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7 de Maio de 2012
Resumo
Uma das maiores diferenças entre espaços vetoriais (A-módulos, com A corpo) e um A-
módulo em geral, é que nem sempre é possı́vel obter uma base para o segundo.
Na primeira seção, introduziremos o conceito de módulo livre (que são justamente os
módulos que possuem base), apresentaremos algumas propriedades elementares que se obtêm
da definição e exibiremos alguns exemplos. Na segunda seção, generalizaremos a definição de
dimensão para A-módulos livres. Na terceira seção, discutiremos duas questões cuja resposta
se verifica verdadeira para espaços vetoriais, mas não valem para A-módulos em geral: todo
conjunto gerador contém uma base e todo conjunto l.i. pode ser estendido a uma base. Na
quarta seção, finalizaremos o trabalho estudando A-módulos, para A um domı́nio de ideais
principais, e neste contexto explicitamos condições suficientes para garantir a existência de
uma base.
Para nós, A anel representa um anel comutativo com unidade 6= {0} (salvo menção contrária).
1
Observação 1.2. Do mesmo jeito que para espaços vetoriais pode provar-se que a condição (ii)
é equivalente a:
(ii’) Dados λ1 , ..., λn ∈ A e x1 , ..., xn ∈ M , se λ1 x1 + ...λn xn = 0, então λ1 = ... = λn = 0.
Definição 1.3. Um A-módulo M é dito A-módulo livre se ele possui uma base. Por convenção o
grupo {0} é um A-módulo livre para qualquer anel A, com base B = ∅.
Exemplo 1.4.
(1) M = A × ... × A, com a base canônica B = {(1, 0, ..., 0), (0, 1, 0, ..., 0), ..., (0, ..., 0, 1)};
(2) M = A [X] é um A-módulo livre com base B = {1, X, X 2 , ...};
(3) Os inteiros de Gauss M = Z + iZ com a base B = {1, i} é um Z-módulo livre. De fato, clara-
mente B gera M , e como B é linearmente independente sobre R, será linearmente independente
também sobre Z.
Exemplo 1.5. Seja K um corpo (em particular um anel). Um exemplo tı́pico de K-módulo livre
são os espaços vetoriais sobre o corpo K.
De fato, se V é um K-espaço vetorial em particular V é um K-módulo. Mostremos que V
possui uma base. Definamos
Σ = {B ⊂ V : B é linearmente independente}
e considere em Σ a ordem parcial dada pela inclusão de conjuntos. Segue que Σ 6= ∅ pois como K
é um corpo, então para cada v ∈ V com v 6= 0 temos que {v} ∈ Σ. Seja Ω ⊂ Σ uma cadeia e tome
T = ∪B∈Ω B. Mostremos que T ∈ Σ. De fato, dados v1 , . . . , vk ∈ T , então existem B1 , . . . , Bk ∈ Ω
tais que vj ∈ Bj , a menos de reordenamento e pelo fato de Ω ser uma cadeia podemos supor que
B1 ⊂ B2 ⊂ · · · ⊂ Bk , logo {v1 , . . . , vk } ⊂ Bk mas como Bk ∈ Σ segue que quando tivermos
r1 v1 + · · · + rk vk = 0,
com ri ∈ K, necessariamente deve-se ter que r1 = . . . = rk = 0 assim T ∈ Σ. Pelo lema de Zorn
temos que existe um elemento maximal B ∈ Σ. Resta mostrar que B gera V. Seja w ∈ V tal que
w∈ / B (pois caso contrario não há nada a mostrar), então B ∪ {w} ∈
/ Σ pela maximalidade de B.
Segue que 0 ∈ V pode ser expressado como combinação linear não trivial de elementos em B ∪ {w}
a qual debe ser necessariamente da forma
rw + r1 v1 + · · · + rk vk = 0,
onde r, rj ∈ K e vj ∈ B. Segue que a única opção é que r 6= 0 (caso contrário, como {v1 , . . . , vk }
é l.i. terı́amos que também r1 = r2 = . . . = rk = 0 e a combinação linear seria trivial) e
multiplicando por r−1 temos que
w = −r−1 r1 v1 − · · · − r−1 rk vk ,
como se queria mostrar.
