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Objetivos
•• Compreender a proposta de Piaget para a aprendizagem
•• Entender os conceitos básicos da Teoria Piagetiana
•• Aplicar a teoria à proposta educativa no ensino de adultos.
Apresentação do capítulo
Esse capítulo trata da teoria cognitiva da aprendizagem. Sua importância para
o ensino se dá pelo processo de construção de esquemas mentais a serem
levados em conta pelo professor. A qualidade da aprendizagem passa pelo
entendimento de que o desenvolvimento deve preceder a aprendizagem, ou
seja, o ensino não deve se adiantar ao desenvolvimento. Isto exige do edu-
cador um conhecimento da estrutura cognitiva do aluno. Cabe ao educador
promover situações desafiadoras que mobilizem a ação do sujeito.
Aprendizagem
Assimilação Acomodação
Construção de novos
esquemas mentais
Introdução
Na concepção Piagetiana, a aprendizagem está diretamente ligada às constru-
ções de esquemas mentais e, dessa forma, esse processo dependeria de uma
interação entre o sujeito e o objeto de conhecimento. Piaget conceitua a apren-
dizagem como uma “modificação duradoura (equilibrada) do comportamento,
em função das aquisições devidas à experiência” (PIAGET, 1994, p. 89).
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Parente, F. A. C; Pinto, G. A. T; Camelo, Z. M. C.
Assimilação
Acomodação
2. Estágios de desenvolvimento
O primeiro estágio é o sensório-motor que é caracterizado por uma inteligência
prática e no decorrer dela são desenvolvidas quatro principais noções: espaço,
causalidade, permanência de objeto e tempo. Este período tem início com os
reflexos que, aos poucos, vão se complexificando dando origem aos primeiros
hábitos motores e, posteriormente, as primeiras percepções organizadas.
Desde antes da formação da linguagem, graças às coordenações nas-
centes entre as ações, o sujeito e os objetos começam a diferenciar-se, re-
finando seus respectivos instrumentos de troca. Mas estes ainda continuam
sendo de natureza material, visto serem constituídos pelas ações, e uma lon-
ga evolução faz-se necessária até que se registre sua interiorização em ope-
rações que são sistemas de conjunto ou estruturas, suscetíveis de fechamen-
to, assegurando, assim, a necessidade das composições que elas envolvem,
graças ao jogo das transformações diretas ou inversas.
Piaget mostra através da observação de seus filhos que, nessa fase, o
objeto se impõe ao sujeito, ou seja, se você coloca uma bola na frente de uma
criança ela prontamente se move para ele como se fosse uma exigência. Se
nos transportarmos para a história das ideias, no pensamento cosmológico,
o pensamento também é ligado ao agir. Aqui o movimento é explicado pela
causa final, ele é visto como uma atração.
Saiba Mais
Cosmologia
Os pré-socráticos buscavam, além de falar sobre a origem das coisas, mostrar que a
physis (naturezas) passava por constantes mudanças e que essas eram provocadas
por alguma coisa que tentavam conhecer. Por causa das viagens marítimas, da inven-
ção do calendário, da invenção da moeda, do surgimento das polis, da invenção da
escrita e da política os gregos passaram a perceber que nada ocorria por acaso e que
não existia a interferência de deuses relatados no período mitológico.
A cosmologia surgiu como a parte da filosofia que estuda a estrutura, a evolução
e composição do universo, sendo a primeira expressão filosófica apresentada no Pe-
ríodo pré-socrático ou cosmológico. Suas principais características são: a substituição
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Teorias da Aprendizagem
Podemos dizer que avançamos por que partimos de ações diretas (inte-
ligência prática) para ações interiorizadas (inteligência representativo-simboli-
ca) e conceitualizadas (inteligência lógica).
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Parente, F. A. C; Pinto, G. A. T; Camelo, Z. M. C.
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Jogo simbólico, também O pensamento ainda não tem o estatuto lógico, sendo pré-lógico. Duas
chamado de faz-de- formas extremas de pensamento: 1. Pensamento por incorporação ou assimi-
conta, caracteriza-se por
recriar a realidade usando
lação puras, cujo egocentrismo exclui toda objetividade (jogo simbólico)10; 2.
sistemas simbólicos, ele Pensamento adaptado aos outros e ao real (intuitivo).
estimula a imaginação Se quisermos fazer um paralelo com a história das ideias, este período é
e a fantasia da criança,
favorecendo a interpretação
equivalente ao pensamento medieval que, por sua vez, apoia-se na visão teocên-
e ressignificação do trica (as crianças se apoiam na visão egocêntrica) que leva a sociedade a pren-
mundo real. É considerado der-se em crenças desenvolvidas pela igreja que tem uma forma de ver o mundo
por diversos autores de uma maneira pré-lógica, ou seja, apoiada na fé e não na razão (as crianças do
como fundamental para
o desenvolvimento,
período pré-operatório também se apoiam na fé que elas têm nelas mesmas que
favorecendo a interação é guiada pela percepção). O mundo sobrenatural apresentado nesse paradigma
com o outro e possibilitando confunde-se com o pensamento que as crianças usam. Era um mundo de cer-
a expressão das emoções tezas, não havia lugar para a suspeita (assim como no desenvolvimento infantil).
e percepções vivenciada
na relação que a criança, Na caracterização desse período, Piaget enfatiza mais o que a criança
estabelece com o mundo real. não pode fazer do que o que ela pode, dado que a estrutura mental da criança
Muitos autores acreditam pré-operatória possui apenas uma semi-lógica e não uma estrutura operatória,
que essa atividade
estimule o desenvolvimento
sendo ainda fortes os vínculos com os esquemas de ação.
psicomotor, cognitivo, Ainda no fim do período pré-operatório a descentração do pensamento
emocional, social e (entre conceitos ou ações conceitualizadas) se inicia. Podemos perceber a
cultural das crianças.
