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Sobre uma base para A-módulos

Ailton Ribeiro de Assis ra: 134713


Claudio Michael Qureshi ra:137920
Juliana Fernandes Larrosa ra: 089366
Julio Cesar Valencia Guevara ra: 099814
Leandro da Silva Tavares ra: 134710
Leandro Morgado ra:133569
Steve da Silva Vicentim ra:134717
Thais Borges Damacena ra: 099887
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

7 de Maio de 2012

Resumo
Uma das maiores diferenças entre espaços vetoriais (A-módulos, com A corpo) e um A-
módulo em geral, é que nem sempre é possı́vel obter uma base para o segundo.
Na primeira seção, introduziremos o conceito de módulo livre (que são justamente os
módulos que possuem base), apresentaremos algumas propriedades elementares que se obtêm
da definição e exibiremos alguns exemplos. Na segunda seção, generalizaremos a definição de
dimensão para A-módulos livres. Na terceira seção, discutiremos duas questões cuja resposta
se verifica verdadeira para espaços vetoriais, mas não valem para A-módulos em geral: todo
conjunto gerador contém uma base e todo conjunto l.i. pode ser estendido a uma base. Na
quarta seção, finalizaremos o trabalho estudando A-módulos, para A um domı́nio de ideais
principais, e neste contexto explicitamos condições suficientes para garantir a existência de
uma base.
Para nós, A anel representa um anel comutativo com unidade 6= {0} (salvo menção contrária).

1 Primeiras definições e exemplos


Definição 1.1. Seja M um A-módulo. Um conjunto X ⊆ M é dito uma base para M se todo
elemento de M pode ser escrito unicamente como uma combinação linear finita de elementos de
X com coeficientes em A. Equivalentemente:

(i) Dado m ∈ M , existem λ1 , ..., λn ∈ A e x1 , ..., xn ∈ X tais que m = λ1 x1 + ...λn xn . Em


outras palavras, X gera M ;

(ii) Dados λ1 , . . . , λn , µ1 , . . . , µn ∈ A e x1 , . . . , xn ∈ M , se λ1 x1 + ... + λn xn = µ1 x1 + ... + µn xn ,


então λi = µi para i = 1, 2, . . . , n. Em outras palavras, X é um conjunto linearmente
independente (l.i.).

1
Observação 1.2. Do mesmo jeito que para espaços vetoriais pode provar-se que a condição (ii)
é equivalente a:
(ii’) Dados λ1 , ..., λn ∈ A e x1 , ..., xn ∈ M , se λ1 x1 + ...λn xn = 0, então λ1 = ... = λn = 0.
Definição 1.3. Um A-módulo M é dito A-módulo livre se ele possui uma base. Por convenção o
grupo {0} é um A-módulo livre para qualquer anel A, com base B = ∅.
Exemplo 1.4.
(1) M = A × ... × A, com a base canônica B = {(1, 0, ..., 0), (0, 1, 0, ..., 0), ..., (0, ..., 0, 1)};
(2) M = A [X] é um A-módulo livre com base B = {1, X, X 2 , ...};
(3) Os inteiros de Gauss M = Z + iZ com a base B = {1, i} é um Z-módulo livre. De fato, clara-
mente B gera M , e como B é linearmente independente sobre R, será linearmente independente
também sobre Z.
Exemplo 1.5. Seja K um corpo (em particular um anel). Um exemplo tı́pico de K-módulo livre
são os espaços vetoriais sobre o corpo K.
De fato, se V é um K-espaço vetorial em particular V é um K-módulo. Mostremos que V
possui uma base. Definamos
Σ = {B ⊂ V : B é linearmente independente}
e considere em Σ a ordem parcial dada pela inclusão de conjuntos. Segue que Σ 6= ∅ pois como K
é um corpo, então para cada v ∈ V com v 6= 0 temos que {v} ∈ Σ. Seja Ω ⊂ Σ uma cadeia e tome
T = ∪B∈Ω B. Mostremos que T ∈ Σ. De fato, dados v1 , . . . , vk ∈ T , então existem B1 , . . . , Bk ∈ Ω
tais que vj ∈ Bj , a menos de reordenamento e pelo fato de Ω ser uma cadeia podemos supor que
B1 ⊂ B2 ⊂ · · · ⊂ Bk , logo {v1 , . . . , vk } ⊂ Bk mas como Bk ∈ Σ segue que quando tivermos
r1 v1 + · · · + rk vk = 0,
com ri ∈ K, necessariamente deve-se ter que r1 = . . . = rk = 0 assim T ∈ Σ. Pelo lema de Zorn
temos que existe um elemento maximal B ∈ Σ. Resta mostrar que B gera V. Seja w ∈ V tal que
w∈ / B (pois caso contrario não há nada a mostrar), então B ∪ {w} ∈
/ Σ pela maximalidade de B.
Segue que 0 ∈ V pode ser expressado como combinação linear não trivial de elementos em B ∪ {w}
a qual debe ser necessariamente da forma
rw + r1 v1 + · · · + rk vk = 0,
onde r, rj ∈ K e vj ∈ B. Segue que a única opção é que r 6= 0 (caso contrário, como {v1 , . . . , vk }
é l.i. terı́amos que também r1 = r2 = . . . = rk = 0 e a combinação linear seria trivial) e
multiplicando por r−1 temos que
w = −r−1 r1 v1 − · · · − r−1 rk vk ,
como se queria mostrar.
Antes de ver uma outra caracterização para módulos livres, vamos relembrar o conceito de
soma direta de A-módulos.

2
Definição 1.6. Seja {Mα }α∈Γ uma famı́lia arbitrária de A-módulos. Definimos sua soma direta
como o conjunto:
M
Mα := {funções m : Γ → ∪α∈Γ Mα ; m(α) ∈ Mα , ∀α ∈ Γ, e m(α) = 0 para quase todo α ∈ Γ},
α∈Γ
L
e, se m ∈ α∈Γ Mα escreveremos m(α) = mα .

Munido das operações:


• (m1 + m2 )(α) = m1 (α) + m2 (α) ∀α ∈ Γ=;

• (am)(α) = am(α) ∀α ∈ Γ (a ∈ A).


