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DIREITO CONSTITUCIONAL

Aula 6

INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

Iniciamos lembrando que o termo “interpretar” possui um duplo sentido:


a) Descobrir o que está na norma. Neste caso, através da interpretação busca-se compreender
o alcance pretendido pela norma jurídica.
b) Construir ou reconstruir um novo sentido para a norma. Trata-se aqui de obter, através da
interpretação, um sentido atualizado que melhor atenda a realidade presente.

CLASSIFICAÇÃO DA INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICAS

Quanto ao método de interpretação (métodos clássicos)

Interpretação gramatical:
A interpretação gramatical permite desvendar o significado da norma, por meio da
compreensão do significado dos seus termos e o sentido que adquirem no texto.
Especial atenção aqui para os signos, ou seja, as categorias que se encontram expressas no texto
de uma norma e o conceito que cada uma possui.

Interpretação sistemática:
Os dispositivos legais devem ser interpretados, considerando-as como integrados num conjunto
maior de normas jurídicas. Portanto, se o ordenamento jurídico é um todo unitário e que tende
para a harmonia, por ocasião da interpretação de uma norma isolada, deve-se escolher a
alternativa que seja coerente com o conjunto. Devem ser evitadas, principalmente, as
contradições com normas superiores e com os princípios gerais do direito.
Em síntese, o método sistemático impede que as normas jurídicas sejam interpretadas de modo
isolado, exigindo que todo o conjunto seja analisado simultaneamente à interpretação de
qualquer texto normativo. Assim, não podemos buscar o significado de um artigo, de uma lei
ou de um código sem compreender o contexto em que está inserido. Todos devem ser analisados
em sintonia com a Constituição e as demais normas jurídicas infraconstitucionais
Outro aspecto importante a se destacar, e que possui relação com a interpretação sistemática,
diz respeito à compreensão de como são organizadas as leis do ponto de vista estrutural.

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A Lei Complementar nº 95/98 e o Manual de Redação da Presidência da República são ótimas
consultas para se entender como deve ser estruturados os dispositivos de uma norma legal.

Do ponto de vista da estrutura de uma lei, deve ser observada a seguinte ordem:

1) Livro
2) Título
3) Capítulo
4) Seção
5) Subseção.

Do ponto de vista do texto propriamente é importante conhecer-se os seguintes aspectos:

a) O texto do corpo do artigo é denominado de “caput” e é numerado até nove em número


ordinal, e a partir deste em números cardinais. Ex: art. 1º, art. 9º, art. 12.
b) Os “incisos” servem para dividir as partes de um artigo ou de um parágrafo, para tornar o
texto mais compreensível. Os incisos são indicados em números romanos.
c) As “alíneas” são utilizadas quando é necessário desdobrar partes do que é tratado num
inciso. As alíneas são indicadas por letras em minúsculo.
d) Os “itens” são desdobramentos das alíneas. Devem ser indicados em números cardinais (1,
2, 3, ..).
e) Os “parágrafos” são utilizados para explicar, incluir ou excetuar determinada situação.

Conclusão: Para a interpretação adequada das normas jurídicas é importante entender também
a sua estruturação.

Interpretação histórica:
A interpretação histórica assemelha-se à busca da vontade do legislador. Recorrendo aos
precedentes normativos e aos trabalhos preparatórios que antecedem a aprovação da lei, tenta-
se encontrar o significado do texto, no contexto histórico da sua criação.
Cita-se o exemplo do IPVA, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores, que não
incide sobre embarcações e aeronaves, ainda que sejam considerados veículos automotores,
pois do ponto de vista histórico este imposto foi criado em substituição à antiga TRU – Taxa
Rodoviária Única, que incidia apenas sobre veículos que circulavam em rodovias.

Intepretação teleológica:
Método que procura identificar na norma legal, qual a finalidade pretendida, ou seja, qual o fim
que objetiva alcançar.

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Quanto à fonte
Autêntica: É a própria lei ou lei posterior que explica o sentido de um dispositivo legal.
Doutrinária: É a doutrina que constrói o sentido da norma jurídica.
Judicial: Interpretação fundada na jurisprudência, súmulas, etc.

Quanto aos efeitos


Declarativa: a interpretação busca compreender o seu sentido, sem ampliar ou reduzir a sua
amplitude.
Extensiva: por meio da interpretação busca-se ampliar o seu sentido, porque o legislador disse
menos do que deveria ter dito.
Restritiva: por meio da interpretação busca-se reduzir o seu sentido, porque o legislador disse
mais do que pretendeu.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL

Os princípios de interpretação constitucional têm como finalidade possibilitar ao intérprete o


entendimento e o significado das normas de acordo com o sentido que lhes é dado na
Constituição Federal.

1) Princípio da unidade da Constituição


Segundo este princípio, a Constituição deve ser interpretada de forma a evitar antinomias entre
suas normas e entre os princípios constitucionais. Deve-se considerar a Constituição na sua
globalidade, não interpretando as normas de forma isolada, mas sim como preceitos integrados
num sistema interno unitário de regras e princípios.

2) Princípio da máxima efetividade


Busca-se a interpretação que ofereça o maior grau de eficácia aos direitos fundamentais e às
demais normas constitucionais.

3) Princípio da força normativa


Em regra, as normas constitucionais podem ser aplicadas concretamente como fundamento para
garantir, por exemplo, um direito fundamental. Com o fortalecimento da concepção

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neoconstitucionalista, as normas constitucionais deixaram de ser meras promessas ou utopias,
que para produzirem efeitos demandavam a edição de leis infraconstitucionais.

5) Princípio da interpretação conforme a Constituição


As normas infranconstitucionais devem ser interpretadas de modo compatibilizado com a
Constituição. Assim, por exemplo, um dispositivo de uma lei ordinária deve ser interpretado a
luz da constituição, ou seja, em conformidade com a Constituição.

