uma opção metodológica em três momentos distintos pode
validar com mais firmeza o resultado da pesquisa.
IES3
IES2 PROFESSORA
93
Dado o cruzamento dos dados, houve uma comparação entre os dados coletados na
IES2, na IES3 pela entrevista e pelos diários da professora regente. Embora o número de
sujeitos da IES3 fosse inferior ao da IES2, foi possível verificar o nível de evolução na
aprendizagem de inglês relatado pelos alunos após um semestre letivo. Infelizmente, não foi
possível quantificar este grau de conhecimento adquirido por cada grupo, mas seguramente
ambos tiveram um nível de satisfação razoável. As atividades desenvolvidas na IES2 não
foram idênticas às aplicadas na IES3. No entanto, observa-se por meio dos resultados da
questão 02 do questionário 03 (anexo III) que os alunos de ambas IES’s consideram a
tradução a atividade que mais gostam. As dinâmicas e os seminários ficaram em segundo
lugar, provando que as atividades comunicativas que permitem a interação e a prática oral são
apontadas como as preferidas. Ressalta-se que o papel do professor, neste sentido, é o de
aproveitar estas preferências para o desenvolvimento da comunicação conforme defendido na
abordagem comunicativa.
Nas duas IES, os dados revelaram que a maioria dos alunos não acreditava em uma
única versão de tradução. Portanto, a tradução não só induz o respeito à opinião alheia, mas
também favorece a troca de idéias a partir do conteúdo do texto. Novamente, esta atividade
prova ser compatível com os princípios da abordagem comunicativa conforme defendido por
Ridd (2003), e também com as atividades verdadeiramente comunicativas citadas na seção
2.2.2.4, onde se justifica a interação por meio de ajuda mútua.
Com os resultados obtidos no questionário e a entrevista, provou-se que a professora
regente acredita na compatibilidade dos dois componentes: tradução e abordagem
comunicativa no ambiente de inglês técnico. Nas respostas da nona questão sobre eficácia das
estratégias de leitura parece existir uma unanimidade na opinião dos alunos investigados e da
professora observada. Assim, confirma-se a relação existente entre os três componentes
(tradução, inglês técnico e abordagem comunicativa) apontados na pergunta desta pesquisa:
Como os princípios da abordagem comunicativa e as atividades de tradução podem
beneficiar a aprendizagem de LE em um ambiente de Inglês Técnico?
A resposta parece óbvia, sobretudo quando há uma boa dosagem na mesclagem desses
componentes que favorecem o aprendizado e o desenvolvimento das quatro habilidades
requeridas do aprendiz, incluindo ainda uma quinta habilidades conforme Janulevičienė e
Kavaliauskienė (2002). A maioria dos professores apóia o uso da tradução em aulas de ESP e
concordam que a L1 ajuda o aluno a aprender uma língua estrangeira. Acrescentam ainda, que
o uso da tradução desenvolve o bilingüismo. E a quinta habilidade de ser capaz de usar as
duas línguas (L1 e LE) alternadamente está se tornando uma parte importante na
94
aprendizagem de LE e deve ser contemplada pela abordagem. Este uso alternado é frisado no
livro de Deller e Rinvolucri (2002).
95
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos professores de língua estrangeira acreditam que não exista “o melhor método”,
e poucos profissionais neste ramo, hoje em dia, persistem no uso de apenas uma abordagem
de ensino. Ao contrário, professores devem tentar ser flexíveis na escolha de técnicas que
permitam o alcance de suas metas: desenvolver nos alunos precisão gramatical e proficiência
comunicativa em língua estrangeira.
Com relação à prática das diferentes métodos de ensino, Leffa (1988), diz que as
abordagens que dão origem aos métodos são geralmente monolíticas e dogmáticas. Por serem
uma reação ao que existia antes, asseveram que tudo estava errado e agora tudo está certo.
Com isso, perde-se muito tempo em debater qual dos métodos é o mais adequado,
desconsiderando a grande contribuição que cada abordagem ofereceu e ainda oferece para o
Ensino de Língua Estrangeira, assim ele conclui que:
- seminários com temas selecionados pelos próprios alunos oferecem uma maior
motivação ao estudo da língua alvo.