L
damos a α∈Γ Mα uma estrutura de A-módulo.
De fato (lembre-se que cada Mα é um A-módulo),
L L
1. ( α∈Γ Mα ,+) é um grupo abeliano. Pois se m1 , m2 , m3 ∈ α∈Γ Mα , então valem as
seguintes propriedades:
L
(a) + é uma operação binária definida sobre α∈Γ Mα .
Como m1 (α),m2 (α) ∈ Mα para todo α ∈ Γ e m1 (α) = 0, m2 (α) = 0 para quase todo
α ∈ Γ temos que (m1 + m2 )(α)L ∈ Mα para todo α ∈ Γ e (m1 + m2 )(α) = 0 para quase
todo α ∈ Γ. Logo, m1 + m2 ∈ α∈Γ Mα .
(b) Associatividade.
((m1 + m2 ) + m3 )(α) = (m1 + m2 )(α) + m3 (α) = (m1 (α) + m2 (α)) + m3 (α) = m1 (α) +
(m2 (α) + m3 (α)) = m1 (α) + (m1 + m2 )(α) = (m1 + (m2 + m3 ))(α).
(c) Existência do elemento neutro.
L
Seja m : Γ → ∪α∈Γ Mα tal que m(α) = 0 para todo α ∈ Γ. Assim, m ∈ α∈Γ Mα .
Além disso, (m + m1 )(α) = m(α) + m1 (α) = 0 + m1 (α) = m1 (α) = (m1 + m)(α).
(d) Existência do elemento simétrico.
Seja m : Γ → ∪α∈Γ Mα tal que m(α) = −m1 (α) para todo α ∈ Γ. Assim, m ∈
L
α∈Γ Mα .
Além disso, (m + m1 )(α) = m(α) + m1 (α) = −m1 (α) + m1 (α) = 0 = (m1 + m)(α).
(e) Comutatividade.
(m1 + m2 )(α) = m1 (α) + m2 (α) = m2 (α) + m1 (α) = (m2 + m1 )(α).

2. A operação . definida acima satisfaz as seguintes propriedades:

(a) a(m1 + m2 ) = am1 + am2 para todo a ∈ A.


(a(m1 + m2 ))(α) = a(m1 + m2 )(α) = a(m1 (α) + m2 (α)) = am1 (α) + am2 (α) = (am1 +
m2 )(α).
(b) (a + b)m1 = a(bm1 ) para todos a, b ∈ A.
((a + b)m1 (α) = (a + b)m1 (α) = am1 (α) + bm1 (α) = (am1 + bm2 )(α).

3
(c) (ab)m1 = a(bm1 ) para todo a ∈ A.
((ab)m1 )(α) = (ab)m1 (α) = a(bm1 (α)) = a(bm1 )(α) = (a(bm1 ))(α).
(d) 1m1 = m1
(1m1 )(α) = 1m1 (α) = m1 (α).

Agora vamos ver uma caracterização importante dos módulos livres1 .


Proposição 1.7. Seja M um A-módulo. Então M é um A-módulo livre se e somente se M é
isomorfo à soma direta de cópias de A.

Demonstração. (⇒) Se M é um módulo livre, considere X = {xα }α∈Γ uma baseP de M . Então,
dado um elemento m ∈ M , podemos escrevê-lo de forma única como m = α∈Γ aα xα , com
aα ∈ A, ∀α ∈ Γ, e aα = 0 para quase todo α ∈ Γ. Dessa forma, defina:
M X
φ:M → A, m = aα xα 7→ s : sα = aα , ∀α ∈ Γ.
α∈Γ α∈Γ

Assim:

1. φ é um homomorfismo de A-módulos.
P P
De fato, sejam m1 = α∈Γ aα xα , m2 = α∈Γ bα xα , onde aα , bα ∈ A para todo α ∈ Γ e
aα = 0, bα = 0 para quase todo α ∈ Γ. Assim,
P
• φ(m1 + m2 ) = φ( α∈Γ (aα + bα )xα ) = s, onde sα = aα + bα , ∀α ∈ Γ.
φ(m1 ) + φ(m2 ) = s1 + s2 , onde s1α = aα e s2α = bα . Logo, sα = s1α + s2α , e portanto
φ(m1 + m2 ) = φ(m1 ) + φ(m2 ).
P
• φ(am1 ) = φ( α∈Γ (aaα )xα ) = s, onde sα = aaα , ∀α ∈ Γ
aφ(m1 ) = as1 , onde s1α = aα , ∀α ∈ Γ. Logo, sα = as1α , e portanto φ(am1 ) = aφ(m1 ).

2. φ é bijetora.

• Se φ(m1 ) = φ(m2 ), então, s1 = s2 , onde s1α = aα e s2α = bα para todo α ∈ Γ. Assim,


aα = bα para todo α ∈ Γ. Concluı́mos assim que m1 = m2 e portanto que φ é injetora.
L
• Seja s ∈ α∈Γ A. Então, sα = cα , ondeP cα ∈ Mα para todo α ∈ Γ e cα = 0 para
quase todo α ∈ Γ. Defina então, m = α∈Γ cα xα . Dessa forma, m ∈ M e φ(m) = s.
Portanto, φ é sobrejetora.

Logo, φ é um isomorfismo de A-módulos.


L L
(⇐) Se M ' α∈Γ A, seja φ : M → α∈Γ A
isomorfismo de A-módulos. Vamos considerar o

1 se i = α
conjunto B = {eα ∈ M : α ∈ Γ} dado por: eα (i) = Note que B é uma base
L 0 se i ∈ Γ\{α}
para α∈Γ A.
De fato,
1
É interessante destacar que o livro de Atiyah-MacDonald utiliza esta caracterização como a definição de A-
módulo livre. A Proposição 1.7 mostra que ambas as definições são equivalentes.

4
L
• Seja s ∈ α∈Γ A. Então s : Γ → ∪α∈Γ A é tal que s(α) = sα ∈ A para todo α e s(α) = 0
para quase todo α ∈ Γ.
P L
Assim, s(i) = α∈Γ sα eα (i), para i ∈ Γ. Ou seja, B gera α∈Γ A.

