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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPINAS
2016
GISELLE MORAES PINTO
CAMPINAS
2016
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Educação
Rosemary Passos - CRB 8/5751
Título em outro idioma: History and social legitimacy - History and Memory EMEF Oziel
Alves Pereira, a school in urban settlement area in Campinas
Palavras-chave em inglês:
Schools
Memory
History
Social activity
Social legitimacy
Urban ocupacion
Área de concentração: Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte
Titulação: Mestra em Educação
Banca examinadora:
Maria do Carmo Martins [Orientador]
Carolina de Roig Catini
Eliana Nunes da Silva
Data de defesa: 24-02-2016
Programa de Pós-Graduação: Educação
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
COMISSÃO JULGADORA:
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida
acadêmica do aluno.
2016
AGRADECIMENTOS
À João Zinclar (in memoriam) pelo trabalho realizado durante toda sua vida
profissional juntamente aos movimentos sociais, registrado em fotografias
maravilhosas e por compartilhar com alunos da EMEF Oziel Alves Pereira um pouco
dessa experiência.
Aos moradores dos bairros Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Vila Taubaté,
que construíram com tanta determinação uma parte da história da cidade de
Campinas.
Aos meus pequenos sobrinhos, Lucas e João Gabriel, que alegraram meus
dias com sorrisos, simplicidade e vontade de viver.
Muito obrigada!
(Eduardo Galeano)
RESUMO
The dissertation presents a historical analysis of the route creation and construction of the
physical apparatus of the Elementary school called “Oziel Alves Pereira”, built in an urban
occupation, supported by a social movement that demanded the right to housing. Currently
designated "Oziel Park", the occupation took place in mid-1997 in the city of Campinas, SP.
From the consolidation of the right to housing, other claims were appearing and the school
was one of those fronts. The dissertation aims to contribute in the writing of an important
milestone for the community in question, including as building the school can clarify the
tensions and gains by the social organization of residents and, how it can also symbolize
elements of the political scene of the time, aiming elements contributing to the legitimacy of a
given social and political movement. As documentary sources were used the administrative
and pedagogical school documents, various photographic materials and newspaper clippings.
Key words: School history – Memory and History - Social Activity- Urban Occupation- Social
Legitimacy.
LISTAS DE IMAGENS
INTRODUÇÃO
Referente aos termos invasão e ocupação, cabe reiterar que o primeiro está
ligado ao ato ilegal de invadir propriedade privada, ao passo que o termo ocupação
está ligado ao ato de tomar posse de alguma coisa que está abandonada e/ou não
apropriada. Esses dois conceitos estão ligados à questão da distribuição de terra.
E continua:
E continua:
Para Ghilardi (2012) a ocupação do bairro Parque Oziel nos leva a pensar
sobre o processo histórico de formação das periferias urbanas, e cita os autores
Kowarick e Brandt (1976) para tratar a questão:
Assim sendo, Ghilardi (2012) contribui para pensarmos nas questões que
envolvem as ocupações urbanas recentes, e mais especificamente a ocupação do
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Tínhamos como quartel general a ‘EMEF Oziel Alves Pereira’ e, em uma das
reuniões, que aconteciam no laboratório de informática, percebi que este era
pouco usado devido à falta de domínio da maioria dos professores na
utilização dos computadores lá instalados como instrumento pedagógico e
resolvi ministrar um curso aos interessados. (SILVA, 2009, p 26-27).
(...) a escola era o centro de nossas idas ao Oziel, sempre nos encontrávamos
e discutíamos educação. Falávamos sobre a escola, sobre políticas públicas
e as vicissitudes de se ensinar para uma comunidade fruto de uma ocupação
(SILVA, 2009, p. 29).
escola, porém o autor não dá maiores detalhes sobre esta viagem, e diz que: “a
viagem gerou outro projeto que não é pertinente a esta pesquisa” (Silva, 2009, p. 29).
O autor ainda destaca que participou do projeto GERES1, que tinha como
objetivo a aplicação de testes de matemática e leitura, mapeando os mesmos alunos
desde a 1ª até a 4ª série, estes testes levavam em conta fatores sócio- familiares e
escolares no início da aprendizagem do Ensino Fundamental, Silva (2009) destaca
que a EMEF Oziel Alves Pereira na época do projeto tinha 11 primeiras séries, com
400 alunos. Destacou que além dos alunos, professores, diretores e pais estiveram
envolvidos na pesquisa.
1
GERES é um projeto de pesquisa que focaliza a aprendizagem no início do Ensino Fundamental, levando em conta fatores
escolares e sócio familiares que incidem sobre o desempenho escolar, além de outras dimensões, como a autoestima e a
motivação, que podem afetar o desenvolvimento dos alunos.
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O começo dos trabalhos naquela unidade escolar foi caótico, nos primeiros
dias as aulas foram suspensas por falta d’água, só era possível organizar um
planejamento mínimo. Juntamente com as demais colegas de trabalho tentávamos
conhecer os alunos e suas especificidades e dimensionar quão grande era o desafio
pedagógico. Com o apoio da escola, da Orientadora e Coordenadora Pedagógica foi
organizado um Grupo de Trabalho para discutir, estudar e propor ações pedagógicas.
Interessei-me particularmente em conhecer a história do bairro e da escola, para que
pudesse elaborar melhor as aulas de História, e concomitantemente começar a
produzir uma memória daquela comunidade.
