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Reconhecimento e revolta:

Entre os atores ordinários e o teórico crítico

Rafael Lemos1

1. Introdução

Só os indivíduos, e apenas um muito pequeno número de indivíduos, deixam-se determinar pela ideia
abstrata e pura. Os milhões, as massas, não só no proletariado, mas também nas classes esclarecidas e
privilegiadas, nunca se deixaram levar senão pela força e pela lógica dos fatos, só compreendendo e
projetando na maior parte do tempo seus interesses imediatos ou suas paixões do momento, sempre mais
ou menos cegos. Portanto, para interessar e para atrair todo o proletariado para a obra da Internacional,
era e é preciso aproximar-se deles não com ideia gerais e abstratas, mas com a compreensão real e viva de
seus males reais.

- Mikhail Bakunin

O objetivo deste artigo é relacionar o reconhecimento – ou não reconhecimento


– sistemático das injustiças sociais e o sentimento de revolta, derivado do não
reconhecimento das expectativas normativas dos atores sociais. Os autores que servirão
de base teórica são Mattias Iser e Robin Celikates, em seus respectivos escritos
“Desrespeito e Revolta” (2013) e “O não reconhecimento sistemático e a prática da
crítica: Bourdieu, Boltanski e o papel da teoria crítica” (2012).

Para tal intento, primeiro apresentaremos resumidamente os dois textos sobre o


qual este artigo se debruça e, num segundo momento, estabeleceremos algumas relações
entre ambos os textos no que diz respeito às condições de justificação para a revolta
frente ao desrespeito das expectativas normativas.

2. Reconhecimento e expectativas de justificação

1
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: rafaeljlemos@gmail.com
Em seu artigo “Desrespeito e Revolta”, Iser analisa a Teoria do Reconhecimento
de Axel Honneth, considerando-a como uma proposta teórica frutífera para uma Crítica
da sociedade acerca da revolta, assim como também pontua os limites desta teoria.

O autor inicia dizendo que a Crítica da sociedade acerta em levar a sério as


erupções emocionais, dado a crescente onda de protestos e revoltas maciças no mundo.
No entanto, o próprio Honneth não estava convencido de que as pessoas deveriam se
revoltar, em razão de seu entendimento desfigurado sobre as pretensões de validade.
Seu entendimento é de que somente experiências de desrespeito e ameaça à identidade
poderiam esclarecer as resistências sociais. Iser argumenta que esta ênfase no
autorrelacionamento individual conduz a uma incorreta análise dos aspectos primordiais
da revolta.

Honneth, diz o autor, assume um método reconstrutivo e se posiciona além da


dicotomia da crítica “externa” e “interna”, visando explicitar expectativas normativas
fundamentadas na vida humana como tal, isto é, possuindo uma pretensão universal
válida para todas as sociedades. Para analisar a eficácia da teoria reconstrutiva de
Honneth, Iser diferencia e discorre sobre as quatro tarefas da teoria crítica da sociedade:
Expectativa, Progresso, Crítica e Resistência.

O reconhecimento é uma necessidade humana fundamental (ISER apud


TAYLOR, 2013) e somente ele possibilita uma condição positiva de liberdade,
expressando-se histórica e culturalmente de diversas formas. Assim, Honneth pretende
obter critérios substantivos de normatividade que se fixou no período da Modernidade
(que carrega as feições do universalismo, igualitarismo e do individualismo), isto é,
situado historicamente e apresentando, segundo Iser, uma concepção formal de
progresso através de uma reconstrução vertical como complemento da reconstrução
horizontal.

A Crítica da sociedade, como uma forma de crítica, deve, além de indicar


inconvenientes, reconhecer as principais injustiças e patologias sociais. Ao fazer isso, a
Crítica da sociedade visa não somente descrever estas situações, mas proporcionar um
esclarecimento teórico e se converter em uma mudança prática por parte dos
destinatários. Toda crítica da sociedade tem por objetivo, mesmo que implicitamente,
engajar os atores sociais (destinatários da crítica) a realizarem ações modificadoras e,
com efeito, estes precisam estar motivados para tal. O método reconstrutivo deve,
portanto, referir-se a expectativas normativas já contidas nas práticas sociais e descobrir
as expectativas “quasi-transcedentais” correspondente de determinada revolta, para
evitar a imposição de critérios normativos “externos” e a mera reprodução do status
quo. Distinguindo-se, com efeito, dois níveis: primeiro, fundamentando-se “a partir dos
valores centrais da própria cultura” (ISER, 2013); segundo, perguntando-se porque
escolhe-los em contraposição a outros valores, como, por exemplo, os da Idade Média.

