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V COCAAL – Colóquio de Cinema e Arte da América Latina

12, 13, 14 e 15 de setembro de 2017

FLORADAS NA SERRA E A (RE)CONSTRUÇÃO


DA ARQUITETURA ATRAVÉS DO CINEMA

Marcelo Leite
Mestrando em História da Arte pela
Universidade Federal de São Paulo
marceloafleite@hotmail.com.br

RESUMO

Esta comunicação tem por objetivo mostrar como um filme brasileiro, Floradas na
Serra (1954), tem sido uma valiosa fonte de estudo para uma pesquisa que aborda
obras pouco conhecidas do renomado arquiteto paulista Oswaldo Arthur Bratke
(1907-1997) na cidade de Campos do Jordão-SP.

PALAVRAS-CHAVE: Floradas na Serra; Oswaldo Arthur Bratke; Campos do


Jordão; Arquitetura moderna brasileira.

INTRODUÇÃO

Esta comunicação é derivada da pesquisa de mestrado Jardim do Embaixador: a


arquitetura experimental de Oswaldo Bratke nos anos 1940, desenvolvida pelo autor
no Programa de Pós-Graduação em História da Arte da Universidade Federal de
São Paulo desde 2016, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo. O objeto de estudo é o bairro Jardim do Embaixador, localizado na
cidade de Campos do Jordão, cujo projeto urbanístico, bem como o das primeiras
vinte casas, foi elaborado nos anos 1940 pelo arquiteto paulista Oswaldo Bratke, um
dos grandes mestres da arquitetura brasileira.

Entre as fontes utilizadas por essa pesquisa se encontra o filme brasileiro Floradas
na Serra, lançado em 1954, última produção da Companhia Cinematográfica Vera
Cruz. Sabemos que desde os primórdios da sétima arte a arquitetura complementa o
cinema e vice-versa. Na visão de Fábio Allon dos Santos (2004: s/p), a arquitetura
na produção cinematográfica “ajuda a delinear a natureza dos filmes” e auxilia no
processo de construção “de estruturas capazes de resgatar o espírito de uma época
ou lançar o de outras”. Em contrapartida, o cinema no estudo da arquitetura, “pelo
acréscimo da dimensão temporal, torna a experiência espacial única, diferente de
qualquer outra representação mais antiga, permitindo uma apropriação mental mais
interativa”. Atua, desse modo, como um complemento ímpar à fotografia e ao
desenho, ferramentas mais cotidianas aos arquitetos.

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O roteiro é baseado no romance de estreia da escritora paulista Dinah Silveira de


Queiroz (1911-1982), lançado em 1939 e também denominado Floradas na Serra.
As obras narram a história de jovens tuberculosas em tratamento em Campos do
Jordão. Enquanto no livro a trama gira em torno da personagem Elza, o filme tem
Lucília, interpretada por Cacilda Becker (1921-1969), no papel principal. Durante sua
estadia na cidade, Lucília se apaixona pelo escritor Bruno, vivido por Jardel Filho
(1927-1983), também doente. Com tempo, a relação entre os dois se torna
conturbada, com a saúde de Lucília cada vez mais debilitada e Bruno apresentando
sinais de recuperação. Filmado em preto e branco, Floradas na Serra é de interesse
para a pesquisa em desenvolvimento por três motivos, que veremos a seguir.

CAMPOS DO JORDÃO: DO CICLO DA CURA PARA O CICLO DO TURISMO

Como o título sugere, Floradas na Serra é uma amostra da belíssima paisagem


natural jordanense: as onipresentes e majestosas araucárias, os campos de altitude,
a imponente Pedra do Baú, a água gelada e cristalina dos lagos e cachoeiras, as
pereiras e cerejeiras em flor. Além disso, as locações permitem um vislumbre da
década 1950, com a transição entre os Ciclos da Cura e do Turismo em andamento.