A impressão era quase que se criara outra história, que não a vivida pelos
moradores que lutaram para que a ocupação acontecesse, uma versão do que
realmente havia acontecido e, repetidas tantas vezes, com ênfase nos ingredientes
de violência, desobediência civil, na qual os moradores eram vistos como invasores e
atuantes em um processo que recebia a pecha de ilegal. Tudo isso ressoava
fortemente em mim, primeiro como professora, porque estava em busca de uma
identidade para a escola que acabara de ingressar, e também queria encontrar,
naquele espaço escolar, canais que legitimassem socialmente as ações dos
moradores, que reconhecessem e valorizassem a trajetória da comunidade, da
construção da escola e de uma participação política. Outro fator advém do interesse
de conhecer mais sobre a cidade e história de Campinas.
2
Vídeo intitulado “Histórias fantásticas que devemos contar às crianças” foi apresentado no 18º Congresso de Leitura do
Brasil, no período de 16 a 20 de fevereiro de 2012, na Unicamp. O vídeo é um registro dos trabalhos realizados pelos alunos e
que teve como recorte a história do bairro Parque Oziel e algumas informações sobre a escola homônima.
22
E continua:
Neste exercício crítico constatei que havia elementos que poderiam ser
mais bem organizados. Que poderia existir uma história a ser contada, compilada e
ser recontada. Para se construir uma imagem do passado, era preciso limpar o
terreno, era preciso passar por certas desconstruções conceituais, parar de idealizar
ou generalizar sobre determinada experiência, podemos percorrer um caminho sério
para tentar encontrar uma dentre muitas possibilidades interpretativas da verdade.
Para pensar sobre esse discurso arbitrário que classifica pessoas como de
“bem” e as “não de bem”, Chalhoub (1996) descreve um período do Brasil Império e
a formação dos cortiços mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro. O autor
expõe o que isso significou para a população mais pobre nos termos de urbanização.
A intimação não fora obedecida e o prefeito Barata Ribeiro prometia dar cabo
do cortiço à força. Às sete horas e trinta minutos da noite, uma tropa do
primeiro batalhão da Infantaria, comandada pelo tenente Santiago, invadiu a
estalagem, proibindo o ingresso e a saída de qualquer pessoa. Piquetes da
cavalaria policial se posicionaram nas ruas transversais à Barão de São Félix,
e outro grupo de policiais subiu o morro que havia nos fundos da estalagem,
fechando o cerco pela retaguarda. (CHALHOUB, 1996, p. 15 e16)
A cena descrita anteriormente não difere muito do que vemos até hoje em
comunidades que estão em áreas de ocupação, espaços esses que não estão
regularizadas e sofrem ordens de despejo e desocupação mediante força policial, na
ocupação do bairro Parque Oziel não foi diferente, por diversas vezes houve pedido
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A primeira vez que teve uma liminar de despejo, nós fomos no Fórum
conversar com o juiz. E o juiz deu uma decisão contrária à gente e falou: “
não, tem que despejar as famílias”. E agora, o que que a gente faz, o que que
a gente faz? E a gente pensou, vamos fazer uma marcha para a cidade.
Neste ponto Chalhoub (1996) chama-nos atenção para o que ele considera
como o mito de origem para tamanha violência com os habitantes da cidade, e mais
ainda sobre como agir diante da diversidade dos sujeitos inseridos na dinâmica
urbana.
Ele destaca dois pontos para lidar com a diversidade urbana. Ele escreve:
E conclui que:
3
As classes pobres e viciosas, diz um criminalista notável, sempre fora e hão de ser sempre a mais abundante
causa de todas as sortes de malfeitores: são elas que se designam mais propriamente sob o título de – classes
perigosas – pois quando o mesmo vício não é acompanhado pelo crime, só o fato de aliar a pobreza no mesmo
indivíduo constituiu um justo motivo de terror para a sociedade. O perigo social cresce e torna-se de mais a
mais ameaçador, à medida que o pobre deteriora a sua condição pelo vício e o que é pior, pela sua ociosidade
(CHALHOUB, 1996, p.21).
26
cotidiana vividos por ocupantes, por agentes da segurança pública e nem tampouco
por professores dentro de seu local de trabalho, a própria EMEF Oziel Alves Pereira.
Porém considero pertinente o que autor traz como a “naturalização” e a
“generalização” sobre o pobre ser perigoso, povoando o nosso imaginário social.
Há nesse binômio cortiço e classes perigosas algo que ainda ressoa hoje.
Pobres que não tem trabalho e que ousam de alguma forma lutar contra o que está
posto em suas vidas, sendo vistos, muitas vezes, como perigosos e arruaceiros, e
seus lugares de morar, sejam eles ocupações regularizadas pelo Estado ou não, são
alvo de descrédito, já que não foram conquistados/comprados com o suor de seus
“trabalhos”, então, pelo senso comum pode vir a conclusão, por vezes reducionista,
que foram roubados. Mas a pergunta é: e quando não há trabalho para todos? E
quando uma parcela da nossa sociedade é relegada a tornar-se invisível? E ainda,
como superar a linha que diz qual o tipo de trabalho que cada um vai exercer?
(...) não tem por alvo recolher os grandes feitos. Deve muito mais apanhar
tudo aquilo que é deixado de lado como algo que não tem significação, algo
que parece não ter importância nem sentido, algo com que a história oficial
não saiba o que fazer. (GAGNEBIN, 2001, p.88).
