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Lu i g i - m a r ia r o s s e t t i , o . m . i .

Prática
de
Caracterologia Religiosa
Tradução de
GERARDO DANTAS BARRETTO

EDITORA VOZES LIMITADA


PETRóPOLlS, RJ
1965
Título do original italiano:
Pratica di Caratterologia Religiosa
Copyright (1961) by Libreria Dottrina Ci$|tiana
Via Maria Ausiliatrice 32, Torino"
Direitos de tradução para a língua portuguêsa
adquiridos pela Editora VOZES Ltda.

1 M P R I M A T U R
POR COMISSÃO ESPECIAL DO EXMO. E REVMO. SR.
DOM MANUEL PEDRO DA CUNHA CINTRA,
BISPO DE PETROPOL1S.
FREI WALTER WARNKE, O .F .M .
PETRÔPOLIS, 25-2-1965.

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS


PRÓLOGO

Não pretende êste modesto trabalho oferecer nenhuma nova


contribuição científica à caracterologia. Existem já muitos livros
escritos por ilustres psicólogos.
O que, sim, pretende é uma finalidade eminentemente prá­
tica e — se nos é permitido dizer — “sacerdotalmente carita-
tiva’! em favor dos muitíssimos educadores — superiores de
casa» de formação, diretores espirituais e também pais de fa­
mília, que não tiveram a possibilidade nem a oportunidade e,
talvez, nem sequer o tempo de adquirir uma cultura psicoló­
gica consciente, baseada na moderna caracterologia, que resulta
tanjo mais necessária quanto mais elevada é sua missão e sua
responsabilidade educativa.
Quisêramos, portanto, pôr à sua disposição quanto os es-1
tudos mais recentes de psicologia caracterológica trouxeram à
Pedagogia, com o fim de que lhes sirvam para proporcionar às
almas dos jovens uma formação verdadeiramente eficaz, tanto
no aspecto humano como no sobrenatural.
Estas indicações, baseadas em processos de inspiração cien­
tífica, “conveniente e prudentemente utilizadas” — como diz
G riéger' — prestam magnífico serviço para obter uma orien­
tação pessoal, para determinar e valorizar os elementos natu­
rais — o caráter — existentes em todo indivíduo.
A caracterologia tem pôsto em evidência preciosas leis de
correlação que — se aplicadas com critério — podem servir
eficazmente para obter um conhecimento. mais profundo do in­
divíduo, com suas naturais predisposições, e também para utili­
zar de um modo mais racional suas possibilidades reais, com
o fim de orientá-lo e guiá-lo eficaz e prudentemente. ’
Naturalmente, a caracterologia — por si só — não basta
para “formar” um educador. O conhecimento teórico da psico­

1 P. G r i é g e r, Caractère et Vocation, Editions "Journée de Ia


vocation”, Mônaco 1958, p. 16.
* ld., p. 17.

5
logia caracterológica não é suficiente. Nem sequer se chega a
ser caracterólogo com aprender umas lições à maneira como se
estuda a física ou a geografia. O estudo não basta; há de ir
acompanhado da experiência pessoal do educador. A inteligên­
cia teórica nunca pode, ela só, ser suficiente: mister se faz
“que pense também o coração” (G. B. Vico). ' Isto afeta es-
pécialmente os educadores: sua inteligência deve passar pelo
calor do coração, se quiser compreender e, sobretudo, conquis­
tar a alma dos jovens!
A educação é, antes que outra coisa, obra de Amor.
* * *

Três pontos são o objeto e a preocupação do presente


estudo:
— a clareza: de modo que mesmo aquêles que não tenham feito
estudos especiais possam entender tudo fàcilmente: seguire­
mos, portanto, um esquema preciso e idêntico para todos os
tipos de caráter.
— propor noções que se apoiem em critérios científicos: será
a única maneira de garantir o sentido experimental de quanto
exporemos;
— a brevidade: a qual permitirá reter fàcilmente as noções fun­
damentais gravadas e, na medida do possível, aplicá-las com
resultados positivos.
Tudo isto queremos apresentá-lo aos leitores, não como con­
clusões estritamente científicas, mas antes à guisa de indica­
ções, c q u io uma “pista” a seguir, que facilite, sobretudo, o
diagnóstico e a classificação de um determinado caráter; para
passar depois a educá-lo, primeiro, no plano humano, e de­
pois elevá-lo ao plano sobrenatural.
Pode, pois, êste livro ser considerado como um guia prá­
tico — seu título já o, expressa — ou como um vademecum.
* * *

Um vademecum de caracterologia. . . porém antes quisera


ser um vademecum de amor paternal. Dissemos que a educa­
ção é, sobretudo, obra de amor. E o amor não põe limites em
suas obras. “Caritas patiens est”, diz-nos S. Paulo.
O educador que leve sempre no coração o amor de Deus
não se cansará nunca de trabalhar pelas almas, porque no amor
de Deus haurirá o amor que lhes há de transferir, para tornar

* T h i b o n, Le caractère et la vie spirituelle, in "Dict. de Spiri-


tualité”, vol. II, col. 121.

6
a recolhê-lo depois do fundo de todos os corações e levá-lo
de nôvo até Deus.
* * *
N. B. — Sentimos o dever, ou antes — a necessidade —
de exprimir nossos sentimentos de viva gratidão:
— ao Revdo. P. Joseph J a c q m i n , O .M .I., ex-Vice-
Diretor Geral dos Estudos O .M .I., pelo seu curso dado na
“Rétraite de Mazenod” (39 ano de Provação dos Padres O .M .I.),
e por seu vasto estudo sôbre Caracterologia Religiosa;
— e ao Prof. Paul G r i é g e r, das Escolas Cristãs, por
seus judiciosos conselhos que tanto incentivo nos proporciona­
ram para levar a cabo êste modesto estudo.
Se o presente trabalho conseguir proporcionar algum bem
às almas, o mérito se deve, de modo particular, também a êles.

O AUTOR

7
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Êste estudo teve como "fontes principais” :


a) As seguintes obras:
Le S e n n e , René, Traité de Caractérologie, Paris, P . U . F . , 1957
(traduzido em italiano pela S. E. I . , 1961).
G r i é g e r , Paul, Diagnostic caractèrotogique, Paris, Ligei, 1952.
— Caractère et Vocation, Mônaco, Ed. “Journée de la vocation”, 1958
(traduzido em italiano para o prelo da S. E. I . , 1960).
— Uinteltigenza e 1’educazione intellettuale, Torino, S. E. I . , 1957.
L e G a 11, André, Caratterotogia dei fanciulli e degli adolescenti, To­
rino, S. E. I . , 1957.
C a r n o i s, Alberto, II dramma delVinferiorità nel fanáullo e nelpado-
lescente, Torino, S. E. I . , 1960.
M a r c o z z i , Vittorio, S.J., Ascesi e psiche, Brescia, Morcelliana, 1958.
P i e l o r z , Josef, O. M. I. , La vie spirituelle de Mgr. De Mazenod, Fon-
dateur des Oblats de M. I. , Roma, Pont. Universitas Gregoria­
na, 1955.
S i m o n e a u x , Henri, O . M . I ., La diredion spirituelle suivant le ca­
ractère, Paris, Aubier, Ed. Montaigne, 1958.
D e m a 1, Psicologia pastorale pratica, Ed. Paoline.
V i e u j e a n, Jean, La personne de Jésus, Louvain, Ed. de L’A. C. I . B. ,
1939.
b) Os dois ótimos estudos poligrafados:
J a c q m i n , Joseph, O. M. I. , Essai de caractérologie religieuse, Ro-
me 1954.
N o y e l l e , H., S. J. , Caractérologie et formation spirituelle.
c) Os artigos seguintes:
M a c A v a y , Joseph, S. J. , Diredion et psychologie, in “Dict. de Spir.”,
vol. III, cc. 1143-1173.
— Éducation et personalitê, in “Dict. de Spir.”, vol. IV, cc. 311-330.
T h i b o n, G., Le caractère et la vie spirituelle, in “Dict. de Spir.”,
vol. II, cc. 127-131.
Dr. R. K a n e 1 et M. D e I b r e 1, La femme, le prêtre et Dieu, in
“Supplément de la Vie Spirituelle”, n. 13, maio de 1950-
P. S a u v a g e, La diredion spirituelle des femmes, in "Supplément de
la Vie Spirituelle”, n. 13, 1950.
A u t o r e s v á r i o s , Diredion spirituelle et psychologie, in “Etudes
Carmélitaines”, 1951.
Para uma ampla bibliografia, consultar as supracitadas obras de
Carnois, Griéger, Marcozzi e Simoneaux.

8
PARTE PRIMEIRA

CARACTEROLOGIA GERAL
CAPITULO I

NOÇÕES PRELIMINARES

A formação de qualquer indivíduo exige, por parte do edu­


cador, um trabalho dirigido para uma dupla finalidade: formar
o homem, no mais autêntico significado da palavra, e o cris­
tão até conduzi-lo à mais alta vida espiritual, à santidade.
Uma "personalidade formada” é o resultado de muitos ele­
mentos que se integram e influenciam reciprocamente. E’ neces­
sário, portanto, começar desde o mais elementar, para subir
sucessivamente ao ponto mais alto.
Pode dizer-se que o substrato natural de todo indivíduo
permanece imutável: nêle se acumulam dènsamente, porém sem­
pre de um modo preciso e característico, os impulsos exter­
nos da educação e da experiência própria vivida neste ou na­
quele ambiente. Por isto costuma-se dizer que o “caráter” —
isto é, êsse substrato natural — rião muda, ou muda pouco,
no curso da vidá. 1
Exerce êle grande influência no desenvolvimento da vida
humana, por ser a base, a pedra angular, ou melhor, o funda­
mento, sôbre o qual a Graça constrói sua obra. Todos sabemos
que a Graça supõe a natureza e a ela se adapta.
“Ora, o estudo de uma personalidade sobrenatural coloca-
nos ante elementos diversos: uns de ordem natural, outros de
ordem sobrenatural, bs quais reagem uns sôbre os outros e de
tal maneira se compenetram, que muitas vêzes é difícil preci­
sar o que provém da natureza e o que procede da Graça”.
“A Graça constitui, sem dúvida — na vida humana —
um fator “gratuito” imprevisível, cuja influência nenhum estudo
psicológico poderá medir. Porém, doutra parte, menos certo não
é que a natureza e a Graça não constituem duas realidades
independentes: há entre elas continuidade e concordância. Qual-

1 Pielorz, La Vie spiritueile de Mgr. de Mazenod, Ro­


ma, Pont. Univ. Gregoriana, 1955, cap. V passim.

II
quer dom sobrenatural de Deus, por inesperado que seja,
“adapta-se” misteriosamente à alma que o recebe. O exemplo
dos santos ilustra magnificamente esta afinidade íntima, esta
secreta osmose entre a natureza individual e a Graça. A ori­
ginalidade e a virtude específica da espiritualidade dos santos
aparecem determinadas materialmente pela estrutura de seu
caráter”. 2
Alguns hagiógrafos e biógrafos de nosso tempo equivocam-
se, muitas vêzes, ao examinarem a vida moral de um santo,
quando lhe exaltam as virtudes quase exclusivamente no plano
humano, enquanto que, no século passado, outros hagiógrafos
incidiam no êrro oposto, ao ressaltarem quase somente o dado
sobrenatural.
Há que evitar ambos os excessos: conceder demasiada im­
portância ao elemento “material”, ou dotes de caráter, e des-
curar, por outra parte, o elemento humano, para só destacar
o sobrenatural. Portanto, o juízo que se há de formular sôbre
o influxo da Graça numa alma — isto é, o conhecimento de
sua autenticidade sobrenatural — requer uma prévia investiga­
ção psicológica, seja porque o caráter é como a pedra angu­
lar em que se erige a Graça, seja porque, em alguns casos,
chega até a fazer-lhe as vêzes. Com efeito, não é raro encon-
trarmo-nos ante atitudes idênticas produzidas, num caso, pela
Graça e, em outro, pela natureza.
Igualmente importante é conhecer o terreno em que comba­
teu uma alma, as forças de atração ou de repulsão que, pau-
latinamente, a ajudaram ou constituíram um obstáculo, se se
quiser compreender o trabalho da graça nela e medir-lhe
a eficácia.
Nosso estudo aspira precisamente a indicar o caminho da
Graça na natureza individual, seguindo o método da Escola
Holandesa de Groninga, chefiada pelos Drs. Heymans e
Wiersma, e difundida na França por René Le Senne. 3*

2 G. T h i b o n , op. cit., in "Dict. de Spit.”, vol. II, col. 121.


* H e y m a n s , Gerardo: nascido em Ferwerd (Holanda) a 17 de
abril de 1857. Foi psicólogo e professor na Universidade de Groninga.
Emrelação à Caracterologia, redigiu um estudo biográfico em 1908,
e outro, estatístico, em colaboração com Wiersma em 1909; publicou
vários artigos em diferentes revistas, e um estudo sôbre a "Psicologia
feminina”. Foi eminente psicólogo, sobretudo no campo da psicologia
especial. Exerceu influência decisiva sôbre a Caracterologia de Le Senne.
Morreu em Groninga a 18 de fevereiro de 1930.
W i e r s m a , Enno Dirk: nascido em Pieterzyl (Holanda) a 29 de
setembro de- 1858. Foi professor de psiquiatria na Universidade de

12
Existem, é verdade, outras escolas de Caracterologia de
muito prestígio, valor e utilidade; são mui respeitáveis e —
segundo outros intentos pedagógicos — merecem seguidas.
Nós nos baseamos no método Heymans-Le Senne, por con­
siderarmos mais eficaz para a nossa missão educadora.
Da mesma opinião são outros autores de grande renome:
O P. V. Marcozzi, S .J ., diz:
"Entendemos que um dos sistemas mais úteis para o Dire-
. tor espiritual é o dos cientistas holandeses Heymans e Wiersma,
quer por levar em conta realmente os mais importantes caracte­
res psíquicos, por aproveitar quanto de bom e verdadeiro há
nos sistemas precedentes, por ser corroborado por uma ampla
documentação estatística, quer porque, sendo todos de natureza
psíquica, fàcilmente podem os caracteres individualizar-se mes­
mo por quem não entende de fisiologia, como geralmente suce­
de aos Diretores espirituais”. *
Escreve o P. H. Simoneaux, O .M .I.:
“Mesmo que seja pré-científico (assim o qualifica Donceel),
o método Heymans-Le Senne continua sendo o melhor que te­
mos para o uso prático, como o reconhece o próprio Donceel.
Está, inclusive, ao alcance do estudante de primeiros cursos de
filosofia' e de psicologia. Por outra parte, os elementos utiliza­
dos, mesmo se não são de todo cientificamente válidos, foram
escolhidos, todavia, progressivamente, e enriqueceram-se com
abundantes provas experimentais. ÓP°'an<io-se sobretudo numa
massa de evidências extrínsecas, o sistema de Le Senne pare­
ce sólido.
“O melhor argumento a seu favor é que os sacerdotes —
como os educadores em geral — empenhados ativamente na di­
reção espiritual podem compreender êste sistema e utilizá-lo com
proveito, para conhecerem melhor as pessoas que dirigem. Obras
demasiado técnicas resultariam inacessíveis à maior parte dos
diretores, ao passo que o sistema de Le Senne pode ser por
todos compreendido e levado fàcilmente à prática. Por isto os
Superiores e Diretores espirituais devem alegrar-se de ter à sua
disposição um estudo tão penetrante que já teve sua compro-

Groninga. Colaborou com Heymans em seus estudos de psicologia


especial.
L e S e n n e , René: nasceu em Elbeuf-sur-Seine, na França, a 8 de
julho de 1882. Foi professor de filosofia na Sorbona. Fundou, em
1934, a coleção “Philosophie de 1’esprit”. Foi presidente do Instituto
Internacional de Filosofia. Sobressaiu como filósofo existencial-espiri-
tualista. Atingiu uma rica maturidade de pensamento no sistema caracte-
rológico que construiu sôbre os princípios estabelecidos por Heymans, e
que expôs em seu conhecido Traité de Caractêrologie, Paris, Ed. P . U . F .
Morreu em Paris a 1* de outubro de 1954.
4 V. M a r c o z z i , Ascesi e Psiche, Morcelliana, 1958, p. 42.

Í3
vação em pedagogia. E, ainda quando a Pedagogia apresentada
com êste método não seja a mais cientifica, contudo parece ser
— na atualidade — a mais útil e a mais prática para a edu­
cação e para a pastoral”. 5
Também Mac Avoy, S .J ., no seu artigo “Éducation de la
personnalité” — in “Dict. de Spiritualité”, vol. IV, coluna 324
— diz:
“Se nós empregamos a caracterologia Heymans-Le Senne, não
é por ser a melhor, e sim por ser atualmente a mais difundi­
da, e por serem suas diretrizes transferíveis a uma classifica­
ção dos caracteres baseada em outros pontos de vista. Ademais,
suas conclusões aplicam-se igualmente assim aos adultos como aos
adolescentes.
“Para o adulto, diretamente: enquanto se pretéhde, mais que
uma mudança radical do caráter, obter um conhecimento mais
perfeito de si mesmo e dos outros.
“Para o adolescente, indiretamente: enquanto o diretor pode
ter um conhecimento dos outros qué lhe permite uma melhor
compreensão dos pontos que o aproximam ou o distanciam da­
queles que êle dirige”.*1

• H. S i m o n e a u x : La direction spirituelte suivant le caractère,


Paris, Aubier, Ed. Montaigne, pp. 79-80.
A páginas 76, para ser objetivo, o P. Simoneaux refere as obje-
ções que alguns fazem ao sistema Heymans-Le Senne:
1. Não é cientificamente claro que as três propriedades fundamen­
tais tenham deveras uma unidade funcional na constituição do cará­
ter, e que excluam qualquer outro fator incógnito.
2. Le Senne não diz qual seja o nível médio que separa, p. ex.,
os E dos nE, os A dos nA, etc.
3. Considera a percentagem das pessoas como percentagem das qua­
lidades. Assim, p. ex., a proporção de que 87% dos fleumáticos são
verazes não pode ser tomada como proporção da veracidade do indi­
víduo, isto é, de que o fleumático é veraz em 87%.
Porém Simoneaux, como outros autores, reconhece, a pp. 80, que
a caracterologia, por ser pré-ciência, é ainda jovem (e portanto se
acha ainda em formação).. . Por isto Le Senne insiste em diier que
só pretende dar "pistas”, pontos de referência "úteis para descobrir
as inclinações e as tendências dos sujeitos”. Indicações estas que de­
vem ser completadas -pela experiência pessoal do educador.

14
CAPITULO II

CARACTEROLOGIA HEYMANS-LE SENNE

Antes de tudo, para Le Senne' a Caracterologia mais efi­


caz e preciosa é a que nos instrui sôbre o que somos “congê­
nitamente”, e logo nos orienta para uma ação sôbre nós
mesmos.
Como todos os ramos do conhecimento, não deve ela de-
ter-se nos princípios. Deve também preocupar-se com tomar
em consideração os resultados obtidos e utilizá-los ao máximo
em estudos sucessivos, com o fim de progredir em precisão
e clareza. Por isto, deverá estar em contínua tensão, com vis­
tas a possuir sempre mais fundado e seguro conhecimento do
homem.
Servindo-se habilmente de quanto as várias escolas de psi­
cologia caracterológica haviam desenvolvido, Le Senne fixou as
linhas-mestras da sua Caracterologia,
Seguindo esta escola, veremos:
I) o que se entende por “caráter”
II) os elementos fundamentais e acessórios do caráter;
III) a correspondente classificação dos caracteres atenden­
do aos elementos fundamentais.

I. O QUE SE ENTENDE POR “CARÁTER”


Pode esta palavra assumir um tríplice significado:
1) No sentido primário e moral: significa o conjunto de
qualidades superiores que exornam uma personalidade, adquiri-1
1 No correr dêste livro indicaremos com o nome de Le Senne o
método holandês (Heymans-Wiersma), porque na realidade foi Le
Senne querii expôs num verdadeiro tratado ( Traiti de Caractêrologie,
P . U . F . , Paris) todo o sistema da escola holandesa, visto que Heymans
e Wiersma escreveram sòmente artigos e alguns estudos particulares,
p. ex.: Heymans escreveu a Psicologia Feminina.
’ Para a terminologia caracterológica científica em língua italia­
na, ater-nos-emos à usada pelo P. M a r c o z z i em seu livro Ascesi
e Psiche, Morcelliana, 1958.

15
da à base de educação e experiência pessoal. E’ neste sentido
que se costuma dizer: “E’ um homem de caráter”, ou então:
“Nessa pessoa há um caráter”.
2) No sentido lato e psicológico: designa o conjunto de
tudo aquilo que alguém recebeu da natureza, o elemento psico-
fisiológico, mais tudo aquilo que é fruto da educação recebida.
3) No sentido estrito e caracterológico: significa "o con­
junto das disposições nativas (congênitas) que inclinam um in­
divíduo a agir sempre do mesmo modo”.
Êste sentido estrito refere-se, pois, sòmente à base fun­
damental do indivíduo, sôbre a qual se edificará depois tudo
o mais. Por esta razão Ribot afirma precisamente: “O caráter
reduz-se àquilo que é inato no indivíduo”. 5
Por sua parte, Le Senne *4 define-o: “O conjunto das dis­
posições congênitas que formam a estrutura mental de um ho­
mem”, estrutura que o indivíduo recebe da natureza e da he­
reditariedade, e cuja solidez constitui o esqueleto de sua vida
mental. O caráter, tomado neste sentido, limita-se a indicar o
que é nato no indivíduo, excluído tudo o que adquiriu em sua
vida graças à educação e à própria experiência, etc. E’ como
o substrato — e, portanto, invariável — sôbre o qual se constrói
a história de tôda vida humana.'
Está composto, se assim se pode dizer, de um duplo ele­
mento: o primeiro, estritamente fisiológico (que correspondería
ao que antes se indicava com o nome de “temperamento”); o
segundo, psicológico, resultante da hereditariedade.
Le Senne determinou a noção de caráter em sentido estri­
to com êstes têrmos: “o sistema invariável do agir humano”.
O caráter, portanto, “encontra-se, para assim dizer, nos limites
do orgânico com o mental”.
Ao longo dêste manual cingir-nos-emos a êste último sen­
tido estrito' e caracterológico, quando tivermos de empregar a
palavra “caráter”.

II. OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO CARÁTER


São de duas classes:
1) elementos fundamentais ou constitutivos;

* P. G r i é g e r , Diagnostic Caractérologique, Paris, Ligei, 1952, p. 5.


4 L e S e n n e , Traité de Caractàrologie, p. 9.
' P. G r i é g e r , op. cit., p. 6.

16
2) elementos suplementares ou acessórios (êstes últimos são
numerosos, mas só lhes enumeramos os mais importantes).
Três são os fundamentais:
— Emotividade,
— Atividade,
-— Ressonância das impressões.
São quatro os suplementares mais importantes:
1) Campo de consciência psicológica: estreito ou largo.
2) Natureza do objeto a que se tende: egocentrismo ou
alocentrismo.
3) A forma de inteligência: analítica ou sintética.
4) As paixões: orgulho, avareza, etc. (que assumem uma
forma especial conforme o caráter).
Consideramo-los separadamente, para lhes definir com maior
clareza o conceito específico. Da fusão dêstes elementos resulta
a fisionomia precisa de cada caráter-tipo.
Naturalmente, isto afeta igualmente tanto os elementos fun­
damentais como os acessórios.
Desde já cumpre notar que os elementos fundamentais e a corres­
pondente descrição dos caracteres-tipo dificilmente se encontram, na
vida e em cada um dos indivíduos, em estado puro, isto é, tais como
os descrevemos.
Assim como, para o físico, todos os homens, embora tenham os
mesmos traços humanos (dois olhos, um nariz, uma bôca, etc.), apre­
sentam sua fisionomia com uma característica especial, que dá a "êsse
rosto” uma expressão única, que o individualiza e distingue claramente
dos outros, porque Deus não cria os homens “em série”, da mesma
maneira sucede com o caráter: cada indivíduo tem, fundamentalmente,
os três elementos constitutivos e vários dos acessórios, e no entanto
êstes assumem nêle formas características tão próprias e tão admiràvel-
mente fundidas, que o individualizam e o distinguem claramente dos
demais.
Por isto, incorrería em êrro o leitor se se iludisse querendo en­
contrar nesta análise, de modo preciso e imediato, “seu” retrato...
Em vez disto, deverá observar qual dos elementos fundamentais predo­
mina nêle, e em que grau, e, depois, considerar atentamente a união
dêsses elementos, para conhecer o “conjunto” resultante que correspon­
de ao seu “eu”. Por esta razão, Le Senne, como já dissemos, ensina
que sua caracterologia não tem outro escopo senão oferecer indica­
ções ou pontos de referência a fim de que cada qual, por sua conta,
possa identificar-se a si mesmo para se corrigir e chegar a dar o má-:
ximo rendimento; e, ao mesmo tempo, para que — quem tenha a missão
de educar — possa conhecer mais fàcilmente os outros e formá-los
inteligentemente tanto no plano humano como no sobrenatural.

Caracterologia — 2 17
CAPITULO III

OS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS

I. EMOTIVIDADE
A emotividade "mede” a sensibilidade diante de um estí­
mulo que toque o homem de perto, quer seja interno (imagein-
pensamento-lembrança) ou externo” ( M o u n i e r ) .
Características:
— desproporção entre a importância objetiva do estímulo (ex­
terno: um acontecimento; ou interno: imagem, lembrança) e a
reação subjetiva;
— reagir ou obedecer a estímulos insignificantes;
— dar importância excessiva a objetos ou acontecimentos que
de per si não deveríam comover;
— vibrar excessivamente, mais do que a média dos que gostam
da mesmã coisa;
— usar expressões exageradas (superlativos ou palavras re­
dundantes) ;
— reagir violentamente a uma palavra ou a um ato de pouca
importância;
— chorar ou rir por um nada.
Quando alguém costuma agir por um ou vários dêstes mo­
tivos, é olassificado comô Emotivo = E. 1 Quem sói agir em sen­
tido contrário fica classificado como não-Emotivo = nE.

1 Quando se classifica um indivíduo como E (emotivo), quer dizer


que êle tem uma emotividade acima da média comum dos homens; e
como nE (não-Emotivo) exprime-se que êle a tem abaixo dessa média
comum. Isto se aplica também à Atividade e à Ressonância. Sucede
aqui como com a temperatura do corpo humano: 37” é a média; se
esta sobe, tem-se a febre fraca, alta, altíssima.

18
Sua influência:

Positiva:
— age como motor que põe em ação as potências fisiológicas,
biológicas, etc., e ao mesmo tempo lhes apóia a ação;
— aumenta o interêsse pela ação que se vai executar, sem o
qual não poderia ela ser realizada;
— exerce forte influência sôbre a vida artística; incentiva e de­
senvolve as aptidões literárias e oratórias;
— desenvolve a inteligênciá intuitiva e favorece a penetração.

Negativa:
— acentua a impressão do momento;
— restringe o campo da consciência psicológica;
— não favorece a objetividade e a veracidade;
— é pouco propícia à síntese e repugna-lhe a abstração.
NOTA: Sôbre a Emotividade influi muito o “sentimento” do inte­
rêsse que se tem por uma pessoa, por um acontecimento ou por uma
coisa. Quanto mais de perto nos afeta, tanto mais nos com ove...

II. ATIVIDADE

“E’ uma tendência congênita e assídua, que impele a agir


ou a criar ocasiões para agir” (O r i é g e r).

Características:
— experimenta-se uma necessidade de agir, algo assim como
uma tendência inata: as idéias e as imagens traduzem-se es­
pontâneamente em atos;
— frente a um obstáculo, não se desanima nem se desespera,
senão, pelo contrário, concentram-se a6 próprias forças e qua­
se se goza por estas dificuldades, e, inclusive, age-se com
maior energia;
— age-se por agir, mais que pelo resultado que se poderia ter;
sucesso, glória, etc.
Quem costuma agir de um ou de vários dêstes modos é
um Ativo = A.
Quem, ao invés, assim não costuma agir é um:
não-Ativo = nA.

2* 19
Sua influência:
Positiva:
— sua presença é “geradora de fôrça” em todas as funções:
constitui uma das riquezas mais preciosas de um caráter, e pre­
serva do ócio;
— favorece a aptidão para a investigação; estimula a em­
preender e a realizar; robustece o espírito de luta; incentiva o
esforço ante as dificuldades; alimenta o otimismo; fomenta o
talento oratório; predispõe para a decisão, mesmo nos casos di­
fíceis; incrementa também o desenvolvimento da inteligência.
Negativa:
— fomenta o espírito de independência e a obstinação; induz à
avidez e à ambição; favorece o predomínio dos interesses prá­
ticos (dinheiro, honras, etc.).
NOTA: A atividade caracterológica não deve ser confundida com
a que às vêzes desenvolve um Emotivo; êste chega a ser ativo só por
interêsse ou como reação a úm estimulo externo.

III. RESSONÂNCIA DAS IMPRESSÕES


E’ a reação mais ou menos prolongada que se produz na
consciência psicológica depois de uma sensação ou impressão.
“E' uma propriedade m ista — diz Griéger — de fundo
fisiológico, com expressão caracterológica”. 1
Pode ser de duas espécies: Primária e Secundária. 3

RESSONÂNCIA PRIMARIA

Características:
E’ imediata, mas de breve duração: ocorre enquanto o es­
tímulo ocupa o campo da consciência psicológica clara; porém,
mal o estímulo cessa, desaparece também a impressão.
Isto sucede:
— quando se vive completamente absorvido pelo momento pre­
sente, ou pelo ato que se está praticando, de tal modo que,
depois, nem sequer se pensa mais nêle, senão que se passa,
em seguida, a novos projetos e novas situações;*
* P. G r i é g e r , Caracfère et vocation, p. 53.
’ Cf. Le S e n n e - G r i é g e r - S i m o n e a u x - M a r c o z z i , op. cit.,
passim, e L e G a 11, Caratterologia dei fanciulli e degli adolescenti, Tu­
rim, S. E. I . , 1957, passim.

20
— quando se buscam os resultados imediatos;
— quando se é superficial e inconstante nos afetos.
Exemplo: aquêle que reage imediatamente, e mesmo com vio­
lência, a uma censura, e pouco depois readquire a serenidade
e esquece tudo. E’ como um elástico que, apenas deixa de
esticar-se, volta imediatamente a seu tamanho natural sem a
menor môdificação.
“A Primariedade é fonte de juventude” (L e S e n n e ) .
Sua influência:
Positiva:
— predispõe à clara percepção das coisas e à rapidez em com­
preender a situação do momento; facilita a versatilidade. Fa­
vorece a inspiração e predispõe à arte; e não, ao contrário, às
ciências especulativas. Para ela, “experiência” quer dizer pre­
sença viva da impressão recebida.
Negativa:
— predispõe à regularidade, altera a objetividade e a coerên­
cia (não raro em contradição com os princípios aceitos). Pro­
move a superficialidade, a inconstância e a mania de mudanças.
Como também não favorece bastante o controle das inclina­
ções sexuais.

RESSONÂNCIA SECUNDARIA

Características:
Dá-se quando uma impressão, a que se resiste inicialmente
ou que é advertida ligeiramente, penetra pouco a pouco no mais
profundo da consciência psicológica, onde é lentamente absor­
vida e permanece muito tempo.
Encontramo-la portanto:
— quando alguém permanece sob uma impressão duradoura, tan­
to de dor como de alegria;
—- quando não se vive sob a influência do presente, mas, ao
invés, fica-se apegado ao passado;
— quando se substitui a espontaneidade pela reflexão;
— quando o indivíduo se volve para seu interior e se concen­
tra profundamente em tudo o que faz.
Exemplo: a pessoa que, ante uma censura ou uma pala­
vra ofensiva, não reage logo (exteriormente talvez empalideça

21
ou tenha ligeiro frêmito nos lábios), porém que jamais a es­
quecerá. Desta forma age o que costuma dizer: “Perdoo mas
não esqueço” ; ou então aquêle que rompe com uma amizade
por uma simples palavra ou por um ato indelicado. Algumas
vêzes, muito poucas, pode ter reações violentas que des­
concertam.
De quem costuma agir dêste modo se diz que procede por
reação Secundária ou, simplesmente, que é um Secundário = S.
A Secundariedade é “a mãe da fidelidade exemplar e dos
sentimentos profundos” (L e G a l l ) .
Sua influência:
Positiva:
— predispõe à sistematicidade, à fôrça de inibição, à veracida­
de, à ordem. Favorece a previsão; pode, em certa medida, ser
útil para prevenir a precipitação e a irreflexão. Age como fa­
tor de coerência mental, de objetividade e de método (Griéger).
Disciplina e limita a sexualidade. Predispõe, em geral, para as
ciências abstratas, e pouco para a arte.
— Para ela, “experiência” quer dizer: passado vivido em pre­
visão do futuro.
N eg a tiva :
— favorece a desconfiança, a suspeita dos outros e a pouca
expansão de ânimo. Predispõe ao rancor, à melancolia, â ru­
minação inferior.
NOTA: A ressonância das impressões — tanto P como S — dá-se
não só em relação à Emotividade (reação aos sentimentos que impres­
sionam), senão também em ordem à Atividade (reações ante as ini­
ciativas, projetos, idéias que se hão de realizar).
Em geral, a primariedade diminui na idade avançada.

NOTA FINAL SÔBRE OS TRÊS ELEMENTOS FUNDAMENTAIS

A fusão em igual dose dos elementos fundamentais dar-


nos-ia o caráter mais equilibrado e mais rico.
Uma boa educação visa justamente a criar êsse justo
equilíbrio.

22
CAPITULO IV

OS ELEMENTOS SUPLEMENTARES

Como já foi indicado, são de número indeterminado. Ci-


tarehios aqui os quatro principais, que são também os de mais
fácil reconhecimento.
1. Amplitude do campo de consciência: largo ou estreito.
2. Natureza do objeto para o qual se tende:
— o próprio “eu” : egocentrismo;
— os “outros” : alocentrismo.
3. Forma da inteligência: analítica ou sintética.
4. Paixões: assumem formas especiais conforme os distin­
tos caracteres.
Só do primeiro trataremos mais detidamente, fazendo dos
restantes apenas algumas indicações.
I. CAMPO DA CONSCIÊNCIA
A consciência é aqui tomada em sehtido psicológico: a per­
cepção que a mente tem de seus atos e de seu estado.
Em geral, diante de um acontecimento, alegre ou doloroso,
especialmente se é imediato, qualquer homem concentra-se em
si mesmo, e, quando êste já transcorreu, experimenta uma es­
pécie de relaxação de todo o seu ser. Isto sabemo-lo pela
Psicologia, diz-nos Le Senne. ' Porém, se em vez disto consi­
derarmos os “graus” de restrição ou de alargamento da cons­
ciência, então entramos no âmbito da Caracterologia.
“Quando meu olhar abarca um vasto panorama sem se de­
ter em nenhum particular, diz Le Gall ’, minha consciência en­
tão se acha muito aberta, distensa, larga. Se, ao contrário,
presto ouvido a um ligeiro rumor noturno, ou se me concen­
tro numa leitura difícil ou numa preocupação sobre algo cla­
ramente localizado, fecho minha consciência a tudo o que não

' L e S e n n e , op. cit., p. 105.


! L e G a l l , op. cit., p. 39.

23
é êsse rumor, essa leitura ou essa preocupação, e então minha
consciência é estreita.
Podemos, portanto, ter um duplo campo de consciência
psicológica:
CAMPO “LARGO"
Suas características:
“Exteriormente”: quando um indivíduo, tem uma maneira de
andar mais propriamente lenta, quase escorregadia, contornan­
do os obstáculos, como se não existissem. Vê tudo e, sem fi­
car abstraído por nada, caminha lentamente, porém com habi­
lidade, para não tropeçar nos obstáculos. Tem um, modo sim­
pático de caminhar.
“Caracterològicamente”: quando um indivíduo é propenso
a ver as coisas, os acontecimentos e as pessoas sob uma
perspectiva ampla, não minuciosa;
— quando sabe separar, do que pode ser a apreciação pessoal
e subjetiva, os vários casos que se lhe apresentam;
— quando tem o hábito de comparar uma coisa, ou um acon­
tecimento, com outro;
— especialmente quando sabe reagir com frieza, fàcilmente e
com desprendimento interior.
Quem costuma comportar-se mais ou menos dêste modo é
classificado entre os que têm um campo de consciência “lar­
go”, ou simplesmente como Largo = L.
NOTA': A frieza, a não-Emotividade e a inibição alargam o cam­
po de consciência.
E’ lei geral que a intensidade das impressões e das ações está em
proporção inversa à amplitude do campo de consciência.

Sua influência
Positiva:
— O campo “largo” dispõe para a ductilidade, para a adapta­
ção e elasticidade.
— No discurso, favorece o interêsse pelo conjunto, pelas idéias
fluentes e sempre novas por seus pormenores.
— Predispõe para a simpatia nas relações com os outros. “Ser

3 L e S e n n e, op. cif., pp. 10G-108; G r i é g e r, Diagn. caract.,


pp. 22-23.

24
simpático é privilégio do indivíduo do campo de consciência
largo” (L e S e n n e ) . '
Negativa:
— predispõe para a faltaN de ordem e de precisão, como tam­
bém para o ócio.
CAMPO “ESTREITO”
Suas características:
“Exteriormente”: quando um indivíduo anda sempre com
pressa, como preocupado com algo bem determinado, sem le­
var em conta o que o cerca: p. ex., alguém que, numa sala
de visitas, para cumprimentar o dono da casa quase se pre­
cipita para êle, tropeçando em cadeiras, mesas, talvez derruban­
do algum vaso de flo res...
“Caracterològicamente”: quando um indivíduo é propenso a
considerar nas coisas, nos acontecimentos, nas pessoas o as­
pecto singular, particular, surpreendente, e o isola completa­
mente de tudo o mais, quer seja de ordem intelectual, quer de
ordem prática;
— quando se deixa absorver por pensamentos mais pròpria-
mente abstratos e analíticos;
— quando tem assinalada preferência pelo que é exato, claro,
determinado;
— quando tem reações intensas e repentinas;
— quando sente que diminui a simpatia pelo interlocutor.
Quem costuma comportar-se mais ou menos dêste modo
enquadra-se no grupo dos que têm um campo de consciência
“estreito”, ou é simplesmente Estreito = Est.
NOTA: A emotividade e a atenção restringem o campo de
consciência.

Sua influência:
Positiva:
— O campo estreito predispõe para o espírito de observação,
para a análise do objeto, para a concentração da inteligência.
— Facilita a descrição e a precisão: o indivíduo Est. capta pou­
cas coisas em um só golpe de vista, porém as vê distintamente.*
* Êste influxo — a simpatia — é eficaz sobretudo nas relações en­
tre os nE, que são tipos frios, visto que para êles, em parte, ela faz
as vezes da emotividade.

25
Negativa:
— Leva à unilateralidade, à rigidez e à inflexibilidade; predis­
põe para as distrações (notar bem este defeito) e para as
manias. “Pouco a pouco, num indivíduo Est. o automatismo
substitui-se à investigação” (L e S e n n e ) .

II. OS OUTROS TRÊS ELEMENTOS ACESSÓRIOS

1. NATUREZA DO OBJETO PARA O QUAL SE TENDE:


— “Egocentrismo”: tende-se à afirmação do próprio “eu” ” (a
própria pessoa converte-se no centro de gravidade do univer­
so. . . procura sempre o seu interesse).
— “Alocentrismo”: tende-se a fundir-se com os outros, e, por­
tanto, o centro do mundo acha-se fora da pessoa. . .
2. FORMA DA INTELIGÊNCIA:
— “Analítica”,
— “Sintética".
3. PAIXÕES":
Cada uma delas desenvolve-se de maneira muito particular,
bem determinada, conforme cada caráter. Mais que como ele­
mentos primordiais devem ser consideradas como elementos “con­
dicionados” pelos fundamentais. Assim, por exemplo, o orgulho,
a luxúria de um E-nA-S serão diferentes quando se trate de
um nE-A-P.5
5 Não é a mesma coisa "egocêntrico” e "introvertido": o primeiro
age sempre para si; o segundo, ao invés, concentra-sê nos seus pro­
blemas interiores. Pode-se ser egocêntrico e extrovertido, como o
E-nA-P e o E-A-P, e vice-versa.
“ Cf. V. M a r c o z z i , op. cit.. p. 44.

26
CAPITULO V

CLASSIFICAÇÃO DOS CARACTERES

Le Senne distingue oito tipos de caracteres que resultam da


combinação ou fusão dos três elementos fundamentais, consi­
derados segundo o grau em que cada um intervém, acima ou
abaixo da proporção média ordinária.
Para cada caráter assinalou um nome, que deve ser inter­
pretado não no significado da linguagem comum, mas em seu
sentido caracterológico específico, já usado por outras escolas
caracterológicas dos séculos passados, e que a escola de Gro-
ninga adotou e fixou.
Além disto, proveu cada caráter de uma sigla e de alguns
exemplos tomados entre personagens da história geralmente
conhecidos.
Reproduzimos aqui seu quadro 1:
Emotivo - nãoAtivo - Primário: E-nA-P = NERVOSO
Emotivo - hãoAtivo - Secundário: E-nA-S = SENTIMENTAL
Emotivo - Ativo - Primário: E-A-P = COLÉRICO
Emotivo - Ativo - Secundário: E-A-S = APAIXONADO
nãoEmotivo - Ativo - Primário: nE-A-P = SANGÜINEO
nãoEmotivo - Ativo - Secundário: nE-A-S = FLEUMATICO
nãoEmotivo - nãoAtivo - Primário: nE-nA-P = AMORFO
nãoEmotivo - nãoAtivo - Secundário: nE-nA-S = APATICO

Há que ter presente que êste quadro tem valor meramente


‘esquemátiço”, como “ponto de referência” para se poder in­
dividualizar e classificar o caráter. 5 “Entre um tipo e outro há
gradações numerosas e diversas. E no mesmo tipo sistemático
intervém ainda muitas modalidades, com outros tantos matizes”
(L e G a l l ) . ’ Sucede aí justamente como para as côres: cada*

* L e S e n n e , op. cit., p. 130.


* O Padre M a r c o z z i , em seu iivro "Ascesi e Psiche” (caps. VI
e VII), aplica muito bem esta classificação aos principais personagens
de I Promessi Sposi:

27
uma, além do que lhe é característico, tem tantos matizes, que
estes chegam a constituir uma verdadeira transição de ifJia côr
para outra. Em caracterologia estamos no âmbito da vitalidade
e da elasticidade.
Pode-se, todavia, afirmar que cada um dos oito tipos pos­
sui características bastante sólidas e precisas para se poder dis-
tingui-los sem que haja a menor dúvida ou hesitação.
Esta clareza e precisão são indispensáveis para uma ciên­
cia que está em vias de sisteniatização, e ainda mais para um
estudo como o nosso, que pretende chegar a dar um diagnós­
tico o mais objetivo possível e oferecer conselhos oportunos para
valorizar os dados que êsse diagnóstico revelar. '
Enfim, é de notar que a caracterologia só tem por objeto
determinar o que são os distintos caracteres, mas não se preo­
cupa'com emitir um juízo sôbre seu valor. Não se trata de sa­
ber se um caráter “vale” mais ou menos do que outro — esta
apreciação pertence à Moral — mas sim de conhecê-lo tal como
<:, para aproveitá-lo: não é o caráter por si que tem valor, se­
não o homem que o possui e sabe usá-lo bem para tirar dêle
o maior proveito.

E-nA-P = Renzo E-nA-S = Luzia


E-A-P = Dom Rodrigo E-A-S = P. Cristóvão. O Cardeal
nE-A-P = Conde Attilio Frederico. O Inominado
nE-nA-P = Azzeccagarhugli nE-A-S = Dom Ferrante
nF.-nA-S = Dom Abhondio
' L e G a 11, op. cit., p. 49.
* G r i é g e r , Caract. et Voc., p. 56.

28
SEGUNDA PARTE

CARACTEROLOGIÀ ESPECIAL
CAPITULO VI

QUADRO E CRITÉRIO
DA DESCRIÇÃO DO CARÁTER-TIPO

Para cada um dos caracteres-tipo seguiremos, quanto pos­


sível, o seguinte esquema ’:

I. NO PLANO HUMANO
A. NOTAS PSICOLÓGICAS B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
P Descrição do caráter-tipo D Atitude do educador
2? Qualidades 2a Processo de seu método edu­
3^ Defeitos cativo
4’ Resultante caracterológica 39 Valor a conseguir
5" Valor dominante

II. NO PLANO SOBRENATURAL


A. DISPOStÇOES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR O SO-
LÓGICAS EM FACE DO SO- BRENATURAL
BRENATURAL
EM GERAL
positivas formação espiritual
negativas
EM PARTICULAR
Direção espiritual
positivas formação espiritual
negativas
positivas Piedade formação espiritual

‘ O desenvolvimento dêste esquema no decorrer do livro poderá


talvez parecer monótono ou minucioso, mas tenha-se presente que não
foi redigido para ser lido todo de uma vez, como um romance, mas
sim com o fim precípuo de oferecer indicações precisas para que se
possa conhecer e guiar um indivíduo: isto é, como obra de consulta
para confrontar os vários caracteres.

31
negativas
positivas Ascética formação espiritual
negativas
positivas Vida religiosa formação espiritual
negativas
positivas Pobreza formação espiritual
negativas
positivas Castidade formação espiritual
negativas
positivas Obediência formação espiritual
negativas
positivas Vida de comunidade formação espiritual
negativas
positivas Apostolado formação espiritual
negativas

O “PORQIJÊ” DÊSTE ESQUEMA


U Comprovou-se que o homem precisa ser formado tanto do
ponto de vista humano como do sobrenatural: a Graça supõe
a natureza: há que, portanto, começar por esta.
2<’ Esta descrição serve de ponto de apoio bastante lógico para
expor uma precisa classificação. Recorde-se, porém, que aqui
se descreve somente o caráter-tipo, sem levar em conta os “ma­
tizes caracterológicos” que, com referência a um que outro ele­
mento fundamental mais ou menos desenvolvido, são encontra­
dos, na vida real, em todo indivíduo. !
3’ Não basta somente conhecer a natureza, o caráter em si mes­
mo de cada indivíduo; é necessário, em pripieiro lugar, educá-
lo humanamente, para fazer dele um homem completo sôbre o
qual se possa construir o sobrenatural.
49 Não é suficiente, tampouco, deixar um homem em condições
de “se descobrir a si mesmo”, de se conhecer; é preciso ajudá-
lo e incentivá-lo a conquistar os “valores” que sua natureza lhe*

* Em notas sucessivas indicaremos para cada caráter uma subdi­


visão genérica do caráter-tipo, já que segundo o indivíduo de que se
trata êle se manifesta com distintos matizes, conforme o maior ou me­
nor desenvolvimento dos três elementos fundamentais, a ponto de che­
gar êle, às vêzes, a confundir-se com os caracteres limítrofes: cabe,
portanto, à intuição e ao espírito de observação do educador diagnos­
ticar e estar atento, no duplo plano humano e sobrenatural, ao indivíduo
cuja direção lhe é confiada.

