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Another brick in the wall

O historiador Eric Hobsbawm depositou tamanha importância à queda do Muro de Berlim, que
em sua leitura histórica o século XX ali encontrou seu fim. Para Hobsbawm o século XX possui
um recorte bem específico, iniciando-se em 1914, com a Primeira Guerra, e desmoronando em
1991, com o fim da União Soviética. Está aí a origem da expressão largamente empregada:
"Breve Século XX".

Hoje estão sendo "comemorados" os 25 anos da queda do Muro de Berlim, uma fronteira física,
ideológica, de medos profundos e grandes esperanças que, por quase meio século, dividiu o
mundo e os homens. Resolvi desenterrar este texto de 2003 a fim de repensar no momento
presente as transformações que o gênero humano experimentou em uma década e como meu
próprio pensamento, embora mantenha a mesma direção, modificou-se em ritmo e no trato.

14.4 DAS TRADIÇÕES E TRAIÇÕES SOCIALISTAS DO “BREVE SÉCULO XX”.

“Às vezes parecia que de tanto acreditar/


Em tudo que achávamos tão certo,/
Teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais:/
Faríamos floresta do deserto/
E diamantes de pedaços de vidro.
Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá – Andrea Doria

Hoje, em retrospecto, não é de surpreender que o “Longo Século XIX” tenha sido o bojo
formador desta ideologia que pretendeu, de uma só tacada, emancipar a humanidade, coletivizar
os meios de produção, combater crendices e superstições para, num processo gradual, libertar a
sociedade de toda e qualquer manifestação do Estado. Falamos de um século sem liberdade
política, em que a classe média inexistia e a escravidão oficial persistia, embora combatida e
vilipendiada pelos setores progressistas da sociedade; a jornada de trabalho estendia-se por pelo
menos dezesseis longas horas, arrastando indiscriminadamente crianças, adultos e velhos para
os galpões fabris e as mulheres, estas nem sonhavam com o advento da Revolução Feminista e
da Liberdade Sexual. O fim da belle époque praticamente coincidiu com o nascimento da
primeira República Socialista, uma nação que fora historicamente destinada a pôr fim aos
abusivos governos burgueses e a eliminar as diferenças impostas entre os povos e entre os
sexos. Nem oitenta anos durou este sonho...
Não faltam historiadores, sociólogos, antropólogos, cientistas sociais e palpiteiros de toda
espécie a indicar os motivos que levaram à falência o poderoso Império Soviético. Justificável
que assim seja. Diante de um quadro tão surpreendente, é impossível conter as dúvidas – as
dúvidas vêm aos borbotões. Já as respostas, embora exaustivamente ensaiadas, nem sempre são
as mais adequadas. O mais provável é que nunca haja um consenso. Excepcional em todos os
aspectos, o mundo soviético o foi até no instante de sua queda.
A URSS que competiu com o capitalismo desesperadamente por sete décadas, erguendo-se de
raízes feudais até chegar ao patamar de superpotência, derrotando a ameaça nazista apesar de
todas as adversidades que lhe foram impostas, arrastando metade da Europa para a sua severa
órbita de influência, seduzindo e alimentando a esperança de milhões de trabalhadores, jovens,
intelectuais, artistas e demais indivíduos que ambicionavam um mundo mais justo e mesmo
quando estes indivíduos sabiam que a União Soviética absolutamente não era um mar de rosas,
havia um valor simbólico pairando sobre o Bloco Socialista, como se uma experiência social de
proporções titânicas estivesse se dando dentro da Cortina de Ferro. Uma experiência que não
podia dar errado. A falência desta empreitada poderia significar a primeira e a última chance de
se colocar à disposição de todos os meios de produção; seria admitir não haver alternativa
possível ao capitalismo e à exploração do homem pelo homem. Abandonada à própria sorte, a
União Soviética acumulou um arsenal inaplicável (utilizar-se dele significaria uma mútua
extinção), esteve por mais de uma vez próxima de uma guerra total contra as potências
ocidentais e de repente, sem que se fosse realmente esperado ou previsto, o mundo comunista
desfez-se por si só. Qualquer indivíduo razoavelmente esclarecido é desafiado a questionar os
porquês.

Dizer que há uma razão específica ou que o colapso da URSS era inadiável, representa o mesmo
que nada dizer.

Quando se deu início a década de 80, passada a euforia dos Jogos de Moscou, tornou-se claro
aos dirigentes do Kremlin a necessidade inadiável de reformar-se o socialismo soviético. Talvez
fosse uma constatação tardia, ignorada por Brejnev e pela cúpula burocrata do PC, posto que
antevista pelo desacreditado Nikita Kruschev. Porque o pós-guerra apresentou-se uma época
peculiarmente favorável ao socialismo, todavia também o foi para o capitalismo, que começou a
sofrer neste período a revolução da eletrônica e dos bens de consumo que dependiam de
inovações tecnológicas. As economias planejadas, apesar de teoricamente comprometidas com o
progresso e com a alta tecnologia, haviam se especializado muito mais na construção de tratores
e armas de destruição em massa do que na de computadores e televisões. O próprio modelo de
produção das indústrias soviéticas era defasado. A população ambicionava maior variedade de
bens de consumo. Além do mais, havia repressão estatal e um aparelho burocrático gigantesco
travando o desenvolvimento econômico. Não que as coisas não tivessem ficado melhores desde
Stálin. Mas sem a mão forte do Estado, como impedir que os cidadãos desobedecessem às
rígidas diretrizes impostas pelo Partido Comunista?