Há, porém, que se dizer que não é função do historiador tão somente
recolher os cacos e fragmentos da história, há outra condição que a mesma autora
nos chama atenção, e que se considera dentro dessa perspectiva metodológica de
suma importância, de que não devemos perder de vista a ascese da atividade do
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historiador, na qual este não escreve sobre aquilo que é narrado, mas abrem-se as
incompletudes dessa narrativa, assim trazendo o que Bosi (2012) diz:
Assim podemos nos apropriar de outra maneira para falar sobre memória,
já que não precisamos contar como foi esse passado em todos os seus pormenores,
visto que isso seria impossível e realmente dispensável e enfadonho. Tão antes o
contrário, é olhar um instante ou fato passado, e tratá-lo no presente de forma
reflexiva. Para Benjamin (1987), o historiador tem compromisso com o agora, que
toma o passado e a memória como ponto de partida para pensar no seu presente.
Por fim serão feitas algumas considerações finais, que tentarão mais do
que responder ou fechar questões que surgiram ao longo da pesquisa e da
dissertação, mas enunciar com maior clareza pontos de reflexão permeados no texto.
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Oziel é o nome do bairro e, Oziel Alves Pereira é o nome da escola que tem
sua trajetória narrada nessa dissertação. Nome bíblico, Oziel significa “fortaleza do
Senhor”, e em sua matriz hebraica, esse nome aparece em vários personagens do
antigo testamento. É também o nome de um jovem que foi um líder do MST, morto
em 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás, no estado brasileiro do Pará, em
um trecho conhecido como a curva do S, rodovia PA 150, num conflito com a Polícia
Militar do referido Estado.
Desde quando cheguei ao bairro Parque Oziel e a escola EMEF Oziel Alves
Pereira, não pude deixar passar despercebido a vontade de saber quem era essa
pessoa que se transformou em símbolo na ocupação urbana. Nas cidades, os nomes
de ruas, avenidas, escolas, praças, são indicados por motivos diversos. Pelo
reconhecimento ao trabalho prestado à sociedade, por simples nepotismo, por um
número sem fim de condições arbitrárias e, por vezes, parece que não obedece a
lógica nenhuma. Mas ali, naquela ocupação, o nome e o personagem histórico a que
se referia carregava uma carga simbólica forte e percebi mobilizar tantos sentimentos
contraditórios nas pessoas, que senti necessidade de saber mais sobre ele e o
imaginário que se criava em torno de sua existência e suas lutas.
Figura 1: Oziel Alves Pereira, que fica no corredor da área administrativa da escola.
Não se sabe quem é o autor de tal produção, não há nem mesmo uma
assinatura no desenho. Mas, a figura é de um jovem rapaz, de traços fortes, bem
demarcados, que lembra um bom desenho em um retrato falado. Seu boné virado
para o lado mostra o cuidado em deixar seu rosto bem visível, ao mesmo tempo em
que lhe confere um ar quase infantil, despojado.
Sua imagem, em um quadro simples, não possui uma legenda, mas sim
uma frase do educador Paulo Freire, mostrando a importância daquela representação
para adornar uma escola. Amplificando a curiosidade, a imagem e os dizeres me
levavam a perguntar como um nome vinculado a um fato ocorrido tão distante ganhava
status naquela região da cidade de Campinas?
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Entre tantas buscas foi encontrada uma poesia referindo-se a Oziel Alves
Pereira como Zumbi dos Palmares, o autor é Azuir Ferreira Tavares Filho professor e
morador de Campinas. Segue abaixo a poesia de 2009.
4
Informação retirada do site MST- www.mst.org.br
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O ZUMBI DO PARÁ
17-04-1996
Heroico e ameaçador.
É a vida salvadora,
És Justiça, és Dignidade.
É Hora de organizar.
É hora de Transformação.
Ainda na página do MST foi encontrada uma escola que fica em Eldorado
dos Carajás- PA, homônima à escola que pesquiso. É uma escola municipal, que
também tem um site, mandei uma carta, sem resposta. Prosseguiram-se então
inúmeras tentativas de telefonemas, os quais foram todos infrutíferos. O próximo
passo foi encaminhar alguns e-mails, mas estes voltaram para a caixa de entrada de
meu correio eletrônico dizendo que seria impossível encaminhá-los. Depois dessas
tentativas frustradas, houve uma tentativa de aproximação com a Secretaria de
Educação do Pará, mas também não consegui contato, nem por telefone, nem por
correio eletrônico.
5
Curionópolis, Pará, é uma cidade a 753 Km de Belém, na região de Parauapebas. Seu nome, dado em 1981, homenageia a
Sebastião Rodrigues de Moura, o “Sebastião Curió”, um militar do exército, hoje reformado na condição de coronel, que
destacou-se pela perseguição e massacre de militantes da Guerrilha do Araguaia na década de 60 e 70. É município limítrofe
ao de eldorado de Carajás e, como se sabe, histórica região de conflito na luta pela terra e reforma agrária.
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Nunca tinha ido a um velório tão cheio e triste, apesar de ninguém ali
conhecer direito o Irmão. Esse fato, aliás, havia se transformado num dos
problemas do velório. Era preciso escrever alguma coisa na cruz branca de
madeira que ficaria à cabeceira da sepultura dele, mas escrever o quê, se
ninguém sabia o sobrenome ou a data de nascimento do Irmão.
(FIGUEIREDO, 2001,163)
O falecido e seu velório causaram comoção, por tudo o que aquele corpo
ali representava: a miséria, a falta de oportunidades de trabalho e estudo, descaso do
Estado com seus cidadãos, a negação do sujeito histórico, sem nome nem
sobrenome, sem certidão de nascimento.
O que se seguiu foi à chegada de 150 militares, que cercaram Irmão e seus
companheiros. Os sem-terra não arredaram o pé e o massacre teve início. Foram
algumas poucas horas descritas por várias testemunhas como sendo de tremenda
barbárie, em que podia se ouvir claramente dos policias, ‘acabem com essa raça’.