Fundada no último quartil do século XIX, Campos do Jordão foi, em seus primeiros
anos, uma conhecida estação para tratamento de tuberculose. Por esse motivo, nos
anos 1950, quando a película foi gravada, as pensões e os sanatórios ainda
estavam em plena atividade, sendo o Sanatório Sírio – uma das locações externas
usadas no filme – um marco do período histórico conhecido como Ciclo da Cura,
expressão cunhada pelo historiador local Pedro Paulo Filho (1937-2014) para
descrever a cidade em suas primeiras décadas de crescimento urbano. O turismo
despontou como principal atividade econômica a partir da década de 1940.

O RESTAURANTE: CORAÇÃO DO BAIRRO JARDIM DO EMBAIXADOR

Dentro desse contexto de criação de um novo destino turístico de elite no interior


paulista, Oswaldo Bratke comprou terras em Campos do Jordão e iniciou a
construção de um bairro que tinha “em vista construções do tipo residencial
campestre, de fino gosto”, nos dizeres do arquiteto no memorial descritivo do
projeto, apresentado à prefeitura da cidade em 1944. O plano de urbanização dividiu

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o empreendimento em 160 lotes com áreas entre 750 e 8000 m². No meio do
loteamento, Bratke instalou um restaurante que, além de centro geográfico do bairro,
era também o centro social dos primeiros moradores das casas de campo vizinhas.

O Restaurante Jardim do Embaixador era pequeno e aconchegante. Como


característico do trabalho de Bratke, era uma obra simples, elegante, implantada
delicadamente em seu sítio, habilidosamente integrada à natureza circundante e em
harmonia com as cabanas criadas pelo arquiteto para os primeiros moradores do
bairro. Floradas na Serra possui uma importância crucial para a história dessa
edificação: é até o momento o único registro visual da parte interna do
estabelecimento que foi encontrado durante a realização da pesquisa sobre o bairro,
tendo sobrevivido à própria construção, infelizmente destruída nos anos 1990.

Além de desempenhar essa função documental, as cenas filmadas no restaurante e


também as que ocorrem nos hotéis Toriba, Rancho Alegre e Vila Inglesa revelam
uma intenção propagandística em retratar Campos do Jordão como um destino
turístico moderno e de elite. Vamos analisar a cena no restaurante. Na conversa
com Bruno, a personagem principal, Lucília, descreve a cidade como um lugar
“alegre e tranquilo”, e alguns passatempos são sugeridos: “jogaremos tênis todas as
manhãs” diz o rapaz, “à tarde, andaremos a cavalo”, completa a moça. Em seguida
o casal traça um plano de viagem fascinante: após a temporada na Mantiqueira,
“iremos pescar na Flórida”, “ver as touradas em Pamplona”, “setembro em Veneza”,
“outubro em Paris”. Dessa forma, o texto criado para o longa-metragem coloca em
certa posição de igualdade a cidade brasileira e os destinos internacionais citados.

O INTERIOR DE UMA CABANA: RE (CONSTRUINDO) UMA ARQUITETURA

Hoje em dia, setenta anos depois das experimentações de Oswaldo Bratke, algumas
das residências por ele construídas já desapareceram. Mesmo entre as que ainda
sobrevivem ao tempo e à pressão imobiliária pela demolição, boa parte foi
modificada por reformas. Nessas condições, uma das formas possíveis para se
acessar o interior de uma dessas edificações, num contexto mais próximo dos anos
1940, é por meio de Floradas na Serra. Na segunda metade do enredo, o casal
protagonista da história passa a habitar uma pequena cabana de madeira, parecida
com as moradas criadas pelo arquiteto no Jardim do Embaixador.

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Na primeira das cinco sequências de cenas em que esse cenário aparece, há o


indício decisivo de que a arquitetura residencial de Bratke em Campos do Jordão foi
utilizada no filme – seja na forma física ou na forma de inspiração – o portão de
entrada para a cabana é idêntico ao dos chalés do próprio arquiteto e de Guilherme
Corazza, residências vizinhas no Jardim do Embaixador. Além desse fato, há ainda
o telhado em uma água, com baixa inclinação e em telhas de fibrocimento, solução
adotada por Bratke em diversas casas no bairro, como a de Paschoal Scavone.

