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Reúnem-se aqui, além de leis e decretos, os dispositivos da Constituição da República e

atos internacionais relacionados ao tráfico de pessoas.

Neste volume figuram, entre outros, os textos integrais da Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional e da Convenção para a Repressão do Tráfico de
Pessoas e do Lenocínio. Entre as normas brasileiras sobre o tema, merecem destaque
o Decreto no 7.901/2013, que institui a Coordenação Tripartite da Política Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, e a Lei no 10.608/2002, que assegura o pagamento
de seguro-desemprego ao trabalhador resgatado da condição análoga à de escravo.

Em face de a espécie humana ser o cerne da proteção jurídica, esses dispositivos


nacionais e internacionais sublinham a necessidade do combate permanente ao trabalho
escravo, ao tráfico de seres humanos, à exploração sexual e ao comércio de órgãos.

Tráfico de Pessoas
Tráfico de Pessoas
Tráfico de Pessoas
SENADO FEDERAL
Mesa
Biênio 2013 – 2014

Senador Renan Calheiros


PRESIDENTE

Senador Jorge Viana


PRIMEIRO-VICE-PRESIDENTE

Senador Romero Jucá


SEGUNDO-VICE-PRESIDENTE

Senador Flexa Ribeiro


PRIMEIRO-SECRETÁRIO

Senadora Ângela Portela


SEGUNDA-SECRETÁRIA

Senador Ciro Nogueira


TERCEIRO-SECRETÁRIO

Senador João Vicente Claudino


QUARTO-SECRETÁRIO

SUPLENTES DE SECRETÁRIO
Senador Magno Malta
Senador Jayme Campos
Senador João Durval
Senador Casildo Maldaner
Secretaria de Editoração e Publicações
Coordenação de Edições Técnicas

Tráfico de Pessoas

Brasília – 2013
Edição do Senado Federal
Diretor-Geral: Antônio Helder Medeiros Rebouças
Secretária-Geral da Mesa: Claudia Lyra Nascimento

Impresso na Secretaria de Editoração e Publicações


Diretor: Florian Augusto Coutinho Madruga

Produzido na Coordenação de Edições Técnicas


Coordenadora: Anna Maria de Lucena Rodrigues

Organização: Tatiana Tamara de Araújo Arruda


Revisão: Walfrido Vianna
Editoração eletrônica: Jussara Cristina Shintaku e Letícia Tôrres
Ficha catalográfica: Vanessa Cristina Pacheco
Capa e ilustrações: Lucas Santos de Oliveira
Projeto gráfico: Raphael Melleiro e Rejane Rodrigues

Tráfico de pessoas. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições


Técnicas, 2013.
174 p.

Conteúdo: Dispositivos Constitucionais Pertinentes – Atos Internacionais


– Normas Pertinentes.

ISBN: 978-85-7018-513-6

1. Crime contra a pessoa, legislação, Brasil. 2. Trabalho escravo, Brasil.


3. Crime contra a liberdade individual, Brasil. I. Título.

CDDir 341.272

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Sumário
7 Apresentação

Dispositivos constitucionais pertinentes


10 Constituição da República Federativa do Brasil

Atos internacionais
14 Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional
38 Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional, Relativo ao Combate ao Tráfico de
Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea
48 Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição
do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças
56 Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
110 Convenção 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
114 Recomendação 190 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
118 Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de Menores
125 Convenção para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio

Normas pertinentes
132 Decreto no 7.901/2013
135 Decreto no 6.347/2008
148 Decreto no 5.948/2006
154 Lei no 10.608/2002
155 Decreto no 2.268/1997
164 Lei no 9.434/1997
165 Lei no 9.034/1995
167 Lei no 8.069/1990
173 Decreto-Lei no 2.848/1940
Apresentação

“É uma realidade tão espessa, tão viva e tão dramática que nos cobre a todos
que, não a querer ver, seria mais do que miopia ética, seria blasfêmia moral”
José de Faria Costa*

No Estado Democrático de Direito, o tráfico A divulgação desse crime é resultado de inda-


de pessoas é tema relevante, por violar direitos gações feitas não só por indivíduos explorados
humanos fundamentais. física e moralmente, mas também pelo esforço
coletivo na busca de instrumentos que possam
O Protocolo da Convenção das Nações Unidas prevenir, proibir e penalizar aqueles que infrin-
contra o Crime Organizado Transnacional girem a dignidade da pessoa humana.
define tráfico de pessoas como
“o recrutamento, o transporte, a transfe- Diante da necessidade de assegurar o valor
rência, o alojamento ou o acolhimento de do ser humano como cerne da proteção jurí-
pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da dica, esta obra reúne tratados internacionais
força ou a outras formas de coação, ao rapto, e legislações nacionais que sublinham o en-
à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade frentamento do tráfico de seres humanos, do
ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega trabalho escravo, da exploração sexual e do
ou aceitação de pagamentos ou benefícios comércio de órgãos.
para obter o consentimento de uma pessoa
que tenha autoridade sobre outra para fins de É importante salientar que, devido à multidi-
exploração. A exploração incluirá, no míni- mensionalidade do tema, há necessidade de
mo, a exploração da prostituição de outrem convergência dos poderes Legislativo, Execu-
ou outras formas de exploração sexual, o tivo e Judiciário para o aperfeiçoamento da le-
trabalho ou serviços forçados, escravatura gislação vigente, com o compromisso de coibir
ou práticas similares à escravatura, a servi- o tráfico interno e internacional de pessoas.*
dão ou a remoção de órgãos.”

Apresentação

*
In: A globalização e o tráfico de seres humanos: o
pêndulo trágico da histórias e o direto penal.
7
Dispositivos constitucionais
pertinentes
Constituição
da República Federativa do Brasil

TÍTULO I – Dos princípios Fundamentais à igualdade, à segurança e à propriedade, nos


termos seguintes:
Art. 1 o A República Federativa do Brasil, I – homens e mulheres são iguais em direitos
formada pela união indissolúvel dos Estados e e obrigações, nos termos desta Constituição;
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar
em Estado democrático de direito e tem como de fazer alguma coisa senão em virtude da lei;
fundamentos: III – ninguém será submetido a tortura nem
............................................................................... a tratamento desumano ou degradante;
II – a cidadania; ...............................................................................
III – a dignidade da pessoa humana; V – é assegurado o direito de resposta, pro-
IV – os valores sociais do trabalho e da livre porcional ao agravo, além da indenização por
iniciativa; dano material, moral ou à imagem;
............................................................................... ...............................................................................
X – são invioláveis a intimidade, a vida priva-
Art. 3o Constituem objetivos fundamentais da da, a honra e a imagem das pessoas, assegurado
República Federativa do Brasil: o direito a indenização pelo dano material ou
............................................................................... moral decorrente de sua violação
IV – promover o bem de todos, sem pre- ...............................................................................
conceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação. CAPÍTULO II – Dos Direitos Sociais

Art. 4 o A República Federativa do Brasil Art. 6o São direitos sociais a educação, a saúde,
rege-se nas suas relações internacionais pelos a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer,
seguintes princípios: a segurança, a previdência social, a proteção
............................................................................... à maternidade e à infância, a assistência aos
II – prevalência dos direitos humanos; desamparados, na forma desta Constituição.
...............................................................................
IX – cooperação entre os povos para o pro- Art. 7o São direitos dos trabalhadores urbanos
gresso da humanidade; e rurais, além de outros que visem à melhoria
............................................................................... de sua condição social:1
I – relação de emprego protegida contra des-
pedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos
TÍTULO II – Dos Direitos e Garantias de lei complementar, que preverá indenização
Fundamentais compensatória, dentre outros direitos;
CAPÍTULO I – Dos Direitos e Deveres II – seguro-desemprego, em caso de desem-
Individuais e Coletivos prego involuntário;
Tráfico de Pessoas

III – fundo de garantia do tempo de serviço;


Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem dis- IV – salário mínimo, fixado em lei, nacio-
tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos nalmente unificado, capaz de atender a suas
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, 1
Decreto-Lei no 5.452/43.
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necessidades vitais básicas e às de sua família XXXIII – proibição de trabalho noturno,
com moradia, alimentação, educação, saúde, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e
lazer, vestuário, higiene, transporte e previ- de qualquer trabalho a menores de dezesseis
dência social, com reajustes periódicos que lhe anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua de quatorze anos;
vinculação para qualquer fim; ...............................................................................
...............................................................................
VII – garantia de salário, nunca inferior ao TÍTULO III – Da Organização do Estado
mínimo, para os que percebem remuneração ...............................................................................
variável;
VIII – décimo terceiro salário com base na CAPÍTULO II – Da União
remuneração integral ou no valor da aposen- ...............................................................................
tadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Dis-
superior à do diurno; trito Federal legislar concorrentemente sobre:
X – proteção do salário na forma da lei, ...............................................................................
constituindo crime sua retenção dolosa; XV – proteção à infância e à juventude;
............................................................................... ...............................................................................
XIII – duração do trabalho normal não su-
perior a oito horas diárias e quarenta e quatro TÍTULO IV – Da Organização dos Poderes
semanais, facultada a compensação de horários ...............................................................................
e a redução da jornada, mediante acordo ou
convenção coletiva de trabalho; CAPÍTULO III – Do Poder Judiciário
............................................................................... SEÇÃO II – Do Supremo Tribunal Federal
XV – repouso semanal remunerado, prefe- ...............................................................................
rencialmente aos domingos;
............................................................................... Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Fede-
XVII – gozo de férias anuais remuneradas ral, precipuamente, a guarda da Constituição,
com, pelo menos, um terço a mais do que o cabendo-lhe:
salário normal; I – processar e julgar, originariamente:
XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do ...............................................................................
emprego e do salário, com a duração de cento e) o litígio entre Estado estrangeiro ou or-
e vinte dias; ganismo internacional e a União, o Estado, o
XIX – licença-paternidade, nos termos Distrito Federal ou o Território;
fixados em lei; ...............................................................................
XX – proteção do mercado de trabalho da
mulher, mediante incentivos específicos, nos SEÇÃO IV – Dos Tribunais Regionais
termos da lei; Federais e dos Juízes Federais
Dispositivos constitucionais pertinentes