Antes de ver uma outra caracterização para módulos livres, vamos relembrar o conceito de
soma direta de A-módulos.
2
Definição 1.6. Seja {Mα }α∈Γ uma famı́lia arbitrária de A-módulos. Definimos sua soma direta
como o conjunto:
M
Mα := {funções m : Γ → ∪α∈Γ Mα ; m(α) ∈ Mα , ∀α ∈ Γ, e m(α) = 0 para quase todo α ∈ Γ},
α∈Γ
L
e, se m ∈ α∈Γ Mα escreveremos m(α) = mα .
3
(c) (ab)m1 = a(bm1 ) para todo a ∈ A.
((ab)m1 )(α) = (ab)m1 (α) = a(bm1 (α)) = a(bm1 )(α) = (a(bm1 ))(α).
(d) 1m1 = m1
(1m1 )(α) = 1m1 (α) = m1 (α).
Demonstração. (⇒) Se M é um módulo livre, considere X = {xα }α∈Γ uma baseP de M . Então,
dado um elemento m ∈ M , podemos escrevê-lo de forma única como m = α∈Γ aα xα , com
aα ∈ A, ∀α ∈ Γ, e aα = 0 para quase todo α ∈ Γ. Dessa forma, defina:
M X
φ:M → A, m = aα xα 7→ s : sα = aα , ∀α ∈ Γ.
α∈Γ α∈Γ
Assim:
1. φ é um homomorfismo de A-módulos.
P P
De fato, sejam m1 = α∈Γ aα xα , m2 = α∈Γ bα xα , onde aα , bα ∈ A para todo α ∈ Γ e
aα = 0, bα = 0 para quase todo α ∈ Γ. Assim,
P
• φ(m1 + m2 ) = φ( α∈Γ (aα + bα )xα ) = s, onde sα = aα + bα , ∀α ∈ Γ.
φ(m1 ) + φ(m2 ) = s1 + s2 , onde s1α = aα e s2α = bα . Logo, sα = s1α + s2α , e portanto
φ(m1 + m2 ) = φ(m1 ) + φ(m2 ).
P
• φ(am1 ) = φ( α∈Γ (aaα )xα ) = s, onde sα = aaα , ∀α ∈ Γ
aφ(m1 ) = as1 , onde s1α = aα , ∀α ∈ Γ. Logo, sα = as1α , e portanto φ(am1 ) = aφ(m1 ).
2. φ é bijetora.
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L
• Seja s ∈ α∈Γ A. Então s : Γ → ∪α∈Γ A é tal que s(α) = sα ∈ A para todo α e s(α) = 0
para quase todo α ∈ Γ.
P L
Assim, s(i) = α∈Γ sα eα (i), para i ∈ Γ. Ou seja, B gera α∈Γ A.
Agora, sabemos que isomorfismos preservam bases 2 . Assim o conjunto {φ−1 (eα ) : α ∈ Γ} é
uma base para M .
Exemplo 1.9. O Z-módulo Zn não é um Z-módulo livre (pois #Zn < #Z).
L
Observação 1.10. Consideremos o A-módulo livre S = α∈Γ A. Então, para cada α ∈ Γ temos
definido um epimorfismo πα : S → A dado por πα (x) = xα (chamado projeção α-ésima).
Observe que:
• πα é um homomorfismo de A-módulos.
De fato, sejam s1 , s2 ∈ S. Assim, s1 : Γ → ∪α∈Γ A e s2 : Γ → ∪α∈Γ A.
• πα é sobrejetor.
P 1 se i = α
De fato, seja a ∈ A e considere y = α∈Γ aeα , onde eα (i) = .
0 se i ∈ Γ\{α}
Assim, πα (y) = yα = a.
Portanto, essas funções são epimorfismos de A-módulos. Pela proposição anterior, podemos
estender esta ideia a A-módulos livres quaisquer. Se M é um módulo livre, escolhemos uma base
(ordenada) {xα }α∈Γ de M como A-módulo e podemos definir a projeção α-ésima via o isomorfismo
φ da proposição anterior:
φ πα
/ /A.
