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JOÃO PESSOA/PB
2007
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JOÃO PESSOA/PB
2007
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BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________
Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita PPGE / UFPB
(orientadora)
________________________________________________________
Profa. Dra. Ana Doziat Barbosa de Melo PPGE / UFPB
(examinadora)
_______________________________________________________
Profa. Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues PPGE / UFPB
(examinadora)
________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Aparecida Ramos de Meneses - PPGSS / UFPB
(examinadora)
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DEDICO
AGRADECIMENTOS
Aos meus queridos pais, Alódio Onofre Rocha (in memória) e Marly Cordeiro Rocha pelo
amor, exemplo e presença firme em toda minha vida.
Ao meu tio, Professor Dr. Airton Cordeiro (in memória), quando, em julho de 2000, ainda no
seu leito de morte, ter me incentivado a procurar outras possibilidades na minha vida
profissional, estimulando-me a seguir o caminho da docência. E hoje o tenho como grande
referência na minha vida.
Aos meus queridos sogros, Elba Coelho Rodrigues de Carvalho e Manoel Carvalho, por
compartilharem comigo o filho amado e me fazerem sentir amada também.
Ao meu bem amado Elmano, companheiro em tudo, pelo amor incondicional, por relevar
minhas ausências, por entender e aceitar minha essência, por partilhar comigo meus sonhos.
As minhas filhas amadas, Brenda Cássia e Bruna Carla, por serem o motivo maior de tudo o
que faço, penso e sou. Por elas não existe luta vã.
Aos meus irmãos Rita de Cássia, Joaquim Cordeiro e Marcone Cordeiro, pelo aconchego da
família, pelos sobrinhos (as) amados (as), por me fazerem sentir feliz quando estamos juntos.
A minha orientadora muito estimada, Profa. Dra. Edineide Jezine Mesquita, pela forma
generosa com que me acolheu em sua vida e pelo esmero e afinco na orientação de meus
passos nessa dissertação, fazendo-me sentir totalmente amparada em sua competência e
sabedoria.
As professoras Dra. Janine Marta Coelho Rodrigues e Dra. Ana Doziart B. Melo, pela tão
nobre acolhida e significativa contribuição à minha pesquisa, com competência e oportunas
intervenções.
À professora Dra. Maria Aparecida Ramos de Meneses, quando no tempo de graduação nesta
universidade, testemunhei suas mobilizações, empenho e participação nas atividades políticas
e sociais nos primórdios dos anos 80/90 até os dias atuais. Agradeço de coração e sinto-me
honrada com a vossa presença nesse grande momento que a academia me proporciona.
Ao professor Dr. Roberto Jarry Richardson, nome forte da metodologia cientifica , agradeço
de coração, os questionamentos oportunos, as provocações angustiantes e pertinentes, que me
levaram às inquietações e enfrentamentos na busca de um maior aprofundamento teórico -
metodológico que respaldasse e alicerçasse a pesquisa ora apresentada.
À professora Maria Deusa, pela valiosa e generosa contribuição na elaboração deste aporte
teórico, reconhecendo-a como uma grande estudiosa na área das representações sociais.
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À FUNAD, onde dos meus 42 anos de existência, 15 foram dedicados a ela com amor à causa
das pessoas com deficiência. Onde tive a honra de implantar serviços em prol dessa grande
causa.
As colegas do mestrado Isabelle, Cristiane, Cris Olinda, Valeria, entre outros, por ter estado
no lugar exato nas horas em que mais precisei, fazendo-me sentir mais tranqüila e confiante. E
a todos da 26ª. Turma do PPGE/UFPB, pelos bons e emocionantes momentos que ficamos
juntos.
Aos usuários que tão gentilmente contribuíram para minha dissertação, através das suas falas,
resgatando e compartilhando seus sentimentos, momentos de angustias e de esperanças por
dias melhores ou vendo nos seus olhos a ingenuidade do que nada podia ser feito para que
esses dias melhores pudessem vir.
Á Coordenadora da CODAFI, representada por Dra. Leila Mônica Gonçalves, os meus mais
sinceros agradecimentos pela paciência, amizade e confiança depositada durante os anos que
convivemos na FUNAD.
Aos colegas docentes da Clínica Escola de Fisioterapia do UNIPÊ, Profa. Carla Fechine,
Aldeide Rocha, Socorro Gadelha, que respaldaram minhas ausências de maneira tão
carinhosa.
À Comunidade Católica Nossa Senhora Menina, que participo e convivo há oito anos, e que
tem como membros: Maria Eulina Aguiar, Alice Ângelo, Moema Maia, Graça Baptista, Vera
e todos os abençoados de caminhada cristã.
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RESUMO
ABSTRACT
The actual research had been reserved to investigate handicapped social representations facing
exclusion / inclusion who participate in Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de
Deficiência FUNAD activities, located in João Pessoa, PB. It comes from aspects about
handicapped person exclusion/inclusion context, searching for citizenship. The aim of this
study was to give voice to these persons in order to, through their words; they could turn
explicit the feelings, meanings and representations that rise out of the quotidian.
Understanding one can attitudes and unveil the existing contradictions in inclusion and
citizenship proposal. Form study analyses we chose Moscovici Social Representation Theory
as theoretical- methodological as a support of a qualitative research. Seven persons were
interviewed, who attended the institution previously referred, between the months of
September and October of the current year. For data analysis it was selected the content
analysis proposed by Bardin, from the theoretical categories exclusion, inclusion and
citizenship, where they search to identify the social representations that these persons have
about the exclusion/inclusion process and citizenship. The interviews analysis with the
subjects involved in the research showed that those feel welcome in the institutional context
that attend to, but the majority of the research subjects doesn t understand the inclusion,
citizenship and rights proposal meaning, while citizens in the social context that are inserted.
The study indicates that handicapped persons still bring with them the common sense about
various feelings, among them we detach: the stigmatization and accommodation feelings that,
in turn, remit, to my understanding, to a subordination alienation and ignorance attitude, about
their rights as citizens in this inclusion perspective that the capital society, promoter of social
exclusion, gives to them.
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... vi
ABSTRACT .................................................................................................................. vii
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11
APÊNDICE................................................................................................................... 121
ANEXO...........................................................................................................................
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11
INTRODUÇÃO
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Observamos, de uma maneira geral, nas suas queixas diárias o desinteresse, a despolitização e
a falta de perspectivas diante da causa da pessoa com deficiência.
Sem querer negar a importância dessas questões, sentíamos o interesse por outro
aspecto que a nosso ver se fazia mais urgente conhecer: o que imaginavam esses cidadãos
sobre o contexto da exclusão/inclusão em que estavam envolvidos. Dento dessa compreensão
Bicudo e Espósito (1997, p. 76) enfatizam que o pesquisador em educação defronta a tarefa de
desvelar e tornar explicita a constituição dos acontecimentos da vida diária. Para tanto,
procura situar-se diante dos fenômenos de forma que estes possam mostrar-se na sua própria
linguagem, ou seja, nas várias formas pelas quais eles podem aparecer tipicamente.
Assim, partindo dos próprios questionamentos e diante das indagações já elencadas,
buscamos um método que fosse capaz de revelar não apenas possíveis respostas, mas indícios
do contexto da construção destas. Uns métodos que nos possibilitasse entender como as
pessoas com deficiência se situam nessa sociedade de histórico excludente e sob perspectivas
inclusivistas, em que se parte do princípio geral que essas pessoas são sujeitos historicamente
contextualizados, mesmo com rótulos e estigmas agregados por esta sociedade, possuem
potencialidades, têm seus direitos e deveres enquanto pessoa, cidadão pela sua própria
condição de ser humano.
Historicamente, essas pessoas têm sido relegadas aos mais esdrúxulos processos de
exclusão, desde os manicômios até prisões domiciliares, por se acreditar serem incapazes de
processos socializadores. Essa situação, embora venha sendo revista desde o final do século
passado, através de significativos avanços legais de promoção da inclusão, ainda é grave,
perdurando a um senso comum da discriminação arraigado há séculos. Neste sentido,
investigar a concepção das pessoas com deficiência acerca das práticas inclusivistas,
vivenciadas no contexto social e educacional em que estão inseridos, poderá possibilitar um
novo olhar sobre sua condição de existência na sociedade e as potencialidades de organização
e de lutas em busca da sua cidadania no contexto social que estão envolvidos.
A Cidadania se revela na concretização de seus direitos civis, sociais e políticos,
representando tais leis o referencial necessário para a realização das ações dessa natureza.
Assim, garantir a sua acessibilidade, o trabalho, o acesso à saúde são exemplos básicos de
cidadania que envolve não só a pessoa com deficiência, mas todos os cidadãos que têm seus
direitos renegados por uma sociedade eminentemente excludente, uma vez que estereótipos e
discriminações impedem que essas pessoas excluídas do contexto social sejam aceitas. Nesse
processo de exclusão e inclusão tem-se observado que uma das principais fontes de
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que nos encaminham para a escolha dos sujeitos e do local da pesquisa, na busca de
documentos oficiais.
Foi apresentado o Termo de Consentimento livre e esclarecido aos sete entrevistados,
que freqüentam a Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD,
entre os meses de setembro e outubro do corrente ano. Conforme solicitação prévia junto ao
Comitê de Ética do Centro de Ciência da Saúde (CCS), no que rege os aspectos éticos
referentes à pesquisa em seres humanos, preconizados pela Resolução Nº. 196 de 10 de
outubro 1996 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde capítulo II, sendo
asseguradas aos participantes do estudo, informações sobre os objetivos da mesma, a
privacidade, o livre consentimento, após terem sido convenientemente esclarecidos, bem
como a liberdade de desistir da participação em qualquer momento sem prejuízo para a sua
assistência.
A pesquisa teve um caráter qualitativo, visto que este tipo de pesquisa, por se tratar da
necessidade de compreensão do pensamento, é entendido por Richardson (1999, p. 90) como
a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de
características ou comportamentos.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi à entrevista individual, captada por
um gravador digital e depois transcrita e digitalizada. A entrevista é uma técnica importante
que permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas. [...] o termo
entrevista é construído a partir de duas palavras, entre e vista. Vista refere-se ao ato de ver, ter
preocupação de algo. Entre indica a relação de lugar ou estado no espaço que separa duas
pessoas ou coisas. Portanto o termo entrevista refere-se ao ato de perceber realizado entre
duas pessoas (RICHARDSON, 1999, p. 207).
A técnica metodológica que foi utilizada para a interpretação dos dados das entrevistas
foi o da Análise de Conteúdo proposta por Bardin. A referida autora a define como [...] um
conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção
/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1988, p. 42).
Pautamos-nos pelo estudo com a Teoria da Representação Social, pelo fato de
acreditarmos que através dela poderemos entender as mais significativas expectativas e ou
anseios destes sujeitos, na perspectiva de que os resultados e as conclusões contribuam para a
própria organização e reorganização desse segmento social. Além de, é claro, poder contribuir
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também como referência para a elaboração do processo desses sujeitos, diante da trajetória de
inclusão desse segmento e dos movimentos sociais de que os mesmos fazem parte.
Com base nas argumentações até agora elencadas para a construção dessa pesquisa, a
dissertação foi estruturada em quatro capítulos distintos, que foram de grande relevância para
o entendimento e suporte teórico do fenômeno pesquisado. No primeiro capítulo desta
pesquisa, encontra-se a Representação Social como aporte teórico-metodológico da pesquisa,
seguido pelo caminho metodológico e aspectos éticos da pesquisa. Encontramos na Teoria da
Representação Social de Serge Moscovici, que norte para o processo de compreensão deste
estudo, e finalizamos este capítulo, com o significado das representações Sociais no campo da
deficiência. O segundo capítulo tratou da contextualização da questão da deficiência e
cidadania, demonstrou os aspectos históricos e conceituais da deficiência e da pessoa com
deficiência e a cidadania e os movimentos sociais na perspectiva da inclusão.
O terceiro capítulo delineia o contexto histórico dos processos de exclusão e inclusão,
abordando aspectos históricos da produção da exclusão e inclusão, e um breve histórico das
campanhas institucionais e políticas inclusivas, além do processo de inclusão no município de
João Pessoa e a FUNAD como lócus da pesquisa. O quarto capítulo, intitulado Perfil da
pessoa com deficiência frente ao lócus da pesquisa e sua representação social frente á inclusão
/exclusão e cidadania, tem como subtítulos O perfil da pessoa com deficiência frente à
FUNAD e A representação da pessoa com deficiência frente à exclusão/inclusão e cidadania.
Tais análises têm como base teórica autores como Serge Moscovici e colaboradores como
Denise Jodelet, Marcos Reigota, Laurence Bardin, dentre outros já citados. E no campo
temático da exclusão / inclusão da pessoa com deficiência, autores como Mittler (2003),
Sassaki (2006), Mazzotta (1996), Rodrigues (2006), Santos e Paulino, Freire (1980) dentre
outros.
E, por último, são apresentadas as considerações finais levantadas ao longo das
análises, na perspectiva não se esgotar s reflexões sobre o tema, mas, ao contrário, de
possibilitar aos leitores, a partir destas, o levantamento de outras hipóteses relacionadas com a
temática abordada.
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CAPÍTULO 1
e especificidade de que são portadoras as pessoas com deficiência. A referida instituição está
localizada no município de João Pessoa/PB, atende em média, segundo estatística fornecida
pela diretoria técnica.
Os usuários1 escolhidos para a entrevista foram determinados conforme marcação de
visitas às coordenadorias e disponibilidades de horário. Portanto foram visitadas na Fundação
Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD, as coordenadorias de
atendimento ao deficiente físico e de atendimento ao deficiente visual, entre os meses de
setembro e meados de outubro do corrente ano.
