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A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS NA PERCEPÇÃO DE ALUNOS DE


ESCOLAS DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE CRICIÚMA – SC

THE IMPORTANCE OF TEACHING SCIENCE FROM STUDENTS’ PERSPECTIVE IN


PUBLIC SCHOOLS IN CRICIÚMA, SC – BRAZIL

Aline Coêlho dos Santos1


Cristini Feltrin Canever1
Maristela Gonçalves Giassi2
Paulo Rômulo de Oliveira Frota3

RESUMO: O ensino de Ciências nas escolas brasileiras, de modo geral, ainda acontece de forma tradicional e
as pesquisas nessa área, costumeiramente, têm como foco o professor. Assim, este trabalho teve como objetivo
identificar a percepção dos alunos sobre a importância do ensino de ciências em suas vidas. Trata-se de uma
pesquisa qualitativa descritiva, com 216 alunos, do 6ª ao 9º ano, distribuídos em 7 escolas da rede pública
municipal de Criciúmas/SC. Os resultados mostram que os alunos gostam de ciências e acham importante para
sua vida, mas deixam claro que faltam aulas mais dinâmicas, interativas e práticas.
Palavras-chave: ensino de Ciências; ensino-aprendizagem; alunos; educação.

ABSTRACT: Science education in Brazilian schools generally still happens in a traditional manner and research
in this area is usually focused on the teacher. This study aimed to identify the students' perception about the
importance of science education in their lives. This descriptive, qualitative research was conducted with 216
students from 6th to 9th grade, in seven public schools in municipality of Criciúmas, SC. The results show that
students enjoy science and feel that it is important in their lives, but make it clear that more dynamic, interactive,
and practical classes are needed.
Keywords: Science education; teaching and learning; students; education.

1
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura e Bolsista PIBIC. Universidade do Extremo Sul Catarinense.
E-mails: aline.cds@live.com; cristinifc@hotmail.com
2
Doutora em Educação/UFSC e Professora titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense. E-mail: mgi@unesc.net
3
Doutor em Educação/Ensino de Ciências-UFSC, Professor Titular da Universidade do Extremo Sul Catarinense e
Coordenador do GP de Pesquisa Produção do Conhecimento no Paradigma Histórico-Cultural/UNESC.
E-mail: prf@unesc.net

Revista Univap, São José dos Campos-SP, v. 17, n. 30, dez.2011. ISSN 2237-1753
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1. INTRODUÇÃO Contudo, não existe em nossa região


uma pesquisa que aponte como os
O atual sistema de ensino do país vem
estudantes percebem sua escola, seus
enfrentando questionamentos que vão
professores e as disciplinas que têm que
desde o processo de ensino –
estudar diariamente, em outras palavras,
aprendizagem, passando por sua estrutura
qual o grau de satisfação dos alunos com o
física até a formação de professores.
ensino que é ministrado nas escolas. A falta
Percebe-se a todo instante na mídia, nas
dessas informações leva também ao que se
escolas e na sociedade uma insatisfação,
tem percebido em muitas escolas, nas quais
seja dos alunos, dos pais ou dos
os professores caminham com seu conteúdo
professores. Se nos ativermos ao ensino de
sem que se deem conta de seu
Ciências, foco de nossa pesquisa, trazemos
desempenho e da reciprocidade do aluno,
as observações de Fourez (2003); este,
especialmente no que tange ao processo de
quando fala numa crise nesta área de
aprendizagem.
ensino, enfatiza que todos são atingidos por
ela, “os alunos, os professores de ciências, Por outro lado, o mundo científico-
os dirigentes da economia, os pais, os tecnológico em que vivemos exige do
cidadãos [...]” (FOUREZ, 2003, p 110). A cidadão conhecimentos mais apurados na
relevância dessa constatação se evidencia área, e a disciplina de Ciências é a que mais
nos documentos propostos pela Academia oportuniza o enfrentamento dessa exigência.
Brasileira de Ciências quando destaca: Cabe lembrar que é necessário estimular os
alunos para esse campo do saber, pois o
A necessidade imperiosa de melhorar
domínio do conhecimento científico é a
o ensino básico no Brasil e, em particular, o
alavanca para o desenvolvimento de um
ensino de ciências, [...] O ensino adequado
país. Além disso, possibilita também o
de ciências estimula o raciocínio lógico e a
conhecimento de sua própria vida e do
curiosidade, ajuda a formar cidadãos mais
mundo que o cerca.
aptos a enfrentar os desafios da sociedade
contemporânea e fortalece a democracia, Atentos a essa realidade,
dando à população em geral melhores desenvolvemos esta pesquisa nas Escolas
condições para participar dos debates cada da Rede Pública Municipal de Criciúma/SC
vez mais sofisticados sobre temas científicos com alunos de quinta a oitava séries do
que afetam nosso cotidiano (Academia Ensino Fundamental que teve por objetivo
Brasileira de Ciências, 2008). identificar a percepção dos alunos sobre a
importância do Ensino de Ciências para as
Contribuindo com essas informações,
suas vidas. Os objetivos específicos foram:
pesquisadores como Chassot (1990),
identificar as maiores dificuldades e
Fourez (2003) e Maldanner (2007),
facilidades apresentadas pelos alunos para
observam que o ensino ainda se mantém de
o aprendizado de Ciências; identificar quais
modo tradicional em nossas escolas, o que
as metodologias que mais surtem efeito para
gera insatisfação por parte dos alunos e, em
o seu aprendizado; verificar quais os temas
consequência, também dos professores e da
que mais gostam de estudar na área de
sociedade, pois acabam sentindo os
ciências; e identificar o que mais os motiva a
resultados dessa insatisfação.
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estudar Ciências. necessidade de se ensinar nas escolas o