Silêncio eloquente versus Lacunas


O silêncio eloquente, expressão derivada do Direito alemão, significa que o legislador silenciou,
porque não pretendia mesmo disciplinar uma determinada matéria. Sua intenção era calar. Aqui
não há que se falar em lacuna.
De modo diverso, existe lacuna quando a lei deixou de dispor sobre determinada matéria que
deveria ter tratado. Em síntese, é a ausência de uma norma legal que necessita ser suprida.

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AS DISPOSIÇÕES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para


instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

O preâmbulo pode ser utilizado como fundamento jurídico para aplicar a situações concretas?
Não, segundo entendimento do STF, o preâmbulo contém os valores supremos expressos na
Constituição. Na busca de soluções a casos concretos, precisamos identificar as normas
constitucionais que se encontram descritas no seu texto.
Portanto, dizemos que o preâmbulo não possui eficácia normativa, conforme se depreende do
acordão a seguir transcrito:

"Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se
trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa."
(ADI 2.076, rel. min. Carlos Velloso, julgamento em 15-8-2002, Plenário, DJ de 8-8-2003.)

O ARTIGO 1º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

Do caput do artigo primeiro extraem-se os seguintes princípios:

O princípio republicano
O termo República provém de res publica que significa coisa pública. Coisa pública é o que
pertence à sociedade. O que pertence à sociedade denominamos de bem comum. A sociedade
tem o direito de decidir o que é melhor para ela (democracia).

Qual a distinção entre “República Federativa do Brasil” e a “União”?


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A República Federativa do Brasil, como Estado Federal, compreende os diversos entes
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios)

Em síntese, a República Federativa é o todo, ou seja, o Estado Federal brasileiro.

É pessoa jurídica de direito público internacional.

Todavia, é por meio da União que a República Federativa do Brasil se apresenta nas suas
relações internacionais. (CF, art. 21, I a IV)

Essa representação se dá através do Presidente da República que se coloca como Chefe de


Estado.

Por sua vez, a União representa um dos entes da República Federativa do Brasil.

A União é pessoa jurídica de direito público interno.

O Presidente exerce a função de chefe de governo.

É entidade federativa autônoma em relação aos Estados-membros, Municípios e Distrito


Federal.

Possui competências administrativas e legislativas determinadas na Constituição.

Portanto, não está acima dos demais entes (Estados, DF e Municípios).

Então, concluímos que:

a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios detém autonomia;


b) Não existe hierarquia entre a União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

Por sua vez, quem detém a soberania é a República Federativa do Brasil, ou seja, o Estado
brasileiro.

O Princípio Federativo
O que é uma Federação?

A federação se caracteriza pela união de entidades políticas autônomas, marcada por um vínculo
indissolúvel e que precisa estar firmado através de uma Constituição.

Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo

A Constituição Federal consagra o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo (art.


1º), inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão (art. 60, §
4º, I).

Trata-se de um modelo de descentralização das competências política, administrativa e


financeira de cada ente (União, Estados, DF e Municípios).

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Significa que cada ente tem plena autonomia para decidir, desde que observadas as
competências previstas na Constituição Federal, tema que vocês estudarão com maior
profundidade adiante.
Para o momento é importante lembrar que os diversos entes (U, E, DF e M) são autônomos,
mas não existe hierarquia entre eles. Exemplo: O governo federal (União) não pode interferir
na edição de uma lei municipal que altera a alíquota do IPTU, dentro de critérios estabelecidos
na Constituição.

Princípio do Estado Democrático de Direito


Perceba que a inclusão da expressão “democrático”, antecedendo o adjetivo “de Direito”, tem
o propósito de definir que o Direito só é legítimo se elaborado com base no consentimento da
sociedade, seja através da manifestação popular, seja através de representantes eleitos.

A soberania:
Soberania interna: Poder do Estado de regular as relações sociais, políticas e econômicas.
Soberania externa: Independência política, administrativa e financeira em relações aos demais
estados nacionais.
Lembrete: A fonte da soberania do Estado provém do povo. O parágrafo único do artigo 1º da
CF é uma assimilação da teoria de Rousseau.

A cidadania
É detentor da prerrogativa de cidadão todo brasileiro nato ou naturalizado. Contudo, é
importante destacar que a cidadania vem sendo debatida como uma prerrogativa que não se
reduz ao espaço de um Estado nacional, para contemplar também o estrangeiro (no que diz
respeito apenas a alguns direitos).

A dignidade da pessoa humana


O princípio da dignidade da pessoa humana é amplo e de difícil mensuração.
Então, que critérios são utilizados para definir a sua aplicação concreta pelos tribunais, nos
julgamentos, ou pela Administração Pública, na efetivação das políticas públicas?
Dois critérios merecem destaque, por serem comumente adotados pelo Poder Judiciário, para
definir se há afronta à dignidade de uma pessoa ou de um grupo de pessoas:
a) O desprezo pela condição de pessoa humana: Adotado pelo Tribunal Constitucional
Alemão para julgar as situações em que a pessoa sofre tratamento que afronta sua
dignidade, por reduzir sua condição de pessoa. Este critério é utilizado também no Brasil.
b) Viver com condições materiais abaixo do mínimo existencial: Utilizado pelos tribunais
brasileiros para considerar que pessoas que não tem as condições mínimas de
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sobrevivência, ou seja, um mínimo existencial (um mínimo para existir), estão em condição
de indignidade.

Exemplos de situações de afronta ao princípio da dignidade da pessoa humana:


a) Pessoas mantidas presas por engano.
b) Situação degradante com que são tratados os presos.
c) Saúde: falta de leitos, ausência de atendimento, má qualidade da saúde, etc.
d) Pessoas em estado de extrema pobreza, etc.

Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa


Aqui fica evidente a aproximação e conciliação entre os ideais do liberalismo (livre iniciativa)
com os ideais do Estado de bem estar (os valores sociais do trabalho). Significa que possuímos
liberdade para exercer qualquer atividade econômica, mas desde que respeitados os direitos dos
trabalhadores, especialmente a sua dignidade.

O pluralismo político
O Pluralismo político demonstra que a sociedade brasileira é formada por uma pluralidade de
ideologias, crenças, opiniões, credos, religiões, posições políticas, etc., que devem ser
respeitadas e valorizadas, pois vivemos num Estado democrático.
Por evidente, o pluralismo estará sempre limitado pelos direitos fundamentais, pois ninguém
tem ampla e irrestrita liberdade para adotar qualquer concepção que implique em desrespeito à
pessoa humana.

Parágrafo único:
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição”.
Eis aqui a reafirmação das ideias de Jean Jacques Rousseau, um dos precursores filosóficos da
Revolução Francesa. A concepção da participação do povo, mas sob a forma direta, ou seja,
mediante uma democracia direta, já era praticada na Grécia, no período clássico.

O ARTIGO 2º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O princípio da separação dos poderes, resultado da clássica formulação de Montesquieu será


tratado com profundidade no próximo semestre, quando serão abordados os aspectos relativos
ao Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.

O ARTIGO 3º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

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Os objetivos fundamentais tratados no artigo 3º são considerados pela doutrina majoritária
como “normas programáticas” (programas).
Questão central: As normas programáticas previstas neste dispositivo tem eficácia normativa,
ou seja, devem ser observadas pelo Poder Judiciário nas suas decisões e pela Poder Executivo
nas suas ações?
Apesar das divergências doutrinárias, no Brasil predomina ainda a vertente que defende a
impossibilidade de se atribuir eficácia direta e concreta às normas programáticas.
As normas programáticas devem se consideradas como mandamentos a serem observados pelo
LEGISLADOR na elaboração das normas jurídicas e, por consequência, pelo aplicador destas
normas, quando for interpretá-las.

OS DIREITOS FUNDAMENTAIS – QUESTÕES INICIAIS

Conceito de Direitos Fundamentais


O conjunto de direitos e garantias que tem por finalidade garantir prerrogativas da pessoa na
vida em sociedade, garantir condições mínimas de vida e proteção contra o arbítrio do poder
estatal.
Perceba que nesse esboço de conceito constam três aspectos importantes que estão
compreendidos nos direitos fundamentais:
a) O respeito de cada um pelos direitos do outro.
b) Condições mínimas de vida para cada pessoa.
c) Garantias contra o arbítrio do Estado.

Distinção entre direitos fundamentais e direitos humanos


Não lhes falei sobre isso, mas é uma questão por vezes suscitada em concursos públicos.
Direitos fundamentais: Direitos expressos na Constituição.
Direitos humanos: Direitos constantes de tratados internacionais.

Geração de Direitos
Direitos de primeira geração: Liberdade (direitos civis e políticos)
Direitos de segunda geração: Igualdade (saúde, educação, lazer, repouso, saneamento, etc.)
Direitos de terceira geração: Solidariedade (Direitos ambientais, patrimônio histórico e cultural,
redução das desigualdades sociais, etc.)
Direitos de quarta geração: Direito à informação, Biodireito, desenvolvimento sustentável,
direito à paz, direito da internet, etc.

Algumas características dos direitos fundamentais


Os direitos fundamentais se apresentam, dentre outras características, como:

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a) Imprescritíveis: Não prescrevem
b) Inalienáveis: Não podem se alienados a outra pessoa.
c) Irrenunciáveis: Os destinatários dos direitos fundamentais não podem renunciar a eles.
d) Relativos: Não são absolutos, ou seja, qualquer direito fundamental pode ser
relativizado em situações que a lei ou a Constituição definir, como veremos adiante.
e) Universais: Alcançam indistintamente a todos.

O CAPUT DO ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Estrangeiros e pessoas jurídicas:


Embora não constem expressamente no caput do artigo 5º, são detentores dos mesmos direitos
em face da universalidade dos direitos fundamentais.
Em interessante manifestação do Ministro Celso de Mello, publicado no Informativo 502 do
STF, reconhece o direito de estrangeiro não-residente de impetrar habeas-corpus, afastando a
interpretação literal do caput do artigo 5, da CF/88. Eis um pequeno trecho:

“o fato de o paciente ostentar a condição jurídica de estrangeiro e de não possuir


domicílio no Brasil não lhe inibe, só por si, o acesso aos instrumentos processuais de
tutela da liberdade nem lhe subtrai, por tais razões, o direito de ver respeitadas, pelo
Poder Público, as prerrogativas de ordem jurídica e as garantias de índole
constitucional que o ordenamento positivo brasileiro confere e assegura a qualquer
pessoa que sofra persecução penal instaurada pelo Estado” (STF, HC 94016 MC/SP,
rel. Min. Celso de Mello, j. 7/4/2008).”

Desse modo, mesmo os estrangeiros que estejam no país apenas de passagem são titulares de
alguns direitos fundamentais.

E um estrangeiro que não esteja no território brasileiro pode ter assegurado algum direito
fundamental?
Existem inúmeros direitos decorrentes de sua condição, como o direito de propriedade, os
direitos tributários, os direitos processuais, etc. que devem ser garantidos também aos
estrangeiros. É o caso de um estrangeiro de nacionalidade americana e que reside nos EUA,
mas possui propriedades e outros investimentos no Brasil.

Mas afinal, qual o fundamento jurídico que pode ser utilizado para estender os direitos
fundamentais a estrangeiros que sequer encontram-se no território brasileiro?

