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estatal, que, na maioria das vezes, era [...]. Nos últimos anos, o próprio sistema ju-
alheio ou persecutório a essa comunidade. rídico brasileiro [...] reconheceu e integrou,
Outras leituras entendiam que essa produ- ao menos no plano normativo, assim como
ção local mimetizava as formas do direito no jurisprudencial, vários princípios que
“do asfalto” e buscava, assim, suprir uma inspiram essas e outras lutas coletivas com
lacuna do aparato do Estado, sem, no en- base na noção de direitos” (OLIVEIRA,
tanto, contar com as mesmas garantias 2003, p. 219-220). Faria e Campilongo apon-
formais deste, ou seja, também poderia ser tam no mesmo sentido, quando dizem que
um direito excludente. há “um aspecto até agora pouco explorado
O direito alternativo, por sua vez, foi pelos estudiosos: a influência e o condicio-
influenciado pelo debate sobre o “uso al- namento que esses movimentos imprimem
aponta o caminho para outra agenda de es- em um primeiro momento tenha ficado
tudos da sociologia jurídica, em que haveria mais evidente a mobilização social em tor-
mentos sociais e direito: “parece-me que para a positivação de novos direitos ou re-
hoje, no Brasil, as lutas sociais que se de- gulamentação de outros, e do Poder Execu-
tivo, por conta da permeabilidade de parti-
senvolvem em torno da ideia do direito as-
dos políticos, criação de conselhos e
semelham-se mais a um reconhecimento e
conferências (SCHATTAN; NOBRE, 2004),
integração ao sistema jurídico do que a
uma ‘alternatividade’ ou a um ‘pluralismo’,
que acaba se manifestando mais como um
1.
Algumas entidades da sociedade civil se especializaram
nesse campo de incidência política no Congresso Nacio-
subproduto da segregação e do abandono nal, após a Constituinte.
atualmente observa-se também a mobiliza- das sociais. Há, ainda, um uso propositivo
ção social em torno do Poder Judiciário. Os do Poder Judiciário, baseado nessa nova
casos difíceis do Supremo Tribunal Fede- concepção de que o próprio Poder Judiciá-
ral, com realização de audiências públicas, rio pode ser um espaço de disputa do sen-
são um exemplo dessa mobilização. tido de direitos já existentes ou para o re-
Mas, por que apenas mais recente- dores Rurais Sem-Terra (MST) que antes
como um espaço em disputa para os movi- mo Tribunal Federal autoriza a união está-
mentos sociais de forma mais clara? Várias vel entre pessoas do mesmo sexo, ele con-
hipóteses explicativas podem ser levanta- tribui para a realização de uma importante
uma determinada concepção de direito Transgêneros), que ficou sem apoio políti-
pelos movimentos sociais na qual o espaço co no Congresso Nacional por muitos anos.
de criação do direito é o Poder Legislativo, A esse desempenho das cortes estão
cabendo ao Poder Judiciário apenas sua relacionadas diferentes formas de mobili-
aplicação. Essas opções estratégicas po- zação social em torno do direito e do Poder
dem ter sido frustradas, por exemplo, por Judiciário. Enquanto os movimentos so-
as vitórias no reconhecimento de novos di- ciais por terra e moradia têm uma relação
reitos no Poder Legislativo não terem sido muito mais reativa e defensiva em relação
acompanhadas em alguns casos pela sua ao Poder Judiciário e a outras instituições
implementação pelo Poder Judiciário, ou do direito, como o Ministério Público, por
por o Poder Legislativo ter sido aberta- serem criminalizados em razão de suas de-
mente refratário a determinadas deman- mandas sociais estarem “à margem do
direito”2, movimentos sociais como o LGBT permeáveis a essas demandas sociais. Isso
procuram explorar uma agenda mais pro- porque a mera positivação de direitos não
positiva e inclusiva em relação ao direito e altera necessariamente o Judiciário que os
ao Poder Judiciário, buscando o reconheci- aplica, tornando também o funcionamento
mento de novos direitos, que não são obti- deste Poder alvo da ação daqueles que tra-
dos em espaços políticos majoritários, en- balham com a linguagem de direitos.