32
permite alcançar e desenvolver. Consta, com efeito, pela expe­
riência de cada d ia 3 que os homens não estão todos igual­
mente capacitados para alcançar um mesmo gênero de valores:
alguns, por exemplo, estão mais capacitados para os valores de
sacrifício e resistência, enquanto que outros, ao contrário, não
são capazes do menor esforço, de entusiasmo nenhum. De que
serviria, em tal caso, orientar-se para um valor, se depois, pelas
situações particulares que se criam, fôsse impossível intentar-
lhe a realização?
5- Nenhum caráter é “naturalmente” predisposto ao sobrenatu­
ral, nem mesmo o mais equilibrado; porém cada um dos ca­
racteres atrai a atenção de um indivíduo e lhe desperta o gôs-
to neste ou naquele sentido, assim preparando um terreno mais
ou menos favorável e permeável à ação da Graça. Deve o so­
brenatural ser apresentado em seus diferentes aspectos e con­
forme a capacidade de assimilação eficaz por parte de cada
um dos caracteres.
6" O grande, o verdadeiro trabalho próprio do educador, es­
pecialmente do Diretor espiritual, cifra-se em “como apresentar
o sobrenatural”. A direção espiritual, iluminada pela caractero-
logia, certámente prestará grande serviço às almas. Indicará a
cada um o caminho que há de trilhar para se santificar: desen­
volvendo as disposições positivas, reprimindo as negativas; in­
dicando o “valor” que cada indivíduo pode conquistar, não só
no plano humano, mas também — elevando-o, poderiamos di­
zer, à potência infinita — no plano sobrenatural. “A caracte-
rologia não valeria uma hora de trabalho se não permitisse
melhorar as ações humanas”. 4
7° O educador que com intensa e constante caridade se aplicar
a realizar êste trabalho certamente conseguirá formar a imagem
de Jesus Cristo em cada um de seus educandos! Poderia ha­
ver ideal mais belo e mais santo?*

3 O r i é g e r, Diagn. Caract., p. 191.


* Le Senne, op. cit., p. 61.

Caracterologia — 3 33
SECÇAO PRIMEIRA

OS EMOTIVOS-tiãoATIVOS: E-nA

NOTA INTRODUTÓRIA

Ao iniciarmos o estudo dos vários caracteres em particular,


seguindo Le Senne, começamos pelo grupo dos Emotivos-
nãoAtivos.
A Emotividade, sob a influência da não-Atividade, reflui
sôbre si mesma, em vez de se expandir normalmente. Assim,
pois, o andamento geral dos dois caracteres E-nA-P e E-nA-S
é especificado pela ressonância das impressões: a primariedade
orienta o indivíduo para o exterior, para as circunstâncias ex­
ternas, ao passo que a secundariedade fá-lo dobrar-se sôbre
si mesmo numa auto-análise.
Portanto, nos dois caracteres dêste primeiro grupo existe
um predomínio “afetivo” : a vida subjetiva ocupa o centro de
interesse em tôda a sua riqueza e complexidade. Daí por que
oferècem, mais que os outros caracteres, matéria abundante ao
estudo que dêles fazem os caracterólogos. '

’ G r i é g e r , Car. et Voc., p. 61.

34
CAPITULO V II

E-nA-P: NERVOSO

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS'
1« Descrição do caráter-tipo
a) O nervoso, como diz a sigla, é um Emotivo-nãoAtivo-
Primário. — Por ser E: é muito sensível, e sente a necessidade
de ter emoções, de viver intensamente e de maneira entusiás­
tica. — Por ser P: sua reação às várias impressões é ime­
diata e impulsiva: está tôda ela baseada sôbre a emotividade,
de modo que muda de humor conforme a emoção do momen­
to. Passa, por isto, fàcilmente do entusiasmo ao desânimo, da
alegria à tristeza, da esperança ao temor (e mesmo do amor
ao ó d ío ...). Busca resultados imediatos. — Por ser nA: não
sente a necessidade de executar o que a emoção lhe inspira:
isto é, de realizar seu projeto ou sua decisão com reflexão,
rigor e ordem, senão que fica — poder-se-ia dizer se refugia
— no âmbito do sonho, da veleidade, quiçá mesmo da evasão.
Procura, portanto, os resultados que lhe custem pouco.
b) O E-nA-P “largo” ': interessa-se por tudo, mas não
se apaixona por coisa alguma. Suas emoções são fracas de­
mais e dispersas para chegar a conclusões práticas: a largue-
za difunde a Primariedade no espaço e, assim, atenua em pro­
porção os arrebatamentos.
c) O E-nA-P “estreito”: presta atenção ao instante e, assim,
tornam-se reforçadas, de forma mais aguda e ardente, tôdas as
suas reações (cólera, entusiasmo, jogos barulhentos); essa mes-*

1 Cf. Le S e n ne, op. cit., pp. 134 ss; Le G a ll, op. cit., pp. 50 ss;
G r i é e e r , Diagn. Caract., pp. 63 ss; C a r n o i s , It dramma delPin-
feriorita, Torino, S .E .I., 1960, p. 49.
* L e G a l l , op. cit., p. 40.
3» 35
ma estreiteza da consciência concentra a fôrça de reação num
breve intervalo de espaço e de tempo.
O E-nA-P “estreito” é mais violento, porém menos ligei­
ro, que o E-nA-P "largo”.
d) A inteligência ’ é mais intuitiva que . lógica, não se in­
clina às ciências abstratas e teóricas; não apreende o essencial.
Tem uma concepção bastante rápida. Predisposição para a cultu­
ra artística: literatura, poesia, belas-artes. E’ propensa tam­
bém à procura das “novidades" em qualquer campo. (Tem in­
teresse por si mesmo).
e) O aspecto morfológico, ou somático, “parece” ser o
seguinte ':
estatura: longilíneo olhos: mais propriamente pe­
compleição: mais propriamente quenos, fundos
magro nariz: regular
cabeça: ovalada hôca: pequena e ajustada
rosto: triangular: largo para mãos: rombóides, finas, com
cima (fronte), estreito no dedos compridos, e redondos
mento nas pontas
2? Qualidades
— E’ generoso, delicado, alegre, geralmente otimista e afável.
A Emotividade é sua fôrça.
— Sente facilmente a influência boa e o fascínio de uma pes­
soa, a quem depois procura imitar.
— Se algumas vêzes é tenaz em executar determinada ação,
fá-lo até com certa violência; e é constante enquanto lhe dura
essa impressão.
— E’ inclinado à arte: “é o caráter da poesia pura”
(G r i é g e r).

3 A inteligência é aqui considerada também sob o aspecto de “in­


clinação congênita”, e não, portanto, em relação ao “grau” mais ou
menos forte de penetração, que varia de indivíduo a indivíduo, con­
forme as aptidões próprias, por causa da hereditariedade congênita
ou da educação intelectual recebida ém idade infantil. Todo ato de
inteligência — diz Griéger — não em si mesmo, porém enquanto ato
humano, revela a influência do caráter do indivíduo do qual emana
(Édttc. intell., p. 126).
4 Esta descrição somática não tem valor categórico, porque ainda
não foram verificadas de maneira suficiente as correlações entre o as­
pecto físico e o correspondente tipo de caráter (Griéger, Diagn. Caract.,
p. 110). Esta observação vale também para todos os outros caracte-
res-tipos.

36
3? Defeitos
— E’ instável, impulsivo, superficial, desordenado.
— Curioso, extrovertido: deixa-se absorver pelo mundo exterior.
— Egocêntrico: propenso à preguiça, inclinado aos prazeres dos
sentidos (gula, luxúria), aos divertimentos agitados, à procura
sempre de novas satisfações...
—- Vaidoso pelo que crê que è: belo, inteligente, simpático, etc.
Sente a necessidade de “chamar a atenção” ; se preciso, até com
escândalo. “
— E’ também bastante mentiroso: não tanto por ânimo doloso
quanto por essa necessidade inata de causar admiração, de tor­
nar mais expressiva e comovente a realidade: não sabe contar
um fato real sem embelezá-lo. Muitas vezes, mente pela ne­
cessidade congênita de contradizer (inclusive, às vêzes, para se
safar de embaraço).
— Pouco propenso à submissão, facilmente emite juízos ou
crítica.
4? Resultante caracterológica
— Segundo Le Senne, achamo-nos ante uma espécie de “vaga­
bundagem afetiva", isto é, uma grande mobilidade de afeto que
torna instável sua sensibilidade e seu amor.
— Alegra-se — em razão de sua, forte Emotividade — com
as impressões que lhe dão as criaturas, os acontecimentos, e
também as ações “por êle sonhadas”.
5o Valor dominante
— Conforme sua predisposição natural, o valor dominante é o
“divertimento” **, a alegria de viver no momento atual: carpe
diemf Esta é sua experiência preferida.
Exemplos históricos ': Byron, Baudelaire, D’Annunzio,
Dostoiewski.
” Le Figaro littéraire de 5 de novembro de 1955 refere, do Diário
Intimo de D'Annunzio, o seguinte t/echo tão significativo: "Nunca co­
nhecí o remorso: vivo só no minuto presente; mas são-me necessários
continuamente novos prazeres e sensações novas. Ser imoral? Que outra
coisa pode haver mais simples? Está ao alcance de todos. E' próprio
dos gênios ser im oral... A mentira é o ornamento necessário da vida:
só ela a faz tolerável... Desde o início de minha adolescência sou
ávido de prazer”.
* Cf. G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 65.
’ Os exemplos históricos são tomados de L e S e n n e . op. cif.,
passim, para cada um dos caracteres.

37
Observação: Consoante o que dissemos na nota 1* da
p. 27 sôbre o esquema geral, para o E-nA-P podemos encon­
trar-nos com indivíduos que se aproximam dos seguintes ca­
racteres, com os quais têm ao menos um elemento comum:
Se aumenta a atividade, aproxima-se do E-A-P — colérico
Se diminui a primariedade, ” ” E-nA-S = sentimental
E-nA-P Se diminui a emotividade. " ” nE-nA-P =: amorfo
Se diminui a emotividade, e
aumenta a atividade. ” ” nE-A-P —sangüineo

B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA

1? Atitude do educador
A atitude dêste tem grande importância, já que, sendo curio­
so, o E-nA-P presta muita atenção a seu modo de agir, até
o ponto de lhe estudar as mais pequenas “nuances”, porque está
inclinado à crítica. Espera muito de seu educador no plano
psicológico. Importa, pois, ir-lhe ao encontro e incentivá-lo.
Suas frases mais frequentes são: “Como é simpático” ou
“Como é antipático êste homem!”

2? Processo de seu método educativo"


Deverá o educador proceder com grande compreensão, com
bondade paternal e sadio otimismo, porém com muita prudên­
cia e constância.
Portanto:
1) Não ser severo: para o E-nA-P, a severidade equivale à
incompreensão. A censura produz nêle reações violentas, e não
contribui para sua formação; antes, não raras vêzes corre o
risco de deprimi-lo ou de fazer desenvolver nêle um complexo
de inferioridade. Evitar os meios violentos, usar, ao invés, os
mais brandos e suaves, porém com continuidade. Às vêzes a
severidade pode também produzir ou acentuar no E-nA-P —
como reação danosa — um sentimento de íntima satisfação,
porque acaba por classificar o educador como alguém que não
compreende. Por isto, nem sequer leva em conta a censura que
se lhe fêz, e envereda direito pelo seu próprio caminho; então
pode, assim, tornar-se um tipo original pelo simples “gosto
de resistir ou de se distinguir” . . .

' Cf . G r i é g e r , Diagn. Caracf., p. 158.

38
2) Ser muito delicado, sempre disposto a incentivar, otimista.
Quando fôr o easo de adotar alguma medida odiosa, fazê-lo
com grande delicadeza: fazer o E-nA-P compreender que tudo
é para seu bem: convém sobretudo analisar-lhe a falta come­
tida, distinguindo a gravidade objetiva da intenção da vonta­
de, com o fim de desculpá-la: terá êle agido por irreflexão
ou inadvertência. Que não haja lugar para desânimo, mas, sim,
que êle se recupere logo, para continuar fazendo progressos no
seu aperfeiçoamento. Deixá-lo desafogar-se... Evitar que se
torne prêsa da tristeza.
3) Combater a inatividade. Conduzi-lo pouco a pouco ao esfor­
ço perseverante, porém pessoal, isto é, que saiba levar a cabo
uma ação não só “porque é mandada”, mas sobretudo para
desenvolver sua “atividade pessoal”. Apoiá-lo para que, na ação,
conserve o ardor inicial e a regularidade rítmica. Que transfira
a vaidade de sua pessoa “para suas ações” : destas é que tem
de se vangloriar!
4) Acostumá-lo ao domínio de si: evitando a dissipação, a ex-
troversão, êsse voltar-se para o mundo exterior, que tanto o
atrai. Fazer-lhe sentir o gôsto do domínio de si e da afirma­
ção de sua personalidade. Já que sente a atração de uma pes­
soa e a influência do exemplo, apresentar-lhe alguém como
um ideal vivo que êle possa imitar.
5) Disciplinar a Emotividade: le'mbíar-se de que esta é a ver­
dadeira fôrça do E-nA-P. Tem uma Prrmariedade que é sim­
ples reação às emoções.' Preocupar-se, portanto, com freá-la por
um lado, e, por outro, canalizá-la, apoiá-la e desenvolvê-la. Por
êste motivo, terá que ir acostumando-o à calma, proporcionan­
do-lhe só as emoções educativas que produzem uma benéfica
distensão: passeios ao ar livre, ao campo, à montanha (ao
mar não é tão conveniente, porque resulta ser excitante),
desportos sadios que não sejam violentos, etc. Leituras boas;
entusiasmá-lo, enfim, pelo estudo sério e metódico, que pro­
porciona satisfação.
3* Valor a conseguir
Na educação psicológica do E-nA-P, o educador não deve
sòmente ajudá-lo a conhecer-se a si mesmo, senão que deve
também auxiliá-lo a conquistar os valores que seu caráter lhe
permite alcançar. “Todo indivíduo deve procurar sua missão no
• G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 145.

39
serviço dos valores que convêm à sua natureza, reconhecendo
nêles a expressão do Princípio Absoluto do real e do ideal!”
(O r i é g e r ) . O valor dominante para o caráter E-nA-P é, como
dissemos, a “diversão”: há que elevá-lo a valor de “sentimento
e arte”; e assim dará um sentido à sua vida, uma missão no­
bre à exuberância de seu coração e um pábulo nutriente à
inquieta curiosidade de sua inteligência.

II. NO PLANO SOBRENATURAL


A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR A VIDA
LÓGICAS EM FACE DO SO- SOBRENATURAL1
BRENATURAL
EM GERAL
Positivas: Formação:
— O E-nA-P sente-se atraído para — Apresentar-lhe o sobrenatural
o ideal religioso. Experimenta a não como um código de Moral
necessidade poderosa de amar e (coleção de proibições e de per­
de imitar Alguém. missões), nem como uma bela
fórmula doutrinai, senão como uma
Negativas: “vida atraente” que oferece coi­
— Encontra, porém, em sua na­ sas novas e infunde entusiasmo.
tureza sérios obstáculos para a vi­ Jesus, com efeito, apresentou sua
da Sobrenatural: Como é fácil pre­ doutrina em forma Simples, ima­
sa das impressões do momento, ginativa, sentida, atraente, mui va­
interessa-se mais pelas coisas dês- riada, e sobretudo apresentou-se a
te mundo passageiro, que lhe caem Si mesmo como o Modelo a imi­
sob a experiência dos sentidos, an­ tar e como Realidade Viva.
tes que pelas realidades do outro — Em linhas gerais, como se dis­
mundo — da eternidade que êle se ao tratar do aspecto psicoló­
não vê — porém que são mais gico, sua formação espiritual de­
estáveis. verá centralizar-se no encaminha­
mento e desenvolvimento da Emo­
— Com efeito: tividade e da Atividade.
I. Por ser E, considera todo o so­ — Há que começar apresentan­
brenatural como "sentimento reli­ do-lhe Jesus vivo no Evangelho e
gioso" ou livre exame, e não como presente na Eucaristia como mode­
aceitação de uma lei à qual se lo da Amizade divina. Num se­
submete inteiramente, porque é a gundo tempo, quando houver sen­
expressão da Vontade de Deus, tido e compreendido êste amor a
segundo as precisas diretrizes da Jesus Cristo, levá-lo docemente a
Igreja.* aceitar e praticar tudo o que Je-

’ Para a formação espiritual. Cf. passim (também para o estudo


de outros caracteres): J a c q m i n , Essai de caractèrotogie religieiisct
Roma 1954 (poligrafado). N o y e 11 e, Caractèrotogie Retigieuse (po-
ligrafado). S i m o n e a u x, La direction spirituelte suivant le caractère.
Paris, Aubier, 1958. 0 r i é g e r, Caractère et vocation, Mônaco, Ed.
“Journée de Ia vocation”, 1958. C a r n o i s , II dramma detrinferiorità,
Torino, S. E. I . , 1960.

40
2. Como nA, não é propenso ao sus ensinou e confiou à Igreja para
esforço no serviço de Deus e do sua missão redentora. Depois, dis-
próximo. pô-lo ativamente à prática das vir­
3. Sendo P, carece do espírito de tudes cristãs.
continuidade e tenacidade no es­
forço, e daí lhe faltar a adapta­
ção profunda de si mesmo às exi­
gências da vida religiosa e apos­
tólica.
EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— O E-nA-P espera muito do di­ — Como o E-nA-P é, de modo es­
retor espiritual, especialmente se pecial, Emotivo, a atitude do di­
êste lhe é simpático (sente o fas­ retor espiritual influi muitíssimo em
cínio da pessoa); além disto, sen­ sua psicologia emotiva. Por esta
te quase a necessidade da direção razão, deve êste mostrar-se aco­
espiritual, e quer colaborar com lhedor, cordial, cheio de confian­
ela, porque é generoso. Agradam- ça, e disposto sempre a incen­
lhe as conversações espirituais, ain­ tivá-lo.
da quando longas.5 — Deve lembrar-se de que o
E-nA-P fàcilmente se entusiasma
Negativas: em seguida, mas, por qualquer to­
— Mas -por natureza, entretanto, lice, também se sente ofendido ou
tem um espírito de oposição e ferido. Suas reações, que são sem­
de contradição, pelo que se deixa pre à base de emoções, são vivas
levar fàcilmente à crítica. Sente ne­ e repentinas. Nunca o culpar de
cessidade de mudar continuamente, má vontade ou de mentira. Lem­
e a direção que o força a refletir brar-se de que, se tem espírito de
e a ser constante provoca-lhe uma contradição, não é por má von­
certa reação. tade, mas só por causa de sua
psicologia de acentuada emotivi­
dade e de ressonância primária.
— Por isto, se pretende ser bem
sucedido em sua missão, deve o
diretor pôr em prática três coisas:
1. Estudar bem o sujeito, tal como
é em si mesmo e tal como se
apresenta aos demais;
2. responder com interêsse pçter -
nal aos problemas que êle lhe
propõe;
3. levar remédio às suas deficiên­
cias, não com paliativos imedia­
tos, senão com longa e paciente
cura espiritual.

’ O P. Jacqmin (op. cit., p. 27) observa com muita penetração que


o E-nA-P prefere as longas conversações com um diretor simpático e
compreensivo, a ter que se aproximar da grade de um confessionário
no qual esteja um sacerdote que êle não vê ou não conhece.

41
Piedade
Positivas: Formação:
— Sente a piedade como emoção — Para a formação da piedade e,
religiosa, não raro do ponto de em geral, de sua vida interior,
vista estético ou poético. há que apoiar-se sobretudo em sua
Gosta da oração breve, pessoal, fôrça básica, a Emotividade.
que o comova (é propenso à pie­ — Apresentar-lhe portanto:
dade sensível). DEUS como Pai bom, amoroso;
JESUS CRISTO como o Bom
Negativas: Pastor;
— Não tem aptidões para a me­ NOSSA SENHORA como Mãe
ditação, que, sendo uma reflexão, terna e compreensiva, mas co­
o faz esmorecer: não é feito para rajosa na dor e no trabalho.
a oração metódica. A oração em — Há que formá-lo na oração vo­
horário fixo (e longo) ser-lhe-á cal, litúrgica, pública, porque é a
sempre um martírio interior: ou que mais o atrai. A princípio, não
se distrai ou adormece. o forçar a seguir determinado “mé­
—• Já que é não-ativo, sempre es­ todo" de meditação. Antes, se pos­
tará mais disposto à oração de sível, deixar-lhe a escolha do lu­
simples petição que de amorosa gar e do tempo de sua meditação.
entrega. Prepará-lo para ela com um mé­
todo que se adapte mais às suas
preferências, com um esquema sim­
ples e claro. Desde o princípio ha­
bituá-lo a falar íntimamente a Je­
sus vivo no Tabernáculo. Para
suprir as deficiências de sua me­
ditação, dispô-lo à prática das ja-
culatórias e à conversação, duran­
te o dia, com Jesus presente em
seu coração. Depois, e a fim de
que se vá desenvolvendo nele a
atividade espiritual, iniciá-lo na
prática do exame particular. E
importante que a resolução da me­
ditação corresponda a um dos pon­
tos do exame particular: desta ma­
neira exercitar-se-á no esforço ati­
vo e pessoal.
Ascética
Positivas: Formação:
— A generosidade impele-o ao sa­ — Há que influir nêle por meio
crifício. do coração e habituá-lo, através da
— A afetividade, a se dar e a prática dos pequenos esforços co­
amar. Fascina-o um ideal nobre... tidianos, à mortificação externa (de
que tanto necessita) e interna.
Negativas: Acostumá-lo ao domínio de si mes­
— E’ inconstante e vaidoso; ego­ mo e à constância. Fazer-lhe ver
cêntrico e propenso a condescender o vazio de sua vaidade pessoal.
com os sentidos.

42
— A nA indispõe-no para tomar E, para desenvolver nêle a ativi­
decisões firmes e empenhar-se na dade espiritual, encorajá-lo frequen­
vida sobrenatural. E,f capaz de se­ temente, tanto após suas peque­
guir Jesus nos passeios pelo lago nas vitórias como após as der­
de Genesaré, mas não até à rotas sofridas. Nunca adotar para
Cruz. . . com êle atitudes severas. Apresen-
tar-lhe sempre um ideal concre­
to, uma pessoa a quem amar, so­
bretudo Jesus Cristo.

Vida religiosa
Positivas: Formação:
— Se possui uma personalidade rica — A vida religiosa, que é uma for­
e uma vontade bastante sólida, sen­ ma de vida sobrenatural, organi­
te-se inclinado à vida religiosa, na zada e estável, exige constância,
qual deseja encontrar um meio para energia e sobretudo vida interior.
desenvolver de maneira mais ade­ Daí ser preciso estudar bem as
quada tôdas as suas qualidades. qualidades e os defeitos do E-nA-P.
— Dentro da religião será um ele­ Se predominam nêle as disposições
mento positivo de inspiração ju­ positivas, pode-se muito bem orien­
venil, entusiasta, colorida, artística. tá-lo para um Instituto ou Congre­
Dêle partirão idéias novas sôbre o gação de vida ativa, onde, bem
apostolado e também sôbre a vi­ formado, prestará ótimos serviços;
da religiosa (talvez mesmo um pou­ se, ao invés, predominam as ne­
co utópidas). gativas, melhor é desaconselhar-lhe
o ingresso em religião, mesmo se
Negativas: êle se acredita chamado; trata-se
— Se, ao contrário, é instável, mu­ mais de entusiasmo sensível que de
tável, não se sentirá atraído pela verdadeira vontade.
vida religiosa, e, se nela ingres­ — Um superior E-A-P não o apre­
sar, poderá mesmo prejudicar sè- ciará: “E’ um artista!”, pensará.
riamente a regularidade e a paz — Um superior nE-A-S julgá-lo-á
da vida comum. leviano e, portanto, inútil.

Pobreza
Positivas: Formação:
— Não é apegado ao dinheiro. An­ — Fazer-lhe compreender que qua­
tes, às vêzes é pródigo, e nem se­ se sempre a causa de suas faltas
quer busca as coisas por si mesmas. ao voto de pobreza é sua vaida­
de. Portanto, que reflita bem, an­
Negativas: tes de se proporcionar aquilo que
— Inclina-se àquilo que lhe pro­ o atrai: domine sua impulsividade,
porciona mais emoções e satisfa­ que o leva a procurar tudo o que
ções para sua vaidade: por esta lhe agrada.
razão procura coisas novas e es­ — Pô-lo em ocasião de “viver” a
peciais. pobreza religiosa.
— Como é nA, muitas vêzes per­ — Explicar-lhe o “porquê” do des­
de tempo em projetos imaginários, prendimento.
e portanto não trabalha nem rende — Habituá-lo a empregar bem o
eficazmente para a comunidade. tempo.

43
C astidade
Positivas: Formação:
— Delicadeza e nobreza de alma. — Fazer-lhe compreender que a
castidade oferece um duplo peri­
Negativas: go: o sexo em si mesmo e o fas­
— E’ propenso aos prazeres se­ cínio da mulher: o sentido e o
xuais e sente o atrativo do fe­ coração. Por isto, há que lhe im­
minino. Como também é inclinado por a prática da mortificação cor­
ao luxo. poral, e especialmente a guarda do
— Experimenta de forma muito vi­ coração. Acostumá-lo a um gênero
va as simpatias e inclina-se à ami­ de vida vigoroso e sóbrio, sem
zade sensivel, às vêzes exagera- demasiadas comodidades (o "com-
damente. fort” moderno) e longe da vida
fácil.
— Fazer-lhe sentir a necessidade
absoluta da oração como meio efi-
eacíssimo, e sobretudo da devoção
à Eucaristia e a Nossa Senhora.
— Instruí-lo suficientemente sôbre
as dificuldades que encontrará no
ministério (especialmente o jovem
sacerdote e o religioso) para guar­
dar a própria pureza. Convencê-lo
sobretudo de que deverá expor cla­
ramente sua consciência se quiser
manter-se longe dos perigos. Para
êlc é absolutamente necessário um
bom e exigente diretor espiritual.

Obediência
Positivas : Formação:
— Também para a Obediência sua — Fazer-lhe compreender, antes de
generosidade é um fator positivo. tudo, a beleza que é possuir o
Em geral, porém, sua atitude con­ “sentido” da ordem e da discipli­
creta dependerá, em grande par­ na, como coisa de grande valor e
te, da “pessoa” do superior (é fôrça espiritual. Acostumá-lo a obe­
sempre o mesmo motivo: êle age decer por amor a Deus.
segundo o maior ou menor fascí­ — Chamar-lhe a atenção para o
nio da pessoa: “se é simpá­ fato de que a obediência nunca nos
tica. . . ”). torna escravos, porém livres: qua
libertafe nos Christus liberavit! Que

' Tanto Le S e n n e como outros autores — S h e I d o n, p. ex. —


observam que não existe — de per si — correlação entre um caráter
e a fôrça das inclinações sexuais que todos sentimos com mais ou
menos intensidade, conforme a herança e a evolução infantil. Isto, con­
tudo, não obsta a que um determinado caráter, por seus elementos
fundamentais, possa favorecer maiormente tais inclinações. Por isto, é
costume afirmar que os caracteres primários estão mais inclinados aos
prazeres sensuais do que os secundários.

44
Negativas: se trata de uma verdadeira e pró­
— A intervenção de uma vontade pria libertação, de um enriqueci­
alheia no que lhe diz respeito de mento da personalidade: mormen­
maneira íntima, e pessoalmente se te para êle, por se tratar de um
lhe afigura uma intromissão ino­ E-nA-P, pode ser fácil prêsa das
portuna e odiosa. emoções do momento.
— Muito pronunciada a tendência ;— O exemplo de Jesus, obediente
a contradizer. até à morte, deve ser o “leit-
motiv” de sua profunda formação
na obediência; nada melhor para
o E-nA-P, que tão vivamente ex­
perimenta a necessidade de alguém
a quem imitar.

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— Facilmente consegue fazer-se — Antes de tudo, fazê-lo refletir
simpático e interessante nas recrea­ sôbre a beleza da caridade fra­
ções e conversações (especialmente terna: quem ama seus irmãos ama
aos estranhos). Jesus em seu Corpo Místico. O
— E’ generoso, porém mais com mandamento do amor é único.
as pessoas de per si do que com — Introduzi-lo na ascética da
a comunidade como tal. equanimidade e do domínio de si;
que se habitue a prestar serviços
Negativas: generosamente a todos, sem dis­
— Muda de humor com freqüência: tinção.
não sabe dissimular seus senti­ — Fazer-lhe compreender que de­
mentos. ve falar e conversar com todos
— Em suas relações, terá prefe­ igualmente, e não somente com
rência e particularidades com um quem lhe resulta simpático. O
ou com outro. E-nA-P “largo” consegue-o com
— Se não toma cuidado, fàcilmen- mais facilidade; porém o "estrei­
te critica confrades e superiores. to” ou não se decide, ou lhe custa
— E’ pouco discreto no falar (fal­ muito.
ta de prudência).
Apostolado
Positivas: Formação:
— A emotividade proporciona-lhe a — Para valorizá-lo o mais possí­
alegria do apostolado: facilita-lhe vel, deve o Educador fazer duas
a aproximação e a compreensão das coisas:
almas. — oferecer-lhe o que sabe pode
— A Primariedade confere-lhe o ser-lhe agradável, e não lhe con­
sentido do real, do concreto, e fiar trabalhos que não quadram
torna-o sempre pronto a se dar e com seu gênio, até que o E-nA-P
a servir. haja logrado um discreto grau de
profunda vida sobrenatural.
Negativas: — Animá-lo e colocá-lo, sempre
— A não-Atividade será seu gran­ que possível, num ambiente pro­
de obstáculo ao apostolado. pício para seu desenvolvimento,

45
— Prefere um ministério que vá tanto de circunstâncias como de
variando com freqüência. Tem como pessoas.
principio que o trabalho há de lhe
agradar, pois do contrário se can­
sa e o abandona. Portanto, ação
nem eficaz nem profunda.
— Nem sempre se prepara para
os sermões e aulas.

CONCLUSÃO

O elemento positivo e a fôrça do E-nA-P consistem, como


vimos, na Emotividade.
Esta deve ser, portanto, a base de sua formação, tanto
no plano humano como no sobrenatural.
Quando se houver conseguido apaixoná-lo por um ideal
concreto, êle se lança, com todas as forças, a viver êste ideal.
Por êste motivo, se se conseguir apaixoná-lo no amor a Je­
sus Cristo e à sua obra — porém com uma convicção pessoal
(i. é, de modo que exista uma relação de pessoa entre êle
e Jesus), e não como obra material (pois as coisas não lhe
interessam), nem como obra purarnente interior (porque êle
necessita agir ativamente) — então um indivíduo com êste ca­
ráter pode alcançar um alto grau de vida interior e uma ver­
dadeira santidade. *
Ainda mais, quando assim estiver formado, poderá, por
sua vez, exercer uma santa e eficaz influência sôbre todas
aquelas pessoas com quem tiver algum contacto.
O tipo E-nA-P tem dado à Igreja grandes santos.
Exemplo: S. Francisco de Assis, que no amor pessoal a
Jesus Cristo achou a alavanca poderosíssima para sua santifi­
cação pessoal e para influir na vida da Igreja: influência que
perdura através dos séculos. *

* Cf. N oyeIIe, op. cit., p. 4.


‘ Cf. Ma^rcozzi, op. cit., p. 51.

46
CAPÍTULO VIII

E-nA-S: SENTIMENTAL

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS'

1? Descrição do caráter-tipo
a) O sentimental, como o E-nA-P, é também um E e nA,
mas a Secundariedade claramente o distingue dêle.
Com efeito:
— Por ser E, também é muito sensível, mas não exterioriza
suas reações, porque não vive do momento presente nem do
mundo que o cerca. Não é escravo dos acontecimentos, senão
que procura dominá-los e julgá-los: seu reino acha-se em sua
vida interior.
— Por ser S, percebe profundamente tôda impressão, boa ou
má, alegre ou triste. Medita-a lentàmente, revive-a uma que ou­
tra vez, ainda que haja transcorrido muito tempo. Dir-se-ia que
a tem prisioneira; enfim, é um sensível a longo prazo! Vive
muito apegado ao passado, no qual de boa mente muitas vê-
zes se refugia, enquanto, por outra parte, se preocupa com
organizar, “com a imaginação”, seu futuro. E’ o mais introver­
tido dos caracteres.
— Por ser nA, também êle, como o E-nA-P, não é propenso
ao agir; mas, por ser introvertido, dobra-se sôbre si mesmo,
dá-se conta de sua fraca atividade, de sua própria impotên­
cia, e deplora-a, mas não tem fôrça para reagir eficazmente.
Seüs projetos e iniciativas ficam sempre no estado de aspira­
ção e de sonho.
b) O E-nA-S “largo” possui uma afetividade cuja fôr­
ça, mais que concentrar-se na consideração do próprio “eu”,

’ Cf. Le S e n n e, op. cit., pp. 209 ss; Le O a ll, op. cit., pp. 126 ss;
G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 56 ss; C a r n o i s , op. cit., p. 50.

47
associa-se à meditação sobre o mundo físico (os campos, os
prados, as flores, as montanhas) ou sobre obras boas. Assim,
por exemplo, um joveni E-nA-S gosta de sair a passeio, sozi­
nho, pelos campos, e sente a necessidade de lançar suas im­
pressões num diário "íntimo.
A largueza diminui-lhe a suscetibilidade e suaviza-lhe a
rigidez do caráter: desta maneira o E-nA-S “largo” pode ter
vivências profundas e ricas.
c) O E-nA-S “estreito" é muito mais sensível, suscetível
e enigmático.
E’ predisposto às emoções violentas e concentradas, fru­
to de as haver guardado muito tempo em seu interior. E’ um
espírito pouco flexível.
A estreiteza reforça-lhe, aguça-lhe e endurece-lhe o cará­
ter. Quase sempre o E-nA-S “estreito” sente-se infeliz, e fa­
cilmente pode tornar infelizes os outros. ’
d) A inteligência é mais intuitiva que lógica. Não gosta
da análise nem das ciências abstratas e técnicas; antes é pro­
penso ao estudo da filosofia de tendência religiosa e psicoló­
gica, e à ética (por sua predisposição para a introspecção).
Não lhe é fácil apreender o essencial.
Sua inteligência é muito “subjetiva” : dir-se-ia que não age
como uma faculdade que tende a conhecer o objetivo, senão
que está como saturada de sentimentos profundos: dêste modo,
interpreta o ser humano e o mundo não como uma abstração,
mas como uma “expressão de vida”. Ama a poesia filosófica
e, ainda que muito menos que o E-nA-P, os estudos literários. *2
e) O aspecto morfológico ou somático “parece” ser o
seguinte
estatura: geralmente longilínea nariz: comprido, com perfil si­
compleição: mais pròpriamente nuoso
magra bôca: grande, com lábios mais
cabeça: oval pròpriamente finos, com li­
rosto: comprido, afilado no geira curva nos ângulos
queixo mãos: alongadas, robustas, de
olhos: médios, profundamente pele fina e sêca, com dedos
encovados compridos e nodosos nas ar­
ticulações
2 L e O a 11, op. cit., p. 40.
2 G r i é g e r, tntelligenza ed cducazione intelletlnalc, p. 104.
2 ü r i é g e r , Diagn. Caract., p. 114.

48
2° Qualidades
— E’ delicado, muito fiel e constante no afeto, amante da so­
lidão e do silêncio.
— Muito reto, honesto, veraz; tem profundo senso religioso;
sério, reflexivo e meditabundo, atitude e porte condignos.
— Contenta-se com pouco, nada ambicioso, indiferente por na­
tureza aos prazeres dos sentidos (gula, sexo).
— E’ predisposto à compreensão dos outros, porque é refle­
tido, procede com muita calma e, como já se indicou, possui
espírito mui nobre e delicado.

3? Defeitos
— Por demais fechado em seu mundo interior, quase sempre
descontente de si, e predisposto, portanto, ao escrúpulo e in­
clinado à melancolia.
— Tímido e indeciso. Propenso à ruminação do passado.
— Sua pouca Atividade provoca nêle a necessidade de uma
vida repousada, regular, bastante egoísta; e isto com indepen­
dência de todo contrôle alheio. E’ pertinaz.
— Suscetível e vulnerável mais que nenhum outro caráter: às
vêzes pode ter reações violentas, como um vendaval repentino
que a todos surpreende.
— Responde com displicência quando quer defender-se contra
aquêles que “crê” queiram forçá.-lo â algo, penetrar-lhe na in­
timidade ou, inclusive, adivinhar-lhe o estado de alma.
— Assim como o E-nA-P é o tipo mais satisfeito e contente
de si mesmo, o E-nA-S, ao invés, é o tipo mais descontente de
si e amargo.
N. B. — Entre todos os caracteres, o E-nA-S é o mais
predisposto às doenças mentais: paranóia, idéias fixas, m an ia...

4o Resultante caracterológica
— Segundo Le Senne, é a "vulnerabilidade” que desperta e
aguça a introversão e á volta ao passado.
— Neste caráter encontram-se muitos tipos pessimistas e tam­
bém negadores de Deus, ateus, que não crêem na Providên­
cia: e, geralmente, são assim não tanto por verdadeira e pró­
pria falta de fé, como porque se sentem feridos por alguma
pena íntima que acreditam recebida injustamente, ou por algum
insucesso.
Caracterologta — 4 49
5’ Valor dominante
— A necessidade mais fundamental e profunda do E-nA-S é a
intimidade: é ao que êle concede maior importância e a que
tende constantemente, por natureza.
— Sua experiência concentra-se totalmente no passado, volvido,
com íntima preocupação, para o futuro.
Exemplos históricos: Amiel, De Vigny, Kierkegaard, Scho-
penhauer, Leopardi.
Observação: Conforme o que foi dito na nota D da p. 27
sobre o esquema geral, no E-nA-S podemos achar tipos que
tendem aos seguintes caracteres, com os quais têm ao menos
um elemento comum:
Se aumenta a atividade, aproxima-se do E-A-S ~ apaixonado
Se diminui a secundariedade, ” ” E-nA-P — nervoso
E-nA-S Se diminui a emotividade, ” ” nE-nA-S “ apático
Se diminui a emotividade, e
aumenta a atividade, ” ” nE-A-S = fteumáfico

B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
Io Atitude do educador
— Como para o E-nA-P, a atitude do educador tem impor­
tância capital também na educação do E-nA-S, porém por uma
razão ainda mais profunda: porque, sendo E e fortemente S,
o E-nA-S por índole é propenso à intimidade e à veracidade,
e, assim, vai em busca de um coração que o compreenda a
fundo e o ame sinceramente.
— Visto que é muito “sensível” à influência de outra pessoa
e do ambiente em que vive, o educador assume enorme respon­
sabilidade no que se refere ao desenvolvimento humano do
E-nA-S.
— As qualidades que deve possuir o educador para influir
eficazmente sobre êle são:
1) bondade a tôda prova e grande delicadeza de trato;
2) profunda compreensão e paciência invencível.
— Para o E-nA-S tudo isto significa mais que qualquer racio­
cínio e lhe proporciona benefício maior que em qualquer outro
caráter.
2’ Processo de seu método educativo “
— A educação constitui trabalho pessoal do educando, para o
qual, entretanto, eficazmente contribuem, como já se disse, tan-
" Cf. G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 153.

50
to o educador como o ambiente. O E-nA-S — mais que qual­
quer outro caráter (não se perca isto de visja) — desde pe­
queno está sob a influência da família ou da educação (es­
cola, etc.).
— Deve o educador realizar três coisas para ser bem sucedi­
do em sua missão:
1) Criar e manter em tôrno ao E-nA-S um “clima” de con­
fiança e de compreensão, única maneira de salvá-lo de vários
complexos (timidez, desconfiança de si, escrúpulos...).
2) Acostumá-lo a “reconciliar-se com o mundo real”, isto
é, a sair do próprio eu e a se abrir com os outros, fazendo-
lhe descobrir a satisfação e a alegria que se experimentam ao
se prestar colaboração a quantos nos rodeiam.
3) Fazer germinar nêle o gôsto da atividade. O verdadeiro
defeito — raiz de todos os outros — no E-nA-S é, por conse­
guinte, sua não-Atividade. Há que começar, portanto, fazendo-
lhe ver o grande valor da atividade, a fim de que o compreenda
e aprecie. O E-nA-S crê que a única ação que vale a pena
é a interior, e que, ao invés, a atividade exterior é somente
“agitação”.
— O educador, portanto, deverá industriar-se em transmitir à
sua consciência a convicção de que a riqueza interior que êle
possui há que expandi-la exteriorrpehte sob a forma de dom
de si a Deus e a seus semelhantes.
— Isto convém demonstrar-lho mediante a análise de seu ca­
ráter. O E-nA-S tem pouca confiança em si mesmo, porque
não considera o valor de suas qualidades positivas: a Emo­
tividade e a Secundariedade. São, realmente, duas forças que,
se êle chegar a pô-las em ação, terão de ser potentes gerado­
res de energia. Animá-lo a que o prove e se empenhe em algu­
ma pequena atividade exterior. Apenas haja conseguido um êxito,
ainda quando insignificante, encorajá-lo muito (sem exageros,
porém). Nunca salientar, especialmente no início, suas defi­
ciências ", mas, antes, amparando-o, fazê-lo passar de uma pe­
quena vitória a outra maior, até que o E-nA-S tenha adquirido
o hábito de agir com coragem e confiança. Se se conseguir que

' Atenção nas escolas! Nunca humilhar com palavras duras ou —


o que é pior — com sarcasmos um jovem E-nA-S por faltas e defi­
ciências. Quantos rapazes e raparigas, por causa dêstes maus tratos da
parte do educador, ficaram, pela vida tôda, com um invencível com­
plexo de inferioridade e completamente fechados em si mesmos!
4* 51
êle mesmo se decida a empreender algo, poder-se-á dizer que
se reconciliou com a Atividade e triunfou sôbre a timidez.
— Deve procurar espiritualizar-lhe a Emotividade, elevando-a,
quanto lhe seja possível, a um ideal superior; como também
deverá procurar a maneira de lhe intelectualizar as rumina­
ções mentais, de modo a transformá-las primeiro em ativida­
des espirituais e depois em atividades técnicas exteriores.
3’ Valor a conseguir
— Na educação psicológica do E-nA-S, o educador há de sus­
citar o sentimento do próprio valor, até conseguir que se cris­
talize numa convicção profunda e poderosa. Vimos, caracte-
rològicamente, como para o E-nA-S o valor dominante é “a
intimidade”. Deverá, pois, esta reforçar-se ao máximo e ser
elevada ao grau de “intimidade consciente e verdadeira”. '
— Desta maneira o E-nA-S fica projetado num sentido vital;
e, assim orientadas, suas qualidades o irão preparando para
uma vida fecunda em bem e em dedicação generosa a seus se­
melhantes, o que lhe proporcionará uma satisfação imensa, gran­
de paz interior e, sobretudo, profundíssima- alegria para sua
alma delicada.
II. NO PLANO SOBRENATURAL
A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR O SO-
LOGJCAS FRENTE AO SO- BRENATURAL *
BRENATURAL
EM GERAL
Positivas: Farmação:
— Já que não vive sob a impres­ — Há que lhe apresentar (como
são do momento, como o E-nA-P, ao E-nA-P) o sobrenatural sob
o E-nA-S sente-se atraído por tu­ uma forma atraente: como fonte
do o que é estável, profundo; por­ de vida que dá o sentido e a fir­
tanto, pelo Absoluto. meza da estabilidade, da fidelida­
— Por sua natural inclinação à de e da íntima paz do coração.
introspecção, “sente” a palpitação — A base sôbre a qual é neces­
profunda de todos os sêres cria­ sário construir o edifício de sua
dos, nos quais lhe é fácil “sentir” vida espiritual há de ser a Bon­
também a Divindade imensa e es- dade e, particularmente, a Miseri-

' G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 59 e 192.


1 Para a formação espiritual, cf. passim: J a c q m i n, Essai de ca-
ractérologie retigieasc, Roma, 1954 (poligrafado). N o y e I I e, Caractéro-
logie Religieuse (poligrafado). S i m o n e a u x, La dirediort spiritueite
suivant le caractère, Paris, Aubier, 1958. G r i é g e r, Caractère et vo-
cation, Mônaco, Ed. “Journée de la vocation”, 1958. C a r n o i s, ll
dramma deWinferiorità, Torino, S. E. I . , 19(50.