A análise contrastiva pode ser usada para explicação de algumas dúvidas estruturais ou
gramaticais que possam surgir no decorrer das atividades conforme citado na seção 2.3.4.
Outra atividade interessante é dividir a turma em dois ou mais grupos, dar a cada grupo um
texto pequeno com três ou quatro orações para traduzir para o inglês. Depois trocar os papéis
97
entre os grupos, e pedir que traduzam novamente para a língua portuguesa, por exemplo. O
resultado, quando comparado, é interessante e geralmente divertido.
5.3. CONCLUSÃO
O que se apresenta aqui é uma relação entre as diversas formas de ensino que provam
sua eficiência quando bem monitoradas e aplicadas. A triangulação entre inglês técnico ↔
tradução ↔ abordagem comunicativa sugerida na introdução desta dissertação serve como
instrumento mediador da motivação, da interação entre aluno ↔ aluno ↔ professor e do
desenvolvimento das competências requeridas do aluno no ambiente de inglês técnico. Dessa
forma, busca-se suscitar a reflexão sobre o uso predominante da abordagem tradicional no
cotidiano desse tipo de ensino.
Ao investigar a abordagem do professor, verificou-se que o uso de L1 está presente
nesse ensino e que, de certa forma, ele maximiza a interação e participação nas atividades
propostas em ambos ambientes investigados. Nesse sentido, Mello (2004) destaca que: “[...] a
L1 não deve ser vista sob o prisma de desvio da norma, mas como um recurso discursivo
mediador que possibilita a interação, sobretudo, nos momentos em que há uma quebra da
comunicação”. Além disso, ela preconiza que o uso de L1 e L2 pode levar à competência
bi(multi)lingual, favorecendo o desenvolvimento da proficiência em ambas línguas, sem
correr o risco de a L1 substituir a LE. Nas atividades de tradução oral ou escrita, por exemplo,
o professor trabalha com a L1 e a L2, desenvolvendo assim, a competência discursiva do
aluno.
Por outro lado, a triangulação abaixo pôde validar-se após a análise das respostas
obtidas via questionário na IES2. Constatou-se que o ecletismo gerou uma satisfação maior
nos alunos.
98
Inglês Técnico
Com a utilização adequada da tradução, pode-se dizer que ela tem papel importante na
ensino de língua estrangeira. Segundo Ridd (2003), “a tradução, empregada de forma
consciente e criativa, pode enriquecer o ensino nos moldes da AC sem, de maneira nenhuma,
contrariar os postulados e a filosofia que a caracterizam”. Chellapan (1982, p. 60) por sua vez
aponta que:
[...] A tradução pode levar o aluno a lidar com a língua alvo. Uma consciência dos
dois meios poderia realmente levar o aluno a ver os pontos de convergência e
divergência mais claramente e também refinar a percepção e a análise resultantes de
um pensamento divergente.60 (tradução nossa)
Duff (1989) também tem uma visão positiva sobre o papel da língua materna na
aquisição de língua estrangeira. Ele considera a língua materna como essencial para formação
e estruturação de orações, para compreender a influência que uma exerce sobre a outra.
Conscientes desta influência, estudantes buscam explicações nos porquês dos erros e tentam
não mais cometê-los. De acordo com Welker (2003), o uso da L1 não é somente permitido
como também necessário em certas ou mesmo em muitas situações.
Prabhu e kumaravadivelu, (1990 e 1994 apud UR, 1995) indicam que o melhor
método seria a combinação de todas as abordagens e a aplicação de uma mais apropriada para
cada ambiente, que vise trazer os melhores resultados para o ensino dos alunos (CELCE-
MURCIA, 1991, p. 10).
Conclui-se também que, um professor com uma postura reflexiva e consciente da sua
prática, bem como um aprendiz estratégico e ciente do seu papel em relação à aprendizagem
da língua estrangeira contribuem para um aprendizado mais significativo e proveitoso nos
mais diversos campos do saber. O professor reflexivo consegue distinguir a abordagem mais
adequada da inapropriada, o material mais interessante do pouco estimulante, sabe selecionar
60
Translation can make the student come to closer grips with the target language. A simultaneous awareness of
two media could actually make the student see the points of convergence and divergence more clearly and also
refine the tools of perception and analysis resulting in divergent thinking.