As entrevistas foram individuais, em que a pesquisadora apresentou-se ao
entrevistado (a), munida de uma pasta com as entrevistas, termo de consentimento e um
gravador digital para armazenamento das falas dos respondentes. Primeiramente, foi
apresentado aos mesmos o propósito da pesquisa e indagado sobre a disponibilidade de sua
contribuição na referida pesquisa. Com o consentimento dos participantes, procedeu-se à
gravação das entrevistas, que foram transcritas posteriormente, respeitando-se com exatidão a
maneira como cada um se expressou.
De acordo com os aspectos éticos referentes à pesquisa em seres humanos,
preconizados na Resolução no. 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde
do Ministério da Saúde capítulo II, foram assegurados aos participantes deste estudo,
informações sobre os objetivos do mesmo, a privacidade, o livre consentimento, após terem
sido convenientemente esclarecido, bem como a liberdade de desistir da participação em
qualquer momento sem prejuízo para a sua assistência. Estes aspectos serão observados
através do termo de Consentimento Livre e Esclarecidos elaborado pela pesquisadora e
adotado nesta pesquisa.
Como técnica de coleta dos dados desta pesquisa, recorreu-se à técnica de entrevista
semi estruturada, com o intuito de favorecer a livre expressão dos sujeitos e estimular a
abordagem da temática em estudo uma vez que, esta nos permite apreender o significado dado
pelos respondentes. Para tanto, utilizou-se um roteiro abrangendo os seguintes eixos: sobre a
identificação dos usuários, os serviços da FUNAD e sobre o tema objeto da pesquisa a
inclusão, exclusão e a cidadania.
Os itens contidos no roteiro das entrevistas seguiram uma seqüência levando em
consideração os seus objetivos, com o cuidado de não induzir às respostas. Ou seja, foram
divididos em partes distintas. De início, colhemos algumas informações visando
1
Conforme estatuto da Instituição FUNAD/1989, designação dada a todas as pessoas que se submetem a um
ou mais serviços oferecidos na Instituição.
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caracterização dos sujeitos entrevistados quanto a sua idade, grau de instrução, tipo de escola
que estudou profissão e dificuldades escolares. Em seguida, colhemos dados sobre a FUNAD
e, por último, enfocamos o objeto do estudo propriamente dito, que são as categorias inclusão,
exclusão e cidadania, conforme o roteiro de entrevista contido no apêndice dessa pesquisa.
O método para análise dos dados e para a caracterização dos sujeitos foi o de análise
de conteúdo, comumente utilizado em pesquisas qualitativas, cujos dados foram planilhados e
analisados. O conjunto destas informações veio compor o perfil dos entrevistados, bem como
o cenário em que foram construídas as suas representações. O material obtido nas entrevistas
foi analisado, segundo a técnica elencada pelo referido método.
De acordo com Bardin (1988, p. 109) a análise de conteúdo é aplicável a qualquer
comunicação e é definida como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às
condições de produção e percepção (variáveis inferidas) destas mensagens .
Entre as diversas técnicas de análise de conteúdo, optamos pela análise por categoria
visto que a mesma se baseia na decodificação de um texto em diversos elementos, os quais
são classificados e formam agrupamentos analógicos. Entre as possibilidades de
categorização, a mais utilizada, mais rápida e eficaz, sempre que se aplica aos conteúdos
diretos (manifestos) e simples, é a análise por temas ou análise temática; uma vez que é
habitualmente empregada nos estudos sobre motivações de opiniões, atitudes, valores, crenças
(BARDIN, 1988; FRANCO, 1986; RICHARDSON, 1999).
Para análise dos conteúdos das entrevistas, partiu-se para a classificação que
denominamos categorização. De acordo com Bardin (1988, p.118), a etapa de categorização
não é obrigatória na análise de conteúdo, mas a maioria dos procedimentos inclui a
categorização, pois facilita a análise da informação .
[...] como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma
de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico.
Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este devido
a sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos
cognitivos e das interações sociais (JODELET, 1990, p. 22).
Sabendo-se que a tarefa primordial a que propõe Mannhein é buscar as origens sociais
do conhecimento e, apesar de o mesmo não usar o termo representações, há uma forte
coincidência entre seu pensamento e o pensamento Durkheiminiano. Nesse sentido, toda
forma de pensamento está inserida numa situação histórico-social concreta e precisa ser
compreendida sempre se tomando por base sua configuração coletiva específica.
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[...] preservar o vínculo entre eles, prepará-los para pensar e agir de modo
uniforme. Ela é coercitiva por isso e também porque perdura pelas gerações
e exerce uma coerção sobre os indivíduos, traço comum a todos os fatos
sociais (MOSCOVICI, 1978, p.47).
de se preencher uma falta: de uma parte, preencher o sujeito social de um mundo interior; de
outra parte restituir o sujeito individual ao mundo exterior, isto é, social (MOSCOVICI,
1991, p.9).
No entanto, Andrade (2000, p.78) esclarece que Moscovici parte do princípio de
Durkheim que explica a irredutibilidade do pensamento coletivo e dos princípios que regem o
pensamento individual, como também, a ligação dos conteúdos e da estrutura do pensamento
coletivo às formas de organização social . Contudo, detecta-se que Durkheim não aprofunda
nem explica a pluridade dos modos de organização do pensamento, em suas reflexões, as
representações configuram um tipo bem geral de fenômenos psíquicos e sociais que
incorporam a ciência, a ideologia, o mito dentre outros.
Ao empreender a tarefa de distinguir todos os fenômenos como o mito, a ideologia e
as lendas. Moscovici, com o conceito de representações sociais, dá um passo à frente, em
relação à noção de representação social , mais ligada à análise das sociedades tradicionais. O
autor considera o conceito de representações sociais mais adequados à análise das
sociedades modernas (ANDRADE, 2000).
Para Jodelet (2001, p. 22) diz que Moscovici renovou a análise, quando insiste sobre a
especificidade dos fenômenos representativos nas sociedades contemporâneas, caracterizada
por: intensidade e fluidez das trocas e comunicações; desenvolvimento da ciência; pluralidade
e mobilidade sociais.
Esse pensamento vem, num sentido mais amplo, justificar a mudança adjetiva de
coletiva a social, empreendida por Moscovici, na compreensão da concepção de
representação. Em outras palavras, o caráter social das representações transparece, segundo
Moscovici, na função específica que elas desempenham na sociedade, qual seja, a de
contribuir para os processos de formação de condutas e de orientação das comunicações
sociais (REIGOTA, 2002, p.69).
O trabalho de Moscovici surgiu com sua tese de doutoramento, La Psychanalise, Son
Image Public , transfigurando-se como um marco referencial no campo de pesquisas e
representação social. O estudo tratou das representações sociais da psicanálise, pesquisadas
por meio de questionários e de escalas, com os parisienses, no período que vai de meados para
fins dos anos 50, centralizando o enfoque das atitudes, através de manifestações das opiniões.
Segundo Moscovici (2001), as respostas aos questionários expressavam opiniões que
constituem uma primeira fase da formação das atitudes. E a partir de então, ele lança uma
hipótese, posteriormente comprovada, de que cada um desses universos de opinião
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O que lhes dá esse caráter não é o fato de elas serem autônomas, ou que elas
sejam comuns, mas sim o fato de seus elementos terem sido construídos
através da comunicação e estarem relacionados pela comunicação. As
coações que tal fato exerce suas regras de interação e influencias determinam
a estrutura especifica de conhecimento e linguagem daí resultante
(MOSCOVICI, 1978, p. 29).
29
Entendendo ainda que as representações sociais possam ser como entidades vivas , a
partir da compreensão de que se caracterizam como tais, pois se movimentam, circulam e se
cristalizam no universo cotidiano através de uma fala, de um encontro e de um gesto nas
comunicações que se estabelecem; ao mesmo tempo em que são capazes de propor e provocar
transformações em todos os elementos envolvidos: os sujeitos, os objetos representados e as
relações. E mais, [...] as representações sociais correspondem, por um lado, a substancia
simbólica que entra na elaboração e, por outro, à prática que produz a dita substância . [...]
(MOSCOVICI, 1978, p.41).
Enquanto fenômeno da dimensão psicossocial, Moscovici nos fala da complexidade,
não de apreensão das representações sociais em si, mas, sobretudo, da sua conceituação. E
nessa perspectiva complementa: [...] se a realidade das representações sociais é fácil de
apreender, não o é o conceito (MOSCOVICI, 1978, p.41).
Por conseguinte, em geral, as preocupações de Moscovici acerca desse campo de
estudo se fundamentaram na direção de re-significar ou reconceitualizar a Psicologia Social, e
nesse sentido, coloca-se: [...] uma das tarefas da Psicologia Social deveria ser então a de
coletar tais representações e descrevê-las sistematicamente em outras palavras, estabelecer
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[...], esta é concebida como reflexo interno de uma realidade externa. Por
conseguinte, é a reprodução passiva de um dado imediato. O indivíduo
foi escrito carrega em sua memória uma coleção de imagens do mundo
sob seus diferentes aspectos . Essas imagens são construções combinatórias,
análogas às experiências visuais. São independentes, em grupos diversos
(MOSCOVICI, 1978, p.47).
Supõe-se ainda que as imagens sejam sensações mentais resultantes das impressões
deixadas pelos objetos ou pelas pessoas em nosso cérebro. Em seu processo de elaboração se
dá uma espécie de seleção, de acordo com o que lhe apraz ou ainda de acordo com a coerência
que lhe é necessária. E o mais fascinante é que: Elas efetuam sempre uma filtragem e
31
Para Moscovici (1978, p. 50), as representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu
status é o de uma produção de comportamentos e de relações com o meio ambiente, de
uma ação que modifica aqueles e estas, e não de uma reprodução desses comportamentos ou
dessas relações, de uma ação a um dado estímulo exterior.
De acordo com a exposição, podemos concluir que as representações sociais não
podem ser resumidas a opiniões sobre ou imagens de , mas como um corpo teórico, uma
ciência coletiva sui generes , que objetiva interpretar, elaborar e reelaborar a realidade. Não
se pretende, com isso, rebaixar ou obscurecer a valia ou significância dos conceitos de
imagem, de opinião e de atitude. Pelo contrário, deve-se reconhecer a pertinência destes como
elementos constitutivos das representações sociais.
O que se pretende dizer é que são conceitos que não tem preocupação com as relações
que direta ou indiretamente os produzem, não deve ser confundido com o conceito de
32
representação social em si, pois que a centralidade deste conceito último são as relações
sociais e interações que os produzem. Daí que os primeiros devem ser reconhecidos pela sua
importância, mas como elementos constitutivos deste último, ou seja, as atitudes, as imagens
e as opiniões como elementos constitutivos das representações sociais.
O sujeito é sua representação nesse universo, sendo que o sujeito apresenta-se distante
do objeto. É ele que torna o objeto ausente, determina o caráter estranho do objeto é o
indivíduo ou o grupo. Se há de se estranhar à ciência, a filosofia ou a política é porque, como
se sabe, estas foram forjadas, desenvolvendo grandes esforços para nos excluir, para não
permitir um reconhecimento nelas. Nesse sentido, Moscovici reforça:
Nessa direção, Jodelet (2001, p.27) ainda expressa que a representação social tem com
seu objeto uma relação de simbolização (substituindo-o) e de interpretação (conferindo-lhe
significações). Estas significações resultam de uma atividade que faz da representação uma
construção e uma expressão do sujeito.
33
Pode-se dizer ainda que objetivar é tornar o conceptual prático, concreto, vivenciável
materializá-lo, torná-lo natural, ao corrente. É fazê-lo circulante nas relações sociais,
influenciando-as e sofrendo influências destas.
A amarração ou ancoragem, processo através do qual a sociedade e/ou o grupo opera a
conversão do objeto social em instrumento de que ela e/ou ele pode fazer uso. Através desse
processo, o objeto passa a situar numa escala de preferência nas relações sociais correntes. Ou
35
ainda, [...] designa a firme inserção de uma ciência na hierarquia de valores e entre as
operações realizadas pela sociedade (MOSCOVICI, 1978, p. 13).
É através da ancoragem que um saber torna-se útil a todas. Diz-se que tal nível foi
atingido quando a maioria na coletividade toma para si o conhecimento a ponto de vivenciá-
lo, e, por conseguinte, mobiliza as relações sociais, noutras palavras Jodelet (2001) reforça:
ainda pela sua propensão à expansividade pelo corpo social. A representação surge no corpo
social e a ele se reverte, mediada ou engendrada pela comunicação. Sendo assim, pode se
encontrar a dimensão social das representações.
Em outras palavras,
Para Moscovici (1978 p. 76-77) qualificar uma representação de social não basta para
definir o agente que a produz. Saber quem produz esses sistemas é menos instrutivos do que
saber por que se produz. Para se poder apreender o sentido do qualitativo social é preferível
enfatizar a função a que ele corresponde do que as circunstancias e as entidades que reflete.
Esta lhe é própria, na medida em que a representação contribui exclusivamente para os
processos de formação de condutas e de orientação das comunicações sociais.
Enquanto as representações sociais cumprem a função de formação de condutas e
orientação das comunicações sociais, Moscovici, a respeito das funções da ciência e da
ideologia, nos diz: A primeira visa o controle da natureza e tem por finalidade contar a
verdade sobre ela; a segunda esforça-se antes por fornecer um sistema geral de metas ou em
justificar os atos de um grupo humano (MOSCOVICI, 1978, p. 77).