Foi sob esta conjuntura que Gorbatchev chegou ao poder.

O problema é que a URSS fez-se inesperadamente a primeira república socialista do mundo.


Sendo o socialismo do tipo marxista um modelo teórico jamais aplicado, os dirigentes da recém-
nascida nação soviética tiveram que elaborar alternativas, que fizessem funcionar o modelo
social que haviam acabado de pôr em prática. Estas alternativas, em sua maioria, não
encontravam respaldo em Marx; o que, naquele momento de desespero, era o que menos
interessava. A morte de Lênin e os expurgos de Stálin eliminaram a maioria das mentes que
poderiam dar conta da reforma teórica que o socialismo necessitava. O socialismo também
falhou quando Moscou passou a acreditar que ninguém mais poderia dar conta desta ideologia
libertadora senão os russos. Crer num modelo socialista uno, que possa ser posto em prática,
sem revisões, da costa atlântica ao mar Amarelo, não passa de uma gigantesca utopia. Nem na
unidade nacional da Rússia isso funcionou, porque, obviamente, o socialismo não se constrói de
cima para baixo, como se um seleto grupo de governantes burocratizados entocados em Moscou
fosse capaz de planificar a economia, de modo a saber quais são as reais necessidades de
populações tão distintas quanto as que viviam entre Leningrado e Vladivostok. Nestas
condições, para que fossem sanadas as evidentes dificuldades na distribuição e no
remanejamento de recursos, só com uma máquina administrativa gigantesca e por que não
tirânica. Embora tenha morrido sem conseguir suprimir a tendência burocrática que se instalava
lentamente no seio do governo soviético, ao pedir todo poder aos sovietes, Lênin deu prova de
que sua notável lucidez sobrevivera ao atentado à bala, ao derrame que se seguiu e às razões do
Estado, pois é do povo que o poder emana e é na organização de conselhos populares que se
funda o socialismo, não erguendo um estado monstruosamente poderoso. Numa última análise,
o Kremlin ignorou os ideais internacionalistas, tão caros ao socialismo, e impôs uma versão
mais refinada e também mais eficiente da tirania czarista. Stálin nada foi senão um czar
vermelho.
Marx preconizava o socialismo como uma realidade histórica objetiva, que nasceria das
contradições do capitalismo e finalmente solaparia este sistema econômico. A necessidade do
capitalismo para se alcançar o comunismo (uma regra um tanto determinista, mas não
desprovida de validade), nos nossos dias permite a construção de uma outra análise que não
poderia ser tecida nos tempos de Marx, mas que se faz pertinente agora. Pois os socialismos
erigidos durante o século XX brotaram em nações feudais e/ou imperiais, não das potências
industriais da época, como se esperava ou se teorizava. Mas com o socialismo surgindo em
nações sem a menor tradição democrática, não admira que se tenha desenvolvido de modo
autoritário. Note-se, por exemplo, que o socialismo soviético manteve as pretensões territoriais
czaristas e o socialismo chinês, a meticulosidade e a paciência do confucionismo.
Confirmando o que já foi mencionado neste capítulo: não se pode eleger uma razão una para
declínio da confederação soviética. Porém, à luz de uma década e meia, já nos é possível
perceber alguns dos erros de percurso deste tipo de socialismo e identificar suas possíveis
causas, pois as conseqüências já nos são sabidas desde muito.
Uma das crenças especialmente nocivas, talvez aquela que possa ser eleita como a mais
prejudicial ao desenvolvimento do comunismo na Rússia, embora não tenha sido a única, foi a
de que a Revolução é uma tarefa a ser administrada tão-somente por um partido de vanguarda,
que mais tarde viria a se confundir com o próprio Estado e por fim com os ideais do
comunismo. A trindade Partido-Estado-Ideologia não gerou os resultados esperados nem
poderia. Portanto o que desmoronou nas duas últimas décadas do século XX não foi o
comunismo, mas sim o socialismo de Estado em sua versão mais débil. Este se encontrava
pesadamente fragilizado pelas reformas desastradas do premiê Gorbatchev, que as iniciou
provavelmente com a melhor das intenções. Gorbatchev, ciente de que uma reforma era
imprescindivelmente necessária, não soube como administrá-la sem destruir a União Soviética.
Pois numa nação onde o conceito de Partido e Estado chegava a se confundir, como realizar
uma reestruturação num sem desestruturar completamente o outro? Difícil é saber o momento
exato em que Gorbatchev passou a desejar conscientemente o fim da URSS e, se assim foi, as
razões que o motivaram. Certamente nunca haverá uma resposta clara e satisfatória. O que mais
surpreendeu no epílogo vermelho foi a extrema fragilidade política do Bloco Socialista. No fim
a superpotência que fora capaz de polarizar o mundo dobrou-se sem resistência após ensaiar
uma ridícula tentativa de golpe . 1991 será lembrado no futuro como o ano em que o sonho
comunista foi sepultado, embora ainda vivo.

