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CAPÍTULO
Arritmias
7
Vitor Sérgio Kawabata
Herlon Saraiva Martins
cardíaca e pulmonar, exame neurológico sumário e busca ■ Geralmente não é patológica e pode ser secundária a cau-
de sinais periféricos de baixo fluxo (pele fria e úmida, live- sas extrínsecas ao sistema de condução (hipertensão in-
do, cianose). tracraniana, reflexo vagal, medicamentos).
Pacientes com queixas que possam ser cardiológicas
(dispneia, dor torácica, tontura, síncope) ou com alteração Raramente conseguimos identificar uma parada sinusal
de frequência cardíaca devem ser submetidos a ECG ime- (PS) ou bloqueio sinoatrial de 2º grau (BSA). Nas duas si-
diatamente. tuações, há o “desaparecimento” de ondas P em um perío-
do do ECG. No BSA de 2º grau Mobitz I, o intervalo entre
EXAMES LABORATORIAIS E IDENTIFICAÇÃO DA as ondas P (P-P) reduz-se progressivamente até faltar uma
BRADIARRITMIA onda P (Figura 2). No BSA de 2º grau Mobitz II, o interva-
lo P-P sem ondas P é múltiplo do P-P do restante do ECG
Se houver sinais ou sintomas de instabilidade, o pa- (ou seja 2, 3, 4 vezes maior) (Figura 3). Na PS, o intervalo
ciente deve ser levado para a sala de emergência e as P-P sem ondas P não tem correlação com o P-P constante
seguintes providências devem ser tomadas: do restante do ECG.
I
■ Intervalo P-R. I
I
I
I
I
I I
■ Correlação entre ondas P e complexos QRS. III aVF V3 V6
■ Presença de bloqueio de ramo ou de divisões de ramos. I I I I
I I I I
Bradicardia sinusal II
I
I
■ Ritmo normal do coração, apenas FC mais baixa.
■ Há ondas P com orientação normal, originadas no nó si- Figura 2 – Bloqueio sinoatrial (BSA) de 2º grau – Mobitz I. O intervalo P-
noatrial (NSA). P vai decrescendo até o bloqueio de uma onda P.
■ A cada onda P, há um complexo QRS (Figura 1).
I aVR V1 V4
I aVR V1 V4 I I I I
I I I I I
I
I I
II aVL V2 V5
V5
I
II aVL V2
I I I
I I I I I
I I
I I I
III aVF V6
V3
III aVF V3 V6
I I I I
I I I
I I I I
I I I
II
II I
I I
I
*
Figura 3 – Bloqueio sinoatrial (BSA) de 2º grau – Mobitz II. O intervalo
Figura 1 – Bradicardia sinusal. P-P é fixo e o intervalo P-P do período bloqueado é múltiplo do inter-
* Cada complexo QRS é precedido de onda P de morfologia normal. valo normal.
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7 ■ ARRITMIAS 93
Portanto, os digitálicos não bloqueiam o sistema de condu- de forma temporária ou definitiva. Da mesma forma, qua-
ção de corações denervados, como os transplantados. dros de endocardite com abscesso de anel valvar podem
■ Teste da atropina: a partir do mecanismo de ação do digi- comprometer a condução elétrica.
tal, foi idealizado o teste de atropina, que é administrada
na dose de 0,04 mg/kg (máximo de 2 mg) IV; isso deve re- Doenças do sistema de condução
verter a bradiarritmia, ainda que temporariamente, em
pacientes intoxicados pelo digital (teste positivo), confir- Algumas doenças podem acometer primariamente o
mando o diagnóstico. Quando o teste é negativo, mesmo sistema de condução. Podem ser congênitas (BAVT congê-
com quadro típico de intoxicação, sugere presença de lesão nito) ou adquiridas – destas, as mais frequentes são a doen-
intrínseca associada do sistema de condução. ça de Chagas e a degeneração senil do sistema de condução,
■ O teste de atropina, mesmo aplicado a outras bradicardias também chamada de doença do nó sinusal (DNS). Nestas
medicamentosas, tem valor preditivo de prognóstico de duas doenças há acometimento multinível do sistema de
reversão da arritmia com a retirada do medicamento, e de condução, ou seja, é frequente o BAV associado a bloqueios
lesão associada do sistema de condução. de ramo ou bloqueios fasciculares. A DNS, ao contrário do
■ Antagonistas específicos, como o anticorpo monoclonal que o nome indica, pode afetar qualquer parte ou múltiplos
para digoxina e cálcio para os antagonistas dos canais de níveis do sistema de condução.
cálcio, podem ser utilizados para a reversão da bradicardia, Nestas doenças, o acometimento direto do sistema de
associados à retirada do fármaco responsável. condução torna o quadro irreversível, com necessidade de
marcapasso definitivo.
Distúrbios eletrolíticos
TRATAMENTO NA EMERGÊNCIA
Alterações eletrolíticas e do equilíbrio ácido-básico de-
vem ser descartadas como causas da bradicardia, principal- Bradicardias estáveis
mente em pacientes com disfunção renal ou em uso de fár-
macos que possam levar a estas alterações. Nos pacientes estáveis, não há necessidade de trata-
mento imediato para elevação da FC. Nesse caso, deve-se
Reflexo vagal analisar o ECG; se não houver BAV de grau avançado, é
possível reavaliar a necessidade de tratamento em unidade
A bradicardia pode ser desencadeada às vezes por refle- de emergência, monitorizar o paciente e solicitar avaliação
xo vagal ou aumento do tônus parassimpático. São arrit- de cardiologista, se necessário. Em caso de BAV de grau
mias benignas, em geral revertem espontaneamente e res- avançado no ECG, cogitar internação e passagem de eletro-
pondem muito bem à atropina. do de MP-TV.
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1 Atropina: 0,5 a 1,0 mg IV a cada 3-5 minutos (dose má- Entretanto, a meia-vida da atropina é muito curta (4
xima de 0,03-0,04 mg/kg). minutos), com reversão apenas transitória da bradicardia
2 Marcapasso provisório transcutâneo (MP-TC). (exceto nos quadros vagais). Quadros de BAV de grau avan-
3 Dopamina: 5 a 20 µg/kg/min em infusão contínua. çado muitas vezes não respondem à atropina.
4 Adrenalina: 2 a 10 µg/min em infusão contínua (ou 0,2 a Assim, na maioria das vezes, o uso da atropina permite
1,0 µg/kg/min). ganhar tempo enquanto outras medidas para controle da
bradicardia são preparadas. Não confundir a atropina tera-
Uma vez estabilizada a FC com uma das medidas aci- pêutica com o teste de atropina citado anteriormente.
ma, observar o ECG; se houver um BAV de grau avançado,
pela maior probabilidade de irreversibilidade do quadro, Dopamina e adrenalina
programar a passagem de eletrodo de marcapasso provisó-
rio transvenoso (MP-TV). Na ausência de BAV de grau A dopamina estimula a frequência cardíaca através dos
avançado, manter a medida que controlou a FC, pesquisar receptores β1-adrenérgicos. Por isso, é necessário o uso do
e tratar possíveis causas da bradicardia. medicamento em doses mais altas (5 a 20 µg/kg/min).
A adrenalina tem efeito estimulante α e β-adrenérgicos.
Atropina Ela é mais potente que a dopamina para aumentar a FC e,
assim como a dopamina, eleva o consumo de oxigênio do
A atropina é o primeiro medicamento nos quadros ins- miocárdio, podendo piorar a isquemia do IAM.
táveis, pela disponibilidade, rapidez e facilidade na admi-
nistração, sem necessidade de preparo ou de diluições. Marcapasso provisório transcutâneo (MP-TC)
Pulsos elétricos são aplicados através de dois eletrodos
Algoritmo 1. Bradiarritmia (o paciente não está em parada cardíaca)*
colados na pele do tórax. A corrente aplicada (de 30 a 200
mA) atravessa o tórax despolarizando o miocárdio e todas
as estruturas musculares no caminho, levando à contração
Bradicardia involuntária da musculatura torácica com dor e desconfor-
• Lenta (FC < 60 bpm) to acentuados, sendo necessária sedação. Os modernos des-
ou
• Inadequada para a condição clínica
fibriladores já incluem o MP-TC.