Figueiredo (2001) diz que com exceção de Irmão, todos os outros dezoito
companheiros assassinados tinham seus nomes e sobrenomes conhecidos na região.
Eram eles:
Perguntei a ele se estivera com Oziel, se o vira mesmo que morto. Ele disse
que nunca esteve com Oziel, que tudo mais que sabia sobre ele vinha de pessoas que
conheceram a vítima. Acrescentou que os trabalhadores estavam num estado de
extrema pobreza, que muitos não possuíam documentos e dificilmente encontraria
uma fotografia dele. O jornalista mandou algumas reportagens que fiz depois do
massacre, nas quais ele tratava sobre o julgamento dos policiais, sobre a importância
das testemunhas nos depoimentos para a acusação dos executores e possíveis
mandantes. Dentro dessa perspectiva ele conversou com uma testemunha que dizia
ter visto Oziel ser espancado e morto a tiros posteriormente.
mas de querer tentar “mais que do que revelar, quer recordar- soprar as brasas da
memória para impedir que se tornem cinzas mortas”. (NEPOMUCENO, 2007, p 19).
Ele também escreve que alguns dirigentes do MST admitiram que não
tiveram a real dimensão da fúria que suas ações estariam submetidas posteriormente.
Movimento dos Sem Terra a chance de conseguirem seu pedaço de chão, seu
sustento e de suas famílias.
Nessa atmosfera em que a lei mais eficaz é a de quem tem armas, é mais
fácil entender que haja pessoas vagando pelo interior do Brasil - ativistas,
líderes de movimentos de reivindicação- transformados em mortos
ambulantes. Seus nomes estão em listas de condenados conhecidos por
todos (NEPOMUCENO, 2007, p.37).
Não foi diferente com Oziel Alves Pereira. Seu nome estava na lista dos
que precisavam ser mortos, liquidado. No dia do confronto, segundo esta fonte, Oziel
estava encima de um carro de som, pedindo que ninguém arredasse o pé dali. No
discurso inflamado proferiu ofensas aos policiais militares. Lançava um grito que dizia
“M –S –T” e os companheiros respondiam “a luta é para valer”.
Maria Gorete Souza, no qual havia uma fotografia dele com o título: “À indignação do
menino irreverente” de 2010. O artigo estava na página eletrônica do MST. A autora
é Coordenadora Pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes e doutoranda
pela Universidad Nacional de Córdoba.
No referido artigo sobre Oziel, Souza (2010) escreve sobre o privilégio que
foi ter convivido com ele. Ela escreveu: “Com o vigor da sua juventude e o ânimo dos
seus ideais, era ele quem gritava, alto e bom som: ‘lutamos porque somos militantes
desta vida!’”
Bosi (2003) acredita que enraizamento deve ser visto como direito
fundamental de todo ser humano, e que se isso lhe é negado há consequências
graves, como por exemplo, uma condição desagregadora da memória.
A grande questão que permeou a breve vida de Oziel era: porque uns
poucos têm muito e outros tantos com nada, ou quase nada? Ele queria mais que
entender, queria a superação desse estado de coisas. Queria pertencer a um lugar,
enraizar-se.
Souza (2010) termina o artigo respondendo a uma pergunta sobre quem foi
Oziel e sobre o legado de sua curta existência.
Que legado nos deixa sua história de vida? Certamente, e em primeiro lugar,
o seu amor pela vida, o seu respeito pela família, o seu carinho pelas
crianças, a sua ternura de menino corajoso e irreverente, a sua solidariedade,
a sua intransigência na luta contra as injustiças, quaisquer que fossem. E
acima de tudo, o seu desejo de uma vida feliz e justa para todos nós.
(SOUSA, 2010).
Outra fonte a qual recorri para ter mais elementos que compusessem a
trajetória de Oziel foi o depoimento do ex-líder da ocupação do bairro Parque Oziel,
José da Mata, concedido aos alunos do 5º ano da EMEF Oziel Alves Pereira, que
posteriormente transformou-se no documentário “Histórias fantásticas que devemos
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O bairro de vocês tem o nome de uma pessoa que lutava por reforma agrária
no Pará. Então a gente colocou nos bairros o nome de pessoas que lutaram,
em algum momento da vida participaram de lutas, e a maioria deles, boa parte
morreram lutando (JOSÉ da MATA, 2011).
Vale ressaltar aqui que esse depoimento foi exclusivo para os alunos que
estavam realizando o projeto e foi proposto, portanto, como uma atividade
pedagógica. Posteriormente o vídeo foi exibido para os professores da escola numa
reunião de final do ano letivo, pois cada professor foi convidado a mostrar uma parte
do trabalho realizado naquele ano letivo. Considerando a significância das atividades
para a comunidade, decidi por escolher esse vídeo como parte do trabalho realizado.
A reação dos colegas não foi de grande receptividade, mas ainda assim, alguns
propuseram ampliar o projeto e a dinâmica dele para a escola inteira. Mas o registro
mais significativo é o incômodo que a luta pelas residências, em processo de
ocupação urbana, causa na comunidade docente.
Figura 4: Sala de informática da Emef Oziel. José da Mata está à direita na fotografia, com as pernas
cruzadas. Fonte: ZINCLAR, 2011.
Pensando em como olhamos para o que acontece com o outro e como isso
nos afeta, trago Bosi (2003) que nos aponta: “Quando um acontecimento político mexe
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Oziel pode aparecer como herói, como mártir, como ícone ou poderemos
observar uma insignificância de sua persona frente àquela escola. Os documentos
encontrados sobre ele são poucos e quase todos se referem à tragédia e ao massacre.