CAPÍTULO 2
CONTEXTUALIZAÇÃO DA QUESTÃO DA
DEFICIÊNCIA E CIDADANIA
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O termo cidadania vem ganhando cada vez mais importância, embora, ainda, boa parte
da população desconheça o seu real significado e as suas implicações no processo de
emancipação dos homens e mulheres na compreensão dos seus direitos e deveres na sociedade
em que estão inseridos. Ao transformar-se, esta mesma sociedade repercute e atualiza de
forma significativa elementos que contribuem para a evolução conceitual do termo cidadania,
abrangendo nos dias atuais, uma concepção bem mais ampla e de complexidade tal, que as
concebidas e formuladas em outras épocas. Entende-se que à medida que a sociedade se
transforma se conscientiza e se torna mais humanizada. Nesse ínterim amplia-se também, o
conceito de cidadania no sentido do seu real significado, para outros segmentos da
comunidade que, muitas vezes, eram esquecidos ou ignorados em seus direitos fundamentais.
Nesse sentido, se faz necessário entender suas inter-relações e implicações relacionadas às
pessoas com deficiência no contexto da exclusão e perspectivas de inclusão, principalmente
quando se busca refletir sobre questões que são consideradas básicas para a prática diária do
direito e o exercício do que vem a ser cidadania na coletividade e da cidadania da pessoa com
deficiência nesse contexto de inserção.
mantém o sentido com que estão originalmente empregados tais termos, o que, comumente,
tem gerado inúmeras ambigüidades e distorções no entendimento e na aplicação de seus
significados.
Entendemos que o critério e o cuidado no emprego dos referidos termos e expressões
não configuram preciosismo lingüístico, mas uma necessidade que se impõe para a remoção
de barreiras atitudinais, decorrentes de juízos equivocados sobre a capacidade e as aptidões
das pessoas com deficiência. Entre esses destacamos deficiência , incapacidade e
desvantagem ou impedimento . Portanto, o conceito utilizado para deficiência e sua
definição passam por dimensões descritivas e valorativas, tendo sempre um caráter histórico
concreto, de acordo com um determinado momento, num contexto sócio-econômico e cultural
específico.
Segundo o Programa de Ação Mundial para Pessoas com Deficiência, publicado em
1997, pela Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe os seguintes conceitos:
Desta forma, a tendência entre os profissionais que trabalham com pessoas que
apresentam algum tipo de deficiência é a utilização de uma nomenclatura próxima à OMS, em
que permanece explicita a concepção de casualidade mecânica, isto é, o impedimento leva à
deficiência e esta, por sua vez, à incapacidade .
No sentido amplo da questão, outro aspecto que envolve a deficiência não é inerente
apenas à pessoa que possui: ele engloba não apenas o que o indivíduo traz de desvantagens,
como o que a sociedade traz em si mesma de incompetência. Sendo assim, o sentido da
deficiência, na vida de uma pessoa, é resultado do entrelaçamento de sua história pessoal com
o meio social onde vive. Sobre o indivíduo considerado deficiente incidirá o estigma da
incapacidade , do impedimento, da invalidez . Recaindo sobre o mesmo o fardo da
opressão e da impotência tão visivelmente expressada pela sociedade que vivemos.
46
O autor citado acima acrescenta que é aceitável que se diga ou escreva pessoas
deficientes . O que não se aceita mais é o uso dos vocábulos deficientes como um
substantivo. As pessoas deficientes podem apresentar condições atípicas, tais como:
deficiências, mental, física, auditiva, visual e múltipla; autismo; a dificuldade de
aprendizagem; insuficiências orgânicas; superlotação; problemas de conduta; distúrbios de
déficit de atenção com hiperatividade, obsessivo compulsivo, síndromes; distúrbios
emocionais e transtornos mentais.
Algumas condições atípicas são agravadas por resultantes de situações sociais
marginalizantes ou excludentes como: trabalho infantil, prostituição e privação cultural, assim
como a pobreza, desnutrição, saneamento precário e abuso persistente e severo contra
crianças, e falta de estímulo do ambiente e de escolaridade (UNICEF, 1995 apud SASSAKI,
2006, p. 29).
Sassaki (2006) faz referência a dois modelos de deficiência, caracterizando-os como
médico e social. O modelo médico de deficiência atribui os problemas encontrados pela
pessoa com deficiência à sua própria condição, ou seja, condição de possível incapacidade de
preencher as condições necessárias para a participação social. No modelo social de
deficiência, os problemas não estão na pessoa com deficiência, estão nas condições históricas
impostas pela sociedade que a rotula e estigmatiza. Assim, a sociedade é chamada a ver que
ela cria problemas para as referidas pessoas causando-lhes incapacidade ou desvantagem no
desempenho de papéis sociais.
Nos âmbitos político e social, atualmente é possível distinguir-se duas linhas de
discurso sobre as pessoas com deficiência. Em termos gerais, a linha vinculada à medicina, à
educação especial e à assistência social é adotada pelas instituições que trabalham na ótica do
atendimento (linha do assistencialismo). Aqui o discurso parte sempre de um sujeito que fala
a respeito da pessoa com deficiência.
Contudo, o que não pode ser mais aceitável é o uso de expressões que estigmatizem a
pessoa com deficiência, porque esses cidadãos e cidadãs, assim rotulados no contexto social e
cultural em que vivem, possuem identidade, se relacionam e estão situados geograficamente e
historicamente. Como respalda o grande educador Paulo Freire, ao se referir as relações.
48
suponha, já sem nenhum sentido pejorativo. Aquele que tinha deficiência era tido como
socialmente inútil, um peso morto para a sociedade, um fardo para a família, alguém sem
valor profissional.
A expressão denominada, incapacitado , divulgada no século vinte até por volta de
196. O termo significava, de início, "indivíduos sem capacidade" e, mais tarde, evoluíram e
passaram a significar "indivíduos com capacidade residual". Durante várias décadas, era
comum o uso deste termo para designar pessoas com deficiência de qualquer idade. Uma
variação foi o termo "os incapazes", que significava indivíduos que não são capazes" de
fazer algumas coisas por causa da deficiência que tinham. Foi um avanço de a sociedade
reconhecer que a pessoa com deficiência poderia ter capacidade residual. Mas, ao mesmo
tempo, considerava-se que a deficiência, qualquer que fosse o tipo, eliminava ou reduzia a
capacidade da pessoa em todos os aspectos: físico, psicológico, social e profissional.
Os defeituosos, os deficientes, os excepcionais, por volta de 1960 até cerca de 1980.
"Os defeituosos" significavam "indivíduos com deformidade , principalmente física. "Os
deficientes", "indivíduos com deficiência" física, intelectual, auditiva, visual ou múltipla, que
os levava a executar as funções básicas de vida como andar, sentar, correr, escrever, tomar
banho etc. De uma forma diferente daquela como as pessoas sem deficiência faziam. E isto
começou a ser aceito pela sociedade. "Os excepcionais" significavam "indivíduos com
deficiência intelectual". A sociedade passou a utilizar estes três termos, que focalizam as
deficiências em si sem reforçarem o que as pessoas não conseguiam fazer como a maioria.
Simultaneamente, difundia-se o movimento em defesa dos direitos das pessoas superdotadas2.
O movimento mostrou que o termo "os excepcionais" não poderia referir-se
exclusivamente aos que tinham deficiência intelectual, pois as pessoas com superdotação
também são excepcionais por estarem na outra ponta da curva da inteligência humana.
As pessoas deficientes, de 1981 até o ano de 1987. Pela primeira vez em todo o
mundo, o substantivo deficiente (como em os deficientes) passou a ser utilizado como
adjetivo, sendo-lhe acrescentado o substantivo pessoas. A partir de 1981, nunca mais se
utilizou a palavra "indivíduos" para se referir às pessoas com deficiência. Foram atribuídas
pessoas àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direitos e dignidade à maioria dos
membros de qualquer sociedade ou país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou em
1980 a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiências e Incapacidades, mostrando
que estas três dimensões existem simultaneamente em cada pessoa com deficiência.
2
Expressão substituída por "pessoas com altas habilidades" ou "pessoas com indícios de altas
habilidades"
50
Exemplos: Por pressão das organizações de pessoas com deficiência, a ONU deu o nome de
"Ano Internacional das Pessoas Deficientes" ao ano de 1981. E o mundo achou difícil
começar a dizer ou escrever "pessoas deficientes". O impacto desta terminologia foi profundo
e ajudou a melhorar a imagem destas pessoas.
As pessoas portadoras de deficiência, por volta de 1988 até o ano de 1993. Alguns
líderes de organizações de pessoas com deficiência contestaram o termo "pessoa deficiente"
alegando que ele sinaliza que a pessoa inteira é deficiente, o que era inaceitável para eles,
termo que, utilizado somente em países de língua portuguesa, foi proposto para substituir o
termo "pessoas deficientes". Pela lei do menor esforço, logo reduziram este termo para
"portadores de deficiência". O "portar uma deficiência" passou a ser um valor agregado à
pessoa. A deficiência passou a ser um detalhe da pessoa. O termo foi adotado nas
Constituições federal e estadual e em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das
deficiências. Conselhos, coordenadorias e associações passaram a incluir o termo em seus
nomes oficiais.
As pessoas com necessidades especiais, pessoas portadoras de necessidades especiais,
por volta de 1990 até hoje. O termo surgiu primeiramente para substituir "deficiência" por
"necessidades especiais". Daí a expressão portadores de necessidades especiais". Depois,
esse termo passou a ter significado próprio sem substituir o nome "pessoas com
deficiência". O art. 5º da Resolução CNE/CEB nº. 2, de 11/9/01, explica que as necessidades
especiais decorrem de três situações, uma das quais envolvendo dificuldades vinculadas a
deficiências e dificuldades não-vinculadas a uma causa orgânica. Valor da pessoa: De início,
"necessidades especiais" representava apenas um novo termo. Depois, com a vigência da
Resolução nº 2, "necessidades especiais" passou a ser um valor agregado tanto à pessoa com
deficiência quanto a outras pessoas.
As pessoas especiais, por volta de 1990 até hoje, o termo apareceu como uma forma
reduzida da expressão "pessoas com necessidades especiais", constituindo um eufemismo
dificilmente aceitável para designar um segmento populacional. O adjetivo especial
permanece como uma simples palavra, sem agregar valor diferenciado às pessoas com
deficiência. O especial não é qualificativo exclusivo das pessoas que têm deficiência, pois ele
se aplica a qualquer pessoa. Surgiram expressões como crianças especiais , alunos
especiais , pacientes especiais e assim por diante numa tentativa de amenizar a
contundência da palavra deficiente.
Em maio de 2002, surgiu à expressão, Portador de Direitos Especiais, o referido termo
e a sigla apresentam problemas que inviabilizam a sua adoção em substituição a qualquer
51
outro termo para designar pessoas que têm deficiência. O termo "portadores" já vem sendo
questionado por sua alusão a "carregadores", pessoas que "portam" uma deficiência. O termo
"direitos especiais" é contraditório porque as pessoas com deficiência exigem equiparação de
direitos e não direitos especiais. E mesmo que defendessem direitos especiais, o nome
"portadores de direitos especiais" não poderia ser exclusivo das pessoas com deficiência, pois
qualquer outro grupo vulnerável pode reivindicar direitos especiais.
A tendência é no sentido de parar de dizer ou escrever a palavra "portadora" (como
substantivo e como adjetivo). A condição de ter uma deficiência faz parte da pessoa e esta
pessoa não porta sua deficiência. Ela tem uma deficiência. Tanto o verbo portar como o
substantivo ou o adjetivo portador não se aplicam a uma condição inata ou adquirida que faz
parte da pessoa. Por exemplo, não dizemos e nem escrevemos que certa pessoa porta olhos
verdes ou pele morena. Uma pessoa só porta algo que ela possa não portar, deliberada ou
casualmente. Por exemplo, uma pessoa pode portar um guarda-chuva se houver necessidade e
deixá-lo em algum lugar por esquecimento ou por assim decidir. Não se pode fazer isto com
uma deficiência, é claro.
Para Sassaki (2006, p.27), os valores agregados às pessoas com deficiência são: o do
empoderamento - uso do poder pessoal para fazer escolhas, tomar decisões e assumir o
controle da situação de cada um; o da responsabilidade de contribuir com seus talentos para
mudar a sociedade rumo à inclusão de todas as pessoas, com ou sem deficiência.
Na década de 90 até os dias de hoje, as pessoas com deficiência e pessoas sem
deficiência, quando tiverem necessidades educacionais especiais e se encontrarem segregadas,
têm o direito de fazer parte das escolas inclusivas e da sociedade inclusiva. O valor agregado
às pessoas é o de elas fazerem parte do grande segmento dos excluídos que, com o seu poder
pessoal, exigem sua inclusão em todos os aspectos da vida da sociedade. Trata-se do
empoderamento. Exemplificamos com a Declaração de Salamanca/Espanha que preconiza a
educação inclusiva para todos, tenham ou não uma deficiência.
O terceiro milênio está sendo marcado por eventos mundiais, liderados por
organizações de pessoas com deficiência. Nesses eventos foram elaborados documentos de
grande importância para esse segmento social. Com a confirmação da terminologia pessoas
com deficiência, que passa a ser o termo preferido por um número cada vez maior de adeptos.
No maior evento das organizações de pessoas com deficiência, realizado no Recife PE
conclamaram o público a adotar este termo. Elas esclareceram que não são "portadoras de
deficiência" e que não querem ser chamadas com tal nome (SASSAKI, 2006, p.25).