Para evitar esse desconforto, pode-se indicar a sedação
com midazolan (3 a 5 mg IV) ou fentanil (2 µg/kg IV). Es-
sas doses podem ser repetidas conforme a necessidade, em-
• Manter vias aéreas patentes bora haja a possibilidade de depressão respiratória.
• Oxigênio suplementar
• Monitorização: PA, oximetria e monitor cardíaco ■ Instalação dos eletrodos: eles já vêm prontos (autoadesi-
• Acesso venoso
vos, com gel condutor). A aplicação é muito simples e rá-
pida, mas exige atenção, já que a posição das pás não pode
ser invertida. A posição habitual e que oferece menor re-
A perfusão periférica está adequada? (Estado mental agudamente sistência à passagem da corrente (impedância) é a fren-
alterado, dor torácica, hipotensão ou sinais de choque.) te/trás do coração, mas outras posições como ester-
no/ápex são aceitáveis se o paciente não puder ser virado.
Sim Não
■ Controlar os três parâmetros da estimulação:
– Frequência de disparo: em geral, 70 a 80 bpm.
– Energia aplicada (30 a 200 mA): em geral, inicia-se
com 20 a 30 mA e aumenta-se gradualmente a energia,
Observe e continue
monitorizando
• Prepare o marcapasso transcutâneo até que a cada disparo do MP-TC corresponda um
(sem retardo no BAVt ou BAV de 2o complexo QRS (Figura 5), com pulso palpável. O pul-
grau – Mobitz II)
• Considere atropina (0,5 mg de 3-3
so deve ser palpado nas artérias femorais pela interfe-
minutos; máximo 3,0 mg) rência das contrações musculares induzidas pelo MP-
• Considere epinefrina (2 a 10 µg/min) TC na palpação dos pulsos carotídeos.
ou dopamina (2 a 10 µg/kg/min) – O menor nível de energia que conduza todos os pul-
sos do MP é denominado limiar de estimulação.
– Deve-se manter um nível de energia acima do limiar
• Prepare o marcapasso transvenoso
para que o paciente não perca abruptamente o co-
• Tratar causas contribuintes** mando do MP-TC.
– Modo de estimulação (em demanda ou fixo): no modo
de demanda, o estímulo é disparado apenas quando a
* Baseado nas recomendações das novas diretrizes do Suporte Avançado de Vida FC estiver abaixo da frequência do MP-TC, evitando
2005 (http://www.circulation.org e http://www.aha.org).
estimulações desnecessárias e a possibilidade do MP-
** Lembrar dos fatores contribuintes: 6H e 5T.
TC de aplicar o estímulo elétrico sobre uma onda T de
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I I I I I I I I
batimento espontâneo do paciente, com consequente ventrículo direito, de preferência próximo à sua ponta, na
arritmia ventricular; no modo fixo, o aparelho dispara parede inferior, fazendo ângulo de aproximadamente 30°
independentemente da FC ou dos batimentos espontâ- com o plano horizontal (Figura 6).
neos do paciente e somente é utilizado em situações de A energia com que se mantém a estimulação nunca
transporte ou quando o paciente está muito agitado (si- deve ser menor do que três vezes a do limiar, porque na re-
tuações em que o MP-TC pode interpretar oscilações ou gião em que o eletrodo encontra-se impactado ocorre uma
interferências musculares como batimentos cardíacos). reação inflamatória, o que irá dificultar a condução do estí-
mulo após alguns dias de utilização do método. O mar-
Desvantagens do marcapasso transcutâneo (MP-TC): capasso provisório pode ser passado também sem o auxílio
da radioscopia com o eletrocardiograma, porém este proce-
■ Exige algum nível de sedação contínua.
■ Causa desconforto ao paciente.
■ Pode ser ineficaz em até 30 a 40% dos pacientes (por ser
incapaz de capturar o ritmo cardíaco, ou por intolerância
do paciente).
■ Após algumas horas da sua utilização, nota-se que sua efi-
cácia vai diminuindo, devendo-se optar por outro meio
de estimulação.
■ Deve ser utilizado apenas como ponte até a instalação de
outro método de estimulação.
7 ■ ARRITMIAS 97
dimento torna-se mais difícil. A introdução do eletrodo é Uma vez instalado, o MP-TV necessita de cuidados,
feita da mesma forma, mas sem a orientação visual. Conec- principalmente nas primeiras 48 horas. O paciente deve ser
ta-se o eletrodo na derivação “V” do ECG, monitorizando o mantido monitorizado para imediata identificação de qual-
paciente nesta derivação. Desta forma, o traçado mostra quer perda de comando do MP-TV. O eletrodo, por ser cor-
como a ponta do eletrodo “vê” a onda P e o QRS. Deve-se po estranho, induz uma reação inflamatória no local de im-
prestar atenção às alterações eletrocardiográficas que vão pactação. O edema e o infiltrado celular dificultam a
ocorrendo enquanto o eletrodo é introduzido (Figura 7). condução elétrica, elevando progressivamente a energia mí-
Com base nesses traçados pode-se inferir quando a posição nima necessária para a despolarização cardíaca (limiar de
do eletrodo está adequada, passando a testar o limiar de captura). A amplitude da elevação do limiar é individual,
captura. mas 70% do limiar máximo a ser atingido ocorre nas pri-
meiras 48 horas; e o limiar máximo, após 7 dias de instala-
ção do eletrodo. Após uma semana, a inflamação começa a
regredir com consequente melhora do limiar. Existe o risco
Veia cava superior: a ponta do do MP-TV perder o comando do coração se o limiar su-
eletrodo “vê” os vetores do P e plantar a energia aplicada pelo gerador, com graves conse-
QRS negativos. quências.
Nas primeiras 48 horas recomenda-se medir o limiar a
cada 12 horas, mantendo o gerador com energia 3 a 5 vezes
Átrio direito alto: a onda P fica acima do limiar, do 3o ao 7o dias, a recomendação é de uma
muito grande dentro do átrio, medida diária e energia de 2 a 3 vezes acima do limiar.
permanecendo negativa. O As grandes vantagens deste método de estimulação em
QRS continua pequeno.
relação ao MP-TC são o maior conforto do paciente, que
pode movimentar-se livremente, já que o gerador de pulsos
tem tamanho reduzido, a ausência de dor e a possibilidade
Átrio direito médio: a onda P, de ser mantido por até quinze dias. Suas maiores desvanta-
ainda grande, fica bifásica. gens são a necessidade de profissional habilitado para sua
passagem, riscos de infecção, complicações durante a passa-
gem (hemotórax, pneumotórax, punção arterial com he-
matomas), arritmias e perfurações de vasos ou de câmaras
cardíacas.
Átrio direito baixo: a onda P
continua grande e fica
positiva. Glucagon
O uso do glucagon é associado com melhora da fre-
quência cardíaca e dos sinais e sintomas relacionados às
Veia cava inferior: a onda P
bradicardias. É indicado principalmente nas bradicardias
volta a ficar pequena, porém,
positiva. O QRS continua causadas por medicação, em particular betabloqueadores e
pequeno. bloqueadores dos canais de cálcio.
INTRODUÇÃO
ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA
Figura 7 –Traçados de ECG durante passagem de eletrodo de MP.
* Sequência da passagem de eletrodo de MP-TV: na primeira coluna, a
O mecanismo da taquicardia auxilia na decisão do tipo
posição da ponta do eletrodo nas câmaras cardíacas; na segunda coluna, de tratamento. São dois os principais mecanismos das ta-
o traçado de ECG; e, na terceira coluna, a descrição do traçado obtido. quicardias:
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■ Automatismo: um grupo de células miocárdicas tem o au- ■ Avaliar nível de consciência e perfusão periférica.
tomatismo aumentado, assumindo o comando da despo- ■ Ausculta cardíaca: bulhas rítmicas ou não, sopros, B3, B4,
larização cardíaca com frequência cardíaca acelerada. O bulhas abafadas.
aumento do automatismo pode ser secundário a altera- ■ Pulmonar: estertores crepitantes.