52
condida, que vive e age nêles e córdia de Deus e o amor pessoal
em tôda a natureza. a Jesus Cristo.
— Por ser E, é sensível ao amor — O sobrenatural não é mais que
de Deus. a adesão a um Deus Pessoal que
— Por ser S, inclina-se à vida age no mundo com disposições pre­
interior e à constância. cisas, com vontade bem clara e
com programa livremente definido.
Negativas: — E’ um Deus encarnado, que pro­
— Por ser E, está inclinado, como mulgou uma doutrina com dogmas
o E-nA-P, a apoiar o sobrenatu­ precisos e imutáveis, uma doutrina
ral no "sentimento”. Assim, mui­ de vida, e criou uma Sociedade
tas vêzes deixa-se levar por êle perfeita: a Igreja, para continuar,
com estados de tristeza, desânimo através dos séculos, sua obra re­
e escrúpulos. dentora. Cristo é a vida da Igreja. ’
— Por ser nA, repele tudo o que — Por isto, fazer-lhe chegar a des­
lhe é imposto de fora: obrigações cobrir:
ou proibições. Daí que esteja mal 1. a misericórdia de Deus, sua in­
disposto para tudo o que a re­ finita compreensão da fraqueza hu­
ligião prescreve: as normas litúr- mana;
gicas, canônicas, a casuística mo­
ral, etc. 2. o especial amor de Jesus Cris­
— Por ser S, tende naturalmente to aos que sofrem, que são — no
a viver de “hábitos” e segundo fundo — seus prediletos.
sua própria maneira de ver as coi­ — Quando houver adquirido estas
sas; é, portanto, pertinaz e tam­ convicções, apresentar-lhe outro as­
bém egoísta. pecto não menos importante da
vida sobrenatural, do qual neces­
sita mais que dos anteriores: a
colaboração com Deus, a vontade
de servi-lo. Deus é tão bom que
qiier que seus filhos adotivos co­
laborem em sua Obra redento­
ra; e, desta maneira, também êles
poderão saborear a alegria de "fa­
zer bons”, e portanto felizes, os
demais; induzi-io a irradiar as ín­
timas delicadezas do Amor de Deus
— especialmente do Deus encar­
nado, Nosso Senhor Jesus Cristo.
— Portanto, tôda a formação es­
piritual que se deve dar ao E-nA-S
resume-se nestes dois princípios:
1. confiança e amor a Deus;
2. decisão de trabalhar com Cris­
to e para Cristo.
— Base desta formação deverá ser
o ir animando-o constantemente,
porém de maneira equilibrada e
razoável, sem exageros, que po-

’ J a c q m i n , op. cit., p. 47.

53
tierão ser contraproducentes para
o E-nA-S (isto o aviltaria, e fá-
lo-ia perder a confiança).

EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— Entre todos os caracteres, o — Deve esta ser — como já se
E-nA-S é o que mais experimenta disse na parte geral — fundada
a necessidade da Direção Espiri­ tôda na confiança e na com­
tual e o que dela mais provei­ preensão.
to tira. — O E-nA-S, mais que qualquer
—■ Quando toma confiança, abre-se outro caráter, espera muito do
com o Diretor até o ponto de lhe Diretor Espiritual. Portanto, pô-lo
revelar os mais pequenos refollios quanto antes “à vontade" nas re­
de sua alma: êle mesmo se des­ lações com o Diretor, o que se
creve psicologicamente de maneira conseguirá se se começar por aju­
objetiva e fidedigna. dá-lo a penetrar objetivamente em
seu interior com o fim de conhe­
Negativas: cer e apreciar as boas qualidades
— Fecha-se demasiado em si mes­ e as grandes possibilidades que se
mo, e não se deixa fàcilmente con­ lhe oferecem para desenvolvê-las e,
vencer. ao mesmo tempo, corrigir as pró­
— Como já foi dito, é propenso prias deficiências.
à desconfiança, inclusive com re­ — Há que convencê-lo de que seu
lação à obra da Graça. caráter é. o mais bem disposto para
— Sua desconfiança e seu pes­ o verdadeiro espírito sobrenatural.
simismo são, no fundo, uma for­ — Não o impressionar nunca com
ma de orgulho negativo (de re­ o pensamento de serem seus pe­
sistência e passividade). cados as causas dos castigos de
Deus.
— Em vez disso, fazer-lhe ver
no pecado uma ingratidão para com
|esus Cristo, um desprêzo ao amor
pessoal do Amigo mais fiel.
— Sempre que possível, oferecer-
lhe ocasião para se exprimir li­
vremente, para falar longamente.
Que nunca tenha a impressão de
que temos pressa ou de que nos
cansamos em escutá-lo.
— Vigiá-lo devidamente para que
não seja vitima dos escrúpulos.

Piedade
Positivas: Formação:
— Gosta da oração pessoal e com- — Dado ser êle propenso à ora­
praz-se nela. Prefere lugares re­ ção pessoal no silêncio, convém de­
colhidos e silenciosos para rezar; senvolver-lhe na alma o contacto

54
sabe fechar-se no mais íntimo de íntimo e profundo com Deus.
seu coração, mesmo em meio ao — Apresentar-lhe:
barulho exterior (conversas, re­ DEUS como Pai misericordio­
creações, ou também durante os so e compreensivo;
jogos e divertimentos). JESUS CRISTO como o mais
fiel dos amigos;
Negativas: NOSSA SENHORA como a mais
—• Não gosta da oração feita em doce e compassiva das mães.
comum e dirigida. Sua meditação — Sua meditação deve ser orien­
tem mais o aspecto de uma re­ tada no sentido de se converter
flexão sôbre si mesmo, do que de num colóquio pessoal, e não num
um contacto íntimo e amoroso com passatempo ou ocasião de "se de­
Deus. safogar” com Deus e Jesus Cris­
to, ante o SS. Sacramento, das
próprias penas e da incompreensão
de que se julga vítima: como um
refúgio contra o mundo. . .
— Por isto, acostumá-lo a “se es­
quecer de si” em sua oração. Esta
deverá projetá-lo para fora, com
um sentido de entrega e generosi­
dade ao serviço de Deus e das
almas.

Ascética
Positivas: Formação:
— Em geral, o E-nA-S é bastante — Não o educar numa ascética
inclinado ao ascetismo, ao domí­ "negativa”, que o iria deixando
nio dos sentidos, à honestidade e cada vez mais deprimido, senão
sinceridade. libertá-lo de todo temor; portan­
to, formá-lo com uma ascética:
Negativas: a) positiva: que seja consciente
— Vive excessivamente dobrado de suas possibilidades e saiba co­
sôbre si mesmo, deixa-se dominar nhecer o próprio valor; desta ma­
por sua imaginação e pela tris­ neira ir-se-á formando na inicia­
teza. E, como é exageradamente tiva e atividade espiritual;
introvertido, e concentrado em seu b) interior: habituá-lo à verdadei­
mundo interior, fàcilmente se dei­ ra abnegação de si, a mortificar
xa levar pelo egoísmo, quase sem a imaginação, a lutar contra a tris­
disto se dar conta, e também pelo teza e contra a contínua análise
orgulho sob o aspecto de apêgo das próprias deficiências.
às próprias idéias: trata-se de um
orgulho que é como uma de­
fesa contra o mundo exterior.
"E’ mais moralista do que teólogo”
(J a c q m i n, p. 48).
Vida religiosa
Positivas: Formação:
— Como ama a vida interior, bus- _ Apresentar-lhe a vida religiosa
ca e escolhe a vida religiosa, na n<J<? como um “refúgio” ou defe-

55
qual encontra o caminho mais fá­ sa contra o mundo, senão como
cil para a própria santificação e meio para levar a cabo uma vo­
para receber um estímulo ao apos- cação mais forte e estável: como
tolado. um verdadeiro "alistamento” na mi­
lícia de Deus. *
Negativas: — Deve, portanto, ser formado no
— A indecisão mantém-no longe senso de responsabilidade e de ini­
da vida religiosa, mas, como é ciativa (sobretudo esta última lhe
tímido e solitário, pode ser que é necessária), para chegar a pos­
a escolha como refúgio ou escape suir uma "personalidade”.
contra as dificuldades da vida: a —- Se realmente é um E-nA-S “ti­
luta pelo ganha-pão... po”, mais prudente será aconse­
— Psicologicamente, considera-a lhar-lhe o ingresso num Instituto
como uma espécie de rôlo compres­ religioso de vida não demasiado
sor, que tudo iguala, fixando um ativa.
mesmo objetivo para todos, com Porém, se é demasiado melan­
menoscabo da personalidade. cólico, há que lhe desaconselhar o
ingresso na vida religiosa ( S a n ­
ta T e r e s a ) .
Pobreza
Positivas: Formação:
— A simplicidade de vida e o as­ — A simplicidade de vida deve ser
cetismo inatos, que às vêzes obri­ guindada a um plano sobrenatural:
gam até ao desprêzo dos alimen­ há perigo de que degenere em
tos (sobretudo dos mais apetitosos) desprêzo estóico ou cínico dos bens
e da elegância no vestir. terrenos. Assim aprenderá êle o
uso que há de fazer das -coisas
Negativas: segundo sua ordenação ao fim úl­
— Pouco trabalhador, e propenso timo, que é a posse de Deus, Su­
a viver a expensas dos ou tro s... mo Bem.
Despreza tudo aquilo que não é —■ Desta maneira, a pobreza con-
capaz de se proporcionar com o duzi-lo-á à prática sobrenatural da
próprio trabalho. Negligente no Esperança.
porte, especialmente no modo de — Acostumá-lo a empregar eficaz­
vestir. mente o tempo (como dissemos
para o E-nA-P): fazer-lhe ver o
valor que o tempo tem em ordem
à eternidade.
— Estimulá-lo a colaborar com os
demais que se sacrificam pelo bem
comum, ao invés de os criticar ou
depreciar.

Castidade
Positivas: Formação:
— E’ predisposto ao ascetismo: — Convém estudar detidamente o
suas inclinações aos atrativos se- sujeito em questão, para ver se

’ Cf. J a c q m i n, op. cit., p. 36.

56
xuais não são fortes. Quanto mais nêle predominam as disposições po­
é S, tanto mais diminui nêle a in­ sitivas ou negativas.
clinação do sexo. Estudar, sobretudo, a “raiz” de
— Dá grande valor à vida sim­ suas inclinações negativas, para sa­
ples e pura. ber regular-se com vistas a um
— Pode manter uma amizade, in­ tratamento espiritual eficaz. O pro­
clusive por muito tempo, sem pe­ blema da idoneidade para a vi­
rigo para a pureza do coração da religiosa ou sacerdotal em re­
e do corpo (também com uma lação à Castidade não se resolve
mulher). com normas gerais; cada caso in­
dividual é, em realidade, um caso
Negativas: “especial” e, por conseguinte, deve
— Pode ter, sem embargo, um que ser estudado a fundo, com todos
outro “desvio" (alguma queda mo­ os seus elementos pessoais. *
ral), porém sem conseqüências gra­ — Nesta matéria é preciso, da
ves e como coisa isolada. Não fal­ parte do Diretor espiritual, muito
tam casos de E-nA-S com inclina­ tacto e grande compreensão para
ções sexuais, provenientes sobre­ induzir o E-nA-S — especialmente
tudo: se jovem -— a se abrir, em ma­
— da hereditariedade; téria tão delicada, com tôda sin­
— de uma evolução anormal da se­ ceridade e confiança.
xualidade; Mais do que o instinto sexual,
—- de alguma iniciação recebida na o verdadeiro perigo para a casti­
infância; dade do E-nA-S reside na tendên­
— de reação e como compensação cia e na necessidade de afeto.
contra o ambiente em que vive. Todo o trabalho do Diretor es­
— E’ muito propenso à intimida­ piritual deverá consistir em susci­
de, à afetuosidade profunda e cons­ tar a transformação do amor "hu­
tante, sempre em busca de uma mano” de amizade em amor so­
alma g êm ea... brenatural de caridade fratèrna.
Le Senne observa ser êle mais Desta njaneira, as riquezas inatas
propenso à amizade a um homem contidas no coração do E-nA-S fi­
do que a uma mulher: seguramen­ cam valorizadas ao máximo.
te porque, em geral, a mulher é,
quase sempre, “primária”. ‘

Obediência
Positivas: Formação:
— Desejo de vida estável e or­ — Esta constitui a grande cruz
ganizada; preocupação por salvar do E-nA-S.
os princípios; sente atração para — Deve, pois, o Diretor Espiritual
uma vida regular e séria. preocupar-se muito com a forma­
— Mantém, em geral, conduta lou­
vável, e é sincero. ção sobrenatural na Obediência.
Aproveitar a delicadeza de seus
Negativas: sentimentos: para que êle chegue
— Instintivamente sofre com tôda a ver em cada ato de obediência
intervenção alheia em sua vida in- uma provà de amor que êle dá

* Op. cit., p. 259.


‘ J a c q m i n , op. cit., p. 52.

57
tima: é, portanto, bastante intenso a Deus e, sobretudo, a Jesus Cris­
ao regulamento, à regra, às or­ to, seu Amigo divino.
dens dos Superiores, os quais con­ — O que é mister desenvolver nêle
sidera — como já foi dito — uma é uma intensa vida sobrenatural.
espécie de intrusos em sua vida — Fazer-lhe compreender que nem
íntima. todos os caracteres estão dotados
Sua atitude será de defesa, em­ da compreensão e delicadeza que
bora mais contra a pessoa (supe­ êle tem.
rior) do que contra o regulamento — Procurar que, desde o inicio —
ou as normas (impessoais). “principiis obsta!" — seja atento
— A obediência, sobretudo de juí­ em não se deixar levar por um
zo, custar-lhe-á muito, já que sentimento de descontentamento em
submete qualquer disposição supe­ face de uma ordem, porque êste
rior à sua crítica." sentimento se desenvolverá cada
vez mais nêle, até se tornar fran­
camente uma oposição declarada
frente à autoridade do superior. '

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— Como é reservado, delicado e — A primeira coisa a fazer é ha­
discreto, não importunará a nin­ bituá-lo a elevar sua necessidade
guém nem terá inimigos na co­ de afeto íntimo c profundo a um
munidade. Sua compreensão facili- amor sobrenatural.
tar-lhe-á a caridade fraterna. Depois, fazer-lhe provar a ale­
gria de uma sadia vida de famí­
Negativas: lia. que deve constituir o espírito
— E’ propenso a isolar-se e a de uma autêntica Comunidade. Nes­
prescindir da Comunidade. te ambiente de afeto sobrenatural,
Se, por uma parte, não tem ini­ aos poucos sua afetividade abrir-
migos, por outra serão raros os se-á para com os outros, e des­
amigos. tarte poderá cooperar eficazmente
para o mantenimento de um au­
têntico espirito de fraternidade.

Apostolado
Positivas: Formação:
— Tem muitas e magníficas qua­ — No referente ao apostolado há
lidades para o apostolado indivi­ que seguir a mesma tática.
dual: compreensão e delicadeza — Começar por incentivá-lo à
para com as almas. E’ dos que ação, fazendo-lhe verificar a do­
podem exercer profunda e eficaz se de boas qualidades que tam­
influência espiritual. E’ sensível às bém tem para o ministério sacer­
misérias alheias, assim físicas como dotal ou religioso.
morais.*1 — Apresentar-lhe a vida apostó-

" J a c q m i n, op. cit., p. 37.


1 Os superiores E-A-P e E-A-S, com sua forte personalidade, se­
rão talvez obstáculo para sua formação, mas poderão compreendê-
lo e apreciar-lhe as qualidades (èles também são E); os nE^A-P e os
nE-A-S não podem compreendê-lo e podem realmente prejudicá-lo.

58
— No campo da psicologia teó­ lica como a irradiação normal de
rica aplicada ao apostolado, pode uma vida interior consagrada a
oferecer boas iniciativas que se­ Deus. Todo aquêle que vive, de
rão úteis para o bem das almas. verdade, profundamente sua vida,
deve fazer os outros participes das
Negativas: íntimas riquezas do próprio co­
— Por ser nA, não se decide a ração.
empenhar-se a fundo: não tem as — Pô-lo, portanto, em condições de
qualidades próprias de um homem ambiente em que possa sentir-se
de ação apostólica. à vontade: que ache colaboradores
— Acha sérias dificuldades ao ter ativos e bem dispostos para com
de indicar diretrizes "práticas”. êle. Convém fazê-lo trabalhar gra­
— Corre o perigo de se apegar dualmente, cada vez com mais in­
por demais sensivelmente a algum tensidade, para que desenvolva com
de seus “dirigidos”. ritmo quase natural suas capaci­
dades de apostolado e sua ati­
vidade.

CONCLUSÃO
O elemento positivo e a fôrça do E-nA-S consistem na
Emotividade e, talvez ainda mais, na secundariedade.
O desenvolvimento orgânico e sistemático destes dois ele­
mentos positivos deverá constituir o “pivot” de sua formação
tanto no plano humano como no sobrenatural;
Quando se houver conseguido convencê-lo de que, se se
empenhar de pleno na ação, poderá chegar a realizar um tra­
balho frutífero para o bem de sua alma e da do próximo, ter-
se-á valorizado plenamente o E-nA-S. Com seus dotes posi­
tivos, após uma boa formação estará em condições de, por
sua vez, nutrir outras muitas almas e de se converter num ex­
celente conselheiro ou diretor espiritual.
A caridade deverá ser o elemento-base de tôda a sua for­
mação. Quando esta rainha das virtudes houver tomado posse
de sua alma, o E-nA-S poderá atingir um alto grau de santi­
dade. Efetivamente, êste caráter-tipo tem dado grandes santos
à Igreja.
Exemplo de Santos: S. João Batista Maria Vianney, o Cura
d’Ars, que, não obstante as notáveis deficiências de seu ca­
ráter, sempre tão propenso ao desânimo (tudo era pobre para
êle: “ma pauvre v ie ... ma pauvre mort”), alcançou santida­
de extraordinária, fundada tôda ela no amor de Jesus Cristo,
que se manifestou em seu grande zêlo pelo bem das almas.

59
SECÇÁO SEGUNDA

OS EMOTIVOS-ATIVOS: E-A

NOTA INTRODUTÓRIA:
Até aqui falamos dos tipos caracterofógicos (grupo E-nA)
cuja fôrça e característica predominante é a Emotividade. Ago­
ra passamos a uma segunda categoria, cuja fôrça ou distin­
tivo característico é, ao contrário, a Atividade.
E’ esta a característica dos homens que têm marcada in­
fluência principalmente do ponto de vista social e político; êles
é que fazem a história. Os Emotivos-nãoAtivos, ao invés, po­
dem considerar-se, em relaçao a eles, como espectadores dos
acontecimentos suscitados pelos Emotivos-Ativos, e, muitas vê-
zes, com sua arte e imaginação , os refletem em obras literárias
de romance e poesia.
A distinção entre êstes dois grupos pode apresentar-
se assim ':
Os E-nA Os E-A
— São caracteres divididos interior­ — São caracteres unitários, que
mente, mas também dobrados sôbre buscam ocupações fora de si, sem­
si mesmos por causa da evolu­ pre dispostos a pôr em jôgo no­
ção de sua Emotividade. vas maneiras de atuar.
— Nestes tipos de caráter o úni­ — Apresentam-se-lhes muitos obstá­
co obstáculo tem origem em seu culos que provêm do ambiente em
interior: a inatividade. que devem exercer suas várias
— Do ponto de vista da ação, em atividades, e não de seu mundo
certo sentido êles são como uns interior.
sêres "fracos", porque seus pro­ — Sentem-se fortes, porque pre­
blemas interiores os debilitam; mas cisamente nas dificuldades exterio­
sob outro aspecto passam a ser res acham a razão de ser de sua
indivíduos "refinados” que recebem ação.
sua superioridade justamente da — De fato, sua ação é um ato
mesma causa interior de sua fra­ de simples “emissão”: êles criam,
queza. De fato, sua ação é como constróem algo fora de si, inde­
um reflexo “expressivo": êles se pendentemente de sua maneira de

’ Cf. L e S e n n e, op. cit., pp. 291 ss.

60
revelam a si mesmos em tudo o ser. Êste é o escopo de sua vida.
que fazem. — Para conhecê-los melhor, deve­
— “A não-Atividade diminui o mos atender mais à sua profis­
número e o volume das obras, po­ são, à sua obra, numa palavra, à
rém aumenta a densidade da cons­ manifestação de sua atividade, do
ciência pessoal, isto é, do homem que à sua “intimidade”, como para
em si mesmo” (L e S e n n e , o E-nA.
p. 292).

61
CAPITULO IX

E-A-P: COLÉRICO
(atlvo-exuberante)

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS’

1? Descrição do caráter-tipo
a) O colérico — que Oriéger classifica preferentemente
sob o nome de “Ativo-exuberante” — teni grande vitalidade
física e muito sentimento. A atividade é sua verdadeira fôrça
e, portanto, a nota predominante de seu caráter.
Com efeito:
— Por ser A: sente a necessidade de agir por agir; não pode
estar parado, sem fazer nada; frente a um obstáculo, empenha-
se a fundo para vencê-lo: esta é sua alegria!
— Por ser P: é dinâmico, mas não constante. Tem uma ativi­
dade improvisada, e, por isto, com a mesma facilidade com
que inicia uma ação, deixa-a sem terminar, para começar outra
nova. Sua atividade é febril, porém pouco ordenada e sem
profundeza.
Vive também, como o E-nA-P,do momento presente, mas
sob outro aspecto. Para o E-nA-P, a primariedade é uma rea­
ção de “sentimento” ; para o E-A-P, ao invés, a primariedade
é reação de “ação”. De fato, o E-A-P busca os resultados ime­
diatos da ação na própria ação; deixa-se também absorver pelas
impressões exteriores — que lhe não impedem o trabalho —
e, por isto, é “extrovertido”. O que lhe causa grande dispersão
de forças e desperdício da riqueza vital de suas qualidades.
— Como também é E, manifesta sua emotividade no âmbito da
ação: vibra intensamente diante do que tem a fazer. E’ muito
’ Cf. L e S e n n e , op. cit., pp. 291 ss; G r i é g e r, Diagn. Caract.,
pp. 41 ss; L e G a 11, op, cit., pp. 161 ss; C a r n o i s, op. cit., p. 56.
62
hábil em arrastrar os outros para a esfera de sua atividade ou
de sua alegria. Geralmente é entusiasta e otimista, ainda tam­
bém bom "falador". Não se dobra sobre si mesmo para se exa­
minar, nem é timido como o E-nA -S; tampouco é metódico.
b) O E -A -P ”largo": Trabalhador e compreensivo, adapta-
se razoàvelmenjte às mudanças que o tempo e as circunstân­
cias lhe impõem. E’ mais perseverante e menos violento.
Tem facilidade de compreensão e possui rico e abundante
dinamismo.
Respeita e tem muita afeição à investigação cientifica.
E’ mais amável, cordial e simpático, porém menos cuidado
em suas maneiras do que o E-A-P estreito.
c) O E-A-P “estreito”: tem um espírito de reação imedia­
ta. Deixa-se monopolizar por tudo aquilo que “no momento
atual” o comove, e imediatamente põe mãos à obra, sem ter
em conta a hierarquia de valores e sem refletir: vive intensa­
mente o que está fazendo. E’ menos expansivo que o E-A-P
“largo”, mas tem um porte mais cuidado: mais ordenado, mais
fino e rebuscado.
d) A inteligência nêle é pronta e, não raro, até brilhante.
Não é muito propensa à análise nem às ciências abstratas. Ten­
de, ainda que não demasiado, a apreender o essencial. Interes­
sa-se de preferência pelos problemas políticos e sociais. Tem
muito gôsto pelas ciências técnicas (sua característica pre­
dominante).
Às vêzes parece que não se mantém coerente com suas
expressões, nem tampouco é demasiado veraz.
E’ bem dotado de talento oratório e é propenso às belas-
artes.3
e) O aspecto morfològico ou somático “parece” ser o
seguinte -:
compleição: robusta nariz: geralmente comprido,
estatura: regular carnudo
cabeça: regular, redonda bôca: média, com abertura es­
rosto: quase • quadrado, com treita e reta
fronte alta, larga mãos: compridas, ossudas, com
olhos: geralmente claros, aber­ dedos alongados, nodosos nas
tos, salientes e quase sempre articulações
brilhantes
’ Cf. G r i é g e r , Educ. lntell., pp. 181 ss.
' Cf. G r i é g e r , Diagn. Caract., p. III.

63
2? Qualidades
— E’ muito trabalhador, resistente, serviçal e sociável, expan­
sivo, generoso. Logo esquece as ofensas.
— Filantropo, alegre, geralmente cordial e entusiasta. Sabe tor­
nar-se simpático; hábil em persuadir os outros. Decidido.
— Capacitado para a vida de negócios.
3o Defeitos
— Impulsivo, forte e, às vêzes, violento; fàcilmente excitável.
Superficial, inconstante, impaciente. Contenta-se com os resul­
tados imediatos. Crê-se demasiado seguro em seus juízos.
— Gosta de viver intensamente: por isto, inclinado a satisfa­
zer os sentidos (gula e sexo).
— Vaidoso, sobretudo do “que faz” (enquanto que o E-nA-P
é vaidoso do “que é”).
— Ambicioso e amante da popularidade. Propenso às transi-
gências. . .
— Aventureiro e, às vêzes, também revolucionário!
4? Resultante caracterológica
Tem, por certo, qualidades magníficas: “a generosidade”
e “a doação imediata”, qualquer que seja a ação, contanto que
redunde em benefício dos outros; mas sobretudo nas ações que
lhe tocam mais de perto e lhe despertam o interesse. O E-A-P
alegra-se — por causa de sua emotividade — com tudo o que
faz, enquanto que o E-nA-P goza com tudo o “que sonha”. . .
Portanto, para êle o perigo está em procurar aquelas ações
que mais satisfação lhe proporcionam, e não as que em si
tenham maior valor objetivo.
5o Valor dominante
— Para êle tem valor a ação improvisada e envolvente, ainda
que alguma vez não tenha orientação clara e definida no que
pretende. 4
Exemplos históricos: Danton, Mirabeau, Vítor Hugo, Balzac,
Walter Scott, Benvenuto Cellini, Casanova.
Observação: Conforme o que foi dito na nota 1" da p. 27,
sôbre o esquema geral, para o E-A-P podemos encontrar indi-

4 G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 43.

64
víduos que tendem para os seguintes caracteres, com os quais
coincidem, ao menos num elemento comum:
Se diminui a primariedade, aproxima-se do E-A-S = apaixonado
Se diminui a atividade, " ” E-nA-P = nervoso
E-A-P Se diminui a emotividade, ” ” nE-A-P = sangüineo
Se diminui a atividade e
a emotividade, ” n nE-nA-P = amorfo

B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
1“ Atitude do educador
— O E-A-P não apresenta as mesmas exigências psicológicas
do E-nA-P ou do E-nA-S em relação ao modo de agir do edu­
cador a seu respeito. O E-A-P, em geral, não costuma deter-
se em considerações sobre “a pessoa” ou o modo de agir do
educador, senão que ordinàriamente, quando toma confiança com
quem vê que quer ou deseja ajudá-lo de verdade, atende e se­
gue sobretudo as “diretrizes” verdadeiras e próprias da educação
que se lhe dá.
— E’ um tipo que fàcilmente se deixa moldar por idéias que
não são seus próprios pontos de vista.
2? Processo de seu método educativo"
— Deve o educador tomar como ponto de partida de sua ação
educativa a atividade não tanto em abstrato quanto em concre­
to: iluminar, formar, indicar ao E-A-P “como" deve fazer “esta
ou aquela determinada ação”.
— Portanto:
1) Deve habituar o E-A-P a dominar sua primariedade, que o
impele a agir segundo suas tendências: há que lograr que seu
trabalho convirja para um mesmo e único escopo, e, possivel­
mente, que seja de ordem superior; desta maneira, pouco a
pouco ir-se-á desenvolvendo nêle uma secundariedade pessoal.
2) Deve fazê-lo refletir sôbre os motivos, o valor e o fim dá
ação que vai realizar; assim frear-lhe-á a tendência a agir por
agir. Numa palavra, há que educar o desenvolvimento de sua
Atividade: apresentando-lhe sucessivamente um fim após outro,
de modo que compreenda a relação entre êles. Desta maneira
o educador demonstrar-lhe-á que a Atividade é a verdadeira
riqueza de seu caráter, atividade que êle deve dominar e fazer
render ao máximo.
‘ Cf. G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 149; J a c q m i n, op. cit.,
pp. 55 ss.
Caracterologla — 5 65
3) Deve convencê-lo das desvantagens da “extroversão”, por
causa da qual o E-A-P é sumamente propenso à dissipação,
visto deixar-se absorver pelo mundo exterior. Só desta maneira
poderá chegar ao verdadeiro domínio de si mesmo.
4) Não deve — ao instruí-lo — usar palavras violentas, for­
tes, ou que de alguma maneira incutam temor, porque pode­
ríam, inclusive, dissipar as valiosas energias de que o E-A-P
está dotado, com o consequente transtorno do caráter natural.
N. B. — Para obter êxito na educação do E-A-P, Griéger
aconselha um duplo procedimento:
I" Intelectual: fazer o E-A-P compreender que “sua” fra­
queza consiste na dispersão das forças naturais. Há nêle um
esbanjamento de energias: sua falta é sempre por “excesso”.
2" Pedagógico: convém colocá-lo num ambiente de com­
preensão, onde o E-A-P possa satisfazer sua necessidade de
atividade e de afeto (não olvidar que também êle é um E).
Mister se faz, é verdade, disciplina para formá-lo, porém deve
esta ser discreta e constante, não monótona nem brutalmente
mantida: poderia, inclusive, provocar-lhe a fuga.
3’ Valor a conseguir
— Mediante essa dupla formação intelectual e pedagógica, fa­
zer-lhe ver e compreender que o valor dominante de sua psico­
logia caracterológica — valor de ação improvisada e arrasta-
dora — que tanto lhe agrada. . ., deve ser elevado a um va­
lor de “ação continua e de generosidade perseverante”.
— Destarte, tôda a sua fôrça ativa e emotiva não ficará dis­
persa, senão que, mediante o desenvolvimento de um bom grau
de secundariedade, ir-se-á canalizando e valorizando pela con­
secução de um único Ideal nobre e santo.

' Para a formação espiritual cf. “passim": J a c q m i n , Essai de


caractérotogie religieuse, Roma 1954 (poligrafado); N o y e l l e , Caracté-
rotogie religieuse (poligrafado); S i m o n e a u x , La direction spirituelle
suivant le caractère, Paris, Aubier, 1958; G r i é g e r , Caractère et Vo-
catiôn, Mônaco, Ed. “Journée de Ia Vocation”, 1958; C a r n o i s , tl
dramma detrinferiorità, Torino, S. E. I . , 1960.

66
II. NO PLANO SOBRENATURAL
A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR A VIDA
LÓGICAS EM FACE DO SO- SOBRENATURAL1
BRENATURAL
EM GERAL
Posifivas: Formação:
— A atividade é, de certo, uma — Há que apresentar ao E-A-P
disposição natural que favorece o a vida sobrenatural sob seu as­
desenvolvimento de tudo o que se pecto real: como santificação pes­
refere à vida sobrenatural. Porém soal em vista do apostolado. Isto
a grande disposição-fôrça do E-A-P exige, de uma parte, um hábito
para o sobrenatural é o “coração”, íntimo de reflexão profunda, e, de
isto é, o amor; por amor fará tu­ outra, vontade constante de alcan­
do; ama as obras de misericórdia çar os ideais e valores espirituais
espiritual e corporal, o apostola- considerados e apreciados na me­
do social e missionário. ditação íntima. Tudo pode susci­
— Tudo o que, à primeira vista, tar-lhe o verdadeiro gôsto do so­
se revela “comovedor”, ou que sim­ brenatural. “Os altos valores do
plesmente tenha caráter de compro­ espírito e do coração, as profun­
misso, atrai o E-A-P, que põe em das exigências do humano, e, com
seguida sua generosa contribuição. maioria de razão, a vida de Deus
participada pelo homem, exigem —
Negativas: para que se conheçam, apreciem e
— No 'E-A-P a ação carece de atuem sèriamente — uma sensibi­
raízes profundas, não tem visão do lidade, uma tendência pelo que é
futuro e ressente-se de falta de estável e definitivo.1 Tudo isto não
tensão prolongada por causa de corresponde às exigências caracte-
sua primariedade. Êle se compro­ rológicas do E-A-P, por causa de
mete sem refletir suficientemente sua *primariedade; por isto mesmo,
sôbre a categoria de valores que é preciso acostumá-lo a desenvol­
o determinam; assim, p. ex., em ver em si uma secundariedade pes­
obras que são talvez mais impor­ soal e volitiva, que seja fruto de
tantes para a glória de Deus in­ sua reflexão e constância. Há que
teressa-se pouco, fazendo-as pas­ lhe imprimir uma linha de condu­
sar a segundo plano, ou até mesmo ta que, para assim dizer, o obri­
abandonando-as. Por isto, corre gue a refletir e a se comprometer
perigo de tomar decisões priva­ com vontade decidida.
das de eficiência, e de não cons­
truir sôbre bases firmes. A prima­
riedade leva-o a preferir os as­
pectos superficiais, e portanto aces­
sórios, em ordem ao sobrenatural.
A atividade impele-o a perseguir
fins fàcilmente acessíveis, e apar­
ta-o dos que requerem constância
e paciência. Por isto, ama pouco a
oração, a meditação, a renúncia, a
abnegação; prefere, ao contrário,

* J a c q m i n, op. cit., p. 65,

5*
67
a atividade apostólica. Inclina-se a
apresentar a vida sobrenatural em
forma pouco exigente, e até qui­
sera acomodá-la e conciliá-la com
a vida do “mundo” . . .
— Em suas relações com Deus
pode sentir-se tentado a usar
maneiras demasiado familiares e
um amor pouco reverente e ir-
respeitoso.

EM PARTICULAR

Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— Sendo homem de ação, quer uma — Dado que o E-A-P é, por na­
direção espiritual que o forme na tureza, confiante e bem disposto
atividade sobrenatural. para com quem quer ajudá-lo com
— Gosta de falar com sincerida­ conselhos e orientações, segue com
de: sente-se à vontade depois de compreensão estas diretrizes. Não
haver exposto todos os seus pro­ se fixa muito no "modo” como
blemas. o diretor o guia, senão no que
— Geralmente é dócil e não cri­ lhe propõe para dirigi-lo.
tica o diretor. —• Convém acostumá-lo, antes de
tudo, a descobrir as raízes de suas
Negativas: faltas e a se estudar a si mesmo.
— Em geral é pouco favorável á Por isto, habituá-lo à reflexão
direção espiritual, por não a achar sôbre a obra que vai realizar, so­
útil para si: não lhe vê suficien­ bre os insucessos e sôbre o "por­
temente a importância. E’ contrá­ quê” dos êxitos obtidos.' Animá-
rio a tôda submissão formalista e lo à constância, fazê-lo notar o
às visitas periódicas ao seu diretor. porquê da interrupção de seu tra­
— Não experimenta a necessidade balho numa obra importante.
de pedir conselhos, porque geral­ — Acostumá-lo sobretudo ao si­
mente decide por si mesmo. lêncio e ao recolhimento interior.

Piedade
Positivas: Formação:
— Por ser E, inclina-se a amar — Apresentár-lhe:
a Deus, a Jesus Cristo e à Virgem. DEUS que o chama a seu ser­
—■ Prefere, porém, a oração pú­ viço. Para realizar isto, necessita
blica: litúrgica, com canto, medi­ formar em si uma alma divina.
tação feita em comum ou ao ar JESUS CRISTO, com quem de­
livre. Agrada-lhe a salmodia do ve estabelecer um contacto dire­
Breviário. to, próprio de um colaborador efi­
— Numa palavra, gosta da oração caz na expansão de seu Reino.
direta, sentida, porém breve Deve desenvolver em seu coração

68
Negativas: uma amizade íntima com Êle, es-
— Não dá suficiente importância especialmente na Eucaristia. Deve
à oração, tanto no tocante à sua pôr Jesus Cristo no centro de sua
duração, como quanto à pontua­ atividade, sem olvidar nunca o
lidade, porque para êle a ativida­ “Sine me nihil potestis facere”.
de tem mais valor e importância NOSSA SENHORA como mode­
que a oração. Não sente a ne­ lo de vida interior.
cessidade de se deter um pouco — Trabalho fundamental: habituá-
para refletir e meditar, justamen­ lo à meditação, auxiliá-lo nesta
te para possuir mais acêrto e um tarefa, para a qual sente tanta di­
objetivo mais elevado em seu tra­ ficuldade, e ajudá-lo especialmente
balho. na luta contra as distrações. Ani­
— Sofre muitas distrações por cau­ má-lo de modo particular à medi­
sa dos trabalhos que deve fazer. tação sôbre o Evangelho, antes que
Quando se entrega à meditação, fá- sôbre outros assuntos. Dado não
lo como se pregasse aos ou tro s... ser êle propenso à oração silencio­
— Como já foi dito, em suas re­ sa, convém iniciá-lo no colóquio
lações com Deus emprega às vê- com Deus, e especialmente com Je­
zes umas expressões que manifes­ sus Cristo; ensiná-lo a que Lhe fale
tam sua exuberante vitalidade (sob sôbre suas obras, sua atividade,
o influxo de forte Emotividade). suas preocupações, de modo que
sua oração seja nitidamente pes­
soal. Com isto conseguiremos, da
maneira mais eficaz, sua união com
Deus. Assim aprenderá a confor­
mar sua própria vontade com a
vontade de Deus: desenvolver-se-á
nêle um sentido de verdadeira “dis­
ponibilidade".

Ascética
Positivas: Formação:
— Sua generosidade natural tor­ — Já que é generoso, apresentar-
na-o capaz de atos de abnegação lhe a mortificação não em si mes­
e de caridade, sobretudo, como já ma ou como fim de si mesma,
se viu, nas obras de misericórdia. senão como uma purificação re­
— Está sempre disposto e pronto querida pelo amor de Deus, que
para qualquer trabalho, ainda quan­ quer transfundir em nós sua vida
do lhe exija sacrifícios. divina. Por isto, há que lhe fazer
praticar tanto a mortificação cor­
Negativas: poral, que tão necessária lhe é
— A humildade lhe custa: princi­ para vencer as inclinações sexuais,
palmente por ser muito inclinado como a mortificação interior: hu­
a falar de tudo o que faz. A me­ mildade, pureza de intenção, abne­
nor contrariedade fá-lo sofrer mui­ gação, que lhe são tanto ou mais
tíssimo. necessárias para o êxito de seu
— E’ bastante voluntarioso e in­ labor apostólico e para suas rela­
clinado a atribuir p êxito de suas ções sociais. Ajudá-lo a sobrenatu-
emprêsas à sua poderosa atividade ralizar, até convertê-las em ver­
e às suas qualidades. dadeira caridade, sua cordialidade
e generosidade: assim sua ativi-

69
dade chegará a ser verdadeiramen­
te sobrenatural.

Vida religiosa
Positivas: Formação
— Quando o E-A-P tomou cons­ — Apresentar-lhe a vida religiosa
ciência dos perigos a que o ex­ como o meio melhor para apro­
põe seu caráter, escolhe a vida re­ fundar na vida interior, alma de
ligiosa como o freio mais eficaz todo apostolado, como a única e
para sua exuberância: nela acha­ mais eficaz garantia de uma vida
rá uma revalorização de suas qua­ realmente apostólica. A vida re­
lidades e um caminho luminoso ligiosa tem como escopo fundamen­
para sobrenaturalizá-las e, assim, tal uni-lo cada vez mais estreita­
viver uma vida profundamente es­ mente a Deus, que é a fonte da
piritual, da qual sente peremptória verdadeira fecundidade espiritual no
necessidade. apostolado. Dai ser a vida reli­
giosa a melhor preparação para
Negativas: o sacerdócio. Mais que se preo­
— Poderia ocorrer que escolhesse cupar com os meios de apostola­
um Instituto de vida ativa, justa­ do, deve o E-A-P habituar-se a vi­
mente para dar livre curso ao seu ver plenamente sua consagração a
dinamismo. Na vida religiosa, aten­ Deus como religioso e como sa­
de mais ao aspecto puramente apos­ cerdote.
tólico que ao ascético e forma-
tivo de vida interior.
— Além disto, na própria escolha
do Instituto religioso, dá prefe­
rência àquele cujas atividades apos­
tólicas pareçam mais eficazes, ou
ofereçam formas novas mais bri­
lhantes e apreciadas.
— Tem pouca inclinação para a
regularidade: propende para dimi­
nuir as práticas marcadas pela Re­
gra, e tem tendência para conver­
ter a vida religiosa na do clero
secular.
— A casa religiosa, mais que lu­
gar de repouso interior, de paz
espiritual ou de trabalho inte­
lectual, converte-se para êle ape­
nas numa espécie de albergue ou
abrigo: sai e entra segundo seu
próprio arbítrio.
Pobreza
Positivas: Formação:
— Como é generoso, não tem difi­ — Há que educá-lo, como se dis­
culdade em renunciar aos próprios se para o E-nA-P, com o fim de
bens. Fácil lhe é dar esmolas. se adaptar com gôsto a todos os
— Experimenta viva necessidade inconvenientes de que é portado-

70
de trabalhar para ajudar a comu­ ra a vida comum, evitando as pre­
nidade, para obsequiar os outros. tensões de comodidades que não
são próprias de religiosos. Que seja
Negativas: fiel em pedir as devidas permis­
— Gosta da vida fácil: comer bem, sões para qualquer despesa: deve
e às vêzes tende a beber, fumar, registrar minuciosamente o dinhei­
viajar; é propenso a gastar como ro que gasta; não deve fàcilmente
os leigos. Quer fazer bela figura presumir as licenças.
na própria apresentação. Nota-se- — Que evite os convites para ban­
Ihe o instinto de vaidade. quetes e festas, e não se deixe
— E’ propenso a perder tempo tam­ arrastar pela gula. Deve contentar-
bém com excessiva correspondên­ se com a comida da comunidade.
cia e em fazér e receber visitas. — Não assuma a direção ou a admi­
nistração de obras estranhas à co­
munidade.

Castidade
Positivas: Formação:
— Faz de bom grado a entrega — Já que está exposto a sérios
de si a Deus. perigos morais, deve acostumar-se
— Não encontra dificuldade em a uma vigilância enérgica, mormen­
elevar a uma verdadeira caridade te sôbre o coração, e a ter idéias
fraterna a sua inata inclinação para bem claras em matéria de casti­
amar; afasta-se fàcilmente dos dade.
perigos. — Por isto, deve ter uma gran­
— Curva-se fàcilmente, com cora­ de abertura de consciência com o
ção compassivo, sôbre a^ miséria Diretor Espiritual e também com
alheia, e não se contenta*só com o Superior, a fim de que êste não
palavras de consôlo e de alívio. o exponha, sem querer, a perigos
e situações difíceis.
Negativas: — Deve vigiar atentamente para
— Tem um vigor vital e exube­ não se sobrecarregar de trabalho:
rante, que às vêzes repercute la- num momento de cansaço físico ou
mentàvelmente na vida sexual. Pou­ de depressão moral podería cai r. . .
co a pouco vai subestimando os O E-A-P está mais exposto a estas
perigos da afetividade. Por se tra­ situações que qualquer dos outros
tar de um caráter primário, lança- caracteres.
se com ardor no amor, se bem — São-lhe sumamente necessárias a
que êste não seja mui duradouro. mortificação dos sentidos, a pru­
— E’ menos delicado que o E-nA-P: dência e uma sólida e profunda
daí correr maior perigo de sofrer piedade.
alguma queda grave; é, mais pro­
priamente, gozador ou “bon vivant”.
— Em geral, um E-A-P, mesmo
dos mais equilibrados, não é indi­
ferente ao atrativo do feminino; êle,
por sua parte, fàcilmente se tor­
na simpático e atraente às mulhe­
res. Efetivamente, muitas vêzes, in­
clusive no apostolado, apoiasse na
colaboração feminina.

71
Obediência
Positivas: Formação:
— Em geral não é um rebelde: — Para formá-lo devidamente, im­
não se colocará contra as ordens porta fazer-lhe compreender que a
dos superiores, porque não gosta obediência será o seu grande tro­
das discussões; talvez se esforce peço. Portanto, persuadi-lo de que
por contornar as dificuldades ou a vida regular sob a obediência
por conduzir, pouco a pouco, os torna mais eficaz o trabalho, por­
superiores a "que vejam'' as coisas que, disciplinando-o, valoriza-o.
como as vê êle. — E' preciso dar-lhe uma ocupa­
ção que lhe atraia a atividade —
Negativas: especialmente no período de sua
— E' muito independente em tudo formação religiosa — e vigiá-lo dis­
o que faz, e não aceita com pra­ cretamente, de modo que se habi­
zer que outros se intrometam ou tue a desenvolver o espirito de
lhe dêem conselhos. Se os julga iniciativa regulado pela obediência.
inoportunos — especialmente se é — Nos primeiros anos de minis­
muito primário — é capaz de "se tério necessita de grande compreen­
rebelar" no momento, porém não são por parte do superior, como
se obstina em sua posição. também de uma direção firme e
— Não é muito observante da suave ao mesmo tempo. Se se con­
regra. seguir formá-lo desta maneira, ter-
se-á resolvido o problema (tão di­
fícil para o E-A-P) da atividade
apostólica coordenada com a obe­
diência religiosa.
- Se não se agir oportunamente
no princípio, mais adiante será inú­
til tentar corrigi-lo e levá-lo pelo
caminho da obediência.