conhecimento produzido por ela, mas com o
Para alcançar os objetivos propostos,
propósito de ser utilizado pelos alunos para
utilizamos uma metodologia de cunho
lidar com aspectos de sua vida diária.
qualitativo descritivo cujas questões
norteadoras da pesquisa foram: Qual a Historicamente, é possível perceber
percepção dos alunos sobre o Ensino de que o ensino de Ciências evoluiu de acordo
Ciências em Escolas da Rede Pública com as circunstâncias e à época,
Municipal de Criciúma – SC? Qual a acompanhando o desenvolvimento da
importância das aulas de ciências para a sociedade, haja vista sua forte presença na
vida dos alunos? Quais as maiores vida do homem.
dificuldades e facilidades que os alunos
Autores como Krasilchik (1992),
encontram para aprender ciências?
Bazzo; Pereira; Von Lisingen (2003) e
Fizeram parte da pesquisa 7 (sete) Santos (2007) trabalhando com o conceito
escolas da Rede Pública Municipal de de CTS – Ciência Tecnologia e Sociedade,
Criciúma – SC, e para viabilizar a coleta dos observam que o ensino de Ciências, passou
dados, trabalhamos com as quatro séries de por muitas mudanças até se chegar à
cada escola com uma amostra de 10 alunos elaboração do atual conceito que se tem de
de cada série e, em casos de escolas com CTS. Segundo Krasilchik (1992), na década
mais de uma turma por série, pesquisamos de 60, o ensino de Ciências passou por uma
em apenas uma turma de cada série. Para fase em que era apresentada como neutra e
cada aluno foi aplicado um questionário com o importante eram os aspectos lógicos da
13 questões, abertas e fechadas que aprendizagem e a qualidade dos cursos era
contemplavam as informações necessárias definida pela quantidade de conteúdos
para atender aos nossos objetivos. conceituais transmitidos.

Na década de 70, novas mudanças


foram estabelecidas e por conta da crise
1.1 O Ensino de Ciências nas escolas
econômica mundial e dos problemas
Tem crescido nos últimos tempos as relacionados com o desenvolvimento
pesquisas visando a superar o modelo tecnológico, surgiu no ensino de Ciências o
tradicional de ensino. Carvalho (2000), por movimento conhecido como “Ciência,
exemplo, observa que em Biologia, Tecnologia e Sociedade” (CTS). Essa
atualmente, o ensino está reduzido à tendência no ensino leva à outra
transmissão de conceitos prontos, e para compreensão do mundo científico, pois
ele, a escola tem outro papel. Para o autor, a contempla a estreita relação da ciência com
escola deve dotar as pessoas de “condições a tecnologia e a sociedade, aspectos que
teóricas e práticas para que elas utilizem, não podem ser excluídos de um ensino que
transformem e compreendam o mundo da visa a formar cidadãos mais atuantes e
forma mais responsável possível.” Carvalho críticos, além de vivermos num momento
(2000, p. 4) (grifo do autor). Para o autor, a entremeado de importantes problemas
expansão da Ciência da Biologia trouxe a ambientais.