XXI – aviso prévio proporcional ao tempo ...............................................................................


de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos
termos da lei; Art. 109. Aos juízes federais compete proces-
XXII – redução dos riscos inerentes ao tra- sar e julgar:
balho, por meio de normas de saúde, higiene ...............................................................................
e segurança; V – os crimes previstos em tratado ou
XXIII – adicional de remuneração para as convenção internacional, quando, iniciada a
atividades penosas, insalubres ou perigosas, execução no País, o resultado tenha ou devesse
na forma da lei; ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
XXIV – aposentadoria; V-A – as causas relativas a direitos humanos
............................................................................... a que se refere o § 5o deste artigo;
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............................................................................... digna, conforme os ditames da justiça social,
§ 5o Nas hipóteses de grave violação de observados os seguintes princípios:
direitos humanos, o Procurador-Geral da Re- I – soberania nacional;
pública, com a finalidade de assegurar o cum- ...............................................................................
primento de obrigações decorrentes de tratados VII – redução das desigualdades regionais
internacionais de direitos humanos dos quais e sociais;
o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o VIII – busca do pleno emprego;
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase ...............................................................................
do inquérito ou processo, incidente de deslo-
camento de competência para a Justiça Federal. TÍTULO VIII – Da Ordem Social
............................................................................... CAPÍTULO I – Disposição Geral

TÍTULO V – Da Defesa do Estado e das Art. 193. A ordem social tem como base o
Instituições Democráticas primado do trabalho, e como objetivo o bem-
............................................................................... -estar e a justiça sociais.
...............................................................................
CAPÍTULO III – Da Segurança Pública
CAPÍTULO VII – Da Família, da Criança,
Art. 144. A segurança pública, dever do Es- do Adolescente, do Jovem e do Idoso
tado, direito e responsabilidade de todos, é ...............................................................................
exercida para a preservação da ordem pública
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, Art. 227. É dever da família, da sociedade e
através dos seguintes órgãos: do Estado assegurar à criança, ao adolescente
I – polícia federal; e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
II – polícia rodoviária federal; vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao la-
III – polícia ferroviária federal; zer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
IV – polícias civis; ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
V – polícias militares e corpos de bombeiros e comunitária, além de colocá-los a salvo de
militares. toda forma de negligência, discriminação,
§ 1o A polícia federal, instituída por lei como exploração, violência, crueldade e opressão.
órgão permanente, organizado e mantido pela ...............................................................................
União e estruturado em carreira, destina-se a: § 3o O direito a proteção especial abrangerá
I – apurar infrações penais contra a ordem os seguintes aspectos:
política e social ou em detrimento de bens, ser- I – idade mínima de quatorze anos para
viços e interesses da União ou de suas entidades admissão ao trabalho, observado o disposto
autárquicas e empresas públicas, assim como no art. 7o, XXXIII;
outras infrações cuja prática tenha repercussão II – garantia de direitos previdenciários e
interestadual ou internacional e exija repressão trabalhistas;
uniforme, segundo se dispuser em lei; III – garantia de acesso do trabalhador ado-
............................................................................... lescente e jovem à escola;
...............................................................................
TÍTULO VII – Da Ordem Econômica e § 4o A lei punirá severamente o abuso, a
Financeira violência e a exploração sexual da criança e do
CAPÍTULO I – Dos Princípios Gerais da adolescente.
Tráfico de Pessoas

Atividade Econômica § 5o A adoção será assistida pelo Poder


Público, na forma da lei, que estabelecerá ca-
Art. 170. A ordem econômica, fundada na sos e condições de sua efetivação por parte de
valorização do trabalho humano e na livre ini- estrangeiros.
ciativa, tem por fim assegurar a todos existência ...............................................................................
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Atos internacionais
Convenção das Nações Unidas contra o
Crime Organizado Transnacional

ARTIGO 1 – Objetivo e) “Produto do crime” – os bens de qualquer


tipo, provenientes, direta ou indiretamente, da
O objetivo da presente Convenção consiste prática de um crime;
em promover a cooperação para prevenir e
combater mais eficazmente a criminalidade f) “Bloqueio” ou “apreensão” – a proibição
organizada transnacional. temporária de transferir, converter, dispor ou
movimentar bens, ou a custódia ou controle
ARTIGO 2 – Terminologia temporário de bens, por decisão de um tribunal
ou de outra autoridade competente;
Para efeitos da presente Convenção, entende-
-se por: g) “Confisco” – a privação com caráter definiti-
vo de bens, por decisão de um tribunal ou outra
a) “Grupo criminoso organizado” – grupo autoridade competente;
estruturado de três ou mais pessoas, existente
há algum tempo e atuando concertadamente h) “Infração principal” – qualquer infração
com o propósito de cometer uma ou mais de que derive um produto que possa passar a
infrações graves ou enunciadas na presente constituir objeto de uma infração definida no
Convenção, com a intenção de obter, direta ou Artigo 6 da presente Convenção;
indiretamente, um benefício econômico ou
outro benefício material; i) “Entrega vigiada” – a técnica que consiste
em permitir que remessas ilícitas ou suspeitas
b) “Infração grave” – ato que constitua infração saiam do território de um ou mais Estados, os
punível com uma pena de privação de liberda- atravessem ou neles entrem, com o conheci-
de, cujo máximo não seja inferior a quatro anos mento e sob o controle das suas autoridades
ou com pena superior; competentes, com a finalidade de investigar
infrações e identificar as pessoas envolvidas
c) “Grupo estruturado” – grupo formado de na sua prática;
maneira não fortuita para a prática imediata
de uma infração, ainda que os seus membros j) “Organização regional de integração eco-
não tenham funções formalmente definidas, nômica” – uma organização constituída por
que não haja continuidade na sua compo- Estados soberanos de uma região determinada,
sição e que não disponha de uma estrutura para a qual estes Estados tenham transferido
elaborada; competências nas questões reguladas pela pre-
sente Convenção e que tenha sido devidamente
d) “Bens” – os ativos de qualquer tipo, cor- mandatada, em conformidade com os seus
póreos ou incorpóreos, móveis ou imóveis, procedimentos internos, para assinar, ratificar,
Tráfico de Pessoas

tangíveis ou intangíveis, e os documentos ou aceitar ou aprovar a Convenção ou a ela aderir;


instrumentos jurídicos que atestem a pro- as referências aos “Estados Partes” constantes
priedade ou outros direitos sobre os referidos da presente Convenção são aplicáveis a estas or-
ativos; ganizações, nos limites das suas competências.

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ARTIGO 3 – Âmbito de Aplicação ARTIGO 5 – Criminalização da Participação
em um Grupo Criminoso Organizado
1. Salvo disposição em contrário, a presente
Convenção é aplicável à prevenção, investiga- 1. Cada Estado Parte adotará as medidas
ção, instrução e julgamento de: legislativas ou outras que sejam necessárias
para caracterizar como infração penal, quando
a) Infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e 23 praticado intencionalmente:
da presente Convenção; e
a) Um dos atos seguintes, ou ambos, enquanto
b) Infrações graves, na acepção do Artigo 2 da infrações penais distintas das que impliquem
presente Convenção; a tentativa ou a consumação da atividade cri-
minosa:
sempre que tais infrações sejam de caráter
transnacional e envolvam um grupo criminoso i) O entendimento com uma ou mais pessoas
organizado; para a prática de uma infração grave, com uma
intenção direta ou indiretamente relacionada
2. Para efeitos do parágrafo 1 do presente Arti- com a obtenção de um benefício econômico
go, a infração será de caráter transnacional se: ou outro benefício material e, quando assim
prescrever o direito interno, envolvendo um ato
a) For cometida em mais de um Estado; praticado por um dos participantes para concre-
tizar o que foi acordado ou envolvendo a par-
b) For cometida num só Estado, mas uma ticipação de um grupo criminoso organizado;
parte substancial da sua preparação, plane-
amento, direção e controle tenha lugar em ii) A conduta de qualquer pessoa que, conhe-
outro Estado; cendo a finalidade e a atividade criminosa geral
de um grupo criminoso organizado, ou a sua
c) For cometida num só Estado, mas envolva a intenção de cometer as infrações em questão,
participação de um grupo criminoso organiza- participe ativamente em:
do que pratique atividades criminosas em mais
de um Estado; ou a. Atividades ilícitas do grupo criminoso or-
ganizado;
d) For cometida num só Estado, mas produza
efeitos substanciais noutro Estado. b. Outras atividades do grupo criminoso organi-
zado, sabendo que a sua participação contribui-
ARTIGO 4 – Proteção da Soberania rá para a finalidade criminosa acima referida;