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— Gosta da vida de comunidade — ................ A alegria natural que e
e sabe criar nela um ambiente de menta em viver em companhia deve
família: nos recreios e conversa­ transformar-se numa verdadeira ca­
ções é loquaz, interessante, vivo e ridade sobrenatural: entrega de si
comunicativo. mesmo ao serviço da comunidade
— Tem, espirito de camaradagem: por amor a Jesus Cristo.
ajuda com gôsto os outros, cola­ — Habituá-lo a colaborar no bom
bora sempre que pode, e até se andamento da comunidade. Pontuali­
adianta e prevê os desejos e as dade no horário, observância do
necessidades dos companheiros. E' silêncio, compreensão das normais
caridoso com os enfermos. exigências dos confrades e dispo­
sição para os ajudar apenas ne­
Negativas: cessitem: fazer-se todo de todos
— Não é muito observante, contu­ para os ganhar todos em Jesus
do, da vida comum e da Regra: Cristo.
sobretudo do silêncio. A monoto­ — Para isto conseguir, tem, natu­
nia do regulamento torna-se-Ihe di- ralmente, que se fazer violência: o

72
fícil, e daí por que às vêzes não que o ajudará a ser cada vez mais
a tolere, procurando evasões: acei­ santo.
ta fàcilmente trabalhos de aposto-
lado (e mesmo também outros con­
vites, p. ex. para jantar. . . )- Como
já se indicou, a casa religiosa é
para êle úma espécie de “pensão”
diurna, onde permanece só algumas
poucas horas que são o intervalo
entre um trabalho apostólico e
ou tro.. .
Apostolado
Posifivas: Formação:
— E’ seu campo de ação! Nêle — De tudo o que foi dito é fácil
sua vocação encontra o próprio am­ compreender não ser necessário
biente, e é onde êle realiza o ideal insistir junto a êle em favor da
de tôda a sua vida. Êste trabalho generosidade e do amor das al­
lhe carria muitas satisfações. A mas. Em vez disto, é preciso ha­
generosidade é o ponto de apoio bituá-lo a refletir sèriamente e a
de todo o seu apostolado. se convencer de que, para reali­
zar um verdadeiro apostolado, não
Negativas: basta uma vitalidade exuberante,
— No apostolado revela-se especial­ senão que o principal é uma ín­
mente o verdadeiro defeito do tima e profunda união da alma
E-A-P: agir por agir. Falta-lhe a com Deus. Todos os santos, os
secundariedade, que é a grande grandes apóstolos, os missionários
qualidade para poder realizar fiel­ e os diretores de obras sociais nos
mente seu trabalho, até alcançar o ensinam e nos exemplificam o que
escopo de seu apostolado. significa “sacerdos alter Christus”.
— Deixa-se submergir pelo ativis- Este deve ser o “leit-motiv” de tô­
mo. Não prevê as situações. da a sua formação sobrenatural
— Nem sempre prepara como se com vistas ao trabalho em favor
deve as prédicas, as conferências, das almas: unificar a vida interior,
as aulas, pelo que, freqtientemente, que logo deverá cristalizar em fru­
vê-se obrigado a improvisar. 5 tos de apostolado.
— Como já se disse, pode o apos­
tolado converter-se num meio para
se evadir da vida comum.

CONCLUSÃO
O E-A-P é um dos caracteres mais bem dotados: sua fôr-
ça promana sobretudo da Atividade. Quando esta está bem com­
binada com a emotividade e regulada por uma certa secunda­
riedade, adquirida com esfôrço pessoal, êste tipo de caráter
’ O Cardeal Saliège, referindo-se aos sacerdotes que descuidam a
prepar.ação em seus sermões, costumava dizer: "Dêem-me um Vice-
Pároco que saiba ler, que ainda saiba l e r ! . . . ”

73
poderá atingir um alto grau de perfeição humana e sobre­
natural.
Seu dinamismo e sua riqueza caracterológica deverão, por
isso, interiorizar-se cada vez mais por uma ascética profunda
e unificadora, de modo que a atividade seja o desdobramento
natural de sua piedade. Êle necessita mais que ninguém de uma
espiritualidade Cristocêntrica: amor a Jesus Cristo e espírito de
colaboração para estudar seu reino. Só assim conseguirá ser
um verdadeiro e santo apóstolo que arraste empós de si, para
o alto, muitas outras almas.
O E-A-P tem dado grandes santos à Igreja.
Exemplos: S. Pedro apóstolo, Santo Inácio de Loiola. O
Padre Marcozzi 4 mostra que o jovem e intrépido capitão, a
partir do momento em que abriu sua alma à ação interior da
graça, conseguiu domar de tal forma seu caráter, que nos últi­
mos anos de sua vida muitos o tinham por um fleumático.

4 Cf. M a r c o z z i , op. cil., pp. 67-75.

74
CAPITULO X

E-A-S: APAIXONADO'

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS ’

I» Descrição do caráter-tipo
a) O E-A-S é o caráter mais bem dotado, porque tem os
três elementos fundamentais em forma positiva. “E’ um caráter
de alta tensão” ( G r i é g e r ) .
— Por ser A: experimenta vivamente a necessidade de tradu­
zir em obras e realizar o ideal que tem em mente. Está sempre
orientado para a ação, que deseja resulte o mais perfeita pos­
sível, e, geralmente, consegue levá-la a feliz têrmo. Assim, por
exemplo, no campo científico quer ser um sábio; no campo
técnico, um industrial de primeira ofdem; no campo espiri­
tual, um grande apóstolo.
— Por ser E: sente profundamente o ideal e concebe-o sem­
pre sob um aspecto profundamente humano: está suficiente­
mente capacitado para organizar sua atividade, amalgamando
sua riqueza interior e as aspirações dos outros, num clima de
colaboração e simpatia. Possui um profundo sentimento religioso.
— Por ser S: tem as qualidades positivas que aconipanham a
Secundariedade:
— o apêgo ao passado proporciona-lhe uma benéfica expe­
riência, e a preocupação pelo futuro abre-lhe amplos hori­
zontes e lhe confere uma apreciável elevação de vistas;

' ' Diz-se “apaixonado”, e não “passional”, porque o E-A-S não se


deixa dominar por uma paixão, mas, ao contrário, substitui as pai­
xões por uma acentuada aplicação, que se converte em “paixãp” e é a
alma de sua vida ( G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 41 e 140).
! Cf. L e S e n n e, op. cit., pp. 349 ss; L e G a 11, op. cit., pp. 182 ss;
G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 37 ss; C a r n o i s, op. cit., p. 56.

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— a ihclinação para a ordem e a fôrça de inibição dão ri­
queza e poder à sua ação.
Pode-se asseverar que, para o E-A-S, a verdadeira fôrça
provém justamente da secundariedade. Possui uma atividade con­
tínua, decidida, realizadora. E’ dotado de uma compreensão in­
teligente para qualquer tipo de problemas, e é compassivo para
com a debilidade, pena ou dificuldade alheias. Em geral é edu­
cado, simples em suas maneiras, quase indiferente aos praze­
res dos sentidos.
Com freqüência ocorre nêle um conflito interior entre opos­
tas tendências inatas.
b) O E-A-S “larga": não é inflexível cm sua maneira de
pensar e de agir, preocupa-o pouco seu “eu”, e gosta da vida
simples. Dá preferência à existência, em detrimento de tudo o
que se refere às determinações do “eu” (L e S e n n e ) .
c) O E-A-S “estreito": deixa-se guiar pela regra e pela
razão, que considera como norrnas supremas de seu agir. Daí
que observa a ordem de uma maneira meticulosa, controla tudo,
quer classificações bem determinadas, etc. Pode converter-se num
homem severo, duro, obstinado, até mesmo importuno, no exer­
cício de sua autoridade. 1
d) A inteligência ' : em geral é boa, com lógica matemá­
tica. Muito propensa às ciências abstratas (problemas filosó­
ficos, políticos, religiosos). Apreende rapidamente o essencial.
Com freqüência possui uma memória extraordinária. E’ muito
metódica e ordenada.
Medíocre disposição para as belas-artes.
Expressão quase sempre clara, coerente e veraz.
e) O aspecto morfológico ou somático “parece” ser o
seguinte ’ :
estatura: alta ou mediana olhos: não demasiado salientes,
compleição: mediana bem colocados, brilhantes e,
cabeça: oval (não raro com às vêzes, fascinantes
cabelos macios e ondulados) nariz: reto ou ligeiramente
rosto: geralmente chato e har­ curvo
monioso, com fronte alta e boca: pequena, com lábios fi­
larga* nos e bem desenhados
' Le G a 11, op. cit., p. 190.
* G r i é g e r , Éduc. intell., p. 71.
" G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 110.

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mãos: pequenas, pouco mus­
culosas, com dedos afilados
2? Qualidades
— Saltam à vista as muitas e boas qualidades que possui. E’
muito ativo, decidido e enérgico. Se se propõe um fim, alcan­
ça-o infalivelmente, porque é capaz de superar qualquer obstá­
culo que se lhe apresente. E’ rápido em seu modo de *fazer
as coisas. E’ organizador nato; nasceu para ser chefe.
— Não se entrega por nada aos prazeres dos sentidos, nem
tampouco é preguiçoso. Possui um profundo sentido religioso.
3’ Defeitos
— E’ independente, impulsivo e, quando fortemente emotivo e
ativo, também violento até à brutalidade. Pode chegar a ser
severo e manter-se isolado dos outros. Às vêzes intratável, sus­
cetível e sombrio.
— Orgulhoso: quer superar a todo custo os obstáculos, porém
não lhe faltam momentos em que experimenta sua impotência.
— Apresenta marcada introversão e forte tendência para viver
sob a influência do passado.
— Não gosta do trabalho em colaboração com outros, prefe­
re atuar só.
4" Resultante caracterológica '
— O E-A-S dá a impressão de “poder e de atividade bem or­
ganizada” : é esta a verdadeira fisionomia de seu caráter.
5? Valor dominante
— Para êle, que é fundamentalmente ativo e secundário, o va­
lor dominante só está na “obra que qüer realizar”.
Exemplos históricos: Dante, Beethoven, Malebranche, Mi-
guel-Ângelo, Molière, Descartes, Hegel, Comte, Pasteur.
Observação: Conforme se disse na nota P da p. 27 so­
bre o esquema geral, dentro do grupo E-A-S podemos en­
contrar indivíduos que se aproximem de outros caracteres, com
os quais têm ao menos um elemento comum:
Se diminui a secundariedade, aproxima-se do E-A-P = colérico
Se diminui a atividade, >» ii
E-nA-S rs sentimental
E-A-S . Se diminui a emotividade, » »» nE-A-S rs fteumàtico
Se diminui a emotividade e
a atividade, M »» nE-nA-S apático

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B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
1" Atitude do educador
— O E-A-S, por ser em geral muito emotivo e secundário,
possui acentuada sensibilidade e é profundo observador: nota
tudo; não há pormenor em seu educador que lhe passe inadver­
tido: tanto em sua maneira de ser como de pensar.
— Sente a necessidade de um guia que o oriente com prudên­
cia e direção firme, porém ao mesmo tempo suave. Portanto, o
educador deverá mostrar-se, já desde o primeiro encontro, com­
preensivo, e inspirar-lhe muita confiança e simpatia: mostrar-
se-lhe iniediatamente “amigo” sincero e educador competente. *
2° Processo de seu método educativo
Le G all' diz que a educação psicológica do E-A-S apre­
senta, em geral, poucos problemas ao educador, visto não ser
um caráter estritamente difícil.
— Deve o educador tomar como ponto de apoio de sua obra
educativa o próprio indivíduo E-A-S que tem diante de s i: e,
em primeiro lugar, ter dêle um conhecimento o mais exato
possível.
— Ver claramente quais são suas inclinações mais relevantes:
as egocêntricas ou as altruístas, as de ordem social ou as de
ordem intelectual, etc.; e logo estudar preventivamente de que
ambiente deverá viver rodeado para que nêle se desenvolva uma
atividade bem orientada e constante.
— Porém, antes de tudo, não deverá usar, ao se dirigir a êle,
palavras ásperas ou humilhantes, cujo único efeito é o desa­
lento e o pessimismo; nunca o menor sarcasmo, nem ironias,
que o fereni profundamente e de modo irremediável (em certç
sentido, muito mais que ao E-nA-S).
Portanto:
1. Deve preparar o E-A-S, já desde jovem, para desenvolver
sua emotividade dirigindo-a para um ideal superior.
2. Deve fundamentar as duas forças principais do E-A-S —
emotividade e atividade — na secundariedade, que constitui para
êle a verdadeira riqueza a explorar sob o ponto de vista ca-
racterológico.

* Cf. G r i é . g e r , Diagn. Caract., pp. 143 ss.


' Le G a l l , op. cit., p. 286.

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3. Deve ensiná-lo a distinguir entre o racional e o passional,
isto é, habituá-lo a agir segundo o que dita a razão, e não o
que diz o sentimento.
4. Deve preveni-lo sôbre a probabilidade de que também êle,
alguma que outra vez, tenha derrotas mui penosas, ou cansa­
ço e debilidades humilhantes.
3? Valor a conseguir
— Vimos que o valor dominante inato do E-A-S é a obra que
se dispõe a realizar. Mas isto não é suficiente para uma na­
tureza, tão rica como a sua. O verdadeiro valor não é a obra
em si mesma, senão a vitalidade potencial com que a conce­
be e a executa, a generosidade com que a leva a cabo e a
constância ao longo da mesma.
— Daí que, para o E-A-S, o valor que se deve intentar con­
seguir em sua vida seja “a capacidade de ação e a generosi­
dade”, que farão dêle um homem realmente superior.

II. NO PLANO SOBRENATURAL

A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO LHE APRESENTAR A


LÕGICAS EM FACE DO SO- VIDA SOBRENATURAL-
BRENATURAL
EM GERAL
Positivas: Formação:
— Tem aptidões que lhe permi­ — Apresentar-lhe o sobrenatural
tem aceitar um ideal elevado e sob o signo da caridade, isto é,
sobrenatural, que lhe facilita tan­ do dom de si mesmo a Deus e
to a tendência ao fim que se pro­ aos homens. Apresentar-lhe a dou­
pôs, como a fidelidade ao mesmo. trina e o sentido do Evangelho,
— Caracterològicamente falando, é ilustrando-lhos com o exemplo de
o que está mais bem disposto S. Paulo. Dêste modo o E-A-S pode
para aceitar e ser conseqiiente com desenvolver e canalizar tôdas as
os princípios que a religião im­ suas possibilidades inatas.
põe, especialmente na vida práti­ — Fazer-lhe ver a sublimidade do
ca; não uma religião vaga, me­ ideal cristão, bem como o valor
ramente teórica, baseada no senti­ de servir a Deus no mundo atual,
mento, mas em ações nobres e no que começa a conhecer ou já co­
esforço contínuo. nhece. Isto desenvolverá nêle o ver-

- Pára a formação espiritual, cf. "passim” : J a c q m i n , Essai de


caractérologie retigieuse, Roma, 1954 (poligrafado); N o y e l l e , Caracté-
fologie Religieuse (poligrafado); S i m o n e a u x , La direction spirituelle
suivant le caractère, Paris, Aubier, 1958; G r i e g e r , Caractère et Vo-
cotion, Mônaco, Ed. “Journée de Ia Vocation”, 1958; C a r n o i s , II
•dremma delVinferiorità, Torino, S. E. I . , 1960.

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— Possui um profundo sentido do dadeiro sentido da responsabilida­
ideal e experimenta a necessidade de pela própria santificação como
imperiosa de que seja nobre e ele­ fonte principal da eficácia de seu
vado, vivido plenamente. ministério e como fôrça geradora
— Não se deixa dominar, como do empenho que deve pôr no seu
já foi dito, pelos prazeres dos apostôlado.
sentidos. — Portanto, não lhe apresentar a
vida sacerdotal ou religiosa qua­
Negativas: se como uma “fuga” do mundo,
— Por sua propensão para o or­ das responsabilidades em face dos
gulho, nem sempre compreende a perigos da época moderna: isto pro-
beleza do humilde serviço de Deus. duzir-lhe-ia má impressão. Susci­
— Existe para êle um perigo: o tar-lhe, ao contrário, uma vida
de que, se vir o educador ou ou­ espiritual cheia, ao mesmo tempo,
tros superiores ou sacerdotes agi­ de sentimento e de ação, exube­
rem pouco convencidos do alcance rante, que chegue a desbordar-se
dos sacrifícios que a religião im­ sôbre as almas.
põe, fique por isso desanimado e
se afaste das práticas religiosas.

EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— Como já vimos no que se refe­ — Dado que o E-A-S sente pro­
re à formação psicológica, do mes­ fundamente a necessidade de um
mo modo, no plano sobrenatural, o giiia, deve o diretor espiritual dar-
E-A-S experimenta a necessidade de lhe logo a impressão, ainda mais
ter um guia espiritual, e muito es­ a convicção, de guiá-lo pelo ca­
pera dêle não tanto no plano psi­ minho da perfeição, que deverá
cológico (como o E-nA-P e o ser claramente orientada para os
E-nA-S) quanto no propriamente valores sobrenaturais bem conheci­
espiritual. Quer uma direção séria, dos e assimilados.
luminosa, elevada, sobrenatural. — Por isto, o Diretor não deve
desvirtuar os colóquios espiritiftis
Negativas: em meras conversações para per­
— Por seu orgulho inato é, por der o tempo amigavelmente.
inclinação, muito exigente ao emi­ — Deve valorizar ao máximo o
tir juízos sôbre seus superiores, e sentido religioso que o E-A-S car­
portanto também sôbre seu dire­ rega inato.
tor. E é até capaz de Iho mani­ — Deverá começar por formá-lo na
festar direta e claramente. docilidade.
— Preocupa-se muito com obser­ — Deve habituá-lo a examinar se
var se o diretor está convencido se preocupa mais com as ações
do que lhe diz, e se crê realmen­ que faz que com o motivo inte­
te no sobrenatural, e se pratica rior que o move a agir; que êste
tudo o que ensina. seja sempre verdadeiramente so­
brenatural.
— Deve o diretor ter idéias lar­
gas e ser decidido em exigir do

80
E-A-S o esforço espiritual que lhe
é necessário.
— Uma boa direção espiritual fa­
cilita também a formação na prá­
tica da confissão, que, em geral,
apresenta alguma dificuldade ao
E-A-S, porque o obriga a se acusar
e a se manifestar, tal como é, ao
confessor, cujo juízo e estima em
geral importa muito ao E-A-S.

Piedade
Positivas: Formação:
— Experimenta muito viva a ne­ — Apresentar-lhe:
cessidade de um contacto imedia­ DEUS não como Providência
to e íntimo com Deus. abstrata, mas como uma augus­
— Na oração, coloca-se inteira­ ta Pessoa, viva, amorosa. Dado
mente à disposição de Deus para que tem o sentido da grandeza
trabalhar por seu reino. de Deus, pô-lo em condições de
— Em geral gosta da meditação e se entregar com verdadeira cola­
se inclina à contemplação, porque, boração pessoal e constante na
como vimos, tem inato o sentido obra criadora de Deus. £ste con­
da grandeza de Deus. tacto vital com Deus facilitar-lhe-á
a prática das várias formas de ora­
N egativas: ção mental.
— Na oração preocupa-se mais com JESUS, que o chamou como co­
o objetivo que há de alcançar com laborador de sua missão redento­
sua atividade (como o E-A-P) que ra. Deve ser um encontro com um
com a "fonte” de onde deve tirar Jesus -que ama, incentiva e perdoa:
os recursos para executá-la e, so­ uma verdadeira amizade baseada
bretudo, para vivificá-la sobrenatu­ tôda ela no divino.
ralmente. A contemplação em si NOSSA SENHORA como Mãe
mesma não é o que o atrai. Vai afetuosa, compreensiva, mas sobre­
à meditação como. a um colóquio, tudo entregue, em profundíssimo es­
no qual receberá ordens de Deus, pírito de humildade, à sua missão
como de um .general que dá or­ oculta de oblação íntima pela re­
dens ao seu exército para a bata­ denção das almas.
lha (N o y e 11 e). — A meditação sôbre o “Magni-
ficat” ser-lhe-ia de muito proveito.
— Se é mais A do que E, deve
orientar sua oração para a ação,
isto é, que se converta em ora­
ção de oferecimento-compromisso
sob a forma de humilde entrega.
Se, pelo contrário, é mais E que
A, deve encaminhar-se pela gran­
de via da oração mental: não tema
o diretor lançá-lo também para a
contemplação.

Carflcterotogia — 6 81
Ascética
Positivas: Formação:
— O E-A-S, além do inato senti­ — Como já se indicou, sua for­
do religioso, possui uma clara dis­ mação ascética deve começar pela
posição para orientar suas ações luta leal e constante contra o or­
e sua própria vida para o servi­ gulho, que é o defeito-base >do
ço de Deus. E-A-S, e por lhe chamar depois
— Toma a sério os conselhos que a atenção sôbre a séria reflexão 2
se lhe dão, e sente o pêso dos gra­ acêrca da responsabilidade que as­
ves problemas religiosos. sume com suas decisões e ações.
— E’ muito generoso, e sua so­ Não atacá-lo nunca com modos ás­
briedade em relação aos prazeres peros e palavras humilhantes, mas
dos sentidos facilitam-lhe o progres­ sim com o raciocínio e a bon­
so no caminho da ascética. dade. Incentivá-lo a se conhecer a
si mesmo, com suas qualidades po­
Negativas: sitivas e suas deficiências próprias.
— O orgulho, como foi dito, é o Educá-lo em aceitar de bom gra­
defeito-base do E-A-S, que se ma­ do e por amor de Deus os con­
nifesta na falta de docilidade e na selhos, os avisos e as censuras,
excessiva confiança em si mesmo, como também os obstáculos que de­
dado que em geral se sai bem do verá encontrar.
que faz. — Acostumá-lo:
— Não compreende a necessidade a compreender e apreciar as
de sua dependência de Deus e de qualidades dos outros e a amá-los;
sua instrumentalidade nas obras de a reconhecer suas faltas de
apostolado. tacto e de delicadeza;
— Tem dificuldade em compreender a aceitar os fracassos e os in­
as humilhações de Jesus Cristo e sucessos, como também as enfer­
o escândalo da cruz, cujo sentido midades e a inação;
e valor redentor não percebe logo. a compreender que êle serve a
Obra, e não a Obra a êle.
Em suma, deve êle ser condu­
zido, aos poucos, pelo caminho da
humildade e da renúncia, que é
como se conquista o monte Cal­
vário e se chega à entrega tdlal
de si mesmo a Jesus Cristo, e à
união com Ele no sacrifício da
Cruz.

Vida religiosa
Positivas: Formação:
— Deseja a vida religiosa não por — Já que o E-A-S é naturalmente
um motivo psicológico ou sentimen­ propenso à seriedade e à fideli­
tal, senão para a realização de um dade, não é difícil formá-lo na ver­
ideal. Busca o verdadeiro valor da dadeira vida religiosa.

1 Este é o método que usou Santo Inácio com o jovem E-A-S


Francisco Xavier, quando o convidava a refletir sôbre o "quid prodest
homini?” .. .

82
vida religiosa: fidelidade a um — Porém há que prestar muita
ideal sagrado e seriedade na apli­ atenção à maneira como ajuiza os
cação dos meios para mais facil­ fatos e as pessoas, porque, como
mente alcançá-lo. é um elemento que trabalha com
— Antes de escolhê-lo, examina seriedade e coerência, atém-se à
bem a natureza do Instituto: seu lógica das “instituições”, e por isto
espírito religioso e sua maneira de é preciso ajudá-lo, com o exem­
apostolado.' plo, a viver profundamente o ideal
religioso e a alijar de sua vida
Negativas: tudo o que sabe a formalismo.
— E’ inclinado à crítica e apega­
do ao seu modo de ver pessoal;
por isso, tem muita dificuldade em
ingressar num Instituto religioso.
Daí por que, antes de se decidir,
além de examinar o próprio Insti­
tuto (seu espírito e apostolado),
fixa-se muito na sântidade do dito
Instituto pelo modo como vivem
os membros e como praticam a
Regra. E’ realmente muito exigen­
te para com os superiores, cuja
responsabilidade conhece.

Pobreza
Positivas: Formação:
— Já que o E-A-S é sério, pdr — E’ preciso pôr “uma alma” em
natureza, para o trabalho como sua tendência inata para despre*
para qualquer outro aspecto da vi­ zar as coisas terrenas. Porém o
da, despreza todo apêgo às coi­ ponto mais importante sôbre o qual
sas que julga vãs. há que formá-lo, e em cuja prá­
— Despreza também aquêles que tica consiste o voto de pobreza, é-
se apegam às coisas terrenas, que o da dependência para com os su­
preferem “aparecer” ou “ter” a periores: não se trata só de des­
"ser”. prezar os bens materiais, senão que
se devem usar com permissão e
Negativas: sob a direção da autoridade. E
— Tem uma maneira de agir que justamente nisto é que êle encon­
pode ser nociva à comunidade, por­ trará dificuldade: porque tende a
que nem sempre colabora com os ser independente ao levar a cabo
outros, nos quais propende a ver uma obra, no uso dos objetos e em
as debilidades, tanto físicas como dispor de dinheiro.
morais; tudo isto freia a marcha — Fazer-lhe compreender que não
das Obras. deve julgar com severidade as pe­
Não é bastante compreensivo em quenas fraquezas dos confrades,
face das pequenas exigências dos mas, ao contrário, vir ao encon­
confrades (cigarros, café, rádio, tro déles para dêles receber uma
esporte), e por isto despreza-os. colaboração mais eficaz, porque só
assim é que prosperarão as obras.

83
Castidade
Positivas: Formação:
— A própria seriedade já consti­ — Fazer-lhe compreender que a
tui uma valiosa ajuda desde a ju­ castidade não significa desprezo,
ventude: não busca a companhia nem a consciência da própria su­
de amigos que procuram diverti­ perioridade, mas, ao contrário, con­
mentos perigosos ou que perdem siste na continência feita de hu­
o tempo. mildade e de renúncia. A castida­
— Em geral é bastante reserva­ de é a entrega do próprio cora­
do em relação à mulher. Isto, jun­ ção, do próprio ser, sem reservas
tamente com a seriedade que põe e em humildade profunda, a Je­
em todos os seus trabalhos, é o sus Cristo. E’, pois, uma virtude
segredo do seu ascetismo. belíssima: a mais alta e delicada
prática da caridade.
Negativas: Preveni-lo de que também êle
— Grande defeito do F-A-S, em passará por momentos de crise,
relação à castidade, é uma certa em que buscará apoio fora da co­
soberba e uma excessiva seguran­ munidade: por isto, convém habi-
ça de si. fuá-lo ao controle das efusões de
Nos momentos difíceis da vida seu coração, e a haurir forças para
(insucessos, incompreensões, etc.), salvaguardar a virtude mediante o
também êle é fortemente propenso amor profundo a Jesus e a humil­
a buscar — fora de comunidade de prática da mortificação e da
— conforto num coração, quase vigilância.
sempre feminino.

Obediência
Positivas: Formação:
— Por natureza está disposto a ~ Em primeiro lugar há que for­
executar o trabalho que lhe im­ má-lo na maneira de purificar e
põe uma tarefa com tôdas as exi­ elevar as boas disposições, isto é,
gências que lhe são inerentes. em sentir a Deus em tôdas as suas
atividades.
Negativas: - Poréfn a insistência maior, fun­
- - Facilmente abriga prevenções damental, deverá dirigir-se a outro
contra os superiores de vistas mes­ aspecto da obediência enquanto é
quinhas. ordem do superior. Deve êle exer­
— E’ propenso a tomar por sua citar a obediência de modo práti­
conta decisões às vêzes radicais. co e enérgico, e precisamente quan­
— Ante certas ordens, pode so­ do receba ordens que lhe parecem
brevir-lhe a tentação de abandonar sem sentido. Portanto, deverá acos-
sua vocação. tumar-se ao sobrenatural esqueci­
mento de si e a um total aban­
dono à vontade de Deus, o qual
há de contribuir para o êxito da
obra imposta pelos superiores.
— Preveni-lo de que seu caráter
forte e inflexível ainda pode cau­
sar-lhe crises de vocação, que êle
só poderá vencer se conseguir pu-

84
rificar sua alma com a prova de
fogo, isto é, imolando-se nobremen­
te com Cristo na cruz.

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— Gosta da vida de comunidade, — Necessita habituar-se a com­
quando esta é capaz de orientar preender o quanto aproveitam ao
o esfôrço comum a serviço de espírito do religioso as horas de
Deus. espairecimento que, na realidade,
não são subtraídas ao trabalho nem
Negativas: atentam contra o tom sério da co­
— E’ propenso a observar dema­ munidade; ao contrário, servem para
siado os outros e a criticá-los. E' multiplicar a atividade e o rendi­
refratário a tudo o que significa mento dos colaboradores e para
espairecer (recreação, passeio, etc.): sensibilizar as almas, num clima ín­
considera tudo isto perda de tem­ timo de mútua compreensão.
po e falta de seriedade. — E' preciso fazê-lo praticar des­
— Encontra dificuldade na prática de o início as pequenas obras de
da caridade fraterna. caridade em uso nas casas re­
ligiosas.

Apostolado
Positivas: Formação:
— O E-A-S, como o E-A-P, tam­ — Como não percebe, "não sen­
bém apresenta extraordinárias qua­ te”, a contingência e o flutuar in­
lidades para qualquer tipo de apos­ certo em que se desenvolve tôda
tolado sacerdotal e religioso. forma de apostolado, deve acostu­
mar-se a recolher as potências da
Negativas: alma e aplicá-las à reflexão como
— Nem sempre se dá conta das principio da ação.
circunstâncias concretas: o aspecto, — Deve evitar assumir responsa­
a importância, a atualidade e opor­ bilidades individuais, por sua conta.
tunidade da ação que vai prati­ — Deve habituar-se sobretudo a
car, nem as circunstâncias de pes­ recorrer filialmente a Deus e a
soas e de lugares. abraçar-se a Cristo num sentido de
— E’ propenso a imiscuir-se de­ abandono total, para poder ven­
masiado nas pequenas coisas, e, se cer a tendência ao despotismo e
tem um pouco de autoridade, fa­ à incompreensão das fraquezas ou
cilmente se torna despótico. deficiências alheias.
— Deve prestar atenção a não abra­
çar um campo de ação superior
às suas possibilidades.
— Deve trabalhar com a convic­
ção de que é um “pobre" instru­
mento nas mãos de Deus, e de
que a obra é do Senhor, e de que
dará maior glória a Deus se tra-
ba'har com atitude interior de hu­
mildade e desprendimento.

85
— Se está à frente de urna obra,
procure respeitar e tratar bem seus
colaboradores,, e ser para com êles
mais pai que superior.
— Deve preocupar-se com o pro­
gresso da obra antes que pensar
na honra em que é tido seu nome.

CONCLUSÃO

De quanto foi dito aparece claro que o E-A-S é um ca­


ráter que — por si — não conhece meias-medidas: ou é todo
para o céu, ou é todo para a terra, isto é, se é dócil poderá
vir a ser, no plano humano, um grande homem, e, no plano
sobrenatural, um grande santo; mas, se, ao contrário, se inclina
para o mal, pode chegar a exercer influência sumarnente
deletéria.
Por isto, a formação do E-A-S, sob êste duplo ponto de
vista, requer da parte dos educadores um interesse sumo e uma
grave responsabilidade. Deve o E-A-S ser guiado com pru­
dência e delicadeza, de modo que, bem ilustrado, possa de­
cidir por sua conta e decidir bem. Há que insistir muito con­
tra os excessos da emotividade e da secundariedade. Se se
conseguir convencê-lo de que qualquer êxito em sua vida deve
nascer da fonte vivificadora da humildade e da entrega a Deus,
então terá êle achado o caminho ideal para toda uma vida de
plenitude e de nobreza em todos os sentidos, e seu apostolado'
será sumamente eficaz para o bem das almas.
O E-A-S é o caráter que mais santos tem dado à Igreja.
Exemplos:
E-A-S paranervosos: Santo Agostinho, que de uma juven­
tude pecaminosa passou a uma vida cheia de amor puríssimo
a Deus.
E-A-S moderados: S. Bernardo, Santa Teresa de Ávila,
S. Francisco Xavier, S. João Bosco.
E-A-S metódicos: Santo Tomás de Aquino, espírito pro­
fundamente sério, em nada impulsivo e sumamente fiel ao de­
ver: sua meditação é mais um processo de ordem intelectual que
de ordem afetiva.

86
SECÇAO TERCEIRA

OS NAO-EMOTIVOS ATIVOS: nE-A

NOTA INTRODUTIVA*
Entramos agora no campo dos não-Emotivos, os quais cons­
tituem uma categoria bem diversa da dos caracteres até agora
estudados.
O arrefecimento da Emotividade produz uma espécie de
separação, uma verdadeira rotura caracterológica de extrema
importância entre os Emotivos e os não-Emotivos. E’ ela mui­
to mais profunda do que a entre os Emotivos Ativos e os Emo­
tivos não-Ativos.
Trata-se de uma verdadeira e própria oposição, se consi­
derada no campo ideal e teórico, porque divide os homens em
duas categorias nitidamente opostas: na prática, porém, dado
que mui raramente existem os “caracteres puros”, resulta que
os elementos constitutivos principais, ao se fundirem uns com
os outros, tornam menos profunda, e também menos aparente,
a oposição entre um indivíduo e outro.
A distinção entre êstes dois grupos de caracteres pode
apresentar-se da seguinte forma:
Os Emotivos: Os não-Emotivos:
— Como vimos, os Emotivos, quer — Os não-Emotivos, pelo contrá­
sejam ativos ou não-ativos, vêem rio, vêem e — se se pode usar a
e sentem através da sensibilidade, expressão — “sentem” também atra­
através do coração. vés da inteligência. Possuem um
— Os emotivos ativos distinguem- tipo de inteligência em geral mui­
se por sua influência na vida so­ to clara: o intelectual domina-lhes
cial e pública, e portanto exercem a vida, êles agem segundo o que
grande influência no desenvolvimen­ pensam ou também em conformi­
to da história. dade e em consequência de seus
interêsses. Têm um forte sentido
prático.
— Os não-emotivos, ao contrário,

1 Cf. L e S e n n e, op. cit., p. 354.

87
distinguem-se justamente pelo opos­
to: desprezam, em geral, os luga­
res de primeiro plano na vida ati­
va e preferem os interesses a que
mais se inclina seu pensamento.

A impressão recíproca em suas relações pessoais em geral


é esta:
— Um emotivo, ao se encontrar — Um nE, por sua parte, quando
com um nE, sente a mesma im­ se põe em contacto com um E,
pressão de quem apoia a mão quen­ experimenta dupla reação: ou de
te numa pedra de mármore e logo curiosidade, como quem quisesse
a retrai nervosamente. Isto nos dá descobrir qual é essa energia in­
uma idéia de como o E tem re­ terior que tanto vibra nêle;
pugnância pelo nE, lastima-o como ou de irritação por tôda uma exu­
a um homem “sem coração" e fo­ berância que em si mesmo não
ge dêle. sente.
E então, se é um primário:
nE-A-P, zomba do E, ou lhe tem
certa inveja, porque sente que não
possui o calor que tem o outro;
se é um secundário (nE-A-S) con­
dena, sem mais, tanto entusiasmo,
e só o louva quando observa que
há objetividade...

N. B. — A inteligência dos nE, podemos dizer, é que se


especifica pela ressonância das impressões; com efeito:
— Um sanguíneo (nE-A-P) possui uma inteligência de rea­
ção rápida e imediata (mas não impulsiva, por falta de emo­
tividade), e, por conseguinte, seu pensamento vive sempre do
momento presente; por isto c êle mais apto para os estudos po­
sitivos e experimentais.
— Um fleumático (nE-A-S), pelo contrário, tem uma inte­
ligência que retrocede e se fecha ern sua reflexão, para ver as
coisas ordenada e sistematicamente; por isto inclina-se mais aos
estudos teóricos.

88
CAPITULO XI

nE-A-P: SANGÜÍNEO
(extrovertido frio)

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS'

1? Descrição do caráter-tipo
a) O sangüíneo — como a sigla nE-A-P indica — é um
não-Emotivo-Ativo Primário.
— Por ser nE, não apresenta a tendência característica dos emo­
tivos para se encerrarem em si: seu ser mais íntimo está mu­
do: êle não experimenta em si nenhum eco interior, nenhum
impulso, e, assim, para encher êste vazio profundo, volta-se na­
turalmente para o exterior, como buscando uma compensação
que supra a falta de intimidade. E’, por isto, o caráter mais
extrovertido. Embora se envolva nas coisas do mundo, permanece
contudo repousado e tranqüilo, como um espectador.
Sua sigla nE-A-P é justamente antitética da que tem o
sentimental, que é o mais introvertido de todos os caracteres:
E-nA-S, nE-A-P.
— Por ser A: não tendo nenhum apêlo interior, acha desafo­
go, para a sua natural inclinação a agir, em se deixar absorver
pelos acontecimentos, quase como se mendigasse aos homens que
lhe permitam exercer sua atividade. Explica-se assim sua admi­
rável adaptação às circunstâncias, ao concreto, desejoso sem­
pre de conhecer (isto lhe proporciona um apurado sentido dos
acontecimentos), de entrar em contacto com as situações reais
e com tudo o que é vivo: uma de suas características é justa­
mente esta: o amor à vida.

' Cf. L e S e n n e , op. cit., pp. 416 ss; L e G a 11, op. cit., p. 335;
G r i é g e r, Diagn. Caract., pp. 52 ss.

89
— Por ser P: vive do momento atual, quase se torna escravo
dêle ou nêle se perde; mas c de notar que o vive não sob a
influência da Emotividade, como o E-nA-P ou o E-A-P, mas,
pelo contrário, vive-o intelectualizando sua primariedade, de mo­
do que “pensa” mais do que “sente” o movimento de quanto
lhe é exterior e o deixa no estado de simples objeto; por esta
razão é êle chamado extrovertido frio. Tudo isto êle o faz,
afirma Le Senne \ “com um sorriso fino e ligeiranienfe irôni­
co num canto da bôca”.
Como se vè, o nE-A-P tem as três características funda­
mentais “centrífugas” ( S i m o n e a u x ) . Portanto, o sangiiíneo
é um caráter que em geral agrada, porque está dotado de uma
inteligência clara e tem um 'espírito prático, mais reflexivo que
impulsivo. E’ conciliador, trabalhador, educado e versátil. Mas,
justamente por seu espírito prático, é propenso a se tornar
especulador, e, como c frio, em geral perde ou não tem sentido
religioso, antes pode vir a ser um difusor de irreligiosidade.
Por ser primário, pode facilmente deixar-se levar aos praze­
res sensuais.
b) O nE-A-P “largo": é mais plástico e flexível que o
nE-A-P “estreito”, e mais reflexivo. Deixa-se orientar; as de­
cisões, toma-as com inteligência e senso prático, e está dispos­
to a usar dos meios que lhe são propostos para dar unidade à
sua vida e à sua ação. E' aberto a certo sentimento de sim­
patia pelos outros: a "largueza, com efeito, supre em parte a
emotividade. E’ menos vaidoso do que o estreito, mas possui
uma atividade menos ordenada. ’
c ) 0 nE-A-P "estreito": busca e segue imediatamente seus
interêsses, que sente vivos e poderosos, mas não é constante.
E’ menos reflexivo do que o “largo”. Possui um egoísmo frio
e calculador, com notas "de dureza em face da desgraça alheia.
’ O sorriso, diz Le Senne (p. 425), manifesta bem a essência dos
vários caracteres:
E-nA-P = tem um sorriso que é quase riso;
E-A-P = seu sorriso torna-se riso sonoro;
nE-A-P = sorriso (como se disse) ligeiramente irônico;
nE-nA-P = sorriso sem esplendor e desajeitado;
E-nA-S = sorriso que se reveste de seriedade ou de melancolia e pode
tornar-se amargo; i
E-A-S = sorriso que finda na seriedade;
nE-A-S = sorriso que quase sempre desaparece na objetividade do pen­
samento;
nE-nA-S = sorriso tétrico.
" Cf. L e G a 11, op. cit., p. 248; G r i é g e r , Caract. et Voc., p. 154.

90
Carece de apêgo afetivo a qualquer coisa, ou de obstinado “élan”,
precisamente por causa do seu vazio interior. E’ positivista, cé­
tico e epicurista. E’ incapaz de sentir simpatia pelos outros.
Vaidoso, adota posturas rebuscadas que, no fundo, são mais
aceitáveis que as do nE-A-P “largo". 4
d) Inteligência: intuitiva e analítica, rápida, clara e pre­
cisa, se bem que não demasiado profunda. Não se inclina muito
pelas ciências abstratas, mas é muito propenso às técnicas (pro­
blemas positivos). Apreende o essencial. Tem aptidão para a
música e para a improvisação. Expressão objetiva, porém pou­
co coerente e veraz. *
e) O aspecto morfológico ou somático “parece” ser o
seguinte:
estatura: mais alta que a me­ olhos: grandes e salientes
diana nariz: grande e reto
compleição: meio dilatada, po­ bôca: mais propriamente gran­
rém viril, não mole de, com lábios carnudos e
cabeça: arredondada vermelhos
rosto: largo, com faces cheias, mãos: retangulares, musculosâs,
testa alta e queixo redondo, com dedos robustos e re­
quase sempre com covinha dondos
no centro
2? Qualidades
— E’ ativo, amante dos resultados rápidos, porém mais refle­
xivo que impulsivo.
■— Bom e conciliador: deseja sempre a harmonia, ávido, em
todo momento, de entrar em contacto com a realidade e a vida
exterior. Otimista. Expansivo.
— Educado, prático, amante do esporte.
3? Defeitos
— Sistemàticamente egoísta. Duro. E’ o mais ávido de dinhei­
ro; oportunista. Sem ternura nem compaixão.
— Epicurista: nêle predominam os sentidos mais que o cora­
ção; por isto os prazeres podem degenerar nas formas mais
baixas, o que não ocorre com o E-A-P nem com o E-nA-P,
que sempre têm um fundo de sentimento.
4 Cf. L e G a l l , op. cit., p. 205; Griéger, Caract. et Voc.,
pp. 152-154.
* G r i é g e r , Êduc. íntett., p. 96.

91
— Muito inclinado à curiosidade. Positivista e cético, falta-lhe
o sentido religioso; crítico e sarcástico até ao cinismo.
4’ Resultante caracterológica
— O que o distingue clararnente dos outros caracteres é o seu
destacado “senso prático e oportunista”, como também “o mun-
danismo" no verdadeiro sentido da palavra.
5? Valor dominante
— O valor que o nE-A-P instintivamente procura é o sucesso
imediato no campo social, com o fim de saciar sua avidez e
vaidade. Fixa-se mais na aparência do que na substância.
Exemplos históricos: Anatolc France, Sainte-Beuve, Voltaire,
Bacon, Montesquieu, Catarina de Médicis, Maquiavel, Mazzari-
no, Metternich, Lessing.
Observação: Conforme o que foi dito na nota 1:| da p. 27
acerca do esquema geral, para o nE-A-P podemos encontrar
indivíduos que tendem para os seguintes caracteres, com os
quais apresentam ao menos um elemento comum:
Se diminui n prlmariedade, apro\Írnn-se do nE-A-S ~ fleumótico
Se diminui a atividade, ” ” nE-nA-P — amorfo
nE-A-P Se aumenta a emotividade, ” ” E-A-P — colérico
Se aumenta a emotividade e
diminui a atividade. ” ” E-nA-P •*: nervoso

B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
1? Atitude do educador
O nE-A-P não vai em busca de um amigo que o encora­
je, como faz o E-nA-S, ou de um modelo que lhe sirva de
exemplo, como o E-nA-P, porque está contente consigo mesmo
e tem confiança em si; agrada-lhe, porém, que outro o ilumine.
Portanto, deve o educador saber por onde há de abordá-
lo, se quiser alcançar êxito: sua ação educativa há de ba­
sear-se não sôbre o sentimento ou o coração, como se faz com
os emotivos, senão sôbre a inteligência e o raciocínio.
2” Processo de seu método educativo
Ao contrário da educação do E-A-S, a formação do nE-A-P
é das mais difíceis, delicadas e complexas.
Há que lhe iniciar a educação pelo desenvolvimento da
emotividade e pela moderação da priniariedade.'
" Cf . L e G a I I, op. cit., p. 230.

92
E’ êste um trabalho que importa começar o mais depres­
sa possível, se bem que tampouco há que desanimar se hou­
ver que iniciá-lo algo tarde, já que o nE-A-P, mesmo no ple­
no desenvolvimento da juventude, pode muito bem ser reedu­
cado. Com efeito, Le Gall diz que se lhe pode iniciar a cor­
reção mesmo depois dos 25 anos ou mais. Naturalmente, será
mister muita paciência, porque se trata de um trabalho duro
e longo.
Portanto:
1. O desenvolvimento da emotividade: dado que o nE-A-P é um
extrovertido frio, separado, por causa do seu egoísmo, do mun­
do, porém sempre atraído pela realidade da vida, é preciso pôr
afeto em sua extroversão: isto é, há que criar em tôrno dêle
um ambiente vivo, afetuoso, que, através da ação dos outros,
lhe faça verificar que também existem valores altos e benéfi­
cos . no mundo da afetividade, capazes de encher a alma. Se­
ria, desde logo, contraproducente colocá-lo num ambiente dema­
siado sério ou triste.
Há que substituir a maneira fria de o pôr em contacto com
os demais, por uma intimidade carinhosa e comovedora, que
lhe permita “descobrir” a realidade e o poder da emoção. Para
isto conseguir, é oportuno servir-se daquilo a que Le Gáll cha­
ma “trampolim da educação dos nE” ', e que é a emoção in­
telectual ou quase espiritual. Baseia-se no amor à vida e sua
inata curiosidade: abre-lhe os olhos sôbre tantas dimensões que
são novas para êle, tôdas elas cheias de vida e de nobre con­
teúdo; esta emoção provocará nêle um desejo de alcançar fins
bem determinados e precisos. Não se tratará de um querer fal­
so, tornadiço, senão de uma visão que ao mesmo tempo o
atraia e o comprometa.
Se, com muito tacto, idéias claras e sincero afeto, o edu­
cador o introduzir por êste caminho e o conduzir, sobretudo
no princípio, com mão paternal, o jovem nE-A-P terá encontra­
do sua salvação e valorização.
Há que educá-lo, antes que nada, com vistas à simpatia
e ao amor.
Exemplo: Para a educação de um jovem nE-A-P será con­
veniente começar por habituá-lo a cuidar de um cachorrinho,
ao qual o jovem comece a se afeiçoar porque é “seu” e lhe
reserve um pouco de seu coração, de seu amor. Uma vez rea­
’ Cf. L e G a l l , op. cit., p. 232.