Iser aponta alguns déficits da Teoria do Reconhecimento de Honneth,


principalmente do que resulta do conceito de reconhecimento ser compreendido de
forma excessivamente psicológica, ressaltando o fenômeno da doença ao invés do
fenômeno da revolta. Assim, o autor sugere um conceito de reconhecimento
deontológico para superação deste déficit.

O reconhecimento supõe uma relação de direitos e deveres recíprocos, isto é,


reconhecer uma pessoa vem acompanhado de direitos e deveres para com ela, como
sujeito de direitos iguais e, consequentemente, uma determinada atitude. Este
reconhecimento é importante não apenas por esta reciprocidade, mas também por
satisfazer uma necessidade psicológica, visando a integridade psíquica como principal
aspecto da moral.

O autor aponta que é importante compreender como se estabelece e se relaciona


a questão da necessidade psíquica e a de justificação normativa, para tanto, Iser
diferencia três níveis de necessidade para melhor elucidar esta questão: i) necessidades
basais-corporais; ii) necessidades interativas; e iii) necessidades normativas.

As necessidades basais-corporais referem-se às necessidades objetivas,


geralmente relacionadas à nutrição de manutenção da vida humana, tal como a
alimentação, e não referem-se, necessariamente, a outra pessoa com deveres e direitos
recíprocos. Estas necessidades são normativamente relevantes, porém, não são ainda
estruturadas normativamente. As necessidades normativas, que correspondem ao outro
extremo das basais-corporais, são a estruturação destas necessidades – mas não somente
– de forma normativa, isto porque os seres humanos são formados culturalmente e,
portanto, necessariamente criam expectativas normativas – mesmo que não sejam
normativamente estruturadas.
Estas expectativas justificam que os participantes conheçam uma norma
intersubjetiva, isto é, uma relação recíproca de forma justificada. O não cumprimento
desta expectativa mutuamente conhecida, por uma das partes da relação, pode fazer com
que os atingidos ajam com tristeza, desgosto, ódio e em situações favoráveis, com
revolta. Aqueles que se revoltam agem com recusa a algo sobre o qual ele possui uma
pretensão justificada. Iser pontua que estas pretensões podem ser adequadamente
formuladas como pretensões de reconhecimento, mesmo que tais pretensões apontem
prioritariamente para comportamentos exigíveis de terceiros, e não para satisfação de
necessidades de reconhecimento.

Por sua vez, as necessidades interativas assumem uma posição intermediária


entre as duas necessidades comentadas acima. Elas se referem a uma relação
interpessoal, porém ainda não são normativamente estruturadas. O autor argumenta que
Honneth procura encontrar expectativas normativas dirigidas a outros seres humanos,
situando antes do uso da linguagem, isto é, antes da possibilidade de justificação
expressa em razões, ainda que, contraditoriamente, ele admita que o reconhecimento
deva criar raízes no ‘Reino das razões’.

Já Iser classifica os níveis de necessidade (i) e (ii) como protonormatividade,


uma vez que somente no nível (iii) se possa falar de um espaço de razões de modo a
estruturar relações normativas de reconhecimento. Com efeito, para ele o centro dessa
normatividade deve ser o de deveres recíprocos, isto é, uma concepção deontológica de
reconhecimento. Os níveis (i) e (ii) podem, contudo, nas palavras do autor, abrir novos
mundos, qualificando-se ao nível de expectativas genuinamente normativas ao
introduzir razões para sua justificação.

A Crítica da sociedade, para Honneth, tem como centro a questão do julgamento


autônomo, quer dizer, as sociedades devem ser julgadas com base nas condições que
elas possibilitam aos sujeitos um grau de reconhecimento e autorrelação bem sucedida.
Assim, o respeito ao status normativo deve ser garantido com vistas a não prejudicar as
condições psíquicas da autorrelação do indivíduo. Iser aponta que esta expectativa
normativa de Honneth, isto é, pretensões de identidade, tem a vantagem de relacionar-se
a pessoas específicas, no entanto, ela soa como se uma identidade gerasse razões a partir
de si mesma. Desta forma, o autor sugere, para além da pretensão de identidade, as
pretensões de status. O conceito de status refere-se a praticas compartilhadas, tendo no
centro relações normativas intersubjetivas que são influenciadas por identidades, porém
não fixadas por elas.