xergando o Poder Judiciário como um
Em qualquer um dos casos, o Poder
possível espaço de transformação social,
Judiciário está sendo disputado pelos mo-
sendo o direito a nova linguagem dessa dis-
vimentos sociais – seja por ser um espaço
puta política. Outra relação com o Poder
de disputa de interpretação do direito,
Judiciário pode ser a de garantir a efetiva-
mais uma rodada de deliberação política
ção dos direitos já positivados no plano Le-
na qual é preciso participar, seja por insti-
gislativo, ou seja, a disputa agora poderia
tucionalmente poder ser objeto de refor-
ser para que não haja retrocessos nessas
mas que o tornem mais permeável às de-
conquistas legislativas, por exemplo a defe-
mandas sociais.
sa da constitucionalidade da Lei Maria da
Essa aproximação dos movimentos
Penha no Supremo Tribunal Federal.
sociais a este espaço institucional do Esta-
No entanto, mesmo em relação aos
do também pode provocar outra leva de
movimentos sociais com uma postura tra-
transformações em como os movimentos
dicionalmente mais reativa em relação ao
sociais se organizam. A imersão na dinâmi-
direito, há uma tendência recente de tam-
ca de funcionamento do Poder Judiciário
bém incorporar a linguagem do direito3 e,
(linguagem técnica jurídica, tempo do pro-
a partir das dificuldades de acesso ao es-
cesso, respeito aos procedimentos) pode
paço de disputa do Poder Judiciário, a
afetar o modo de ação política dos movi-
agenda propositiva de direitos se transfor-
mentos sociais. As entidades sociais incor-
ma em uma agenda de reforma das insti-
poram ainda mais a linguagem dos direitos,
tuições do direito, para que sejam mais
passam a ser compostas também por advo-
gados. O Judiciário pode ser um espaço de
2.
A própria necessidade de defesa em relação à persecução
do Estado provoca a mobilização social jurídica.
atuação menos acessível, no qual se exige
3.
Essa aproximação pode se dar de diversas formas. Desde a uma argumentação jurídica, que articule
contratação de equipe de advogados dentro das entidades
ligadas aos movimentos de moradia para elaborarem dife- elementos da dogmática jurídica, não tão
rentes estratégias de atuação judicial até a criação de turma permeável a outras linguagens.
especial para o ensino do direito para assentados do MST,
em parceria com universidades (“Justiça garante continui- O estudo da relação entre movimen-
dade do curso de Direito para assentados em Goiás”. Dis-
ponível em: <http://www.mst.org.br/node/8876>). tos sociais, direito e Poder Judiciário pode
ser um novo campo a ser explorado no Bra- ções e estratégias legais tiveram papel
sil. E esse trabalho pode ser feito em diálo- proeminente, poucos deles desenvolveram
go com estudos já desenvolvidos em outros análises conceituais sobre como o direito e
países, com maior trajetória de judicializa- o Poder Judiciário têm influência nas lutas
ção de demandas por parte da sociedade desses movimentos. Por sua vez, o campo
civil. É claro que a presença/ausência des- da sociologia do direito norte-americana,
ses estudos é reflexo da intensidade da mo- apesar de ter explorado longamente as cam-
bilização social jurídica em torno do Poder panhas de litígio, ações judiciais e aspira-
Judiciário em cada um desses países. Nos ções normativas de justiça social baseadas
EUA, essa produção acadêmica inaugura em direitos e a relação destas com os movi-
um novo campo, denominado Law and So- mentos sociais, permaneceu preso a uma
ciety, e surge após a experiência dos movi- perspectiva institucionalista, centrada nas
mentos pelos direitos civis e políticos, que a cortes, focando seus estudos na jurispru-
partir da década de 1960 utilizaram clara- dência dos tribunais e nas ações de elites
mente o Poder Judiciário como uma via de legais, e ficando, assim, distante das ações
ação política, buscando transformação so- dos movimentos sociais na prática e da teo-
cial e reconhecimento de novos direitos, ria que os analisa (McCANN, 2006, p. 17).
que não eram obtidos nos espaços políticos A partir de meados da década de 1990,
majoritários, como o Poder Legislativo. iniciou-se um crescente interesse pelo es-
Este capítulo procura abrir caminho para tudo da relação entre direito e movimentos
esta literatura, com o objetivo de estimular sociais, principalmente na literatura norte-
futuros estudos sobre mobilização social -americana4. Ao longo dos anos, tais estu-
jurídica na sociologia jurídica brasileira.