93
lizada esta primeira experiência, é conveniente elevá-la ao ní­
vel do amor aos homens.
2. Na formação há que se servir muito do raciocínio, e não
da censura. Uma advertência indireta poderá chegar a conven-
cê-lo mais facilmente. Por exemplo, falar-lhe da falta que outro
cometeu e dizer-lhe: “Se eu fôsse pai dêle ou estivesse no lu­
gar de seu educador, seria muito severo com êle, por estas e
estas razões”. O nE-A-P, que gosta da harmonia e é muito
conciliador, tirará as correspondentes conclusões, e êle mesmo
evitará o m al."
3. Não usar uma vigilância “suspeitosa”, a qual seria de todo
contraproducente no caso do nE-A-P, porque, como êle é mui­
to inteligente, fàcilmente percebe, e então, por despique ou por
vaidade, fará justamente o que não deveria fazer. Muita aten­
ção especialmente no campo da pureza: o nE-A-P, como vimos,
tem fortes inclinações para a sensualidade; desde menino será
tentado de auto-sexualidade, e, quando rapaz, de afnôres ilíci­
tos: que não se fomente isto por causa de uma suspeitosa e
pouco inteligente vigilância.
4. Em geral, para lhe desenvolver as qualidades positivas, há
que influir nêle pela inteligência, isto é, procurar que em sua
atividade predomine o móvel intelectual e o interêsse cientifi­
co, em vez do utilitarista, que só lhe desenvolve a cobiça. Como
também convém habituá-lo a agir em conseqüência com os prin­
cípios, pelo respeito às leis, às disposições, de modo que tam­
bém se vá desenvolvendo nêle um sadio temor vàs sanções.
5. Por último, para lhe valorizar a primariedade, convém ha­
bituá-lo a organizar e dirigir bem sua atividade; que se acos­
tume a submeter-se a um plano de trabalho metódico e con­
tínuo, e que seja levado a executá-lo de modo o mais perfeito
possível. Em suma, há que lhe robustecer a vontade.
3” Valor a conseguir
— Para o nE-A-P vimos que o valor dominante é o desejo
veemente de sucesso ante os demais ainda que só aparente, o
qual não é mais que uma conseqüência de seu espirito utilita­
rista. A educação deverá ajudá-lo a trocar êste valor por outro
muito mais nobre, no qual pode êle e deve fàcilmente obter maio­
res êxitos: no campo da ciência, por exemplo, pode chegar a
ser um homem operoso, culto e benemérito. ’*
* Cf. L e G a 11, op. cit., p. 230.
* G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 54 e 192.

94
II. NO PLANO SOBRENATURAL
A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO LHE APRESENTAR A
LÓGICAS VIDA SOBRENATURAL '
EM GERAL
Positivas: Formação:
— O nE-A-P sente uma certa curio­ — Antes que nada, há que lhe
sidade pelo sobrenatural: interes­ apresentar a vida sobrenatural com
sa-se intelectualmente pela reli­ máxima clareza objetiva. E’ pre­
gião, ainda quando dela zomba. ciso ter sempre presente que tam­
Trata-se de uma curiosidade que bém a formação espiritual do
busca explicações, já que, no fun­ nE-A-P deve construir-se fundan­
do, êle é um tipo plástico, que do-a, não sôbre o coração, como
deseja ser orientado e esclarecido. para os emotivos, mas sim sô­
bre a inteligência.
Negativas: — Fazer-lhe compreender que a
— Fundamentalmente está pouco religião não é o resultado de “cer­
disposto para a religião, à qual se tos sentimentos” cujo segrêdo lhe
sente estranho. Em geral mantém escapa, mas, em vez disto, a
em face dela uma atitude de crítica. adaptação pessoal a uma ordem
— Sua inteligência perde-se en­ de coisas que, embora invisível,
tre verdades que êle não sente ne­ nem por isto deixa de ser menos
cessidade de unificar porque pas­ grave; que nessa ordem invisível
sa de uma a outra segundo as não se penetra mediante “emoções”,
circunstâncias. Por outra parte, não senão por meio da inteligência que
possui nenhuma inquietude interior busca a verdade, e da vontade que
afetiva (a acalmar): até mesmo lhe submete a vida inteira.
em face da morte fica indiferen­ — Há que lhe dar a conhecer,
te, porque, como é frio e obje­ portanto, a doutrina precisa do
tivo, considera-a como um fato ne­ Evangelho: a religião é questão de
cessário. vontade ou, melhor, de Caridade,
— Com frequência, para atacar a de dom de si a Deus e aos outros,
religião, recorre à ironia, o mes­ de imitação de Jesus que deu sua
mo fazendo, no campo psicológi­ vida, até à morte de cruz, para
co, contra os emotivos. bem espiritual (bem eterno, que
Mas, por falta de emotividade, não passa como o terreno) assim
nunca chegará a ter intimidade dêle nE-A-P como dos homens, seus
consigo mesmo, porque se preo­ irmãos.
cupa unicamente com os aconte­ — Como deseja conhecer coisas
cimentos exteriores ou do mundo novas e ser esclarecido em tudo,
em que se acha à vontade. Esta convém ajudá-lo a pôr em ação
sua “forma mentis” não o dispõe sua inteligência, para que tenha
a aceitar a influência da religião.1 uma experiência pessoal sôbre esta

1 Para a formação espiritual, cf. “passim”: J a c q m i n , Essai de


caractérologie religieuse, Roma 1954 (poligrafado); N o y e l l e , Caracti-
rologie Religieuse (poligrafado); S i m o n e a u x , La direction spirituelle
suivant le caractère, Paris, Aubier, 1958; G r i é g e r , Caractère et Vo-
cation, Mônaco, Ed. "Journée de Ia Vocation”, 1958; C a r n o i s , II
dramma deWinferiorità, Torino, S. E. I . , 1960.

95
maravilhosa e confortaclora doutri­
na espiritual. Para êle, mais que
para ninguém, vale o “nihil vo-
litum quin praecognitum”.

EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— O nE-A-P acha-a útil, mas não — Em primeiro lugar o diretor es­
necessária. Em geral, se a segue, piritual tem que conquistar a con­
mostra-se objetivo, preciso e bre­ fiança do nE-A-P, para que êste
ve. Não exterioriza "sua" alma. mas lhe abra sua consciência, não com
fala dela como se se tratasse de questões monótonas e áridas, se­
outra pessoa. não lhe mostrando a utilidade (pon­
— Mais que compreensão, em seu to fraco do nE-A-P) de uma di­
Diretor busca idéias claras, concre­ reção espiritual bem conduzida,
tas. Quer ver nêle o homem que como o meio mais adequado para
tem experiência, e não o amigo que se conhecer a si mesmo e valori­
o incentive. zar ao máximo tôdas as suas boas
— Com frequência, o aspecto “ori­ qualidades. Com efeito, o nE-A-P
ginal" de certas idéias espirituais procura justamente isto, dado o
o atrai e fá-lo agir, mais do que seu inato espírito prático e uti-
a fôrça emotiva e sobrenatural litarista.
delas. — Começar, portanto:
1. por fazê-lo refletir concretamen­
Negativas: te sôbre o valor e a seriedade de
O nE-A-P, como não- tem nem nossa vida;
se propõe problemas sérios, por 2. por acostumá-lo a fundar sua
causa do seu vazio interior, consi­ atividade em Cristo, sem o qual
dera que a direção espiritual é nada somos.
uma perda de tempo que só ser­ — Dado que é sensivel ao aspecto
ve para complicar a vida, espe­ original e ao sentido, nõvo para
cialmente quando as conversações êle, das idéias espirituais, mais que
se tornam frequentes e longas. Em à fôrça emotiva destas, fazer-lhe
geral procura resolver os casos por notar todo êste valor nas gran­
sua conta; assim se crê mais in­ des verdades da fé que fundamen­
dependente, já que tem grande con­ tam a vida cristã. E, para compro­
fiança em si mesmo. metê-lo com maior exigência na
— Frente ao Diretor, adota, com prática da virtude, há que lhe im­
freqíiência, uma atitude de defesa por como penitência, na confissão,
e de guarda, como se quisesse em vez de orações, que pratique
submetê-lo a uma espécie de inspe­ um ou dois atos de caridade fra­
ção interior ou de coação es­ terna.
piritual.
Piedade
Positivas: Formação:
— O nE-A-P reza sempre que ne­ — Também no que se refere à
cessita uma proteção especial para piedade, convém que se industrie
o êxito de suas obras. em elevar ao plano sobrenatural seu
espírito utilitarista.

96
— O pouco que faz, executa-o bem — Quanto ao que são práticas de
e com fidelidade. piedade, convém começar pelo ex­
— Sente interêsse pela liturgia e terior: êle se interessa pelo culto
pelas demais manifestações exter­ litúrgico; portanto, ajudá-lo a sen­
nas de culto. tir e a viver interiormente as ati­
— De bom grado intervém nos tudes que o culto exterior impõe.
atos comuns, porém muita vez para Transformar em desejo de edifi­
se fazer notar (vaidade). cação sua natural inclinação para
se fazer notar quando intervém nas
Negativas: cerimônias: deve fazê-lo não pela
— Como • está tão desprovido de mesquinha estima dos homens, se­
emotividade (seu vazio interior), não para a edificação do Corpo
não experimenta a menor compla­ místico de Cristo. Despertar, assim,
cência na oração. nêle o sentido comunitário.
— Não é propenso à reflexão nem — Não convém impor-lhe orações
à contemplação, nem sequer da longas, senão breves, de modo que
natureza. possa rezá-las com atenção e com
— Daí vem que costume descurar certo gôsto.
a oração com verdadeira insensi­ — Apresentar-lhe:
bilidade, e não se preocupe com DEUS sob o aspecto da Provi­
sua ausência na capela, coisa que dência, que age continuamente para
não sucede ao tipo emotivo. Tal­ o bem das criaturas em geral e
vez se desculpe dizendo que a ora­ para cada uma em particular.
ção não lhe é necessária. JESUS CRISTO como operador
de milagres, sempre disposto a con­
ceder graças e benefícios a quan­
tos a Êle se dirigem. E esta mis­
são beneficente Jesus transmitiu-a
à Igreja.
NOSSA SENHORA como a Mãe
boa, amparo constante de seus fi­
lhos, medianeira de tôdas as gra­
ças e Mãe do Corpo Místico.
N. B. — Infelizmente êle qua­
se nunca chegará a ser uma alma
fervorosa.

Ascética
Positivas: Formação:
— Gosta de ter idéias bem cla­ — Necessita de uma formação as­
ras também para possuir uma vi­ cética muito intensa e ilustrada, que
da espiritual, que vê ser-lhe ne­ se centre nos seguintes pontos:
cessária. 1. Combater-lhe o egoísmo e for-
— E' propenso ao sacrifício quan­ má-lo na humildade.
do lhe proporciona resultado ime­ — O nE-A-P possui um egoísmo
diato. frio, uma verdadeira indiferença an­
te as necessidades alheias: como
Negativas: vimos, para êle não existe o sen­
— Em geral não sente nenhuma timento, senão a utilidade.
atração pela ascética. Seu egoísmo Também nisto convém seguir o

Caracterolcgia — 7 97
é frio e calculista em função método que interessa usar com êle:
utilidade que traz para seus gos­ persuadi-lo com o raciocínio, fa­
tos e inclinações, e, para se pro­ zer que "descubra" seu defeito fa­
porcionar esta satisfação, recorre zendo-lhe ver, por exemplo, que
também a uma certa diplomacia. o E-A-P e o E-A-S, ativos como
Porém seu egoísmo não se baseia êle, obtêm êxitos e progridem em
no sentimento, como sucede com suas empresas porque têm uma vi­
os emotivos. talidade interior que os impele a
— Tem pouca humildade. dar-se generosamente aos outros:
— Padece de respeito humano. que faça também êle a prova, e
— Não é sensível aos reclamos do verá que também é Ativo e que,
sofrimento, da miséria e da fra­ portanto, pode ser bem sucedido.
queza alheias. Porém antes há que fazê-lo refle­
tir sôbre as boas qualidades na­
turais que tem e sôbre a diferença
que existe entre o que poderia fa­
zer e 0 que produz.
— Acostumá-lo, aos poucos, à de­
licadeza, à lealdade, a combater
com coragem e constância seu ego­
centrismo e o desprêzo pelos
outros.
— Lembrar-lhe que a humildade é
a verdade: que reflita no que êle
significa diante de Deus.
— Há que encorajá-lo sempre,
porque também é sensível ao me­
nor elogio que se lhe faça.
2. Formá-lo na mortificação cristã.
Fazer-lhe ver que não se trata
de uma virtude meramente útil, se­
não que é necessária, para êle es­
pecialmente. A mortificação é tam­
bém um valor na vida cristã.
Começar pela mortificação exte­
rior: desprender-se dos bens ter­
renos, dominar a gula, o desejo
imoderado do conforto. Passas, de­
pois à mortificação interior, não
como desapego dos setts sentimen­
tos (que não os tem), mas como
desapego positivo das pessoas, ou
então como aceitação de ofícios
pouco agradáveis porém úteis, e
também induzi-lo à prática dos vo­
tos. Há que conseguir, enfim, que
pratique a mortificação interior
para se corrigir da tendência inata
que tem, de mofar e fazer crítica
dos outros, especialmente dos emo­
tivos.

98
A atividade vivificada pela mor­
tificação adquire valor de aposto-
lado: o que lhe interessa profun­
damente.
3. Transformar-lhe o otimismo na­
tural em desinterêsse cristão, cari-
tativo, e espiritualizar-lhe a bonda­
de nativa com a verdadeira ca­
ridade.
— Fazer-lhe compreender que, em
si mesmo, um sacrifício qualquer
nada significa para obter um efei­
to imediato no plano sobrenatural,
a não ser que se converta no dom
de si por amor de Deus e das
almas.
— Para ser bem sucedido em tudo
isto, propor-lhe o exame particular
sôbre a humildade e sôbre a ca­
ridade.

Vida religiosa
Positivas: Formação:
— Sente a necessidade de ser guia­ — Apresentar-lhe a vida religiosa
do para uma forma de vida mais como consagração a Deus, a qual
elevada, com a qual pode ser mais mantém a existência do religioso
fácil lograr o dom de si, e tam­ num clima superior mediante a
bém para se proteger contra si oração, a prática dos votos e o
mesmo, quando se deu conta de trabalho apostólico. Há que tra­
suas próprias debilidades. tá-lo utilizando-lhe o lado bom, e
desta maneira fazer-lhe compreen­
Negativas: der que ingressou em Religião
— Por natureza não sente nenhu­ para trabalhar eficazmente em sua
ma atração para a vida religiosa. santificação e para o bem das
— Seu egoísmo leva-o aos negó­ almas.
cios, nos quais sabe ser bem su­ — Não lhe apresentar a vida re­
cedido. ligiosa como um sistema cerrado
— E’ demasiado individualista, ego­ no qual estão unidos em série os
cêntrico, e sabe viver à margem exercícios de piedade e de obser­
da vida comum, dissimulando com vância regular, ou de modos de
habilidade, e mesmo justificando à agir, que para êle são um sim­
sua maneira, seu proceder indivi­ ples formalismo e conformismo.
dualista. Tudo isto provocará sua crítica e
parecer-lhe-á uma como limitação
e barreira à atividade humana.
Como reação, adquiriría hábi­
tos e maneiras secularizadas de
passiva adaptação, como numa ca­
serna.
— Jnculcar-Ihe o silêncio, a fuga
do mundo, necessários também para

7* 99
êle. Ser claro ao adverti-lo, e vi­
giar-lhe bem o modo de agir, e
não se deixar enganar pelas suas
especiosas justificações ou argu­
mentações.
Pobreza
Positivas: Formação:

— Considera-a mais como desape­ — Apresentar-lhe a pobreza não só
go dos bens terrenos do que como como desprendimento dos bens, mas
razoável uso dos objetos. também como reto uso dos mes­
— Possui boas aptidões para exer­ mos, dos quais também o religio­
cer a função de ecônomo ou admi­ so deve dispor razoavelmente, para
nistrador. as exigências de sua vida e do
próprio apostolado.
Negativas: — Fazer-lhe compreender que a
— Durante o período de formação. pobreza obriga a pedir as devidas
Por sua necessidade de iniciati­ permissões e a observar até mes­
va e de liberdade de ação, não mo as mais pequenas prescrições
é propenso a pedir as devidas per­ da Regra sôbre o particular.
missões, tanto para as pequenas — Há que vigiá-lo para que não
iniciativas como para qualquer des­ haja desordem em seu quarto.
pesa ou outra coisa necessária em — Se é ecônomo ou administrador
suas ocupações. da comunidade, que não seja de­
Com facilidade presume as per­ masiado apegado ao dinheiro, a
missões. ponto de se tornar estreito ou du­
— Após a formação, no exercício ro com os outros; e, nas suas re­
do ministério. Frequentemente se lações com os estranhos, não se
apresentam ocasiões para faltar à mostre um negociante: não esqueça
pobreza: com suma facilidade en­ nunca que é sacerdote, pelo que
contra meios ou maneiras de se a sua primeira preocupação há de
proporcionar livros, roupa, objetos ser sempre o bem das almas.
úteis ou agradáveis, sem a devida — A pobreza, enfim, deve signi­
permissão. ficar para êle desapêgo interior e
Tem, às vêzes, um trem de vida uma fonte de esperança.
que pode surpreender, e mesmo
escandalizar. Seu quarto parece, às
vêzes, um bazar. . .
— Se é ecônomo, apega-se ao car­
go até quase esquecer-se de que
é religioso e sacerdote. Comporta-
se como um comerciante.
Castidade
Positivas: Formação:
— Deixa-se levar menos pela gula — A virtude da castidade não é
que os outros caracteres primários. somente continência sexual, senão
— Quanto à sexualidade, é bas­ sobretudo dom do próprio cora­
tante moderado e não quer com­ ção e de todo o ser a Deus. Re-
prometer-se; o que o ajuda a se cordar-lhe que, na vida religiosa,
afastar dos perigos. a castidade é a prática mais bela
do amor a Deus.

100
Negativas: — Se o nE-A-P é menos tentado
— Embora não se comporte como por parte do coração, está entre­
os outros primários, tem entretan­ tanto mais exposto à sexualidade
to certa tendência para os praze­ em si mesma. Portanto, é preciso
res da boa mesa. vigiar sobretudo isto.
— Quanto à sexualidade, como não — Deve lembrar-se de que tam­
é emotivo, assume ela maneiras mui bém seu “corpo” está consagrado
vulgares, cruas e até brutais. Não a Deus por um voto pelo qual
se trata tanto de amor-paixão quan­ se tornou propriedade de Deus, e,
to de paixão-sexo. Por isto se apre­ portanto, sagrado. Não o profane
senta numa forma mais indolente nunca com um sórdido prazer! Re­
e mais leviana do que no E-nA-P corde a terrível frase de S. Pau­
ou no E-A-P, que possuem sen­ lo: "Nescitis quod corpora vestra
timento. Daí por que o nE-A-P membra sunt Christi? Tollens ergo
carece de discrição, de respeito, de membra Christi faciam membra me-
delicadeza. Aproveita qualquer oca­ retricis? Absit!” (1 Cor 6,15).
sião que se lhe apresenta para — Se cai numa impureza, é mais
alardear êste comportamento, no culpado ou menos desculpável que
qual, de resto, é também bastan­ o que cai por excesso de afeti-
te instável, por causa de sua pri- vidade.
mariedade: nêle predomina o sexo — Que não se fie demasiado em
pelo sexo. si mesmo por causa da frieza de
— E, como não é emotivo, não seu coração, nem se creia imune
compreende por que, para guar­ do pecado: vigie em espirito de
dar a castidade, é preciso insis­ humildade e com práticas de peni­
tir muito, durante o período de tência exterior e interior.
formação, em conservar a pureza
do coração.
Obediência
Positivas: Formação:
— Como não é emotivo, tampou­ — Em primeiro lugar, deve o
co tende a ver nas ordens dos nE-A-P habituar-se a agir leal­
superiores uma intromissão em sua mente e a ter a coragem de as­
vida intima. sumir uma posição claramente hu­
— Procura evitar os conflitos com milde ante a obediência concreta:
os superiores, a oposição aberta; poderá muito bem ter alguma di­
não fomenta o espírito de critica. ficuldade ou objeção, porém deve
Se recebe uma censura, não o dirá expô-la com grande respeito e
a ninguém para se queixar. submissão. Deve corrigir-se da ten­
— Sabe manter-se na obediência dência a inibir-se nas dificuldades
de maneira correta porém fria: no e descarregar nos outros o pêso
superior vê a ordem recebida ou de certas ordens que supõem sa­
o desejo expressado. crifício ou simplesmente não lhe
agradam.
Negativas: — Durante o período de forma­
— Sabe evitar, de maneira muito ção (noviciado, escolasticado, etc.)
fina e delicada os obstáculos que há que lhe inculcar o sentido da
provêm das ordens dos superiores. honradez, lealdade e sinceridade da
— Em casos extremos é capaz de obediência, não lhe tolerando o me­
neutralizar a ação da autoridade. nor desvio. Deve compreender que
o superior não é uma peça do

101
sen jogo. Faz-se mister absoluta­
mente curá-lo do racionalismo e do
instinto de independência. Porém
há que usar um método inspirado
na caridade, isto é: mais que cen-
surá-lo em público ou com suben­
tendidos, dever-se-á chamá-lo à par­
te e falar-lhe claramente de seu
mau comportamento sôbre a obe­
diência.
— Um superior sereno e com vi­
são clara das coisas é o melhor
educador para o nE-A-P com re­
lação à obediência.

Vida de comunidade
Positivas: Form ação:
— Não é um tipo ao qual desa­ — Durante o periodo de formação
grade a socialidade, nem tampou­ (especialmente durante o escolas-
co é agressivo. ficado), ajudá-lo a sair do seu in­
— Em comunidade incomoda-se dividualismo e a pôr-se a serviço
pouco ou nada com as coisas dos da comunidade. Que se habitue a
outros, não se preocupa com o colaborar, no estudo, no jôgo, com
que fazem, nem lhe importa o que os confrades; e tenha um sadio co-
dêle digam. leguismo em classe.
— Nos recreios e conversações in- —- Base psicológica do espírito co­
teressa-se mais pelo assunto trata­ munitário é a iniciação na respon­
do que por aquele que fala. sabilidade coletiva.
Negativas: — Não lhe confiar trabalhos in­
— Não se dá conta dos elementos dividuais, nem eximi-lo facilmente
eminentemente construtivos que a do regulamento e da vida comum.
cordialidade oferece à vida comu­ Durante as férias no escolastica-
nitária. do, não lhe dar ocupações soli­
— Vive entregue egoisticamente ao tárias, mas encargos que se exe­
seu trabalho, e não vê com bons cutem em colaboração com ou­
olhos seus confrades a ponto de tros: p. ex., a responsabilidade das
ficar isolado na comunidade, alheio colônias de férias, de oratórios, etc.
a suas preocupações (aborrecimen­ — Acostumá-lo a ver com benevo­
tos. inquietações, alegrias, dores lência os outros, para poder per-
dos confrades). ceber-lhes as necessidades e as pe­
— Para êle, ainda mais que para nas, e portanto ajudá-los no que
o E-A-P, a casa religiosa coíbe esteja a seu alcance. Educar-lhe o
tôdas as suas energias. sentido de compreensão e de cola­
— Seu defeito principal contra a boração social justamente com vis­
caridade fraterna é que, ao se en­ tas ao apostolado
contrar com irmãos da comunida­ — Convém ser algo severo ao lhe
de que são emotivos e simples, corrigir as faltas de caridade com
especialmente se mais moços que os emotivos ou os simples, porque
êle, facilmente zomba dêles com faz a êstes um mal imenso: cau­
grande gôsto: pode também for- sa nêles um complexo de inferio-

102
mar em tôrno de si uma ‘ igre- ridade que pode arruiná-los para
jinha" pouco edificante, sôbre a tôda a vida.
qual exerce influência.
Apostolado
Positivas: Formação:
— Para êle — ainda que não o — Como se disse para a vida de
sinta — um apostolado não se comunidade, o nE-A-P necessita
compreende se não é obra social. uma boa formação no verdadeiro
— Possui um fino conhecimento dos espírito de apostolado.
homens, ainda que fruto de uma — Para desenvolver esta formação,
observação menos interior que ex­ assim que comece as primeiras ta­
terior. refas próprias do ministério há que
— E’ um bom organizador de ocupá-lo em obras onde não so­
obras: tem espírito prático, de­ mente desenvolva uma atividade, se­
monstra calma nas dificuldades; sa­ não que a desenvolva enquanto
be esperar e, sobretudo, é objeti­ apostolado sacerdotal: confissão, di­
vo, claro, rico em iniciativa. reção espiritual, pregação de reti­
— No que se refere à direção es­ ros, etc.; tudo isto mantém-no num
piritual, sabe ver os problemas e clima de espiritualidade.
propor para êles soluções precisas; — Deve perstiadir-se de que o ver­
mas não é êste seu campo. dadeiro sentido da ação apostólica
nasce de Jesus Cristo e é uma
Negativas: manifestação do empenho por es­
— O nE^A-P sente pouco a rea­ tabelecer seu reino nas almas. Este
lidade sobrenatural, não considera trabalho de aprofundamento inte­
que é um simples instrumento nas rior há de prolongar-se por tôda
mãos de Deus e que há de criar a sua vida: “a espiritualidade da
uma disponibilidade interior que ação (por meio da ação) não é
não impeça a ação de Jesus na possível senão pela espiritualidade
santificação das almas. que precede a ação” (J a c q m i n,
— Não se sente inclinado a exer­ op. cif., p. 108).
cer a direção espiritual das almas: — Por isto, deverá recorrer sem­
cansa-se fàcilmente, em especial no pre à oração, mormente nos traba­
trato com os emotivos. lhos de apostolado.
— Nas obras que dirige, corre o — Para êle, mais do que para
risco de se preocupar mais com a os outros, é de grande eficácia a
organização externa do que com o formação na prática das orações
bem espiritual de seus membros. jaculatórias e aspirações afetivas,
Às vêzes pode abusar da boa von­ durante o trabalho.
tade dêles, fazendo-os trabalhar em — Não deve deixar-se levar pelo
excesso até o cansaço, e tudo isso mau hábito de “amontoar” todos
por uma vantagem ou ostentação os exercícios de piedade (medita­
sensível na obra que dirige. ção, missa, breviário, têrço, etc.)
numa só hora, ou pouco mais, pela
manhã, com o fim de então ficar
“livre" ... para trabalhar todo
o dia.
Devem os superiores vigiar mui­
to sôbre êste ponto e adotar me­
didas oportunas.

103
CONCLUSÃO
De tudo quanto dissemos se depreende claramente que o
nE-A-P é um caráter de que cabe esperar muito, e portanto se
pode salvá-lo, porque, ao lado de seus grandes defeitos, possui
também qualidades que podem muito bern servir de base para
uma sólida formação sobrenatural.
Se, por um lado, é certo que o nE-A-P propende a mini­
mizar seus deveres religiosos e não tem muita vida interior,
por outro lado dispõe de uma plasticidade inconium de inte­
ligência que o ajuda eficazmente a ir-se conhecendo a si mes­
mo. Há que formá-lo, portanto, com idéias claras, com energia
e ao mesmo tempo com coração paternal, de tal maneira que
veja, compreenda e ame as virtudes que lhe são necessárias.
Uma vez que se tenha formado na verdadeira humildade
e na confiança de poder corrigir-se; quando já estiver orien­
tado para o amor pessoal de Jesus e convencido da beleza, da
necessidade e da eficácia do dom total de si ao serviço dos ou­
tros, então o nE-A-P poderá vir a ser um eficaz colaborador
de Jesus Cristo na salvação das almas e um arauto ativo da
missão da Igreja.
“Ele será salvo e valorizado pelo próprio apostolado”
(N o y e 11e).
O caráter nE-A-P também tem dado grandes santos à
Igreja.
Exemplos: S. Tomás Moro. S. Bernardino de Sena, S. João
de Capistrano.

104
CAPITULO XII

nE-A-S: FLEUMATICO
( apaixonado-frio)

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS 1

Io Descrição do caráter-tipo
a) O fleumático, que sói chamar-se também “apaixonado-
frio”, manifesta seu valor dominante na firme constância com
que executa suas obras.
— Como é A: o nE-A-S possui uma rica fonte de energia, que
é como o esqueleto de sua personalidade fortemente constituída.
Aplica-se ao trabalho com método e constância: sua ativi­
dade é sempre fria, sem calor, porém profunda, vigorosa, tenaz
e sobretudo pràticamente eficaz: o nE-A-S não fica nunca no‘
reino dos sonhos ou dos projetos^, como um E-nA, nem tam­
pouco se contentará com ações inacabadas, como fàcilmente
pode suceder a um E-A-P ou ao nE-A-P.
A atividade é a fôrça principal das duas que distinguem
êste caráter.
— Como é S: a atividade do nE-A-S dá um rendimento má­
ximo, porque êle não se deixa surpreender pelo imprevisto das
circunstâncias ou pela impressão das contradições; possui idéias
claras e propõe-se sempre fins determinados e precisos, e não
descansa até havê-los alcançado: age com convicção e em si­
lêncio. De vaiiosíssima ajuda lhe é a secundariedade, que é sua
segunda fôrça característica.
— Por ser nE: possui uma calma que lhe aumenta notàvelmente
o desenvolvimento de sua energia; é mais uma ajuda que o dis­
tingue nitidamente dos outros caracteres-tipo. Suas manífesta-

1 L e S e n n e , op. cit., pp. 469 ss; Le G a 11, op. cit., pp. 250 ss;
G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 46 ss; C a r n o i s , op. cit., p. 58.

105
ções reduzem-se à mínima expressão. Sem embargo, de um
modo mais acentuado que o nE-A-P èle “sente” através de tudo
o que “vê com a inteligência”. E’ um verdadeiro intelectual,
porém muito objetivo.
Naturalmente, em suas relações sociais carece de esponta­
neidade e de desenvoltura. E’ reservado, mas não tímido como
o E-nA-S.
O nE-A-S é o homem mais simples que possa haver; ofe­
rece realmente pouca matéria de estudo ao caracterólogo, con­
forme observa Le Senne. E' calmo, parece quase indiferente aos
acontecimentos exteriores, e por isto os outros, especialmente
os emotivos, muitas vêzes o julgam insensível, sem coração, des­
denhoso, despreocupado.
Ainda que não tenha a potência exuberante do E-A-S, pos­
sui entretanto uma atividade simples, igual, metódica, porque
não perturbada pela emotividade, e bem protegida pela secunda-
riedade, que o torna um dos caracteres mais bem dotados.
Sua religião é como um imperativo categórico, mas é la­
mentável que se não reduza a mais que a um sistema abstrato,
e não a uma vida íntima.
b) O nE-A-S "largo” '-, sua inteligência aberta põe-no em
comunicação com o mundo e com os sêres, embora mais por uma
curiosidade de análise do que por sentimento. Ocupa-se com
esmêro e penetração do que lhe foi encomendado; ainda que lhe
custe, começa a compreender os outros e a se abrir à simpatia
para com alguns: se algo consegue, deve-o à largueza.
Chega até a reconhecer que existem caracteres distintos do
seu com os quais vale a pena relacionar-se e — a seu modo —
amá-los (L e G a 11).
c) O nE-A-S "estreita” ’: é sumamente metódico e meti­
culoso; seus movimentos dir-se-ia que são mecânicos: vive de
hábitos. Em geral é niuito frio em suas relações, fala pouco,
é solitário. Adversário de qualquer entusiasmo ou novidade. Ca­
rece de “élan”. Ausente, mas não hostil.
Inflexível em seus princípios de pensamento e de ação:
não muda de idéias senão depois de se haver pessoalmente con­
vencido de que a idéia nova é condizente com o seu interêsse.*•

’ Cf. L e S e n n e , op. cit., p. 518; L e O a 11, op. cit., p. 265;


G r i é g e r , Caract. et Voc.. pp. 108-110.
• Cf. L e S e n n e , op. cit., p. 518; L e G a 11, op. cit., p. 267;
Ci r i é g e r, Caract. et Voc., p. 152.

106
d) Inteligência: Possui uma inteligência lenta, porém pro­
funda e reflexiva, com lógica rigorosa. Propende, mais que ne­
nhum outro caráter, para as ciências abstratas (filosofia, ma­
temáticas, etc.). Geralmente tem boa memória. Tem poucas apti­
dões para as belas-artes.
A expressão é objetiva, coerente e veraz, mais que nenhum
outro caráter.
e) O aspecto morfologico ou somático “parece” ser o
seguinte **:
estatura: não muito klta olhos: pequenos, fundos
compleição: fina, quase con­ nariz: reto, bem talhado e largo
traída bôca: dimensões normais, com
cabeça: pequena lábios um pouco salientes
rosto: magro, imberbe, com mãos: ossudas e quase qua­
fronte alta e rugosa: expres­ dradas, com dedos nodosos
são de severidade e de pontas também qua­
dradas
2? Qualidades
— Trabalhador, constante como ninguém, realizador: sabe mui­
to bem o que quer, e não abandona nunca o que começou.'
Regular até à monotonia. * Reflexivo. Respeitador dos princí­
pios e das tradições: conservador. Muito, igual, veraz em su­
mo grau.
Tem ótimas qualidades de administrador.
E’ bastante espirituoso: possui o que os inglêses chamam,
“humour”. Sexualmente reservado ou mesmo frio: suas normas
são antes morais que religiosas.

3? Defeitos
— Tem pouco ou quase nenhum sentimento, é impassível e
muito pouco expansivo. Lento, calculista, metódico até à exaspe­
ração. Apegado às próprias idéias, pouco compreensivo e tei­
moso. A religião, para êle, é norma ética, sem vida.
Orgulhosamente frio e de um modo consciente. Às vêzes
irônico. Severo em sua maneira de governar, especialmente com
rapazes: pode chegar até à dureza e à tirania.
4 Cf. G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 112.
• S i m o n e a u x , op. cit., p. 73.
* Um exemplo clássico: durante 40 anos, todos os dias, 9òzinho,
Kant dava o mesmo passeio, exceto duas vêzes. . . Assim narra Picavet,
citado por L e S e n n e, op. cit., p. 492.

107
4? Resultante caracterológica
— Sua característica é “a objetividade e a regularidade de vida”.
Sua tendência para organizar sistemàticamente a vida e o pen­
samento conforme a experiência do passado pode conduzi-lo a
uma melhor ordenação de sua existência, mas pode também
levá-lo a um puro formalismo, que o torna cada vez mais frio,
indiferente e talvez mesmo duro para com os outros. '
5o Valor dominante
— O valor dominante, que o nE-A-S naturalmente aprecia em
sumo grau, é a “lei” e a regularidade de vida, como aplicação
do respeito aos princípios. "
Exemplos históricos: D’Alembert, Buffon, Darwin, Franklin,
Kant, Leibniz, Renan, Stuart Mill, Washington.
Observação: Consoante o que foi dito na nota 1» da p. 27
acêrca do esquema geral, no tipo nE-A-S podemos encontrar
indivíduos que tendem aos seguintes caracteres, com os quais
têm ao menos um elemento comum:
Se diminui a secundariedade, aproxim a-se do nE -A -P — sanpütneo
Se diminui a atividade, ” ” nE-nA-S — apática
nE-A-S -j Se aumenta a emotividade, ” ” E-A-S r r apaixonada
Se aumenta a emotividade e
diminui a atividade, ” ” E-nA-S — sentimental

B. EDUCAÇÃO PSICOLÓGICA
1’ Atitude do educador
— O n E -A -S , m ais d o q u e o n E -A -P , não vai em busca de um
coração que o com preenda e o am e, nem de um m o d elo que
im ita r; por êste m o tiv o , para êle não tem tanta im p o r tâ n c ia a
pessoa do educador nem seu m odo de ag ir, q u an to, em vez
d isso , as id éia s e sobretudo o “m étod o” que lh e sugere para
poder v a lo riza r a p ró p ria v id a .
P ortan to, a a ç ã o do ed u ca d o r, ta m b ém para o n E -A -S , deve
p a rtir d a in telig ên cia e d a q u e le s p rin cíp io s sobre os q u a is deve1

1 A fórmula nE-A-S é justamente a antítese da E-nA-P: com efeito,


êstes dois caracteres têm qualidades opostas: o E-nA-P prefere tra­
balhar de noite — interessa-se pelas pessoas -*■ é mais propriamente
pessimista — não gosta dos estudos especulativos, e sim da arte —
é propenso aos crimes passionais. O nE-A-S prefere o dia e a manhã
— interessa-se pelas coisas — é, ao contrário, otimista — gosta mui­
tíssimo dos estudos especulativos e não da arte. — Em nada é pro­
penso a esta.
* Cf. G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 46-51.

108
o nE-A-S apoiar e construir toda a sua existência, para va­
lorizá-la.

2? Processo de seu método educativo


— O grande fulcro sôbre que gira a educação dêste caráter é
o raciocínio. Começará, portanto, o educador sua ação forma-
tiva iluminando a inteligência do nE-A-S, com o fim de fa­
zê-lo compreender a necessidade de se abrir aos outros, e assim
despertar nêle uma certa emotividade. Antes de tudo, deve pro­
curar criar nêle aquelas disposições favoráveis que, em seu de­
vido tempo, provocarão sentimentos de compreensão e de deli­
cadeza: como se amanha e se prepara um terreno sáfaro para
que a semente depois nêle germine, cresça e finalmente frutifique.
Há que proceder de maneira que sua inteligência, posta em
contacto com outros caracteres diversos, possa observar seu
modo distinto de agir, e chegue a explicá-lo e espontâneamente
queira readaptar-se; é preciso, se possível, conseguir formar
nêle uma inteligência-sentimento.
O nE-A-S “largo” será mais fàcilmente bem sucedido neste
trabalho, porque a amplitude do campo de consciência, como
já foi dito, favorece a simpatia e leva naturalmente ao sen­
timento.
Este trabalho, pelo contrário, será muito difícil e assober-
bante para o nE-A-S “estreito” ; em todo caso, também dêle
pode conseguir-se muito se se empregarem o método e os meios
devidos.# Evidentemente, é um trabalho que requer paciência
e muito tacto por parte do educador, mas que depois dá re­
sultados positivos.
Portanto:
1. Partir da compreensão dos outros, com um procedimento per-
suasivo, e não coercitivo, que criaria no nE-A-S reações de opo­
sição frias e duras: a simpatia e o afeto não se impõem, senão
que é necessário nasçam quase espontaneamente.
2. Chamar-lhe a atenção quase continuamente, para que o
nE-A-S passe da compreensão abstrata à experiência pràtica-
mente vivida; convencê-lo de que “assim como se vive, assim
se conhecem os homens”.
3. Fazer-lhe compreender que o sacrifício da personalidade não
se faz somente por amor aos princípios (a lei, o objetivo, o

• Cf . G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 153.

109
justo), senão também por amor aos outros segundo as cir­
cunstâncias concretas de cada caso.
4. Preniuni-lo contra o defeito do automatismo, que o levaria
à excessiva meticulosidade, à dureza e ao formalismo.
5. Porém sobretudo há que acostumá-lo desde jovem à prática
das virtudes altruístas: atenção para com os outros, simpatia,
sacrifício.
Em suma, que se entregue à prática da caridade: com
ações concretas, especialmente na vida de comunidade. ”
3? Valor a conseguir
— Como vimos, o valor predominante no nE-A-S é a lei e o
respeito aos princípios, como também à objetividade. Há que
elevar, portanto, êste valor, precisamente por causa de suas
boas qualidades, a uma perfeição mais alta: a um valor de
“pensamento e ordem”, de modo que o nE-A-S, embora con­
servando seu característico modo de viver regularmente, situe-o
no Alto e despoje-o de tudo o que pode torná-lo mesquinho e
duro. E’ a única maneira de obter dêste caráter o máximo ren­
dimento.
II. NO PLANO SOBRENATURAL

A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR A VIDA


LÓGICAS SOBRENATURAL '
EM GERAL
Positivas: Formação:
— O nE-A-S sabe entrar no "pla­ — Apresentar-lhe o sobrenatural
no de Deus". Aprecia muito as não como um "sistema" de verda­
diretrizes da religião, como obe­ des reveladas, senão como adesão
diência a uma legislação, a uma da inteligência à Palavra revela­
moral. Em Deus vê uma Vontade da ou como dom do próprio co­
que busca um fim determinado, ou ração à Pessoa que revela.
a Providência que governa com Enquanto o emotivo mostra sua
sabedoria, com prescrições precisas adesão à mensagem de Jesus Cris­
e com justo equilíbrio. Possui o to e se esforça por chegar até a
sentido da realidade do além, que1 sua Pessoa, o nE-A-S detém-se no

Cf. G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 192.


1 Para a formação espiritual, cf. “passim": J a c q m i n, Essai de
caractérologie rciigieuse, Roma 1954 (poligrafado); N o y e l l e , Caracté-
rologie Religieuse (poligrafado); S i m o n e a u x , La direciion spirituelle
suivant te caractère, Paris, Aubier, 1958; G r i é g e r , Caractère et Vo-
cation, Mônaco, Ed. “Journée de Ia Vocation”, 1958; C a r n o i s, It
dramma deirinferiorità. Torino, S. E. I . , 1960.

110
não muda com as vicissitudes hu­ conteúdo objetivo da Palavra. E’
manas. preciso fazer-lhe compreender esta
— Vê a religião, do seu ponto de diferença ( J a c q m i n ) .
vista: Fazê-lo refletir, por exemplo, sô-
1. Como sistema doutrinai = ver­ bre a luminosa observação de Guar-
dades reveladas propostas à cren­ dini (em O Senhor): "A fé é a
ça dos fiéis; resposta particular que, ao sentir-
2. Como vida = cumprir a von­ se chamado, o homem dá à Pes­
tade de Deus por dever, e não por soa e à Palavra de Cristo. Ser
verdadeiro amor; crente no sentido da Sagrada Es­
3. Como sociedade: considera a or­ critura quer dizer: crer em Cristo”.
ganização da Igreja como um sis­ Assim, o nE-A-S deverá esfor­
tema bem ordenado: o que, no çar-se por sentir com o coração
seu entender, constitui a vitalida­ aquilo que ête crê com a inteli­
de da Igreja. gência e pratica friamente, levado
tão só pelo raciocínio.
Negativas: Requer-se muita paciência na
— Presta pouca atenção ao ca­ formação espiritual do nE-A-S, por­
lor da vida sobrenatural, a seus que progride mui lentamente, me­
impulsos, à intimidade com Deus, diante laboriosa e graduada refle­
à amizade com Jesus Cristo. Não xão sôbre tudo o que se lhe pro­
vê que a religião é, tôda ela, ba­ põe para crer ou praticar.
seada no amor. Nêle ela se torna Apresentar-lhe um ideal concre­
fria, árida, até reduzir-se ao puro to, claro, preciso e elevado. Fazer-
esquema de um código. lhe sentir e degustar o calor do
clima evangélico. Conduzi-lo, desta
maneira, ao contacto mesmo com
a vida concreta, tal como é entre
as pessoas, a fim de que abra seu
coração à prática da virtude sobre­
natural da caridade, mormente para
com o próximo. Fazer-lhe compreen­
der que a Moral é compromisso,
resposta de amor a uma lei de
amor dada por Deus.
EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— O nE-A-S procura a direção es­ — E’ preciso, antes de tudo, de­
piritual com o fim de obter idéias- monstrar ao nE-A-S que não só
fôrça sôbre as quais construir o se compreendeu seu modo de pen­
o edifício de sua formação espi­ sar e de agir, como também se
ritual, à maneira de um plano a quer ajudá-lo a valorizar-lhe as
seguir com seriedade e responsa­ qualidades. Não se lhe quer impor
bilidade. Está disposto a escutar coisa alguma, mas apenas abrir-lhe
a opinião e os conselhos para ser novos horizontes, dar-lhe perspecti­
iluminado, mormente quando, em vas mais amplas, para infundir ca­
casos particulares, se lhe apresen­ lor em sua vida espiritual: sobre­
ta alguma dificuldade a superar. tudo no tocante à oração, para lhe

111
Negativas: nutrir a vida interior, e ao apos-
— Não busca na direção espiri­ tolado, que lhe há de encher a vida
tual um caminho que lhe facilite exterior.
o encontro com Jesus, como a bus­ Em tudo isto faz-se mister pro­
ca um emotivo. ceder sempre com seriedade de
— Como é frio e bastante fecha­ princípios, sem descurar nem des­
do, não procura a simpatia nem prezar o recurso, alguma que ou­
a estima do diretor, mas, em vez tra vez, inclusive a uma espécie
disto, exige que se lhe dêem di­ de humour, que é condizente com
retivas bem precisas e sistemáti­ seu caráter: algum dito espirituo­
cas, às quais nem sempre se subme­ so proferido no momento oportu­
te docilmente, sendo, como é, tei­ no pode mais facilmente abrir-lhe
moso e pouco influenciável: tende a mente e o coração ( J a c q m i n ) .
a permanecer livre em sua manei­ Numa palavra, é de mister for­
ra de pensar e de agir. má-lo com idéias-fôrça à base de
— Não sente atrativo pela con­ motivos sérios e objetivos.
fissão' freqiiente, e não raro a adia. — Quanto à confissão, convém apre-
A confissão,'para êle, é uma acusa- sentar-lha não só sob o aspecto
ção-reparação para com a lei in­ de uma emenda, como também de
fringida, como que um ato de re­ reparação vivificada por uma dor
paração, mas que não chega nun­ profundamente sentida de haver
ca a ser a expressão de uma dor ofendido Nosso Senhor, que o
por haver ofendido um Coração ama; fazer-lhe ver na paixão, na
amante. agonia e na cruz o resgate do
pecado, e, em Jesus Cristo que mor­
re, sua Vítima.
— Não deixar de insistir sôbre a
pontualidade em se confessar no
dia fixado.