Sua historicidade está intimamente vinculada à sua morte, e percebemos que o
próprio MST passou a atribuir a ele um sentido de liderança que não conseguiremos
demonstrar na dissertação. Todavia, é importante refletirmos sobre sua construção
como representante da “vida Severina” como aparece na poesia do início deste
capitulo.
Por certo podemos dizer que a morte do jovem líder do movimento social e
popular do MST, e consequentemente seu nome e sua imagem, são assim
apropriadas de certa forma pelo movimento a fim de começar uma representatividade
e legitimidade que corroboram para formação de sua ideologia. Oziel enquanto vivo é
liderança, mas morto se torna mártir e ganha contornos de uma espécie de mito, já
que as condições de sua morte servem para legitimar a luta pela terra, tanto é assim
que seu nome está em nomes de bairros, escolas e de ruas de assentamentos ou
ocupações em várias partes do país.
A autora traz em seu artigo autores que tratam do tema origem dos mitos
nas sociedades arcaicas e autores que falam sobre a criação dos mitos na
contemporaneidade, e usa esses conceitos para olhar para a criação de mitos
políticos. O certo é que o mito nas sociedades arcaicas (Eliade apud Bezerra, 2009)
era criado como fonte de explicação frente aos fenômenos humanos. Pensando sobre
este prisma, a origem de uma possível mitologização do sujeito Oziel contribui
52
E ainda:
Isto posto podemos pensar até que ponto Oziel ainda é representativo para
os moradores do bairro e para os estudantes, por outro lado essa perspectiva nos dá
pistas para entender melhor outros sujeitos que não se sentem representados por ele,
logo dão a ele o lugar da insignificância.
É bem verdade que não é de hoje que bairros populares ficam entremeados
entre os bairros de classe média e alta, porém se as áreas são consideradas nobres
ou de alto valor imobiliário o poder do Estado garante que estas áreas sejam revertidas
à especulação imobiliária. Ghilardi (2012).
Logo, todo cidadão tem direito à propriedade, desde que esta esteja
cumprindo sua função social. Levando-se em consideração que a ocupação da área
que hoje é o bairro Parque Oziel teve início numa grande área desocupada e que,
como aponta Ghilardi (2012), esperava-se que a especulação imobiliária vislumbrasse
maior rentabilidade e, ao mesmo tempo, ganhasse privilégios da máquina pública,
abrindo ruas, tivesse contornos urbanos que chamasse a atenção de possíveis
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compradores para os lotes, temos aí uma configuração favorável para o grupo que
realizava o movimento em questão. Estes reivindicavam o direito à moradia, numa
terra que supostamente não cumpria sua função social, já que estava vazia,
configurando assim o que é chamado de ocupação de terra, não invasão.
Martins (1997) ainda fala que exclusão pode ser percebida apenas como a
privação na qual cada um ou todos podem ter num dado momento, como:
lutaram e ocuparam uma área que não cumpria uma função social e ao mesmo tempo
estava a serviço da grande especulação imobiliária na cidade, e mais, essas pessoas
como aponta Martins (1997) deixaram de esperar, “tornaram-se com razão,
impacientes”.
Figura 6: área da ocupação na região sul de Campinas, entre a rodovia Santos Dumont (a esquerda), e Anhanguera
6
Gentil Ribeiro, ou Paraíba, foi a primeira liderança reconhecida no Parque Oziel, arregimentando 2 ou 3 mil
pessoas para ocupar a área. Conta-se que ele foi um dos que defendeu o nome de Oziel, devido ao Massacre
de Eldorado de Carajás que havia recém ocorrido. Foi assassinado em 1998.
62
A partir desse apontamento outros decretos e leis que vão de 1999 a 2011
foram encontrados na Biblioteca Jurídica de Campinas e tratam especificamente
sobre a desapropriação de áreas de propriedade privada a fim de regularizar essas
mesmas áreas por questão fundiária, isto quer dizer, o poder público entendeu que
era preciso regularizar a questão da ocupação e isso foi sendo realizado durante o
período mencionado acima.
busca pela dignidade viabilizou manifestações frente à realidade vivida por aquele
grupo desassistido e carente. Passeatas e fechamento de rodovias passaram a ser
as ferramentas utilizadas, objetivando reivindicar as melhorias necessárias para
aquele lugar. As reivindicações eram muitas: abastecimento de água, coleta de lixo,
asfalto, posto de saúde, rede de esgoto, energia elétrica, passarela e claro uma
escola.
Figura 8: Vista parcial do bairro Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2011.
Figura 9: Vista parcial do bairro Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2011.
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Figura 10: Vista dos fundos da EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: elaborada pela autora, 2011.
Figura 11: Vista parcial do bairro Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2009.
66
Figura 12: Vista parcial do Centro de Saúde do Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2009.
Figura 13: Moradora do Jardim Monte Cristo. Fonte: elaborada pela autora, 2009.
67
Figura 14: Vista parcial da Praça do Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2009.
Figura 15: Vista parcial do Córrego Taubaté. Fonte: elaborada pela autora, 2009.
Parque Oziel, Monte Cristo e Vila Taubaté, tem iluminação pública, coleta de lixo,
escola, postos de saúde, casas de alvenaria e comércios em relativa expansão.
É evidente que depois que o movimento social atinge seus objetivos ele
deixa de ser movimento e tende a tornar-se uma estrutura. Como aponta Martins
(1997):
(José Saramago)
A escola foi uma das muitas reivindicações dos moradores, mas foi também
uma peça estratégica para a manutenção e o efetivo estabelecimento do bairro, como
nos mostra Menegaço et al. (2005):
Figura 16: Fachada principal da EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: Oliveira, 2011.