4.
De acordo com McCann, a partir de meados da década de
13.1. Movimentos sociais, direito e 1990, iniciou-se um produtivo diálogo que conectou dois di-
ferentes modos de análise da relação entre direito e movimen-
Poder Judiciário: uma aproximação tos sociais: de um lado, os autores que centravam suas análi-
teórica ses nas cortes, com uma abordagem “de cima para baixo”; e,
de outro, os estudos menos centralizados na questão legal e
Apesar da evidente relação entre mo- mais voltados para os movimentos sociais em si e sua relação
com o direito (2006, p. 18). É possível remontar as origens
vimentos sociais, direito e Poder Judiciário, dessa agenda de pesquisa ainda na década de 1980. Em uma
entrevista, McCann afirma que “a teoria do movimento social
é notável a pouca frequência do estudo des- nos Estados Unidos nos anos 80 estava realmente tomando
se tema na literatura especializada. Nos Es- algum impulso. Assim, um dos principais objetivos desde o
início era fundir a teoria do movimento social com várias for-
tados Unidos, a despeito dos estudiosos dos mas de teoria da mobilização jurídica (legal mobilization) e
movimentos sociais relatarem em seus tra- adicionar algumas abordagens de estudos de consciência ju-
rídica (legal consciousness). Era uma espécie de aproxima-
balhos muitos casos nos quais reivindica- ção entre tradições distintas” (McCann, 2009, p. 176).
des políticas para compreender “a relação das por movimentos sociais e grupos de in-
Andersen (2004) aprofunda esta dis- zes podem uniformemente aceitar a reivin-
cussão e aponta que as três principais di- dicação (e então ela também estaria fora do
mensões da estrutura de oportunidades sistema judicial), ou podem se dividir a res-
políticas (acesso à estrutura institucional peito das implicações legais relativas àque-
formal, a configuração de poder no que diz la reivindicação. Neste último caso, é esti-
respeito a temas importantes e a disponibi- mulada a proposição de novos litígios a
lidade de aliados) também são dimensões respeito daquela reivindicação e a “muni-
relevantes da estrutura de oportunidades ção legal” é fornecida para ambos os lados
legais. Assim, em primeiro lugar, a exten- da disputa. Andersen acredita que a pers-
são do acesso de movimentos sociais às pectiva de juízes individualmente pode afe-
cortes também molda a emergência, o pro- tar o progresso e os resultados dos litígios
gresso e os resultados obtidos com a ação envolvendo movimentos sociais. A autora
legal (legal action). Os mecanismos e ca- afirma que casos que tocam mais direta-
racterísticas do processo judicial modelam mente em “fissuras” legais e/ou políticas são
o acesso às estratégias legais de várias e mais propensos a provocar discordâncias
importantes formas, incluindo aí o que significativas entre os juízes. Ademais, mu-
pode ser levado ao Judiciário, quem tem le- danças nos quadros da magistratura podem
gitimidade para levar tais questões aos tri- abrir ou fechar canais de oportunidade para
bunais e onde o litígio judicial pode ocorrer ações legais (ANDERSEN, 2004, p. 9-10).
(que tribunal é competente para julgar o
A terceira dimensão da estrutura de
litígio). Assim, as exigências de acesso às
oportunidades legais seria a presença de
cortes modelam as opções disponíveis para
aliados ou oponentes dos movimentos so-
os atores sociais que desejam mobilizar o
ciais. Nesse sentido, Andersen afirma que
direito em nome dos objetivos dos movi-
aliados podem custear as despesas subs-
mentos sociais (ANDERSEN, 2004, p. 9-10).
tanciais de se levar um caso às cortes, ofe-
A segunda dimensão da estrutura de recer assistência na elaboração de estraté-
oportunidades legais seria a configuração gias legais ou apresentar um amicus
de poder das elites ligadas ao Poder Judi- curiae11 em determinado processo (o que
ciário, sendo estas formadas principalmen- pode ser um sinal da importância do caso
te por juízes. A autora argumenta que
quando uma determinada reivindicação é 11.