• Se sα1 eα1 + sα2 eα2 + ... + sαn eαn = 0, então,


(sα1 eα1 + sα2 eα2 + ... + sαn eαn )(αi ) = 0, i ∈ {1, ..., n}. O que implica que sαi = 0. Ou ainda,
sα1 = ... = sαn = 0. Portanto, B é um conjunto l.i.

Agora, sabemos que isomorfismos preservam bases 2 . Assim o conjunto {φ−1 (eα ) : α ∈ Γ} é
uma base para M .

Corolário 1.8. Seja M um A-módulo livre. Então M = {0} ou #M ≥ #A.


L
1.7, se M é livre, então M ' α∈Γ A. Assim, se M 6= {0}, então
Demonstração. Pela Proposição L
#Γ 6= ∅, seguindo que #M = # α∈Γ A ≥ #A.

Exemplo 1.9. O Z-módulo Zn não é um Z-módulo livre (pois #Zn < #Z).
L
Observação 1.10. Consideremos o A-módulo livre S = α∈Γ A. Então, para cada α ∈ Γ temos
definido um epimorfismo πα : S → A dado por πα (x) = xα (chamado projeção α-ésima).
Observe que:

• πα é um homomorfismo de A-módulos.
De fato, sejam s1 , s2 ∈ S. Assim, s1 : Γ → ∪α∈Γ A e s2 : Γ → ∪α∈Γ A.

– πα (s1 + s2 ) = (x + y)α = xα + yα = πα (s1 ) + πα (s2 )


– πα (as) = (as)α = asα = aπα (s)

• πα é sobrejetor.

P 1 se i = α
De fato, seja a ∈ A e considere y = α∈Γ aeα , onde eα (i) = .
0 se i ∈ Γ\{α}
Assim, πα (y) = yα = a.

Portanto, essas funções são epimorfismos de A-módulos. Pela proposição anterior, podemos
estender esta ideia a A-módulos livres quaisquer. Se M é um módulo livre, escolhemos uma base
(ordenada) {xα }α∈Γ de M como A-módulo e podemos definir a projeção α-ésima via o isomorfismo
φ da proposição anterior:

φ πα
/ /A.
L
M α∈Γ A

2
De fato, seja f : M → N um isomorfismo e X = {xα ; α ∈ Γ} uma base de N . Dado m ∈ M , existe único
n ∈ N tal que m = f −1 (n). Como X é base de N, existem únicos λ1 , ..., λn ∈ A e x1 , ..., xn ∈ X tais que
m = f −1 (λ1 x1 + ... + λn xn ) = λ1 f −1 (x1 ) + ...λn f −1 (xn ). Assim, {f −1 (xα ); α ∈ Γ} é uma base para M .

5
O homomorfismo πα ◦φ será representado também como πα (abuso de notação), sendo denomi-
nado projeção α-ésima (observe que depende da escolha da base ordenada). Nas demonstrações de
propriedades de módulos livres finitamente gerados (como A-módulo), as projeções têm um papel
muito importante, já que nos permitem fazer provas por indução (veja por exemplo a demonstração
do Lema 4.2).

2 A dimensão de um A-módulo livre


Quando estamos no contexto referente a espaços vetoriais, temos que qualquer base de um espaço
possui a mesma cardinalidade de suas demais bases. Este fato faz com que o conceito de dimensão
de um espaço vetorial fique bem definido como a cardinalidade de uma base.
Neste capı́tulo, mostraremos que o conceito de dimensão pode ser estendido aos A-módulos
livres, como cardinalidade de uma base.

Lema 2.1. Seja M um A-módulo e I ideal de A. Então IM é um A-módulo e M/IM é um


A/I-módulo.

Demonstração. Temos inicialmente que:


 
X n 
IM := ij mj ; ij ∈ I, mj ∈ M e n ∈ N .
 
j

Claramente IM é fechado para a soma, e portanto é um subgrupo abeliano de M , pois M é


abeliano. O fato de IM ser um A-módulo segue de I ser ideal e M ser A-módulo.
Definamos agora a seguinte operação:

· : A/I × M/IM → M/IM


(λ + I, m + IM ) 7→ λm + IM.

Se λ1 + I = λ2 + I e m1 + IM = m2 + IM , então λ1 − λ2 ∈ I e m1 − m2 ∈ IM . Assim, observe


que:
λ1 m1 − λ2 m2 = λ1 (m1 − m2 ) + λ1 m2 − λ2 m2
= λ1 (m1 − m2 ) + (λ1 − λ2 )m2 ∈ IM.
Portanto λ1 m1 + IM = λ2 m2 + IM , e · está bem definida. Como M é um A-módulo, segue
que M/IM é um A/I-módulo.

Teorema 2.2. Sejam M um A-módulo livre e X e Y duas bases de M . Então |X| = |Y |.

Demonstração. Seja I um ideal maximal de A, cuja existência é garantida pelo Lema de Zorn, e
seja X uma base de M .
Mostremos primeiramente que {x + IM }x∈X é uma base do A/I-módulo M/IM e |X| =
{x + IM }
x∈X .

6
Seja y + IM ∈ M/IM , então, como y ∈ M temos:

y = λ1 x1 + ... + λn xn com λ1 , λ2 , . . . , λn ∈ A e x1 , x2 , . . . , xn ∈ X

⇒ y + IM = (λ1 x1 + ... + λn xn ) + IM = (λ1 + I)(x1 + IM ) + ... + (λn + I)(xn + IM ).


Portanto {x + IM }x∈X gera M/IM como A/I-módulo.
Para verificar que {x + IM }x∈X é uma base, falta mostrar que tal conjunto é linearmente
independente.
Seja (r1 + I)(xj1 + IM ) + ... + (rn + I)(xjn + IM ) = 0 em M/IM (com r1 , ..., rn ∈ A e
xj1 , ..., xjn ∈ X). Então r1 xj1 + ... + rn xjn ∈ IM . Assim, podemos escrever:

r1 xj1 + ... + rn xjn = i1 xk1 + ... + im xkm ,

com i1 , ..., im ∈ I e xk1 , ..., xkm ∈ X.