1. Os Estados Partes cumprirão as suas obri- b) O ato de organizar, dirigir, ajudar, incitar,
gações decorrentes da presente Convenção no facilitar ou aconselhar a prática de uma infração
respeito pelos princípios da igualdade soberana grave que envolva a participação de um grupo
e da integridade territorial dos Estados, bem criminoso organizado.
como da não-ingerência nos assuntos internos
de outros Estados. 2. O conhecimento, a intenção, a finalidade, a
motivação ou o acordo a que se refere o pará-
2. O disposto na presente Convenção não grafo 1 do presente Artigo poderão inferir-se
Atos internacionais

autoriza qualquer Estado Parte a exercer, em de circunstâncias factuais objetivas.


território de outro Estado, jurisdição ou fun-
ções que o direito interno desse Estado reserve 3. Os Estados Partes cujo direito interno condi-
exclusivamente às suas autoridades. cione a incriminação pelas infrações referidas

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no inciso i) da alínea a) do parágrafo 1 do como qualquer forma de associação, acordo,
presente Artigo ao envolvimento de um grupo tentativa ou cumplicidade, pela prestação de
criminoso organizado diligenciarão no sentido assistência, ajuda ou aconselhamento no sen-
de que o seu direito interno abranja todas as tido da sua prática.
infrações graves que envolvam a participação
de grupos criminosos organizados. Estes Esta- 2. Para efeitos da aplicação do parágrafo 1 do
dos Partes, assim como os Estados Partes cujo presente Artigo:
direito interno condicione a incriminação pelas
infrações definidas no inciso i) da alínea a) do a) Cada Estado Parte procurará aplicar o pará-
parágrafo 1 do presente Artigo à prática de um grafo 1 do presente Artigo à mais ampla gama
ato concertado, informarão deste fato o Secre- possível de infrações principais;
tário Geral da Organização das Nações Unidas,
no momento da assinatura ou do depósito do b) Cada Estado Parte considerará como infra-
seu instrumento de ratificação, aceitação, apro- ções principais todas as infrações graves, na
vação ou adesão à presente Convenção. acepção do Artigo 2 da presente Convenção, e
as infrações enunciadas nos seus Artigos 5, 8 e
ARTIGO 6 – Criminalização da Lavagem do 23. Os Estados Partes cuja legislação estabeleça
Produto do Crime uma lista de infrações principais específicas
incluirá entre estas, pelo menos, uma gama
1. Cada Estado Parte adotará, em conformidade completa de infrações relacionadas com grupos
com os princípios fundamentais do seu direito criminosos organizados;
interno, as medidas legislativas ou outras que
sejam necessárias para caracterizar como infra- c) Para efeitos da alínea b), as infrações prin-
ção penal, quando praticada intencionalmente: cipais incluirão as infrações cometidas tanto
dentro como fora da jurisdição do Estado Parte
a) i) A conversão ou transferência de bens, interessado. No entanto, as infrações cometi-
quando quem o faz tem conhecimento de que das fora da jurisdição de um Estado Parte só
esses bens são produto do crime, com o pro- constituirão infração principal quando o ato
pósito de ocultar ou dissimular a origem ilícita correspondente constitua infração penal à luz do
dos bens ou ajudar qualquer pessoa envolvida direito interno do Estado em que tenha sido pra-
na prática da infração principal a furtar-se às ticado e constitua infração penal à luz do direito
conseqüências jurídicas dos seus atos; interno do Estado Parte que aplique o presente
Artigo se o crime aí tivesse sido cometido;
ii) A ocultação ou dissimulação da verdadeira
natureza, origem, localização, disposição, mo- d) Cada Estado Parte fornecerá ao Secretário
vimentação ou propriedade de bens ou direitos Geral das Nações Unidas uma cópia ou des-
a eles relativos, sabendo o seu autor que os ditos crição das suas leis destinadas a dar aplicação
bens são produto do crime; ao presente Artigo e de qualquer alteração
posterior;
b) e, sob reserva dos conceitos fundamentais
do seu ordenamento jurídico: e) Se assim o exigirem os princípios fundamen-
tais do direito interno de um Estado Parte, po-
i) A aquisição, posse ou utilização de bens, sa- derá estabelecer-se que as infrações enunciadas
bendo aquele que os adquire, possui ou utiliza, no parágrafo 1 do presente Artigo não sejam
Tráfico de Pessoas

no momento da recepção, que são produto do aplicáveis às pessoas que tenham cometido a
crime; infração principal;

ii) A participação na prática de uma das in- f) O conhecimento, a intenção ou a motivação,


frações enunciadas no presente Artigo, assim enquanto elementos constitutivos de uma in-
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fração enunciada no parágrafo 1 do presente 3. Ao instituírem, nos termos do presente Artigo,
Artigo, poderão inferir-se de circunstâncias um regime interno de regulamentação e contro-
fatuais objetivas. le, e sem prejuízo do disposto em qualquer outro
artigo da presente Convenção, todos os Estados
ARTIGO 7 – Medidas para Combater a Partes são instados a utilizar como orientação
Lavagem de Dinheiro as iniciativas pertinentes tomadas pelas organi-
zações regionais, inter-regionais e multilaterais
1. Cada Estado Parte: para combater a lavagem de dinheiro.

a) Instituirá um regime interno completo de 4. Os Estados Partes diligenciarão no sentido


regulamentação e controle dos bancos e insti- de desenvolver e promover a cooperação à es-
tuições financeiras não bancárias e, quando se cala mundial, regional, sub-regional e bilateral
justifique, de outros organismos especialmente entre as autoridades judiciais, os organismos
susceptíveis de ser utilizados para a lavagem de de detecção e repressão e as autoridades de
dinheiro, dentro dos limites da sua competên- regulamentação financeira, a fim de combater
cia, a fim de prevenir e detectar qualquer forma a lavagem de dinheiro.
de lavagem de dinheiro, sendo nesse regime
enfatizados os requisitos relativos à identifi- ARTIGO 8 – Criminalização da Corrupção
cação do cliente, ao registro das operações e à
denúncia de operações suspeitas; 1. Cada Estado Parte adotará as medidas le-
gislativas e outras que sejam necessárias para
b) Garantirá, sem prejuízo da aplicação dos caracterizar como infrações penais os seguintes
Artigos 18 e 27 da presente Convenção, que as atos, quando intencionalmente cometidos:
autoridades responsáveis pela administração,
regulamentação, detecção e repressão e outras a) Prometer, oferecer ou conceder a um agente
autoridades responsáveis pelo combate à lava- público, direta ou indiretamente, um benefício
gem de dinheiro (incluindo, quando tal esteja indevido, em seu proveito próprio ou de outra
previsto no seu direito interno, as autoridades pessoa ou entidade, a fim de praticar ou se
judiciais), tenham a capacidade de cooperar e abster de praticar um ato no desempenho das
trocar informações em âmbito nacional e inter- suas funções oficiais;
nacional, em conformidade com as condições
prescritas no direito interno, e, para esse fim, b) Por um agente público, pedir ou aceitar, di-
considerará a possibilidade de criar um serviço reta ou indiretamente, um benefício indevido,
de informação financeira que funcione como para si ou para outra pessoa ou entidade, a fim
centro nacional de coleta, análise e difusão de de praticar ou se abster de praticar um ato no
informação relativa a eventuais atividades de desempenho das suas funções oficiais.
lavagem de dinheiro.
2. Cada Estado Parte considerará a possibilidade
2. Os Estados Partes considerarão a possibili- de adotar as medidas legislativas ou outras que
dade de aplicar medidas viáveis para detectar e sejam necessárias para conferir o caracter de
vigiar o movimento transfronteiriço de nume- infração penal aos atos enunciados no parágrafo
rário e de títulos negociáveis, no respeito pelas 1 do presente Artigo que envolvam um agente
garantias relativas à legítima utilização da in- público estrangeiro ou um funcionário inter-
formação e sem, por qualquer forma, restringir nacional. Do mesmo modo, cada Estado Parte
Atos internacionais

a circulação de capitais lícitos. Estas medidas considerará a possibilidade de conferir o caracter


poderão incluir a exigência de que os parti- de infração penal a outras formas de corrupção.
culares e as entidades comerciais notifiquem
as transferências transfronteiriças de quantias 3. Cada Estado Parte adotará igualmente as
elevadas em numerário e títulos negociáveis. medidas necessárias para conferir o caráter de
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infração penal à cumplicidade na prática de 4. Cada Estado Parte diligenciará, em especial,
uma infração enunciada no presente Artigo. no sentido de que as pessoas jurídicas consi-
deradas responsáveis em conformidade com
4. Para efeitos do parágrafo 1 do presente Arti- o presente Artigo sejam objeto de sanções
go e do Artigo 9, a expressão “agente público” eficazes, proporcionais e acautelatórias, de
designa, além do funcionário público, qualquer natureza penal e não penal, incluindo sanções
pessoa que preste um serviço público, tal como pecuniárias.
a expressão é definida no direito interno e apli-
cada no direito penal do Estado Parte onde a ARTIGO 11 – Processos Judiciais,
pessoa em questão exerce as suas funções. Julgamento e Sanções