ções autonômicas, eletrolíticas ou farmacológicas. ■ Outros: palpar tireoide, procurar locais de picada de agu-
– Neste caso, a cardioversão elétrica ou as drogas de cur- lha etc.
ta duração como a adenosina são de pouca valia, já que
passado o efeito do procedimento o mesmo grupo de Exames complementares
células volta a assumir o ritmo cardíaco.
■ Reentrada: existe um circuito que permite a circulação do Pacientes que se apresentam com sinais ou sintomas de
estímulo cardíaco, com pelo menos duas vias. Na presença instabilidade devem ser levados à sala de emergência e de-
de dupla via de condução, em geral, a via mais rápida tem vem ser providenciados: monitorização, oxímetro e oxigê-
período refratário maior e a mais lenta tem período refra- nio suplementar, acesso venoso e coleta de exames labora-
tário menor. Em situação normal, as duas vias despolari- toriais (hemograma, eletrólitos, função renal, marcadores
zam em paralelo, e o estímulo da via lenta encontra as fi- de necrose miocárdica). Durante a estabilização, um ECG
bras em período refratário, já despolarizadas pela via de 12 derivações é fortemente recomendado.
rápida. Mas, na presença de um estímulo precoce, a via rá- Os critérios de instabilidade são (desde que atribuíveis
pida pode estar em período refratário; o estímulo segue à arritmia):
então pela via lenta e pode retornar pela via rápida quan-
do esta estiver repolarizada, e reentrar novamente pela via ■ Choque, hipotensão, má perfusão.
lenta. Dessa forma, temos um ciclo repetitivo, e a cada ci- ■ Alteração do nível de consciência (ainda que transitória,
clo pode ocorrer a estimulação do miocárdio levando à ta- como síncope ou pré-síncope).
quicardia. Para que a reentrada continue ocorrendo, é ne- ■ Dor precordial (anginosa).
cessário um sincronismo perfeito, e qualquer fator que ■ Dispneia (insuficiência cardíaca, congestão ou edema agu-
altere a velocidade de condução ou o período refratário do de pulmão).
das vias pode interrompê-lo.
Pacientes com taquicardias estáveis devem ser imedia-
ACHADOS CLÍNICOS tamente submetidos ao ECG de 12 derivações.
Outros exames complementares irão depender do qua-
Os pacientes procuram o PS por vários motivos, desde dro clínico e da arritmia em questão. Por exemplo, o ECG
queixas inespecíficas (tonturas, mal-estar, angústia) até pode mostrar uma taquicardia sinusal e o quadro clínico in-
queixas mais sugestivas de alguma doença cardíaca (sínco- dicar apenas um transtorno da ansiedade. Por outro lado, o
pe, dispneia, dor torácica, palpitação, hipotensão). paciente pode também ter a mesma taquicardia sinusal, mas
Anamnese: ele tem sinais/sintomas sugestivos de embolia pulmonar.
Por isso, vários exames poderão ser úteis, mas depende-
■ Pacientes instáveis devem ser levados à sala de emergência rão do quadro clínico e do diagnóstico da taquicardia.
e estabilizados; história e exame físico devem ser feitos
concomitantemente à estabilização clínica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
■ História de qualquer doença prévia:
– Cardíaca: arritmia, doença coronariana, hipertensão, O diagnóstico diferencial envolve dois aspectos:
valvopatia, revascularização prévia, insuficiência car-
díaca, aneurisma, doença congênita etc. Enfatizar arrit- ■ Situações clínicas que cursam com taquiarritmia, embora
mia prévia (quando, qual, tratamento instituído). a frequência cardíaca elevada apenas esteja acompanhan-
– Pulmonar: hipertensão pulmonar, doença restritiva ou do uma doença de base, como embolia pulmonar, hemor-
obstrutiva, embolia pulmonar etc. ragia digestiva, hipovolemia, feocromocitoma, hipertireoi-
– Outras: doença tireoidiana, vascular periférica, neuro- dismo, síndrome do pânico, uso de drogas ilícitas, sepse,
lógica etc. hipoxemia etc. São situações que podem aumentar a FC
■ Uso de quaisquer medicações: antiarrítmicos, vasocons- secundariamente e, nesses casos, o foco principal do trata-
tritores, anti-hipertensivos, quimioterápicos, antiangino- mento é corrigir o fator desencadeante.
sos, antidepressivos etc. ■ Situações que podem levar a taquiarritmias: hipocalemia,
■ Uso de drogas ilícitas, especialmente cocaína e derivados. hipomagnesemia, uso de antiarrítmicos, isquemia do mio-
■ Ocorrência de dispneia, dor torácica, períodos de confu- cárdio, insuficiência cardíaca, valvopatias, doenças cardía-
são, síncope ou pré-síncope, tontura. cas congênitas etc.
7 ■ ARRITMIAS 99
ao tratamento do paciente, deixando a identificação da ar- versor elétrico, que despolariza todo o miocárdio, permitin-
ritmia para depois (Algoritmo 2). do que as células de maior automatismo, as do nó sinusal
(NSA), reassumam o ritmo cardíaco. Menos eficaz nas ar-
Tratamento das taquicardias com instabilidade ritmias por automatismo, em que as células de automatis-
mo exacerbado voltam a assumir o ritmo logo após a CVE.
As taquiarritmias instáveis, independente do tipo, devem A CVE diferencia-se da desfibrilação pelo sincronismo
ser revertidas da forma mais rápida possível, com cardiover- do choque com os complexos QRS do paciente. Esse sincro-
são elétrica sincronizada (CVE). Durante o preparo para o nismo tem duas finalidades:
procedimento, é possível tentar alguma medida rápida e de
efeito transitório, como a manobra vagal e a adenosina para ■ Evitar o fenômeno R sobre T: quando o choque é aplicado
as TSV, embora nada deva retardar a CVE (Algoritmo 3). sobre a onda T, parte das fibras ventriculares está repolari-
O procedimento consiste em uma corrente elétrica zada e parte não está, permitindo a ocorrência da fibrila-
contínua aplicada sobre o tórax, através das pás do cardio- ção ventricular.
QRS estreito (< 0,12 seg) Avaliar duração do QRS QRS > 0,12 seg
■ Aumentar a eficácia da CVE: o melhor momento para des- rápido, raramente causa broncoespasmo, não é depres-
polarizar o miocárdio é quando a maior parte dele (os sor cardiovascular, mas causa hipotensão.
ventrículos) está se despolarizando espontaneamente. ■ Etomidato (ampolas de 10 mL com 2 mg/mL):
– Pré-medicar com 100 µg (2 mL) IV de fentanil.
Sedação – Após 2 minutos, infundir o etomidato na dose de 20
mg IV em bolus.
A mesma corrente que despolariza o miocárdio despo- – Hipnótico, não analgésico e não amnésico, por isso é
lariza toda a musculatura esquelética torácica em seu traje- necessário o uso do fentanil.
to, causando dor e desconforto ao paciente, sendo necessá- – Etomidato tem efeito muito rápido, não causa bron-
ria a sedação. Para isso, são alternativas: coespasmo ou depressão cardiovascular.
– Pode desencadear mioclonias que são parcialmente an-
■ Propofol (ampolas a 1%; 1 mL = 10 mg e ampolas a 2%; 1 tagonizadas pelo uso concomitante do fentanil.
mL = 20 mg): ■ Midazolam (ampolas de 3 mL com 5 mg/mL):
– 30 a 50 mg IV em bolus. – 3 a 5 mg em bolus, pode-se repetir até sedação adequa-
– Em alguns pacientes, pode ser necessário repetir o bo- da.
lus até doses de 200 mg. – Hipnótico, causa amnésia, mas não é analgésico.
– Hipnótico, não analgésico, mas amnésico. Efeito muito – Não causa broncoespasmo ou depressão cardiovascular.
• Se a frequência ventricular for > 150 bpm, prepare-se para cardioversão imediata.
• Pode-se fazer um rápido teste medicamentoso baseado nas arritmias específicas.