Piedade
Positivas: Formação:
— Tem gôsto pela meditação e — Dado que o nE-A-S é propenso
pela reflexão séria, feita com cal­ à reflexão sôbre verdades muita
ma e geralmente sem muitas dis- vez impessoais ou idéias abstratas,
traçõès. há que orientá-lo e guiá-lo com
calma e método pelo caminho da
Negativas: reflexão pessoal: isto é, que se
— Sua oração detém-se na refle­ chegue a estabelecer um contacto
xão especulativa e não chega a direto entre êle e Deus.
tomár contacto imediato e vital com — Por isto, apresentar-lhe:
a Pessoa de jêsus^ e com Deus DEUS: não só à luz de sua
presenle na própria alma. Transcendência, senão como Pes­
— Sua meditação, muito concen­ soa viva que, por amor, nos cria
trada, dirige-se mais sôbre o obje­ e nos sustenta em vida.
to' da virtude ou da verdade de JESUS CRISTO: como Deus
fé, do que sôbre a vida subjetiva Encarnado por amor, para nos re­
da virtude, isto é, sôbre como tem velar a profundidade, a largura, a
quê vivê-la. E’ uma oração “im­ sublimidade da vida íntima divi­
pessoal”, como o estudo de uma na, a fim de que êle possa conhe­
tese. de teologia ou a leitura de cer experimentalmente “superemi-

112
um tratado: trabalho mais da men­ nentem scientiae caritatem Christi”
te que do. Coração. (Ef 3,18). Conseguir que chegue a
— Psicologicamente, não dá impor­ ter uma relação pessoal com Jesus
tância à Pessoa viva de Jesus ou na Eucaristia.
de Deus. NOSSA SENHORA: não como
— Prefere o trabalho e o estudo objeto de uma devoção "sentimen­
à oração, que julga quase como tal”, mas como uma entrega do co­
uma perda de tempo. ração à própria mãe. Maria San­
tíssima é o tipo da humanidade
perfeita e ocupa um pôsto indis­
pensável na economia da Redenção.
— Que se acostume, enfim, a alar­
gar o horizonte de sua oração, para
convertê-la numa fusão de amor
com a vontade de Deus, até al­
cançar um sentido de oração co­
munitária.
Ascética
Positivas: Formação:
— O nE-A-S tem poucos defeitos — Antes de tudo, também no que
exteriores: é naturalmente discipli­ se refere à ascética, é preciso afas­
nado, calmo e honesto; não pro- tar o nE-A-S da inclinação para
pertde para o s prazeres da gula a “sistematização”: o trabalho da
e da sexualidade. própria perfeição não consiste só
—• Aprecia, no trabalho espiritual, na exatidão exterior: “para ir dor­
o método técnico da ascética, es­ mir, à noite, sôbre o travesseiro
pecialmente mediante o exame par­ da própria exatidão” ’ ; senão que
ticular. convém aplicar-se sèriamente para
conseguir algo de real no progres­
Negativas: so espiritual. Por isto, faz-se ne­
— O que, porém, mais lhe custa cessário habituá-lo não só ao mé­
é empenhar-se a fundo na ascé­ todo ascético, mas sobretudo a pôr
tica: repugna-lhe muito o ter que o coração em tudo o que faz. Le­
renunciar a seus pontos de vis­ vá-lo a compreendería profundeza
ta ou açeitar o que não havia pre­ espiritual que supõe a adesão à
visto: novos trabalhos, sacrifícios, vontade de Deus em tôdas as
enfermidades, etc. ocupações do dia.
— Possui um orgulho frio, duro, — Convém dar-lhe algum encargo
conscientemente fundado em sua'in­ parâ o pôr em contacto com os
teligência. .. Dai por que lhe re­ outros; ajudá-lo a aceitar as dis­
sulta "bastante difícil corrigir-se. tintas surprêsas da vida com fi­
Com efeito, seu orgulho, mais que lial submissão à vontade de Deus,
de oposição ou de agressão, é um a qual se manifesta não só na
orgulho de indiferença: como se os Regra, mas também nos aconteci­
outros não existissem, ou não va­ mentos tal como Êle os dispõe, ou
lesse a pena ocupar-se dêles. também nas necessidades do pró­
ximo que devemos remediar, se­
gundo nossas possibilidades. Êste

• P. C h a r l e s , Prière de toutes tes Heures, Louvain, Museum


Lessianum, I, p. 45.
Caracterologia — 8 113
método exercita-o eficazmente na
prática da caridade fraterna, que
lhe freará a inclinação que tém
para julgar ou desprezar os outros.
— Como é pouco propenso .à sen­
sualidade, a mortificação não lhe
custa grande coisa; portanto, não
convém nem é preciso que a exer­
ça de uma maneira metódica e de­
masiado à vista; bastará, em vez
disso, encorajá-lo a fazer sacrifí­
cios pelos outros, em determinadas
ocasiões ou circunstancialmente.
— E, por ultimo, há que comba-
ter-lhe o orgulho (que sabe de-
fender-se com mil razões de níti­
do frio), fazer-lhe comprovar os
limites de suas possibilidades, e que
considere todos os seus defeitos
à luz do sobrenatural.

Vida religiosa
Positivas: Formação:
— O nE-A-S ama e procura uma — Há que lhe apresentar a vida
vida sàbiamente organizada, regu­ religiosa não só como organização
lar, silenciosa, onde se possa tra­ de obras espirituais, senão, espe­
balhar sem nenhum estorvo: não cialmente, como auxílio eficaz para
gosta da vida movimentada cio mun­ desenvolver a própria vida interior,
do. Inclina^e mais para as insti­ como resposta pessoal a uma cha­
tuições dedicadas ao apostolado in­ mada de amor feit# por Deus; e,
telectual. ademais, como uma preparação efi-
— Age por convicção; é mais fiel cacíssima para o apostolado. (In­
que generoso; também é forte dian­ sistir, também com êle, sôbre o
te de certas provações; e geral­ que foi dito a respeito do nE-A-P).
mente de provada honradez. Portanto, deve consagrar-se a Deus
— Gosta dos cargos e dos traba­ e ao bem das almas: a Regra é
lhos de organização ou de admi­ para o homem, e não o homem
nistração. para a Regra, ao menos quanto à
letra: deve êle traduzi-la em sua
Negativas: vida.
— Não vê nem busca o aspecto — Há que insistir muito no va­
essencial da vida religiosa como lor sobrenatural em si mesmo con­
consagração da própria vida a siderado; êle tem capacidade su­
Deus, senão que a vê somente sob ficiente para compreendê-lo, e, uma
o ponto de vista do dever. Como vez bem convencido, pô-lo-á em
é nE-S, na' vida religiosa tende prática.
a viver à parte: é propenso, em
geral, a considerá-la mais em
abstrato do que em concreto. Pode
tornar-se pesado por causa de sua

114
excessiva regularidade, e, se tem
função diretiva, cofre perigo de
se converter em tirano e tornar
servil e dura a obediência: tende
a fazer da vida religiosa um “re­
gulamento vivido”, e não uma "vi­
da vivida”.

Pobreza
Positivas: Formação:
— O nE-A-S não sente dificulda­ — E' fácil formá-lo na pobreza ex­
de, ou oposição interior, a ela: terior; mas com êle se pode e se
não é apegado ao dinheiro, nem deve insistir sobretudo na pobre­
aos atrativos do mundo. Leva uma za interior, isto é, no desapêgo,
vida simples e aproveita muito bem na verdadeira pobreza de espíri­
o tempo. to. 1 Libertá-lo do “vicio da pro­
priedade” radicado no fundo dêle
Negativas: mesmo.
— Não dá importância ao valor
místico da pobreza, considerada à
luz da Esperança. Por excessivo
desprêzo das coisas dêste mundo,
pode déscurar a maneira de vestir
e a higiene pessoal.
— As vêzes é propenso a uma
forma Tria de avareza.
Castidade
Positivas: Formação:
— No que se reíere ao coração: — Tampouco esta formação do
não busca afetos sentimentais nem nE-A-S resulta demasiadamente di­
relações humanas. fícil. E’ mister insistir com êle:
— No que tange aos sentidos, é 1. sôbre a desconfiança de si: que
indiferente à mulher e não sente não se creia nunca demasiado se­
viva a inclinação sexual. guro, pois o orgulho é mau con­
selheiro e fàcilmente pode trai-lo.
Negativas: O orgulho intelectual termina fre-
— Como mentalidade: despreza o qüentemente caindo no orgulho da
perigo do instinto sexual e lhe dá carne. ..
pouca importância; pode expor-se 2. sôbre a resistência às tentações,
a certos desvios por surprêsa. . . fundada na consagração que de
— Não dá grande valor (porque todo o seu ser fêz a Deus; por
não o sente) à virtude como mís­ isto, há que reavivar-lhe no co­
tica , da caridade: amor de predi­ ração a chama do verdadeiro amor;
leção a Deus e 'a Jesus.* lembrar-lhe que a castidade se re­
duz, no fundo, à prática da Ca­
ridade;
3. sôbre o estudo da psicologia da
mulher, para poder compreendê-la

* Cf. M a r m i o n, Cristo Ideale dei Monaeo, p. 217.

8* 115
melhor e, assim, mais tarde, no
exercício de seu ministério, guiá-
la pela senda do bem sem perigo
para sua alma.
Que compreenda a diferença que
há entre recato sobrenatural e sim­
ples indiferença caracterológica. . .

Obediência
Positivas: Formação:
— De bom grado aceita como coi­ — Pôr como base exclusiva de sua
sa normal a ordem ou a interven­ obediência o espírito de fé: submis­
ção do superior já como apêlo à são a Deus que governa o univer­
observância da Regra, já como so. Para êle há de constituir sub­
exercício de uma autoridade indis­ missão de todo o seu ser (M a r -
pensável em tôda organização ou m i o n ) . Obediência de coração e
desenvolvimento de algum trabalho. com fé, não "racional”.
— O nE-A-S “largo” facilmente
Negativas: compreenderá isto e logo chegará
— Face a uma intervenção “intem­ à obediência afetiva. O nE-A-S “es­
pestiva” o nE-A-S procura discutir, treito”, ao contrário, compreende-o
ainda que seja com calma, e che­ com mais dificuldade: deve fazer
ga mesmo a evitar a execução da um grande e constante esfôrço para
ordem, ou, ao menos, a adia. se vencer a si mesmo.
— Sua obediência não chega a se Em geral, com o nE-A-S o su­
apoiar em Deus, mas se detém na perior deve comportar-se de uma
prescrição da “lei”, nas exigên­ maneira explícita e objetiva: isto
cias da vida social; êle não vive ajudá-lo-á muito a formá-lo na boa
a obediência à luz da fé na pala­ prática da obediência.
vra de Deus.

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— O nE-A-S gosta da vida comum — Para uma reta formação do
como "grupo ou equipe" da ação nE-A-S na vida comum, é preciso
comunitária. De bom grado ajuda distinguir:
a quem lhe pede um favor, porém 1. o nE-A-S durante o período de
não se adianta nem vai mais além formação ou como sujeito: deve
do que lhe é pedido. Não impor­ ser continuamente estimulado a
tuna os outros nem é indiscreto. vencer a inclinação para a vida
Agra da-lhe conversar quando se solitária e, portanto, a viver em
trata de questões sérias, porém contacto com os outros. Pode-se
prefere escutar. aproveitar o seu sentido de re­
gularidade, sempre que vá ilumi­
Negativas: nado e estimulado pela caridade
— E’ muito inclinado à solidão. fraterna. Tem, portanto, que se
Não se deixa levar pelo “élan” acostumar à prática da compreen­
e pelo calor da vida em comum: são, suportando os defeitos alheios,
para êle esta não é comunhão de com o que prestará um serviço por
almas e corações. Pode chegar até amor. Que se não irrite com as

116
mesmo a desprezar a afetividade deficiências alheias, nem critique as
tamiliar de uma comunidade. irregularidades que nota em casa.
— Possui um egoísmo frio, cons­ 2. como superior: o nE-A-S, se é
ciente, de origem intelectual, sem “largo” e se formou na verdadei­
nenhuma emotividade. ra caridade, pode chegar a ser
compreensivo e ativo, e dirigirá
a comunidade como Padre e Su­
perior. Ao invés, se o nE-A-S é
"estreito”, permanecerá somente
como Superior, mas não como Pa­
dre: será inflexível e férreo. Oxa­
lá nunca fôsse superior!
Apostolado
Positivas: Formação:
— O. nE-A-S de boa mente se in­ — Do ponto de vista intelectual:
teressa por tudo o que é organi­ não é tarefa difícil formá-lo no
zação numa obra de apostolado. apostolado. De feito, o nE-A-S ama
Sai-se muito bem no que se refe­ o estudo, sabe preparar bem as
re à sua administração e direção prédicas ou as aulas. Mas convém
técnica. aconselhar-lhe a leitura de livros
— Para o apostolado direto, pre­ centralizados sôbre a figura e a
para escrupulosamente suas prédi- pessoa de Jesus Cristo, para formá-
cas, conferências ou lições: elas são lo numa espiritualidade Cristocêntri-
profutidamente pensadas, lógicas, ca, ou de livros que tratem a fun­
sólidas e claras. Para êle, todo 'tra­ do o problema da salvação das
balho há de ter um sentido. almas (obras sociais, missões), e
— No que se refere à direção pes­ desta forma educá-lo no verdadei­
soal, quando dirige uma alma fá-lo ro zêlo pelas almas.
com seriedade e inteligência, me­ Do ponto de vista prático do
diante a boa aplicação dos princí­ mistério: deve trabalhar muito para
pios da ascética. se tornar capaz de compreender as
almas, conhecer os ambientes em
Negativas: que deverá atuar, e especialmente
— Não é a pessoa adequada para os colaboradores de suas tarefas
as rejações sociais, nem tampouco apostólicas. .
as procura: êle "mesmo se reconhe­ — Onde pode ser eficaz é na
ce . incapaz d c exercer influência organização e direção das obras de
imediata sôbre bs indivíduos. apostolado.
— Desinteressa-se, ou mesmo igno­ — A síntese, portanto, de sua pre­
ra-os, dos problemas psicológicos paração para o apostolado encer-
dos outros: não tem o sentimento ra-se na fórmula: Amor a Jesus
da psicologia alheia ( J a c q m i n ) . e compreensão amorosa das almas.
— Não pensa que o apostolado tem
como objetivo a salvação de cada
homem'^m partidular, e que não
é somente questão de administra­
ção ou de ofganização técnica.
— Nem sempre tem qualidades para
a direção espiritual individual.
— Na administração de uma obra,
facilmente .se torna conservador,
pouco flexível e sem espírito de
adaptação às exigências do momen­
to, ou pouco compreensivo para
com os outros.
CONCLUSÃO
De quanto se disse aparece claro que o nE-A-S é um ca­
ráter do qual podem obter-se muitos elementos positivos. Se é
verdade que êle tem graves deficiências naturais, nem por isso
deixa de possuir qualidades excelentes.
Todo o trabalho de sua formação na vida sobrenatural de­
verá concentrar-se em dar vida à sua psicologia: que ponha
sentimento em sua ação; que a luz de sua inteligência se con­
verta em fogo para o coração; que sua reta moralidade se rea­
lize numa vida que por sua vez reproduza e reflita a vontade
de Deus: "haec est voluntas Dei sanctificatio vestra!” Portanto
deve aspirar à santificação pessoal num grande amor a Jesus
Cristo, e à santificação dos outros mediante seu apostolado
sobrenatural. 0 amor de Deus há de ser a fonte e o amor do
próximo a foz benéfica de tôda a sua vida. Quando houver
compreendido e vivido intensamente tudo isto, também o nE-A-S
caminhará pela via da santidade e será capaz de santificar
os outros.
^Não fa lta m na Igreja grandes santos que tin h am êste m es­
mo caráter.
Exemplos: S. João Fisher, S. Pedro Canísio.
SECÇAO QUARTA

OS nãoEMOTIVOS nãoATIVOS: nE-nA

NOTA INTRODUTIVA
Esta é a quarta e última categoria dos caracteres-tipo.
Os nE-nA destacam-se nitidamente das outras duas cate­
gorias que já consideramos. São os caracteres menos empreende­
dores, porque estão menos dotados e portanto são mais pobres
que todos os outros.1 Dos três elementos fundamentais, dois
dêles encontram-se abaixo da proporção média: a emotividade
e a atividade.
Com a diminuição destes dois elementos, aumenta neles a
“passividade”. Assim, por exemplo, o amorfo — nE-nA-P —
é passivo frente ao instante presente por causa de sua prima-
riedade; o apático — nE-nA-S — pelo contrário, é passivo ante
um hábito por causa de sua setundariedade, a qual o deixa
como encravado em seu passado.
São caracteres sem “élan” espiritual. Ainda quando são
inteligentes, em geral têm pouca habilidade e quase carecem
de desenvoltura; têm, ademais, pouco sentido prático e sobretu­
do pouca afetividade. Seu coração, lamentàvelmente, é bastante
insensível aos sentimentos: o que se torna claro porque, por
exemplo, êles amam pouco ou quase nada as crianças e os
animais. A única sorte que os acompanha, diz Mounier, é que
têm pouca predisposição para as doenças mentais.
Griéger diz que os nE-nA são empíricos por natureza, in­
clinados sempre a fins muito pessoais, imediatos e pragmáticos,
ainda que com freqüência lhes produzam confusão e vergonha
a seu olhar. . .
Le Senne consagra mui poucas páginas de seu Tratado de
Caracterologia à descrição dêstes dois últimos caracteres, por­
1 L e S e n n e , op. cit., p. 255.

119
que realmente falta uma documentação suficiente sôbre êles, e
porque não abundam os exemplos históricos, precisamente por
causa da própria pobreza deste caráter, que impede o haver
êle deixado marcas na história sôbre as quais poder funda­
mentar um estudo documentado do mesmo.
Podemos, porém, conhece dos graças a um estudo compa­
rativo com os outros caracteres. De resto, frequentemente nos
encontramos com indivíduos deste tipo, cujo número é muito
maior do que cremos.

i ?n
CAPÍTULO XIII

nE-nA-P: AMORFO

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS 1

1" Descrição do caráter-tipo


a) O amorfo é o tipo preguiçoso por natureza, que se
compraz egoisticamente em sua vida vazia de sentimentos e
de atividade.
— Como é nE: o nE-nA-P não vibra por nenhum ideal nem
se esforça ante uma ação nobre; não experimenta sentimentos
vivos, e tem um verdadeiro vazio interior: por não possuir nada
de afetividade, deixa-se levar por um egoísmo da pior espé­
cie. Consola-se fàcilmente pensando que tudo na vida é questão
,de saber acomodar-se. . .
— Como é nA: não tem possibilidade nem fôrça interior para
conferir um cunho pessoal à sua obra: acompanha-o a pre­
guiça em sua mais ampla expressão, sem a menor atenuante.
Quase sempre carece de espírito prático.
— Como é P: vive no e do momento presente muito mais do
que o E-nA-P e o nE-A-P. E’ superficial; deixa-se influir pelo
ambiente.
Não tem altas miras, contenta-se com pouco, e logo se
consola diante das contrariedades; também não tem grandes as­
pirações, basta-lhe viver ao nível ordinário; daí que busque as
satisfações imediatas do corpo e a utilidade diretamente temporal.
Como se vê, o nE-nA-P é o mais pobre dos caracteres,
porque lhe faltam os três elementos positivos: não tem a rique­
za inferior da emotividade, nem o poder e a fôrça da ativida­
de, nem, finalmente, o equilíbrio e a discrição da secundariedade.

1 Cf. L e S e n n e , op. cit., pp. 523 ss; Le G a 11, op. cit., pp. 276 ss;
G r i é g e r, Diagn. Caract., pp. 73-76.

121
Por ser tão su p e r fic ia l, d e ix a -se fà cilm e n le in flu en cia r p ela
o p in iã o do ú ltim o que chega, e não tem v erd a d eiro e sp irito de
observação.
Em g era l, é in telig en te. Porém não é dos que cria m pro­
b lem a s, p orq u e to m a a v id a c o m o lh e v e m : é um p lá c id o bona-
chão. Q uando a in d a é pequeno, m esm o sem o querer engana
o s e d u ca d o res, q u e o ju lg a m bom porque não põe nenhum pro­
b le m a e se d eix a g u ia r sem oferecer nenhum o b stá cu lo ; por
isto ju lg a m -n o fa v o rà v elm en te. Porém , quando chega à id a d e
a d u lta — se não foi bem form ad o — seus d efeito s m a n ifes­
tam -se de m a n eira ev id en te e quase sem p re i n c o r r i g í v e l . 25*
In teressa-se m a is p ela s c o is a s do que p ela s pessoas. M ou-
n ier dÍ7. q u e o n E -n A -P é uma fó rm u la pobre, na qual quase
tu d o e stá a serv iço das in c lin a çõ es o r g â n ic a s e do a u to m a tism o .
P o d e r -se -ia d izer que é um caráter sem form a d e term in a d a
(= ctmorfo).
b) O n E -n A -P “ l a r g o ” ': E’ in d e c iso e in d iferen te. P os­
su i, sem em bargo, certa d o cilid a d e, que o lev a a a d m itir e a
a c e ita r fa cilm e n te as d ir e tr iz e s de ou tros. Tem um o tim ism o
fu n d a m e n ta l, que o in d u z a crer q u e tu d o , até m esm o as m ais
graves d ific u ld a d e s, acaba por se acom odar.

c) O nE-nA-P “estreito": E' o m a is in erte e o m a is pre­


g u iç o so dos caracteres. V iv e no m om en to presente e é um ver­
d a d eiro escravo de to d a s as ex ig ê n c ia s do corpo: v isa sem pre
ao m a is b a ix o , v iv e a o rés d o chão. E' e g o ís ta e duro. fech ad o
a tod o sen tim en to so cia l e r e lig io so . D escura a lim p e z a de sua
pessoa e é m u ito desordenado.

d) inteligência ': P ossui uma in telig ên cia com ten d ên cia


p rev a len tem en te p rática, não r a r o t a m b é m v iv a , m as nem sem ­
pre c a p a z de a n á lise e de ló g ic a . N ão ê feito para as ciên cia s
a b stratas. N ã o a p reen d e o e ssen cia l. E' m u ito in c lin a d o a o s pro­
b lem a s p o sitiv o s. T em a p tid õ es para a m ú sica e para a arte
d r a m á tic a (co m o ator). E xpressão pouco coerente e não m u i­
to veraz.

e) O aspecto morfológico ou somático “ p a rece'1 ser o


se g u in te ”:

2 Para designar o amorfo, usam os franceses com frequência a


expressão: “I.’ange s'en va et la bête reste".
" Cf. G r i é g e r, Carnct. ct Vor., p. III.
* G r i é g e r, Educaziotie dcIVintelligenza, p. 123.
5 Le G a 11, op. cit:, p. 32fi; G r f é g e r , Diagn. Caract., p. 117.

122
estatura: mais propriamente olhos: grandes, redondos, com
alto órbitas pouco profundas
compleição: gordo e mole nariz: um pouco achatado
cabeça: redonda, mais desen­ bôca: grande, com lábios gros­
volvida para o occipital sos, moles e bastante pá­
rosto: redondo: bochechas lar­ lidos
gas e flácidas mãos: compridas, suaves, fre-
qiientemente frias, com dedos
alongados e redondos nas
pontas
2? Qualidades
— Não tem muitas. E’ dócil, e portanto não resiste à autori­
dade: deixa-se plasmar e corrige-se bastante, justamente por
causa de sua passividade. Possui boa dose de calma e de obje­
tividade. Tem um discreto talento para a música, mais para
execução que para a composição. Onde mais êxitos pode al­
cançar é na arte dramática: isto se deve ao fato de não ter
êle uma personalidade suficientemente desenvolvida, e, portan­
to, se é inteligente, logo compreende e executa com fidelidade
tôdas as indicações que lhe possa fazer o diretor de cena, e
portanto facilmente assimila e interpreta bem a personagem que
deve representar.
— Tem aptidão para o esporte coletivo.
3’ Defeitos
— E’ preguiçoso, mole, pouco generoso, muito egoísta, e mais
propenso aos prazeres sensuais (gula e sexo) do que os outros
caracteres. E’ escravo do corpo. Pouco asseado, pouco pontual.
Chega a carregar-se de dívidas por causa de sua prodigalida­
de; não tem interêsse pelos ideais altruístas, nobres ou santos.
— Tem pouco senso prático e muito pouca compreensão para
com os outros. ‘ E’ duro com os jovens, a ponto de se tornar
cruel. Carece de fervor religioso: é o mais frio de todos os
caracteres.
4? Resultante caracterológica 1
— A resultante caracterológica do nE-nA-P é “a passividade
ante o instante presente". Nêle tudo favorece esta predisposi-
" Le Senne diz que, quanto à compaixão, o nE-nA-P peca por
falta, enquanto que o E-A-S peca por excesso. De fato, a sigla já põe
em evidência a antítese: E-A-S e nE-nA-P nada têm de comum.
' Cf . G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 75.

123
ção, afirma Griéger: debilidade dos elementos constitutivos, de­
sinteresse por ideais nobres e altruísticos, falta de senso prático.
De tudo isto decorre que o nE-nA-P permanece habitualmente
fechado na esfera da sua atividade orgânica, sendo por isto
escravo do seu corpo.
5’ Valor dominante
— Para o nE-nA-P, todo entregue ao serviço das necessidades
empíricas do seu organismo, o qual se deixa levar por elas até
a prodigalidade, o valor, a que instintivamente se sente levado
é o prazer “egoísta”.
Exemplos históricos: Luis XV ("après moi, le déluge!” ).
Observação: De quanto ficou dito na nota l'1 à p. 27 sobre
o esquema geral, podemos encontrar para o nE-nA-P indiví­
duos propensos para os seguintes caracteres com os quais têm
pelo menos um elemento comum:
Se aumenta a emotividade, a p roxim a -se do E -n A -P nervoso
Se aumenta a atividade, ” " nE-A-P sangtunm
nE-nA-P ) Se diminui a primariedade, ” ” nE-nA-S a p á t ic o
Se aumentam a emotividade ” ” E-A-P colérico
a atividade,

B. EDUCAÇAO PSICOLÓGICA
1" Atitude do educador
— Embora o nE-nA-P seja pouco sensível e preguiçoso, ainda
assim, a atitude do educador pode exercer grande influência so­
bre êle, sobretudo se o nE-nA-P é inteligente. A bondade e a
expansividade, de um lado, e o encorajamento aliados a conse­
lhos iluminados, precisos e mantidos por uma paterna e firme
tenácia, de outro lado, exercem grande efeito sobre o jovem
amorfo. Não obstante a afirmação de Mounier “terra ingrata”,
todavia diante de um educador-pai, caridoso e forte, o nE-nA-P
cede e se deixa formar.
2° Processo de seu método educativo
— Uma vez que o educador tem diante de si um jovem nE-nA-P,
e portanto insensível e mole, deve possuir muita força de ca­
ráter e de virtude para assumir a tarefa de aquecer-lhe o cora­
ção e de empenhá-lo numa atividade contínua.
Deve tomá-lo como é, sem querer, de um lado, conseguir para
êle ideais muito altos, mas, doutra parte, sem abandoná-lo ante

124
os primeiros insucessos. O educador deve lembrar-se que pode
conseguir do nE-nA-P um esfôrço consciente, ordenado e conti­
nuo, sob condição, porém, que lhe proporcione uma educação
ativa e lhe proponha metas sucessivas, quase diárias e fáceis de
atingir: isto sobretudo no início da educação.
Por isso ’ :
1. Fazer-lhe compreender e ver o seu caráter com os defeitos,
os perigos, as tentações, e as qualidades com a possibilidade
de êxito.
2. Fazer-lhe experimentar o “gôsto interior” que proporciona tôda
atividade bem realizada, mediante a repetição de ações exterio­
res. Convém, portanto, usar um método ativo e concreto; pro­
por-lhe obras que há de realizar, porém que sejam atraentes e
bem determinadas, com o que pouco a pouco se irão elevando
suas aspirações.
3. Dirigir e controlar êste trabalho dia após dia (sem se can­
sar), submetendo-o a um método preciso de ginástica espiritual.
E, para mais fàcilmente conseguir que êle se ponha a traba­
lhar (e também a brincar), convém incluí-lo num grupo, nun-
6a deixá-lo isolado.
4. Habituá-lo desde jovem à ordem e à disciplina com mão fir­
me: há que exigir o cumprimento regular de todos os seus de­
veres, e não desculpá-lo com demasiada facilidade. Se fôr o
caso, aplicar-lhe também sanções, mas que sejam objetivas, jus­
tas e razoáveis: isto formá-lo-á muito, porque êle não se sentirá
punido somente, senão também orientado e apoiado caridosa­
mente. Assim, sem se irritar, tomará coragem e trabalhará me­
lhor. Não esquecer tampouco seu porte exterior e quanto se re­
fira à sua higiene, a seu trato, etc.
3? Valor a conseguir
— Já que o nE-nA-P é escravo das atividades orgânicas e, por­
tanto, busca em tudo, instintivamente, o prazer sensível, e, além
disto, é brando por natureza e se deixa fàcilmente modelar e
guiar pelos superiores, é preciso educá-lo a procurar como va­
lor verdadeiro e próprio a docilidade, que assim dará um signi­
ficado, um valor e uma finalidade à sua vida: bem orientado,
também êle pode realizar um magnífico trabalho.

’ Cf. G r i é g e r, Diagn. Caract., p. 178.

125
II. NO PLANO SOBRENATURAI.
A. DISPOSIÇÕES CARACTF.RO- B. COMO APRESENTAR A VIDA
LÓGICAS SOBRENATURAL ’

EM GERAL
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P é, por natureza, como — O nE-nA-P, como tem pouca
vimos, um tipo mole, não reacio­ ou quase nenhuma vida interior,
nário e, portanto, não anti-religio­ mas, por outro lado, graças à sua
so, que se deixa influir pelo am­ primariedade, é capaz de receber
biente: por isto, se se acha num a influência do ambiente que o
ambiente — família, escola, empre­ rodeia, deverá submeter-se a um
go — onde a religião é respeita­ trabalho educativo com elementos
da e praticada, também êle a res­ tirados do presente e do exterior.
peita e a pratica. — O superior e o padre espiri­
tual, trabalhando em concordância,
Negativas: deverão seguir-lhe de perto todos
— Doutra parte, é o caráter mais os passos. Pôr-lhe diante dos olhos,
arreligioso que possa dar-se: não servindo-se dos bons exemplos que
sente nenhum fervor de espírito, existam na comunidade, que a vi­
nenhum desejo de se entregar a da sobrenatural se obtém apro-
uma vidá de perfeição, porque, vol­ fundando-se na vida interior que
tado todo para as coisas dêste se baseia na fé, e que pode pra­
mundo, que o satisfazem imediata­ ticar-se com muita facilidade. Lem­
mente, não se preocupa com as brar-lhe que o mundo sensível é
do além, que são remotas e que caduco, passa, é efêmero e não
portanto não podem satisfazé-lo lo­ pode encher nem satisfazer as ân­
go: por isto as tem como se não sias do coração humano.
existissem e não as deseja. — Expor-lhe, portanto, um ideal de
— O mistério sobrenatural e o vida sobrenatural, adaptado e pro­
senso do sobrenatural não cor­ porcionado a suas capacidades.
respondem à sua psicologia: qua­ Grave êrro seria pôr-lhe diante dos
se não pensa nêle. olhos metas elevadas, demasiado di­
— Não tem vitalidade pessoal para fíceis para êle, dadas as suas pos­
encetar por própria iniciatiya um sibilidades tão limitadas. Conviria,
trabalho espiritual.1 de preferência, já que é dócil por
natureza, acompanhá-lo, segui-lo de
perto nos pequenos esforços diá­
rios que realiza pessoalmente, até
criar nêle a convicção de que real­
mente pode, e sobretudo deve, rea­
lizá-los, se quer fazer parte do
grande Corpo místico que é a Igre­
ja. Por isto, mui prudente e efi­
caz resulta pô-lo num ambiente fer-

1 Cf. J a c q m i n , op. cit., pp. 1-12; N o y e 11 e, op, cit.. pp. 22-25;


G r i é g er, Caract. ef Voc., pp. 112-118; S i m o n e a u x , op. cit..
pp. 77-78.

126
voroso onde se sinta como envolto
e arrastado pelo movimento e en­
tusiasmo que vibra em seu redor.

EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— Adota uma total fidelidade en­ — Para conseguir uma boa for­
quanto convive com os outros na mação espiritual do nE-nA-P, deve
casa de formação. o diretor insistir muito na parte
— Escuta com certa docilidade os ativa da vida espiritual, isto é, na
conselhos que se lhe dão, e logo entrega a Deus e às coisas de
os aceita de acordo com seu di­ Deus. Portanto, deverá induzi-lo a
retor: não opõe resistência algu­ romper a monotonia da vida co­
ma, nem manifesta nenhuma reação. tidiana, não raro banal, ordinária
— E’ igualmente fiel na prática da e pacífica, porém egoísta, para po­
confissão, como fazem todos os der entregar-se a Deüs e ao pró­
outros. ximo. E’ preciso falar-lhe de mo­
do concreto, preciso e claro, de ma­
Negativas: neira que êle possa compreender,
— Não sente a necessidade de uma e, na medida do possível conven-
verdadeira direção espiritual bem cê-lo à força de lhe fazer ver os
encaminhada, que o impila para a elementos fundamentais da vida so­
perfeição. Nêle há mais passivi­ brenatural em suas grandes linhas,
dade do que verdadeira docilidade. sem entrar, sobretudo no princípio,
— Para a confissão, geralmente faz nos matizes e pormenores, que ou­
uma acitsação um poudo vaga das tra coisa não fariam senão con­
culpas, e tem uma contrição mais fundir-lhe as idéias.
propriamente superficial. — Não convém apresentar-lhe de
— Confessar-se significa, para êle, golpe todo o cúmulo de trabalho
ficar tranquilo até o próximo sá­ que há de realizar, porque fica­
bado. . . ria abatido e desanimado. Ao con­
trário, é preciso animá-lo muito,
e fazer-lhe notar pràticamente que
é assim dirigido por amor dêle
mesmo, de modo que seu "eu”
comece a sentir êste amor e a
se retemperar. E’ o método mais
eficaz para desenvolver nêle a emo­
tividade.
— O diretor tem um grave pro­
blema a resolver para a formação
do nE-nA-P: há de conseguir que
sua alma se ponha no caminho da
correspondência à Graça, e desen­
volver tudo o que êle tem de bom.
Deve lembrar-se de que o nE-nA-P,
embora menos dotado pela natu­
reza do que os outros caracteres,
se fôr dócil à Graça poderá atfti-

127
gir um grau de santidade supe­
rior, inclusive ao dos que são mais
dotados que êle.
— Para a confissão, fazer-lhe com­
preender a fealdade do pecado e
o dano que dêle se deriva, tão
prejudicial para êle próprio e para
tôda a Igreja. Fazê-lo, por isto,
meditar com frequência sôbre a
morte, o juízo e o inferno.

Piedade
Positivas: Formação:
— Cumpre fielmente as práticas — Para despertar nêle a neces­
de piedade juntamente com os ou­ sidade da oração, há que come­
tros. Gosta da liturgia, pôsto que çar apoiando-se nas poucas incli­
superficialmente. nações positivas que êle tem: a
— Sua oração é para pedir e oração de petição e a oração li-
obter algumas graças: é uma ora­ túrgica.
ção interesseira. — Induzi-lo a que reze para obter
coisas que, mais do que úteis,
Negativas: lhe sejam necessárias: a vida in­
— Quando sai do ambiente da co­ terior, a santificação de sua al­
munidade, o nE-nA-P abandona fa­ ma, de seus parentes e das pes­
cilmente a meditação e as ora­ soas que lhe são caras. Habituá-
ções. Pessoalmente não pensa em lo também a saborear intimamente
rezar, porque não sente a neces- a oração litúrgica e os cânticos sa­
sidade disto. cros; tudo isto irá despertando nêle,
— A meditação para êle reduz- pouco a pouco, a emotividade.
se a uma leitura; muitas vêzes, — Num segundo momento passará
dorme ou só espera que termi­ à oração pessoal: as emoções que
ne. Fàcilmente descura o exame de experimentou na liturgia ou com
consciência, e deixa para altas ho­ o canto sacro, é fácil que volte
ras da noite a reza do breviário a tê-las de maneira mais íntima
(se é in sacris). e mais profunda na meditação sô­
— Prefere uma leitura interessante, bre a bondade de Jesus, que tan­
profana, ou uma conversa qual­ to bem fêz às multidões e a cada
quer, a urna visita ao SS. Sa­ alma em particular. Dêste modo ir-
cramento. se-á acostumando a falar direta­
— Quando é jovem, se se acha mente com Deus e com Jesus Cris­
fora da comunidade, abandona a to para obter graças interiores.
comunhão e a assistência à San­ — Apresentar-lhe portanto:
ta Missa. DEUS: como Autoridade sobe­
— Sua ação de graças depois da rana (o nE-nA-P compreende e
Comunhão será quase sempre bre­ sente a submissão à autoridade),
víssima. paternal e não despótica.
Ou também como Providência
que distribui dons e benefícios:
êste conceito suscita no nE-nA-P
a gratidão, e lhe inculca a con-

128
fiança filial que há de ter em
suas petições quando reze.
JESUS CRISTO: em sua bonda­
de não só para cada homem em
particular, como quando curava os
enfermos, mas também como o
grande benfeitor de povos inteiros
e de massas humanas (a multi­
plicação dos pães).
NOSSA SENHORA: como Mãe
benigna que com grande amor se
ocupa de seus filhos, que os aten­
de sempre e que por êles interce­
de junto ao Pai comum.
Ascética
Positivas: Formação:
— E' dócil: aceita tudo de boa — Para o nE-nA-P, que é escravo
merfte: conselhos e práticas a exe­ das satisfações do próprio corpo,
cutar. é preciso começar o trabalho as­
■— Depois, não tem de si mesmo cético justamente pelo domínio do
um conceito demasiado elevado, corpo e de seus sentidos. Portan­
nem pretensões por suas quali­ to, tem êle que se exercitar nas
dades. pequenas mortificações corporais
que tanto lhe custam (p. ex., não
Negativas: comer fora das refeições); para
— Possui um egoísmo de indife­ consegui-lo, propor-lhe como exa­
rença, mais que de oposição. Como me particular uma destas mortifi­
é não-ativo, não se empenha a cações corporais, para obrigá-lo
fundo. Por ser não-emotivo, não mais intensamente ao esfôrço con-
tem nenhum entusiasmo. tinud, o que lhe robustecerá a von­
— Nêle nota-se uma ausência com­ tade, coisa sumamente necessária
pleta de responsabilidade e de am­ para êle.
plitude de critério. — Faz-se mister controlar metodi­
— Tem uma filosofia tôda sua: camente e de modo sério seu es­
toma a vida como ela vem, sem fôrço ascético.2
se preocupar com o amanhã; apro­ — E’ conveniente exercitá-lo na
veita qualquer ocasião que se lhe prática da caridade fraterna e da
apresente para se entregar aos dedicação aos outros, com o fim
prazeres lícitos è, se vem o caso, de retirá-lo de seu hermético ego­
também ilícitos.2 centrismo: induzi-lo a que sirva e
ame os outros. Para consegui-lo,
será conveniente apoiar-se em seu
amor-próprio e em sua inteligência.
— Abrir-lhe os olhos sôbre os so­
frimentos alheios, que êle instin-
tivamente não vê; assim adquirirá

2 Seria interessante ver-lhe a reação psicológica ao ouvir a lei­


tura de uma página de S. João da C ru z!...
’ O amorfo é daqueles que seguem Jesus somente até às bodas
de- C an á...

Caracterologia — 9 129
o sentimento da compaixao, que
traz como conseqiiência o servir e
consolar os outros.
— Quando o nE-nA-P houver che­
gado a compreender e a praticar
estas virtudes, poderá também as­
pirar à santidade.
Vida religiosa
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P tem somente dispo­ — Há que lhe apresentar a vida
sições humanas. Não vê na vida religiosa não como êle a concebe,
religiosa mais que uma maneira de mas em seu verdadeiro e alto as­
assegurar a própria existência (co­ pecto positivo, isto é, como con­
mida, alojamento, hospedagem como sagração do coração a Deus numa
num bom hotel); não complica sua entrega profunda de amor. Já des­
vida nem busca preocupações, mas, de o início cumpre fazer-lhe com­
antes, uma certa proteção e segu­ preender que é de grande auxí­
rança. Por outra parte, não tem lio para sua formação o vencer a
iniciativas a tomar ou responsabi­ inclinação natural que tem para
lidades a assumir. satisfazer os sentidos, mediante um
trabalho de desapego e de mortifi­
Negativas: cação corporal. Se chega a prati­
— Não se sente atraído para a car assim a vida religiosa, não
vida religiosa, porque sabe muito tardará a se pôr em caminho para
bem que ela encerra o compromis­ a perfeição.
so de se santificar e, portanto, o Depois — se realmente fôr ca­
esforço correspondente para con­ paz de compreendê-lo — fazer-lhe
segui-lo. ver o luminoso horizonte que lhe
— Como foi dito, não é anti-religio­ oferece o dom de si a Deus e às
so, mas, antes, arreligioso, isto é, almas.
indiferente e frio em face das — Começar por persuadi-lo de que
grandes idéias da santificação pes­ não deve praticar a vida religio­
soal com vistas ao apostolado. sa com espírito de conformismo e
sómente no exterior, senão que
deve pôr mais ardor em sua ati­
vidade interior, com o fim de po­
der desenvolver depois sobrenatu­
ralmente sua ação apostólica.
— Prestar ' atenção à sua forma
dócil de se comportar, que facil­
mente pode enganar a diretores e
superiores pouco experientes; êste
comportamento excessivamente plás­
tico é uma qualidade negativa nêle.
Tal docilidade poderia dispor os
educadores a emitir sôbre êle um
juízo positivo. Sem embargo, não
deve perder-se de vista que, quan­
do fôr maior, se mostrará em tôda
a sua insensibilidade, vulgaridade e
preguiça.
130
Pobreza
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P está provido de pou­ — Que se exercite, desde o iní­
cas qualidades naturais para a po­ cio, com práticas de pobreza, ain­
breza: tôdas elas se resumem na da que sejam pequenas, como se­
docilidade instintiva. riam aceitar as privações da vida
comum, pedir as devidas permis­
Negativas: sões, mesmo para coisas de pou­
— Em geral é pouco propenso à ca importância, prestar contas exa­
economia e ao uso prudente do tas até ao último centavo de suas
dinheiro: gasta prodigamente sem despesas, contentar-se com o re­
razões sérias. gime da vida comunitária.
— E' inclinado a satisfazer to­ — Que se acostume ao bom uso
dos os seus gostos: lê revistas mes­ e aproveitamento do tempo (isto
mo levianas, jornais de tôda espé­ é muito importante para êle), por­
cie, e, sé possível, vai ao cinema. que também para os religiosos, e
Em suma, fàcilmente perde muito sobretudo para êles, vale o pro­
tempo. vérbio: “o tempo é ouro”.
— Quanto dano à comffliidade e
às almas pode causar o tempo per­
dido-por um religioso!

Castidade
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P só tem de positi­ — Deve ser logo habituado, des­
vo uma certa frieza ou preguiça de o início, a uma prática séria
em tomar a iniciativa... e metódica, forte e constante, da
mortificação dos sentidos: domí­
Negativas: nio, da gula, modéstia enérgica dos
— Infelizmente, é o caráter mais olhos, nada de leituras frívolas ou
exposto às tentações dos sentidos: divertimentos que possam excitar-
como se viu, é guloso, amante de lhe os 9entidos.
leituras frívolas como passatempo. — Deve possuir um grande es­
— Quanto ao sexo propriamente pírito de oração e profunda devo­
dito, propende a aproveitar as oca­ ção à Eucaristia e a Nossa Se­
siões que se lhe apresentam, dis­ nhora.
posto a ir até o fim!

Obediência
Positivas: Formação:
— E’ dócil, porém só passivamen­ — O superior e o diretor espiri­
te: obedece sempre que se lhe tual devem empenhar-se muito em
dá uma ordem clara e precisa, e habituá-lo a executar antes de tudo
também segue o andamento da co­ e logo as ordens recebidas, e a
munidade na observância da regra pôr nessa tarefa a máxima vita­
e do regulamento. lidade interior, à base de inteli­
gência e vontade.
Negativas: — Que se acostume a abster-se
— Não possui princípios que o ilu­ absolutamente da menor palavra
minem interiormente acêrca do va- de critica acêrca das ortlens rece-

9» 131
lor da obediência sobrenatural. Per­ bidas ou sôbre a pessoa dos su­
manece indiferente às ordens: não periores.
se lhes opõe ativamente, porém por — Igualmente deve habituar-se a
qualquer motivo as descura, as obedecer de coração, tendo sempre
adia ou, se possível, evita que se diante dos olhos o grande exem­
executem precisamente aquelas or­ plo da obediência que nos dá Jesus
dens que mais o contrariaram. Cristo, o qual ofereceu, no Cal­
vário, sua morte na cruz.
Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P oferece uma boa — O diretor espiritual deve in­
índole: não é melindroso nem sus­ centivar devidamente o nE-nA-P
cetível quando se graceja com êle. para que valorize sua inclinação
Fàcilmente se contenta. Não faz natural à condescendência, elevan­
mal a ninguém. do-a à prática de virtude sobre­
natural, como é a caridade ou a
Negativas^ bondade. Deve animá-lo a que se
— Porém vive como um parasita: preste, e até a que se ofereça, para
não tem a menor influência sôbre ajudar e substituir no trabalho al­
os outros; declina tôda responsa­ gum confrade.
bilidade: aproveita-se de tudo em — Tudo isto servirá para lhe sen­
seu favor, e é hábil em se safar sibilizar o coração e para se for­
de qualquer obrigação quase sem mar uma vida interior, senão ri­
dar mostras de reação exterior. ca, ao menos discreta. Deve es­
— Perde o tempo fàcilmente: por forçar-se para dar bom exemplo
exemplo, escutando o rádio, vendo aos outros, de forma que sua vida
a televisão, ou jogando cartas, etc. religiosa constitua uma verdadeira
irradiação na comunidade, como
mais tarde deverá ser seu sacer­
dócio e seu apostolado.
Apostolado
Positivas: Formação:
— O nE-nA-P é capaz de pronun­ — Convém prestar atenção espe­
ciar formosos sermões aprendidos cial ao nE-nA-P em dois momen­
perfeitamente de c o r... tos distintos:
— De bom grado fará pequenos 1. Durante o período de formação:
trabalhos no ministério, realizan- Há que insistir muito no tema do
do-os com coração, sobretudo se dever, sôbre a necessidade e a
estiverem bem determinados e limi­ nobreza do trabalho em favor das
tados (especialmente se houver al­ almas.
guém que o ajude). 2. Após a formação: E’ preciso co­
locá-lo num ambiente que o in­
Negativas: cite a trabalhar com muito inte­
— O apostolado, em si mesmo, resse e constância para o bem das
não o atrai, porque para aceitar almas.
esta responsabiliâade faz-se mister Se é destinado ao ensino, con­
um caudal de bons sentimentos, e vém apoiá-lo mediante oportunos
muito poucos os tem o nE-nA-P. conselhos pedagógicos (fornecer-lhe

Í32
— E’ muito pobre em iniciativas, livros apropriados). Incentivá-lo
e, para se dar às almas, é ne­ sempre de modo que chegue a se
cessário vencer a preguiça. Em vez convencer de que realmente é ca­
de dar, o nE-nA-P prefere receber. paz de ensinar.
— E’-lhe indiferente pregar ou não Se, ao contrário, é destinado ao
pregar, nem se preocupa com per­ ministério ativo, convém segui-lo,
suadir eficazmente os que o es­ especialmente nos primeiros anos,
cutam. mui de perto, para encaminhá-lo
— Quanto à organização de obras, no trabalho apostólico: incitá-lo ao
carece de espírito prático, e tem estudo e subministrar-lhe normas
muito poucas iniciativas que sejam práticas para se documentar na
eficazes. técnica sôbre as obras de apos-
tolado.
— Obrigá-lo à adequada prepara­
ção dos sermões: que tome par­
te, de vez em quando, em reu­
niões ou congressos de estudo, para
que amplie conhecimentos e conhe­
ça novas diretrizes conformes às
exigências do apostolado moderno.
— Porém ai dêle se é deixado a
si mesmo! jamais fará coisa algu­
ma na vida! ‘

CONCLUSÃO

De quanto foi dito resulta claro que o nE-nA-P certamente


não está feito para os grandes empreendimentos, porque lhe faltam
os elementos fundamentais positivo^. Por sua própria natureza não
está chamado a ser guia ou chefe, como o E-A-S, ou um ho­
mem que arraste as multidões, como o E-A-P, ou um den­
tista, ou homem de estudos tenaz e profundo, como o nE-A-S,
mas — se formado como o deve ser — pode alcançar postos
modestos, de segundo plano, sem grandes responsabilidades, on­
de, no conjunto, chegue a prestar valiosos serviços e desem­
penhar um bom papel.
Para êle vige a bela palavra de Jesus: “In domo Patris
mei mansiones multae sunt” (Jo 14,2). Portanto, também o
nE-nA-P, embora seja “terra ingrata”, como o define Mounier,
pode e deve ser valorizado pelo educador: não é um doente in­
curável. A experiência ensina que tem havido exemplos de ra­
dical conversão psicológica * que mostram como uma natureza

‘ Não é prudente confiar-lhe o economato ou a administração


de obras.
' Cf. G r i é g e r, Caract. et Voc., p. 118.

