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RESUMO: O objetivo deste artigo é o demonstrar como foi elaborado e aplicado um projeto de
intervenção relacionados à leitura de charges para o ensino de geografia em uma instituição de
ensino pública do Estado do Paraná. A investigação teve como base os índices educacionais do
IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e as análises das notas alcançadas pelos
alunos na Prova Brasil em Língua Portuguesa. A investigação parte leitura de charges pelos
alunos no intuito de verificar se os mesmos conseguem identificar nas imagens as diferentes
dimensões, tais como: políticas, econômicas, sociais, culturais, religiosas, que contribuem para
a apropriação de conceitos geopolíticos e também para a formação de leitores críticos capazes
de desvelar as intencionalidades dos discursos nas diferentes mídias que os cercam. A base
teórico-metodológica para a análise dos resultados da pesquisa é o Materialismo Histórico e
Dialético, pois se entende a leitura como modo de transformação social. A investigação serve
como justificativa para a formulação e implantação de projetos de intervenção em leitura com
charges no intuito de contribuir para a leitura crítica de textos, pois os resultados apresentados
demonstraram que os alunos não conseguem identificar as intencionalidades dos discursos
presentes nas imagens apresentadas.
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Professor bolsista do Programa OBEDUC/UEL (2013 - 2014). Professor de Geografia da Rede Estadual de Ensino
do Paraná. joao.eduardo258@sercomtel.com.br
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Aluna do programa de Pós-graduação – Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina (2014-
2016). Especialização em Gestão Escolar pela Univale (2012) Graduação em Letras (2012), Especialização em Eco-
nomia Empresarial (2002) e Graduação em Ciências Econômicas (1996) pela Universidade Estadual de Londrina.
rmgalvao2012letras@gmail.com
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Graduada em Letras e em Pedagogia pela UEM. Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Maringá
(2003). Doutora em Letras na UEL (2008). Professora Adjunta do Departamento de Educação da Universidade Es-
tadual de Londrina - UEL, na área de Didática e professora do Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Educação
– UEL. sandrafranco26@hotmail.com
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O Programa OBEDUC (Observatório da Educação) sob a coordenação da Prof. Dra. Sandra Aparecida Pires Franco
foi aprovado pela Capes em 2012 e possui como tema: Da avaliação à regulação do ensino e à autorregulação da
aprendizagem. Neste ano, o programa propõe vários projetos de intervenção nas escolas públicas de Educação
Básica participantes relacionados à leitura e ao raciocínio lógico.
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INTRODUÇÃO
Observa-se que grande parte das escolas de Educação Básica ainda utilizam metodologias
tradicionais para o ensino das disciplinas, e em Geografia este processo não é diferente. “Para a
maioria dos alunos, a aprendizagem da Geografia na escola se reduz somente à memorização, sem
fazer referência às experiências sócio espaciais”. (BOMFIM, 2006, p.107). Este posicionamento
limita a aprendizagem da disciplina que possui em seu cerne por exemplo: a descoberta de
ambientes, climas, populações, territórios diferenciados, conteúdos que transcendem o local,
o regional, estabelecendo entrelaces com os aspectos mundiais. Assim, a adoção de poucos
recursos didáticos, como é o caso do livro didático, acaba por desestimular a aprendizagem dos
discentes e torna o ensino previsível e memorizador.
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Optou-se por esta grafia no nome de Vigotski, mas nas referências a grafia segue a opção de grafia dos autores de
outras obras (Vigotsky; Vygotsky).
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Por ser a charge veículo de humor, ironia, sarcasmo, a interpretação deste gênero se faz
mediante o mergulho do leitor nos conhecimentos anteriores do assunto tratado, para então
compreender a dimensão explorada pelo gênero, pois a linguagem verbal e não verbal da charge
possibilita vários entendimentos determinados pela bagagem de significados de cada um sobre o
tema. O trabalho preliminar de conteúdos sobre a temática de forma a instrumentalizar o discente
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poderá mediante o que sabe posicionar-se diante da charge de forma crítica. Para Dolabella
(2007), a charge expressa a opinião do veículo na qual circula, sendo intencional e condicionada
aos acontecimentos noticiados, por isso considera que a charge assume posição política.
Como traço característico, a charge tem a pretensão de influenciar a opinião dos leitores
a respeito de algum ponto de vista adotado pelo veículo/empresa de comunicação onde
é publicada. Isso é verificado na medida em que a charge ocupa espaços privilegiados
nos jornais impressos, por exemplo, retomando alguma notícia de primeira página ou
editoriais. Mas a charge não substitui o acompanhamento das notícias, porque charge
não é informativa. A charge se fundamenta normalmente em uma crítica baseada em um
acontecimento, ou uma série de acontecimentos, noticiado (s) pela grande imprensa,
de uma determinada realidade socioeconômica e, portanto, assume claramente uma
posição política. (DOLABELLA, 2007, p. 276-268).