As pretensões de identidade são, apesar de importantes para descoberta de


injustiças, insuficiente para tratar da questão da revolta. A experiência psíquica do
desrespeito restringe a revolta ao nível da injustiça individual contra sua autorrelação
bem sucedida, não abarcando, por exemplo, injustiças que podemos reconhecer sem ter
nós mesmos sido atingidos por elas. Desta forma, a proposta de Iser acerca da pretensão
de status supera, em alguma medida, os limites da teoria de Honneth no que concerne as
quatro tarefas da crítica da sociedade.

3. Atores ordinários e os sociólogos “profissionais”

O texto de Celikates tem como centro a questão sobre a capacidade de crítica e o


papel dos atores “ordinários” e sua relação com o sociólogo crítico. Para tratar isto o
autor se debruça sobre dois autores: Boltanski e Bourdieu.

Celikates sugere que a formulação da ciência social crítica de Bourdieu se insere


na concepção tradicional do papel da ideologia, assim, os atores ordinários são tomados
como “idiotas desprovidos de juízo” sempre presos a uma ideologia sob a forma de uma
falsa consciência que é objetivamente necessária, assim como é necessariamente falsa.
Neste caso, para os atores sociais é impossível realizar uma análise crítica da sociedade.
Estes só poderiam fazer uma ”sociologia espontânea” na qual não existe distanciamento
da realidade e que reproduz o status quo. Os atores ordinários não compreendem o que
fazem e nem podem compreender o quanto eles contribuem para esta reprodução. O não
reconhecimento do que de fato fazem os atores sociais é constitutivo para o
funcionamento das práticas sociais.

Para Bourdieu há uma contraposição entre o fato social e o conhecimento


imediato, isto é, um conflito insolúvel entre a análise sociológica científica e a
interpretação dos atores, o primeiro só é acessível ao sociólogo crítico, enquanto o
segundo é o modo de conhecimento dos agentes ordinários. Com efeito, é o sociólogo,
em sua posição privilegiada, que distancia-se do contexto e consegue enxergar para
além das ideologias, enquanto os agentes ordinários estão preso na dominação
simbólica da ideologia dominante e, consequentemente, são incapazes de agirem contra
o status quo.

O não reconhecimento, constitutivo do funcionamento das práticas sociais, é


resultado de uma educação ou “adestramento” que interioriza nos atores a negação e a
representação no curso destas práticas, formando como que uma “segunda natureza”,
um habitus. Com efeito, os atores ordinários se inserem num ciclo interminável: o
sistema se reproduz porque não é conhecido e o sistema produz o não reconhecimento.

De modo contrário a esta concepção “ortodoxa”, a sociologia da crítica pretende


não subestimar as capacidades reflexivas dos atores sociais, não os tratando como
“idiotas desprovidos de juízo”, mas admitindo-os numa relação simétrica junto ao
sociólogo “profissional”.

Os atores sociais demonstram, em seus conflitos cotidianos, plena capacidade


reflexiva e de assumir diversos pontos de vista, envolvendo-se em complexos discursos
de crítica e justificação. Assim, a capacidade de analisar criticamente as situações não é
exclusividade dos sociólogos, mas também estão presente nos atores ordinários.
Celikates distingue dois modos de crítica destes atores frente à pluralidade de regimes
de justificação. O primeiro pode ser entendido como crítica interna ou reformista, ele
aceita o regime de justificação em questão, criticando apenas o modo como ele é
aplicado numa situação concreta. No segundo, a crítica é direcionada ao próprio regime
de justificação, e assim se configura como uma crítica mais radical.

Estas críticas não devem ser tomadas como produtos de uma sociologia ingênua,
de um “conhecimento imediato” como sugere Bourdieu, mas como uma espécie de
“sociologia popular”. Isto significa que o objeto da sociologia da crítica se encontra já
na sociedade, pelo menos em seus elementos básicos, e assim segue-se uma máxima
metodológica “siga os próprios atores”, pois eles possuem um conhecimento relevante
acerca do mundo social. Esta concepção visa abolir o abismo que há entre o
conhecimento dos atores ordinários e sociólogos, como se o primeiro fosse
completamente idiota e o segundo dotado de uma espécie de onisciência que se eleva
para além de toda representação social. Em consequência, a metodologia da sociologia
da crítica, como proposta por Boltanski, visa também combater as consequências da
perspectiva ortodoxa da relação entre atores e sociólogos, a saber, um tipo de
paternalismo e elitismo, derivados da subestimação das capacidades reflexivas dos
agentes ordinários.