L
M α∈Γ A
2
De fato, seja f : M → N um isomorfismo e X = {xα ; α ∈ Γ} uma base de N . Dado m ∈ M , existe único
n ∈ N tal que m = f −1 (n). Como X é base de N, existem únicos λ1 , ..., λn ∈ A e x1 , ..., xn ∈ X tais que
m = f −1 (λ1 x1 + ... + λn xn ) = λ1 f −1 (x1 ) + ...λn f −1 (xn ). Assim, {f −1 (xα ); α ∈ Γ} é uma base para M .
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O homomorfismo πα ◦φ será representado também como πα (abuso de notação), sendo denomi-
nado projeção α-ésima (observe que depende da escolha da base ordenada). Nas demonstrações de
propriedades de módulos livres finitamente gerados (como A-módulo), as projeções têm um papel
muito importante, já que nos permitem fazer provas por indução (veja por exemplo a demonstração
do Lema 4.2).
Demonstração. Seja I um ideal maximal de A, cuja existência é garantida pelo Lema de Zorn, e
seja X uma base de M .
Mostremos primeiramente que {x + IM }x∈X é uma base do A/I-módulo M/IM e |X| =
{x + IM }
x∈X .
6
Seja y + IM ∈ M/IM , então, como y ∈ M temos:
y = λ1 x1 + ... + λn xn com λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ A e x1 , x2 , . . . , xn ∈ X
com i1 , ..., in ∈ I. E, novamente pela unicidade da escrita, teremos que {−1, 1} ⊆ I, gerando uma
contradição, pois tomamos
I ideal maximal de A.
Portanto, |X| = {x + IM }x∈X .
Por fim, sejam X e Y bases do A-módulo M , então {x + IM }x∈X e {y + IM }y∈Y são bases
do A/I-módulo M/IM e |X| = {x + IM }x∈X e |Y | = {y + IM }y∈Y .
Como A/I é um corpo, então M/IM é um espaço vetorial, onde se verifica {x + IM }x∈X =
{y + IM }y∈Y . E temos, portanto, |X| = |Y |.
O seguinte exemplo mostra que para anéis não comutativos, o conceito de dimensão para A-
módulos livres nem sempre está bem definido (ou seja, não é válido nesse contexto o Teorema 2.2)
Exemplo 2.4. Seja A anel e denotemos por A(N) = ⊕i∈N A e considere o anel B = EndA (A(N) )
que possui uma estrutura natural de B-módulo sendo o produto externo a composição de endo-
morfismos. B possui duas bases finitas com diferente cardinalidade.
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De fato, temos que o endomorfismo identidade constitui uma base de B por outro lado se
consideramos a base canônica {ei : i ∈ N} em A(N) e definimos u, v : A(N) → A(N) por meio de
u(e2i+1 ) = 0, u(e2i ) = ei
v(e2i+1 ) = ei , v(e2i ) = 0
então o conjunto {u, v} é também uma base de B como B-módulo, pois a ◦ u + b ◦ v = 0 implica
Nesse sentido, o conjunto {(0, 1)} é formado por um elemento não nulo de Z × Z2 , e não é
linearmente independente.
Definição 3.2. Seja M um A-módulo. Dizemos que M é livre de torção quando para todo m ∈ M
não nulo tivermos que o conjunto {m} é l.i.
Observação 3.3. Seja M um A-módulo. M é livre de torção se, e somente se, dados a ∈ A e
m ∈ M tais que am = 0, então a = 0 ou m = 0.
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3.1 Extensão de um conjunto l.i. a uma base
Um resultado clássico sobre espaços vetoriais é que todo conjunto linearmente independente pode
ser estendido a uma base.
No entanto, vale ressaltar que esse resultado não é válido em geral para A-módulos. Vejamos
o exemplo a seguir:
Exemplo 3.4. Consideremos os inteiros de Gauss Z + iZ como Z-módulo. Note inicialmente que
o conjunto 2 + 2i é linearmente independente o qual é consequência direita de ser C um corpo (se
a, z ∈ C com a 6= 0, az = 0 ⇒ z = a−1 az = a−1 · 0 = 0).