Entre outros, Piaget
passagem de um egocentrismo11 bastante radical para uma descentração
valoriza a contribuição relativa através da objetivação e da espacialização (como aconteceu no pe-
do jogo simbólico para o ríodo sensório-motor).
desenvolvimento cognitivo
A aquisição do pensamento reversível12 é o que garante o acesso da
e afetivo-emocional.
Já Vygotsky, destaca criança ao próximo estágio caracterizado de operatório. Esse se subdivide
a contribuição social e, no primeiro momento, as operações mentais são concretas, pois ainda exi-
proporcionada por essa gem um nível de experiência do sujeito. A criança deixa de pensar através da
atividade.
percepção e passa a pensar através de operações mentais.
In: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Jogo_ As operações permitem uma pré-correção dos erros, graças ao duplo
simb%C3%B3lico jogo das operações diretas e inversas, ou seja, de antecipações e retroações
combinadas ou, mais precisamente, de uma antecipação possível das pró-
prias retroações.
O pensamento lógico caracteriza a possibilidade de reverter mental-
mente as ações e dá origem ao pensamento operatório concreto que, embora
lógico, ainda precisa de um suporte material, concreto para se apoiar. O
pensamento dessa fase é dependente do conhecimento que a criança tem
do mundo, ela somente pode pensar baseada no que ela experienciou e não
pode fugir disso.
Assim como o período operatório, o paradigma antropológico se apoia
na razão (e a razão não poderia ser pensada como um tipo de experiência?) e
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Teorias da Aprendizagem
negação (N); reciprocidade Essas capacidades operacionais formais fazem parte do grupo iden-
(R) e correlatividade (C).
tidade, negação, reciprocidade e correlativa (INRC)13. No que diz respeito à
educação de adultos, “não se trata de transmitir um conhecimento que o sujei-
to não teria fora desse ato de transmissão, mas sim de fazer-lhe cobrar a cons-
ciência de um conhecimento que o sujeito possui, porém sem ser consciente
de possuí-lo” (FERREIRO, 1985, p. 24). Muito do conhecimento do adulto
existe de maneira não sistematizada, por isso, a compreensão do processo
de aprendizagem em Piaget torna-se tão elucidativo. É preciso tornar o aluno
o centro do processo de ensino, conhecê-lo, para entender seus esquemas
mentais e, a partir disso, criar situações desafiadoras que faça o sujeito sair do
seu estado de equilíbrio cognitivo.
A inteligência formal ou hipotético-dedutiva liberta o pensamento atra-
vés da possibilidade de elaborar teorias abstratas; de operar sobre hipóteses
ou proposições; de criar representações de representações de ações possí-
veis; de realizar uma livre atividade de reflexão espontânea.
Síntese do capítulo
Este capítulo apresentou os conceitos básicos da epistemologia genética de
Jean Piaget, tais como: assimilação, acomodação, a noção de esquema men-
tal. Além dos fatores que contribuem para o desenvolvimento como: matura-
ção, experiência física, experiência social e equilibração.
Piaget trouxe inúmeras contribuições para o processo de ensino não
apenas na intervenção do professor, mas também no currículo brasileiro, prin-
cipalmente na distribuição do conteúdo a ser ministrado e a idade ideal para
que isso ocorra.
No ensino de adulto Piaget tem contribuído quando explicita o pensa-
mento formal e a construção de esquemas mentais dentro do grupo INRC.
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Teorias da Aprendizagem
Videos
Introdução a Psicologia do Desenvolvimento (Autor: Univesp tv) Duração:
18m14s
O programa explica qual a pergunta e o que estuda a Psicologia do Desen-
volvimento, dando ênfase ao trabalho de Jean Piaget. Outros autores, como
Vygotsky e Wallon, são citados, mas é na teoria de Piaget que o programa
se concentra. Para tratar do assunto, são entrevistados os professores Zélia
Ramozzi Chiarottino, Yves de La Taille e Maria Thereza Costa Coelho.
Acesso: http://www.youtube.com/watch?v=5WA1pmu-pQ8
Jean Piaget e as fases do desenvolvimento (Autor: Fran Maceno)
Duração: 6m46s
Uma apresentação sobre Piaget e as fases de desenvolvimento elaboradas e
defendidas por ele.
Acesso: http://www.youtube.com/watch?v=EnRlAQDN2go
Jean Piaget – Educação (Autor: Vídeos educativos) Duração: 14m06s
Jean Piaget: sua vida e sua obra.
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Parente, F. A. C; Pinto, G. A. T; Camelo, Z. M. C.
Acesso: http://www.youtube.com/watch?v=n0UZT1UCzec
Coleção Grandes Educadores: Piaget (Autor: Atta Mídia e educação) Dura-
ção: 1h54m50s
Yves de la Taille apresenta a vida, a obra e os principais pensamentos de Jean Piaget.
Acesso: http://www.youtube.com/watch?v=hspo9g_4vwg
Referências
FERREIRO, E. e TEBEROSKY. Psicogênese da língua escrita. Porto Ale-
gre: Artes Médicas. 1985.
PIAGET Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Univer-
sitária, 1994.
PIAGET, J. Epistemologia genética. São Paulo: Martins fontes, 1990.
SALVADOR, MESTRE, GONI, GALLART, Psicologia da educação. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.