Pela unicidade da escrita dos elementos de M a partir de X (pois X é base) temos que
r1 , ..., rn ∈ I, e portanto r1 + I = ... = rn + I = 0 em A/I. Donde concluı́mos que {x + IM }x∈X
é base do A/I-módulo M/IM .
Considere agora a aplicação x 7→ x + IM de X em {x + IM }x∈X . É fácil ver que tal aplicação
é sobrejetora. Suponha que não seja injetora. Assim, existem x1 , x2 ∈ X distintos tais que
x1 − x2 ∈ IM . E, dessa forma, podemos escrever:

x1 − x2 = i1 xj1 + ... + in xjn ,

com i1 , ..., in ∈ I. E, novamente pela unicidade da escrita, teremos que {−1, 1} ⊆ I, gerando uma
contradição, pois tomamos
I ideal maximal de A.
Portanto, |X| = {x + IM }x∈X .

Por fim, sejam X e Y bases do A-módulo M , então {x + IM }x∈X e {y + IM }y∈Y são bases

do A/I-módulo M/IM e |X| = {x + IM }x∈X e |Y | = {y + IM }y∈Y .


Como A/I é um corpo, então M/IM é um espaço vetorial, onde se verifica {x + IM }x∈X =

{y + IM }y∈Y . E temos, portanto, |X| = |Y |.

Definição 2.3. Sejam M um A-módulo livre e X uma base de M definimos a dimensão de M


com respeito a A por:
dim(M ) = |X| .

O seguinte exemplo mostra que para anéis não comutativos, o conceito de dimensão para A-
módulos livres nem sempre está bem definido (ou seja, não é válido nesse contexto o Teorema 2.2)

Exemplo 2.4. Seja A anel e denotemos por A(N) = ⊕i∈N A e considere o anel B = EndA (A(N) )
que possui uma estrutura natural de B-módulo sendo o produto externo a composição de endo-
morfismos. B possui duas bases finitas com diferente cardinalidade.

7
De fato, temos que o endomorfismo identidade constitui uma base de B por outro lado se
consideramos a base canônica {ei : i ∈ N} em A(N) e definimos u, v : A(N) → A(N) por meio de

u(e2i+1 ) = 0, u(e2i ) = ei

v(e2i+1 ) = ei , v(e2i ) = 0
então o conjunto {u, v} é também uma base de B como B-módulo, pois a ◦ u + b ◦ v = 0 implica

a(ei ) = a(u(e2i )) = a(u(e2i )) + b(v(e2i )) = (a ◦ u + b ◦ v)(e2i ) = 0 ∀ i ∈ N

b(ei ) = b(v(e2i+1 )) = a(u(e2i+1 )) + b(v(e2i+1 )) = (a ◦ u + b ◦ v)(e2i+1 ) = 0 ∀i ∈ N


e portanto a = b = 0 logo {u, v} é l.i.. Também é gerador pois se x ∈ B definimos a(ei ) = x(e2i )
e b(ei ) = x(e2i+1 ) para i ∈ N, então temos que

x(e2i ) = a(ei ) = a(u(e2i )) = a(u(e2i )) + b(v(e2i )) = (a ◦ u + b ◦ v)(e2i ) = 0 ∀i ≥ 0

x(e2i+1 ) = b(ei ) = b(v(e2i+1 )) = a(u(e2i+1 )) + b(v(e2i+1 )) = (a ◦ u + b ◦ v)(e2i+1 ) = 0 ∀i ≥ 0


e portanto x = a ◦ u + b ◦ v (por coincidir na base {ei : i ∈ N}). Em particular B ∼
= B × B.

3 Propriedades de espaços vetoriais que não se preservam para


A-módulos livre
Sabemos que em um espaço vetorial, um vetor não nulo forma um conjunto linearmente indepen-
dente. No entanto, o mesmo não é válido para A-módulos. Nesse sentido, considere o exemplo a
seguir:

Exemplo 3.1. Considere o conjunto Z × Z2 como Z-módulo. Temos que:

2 · (0, 1) = (0, 0).

Nesse sentido, o conjunto {(0, 1)} é formado por um elemento não nulo de Z × Z2 , e não é
linearmente independente.

Definição 3.2. Seja M um A-módulo. Dizemos que M é livre de torção quando para todo m ∈ M
não nulo tivermos que o conjunto {m} é l.i.

Observação 3.3. Seja M um A-módulo. M é livre de torção se, e somente se, dados a ∈ A e
m ∈ M tais que am = 0, então a = 0 ou m = 0.

Demonstração. (⇒) Sejam a ∈ A, m ∈ M tais que am = 0. Se m = 0 não ha nada que provar, se


m 6= 0 como M é livre de torção então o conjunto {m} é l.i. logo am = 0 ⇒ a = 0.

(⇐) Vamos supor verdadeira a propriedade am = 0 ⇒ a = 0 ou m = 0 para todo a ∈ A, m ∈


M , então ∀m ∈ M, m 6= 0 vai-se verificar que am = 0 ⇒ a = 0 logo o conjunto {m} é l.i. e
portanto M é livre de torção.

8
3.1 Extensão de um conjunto l.i. a uma base
Um resultado clássico sobre espaços vetoriais é que todo conjunto linearmente independente pode
ser estendido a uma base.
No entanto, vale ressaltar que esse resultado não é válido em geral para A-módulos. Vejamos
o exemplo a seguir:
Exemplo 3.4. Consideremos os inteiros de Gauss Z + iZ como Z-módulo. Note inicialmente que
o conjunto 2 + 2i é linearmente independente o qual é consequência direita de ser C um corpo (se
a, z ∈ C com a 6= 0, az = 0 ⇒ z = a−1 az = a−1 · 0 = 0).
Vimos anteriormente que em um A-módulo livre, toda base tem a mesma cardinalidade. Ade-
mais, Z2 é um Z-módulo livre com base C = {1, i}. Nesse sentido, toda base deve ter dois
elementos.