O fato de ser uma casa para aluguel remete ao uso desse tipo de espaço de forma
efêmera – em fins de semana, feriados ou férias – algo cada vez mais comum ao
longo da primeira metade do século XX. No contexto local, durante o período muitos
paulistanos – sobretudo os abastados, como a personagem Lucília – adquiriram o
costume de habitar temporariamente um segundo lar em meio à natureza e longe da
rotina e do stress metropolitano. Alguns autores, como Richard Morse, apontam
inclusive o cinema norte-americano como um difusor dessa prática em São Paulo:

Na realidade, o fim de semana em um chalé ou bangalô suburbano,


assim como as férias no Guarujá, Campos do Jordão ou Poços de
Caldas, tornou-se uma instituição fixa para aqueles que se podem
permitir tal. Originalmente uma simples mania, que Hollywood muito
contribuiu para popularizar, o fim de semana vem se tornando cada
vez mais uma fuga necessária do torvelinho e das tensões da
existência na cidade (MORSE, 1970: 358-9).

Ainda na primeira sequência, a observação de Lucília de que “a casa é bastante


retirada” nos lembra do desejado isolamento em meio à natureza, e o consequente
distanciamento das cidades, associadas ao cotidiano e ao trabalho. Porém ao
ouvirmos o proprietário dizer “vou lá fora ligar o gerador”, percebemos que o
afastamento momentâneo das desvantagens da vida urbana não implica,
necessariamente, em abrir mão dos benefícios da modernidade – que tornam as
habitações mais confortáveis e as atividades domésticas mais fáceis.

Numa segunda sequência, após enfrentarem uma tempestade e chegarem à casa,


Bruno diz a Lucília “nosso amor em uma cabana”. Aqui esse lar campestre,
construído em madeira, mobiliado com peças rústicas e com uma lareira de pedra se
transforma na materialização da relação entre o casal, símbolo de um amor
romântico – idealizado por ela, principalmente. Ao realizar seu sonho, a protagonista
trazia aos espectadores da década de 1950 um papel feminino, de certa forma,
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moderno: é Lucília quem decide morar com seu companheiro, mesmo não sendo
casada com Bruno. É ela também que aluga a moradia, com dinheiro próprio.

Na tomada seguinte, os personagens circulam pela casa, e compreendemos melhor


esse habitat simples e moderno. Na sala existe uma série de amplas janelas de
baixo peitoril. Um aspecto construtivo que evidencia uma das grandes preocupações
de Oswaldo Bratke e muitos outros arquitetos modernos: a de sempre propiciar
espaços de uso permanente que fossem servidos por iluminação, ventilação e
aquecimento natural, bem como com continuidade visual entre interior e exterior.

Esse setor social da casa também é amplo e contínuo: não há separações entre a
área em que Bruno escreve o seu romance, o entorno da lareira e a mesa de
refeições. Essa informalidade do ambiente de estar e as pequenas cozinhas, que se
prometiam altamente funcionais, eram inovações que vinham sendo incorporadas
em diversos lares de todo o Brasil, incialmente nos grandes centros urbanos, desde
os anos 1930. Ao final da cena, vemos que além dos móveis rústicos, há também
uma vitrola na sala, e o casal dança ao som da música emanada por ela.

Num outro momento, vemos armários embutidos no quarto, algo comum nas obras
de Bratke e que em alguns casos funcionavam como divisórias entre ambientes. Tal
solução gerava economia no preço e no tempo de execução da obra, bem como
tornava o espaço mais flexível, já que os cômodos poderiam ter seus tamanhos ou
usos alterados de forma relativamente simples. Há também um telefone no quarto –
mais um objeto moderno incorporado ao cenário da casa de campo.