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Amorim (1997) entende que as É nessa reflexão que o diálogo permite a


relações entre a Ciência, Tecnologia e educação para a prática da liberdade.
Sociedade caracterizam-se por uma nova
Também Delizoicov (2001) argumenta
postura nas escolas que implica tanto a
sobre a importância de problematizar os
escolha de temas que fujam de conteúdos
conhecimentos, visando a aguçar as
tradicionais, devendo emergir de situações
contradições (FREIRE, 2005) e localizar as
vinculadas à sociedade atual,
limitações desse conhecimento e ao mesmo
marcadamente tecnológica, como na
tempo propiciar alternativas de apreensão
construção de metodologias de ensino que
do conhecimento científico. Para Delizoicov
não se atenham à participação passiva dos
(2001), problematizar implica a escolha e
alunos, mas que estimulem o debate, a
formulação de um problema que seja
postura crítica frente à participação da
significativo para o estudante, cuja solução
Ciência e da Tecnologia na Sociedade e a
exige um conhecimento que para ele seja
construção e efetivação de ações
inédito. É também um processo pelo qual o
transformadoras dentro da sociedade.
professor, “ao mesmo tempo em que
Para Marques (2002), nesta dinâmica apreende o conhecimento prévio dos alunos,
de interações, o professor deve livrar-se de promove a sua discussão em sala de aula,
conceitos aprendidos e repassados aos com a finalidade de localizar as possíveis
alunos. No seu entender o professor deve contradições e limitações dos
produzir com os alunos os conceitos que conhecimentos que vão sendo explicitados
irão operar para entender as relações com pelos estudantes, ou seja, questiona-os
que lidam. Para o autor, deve-se também.” (DELIZOICOV, 2001, p. 133).
problematizar a realidade, criar situações
A Proposta Curricular de Santa
para estimular o aluno. A sala de aula deve
Catarina PC/SC (1998), também faz
ser o lugar de falar, de ouvir, de modo que
referências ao trabalho exercido pelo
aconteça uma ampliação de conhecimentos
professor. Para seus autores, este deve ter
dos envolvidos.
um “caráter pedagógico, no sentido da
Segundo Freire (2005), a educação alfabetização científica” que pode ser
deveria ir muito além da repetição, realizada num processo pelo qual o aluno
constituindo-se em um instrumento de vai “decodificando a linguagem científica e
libertação, de superação das condições se apropriando de elementos dessa
sociais vigentes. Para ele, “ninguém educa linguagem, passando a utilizá-la como
ninguém, como tampouco ninguém se educa ferramenta de ação criativa no seu dia a
a si mesmo: os homens se educam em dia.” (SANTA CATARINA, 1998, p. 148).
comunhão, mediatizados pelo mundo” Para isso, de acordo com a PC/SC (1998), é
(FREIRE, 2005, p. 79). Essa mediatização necessário conhecer o que o aluno pensa,
ocorre por meio de uma educação conhecer suas necessidades, anseios e
problematizadora, de caráter reflexivo, de sonhos.
desvelamento da realidade, na qual o
Ensinar Ciências é fazer com que o
diálogo começaria a partir da reflexão das
aluno contribua para o seu próprio
contradições básicas da situação existencial.
desenvolvimento, e que seja capaz de
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questionar, refletir e raciocinar. De acordo de ciências. A pesquisa apontou que a