52
A outra linha, surgida mais recentemente, ganhando força a partir da segunda metade
da década de 80, centra o discurso no campo da cidadania e dos direitos humanos. Passa a
ocorrer uma nova discussão no interior dos movimentos sociais, e as pessoas com deficiência
buscam um espaço de tomada da palavra para si , colocando-se como sujeitos do seu próprio
discurso.
A quase totalidade dos documentos, a seguir mencionados, foi escrita e aprovada por
organizações de pessoas com deficiência que, no atual debate sobre a Convenção da ONU a
ser aprovada em 2003, estão chegando ao consenso quanto a adotar a expressão "pessoas com
deficiência" em todas as suas manifestações orais ou escritas.
Citaremos aqui importantes documentos da ONU, que nos respalda dessas
informações:
3
Grifo nosso
53
Baseado em Sassaki (2006), elencamos aqui, importantes eventos4 que geraram declarações
de outros organismos mundiais.
Por conseguinte, nesse estudo pretende-se adotar o termo pessoa com deficiência5,
baseado nas determinações da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU),
do dia 13 de dezembro de 2003 que aprovou a Convenção Internacional de Direitos da Pessoa
com Deficiência, primeiro documento de direitos humanos do Século XXI e oitavo da ONU.
Trata-se de importantíssimo instrumento de aprimoramento dos direitos humanos, não apenas
porque atende ás necessidades específicas desse grupo, que conta com cerca de 650 milhões
de pessoas em todo o mundo segundo a organização Mundial de Saúde (OMS), mas, acima de
tudo, porque fortalece os direitos humanos.
O conceito de pessoa com deficiência que se contempla no art. 2º. Da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência implica grande reversão paradigmática na
concepção jurídica do sujeito a quem se destina o referido instrumento internacional. É que
além de aspecto clínico comumente utilizado para definição em apreço, concernente a
limitação física, intelectual ou sensorial, inclui-se a questão social, para estabelecer-se o
alcance da maior ou menor possibilidade de participação dessas pessoas em sociedade e
consequentemente, reivindicarem seus direitos enquanto cidadão ou cidadã.
Embora para esta pesquisa não sejam relevantes dados que remetam a quantificação da
pessoa com deficiência, faz-se necessário algumas colocações acerca dos referidos
levantamentos estatísticos realizados por órgão oficiais. Por conseguinte, se confrontarmos
4
Não nos aprofundamos nos documentos e eventos aqui elencados, porque no momento, o foco da minha
pesquisa não são as políticas publicas para este seguimento.
54
dados do CENSO (2000), que pela primeira vez no Brasil propôs uma radiografia da
população desse segmento em particular, pois o país usava os dados de estimativas da
Organização Mundial da Saúde (OMS) e baseado neles, os governantes executavam as suas
plataformas administrativas e econômicas. Visto por esse ângulo, poderíamos justificar, em
parte, os parcos recursos disponibilizados nessa área social.
A Pessoa Portadora de Deficiência , nomenclatura utilizada na legislação e
documentos é segundo o Decreto Federal No. 914/93, "aquela pessoa que apresenta, em
caráter permanente, perdas ou anomalias de sua estrutura ou função psicológica, fisiológica
ou anatômica, que gerem incapacidade para o desempenho de atividades, dentro do padrão
considerado normal para o ser humano". Com base nestas definições o IBGE buscou
radiografar a realidade sócio-econômica dessas pessoas.
Segundo a OMS (2000), a deficiência estava dividida em: deficiência física
(tetraplégica, paraplegia e outros), deficiência mental (leve, moderada, severa e profunda),
deficiência auditiva (total ou parcial), deficiência visual (cegueira total e visão reduzida) e
deficiência múltipla (duas ou mais deficiências associadas).
Sassaki (2006, p.29) sugere que há uma discrepância enorme entre os dados da OMS e
a realidade fática do Brasil. Isso já foi tema de debate em muitos congressos onde dizia que os
dados eram muito maiores do que aqueles que nos apresentavam. No quadro abaixo é
demonstrado um comparativo entre os números que vinham sendo apresentados e os números
do IBGE (2000).
TIPO DE Nº / HABITANTES
DEFICIÊNCIA DADOS / OMS DADOS / IBGE (EM MILHÕES)
6
HECH, Ari. O Brasil é um País de deficientes. Artigo do leitor, Jornal O Estado de São Paulo, em
10.07.2002. In: www.nppd.ms.gov.br/artigo.asp?art_id=38 - 16k.
55
A palavra cidadania é derivada de cidadão, que vem do latim civitas. Na Roma antiga,
o conjunto de cidadãos que constituíam uma cidade era chamado de civitate. A cidade era a
comunidade organizada politicamente. Era considerado cidadão aquele que estava integrado
na vida política da cidade. Naquela época, e durante muito tempo, a noção de cidadania
esteve ligada à idéia de privilégio, pois os direitos de cidadania eram explicitamente restritos a
determinadas classes e grupos. A palavra cidadania foi usada na Roma antiga para indicar a
situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer
(AURÉLIO, 2004, p.18).
56
De acordo com Valle (2000, p.25), ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar do
destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não
asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do
indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a
uma velhice tranqüila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.
A expressão cidadania está por toda parte, apropriada por todo mundo, evidentemente
com sentidos e intenções diferentes. Isso de certa forma é positivo porque indica que a
expressão vem ganhando espaço na sociedade, por outro lado, tendo em vista a velocidade e
voracidade das várias apropriações dessa noção, faz-se necessário à delimitação do seu
significado.
Para Dagnino (1994, p. 103-14), torna-se evidente que as apropriações e a crescente
banalização desse termo não só abrigam projetos diferentes no interior da sociedade, mas
também tentativas de esvaziamento do seu sentido original e inovador. Há uma disputa
histórica pela fixação do seu significado e, portanto, dos seus limites.
Na evolução histórica da busca pela cidadania, na concepção atual diz que ela é um
fenômeno único, de modo que não se há de falar em uma continuidade do mundo antigo. A
cidadania do passado não guarda relação muito estreita com a concepção atual. Porém, a
análise histórica do que se entende por cidadania dá sentido à compreensão desse processo de
entendimento conceitual e facilita a análise do seu significado moderno.
Portanto o conceito de cidadania teve diferentes significados de acordo com a
sociedade e a época em vigor, segundo as relações de poder, conquistas, lutas, dominações,
entre outras situações históricas e foi sofrendo alterações ao longo do tempo, seja pelas
alterações dos modelos econômicos, políticos e sociais ou como conquistas, resultantes das
pressões exercidas pelos excluídos dos direitos e garantias aos poucos preservados, num rico
processo histórico ora demonstrado.
A conceituação de cidadania é extremamente complexa, uma vez que não se trata de
um conceito estanque, mas histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no
espaço. Ser cidadão na época do Brasil - colônia, durante o período da escravatura ou dos
regimes militares, em comparação com a situação de hoje, era completamente diferente. Da
mesma forma, é diferente a concepção de cidadania que se tem na Alemanha, Estados Unidos
ou no continente europeu em relação a que se tem no Brasil. Isso ocorre não apenas pelas
regras que define quem é ou não titular da cidadania, mas também pelos direitos e deveres
distintos que caracterizam o cidadão em cada um dos Estados nacionais contemporâneos.
57
7
Proclamada em 26 de agosto de 1789, contendo 17 artigos e um preâmbulo.
60
forma de governo e das políticas desenvolvidas. Essa situação demonstra uma evolução na
questão da cidadania do povo brasileiro, marcada por fatos históricos e pela exclusão de
parcela da comunidade (mulheres, escravos, negros, crianças e adolescentes, portadores de
deficiência) de seus direitos fundamentais.
Dagnino (1994, p. 101) afirma que a história relaciona a questão da cidadania à
conquista de direitos. E todo esse movimento histórico proporcionou, no aspecto legal, uma
evolução dos direitos. Nesse sentido, pensadores contemporâneos, como T. H. Marshal e
Norberto Bobbio, revelam que, na evolução dos direitos dos homens, se encontram três
grupos distintos.
Os Direitos civis correspondem ao conjunto das liberdades individuais estabelecidas
por meio da igualdade jurídica. Compreende-se o direito de liberdade, como o direito que
tende a limitar o poder do Estado e a reservar para o indivíduo, ou para os grupos particulares,
uma esfera de liberdade em relação ao Estado. Podemos considerá-los os mais elementares,
são os direitos políticos primários, sendo os que menos satisfazem aqueles que deles
precisam, agravando ainda mais sua exclusão, pois só quem tem recurso pode fazê-los valer.
Os Direitos políticos, referentes ao exercício do poder, são estabelecidos por
mecanismos de participação social e política. Os direitos políticos, segundo Dagnino (1994),
são aqueles os quais concebendo a liberdade não apenas negativamente, como não
impedimento, mas positivamente, como autonomia tem como conseqüência a participação
cada vez mais ampla, generalizada e freqüente dos membros de uma comunidade no poder
político (ou liberdade no Estado). Dentro do que observamos, na maioria das vezes, é a
restrição natural ao direito social e civil que seria direcionado ao assistencialismo.
Os Direitos sociais que apresentam como o conjunto das garantias mínimas do bem-
estar econômico, de acordo com os padrões culturais aceitos por uma sociedade. São regidos
pelo signo da igualdade e visam ao bem-estar social. Expressam o amadurecimento de novas
exigências, podemos mesmo dizer, de novos valores como os do bem-estar e da igualdade
não apenas formal, e que poderíamos chamar de liberdade através ou por meio do Estado. Em
outras palavras, na prática, não passam de meras concessões, que, na maioria das vezes, nem
sequer são usufruídos.
Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados. Muitas vezes
compreendemos os direitos como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que
estão em baixo. Contudo, a cidadania não nos é dada, ela é construída e conquistada a partir
da nossa capacidade de organização, participação e intervenção social.
61
como os fóruns nacionais de luta pela moradia popular. No caso da habitação e reforma
urbana, por exemplo, o próprio Estatuto da Cidade, é resultado dessas lutas. O Fórum da
Participação Popular e tantos outros fóruns e experiências organizativas locais, regionais,
nacionais e até transnacionais, estabeleceram práticas, fizeram diagnósticos e criaram
agendas, para si próprios, para a sociedade e para o poder público. O Orçamento Participativo
e vários programas surgiram como fruto desta trajetória.
A maioria dos movimentos identitários e culturais atua em conjunto com ONGs e eles
têm sido bastante evidenciados e valorizados nos meios de comunicação de uma forma geral.
Os movimentos identitários são reportados como ações coletivas, frutos de projetos
focalizados, coordenados por indivíduos empreendedores, agrupados segundo categorias de
gênero, faixa etária, origem étnica, religião dentre outros.
Há também, os movimentos populares propriamente ditos, aqueles que nos anos 70/80
foram estimulados pela teologia da libertação. Eles não desapareceram, apenas alteraram suas
práticas e perderam visibilidade política e da mídia, porque suas ações passaram a ser mais
propositivas do que reivindicativas. Alguns fatores conjunturais explicam essas mudanças.
Eles sempre foram heterogêneos em termos de temáticas e demandas. O que unifica o
universo das suas demandas são as carências socioeconômicas.
Eles criaram e desenvolveram, nos anos 90, redes com outros sujeitos sociais, assim
como redes dentro do próprio movimento popular propriamente dito. Nas redes com outros
sujeitos destacam-se as do campo sindical, institucional de outras entidades sociais, o campo
político partidário, o campo religioso, o campo das ONGs. Quer dizer, os movimentos
populares criaram, ou ampliaram, ou fortaleceram a construção de redes sociais.
Ocorreram, entretanto, alterações profundas no cotidiano da dinâmica interna dos
movimentos populares. De um lado eles, perderam visibilidade (porque ao longo dos anos 90
os movimentos populares urbanos diminuíram as formas de protestos nas ruas e diminuíram
sua visibilidade na mídia), e houve um deslocamento dessa visibilidade para as ONGs.
Embora os eixos das demandas fossem os mesmos, eles incorporaram novas práticas;
alguns de seus líderes ou assessores passaram a incorporar diferentes escalões da
administração pública, nos locais em que a oposição ascendeu ao poder. Seus discursos se
alteraram em função da mudança da conjuntura. As matrizes que estruturaram esses discursos
e as práticas também se alteraram. Não se tratava mais de se ficar de costas para o Estado,
mas de participar das políticas, das parcerias, dentre outros. Eles ajudaram a construir outros
canais de participação, principalmente os fóruns; e contribuíram para a institucionalização de
64
espaços públicos importantes tais como os diferentes conselhos criados nas esferas
municipais, estadual e nacional.
A noção do novo sujeito histórico, povo, um dos eixos estruturante do movimento
popular, reformulou-se, assim como deu novos sentidos e significados às suas práticas.
Resulta desse processo uma identidade diferente, construída a partir da relação com o outro, e
não centrada exclusivamente no campo dos atores populares. Esse outro estava presente nos
relacionamentos desenvolvidos com novas formas de associativismo emergentes, interações
compartilhadas com ONGs e a participação nas políticas públicas.
Isso tudo alterou o projeto político dos movimentos populares urbanos no sentido de
um projeto político policlassista, um novo projeto político dos movimentos populares, que vai
contemplar outras questões além de demandas específicas do campo das carências
socioeconômicas, indo das questões do modelo de desenvolvimento do país às questões do
meio ambiente e do desenvolvimento humano. Na maioria dos casos, não há uma ênfase
exclusiva nas questões apenas locais, inclui-se outras dimensões. Em parte, essas mudanças se
explicam pelos efeitos do próprio modelo organizacional adotado: de se atuar em redes. O
outro, o diferente, acaba alterando o movimento local.