Suponha que existe a + bi ∈ Z + iZ tal que o conjunto B = {2 + 2i, a + bi} forme uma base.
Nesse sentido, temos que os elementos de C podem ser escritos em função dos elementos de B.
Dessa forma, existem m, n, p, q ∈ Z tais que:
(
m(2 + 2i) + n(a + bi) = 1
.
p · (2 + 2i) + q · (a + bi) = i

Matricialmente (igualando parte real é imaginária), a expressão acima é equivalente a:


     
m n 2 2 1 0
· = .
p q a b 0 1
Mas note que a segunda matriz tem determinante par. Como o produto dos determinantes é
o determinante do produto, segue que a primeira matriz, formada por coeficientes inteiros, não
tem determinante inteiro, o que é absurdo.
Segue que o conjunto {2 + 2i} não pode ser estendido a uma base de Z + iZ.

3.2 Redução de um conjunto gerador a uma base


Outro resultado conhecido sobre espaços vetoriais é que todo conjunto que gera o espaço pode
ser reduzido a uma base. No entanto, mais uma vez, esse resultado não é válido em geral para
A-módulos. A esse respeito, considere o exemplo:
Exemplo 3.5. Consideremos novamente os inteiros de Gauss Z + iZ como Z-módulo. Temos
inicialmente que o conjunto X = {2 + 2i, 3 + 3i, i} é um gerador do espaço.
Para verificar esse fato, como i ∈ X, basta observar que o elemento 1 e i pode ser escrito como
combinação linear de elementos de X. Nesse sentido:

1 = (3 + 3i) − (2 + 2i) − i.

No entanto, temos que X não pode ser reduzido a uma base. Vamos verificar todas as possi-
bilidades:

9
• X1 = {2 + 2i, 3 + 3i} não é base, pois todos as combinações lineares desses elementos são da
forma z + zi;

• X2 = {2 + 2i, i} não é base, pois as combinações lineares desses elementos são da forma
2z + i(2z + y), ou seja, a parte real é par;

• X3 = {3 + 3i, i} não é base, pois as combinações lineares desses elementos são da forma
3z + i(3z + y), ou seja, a parte real é múltiplo de 3.

Portanto, segue que o conjunto α = {2 + 2i, 3 + 3i, i}, que é um gerador do espaço, não pode
ser reduzido a uma base de Z + iZ.

3.3 Submódulos de um módulo livre


Nem sempre um submódulo de um módulo livre é livre. Considere o exemplo:

Exemplo 3.6. Consideremos o anel dos inteiros módulo 6, Z6 . Z6 é um Z6 -módulo livre com
base {1} (observe, no entanto, que Z6 como Z6 -módulo, não é livre de torção).

No entanto, N = {0, 2, 4} é um Z6 -submódulo de Z6 que não é livre. De fato, todo subconjunto


unitário de N é linearmente dependente (3.n = 0 para todo n ∈ N ).

3.4 Quociente de um módulo livre por um submódulo livre


O fato de termos um módulo livre M e um submódulo livre N, nem sempre implica que o quociente
M/N é livre. De fato, considere o exemplo a seguir.

Exemplo 3.7. Considere Z como um Z-módulo livre com base {1}. Seja n > 0, um inteiro e
considere o Z-submódulo livre (n) (de fato, {n} é uma base para (n) ).
Observamos que Z/(n) = Zn não é livre como Z-módulo. De fato, todo conjunto {k} ⊂ Z/(n)
formado por um elemento é l.i. pois n.k = nk = 0 para todo k ∈ Z/(n).

4 Módulo sobre domı́nio de ideais principais.


Nesta seção, vamos ver primeiro, uma condição sobre o anel A de escalares para garantir que todo
A-módulo seja livre e finalizar com um teorema sobre a obtenção de uma base para um submódulo
a partir de uma base do módulo.

4.1 Condição suficiente para garantir existência de base.


Já sabemos que se A for corpo, então todo A-módulo tem uma base (por ser um espaço vetorial),
mas podemos enfraquecer esta condição.

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Vamos nos concentrar em um caso especial, onde A é um domı́nio de ideais principais (ou seja,
todo ideal de A está gerado por um só elemento). Portanto, nesta seção A será um domı́nio de
ideais principais.

Somente pedir que A seja um domı́nio de ideais principais não é suficiente como vimos no
exemplo 1.9. A seguinte proposição nos dá uma condição necessária.

Proposição 4.1. Se M é um A-módulo com torção então M não é livre como A-módulo.

Demonstração. Vamos supor por absurdo que M é livre, e seja B uma base para M . Como M
tem torção, então existe a ∈ A e m ∈ M tal que am = 0, mas a 6= 0Pe m 6= 0. Como m ∈ M e
B é base para M , então P existem m1 , m2 , . . . , mn ∈ M tais que m = ni=1 ai mi com ai ∈ A para
todo i = 1, . . . , n. Logo ni=1 aai mi = am = 0 implica aai = 0 ∀i = 1, . . . , n (pois B é base, e
em particular linearmente independente).PComo a 6= 0 e A é um domı́nio então aai = 0 ⇒ ai = 0
para 1 ≤ i ≤ n o qual implica que m = ni=1 ai mi = 0, gerando uma contradição. Por tanto M
não pode ser livre como A-módulo, como querı́amos demonstrar.

Agora é natural fazermos a pergunta se todo A-módulo sem torção vai ser livre (lembrar que
A é domı́nio de ideais principais). Vamos provar que a resposta é afirmativa no caso em que o
A-módulo for finitamente gerado.

Primeiramente, vamos provar o seguinte lema:

Lema 4.2. Se M é um A-módulo livre finitamente gerado e N é um submódulo de M , então N


também é livre e dim(N ) ≤ dim(M ).

Demonstração. Vamos fazer a prova por indução em n = dim(M ). Para n = 0 o resultado é


trivial. Vamos supor que a afirmação é verdadeira se o módulo tiver dimensão n − 1 ≥ 0 e prova-
remos que a afirmação é verdadeira quando a dimensão é n.

Sejam então M um A-módulo livre com dim(M ) = n, B = {m1 , m2 , . . . , mn } uma A-base para
M e N um submódulo de M . Consideremos o morfismo projeção na primeira variável π1 : M → A
definido por π1 ( ni=1 ai mi ) = a1 .
P

Observe que, como π1 : M → A é um homomorfismo de A-módulo (Observação 1.10) e N é


um A-submódulo de M , então π1 (N ) será um A-submódulo de A, ou seja, um ideal de A. Como
A é um domı́nio de ideais principais, então existe um d ∈ A tal que π1 (N ) = hdi.