133
humana, por mui pobre que seja, quando é dócil à ação da
Graça pode chegar à conquista do grande tesouro da santida­
de. De fato, o caráter nE-nA-P tambérn deu santos à Igi"eja-
Exemplo: S. Benedito Labre é seu mais eloqüente e efi­
caz modelo.

134
CAPÍTULO XIV

nE-nA-S: APATICO

I. NO PLANO HUMANO

A. NOTAS PSICOLÓGICAS '

Io Descrição do caráter-tipo
a) O apático, apesar de ser preguiçoso como o amorfo,
não suporta impunemente as consequências de sua inércia, pois
esta lhe cria uma melancolia tétrica.
— Por ser nE: também o nE-nA-S tem pouca sensibilidade
e quase nenhum sentimento. Indiferente para com os outros,
descuidoso e egoísta, tem muito pouca vivência espiritual: pa­
rece quase impassível. Tem uma melancolia fria: Suportada mais
que sentida.
— Por ser nA: não sente necessidade alguma de trabalhar, nem
tem iniciativas: é sobretudo indolente, e não raro «também pre­
guiçoso. Não sabe adaptar-se às circunstâncias, como o faz o
amorfo; mas, por influência da secundariedade, é capaz de
observar um minucioso emprêgo do tempo, cumprindo ao pé
da letra, formalisticamente, o que manda um determinado re­
gulamento, e, desta forma, vai-se acostumando “àquele” tra­
balho com descuido e abandono de tudo o mais.
— Por ser S: é muito propenso ao hábito, à solidão, à vida
monótona e calma. Ama a sua tranqüilidade, e por isto não se
interessa por coisa alguma dos outros. E’ fechado, teimoso e
independente, porém menos egoísta e sensual do que o nE-nA-P.
A secundariedade é o que o protege e o valoriza, já que, se
adquire um hábito bom, é capaz de conservá-lo por longo tempo.
O nE-nA-S é o tipo característico do “rotineiro”, conser­
vador e escravo das tradições e costumes. À primeira vista dá

’ Cf. L e S e n n e, op. cit., pp. 259 ss; L e G a l l , op. cit., pp. 307 ss;
G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 69-73; C a r n o í s , op. cit.,'p . 55.

135
a impressão de regularidade e de dignidade ( G r i é g e r ) , mas
carece de vida íntima e dêsse mínimo de atividade que pro­
porciona a alegria de viver; pelo que, com freqüência vê-se
molestado pela hipocondria, que é a forma mais grave da me­
lancolia; foge à convivência e é pessimista.
Em geral é menos inteligente do que o amorfo, porém
quase sempre é sincero, Honesto e merecedor de confiança.
b) O nE-nA-S '‘largo” 2: gosta da vida calma, tranqüi-
la, monótona. Suporta sem grande emoção os perigos e as con­
tradições. Tem de bom que se adapta com certa elasticidade à
vida comum e à disciplina do regulamento.
c) O nE-nA-S “estreito"': é indolente e preguiçoso, ver­
dadeiro escravo do hábito, até o extremo de repetir sempre o
mesmo, observando os detalhes mais minuciosos com espírito
rigidamente conformista. E’ o mais teimoso de todos os ca­
racteres. Insensível e egoísta, tem como lema característico:
pensar em si mesmo e “queixar-se” . . .
d) Inteligência: mesmo quando é viva, não se adapta ao
pensamento abstrato ou teórico; refractária, portanto, às ciên­
cias filosóficas, matemáticas, etc. Daí sua indiferença pelos pro­
blemas metafísicos, religiosos ou sociais. Não capta o essencial.
Inclina-se mais aos problemas positivos. Carece de aptidões para
as belas-artes. No entretanto, possui uma maneira de se ex­
pressar bastante objetiva; veraz, porém não de todo coerente. *
e) O aspecto morfológico ou somático “parece” ser o
seguinte ":
olhos: pequenos, bastante jun­
tos e fundos
nariz: comprido e, às vêzes, al­
go torcido
estatura: geralmente alto bôca: geralmente estreita, com
compleição: esguio e quase lábios finos e bastante pá­
franzino lidos
cabeça: não muito desenvolvi­ mãos: robustas, com palma
da, larga na região occipital larga e dedos curtos, po­
rosto: oval, comprido, com fa­ rém fortes e quadrados nas
ces chatas e acentuadas pontas

2 Cf. G r i é g e r , Caract. et Voe., p. 116; Le G a 11, op. cit., p. 325.


* G r i é g e r , Caract. et Voc., p. 120.
* G r i é g e r , Educazionc delflntetligenza, p. 118; Le G a 11, op. cit..
p. 307.
“ G r i é g e r , Diagn. Caract.. p. 116; L e G a 11, op. cit., p. 326.

136
2o Qualidades
— Em geral possui uma igualdade de ânimo mais constante
que o amorfo, e um sentido de honra também mais acentuado.
Tem uma certa dignidade em sua maneira de ser. E’, geral­
mente, sincero e honesto. E’ discreto e sabe também guardar
segredos. Tem um gôsto especial pela solidão. E’ capaz de
adquirir bons costumes. E’ digno de confiança e é leal.
3» Defeitos
— Acompanha-o uma lamentável inércia mental; deixa-se ven­
cer pela rotina, e chega a um verdadeiro automatismo. Fiel
às suas idéias e até à teimosia. Independente. Não raro, pes­
simista, fechado em si mesmo, invejoso, propenso ao rancor;
egoísta e sensual, porém muito menos que o nE-nA-P; também
nêle a secundariedade exerce neste campo uma influência
protetora.
— Inclinado à avareza, à dureza de coração, que pode levá-lo
até à crueldade. Sente pouquíssimo interêsse pelos problemas
religiosos.
— Compreende sua deficiência, lamenta-a e sofre, porém sua
tristeza e abatimentos são frios, causados pela impotência em
que se encontra, por êle reconhecida em razão dos insucessos
que experimenta.
4? Resultante caracterológica
— Para o nE-nA-S é constituída por uma “vida rotineira e pela
mente ocupada em pensamentos banais”. ' Já gue nêle a fôrça
se estriba na secundariedade, esta se manifesta por uma acen­
tuada inclinação para a 'v id a monótona habitual; e, visto lhe
faltar a emotividade, seus pensamentos não são como os do
E-nA-S — .que é uma alma delicada, ainda que pouco comu­
nicativa — senão banais, vazios, tétricos, pesados.
5o Valor dominante
— Já que o nE-nA-S é homem que não sai do que é seu cos­
tume, é claro que para êle podem representar um valor a
“tranqüilidade” e a calma, embora vão acompanhadas de bas­
tante frieza e de vazio interior.
Exemplos históricos: Luís XVI.*
* G r i é g e r , Diagn. Caract., p. 71.

137
Observação: Pelo que dissemos na nota D da p. 27 sobre
o esquema geral, para o nE-nA-S podemos encontrar indivíduos
que tendem para os seguintes caracteres, com os quais têm
ao menos um elemento comum:
Se aumenta a emotividade, aproxima-se do F.-nA-S sentimental
Se aumenta a atividade. ” ” nE-A-S fteumático
Se diminui a secundariedade, »» ” nE-nA-P amorfo
Se aumentam a emotividade e
a atividade, t» ” F.-A-S apaixonado

B. EDUCAÇÃO PSICOLÓGICA
1’ Atitude do educador
— O educador tem máxima importância para a formação do
nE-nA-S, o qual, como vive quase sempre encerrado em seus
pensamentos às vêzes tétricos, necessita de muito afeto, sim­
patia e alento: muitas vêzes foi justamente a falta de alento
e de afeto durante a infância que causou nêle uma reação de
sombria tristeza que lhe rói a alma pela vida em fora.
— Um rosto alegre, um coração expansivo por parte do su­
perior ou do diretor são a melhor maneira de conquistá-lo.
Isto induzi-lo-á à confiança e à simpatia. E’ a maneira mais
eficaz de penetrar na alma do nE-nA-S, que justamente anda
em busca de um coração que o compreenda e não o despreze.

2° Processo de seu método educativo 7


— Os dois grandes e fundamentais defeitos do nE-nA-S são
sua insensibilidade e sua inatividade: devem êstes, pois, ser
cuidados antes de tudo, e com grande seriedade, constância, mas
também com afeto e firmeza, desde os primeiros anos. Deverá
empregar-se nisto um duplo método:
1) preventivo: com uma terapêutica exterior, isto é, estabele­
cendo um contacto, um nexo entre as ações exteriores que o
nE-nA-S pratica e sua vida interior, com o fim de suscitar nêle
um princípio de necessidade pessoal de agir. Dêste modo co­
meçará êle a “sentir” sua própria vida, a degustar as primei­
ras alegrias íntimas, e talvez mesmo a perceber também suas
pequenas dores íntimas. Assim, pouco a pouco, irá diminuindo
nêle a dureza inata e o mecanismo do hábito.

' Cf. G r i é g e r , Diagn. Caract., pp. 172-174; I. e G a 11, op. cit.,


p. 320.

138
Mas, para êste trabalho, é preciso muita paciência, e não
há que desanimar-se em face dos primeiros resultados, que qua­
se sempre são negativos. Incentivando muito o nE-nA-S, e mos­
trando-lhe sempre maior confiança, conseguir-se-á libertá-lo da
inatividade, senão completamente ao menos em grande parte;
e o mesmo sistema pode aplicar-se para a sua não-emotividade.
2) geral: isto é, com uma terapêutica de fundo. Para ser bem
sucedido com o método precedente, é preciso iniciar o traba­
lho pondo o nE-nA-S num ambiente onde reine o calor do afe­
to e seja fácil encontrar compreensão e incentivo: pô-lo, por
exemplo, junto a outro jovem de caráter bem formado, que seja
para êle como um “anjo da guarda” ; fazê-lo trabalhar em equi­
pe, para que o exemplo e a benevolência de quantos o rodeiam
lhe abram a mente e o coração à emotividade e ao amor do
trabalho. E' êste o melhor método ativo para a valorização
do nE-nA-S.
Em todo êste trabalho educativo há que se apoiar na se-
cundariedade, que, como dissemos, para o nE-nA-S constitui a
única fôrça verdadeira: tirar proveito, portanto, de sua inclina­
ção para fazer as coisas por hábito e de sua tendência para
a teimosia, dirigindo-as para uma atividade fundada no senti­
mento e na dócil colaboração.
Resumindo, faz-se mister:
— utilizar os procedimentos ativôs (trabalho em equipe) que
estimulam e incentivam;
— desenvolver nêle as virtudes altruístas, induzindo-o a consi­
derar as necessidades do próximo para o interessar nelas;
— fazer-lhe experimentar a satisfação do esforço e do êxito
logrado, de modo que do trabalho imposto pelo educador passe
ao trabalho realizado por iniciativa pessoal, não por automa-
tismo ou por hábito, senão como fruto de sua deliberação, isto
é, autônomo, querido e executado por êle pessoalmente.
3’ Valor a conseguir ’
— Dado que o nE-nA-S é indolente e fechado em si mesmo,
o valor que instintivamente aprecia em sua vida é a tranqui­
lidade, como já dissemos. Se aos poucos êle fôr conduzido a
desenvolver sua emotividade e sua atividade, êsse sentido na­
tural de um viver parado pode muito bem elevar-se a “va­
lor de disciplina e fidelidade” : desta maneira o nE-nA-S con-
" Cf. O r i é g e r , Diagn. Caract., p. 192.

139
ferirá um significado e uma missão à sua vida, que deixará
de ser então triste e vazia, para ser útil a êle mesmo e sobre­
tudo aos outros.

II. NO PLANO SOBRENATURAL

A. DISPOSIÇÕES CARACTERO- B. COMO APRESENTAR A VIDA


LÓGICAS SOBRENATURAL1
EM GERAL
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S é propenso a obser­ — O nE-nA-S, mais que nenhum
var e praticar fielmente as pres­ outro caráter, tem necessidade, es­
crições religiosas, a adquirir bons pecialmente no campo espiritual,
hábitos, embora sem entusiasmo in­ de que o rodeiem de muito calor
terior, como o faz para trabalho familiar. Por isto, não convém apre­
de tipo humano. sentar-lhe a vida sobrenatural como
um simples catálogo de observân-
Negativas: cias ou de proibições, que cada
— Carece de energia espiritual por vez mais o deixariam indiferente,
indolência; julga-se como que um senão como um convite amoroso
"cireneu” da dor. Sua inatividade de Deus, e fraterno da parte de
e a não-emotividade levam consigo Jesus, para participar da vida di­
uma grande debilitação na tendên­ vina, que é misericórdia e amor:
cia para alcançar ideais de ordem “Deus charitas est”. Fazer-lhe, pois,
superior. compreender que tõda a essência
— Também êle, como o nE-nA-P, de nossa religião se resume no
carrega consigo um grande vazio amor de Deus e do próximo. Há
interior. que convencê-lo de que: “Prae-
ceptum Domini est; et si solum
fiat, sufficit”, segundo a bela ex­
pressão de S. João referida por
S. Jerônimo. ’
— Também não se lhe devem apre­
sentar logo, como se disse para
o tipo amorfo, grandes ou altas
metas espirituais a atingir. Através
de uma prática dosada cada vez
mais de amor a Deus e ao pró­
ximo, necessàriamente desenvolver-
se-á nêle uma certa emotividade,
que contribuirá para lhe criar uma
tendência à atividade.
— Confiá-lo, como já se disse, a
um confrade devidamente formado.

1 Cf. J a c q m i n , op. cit., p. 13; S i m o n e a u x , op. cit., pp. 275 ss;


N o y e l l e , op. cit., pp. 22 ss; G r i é g e r, Caract. et Voc., p. 120.
5 S. J e r ô n i m o : Ex Commentario in epistotam ad Gaiatas, livro
III, cap. VI.

140
que seja seu “anjo da guarda”,
a fim de que substitua ou com­
plete mais de perto a obra do di­
retor espiritual.

EM PARTICULAR
Direção Espiritual
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S desde jovem pode — Ao iniciar seu trabalho, deve
tirar muito proveito da direção es­ o diretor preocupar-se sobretudo
piritual, porém quando grande ser- com descobrir de que maneira e
Ihe-á mais difícil. Com efeito, com­ em que medida se pode despertar
preende que ela é útil para poder no nE-nA-S o gôsto e satisfação
conhecer-se bem e tornar-se me­ que proporciona a entrega a um
lhor; deseja-a mesmo periodicamen­ ideal elevado.
te (aqui se nota a influência de — Quando o nE-nA-S ofereça uma
sua secundariedade). esperança séria de êxito na vida
— Procura escolher seu diretor religiosa e no apostolado, mister
pelas qualidades sobrenaturais e por se torna ajudá-lo eficazmente, ser­
sua compreensão. Não é propenso vindo-se talvez de algum bom exem­
a críticas e murmurações sôbre o plo notório na comunidade. Êste
diretor espiritual. trabalho é de capital importância
— No que diz respeito à confis­ se o nE-nA-S é ainda muito jovem.
são, compreende que o pecado é — Portanto, exercitá-lo com obras
uma desordem no plano estabeleci­ que lhe desenvolvam o sentido da
do por Deus. obediência por amor e a aceitação
de uma responsabilidade que o com­
Negativas: prometa sobrenaturalmente. Tanto
— Instintivamerte não sente gran­ quanto possível vigiá-lo mui de per­
de estima pela direção espiritual em to, para descobrir até onde che­
si mesma, não lhe vê a conve­ ga sua inércia (mesmo informan­
niência nem lhe concebe a neces­ do-se mui delicadamente sôbre sua
sidade. Talvez por ser muito ater­ primeira infância e o ambiente fa­
rado às suas idéias, e isto, como miliar) ; e logo deduzir em que
é lógico, significa grave dificulda­ ocupação pode desenvolver-se com
de para tentar mudar-lhe a ma­ maior rendimento. Será a melhor
neira habitual de viver. maneira de prepará-lo para se tor­
— No que tange à acusação dos nar um religioso, senão no sen­
pecados na confissão, não sente a tido integral, ao menos equilibrado
verdadeira dor de contrição, e fá- em suas manifestações e atuações.
la por costume. — O diretor espiritual deverá in-
teressá-lo expondo-lhe ideais apro­
priados para êle, como também já
se disse para o amorfo. Incenti­
vá-lo muito com o fim de lhe de­
monstrar que também êle, não
obstante sua debilidade, pode con­
seguir santificar-se; que deve ter
muita confiança na bondade e mi-

141
sericórdia de Cristo, que é a base
de sua oração, segundo a bela ex­
pressão de S. João: "E-cce quem
amas infirmatur” (Jo 11,3).
— Também êle, se tiver confiança
em Cristo e amor a Êle, poderá
curar-se de suas debilidades, e até
ressuscitar para uma nova vida es­
piritual.
— No tocante ao sacramento da
confissão, fazer-lhe compreender
que não basta ter o conceito de
que o pecado é uma desordem
em relação à lei, mas de que, so­
bretudo, é êle um desprezo do
amor de Deus e uma ofensa à
sua infinita bondade.
— Todo pecado pessoal, por secre­
to que seja, tem uma repercussão
sôbre a vida espiritual dos ou­
tros: todo o Corpo místico res­
sente-se dêle.

Piedade
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S segue facilmente os — Há que aproveitar sua prefe­
outros na oração, e também é ca­ rência pelo que é habitual, para
paz de seguir com fidelidade um lhe dar a conhecer, antes que na­
método de oração. da, um bom método de oração e
uma organização vital, não forma-
Negativas: lista, da piedade: que ponha nela
— Não tem fervor interior, nem tôda a vida de sua alma, e não
iniciativas, sobretudo para rezar a reduza a uma simples recitação
pessoalmente. vocal de algumas orações.
— Acostumá-lo a orações nas quais
peça pelos outros ou se ofereça
a si mesmo a Deus.
— Apresentar-lhe:
DEUS sob o aspecto da bon­
dade, como misericórdia e verda­
deiro refúgio dos miseráveis e dos
pecadores; ou também como Deus
criador e providência do m undo1;

1 Nem sempre convém falar ao jovem nE-nA-S de Deus como


“Pai”, porque lhe poderia recordar a severidade ou a falta de com­
preensão e de afeto que encontra em seu pai carnal; coisa que na
maioria das vêzes constitui a verdadeira causa pela qual o rapaz
nE-nA-S adota uma atitude hostil a qualquer forma ou manifestação
de afeto ( N o y e l l e , op. cit., p. 26).

142
JESUS CRISTO como Media­
dor, Salvador dos pecadores e con­
solador dos aflitos e dos neces­
sitados: "Ad quem ibimus? Verba
vitae aeternae habes” (Jo 6,69);
NOSSA SENHORA como Mãe
de misericórdia, terna e solícita,
co-redentora do gênero humano.
Ascética
Positivas: Formação:
— Como S, o nE-nA-S tem o sen­ — Já que o nE-nA-S, por causa
tido dos valores e também das de sua inércia, tem tendência a
metas remotas e difíceis. Tem cer­ se anquilosar antes que a se ele­
ta inclinação para a mortificação var acima das' coisas terrenas, o
e para a inibição. diretor espiritual e o superior de­
vem industriar-se para suscitar nêle
Negativas: um interêsse proporcionado às suas
— E’ indolente, não quer que lhe possibilidades, de tal maneira que
alterem sua forma de vida, as o estimule a se esforçar e a fa­
mais das vêzes vulgar. Carece de zer algo por sua própria santifi­
entusiasmo. Domina-o certo egoís­ cação. Após haver-lhe mui delica­
mo, é demasiado introvertido, fe­ damente mostrado o lado fraco de
chado e dobrado sôbre si mesmo. seu caráter, fazer-lhe compreender
E’ duro no trato e às vêzes pode — sem desanimá-lo — que também
chegar a ser cruel. êle pode corrigir-se e progredir
muito na vida espiritual. Fazer-lhe
compreender que a secundarieda-
de para êle constitui uma verda­
deira fôrça espiritual: isto animá-
lo-á e lhe infundirá confiança. Por­
tanto, convém que realize freqfien-
tes atos de virtude; buscar a ma­
neira de transformar sua inibição
instintiva em atos de vontade que
imperem em face do mal. Sua ten­
dência natural para uma espécie
de mortificação poderá ser fàcil-
mente elevada a verdadeira virtu­
de de mortificação.
— Fazer-lhe adquirir hábitos bons
nos distintos campos das virtudes;
proceder de forma que se habi­
tue a vivê-las profundamente, e não
apenas a exercê-las maquinalmente.
Vida religiosa
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S possui um claro sen­ — Apresentar-lhe a vida religiosa
so do dever e fàcilmente se adapta não como um refúgio cômodo por
a uma vida regular, uniforme e si­ uma parte, nem como um ideal de­
lenciosa. masiado elevado por outra, e, por-

143
Negativas: tanto, impossível de realizar, por
— Não há nada que o atraia à estar fora do alcance de suai for­
vida religiosa, nem como ideal nem ças; mas sim como uma ajuda
como apostolado organizado. Sua eficaz para desenvolver e valorizar
inclinação a agir maquinalmente, suas boas qualidades.
por hábito apaga nêle todo ideal — Na vida religiosa encontrará
interior. um ambiente cálido de amor so­
brenatural, com irmãos dispostos
a ajudá-lo e a ampará-lo no tra­
balho de sua santificação. Se o
nE-nA-S recebe desde seu ingres­
so em Religião esta impressão fa­
vorável, pouco a pouco abrirá seu
coração ao amor de Deus e do
próximo.

Pobreza
Positivas: Forma(ão:
— Não é propenso a gastar ou a — Fundamentàr sua formação, no
esbanjar, sendo, como é, por natu­ que se refere à pobreza, sôbre as
reza, propriamente conservador e boas qualidades que tem, de leal­
amante da poupança. dade e honradez. Combater-lhe enèr-
— Instintivamente possui uma acen­ gicamente a avareza instintiva. Fa­
tuada inclinação para se compor­ zer-lhe compreender o valor da po­
tar honrada e lealmente. breza evangélica, que exige não
somente um reto uso dos bens
Negativas: terrenos segundo a Regra, mas so­
— Por outra parte, porém, com bretudo o desprendimento verdadei­
freqüência êle é desmedidamente ro e sincero do coração em re­
apegado ao dinheiro, até chegar a lação a êles.
ser avarento. — Acostumá-lo, como se indicou
— Facilmente perde muito tempo. para o amorfo, a não perder tempo.

Castidade
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S, como já se disse, — Iniciar sua formação na casti­
experimenta a influência benéfica dade fazendo-o experimentar suas
de sua secundariedade também em boas qualidades naturais. Isto dis-
relação aos prazeres sensíveis: real­ pô-lo-á muito bem para a prática
mente, quase não sente inclinação desta virtude.
para êles, especialmente para os — Vigiá-lo especialmente no que
prazeres do sexo. se refere à formação de seu mun­
do sentimental, de modo que sai­
Negativas: ba a tempo disciplinar as primei­
— Porém, por várias razões (pro­ ras sensações da afetividade.
cedentes do ambiente familiar em — Por outra parte, convém ensi­
sua primeira educação infantil, ou nar-lhe uma maneira prática e vi­
do atavismo), também pode ter uma tal de se mortificar nos sentidos,
forte inclinação para o sexo, sob especialmente nos olhos e no tacto.

144
uma forma fechada, tenaz, espe­
cialmente de auto-sexualidade; com
a particularidade de que esta pode
manifestar-se mais tarde.
Obediência
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S propende a seguir — Na formação de sua obediência
fielmente o - regulamento; e, como há que se apoiar no sentido de
é muito leal, torna-se credor de honradez e de lealdade que êle
tôda confiança *: é isto uma con­ possui. O trabalho fundamental
sequência de sua secundariedade. para sua formação é lograr infun­
— Aceita a regra, e, portanto, a dir “sentimento” e “vitalidade" em
ordem dos superiores é para êle sua obediência mecânica. Deve con­
norma de disciplina, sob o aspecto vencer-se de que não há de obrar
do dever. à maneira de um «autômato, senão
que tôda a sua atuação há de ser
Negativas: o holocausto de uma vontade e de
— O obstáculo maior à prática da uma alma que ama.
obediência é, nêle, a não-ativida- — Ao lhe dar uma ordem, fazer-
de, que o levará a não fazer na­ lhe compreender que se tem con­
da. . . ; outro obstáculo é a sua fiança nêle e que êle é apreciado
tendência à teimosia. pelo sentido de responsabilidade e
do dever que demonstra ter.
— E’ também aconselhável deixar-
lhe certa margem de liberdade na
execução das ordens recebidas ou
na observância da Regra; desta ma­
neira ir-se-á despertando nêle o sen­
so. de responsabilidade pessoal e
o do dever fielmente cumprido por
amor.

Vida de comunidade
Positivas: Formação:
— O nE-nA-S é calmo, silencioso, — Empenhá-lo, desde o início de
pacífico, e geralmente não se intro­ sua formação, em sair de si mes­
mete nos assuntos alheios. mo, dando-lhe ocasião de praticar
atos de caridade em favor de seus
Negativas: irmãos, e de despertar em si o
— Mas, de outra parte, é dema­ sentimento da compaixão pelos que
siado solitário, fechado em si mes­ sofrem ou necessitam de ajuda.
mo, melancólico, taciturno e frio. Por outra parte, há que «fercá-
E’ prevalentemente egoísta e bas­ lo de atenções afetuosas com amor
tante preocupado só consigo mesmo. sobrenatural, de compreensão que
— E’ preguiçoso e presta-se mui­ lhe faça sentir a beleza da vida
to pouco a ajudar os outros. em comurh e assim o prepare, in­
diretamente, para o aposto'ado
social.

* Cf. C a r n o i s, op. cit., p. 55.

Caracterologla — tO 145
— Êste trabalho formativo requer
muita paciência da parte do edu­
cador, já que o nE-nA-S, se é len­
to em compreender e se conven­
cer, ainda mais o é em praticar
suas atividades.

Apostolado
Positivas: Formação:
— Para o que se refere ao apos­ — Para formá-lo nas várias obras
tolado, a única qualidade boa do de apostolado tanto religioso como
nE-nA-S ainda é também a se- sacerdotal, é preciso começar des­
cundariedade, que lhe facilita o de o primeiro momento de seu in­
sentido do dever fielmente cumpri­ gresso na vida religiosa; bastará
do, de disciplina, de honradez e de confiar-lhe qualquer trabalho na co­
lealdade. munidade ou fora deía: por exem­
plo, ensinar catecismo, colaborar na
Negativas: A. C. , ou numa paróquia. Isto ir-
— Infelizmente, a indolência é o llie-á dispondo a alma e ajudá-lo-á
seu grande obstáculo para o apos­ a adquirir o senso de responsabi­
tolado: não vê nêle nenhuma sa­ lidade e de iniciativa, como tam­
tisfação, nem lhe compreende a ne­ bém de colaboração e submissão
cessidade; carece de iniciativas, e às ordens dos superiores."
tampouco tem vitalidade nem for­ Por outra parte, é também opor­
taleza para fazer frente às difi­ tuno colocá-lo em companhia de
culdades de tôda obra de apos­ outros para trabalhar em equipe,
tolado. quer nos estudos, quer no jôgo,
etc., de modo que êle considere
a necessidade de colaborar com in­
teligência e fervor numa obra co­
mum, e se sinta cercado do afeto
que tanta falta lhe faz.

CONCLUSÃO
De quanto foi dito ressalta claramente que o nE-nA-S é,
depois do amorfo, o caráter que mais notas negativas tem;
contudo, não se deve ser pessimista a seu respeito. Se êle fôr
guiado devidamente, com doce compreensão e sobretudo com co­
ração paterno, pode abrir-se a uma vida, senão de todo cheia
de luz e fervor, ao menos digna de consideração e de apreço.
O segredo de seu êxito estriba-se especialmente na for­
mação da vida espiritual e no ambiente em que deve viver.
Dado que em seu interior não existe nada que o empurre para
a ação, haverá que estimulá-lo por meio de elementos externos.
Segundo sua capacidade e pouco a pouco, há que lhe ir insi-*
* Cf. G r i é g e r, Caract. et Voc., pp. 121-122.

146
nuando maneiras com as quais possa pôr em jôgo sua emo­
tividade e atividade no duplo plano humano e sobrenatural.
Quando tiver despertado da letargia em que naturalmente vive
e se der perfeita conta de que só os que trabalham é que se
fazem merecedores de recompensa — como os operários da
undécima hora, ou aquêle que soube fazer render os dois ta­
lentos recebidos, e que receberam a mesma recompensa e o
mesmo louvor que os que haviam trabalhado o dia todo ou o
que havia recebido cinco talentos — o nE-nA-S, apesar de seus
modestos dotes naturais, se os empregar como deve, sob o in­
fluxo da Graça, receberá de Deus a recompensa e o louvor que
durarão eternamente. E esta será a maior recompensa e satis­
fação para seus educadores.
— Também o modesto caráter nE-nA-S tem dado seus santos
à Igreja.
Exemplo: S. José de Cupertino.

10» 147
CAPITULO XV

ORIENTAÇÕES PRATICAS
PARA O TRABALHO DO DIRETOR
L e S e n n e ' afirma que uma das mais úteis aplicaçõps
da caracterologia é a formação de “guias capazes” para pre­
venir os indivíduos enquadrados num determinado caráter con­
tra os perigos que o próprio caráter pode encerrar, ou para
aplicar os remédios ou processos aos quais pode recorrer não
só para evitar os perigos como também para obter um maior
rendimento de suas boas qualidades caracterológicas, valorizan-
do-as ao máximo, e desta maneira poder conseguir a forma­
ção de uma personalidade no pleno sentido da palavra.
Nenlium Santo houvera podido alcançar o grau de perfei­
ção a que chegou se não tivesse tido ajuda de educadores e,
sobretudo, de um guia espiritual capaz, que Deus lhe pôs no
caminho da vida. Pudemos comprovar como todos os caracte­
res têm dado os “seus” santos à Igreja.
Parece, pois, oportuno, chegados ao final deste estudo, ofe­
recer aos Sacerdotes e Religiosos — precisamente para lhes faci­
litar a altíssima tarefa de “guias espirituais” — unia breve
visão sobre as qualidades e deficiências inerentes ao caráter
do próprio diretor: a fim de que cada um, conhecendo a fundo
suas próprias possibilidades, possa, na prática, aproveitar-se mais
e melhor de umas e eliminar outras, com maior aproveitamento
das almas por êle dirigidas.
Assim, pois, consideraremos esquemàticamente os seguintes
pontos para cada um dos caracteres:
1. O primeiro encontro do Diretor Espiritual com o sujeito
que se põe debaixo de sua direção.
2. Suas aptidões para a direção individual.
3. Suas aptidões para a direção coletiva.
4. Breve conclusão.1
1 Op. cit., p. 282.

148
O DIRETOR ESPIRITUAL E-nA-P *

1’ Primeiro encontro
Em geral é bom: sua personalidade facilita o primeiro
contacto; brilhante, simpático, afetuoso, sadiamente original, de
palavra fácil, conquista ràpidamente os corações.
2o Aptidões para a direção espiritual individual
Corrfe o risco de não se manter assim nos dias sucessivos e
de ser menos acolhedor. Sua primariedade emotiva, em ime­
diata comunicação e harmonia com o “dirigido”, percebe em
seguida afetivamente seus problemas; mas há perigo de que o
obrigue a passar por seus próprios sentimentos: para conse­
gui-lo, fala com muito apaixonamento, subjuga, não deixa falar
os outros; com a consequência de não compreender suficiente­
mente a quem tem diante. Talvez consiga entusiasmar especial­
mente os jovens com a pessoa de Jesus Cristo, porém tudo
ficará construído sôbre o fervor sensível mais que sôbre o es­
forço concreto e perseverante da ascética.
Não se pode qualificá-lo de moralista; dificilmente desce
às normas práticas: carece de precisão quando as expõe; nem
sempre é objetivo e claro; com freqüência é impulsivo, justa-
mente para suprir e compensar sua falta de autoridade.
Tampouco é prudente: por íxertiplo, para conseguir que
um jovem “resista e reaja” contra certas tentações, far-lhe-á
ler certos romances; e sucede que a reação, as mais das vêzes,
é bem diversa da que esperava. . . Mas sabe também, nos ca­
sos graves, desconfiar de si mesmo; e, se reflete longamente,
aclaram-se-lhe as idéias, e então sua atuação resulta mais eficaz.
Em sua direção conseguirá poucos frutos se o dirigido é:
—- um E-nA-P, por terem ambos os mesmos defeitos...
— um E-nA-S, porque não compreende a profundidade de seus
sofrimentos e não terá a paciência e a constância para resol­
ver seus problemas interiores;
— um E-A-S, porque êste requer que seu diretor possua .idéias
muito claras, princípios bem sólidos e constância no método
que adote;
— um E-A-P, um nE-A-P e um nE-nA-S, porque para todos
êstes faz-se mister muita paciência, constância e firmeza para
! Cf. J a c q m i n ; Simoneaux; Noyelle; Griéger ( Caract.
et V oc.);C a r n o i s, op. cit.
passim.

149
lhes infundir, conforme o caso, emotividade, atividade, e sobre­
tudo vida interior e profunda unidade entre piedade e ação.
Sua direção, ao contrário, pode obter êxito e ser muito útil
justamente ao fleumático nE-A-S, que é quem está em melho­
res condições de apreciar as idéias geniais de seu diretor
nE-A-P e também de lhe amar o entusiasmo. J
3? Direção coletiva
Em geral desenvolve-se melhor. Sabe captar, efetivamente,
os problemas de um determinado grupo, e logo encontra sua
solução teórica. Quanto à sua organização material e prática,
tem necessidade de um auxiliar eficaz que saiba executar seu
projeto e realizar o ideal que havia concebido.
Com sua intuição e sua habilidade, sabe criar um nexo
íntimo entre os dotes humanos e seu desenvolvimento sobre­
natural.
4’ Conclusão
Seu dinamismo e sua pessoa (que se faz naturalmente sim­
pática) podem exercer benéfica influência, especialmente na vi­
da espiritual dos jovens. Mas não é êle um “diretor” no ver­
dadeiro sentido da palavra, enquanto não houver conseguido
formar para si mesmo uma profunda vida interior que lhe trans­
forme a personalidade; só assim estará em condições de abrir
às almas que dirija os vastos horizontes da vida espiritual.

O DIRETOR ESPIRITUAL E-nA-S '

D Primeiro encontro
Em geral é para êle o mais difícil e às vêzes lhe resulta
também penoso, porque chega a experimentar certo nial-estar
sempre que se apresenta a outra pessoa, pela dificuldade que
tem em sair de si mesmo, devida a êsse sentimento de inse­
gurança que sempre o acompanha. Em alguns casos, pelo es­
forço que faz para superar êstes defeitos, pode assumir uma
atitude forçada e pouco natural.

’ Cf. N o y e 1 I e, op. cit., p. 34.


‘ Cf. J a c q m i n ; S i m o n e a u x ; N o y e l l e ; Oriéger ( Caract.
et Voc . ) ; C a r n o i s, op. cit. passim.
150
2* Aptidões para a direção individual
Num segundo tempo, vencida a primeira dificuldade, pode
converter-se num ótimo diretor, mormente se consegue estabe­
lecer uma relação de íntima confiança cdm o “dirigido”. Com
efeito:
— compartilha afetiva e efetivamente suas penas e seus proble­
mas. Graças à sua vida interior não dá conselhos impessoais,
frios, senão que realmente vive e sente tudo o que diz, como
pessoalmente experimentou: em suma, irradia o calor de sua
vida íntima. Desta maneira, facilmente consegue sintonizar-se
com as almas:
« 7
— dá grande importância à vida moral (devido a seu gran­
de desejo de purificação); inculca, porém, muito mais a vida
interior do que o exercício do apostolado;
— sem embargo, se não toma cuidado, pode expressar-se de
uma maneira obscura; tampouco consegue corrigir os escrupu­
losos, já que êle próprio é propenso aos escrúpulos, por não
se sentir seguro em seus próprios juízos. Nem sempre possui
espírito prático e justa objetividade.
Seu defeito mais grave é o intenso afeto com que se vin­
cula a todos aquêles que dirige, de onde lhe nasce uma exa­
gerada suscetibilidade, que o faz sensível à menor mostra de
indelicadeza, especialmente se algum de seus dirigidos o aban­
dona e escolhe outro diretor.
Sua direção resultará eficaz para:
— um E-nA-P, que, por ser também Emotivo, admira-lhe a
delicadeza, profundeza e constância, de que tanta necessida­
de sente;
— um E-A-S, que busca uma profunda vida interior, levada com
seriedade, e tudo isto se lhe afigura encontrar com plena sa­
tisfação em seu diretor E-nA-S;
— um E-A-P, quando êste houver compreendido o valor e o
bem imenso que lhe provém da profunda vida espiritual de seu
diretor, a qual unificará e vivificará sua exuberante atividade;
— um tiE-nA-S, ao qual sua compaixão, em alguns casos qua­
se maternal, e seu amor sacerdotal encherão de cálido afeto o
coração vazio de todo sentimento. Porém neste caso deverá o
diretor E-nA-S esforçar-se por não desanimar nunca, sobretudo
nos primeiros momentos, em face da apatia de seu dirigido,
senão que há de saber esperar.

151
Ao contrário, sua direção não obterá quase êxito para:
— um nE-A-P, um nE-A-S, porque não o compreenderão, por
causa de sua discreta reserva, efeito de sua emotividade
interior. . .
um nE-nA-P, porque o desanimará por causa da superficia­
lidade que carrega inata, por sua preguiça e, muitas vêzes,
pela sua ingratidão;
— um E-nA-S, porque nem sempre terá a fôrça de vencer o
pessimismo, a desconfiança e os escrúpulos que descobrirá nêle. *

3? Direção coletiva
O diretor E-nA-S não se sente atraído para ela, antes lhe
tem certo temor e procura reduzi-la o mais possível à forma
individual: dá-se o que fazer para formar um pequeno grupo
de escolhidos a fim de atendê-los melhor e de os seguir mais
de perto: em geral inclina-se bastante ao paternalismo. Busca
a maneira de converter a obra em “algo seu”, pessoal, sem
intervenção de ninguém.
Teme a desconfiança e a crítica: se chega a saber de que,
por exemplo, alguém do grupo o criticou, logo desanima e, em
algum caso, se irrita...
4? Conclusão
Está mais bem disposto para a direção individual do que
para ,a coletiva. Com efeito, exerce um forte atrativo nas almas
por sua dignidade, discrição, seriedade, e sobretudo por sua
vida interior, a qual produz notável efeito sôbre quem quer
que dêle se acerque.
Se consegue dominar sua timidez e sua maneira de ser
tão reservada, e se chega a ser mais decidido e exigente, pode
tornar-se um diretor de almas excelente.

O DIRETOR ESPIRITUAL E-A-P ‘

1? Primeiro encontro
E’ positivo e eficaz, porque é cordial, expansivo, otimista:
sua pessoa atrai e prende; conquista logo a confiança.
* Cf. N o y e 11 e, op. cit.. p. 40.
*Cf . J a c q m i n ; S i m o n e a t i x ; N o y e l l e ; Griéger ( Caract.
et Voc . ) ; C a r n o i s, op. rit. passim.

152
2? Aptidões para a direção individual
Gosta de dirigir as almas, porém como uma atividade mais
de apostolado; exige o interêsse pela ação, e insiste muito sô-
bre a formação e responsabilidade “pessoal”, antes que sôbre
a formação para a vida interior. Não possui uma fina e justa
intuição psicológica (talvez porque seja demasiado otimista); e
nem sempre é constante em sua maneira de dirigir. Em geral
insiste mais na amizade com Cristo que na fuga do pecado, po­
rém naturalmente uma amizade que comprometa de verdade,
que exija trabalho, sacrifício, pureza. Busca, porém, resultados
positivos, imediatos; carece de constância no trabalho da dire­
ção espiritual das almas, em segui-las e saber esperar; cansa-
se logo e muda com frequência as diretrizes que havia adotado
(também nisto é p rim ário ...).
Sua direção será eficaz para:
— um E-nA-P, com quem coincide em dois elementos funda­
mentais, sempre que conseguir fazer-lhe pôr em prática os pro­
jetos e idéias de santificação com que sonha o E-nA-P. Neste
caso teremos nêle o melhor diretor para um caráter nervoso;
— um E-A-P, porque tem o mesmo ideal de generosidade e de
amor pessoal a Jesus, porém deve vigiá-lo, com o fim de in­
fundir estabilidade e unificação à sua vida interior e a seu
apostolado;
— um E-nA-S, ao qual pode fazer muito bem se conseguir co­
municar-lhe algo de sua própria atividade, mas sem lhe exigir
demasiado, porque então o desanimaria ( N o y e l l e ) ;
— um E-A-S, que o admirará por sua simplicidade e entusias­
mo, que lhe suavizarão a austeridade;
— um nE-A-P, na medida em que saiba inculcar-lhe uma espi­
ritualidade de ação; por isto, deverá insistir com êle sobretudo
no amor pessoal a Deus e a Jesus.
Pelo contrário, sua direção dificilmente será eficaz com:
— um rtE-A-S, o qual não lhe compreenderá o entusiasmo nem
o ardor apostólico; sòmente captar-lhe-á alguma das gran­
des idéias;
— um nE-nA-P e um nE-nA-S: porque não terá a constância
e a paciência de os seguir para lhes vencer a preguiça e a
insensibilidade.

153
3" Direção coletiva
E’ o campo de ação onde êle é mais bem sucedido. Sua
atividade encontra aqui amplo desafogo: insistirá no espírito
de equipe para a ação, e saberá infundir, especialmente entre
os jovens, entusiasmo e generosidade; conseguirá que o grupo
inteiro tome resoluções concretas.
Lamentavelmente, é propenso a dominar e a buscar a po­
pularidade. . .
4? Conclusão
Se o E-A-P conseguir formar-se bem na constância e so­
bretudo numa vida interior séria, poderá vir a ser, também êle,
um magnífico diretor espiritual, particularmente no que se re­
fere a uma espiritualidade de ação.

0 DIRETOR ESPIRITUAL
i E-A-S 7

1’ Primeiro encontro
Em geral é bom. O E-A-S é simples, reto e afetuoso, e
por isto é imediato o entendimento com o dirigido; porém cor­
re o perigo de que inspire a este último um certo temor, por­
que não tarda em advertir nêle, em pouco tempo, “um caráter”.
Como também pode suceder que, se está preocupado com algum
assunto importante ou urgente, receba com certo ar apressado,
que suscita um pouco de perturbação e quiçá de desconfiança,
em quem dêle se aproxima pela primeira vez.
2? Aptidões para a direção individual
Toma muito a sério o dever da direção e cumpre-o real­
mente com toda fidelidade. Nasceu para comandar e guiar.
Aplica-se muito e logo compreende os problemas: é psicólogo
e possui muito critério; seu juízo é objetivo e seguro: colige
os elementos e expõe com clareza e decisão suas orientações.
Existe, todavia, o perigo de que queira impor suas pró­
prias convicções. E’ muito exigente, e, portanto, talvez desanime
em alguns casos; é propenso a abandonar a quem não o se­
gue. Se não toma cuidado, facilmente pode cair num certo to­
talitarismo.
' Cf . J n c q m i n ; S i m o n e a u x ; N o y e l l e ; Oriéger ( Caract.
et Voc . ) ; C a r n o i s, op. rit, passim.