Com isso, outros temas entraram para a agenda dos movimentos populares urbanos,
tais como o de uma cidadania planetária, antes circunscritos aos movimentos sociais
organizados e assessorados por outras camadas sociais, como os ambientalistas, as mulheres,
direitos humanos, antiglobalização, movimento popular de saúde, movimentos populares de
bairro, movimentos populares que não tinham tanta presença nos anos 80, como a própria
questão dos idosos e os aposentados da previdência pública, das pessoas com deficiência,
movimentos dos homossexuais, dentre outros.
No campo dos movimentos sociais rurais, a organização popular cresceu bastante nos
anos 90. Dentre dos inúmeros movimentos de sem-terra, o mais expressivo foi o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST. Ele se destaca em termos nacional como no
plano internacional via um eficiente trabalho de mídia e marketing político de suas demandas
pela Reforma Agrária, bandeiras e místicas e o movimento social a partir dos anos 90,
denominado movimento antiglobalização.
Com certa preocupação, Gohn (2001, p. 31) denomina de cenário contraditório, pois as
entidades que buscam a mera integração dos excluídos, por meio da participação comunitária,
em políticas sociais disputam os mesmos espaços com entidades e movimentos críticos, com
projetos de emancipação para a sociedade e para a democratização do Estado. Complementa a
autora: Acho que é preciso avançar, efetivamente, na direção de projetos inspirados em um
65
novo modelo civilizatório, onde a cidadania, a ética, a justiça e a igualdade social, sejam
imperativas, prioritários e inegociáveis .
Portanto, não bastam princípios estratégicos, avaliações de resultados baseadas na
lógica do custo e benefício, se o projeto político de uma entidade para a sociedade civil como
um todo, incluindo sua relação à sociedade política, com os organismos estatais, não contiver
propósitos bem explícitos. Subjacente a esse projeto há um questionamento acerca de que
modelo de Estado e de sociedade almejamos para nossas futuras gerações.
Nesse contexto dos movimentos sociais, a análise da concepção atual de cidadania
contempla um processo de inclusão e não de exclusão. E quando se analisa, de maneira
específica, a questão envolvendo o segmento social pessoas com deficiência e as leis
brasileiras para garantia dos direitos civis, políticos e sociais constata-se que esse processo de
inclusão e reconhecimento da cidadania foi lento. Embora, atualmente, apresente-se como
tema relevante na sociedade moderna, os direitos dos que vivem à margem dos contextos
sociais e que são discriminados como os negros, os índios, os homossexuais, os idosos, os
pobres, as crianças e as pessoas com deficiência ainda são desconsideradas, sendo esses
segmentos tratados com indiferença ou como objetos e não como sujeitos de direitos e
deveres um cidadão.
A Constituição Federal de 1988 começou a estabelecer, logo no artigo 1.o , que, entre
os fundamentos da República Federativa do Brasil, encontram-se a cidadania e a dignidade da
pessoa humana. Para a efetividade desses fundamentos, tratou o legislador constituinte de
consignar capítulo específico referente aos direitos e garantias fundamentais da pessoa
humana.
Assim, a garantia da cidadania a todos os cidadãos brasileiros deve se consolidar
mediante ações que venham a concretizar o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária. Em síntese, a cidadania tem por objetivo garantir os
direitos sociais, civis e políticos.
Somente com a Emenda No. 01 à Constituição de 1967 é que surgiu uma vaga
referência à pessoa com deficiência, quando tratou da educação dos excepcionais . Até
então, era como se não existissem pessoas com deficiências e, por isso, não havia necessidade
de nenhuma proteção legal para garantia e satisfação de seus direitos fundamentais e
posteriormente, com a Emenda No. 12, de 17 de outubro de 1978, à Constituição de 1967,
houve, dessa forma, significativos avanço em relação aos direitos da pessoa com deficiência,
quando se estabeleceu:
66
A partir daí, a inovação mais significativa ocorreu com a atual Constituição de 1988.
Ela foi pródiga ao tratar da pessoa com deficiência, estabelecendo não somente a regra geral
relativa à questão da cidadania (Art. 1. º) e do princípio da igualdade (Art. 5. º, caput ), mas
também:
Nesse mesmo intuito, foram editadas outras leis que buscaram regulamentar os direitos
desses cidadãos, tais como:
CAPÍTULO 3
têm se tornado permanentes, não acabando com a exclusão, e sim aumentando o produto dela,
os excluídos, conforme enfatiza Goffman (1988), quando diz:
No entanto, para sabermos quais as causas da exclusão se faz necessário nos reportar
à história que, de acordo com Santos (2006, p. 153), explica que o capitalismo, nos últimos
200 anos, foi desenvolvendo e se ampliando com o reconhecimento de direitos. Esse modo de
produção é um processo de avanço que, ao mesmo tempo, desperta um processo de
retrocesso. Marx afirmou que a inclusão de todos no trabalho, tentando desenvolver-se a
igualdade, conseguiu aumentá-la, transformando os donos do capital em indivíduos cada vez
mais poderosos, ricos, concentradores de riquezas e, simultaneamente, aumentando a pobreza.
Entender a exclusão social em que algumas pessoas se encontram só é possível, ao se
propor olhar o homem contextualizado historicamente, observando sua representação social.
Para isso deve-se referir ao sujeito psicológico, que processa a informação sem analisar sua
origem, valorizando apenas o produto final da informação recebida ( PAIXÃO, 1997).
Refletindo sobre o fenômeno social de exclusão, em que se acham envolvidas as
pessoas com deficiência no Brasil, um primeiro questionamento interessa aqui, ao se articular
possíveis retomadas inclusivas às quais se determina averiguar nesta dissertação: qual a
crença comum desse segmento social, e mais especificamente das pessoas com deficiência,
sobre a inclusão?
Ao partir da normalização como aporte de pertinência social, buscaremos exemplificar
algumas idéias que norteiam a concepção acerca da pessoa com deficiência, em cada período
histórico, para que se possa compreender melhor o lugar desse indivíduo com deficiência na
sociedade contemporânea.
Durante a Antigüidade, os nascidos deficientes eram abandonados ao relento. Na
cidade de Esparta as crianças com deficiências física ou mental eram consideradas
subumanas, o que legitimava sua eliminação ou abandono, muito provavelmente em favor dos
ideais morais da sociedade clássica e classista da época, na qual a eugenia e a perfeição do
indivíduo eram extremamente valorizadas (PESSOTI, 1984; ARANHA, 1995;
SCHWARTZMAN, 1999).
71
Na Idade Média, numa visão influenciada pela Igreja, a deficiência era concebida
como um fenômeno metafísico e espiritual, sendo a ela atribuído um caráter "divino" ou
"demoníaco . Essa concepção, de certa forma, ao longo da história da humanidade, conduziu
o modo de tratamento das pessoas deficientes. Com a influência da doutrina cristã, as pessoas
com deficiência começaram a ser vistos como possuindo uma alma e, portanto, eram filhos de
Deus. Dessa forma, não eram mais abandonados, mas, sim, acolhidos por instituições de
caridade. Ao mesmo tempo em que imperava esse ideal cristão, as pessoas com deficiência
eram consideradas como produtos da união entre a mulher e o demônio, o que justificava a
queima de ambos, mãe e criança (SCHWARTZMAN, 1999).
Além dessa prática, usavam-se também outras mais "amenas" como punições, torturas
e diversos tipos de maus-tratos no lidar com essas pessoas Essa era a postura da sociedade
daquela época, em que a ambivalência caridade-castigo constituía a marca definitiva da
atitude medieval diante da pessoa com deficiência (ARANHA, 1995).
No final do séc. XV, com a revolução burguesa e a racionalidade cientifica, houve
mudanças na concepção de homem e de sociedade, o que proporcionou também uma
mudança na concepção de deficiência, que passou a ter uma conotação mais direta com o
sistema econômico que se propunha, sendo considerada atributo dos indivíduos não
produtivos economicamente. Além disso, com o avanço da medicina, houve uma prevalência
da visão organicista sobre a deficiência, sendo vista como um problema médico e não mais
apenas como uma questão espiritual. Nos séculos XVII e XVIII, se ampliou às concepções a
respeito da deficiência em todas as áreas do conhecimento, favorecendo diferentes atitudes
frente ao problema, dentre elas a institucionalização do ensino especial.
De acordo com Bueno (1993), a educação especial surgiu nas sociedades industriais
no séc. XVIII, como parte pouco significativa de um conjunto de reivindicações de acesso à
riqueza produzida (material e cultural) e que desembocou na construção da democracia
republicana representativa, cujo modelo expressivo foi implantado na França, pela revolução
de 1789, sob as bandeiras da igualdade, liberdade e fraternidade. Dessa forma, o acesso à
escola para pessoas com deficiência por meio da existência de uma escola especial nasceu
como necessidade de oferta de escolarização às crianças cujas anormalidades eram
consideradas prejudiciais ou impeditivas do convívio com os outros alunos normais . E esta
não é uma mera diferença de ênfase na análise do percurso histórico da educação especial,
mas uma diferença de fundo, demonstrativa do caráter de segregação do indivíduo anormal e
dos processos exigidos pelas novas formas de organização social (BUENO, 1993, p. 37).
72
8
Esses sinais eram feitos com cortes ou fogo, e o seu portador era um escravo ou criminoso ou traidor.
73
de acordo com o que se espera dele, com os requisitos pré-definidos que ele preencha para o
convívio social. Já sua identidade social real corresponde aos atributos que o indivíduo prova
possuir.
Nem todos os atributos indesejáveis são estigmatizantes, refere ainda Goffman (1988),
mas apenas aqueles que são incongruentes com o estereótipo que se cria para um determinado
tipo de indivíduo. Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outro
alguém. Um defeito físico pode ser escondido quando um indivíduo quer ser aceito em
determinada função ou utilizado quando o indivíduo quer ser poupado de determinada função.
Um estigma é, portanto, uma relação especial entre atributo e estereótipo.
Há três tipos de estigma: as abominações do corpo, as várias deformidades físicas; as
culpas de caráter individual, fraquezas, homossexualismo, vícios, desemprego, alcoolismo,
tentativas de suicídio, entre outros; estigmas tribais de raça, nação e religião: os transmitidos
de pai para filho (GOFFMAN, 1988).
Em todos os casos, o indivíduo possui um traço que chama atenção e, por isso, outros
atributos seus passam despercebidos. Ao se utilizar os termos como aleijado, retardado,
bastardo, na verdade são metáforas para se dirigir a esse traço mais aparente. Na escola,
freqüentemente assistimos a esse recurso metafórico para se distinguirem indivíduos normais
daqueles com deficiências físicas e mentais, tratando-se estes últimos, como débeis mentais.
Nessas situações, a vergonha pode surgir no indivíduo que se percebe diferente das
expectativas, e a presença dos normais reforçarão a sua auto-exigência e ego, podendo surgir
a autodepreciação e o auto-ódio.
Assim, refere Goffman (1988), o estigmatizado pode tentar corrigir a característica
que origina o estigma, por meio de cirurgias, reabilitação física, dentre outras formas. No
âmbito escolar, as salas de reforço ou salas de recursos, as atividades de reabilitação física, as
inúmeras tentativas empreendidas por esses alunos com deficiência em adequarem-se a sua
turma são exemplos dessas atitudes. Pode também tentar superar o estigma com o esforço
para ressaltar outra característica sua, tornando-se exemplo de auto-superação.
Afirma então o autor que o estigmatizado pode romper com a realidade e (re)
significar sua identidade social, encarando a deficiência como uma bênção secreta e os
normais como diminuídos.
A rejeição da sociedade às pessoas com deficiência reflete a própria fragilidade social,
pois tudo que é diferente e anormal chama atenção e pode causar variadas reações. A
diferença é parte inerente ao conceito de deficiência e traz em si mesma a possibilidade do
preconceito, uma vez que este se caracteriza pela aversão ao diferente (CROCHIK, 1997).
74
Contudo, essa diferença poderia não traduzir essa forma de preconceito se ela, a
diferença, fosse reconhecida como fazendo parte da essência humana. O preconceito vem
sendo abordado como questão psicológica desde a década de 1920, quando começou a ser
pesquisado. Apesar de se constituir como fenômeno psicológico, o que leva o indivíduo a ser
preconceituoso pode ser encontrado em seu processo de socialização, o qual só pode ser
entendido, novamente, ao se olhar esse indivíduo histórica e culturalmente. Os preconceitos
surgem como resposta aos conflitos pela sobrevivência. Portanto, apesar de um fenômeno que
se manifesta no indivíduo, a sociedade que o contém pode inibi-lo ou suscitá-lo, devendo ser
observadas as duas naturezas distintas dessa realidade: a social e a individual (CROCHIK,
1997).
Entender os estigmas, preconceitos e discriminações advindas de uma sociedade
eminentemente excludente, remete-nos a procurar as causas da exclusão e até tentar justificá-
la através da história. Mas o fato é que, as causas serão certamente múltiplas. No entanto esse
desenvolvimento tenaz da exclusão como um todo incentivou os responsáveis políticos Mas
poderíamos condensar resumir tal situação em ter momentos distintos: no primeiro as que têm
tradições democráticas mais antigas.
Diante do contexto abordado acerca da exclusão, faz-se necessário a partir de agora
abordar O contrário, quando se O termo inclusão instiga artigos e debates em torno do seu
significado social. A palavra inclusão deriva do verbo incluir, originado do latim incluire,
correspondendo a inserir, introduzir, acrescentar ou abranger. Seria equivalente ao verbo
incluir a frase "colocar também..