99
as tarefas comunicativas mais atrativas, assim como permite o crescimento intelectual e
formativo do seu aluno, promovendo um ambiente interativo e “real”.
A figura 5 abaixo sugere a conglomeração de diferentes componentes na prática do
ensino técnico/instrumental. O ecletismo sugerido por Leffa (1988) apresenta-se neste modelo
como mediador de um ensino instrumental mais abrangente e extensivo ao conhecimento
lingüístico e ao desenvolvimento das habilidades comunicativas.
ENSINO INSTRUMENTAL
ECLÉTICO
CONHECIMENTOS HABILIDADES
LÍNGÜÍSTICOS COMUNICATIVAS
- morfossintaxe e semântica - discussão em grupos
- pragmática - tradução oral
- pronúncia - atividades de “listening”
- vocabulário específico - apresentação de seminários
- estratégias de leitura e - leitura de textos com troca de idéias
aprendizagem - interação
- tradução - fluência
100
A impossibilidade de entrevistar os alunos da IES3 inviabilizou a triangulação dos
instrumentos para uma maior interpretação dos dados colhidos no questionário 3 (anexo III).
Outra possibilidade não contemplada foi a observação em outros ambientes de inglês
instrumental que pudessem servir de comparação aos aqui retratados.
O que importa, acima de tudo, é que esse assunto não se esgote e provoque o desejo
em outros pesquisadores de investigar ainda mais a relação dos princípios norteadores do
inglês instrumental, da tradução e da abordagem comunicativa, na tentativa de aliar suas
teorias a uma nova prática de ensino instrumental.
101
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110
ANEXOS
Anexo I:
QUESTIONÁRIO
Prezado Aluno,
Este material tem o objetivo de fazer um levantamento de dados, tais informações irão possibilitar a
realização de uma pesquisa na área de Lingüística Aplicada. Além disto, visa selecionar alunos de
graduação que cursam Inglês Técnico, para composição de um grupo de amostra à referida pesquisa.
A seguir, são apresentadas algumas questões a respeito da aprendizagem do ensino de inglês. Suas
respostas serão tratadas de forma confidencial, portanto pede-se a maior sinceridade possível.
Profissão atual:_________________________________
Tempo de serviço:
- na Empresa:__________________
- na Função: ___________________
7) Quais atividades e recursos, você gostaria que seu professor de inglês utilizasse?
( ) leitura com debates sobre o assunto
( ) tradução
( ) pesquisas
( ) internet
( ) outros. Quais? ______________________________________________________
* Busca-se saber quais atividades despertam mais o interesse do aluno.
112
10) Quais práticas comunicativas você considera interessantes?
( ) diálogos
( ) debates
( ) simulações em diferentes situações (role-play)
( ) exposição oral de relatos e/ou assuntos diversos
*Com esta pergunta, tenta-se aproximar a leitura à prática oral.
Anexo II:
Prezado Aluno,
Este material tem o objetivo de averiguar qual o nível de motivação, conhecimento e experiência você
apresenta em relação ao ensino e aprendizagem de inglês.
Profissão atual:_________________________________
Tempo de serviço:
- na Empresa:__________________
- na Função: ___________________
113
3) Especifique o percentual, totalizando 100%, indicando a responsabilidade da aprendizagem
quanto ao ensino de inglês.
PRIORIDADE % (APROXIMADO)
professor/didática
aluno/motivação
material utilizado/metodologia
4) Relate uma experiência positiva que mereça destaque nas suas aulas anteriores de inglês.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
5) E uma negativa.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
114
10) Você gosta de traduzir? Por quê?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Anexo III:
QUESTIONÁRIO
Prezado Aluno,
Este material tem o objetivo de fazer um levantamento de dados, tais informações irão possibilitar a
realização de uma pesquisa na área de Lingüística Aplicada. Além disto, visa coletar dados dos
alunos de graduação que cursam Inglês Técnico para futuras análises.
A seguir, são apresentadas algumas questões a respeito da aprendizagem do ensino de inglês. Suas
respostas serão tratadas de forma confidencial, portanto pede-se a maior sinceridade possível.
