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Outras

formas
de olhar
Audiodescrição possibilita que pessoas cegas ou
com baixa visão recebam todas as informações
visuais que seus olhos não conseguem captar
REPORTAGEM E FOTOS: ANNA VEIGA Além de filmes e programas de televisão,

I
r ao cinema, assistir a uma peça te- aparecem, no intervalo dos diálogos, e Unidos. Os testes geraram resultados posi-
atral, ler um livro. Essas são ativi- nunca se sobrepondo a outro conteúdo so- tivos e, atualmente, a tradução de imagens
dades aparentemente corriqueiras noro importante. E este recurso não é útil em palavras já é uma realidade no país e
para todos. Agora imagine como e apenas para o cinema, mas também para em outros lugares, como na Alemanha, na
com que frequência as pessoas que programas de televisão, livros, peças tea- França, no Reino Unido e no Paraguai. No
não enxergam ou que têm baixa trais e eventos em geral. Ou seja, para tudo Brasil, o assunto ainda é considerado no-
visão as realizam. Imagine apenas que contenha elementos visuais. vidade.
ouvir um filme, com os diálogos e outros O termo audiodescrição foi empregado A primeira lei relacionada à audiodes-
ruídos, sem fazer ideia do que está sen- pela primeira vez em 1975, na Universida- crição foi aprovada no Brasil em 2004. O
do mostrado naquela cena ou de como de de São Francisco, nos Estados Unidos, decreto determinou, entre outras provi-
são os personagens. Com certeza muitos na dissertação de mestrado de Gregory dências, a adaptação dos aparelhos tele-
elementos importantes seriam perdidos. Frazier. O trabalho tinha como tema o ci- visores de modo a poderem ser utilizados
Entretanto, já existe um recurso capaz de nema para cegos e foi feito a partir de re- por pessoas com deficiência e atribuiu à
solucionar este problema. latos de sua esposa e de um amigo, ambos Agência Nacional de Telecomunicações
A audiodescrição tem como objetivo com deficiência visual, sobre o que eles (Anatel) a competência para regulamentar
traduzir para as pessoas cegas ou com não conseguiam entender na televisão. O as questões referentes à acessibilidade na
baixa visão as informações visuais de irmão do cineasta Francis Ford Coppola, programação, como closed caption ou le-
determinado produto. Em um filme, por August, na condição de decano da univer- genda oculta, audiodescrição e janela para
exemplo, podem ser descritos o figurino sidade, deu apoio ao projeto e facilitou a intérprete de libras.
dos personagens em cena, o ambiente no divulgação pela América do Norte. Em julho de 2011, as emissoras de tele-
qual eles se encontram e suas expressões A partir dos anos 1980, começaram a visão com sinal aberto e licenciadas para
faciais e corporais. A missão dos audiodes- ser feitos diversos estudos a respeito do realizar transmissões com sinal digital
critores é fazer com que o usuário receba tema, através de experiências realizadas passaram a ser obrigadas a exibir, pelo
esses dados ao mesmo tempo em que eles em cinemas, teatros e museus dos Estados menos, duas horas semanais de produ-
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produtos como livros e revistas também podem ser audiodescritos