Vimos anteriormente que em um A-módulo livre, toda base tem a mesma cardinalidade. Ade-
mais, Z2 é um Z-módulo livre com base C = {1, i}. Nesse sentido, toda base deve ter dois
elementos.
Suponha que existe a + bi ∈ Z + iZ tal que o conjunto B = {2 + 2i, a + bi} forme uma base.
Nesse sentido, temos que os elementos de C podem ser escritos em função dos elementos de B.
Dessa forma, existem m, n, p, q ∈ Z tais que:
(
m(2 + 2i) + n(a + bi) = 1
.
p · (2 + 2i) + q · (a + bi) = i
1 = (3 + 3i) − (2 + 2i) − i.
No entanto, temos que X não pode ser reduzido a uma base. Vamos verificar todas as possi-
bilidades:
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• X1 = {2 + 2i, 3 + 3i} não é base, pois todos as combinações lineares desses elementos são da
forma z + zi;
• X2 = {2 + 2i, i} não é base, pois as combinações lineares desses elementos são da forma
2z + i(2z + y), ou seja, a parte real é par;
• X3 = {3 + 3i, i} não é base, pois as combinações lineares desses elementos são da forma
3z + i(3z + y), ou seja, a parte real é múltiplo de 3.
Portanto, segue que o conjunto α = {2 + 2i, 3 + 3i, i}, que é um gerador do espaço, não pode
ser reduzido a uma base de Z + iZ.
Exemplo 3.6. Consideremos o anel dos inteiros módulo 6, Z6 . Z6 é um Z6 -módulo livre com
base {1} (observe, no entanto, que Z6 como Z6 -módulo, não é livre de torção).
Exemplo 3.7. Considere Z como um Z-módulo livre com base {1}. Seja n > 0, um inteiro e
considere o Z-submódulo livre (n) (de fato, {n} é uma base para (n) ).
Observamos que Z/(n) = Zn não é livre como Z-módulo. De fato, todo conjunto {k} ⊂ Z/(n)
formado por um elemento é l.i. pois n.k = nk = 0 para todo k ∈ Z/(n).
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Vamos nos concentrar em um caso especial, onde A é um domı́nio de ideais principais (ou seja,
todo ideal de A está gerado por um só elemento). Portanto, nesta seção A será um domı́nio de
ideais principais.
Somente pedir que A seja um domı́nio de ideais principais não é suficiente como vimos no
exemplo 1.9. A seguinte proposição nos dá uma condição necessária.
Proposição 4.1. Se M é um A-módulo com torção então M não é livre como A-módulo.
Demonstração. Vamos supor por absurdo que M é livre, e seja B uma base para M . Como M
tem torção, então existe a ∈ A e m ∈ M tal que am = 0, mas a 6= 0Pe m 6= 0. Como m ∈ M e
B é base para M , então P existem m1 , m2 , . . . , mn ∈ M tais que m = ni=1 ai mi com ai ∈ A para
todo i = 1, . . . , n. Logo ni=1 aai mi = am = 0 implica aai = 0 ∀i = 1, . . . , n (pois B é base, e
em particular linearmente independente).PComo a 6= 0 e A é um domı́nio então aai = 0 ⇒ ai = 0
para 1 ≤ i ≤ n o qual implica que m = ni=1 ai mi = 0, gerando uma contradição. Por tanto M
não pode ser livre como A-módulo, como querı́amos demonstrar.
Agora é natural fazermos a pergunta se todo A-módulo sem torção vai ser livre (lembrar que
A é domı́nio de ideais principais). Vamos provar que a resposta é afirmativa no caso em que o
A-módulo for finitamente gerado.
Sejam então M um A-módulo livre com dim(M ) = n, B = {m1 , m2 , . . . , mn } uma A-base para
M e N um submódulo de M . Consideremos o morfismo projeção na primeira variável π1 : M → A
definido por π1 ( ni=1 ai mi ) = a1 .