• Geralmente não é necessária a cardioversão imediata se a FC for ≤ 150 bpm.
• TPSV • FA
• TV monomórfica
• Flutter • TV polimórfica
Observações importantes:
1. Fique atento para a possível necessidade de ressincronizar o equipamento após cada cardioversão.
2. Se houver demora na sincronização e o quadro clínico for crítico, aplique choque não-sincronizado imediatamente.
3. A TPSV e o flutter atrial geralmente respondem a baixos níveis de energia. Inicie com 50 J.
* Baseado nas recomendações do American College of Cardiology/American Heart Association – 2005 – http://www.acc.org.
** Esquemas efetivos têm incluído um sedativo (midazolam) com ou sem um agente analgésico (fentanil ou morfina). Outra excelente opção é o propofol.
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7 ■ ARRITMIAS 101
– Indução rápida, mas tem efeito prolongado (até 4 ho- ter sido projetado para tais níveis de energia, podendo
ras), parcialmente revertido pelo flumazenil. fundir-se. Da mesma forma, a energia concentrada fluindo
pelo eletrodo em um pequeno ponto do coração pode
Técnica da cardioversão causar lesão cardíaca com posterior perda de comando do
marcapasso.
O sucesso do choque na reversão depende da chamada ■ Em pacientes em que o posicionamento esterno/ápice não
corrente efetiva, ou seja, da corrente elétrica que efetiva- é possível, pode ser utilizado um posicionamento de pás
mente passa pelo miocárdio. Esta corrente varia inversa- cuja linha seja perpendicular à original, com a pá esterno à
mente com a impedância, ou resistência elétrica, do pa- direita da borda inferior do esterno e a pá ápice subclavi-
ciente. Uma técnica de cardioversão elétrica inadequada cular E. Outro posicionamento possível é o frente/trás do
pode elevar a impedância, comprometendo a eficiência do coração com o paciente em decúbito lateral D.
procedimento. Por isso, alguns cuidados são necessários: ■ Uma pressão de 13 kg deve ser aplicada sobre as pás (o
peso do tronco apoiado sobre o paciente). A pressão me-
■ Equipamento para intubação e atendimento de parada lhora o contato das pás com a pele, comprime a gordura
cardiorrespiratória (PCR) devem estar prontamente dis- do subcutâneo e retira o ar dos pulmões, diminuindo sig-
poníveis. nificativamente a impedância do paciente.
■ Próteses dentárias móveis devem ser retiradas. ■ As pás devem ser carregadas com a energia determinada,
■ Monitorização, oxigênio e acesso venoso calibroso devem sempre aplicando pressão nas pás.
ser providenciados. ■ Nenhum integrante da equipe deve estar encostado no pa-
■ Deve-se proceder a tricotomia e a limpeza de pele se forem ciente ou na maca do paciente. Deve-se avisar em voz alta
necessárias para remoção de gordura e substâncias que a eminência do choque.
atrapalham a condução elétrica. ■ Deve-se aguardar o aviso do cardioversor de carga com-
■ Gel ou interface condutora nas pás do cardioversor devem pleta, aplicar os botões de disparo simultaneamente, e
ser aplicados. mantê-los pressionados até que o choque seja aplicado –
■ O choque deve ser sincronizado e o sincronismo, confir- lembrar que o choque é sincronizado e só será aplicado no
mado: os cardioversores marcam no traçado do ECG, o próximo QRS.
que o programa do aparelho reconhece como sendo o ■ Após o choque, deve-se confirmar a reversão da arritmia. O
QRS. Em aparelhos de algoritmo de reconhecimento anti- emergencista deve estar preparado para a ínfima possibili-
gos, a onda T pode ser confundida com o QRS. Deve-se dade de FV pós-CVE para aplicar o contrachoque imedia-
mudar a derivação ou a posição dos eletrodos, até que o to de 200 J não-sincronizado. Em caso de insucesso na
aparelho reconheça corretamente o QRS. Em muitos apa- CVE, novo choque é possível, com energia mais elevada.
relhos, em caso de necessidade de novo choque, é necessá- ■ Após a CVE, deve-se observar o paciente e dar suporte
rio ressincronizar o choque; o sincronismo pode desligar ventilatório e hemodinâmico, se necessário, até a comple-
automaticamente após o 1o choque, pela pequena possibi- ta reversão da anestesia.
lidade do paciente sair em FV. ■ Deve-se cogitar uso de antiarrítmico para evitar a recidiva
■ O paciente deve ser sedado com um dos esquemas propos- da arritmia.
tos acima. Um bom parâmetro para verificar se o nível de
sedação é adequado é a perda do reflexo ciliar. Cardioversor elétrico bifásico
■ As pás devem ser apoiadas sobre o tórax do paciente. A pá
esterno à direita do esterno (não colocar em cima do ester- O choque de onda bifásica consiste em uma corrente
no, pois o osso atrapalha a condução elétrica), sob a claví- contínua com inversão da polaridade das pás entre a
cula D; e a pá ápice junto ao apex cordis, sobre a linha axi- metade e a transição do 2º e 3º terço do choque. É mais efi-
lar anterior E. caz que a onda monofásica de mesma energia, ou capaz de
■ A energia do choque deve ser selecionada: obter a mesma eficácia usando menores níveis de energia,
– Na maioria dos casos, a energia inicial é 100 J no cardio- tanto na fibrilação ventricular, como na atrial. Pouco estu-
versor monofásico (ou dose equivalente do bifásico). dada em outras arritmias é a onda de choque padrão nos
– Na TPSV e flutter, pode-se iniciar com 50 J. desfibriladores implantáveis por associar a alta efetividade
– Na FA e na TV polimórfica, há autorização para iniciar com baixo consumo de energia. Na FV, usar o nível de ener-
com 200 J. gia preconizado pelo fabricante:
– Em casos de insucesso, novos choques com escalona-
mento de energia de 200-300-360 J podem ser aplicados. ■ Philips/Agilent – Heartstart XL®: 150–150–150 J.
■ Em pacientes portadores de marcapasso definitivo, deve-se ■ Zoll – M Series®: 120–120–120 J ou 120–150–200 J.
traçar uma linha imaginária entre o gerador e a extremi- ■ Medtronic/Physiocontrol – Lifepak 12®: 200–300–360 J
dade do eletrodo na ponta do VD – se a linha tiver uma di- (como o monofásico).
reção semelhante à linha traçada entre as pás do cardiover-
sor, cogitar outro posicionamento para as pás do Nas demais arritmias, pela pequena quantidade de estu-
desfibrilador. O gerador é blindado e geralmente resisten- dos, não está estabelecido ainda o quanto de energia devemos
te a choques de até 300 J, mas o eletrodo passa a ser o ca- utilizar na CVE, mas a mesma eficácia que a do cardioversor
minho de menor resistência à passagem da corrente, sem monofásico pode ser obtida com apenas metade a dois terços
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da energia. Outra abordagem possível seria a de usar os mes- ■ TV polimórfica: precisa de maior nível de energia na CVE
mos níveis de energia do monofásico, tendo em vista que a (iniciar com 200 J) e, algumas vezes, não se consegue o
onda monofásica não é mais deletéria que a bifásica. sincronismo do choque pela variabilidade do RR. Nesses
casos, é aceitável a cardioversão não-sincronizada.