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O fundamento jurídico encontra-se no artigo 1º do Pacto de San Jose da Costa Rica, do qual o
Brasil é signatário, ao considerar que todo ser humano pode ser titular desses direitos.

“Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e


liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa
que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor,
sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem
nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição
social.”

Avançando nestas discussões, um estrangeiro que está de passagem pelo Brasil tem direito a
tratamento pelo SUS (Sistema Único de Saúde)?
Vejam o interessante julgado do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que reconheceu o
direito à saúde a um estrangeiro que estava no país em situação irregular, determinando que o
SUS custeasse o seu transplante de medula:

“SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. TRANSPLANTE DE MEDULA. TRATAMENTO


GRATUITO PARA ESTRANGEIRO. ART. 5º DA CF.
O art. 5º da Constituição Federal, quando assegura os direitos garantias
fundamentais a brasileiros e estrangeiros residente no País, não está a exigir o
domicílio do estrangeiro.
O significado do dispositivo constitucional, que consagra a igualdade de tratamento
entre brasileiros e estrangeiros, exige que o estrangeiro esteja sob a ordem jurídico-
constitucional brasileira, não importa em que condição.
Até mesmo o estrangeiro em situação irregular no País encontra-se protegido e a ele
são assegurados os direitos e garantias fundamentais. (TRF 4ª Região, AG
2005040132106/PR, j. 29/8/2006)”.

Direito à vida
Inviolabilidade – O direito à vida contra terceiros
Irrenunciabilidade – Não está prevista na Constituição, mas é característica de todos os direitos
fundamentais.
É um direito absoluto? Não, podem ter exceções. CF, art. 5º, inc. XLVII (possibilidade de pena
de morte), aborto para algumas situações , etc.

ALGUMAS QUESTÕES RELACIONADAS AO DIREITO À VIDA:

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Transfusão de sangue – liberdade religiosa – Testemunha de Jeová
Os tribunais vêm decidindo que a vida é um valor que está acima dos demais direitos. Portanto,
o médico não pode se abster de fazê-lo, exceto se houver tratamento alternativo.

Eutanásia
É uma forma de apressar a morte de um doente incurável, sem que esse sinta dor ou sofrimento,
por meio de um procedimento médico. A Eutanásia é realizada por um terceiro, com a
autorização da pessoa ou de terceiro (geralmente um familiar). No Brasil a eutanásia é
considerada homicídio.

Testamento vital
O testamento vital é feito pelo próprio indivíduo, enquanto no gozo de suas faculdades mentais,
com o objetivo de deixar expressamente informado eventuais tratamentos que deseja ou não ser
submetido quando estiver com uma doença incurável, após não estar mais lúcido.
Não se trata de uma autorização de morte, mas um direito de desfrutar o final de sua vida em
paz e sem padecer as consequências de tratamentos dolorosos ou que lhe causem grande
sofrimento.

Suicídio assistido
É entendido como a prática realizada pela própria pessoa que possui diagnóstico médico de
doença incurável, que lhe causará enorme sofrimento e poucos meses de vida.
Em regra, é concretizado pela colocação a disposição do paciente de altas doses de medicação
que causarão sua morte rápida e de forma indolor. No Brasil é considerado crime.

Aborto
Permitido nas seguintes situações:
a) Aborto necessário: Salvar a vida da gestante. Código Penal, art. 128.
b) Aborto sentimental: Estupro . Código Penal, art. 128.
c) Aborto de anencéfalos (má formação do cérebro)

Pesquisas com células tronco


STF decidiu pela constitucionalidade da Lei de biossegurança porque não há violação ao direito
à vida. A decisão pautou-se também pelo princípio da solidariedade das gerações presentes para
com as futuras, uma vez que permitirá a descoberta e cura de diversas doenças.

Direito à liberdade

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Posso fazer tudo desde que a lei não proíba.
A liberdade é um direito pré-existente (uma espécie de direito originário ou natural). Isto
significa que para ter uma restrição ao direito de liberdade deve haver um motivo juridicamente
justificado.
Por isso, a liberdade, do ponto de vista jurídico, é limitada pelas normas legais.

Podemos ainda avaliar a liberdade do cidadão em relação à atuação do Estado. Inicialmente, o


direito de liberdade foi concebido como uma forma de defesa da pessoa contra os excessos do
Estado.
É que o Estado deve agir dentro de certos limites, ou seja, apenas quando necessário, o que
passou a ser denominado de “Princípio da Subsidiariedade”. Atuar subsidiariamente significa
não se envolver em questões que podem ser resolvidas adequadamente pelos cidadãos, sem a
intervenção do Estado.

Direito à igualdade

Igualdade formal: Igualdade perante a lei. Tratar igualmente os iguais e desigualmente os


desiguais na proporção das desigualdades (Aristóteles).
É dirigido ao Poder Executivo na aplicação da lei, ao Legislativo na elaboração da lei e ao
Judiciário nas decisões.
Igualdade material ou substancial: A busca da igualdade material tem por objetivo a redução
das desigualdades. Exemplo: CF art. 3º, inciso III.
Para os direitos materiais exige-se uma atuação positiva do Estado voltado a reduzir as
desigualdades sociais. Está relacionado ao mínimo existencial

Algumas situações relacionadas ao tema da igualdade:

O Bolsa família
Uma renda mínima concedida a classes pobres, vinculada à observância de determinados
requisitos, como filhos na escola, vacinação infantil, etc.

Sistemas de quotas
Não lhes falei das ações afirmativas.
Ações afirmativas: Políticas de caráter público que visam reduzir desigualdades.

Os critérios devem estar bem delimitados. Alguns problemas decorrentes dos critérios
estabelecidos: Um exemplo clássico é de irmãos gêmeos que obtiveram decisões contrárias para
ingressar na UNB em Brasília. Um foi aceito e o outro não porque era de cor mais clara.