Acredita-se que o termo inclusão seja sugestivo a compreensões ou análises
direcionadas a pessoa com deficiência por questões ideológicas. De acordo com Backhtin,
(1992).
É preciso fazer uma análise profunda e aguda da palavra como signo social
para compreender seu funcionamento como instrumento da consciência. É
devido a esse papel excepcional de instrumento da consciência que a palavra
funciona como elemento essencial que acompanha toda criação ideológica,
seja ela qual for. É no fluxo da interação verbal que a palavra difunde
significados. É através dela que se evidenciam ideologias e se consolidam
interpretações, até mesmo as mais contraditórias ou precipitadas (p. 37).
enunciados acerca de nossas experiências. Só podemos chegar à conclusão de que esta mesa é
azul ou verde consultando nossa experiência sensorial. Pelo imediato sentimento de convicção
que ela nos transmite, podemos distinguir o enunciado verdadeiro, aquele cujos termos estão
em concordância com a experiência, do enunciado falso, aquele cujos termos não concordam
com a experiência (POPPER, 2000, p. 100).
Em muitas situações há grande preocupação em incluir os "diferentes" no sistema
regular de ensino, enquanto aqueles que são vistos como "normais" não são compreendidos
em suas particularidades, podendo gerar um sentimento de exclusão, ocasionando, dentre
outras conseqüências.
Inclusão, palavra empregada nacional e internacional; porém, se entendida como plena
participação de todo o processo educacional, laboral, de lazer, dentre, torna-se cada vez mais
difícil de ser vivida por muitos, dadas às rápidas transformações que afetam todas as áreas,
dentro de organização social cada vez mais excludente (AURÉLIO, 2004).
O termo se refere à conduta de inserir alguém ou alguma coisa em algum lugar, que
tem conotações diferentes quando adjetivado, se no social ou no educacional. Entendendo que
o social abranje tudo que se relaciona ao espaço social. Os defensores da inclusão se baseiam
no modelo social da deficiência. Pelo modelo social da deficiência, os problemas da pessoa
com necessidades especiais não estão nela tanto quanto estão na sociedade. Assim, a
sociedade é chamada a ver que ela cria problemas para as pessoas portadoras de necessidades
especiais, causando-lhes incapacidade ou desvantagem no desempenho de papéis sociais em
virtude de: seus ambientes restritivos; suas políticas discriminatórias e suas atitudes
preconceituosas que rejeitam a minoria e todas as formas de diferenças; seus discutíveis
padrões de normalidade; seus objetos e outros bens inacessíveis do ponto de vista físico; seus
pré-requisitos atingíveis apenas pela maioria aparentemente homogênea; sua quase total
desinformação sobre necessidades especiais e sobre direitos das pessoas que têm essas
necessidades; suas práticas discriminatórias em muitos setores da atividade humana.
Cabe, portanto, à sociedade eliminar todas as barreiras físicas, programáticas e
atitudinais para que as pessoas com necessidades especiais possam ter acesso aos serviços,
lugares, informações e bens necessários ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e
profissional.
Fischinger (2000) explica que o modelo social da deficiência focaliza os ambientes e
barreiras incapacitantes da sociedade e não as pessoas deficientes . O modelo social foi
formulado por pessoas com deficiência e agora vem sendo aceito também por profissionais
não-deficientes. Ele enfatiza os direitos humanos e a equiparação de oportunidades.
76
A inclusão, como movimento social, iniciou na segunda metade da década de 80, nos
países desenvolvidos. No Brasil, tomou impulso na década de 90, com a difusão das idéias da
Declaração de Salamanca (1994) e com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) n.º 9394, em 20 de dezembro de 1996, que define Educação
Especial, no capítulo V: Da educação especial; artigo 58, como: a modalidade de educação
escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais . É este artigo que define educação especial em termos da lei e
regulamenta a prática da educação inclusiva (BRASIL, 2000).
A inclusão social constitui a mais recente prática de que se tem noticiado no campo
das deficiências, não apenas no contexto do território brasileiro como também em muitos
outros países. È um processo que paulatinamente vem substituindo a prática da integração
social, que, por sua vez, havia ocupado o lugar da segregação e da exclusão de pessoas com
deficiência. Essa ação que se tornou visível em todos os lugares e setores da vida social,
79
Para Sassaki (2006, p.41) a inclusão social é um processo pelo qual a sociedade se
adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais comuns, pessoas com necessidades
especiais e, simultaneamente, estas as preparam para assumir papéis na sociedade. A inclusão
social constitui, então, um processo bilateral no quais as pessoas, ainda excluídas, e a
sociedade busca, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a
equiparação de oportunidades.
Segundo Mantoan (2001, p. 47), inclusão é um conceito novo surgido na Europa para
definir uma sociedade que considera todos os seus membros como cidadão legítimo. É uma
sociedade em que existe justiça social, em que cada membro tem seus direitos garantidos e em
que sejam aceitas as diferenças entre as pessoas como algo normal. É um novo paradigma que
considera a diferença como algo inerente na relação entre seres humanos (MANTOAN, 2001,
p 47).
pode se dar de forma separada e isolada e nem resultar em práticas culturais e políticas
solitárias e excludentes.
No âmbito da educação, Mantoan (2001, p.8) afirma que a inclusão institui a inserção
de uma forma mais radical, completa e sistemática de um aluno ou grupos de alunos que
foram anteriormente excluídos. A meta da inclusão é, desde o inicio, não deixar ninguém fora
do sistema escolar, que terá de se adaptar às particularidades de todos os alunos.
De acordo com a autora supracitada, inclusão não é somente uma palavra nova na área
da Educação Especial, mas sim, a mudança na compreensão do que sejam as diferenças entre
as pessoas e de como nós podemos encará-las sem medo e sem preconceito.
2.2 Histórico das campanhas institucionais e um breve resgate das políticas inclusivas
De acordo com as experiências, Sassaki (2006, p.112) identifica quatro práticas sociais
relacionadas à sociabilidade das Pessoas com Deficiência. A primeira refere-se à fase em que
a pessoa com deficiência é totalmente encarada, sem direitos e aniquilada pela sociedade,
ocorrendo à prática da exclusão. A sociedade simplesmente ignorava, rejeitava, perseguia e
explorava estas pessoas, então consideradas possuídas por maus espíritos ou vítimas da sina
diabólica e feitiçaria.
Na segunda fase, chamada prática de segregação, as pessoas com deficiência foram
tiradas da sociedade e colocadas em instituições com o objetivo de escondê-las dentro de
muros institucionais. Em relação à fase anterior, houve uma considerável evolução, pois as
81
pessoas com deficiência passaram a ser vistas como capazes de produzir, surgindo assim às
escolas especiais, os centros de reabilitação e as oficinas protegidas de trabalhos profissionais.
Conforme expressa Sassaki, quando diz que:
9
FUNDAÇÃO DORINA NOWILL PARA CEGOS, ANTIGA Fundação para o Livro do Cego no Brasil, foi
oficialmente fundada em 11 de março de 1946, pela iniciativa da professora Dorina de Gouvêa Nowill e da Sra.
84
deficiência auditiva e da fala. O referido serviço tem sua sede no Campus I da UFPB
Universidade Federal da Paraíba. Esta aquisição se deu no ano de 1984, por conta de um
convênio entre estas instituições, ainda na gestão do reitor Berilo Borba que também era
integrante do Lions Clube de João Pessoa. De acordo com a Profa. Benedita Dutra, diretora
do serviço. [...] foi realmente registrada em 1984. Foi instalado na Universidade, inclusive o
prédio já foi construído com este objetivo. Foi justamente por força do convênio SUVAG e
UFPB que funciona na UFPB.
O Núcleo de Educação Especial da UFPB foi fruto do trabalho desenvolvido no Setor
de Educação Especial do Centro de Educação, pela necessidade de atendimento apresentado
por alunos universitários deficientes visuais, no campus I, a partir de 1977. Segundo consta no
Manual do NEDESP (1997), a disciplina Educação de Excepcional é ministrada no curso de
Pedagogia desde 1976, por professores especialistas na área de visão. A repercussão deste
trabalho levou o Departamento de Fundamentação Pedagógica (atual Centro de Educação) a
reestruturar-se e apoiar novos investimentos no setor de educação especial (HOLANDA,
2007, p. 85).
A criação do NEDESP deu-se em conseqüência das ações de atenção e defesa dos
direitos, em prol das pessoas com deficiência. Sua criação se deve ao empenho da equipe de
professores responsáveis pela área de Educação Especial do Centro de Educação e às
professoras: Helena Ferreira e Maria da Piedade Resende da Costa, que elaboraram projetos
com seus subprojetos de atendimento psicopedagógico, nas áreas visual e mental e de
problemas de aprendizagem. Além disso: Elaborou o regimento interno do Núcleo de
Educação Especial que foi aprovado pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão
CONSEPE em 17.05.1990, através da resolução no. 09/90, no Reitorado do Professor José
Jacson Carneiro de Carvalho (HOLANDA, 2007, p. 85).
Na dissertação de Holanda (2007) a atual coordenadora do NEDESP, Profa. Dra.
Janine Marta Coelho Rodrigues e outros, fizeram um relato de que apesar da resolução para
aprovação do referido núcleo ter acontecido em 1990, desde 1988, o núcleo vem
desempenhando ações concretas à comunidade. Segue seu relato, fazendo referência a
estrutura e o inicio do seu funcionamento. Segue o transcrito da entrevista:
12
ARAUJO, Rosália Maria Lins, 2006 - http://www.apaejp.org
88
educacionais voltadas para pessoas com deficiência nas áreas motora, mental visual e
audiocomunicação.
para a educação inclusiva nas escolas. Porém, muitos não atentam para a sua finalidade e não
a buscam ou solicitam seus serviços. Desconhecem que todas as escolas do estado, privadas,
organizações não governamentais, tem direito esse direito (Diretora da Escola Ana Paula,
2006 apud HOLANDA, 2007, p. 72).
Segundo textos exposto no Folder (2003), a FUNAD foi criada pela Lei no. 5.208 de
18/12/1989, tendo como atribuição básica: habilitar, reabilitar, ações profissionalizantes e
inserir no mercado de trabalho, portadores de deficiência, bem como desenvolver programas
de prevenção e capacitação de recursos humanos. Gerencia, ainda, as ações de educação
especial em todo o estado. Atende os portadores de deficiência mental, visual, auditiva,
múltipla, acidentado de transito, de trabalho, seqüelados de hanseníase e portadores de
necessidades educativas especiais.
Possui uma área de 33.678,00 m2, sendo 13.028,00 m2 de área de construção, com
8.891,00 m2 de área de cobertura, dividida em dois pavimentos. O térreo possui: auditório
para duzentas pessoas, biblioteca, oficinas, cozinha/refeitório, ambulatório médico-
odontológico, praça de recreação, área administrativa. No pavimento superior (área
administrativa, coordenadorias de atendimento a pessoa com deficiência visual, mental, física,
auditiva, Escola Ana Paula e duas piscinas térmicas).
A FUNAD é uma organização de natureza governamental, de âmbito estadual, cujo
objetivo é integrar o portador de deficiência (visual, mental, auditivo, físico e múltiplo) na
sociedade e no mercado de trabalho, assim como proporcionar aos mesmos todo e qualquer
tipo de apoio: saúde, educação, lazer, cursos profissionalizantes, ou seja, tudo que o a pessoa
com deficiência necessita para a sua reabilitação e para a sua inclusão no mercado de
trabalho, como também na sociedade como um todo.
A referida fundação recebe recursos financeiros do Governo Estadual e Federal, via
SUS. O apoio do Estado se dá através das Secretarias da Saúde, da Educação, do Trabalho e
Serviço Social, da Justiça e Cidadania. Recebe o apoio também da Prefeitura e de
Organizações Nacionais, como a CORDE (Coordenadoria Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência) e o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento
Educacional).
Como visto, a FUNAD representa um órgão de grande porte em termos de estrutura
física e no que se refere ao atendimento das pessoas com deficiência na grande João Pessoa e
no Estado como um todo. Justificada pela diversidade de atribuições e serviços que a mesma
presta a esse segmento social da população.
91
CAPÍTULO 4
Tendo como foco de análise as representações sociais das pessoas com deficiência,
buscamos apreender as suas manifestações a partir de suas falas e ações, no contexto da
vivência no interior da instituição FUNAD, sobretudo as condições subjetivas que essa
vivencia desperta. Nosso objetivo foi de, através da análise de conteúdo com a técnica de
categorização, percebermos de que forma se expressa a representação social da pessoa com
deficiência frente à exclusão/inclusão.
De acordo com Jodelet (2001, p. 120) conhecer as representações dos sujeitos que
vivem uma determinada situação nos possibilita ainda compreender as manipulações do
cotidiano programado nesta situação. É no cotidiano que as representações imperam e é
através delas que identificamos o papel estipulado para cada coisa.
O processo de estabelecer categorias diz respeito ao ato de classificar elementos que
constituem um conjunto, diferenciação e depois por reagrupamento segundo o gênero, com os
critérios definidos previamente. As categorias configuram-se em classes que reúnem um
grupo de elementos sob um título genérico, sendo esses agrupamentos organizados em razão
dos seus caracteres comuns. Categorizar é um processo que implica duas etapas: o inventário,
que corresponde ao isolamento dos elementos, e a classificação, que implica repartir os
elementos, buscando organizar as mensagens (BARDIN, 1988, p. 117).
O objetivo primeiro da categorização é apresentar, por condensação, uma
representação simplificada dos dados brutos. Esse processo pode se dar de duas maneiras,
uma em que o sistema de categorias é estabelecido previamente e os elementos são repartidos
à medida que vão sendo encontrados; outra maneira ocorre quando o sistema de categorias
não existe previamente, resulta da classificação analógica e progressiva dos elementos.
