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O SOGRO KARL MARX1 II

MILLÔR FERNANDEZ Londres, 13, Agosto, 1866

I Estimado Lafargue,

Londres, 16, Julho, 1866 Permita-me fazer-lhe as seguintes observações;


Meu bom Lafargue, 1)se você deseja continuar suas relações com minha
Embora minha vida pessoal esteja, ultimamente, sendo filha, tem que abandonar o seu modo de lhe fazer
dividida entre o terror do boticão do dentista – Tussy corte. Você sabe muito bem que ainda não se
não cansa de ridicularizar o meu medo-, o mal estar combinou nenhum noivado , que até agora tudo é
permanente devido ao arsênico que venho ingerindo provisório. E, mesmo que ela fosse formalmente sua
para combater meus furúnculos e o cansaço já prometida, você não poderia esquecer que isso
insuportável com meu trabalho de revisão final d’O significa uma relação a longo termo. Um
Capital, não quero deixar passar o momento de lhe comportamento demasiado íntimo é ainda mais
dizer de minha alegria ao saber do seu meio-noivado impróprio quando os dois prometidos tem que viver
com minha filha Laura. num mesmo local por um período necessariamente
Apesar de sua aderência ao Proudhobismo- que, como prolongado de purgatório e de severos testes. Tenho
você sabe, para mim corresponde a ficarmos todos observado com consternação a mudança diária de sua
esperando, com o traseiro comodamente instalado em conduta no espaço geológico de apenas uma semana.
nossas poltronas, que os gentlemen franceses se A meu ver o verdadeiro amor se exprime justamente
resolvam a acabar com a miséria e a ignorância – você pela continência, comportamento recatado, até mesmo
tem a qualidade máscula que eu mais aprecio, acanhamento com relação a amada e decididamente
realmente a minha virtude predileta – a Resistência. não em demonstrações de paixão descontrolada e
Mas não lhe escrevo para falar de minha relação com manifestações prematuras de familiaridade. Se você
você mas da sua com Laura. Não posso deixar de me quiser apresentar, em sua defesa, o seu temperamento
congratular com o fato de você, afinal, resolveu abrir crioulo, é meu dever interpor o meu bom senso entre
mão de todos os bens e propriedades de sues pais, seja esse temperamento e minha filha.
em Santiago de Cuba, seja em Bordeaux, para viver 2) antes de acertar definitivamente suas relações com
uma vida independente e libertária com minha filha, Laura exijo uma explicação clara sobre sua situação
por maiores privações que isso possa lhe trazer. O econômica. Não toquei nesse assunto porque “que me
carinho que vocês tem um pelo outro há de fazer com parecer”, cabia a você tomar iniciativa. No que está ao
que atravessem com mais tranqüilidade os momentos meu alcance pretendo livrar minha filha dos escolhos
difíceis da vida em comum. Sempre acreditei na sorte em que a vida da mãe foi sacrificada. Sua situação,
de Laura. E sempre achei que você, um dia renunciaria segundo informações que soube- sem procurar saber-
á sua exagerada ambição material em nome do amor não é em absoluto tranqüilizadora. Suas possibilidades
que devota a ela. Agora me regozijo com a vitória do são, no mínimo, problemáticas. Minhas observações
seu belo caráter, sua esplendida determinação. convenceram-me de que, por natureza, você não é
Receba, junto com esta, um pequeno presente pré diligente, apesar de surtos de atividade febril e boas
nupicial – 50 – que lhe envia Engles, se desculpando intenções. Quanto à sua família, nada sei. Não sei
por ser em espécie. Mas é para que você possa mesmo como é que eles encaram sues planos de
comprar algo de útil que lhe falte no momento. casamento.
Aguardando, ansiosamente, noticias suas, Karl Marx Espero sua resposta, Sempre seu
Karl Marx

1
FERNANDEZ, Millôr; O Sogro Karl Marx, revista ensaios
de Opinião nº 7, de 1.978 p 111.
III IV
Londres 8, Outubro, 1876 Londres, 20, Outubro. 1878