Sistema de quotas para deficientes em concursos públicos


Também é constitucional. Objetiva reduzir as desigualdades decorrentes de deficiências.

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COMENTÁRIOS DE ALGUNS INCISOS DO ARTIGO 5º, DA CF

Seguem abaixo abordagem de alguns incisos do artigo 5º, da CF, que julguei mais relevantes
ou que apresentam alguma complexidade.

Inciso I - igualdade
A lei pode estabelecer diferenças entre homens e mulheres?
Sim, a lei pode fazê-lo, desde que para reduzir desigualdades sociais.
Exemplo: A Lei Maria da Penha adotou pena e procedimentos mais ágeis para o julgamento de
crimes contra a mulher, ocorridos no ambiente familiar.
É constitucional porque o propósito foi reduzir ou eliminar desigualdades, como forma de dar
efetividade ao preceito isonômico previsto na Constituição.

Inciso II - legalidade
É a lei que autoriza ou limita as condutas humanas, de modo que ninguém pode ser obrigado a
praticar um ato não exigido por lei.

Inciso III – Tratamento desumano ou degradante

“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de


perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do
agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem
prejuízo da responsabilidade civil do Estado.” (Súmula Vinculante 11)

Inciso IV
IV – é livre a manifestação do pensamento, vedado o anonimato.

Liberdade de manifestação de pensamento (CF art. 5º, IV)

A marcha da maconha é uma apologia ao crime ou apenas manifestação do pensamento? O STF


entendeu que faz parte da liberdade de expressão. O debate é fundamental para contribuir na
sensibilização das consequências que a maconha pode trazer.

Uma marcha em favor do aborto seria crime? Uma marcha em favor da pena de morte seria
crime? Pelas mesmas razões, a resposta pode ser não.

A vedação do anonimato (CF art. 5º, IV)

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Denúncia anônima não pode ser admitida como prova.
Não serve como prova, mas pode utilizar como meio para investigar. Não se pode deixar de
investigar ainda que fundados em fatos ilícitos.
Uma carta sem assinatura vale como prova. Quando faz parte de um delito sim. Ex: sequestrador
envia bilhete para a família do sequestrado.

Inciso VI
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;

Liberdade de consciência, de crença e de culto.


 liberdade de consciência – é ampla. Posso não acreditar em religião alguma.
 Liberdade de crença – direito de acreditar em alguma coisa.
 Liberdade de culto – é a liberdade de praticar a crença. Ex: participar de uma missa, etc.

Liberdade de religião
O Brasil é um Estado laico. Contudo, na maioria dos órgãos públicos existem símbolos do
cristianismo. Ex: Congresso Nacional.
O Conselho Nacional de Justiça decidiu que o crucifixo em órgãos do poder judiciário não viola
a neutralidade nas decisões.
O tribunal constitucional alemão em ação dos mórmons decidiu que o crucifixo deveria ser
retirado de escolas públicas.
Os feriados de cunho religioso tem um aspecto cultural.
A lei de diretrizes básicas de educação privilegiou um modelo em que o ensino adota uma visão
pluralista de religiões.

Inciso IX

IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,


independentemente de censura ou licença;

Liberdade artística
A liberdade artística deve ser entendida de forma mais ampla porque se trata de expressão que
não reflete necessariamente verdades incontestáveis. Mas há limites: Ofensa a valores
fundamentais da sociedade.
Assim, por exemplo, uma charge ou uma música criticando pessoas ou fatos políticos estarão
amparadas pela liberdade de manifestação artística. De modo diverso, uma música denegrindo
claramente uma pessoa, afrontando sua dignidade, não estará amparada por esta liberdade.
Em síntese, somente diante de cada caso concreto será possível identificar se há amparo na
liberdade artística ou não.
Justiça do Rio Grande do Sul: Música “tapinha não dói”. ONG do RS ajuizou ação de
indenização. Juiz decidiu que o FURACÃO 2000 pagasse indenização de R$ 500.000,00.

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Liberdade de comunicação social (liberdade de imprensa em sentido amplo)
Vide CF art. 220
De acordo com o entendimento do STF, a liberdade de imprensa deve ser maior do que a
liberdade de pensamento dos indivíduos em si mesmo considerados.
Alguns aspectos que devem ser observados:
a) Veracidade da informação: Por exemplo: A imprensa deve se certificar da veracidade da
informação, quando possível e necessário, adotando os cuidados com a fonte
informadora.
b) A licitude na obtenção de informação.
c) O meio adequado de divulgação.

Inciso X
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

O direito à privacidade
Diz respeito à esfera pessoal da vida privada e, num grau mais elevado, à esfera da intimidade.
Câmeras de segurança afrontam o direito de privacidade? Não, pois numa ponderação entre a
liberdade individual e o direito à segurança da coletividade, prevalece este.
Policial abrir a mala do passageiro de um automóvel afronta a privacidade? Não, desde que o
faça com senso de razoabilidade e urbanidade. (STJ)
Pessoa pública em lugar público tem direito à privacidade?
Corte europeia decidiu que sim. A pessoa tem direito à privacidade. A privacidade só
pode ser afastada em caso de interesse público. Lembre-se que este entendimento é
adotado pela justiça brasileira.

O direito ao entretenimento
Pessoa pública em local público tem direito à privacidade se seus atos não são de interesse
público. Ex: Uma pessoa famosa sendo fotografada numa academia fazendo exercícios.

A revista policial em veículo


É constitucional, mas realizada comedidamente e com respeito à pessoa humana.

Gravação clandestina
Gravação clandestina não vale como prova. Mas existem algumas situações em que são válidas,
como por exemplo:
a) se foi feita pelo réu para comprovar sua inocência.
b) Gravação feita em legítima defesa.