P
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com dim(M 0 ) = n − 1, então pela hipótese indutiva o mesmo N 0 vai ter que ser livre de dimensão
menor ou igual que n − 1. Seja {e2 , e3 , . . . , em } uma base de N 0 , onde m ≤ n.
Vamos provar que o conjunto B = {n0 , e2 , e3 , . . . , em } será uma base para N (em particular
M vai ser livre de dimensão m ≤ n). Como N 0 ⊂ N e n0 ∈ N é claro que B ⊂ N . Vamos provar
agora que é gerador:
0
PmComo π1 (n0 ) = d ⇒ dm1 − n0 ∈ M = hm2 , .0 . . , mn i então α1 dm1 = α1 dm1 −0 (α1 n0 +
i=2 αi ei ) = α1 (dm1 − n0 ) − α2 e2 − . . . − αm em ∈ M pois dm1 − n0 , e2 , e3 , . . . , em ∈ M (lembrar
que N 0 ⊂ M 0 ). Mas α1 dm1 ∈ M 0 ⇒ π1 (α1 dm1 ) = α1 d = 0, como P A é domı́nio de integridade
e d 6= 0 temos que α1 = 0. Voltando a equação (1) temos que m i=2 αi ei = 0, implicando que
α2 = . . . = αm = 0, pois {e2 , . . . , em } são linearmente independentes. Logo, também o conjunto
B vai ser linearmente independente.
Finalmente vamos provar que a condição de ser M um A-módulo livre de torção finitamente
gerado (com A domı́nio de ideais principais) é suficiente para garantir a existência de uma base.
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denominar por N o A-submódulo de M gerado pelo conjunto S 0 , ou seja N = hv1 , . . . , vn i.
di yi + c1 v1 + . . . + cn vn = 0.
f : M → N, m 7→ dm
Pm
• Bem definida: Se m ∈ M , então m = P ai ∈ A para 1 ≤ i ≤ m), aplicamos f
i=1 ai yi (com P
de ambos lados e então f (m) = dm = m i=1 da y
i i = m
i=1 ai (dyi ) ∈ N , pois dyi ∈ N para
1 ≤ i ≤ m.
Exemplo 4.4. Se o A-módulo não for finitamente gerado temos, em geral, que o teorema anterior
não é válido. Considere Q como Z−módulo, então qualquer par de elementos pq , rs ∈ Q (com
p, q, r, s ∈ Z) são linearmente dependentes, pois se algum deles fosse 0 então é trivial, caso contrario
qr pq + (−sp) rs = 0 com qr e sp inteiros não nulos. Portanto si Q fosse um Z-módulo livre, qualquer
base de Q deveria ter um só elemento (não nulo). Seja { pq } dita base com mcd(p, q) = 1 e q > 0,
então existe um inteiro k tal que k pq = 2q1
que implica 2pk = 1 o qual é absurdo (pois 1 é impar).
Assim Q não pode ser um Z−módulo livre. Finalmente, observe que pelo fato de Q ser um domı́nio
integral temos que Q como Z−módulo é livre de torção.
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4.2 Construção de uma base para um submódulo de um módulo livre sobre
um domı́nio de ideais principais.
A partir de agora, vamos mostrar que, dado M um A-módulo livre finitamente gerado, e um
submódulo N , é possı́vel construir, sob certas condições, uma base para N a partir de uma base
de M .
1. f (N ) = hdi e f (l) = 1;
2. M = hli ⊕ ker(f );
3. N = hdli ⊕ (ker(f ) ∩ N ).
Sendo M livre, então existe um conjunto {mi }ni=1 ⊂ M que forma uma base para M , assim
n
M
M= hmi i.
i=1
n
P
Consideremos pi : M → A as projeções em A, ou seja, pi (m) = pi ( aj mj ) = δij aj = ai . Do
i=1
fato de N ser um A-submódulo não-nulo, segue que existe i0 ∈ In tal que pi0 (N ) 6= 0. Portanto,
a famı́lia J contém um ideal não-nulo.
