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Rafael Lemos1
1. Introdução
Só os indivíduos, e apenas um muito pequeno número de indivíduos, deixam-se determinar pela ideia
abstrata e pura. Os milhões, as massas, não só no proletariado, mas também nas classes esclarecidas e
privilegiadas, nunca se deixaram levar senão pela força e pela lógica dos fatos, só compreendendo e
projetando na maior parte do tempo seus interesses imediatos ou suas paixões do momento, sempre mais
ou menos cegos. Portanto, para interessar e para atrair todo o proletariado para a obra da Internacional,
era e é preciso aproximar-se deles não com ideia gerais e abstratas, mas com a compreensão real e viva de
seus males reais.
- Mikhail Bakunin
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Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: rafaeljlemos@gmail.com
Em seu artigo “Desrespeito e Revolta”, Iser analisa a Teoria do Reconhecimento
de Axel Honneth, considerando-a como uma proposta teórica frutífera para uma Crítica
da sociedade acerca da revolta, assim como também pontua os limites desta teoria.
Estas críticas não devem ser tomadas como produtos de uma sociologia ingênua,
de um “conhecimento imediato” como sugere Bourdieu, mas como uma espécie de
“sociologia popular”. Isto significa que o objeto da sociologia da crítica se encontra já
na sociedade, pelo menos em seus elementos básicos, e assim segue-se uma máxima
metodológica “siga os próprios atores”, pois eles possuem um conhecimento relevante
acerca do mundo social. Esta concepção visa abolir o abismo que há entre o
conhecimento dos atores ordinários e sociólogos, como se o primeiro fosse
completamente idiota e o segundo dotado de uma espécie de onisciência que se eleva
para além de toda representação social. Em consequência, a metodologia da sociologia
da crítica, como proposta por Boltanski, visa também combater as consequências da
perspectiva ortodoxa da relação entre atores e sociólogos, a saber, um tipo de
paternalismo e elitismo, derivados da subestimação das capacidades reflexivas dos
agentes ordinários.
Cabe ressaltar que não se pretende aqui limitar-se às ideias já presentes nos
textos de Iser e Celikates, mas extrair alguns elementos básicos que possam servir de
subsídio para uma teoria social crítica que desenvolva uma metodologia eficiente e
coerente com a finalidade da crítica, isto é, com o objetivo geral de transformação das
práticas sociais visando a emancipação dos agentes e, mais especificamente, através da
revolta.
_______. Protestação da Aliança. In: Bakunin: obras seletas 1; tradução Plínio Augusto
Coêlho – São Paulo: Intermezzo, 2016.
ISER, M. Desrespeito e Revolta. In: Sociologias, ano 15, no. 33 – Porto Alegre, 2013.