Com base nas suas aulas de inglês técnico no decorrer do semestre, responda as seguintes
questões:
115
5) Há retorno/correção da sua produção? Como?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
6) Você acredita que existe uma versão única correta quando traduzindo um texto de inglês para
português?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
7) Ao traduzir, você discute com seus colegas sobre qual versão estaria mais apropriada?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
10) As atividades desenvolvidas nas aulas de inglês técnico foram comunicativas? Quais
atividades você considera relevantes?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
11) Com base nas atividades desenvolvidas em sala, em uma escala de 0 a 10, qual nota você
se daria? Por que você acha que merece está nota?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Obrigada pela companhia e sinceramente espero ter contribuído para o seu crescimento!
Anexo IV:
2) Você considera que suas aulas promovem a interação entre alunos e aluno-professor?
5) Você considera a tradução uma atividade que favorece a aprendizagem? Em que aspectos?
9) Você promove uma discussão de modo que os alunos possam trocar idéias ou até mesmo se
ajudarem? O que você pede a eles neste caso?
10) Na sua experiência, você leva em conta as opções de tradução dos alunos?
14) Você acredita que uma aula de inglês instrumental que faz uso da tradução, das estratégias
de leitura e os princípios da abordagem comunicativa pode dar certo?
Anexo V:
FICHA DE OBSERVAÇÃO
CURSO:__________________________________________________________________
SEMESTRE:______________________________________________________________
PESQUISADORA ROSÂNGELA ELIAS DA SILVA
117
ڤoutras
Tem domínio da fala, escrita, leitura e ڤsim
compreensão auditiva da língua alvo. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Demonstra experiência no ambiente de ensino ڤsim
superior de inglês técnico. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
O professor aproveita o conhecimento do aluno. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Faz relação do conteúdo com a formação ڤsim
profissional do aluno. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Utiliza uma diversidade de atividades de ensino. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Faz uso de uma variedade de técnicas de ensino. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
As atividades de sala de aula são condizentes ڤsim
com os princípios da abordagem comunicativa. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
A aula apresenta uma seqüência planejada. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Percebe e leva em conta as necessidades do ڤsim
aluno. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Elucida às dúvidas dos alunos. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
O professor é reflexivo e altera sua prática ڤsim
quando necessário. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Estimula interação, cooperação e trabalhos em ڤsim
grupo. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Aplica atividades motivadoras e incentiva a ڤsim
participação.
118
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Utiliza material apropriado aos conteúdos do ڤsim
curso técnico e às necessidades do aluno. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Oferece oportunidades para compartilhar ڤsim
informações, idéias e opiniões dos alunos. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
É paciente com os alunos que apresentam um ڤsim
conhecimento inferior na língua estrangeira. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Valoriza a opinião do aluno. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
É flexível quando as coisas não vão bem durante ڤsim
a aula. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Promove discussão de situações pertinentes à ڤsim
área técnica a fim de facilitar a compreensão do ڤnão
aluno.