ARTIGO 9 – Medidas contra a Corrupção 1. Cada Estado Parte tornará a prática de qual-
quer infração enunciada nos Artigos 5, 6, 8 e 23
1. Para além das medidas enunciadas no Artigo da presente Convenção passível de sanções que
8 da presente Convenção, cada Estado Parte, tenham em conta a gravidade dessa infração.
na medida em que seja procedente e conforme
ao seu ordenamento jurídico, adotará medidas 2. Cada Estado Parte diligenciará para que qual-
eficazes de ordem legislativa, administrativa quer poder judicial discricionário conferido
ou outra para promover a integridade e preve- pelo seu direito interno e relativo a processos
nir, detectar e punir a corrupção dos agentes judiciais contra indivíduos por infrações pre-
públicos. vistas na presente Convenção seja exercido
de forma a otimizar a eficácia das medidas de
2. Cada Estado Parte tomará medidas no sen- detecção e de repressão destas infrações, tendo
tido de se assegurar de que as suas autoridades na devida conta a necessidade de exercer um
atuam eficazmente em matéria de prevenção, efeito cautelar da sua prática.
detecção e repressão da corrupção de agentes
públicos, inclusivamente conferindo a essas 3. No caso de infrações como as enunciadas nos
autoridades independência suficiente para Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção, cada
impedir qualquer influência indevida sobre a Estado Parte tomará as medidas apropriadas, em
sua atuação. conformidade com o seu direito interno, e tendo
na devida conta os direitos da defesa, para que
ARTIGO 10 – Responsabilidade das Pessoas as condições a que estão sujeitas as decisões de
Jurídicas aguardar julgamento em liberdade ou relativas
ao processo de recurso tenham em consideração
1. Cada Estado Parte adotará as medidas ne- a necessidade de assegurar a presença do argüi-
cessárias, em conformidade com o seu orde- do em todo o processo penal ulterior.
namento jurídico, para responsabilizar pessoas
jurídicas que participem em infrações graves 4. Cada Estado Parte providenciará para
envolvendo um grupo criminoso organizado que os seus tribunais ou outras autoridades
e que cometam as infrações enunciadas nos competentes tenham presente a gravidade
Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção. das infração previstas na presente Convenção
quando considerarem a possibilidade de uma
2. No respeito pelo ordenamento jurídico do libertação antecipada ou condicional de pessoas
Estado Parte, a responsabilidade das pessoas ju- reconhecidas como culpadas dessas infrações.
Tráfico de Pessoas

rídicas poderá ser penal, civil ou administrativa.


5. Sempre que as circunstâncias o justifiquem,
3. A responsabilidade das pessoas jurídicas não cada Estado Parte determinará, no âmbito do
obstará à responsabilidade penal das pessoas seu direito interno, um prazo de prescrição
físicas que tenham cometido as infrações. prolongado, durante o qual poderá ter início o
18
processo relativo a uma das infrações previstas 5. As receitas ou outros benefícios obtidos com
na presente Convenção, devendo esse período o produto do crime, os bens nos quais o produto
ser mais longo quando o presumível autor da tenha sido transformado ou convertido ou os
infração se tenha subtraído à justiça. bens com que tenha sido misturado podem
também ser objeto das medidas previstas no
6. Nenhuma das disposições da presente Con- presente Artigo, da mesma forma e na mesma
venção prejudica o princípio segundo o qual medida que o produto do crime.
a definição das infrações nela enunciadas e
dos meios jurídicos de defesa aplicáveis, bem 6. Para efeitos do presente Artigo e do Artigo
como outros princípios jurídicos que rejam a 13, cada Estado Parte habilitará os seus tribu-
legalidade das incriminações, são do foro ex- nais ou outras autoridades competentes para
clusivo do direito interno desse Estado Parte, e ordenarem a apresentação ou a apreensão de
segundo o qual as referidas infrações são objeto documentos bancários, financeiros ou comer-
de procedimento judicial e punidas de acordo ciais. Os Estados Partes não poderão invocar o
com o direito desse Estado Parte. sigilo bancário para se recusarem a aplicar as
disposições do presente número.
ARTIGO 12 – Confisco e Apreensão
7. Os Estados Partes poderão considerar a pos-
1. Os Estados Partes adotarão, na medida em que sibilidade de exigir que o autor de uma infração
o seu ordenamento jurídico interno o permita, demonstre a proveniência lícita do presumido
as medidas necessárias para permitir o confisco: produto do crime ou de outros bens que possam
ser objeto de confisco, na medida em que esta
a) Do produto das infrações previstas na pre- exigência esteja em conformidade com os prin-
sente Convenção ou de bens cujo valor corres- cípios do seu direito interno e com a natureza
ponda ao desse produto; do processo ou outros procedimentos judiciais.

b) Dos bens, equipamentos e outros instru- 8. As disposições do presente Artigo não deve-
mentos utilizados ou destinados a ser utilizados rão, em circunstância alguma, ser interpretadas
na prática das infrações previstas na presente de modo a afetar os direitos de terceiros de
Convenção. boa fé.

2. Os Estados Partes tomarão as medidas 9. Nenhuma das disposições do presente Artigo


necessárias para permitir a identificação, a lo- prejudica o princípio segundo o qual as medidas
calização, o embargo ou a apreensão dos bens nele previstas são definidas e aplicadas em con-
referidos no parágrafo 1 do presente Artigo, formidade com o direito interno de cada Estado
para efeitos de eventual confisco. Parte e segundo as disposições deste direito.

3. Se o produto do crime tiver sido convertido, ARTIGO 13 – Cooperação Internacional


total ou parcialmente, noutros bens, estes últi- para Efeitos de Confisco
mos podem ser objeto das medidas previstas
no presente Artigo, em substituição do referido 1. Na medida em que o seu ordenamento jurí-
produto. dico interno o permita, um Estado Parte que
tenha recebido de outro Estado Parte, compe-
4. Se o produto do crime tiver sido misturado tente para conhecer de uma infração prevista
Atos internacionais

com bens adquiridos legalmente, estes bens na presente Convenção, um pedido de confisco
poderão, sem prejuízo das competências de do produto do crime, bens, equipamentos ou
embargo ou apreensão, ser confiscados até ao outros instrumentos referidos no parágrafo 1
valor calculado do produto com que foram do Artigo 12 da presente Convenção que se
misturados. encontrem no seu território, deverá:
19
a) Submeter o pedido às suas autoridades com- informações sobre os limites em que é pedida
petentes, a fim de obter uma ordem de confisco a execução da decisão;
e, se essa ordem for emitida, executá-la; ou
c) Quando o pedido for feito ao abrigo do pará-
b) Submeter às suas autoridades competentes, grafo 2 do presente Artigo, uma exposição dos
para que seja executada conforme o solicitado, fatos em que se baseia o Estado Parte requerente
a decisão de confisco emitida por um tribunal e uma descrição das medidas pedidas.
situado no território do Estado Parte reque-
rente, em conformidade com o parágrafo 1 do 4. As decisões ou medidas previstas nos pa-
Artigo 12 da presente Convenção, em relação rágrafo 1 e parágrafo 2 do presente Artigo
ao produto do crime, bens, equipamentos ou são tomadas pelo Estado Parte requerido em
outros instrumentos referidos no parágrafo 1 conformidade com o seu direito interno e se-
do Artigo 12 que se encontrem no território do gundo as disposições do mesmo direito, e em
Estado Parte requerido. conformidade com as suas regras processuais
ou com qualquer tratado, acordo ou protocolo
2. Quando um pedido for feito por outro Es- bilateral ou multilateral que o ligue ao Estado
tado Parte competente para conhecer de uma Parte requerente.
infração prevista na presente Convenção, o
Estado Parte requerido tomará medidas para 5. Cada Estado Parte enviará ao Secretário
identificar, localizar, embargar ou apreender o Geral da Organização das Nações Unidas uma
produto do crime, os bens, os equipamentos ou cópia das suas leis e regulamentos destinados
os outros instrumentos referidos no parágrafo a dar aplicação ao presente Artigo, bem como
1 do Artigo 12 da presente Convenção, com uma cópia de qualquer alteração ulteriormente
vista a um eventual confisco que venha a ser introduzida a estas leis e regulamentos ou uma
ordenado, seja pelo Estado Parte requerente, descrição destas leis, regulamentos e alterações
seja, na seqüência de um pedido formulado ao ulteriores.
abrigo do parágrafo 1 do presente Artigo, pelo
Estado Parte requerido. 6. Se um Estado Parte decidir condicionar a
adoção das medidas previstas nos parágrafos
3. As disposições do Artigo 18 da presente 1 e 2 do presente Artigo à existência de um
Convenção aplicam-se mutatis mutandis ao tratado na matéria, deverá considerar a presente
presente Artigo. Para além das informações Convenção como uma base jurídica necessária
referidas no parágrafo 15 do Artigo 18, os pe- e suficiente para o efeito.
didos feitos em conformidade com o presente
Artigo deverão conter: 7. Um Estado Parte poderá recusar a coopera-
ção que lhe é solicitada ao abrigo do presente
a) Quando o pedido for feito ao abrigo da alí- Artigo, caso a infração a que se refere o pedido
nea a) do parágrafo 1 do presente Artigo, uma não seja abrangida pela presente Convenção.
descrição dos bens a confiscar e uma exposição
dos fatos em que o Estado Parte requerente se 8. As disposições do presente Artigo não deve-
baseia, que permita ao Estado Parte requerido rão, em circunstância alguma, ser interpretadas
obter uma decisão de confisco em conformida- de modo a afetar os direitos de terceiros de
de com o seu direito interno; boa fé.
Tráfico de Pessoas