Se d = 0, então π1 (n) = 0 para todo n ∈ N . Logo N vai ser um A-submódulo do A-módulo


gerado pelo conjunto {m2 , m3 , . . . , mn }, que é livre de dimensão n−1. Portanto, N vai ser livre de
dimensão menor ou igual a n−1 (em particular dim(N ) ≤ dim(M ) = n) pela hipótese de indução.

Se d 6= 0, então podemos tomar n0 ∈ N tal que π1 (n0 ) = d. Vamos considerar os A-submódulos


M0 = hm2 , m3 , . . . , mn i e N 0 = N ∩ M 0 de M . Como N 0 é um A-submódulo de M 0 que é livre

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com dim(M 0 ) = n − 1, então pela hipótese indutiva o mesmo N 0 vai ter que ser livre de dimensão
menor ou igual que n − 1. Seja {e2 , e3 , . . . , em } uma base de N 0 , onde m ≤ n.

Vamos provar que o conjunto B = {n0 , e2 , e3 , . . . , em } será uma base para N (em particular
M vai ser livre de dimensão m ≤ n). Como N 0 ⊂ N e n0 ∈ N é claro que B ⊂ N . Vamos provar
agora que é gerador:

De fato, se n ∈ N então π1 (n) = sd para algum s ∈ A (pois π1 (n) ∈ π1 (N ) = hdi), logo


π1 (n − sn0 ) = π1 (n) − sπ1 (n0 ) = sd − sd = 0. Portanto, temos que n − sn0 ∈ M 0 (pois, como é
fácil ver, ker(π1 ) = M 0 ). Observemos que também n − sn0 ∈ N (pois n ∈ N e n0 ∈ N ). Logo,
n − sn0 ∈ M 0 ∩ N = N 0 = he2 , . . . , em i, implicando claramente que n ∈ hn0 , e2 , . . . , em i. Segue
que B gera N .

Agora, vamos provar que B = {n0 , e2 , e3 , . . . , em } é linearmente independente:

Sejam α1 , α2 , . . . , αm ∈ A tal que


m
X
α1 n0 + αi ei = 0 (1)
i=2

0
PmComo π1 (n0 ) = d ⇒ dm1 − n0 ∈ M = hm2 , .0 . . , mn i então α1 dm1 = α1 dm1 −0 (α1 n0 +
i=2 αi ei ) = α1 (dm1 − n0 ) − α2 e2 − . . . − αm em ∈ M pois dm1 − n0 , e2 , e3 , . . . , em ∈ M (lembrar
que N 0 ⊂ M 0 ). Mas α1 dm1 ∈ M 0 ⇒ π1 (α1 dm1 ) = α1 d = 0, como P A é domı́nio de integridade
e d 6= 0 temos que α1 = 0. Voltando a equação (1) temos que m i=2 αi ei = 0, implicando que
α2 = . . . = αm = 0, pois {e2 , . . . , em } são linearmente independentes. Logo, também o conjunto
B vai ser linearmente independente.

Como B ⊂ N é gerador e linearmente independente, então é uma base e, portanto, o A-


submódulo N vai ser livre com dim(N ) = m ≤ n.

Finalmente vamos provar que a condição de ser M um A-módulo livre de torção finitamente
gerado (com A domı́nio de ideais principais) é suficiente para garantir a existência de uma base.

Teorema 4.3. Se M é um A-módulo livre de torção e finitamente gerado (com A domı́nio de


ideias principais) então M é livre.

Demonstração. Seja S = {y1 , y2 , . . . , ym } um conjunto gerador de M como A-módulo (tal conjunto


existe, pois M é finitamente gerado como A-módulo) e seja S 0 = {v1 , . . . , vn } um subconjunto de
S maximal com a propriedade de ser linearmente independente. Observe que como A é livre de
torção, então {y1 } ⊂ S vai ser linearmente independente. Portanto, a famı́lia de subconjuntos de
S que são linearmente independentes será não vazia e finita, tendo um elemento maximal. Vamos

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denominar por N o A-submódulo de M gerado pelo conjunto S 0 , ou seja N = hv1 , . . . , vn i.

Afirmação: Para cada i, 1 ≤ i ≤ m, existe um di ∈ A diferente de zero tal que di yi ∈ N .

De fato, se yi = vj ∈ N para algum j ∈ {1, . . . , n}, basta tomar di = 1. Se yi 6∈ S 0 , temos


que pela maximalidade o conjunto {yi } ∪ S 0 vai ser linearmente dependente. Portanto, existem
escalares di , c1 , . . . , cn não todos nulos tais que

di yi + c1 v1 + . . . + cn vn = 0.

Observemos que di 6= 0, pois se di = 0, como {v1 , . . . , vn } é linearmente independente, então


c1 = . . . = cn = 0, contradizendo o fato de não serem todos nulos. Além disso, di yi =
−c1 v1 − . . . − cn vn ∈ N , o que prova a afirmação.

Se pegarmos d = d1 d2 . . . dm (que serão diferentes de zero pois di 6= 0 ∀i e A e domı́nio de


integridade), então dyi ∈ N . Com efeito, seja ki ∈ A tal que d = di ki . Como di yi ∈ N , então
dyi = ki (di yi ) ∈ N . Vamos provar que a função:

f : M → N, m 7→ dm

é um homomorfismo injetivo de A-módulos (e portanto Im(f ) ' M ).

Pm
• Bem definida: Se m ∈ M , então m = P ai ∈ A para 1 ≤ i ≤ m), aplicamos f
i=1 ai yi (com P
de ambos lados e então f (m) = dm = m i=1 da y
i i = m
i=1 ai (dyi ) ∈ N , pois dyi ∈ N para
1 ≤ i ≤ m.