Figura 17: Vista da entrada lateral pela Rua Fauze Selhe, s/nº. Fonte: Fonte elaborada pela autora, 2013.
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Figura 18: Vista do corredor lateral. Fonte: elaborada pela autora. Novembro/2013.
Figura 19: Vista parcial do refeitório da EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: elaborada pela autora, 2011.
74
Figura 20: Vista parcial da quadra poliesportiva da EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: elaborada pela autora, 2011.
Penso que é pertinente estabelecer uma relação com “as arquiteturas” que
a unidade teve durante sua trajetória histórica, pois ela foi ganhando visibilidade e
“estrutura” conforme a ocupação do bairro também os ganhava. O espaço físico para
ser humanizado requer estabelecimento de relação, de proteção aos de que dele
fazem uso, requer o sentimento de pertencimento a ele. Tanto as casas quanto a
escola eram locais que estavam sendo construídos pela comunidade, e funcionavam
como lugar de pertencimento no mundo. Para nos ajudar a compreender essa
discussão sobre a importância do espaço escolar compreendido como pertencimento,
recorremos a Antonio Viñao-Frago (1995), que nos esclarece:
Fica claro que a escola ocupa uma posição estratégica nessa ocupação, a
luta que empreenderam pela viabilização e construção do prédio fizeram com que ela
fosse mais que só escola, assumindo também o papel de um marco político que
legitimasse a existência do bairro. A escola era o lugar de pertencimento, de busca de
realização de um sonho para a maioria dos moradores, a possibilidade de um futuro
diferente para a nova geração com maior nível de escolarização. Assim, mais um elo
que contribuiria para amarrar o direito de estar naquele lugar, pois se o poder público
vai instituindo equipamentos públicos ao invés de ordens de despejo, isso significa
que um direito está sendo consolidado.
2004- passeata até São Paulo com 10 mil moradores, para reivindicar uma
escola para o bairro.
Figura 21: Mapa parcial da região do Parque Oziel e Jardim das Bandeiras. Fonte:
http://www.Google.com.br/mapas/place/escola, 2015.
Não foi possível responder qual critério usado pela Secretaria de Educação
de Campinas para a escolha da referida escola servir de apoio e coadministrar, a
escola do Parque Oziel. O mapa acima mostra atualmente qual a distância entre as
duas escolas, sendo possível realizar o percurso de diferentes maneiras num tempo
relativamente curto.
“Contêineres Parque Oziel”, não tinha CNPJ, mas sim usava o número da EMEF
General Humberto de Souza Melo. A vinculação entre as escolas através de um único
CNPJ só foi desfeita depois de maio de 2005, conforme mostra o anexo1.
Figura
22: Balancete mensal dos Contêineres Parque Oziel. Fonte: elaborada pela autora, 2016.
Figura
23: Balancete mensal Humberto Souza Melo. Fotografia tirada pela autora, 2016.
parecia possuir classes adjuntas, mas ocorre que essa condição não era de interesse
da comunidade do bairro. Em outro Livro Ponto de Docentes, datado de 2001
encontrei outro carimbo, ainda com o mesmo nome da referida escola, com o detalhe
“Contêineres do Parque Oziel”, que confirma a vinculação das classes àquela outra
instituição. Temos, portanto, a situação dos professores como substitutos de uma
escola, em classes anexas, mas estas localizavam-se em outro bairro. A leitura deste
livro permitiu perceber que professores aparecem citados em planos de ação da
EMEF Humberto Souza Melo, por seus planos de ensino, a fim de justificar a compra
de material por uma única unidade escolar, conforme demonstra o documento Anexo
2 nesta dissertação. Assim, os Contêineres Parque Oziel não configuravam uma
unidade escolar ainda, embora fossem viabilizadores precários para uma prática
educativa para crianças do bairro.
Figura 24: Alunos ao lado dos contêineres. Fonte: acervo da escola, 1998.
Figura 25: Alunos esperando para fazer uma apresentação teatral nos contêineres do Parque Oziel. Fonte: acervo
da escola, 1998.
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Figura: 26 Vista parcial dos contêineres, alunos fazendo uma refeição. Fonte: acervo da escola, 1998.
Figura 27: Vista parcial dos contêineres. Alunos. Fonte: acervo da escola,1999.
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Figura 28: Sala de aula dos contêineres. Fonte: acervo da escola, 1999.
Figura 29: Apresentação teatral nos contêineres. Fonte: acervo da escola, 2000.
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Em 2001, com a posse do ex-prefeito Antonio da Costa Santos, foi feita uma
doação de um terreno que estava destinado a abrigar uma praça dentro da
ocupação, para que o Estado construísse a escola de ensino fundamental.
Em fevereiro de 2002 a secretária de Educação Corinta Geraldi vendo que o
Estado não cumprira sua promessa de entregar já para o início do ano letivo
uma escola pré-moldada, se recusou a deixar alunos e professores voltarem
para os contêineres, considerados ambientes insalubres. Depois de muitas
negociações a Educação conseguiu que o prédio de propriedade do ex-
governador Orestes Quércia, próximo à ocupação fosse adaptado para
funcionar como escola. Os alunos iniciaram o ano letivo com um estudo do
meio e no dia 11 de março, foram para o prédio cedido e lá permaneceram
durante todo o primeiro semestre (Projeto Político Pedagógico. 2005).