Com relação ao caráter político da charge, Confortin (1999) ressalta que a linguagem na charge
evoca e sugere sentidos além do conceito literal de uma palavra ou expressão, o mesmo vale para a
imagem. Para a construção de uma charge, o uso de figuras consideradas públicas torna o gênero mais
impactante quando exposto nas diferentes mídias, sendo que “ganham mais força expressiva quando a
sociedade enfrenta momentos de crise, pois é a partir de fatos e acontecimentos reais que o artista tece
sua crítica em um texto aparentemente despretensioso ”. (OLIVEIRA, 2001, p. 265).
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[...] uma palavra, uma expressão ou uma proposição não têm um sentido que lhes seja
“próprio”, vinculado à sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se constitui em cada
formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou preposições mantêm
com outras palavras, expressões ou proposições da mesma formação discursiva.
(PÊCHEUX, 1997, p. 161).
A linguagem para Leontiev (1978, apud MARTINS, 2004) possibilita aos homens
constituir a consciência, pois permite que ao ser humano a passagem dos conhecimentos entre
as diferentes gerações. Este aspecto representa a importância do fator histórico e a relação social
dos homens, necessária a formação integral da espécie. A síntese deste processo é a reflexão, ou
seja, os conhecimentos científicos apropriados pelo homem no processo histórico atuam como
momento para que se reflita, e assim, a linguagem atua como mediadora do desenvolvimento
do ser social. Para Bakhtin (1988, p. 24), a linguagem apresenta-se também como transmissora
das intencionalidades do discurso, por isso “a palavra é o fenômeno ideológico por excelência”,
assim é por meio da comunicação que o homem transmite aos demais, ou ainda, pode conduzir
outros a exercer aquilo que será benéfico a um sujeito ou ainda a um coletivo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E A PESQUISA SOBRE CHARGE COM OS ALUNOS
O uso de projeto de intervenção em leitura com o uso de charges foi verificado como
possível, devido aos índices do IDEB (Índice de desenvolvimento da Educação Básica) de um
Colégio Estadual Público do norte do Paraná e dos resultados da Prova Brasil nos anos de
2009 e 2011 subsequentemente. O IDEB é calculado com base na taxa de rendimento escolar,
aprovação e evasão e no desempenho dos alunos no Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica e por meio da Prova Brasil aplicados a cada dois anos, que possui dentre outros o
objetivo de mensurar o desempenho dos alunos na Educação Básica e assim conduzir a reflexão
dos educadores sobre os processos de ensino e de aprendizagem, bem como, conduzir futuras
políticas educacionais. Com relação ao resultado do IDEB, esta instituição de ensino apresentou
os seguintes índices para os anos finais do Ensino Fundamental: 2,6 e 3,3, índices relativamente
baixos se comparados com o índice médio alcançado pelo município: 4,1 e 4,0. As notas da
Prova Brasil em Língua Portuguesa, que compõem o IDEB, foram: 221,96 e 226,27. Novamente,
se comparados às notas do município: 252,92 e 248,70, percebe-se que a instituição necessita
de um trabalho diferenciado para alavancar melhores desempenhos em Língua Portuguesa,
sendo a leitura o foco desta avaliação em larga escala, então o projeto de intervenção se justifica.
Por outro lado, não basta apenas o acompanhamento dos índices da avaliação externa
para intervir. Assim, um dos caminhos possíveis é a análise mais criteriosa da compreensão de
leitura, tendo como parâmetro o conceito de que a leitura deve ser transformadora da realidade,
e para tal, a práxis deve estar atrelada a um trabalho com a leitura crítica.
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Do total de 30 alunos participantes, para a análise dos dados foram selecionadas apenas
892 6 respostas para cada gênero proposto, esta quantidade selecionada abrange as respostas mais
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diferenciadas, as demais possuem pouca diferenciação sendo irrelevante para a conclusão final,
ao mesmo tempo que as respostas descartadas se tornam repetitivas para a exposição no artigo.
A intenção da análise das respostas foi identificar se os alunos perceberam a existência de
alguma intencionalidade em cada discurso nos gêneros trabalhados. Assim, como já foi exposto
anteriormente, cada gênero apresentou dimensões diferenciadas nas quais o ser humano em
sua convivência cotidiana se insere. Reconhecer estas dimensões faz com que o aluno possa
compreender e atuar de forma consciente em cada situação.
O primeiro gênero analisado pelos alunos foi o cartum e as respostas com relação ao
entendimento do mesmo seguem abaixo.
Neste primeiro gênero exposto no teste feito pelos alunos as dimensões apresentadas
foram: cultural, social e religiosa. Estas dimensões se confirmam ao observar a fala da
personagem. Fica explícito que faz parte da rotina da professora apresentada no cartum fazer
com que os alunos se dirijam ao quadro negro para a resolução da atividade, ou seja faz parte
da cultura da educadora esta atividade. Também demonstra a pouca relação professor x aluno,
que em muitas situações impõe ao estudante comportamentos desconexos ao sentido real da
atividade muitas vezes mecânica e sem sentido com a realidade vivenciada, assim a relação
social entre as duas personagens é pouco comunicativa. A dimensão religiosa é percebida
quando a personagem se considera incapaz de ter a mesma fé que um sacerdote.
As respostas dos alunos foram transcritas literalmente preservando os direitos autorais
e a autenticidade dos mesmos.