com os autores da PC/SC (1998, p.118) maioria dos alunos, ou seja, 91,925% dos
“Corresponde a uma elaboração de valores entrevistados gostam de estudar Ciências, e
e não só de aquisições de informações. É afirmam que essa disciplina aborda
preciso pensar para cada nível de ensino as assuntos muito interessantes, que
maneiras de garantir esta construção de contribuem de forma significativa em sua
múltiplos componentes”. O objetivo do capacitação e desenvolvimento. Alguns
ensino de Ciências é formar um indivíduo ainda citam que gostam de ciências, pois a
que saiba buscar o conhecimento, tendo “professora é legal”, o que deixa claro a
competência e responsabilidade em suas influência que o docente tem sobre a
ações. disciplina. Grande parte dos alunos
relacionou o gostar da disciplina com
Neste cenário entendemos que a
assuntos de seu maior interesse, sendo que
pesquisa em pauta poderá contribuir para
os assuntos relacionados à saúde e corpo
melhorar essa qualidade no ensino desejada
humano foram os mais citados, aparecendo
por todos e nem sempre conseguida. O
de maneira bem expressiva em todas as
processo de produção desse conhecimento
escolas. Percebe-se que os alunos são
implica pensar o ensino das ciências
capazes de se motivar em função de temas
vinculado às peculiaridades da vida concreta
que lhes despertem interesse, que lhes são
das pessoas. Ou seja, ao dar um sentido ao
mais próximos e isso vem fortalecer a
processo educativo é necessário dar-se
importância do ensino dentro de um
também um sentido àquilo que o aluno está
contexto conhecido do aluno e compor uma
ouvindo. Embora saibamos que isso nem
aprendizagem mais significativa.
sempre é uma tarefa simples, a escola
precisa favorecer essa transição. Conforme Nesse aspecto, Tapia e Montero
Brasil (1999), o aluno deve se sentir (2003) observam que os professores notam
“desafiado pelo jogo do conhecimento”, deve a carência de interesse e motivação de seus
adquirir o “espírito de pesquisa e alunos em aprender. Os autores relatam
desenvolver a capacidade de raciocínio e que, quando o aluno descobre o lado bom
autonomia” para poder transcender. de cada matéria, ele irá desfrutar disso
aprendendo; para os autores “o que o
Apresentamos a seguir a análise e a
emociona e que o faz ter prazer é a
discussão dos dados coletados na pesquisa.
experiência de aprender e descobrir,
enfrentando os desafios que podem
conduzi-lo a tais resultados” (TAPIA;
2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
MONTERO, 2003, p.107).
A partir das entrevistas obtivemos as
Para os autores, quando um aluno
informações que foram analisadas e
gosta de determinada disciplina ou
discutidas conforme segue abaixo.
conteúdo, ele apresenta-se mais motivado
A primeira questão aplicada aos para os estudos e o seu esforço resulta em
alunos dizia respeito ao gostar da disciplina melhores resultados contribuindo para seu

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bom desempenho. importante para adquirir conhecimentos,


37,2% acha fundamental para cuidarmos de
Na segunda questão, quanto à
maneira correta do nosso meio ambiente e
importância do ensino de ciências em suas
da nossa saúde e, por fim, 21,4% acham
vidas, também a maioria dos alunos
necessário para um futuro profissional.
entrevistados responderam que consideram
Podemos observar mais detalhadamente na
importante, totalizando 97,85% das
Fig. 1, as respostas obtidas pelos alunos de
respostas obtidas. A justificativa girou em
cada escola.
torno dos seguintes aspectos: “adquirir
conhecimentos”, “futuro profissional!” Nos gráficos, as escolas estão
“cuidados com saúde e meio ambiente”. apresentadas por números que vão do 1 ao
Sendo que de um modo geral, 36,4% acha 7.

Fig. 1 - Respostas dos alunos.


Fonte: Dados coletados pelo entrevistador.

Na terceira questão, quanto aos Observa-se nessa fase dos alunos o


conteúdos que despertam maior interesse grande interesse por seu próprio corpo e a
nos alunos, pode-se notar que os saúde, depois vem o entorno mais imediato
relacionados ao Corpo Humano e Meio com os quais ele tem contato. Essa
Ambiente apresentam maior destaque. Na constatação vem confirmar o que Brasil
Fig. 2, esses assuntos aparecem em (1999) indica quando destacam para a área
porcentagens superiores em todas as das Ciências assuntos relacionados a Saúde
escolas. Já, os demais assuntos têm e Meio Ambiente. Pesquisas em âmbito
frequências bem diferentes, apresentando nacional realizadas com professores
grande variação. apresentam o mesmo resultado (SOUZA,
2002; TRINDADE, 2004; GIASSI, 2009) e
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com alunos (GIASSI; SIMÕES; GOULART; novas pesquisas, podendo-se investigar


MARTINS, 2010). Nas pesquisas com os sobre fato de que os professores, ao
professores ficou claro que os temas que gostarem mais de determinados conteúdos,
mais gostam de trabalhar são os voltados saibam ministrá-los melhor, contagiando
para o meio ambiente e para a saúde. Este assim, sua turma com suas ideias.
é um campo que fica como sugestão para

Fig. 2 - Resposta dos entrevistados referente aos assuntos que surtem maior
interesse nos alunos.
Fonte: Dados coletados pelo entrevistador.

Dentre as metodologias de ensino relevância em todas as escolas, sendo que


utilizadas pelos professores e que agradam outras formas de trabalho aparecem bem
mais aos alunos, destaca-se o trabalho em abaixo, como podemos observar na Fig. 3.
grupos. Percebe-se que este tem grande

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Fig. 3 - Métodos utilizados pelas professoras e que tem maior aceitação entre os
alunos.
Fonte: Dados coletados pelo entrevistador.