Aos cinco dias do mês de junho de dois mil e dois realizou-se junto à
comunidade, reunião convocada pela Associação de Moradores do Pq. Oziel
e Gleba B. Senhor Xavier iniciou a reunião fazendo alguns esclarecimentos
quanto aos motivos da convocação: mudança da escola para o prédio
provisório, diz ser inconveniente os alunos continuarem no endereço atual
pela distância, pelas rodovias próximas, pela necessidade de transporte de
circulares para chegar até a escola. (Ata Associação de Moradores do Parque
Oziel. 2002).
(...). No início do ano letivo deixamos de ter 10 dias de aula devido a mudança
de prédio, e hoje, devido a esta reunião deixamos mais um dia de aula. (Ata
Associação de Moradores do Parque Oziel. 2002).
E na finalização da reunião:
dos moradores e levariam esses a distanciar se cada vez mais da pobreza. Ao mesmo
tempo em que representava para o poder público um lugar de disputa, poderes estes
que marcavam presença perante a comunidade, tanto municipalidade quanto o poder
estadual podiam ser vistos colaborando para a efetivação da escola no bairro.
Aqui vale mais uma vez usar fontes imagéticas para demostrar que a
arquitetura da escola se amplia, mesmo sendo pré-moldada, as salas de aulas são
mais amplas, há um pátio coberto que serve também como refeitório, e em uma das
imagens é possível ver a escola de alvenaria sendo construída ao fundo, como aponta
Frago; Escolano (1998, p.75) “O espaço não é neutro. Sempre educa”.
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Figura 30: Sala de aula na estrutura pré-moldada. Fonte: acervo da escola, 2003.
Figura 31: Vista parcial do pátio na estrutura pré-moldada. Fonte: acervo da escola, 2003.
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Figura
34: Vista parcial das salas de aula na estrutura pré-moldada. Fonte: acervo da escola, 2003
Figura 35: Vista parcial da estrutura pré-moldada e ao fundo prédio de alvenaria da atual Emef OZIEL Alves Pereira.
Fonte: acervo da escola, 2004.
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Logo podemos observar que durante o ano de 2003 foram realizados outros
encaminhamentos para a regularização da escola do Parque Oziel, entre eles destaco
o Ofício PMC nº 999/03 de 12 de novembro, a Secretária de Educação de Campinas
Corinta Grisolia Geraldi solicitando a autorização para o funcionamento da EMEF do
Parque Oziel, com data retroativa a 01 de janeiro de 2003, considerando a deliberação
do Conselho Estadual de Educação nº 01/99, no qual encaminha documentos, informa
o endereço e sinaliza que a escola receberá o nome “EMEF Oziel Alves Pereira”, que
foi escolhido pela comunidade, como apresentado no anexo 5.
O termo ocupar aparece citado em vários lugares, ora nas atas das
reuniões do Conselho de Escola, ora em correspondências entre os representantes
dos poderes públicos.
93
NAED Sul, Renata Ferramola, Diretora da escola, Cristina, Vice-Diretora Ana Marta,
Coordenadora Pedagógica Aide Silva, o corpo docente e discente e a comunidade.
Ao final dessa reunião foram contados por volta de 170 (cento e setenta) assinaturas.
O teor da ata da reunião demonstrou várias vezes a disputa pelo espaço da escola.
Destaque para a fala da Secretária:
Fala sobre a discussão em sala de aula sobre o ensino médio, fala sobre a
importância do ensino ser municipal, devido ao projeto pedagógico. A escola
do Parque Oziel, escola nova deve ser apenas o Ensino Fundamental e
aonde estamos passa a ser o Ensino Médio até que o Estado construa uma
nova escola para o ensino médio, portanto prédio novo só fundamental, este
prédio onde estamos seria o Ensino Médio. (Ata do conselho de escola, 2004,
p.22-23).
Proposta do Jairson dos Anjos (Canário), nós vamos inaugurar a escola com
todos que ajudaram a construir a escola, essa escola, o supletivo (E.M.) não
daria para começar, pois na metade do ano os alunos do nível IV deverão
fazer o Ensino Médio. A demanda de salas de aula entre Estado e município,
se vai sobrar ou faltar, querendo conciliar todo o corpo que pertence ao
Estado e ao município. Tirar uma comissão para que se vote em uma
proposta que atenda à comunidade, visando posteriormente a construção de
uma nova escola. Fala do professor Schiavo: que as duas oitavas continuarão
o Ensino Médio em agosto, não se quer dividir e sim acrescentar, por hora o
Estado ocupara quatro salas, dois primeiros anos, um segundo e um terceiro
colegial, não há divisão sim soma (Ata do conselho de escola, 2004, p.23-
24).
Prof. Jessé diz que toda a escola deverá ser passada (toda) para o município
e que haja a proposta de uma nova escola a ser construída para o Ensino
Médio, pois a decisão é do governador e não do Dirigente Regional (Ata do
conselho de escola, 2004, p 24).
Jessé. Então Schiavo diz que o Estado só não construiu uma escola antes no bairro,
porque não tinha um terreno ficando dependente da doação do município.
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E segue a ata:
Dep. Célia expôs que tem outra agenda para breve e que gostaria de terminar
a reunião antes da necessidade de sair. Passou também a posição do Sr.
Chalitta: “Não será alterada a atual situação da escola, ou seja, todos os que
serão, digo, são atendidos, continuarão, mas que há a necessidade da
implantação do ensino médio, pelo menos quatro salas” pediu para que
entrem em um acordo quanto a isto (Ata reunião na Diretoria Regional Oeste
da Educação Estadual, 2004, p.27-28).