Observações finais:
Precisamos ter claro que em muitas situações, somente analisando o caso concreto poderemos
concluir se há ofensa a um direito fundamental ou não.

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Lembremos novamente do caso de uma mulher que com os seios desnudos se expôs numa
praia em SC, repleta de banhistas. Tendo sua imagem estampada na primeira página de um
Jornal estadual, buscou na justiça amparo com base no direito de privacidade. Conflito entre o
direito de privacidade com o direito de informação. O TJ entendeu que quando alguém
espontaneamente expõe-se a um grupo de pessoas, buscou notoriedade e não privacidade.

Noutro caso, envolvendo uma pessoa famosa, um Tribunal de Justiça decidiu que afrontava a
sua privacidade, a publicação de uma foto, sem sua autorização, em situação constrangedora,
em que não pretendeu expor-se, mas teve sua privacidade invadida.

Em síntese, as variáveis do caso concreto é que permitem estabelecer um julgamento de cada


situação. Isto vale para todos os direitos fundamentais.

Inciso XI

XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento
do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante
o dia, por determinação judicial;

O domicílio é inviolável
Qual a amplitude da expressão “casa”? Vejamos o resumo que apresento de uma decisão do
STF.
 Apreensão de livros contábeis e documentos fiscais em escritório de contabilidade, por
auditores fiscais. O STF considerou inconstitucional, pois o escritório contábil está
amparado pela proteção constitucional da inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI).
Segunda o Supremo Tribunal, a noção conceitual de ‘casa’ compreende os espaços privados
não abertos ao público, onde alguém exerce atividade profissional. Por isso, exige do fisco
um mandado judicial.

 Quarto de hotel em que a pessoa está hospedada. Exige mandado judicial para ter acesso.

 Lembremos de um aspecto fundamental. A entrada na casa, sem consentimento, somente


poder ocorrer:
o em caso de flagrante delito ou desastre, para prestar socorro.
o durante o dia, com amparo em decisão judicial.

Inciso XIII

XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações


profissionais que a lei estabelecer;
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“Alcança-se a qualificação de bacharel em direito mediante conclusão do curso respectivo
e colação de grau. (...) O Exame de Ordem (...) mostra-se consentâneo com a CF, que
remete às qualificações previstas em lei.” (RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 26-10-2011, Plenário, DJE de 25-5-2012, com repercussão geral.) No
mesmo sentido: MI 2.342, Rel. Min. Ayres Britto, decisão monocrática, julgamento em 5-
12-2011, DJE de 12-12-2011.

"Em síntese, a legislação local submete o contribuinte à exceção de emitir notas fiscais
individualizadas, quando em débito para com o fisco. Entendo conflitante com a Carta da
República o procedimento adotado. (...) A lei estadual contraria, portanto, os textos
constitucionais evocados, ou seja, a garantia do livre exercício do trabalho, ofício ou
profissão – inciso XIII do art. 5º da Carta da República – e de qualquer atividade
econômica – parágrafo único do art. 170 da CF." (RE 413.782, voto do Rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 17-3-2005, Plenário, DJ de 3-6-2005.)

Inciso XVII
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

Observações:
a) Entidades de caráter paramilitar são aquelas criadas à margem da lei, ou seja, se amparo
na Constituição.
b) Tratando-se de sindicatos, deve atender o requisito da Unicidade sindical, ou seja,
somente é possível a criação de uma entidade sindical por categoria para uma mesma
base territorial. Vide artigo art. 8º, da CF.

Inciso XX
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

Ninguém é obrigado a filiar-se, mas todos pertencem a uma categoria. Por essa razão são
obrigados a recolher a Contribuição Sindical que é um tributo. Por isso, todos fazem juz aos
direitos da convenção coletiva e as decisões que lhes são favoráveis.

Os artigos 578 e 579 da CLT preveem que as contribuições devidas aos sindicatos, pelos que
participem das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas
pelas referidas entidades, previstas no artigo 149, da CF, têm a denominação de "Contribuição
Sindical".

Um parêntese para estabelecer uma relação com o previsto no artigo 8º da CF:

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Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa
de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

"A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical compulsória,


prevista no art. 578, CLT, e exigível de todos os integrantes da categoria,
independentemente de sua filiação ao sindicato, resulta do art. 8º, IV, in fine, da
Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da
liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei
Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição
sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) – marcas características do modelo
corporativista resistente –, dão a medida da sua relatividade (cf. MI 144,
Pertence, RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei
complementar prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no
art. 34, § 3º e § 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE 146.733, Moreira
Alves, RTJ 146/684, 694)." (RE 180.745, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 24-
3-1998, Primeira Turma, DJ de 8-5-1998.)

Incisos XXII
XXII - é garantido o direito de propriedade;
"O direito de propriedade não se revela absoluto. Está relativizado pela Carta da
República – arts. 5º, XXII, XXIII e XXIV, e 184." (MS 25.284, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 17-6-2010, Plenário, DJE de 13-8-2010.)

Inciso XXIII
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

“O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave
hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art.
5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados,
contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria CR.
O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o aproveitamento racional e adequado
do imóvel rural, a utilização apropriada dos recursos naturais disponíveis e a preservação
do meio ambiente constituem elementos de realização da função social da propriedade.”
(ADI 2.213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 4-4-2002, Plenário, DJ de 23-
4-2004.) No mesmo sentido: MS 25.284, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 17-6-
2010, Plenário, DJE de 13-8-2010.

Mas afinal, quando uma propriedade urbana ou rural atende a função social?
A resposta pode ser encontrada no art. 182, §2º (urbano) e art. 186 (rural) da Constituição
Federal.
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Art. 182 da CF – “§ 2º - A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende
às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.”