Indicações, contraindicações e efeitos adversos da ■ Em pacientes com sinais de instabilidade hemodinâmica,
cardioversão entretanto, o choque inicial deve ser com energia de 200 J,
seguido de outro com energia de 300 J e os seguintes com
Indicações 360 J, caso o primeiro choque não tenha sido bem-suce-
dido. Recorrência de arritmia sugere a necessidade de in-
CVE imediata é indicada para qualquer arritmia poten- tervenção farmacológica e/ou eletrofisiológica em associ-
cialmente responsiva a este método, como FA, flutter atrial, ação, se necessário com repetidas CVEs.
taquicardia supraventricular sustentada não responsiva a
adenosina e taquicardia ventricular (TV). A CVE urgente Contraindicações
ou eletiva é indicada para FA, flutter atrial, TPSV e TV
quando a cardioversão química falhou ou como forma ini- A CVE tem contraindicação relativa em certas cir-
cial de terapêutica. Como norma, qualquer taquicardia que cunstâncias, por exemplo:
produza hipotensão, insuficiência cardíaca ou angina que
não responda prontamente ao tratamento com medicação ■ Intoxicação digitálica: o nível terapêutico de digoxina
deve ser terminada eletricamente. não é contraindicação para cardioversão. Se a intoxicação
Fibrilação atrial é a arritmia que mais comumente re- digitálica for conhecida ou suspeitada, a cardioversão ele-
quer CVE em adultos e, com frequência, necessita de tiva para FA ou flutter atrial deve ser evitada.
descargas elétricas de pelo menos 100 J, podendo inclusive ■ Taquicardias repetitivas de curta duração: estes distúrbios
ser iniciada já com 200 J, e com raros casos sendo não devem ser tratados com CVE, porque sua recorrência
necessários 360 J para reversão com sucesso (no bifásico, é demonstra uma alteração estrutural requerendo manipu-
razoável iniciar com 100 a 120 Joules). Sempre que possível, lação farmacológica.
os pacientes com FA ou flutter atrial com duração igual ou ■ Taquicardia atrial multifocal ou outras arritmias au-
superior a 2 dias, ou de início indeterminado, devem ser tomáticas.
submetidos a anticoagulação plena (com varfarina para ■ Hipertireoidismo: os pacientes devem estar funcional-
manter o RNI entre 2 e 3 ou com heparina de baixo peso mente eutireoidianos antes da CVE eletiva, para limitar as
molecular subcutânea), por pelo menos 3 semanas antes da possibilidades de recorrência.
cardioversão eletiva, e deve ser continuada por pelo menos
mais 3 semanas após a cardioversão. A utilização do ecocar- Efeitos adversos
diograma transesofágico é de grande utilidade para identi-
ficação de trombos intracavitários, podendo ser adotado A CVE raramente produz efeitos adversos. Pausas sinu-
como opção à anticoagulação nos pacientes com fibrilação sais e atriais, ritmo juncional ou batimentos ectópicos ven-
atrial há mais de 2 dias, com bons resultados. Anticoagu- triculares podem ocorrer transitoriamente após a restau-
lação crônica deve ser considerada em pacientes com ração do ritmo sinusal, especialmente nos pacientes com FA
doenças cardíacas, nas quais a recorrência da FA é mais de duração prolongada e baixa resposta ventricular. Relatos
provável. Os pacientes podem ter menor probabilidade de de arritmias ventriculares complexas, como taquicardia
manter o ritmo sinusal se a FA for de longa data ou se a di- ventricular, fibrilação ventricular ou assistolia são raros e
mensão do átrio for maior do que 4,5 cm pelo ecocardio- mais prováveis de ocorrer quando a CVE é realizada com
grama. sincronização inadequada, vigência de intoxicação digitáli-
O flutter atrial pode responder a CVE a partir de 50 J ou ca ou uso concomitante de drogas antiarrítmicas.
menos, porém descargas com energias muito baixas (5 a 10 Eventos embólicos pulmonares ou sistêmicos também
J) podem converter o flutter atrial em fibrilação atrial. A an- são raros, se a anticoagulação foi apropriada. Dores muscu-
ticoagulação deve ser introduzida seguindo os mesmos lares, com concomitante aumento nos níveis séricos de CPK
critérios da FA. e irritação na pele no sítio de colocação das pás podem
A CVE da TPSV por reentrada nodal ou vias acessórias ocorrer, assim como aumento de CKMB em até 12% nos
geralmente requer de 25 a 100 J. Reversão química com pacientes. No mesmo grupo de pacientes, a troponina I, um
adenosina IV ou verapamil (nos pacientes sem instabili- marcador de necrose miocárdica mais cardioespecífico, não
dade hemodinâmica) geralmente tem sucesso e deve ser apresenta elevação após CVE com até 400 J.
tentada antes da cardioversão elétrica.
A energia indicada para o tratamento da TV depende Antiarrítmicos disponíveis e classificação de
do tipo: Vaughn-Williams
■ TV monomórfica: monofásico – iniciar com 100 J e au- Quando nos referimos a classes de antiarrítmicos, esta-
mentar a dose progressivamente (200, 300 e 360 J). Os mos falando da classificação de Vaughn-Williams (Tabela
dados disponíveis são insuficientes para recomendar o 2), baseada no mecanismo de ação e nas propriedades ele-
bifásico. trofisiológicas do coração. Ao escolher um fármaco, deve-se
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 103
7 ■ ARRITMIAS 103
ter em mente que toda droga antiarrítmica é também po- - TV com função ventricular comprometida: não
tencialmente pró-arrítmica, sendo necessário considerar os usar lidocaína; dar preferência a amiodarona e, se
seus efeitos adversos. não houver sucesso, realizar CVE sincronizada.
A seguir, serão descritos alguns antiarrítmicos disponí- – Grupo Ic: efetivos tanto nos átrios como nos ventrícu-
veis no Brasil, com os respectivos modos de administração. los; ao contrário do grupo Ia, bloqueiam o NAV. A me-
dicação usada desta classe é o o ibutilide. Ele é um
■ Grupo I: bloqueadores de canais de sódio. antiarrítmico de curta ação que atua prolongando a
– Grupo Ia: efetivos na estabilização das células atriais e duração do potencial de ação e aumentando o período
ventriculares, estabilizam o feixe de Kent, podem acele- refratário do miocárdio.
rar a condução pelo NAV por efeito vagolítico. Têm – Indicações:
efeito pró-arrítmico por alargamento do intervalo QT, - Cardioversão química da FA ou flutter em pacien-
podendo induzir a torsades de pointes. São depressores tes com função ventricular normal e duração da ar-
cardiovasculares, podendo induzir hipotensão e cho- ritmia de menos de 48 horas. Também pode ser
que, principalmente em pacientes com função ventri- usada na SWPW, embora a preferência seja pela
cular comprometida. CVE sincronizada.
– Procainamida: 20 a 30 mg/min IV até a dose máxima - Controle da frequência cardíaca na FA quando os
de 17 mg/kg/min. Deve ser interrompida se houver betabloqueadores e bloqueadores de canais de cál-
reversão da arritmia, se o paciente ficar hipotenso, cio foram ineficazes e o paciente tem função ventri-
ou se o QRS alargar em mais de 50%. A manutenção cular normal.
é de 1 a 4 mg/min. Pode desencadear quadro de lú- – Dose:
pus em pacientes suscetíveis. - Pacientes com mais de 60 kg: 1 mg IV em 10 minu-
– Indicações: a procainamida pode ser usada em pa- tos (pode ser infundida “pura” ou diluída). Uma se-
cientes com função ventricular preservada e TV mo- gunda dose pode ser aplicada.
nomórfica, controle da FC na FA ou flutter atrial, - Pacientes com menos de 60 kg: 0,01 mg/kg IV em 10
controle da FC na SWPW e na TSV por reentrada minutos (pode ser infundida “pura” ou diluída).
nodal e recidiva após adenosina. Uma segunda dose de 0,01 mg/kg pode ser aplicada.
– Grupo Ib: têm efeito quase que exclusivamente nos - Efeitos adversos: mínimos; a maior limitação é o
ventrículos, são ineficazes para arritmias supraventri- aumento da incidência de arritmias ventriculares
culares. Não deprimem a função ventricular, são bem (TV polimórfica, inclusive torsades de pointes).
tolerados mesmo em pacientes com função ventricular - Checar se há hipercalemia ou hipomagnesemia an-
ruim. A medicação desta classe é a lidocaína. tes da infusão; se houver, corrigir o(s) distúrbio(s)
– Dose: bolus inicial de 0,5 a 0,75 mg/kg IV (o bolus pode antes de infundir o medicamento.
ser de até 1,5 mg/kg), pode ser repetido 0,5 a 0,75 – Contraindicação: pacientes com QRS > 0,44 segundo.
mg/kg após 10 a 15 minutos, até a dose máxima de ata-
que de 3,0 mg/kg. A manutenção é de 1 a 4 mg/min. ■ Grupo II: inclui todos os betabloqueadores, com exceção
– Efeitos adversos: é neurotóxica, podendo desencadear do sotalol, que é do grupo III. Cronotrópicos, dromotró-
quadros de agitação psicomotora e convulsões. Tem picos e inotrópicos negativos; reduzem o automatismo si-
ação curta, não disponível VO para manutenção. nusal, bloqueiam o NAV e lentificam a condução. Con-
– Indicações (não é a escolha inicial, mas pode ser usada): traindicados em asmáticos, DPOC com broncoespasmo e
- TV monomórfica estável e função ventricular pre- pacientes com comprometimento importante da função
servada. sistólica.