Contudo, isto leva a sociologia da crítica a limitar as alternativas de crítica


radical que se posicionam para além do “círculo hermenêutico da sociedade” e do
“realismo” das ponderações dos atores sociais. Desta forma, ela necessitaria ainda da
Teoria Crítica que permita avançar sobre estas limitações metodológicas da sociologia
da crítica. Deve-se, portanto, a Teoria Crítica se perguntar sob quais condições sociais
os atores podem desenvolver a capacidade crítica que a sociologia da crítica os imputa.

Se há na sociedade, de fato, relações assimétricas de reconhecimento e também


relação de não reconhecimento que impedem tal desenvolvimento das capacidades
reflexivas e críticas, caberia, portanto, situá-las na teoria. Estas barreiras são
denominadas de “patologias de segunda ordem” e são consequências estruturais que
atingem os atores e suas práticas. As condições de primeira ordem, que correspondem à
situações de injustiças, exploração, não reconhecimento, são acessíveis, em grande
medida, aos afetados diretamente, porém, algumas situações podem não ser vivenciadas
como injustas. Celikates aponta então que a teoria social deve se perguntar por que e
como certas situações não são vivenciadas como injustas e, se vivenciadas desta forma,
porque não geram uma consciência correspondente que modifique as práticas sociais
para uma ação transformadora. As “patologias de segunda ordem” são compreendidas,
portanto, como as formas estruturais de bloqueio que impeçam a crítica e a
transformação das “patologias de primeira ordem”.

No que diz respeito ao papel da Teoria Crítica, a saber, o de emancipação, os


teóricos críticos

têm de encontrar na experiência , na forma de consciência e na crença desses


agentes os meios de emancipação e esclarecimento. Se não conseguimos
encontrar as experiências apropriadas de sofrimento e frustração, e os
princípios de aceitabilidade reflexiva, na vida e na forma de consciência
desses agentes, a Ideologiekritik não pode começar, e nós não temos nenhum
direito de chamá‑los de “iludidos”. (CELIKATES apud GEUSS, 2012, p. 40)

Os teóricos críticos devem partir do “circulo hermenêutico da sociedade” e levar a sério


as posições e experiências dos agentes ordinários, porém, não se limitando meramente a
estas experiências. O cuidado do teórico, portanto, é de um lado não subestimas as
capacidades reflexivas dos atores sociais, caindo num paternalismo e elitismo, e por
outro lado não superestima-los de modo a restringir a crítica aos elementos já presente
na sociedade.

4. Para uma filosofia social de baixo para cima

Devidamente apresentadas as ideias gerais que permeiam ambos os textos,


partimos neste momento para um entrelaçamento crítico de seus conteúdos de modo a
fornecer um instrumental teórico-metodológico, ainda embrionário, para o trato das
realidades sociais e para o engajamento dos atores ordinários visando uma prática social
transformadora.

Cabe ressaltar que não se pretende aqui limitar-se às ideias já presentes nos
textos de Iser e Celikates, mas extrair alguns elementos básicos que possam servir de
subsídio para uma teoria social crítica que desenvolva uma metodologia eficiente e
coerente com a finalidade da crítica, isto é, com o objetivo geral de transformação das
práticas sociais visando a emancipação dos agentes e, mais especificamente, através da
revolta.

A introdução exposta por Celikates fornece algumas perspectivas metodológicas


que, de fato, são contrárias e possuem consequências teórico-práticas bastante distintas.
Rejeitaremos a concepção de Bourdieu sobre o papel dos agentes e dos sociólogos por
dois motivos: 1) ela não oferece alternativas para o engajamento dos atores sociais para
uma ação transformadora, pelo contrário, ela a impossibilita totalmente, uma vez que
supõem a impossibilidade dos agentes terem conhecimento dos mecanismos de
dominação simbólica e de agirem contra eles; 2) ela reproduz o status quo, uma vez que
reivindica que somente o esclarecido sociólogo “profissional” é capaz de ver para além
do “véu ideológico” e, portanto, a emancipação dos agentes funda-se na autoridade do
conhecimento destes aristocratas do saber.

Assim, nos aproximarmos, não sem ressalvas, da concepção da sociologia da


crítica, pois nos parece mais acertada à finalidade de transformação das práticas sociais
pelos próprios agentes. Ao considerar que os atores sociais possuem capacidades
reflexivas e que, portanto, podem posicionar-se para além das ideologias que mistificam
as práticas sociais, coloca-se os próprios agentes ordinários no protagonismo da
transformação social, seguindo a célebre máxima da Associação Internacional dos
Trabalhadores (AIT), organização proletária fundada em 1864 por operários de diversos
países da Europa: “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios
trabalhadores”.