b) Quando o pedido for feito ao abrigo da alínea 9. Os Estados Partes considerarão a possibilida-
b) do parágrafo 1 do presente Artigo, uma cópia de de celebrar tratados, acordos ou protocolos
legalmente admissível da decisão de confisco bilaterais ou multilaterais com o objetivo de
emitida pelo Estado Parte requerente em que reforçar a eficácia da cooperação internacional
se baseia o pedido, uma exposição dos fatos e desenvolvida para efeitos do presente Artigo.
20
ARTIGO 14 – Disposição do Produto do a) Quando a infração for cometida no seu
Crime ou dos Bens Confiscados território; ou

1. Um Estado Parte que confisque o produto b) Quando a infração for cometida a bordo de
do crime ou bens, em aplicação do Artigo 12 um navio que arvore a sua bandeira ou a bordo
ou do parágrafo 1 do Artigo 13 da presente de uma aeronave matriculada em conformida-
Convenção, disporá deles de acordo com o de com o seu direito interno no momento em
seu direito interno e os seus procedimentos que a referida infração for cometida.
administrativos.
2. Sem prejuízo do disposto no Artigo 4 da
2. Quando os Estados Partes agirem a pedido presente Convenção, um Estado Parte poderá
de outro Estado Parte em aplicação do Artigo igualmente estabelecer a sua competência juris-
13 da presente Convenção, deverão, na medida dicional em relação a qualquer destas infrações,
em que o permita o seu direito interno e se tal nos seguintes casos:
lhes for solicitado, considerar prioritariamente
a restituição do produto do crime ou dos bens a) Quando a infração for cometida contra um
confiscados ao Estado Parte requerente, para dos seus cidadãos;
que este último possa indenizar as vítimas da
infração ou restituir este produto do crime ou b) Quando a infração for cometida por um
estes bens aos seus legítimos proprietários. dos seus cidadãos ou por uma pessoa apátrida
residente habitualmente no seu território; ou
3. Quando um Estado Parte atuar a pedido
de um outro Estado Parte em aplicação dos c) Quando a infração for:
Artigos 12 e 13 da presente Convenção, poderá
considerar especialmente a celebração de acor- i) Uma das previstas no parágrafo 1 do Artigo
dos ou protocolos que prevejam: 5 da presente Convenção e praticada fora do
seu território, com a intenção de cometer uma
a) Destinar o valor deste produto ou destes infração grave no seu território;
bens, ou os fundos provenientes da sua venda,
ou uma parte destes fundos, à conta criada em ii) Uma das previstas no inciso ii) da alínea b)
aplicação da alínea c) do parágrafo 2 do Artigo do parágrafo 1 do Artigo 6 da presente Con-
30 da presente Convenção e a organismos inter- venção e praticada fora do seu território com
governamentais especializados na luta contra a a intenção de cometer, no seu território, uma
criminalidade organizada; das infrações enunciadas nos incisos i) ou ii)
da alínea a) ou i) da alínea b) do parágrafo 1 do
b) Repartir com outros Estados Partes, sis- Artigo 6 da presente Convenção.
temática ou casuisticamente, este produto
ou estes bens, ou os fundos provenientes da 3. Para efeitos do parágrafo 10 do Artigo 16 da
respectiva venda, em conformidade com o presente Convenção, cada Estado Parte ado-
seu direito interno ou os seus procedimentos tará as medidas necessárias para estabelecer
administrativos. a sua competência jurisdicional em relação às
infrações abrangidas pela presente Convenção
ARTIGO 15 – Jurisdição quando o presumível autor se encontre no seu
território e o Estado Parte não o extraditar pela
Atos internacionais

1. Cada Estado Parte adotará as medidas neces- única razão de se tratar de um seu cidadão.
sárias para estabelecer a sua competência juris-
dicional em relação às infrações enunciadas nos 4. Cada Estado Parte poderá igualmente ado-
Artigos 5, 6, 8 e 23 da presente Convenção, nos tar as medidas necessárias para estabelecer a
seguintes casos: sua competência jurisdicional em relação às
21
infrações abrangidas pela presente Convenção estas infrações entre aquelas cujo autor pode ser
quando o presumível autor se encontre no seu extraditado em qualquer tratado de extradição
território e o Estado Parte não o extraditar. que celebrem entre si.

5. Se um Estado Parte que exerça a sua compe- 4. Se um Estado Parte que condicione a extra-
tência jurisdicional por força dos parágrafos 1 dição à existência de um tratado receber um
e 2 do presente Artigo tiver sido notificado, ou pedido de extradição de um Estado Parte com
por qualquer outra forma tiver tomado conhe- o qual não celebrou tal tratado, poderá consi-
cimento, de que um ou vários Estados Partes derar a presente Convenção como fundamento
estão a efetuar uma investigação ou iniciaram jurídico da extradição quanto às infrações a que
diligências ou um processo judicial tendo por se aplique o presente Artigo.
objeto o mesmo ato, as autoridades competen-
tes destes Estados Partes deverão consultar-se, 5. Os Estados Partes que condicionem a extra-
da forma que for mais conveniente, para coor- dição à existência de um tratado:
denar as suas ações.
a) No momento do depósito do seu instrumen-
6. Sem prejuízo das normas do direito interna- to de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão
cional geral, a presente Convenção não excluirá à presente Convenção, indicarão ao Secretário
o exercício de qualquer competência jurisdicio- Geral da Organização das Nações Unidas se
nal penal estabelecida por um Estado Parte em consideram a presente Convenção como fun-
conformidade com o seu direito interno. damento jurídico para a cooperação com outros
Estados Partes em matéria de extradição; e
ARTIGO 16 – Extradição
b) Se não considerarem a presente Convenção
1. O presente Artigo aplica-se às infrações como fundamento jurídico para cooperar em
abrangidas pela presente Convenção ou nos matéria de extradição, diligenciarão, se neces-
casos em que um grupo criminoso organizado sário, pela celebração de tratados de extradição
esteja implicado numa infração prevista nas com outros Estados Partes, a fim de darem
alíneas a) ou b) do parágrafo 1 do Artigo 3 aplicação ao presente Artigo.
e em que a pessoa que é objeto do pedido de
extradição se encontre no Estado Parte reque- 6. Os Estados Partes que não condicionem a
rido, desde que a infração pela qual é pedida extradição à existência de um tratado reconhe-
a extradição seja punível pelo direito interno cerão entre si, às infrações às quais se aplica o
do Estado Parte requerente e do Estado Parte presente Artigo, o caráter de infração cujo autor
requerido. pode ser extraditado.