Vygotsky (1989) observa que a maior alunos que se responsabilizam pela


parte da aprendizagem é construída a partir interação que os levará a uma meta comum,
de relações sociais. Mediante as relações sendo essa prática muito utilizada em
que trava no seu cotidiano, nas trocas de nossas escolas.
experiências, os alunos vão se apropriando
Quanto aos recursos utilizados pelos
de conhecimentos com os quais interagem,
professores em sala de aula, alguns têm
construindo seus próprios conceitos e/ou
maior aceitação pelos alunos do que outros,
conhecimentos e, nesse sentido, os grupos
como podemos perceber na Fig. 4, que
são locais ideais.
apresenta a média geral das respostas
Ainda no que tange a trabalhos em obtidas na pesquisa.
grupo, Flores e Gonzalez (2001), observam
que a aprendizagem colaborativa é
caracterizada pela presença de grupos de

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Fig. 4 - Recursos utilizados pelas professoras e que têm maior aceitação entre os
alunos.
Fonte: Dados coletados pelo entrevistador.

Com base nas respostas dos alunos no âmbito dos cientistas em um objeto de
sobre os recursos mais utilizados em aula ensino a ser tratado nas salas de aulas. Os
pelos professores, pode-se inferir que o autores apontam para o fato de que os
“Quadro e Giz” são os mais utilizados, cursos de formação de professores ainda
perfazendo um total de 89,3% das deixam a desejar e assim os professores se
respostas. Observa-se ainda nas respostas ressentem na hora de trabalhar em sala de
dos alunos, que a maioria dos professores aula com metodologias diferenciadas que
não realiza experiências ou práticas, nem deem conta do que se espera da escola e
saídas de estudos nas aulas de ciências, de sua função.
correspondendo a 62% das respostas dos
Quanto às dificuldades apresentadas
entrevistados.
pelos alunos nas aulas de ciências,
Neste aspecto, Carvalho e Gil-Pérez obtivemos resultados bastante positivos,
(1998), Schnetzler (2002) e Fourez (2003), pois 75% dos alunos responderam que não
explicam que os professores de Ciências tinham problemas quanto às aulas de
desconhecem o que as pesquisas e Ciências, e os poucos que falaram que
inovações didáticas vêm trazendo como apresentavam alguma dificuldade,
fundamentais para o desempenho adequado justificaram que havia muita bagunça na
de seu trabalho. Isso pode explicar essa sala de aula, ou seja, não relacionaram nem
ausência de atividades diferentes, criativas com o conteúdo e nem com o professor.
em sala de aula. E Chevalard (1991) chama
São justificativas que nos levam a
a atenção para a complexidade de se
refletir sobre a riqueza das salas de aula,
transformar um objeto de saber produzido
pois mesmo diante da complexidade dessas

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relações, os alunos demonstram gostar das com saídas de campo, realização de


aulas mesmo com as deficiências experiências, utilização do laboratório de
destacadas nas respostas anteriores. ciências e sala de vídeos.