E ainda:
Sr.ª Carmem falou que a escola funciona há sete anos sempre buscando a
melhora para o aluno e que no início teria sido acordado que a prefeitura
cederia o terreno, o Estado construiria e a escola voltaria ao Município, falou
também que há a autorização para o funcionamento da escola como
municipal. Dep. Célia disse que não havia este acordo de transferência da
escola para o município. Prof. Schiavo expôs que a autorização de
funcionamento não significa transferência de propriedade. Disse que existe
um termo de intenção de doação do terreno ao Estado. Jessé neste momento
recordou sobre a reunião passada e expôs a proposta que então foi votada
pela comunidade. Falou sobre deixar a escola toda para a municipalidade e
deixar os módulos para provisoriamente ser ocupado pelo ensino médio.
Falou ainda da discussão feita pela manhã na escola para que ocupemos o
prédio fisicamente, desde que com uma autorização, e que se compromete a
levar a atual proposta para a comunidade votar sobre a mesma. Dep. Célia
expôs que a discussão não é político partidária, mas sim de necessidade,
pois é sobre educação. (...) Eduardo assessor do Dep. Tiãozinho falou sobre
a luta da comunidade e a importância desta reunião, que a existência de
serviços públicos dentro da mesma, ajuda na luta pela regularização da área,
e que a inauguração da escola será importante, mas que poderia ter sido
acertado sem precisar chegar ao impasse em que está, nas discussões
“calorosas” (Ata reunião na Diretoria Regional Oeste da Educação Estadual,
2004, p.28-29)
Mais uma vez Martins (1997) nos ajuda a refletir sobre o que ele chama de
a ‘presença insidiosa’ de pessoas que querem estar nos lugares em que podem ser
notados, mesmo que em suas agendas tenha outros compromissos, as pessoas
querem estar presentes, não para resolverem situações, mas para serem notadas,
para marcarem sua presença.
Dessa forma, a ata da referida reunião segue mostrando que o Estado não
abria mão de ter quatro salas no prédio novo, para que funcionasse o Ensino Médio,
pois como alegado, se fossem menos de quatro salas, segundo Ademir Schiavo, a lei
não permitiria que houvesse uma direção. O assessor continuou dizendo que o mais
importante era a ocupação do prédio novo. Já o professor Jessé seguiu defendendo
que se levasse a ideia para a comunidade, a fim de fazer uma nova votação da
proposta. Assim, com a aderência da maioria, define-se pelo agendamento de uma
nova reunião com a presença da comissão e da Secretária de Educação, professora
Corinta Grisolia Geraldi.
E continua:
Figura 36: Sala de aula/contêiner. EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: Abigail Araújo dos Reis Bueno, 2003; e
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Figura 37: Sala de aula EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: elaborada pela autora, 2013.
Imagem 38 Imagem 39
Figura 38, Interior da sala de aula/ contêiner. EMEF Oziel Alves Pereira. Fonte: Abigail Araújo dos Reis Bueno; e
2003.
Figura 39: Interior da sala de aula EMEF Oziel Alves Pereira, Fonte: elabora pela autora, 2013.
Figura 40: Contêineres e o prédio atual EMEF Oziel Alves Pereira, ao fundo. Fonte: Abigail Araújo dos Reis Bueno,
2003
A escola tal qual o bairro tem sua particularidade e, sua história não pode
ser reconstruída de forma linear, dependendo de uma cronologia de avanços para sua
implantação e implementação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
desse movimento, e podemos dizer que se não houve grandes mudanças nas
relações estabelecidas politicamente para resolver os impasses, a trajetória pela
construção, pela ocupação da escola do Parque Oziel pode representar o possível
que poderia ser feito para aquela ocasião.
Mas Lefebvre ensina que nem tudo é capturável pelo poder. Por isso para
ele, a concepção da revolução social não se confunde com golpe de Estado,
mas é a revolução no modo de viver, no modo de pensar, naquilo que pode
nos tornar mais humanos, nos humanizar, no sentido de ser libertos de
carências e misérias. (...). É no residual que está a fonte da liberdade, do
socialismo, de uma outra vida, de uma vida nova. (...). Entendo que a utopia
hoje se põe nesse plano. A utopia é o possível (MARTINS, 1997, p.126).
FONTES E REFERÊNCIAS
FILHO, Azuir Ferreira Tavares, Zumbi do Pará, Campinas, 2009. Disponível em:
http://www.overmundo.com.br/banco/oziel-alves-pereira-o-zumbi-do-para
1.3 PERIÓDICOS
FIGUEIREDO, Lucas. “Líder foi morto á queima roupa”. Folha de São Paulo. São
MACHADO, Irineu e ZANINI, Fábio. “Líder morto aos 17 estudou e foi ator:
Trajetórias dos envolvidos são parecidas”. Folha de São Paulo, São Paulo,
22/04/1996. Disponível em
pedirá proteção para testemunha”. Folha de São PAULO, São Paulo, 16/11/1998.
08/09/2014.
www.mtst.org
www.mst.org
www.campinas.sp.gov.br
111
1.5 BIBLIOGRAFIA
ARGAN, G.C. História da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes,
1988.
Acesso em 08/07/2015.
__________, Lembrar, escrever, esquecer. São Paulo: Ed.34, 2006. Cap.4; cap.7,
p 49-58; 97-106.
___________. MST: 25 anos de luta por reforma agrária. Veredas do Direito; Belo
Horizonte. V.6, n.11p. 11-29. Junho 2009.
NETO, João Cabral de Melo. “Obra Completa". Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar
S.A. 1994, p. 171.
ANEXOS
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