“Amicus Curiae é um instituto processual que consiste na
levada às cortes, há três tipos de respostas admissão, em determinados processos, da manifestação
de órgãos ou organizações da sociedade civil destinada ao
possíveis: ou os juízes podem uniforme- fornecimento de subsídios e informações relevantes para o
mente rejeitar a reivindicação (e então ela deslinde da causa”. Cf. BOTALLO, Eduardo Domingos. Li-
ções de direito público. 2. ed. São Paulo: Dialética, 2005
estaria fora do sistema judicial), ou os juí- apud MACIEL, 2011, p. 106.
apropriado para perseguir seus objetivos ponto de partida para entender tal noção
políticos13 (VANHALA, 2006, p. 555). é a definição de Frances Zemans (1983, p.
A ferramenta analítica que melhor 700) que afirma que o direito é mobiliza-
McCann aponta que a noção de mobi- das, é necessário notar que o entendimen-
lização do direito está baseada em algu- to e os usos dessas convenções podem va-
que práticas legais e discursos de direitos assinalada por McCann é a de que tanto as
não estão limitados às normas formais e normas e práticas jurídicas oficiais como
tégias jurídicas para negociar trocas e re- na maioria dos domínios das atividades
solver disputas em diversos âmbitos da dos cidadãos. Isso quer dizer que o direito
vida social, sem depender de intervenção raramente é uma força exclusiva na práti-
oficial direta para tanto (1994, p. 7-8). ca social de fato. Assim, as convenções ju-
Como consequência, McCann assinala que rídicas constituem apenas uma dimensão
“desloca o foco dos tribunais para os usuá- de fatores interdependentes que estrutu-
rios e utiliza o direito como um recurso de ram o entendimento e as ações dos indiví-
O ponto de vista adotado é o dos atores so- Segundo McCann, essas premissas
ciais que mobilizam estratégias legais em dão à abordagem da mobilização do direito
sua ação coletiva, muito mais do que o uma visão mais expansiva, sutil e complexa
ponto de vista da instituição, ou seja, do do papel que o direito e o Poder Judiciário
Poder Judiciário. Uma segunda premissa desempenham nas lutas políticas. As táti-
seria de que a ordem legal é mais “pluralis- cas e práticas jurídicas utilizadas pelos
ta” do que monolítica. Segundo o autor, movimentos sociais, em especial aquelas
que recorrem às normas formais e aos tri- lização do direito em dois níveis: o “nível
bunais, têm múltiplas motivações e efeitos instrumental ou estratégico” e o nível do
complexos (1994, p. 9-10). McCann aponta “poder constitutivo da autoridade judi-
que o poder indireto do direito e do Poder cial”. No nível instrumental ou estratégico,
Judiciário na sociedade é fundamental: o analisa-se como as ações e decisões judi-
autor acredita que sua influência é menos ciais conformam o cenário estratégico de
linear, menos direta e não está sujeita a outros atores estatais e dos agentes so-
análises causais, como em geral indicam ciais. Em outras palavras, tal nível de aná-
os estudiosos do tema16. O autor ressalta
lise busca entender como “as deliberações
que tais efeitos indiretos podem ser rele-
e ações de diversos agentes sociais são for-
vantes, por exemplo, para a construção do
madas por entendimentos acerca das nor-
próprio movimento social, para gerar apoio
mas estabelecidas pelos tribunais, bem
público para novas reivindicações de direi-
como pelas expectativas de sua provável
tos e para alavancar outras táticas políti-
atuação em áreas incertas do direito”
cas (1994, p. 10). Nesse sentido, os tribu-
(2010, p. 184). Assim, as cortes não apenas
nais seriam “importantes por configurarem
teriam o papel de decidir qual o significado
o contexto no qual os usuários da justiça
de direitos em disputa, mas também aca-
se engajam em uma mobilização do direi-
bam por prevenir, incitar, estruturar, des-
to”, ou seja, tal importância “se dá em fun-
ção de como os usuários interpretam e locar e transformar conflitos na sociedade
agem com relação aos seus sinais” (2010, rotineiramente (2010, p. 185).