ções adaptadas por meio de audiodescri- acredita que o processo de conhecimento


ção para o público com alguma deficiência do recurso por parte das organizações seja
visual. Entretanto, as empresas de comu- gradual e já percebe certa evolução, prin-
nicação parecem não fazer muito esforço cipalmente a partir do momento que o
para aumentar esta carga horária ou para público consumidor passa a tomar conhe- No primeiro evento
oferecerem um bom serviço. Na opinião
da jornalista e consultora em acessibilida-
cimento e a cobrar eventos com audiodes-
crição. “No primeiro evento que realizei
que realizei com
de da Tagarellas Audiodescrição, Mariana com audiodescrição, participaram quatro audiodescrição,
Baierle, o recurso oferecido pelas emisso- pessoas. As atividades mais recentes con-
ras brasileiras deixa bastante a desejar: tam com cerca de 40 participantes com participaram quatro
“Não é bem feito, a qualidade não é boa.
Não dá vontade de assistir”.
deficiência visual”, diz.
A audiodescritora roteirista e narrado-
pessoas. As atividades
Para a atriz Letícia Schwartz, que é au- ra da Tagarellas, Marcia Caspary, relata mais recentes já
diodescritora roteirista e narradora da Mil que a empresa já realizou trabalhos para
Palavras Acessibilidade Cultural, o motivo diversos produtos, como livros, exposi- contam com cerca de
de o assunto ainda não ser muito disse-
minado no país é a falta de divulgação e a
ções e espetáculos de dança. Há muita
demanda de outros lugares, como Manaus
40 participantes com
inconsciência por parte das empresas de e Brasília, principalmente para fóruns e deficiência visual
que as pessoas cegas e com baixa visão são seminários. No Rio Grande do Sul, Marcia
um mercado consumidor. Aliás, um gran- destaca a sessão especial do filme Cole-
de mercado: segundo dados do IBGE, 35 gas, de Marcelo Galvão, que aconteceu no Letícia Schwartz,
milhões de brasileiros declaram ter difi- mês de março, no Espaço Itaú do Bourbon audiodescritora roteirista e
culdade para enxergar, mesmo com óculos Shopping Country, como um dos maiores
ou lente de contato. Por outro lado, Letícia eventos com o recurso. “Foi muito impor-
narradora
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Alguns fóruns, seminários e exposições já são acessíveis a pessoas com deficiência visual