2. Se o pedido de extradição for motivado por 7. A extradição estará sujeita às condições


várias infrações graves distintas, algumas das previstas no direito interno do Estado Parte
quais não se encontrem previstas no presente requerido ou em tratados de extradição apli-
Artigo, o Estado Parte requerido pode igual- cáveis, incluindo, nomeadamente, condições
mente aplicar o presente Artigo às referidas relativas à pena mínima requerida para uma
infrações. extradição e aos motivos pelos quais o Estado
Parte requerido pode recusar a extradição.
3. Cada uma das infrações às quais se aplica
Tráfico de Pessoas

o presente Artigo será considerada incluída, 8. Os Estados Partes procurarão, sem prejuízo
de pleno direito, entre as infrações que dão do seu direito interno, acelerar os processos de
lugar a extradição em qualquer tratado de extradição e simplificar os requisitos em matéria
extradição em vigor entre os Estados Partes. de prova com eles relacionados, no que se refere
Os Estados Partes comprometem-se a incluir às infrações a que se aplica o presente Artigo.
22
9. Sem prejuízo do disposto no seu direito prescrições deste direito e a pedido do Estado
interno e nos tratados de extradição que tenha Parte requerente, considerará a possibilidade
celebrado, o Estado Parte requerido poderá, a de dar execução à pena que foi aplicada em
pedido do Estado Parte requerente, se consi- conformidade com o direito do Estado Parte
derar que as circunstâncias o justificam e que requerente ou ao que dessa pena faltar cumprir.
existe urgência, colocar em detenção uma pes-
soa, presente no seu território, cuja extradição 13. Qualquer pessoa que seja objeto de um
é pedida, ou adotar a seu respeito quaisquer processo devido a qualquer das infrações às
outras medidas apropriadas para assegurar a quais se aplica o presente Artigo terá garantido
sua presença no processo de extradição. um tratamento eqüitativo em todas as fases do
processo, incluindo o gozo de todos os direitos e
10. Um Estado Parte em cujo território se en- garantias previstos no direito interno do Estado
contre o presumível autor da infração, se não Parte em cujo território se encontra.
extraditar esta pessoa a título de uma infração
à qual se aplica o presente Artigo pelo único 14. Nenhuma disposição da presente Conven-
motivo de se tratar de um seu cidadão, deverá, ção deverá ser interpretada no sentido de que
a pedido do Estado Parte requerente da extra- impõe uma obrigação de extraditar a um Es-
dição, submeter o caso, sem demora excessiva, tado Parte requerido, se existirem sérias razões
às suas autoridades competentes para efeitos para supor que o pedido foi apresentado com
de procedimento judicial. Estas autoridades a finalidade de perseguir ou punir uma pessoa
tomarão a sua decisão e seguirão os trâmites em razão do seu sexo, raça, religião, naciona-
do processo da mesma forma que em relação a lidade, origem étnica ou opiniões políticas, ou
qualquer outra infração grave, à luz do direito que a satisfação daquele pedido provocaria um
interno deste Estado Parte. Os Estados Partes prejuízo a essa pessoa por alguma destas razões.
interessados cooperarão entre si, nomeada-
mente em matéria processual e probatória, para 15. Os Estados Partes não poderão recusar
assegurar a eficácia dos referidos atos judiciais. um pedido de extradição unicamente por
considerarem que a infração envolve também
11. Quando um Estado Parte, por força do seu questões fiscais.
direito interno, só estiver autorizado a extra-
ditar ou, por qualquer outra forma, entregar 16. Antes de recusar a extradição, o Estado
um dos seus cidadãos na condição de que Parte requerido consultará, se for caso disso,
essa pessoa retorne seguidamente ao mesmo o Estado Parte requerente, a fim de lhe dar a
Estado Parte para cumprir a pena a que tenha mais ampla possibilidade de apresentar as suas
sido condenada na seqüência do processo ou razões e de fornecer informações em apoio das
do procedimento que originou o pedido de suas alegações.
extradição ou de entrega, e quando este Estado
Parte e o Estado Parte requerente concordarem 17. Os Estados Partes procurarão celebrar
em relação a essa opção e a outras condições acordos ou protocolos bilaterais e multilaterais
que considerem apropriadas, a extradição ou com o objetivo de permitir a extradição ou de
entrega condicional será suficiente para dar aumentar a sua eficácia.
cumprimento à obrigação enunciada no pará-
grafo 10 do presente Artigo. ARTIGO 17 – Transferência de Pessoas
Condenadas
Atos internacionais

12. Se a extradição, pedida para efeitos de


execução de uma pena, for recusada porque a Os Estados Partes poderão considerar a cele-
pessoa que é objeto deste pedido é um cidadão bração de acordos ou protocolos bilaterais ou
do Estado Parte requerido, este, se o seu direito multilaterais relativos à transferência para o
interno o permitir, em conformidade com as seu território de pessoas condenadas a penas de
23
prisão ou outras penas de privação de liberdade documentos administrativos, bancários, finan-
devido a infrações previstas na presente Conven- ceiros ou comerciais e documentos de empresas;
ção, para que aí possam cumprir o resto da pena.
g) Identificar ou localizar os produtos do crime,
ARTIGO 18 – Assistência Judiciária bens, instrumentos ou outros elementos para
Recíproca fins probatórios;

1. Os Estados Partes prestarão reciprocamente h) Facilitar o comparecimento voluntário de


toda a assistência judiciária possível nas investi- pessoas no Estado Parte requerente;
gações, nos processos e em outros atos judiciais
relativos às infrações previstas pela presente i) Prestar qualquer outro tipo de assistência
Convenção, nos termos do Artigo 3, e prestarão compatível com o direito interno do Estado
reciprocamente uma assistência similar quando Parte requerido.
o Estado Parte requerente tiver motivos razoáveis
para suspeitar de que a infração a que se referem 4. Sem prejuízo do seu direito interno, as
as alíneas a) ou b) do parágrafo 1 do Artigo 3. É autoridades competentes de um Estado Parte
de caráter transnacional, inclusive quando as víti- poderão, sem pedido prévio, comunicar in-
mas, as testemunhas, o produto, os instrumentos formações relativas a questões penais a uma
ou os elementos de prova destas infrações se autoridade competente de outro Estado Parte,
encontrem no Estado Parte requerido e nelas es- se considerarem que estas informações poderão
teja implicado um grupo criminoso organizado. ajudar a empreender ou concluir com êxito
investigações e processos penais ou conduzir
2. Será prestada toda a cooperação judiciária este último Estado Parte a formular um pedido
possível, tanto quanto o permitam as leis, trata- ao abrigo da presente Convenção.
dos, acordos e protocolos pertinentes do Estado
Parte requerido, no âmbito de investigações, 5. A comunicação de informações em confor-
processos e outros atos judiciais relativos a midade com o parágrafo 4 do presente Artigo
infrações pelas quais possa ser considerada res- será efetuada sem prejuízo das investigações e
ponsável uma pessoa coletiva no Estado Parte dos processos penais no Estado cujas autorida-
requerente, em conformidade com o Artigo 10 de competentes fornecem as informações. As
da presente Convenção. autoridades competentes que recebam estas in-
formações deverão satisfazer qualquer pedido no
3. A cooperação judiciária prestada em aplica- sentido de manter confidenciais as referidas in-
ção do presente Artigo pode ser solicitada para formações, mesmo se apenas temporariamente,
os seguintes efeitos: ou de restringir a sua utilização. Todavia, tal não
impedirá o Estado Parte que receba as informa-
a) Recolher testemunhos ou depoimentos; ções de revelar, no decurso do processo judicial,
informações que inocentem um argüido. Neste
b) Notificar atos judiciais; último caso, o Estado Parte que recebeu as infor-
mações avisará o Estado Parte que as comunicou
c) Efetuar buscas, apreensões e embargos; antes de as revelar e, se lhe for pedido, consultará
este último. Se, num caso excepcional, não for
d) Examinar objetos e locais; possível uma comunicação prévia, o Estado Parte
que recebeu as informações dará conhecimento
Tráfico de Pessoas

e) Fornecer informações, elementos de prova e da revelação, prontamente, ao Estado Parte que


pareceres de peritos; as tenha comunicado.

f) Fornecer originais ou cópias certificadas de 6. As disposições do presente Artigo em nada


documentos e processos pertinentes, incluindo prejudicam as obrigações decorrentes de qual-
24
quer outro tratado bilateral ou multilateral que que estes Estados Partes possam considerar
regule, ou deva regular, inteiramente ou em convenientes.
parte, a cooperação judiciária.
11. Para efeitos do parágrafo 10 do presente
7. Os parágrafos 9 a 29 do presente Artigo serão Artigo:
aplicáveis aos pedidos feitos em conformidade
com o presente Artigo, no caso de os Estados a) O Estado Parte para o qual a transferência
Partes em questão não estarem ligados por da pessoa em questão for efetuada terá o poder
um tratado de cooperação judiciária. Se os e a obrigação de a manter detida, salvo pedido
referidos Estados Partes estiverem ligados ou autorização em contrário do Estado Parte
por tal tratado, serão aplicáveis as disposições do qual a pessoa foi transferida;
correspondentes desse tratado, a menos que
os Estados Partes concordem em aplicar, em b) O Estado Parte para o qual a transferência for
seu lugar, as disposições dos parágrafos 9 a efetuada cumprirá prontamente a obrigação de
29 do presente Artigo. Os Estados Partes são entregar a pessoa à guarda do Estado Parte do
fortemente instados a aplicar estes números, qual foi transferida, em conformidade com o
se tal facilitar a cooperação. que tenha sido previamente acordado ou com
o que as autoridades competentes dos dois
8. Os Estados Partes não poderão invocar o Estados Partes tenham decidido;
sigilo bancário para recusar a cooperação ju-
diciária prevista no presente Artigo. c) O Estado Parte para o qual for efetuada a
transferência não poderá exigir do Estado Parte
9. Os Estados Partes poderão invocar a ausência do qual a transferência foi efetuada que abra
de dupla criminalização para recusar prestar um processo de extradição para que a pessoa
a assistência judiciária prevista no presente lhe seja entregue;
Artigo. O Estado Parte requerido poderá, não
obstante, quando o considerar apropriado, d) O período que a pessoa em questão passe
prestar esta assistência, na medida em que o detida no Estado Parte para o qual for trans-
decida por si próprio, independentemente de o ferida é contado para o cumprimento da pena
ato estar ou não tipificado como uma infração que lhe tenha sido aplicada no Estado Parte do
no direito interno do Estado Parte requerido. qual for transferida.