Meu caro Paul, Caro Paul,


antes de mais nada que lhe afirmar que o estimo Estou escrevendo recém saído de uma terrível g ipê,
imensamente. Mas soube, com certa tristeza, do seu ainda no meio deste catastrófico inverno em Maitland
último rompimento com minha filha Laura e por isso Park Road. Além de Engels, Lissagaray e uns poucos
lhe escrevo. Esses atritos posso lhe dizer sem estar outros amigos ocasionais, tenho conversado apenas
revelando nenhuma intimidade da parte dela, tem com minha filha Laura, que me falou de suas intenções
prejudicado muito o comportamento e mesmo a saúde a respeito dela, intenções essas que, é claro, já eram do
de Laura. meu conhecimento. Mas, o fato dela me comunicar
O que porém, me levou a lhe escrever esta carta é a oficialmente seus propósitos, me obriga a sair da
certeza, que nutro e devo expressar , de que o errado é minha reserva para tomar uma atitude “paternal” e
você em relação as atitudes que vem tomando com mesmo “patriarcal”. Coisa que, penso, talves seja o
relação a ela – atitudes crescentemente drásticas, como que ela estava buscando ao me comunicar o fato.
se ela fosse a mulher livre e independente que se Quero lhe dizer, sinceramente, que não vejo com bons
educou para ser, mas apenas mais uma desses tantos olhos a ligação, pela vida afora, deminha filha com um
milhões de escravos que a Inglaterra, hipocritamente, homem como você . por mais estimável que seja o seu
continua a trazer da África para a América. temperamento, sei que seu enlace com Laura não terá
Apesar do enorme afeto que todos lhe temos aqui em possibilidades de ser feliz dadas as fundamentais
casa, a verdade é que não poderíamos conciliar nossa divergências ideológicas entre vocês . Acredito que sua
atitude, por todos os modos revolucionários, com um excelente situação financeira, que a primeira vista
comportamento familiar retrógado, em que a menor pareceria uma benção, e um apoio essencial, no
demonstração de rebeldia por parte da mulher é sistema capitalista em que vivemos, poderá, ao
censurada por você, senão com palavras, senão com contrário determinar o fracasso do casamento de vocês
agressividade, pelos menos olhares e gestos de enfado dois, já que ela, mesmo não o faça explicitamente,
que não deixam duvidas quanto ao seu julgamento. tende a desprezar os próprios valores com que você irá
Estranho mesmo que um temperamento como o seu, protegê-la . Você bem sabe que, a partir de certo
ardente cruzamento de franceses com negros, tendo momento de nosso contato com Grande Lama
pelo lado materno – se posso me permitir esta jocosa Teutônico de Regent’s park Road, os pontos -de-vista
liberdade – o inebriante sobrenome Armagnac, tenha, de Laura passaram a ser, algumas vezes, até mais
afinal, produzido uma pessoa mais hierática do que radicais do que eu apreciaria.
todos nós, de tradição germânica bem mais “dura”. Vejo-me então na seguinte situação a respeito dela
É natural que Laura esteja em choque com essas forma 1)Como pai, embora isso possa parecer curioso e
de ser e ver, pois, com as devidas reservas naturais e paradoxal, é certo que gostaria que ela tivesse todas as
sociais, ela necessita de alguém que compreenda seus excelente condições materiais que você pode oferecer.
arroubos e corresponda a eles. Não podemos, já no 2)Como homem que reflete permanentemente sobre as
último quartel do século XIX, adotar atitudes injustiças sociais, eu não queria, jamais, vê-la
medievais com relação ao comportamento feminino. acomodada ao conforto e a mesmice de uma existência
Chego mesmo ao Maximo da franqueza lhe afirmando burguesa. Isso a faria tremendamente infeliz.
que prefiro as mulheres “livres”, no extremo sentido da Poderíamos conversar sobre o assunto? Pois mais
palavra, àquelas a quem o destino- isto é , a difícil que isso seja? Com todo meu afeto e
incompreensão dos seus prometidos e protetores - compreensão
obriga à quase virgindade das relações puritanas. Karl Marx
Arriscando-me a ter chegado mais longe do que
desejaria, fico, ao mesmo tempo ansioso por uma
resposta sua, pessoal, ou por escrito.
Com todo o respeito,
Karl Marx

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