Considerando o objeto de estudo, os objetivos, bem como os encaminhamentos
metodológicos utilizados e, em especial os dados obtidos, foi necessário, segundo a proposta
de análise de Bardin, procedermos com o isolamento dos dados alcançados em agrupamentos
genéricos, para efetuar a posterior categorização.
Distribuiremos aqui, as categorias selecionadas a partir dos dados que obtivemos por
meio das entrevistas, que foram classificados e agrupados em elementos de análise, a partir de
dois eixos temáticos: o primeiro relativo à participação da pessoa com deficiência frente à
FUNAD, com os seguintes tópicos: dificuldades escolares; razões de buscar a FUNAD e
serviços oferecidos pela FUNAD. O segundo eixo temático trata de questões direcionadas ao
objeto do conhecimento da pesquisa que é a representação social da pessoa com deficiência
frente à exclusão/inclusão, sob a investigação nos seguintes tópicos: conceito de inclusão;
95
Com relação ao primeiro eixo da entrevista, foi estabelecido um perfil das pessoas
com deficiência, estipulando-se para cada uma, numeração de um (01) a sete (07) pela ordem
cronológica das entrevistas, conforme ilustração abaixo.
De acordo com o perfil dos sete entrevistados, observamos que a faixa etária foi entre
24 a 64 anos; O sexo e as deficiências que foram acometidos distribuíram-se da seguinte
forma: um do sexo masculino com deficiência visual e seis do sexo feminino com deficiência
motora.
De acordo com as respostas dos entrevistados no que se refere à instituição,
destacamos duas categorias: razões de buscar a FUNAD e os serviços oferecidos por essa
instituição. Essas categorias surgiram pela importância dessa instituição no contexto da
pesquisa, tendo em vista que os usuários que participaram deste estudo encontram-se na
instituição há um tempo considerável podendo apreciar ou não os serviços realizados na
mesma. Foram direcionadas aos entrevistados as seguintes indagações: O que levou você a
procurar esta instituição? Quanto tempo está na mesma? Você conhece todos os serviços
disponíveis na instituição? O referido serviço atende às suas necessidades? Os serviços
oferecidos melhoraram em algum aspecto a sua vida? Qual (is)? O que você poderia sugerir
para melhorar o atendimento nesta instituição?
96
De acordo com o demonstrado no quadro acima, no que se refere ao tipo de escola que
freqüentou, ao grau de instrução, profissão e as dificuldades escolares na época que estudou,
foi observado ser a escola pública o local onde houve uma maior concentração dessa
população, pois todos estudaram em escolas públicas e o entrevistado número seis estudou
também em escola particular. Quanto ao grau de instrução, o respondente número quatro não
estudou e segundo seu relato Não, nunca estudei, pois tinha dor de cabeça e desmaiava e
meu pai não deixou eu estudar; e recebe o beneficio13; o número dois possui ensino básico14
incompleto e também recebe beneficio. Têm ensino médio completo os entrevistados de
numero seis e cinco que recebem aposentadoria, e o numero sete que tem o curso técnico de
enfermagem, mas ainda não trabalha. Concluíram o ensino superior os números um e seis, os
quais exercem, respectivamente, a profissão de serviço social e fisioterapia.
Quando questionados se haviam tido dificuldades na época em que estudavam os
números dois, três e cinco responderam que não. Ressaltamos que, de acordo com sua fala
transcrita, os citados três e cinco não apresentavam a deficiência motora na época, sendo
adquirida posteriormente.
13
O benefício de prestação continuada é um benefício no valor de um salário mínimo garantido pela Constituição Federal
de 1988, em seu artigo 203, inciso V para a pessoa portadora de deficiência sem limite de idade e ao idoso com mais de 67
anos, que comprovem não ter condições econômicas de se manter e nem de ter sua subsistência mantida por sua família.
www.entreamigos.com.br/textos/direitos/bepreco.htm.
14
Antigo ensino primário
97
[...] Em termos de deficiência, não. Mas tinha alguns colegas de sala que às
vezes criticavam, ficavam dizendo uma coisa e outra. Mas que também, e
esse fato não me prejudicou, não me levou a ter problema, não a me
dificultar na escola, não. Eu sempre levei como todo mundo leva e nunca dei
importância pra isso não (entrevistado no. 07).
Verificamos na fala acima citada que a condição de ter a deficiência, não seria o
motivo do problema que dificultava suas atividades escolares, quando diz que sempre faz-
nos supor que havia um processo contínuo da postura da usuária diante do que lhe ocorria.
Na sociedade existe um difícil acesso da pessoa com deficiência à educação. A
estrutura física das escolas não contribui para que isso aconteça, onde é necessário que a
pessoa com deficiência venha a se adequar às estruturas que a sociedade em geral impõe. Isto
vai de encontro às diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
deficiência, que preconiza a inclusão da Pessoa com Deficiência, respeitada as suas
peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas à educação, saúde,
98
trabalho, à educação publica seguridade social, transporte, habilitação, cultura, esporte e lazer
(BRASIL, 2000, p. 40).
Ressaltamos que o acesso à educação é um mecanismo imprescindível à sobrevivência
e à cidadania, tendo em vista que a educação é um importante recurso na luta por melhores
oportunidades. Além do mais, conhecer a si mesmo e as condições que o cercam é um direito
do ser humano, reforçado pelo educador Freire (2001, p. 14), quando diz que a educação faz
parte da liberdade e, portanto, da cidadania.
As análises das falas nos aproximaram da realidade vivenciada pelos sujeitos, não
apenas no interior da instituição FUNAD, mas na manifestação de suas ações quando falam
de que forma essa convivência representa para eles. De acordo com Jodelet (1990, p. 120)
conhecer as representações dos sujeitos que vivem uma determinada situação nos possibilita
ainda compreender as manipulações do cotidiano programado nesta situação. É no cotidiano
que as representações imperam e é através delas que identificamos o papel estipulado para
cada coisa.
Nosso objetivo é de que através dessa análise das representações da pessoa com
deficiência frente à exclusão e inclusão, possamos distribuir as categorias encontradas,
percebendo de que forma se expressa esse processo de exclusão e de como o mesmo se vê
dentro de uma possibilidade inclusivista e de cidadania.
Podemos através das suas falas transcritas, confirmarmos que as razões mais elencadas
para procurar a instituição foram pela necessidade de se submeterem ao processo de
reabilitação, de acordo os entrevistados de número dois, três, quatro, cinco e seis. Os que
procuram à instituição, visando o enquadramento no mercado de trabalho, correspondem aos
de números um e sete. Vejamos o que disseram esses usuários a esse a respeito:
Com certeza, atende as minhas necessidades [...] com certeza, a minha vida
particular melhorou bastante [...]. (No. 01);
Sim, atende [...] Cem por cento, em tudo. Como falei ficava sem
perspectiva, aqui foi aberta uma porta muito grande, cheguei aqui com
depressão, é cabisbaixa [...] (No. 02);
Atende e muito bem, pois desde que cheguei aqui, tenho melhorando
bastante [...], melhoraram em todos os aspectos que você possa imaginar, na
relação com a minha família, na aceitação da minha condição de deficiente,
de entender que mesmo com minhas limitações físicas eu posso ser feliz. -
[...]. (No. 05);
[...] com certeza, fui muito bem recebida, o pessoal muito educado, muito
simpático, souberam me informar da melhor forma possível [...]. E graças a
DEUS eu consegui tudo que eu queria e até alem da conta, [...] por exemplo
a carteirinha interestadual, que eu já vou ter uma prioridade no ônibus, a
carteirinha interestadual e também posso fazer concurso fica mais fácil
entrar [...] (No. 07).
usada com noções de espontaneidade, como diz Duarte (1996) que "[...] mesmo se uma
situação indesejável da qual não poderei escapar ocorrer comigo, eu ainda posso
espontaneamente escolher aceitá-la."
Por grupos ou por indivíduos, a aceitação pode ser de vários eventos e condições no
mundo; as pessoas também podem aceitar elementos de seus próprios pensamentos,
sentimentos ou passados. Por exemplo, o tratamento psicoterapêutico de uma pessoa com
depressão ou ansiedade poderia envolver a aceitação das circunstâncias pessoais que geraram
aqueles sentimentos, sejam elas quais forem, ou pelos sentimentos em si.
Minorias na sociedade freqüentemente descrevem seu objetivo como "aceitação", onde
a maioria não contestará a participação efetiva da minoria na sociedade. Diz-se que uma
maioria é (na melhor das hipóteses) "tolerante" com as minorias quando ela restringe sua
participação a certos aspectos da sociedade.
A atribuição do papel da familia no contexto da inclusão, pode ser considerada o
primeiro meio propício ao tema , visto a importância dessa instituição secular no contexto da
formação da identidade do indivíduo.
Compreendemos que o papel da família estável é oferecer um campo de treinamento
seguro, onde as crianças possam aprender a ser mais humanas, a amar, a formar sua
personalidade única, a desenvolver sua auto-imagem e a relacionar-se com a sociedade mais
ampla e imutável, da qual e para a qual nascem.
Esse pensamento reflete a grande importância que a família adquiriu neste século,
como a primeira célula social da qual fazemos parte e que será responsável por nossa
formação individual e social. Podemos considerar a família como um sistema bastante
complexo, uma vez que, cada família é única, diferindo em tamanho, elementos que a
compõem e valores. É um sistema altamente interativo, pois o que ocorre com um de seus
elementos repercute em todo ele.
A família exerce suas funções em cinco áreas básicas, a saber: na econômica - cabe
aos pais a manutenção de sua prole; na doméstica e de cuidados com a saúde - oferecer
abrigo, alimentação, cuidados com a higiene e saúde; na recreação - propiciar aos filhos
momentos de lazer, socialização - desenvolver nos filhos a capacidade de se relacionar em
outros grupos; na auto-identidade - oferecer aos filhos noção de realidade e consciência dos
limites: Quem sou? Qual o meu valor? E na afeição - oferecer afeto, possibilitando aos filhos
desenvolver a capacidade de amar a si e aos outros, de expressar emoções.
104
[...] Bom, pra mim, inclusão fica bastante claro que é o seguinte: que é a
aceitação do deficiente na sociedade. Mas para que o deficiente seja aceito
na sociedade ele primeiro tem que se aceitar como deficiente e quem tem
grande peso nisso aí é a questão da família. A família é um dado essencial
porque se você não tiver um apoio de casa, da família e de quem cria, seja
quem for pai, mãe, tia ou avó. Você não chegará a canto nenhum,
simplesmente você vai parar no tempo, e vai ficar se achando como
coitadinho. E não é isso que eu penso, eu penso bem diferente (No. 01).
[...] Bem, essa palavra não me é estranha, mas acredito que seja no sentido
de nós deficiente, algo que venha para nos ajudar no sentido de que todas as
pessoas normais possam aceitar a nossa presença de forma natural, sem ficar
discriminando e apontando pra gente (No. 05).
preparam para assumir seus papéis na sociedade. A inclusão social constitui, então, um
processo bilateral no quais as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade busca em parceria,
equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para
todos (SASSAKI, 2006, p. 3).
[...] Bem, como eu sou uma pessoa do meio eu sei que inclusão é a
participação do deficiente é nas instituições, no meio publico e em todos os
setores numa troca ele não vai ter que se integrar como antigamente, ele
sozinho teria que se adaptar, mas vai ter que ter gente preparada para
também dar um retorno(No. 06)..
[...] bem, é passei sim com certeza. Pois, todo deficiente passa por questão
de discriminação [...] então isso me constrangeu muito, mas aí eu deixei
para - lá (No. 01);
[...] de mim mesmo eu já senti muito, me senti revoltada com muita revolta e
minha reação foi chorar, chorei muito nesse dia (No. 04);
[...] sim, uma vez. No próprio setor de trabalho uma mãe de uma usuária,
que tinha deficiência mental (No. 06);
[...] já...já... no momento agora não me vem a lembrança...eu lembro que já
houve (No. 07).
Nas reflexões sobre a exclusão social, consideramos como Sawaia (1999), que há um
sofrimento ético político gerado pela situação social de ser o indivíduo tratado como inferior
e sem valor, assim como pelo seu impedimento de desenvolver , mesmo em uma pequena
parte, o seu potencial humano. E, ainda, que deve existir a luta contra a exclusão social, a luta
contra o desrespeito a vida, contra qualquer tipo de violência.
[...] Não, só algumas vezes com gente bestinha que passa na rua, dizendo
alguma coisa, mas eu tiro de letra. Não usei nenhum direito legal. Não
porque com algumas palavras eu sei colocar as pessoas no seu lugar. Não foi
necessário, como por exemplo, na época que eu estudava, fui bem aceita,
106
também trabalhei em escritório e fui muito bem aceita. Onde quer que eu vá,
eu não vejo nenhum olhar de discriminação. Se houver Dra. Sandra, eu sei
me sair muito bem ( No. 02).
[...] Às vezes quando tenho que ir ao médico, ficar em fila esperando o
médico chegar ir atrás de remédio do governo, entre outras coisas. Não,
porque não gosto de confusão. Como já falei, evito ao máximo ter que fazer
confusão, pois as coisas são assim mesmo, temos que ter paciência (No. 03)
[...] De mim mesmo eu já senti muito. Fora daqui, a muitas coisas. Como ver
pessoas apontando para elas na rua. Me senti revoltada, com muita revolta e
minha reação foi chorar, chorei muito nesse dia. Não, não usei de nenhum
direito desses, deixei para lá, e entreguei a Deus. (No. 04)
[...] Pra mim, o que é ser cidadão, é nada mais nada menos do que o exercer
os meus direitos, certo? De igual para igual sem discriminação, entendeu?