10. Qualquer pessoa detida ou a cumprir pena 12. A menos que o Estado Parte do qual a pes-
no território de um Estado Parte, cuja presença soa for transferida, ao abrigo dos parágrafos
seja requerida num outro Estado Parte para 10 e 11 do presente Artigo, esteja de acordo, a
efeitos de identificação, para testemunhar ou pessoa em questão, seja qual for a sua naciona-
para contribuir por qualquer outra forma para a lidade, não será objecto de processo judicial,
obtenção de provas no âmbito de investigações, detida, punida ou sujeita a outras restrições à
processos ou outros atos judiciais relativos às sua liberdade de movimentos no território do
infrações visadas na presente Convenção, pode Estado Parte para o qual seja transferida, devido
ser objeto de uma transferência, se estiverem a atos, omissões ou condenações anteriores à
reunidas as seguintes condições: sua partida do território do Estado Parte do
qual foi transferida.
a) Se referida pessoa, devidamente informada,
Atos internacionais

der o seu livre consentimento; 13. Cada Estado Parte designará uma autoridade
central que terá a responsabilidade e o poder
b) Se as autoridades competentes dos dois de receber pedidos de cooperação judiciária
Estados Partes em questão derem o seu e, quer de os executar, quer de os transmitir às
consentimento, sob reserva das condições autoridades competentes para execução. Se um
25
Estado Parte possuir uma região ou um território b) O objeto e a natureza da investigação, dos
especial dotado de um sistema de cooperação processos ou dos outros atos judiciais a que se
judiciária diferente, poderá designar uma auto- refere o pedido, bem como o nome e as funções
ridade central distinta, que terá a mesma função da autoridade que os tenha a cargo;
para a referida região ou território. As autorida-
des centrais deverão assegurar a execução ou a c) Um resumo dos fatos relevantes, salvo no
transmissão rápida e em boa e devida forma dos caso dos pedidos efetuados para efeitos de
pedidos recebidos. Quando a autoridade central notificação de atos judiciais;
transmitir o pedido a uma autoridade competen-
te para execução, instará pela execução rápida e d) Uma descrição da assistência pretendida
em boa e devida forma do pedido por parte da e pormenores de qualquer procedimento es-
autoridade competente. O Secretário Geral da pecífico que o Estado Parte requerente deseje
Organização das Nações Unidas será notificado ver aplicado;
da autoridade central designada para este efeito
no momento em que cada Estado Parte depositar e) Caso seja possível, a identidade, endereço e
os seus instrumentos de ratificação, aceitação, nacionalidade de qualquer pessoa visada;
aprovação ou adesão à presente Convenção. Os
pedidos de cooperação judiciária e qualquer f) O fim para o qual são pedidos os elementos,
comunicação com eles relacionada serão trans- informações ou medidas.
mitidos às autoridades centrais designadas pelos
Estados Partes. A presente disposição não afetará 16. O Estado Parte requerido poderá solicitar
o direito de qualquer Estado Parte a exigir que informações adicionais, quando tal se afigure
estes pedidos e comunicações lhe sejam remeti- necessário à execução do pedido em conformi-
dos por via diplomática e, em caso de urgência, dade com o seu direito interno, ou quando tal
e se os Estados Partes nisso acordarem, por possa facilitar a execução do pedido.
intermédio da Organização Internacional de
Polícia Criminal, se tal for possível. 17. Qualquer pedido será executado em confor-
midade com o direito interno do Estado Parte
14. Os pedidos serão formulados por escrito requerido e, na medida em que tal não contrarie
ou, se possível, por qualquer outro meio capaz este direito e seja possível, em conformidade
de produzir registro escrito, numa língua que com os procedimentos especificados no pedido.
seja aceita pelo Estado Parte requerido, em
condições que permitam a este Estado Parte 18. Se for possível e em conformidade com os
verificar a sua autenticidade. O Secretário Geral princípios fundamentais do direito interno,
das Nações Unidas será notificado a respeito quando uma pessoa que se encontre no terri-
da língua ou línguas aceitas por cada Estado tório de um Estado Parte deva ser ouvida como
Parte no momento em que o Estado Parte em testemunha ou como perito pelas autoridades
questão depositar os seus instrumentos de judiciais de outro Estado Parte, o primeiro Es-
ratificação, aceitação, aprovação ou adesão à tado Parte poderá, a pedido do outro, autorizar
presente Convenção. Em caso de urgência, e se a sua audição por videoconferência, se não for
os Estados Partes nisso acordarem, os pedidos possível ou desejável que a pessoa compareça
poderão ser feitos oralmente, mais deverão ser no território do Estado Parte requerente. Os Es-
imediatamente confirmados por escrito. tados Partes poderão acordar em que a audição
seja conduzida por uma autoridade judicial do
Tráfico de Pessoas

15. Um pedido de assistência judiciária deverá Estado Parte requerente e que a ela assista uma
conter as seguintes informações: autoridade judicial do Estado Parte requerido.

a) A designação da autoridade que emite o 19. O Estado Parte requerente não comunicará
pedido; nem utilizará as informações ou os elementos
26
de prova fornecidos pelo Estado Parte reque- 23. Qualquer recusa de cooperação judiciária
rido para efeitos de investigações, processos ou deverá ser fundamentada.
outros atos judiciais diferentes dos menciona-
dos no pedido sem o consentimento prévio do 24. O Estado Parte requerido executará o pe-
Estado Parte requerido. O disposto neste nú- dido de cooperação judiciária tão prontamente
mero não impedirá o Estado Parte requerente quanto possível e terá em conta, na medida
de revelar, durante o processo, informações ou do possível, todos os prazos sugeridos pelo
elementos de prova ilibatórios de um argüido. Estado Parte requerente para os quais sejam
Neste último caso, o Estado Parte requerente dadas justificações, de preferência no pedido. O
avisará, antes da revelação, o Estado Parte Estado Parte requerido responderá aos pedidos
requerido e, se tal lhe for pedido, consultará razoáveis do Estado Parte requerente quanto ao
neste último. Se, num caso excepcional, não andamento das diligências solicitadas. Quando
for possível uma comunicação prévia, o Estado a assistência pedida deixar de ser necessária, o
Parte requerente informará da revelação, pron- Estado Parte requerente informará prontamen-
tamente, o Estado Parte requerido. te desse fato o Estado Parte requerido.

20. O Estado Parte requerente poderá exigir que 25. A cooperação judiciária poderá ser diferida
o Estado Parte requerido guarde sigilo sobre o pelo Estado Parte requerido por interferir com
pedido e o seu conteúdo, salvo na medida do uma investigação, processos ou outros atos
que seja necessário para o executar. Se o Esta- judiciais em curso.
do Parte requerido não puder satisfazer esta
exigência, informará prontamente o Estado 26. Antes de recusar um pedido feito ao abri-
Parte requerente. go do parágrafo 21 do presente Artigo ou de
diferir a sua execução ao abrigo do parágrafo
21. A cooperação judiciária poderá ser recusada: 25, o Estado Parte requerido estudará com
o Estado Parte requerente a possibilidade de
a) Se o pedido não for feito em conformidade prestar a assistência sob reserva das condições
com o disposto no presente Artigo; que considere necessárias. Se o Estado Parte
requerente aceitar a assistência sob reserva
b) Se o Estado Parte requerido considerar que a destas condições, deverá respeitá-las.
execução do pedido pode afetar sua soberania,
sua segurança, sua ordem pública ou outros 27. Sem prejuízo da aplicação do parágrafo
interesses essenciais; 12 do presente Artigo, uma testemunha, um
perito ou outra pessoa que, a pedido do Estado
c) Se o direito interno do Estado Parte reque- Parte requerente, aceite depor num processo
rido proibir suas autoridades de executar as ou colaborar numa investigação, em processos
providências solicitadas com relação a uma ou outros atos judiciais no território do Estado
infração análoga que tenha sido objeto de Parte requerente, não será objeto de processo,
investigação ou de procedimento judicial no detida, punida ou sujeita a outras restrições à
âmbito da sua própria competência; sua liberdade pessoal neste território, devido a
atos, omissões ou condenações anteriores à sua
d) Se a aceitação do pedido contrariar o sistema partida do território do Estado Parte requerido.
jurídico do Estado Parte requerido no que se Esta imunidade cessa quando a testemunha, o
refere à cooperação judiciária. perito ou a referida pessoa, tendo tido, durante
Atos internacionais

um período de quinze dias consecutivos ou


22. Os Estados Partes não poderão recusar um qualquer outro período acordado pelos Esta-
pedido de cooperação judiciária unicamente dos Partes, a contar da data em que recebeu a
por considerarem que a infração envolve tam- comunicação oficial de que a sua presença já
bém questões fiscais. não era exigida pelas autoridades judiciais, a
27
possibilidade de deixar o território do Estado investigações conjuntas. Os Estados Partes
Parte requerente, nele tenha voluntariamente envolvidos agirão de modo a que a soberania
permanecido ou, tendo-o deixado, a ele tenha do Estado Parte em cujo território decorra a
regressado de livre vontade. investigação seja plenamente respeitada.