O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001) estabelece quais são as exigências fundamentais que
deve conter o plano diretor para que o imóvel cumpra sua função social.

“Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio
ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.”

Inciso XXIV

XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade


pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados
os casos previstos nesta Constituição;

Pode ocorrer a desapropriação por:


a) Necessidade: Para garantir, por exemplo, a vida das pessoas. Ex: Área com risco de
deslizamento.
b) Utilidade pública: Essencial para o Estado. Ex: Desapropriação para construção de uma
rodovia;
c) Interesse social: promover a paz e o progresso social. Ex: Desapropriação para reforma
agrária.

Pode ocorrer a penhora de bem imóvel pelo não pagamento de despesas de condomínio?
Sim, pois a propriedade não pode ser utilizada para causar prejuízo a terceiros.

Imóvel oferecido como garantia de dívida. O proprietário pode alegar a impenhorabilidade do


bem?
Não, pois foi uma liberalidade sua oferecer o bem em garantia.

Inciso XXVI
XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família,
não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva,

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dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

“Bem de família. Penhora. Decorrência de despesas condominiais. A relação


condominial é, tipicamente, relação de comunhão de escopo. O pagamento da
contribuição condominial (obrigação propter rem) é essencial à conservação da
propriedade, vale dizer, à garantia da subsistência individual e familiar – a dignidade
da pessoa humana. Não há razão para, no caso, cogitar-se de impenhorabilidade.” (RE
439.003, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 6-2-2007, Segunda Turma, DJde 2-3-
2007.)

A pequena propriedade é calculada através da medida denominada Módulo Fiscal. O Módulo


Fiscal é definido pelo Incra e varia de acordo com o Município. No Alto Vale, um Módulo
Fiscal equivale, na maior parte dos municípios, a 18 hectares.

A pequena propriedade é aquela com até 4 módulos fiscais, conforme dispõe a Lei nº 8.629/93.

Inciso XXXII
O Código do Consumidor – Lei 8.078/90.
Os três pressupostos gerais:
a) a hipossuficiência do consumidor;
b) a responsabilidade objetiva do fabricante, produtor, construtor, prestador, etc.;
c) a responsabilidade solidária do vendedor ou prestador.

Inciso XXXIII
Lei 15.527/2011 – Lei de acesso à informação.
As informações precisam ser prestadas de forma ágil e em linguagem clara. Peço que leiam esta
Lei, pois é fundamental para entenderem futuramente aspectos do Direito Administrativo.

Inciso XXXIV
Direito de Certidão e Direito de Petição.
Lembremos que o direito de petição é ato de formal de pedir, reclamar, sugerir, etc. aos órgãos
da Administração Pública. Não devemos confundir esse termo com a petição que apresentamos
quando ingressamos na via judicial, pois esta se caracteriza como um direito de ação.
A resposta à petição sempre deve conter a MOTIVAÇÃO e a FUNDAMENTAÇÃO. Não
esqueçam disso: Toda resposta emitida pela Administração Pública, por meio de seus
servidores, deve ser motivada (conter o motivo da decisão) e o fundamento legal que lhe deu
amparo.

Inciso XXXV
XXXV – A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

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Uma sanção administrativa pode ser discutida diretamente no Poder Judiciário, sem
apresentação de reclamação na via administrativa? Sim, CF, art. 5º, inc. XXXV.
Contudo, há exceções, como por exemplo nos casos em que você busca amparo no Poder
Judiciário porque um órgão público não te concede um direito que é legítimo. Nesse caso, você
precisa demonstrar que o órgão público te negou o direito. Pensemos numa situação em que
alguém requer um alvará de construção e a prefeitura informa por escrito que não tem direito.
O prejudicado precisa apresentar esse documento e demonstrar ainda que tem direito a receber
o referido alvará.

Inciso LI e LII
- Relembrando: De forma simplificada, podes dizer que crimes comuns são aqueles tipificados
no Código Penal, enquanto crimes políticos são aqueles decorrentes de atos praticados na defesa
de opiniões ou convicções de caráter político. É um exemplo os atos praticados durante o
período da revolução de 1964 no Brasil.

- Crime político ou de opinião praticado por estrangeiro não cabe extradição.


- Caso “Cesare Battisti”: Cabe ao Presidente da República definir a extradição

Síntese do caso Cesare Battisti. Decisão do STF: O Supremo Tribunal Federal, tendo poder de
julgamento, decidiu que Cesare Battisti praticou crime comum ao cometer quatro assassinatos
na década de 70 na Itália. Mas o ato normativo de extradição é da competência do Presidente
da República que detém o poder discricionário para deliberar sobre a extradição. Nesse caso o
Presidente decidiu, com base no entendimento da Procuradoria Geral da União, em não
extraditá-lo por considerar que os assassinatos qualificaram-se como crimes políticos.

Inciso LV
Igualdade Processual
- Ampla defesa, contraditório e devido processo legal, são assegurados aos litigantes de um
processo judicial ou administrativo, e aos acusados.
Relembrando, toda decisão judicial (CF, art. 93, IX) ou administrativa deve ser motivada e
fundamentada, sob pena de invalidação.
Vejam o interessante exemplo abaixo de uma decisão do STF:

Na espécie, em momento algum, o magistrado de primeiro grau aponta fatos


concretos que justifiquem a real necessidade da quebra desses sigilos. (...) Nesse
diapasão, por reputar que as decisões judiciais prolatadas pelo juízo de origem
encontram-se destituídas da devida fundamentação – o que as tornam desvestidas
de eficácia jurídica –, entendo que as interceptações telefônicas e as informações
financeiras obtidas constituem provas ilícitas, devendo, dessa forma, ser
desentranhadas do processo." (HC 96.056, voto do rel. min. Gilmar Mendes,
julgamento em 28-6-2011, Segunda Turma, DJE de 8-5-2012.)