tante por ter sido a primeira estreia de primeiramente, monta-se o roteiro do Federal do Rio Grande do Sul. Ela conta
um filme com audiodescrição no circuito produto que será audiodescrito, depois, que a procura pelas aulas foi maior que o
comercial no sul do Brasil. Cerca de 200 realiza-se a narração. Para isso, é preciso esperado: “A turma conta com cerca de 40
pessoas participaram e houve toda uma um roteirista e de um narrador – que, em pessoas, mas nem todos os interessados
preparação externa para receber o públi- alguns casos, pode ser a mesma pessoa. Há conseguiram vagas. Tivemos de limitar o
co. A recepção acontecia desde a parada ainda uma terceira função: a consultoria, número de alunos”.
de ônibus, onde algumas pessoas explica- normalmente feita por alguém com baixa Outro aspecto positivo é que a audio-
vam como se chegava até o local”, lembra. visão ou cego. Marcia considera essencial descrição torna-se uma possibilidade de
Na ocasião, a narração do filme foi feita contar com essa participação desde o co- mercado de trabalho para as pessoas ce-
ao vivo, a partir de uma cabine instalada meço do trabalho para se ter certeza de gas ou com baixa visão, pois elas são fun-
no local, e transmitida através de fones que os consumidores irão compreender damentais na etapa que diz respeito à con-
de ouvido para o público que optou pela o que está sendo descrito. “Não adianta sultoria.
audiodescrição. Os outros espectadores mostrar para o consultor quando o traba-
ouviram os sons do longa. Mas esta não é lho já foi finalizado, pois será mais difícil UM OUTRO PONTO DE VISTA
a única forma de se realizar o processo. O para ele identificar possíveis alterações Desde que nasceu, Mariana Baierle tem
áudio da descrição também pode ser gra- necessárias”, explica. cerca de 10% de visão. O tema da acessi-
vado e aberto a todas as pessoas que es- Um método bastante comum entre os bilidade passou a lhe interessar quando
tiverem na sala de cinema. Para Mariana, audiodescritores que não possuem ne- ainda cursava Jornalismo. Ao concluir o
esta é a melhor opção. “Com os fones de nhum tipo de deficiência visual é assistir curso e começar trabalhar como redatora
ouvido, ainda ocorrem falhas na transmis- aos filmes pelas primeiras vezes com os em um jornal de Porto Alegre, dedicou-se
são, eventuais ruídos e chiados durante olhos vendados, a fim de ter o mínimo de ainda mais ao assunto, escrevendo maté-
o filme. Além disso, utiliza-se o fone em informações possíveis. Para Letícia, essa rias com este enfoque. “Trabalhei bastante
apenas um ouvido e deixa-se o outro livre experiência ajuda a desenvolver o olhar de com a acessibilidade na educação e com
para se ouvir o som da sala de cinema, en- expectador. educação especial. Esse era um assunto
tão é preciso compor os dois sons”, explica. Ao contrário dos filmes, eventos como que já me chamava muito a atenção”, con-
Para aqueles que não têm nenhuma peças de teatro são narrados ao vivo. Nes- ta. Outra motivação foi o fato de ter passa-
deficiência visual, este método de se fazer tes casos, o roteiro é preparado previa- do a enfrentar diariamente as dificuldades
audiodescrição pode não agradar. Mariana mente e o audiodescritor narrador realiza de se locomover no centro da cidade, um
acredita que as informações podem “se re- o processo em tempo real, dentro de uma local sem as mínimas condições para pes-
petir”, pois a narração descreve aquilo que cabine no interior do local. Há também os soas com qualquer tipo de deficiência.
já está sendo mostrado na tela. Mesmo casos de audiodescrição simultânea, como Foi nesse mesmo período que Mariana
assim, considera válida a experiência. “Eu, as que acontecem nos fóruns. decidiu fazer uso de uma bengala. Para
particularmente, acho até didático. Assim, A profissão de audiodescritor ainda não isso, inscreveu-se em um curso de Orien-
mesmo quem não precisa do recurso aca- é regulamentada, mas já existem cursos tação e Mobilidade. “Não basta simples-
ba o conhecendo. E geralmente se apaixo- que capacitam pessoas a desenvolverem a mente comprar uma bengala e sair an-
nam, acham muito interessante!”. função. Durante o primeiro semestre des- dando. A bengala não vai te dar todas as
te ano, Mariana Baierle, juntamente com coordenadas para andar na cidade”, expli-
PROFISSÃO EM DESENVOLVIMENTO os colegas da Tagarellas, ministrou o cur- ca. O objeto serve como uma sinalização,
A audiodescrição consiste em um so de extensão Audiodescrição e as inter- principalmente para que as outras pesso-
processo complexo. Letícia explica que, secções com a Educação, na Universidade as possam oferecer ajuda.
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“ A verdadeira
acessibilidade não
é você assistir ao
mesmo filme que
todo mundo já viu
meses ou anos
depois. Quero
poder assistir a
qualquer filme com
autonomia
Mariana Baierle,
jornalista e consultora
em acessibilidade

Mariana destaca a importância da con-


sultoria em acessibilidade ao contar epi-
sódios que vivencia diariamente, ao en-
contrar problemas em todos os lugares da
cidade, como pisos táteis mal colocados.
“Parece piada, mas alguns te levam até um
poste, até uma parede... Nos bancos, não
te levam a lugar nenhum. Você fica andan-
do em círculos”, descreve. Situações que
poderiam ser evitadas facilmente se uma
pessoa com deficiência visual testasse o
serviço. Mariana tem cerca de 10% de visão e começou a estudar o recurso em 2010
A audiodescrição foi descoberta por
Mariana em 2010, quando iniciou seu
mestrado em Letras na Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul. A partir de
então, envolveu-se com pesquisas e co-
nheceu outras pessoas com interesses
parecidos. Nesse período, fez um docu-
mentário chamado Olhares, que aborda o
tema do acesso à cultura por pessoas com
deficiência visual.
Sua expectativa em relação a este re-
curso é que ele se amplie cada vez mais,
para que as pessoas com deficiência visu-
al possam ir ao cinema e escolher o que
irão assistir. “A verdadeira acessibilidade
não é você assistir ao mesmo filme que
todo mundo já viu meses ou anos depois,
quando for lançado em DVD e com audio-
descrição. Quero poder assistir a qualquer
filme com autonomia”, relata, reforçando
que isso também deve valer para os outros
produtos culturais. Letícia considera essencial o trabalho dos consultores durante o processo
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