1 (Como se sabe, a maior parte da antiga nomenklatura soviética não teve problemas em aceitar
a Nova Ordem Mundial e esforçou-se por infiltrar sua influência na máquina estatal, muitas
vezes se apropriando abertamente do patrimônio público. Uma dos exemplos mais notáveis de
rejeição ao fim do “socialismo realmente existente” foi o do marechal Serguei Akhromeiev, que
se suicidou, legando a seguinte mensagem: "Tudo a que dediquei minha vida se destruiu.". (N.
dos A.)

Um planejamento central desastrado? Uma insuperável herança stalinista de taticismo e


inversão teórica? A impossibilidade de acompanhar os Estados Unidos de Ronald Reagan numa
insana corrida armamentista? A falência prática de uma ideologia social? Esforços minados pela
sanha capitalista das potências ocidentais? A ausência de um “momento histórico” favorável
para o desenvolvimento do socialismo? Demasiada superficialidade dos teóricos de Outubro em
não provocarem uma crítica adequada ao fetichismo do capital? Autoconfiança excessiva
estimulada pelo determinismo cientificista de Marx? Um líder comprometido a dar o tiro de
misericórdia no seu próprio Império? Uma economia excessivamente burocrática e, por isso
mesmo, pouco dinâmica? Inúmeras causas aglutinaram-se e conspiraram para que a URSS
deixasse de existir. Improvável conhecê-las ou descrevê-las por completo.
Até mesmo entre os que não viveram aquela época ou que a viveram sem capacidade de julgá-la
apropriadamente ou compreendê-la, é comum um sentimento de nostalgia pelo mundo bipolar.
Sentimento que anda sendo explorado com eficácia até pela indústria do entretenimento. O
Movimento Potencialista entende que é impossível nos dias de hoje compreender o socialismo
sem a URSS. Apesar de seus erros, a União Soviética foi palco de uma das experiências mais
surpreendentes já desenvolvidas em toda história e convém a todo socialista estudar aquela
sociedade fundada por Lênin, para que se possa compreender qual foi a herança deixada pelo
“socialismo real” do século XX.
Reside nas obras de Vladimir Lênin, Nicolai Bukharin e Léon Trótsky a maior herança teórica
legada pelo socialismo soviético, que ainda constitui uma leitura interessante, capaz de elucidar
muitos fenômenos sociais atualmente enfrentados, colaborando na construção do pensamento
socialista do século XXI. No campo teórico, o Potencialismo limita-se ao pensamento destes
filósofos. Porém a ideologia Potencialista esquiva-se da objetividade crônica do marxismo da
velha escola, do historicismo, do taticismo e do cientificismo economicista, valendo-se da
recusa à filosofia tradicional, duvidando do absolutismo da razão e questionando os limites do
método cartesiano. Para relativizar recorremos ao “revisionismo” de Lukács, à pedagogia de
Gramsci, ao niilismo de Nietzsche, algo da microfísica do poder de Foucault e da crítica ao
dualismo de Spinoza, à Análise do Discurso de Pêcheux e ao Espetáculo de Debord, aos textos
anarquistas do século XIX e à porra-louquice da contracultura pop e sua irreverência.
Também não podemos ignorar símbolos meritórios de luta como a inacreditável perseverança
do povo cubano, que há mais de quarenta anos resiste nas barbas do império; o heroísmo
internacionalista de Guevara, o primeiro a conceder um aspecto genuinamente latino-americano
à teoria socialista; a maturidade chilena em ter elegido o primeiro presidente comunista; a força
organizativa do ideal de Sandino, inspirando as massas tantos anos após sua morte... São
inúmeros os exemplos. A URSS definitivamente não foi o socialismo. De qualquer forma, a
Revolução de Outubro iniciou a tradição socialista do século XX, irradiando seu exemplo e
atingindo o imaginário das vítimas da fome, da exploração e da exclusão social, suscitando a
possibilidade de uma sociedade alternativa e promovendo mudanças inquestionáveis na política
global. A inesperada queda da superpotência comunista abalou a intelligentsia de praticamente
todos os continentes, prós e contras, rebeldes e conservadores, por um momento todos ficaram
desnorteados, incapazes de compreender a nova dinâmica do mundo onde as coisas
simplesmente desmanchavam no ar.
Os anos noventa foram o limbo histórico, que separou por uma década o “Breve Século XX”,
encerrado em 1991, do Definitivo Século XXI, iniciado em 11 de setembro de 2001. Definitivo
porque o nível técnico à disposição e a tecnologia bélica em desenvolvimento poderão destruir o
gênero humano, se não for tentado seriamente um entendimento entre as diversas nações e a
promoção da cidadania incondicional.

Akira Riber Junoro in "Manifesto Potencialista - Uma nova Interpretação para a Interpretação
de um Mundo Velho/2003"

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