[...] entender que o deficiente também, tem seus direitos também tem suas
obrigações como qualquer cidadão comum que paga seus imposto,
entendeu? E é isso que eu acho da questão de ser cidadão. É igualdade para
todos (No. 01).
[...] penso que ser uma cidadã, seja algo como agente ter sabedoria para
entender que as pessoas tem que respeitar agente de uma forma ou de outra,
mesmo agente sendo deficiente, agente ter direito a possuir um trabalho, ter
uma residência para morar, poder comprar alimento para nossa família...não
sei se é isso mas ouvi muito dessas coisas nos programas dos políticos ...na
época das eleições....aí fiquei pensando que pode ser isso (No. 05).
[...] eu poderia exercer melhor como é o que é o que tenho tentado fazer, e a
questão de lutar pelos espaços dos deficientes, ter exercido né? Convocar a
sociedade esclarecer, abrir a mente das pessoas pra que elas entendam que o
deficiente também é gente, igual como outro qualquer. [...] a questão da
acessibilidade é um fator importante para toda a sociedade, certo? [...] existe
pouco acesso para pessoas deficientes, para idoso, para o cidadão que tem
uma necessidade especial, né? Para um cidadão que tem uma deficiência
mais é complicada. [...] acesso as grandes instituições, prédios, ao shopping,
a ainda deixe muito a desejar, né? Para que a cidade fique completamente
acessível para toda a sociedade, inclusive o portador de deficiência (No. 01).
108
[...] sendo tratado como uma pessoa normal, o deficiente precisa ser tratado
como um ser humano igual aos outros. Na constituição ta dizendo isso. [...]
todo o cidadão brasileiro é igual perante a lei. [...] fora as fundações, a
reabilitação, o deficiente pode ter acesso ao esporte, muitos têm, aos clubes,
muitos vão para o forrock, à praia, aos shoppings, não deveria ser, ou melhor,
não deve ser discriminado (No.06).
[...] Bom olhe enquanto cidadã, eu digo a você que não foi fácil não, é difícil
para um deficiente. Mas agente tendo o apoio da família, então agente
consegue chegar a algum lugar, agente consegue estudar, agente consegue
participar das atividades né, que a sociedade nos promove [...] a questão do
cidadão inserido na sociedade tem que ser dessa forma. [...] a família é um
ponto crucial para que o deficiente um dia venha a ser reconhecido tanto
como deficiente como profissional (No. 01).
A pessoa com deficiência é um cidadão como toda e qualquer outra pessoa. Este
direito deve ser respeitado por todos e em todas as situações, como, por exemplo, na saúde, na
educação, no transporte, no acesso à justiça, dentre outros. O que ocorre, na verdade, é que,
embora garantidos pela Constituição Federal e pelas leis, o que se verifica, na prática, é uma
reiterada e ostensiva inobservância desses direitos de cidadania contra a maioria da população
excluída dos bens e serviços desfrutados pelas elites.
[...] como cidadão não tenho do que reclamar, eu tenho meus direitos,
conheço os direitos de deficiente, e conheço o direito do cidadão, sou
formado, pago o conselho de fisioterapia, tenho trabalho, participo de todas
as atividades da minha profissão, no que se refere ao trabalho de
atendimento. Eu não sou muito discriminado devido à posição e ao status
(No.06).
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como propósito estudar as representações sociais da pessoa com
deficiência frente à inclusão e exclusão que freqüentam a Fundação Centro Integrado de
Apoio ao Portador de Deficiência FUNAD, localizado nesse município.
A princípio, temos a compreensão de que este estudo sobre as representações sociais
não se dá por acabado, aqui, por considerarmos que a realidade é um fator cíclico. Portanto, as
respostas que foram obtidas nesta pesquisa têm um caráter de provisoriedade, uma vez que a
vida possui o caráter dinâmico e as perspectivas no processo de inclusão é uma construção
constante e permanente, realizada através dos enfrentamentos das pessoas enquanto atores e
sujeitos do seu destino e dos movimentos sociais em que fazem parte, numa sociedade de
caráter eminentemente capitalista que se diz organizada.
As respostas foram analisadas e construídas, a partir de algumas constatações, as quais
vão ao encontro desta pesquisa empírica, possibilitando a indicação de caminhos possíveis
sobre as representações sociais da pessoa com deficiência frente à inclusão e exclusão.
Consideramos que as inferências, neste estudo, deixam lacunas que, na percepção e
construção do todo, fazem parte deste arcabouço teórico, com características próprias deste
conjunto de elaborações e de uma concepção de ciência na qual o saber é inesgotável.
Compreendendo, desta forma, que aqui ficarão perguntas sem respostas, mas é, a meu
ver e entendimento, que outras pesquisas poderão suscitar respostas futuras às lacunas, aqui
evidenciadas. A exemplo disto, a de que futuramente, se possa estudar quais as representações
que os dirigentes institucionais têm sobre as pessoas com deficiência, dados que na minha
concepção podem ser captados não apenas pelas entrevistas, mas ao se analisar seus
planejamentos anuais, aplicabilidade e resolutividade dos mesmos junto a esse segmento
social.
O caminho trilhado por este estudo levou em consideração aspectos teóricos e práticos
sobre os dados analisados. Portanto serão retomados alguns destes aspectos numa perspectiva
conclusiva. Nas representações sociais das pessoas com deficiências entrevistadas, tivemos
acesso a concepções que ora confirmaram ora discordavam de algumas premissas que
serviram como ponto de partida para esta pesquisa.
A finalidade deste estudo foi o de dar voz às pessoas com deficiência, para que, por
meio de suas falas, os mesmos possam explicitar os seus sentimentos, significados e as
111
condição. Portanto, a análise das relações e das articulações entre sociedade, instituições
especializadas e pessoas deficientes é o ponto central à compreensão da identidade social dos
deficientes, problemática, ao nosso entender, ainda pouco aprofundada pelos estudiosos.
A percepção da identidade da pessoa com deficiência nas sociedades complexas
atuais, não se perde no vazio. Mas, evidentemente, que, como construção coletiva, se articula
à construção da identidade particular, configurando representações sociais acerca da
concepção de um determinado grupo ou segmento social que se inter-relacionam e criam suas
próprias imagens e concepções nesse contexto.
Referindo-se às instituições de reabilitação, o referido autor chama atenção para o fato
de que essas instituições focalizam aspectos considerados importantes às relações sociais de
produção e vínculos, no que se refere à reabilitação. Consideramos para este estudo na
medida em que, ao analisar os valores que norteiam as instituições de reabilitação, acaba
descortinando, num aspecto geral, alguns valores que norteiam o real papel dessas
instituições. Em consonância com a concepção das instituições de reabilitação, pode-se
afirmar que há um trabalho institucional no sentido de promover a aproximação da imagem da
pessoa com deficiente, e não de sua vida concreta e de suas potencialidades.
A propósito da construção da identidade da pessoa com deficiência, o fato de que,
embora os discursos sociais e institucionais propugnem pela inserção do indivíduo
estigmatizado na sociedade, estamos cônscios de que há uma grande distância entre discurso e
prática: a sociedade tende a excluir os que fogem aos modelos de normalidade, quer do ponto
de vista das relações de produção, quer do ponto de vista das relações sociais; e as instituições
especializadas, em função desse fato, não conseguem atender essa expectativa, ou seja,
promover uma relação efetiva.
Nessa reflexão, ressaltamos, com base nos pressupostos desenvolvidos nesse trabalho,
que as representações sociais se constituem na atualidade, em uma linha de pesquisa que, sob
a perspectiva da racionalidade científica, clarifica os estudos voltados a questões pertinentes à
identidade social, estereótipos, preconceitos, concepções, dentre outros, desvelando o que está
subjacente nas relações e articulações dos grupos estigmatizados, possibilitando, assim, maior
compreensão do objeto pesquisado.
O que se esconde através da deficiência não é o patológico, mas, o reino da
desigualdade; desigualdade que remete à deficiência de uma constituição ou desigualdade de
quem lida na luta pela vida concebida como concurso/percurso de obstáculos. Remete sempre
a uma inferioridade. A deficiência naturaliza ao mesmo tempo a história da pessoa, fazendo
de sua falta um deficit e a história social, assimilando as performances requisitadas em um
113
certo momento histórico a uma normalidade natural. Por isto, é que é impossível distinguir, a
rigor, os deficientes de certas formas de falta de adaptação social.
Ao examinarmos as circunstâncias que cercam a vida das pessoas com deficiência,
identificamos mecanismos de segregação, marginalização e exclusão, fomentados por
políticas assistencialistas e filantrópicas. Não raro, estas pessoas são tratadas como inferiores,
subalternas e infantis, estando sujeitas ao sentimentalismo de uma concepção autoritária. Para
retirar as pessoas com deficiência da posição de apêndice da sociedade e reconhecer sua
cidadania e identidade de sujeitos desejantes, será necessário reexaminar as concepções
acerca da deficiência e seus corolários. Somente assim será possível redefinir políticas de
reabilitação, compreendida em todos os sentidos de independência e de autonomia como
dinâmica de recomposição da vida.
Assim optamos por compreender as representações sociais das pessoas com
deficiência, a partir da existência concreta dos mesmos, no local a sociedade tem como
referencia e que são incorporadas por eles como parte deles e não pertencentes ao meio, como
cidadãos críticos e conscientes da realidade que os cerca. E não, no entendimento de uma
realidade ambígua, de resignação e aceitação, onde os discursos românticos e de gratidão
mesclam-se, mas ao mesmo tempo, possuem contornos distintos em nível de suas
representações sociais.
Dentro dessas considerações não poderíamos deixar de pensar que a Instituição
FUNAD seria diferente para as pessoas com deficiência que foram entrevistadas, em termos
de superação de alguns conflitos e carências. A instituição está incorporada à vida dos
entrevistados numa relação de poder e dominação através da docilidade e do assistencialismo,
já incorporado ao senso comum da gratidão. Uma exclusão e dominação produzida não pela
instituição, mas histórica e socialmente.
A condição da pessoa com deficiente é apontada, em algumas situações das
entrevistas, como algo anormal e fora do comum, dos padrões postos pela sociedade, uma
variedade de comportamentos que revelam atitudes de negação da deficiência,
marginalização, super proteção e outros sentimentos confusos e contraditórios, geralmente,
mesclados de ambivalência, decepção, culpa e rejeição.
O sentido da deficiência na vida de uma pessoa é produto do entrelaçamento de sua
história pessoal com o meio social no qual vive. Sobre a pessoa com deficiência incide o
estigma da incapacidade e da invalidez. Sobre ela recai o peso da menos valia e da opressão.
Mas existem aquelas que ousam desafiar as leis, ignoram supostas inaptidões e mobilizam
recursos no sentido de pleitear e tomar posse dos espaços conquistados, alguns destes
114
encontraram seus espaços em movimentos sociais e fizeram e fazem sua história acontecer.
Mas uma grande maioria são as pessoas com deficiência que se tornam dependentes do seu
meio social, e não conseguem seus espaços porque estão subordinados a eles, mesmo que não
percebam.
Não foi diferente com os nossos sete entrevistados, que de uma maneira geral, tiveram
sua representação ancorada na idéia de direitos e deveres, acessibilidade, aceitação e
resignação na pretensão de ser aceito na sociedade. Em todas as falas o significado do que é
ser cidadão e os significados dos mesmos, com algumas exceções, estavam entrelaçados a
uma idéia fragmentada e de repetição de discursos reproduzidos pela mídia e jornais que
reforçam o senso comum da própria condição da deficiência que é portador, dos estigmas,
preconceitos e, retomo o termo que ficou de certa forma evidente nas entrelinhas das
entrevistas que foi, resignação e aceitação. Ficou menos relevante nas suas falas a autonomia
como ser pensante, tendo seu próprio status social, sem dependência.
De fato, promover mudanças nesse consenso, podemos dizer que seria uma utopia,
visto que, nessa condição de dependência e subordinação, estamos todos nós, envolvidos num
senso comum do ter, poder, possuir e consumir. E porque, também, não dizer rotular e
estigmatizar não só a pessoa com deficiência, mas todos que não se submetem a esse status
social. Cabe a nós dentro de uma visão solidária e reivindicatória, promover e proporcionar
mudanças que minimizem o quadro atual, promovendo mudanças de atitudes em prol de
emancipação, autonomia e consciência do outro nesse contexto de mundialização que
fazemos parte e de certa forma compactuamos.
115
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WERNECK, C. Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro:
WVA, l997.
APÊNDICE
122
APENDICE I
Pesquisa:
REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA PESSOA COM DEFICIENCIA FRENTE À INCLUSÃO
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1. IDENTIFICAÇÃO DO RESPONDENTE:
2. INSTRUÇÃO:
OBS. _____________________________________________________________________
4.DADOS GERAIS:
a) Quais? __________________________________________________
b) Como você se sentiu? _______________________________________________________
c) Nesse contexto de discriminação você usou de algum direito legal?
d) Quais os outros direitos sociais ou legais que você conhece e á utilizou?
e) Em que circunstâncias?
APENDICE II
Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido (a) e dou o meu
consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente que
receberei uma cópia desse documento.
______________________________________
Assinatura do Participante da Pesquisa
ou Responsável Legal
dactiloscópica
______________________________________
Assinatura da Testemunha
Atenciosamente,
___________________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
___________________________________________
Assinatura do Pesquisador Participante
127
ANEXOS
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