- TV polimórfica e intervalo QT de base normal, quan- – Indicações:
do distúrbio eletrolítico ou isquemia são tratados. – Taquicardias de complexo curto por reentrada nodal
- TV polimórfica com intervalo QT de base aumen- ou automatismo não controlado por manobra vagal
tado, sugestivo de torsades de pointes. ou adenosina e com função ventricular preservada.
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 104
– Controle da frequência cardíaca em pacientes com - Cardioversão química de pacientes com a SWPW e
FA ou flutter e função ventricular preservada. FA ou flutter de duração < 48 horas e função ventri-
– Efeitos colaterais: bradicardia, alterações de condução cular preservada. A CVE sincronizada é a escolha.
do NAV, broncoespasmo e hipotensão. – Dose: 1,0 a 1,5 mg/kg, com infusão de 10 mg/min.
– Contraindicações: BAV de 2o ou 3o graus, hipotensão, – Efeitos colaterais: bradicardia, hipotensão e efeito
IC descompensada e doença pulmonar com história de pró-arrítmico.
broncoespasmo; não usar na presença ou suspeita da
SWPW. ■ Grupo IV: bloqueadores dos canais de cálcio. Aqui estão
– Propranolol: dose total de 0,1 mg/kg, IV dividido em incluídos o verapamil e o diltiazem. São cronotrópicos e
3 doses iguais; infundir lentamente cada dose em 3 a inotrópicos negativos, bloqueiam o NAV, são vasodilata-
5 minutos. dores e podem desencadear hipotensão acentuada.
– Metoprolol: 5 mg IV em 3 a 5 minutos; dose máxima – Indicações:
de 15 mg. – Taquicardia de complexo curto, por reentrada nodal,
– Atenolol: 5 mg IV em 3 a 5 minutos; se necessário, não controlada por manobra vagal ou adenosina
uma segunda dose pode ser aplicada. (comparados com os betabloqueadores, os bloquea-
– Esmolol: infundido em três etapas: dores de canal de cálcio são preferidos).
- Bolus de 500 µg/kg IV em 1 min. – Taquicardia de complexo curto, por automatismo
- Durante 4 minutos adicionais: 50 µg/kg/min IV (juncional, ectópico ou multifocal) não controlado
(total de 200 µg/kg). por manobra vagal ou adenosina (comparados com
- Manutenção: 100 µg/kg/min IV contínuo; a dose os betabloqueadores, os bloqueadores de canal de
pode ser aumentada a cada 10 min até 300 cálcio são preferidos).
µg/kg/min. – Controle da frequência cardíaca em pacientes com
- Tem curta meia-vida (9 min), é fácil de manipular FA ou flutter.
e titulável. – Verapamil: 2,5 a 5,0 mg IV lento, em 2 minutos; doses adi-
cionais de 5 a 10 mg podem ser indicadas se não houve
■ Grupo III: são os chamados bloqueadores de canais de po- resposta em 15 a 30 minutos, ao máximo de 20 mg (dose
tássio (ainda que não bloqueiem os canais de potássio pro- total). Uma alternativa é fazer bolus de 5 mg IV (infundi-
priamente ditos). Têm atividade em células atriais e ven- do em 2 minutos) de 15 em 15 minutos até o máximo de
triculares e bloqueiam o NAV. 30 mg. A manutenção VO é de 160 a 480 mg/dia.
– Amiodarona: tem ações complexas no sistema car- – O verapamil é contraindicado em arritmias ventri-
diovascular: bloqueia os canais de sódio, potássio, cál- culares e na presença de IC.
cio e tem propriedades alfa e betabloqueadoras. – Diltiazem: 0,25 mg/kg IV em 2 a 3 minutos, seguido por
– Indicações: uma segunda dose de 0,35 mg/kg (IV em 2 a 3 minutos
- Taquicardia de complexo estreito, por reentrada após 15 minutos). A manutenção é de 5 a 15 mg/h IV.
nodal, sem resposta a manobra vagal e adenosina, – Não usar bloqueadores dos canais de cálcio na suspei-
com função ventricular normal ou alterada. ta ou na presença de SWPW.
- TV hemodinamicamente estável: TV monomórfi-
ca, TV polimórfica com intervalo QTc de base nor- ■ Agentes purinérgicos: não inclusos na classificação de
mal e taquicardias com QRS alargado de etiologia Vaughn-Williams. Agem através dos níveis de adenosina
incerta. monofosfato cíclica (AMPc). Têm ação ultracurta (< 10
- Controle da frequência cardíaca em pacientes com segundos), bloqueiam o NAV; necessitam de flush de soro
taquiarritmia atrial e presença ou suspeita da ou água destilada para chegar ao coração, pela sua meia-
SWPW. vida muito curta. Considerados de escolha na reversão das
- Pacientes com disfunção ventricular esquerda: TPSV. São úteis para facilitar o diagnóstico das arritmias
amiodarona é a medicação de escolha em arritmias supraventriculares, pois, ao bloquearem o NAV, facilitam a
atriais e ventriculares. identificação das ondas P. Podem desencadear broncoes-
– Dose: 150 mg IV em 10 minutos; infusão contínua de pasmo, FA e assistolias breves. Pouco eficazes em pacientes
1 mg/min durante 6 horas seguida de 0,5 mg/min por em uso de xantinas (teofilina, bamifilina, café).
mais 18 horas. Doses suplementares de 150 mg IV – Adenosina: 6 mg em bolus IV; se necessário, repetir
(infusão em 10 minutos) podem ser indicadas; dose mais dois bolus de 12 mg com 5 minutos de intervalo
máxima em 24 horas é de 2,2 g. (dose total de 30 mg).
– Efeitos colaterais: hipotensão e bradicardia, especial- – Indicações (pacientes estáveis hemodinamicamente):
mente se a infusão é rápida. - Taquicardia de QRS estreito, por reentrada nodal.
– Sotalol: não é um antiarrítmico de primeira linha. - Taquicardia de QRS estreito de origem indetermi-
Além das ações do grupo III, ele é um betabloqueador nada (reverte a arritmia ou ajuda no diagnóstico
não-seletivo. Em estudo recente, sotalol foi melhor que diferencial).
lidocaína para controle de TV sustentada. - Taquicardia de QRS largo em pacientes com arrit-
– Indicações (não é o agente de escolha): mia recorrente com conhecida reentrada nodal.
- TV monomórfica. - Adenosina não reverte FA, flutter ou TV.
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 105
7 ■ ARRITMIAS 105
- Apesar de não reverter muitas arritmias, a adenosi- a Taquicardias com QRS estreito sem onda P: três possibi-
na produz um bloqueio transitório do NAV, facili- lidades diagnósticas (Figura 8):
tando a visualização e o diagnóstico das arritmias. – Intervalo RR variável: fibrilação atrial (FA).
– Intervalo RR constante; não há ondas P, mas há ondas
Identificação e tratamento das taquicardias estáveis F (“em serra”): flutter atrial.