A famı́lia J possui um elemento maximal. De fato, caso contrário existe uma cadeia
I1 ( I2 ( ... ( Ik ( ...
de elementos de J. Porém, tomemos I = ∪k∈N Ik . Como A é d.i.p., então I = (a), logo existe
k0 ∈ N tal que a ∈ Ik0 , o que implica que I ⊂ Ik0 e portanto Ik = Ik0 para todo k ≥ k0 , já que
Ik ⊂ I, chegando no absurdo desejado.
Assim, existe I0 = f0 (N ) ∈ J com f0 ∈ HomA (M, A) que é elemento maximal de J. Observe
que I0 é um ideal de A e portanto, existe d ∈ A tal que I0 =< d >. Como pi0 (N ) 6= ∅, pela
maximalidade de I0 segue que I0 = f0 (N ) 6= {0}, logo d 6= 0.
Agora, mostraremos que existe l 6= 0 tal que l ∈ M com f0 (l) = 1. Como d ∈ f0 (N ), existe
m ∈ N tal que f0 (m) = d.
Consideremos g ∈ HomA (M, A) arbitrária. Vamos mostrar que d divide g(m). Seja (d, g(m))
o ideal gerado por d e g(m). Sendo A d.i.p. temos d˜ = (d, g(m)), assim
d˜ = bd + cg(m), b, d ∈ A.
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Observe que de d˜ = bd + cg(m), temos que d˜ = (bf0 + cg)(m). Chamaremos de w = bf0 + cg,
é claro que w ∈ HomA (M, A). Como d˜ divide d, então f0 (N ) = hdi ⊂ hdi ˜ ⊂ w(N ). Pela
˜ Logo d divide d,
maximalidade de I0 , segue que hdi = hdi. ˜ consequentemente d divide g(m).
Como g ∈ HomA (M, A) é arbitrária, em particular, d divide pi (m), ∀i ∈ In . Logo, pi (m) = dbi
com bi ∈ A.
Dado m ∈ M ⊂ L, temos
Xn n
X n
X Xn
m=( aj mj ) = (pj (m))mj = (dbj )mj = d( bj mj )
i=1 i=1 i=1 i=1
n
P
Defina l = bj mj , logo m = dl. Por fim, d = f0 (m) = f (dl) = d(f0 (l)), implica que f0 (l) = 1.
i=1
Deste modo, encerramos a demonstração do primeiro item do lema.
Observemos agora que l ∈ M , logo hli ⊂ M . Ainda mais, de f0 ∈ HomA (M, A), é claro que
ker(f0 ) ⊂ M . Do item anterior, f0 (l) = 1, implica que hli ∩ ker(f0 ) = {0}, logo hli ⊕ ker(f0 ) =
hli + ker(f0 ) ⊂ M .
Dado x ∈ M , podemos escrever x = x + (f0 (x))l − (f0 (x))l = (x − (f0 (x))l) + (f0 (x))l. Pondo
y = x − (f0 (x))l, segue que
Assim, y ∈ ker(f0 ) e z = (f0 (x))l ∈ hli, implicam que M ⊂ hli ⊕ ker(f0 ). Assim, concluı́mos
que
M = hli ⊕ ker(f0 ).
Para demonstrar o último item, basta observar que m = dl ∈ N e que ker(f0 ) ∩ N ⊂ N . Como
hdli ⊂ hli e (ker(f0 ) ∩ N ) ⊂ ker(f0 ), segue que hdli ∩ ker(f0 ) ∩ N = {0}. Portanto, a soma de
hdli e (ker(f0 ) ∩ N ) é uma soma direta.
Dado y ∈ N , temos que f0 (y) ∈ f0 (N ) = hdi, logo existe b ∈ A tal que f0 (y) = b.d. Podemos
escrever y = y + b.m − bm = (y − bm) + bm com bm ∈ hdli.
É claro que y−bm ∈ N e f0 (y−bm) = f0 (y−(bd)l) = f0 (y−(f0 (y))l) = f0 (y)−(f0 (y))f0 (l) = 0,
implica y − bm ∈ ker(f0 ). Assim, y − bm ∈ ker(f0 ) ∩ N .