2) Ele não quer ser um sacerdote porque tudo o que um sacerdote pede. Ele
consegue, e aqui o Calvin pediu e não conseguiu.
3) Calvin está criticando o sacerdócio, por der orado e seu pedido não ter-se
realizado.
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5) [...] tá acontecendo que a calça do Calvim esta rasgada, e ele não que i no
quadro resolve o problema e porque ele não quer passar vergonha.
6) A professora chama ele, e ele quis nunca entrar no sacerdócio porque ele
pediu em uma oração e no fim acabou tudo errado.
Percebe-se nas respostas dos alunos apenas a descrição do que está posto, apenas um
aluno relaciona ao fato de esta atitude estar relacionada ao fator cotidiano de uma instituição
de ensino, mas sem referenciar que atitude é esta, a de estar com a calça rasgada, a de pedir ao
aluno ir ao quadro negro, ou ainda, aos alunos pedirem uma intervenção divina para não terem
que realizar tarefas. O fato é que não houve crítica as atitudes expostas pelas personagens, a
cultura escolar, ao papel do professor e do aluno, ou seja, as intencionalidades do discurso visual
e escrito não foi reconhecido pelos estudantes. Isto demonstra uma leitura ingênua mediante
ao contexto no qual os estudantes estão inseridos. O trabalho docente com estes alunos
necessita ser organizado de forma a oportunizar momentos a apropriação dos conhecimentos
científicos que se faz mediante várias apresentações, já que os conhecimentos são apreendidos
paulatinamente como afirma Gasparin (2012) quando se refere ao papel de mediador do
professor que através do exercício contínuo no qual o aluno elabora e reelabora o pensamento
sobre conteúdo, resultando na elaboração de uma síntese e assim, o entendimento global das
relações entre o conteúdo e as dimensões nas quais está inserido.
O segundo gênero trabalhado, a charge, apresenta as dimensões: política, econômica,
social e cultural, e todas elas estão entrelaçadas para criticar os gastos governamentais na
realização da Copa do Mundo de Futebol, esporte considerado o mais importante culturalmente
no Brasil.
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3) Ele quer mostrar que com os gastos da copa o governo ta deixando coisa
mais importante sem fazer e gastando milhões na copa.
As respostas dos alunos referentes a charge foram mais expressivas, pois evidenciaram
conhecer sobre o assunto. Percebe-se que a descrição pura e simples não está presente, mas a
análise geral sobre o que apresenta a charge. Por isso, palavras como crítica estão presentes na
maioria das respostas e quando não existe afirmação da opinião do aluno quando diz que o país
não está preparado para a copa, e na outra fica claro o entendimento de que existe uma carência
financeira em outros setores que são fundamentais a população brasileira. Tanto a proximidade
do gênero charge com as questões sociais, bem como a atualidade dos fatos que ela veicula,
possibilita ao aluno maior entendimento e possibilidade de leitura. O trabalho mais intenso
com este gênero pode criar o hábito da crítica, e também desenvolver o poder de argumentação
dos alunos aos fatos. Para Saviani (1993) o hábito, que se transforma em segunda natureza
quando internaliza o conhecimento é um processo de reflexão, assim a partir do momento em
que o aluno possui o hábito da crítica, ele também terá o hábito da reflexão sobre suas atitudes
de forma consciente.
O terceiro gênero trabalhado, a tirinha, trabalha com a crítica aos valores sociais, neste
caso, a falta de tempo da família aos filhos e o machismo ainda praticado na sociedade brasileira.
Percebe-se a exposição de dimensões econômica, social e cultural na fala das personagens.
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2) O menininho queria saber o que era machismo só que é uma coisa que as
pessoas que metê papo de homem.
3) [...] retrata sobre o filho que fala com o pai sobre a previsão do tempo.
4) [...] desenho umorístico [...] algo que envolve o dia a dia de uma sosiedade.
5) O menino quer saber se o pai teria tempo para ele no fim se semana.
talvez por trazer ao contexto escolar um assunto atual e mais significativo, sendo amplamente
divulgado pelas mídias aos alunos. Observam-se também grandes dificuldades na escrita
dos estudantes, que apresentam uma linguagem cifrada, muito próxima da fala e também da
utilizada nas mídias sociais.
Dentre os vários fatores para as dificuldades encontradas pelos alunos na interpretação
das charges está a baixa proficiência em Língua Portuguesa. As dificuldades de leitura
representam para esta instituição de ensino um desafio aos professores. O planejamento escolar
então deveria abarcar recursos didáticos diferenciados, mais condizentes com as necessidades
dos alunos e que venham a sanar os problemas de interpretação e escrita dos mesmos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ser contínuo na vida do estudante, que ao longo dos anos se apropria da leitura como hábito e
esta não será mais um sacrifício, mas uma necessidade de exploração do saber.
A pesquisa sugere então que mais pesquisas científicas sejam realizadas no intuito de
compreender e conceber o uso do gênero charge na Educação Básica de forma a desenvolver
uma leitura atrelada a multiplicidade de dimensões que o discurso apresenta, sendo esta
engajada no compromisso de desenvolver o senso crítico.
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