ڤàs vezes
ڤnunca
Usa material autêntico. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
Incentiva o crescimento intelectual e profissional. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
A tradução é bem orientada de modo que o aluno ڤsim
não se sinta desamparado. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
O professor trabalha a adequação do discurso e a ڤsim
terminologia específica apresentada nos textos. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
O professor orienta o aluno quanto à fonte de ڤsim
referência. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
O professor leva o aluno à autonomia. ڤsim
ڤnão
ڤàs vezes
119
ڤnunca
Esclarece a importância das estratégias de leitura ڤsim
e orienta os alunos adequadamente. ڤnão
ڤàs vezes
ڤnunca
RELATÓRIO DA OBSERVAÇÃO
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
Anexo VI:
DIÁRIO 1
Antes de tudo, acho importante salientar que este é um grupo muito peculiar. Primeiro, por
causa do número reduzido de alunos (por volta de quinze, quando estou acostumada a ter pelo
menos quarenta). Além disso, mais da metade do grupo já tem algum conhecimento de língua inglesa
que vai além daquele obtido na escola regular. Alguns já trabalham na área de informática e têm um
conhecimento razoável de termos técnicos, além de contrato freqüente com textos da área. Outros
fazem ou já fizeram algum curso de inglês. Os demais tentam acompanhar o ritmo dos colegas, o que
pode ser notado por manterem as tarefas em dia e estarem sempre fazendo perguntas para
aprimorar seu desempenho. No geral, minhas turmas de inglês instrumental para informática têm um
nível razoavelmente baixo de conhecimento da língua inglesa e do jargão técnico de sua área. Um
outro fator positivo é a faixa etária. Dois ou três têm a idade típica de alguém que acabou de sair do
ensino médio. Os demais têm um pouco mais de idade – entre aproximadamente 25 e 45 anos. Para
mim isto faz muita diferença, pois eles têm experiência de vida, têm seus empregos e famílias já
formadas, têm maturidade e muita vontade de aprender, por isso à aula rende. Com os demais
grupos, eu tive um trabalho considerável para convencê-los de que eles precisavam estar ali na aula
de inglês porque aquilo teria alguma importância para eles. Outro aspecto interessante é que se trata
de uma turma muito unida. Há muita cooperação e cumplicidade entre os alunos, o que abre espaço
para jogos e brincadeiras no ambiente da aula. Tudo isso me deixa muito empolgada para
desenvolver o melhor trabalho possível com este grupo. São realmente muito responsáveis e gostam
da aula de inglês.
120
Um outro aspecto a ser considerado é que, no decorrer do semestre não foi utilizado apenas
o livro didático. Foram selecionadas algumas unidades deste para algumas aulas e as demais aulas
envolviam apresentação de seminários, outros textos extraídos de revistas técnicas, aulas com
Como de costume, a aula ocorreu em português. O texto trabalhado nesta aula foi The
espécie de relatório em português daquilo que haviam compreendido do texto – em aulas anteriores.
Assim, já havíamos cumprido grande parte dos objetivos para aquela unidade: inferência da idéia
principal do texto a partir do título, previsão de conteúdo textual a partir da associação de idéias,
identificação de cognatos, uso de diagramas para compreensão textual, trabalho com sinônimos e
referência contextual e identificação do presente simples e contínuo no texto. Neste dia eu devolvi os
trabalhos deles e coloquei no retro projetor uma transparência com uma tradução. Eu havia extraído
trechos de traduções feitas por alunos do semestre anterior e montado um texto. Expliquei a eles que
nem todas as traduções dos colegas eram ruins, mas que havia propositadamente selecionado
trechos problemáticos de seus trabalhos. Deste modo, eles contrastavam suas opções de tradução
com as do texto no retro projetor e com o texto em inglês – o qual pedi que eles tivessem à mão.
A primeira reação do grupo foi de estranheza. Uma vez que suas traduções ficaram, no geral,
muito boas, eles questionaram o fato de a tradução dos colegas do semestre anterior tivesse ficado
tão inferior. Isso me fez questionar alguns aspectos de minha prática de ensino e precisei reconhecer
diante deles que talvez não tivesse feito um trabalho tão bom com a turma anterior porque havia dado
o texto em questão logo no início do semestre. Durante e depois da aula, isso continuou me
preocupando. Pude, então, perceber que havia evoluído em alguns aspectos. Com o grupo anterior,
eu havia pedido que fizessem uma tradução frase-por-frase. Com este, pedi um trabalho mais livre,
estilo resumo. Com o grupo anterior, devido ao fato de a turma ser um tanto agitada, havia
exemplo) por falta de paciência para insistir com eles. Já com este grupo, a reflexão sobre o texto foi
mais profunda, o que, em minha opinião favoreceu uma tradução mais consistente. Finalmente, com
o grupo anterior eu havia realmente dado este texto nas primeiras semanas de aula e não os havia
preparado devidamente para o trabalho com textos técnicos e com tradução. Quanto a este grupo,
grupos. Tive que reconhecer que, por causa da minha irritação com a inquietação e desinteresse da
turma anterior, eu já havia desistido deles logo no início do curso. Já esta, eu queria muito que eles
aprendessem. Fiquei pensando que, se talvez eu não tivesse desistido do outro grupo eles pudessem
ter aprendido mais. Além de tudo o que foi exposto, por fim também achei que minha atitude de
revelar que a tradução do retro projetor havia sido feita pelo grupo do semestre anterior não foi ética,
pois o grupo atual passou a criticar com veemência os colegas. Não repetiria a experiência.