– Intervalo RR constante sem despolarização atrial visí-
As taquicardias estáveis podem também ser revertidas vel: taquicardia juncional, taquicardia paroxística su-
com a CVE ou com drogas antiarrítmicas. A tendência atu- praventicular (reentrada nodal) ou taquicardia atrio-
al é que seja utilizada apenas uma droga antiarrítmica para ventricular (TAV) ortodrômica da síndrome de
evitar o efeito pró-arrítmico de drogas; em caso de insuces- Wolff-Parkinson-White (SWPW).
so na reversão, indicar-se a CVE. b Taquicardias com QRS estreito e com presença de onda P:
Neste momento tem-se outro tópico fundamental das três possibilidades (Figura 9):
taquicardias: definir o intervalo do QRS, se estreito (< 0,12 – Intervalo PR menor que o intervalo RP: taquicardia si-
segundos) ou largo (> 0,12 segundos) (Algoritmo 4). nusal (TS) ou taquicardia atrial (TA): a morfologia e a
orientação da onda P definem se o foco é sinusal ou não.
– Intervalo PR igual ao intervalo RP: pode ser a situação
Algoritmo 4.Taquicardia com QRS estreito*, ** acima com bloqueio atrioventricular (BAV) de 1º grau,
mas se a FC for próxima de 150 bpm, considerar a pos-
QRS > 0,12 segundos sibilidade de flutter atrial 2:1 em que metade das ondas
F estão encobertas pelo QRS.
– Intervalo PR maior que o intervalo RP: como se a onda
O ritmo é irregular? P viesse depois do QRS. Intervalo RP < 0,08 segundos:
Não Sim
Persiste Reverteu
I aVR V1 V4
I
I I
I
1 I
I I
I
P P P
II aVL V2 V5
I I
I
I I
I I
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III aVF V3 V6
I I
I I
I
I I I
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I
I aVR V1 V4
P P P
I I I I
I I E E I I
II aVL V2 V5
I I I I
I I I I
3 III aVF V3 V6
I I I I
I I I I
120 ms
RHITHM STRIP: II
25 mm / sec ; cm / mv
I
I
■ Ausência de ondas RS nas derivações precordiais = TV. ■ O ECG caracteriza-se por ondas P precedendo o QRS.
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 107
7 ■ ARRITMIAS 107
■ Diferencial com a taquicardia sinusal: na taquicardia atrial NAV (Figura 14): uma de condução rápida e período refra-
a onda P tem morfologia diferente (Figura 13). Quando se tário (PR) longo e outra de condução lenta e PR curto. Em
associa a BAV variável, é muito sugestiva de intoxicação um batimento normal, o estímulo desce pela via rápida e
digitálica. despolariza os ventrículos, enquanto o que vem pela via
lenta termina ao encontrar tanto o feixe de His como os
O mecanismo principal é um aumento do automatis- ventrículos em período refratário (já despolarizados pela
mo em focos ectópicos atriais. Assim, muitas vezes a CVE é via rápida). Quando ocorre um batimento precoce (extra-
ineficaz, pois o foco automático reassume o ritmo após a
despolarização do miocárdio pela CVE (Tabela 3). 1 2 3
São eficazes os fármacos dos grupos Ia, Ic e III de Vau-
ghn-Williams (Tabela 2). A Tabela 3 resume o tratamento. Á α β α β α β
t
r
Taquicardia juncional i
o
s
Ocorre devido ao aumento do automatismo e também V
pode ser secundária à intoxicação digitálica. Deve-se dife- e
n
renciar da TPSV e da TAV ortodrômica por feixe anômalo. t
r
í
■ O ECG é caracterizado por intervalo QRS estreito; RR re- c
u H H H
gular; e onda P retrógrada, dissociada dos QRS ou enco- l
o
berta pelos complexos QRS. s
■ Responde bem aos fármacos com capacidade de bloqueio
do NAV, como os betabloqueadores ou bloqueadores de Figura 14 – Mecanismo da taquicardia paroxística supraventricular por
reentrada nodal. (1) Em um batimento normal, um estímulo desce pela
canais de cálcio.
via rápida (α) e despolariza os ventrículos; o que vem pela via lenta (β)
encontra os ventrículos já despolarizados. (2) Um estímulo precoce en-
TSVP por reentrada nodal contra a via rápida (α) em período refratário e desce pela via lenta (β),
despolarizando os ventrículos, e volta pela via rápida. (3) Um estímulo
O mecanismo principal é a reentrada do estímulo por retorna pela via rápida (α), despolariza os átrios e reentra pela via lenta
dupla via no nó atrioventricular (NAV). Há duas vias no (β), completando o ciclo.
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 108
sístole), o estímulo pode encontrar a via rápida ainda em Os átrios podem não ter contração efetiva na vigência
período refratário e pode seguir pela via lenta (que tem pe- da arritmia, com possibilidade de formação de trombos in-
ríodo refratário curto). Ao chegar no feixe de His, o estímu- tracavitários e posterior embolização. Apesar de não existi-
lo despolariza os ventrículos e encontra a via rápida repola- rem evidências tão consistentes quanto as da fibrilação atri-
rizada, voltando para os átrios onde o ciclo de reentrada se al (FA), podemos reverter o flutter até 48 horas após seu
completa. Esta taquiarritmia depende de um sincronismo início, enquanto o risco de embolia é muito baixo. Após 48
perfeito para a reentrada. Quaisquer medidas que alterem horas de arritmia (ou se não se consegue precisar a data),
as velocidades de condução ou os períodos refratários devemos controlar a FC com drogas que bloqueiam o NAV
(como a manobra vagal) podem interromper o circuito. (verapamil, diltiazem ou betabloqueadores) e anticoagular
o paciente com warfarina. Com 3 semanas de anticoagula-
■ A taquicardia resultante tem FC próxima de 180 bpm, in- ção efetiva (INR = 2,0 a 3,0), podemos reverter o flutter e
tervalo RR regular, sem onda P ou com PR > RP e RP < manter o paciente anticoagulado por mais 4 semanas. Uma
0,08 segundos (Figura 15). alternativa à anticoagulação prévia à CVE é solicitar um
■ A medicação de escolha é adenosina. ecocardiograma transesofágico; na ausência de trombo, po-
■ Quando a adenosina é ineficaz ou há recorrência da arrit- demos proceder à CVE. Após a cardioversão, o paciente
mia, um fármaco de meia-vida mais longa é necessário. As deve ficar anticoagulado por 4 semanas.
alternativas são: verapamil, diltiazem, betabloqueadores,
amiodarona ou a CVE com baixa energia (50 J). Fibrilação atrial
Arritmia que utiliza a circunferência dos átrios como ■ Caracteriza-se por múltiplos focos de reentrada atrial com
circuito de reentrada. Presença de ondas F (despolarização altíssima frequência (~500 bpm), BAV variável, intervalo
atrial) em geral negativas (80%) em DII, DIII, aVF (tipo I). RR irregular e FC~180 bpm em pacientes sem uso de an-
É uma arritmia muito bem organizada que responde pou- tiarrítmicos (Figura 17).
co aos antiarrítmicos habituais, embora tenha uma boa res- ■ A FA é bastante frequente em cardiopatias crônicas e,
posta ao ibutilide. quando tem duração de mais de 48 horas ou não é possível
precisar a data, o tratamento é semelhante ao do flutter:
■ Caracteriza-se por frequência atrial alta (250 a 350 bpm), anticoagulação por 3 semanas, CVE e anticoagulação por
condução para o ventrículo com bloqueio 2:1 no NAV (FC mais 4 semanas. Alternativamente, pode-se realizar um
~ 150 bpm) e em geral, é rítmica (Figura 16). ecocardiograma transesofágico e, se não houver trombo,
proceder à CVE e anticoagular por mais 4 semanas.
I aVR V1 V4
I I I I
Entretanto, grande controvérsia ainda existe em relação
I I I I aos possíveis benefícios de reversão da arritmia, em relação
II aVL V2 V5 ao controle simples da FC com bloqueio do NAV e anticoa-
I I
I
I gulação permanente.
I
P P P
I I
I Ao optar pelo controle da FC, verapamil, diltiazem ou
III aVF V3 V6
betabloqueadores estão indicados. Para a reversão química
I
I
I
I
I
I
I
está indicada a amiodarona. A FA responde melhor ao tra-
I
tamento farmacológico que o flutter, mas a CVE pode ne-
II
cessitar de elevados níveis de energia (200-360 J). Em casos
I
I
refratários, as opções são a CVE com onda bifásica, cardio-
Figura 15 – Taquicardia paroxística supraventricular por reentrada nodal.
versão intracavitária, ablação do NAV com implante de
marcapasso definitivo e cirurgia de labirinto de Cox.