p. 183). O autor acredita que as cortes au- O Poder Judiciário também tem um
xiliam de forma ativa a compor o “panora- importante papel para a mobilização do di-
ma ou a rede de relações na qual se encon- reito em uma segunda dimensão, que o au-
tram as demandas judiciais em curso dos tor denomina “poder constitutivo da autori-
cidadãos e organizações” (2010, p. 183). dade judicial”17. Tal dimensão é mais difusa
De acordo com McCann, o Poder Ju- e de difícil compreensão e se configura nos
diciário tem uma importância para a mobi- “modos pelos quais as práticas de constru-
ção jurídica dos tribunais são ‘constitutivas’
16.
Nesse sentido, McCann se diferencia do mainstream da ciên- de vida cultural” (2010, p. 188). Esta di-
cia política que estuda os tribunais na medida em que esta
mensão está bastante vinculada à linha
busca entender os efeitos diretos e lineares das decisões
do Poder Judiciário em outras instituições do Estado e na
sociedade a partir de análises causais. De acordo com o
autor, “os tribunais não são apenas solucionadores de 17.
De acordo com McCann, “este entendimento é menos
conflitos” e “também não é poder essencial dos tribunais proeminente entre os cientistas políticos, mas é desen-
estabelecer regras a serem seguidas por outros atores” volvido por estudiosos sociojurídicos interdisciplinares”
(McCANN, 2010, p. 183). (2010, p. 188).
os princípios, valores e lógicas que consti- Muitas das ideias apresentadas acima
tuem um povo (2010, p. 189). são desenvolvidas e discutidas por McCann
em seu principal estudo, Rights at work:
De acordo com McCann, tal “poder
pay equity reform and the politics of legal
constitutivo”
mobilization (1994). Tal trabalho tem como
objeto de estudo empírico o movimento so-
18.
Stuart Scheingold (2004) trouxe contribuições pioneiras
cial de mulheres nos Estados Unidos que
para o campo de estudos das relações entre direito, política
e transformações sociais a partir de sua visão “culturalista” lutou pela equidade de salários no final dos
deste fenômeno. Em seu Politics of rights, o autor apresenta
várias intuições antropológicas a respeito da ressonância
anos 1970, início dos anos 1980. O autor
cultural e do poder simbólico dos direitos que vão sendo aponta para o fato de que os discursos le-
apontados ao longo de sua análise cultural da lei – por
exemplo, o papel que as ideias ligadas ao direito podem gais e mecanismos institucionais não só
desempenhar na política e a necessidade de examinar as forneceram recursos cruciais para tais lu-
consciências dos vários atores abarcados nos processos
que envolvem o direito e a política. Esta visão “culturalista” tas como também moldaram consideravel-
do direito emerge durante os anos 1980 e 1990 e tem sua mente o terreno no qual essas lutas por no-
versão mais bem -acabada no trabalho de Michael McCann
(PARIS, 2010, p. 18 -19). vos direitos foram travadas (1994, p. 278).
das ações e objetivos de tais atores. Nesse ções comunitárias e etc.” (CABALLERO,
sentido, ele examinou o papel que o direito 2011, p. 8). As noções aqui apresentadas
desempenhou em diferentes fases de ativi- fornecem ferramentas analíticas distintas
dades dos movimentos sociais. McCann para dar conta de diferentes aspectos des-
também traçou os contextos de ação dos ta questão: o ponto de vista da instituição,
movimentos sociais colocando-os dentro de mais bem entendido a partir da noção de
um contexto político e social mais amplo oportunidade legal, e o ponto de vista da
(PARIS, 2010, p. 20). ação coletiva, mais bem entendido a partir
da noção de mobilização do direito.
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