• Linearidade: f (a1 m1 + a2 m2 ) = d(a1 m1 + a2 m2 ) = da1 m1 + da2 m2 = a1 (dm1 ) + a2 (dm2 ) =


a1 f (m1 ) + a2 f (m2 )

• Injetividade: Se f (m) = dm = 0, como d 6= 0 e M é livre de torção, então m = 0. Portanto


ker(f ) = {0} e f é injetora.

Como f é homomorfismo de A-módulos, temos que Im(f ) é um A-submódulo de N . Ademais,


como N é livre, pelo lema prévio temos que Im(f ) é livre, e como f é homomorfismo injetivo de
A-módulo, segue que M ' Im(f ) e, portanto, o próprio M vai ser livre como A-módulo.

Exemplo 4.4. Se o A-módulo não for finitamente gerado temos, em geral, que o teorema anterior
não é válido. Considere Q como Z−módulo, então qualquer par de elementos pq , rs ∈ Q (com
p, q, r, s ∈ Z) são linearmente dependentes, pois se algum deles fosse 0 então é trivial, caso contrario
qr pq + (−sp) rs = 0 com qr e sp inteiros não nulos. Portanto si Q fosse um Z-módulo livre, qualquer
base de Q deveria ter um só elemento (não nulo). Seja { pq } dita base com mcd(p, q) = 1 e q > 0,
então existe um inteiro k tal que k pq = 2q1
que implica 2pk = 1 o qual é absurdo (pois 1 é impar).
Assim Q não pode ser um Z−módulo livre. Finalmente, observe que pelo fato de Q ser um domı́nio
integral temos que Q como Z−módulo é livre de torção.

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4.2 Construção de uma base para um submódulo de um módulo livre sobre
um domı́nio de ideais principais.
A partir de agora, vamos mostrar que, dado M um A-módulo livre finitamente gerado, e um
submódulo N , é possı́vel construir, sob certas condições, uma base para N a partir de uma base
de M .

Lema 4.5. Seja A um d.i.p.. Se M é um A-módulo livre finitamente gerado e N ⊂ M um A-


submódulo não-nulo, então existem l ∈ M com l 6= 0 e uma aplicação f : M → A, A-linear e
d ∈ A não-nulo, tais que:

1. f (N ) = hdi e f (l) = 1;

2. M = hli ⊕ ker(f );

3. N = hdli ⊕ (ker(f ) ∩ N ).

Demonstração. Suponha que dim(M ) = n ≥ 1.


Consideremos a seguinte famı́lia de ideais de A:

J = {I ⊂ A : I = f (N ) onde f ∈ HomA (M, A)}.

Sendo M livre, então existe um conjunto {mi }ni=1 ⊂ M que forma uma base para M , assim
n
M
M= hmi i.
i=1

n
P
Consideremos pi : M → A as projeções em A, ou seja, pi (m) = pi ( aj mj ) = δij aj = ai . Do
i=1
fato de N ser um A-submódulo não-nulo, segue que existe i0 ∈ In tal que pi0 (N ) 6= 0. Portanto,
a famı́lia J contém um ideal não-nulo.
A famı́lia J possui um elemento maximal. De fato, caso contrário existe uma cadeia

I1 ( I2 ( ... ( Ik ( ...

de elementos de J. Porém, tomemos I = ∪k∈N Ik . Como A é d.i.p., então I = (a), logo existe
k0 ∈ N tal que a ∈ Ik0 , o que implica que I ⊂ Ik0 e portanto Ik = Ik0 para todo k ≥ k0 , já que
Ik ⊂ I, chegando no absurdo desejado.
Assim, existe I0 = f0 (N ) ∈ J com f0 ∈ HomA (M, A) que é elemento maximal de J. Observe
que I0 é um ideal de A e portanto, existe d ∈ A tal que I0 =< d >. Como pi0 (N ) 6= ∅, pela
maximalidade de I0 segue que I0 = f0 (N ) 6= {0}, logo d 6= 0.
Agora, mostraremos que existe l 6= 0 tal que l ∈ M com f0 (l) = 1. Como d ∈ f0 (N ), existe
m ∈ N tal que f0 (m) = d.
Consideremos g ∈ HomA (M, A) arbitrária. Vamos mostrar que d divide g(m). Seja (d, g(m))
o ideal gerado por d e g(m). Sendo A d.i.p. temos d˜ = (d, g(m)), assim

d˜ = bd + cg(m), b, d ∈ A.

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Observe que de d˜ = bd + cg(m), temos que d˜ = (bf0 + cg)(m). Chamaremos de w = bf0 + cg,
é claro que w ∈ HomA (M, A). Como d˜ divide d, então f0 (N ) = hdi ⊂ hdi ˜ ⊂ w(N ). Pela
˜ Logo d divide d,
maximalidade de I0 , segue que hdi = hdi. ˜ consequentemente d divide g(m).
Como g ∈ HomA (M, A) é arbitrária, em particular, d divide pi (m), ∀i ∈ In . Logo, pi (m) = dbi
com bi ∈ A.
Dado m ∈ M ⊂ L, temos
Xn n
X n
X Xn
m=( aj mj ) = (pj (m))mj = (dbj )mj = d( bj mj )
i=1 i=1 i=1 i=1

n
P
Defina l = bj mj , logo m = dl. Por fim, d = f0 (m) = f (dl) = d(f0 (l)), implica que f0 (l) = 1.
i=1
Deste modo, encerramos a demonstração do primeiro item do lema.
Observemos agora que l ∈ M , logo hli ⊂ M . Ainda mais, de f0 ∈ HomA (M, A), é claro que
ker(f0 ) ⊂ M . Do item anterior, f0 (l) = 1, implica que hli ∩ ker(f0 ) = {0}, logo hli ⊕ ker(f0 ) =
hli + ker(f0 ) ⊂ M .
Dado x ∈ M , podemos escrever x = x + (f0 (x))l − (f0 (x))l = (x − (f0 (x))l) + (f0 (x))l. Pondo
y = x − (f0 (x))l, segue que

f0 (y) = f0 (x − (f0 (x))l) = f0 (x) − (f0 (x)(f0 (l)) = 0.