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Inciso LVI
Provas Ilícitas:
- São inadmissíveis provas obtidas por meio ilícito.
- São admitidas para fins de análise dos fatos, mas não podem servir de prova junto ao processo.

Inciso LVII
Trânsito em Julgado.
- Ninguém é considerado culpado até o trânsito julgado da sentença penal condenatória.
- Questão interessante levantada pelo João Eduardo em aula: O caso da Lei da Ficha Limpa (LC
135/10). A Lei da Ficha Limpa estabeleceu a perda dos direitos políticos por oito anos para os
políticos que forem julgados por um órgão colegiado, em virtude da prática de ato tipificado
como de improbidade administrativa. Decisão do STF: a) A Lei estabelece a perda do direito
de candidatura por oito anos de pessoas que foram julgadas por órgãos colegiados, mesmo se
houver possibilidade de recursos. b) A Lei foi julgada constitucional, considerando que o inciso
LVII, do artigo 5º, da CF, diz respeito somente à sanção penal e não a sanções políticas. A
mesma interpretação se extrai do artigo 15, inciso III. Em resumo, a inelegibilidade é uma
sanção política e não uma sanção penal.

Inciso LXVII
Prisão por dívida do depositário infiel. Pacto de São José da Costa Rica, artigo 7º, item 7.
O inciso LXVII nessa parte, não foi revogado, apenas perdeu a eficácia.
Fundamento. Os tratados internacionais que não foram votados pelo rito do §3º do artigo 5º,
são considerados normas supralegais. As normas processuais que tratam da prisão por dívidas
estão expressas no CPC. Em resumo, o STF considerou que o Tratado revogou as normas do
CPC (Lei ordinária) que tratam do tema.

GARANTIAS AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (Art. 5º, da CF)

Inciso LXVIII
“Habeas corpus”
Modalidades:

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-Repressivo: libertar quem está preso ou coagido em sua liberdade de locomoção.
-Preventivo: evitar eventual prisão ou coação da liberdade de locomoção.

Pode ser impetrado apenas contra ato emanado do poder público ou também contra ato de
particular? Resposta: Pode ser também contra ato de particular.

Acórdão sobre o tema:


"HABEAS CORPUS" PREVENTIVO - Impetração contra ato de particular - Paciente
que se diz na de iminência de ser internado em clínica psiquiátrica por sua esposa -
Conhecimento - Ordem, porém, denegada - Constrangimento não comprovado -
Inteligência dos arts. 153, § 20, da CF, 647 do CPP e 1.182 do CPC (Ementário RT
552/32)

Inciso LIX
“Mandado de Segurança”
-Lei nº 12.016/09
-Tem o intuito de garantir direito líquido e certo.
-Aplicável quando agente da Administração Pública nega um pedido ou pratica uma
ilegalidade. É necessária a comprovação da prática do ato.
-Liminar: (para a concessão de uma liminar, deve-se observar)
a) Fumus Boni Iuris – fumaça do bom direito. Demonstrar a existência do direito. b)
Periculum in Mora – perigo da demora. Comprovar dano irreversível.

Inciso LXXI
“Mandado de Injunção”.
 Quando não existe norma regulando determinado direito.
 No passado, as decisões do STF se resumiam em comunicar o poder competente para que
editasse a norma legal.
 Contudo, atualmente o STF tem decidido que o autor da ação pode fruir o direito que
pleiteia, se o legislativo não editou a norma legal no prazo estabelecido na decisão. Em
resumo, a decisão do Poder Judiciário vale para o autor como um direito e obriga o órgão
público a concedê-lo ainda que não haja lei disciplinando a matéria.

Inciso LXXII
“Habeas Data”.
Remédio jurídico a ser utilizado por pessoa que pretender ter conhecimento ou retificar
informações a seu respeito que se encontram em repartição pública, quando lhe for negado o
direito na via administrativa. Portanto é aplicável para as duas situações sublinhadas acima.
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É necessária a comprovação da negativa do agente público em fornecer as informações nos
termos do inciso XXXIII, do art. 5º.

Inciso LXXIII
Ação Popular
-Autor: Qualquer cidadão. Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular
(Súmula nº 365)
-Alternativa: representação ao Ministério Público.
- Com base na representação e outros elementos que o MP pode colher, decide se oferece a
denúncia para dar início a ação no Poder Judiciário.

Inciso LXXVIII
Razoável duração do Processo
-Vinculado ao Princípio da Eficiência, art 37 “caput”, da CF.

RELEMBRANDO ALGUNS ASPECTOS ESSENCIAIS

Características dos Direitos Fundamentais:


- Imprescritíveis: não deixam de ser exigíveis em razão do não uso.
- Irrenunciáveis: nenhuma pessoa pode abrir mão desses direitos.
- Não são absolutos: Podem ser limitados pela própria Constituição, por outra norma legal ou
sempre que houver uma hipótese de colisão de direitos fundamentais.
- Universais: São direitos de toda pessoa humana, sem restrições.

Síntese do entendimento do STF acerca dos §§ 2º e 3º do art. 5º, do CF:


a) Os tratados internacionais sobre direitos humanos, quando votados e aprovados por 3/5,
no mínimo, dos membros do Congresso Nacional, tem status de emenda constitucional.
Portanto, encontram-se no nível de normas constitucionais.
b) Os demais tratados sobre direitos humanos, de que o Brasil faça parte, que apenas foram
recepcionados e votados pelo Congresso com o quórum normal (maioria simples), tem
status de norma supralegal. Significa que estão acima das leis, mas abaixo da Constituição.
c) O único tratado votado na forma do §3º foi aprovado pelo Decreto 6.949/2009, que trata
de direitos das pessoas com deficiências. Portanto, este tem status de norma constitucional.

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