As cenas do longa-metragem permitem uma re(construção) da planta hipotética da


morada, exercício que confirma uma planta moderna, com os aspectos citados
anteriormente. A distribuição interna sugere outro fator de economia e racionalização
do processo construtivo: o uso de uma única parede hidráulica – característica
presente em vários momentos da carreira de Bratke. Já a presença da lareira em
posição central na habitação remete à produção do arquiteto norte-americano Frank
Lloyd Wright (1867-1959), que quase sempre utilizava o fogo – um símbolo de união
familiar – como núcleo a partir do qual se distribuíam os demais ambientes da casa.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise de Floradas na Serra empreendida nessa comunicação buscou salientar a


importância da película como um registro visual para Campos do Jordão. Para além
de sua função como forma de entretimento, o filme certamente funcionou como um
grande comercial da cidade enquanto um glamoroso destino turístico de montanha,
sobretudo para uma elite moderna que desejava formas de contato com a natureza
distintas das vivenciadas em um ambiente litorâneo ou de fazenda, por exemplo. O
filme também permitiu um avanço nas análises realizadas pela pesquisa em
andamento, principalmente por auxiliar no resgate da memória do Restaurante
Jardim do Embaixador e na compreensão dos espaços internos concebidos por
Oswaldo Bratke nos projetos executados no bairro em estudo. A cabana-cenário em
Floradas na Serra possibilita ainda ressaltar o papel do cinema como lugar de
re(criação) e re(invenção) de espaços arquitetônicos.

Na sequência final, Lucília liga a vitrola e rapidamente a desliga. O artefato que


antes era capaz de transmitir alegrias, agora serve apenas para rememorar
lembranças a serem esquecidas. Respondendo a um questionamento de Bruno, a
protagonista responde: “O que devia morrer já morreu: o nosso amor em uma
cabana” e pouco tempo depois, deixa a casa definitivamente. Ela corre desesperada
passando por belas paisagens jordanenses – montagem que cria uma nova
geografia local – até cair no chão, quase morta, no alto de um campo, onde observa
um dos icônicos cartões postais jordanenses, a Pedra do Baú. Desse lugar, Lucília
tem um último vislumbre da cabana. O romance do casal, infelizmente, foi efêmero –
apenas alguns meses, tão curto quanto uma temporada passada na montanha.

Como se percebe desde o cartaz de divulgação do filme, a singela casa de madeira


de certa forma representa a própria trajetória da protagonista. Seu aspecto
campestre, obtido pela combinação do terreno onde se encontra, dos materiais
utilizados em sua construção e dos móveis que compõem o cenário, são uma
materialização do amor romântico de Lucília. Ao mesmo tempo, a arquitetura é
simples e confortável, também condizente com a inquilina, dotada de um espírito de
vida moderno e independente, no contexto da década de 1950.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRATKE, O. A; RIBEIRO, N. Memorial descritivo do plano de urbanização da gleba de


terreno conhecida como Homem Morto, em Campos do Jordão. São Paulo: Sociedade
de Imóveis e Melhoramentos Ltda., 1944.
CAMARGO, M. J. Oswaldo Bratke: uma trajetória de arquitetura moderna. 1995. 271 f.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 1995.
______________. Princípios de arquitetura moderna na obra de Oswaldo Arthur
Bratke. 2000. 187 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2000.
FLORADAS na Serra. Direção: Luciano Salce. Produção: Estúdios Vera Cruz. Brasil, 1954.
100 min, p&b.
HAMMERL, P. C. Por uma cidade turística: formação e transformação territorial da
estância de Campos do Jordão-SP – 1911-1966. 2016. 276 f. Tese (Doutorado em
Desenvolvimento Regional) – Universidade de Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa
Cruz do Sul, 2016.
MORSE, R. Formação histórica de São Paulo: de comunidade à metrópole. 2 ed. São
Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970.
PAULO FILHO, P. História de Campos do Jordão. Aparecida: Santuário, 1986.
SANTOS, F. A. A arquitetura como agente fílmico. In: Arquitextos, n. 045.12, fev. 2004.
Disponível em: www.vitruvius.com.br, acesso em 28/07/17.
SEGAWA, H. M; DOURADO, G. M. Oswaldo Arthur Bratke: a arte de bem projetar e
construir. 2. ed. São Paulo: PW Editores, 2012.
SERAPIÃO, F. Outra montanha mágica. In: Projeto Design, n. 340, jun. 2008.

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