Assim, y ∈ ker(f0 ) e z = (f0 (x))l ∈ hli, implicam que M ⊂ hli ⊕ ker(f0 ). Assim, concluı́mos
que
M = hli ⊕ ker(f0 ).
Para demonstrar o último item, basta observar que m = dl ∈ N e que ker(f0 ) ∩ N ⊂ N . Como
hdli ⊂ hli e (ker(f0 ) ∩ N ) ⊂ ker(f0 ), segue que hdli ∩ ker(f0 ) ∩ N = {0}. Portanto, a soma de
hdli e (ker(f0 ) ∩ N ) é uma soma direta.
Dado y ∈ N , temos que f0 (y) ∈ f0 (N ) = hdi, logo existe b ∈ A tal que f0 (y) = b.d. Podemos
escrever y = y + b.m − bm = (y − bm) + bm com bm ∈ hdli.
É claro que y−bm ∈ N e f0 (y−bm) = f0 (y−(bd)l) = f0 (y−(f0 (y))l) = f0 (y)−(f0 (y))f0 (l) = 0,
implica y − bm ∈ ker(f0 ). Assim, y − bm ∈ ker(f0 ) ∩ N .
Obtemos que y = (y − b.m) + bm ∈ hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ) e então N ⊂ hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ).
Daı́ segue a igualdade
N = hdli ⊕ (ker(f0 ) ∩ N ).
Assim, tomando f = f0 temos as propriedades requeridas.

Teorema 4.6. Seja A um d.i.p, M um A-módulo livre finitamente gerado (dim(M ) = m) e N


um A-submódulo com dim(N ) = n ≥ 1. Então existem uma base {ei }m i=1 de M , um subconjunto
{eij }nj=1 ⊂ {ei }mi=1 e elementos {dj } n
j=1 ⊂ A \ {0} tais que dj |dj+1 para j = 1, · · · , n − 1 tais que
{dj .eij }ni=1 é uma base para N .
Demonstração. Como M é livre e finitamente gerado, pelo Lema 4.5 M = hli ⊕ ker(f ). Assim,
pelo Teorema 4.3, ker(f ) é um submódulo livre. Portanto, existe uma base {αi }m−1
i=1 para ker(f ).
m
Assim, o conjunto {ei }i=1 ⊂ M tal que e1 = l e ei+1 = αi é uma base para M .

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Segue também pelo Teorema 4.3 que N é livre finitamente gerado com dim(N ) ≤ dim(M ).
A demonstração será feita usando indução na dim(N ) = n.
Suponhamos primeiramente que n = 1. Pelo terceiro item do Lema 4.5, N = hd.li⊕(ker(f )∩N )
para d ∈ A e l ∈ M não-nulos.
Observemos que se L é um A-módulo finitamente gerado tal que L = L0 ⊕ L00 com L0 e L00
A-submódulos de L, então dim(L) = dim(L0 ) + dim(L00 ).
Daı́ dim(N ) = dim(hd.li) + dim(ker(f ) ∩ N )), o que implica dim(ker(f ) ∩ N ) = 0. Portanto
N = hd.li com l ∈ {ei }ni=1 .
Suponhamos agora que o resultado seja válido para n = k − 1. Se dim(N ) = k, o Lema 4.5
nos permite escrever N = hd.li ⊕ (ker(f ) ∩ N ). Ainda, (ker(f ) ∩ N ) ⊂ N que é livre finitamente
gerado, portanto ker(f ) ∩ N é um A-submódulo livre finitamente gerado. Daı́
dim(N ) = dim(hd.li) + dim(ker(f ) ∩ N ).
Donde segue que dim(ker(f ) ∩ N ) = k − 1. Utilizando a hipótese de indução, existem {e0ij }k−1
j=1
elementos da base de M e escalares {d0j }k−1 0 0
j=1 ⊂ A \ {0} com dj |dj+1 para j = 1, · · · , k − 2, tais que
k−1
M
ker(f ) ∩ N = hd0j .e0ij i.
j=1

Consideremos {dj }kj=1 ⊂ A \ {0}, com d1 = d e dj+1 = d0j e também {eij }kj=1 subconjunto da
base de M , onde ei1 = l e eij = e0ij . Assim
k
M
N= hdj .eij i.
j=1

Falta mostrar que d1 = d divide d2 . Pelo Lema 4.5, temos f (N ) = hd1 i e como d2 .ei2 ∈ N
e ei2 é um elemento da base de M . Então f (d2 .ei2 ) = d2 ∈ hd1 i, logo d1 |d2 , o que conclui a
demonstração.

5 Conclusão.
O conceito de base para A-módulos pode ser obtido como uma generalização natural do mesmo
conceito para espaços vetoriais, mas no caso em que A não é um corpo, nem sempre é possı́vel obter
uma base. No caso de existir uma base, é possı́vel generalizar alguns resultados de Álgebra Linear,
como a igualdade entre a cardinalidade das bases, como foi feito na seção 2 (a comutatividade
do anel é essencial, como foi mostrado no Exemplo 2.4 ). No entanto, no nosso caso, as coisas
ficam muito mais complicadas, já que mesmo as propriedades mais básicas dos espaços vetoriais
podem falhar, como vimos na seção 3, mesmo que o anel de escalares seja um domı́nio de ideais
principais. O caso em que o anel de escalares é um domı́nio de ideais principais é muito mais
simples que o caso genérico; neste contexto é possı́vel obter condições suficientes para garantir a
existência da base, é valida a propriedade de que um submódulo de um módulo livre finitamente
gerado é também livre finitamente gerado, e é possı́vel obter uma base do submódulo a partir de
uma base especial do módulo.

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Referências
[1] Salvatore, Flavia A. - Olea, Marı́a M., Anillos y Módulos semisimples - Módulos
f.g. sobre un d.i.p., Trabajo Final - Estruturas Algebraicas - Facultad de Ciencias Exactas,
Universidad Nacional de La Plata.

[2] M.F. Atiyah, Introduction to Commutative Algebra, Addison-Wesley, 1969.

[3] Arnaldo Garcia, Yves Lequain, Elementos de Álgebra, (Projeto Euclides) Rio de Ja-
neiro, RJ: IMPA, 2003, 2a ed.

[4] T.W.Hungerford, Álgebra, Springer-Verlag.

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