Obtemos que y = (y − b.m) + bm ∈ hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ) e então N ⊂ hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ).
Daı́ segue a igualdade
N = hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ).
Assim, tomando f = f0 temos as propriedades requeridas.
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Segue também pelo Teorema 4.3 que N é livre finitamente gerado com dim(N ) ≤ dim(M ).
A demonstração será feita usando indução na dim(N ) = n.
Suponhamos primeiramente que n = 1. Pelo terceiro item do Lema 4.5, N = hd.li⊕(ker(f )∩N )
para d ∈ A e l ∈ M não-nulos.
Observemos que se L é um A-módulo finitamente gerado tal que L = L0 ⊕ L00 com L0 e L00
A-submódulos de L, então dim(L) = dim(L0 ) + dim(L00 ).
Daı́ dim(N ) = dim(hd.li) + dim(ker(f ) ∩ N )), o que implica dim(ker(f ) ∩ N ) = 0. Portanto
N = hd.li com l ∈ {ei }ni=1 .
Suponhamos agora que o resultado seja válido para n = k − 1. Se dim(N ) = k, o Lema 4.5
nos permite escrever N = hd.li ⊕ (ker(f ) ∩ N ). Ainda, (ker(f ) ∩ N ) ⊂ N que é livre finitamente
gerado, portanto ker(f ) ∩ N é um A-submódulo livre finitamente gerado. Daı́
dim(N ) = dim(hd.li) + dim(ker(f ) ∩ N ).
Donde segue que dim(ker(f ) ∩ N ) = k − 1. Utilizando a hipótese de indução, existem {e0ij }k−1
j=1
elementos da base de M e escalares {d0j }k−1 0 0
j=1 ⊂ A \ {0} com dj |dj+1 para j = 1, · · · , k − 2, tais que
k−1
M
ker(f ) ∩ N = hd0j .e0ij i.
j=1
Consideremos {dj }kj=1 ⊂ A \ {0}, com d1 = d e dj+1 = d0j e também {eij }kj=1 subconjunto da
base de M , onde ei1 = l e eij = e0ij . Assim
k
M
N= hdj .eij i.
j=1
Falta mostrar que d1 = d divide d2 . Pelo Lema 4.5, temos f (N ) = hd1 i e como d2 .ei2 ∈ N
e ei2 é um elemento da base de M . Então f (d2 .ei2 ) = d2 ∈ hd1 i, logo d1 |d2 , o que conclui a
demonstração.
5 Conclusão.
O conceito de base para A-módulos pode ser obtido como uma generalização natural do mesmo
conceito para espaços vetoriais, mas no caso em que A não é um corpo, nem sempre é possı́vel obter
uma base. No caso de existir uma base, é possı́vel generalizar alguns resultados de Álgebra Linear,
como a igualdade entre a cardinalidade das bases, como foi feito na seção 2 (a comutatividade
do anel é essencial, como foi mostrado no Exemplo 2.4 ). No entanto, no nosso caso, as coisas
ficam muito mais complicadas, já que mesmo as propriedades mais básicas dos espaços vetoriais
podem falhar, como vimos na seção 3, mesmo que o anel de escalares seja um domı́nio de ideais
principais. O caso em que o anel de escalares é um domı́nio de ideais principais é muito mais
simples que o caso genérico; neste contexto é possı́vel obter condições suficientes para garantir a
existência da base, é valida a propriedade de que um submódulo de um módulo livre finitamente
gerado é também livre finitamente gerado, e é possı́vel obter uma base do submódulo a partir de
uma base especial do módulo.
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Referências
[1] Salvatore, Flavia A. - Olea, Marı́a M., Anillos y Módulos semisimples - Módulos
f.g. sobre un d.i.p., Trabajo Final - Estruturas Algebraicas - Facultad de Ciencias Exactas,
Universidad Nacional de La Plata.
[3] Arnaldo Garcia, Yves Lequain, Elementos de Álgebra, (Projeto Euclides) Rio de Ja-
neiro, RJ: IMPA, 2003, 2a ed.
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