154
Sua direção será eficaz para:
— um E-A-S: com a condição, porém, de que tenda ao sobrena­
tural, do contrário pode resultar contraproducente, porque pode
incentivá-lo a seguir suas inclinações, sem lhe corrigir os
defeitos;
— um E-A-P, porque o estimulará à constância e à vida interior;
— um nE-A-P, porque lhe infundirá uma certa afetividade ín­
tima e lhe fará compreender a importância, antes a necessidade,
da constâncja e da compreensão dos outros;
— um E-nA-S, se com suma delicadeza logra merecer sua con­
fiança, porque o inclinará à generosidade, à virilidade e à ação
apostólica. Neste caso, é o diretor ideal para o E-nA-S;
— um nE-A-S, porque desenvolverá maiormente nêle a ampli­
tude de sua mentalidade e também em boa parte lhe alargará
os limites do coração;
— um E-nA-P, se consegue convencê-lo de que há de viver efe­
tivamente o dom que de si mesmo fêz a Deus; porém existe
o perigo de que, se fôr demasiado exigente, o E-nA-P desanime.
Sua direção, todavia, encontrará dificuldades com:
-— um nE-nA-P e um nE-nA-S: estão-lhe demasiado afastados
psicologicamente, e -a conseqüência (sobretudo se não fôr mui­
to inclinado ao sobrenatural) poderá ser que comece a des­
prezá-los e logo os abandone. Ao contrário, se chega a se preo­
cupar sèriamente com êles, poderá fazer-lhes muito bem, e não
só a êles (a quem reabilitará na medida em que seja possível)
senão também a si mesmo (tornando-se mais compreensivo e
compassivo). ’

3" Direção coletiva


Tem qualidades suficientes para dirigir perfeitamente qual­
quer obra de apostolado: compreende com consciência suas
exigências, os fins de uma associação, e faz-se respeitar e obe­
decer: aqui sobretudo revela-se seu “instinto” de “chefe”. O
defeito a que está exposto, como já dissemos, é o de querer
dirigir tudo pessoalmente: tem pouco desenvolvido o sentido da
comunidade e, portanto, da colaboração: pràticamente a obra
é “sua” ; em outras palavras: a obra é êle mesmo.•

• Cf. N o y c 11 e, op. cit., p. 47.

155
4? Conclusão
Se satura sua vida de um profundo sentido sobrenatural,
a cujo serviço ponba eficazmente todas as suas faculdades, sem
dúvida virá a ser o melhor diretor espiritual.
De feito, dá muita importância ao esfôrço ascético e mo­
ral; sabe também dar a -seus dirigidos uma formação dogmá­
tica e afetiva. Talvez incorra no defeito de descurar o cultivo
das virtudes passivas e de conceder prioridade às ativas: dá
mais importância ao serviço de Jesus Cristo do que à ado­
ração, à contemplação e à oração desinteressada que conduz ao
holocausto da Cruz. Procure não fundamentar a formação es­
piritual somente na vontade ou no humanismo (desenvolvimento
das qualidades humanas).

O DIRETOR ESPIRITUAL nE-A-P 0

1? Primeiro encontro
E' bom: sua pessoa primária e extrovertida torna-o aces­
sível aos outros. E’ simples, otimista e sociável: tudo isto tor-
na-o também simpático.
2° Aptidões para a direção individual
Num segundo tempo, porém, sucede justamente o contrário
que ao E-nA-S (cuja fórmula é antitética). Quase sempre o re­
cíproco entendimento do primeiro encontro vai decrescendo: o
nE-A-P não sente nenhuma atração para as almas que dirige,
já que de per si não busca o afeto das pessoas, mas sim seu
rendimento. Até nisto mostra-se utilitarista.
Sua direção corre o perigo
I) De não saber adaptar-se devidamente aos caracteres que
são algo complicados: passa de lado às inquietudes íntimas dos
outros. Dir-se-ia que lhe falta u ma . verdadeira personalidade
espiritual.
II) De ser demasiado propenso ao ativismo; esquiva-se,
muitas vêzes, de se pôr à disposição dos outros, com a escusa
de suas múltiplas ocupações. Vai em busca de resultados ime­
diatos, custa-lhe adaptar-se e não sabe esperar.

"Cf. J a c q m i n ; Simoneaux; Noyelle; Griéger ( Caracl.


et Voc.) ; C a r n o i s, op. rit. passim.
CÍ. N o y e l l e , op. cit., p. 52.
III) De se contentar com pouco quando se trata de um
trabalho de índole espiritual, porque da mesma maneira que
é pouco exigente consigo mesmo, também o é com os outros.
Possui uma consciência moral muito larga, o que repercute em
seus conselhos. Induzirá pouco à ascética e, ao contrário, mui­
to à espiritualidade de ação. Porém tem de bom que, como
é muito objetivo, capta fàcilmente os defeitos alheios e encon­
tra maneiras concretas de corrigi-los.
Sua direção será eficaz para:
— um E-nA-P: se êste fôr muito jovem; mas não para um
adulto, que logo notará nêle a falta de sentimento. Mesmo assim,
poderá ser também útil a êste último se conseguir frear-lhe a
emotividade e estimulá-lo a uma maior atividade;
— um E-A-P: sua influência será mais pròpriamente superfi­
cial, porém poderá servir-lhe para frear sua impulsividade
instintiva;
— um E-A-S: se é jovem, porque poderá encaminhá-lo bem e
valorizar-lhe as muitas qualidades positivas. Um E-A-S adulto,
ao contrário, não se dará bem com êle;
— um nE-A-P: se êle próprio conseguir superar sua frialdade,
poderá formá-lo numa vida interior profunda;
— um nE-A-S: não lhe será de todo fácil, dado que êste é
muito exigente intelectualmente; mas poderá ajudá-lo a conquis­
tar a simplicidade interior e a ter um sentido mais profundo
e exato do real;
— um E-nA-S: se êste conseguir superar a dificuldade que ex­
perimenta em face da frieza de seu diretor nE-A-P, poderá
formá-lo fàcilmente e insinuar-lhe como simplificar a vida in­
terior, comunicar-lhe-á otimismo e uma maior atividade.
Sua direção, pelo contrário, não resultará eficaz para:
— um nE-nA-P e um nE-nA-S: porque não tem a perseveran­
ça e a paciência necessárias para os fazer corrigir-se de seus
graves defeitos, que em parte são naturais. Poderia fazer-lhes
bem se conseguisse introduzi-los num grupo de almas fervoro­
sas ( N o y e l i e ) .
3’ Direção coletiva
E’ seu campo de ação preferido, e nêle realmente sai-se
bem. Apresenta-se como educador e organizador realista, que
se compraz em empenhar-se para a formação e a ação coleti­
va, que êle acompanha com interêsse, a ponto de lhe despertar
certa emotividade.

157
4? Conclusão
Como se viu, o nE-A-P é pouco apto para a direção es­
piritual individual, mas pode subsanar êste defeito preocupan-
do-se intensamente com sua vida interior, já que sua objetivi­
dade e seu realismo, com o fino sentido de observação que o
distingue, podem ajudá-lo muito na direção das almas. E’ um
caráter apropriado para a direção de obras apostólicas em qual­
quer campo.

O DIRETOR ESPIRITUAL nE-A-S ”

1° Primeiro encontro
E’ bastante bom, porque sabe acolher, senão com coração
na mão, ao menos com muita largueza de critério e com certo
otimismo. Sua dignidade, simplicidade e veracidade logo inspi­
rarão respeito e confiança. Pode, porém, suceder que sua na­
tural frieza possa afastar ou desconcertar um pouco, especial­
mente os jovens ardorosos e cheios de vida.

2? Aptidões para a direção individual


Excele na técnica para a oração: insistirá nos diversos mé­
todos que se conhecem e sôbre a maneira de proceder ao exa­
me de consciência. E' mais moralista, em relação á ascética,
e menos inclinado à mística.
E’ objetivo, tem idéias claras, mas se sente que nêle a nota
dominante é a inteligência e não o sentimento. Uma qualidade
saliente nêle é que sabe escutar pacientemente, com calma, coi­
sa que satisfaz a muitas almas; depois responde brevemente,
com clareza e precisão.
Corre o perigo de proporcionar uma direção demasiado “vo-
luntarfsta” : fidelidade ao dever, à lei, por cima de tudo, etc.;
como também observa muito a tradição, ainda que não de for­
ma rígida; e, se compreende que existe um maior bem no nôvo,
como é sereno e objetivo a êle se não opõe, e renuncia ao pas­
sado. O defeito mais grave nêle é a excessiva preocupação pela
formação intelectual, com menoscabo da parte afetiva, a qual
também influi eficazmente na vida espiritual.
” Cf. J a c q m i n ; Simoneaux; Noyelle; Griéger (Caract.
ct Voe.) ',C a r n o i s, op. cil.
passim.
Sua direção será eficaz para:
— um E-nA-P: precisamente por se tratar de um caráter bas­
tante oposto, satisfá-lo à firmeza do diretor, sua objetivida­
de, suas idéias e suas diretrizes precisas. Mas o diretor nE-A-S
nem sempre chega a compreendê-lo e a lhe escusar a instabi­
lidade: há, portanto, o perigo de que não o ame e o descuide
mais tarde;
— um E-nA-S: sér-lhe-á muito útil, porque o compreende, ain­
da que demasiado intelectualmente, por causa da seriedade com
que ambos afrontam os problemas. Assim, o E-nA-S, apenas
haja logrado inspirar-lhe confiança, habituar-se-á a ser transpa­
rente ao diretor e poderá compreender a necessidade da .constân­
cia em tôdas as ações, e aprenderá também a ser mais otimista;
— um E-A-P: porque, infundindo-lhe convicções sólidas e lúci­
das, poderá unificar e organizar sua atividade. A fusão e com­
preensão dêstes dois caracteres poderá dar magníficos resultados;
— um E-A-S e um nE-A-S: porque toma a sério seus proble­
mas e os estuda em profundidade (coisa que êles procuram).
Proporciona-lhes uma direção baseada numa doutrina sólida e
viril. Há, sòmente, o perigo de que não modere bastante a ten­
dência para acentuar o voluntarismo no E-A-S, e de que não
atenda ao desenvolvimento da emotividade no nE-A-S;
— um nE-A-P: porque êste admirará a coerência de seu dire­
tor, que obra tal como fala, e porque o manterá numa atividade
regular, já que não raro lhe falta e é tumultuária. Também
existe o perigo de que o nE-A-P experimente, com o tempo,
uma espécie de incompatibilidade de caráter com êle, e ache
a direção demasiado rigorosa e portanto cansativa;
—- um nE-nA-P e um nE-nA-S: porque, com sua maneira de
ser tão objetiva, com seus equilibrados conselhos e a forma de
exigir — com calma e quase friamente — é sem dúvida o único
diretor espiritual que pode trabalhar com verdadeira eficácia
êstes dois caracteres que chamamos “pobres” : com efeito, com
suas idéias claras pode fàcilmente dissipar tôdas as debilida-
des do amorfo e a superficialidade do apático, mormente se
conseguir colocá-los a ambos num ambiente adaptado à sua
psicologia pessoal, que favoreça o desenvolvimento de algumas
virtudes elementares, de cuja falta padecem. Existe, todavia,
o perigo de que lhes inspire um certo desprêzo quando não lhe
cumpram os conselhos (N o y e 11 e).

159
3? Direção coletiva
E’ hem sucedido nela: como é um fino observador atento,
logo descobre onde há necessidade de uma obra de apostolado.
Com idéias claras e meios práticos, sabe organizá-la como con­
vém. Tem, além disto, a estimável qualidade de se saber ro­
dear de auxiliares escolhidos e capazes.
Quando se deu perfeita conta de sua deficiência afetiva,
sabe muito bem dar-lhe remédio recorrendo aos que o substi­
tuam neste aspecto, com o que cria um laço intimo entre êle
e os membros da obra que dirige, fazendo-a mais sólida e
eficaz.

4? Conclusão
O nE-A-S é um diretor prudente e perito; mas proporciona
mais luz (idéias) do que chama (amor).. Consegue, porém,
dadas as suas características psicológicas, não entibiar os ou­
tros e manter a boa formação daqueles que dirige.
E'-lhe mais apropriada a direção dos homens, e também das
mulheres e mesmo dos rapazes que necessitem de um apoio
estável e consistente; mas não tem tanto êxito na direção de
jovens fervorosos e cheios de ideais de apostolado.

O DIRETOR ESPIRITUAL nE-nA-P e nE-nA-S

Não vamos deter-nos demasiado nestes últimos caracteres,


porque, não estando perfeitamente disciplinados em sua forma­
ção, realmente é muito difícil que cheguem a ser sacerdotes ou
religiosos: pela mesma razão é óbvio que não têm qualidades
que lhes permitam exercer um ministério de tanta responsabi­
lidade como é a direção espiritual.
Pode, no entanto, suceder que, após um longo período de
educação e formação religiosa e sacerdotal, consigam corrigir-se
em grande parte de seus defeitos. Em tal caso, conforme se
haja desenvolvido nêles a emotividade e a atividade, de que
tanto necessitam, isto é, de modo que o nE-nA-P se tenha apro­
ximado ou do E-nA-P ou do nE-A-P, e o nE-nA-S do E-nA-S
ou do nE-A-S, então são mui valiosas para êles as breves in­
dicações dadas respectivamente para êstes quatro caracteres.

160
CONCLUSÃO FINAL
O modêlo perfeitíssimo do “caráter ideal” é, sem dúvida,
Jesus Cristo: e não podia ser senão Êle!
Le Senne 1 adverte, precisamente, que o verdadeiro caráter
perfeito deve ter como fôrça-base a emotividade; como fôrça-
motriz, a atividade; como armadura, a secundariedade; como con­
centração de tôdas as suas qualidades, a estreiteza do campo
de consciência.
Porém, para chegar a ter um caráter absolutamente per­
feito, tôdas estas qualidades devem complementar-se com ^uma
certa dose das tendências contrárias, que não deixam de ter
.também sua benéfica influência.
Com efeito, Jesus:
do emotivo possui a sensibilidade profunda, a doce ama-
bilidade, a franqueza, a acolhida fácil, simples, cordial: todos
se aproximam d’Êle com confiança, porque n’Êle encontram um
Coração aberto e sempre disposto a compreender, a socorrer:
crianças, doentes, publicanos e pecadores de tôda espécie. Pos­
sui, ademais disto, o sentido do belo e da natureza: os lírios
do campo, as messes doiradas, os pássaros, os olhos límpi­
dos das crianças fazem-no vibrar de emoção. E’ reflexivo, aman­
te da solidão, sério e grave; pensador profundo.
Porém não tem nenhum dos defeitos do emotivo, como se­
jam: a inconstância, a impressionabilidade, a irritabilidade, a
vaidade, o pessimismo e a tristeza que S. Paulo chama “huius
mundi”.
Do ativo possui o dinamismo prodigioso, a audácia equi­
librada, que subjuga e arrasta ao bem quantos tem ao redor:
é um Chefe que dá exemplo de amor e de abnegação até sua
morte na Cruz! Sente e comunica seu sadio entusiasmo, a cer­
teza do êxito, a segurança do triunfo final.
Mas não lhe tem nenhum dos defeitos, como seriam: a
inconstância e a perplexidade ante uma ação, a altivez, o or­
gulho, a violência e a vingança: aos Apóstolos que com Êle
instaram para que fizesse chover fogo sôbre uma cidade res-
pondeu-lhes: “Não sabeis de que espírito s o is ! ...”
Do não-Emotivo Jesus Cristo possui em grau elevado a
objetividade, o sentido da realidade, a prudência, a calma, a se­
1 Cf. V i e u j e a n, La Personne de Jésus, Louvain, Éd. de
l'A .C .J .B .; 1939, p. 69.

Caracterologia — 11 161
renidade. Mas não lhe tem a lentidão, a indiferença, o egoísmo
e a frieza.
Tôdas as suas reações espirituais se dão na justa medi­
da, no perfeito equilíbrio entre a primariedade e a secunda-
riedade: o que Lhe proporciona a intuição imediata de qual­
quer situação e a rapidez de solução de cada problema; por
outra parte, não lhe falta a constância, o domínio de si e a
fidelidade, que é expressão do Amor.
Ante a perfeição de todos os Seus dotes humanos, não
se pode deixar de exclamar — porém no mais alto e profundo
significado da expressão: “Eis o Homem!” . . . 1
* * *

O servo de Deus Monsenhor Carlos Eugênio de Mazenod,


Fundador dos Oblatos de Maria Imaculada, traçou-lhes a êstes,
na sua Regra, a síntese da espiritualidade Cristocêntrica, com
uma breve fórmula que encerra todo o programa de sua mis­
são como formadores: “Incessanter satagant in clericis Christum
formare, favente Immaculata Eius Matre” (Art. 62).
Outros muitos santos Fundadores, Bispos e venerados sa­
cerdotes têm indicado a seus filhos espirituais o mesmo ideal.
Tôda a pedagogia da Igreja através dos séculos não cessou
de ensinar e praticar o lema de S. Paulo: “Transformar-se
em Cristo” !
Porém transformar-se n’Êle quer dizer viver de amor e
no amor.
Todos os que se sacrificam pela formação sobrenatural dos
jovens outra coisa não fazem senão obra de amor: irradiam a
Caridade divina!

162
APÊNDICE

LINHAS MESTRAS
DA PSICOLOGIA MASCULINA E FEMININA’

Premissas Gerais
Quantos desgostos e quantos desequilíbrios na vida de uma
mulher, casada ou não, por causa de um homem, e vice-versa!
Por quê? Simplesmente por falta de recíproco conhecimento psi­
cológico. Em alguns casos tem-se uma reação demasiado in­
tensa, noutros a pessoa deixa “hipnotizar-se” . . .
Portanto, é necessário (também ao sacerdote) um estudo,
ainda que brevíssimo, para tornar sadio e sobrenatural o mi­
nistério sacerdotal com relação às mulheres.
O fundamento psíquico, o caráter e a mentalidade de um
homem são, sob certos aspectos, tão diversos dos da mulher,
que quase não se chegaria a crer que o homem tem a mesma
alma que a mulher. Porém isto è, falso. Não existem almas
masculinas e almas femininas, senão almas humanas.
“A capacidade e os modos de reação da vida psíquica mas­
culina e feminina derivam de sua correspondente natureza fí­
sica, dé modo que a alma criada diretamente por Deus e in­
fundida no germe vital terá uma vida e reagirá de modo mas­
culino ou feminino. A moderna biologia demonstra que os hor­
mônios secretados e transportados ao sangue por meio das
glândulas correspondentes determinam as reações, a capacidade,
os modos de obrar e as distintas inclinações de ambos os sexos.
Sirva de exemplo a comparação do músico que usa dois instru­
mentos diversos: a impressão que produz será também total-*
* Cf. Dr. R. K a n e l e M. D e l b r e l , La femme, le prêtre et Dieu;
P. S a u v a g e , La direction spirituette des femmes, in "Supplément de
la vie spirituelle”, n. 13, maio de 1950; D e ma l , Psicologia Pasto-
rale pratica, Ed. Paoline, “passim”; N i e d e r m e y e r , Compêndio di
Medicina pastorale, Torino, Marietti; J a c q u e l i n e V i n c e n t , Di­
rection spirituelle et psychologie, in “Études Carmélitaines”, 1950,
“passim”.
ii» 163
mente diversa conforme o instrumento que empregue” (D e m a I,
pp. 88-89).
Deus é quem estabeleceu a distinção psíquica dos sexos:
portanto, há que tê-la também em conta na ordem sobrenatural:
“gratia supponit naturam”. Daí que, em vez de suprimi-las, há
que cultivar e enobrecer, em sentido cristão, as disposições mas­
culinas e femininas, cada uma em suas próprias particularidades.
NOTA: A sexualidade não é diferenciação do ser, mas da
atividade e das aptidões mais profundas (os caracteres parti­
culares devem desenvolver-se normalmente, já que os quis Deus,
e servem para conservar a recíproca atração dos sexos).

PARTICULARIDADES PSÍQUICAS
O HOMEM A MULHER
Da narração bíblica já se deduz A mulher foi criada para ser a
que o homem tem uma primazia companheira do homem: integração
sôbre a mulher. e aperfeiçoamento.
— O homem existiu antes. — A mulher oferece-lhe continui­
dade.
O homem cria a idéia e dá o im­ A mulher realiza a idéia: é a exe­
pulso. cutora.
O homem faz novas aquisições. A mulher conserva e guarda.
O homem tem dotes para dar o A mulher realiza os trabalhos mais
máximo rendimento. monótonos e lentos.
O homem possui o talento cria­ A mulher é, em todo caso, um
tivo: quase tôdas as invenções e gênio secundário.
descobertas são suas. E' um gê­
nio primário.
O homem possui também o gênio A mulher tem sempre um gênio
criativo na arte. artístico muito inferior ao do
homem.
— Dominam nêle a inteligência e — Capta mais fàcilmente o sensí­
a fôrça lógica: pensa de maneira vel, do qual mui frequentemente é
clara, lógica e serena. E’ apto para prisioneira. Muitas vêzes seu ra­
a abstração, para o universal e ciocínio é ilógico e cheio de pre­
típico. conceitos. Porém é muito intuitiva.
Sua mente inclina-se marcadamente
para o concreto, para o particular.
Deixa-se levar pela paixão.
— O homem possui um sentido — A mulher, ao contrário, é subje­
mais claro do objetivo e do po­ tiva, pessoal.
sitivo.
— O homem domina a fantasia com — A mulher, ao invés, é domi­
a vontade. nada pela fantasia, que nela é mui­
to mais viva e exuberante.
— De tudo isto se depreende que, — De tudo isto deriva, ao contrá­
superando o sensível, o homem se rio, que seu pensamento se centra

Í64
guia pelas idéias universais e pelos nas coisas particulares, experimen­
conceitos; busca o essencial, e não tadas pessoalmente. Capta o par­
descansa até saciar seu inesgotá­ ticular. Seu desejo de saber não
vel desejo de conhecer e compreen­ busca a razão, não a leva a bus­
der as leis que ordenam o univer­ car o motivo ou a causa; senão
so; seu interêsse é sempre nôvo que quer uma experiência nova,
e se estende nas três dimensões, que se exprime na curiosidade e
com vastidão, profundeza e gran­ na busca do sensacional. Tem pou­
diosidade. Seu pensamento é fran­ cos alcances para a compreensão
camente discursivo. das leis do universo, como também
são muito escassas suas idéias uni­
versais. Possui, ao contrário, maior
capacidade de adaptação às situa­
ções particulares, e tem compreen­
são para as coisas íntimas, tanto
próximas como distantes (capta to­
dos os pormenores).
— Muitas vêzes perde a própria — A mulher possui um grande sen­
realidade por uma idéia. Sacrifi­ tido prático da vida. Sacrifica-se,
ca-se por unia idéia. não obstante, por “uma pessoa".
— Ao homem agrada o trabalho — A mulher, ao contrário, produz
independente, no qual seu rendi­ bastante num trabalho subordinado,
mento é máximo. porque executa fielmente tudo o que
lhe ordenam.
— O homem, antes de fazer uma — A mulher em seu trabalho dei­
coisa, considera e examina tudo, xa-se guiar de preferência por mó­
com reflexão objetiva e crítica. veis inconscientes ou subconscien­
tes. Isto explica o enigmático que
é, muitas vêzes, sua irresponsa­
bilidade, volubilidade e insinceri­
dade.
— O homem alcança seu objetivo — A mulher chega a seu objetivo
com vontade e coerência metódi­ com a fina intuição do instinto,
ca. Em seus atos, costuma medi­ com o sentimento e a tenacidade
tar e ponderar o pró e o contra; da paixão. Sente muito bem as
leva em conta tôdas as dificuldades. razões do coração. A engenhosi-
dade e especialmente a astúcia são-
lhe de muita utilidade.
— O homem, em geral, refreia e — A mulher, pelo contrário, é vi­
domina a loquacidade. vamente loquaz, com frequentes mo­
mentos de impulsividade.
— O homem tem vontade: tem — Sua vontade fica, muitas vêzes.
consciência dos objetivos que há de incontrolada, é instável, inconse­
conseguir e mantém-se coerente. quente, não raro influída por um
Possui o sentido da verdade. otimismo que está muito longe da
realidade (é caprichosa).
Tem o sentido do bem e do belo.
— O homem, em relação à cons­ — A mulher, ao invés, vê na voz
ciência moral, sabe distinguir os da consciência como um obstáculo
princípios e os fins de seus atos. às suas aspirações mais profun­
Procura explicar a si mesmo o das e inconscientes, e busca sem-

165
porquê da lei. Não obstante suas pre um pretêxto para contorná-lo.
faltas, raras ou freqiientes, sab< Nem sempre sabe permanecer fiel
permanecer fiel a um princípio éti­ a um principio ético; e em alguns
co. Por sua lógica própria consi­ casos, depois de haver superado os
dera e reconhece o mal que fêz , primeiros impedimentos, com fre-
e mais fàcilmente que a mulher pro­ qüência degenera no desenfreio das
cura emendar-se. paixões; por isto, se ela é má,
é-o muito mais fortemente do que
o homem, e emenda-se também com
mais dificuldade. Ordinariamente
torna-se escrava do ambiente.
Fàcilmente se deixa persuadir; po­
rém é muito difícil dissuadi-la.

VIDA MORAL
— O homem senfe-se o senhor e — A mulher, ao invés, tem cons­
o coroamento da criação, Este sen­ ciência de ser a companheira que
timento de superioridade funda-se está sujeita ao homem. Em cor­
em algumas qualidades em que se respondência com sua condição e
avantaja à mulher. Estas, como missão de companheira, sua natu­
já indicamos, são: reza e sua atividade inclinam-na a
1. Sua maior fôrça física e espiri­ ser complemento, ajuda e apoio do
tual. homem. Daqui nasce e toma sen­
2. Sua independência e liberdade tido sua inata disposição:
social. Encerra em si uma dose 1. para o amor,
inconfundível de amor-próprio, 2. para a compaixão,
que, degenerando, poderia con­ 3. para o sacrifício: uma mulher
verter-se num brutal egoísmo. sem altruísmo é uma criatura
desnaturada.
— Assim como para o homem o — assim também, para a mulher, a
"cavalheirismo" representa a dis­ qualidade mais bela, mais nobre e
tinção mais nobre, mais bela e mais que instintivamente ela mais dese­
•apreciada, ja é o “sentimento de maternida­
de”, ' que, no fundo, é seu verda­
deiro distintivo.

O amor
— No homem, o instinto sexual — Na mulher, em vez disso, pre­
ocupa lugar eminente. A tendência valece a esfera sentimental sôbre
para o outro sexo é muito dife­ a sexual. Sua tendência para o
rente da da mulher. outro sexo é, portanto, completa­
mente inversa da do homem. Por
isto mesmo ela muitas vêzes se
engana ao julgar o amor do ho­
mem, que compara e identifica com
o seu.
— No homem o amor é um ato — Na mulher o amor é uma doa­
de posse, um poder de anexação ção. Para' ela significa uma ne­
e de expansão; trata-se de uma cessidade de se sentir amada: um
necessidade fisiológica imperiosa processo psicológico sustentado por

166
(amor fisico) que se acompanha de fatôres biológicos.
elementos psíquicos.
— Nêle os sentidos têm um me­ — A mulher, pelo contrário, é tôda
canismo independente do coração: prêsa em seu amor, e não conse­
o homem fica como cativado por gue compreender o que são as
uma tensão fisiológica que o subju­ manifestações do amor no homem.
ga ante uma beleza real ou em Ela, que é fiel a seu espôso, ain­
razão de uma satisfação sensual. da quando o próprio Apoio lhe
Só a fôrça da moral cristã pode dirigisse um sorriso, pensaria e di-
preservá-lo e salvá-lo. ria: "Que quer de mim êsse to­
lo?” . . . Ela quer ser o único objeto
do amor pessoal do homem que
a ama. Daqui nasce sua forte ten­
dência para o ciúme.
Um fator essencial do instinto
— Por tudo isto, a continência sexual na mulher é seu intenso de­
pré-matrimonial exige dêle uma sejo natural de chegar a ser "mãe”.
abnegação incomparàvelmente maior
do que da mulher. Como também
a santificação do matrimônio exi­
ge dêle sacrifícios maiores do que
da mulher.
— Em geral êle comete mais pe­ — A mulher acha menos difícil a
cados contra a castidade que a mu­ continência sexual que o homem,
lher; mas também pode corrigir-se porque seu instinto fisico é me­
mais fàcilmente do que ela. nos intenso e mais propriamente
passivo. Porém sua maior emoti­
vidade torna-a mais apaixonada no
aqior.
— O homem transmite a vida pos­ — A mulher dá a vida entregan­
suindo: os filhos são como seu do-se e recebendo-a: não pede na­
prolongamento, como uma realiza­ da para si; sòmente quer que se
ção sua; no filho se busca e en­ lhe proporcione vida para comu­
contra a si mesmo. nicá-la.
— Traz consigo potências de vida — E’ feita para ser fecundada e
que não estão completas, e tende completada por um dinamismo ex­
à mulher para se completar. Nela terior. Ela é como a te rra ... Pos­
busca e ama aquilo que lhe falta; sui o sentido do que é “vida em
isto explica a necessidade da pre­ germe”, no estado elementar: da­
sença de uma mulher em sua vida qui sua inteligência intuitiva, sua
(ainda que como colaboradora, só­ visão das coisas antes que exis­
cia de negócios, etc.). Talvez re­ tam. Descobre no homem êsse ele­
sida nisto a razão de que o ho­ mento infantil e sabe utilizá-lo...
mem permaneça sempre um pou­
co criança.
— O amor físico não o modifica. — O amor físico modifica-a.
— Não se sente instintivamente li­ — Está vinculada fortemente ao
gado àquilo que ama: pode ser que é objeto de seu amor; neces-
pai e não viver com o filho. Sua sàriamente tem que ser fiel. E’
vida desenvolve-se em dois planos: o eixo sôbre que gira tôda a fa­
família e trabalho. mília. "O sentido e o gôsto da

167
casa" é algo que se confunde con­
sigo mesma. E’ perigoso não ter
ela algo que se assemelhe à sua
cása. Por isto se acham descen-
tradas as mulheres que devem
ocupar-se com trabalhos próprios
de homens.
— Dá o nome diretamente à mu­ — A mulher, ao contrário, renun­
lher e indiretamente a seu trabalho. cia à glória propriamente dita, mas
— O homem ambiciona a popula­ não “a dois olhos que a admi­
ridade, o aprêço e a glória. ram. . . " Explicam-se assim tôdas
as indústrias da coqueteria; nada
é mais contrário á sua maneira de
ser do que passar iriadvertida. E’
uma coisa contrária ao mais pro­
fundo de seu ser: está disposta a
tudo, menos a ficar ignorada.
Mui freqüentemente, suas crises fí­
sicas, sentimentais e mesmo espi­
rituais não têm outro motivo que
atrair a atenção sôbre si mesma.
— E' capaz de desinteresse e de N. B. — Não é verdade, psico­
abnegação, porém tem que se es­ logicamente falando — diz Max
forçar nisto, porque vai contra o Nordau — que uma mulher é como
mais profundo de seu ser. outra; que, quando se conhece uma,
— A autoridade é para êle oca­ conhecem-se tôdas. E, por sua vez,
sião e meio de manifestar o que Santa Teresa costumava dizer:
é: quer transmitir suas idéias a “Nós, mulheres, não somos assim
outros, para que as realizem êles. tão fáceis de conhecer”. A mu­
Um homem que dita ordens sem lher é, por certo, uma criatura mui
serem suas obra contra suas for­ nobre, mas também mui comple­
ças instintivas. (Aqui reside a raiz xa e, com freqüência, enigmática
das profundas dificuldades que en­ para o homem. Ela, ao invés, sabe
contra na obediência religiosa, penetrar no homem e manobrá-lo
quando não possui uma boa dose como quer, e excele em saber ex­
de espírito sobrenatural). plorar o que nêle há de infantil,
sobretudo com fins utilitários.

A am izade
— Por seu senso objetivo e por — Enquanto viva dominada por
sua retidão de caráter, o homem seu característico desejo de se fa­
é mais facilmente disposto à ver­ zer admirar, de se salientar, a mu­
dadeira amizade, e, em geral, man- lher não poderá saciar sua sêde
tém-se constante e fiel. de amizade senão num homem.
A história de cada povo oferece Grandes amizades entre mulheres
exemplos belíssimos de grande, ver­ são, quase sempre, ignoradas pela
dadeira, desapaixonada e constan­ história. A mulher passa facilmen­
te amizade entre homens. Se uma te da amizade ao ódio: finge, ator­
amizade se desfaz, dificilmente os menta, e pode até chegar a ser
dois passam ao ódio verdadeiro e cruel com a adversária, sem mais

168
real como sucede entre as mulhe­ nada recordar da antiga amizade.
res, mas antes a uma espécie de — As amizades entre mocinhas sâo,
rancor: desprezar-se-ão ou comba- mais que nada, efeitos de um instin­
ter-se-ão abertamente. to psíquico, porém geralmente du­
ram pouco, e raras vêzes pode di­
zer-se que sejam amizades.

Vícios capitais ’
Soberba
— No homem deriva de uma exa­ — Na mulher é especialmente vai­
gerada consciência do próprio va­ dade.
lor, e por isto quer dominar e — E’ certamente sêde de domi­
tiranizar. nar, mas sobretudo mediante o
— Recusa a opinião dos outros. amor. E’ neste campo que a mu­
— Seu orgulho parece ter raízes lher manifesta maiormente sua so­
biológicas: nunca admite que pode berba.
haver-se equivocado.
Avareza
— E’ certo que há homens ava­ — Predomina mais na mulher, em
rentos, porém menos do que mu­ consequência de sua inclinação para
lheres. Em geral, a avareza des­ as coisas mais insignificantes, e
perta lia idade madura, quase na por sua missão de administrar a
velhice. casa.
Luxúria
— Como já vimos falando do amor, •— E’ menos intensa na mulher
é vício prevalentemente próprio do que no homem.
homem, devido a seu forte instinto.
Inveja
— O homem é menos inclinado à — E’ vício característico das mu-
inveja do que a mulher. Se, às vê- lheres, muito em consonância com
zes, se deixa levar por ela, é de- sua índole vaidosa.
vido a seu orgulho, é porque que­
rería destacar-se nos negócios ou
em suas atividades...
Gula
— E’ um vício que prevalece no — Na mulher manifesta-se sob a
homem: levam-no a êle sua inten­ forma da gulodice, apetência e de­
sa sensualidade e sua maior liber­ sejo de esquisitices que — por seu
dade social. próprio caráter — a enchem de
pretensões e a tornam desconten-
tadiça.

' Cf . D e m a 1, op. cit., p. 106.

169
Ira
— E’ uma característica masculi- — Manifesta-se na mulher por ex-
na, filha também do orgulho. plosões irracionais, mas sobretudo
pela obstinação e pela aversão.

Preguiça
— antes própria do homem, — E’ defeito que minimamente se
sob a forma de busca de comodi­ acha na mulher. Existe alguma ma­
dade, e é a causa de seu inato nifestação nas que têm um cará­
egoísmo. ter apático.

170
ÍNDICE

Prólogo .................................................................................................................. 5
Indicações bibliográficas .................................................................................. 8

PRIMEIRA PARTE
C A R A C T E R O L O G IA GERAL

Capítulo I: Noções preliminares .................................................................. II


Capítulo II: Caracterologia Heymans — Le Senne ........................... 15
I — Ò que se entende por “caráter” .................................................... 15
II — Os elementos constitutivos do caráter ......................................... 16
Capítulo. III: Os elementos fundamentais ................................................ 18
I — Emotividade ..................................................................................... 18
II — Atividade ................................................................................................. 19
III — Ressonânciadas impressões ................................................................. 20
Ressonância prim ária............................................................................ 20
Ressonânciasecundária .......................................................................... 21
Nota final sôbre os três elementos fundamentais ...................... 22
Capítulo IV: Os elementos suplementares ............................................... 23
I — Campo da consciência ....................................................................... 23
1. Campo “largo” ................................................................................. 24
2. Campo “estreito” ............................................................................. 25
II — Os outros três elementos acessórios .............................................. 26
1. Natureza do objeto para o qual se tende ............................ 26
2. Forma da inteligência .................................................................. 26
3. Paixões .................................................................................................. 26
Capítulo V: Classificação dos caracteres segundo Le Senne ............... 27

SEGUNDA PARTE
CAR A C TER O LO G IA E S P E C IA L

Capítulo VI: Quadro e critério da descrição do caráter-tipo .............. 31


I — No plano h u m an o.................................. ................................................. 31
II — No plano sobrenatural .......................................................................... 31
Conclusão ................................................................................................ 32

171
Sccçâo Primeira
OS EMOTIVOS não-ATIVOS: E-nA
Nota introdutória ............................................................................................ 34
Capítulo VII: E-nA-P: Nervoso ............................................................... 35
I — No plano humano ............................................................................... .. 35
A. Notas psicológicas ...................................................................................... 35
lc Descrição do caráter-tipo ................................................................. 35
36
2e Q u alid ad es.............................. .................................................................
37
3c Defeitos ....................................................................................................
4? Resultante caracterológica ................................................................... 37
5* Valor dominante .................................................................................... 37
Exemplos históricos .................................................................................... 37
Observação sôbre os subtipos ............................................................. 38
B. Educação psicológica .............................................. .................................... 38
lc Atitude do educador ............................................................................. 38
2° Processo de seu método educativo ............................................... 38
3? Valor a conseguir ................................................................................ 39
II — No plano sobrenatural ...................................................................... 40
A. Disposições caractcrotõgicas em face da vida sobrenatural .......... 40
B. Como apresentar a vida sobrenatural ................................................... 40
40
Em geral ........................................................................................................
Em particular: Direção espiritual, 41 — Piedade, 42 — Ascé­
tica, 42 — Vida religiosa, 43 — Pobreza, 43 — Castidade, 44
Obediência, 44 - - Vida de comunidade, 45 — Apostolado.......... 45
Conclusão ...................................................................................................... 46
Capítulo VIII: E-nA-S: Sentimental ........................................................... 47
I — No plano humano .................................................................................... 47
A. Notas psicológicas .......................................................................... ............ 47
lc Descrição do caráter-tipo ................................................................. 47
2c Qualidades ............................................................................................... 49
3c Defeitos ..................................................................................................... 49
4'’ Resultante caracterológica ................................................................. 49
5c Valor dominante ..................................................................................... 50
Exemplos históricos .................................................................................... 50
Observação sôbre os subtipos ............................................................. 50
B. Educação psicológica .................................................................................. 50
|c Atitude do educador ............................................................................ 50
2c Processo de seu método educativo ................................................... 50
3c Valor a conseguir .................................................................................. 52
II — No plano sobrenatural .......................................................................... 52
A. Disposições caractrrológicas frente à vida sobrenatural .............. 52
B. Como apresentar o sobrenatural .................. ............................................ 52
Em geral ........................................................................................................ 52
Em particular: Direção espiritual, 54 — Piedade, 54 — Ascé­
tica, 55 — Vida religiosa, 55 — Pobreza, 56 — Castidade, 56 —
Obediência, 57 — Vida de comunidade, 58 — Apostolado . . . . 58
Conclusão ....................................................................................................... 59

172
Secção Segunda
OS EM O T IV O S-A T IV O S: E-A
Nota introdutória ............................................................................................... 60
Capítulo IX: E-A-P: Colérico ........................................................................ 62
I — No plano humano .................................................................................... 62
A. Notas psicológicas ........................................................................................ 62
lv Descrição do caráter-tip o...................................................................... 62
2? Q ualidades................................................................................................. 64
3? D e fe ito s ...................................................................................................... 64
4» Resultante caracterológica .................................................................... 64
5o Valor dom inante..................................................... 64
Exemplos h istó rico s....................................................................... 64
Observação sôbre os su b tip o s................................................................... 64
B. Educação psicológica ................................................................................... 65
Atitude do educador ............................................................................. 65
2* Processo de seu método educativo ................................................ 65
3? Valor a conseguir ................................................................................. 66
II — No plano sobrenatural ...................................................................... 67
A. Disposições caracterológicas em face da vida sobrenatural ........ 67
B. Como apresentar a Vida sobrenatural ................................................... 67
Em g e r a l................... ...................................................................................... 67
Em particular: Direção espiritual, 68 — Piedade, 68 — Ascé­
tica, 69 — Vida religiosa, 70 — Pobreza, 70 — Castidade, 71
— Obediência, 72 — Vida de comunidade, 72 — Apostolado . . . . 73
Conclusão . . . . ................................. ........................ ........................ 73
Capítulo X: E-A-S: Apaixonado ................... ......................................... 75
I — No plano humano .................................................................................. 75
A. Notas psicológicas ..................................................................................... 75
1<> Descrição do caráter-tipo .................................................................. 75
2? Qualidades ............................................................................................... 77
3<> Defeitos,. . . . ' ................................................................................... 77
4<f Resultante caracterológica ........................................... 77
5? Valor dominante ................................................................................... 77
B. Educação psicológica .............................................................................. 78
1? Atitude do educador ..........................................................
2f Processo de seu método educativo ............ ..................
3? Valor a conseguir ................................................................
II — No plano sobrenatural .......................................................
A. Disposições caracterológicas em face da vida sobrenatural
B. Como apresentar a vida sobrenatural ............................................. 79
Em geral .................................................................................................... 79
Em particular: Direção espiritual, 80 — Piedade, 81 — Ascé­
tica, 82 — Vida religiosa, 82 — Pobreza, 83 — Castidade, 84
— Obediência, 84 — Vida de comunidade, 85 — Apostolado .. 85
Conclusão
Exemplos
173
Secção Terceira
OS NAO-EMOTIVOS ATIVOS: nE-A
Nota introdutiva ................................................................................................. 87
Capítulo XI: ríE-A-P: Sanguíneo ............................................................. 89
I — No plano humano ................................................................................. 89
A. Notas psicológicas ..................................................................................... 89
1? Descrição do caráter-tipo .................................................................... 89
2» Qualidades ................................................................................................ 91
3? Defeitos ..................................................................................................... 91
4? Resultante caracterológica ..................................................... .. 92
5‘> Valor dominante .................................................................................... 92
Exemplos históricos .................................................................................. 92
B. Educação psioclógica .................................................................................. 92
1? Atitude do ed u ca d o r................................ ......................................... 92
2? Processo de seu método educativo ..................................................... 92
3v Valor a conseguir ................................................................................. 94
II — No plano sobrenatural ........................................................................ 95
A. Disposições caracterológicas ..................................................................... 95
B. Como apresentar a vida sobrenatural ................................................... 95
Em geral ........................................................................................................ ^5
Em particidar: Direção espiritual, 96 — Piedade, 96 —- Ascé­
tica, 97 — Vida religiosa, 99 — Pobreza, 100 — Castidade, 100
Obediência, 101 — Vida de comunidade, 102 — Apostolado . .. 103
Conclusão ........................................................................................................ 104
Capitulo XII: nE-A-S: Fteumático .............................................................. 105
I — No plano humano ................................................................................. 105
A. Notas psicológicas ........................................................................................ 105
,1*? Descrição do caráter-tipo .................................................................... 105
2? Qualidades ................................................................................. 107
3? D e fe ito s ..................................................................................................... 107
Resultante caracterológica ................................................................. 108
5» Valor dominante ..................................................................................... 108
Exemplos históricos ..................................................................................... 108
Observação ..................................................................................................... 108
B. Educação psicológica .................................................................................. 108
lv Atitude do educador ............................................................................. 108
2v Processo de seu método educativo ................................................... 109
3? Valor a conseguir ................................................................ HO
II — No plano sobrenatural .......................................................................... 110
A. Disposições caracterológicas .................................................................... 110
B. Como apresentar a vida sobrenatural ................................................... 110
Em geral ........................................................................................................ 110
Em particular: Direção espiritual, 111 — Piedade, 112 — Ascé­
tica, 113 — Vida religiosa, 114 — Pobreza, 1)5 — Castidade,
115 — Obediência, 116 — Vida de comunidade, 116 — Apostolado, 117
Conclusão ...................................................................................................... 118

174
Secção Quarta
OS NÂO-EMOTIVOS NAO-ATIVOS: nE-nA

Nota introdutiva 119


Capítulo XIII: nE-nA-P: Amorfo ............................................................... 121
I — No plano hum ano.................... ......................................................... 121
A. Notas psicológicas .................................................................................. 121
1» Descrição do caráter-tipo ................................................................. 121
2v Qualidades ............................................................................................. 123
3» D efeitos.................................................................................................. 143
4o Resultante caracterológica............................................................ 123
5» Valor dominante . 124
Exemplos históricos ............................................................................... 124
B. Educação psicológica .............................................................................. 124
1o Atitude do educador....................................... 124
2o Processo de seu método educativo ................................................. 124
3o Valor a co n segu ir.................. 125
IF — No plano sobrenatural ......................................................................... 126
A. Disposições caracterológicas .................................................................... 126
B. Como apresentar a vida sobrenatural ................................................. 126
Em geral ................................................................................................. • *26
Em particular: Direção espiritual, 127 — Piedade, 128 — Ascé­
tica, 129 — Vida religiosa, 130 — Pobreza, 131 — Castidade, 131
— Obediência, 131 — Vida de comunidade, 132 — Apostolado, 132
Conclusão . . . .................. . . .................. ............................................. *33

Capítulo XIV: nE-nA-S: Apático .................................................................. 13 5

I — No plano humano .......................................................................... ...... 135


A. Notas psicológicas ....................................................................................... 135
1* Descrição do caráter-tipo .................................................................. 135
2" Qualidades ........................................................................................... 137
3* Defeitos ...................................................................................................... 137
40 Resultante caracterológica ................................................................. 137
5* Valor dominante ......................................................... 137
Exemplos históricos .................................................................................. 137
O b se r v a ç ã o .................... 138
B. Educação psicológica ................................ 138
1' Atitude do educador .......................................................................... 138
2* Processo de seu método educativo ................................................. 138
3* Valor a conseguir ................................................................................ 139
II No plano sobrenatural .......................................................................... 140
A. Disposições caracterológicas ..................................................................... 140
B. Como apresentar a vida sobrenatural .................................................... 140
Em g e r a l.................................................................................- ...................... 140

175
Em particular: Direção espiritual, 141 — Piadaífè, 142 — As­
cética, 143 — Vida religiosa, 143 — Pobreza, 144 — Castidade,
144 — Obediência, 145 — Vida de comunidade, 145 — Apos-
to la d o ................................... 146
C o n clu são..................................... 146

Capítulo XV: Orientações práticas para o trabalho do diretor 148


O Diretor Espiritual E-nA-P ........................................... 149
O Diretor Espiritual E-nA-S . . . ..................................................... 150
O Diretor Espiritual E -A -P ................................................................ .. 152
O Diretor Espiritual E-A-S ...................................................................... 154
. O Diretor Espiritual nE-A-P . . ........................... ......................... 156
O Diretor Espiritual nE-A-S ........................................................................158
O Diretor Espiritual nE-nA-P e n E -n A -S ....................- ............ .. •. * 160
Conclusão final ................................................................................................... 161
Apêndice: Linhas-mestras da psicologia masculina e feminina 163

175

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