Apenas considerando metodologicamente a ação dos agentes ordinários é que se


pode formular teorias que possibilitem a transformação das práticas sociais pelos
próprios agentes; do modo contrário, procedendo aristocraticamente como Bourdier, a
teoria social só poderia formular ideias gerneralistas e muito raramente teria sucesso no
intento de criar condições para uma práxis transformadora, ou, no pior dos casos,
conduziria à velha aristocracia – agora uma aristocracia do saber – e falharia no objetivo
da Teoria Crítica de emancipação dos agentes.

Consideramos pertinente aproximar aqui concepção de filosofia social de


Celikates com a filosofia racional de Mikhail Bakunin. A filosofia racional que o
filósofo russo propõe “não procede aristocraticamente, nem autoritariamente como a
falecida metafísica. […] A filosofia racional é uma ciência democrática. Organiza-se de
baixo para cima livremente, e tem por fundamento único a experiência” (BAKUNIN,
2014).

Com efeito, é dentro deste paradigma que deve-se analisar o fenômeno da


revolta. Não como fez Honneth que, mesmo sem intenção, pois considera primordial a
autorrelação bem-sucedida dos indivíduos, ainda procede de modo ortodoxo como
Bourdieu, no que se refere às razões de justificação, uma vez que implicitamente esta
concepção também procede de modo aristocrático através do “Reino das razões”.
Portanto, os limites da teoria do reconhecimento exposto por Iser são bastante
relevantes e sua proposta de um conceito de reconhecimento deontológico nos parece
bastante promissor, principalmente por dois motivos: 1) as pretensões de status
possibilitam sair de outro circulo vicioso, o da auto-justificação da identidade; e 2)
porque põem as expectativas normativas dentro do contexto das relações entre os
agentes, evitando tanto a infrutífera autorrelação quanto os aristocráticos critérios
normativos “externos”.

Ademais, a revolta deve ser interpretada não como um fenômeno puramente


negativo ou psicológico, mas como uma resistência à uma violação do reconhecimento
ao mesmo tempo em que se aponta, positivamente, para a construção de relações
normativas potencialmente estruturadas.
Descobrir a fonte secreta de sua vida mental e moral, compreender o
processo do pensamento popular, saber o que pensa, de que maneira pensa, a
que aspira, o que espera e quer o povo [...], eis o principal e, digamo-lo, o
único objeto da ciência viva, revolucionária, de nossa época. (BAKUNIN,
2008)

Considerando que o “circulo hermenêutico” já se encontra, mesmo que de modo


rudimentar, na sociedade e nos agentes sociais, o trabalho da sociologia da crítica é o de
desenvolver estes elementos de forma a estruturar uma crítica radical. Compreender,
junto aos agentes ordinários, ou seja, o Povo, que há injustiças e que a sociedade deve
ser transformada para que estas injustiças deixem de se reproduzir. Compreender
também que tais injustiças se repetem em sociedades com funcionamento semelhantes,
ligando assim diversas sociedades que sofrem de uma patologia social semelhante e
que, portanto, só uma crítica radical que atinja as estruturas fundamentais da reprodução
de injustiça é capaz de êxito no objetivo de emancipação dos explorados.

A construção teórica deste método, seguindo a receita da filosofia racional, ainda


é bastante embrionária. Assim, menos do que finalizar de modo conclusivo, a intenção
deste texto é abrir a discussão para as tarefas urgentes que nos é colocada para uma
filosofia social consistente e eficiente em seus objetivos, a saber; o de emancipação e o
de mobilização do povo explorado e injustiçado, isto é, instigar a revolta até a libertação
total e completa.
Referências bibliográficas

BAKUNIN, M. Federalismo, socialismo e antiteologismo; tradução Plínio Augusto


Coêlho - São Paulo: Intermezzo Editorial/Imaginário, 2014.

_______. Aonde ir e O que fazer. In: Os enganadores - A política da Internacional -


Aonde ir e O que fazer; tradução: Plínio Augusto Coêlho – São Paulo:
Imaginário/Faísca, 2008.

_______. Protestação da Aliança. In: Bakunin: obras seletas 1; tradução Plínio Augusto
Coêlho – São Paulo: Intermezzo, 2016.

CELIKATES, R. O não reconhecimento sistemático e a prática da crítica: Bourdieu,


Boltanski e o papel da teoria crítica. In: Novos estudos, no. 93 – São Paulo, 2012.

ISER, M. Desrespeito e Revolta. In: Sociologias, ano 15, no. 33 – Porto Alegre, 2013.

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