Voltando à aula: nós repassamos os textos e, à medida que fazíamos isso, os alunos
levantavam questões como, por exemplo, se palavras como mouse, modem e scanner deveriam ser
traduzidas. Manifestei-me dizendo que achava que não, pois a comunidade de pessoas que
trabalham na área de informática não costuma traduzir. Houve manifestações contrárias e deixei que
também aproveitei a oportunidade para frisar questões como ordem de palavras (“no inglês as
qualidades vêm antes e no português depois”) usando os exemplos de erros no retro projetor, por que
não se deve traduzir palavra-por-palavra, por que é necessário entender primeiramente o sentido, por
que não se deve confiar totalmente no dicionário, o quão importante é que o texto traduzido faça
Com relação à presença da pesquisadora, confesso que, a princípio fiquei um pouco nervosa
e tive dificuldades para agir naturalmente, especialmente mediante a sua contribuição para a
discussão dos alunos, a qual, emitia uma opinião contrária à minha. Contudo, o ocorrido foi de
extrema importância para que eu reconsiderasse o meu papel como professora. A verdade é que não
tenho direitos de patente sobre a opinião de meus alunos e eles, sim, é que têm o direito de pensar
diferente. Foi de fato uma aula muito válida para mim, pois me rendeu muita reflexão.
DIÁRIO 2
Esta aula tinha por objetivo levar os alunos a relaxarem um pouco dos textos técnicos e trabalharem
com música. Há muito eles vinham pedindo para que tivéssemos esta aula e já haviam providenciado
o DVD com o clipe da canção que gostariam de ouvir. Durante a aula utilizei a aparelhagem de data
show, uma apresentação de Power Point com questões para debate e uma atividade sobre a canção,
que constava da letra da música (Shut up – Black Eyed Peas) e lacunas a serem completadas. Após
de ordem abaixo da letra da canção (exercício 1). Como a canção conta uma história, havia também
português e fora de ordem e cabia aos alunos organizá-los de acordo com a seqüência descrita no
texto (exercício 2). Os objetivos eram trabalhar vocabulário e scanning. Enquanto preparava o
exercício imaginei que um problema em potencial com o exercício 1 seria o perigo de levar os alunos
a pensar que há somente uma possibilidade de tradução – a minha – para as expressões idiomáticas
e marcadores de discurso em destaque, mas depois pensei que, como já vínhamos repetindo que
devemos respeitar as várias possibilidades de tradução em aulas anteriores, não haveria problema.
Honestamente, acredito que de fato não houve. Além de tudo isso, eu havia também baixado da
internet um texto sobre as diferenças entre o cérebro feminino e masculino, mas não houve tempo
Comecei a aula com uma discussão: pedi ao grupo que listasse (sempre em português) quais
as atitudes dos homens que irritam as mulheres e vice-versa. Em seguida, pedi que cada aluno
comparasse sua lista com algum outro e depois pedi a voluntários que lessem sua lista. Foi um
momento bastante descontraído e houve um bom envolvimento por parte de todos na discussão –
principalmente para discordar das anotações do sexo oposto. Esta discussão acabou tomando mais
tempo que o planejado, mas achei válido, pois, no momento em que tocamos a música, todos
pareciam muito interessados no clipe e no significado da letra. Assim, eles assistiram ao clipe uma
vez, respondemos os exercícios e, em seguida, repeti o vídeo algumas vezes a pedidos. No final,
discutimos qual seria o segredo de um relacionamento a dois bem sucedido. Mais uma vez, a
participação do grupo foi muito boa. Percebi que o trabalho com música foi muito motivador e
proveitoso tanto em termos de entretenimento – era uma aula extra – quanto de interpretação de
texto. As imagens do vídeo clipe foram de grande valor neste processo e não senti que houvesse
ansiedade pela tradução de toda a canção. A turma se deu por satisfeita. Pretendo repetir com os
próximos grupos.
123
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