Hoje, inicia-se a CVE sincronizada com 200 J do mo-
I aVR V1 V4
I I I I
nofásico ou 100 a 120 J do bifásico.
I I I I
I aVR V1 V4
II aVL V2 V5
I I
I
I I I I I
I I
I
I I I I I
P P P
II aVL V2 V5
III aVF V3 V6 I I
I
I I
I I I I I
I I I I
III aVF V3 V6
RHITHM STRIP: II I
25 mm / sec ; 1 cm / mv
I I
I
I I
I
I II
7 ■ ARRITMIAS 109
A
■ No ECG sem arritmias, podemos identificar um intervalo
PR curto (< 0,12 segundo) e a onda delta, causada pela
despolarização inicial dos ventrículos pelo feixe anômalo
que não tem o retardo do NAV, mas com período refratá-
rio maior que o NAV (Figura 18). 1 2 3
■ Um caso de síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW)
em que não identificamos a onda delta no ECG de base é
Átrios
chamado de WPW oculto. Kent
NAV
aVR V1 V4
I
I aVR V1 V4
I
I
I I I
I I
I I
aVL V2 V5
II I
II aVL V2 V5
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aVF V3 V6
III
III aVF V3 V6
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I I I I
I I
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II II I
I
I I
I
I
Figura 18 – Wolff-Parkinson-White (WPW) sem arritmia – PR curto e Figura 20 – Fibrilação atrial conduzida pelo feixe de Kent no WPW –
onda delta no início do QRS. QRS largo, com onda delta inicial e RR irregular.
07 Arritmias.qxd 19.05.09 16:27 Page 110
quentes em pacientes portadores de doença estrutural do ■ Torsades de pointes: quanto maior a FC de base, menor a
coração. Quando estáveis podem ser tratadas com fármacos probabilidade de o paciente voltar ao ritmo de taquicardia.
com atividade antiarrítmica nos ventrículos (Ia, Ib, Ic, III), O MPP está indicado, mesmo que a FC de base seja maior
embora a preferência seja a amiodarona. Costumam res- que 60 bpm. Podemos manter a FC entre 100-120 bpm
ponder bem à CVE pela organização da arritmia. com o MPP para evitar a recidiva da arritmia.
Algumas vezes a TV pode apresentar morfologia de ■ Overdrive suppression: é possível reverter taquicardias
QRS e intervalo RR variáveis, sendo denominada taquicar- como o flutter atrial ou a TPSV através de um gerador es-
dia ventricular polimórfica. pecífico de marcapasso transvenoso, capaz de gerar até 300
Em geral, as TV precisam de maiores níveis de energia pulsos por segundo. Instala-se o eletrodo de marcapasso
na CVE (iniciar com 200 J) e algumas vezes não se conse- transvenoso conforme descrito no capítulo de bradicar-
gue o sincronismo do choque pela variabilidade do RR – dias, mas deixando a ponta no átrio direito. Conecta-se o
nesses casos, é aceitável a cardioversão não-sincronizada. gerador e aplica-se uma frequência de pulso maior que a
Existe um tipo específico de TV polimórfica, associada FC. Dessa forma, o MPP assume o comando do coração,
a alargamento do intervalo QT (congênito, secundário a suprimindo a arritmia. Inicia-se, então, uma redução gra-
medicamentos antiarrítmicos ou distúrbios metabólicos). dativa da frequência de pulso, até que o ritmo volte a ser
Nessa TV, há alternância da polaridade e da amplitude das assumido pelo NSA.
ondas QRS, formando um traçado em fusos, como se as
pontas da tira de ECG fossem torcidas – torsades de pointes Complicações
(Figura 12). Em geral, é uma arritmia não-sustentada, alter-
nando períodos de torsades de pointes com ritmo sinusal A mais temida e grave complicação é a evolução de
(QT longo de base). Pela própria etiologia, deve-se procu- quaisquer das taquiarritmias para fibrilação ventricular. Por
rar não usar antiarrítmicos, exceto a lidocaína e a fenitoína. isso, sempre deve estar imediamente disponível material de
A CVE auxilia pouco pelo caráter intermitente da arritmia ressuscitação e um desfibrilador.
(esta reverte espontaneamente, para voltar a reentrar). A
administração de 2 g de sulfato de magnésio e a passagem
de marcapasso provisório para acelerar a FC de base (mes- CONCLUSÕES
mo que o paciente não esteja bradicárdico) são as medidas ■ Os bloqueios atrioventriculares (BAV) são classificados como de
preconizadas enquanto se aguarda a depuração dos antiar- primeiro, segundo e terceiro graus. A conduta na emergência é
rítmicos precipitantes. dependente do grau do bloqueio.
A energia indicada para o tratamento da TV depende ■ As bradiarritmias devem ser consideradas no diagnóstico
do tipo: diferencial de pacientes no pronto-socorro com síncope, tontura,
dispneia, dor torácica, confusão e crises epilépticas.
■ TV monomórfica: monofásico – iniciar com 100 J e au- ■ Pacientes com bradiarritmias, evoluindo com instabilidade
mentar a dose progressivamente (200, 300 e 360 J). Os da- hemodinâmica, têm indicação de passagem de marcapasso
dos disponíveis são insuficientes para recomendar o bifási- provisório na emergência para rápida correção da frequência
co. cardíaca.
■ TV polimórfica: precisa de maior nível de energia na CVE ■ Pacientes que se apresentam no PS com taquicardia devem ser
(iniciar com 200 J) e algumas vezes não se consegue o sin- imediatamente avaliados (ABC), monitorizados (PA, oximetria,
monitor cardíaco) e submetidos a ECG.
cronismo do choque pela variabilidade do RR – nesses ca-
sos, é aceitável a cardioversão não-sincronizada. ■ Qualquer sinal de instabilidade (dor precordial anginosa,
hipotensão, sinais de choque etc.) indica imediata CVE
sincronizada. Se possível, antes da CVE, deve-se garantir acesso
Outro tipo específico de TV é a taquicardia ventricular venoso, oxigênio, monitoração, analgesia e sedação, sincronização
idiopática (TVI), que acomete indivíduos com coração nor- do aparelho e material pronto para IOT e RCP.
mal, muitas vezes jovens, e usa parte do sistema de condu- ■ Após o ECG, em pacientes hemodinamicamente estáveis, deve-se
ção como circuito de reentrada, podendo apresentar QRS avaliar a regularidade da arritmia e a duração do QRS:
pouco alargado. A TVI pode ser responsiva ao verapamil, – QRS largo indica TV até prova em contrário.
com ECG com morfologia de BRD e desvio do eixo QRS
– QRS estreito com intervalo RR regular indica TSVP, flutter,
para a esquerda (bloqueio da divisão ântero-superior do taquicardia atrial ou taquicardia atrial multifocal.
ramo esquerdo). Este tipo de TV responde a adenosina, ve-
– QRS estreito e RR irregular indica FA ou arritmias com condução
rapamil e betabloqueadores. O outro tipo de TVI é o não- AV variável (exemplo: flutter).
reponsivo a verapamil, com ECG demonstrando BRE e des- ■ O tratamento, de forma geral, deve ser feito com:
vio do eixo para a direita (bloqueio da divisão
– TSVP: adenosina.
póstero-inferior do ramo esquerdo – BDPI). Como o pró-
prio nome diz, esta TVI não responde ao verapamil, mas – FA aguda: amiodarona ou CVE sincronizada com 100-200 J do
monofásico (ou 100 a 120 J do bifásico); se não reverter, energia
pode ser tratada com adenosina ou amiodarona. escalonada (300, 360 J).
– TV monomórfica estável, TV polimórfica com QTc de base
Marcapasso provisório normal ou qualquer taquicardia com QRS largo de origem
incerta: amiodarona.
Existem possíveis indicações para o seu uso.
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