Quanto aos métodos e recursos Pediram ainda a realização de


utilizados pelos professores, questionamos palestras com temas pertinentes como
se eles davam exemplos relacionados à vida drogas e sexualidade, entre outros. Essas
do aluno, unindo a teoria com a realidade solicitações podem ser explicadas com as
durante as explicações, 96,5% dos alunos observações de autores como Marques
afirmaram que sim. (2002) e Freire (2005), quando chamam a
atenção para a sala de aula, que muitas
Nesse sentido, os autores Freire
vezes não passa de um local onde o aluno
(2005) e Delizoicov (2001), ao tratarem do
apenas ouve passivamente, sem poder
processo de aprendizagem, afirmam que o
interagir, sendo apenas um espectador
professor(a) deve manter uma interação
passivo. Esse resultado não é de todo
com seus alunos, a fim de tornar a
desconhecido dos professores, no entanto
aprendizagem significativa.
ainda há um grande caminho a percorrer,
Para os autores, conhecer a realidade muitos fatores interferem para que os
dos alunos e relacionar os conteúdos professores aperfeiçoem sua prática
trabalhados em aula com essa realidade, pedagógica, objeto para outra pesquisa.
com certeza torna a aprendizagem para os
alunos mais significativa, faz com que os
alunos tenham maior compreensão sobre os 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
conteúdos.
A pesquisa evidenciou alguns
Na questão referente aos recursos aspectos que fazem parte do dia a dia de
pedagógicos presentes nas escolas, todas nossas escolas, mas pouco divulgados para
possuíam alguns recursos tecnológicos os professores.
como, por exemplo: data show, aparelhagem
A primeira constatação é a de que os
de vídeo e retroprojetor para ministrar aulas.
alunos das escolas entrevistados
O acervo desses materiais era pequeno,
demonstraram que gostam de ciências e
portanto era preciso reservar esses
acham importante para sua vida, mas
equipamentos com antecedência para poder
deixam claro que faltam aulas mais
utilizá-los. Apenas duas escolas
dinâmicas, interativas, experimentais e
apresentavam laboratório de ciências e
práticas. Essas observações reforçam os
algumas estavam em processo de reforma,
resultados obtidos em pesquisas da mesma
tinham o espaço definido para laboratório,
natureza realizadas sob o ponto de vista dos
mas aguardavam a chegada dos materiais.
professores (SOUZA, 2002; TRINDADE,
Para finalizar a pesquisa, pedimos que 2004; GIASSI, 2009) e dos alunos (GIASSI;
os alunos sugerissem algumas mudanças SIMÕES; GOULART; MARTINS, 2010).
que, no seu ponto de vista, melhorariam as Neste sentido, os autores destacam que o
aulas de ciências, e então obtivemos as processo de ensino-aprendizagem se
seguintes sugestões: Aulas mais dinâmicas, concretiza com maior eficiência se o aluno
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for um participante ativo e para isso o Nacional para o Ensino Médio - Brasil (1999,
professor tem parcela importante, atuando p. 269), ou seja, que numa escola, mesmo
como mediador desse conhecimento a fim em meio às adversidades poderá haver
de tornar a aprendizagem significativa. “mais alegria no aprendizado, entusiasmo
nos afazeres, paixão nos desafios,
Praia e Cachapuz (1994) observam
cooperação entre os partícipes, ética nos
que o professor tem um papel importante
procedimentos”, e estaremos construindo a
como mediador entre o conhecimento
“cidadania em sua prática”, formando
científico e o conhecimento do aluno, pelo
valores humanos fundamentais que são
que a sua grande preocupação não pode ser
centrais entre os objetivos da educação.
reduzida à simples aquisição de conceitos.
Para Praia e Cachapuz (1994, p. 351), “os
fatos não podem ser abordados duma forma
REFERÊNCIAS
descontextualizada, mas antes inseridos
numa rede de razões, ou seja, discutido com ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS. O
os alunos de forma a desenvolver neles o Ensino de ciências e a educação básica:
pensamento crítico, as capacidades de propostas para superar a crise. Rio de
fundamentação e de argumentação”. Para Janeiro: Academia Brasileira de Ciências,
isso, segundo os autores, a formação dos 2008. 56p.
professores adquire importância vital.
AMORIM, A. C. R. O Ensino de Biologia e as
O fato de os alunos gostarem das relações entre Ciência / Tecnologia /
aulas de ciências pode ser um dos fatores Sociedade: O que dizem os professores e o
que mantém vivo o desejo de ensinar, pois Currículo de Ensino Médio? VI Encontro
mesmo nas adversidades presentes nas “Perspectivas do Ensino de Biologia” –
escolas públicas no sistema de ensino de Coletânea. Universidade de São Paulo -
nosso país, sempre encontramos Faculdade de Educação. 1997.
professores zelosos e também alunos, e
BAZZO, W. A.; LINSINGEN, I. V.; PEREIRA,
aplicados, que, por sua vez, mantêm o ciclo
L. T. do V. (Ed.). Introdução aos Estudos
de entusiasmo do processo ensino
CTS (Ciência Tecnologia e Sociedade).
aprendizagem.
Madrid: OEI, 2003 (Cadernos de Ibero-
É possível inferir também que o América).
simples fato da professora ser uma pessoa
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria
gentil que agrade ao aluno, já é motivo
de Educação Média e Tecnologia.
suficiente para este ir à escola satisfeito e
Parâmetros Curriculares Nacionais:
gostar da matéria que estuda, como é o
Ensino Médio. Brasília: Ministério da
caso das crianças participantes desta
Educação, 1999. 364 p.
pesquisa.
CARVALHO, A. M. P. de; GIL-PÉREZ, D.
Assim, nossa investigação demonstrou
Formação de professores de ciências:
que é possível realizar o que vem
tendências e inovações. 3. ed. São Paulo:
preconizado nos os Parâmetros Curriculares
Cortez, 1998.

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CARVALHO, W. (org). Biologia: o professor Catarina. Florianópolis – SC, 2009.


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