28. As despesas correntes com a execução de ARTIGO 20 – Técnicas Especiais de


um pedido serão suportadas pelo Estado Parte Investigação
requerido, salvo acordo noutro sentido dos
Estados Partes interessados. Quando venham 1. Se os princípios fundamentais do seu orde-
a revelar-se necessárias despesas significativas namento jurídico nacional o permitirem, cada
ou extraordinárias para executar o pedido, os Estado Parte, tendo em conta as suas possibi-
Estados Partes consultar-se-ão para fixar as lidades e em conformidade com as condições
condições segundo as quais o pedido deverá ser prescritas no seu direito interno, adotará as me-
executado, bem como o modo como as despesas didas necessárias para permitir o recurso apro-
serão assumidas. priado a entregas vigiadas e, quando o considere
adequado, o recurso a outras técnicas especiais
29. O Estado Parte requerido: de investigação, como a vigilância eletrônica ou
outras formas de vigilância e as operações de in-
a) Fornecerá ao Estado Parte requerente cópias filtração, por parte das autoridades competentes
dos processos, documentos ou informações no seu território, a fim de combater eficazmente
administrativas que estejam em seu poder e a criminalidade organizada.
que, por força do seu direito interno, estejam
acessíveis ao público; 2. Para efeitos de investigações sobre as in-
frações previstas na presente Convenção,
b) Poderá, se assim o entender, fornecer ao Es- os Estados Partes são instados a celebrar, se
tado Parte requerente, na íntegra ou nas condi- necessário, acordos ou protocolos bilaterais
ções que considere apropriadas, cópias de todos ou multilaterais apropriados para recorrer às
os processos, documentos ou informações que técnicas especiais de investigação, no âmbito
estejam na sua posse e que, por força do seu da cooperação internacional. Estes acordos ou
direito interno, não sejam acessíveis ao público. protocolos serão celebrados e aplicados sem
prejuízo do princípio da igualdade soberana
30. Os Estados Partes considerarão, se neces- dos Estados e serão executados em estrita con-
sário, a possibilidade de celebrarem acordos formidade com as disposições neles contidas.
ou protocolos bilaterais ou multilaterais que
sirvam os objetivos e as disposições do presente 3. Na ausência dos acordos ou protocolos
Artigo, reforçando-as ou dando-lhes maior referidos no parágrafo 2 do presente Artigo,
eficácia. as decisões de recorrer a técnicas especiais de
investigação a nível internacional serão toma-
ARTIGO 19 – Investigações Conjuntas das casuisticamente e poderão, se necessário,
ter em conta acordos ou protocolos financeiros
Os Estados Partes considerarão a possibilidade relativos ao exercício de jurisdição pelos Esta-
de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou dos Partes interessados.
multilaterais em virtude dos quais, com respeito
a matérias que sejam objeto de investigação, 4. As entregas vigiadas a que se tenha decidido
Tráfico de Pessoas

processos ou ações judiciais em um ou mais recorrer a nível internacional poderão incluir,


Estados, as autoridades competentes possam com o consentimento dos Estados Partes
estabelecer órgãos mistos de investigação. Na envolvidos, métodos como a intercepção de
ausência de tais acordos ou protocolos, poderá mercadorias e a autorização de prosseguir o
ser decidida casuisticamente a realização de seu encaminhamento, sem alteração ou após
28
subtração ou substituição da totalidade ou de presente alínea não prejudica o direito dos Esta-
parte dessas mercadorias. dos Partes de disporem de legislação destinada
a proteger outras categorias de agentes públicos.
ARTIGO 21 – Transferência de Processos
Penais ARTIGO 24 – Proteção das Testemunhas

Os Estados Partes considerarão a possibilida- 1. Cada Estado Parte, dentro das suas pos-
de de transferirem mutuamente os processos sibilidades, adotará medidas apropriadas
relativos a uma infração prevista na presente para assegurar uma proteção eficaz contra
Convenção, nos casos em que esta transferência eventuais atos de represália ou de intimidação
seja considerada necessária no interesse da boa das testemunhas que, no âmbito de processos
administração da justiça e, em especial, quando penais, deponham sobre infrações previstas
estejam envolvidas várias jurisdições, a fim de na presente Convenção e, quando necessário,
centralizar a instrução dos processos. aos seus familiares ou outras pessoas que lhes
sejam próximas.
ARTIGO 22 – Estabelecimento de
Antecedentes Penais 2. Sem prejuízo dos direitos do argüido, in-
cluindo o direito a um julgamento regular, as
Cada Estado Parte poderá adotar as medidas medidas referidas no parágrafo 1 do presente
legislativas ou outras que sejam necessárias Artigo poderão incluir, entre outras:
para ter em consideração, nas condições e para
os efeitos que entender apropriados, qualquer a) Desenvolver, para a proteção física destas
condenação de que o presumível autor de uma pessoas, procedimentos que visem, consoante
infração tenha sido objeto noutro Estado, a fim as necessidades e na medida do possível, no-
de utilizar esta informação no âmbito de um meadamente, fornecer-lhes um novo domicílio
processo penal relativo a uma infração prevista e impedir ou restringir a divulgação de infor-
na presente Convenção. mações relativas à sua identidade e paradeiro;

ARTIGO 23 – Criminalização da Obstrução b) Estabelecer normas em matéria de prova


à Justiça que permitam às testemunhas depor de forma
a garantir a sua segurança, nomeadamente
Cada Estado Parte adotará medidas legislativas autorizando-as a depor com recurso a meios
e outras consideradas necessárias para conferir técnicos de comunicação, como ligações de
o caráter de infração penal aos seguintes atos, vídeo ou outros meios adequados.
quando cometidos intencionalmente:
3. Os Estados Partes considerarão a possibilida-
a) O recurso à força física, a ameaças ou a in- de de celebrar acordos com outros Estados para
timidação, ou a promessa, oferta ou concessão facultar um novo domicílio às pessoas referidas
de um benefício indevido para obtenção de no parágrafo 1 do presente Artigo.
um falso testemunho ou para impedir um
testemunho ou a apresentação de elementos de 4. As disposições do presente Artigo aplicam-
prova num processo relacionado com a prática -se igualmente às vítimas, quando forem
de infrações previstas na presente Convenção; testemunhas.
Atos internacionais

b) O recurso à força física, a ameaças ou a ARTIGO 25 – Assistência e Proteção às


intimidação para impedir um agente judicial Vítimas
ou policial de exercer os deveres inerentes à
sua função relativamente à prática de infrações 1. Cada Estado Parte adotará, segundo as suas
previstas na presente Convenção. O disposto na possibilidades, medidas apropriadas para pres-
29
tar assistência e assegurar a proteção às vítimas pena de que é passível um argüido que coopere
de infrações previstas na presente Convenção, de forma substancial na investigação ou no jul-
especialmente em caso de ameaça de represálias gamento dos autores de uma infração prevista
ou de intimidação. na presente Convenção.

2. Cada Estado Parte estabelecerá procedimen- 3. Cada Estado Parte poderá considerar a pos-
tos adequados para que as vítimas de infrações sibilidade, em conformidade com os princípios
previstas na presente Convenção possam obter fundamentais do seu ordenamento jurídico in-
reparação. terno, de conceder imunidade a uma pessoa que
coopere de forma substancial na investigação
3. Cada Estado Parte, sem prejuízo do seu ou no julgamento dos autores de uma infração
direito interno, assegurará que as opiniões e prevista na presente Convenção.
preocupações das vítimas sejam apresentadas e
tomadas em consideração nas fases adequadas 4. A proteção destas pessoas será assegurada
do processo penal aberto contra os autores de nos termos do Artigo 24 da presente Con-
infrações, por forma que não prejudique os venção.
direitos da defesa.
5. Quando uma das pessoas referidas no pa-
ARTIGO 26 – Medidas para Intensificar rágrafo 1 do presente Artigo se encontre num
a Cooperação com as Autoridades Estado Parte e possa prestar uma cooperação
Competentes para a Aplicação da Lei substancial às autoridades competentes de ou-
tro Estado Parte, os Estados Partes em questão
1. Cada Estado Parte tomará as medidas poderão considerar a celebração de acordos, em
adequadas para encorajar as pessoas que conformidade com o seu direito interno, rela-
participem ou tenham participado em grupos tivos à eventual concessão, pelo outro Estado
criminosos organizados: Parte, do tratamento descrito nos parágrafos 2
e 3 do presente Artigo.
a) A fornecerem informações úteis às autorida-
des competentes para efeitos de investigação e ARTIGO 27 – Cooperação entre as
produção de provas, nomeadamente Autoridades Competentes para a Aplicação
da Lei
i) A identidade, natureza, composição, es-
trutura, localização ou atividades dos grupos 1. Os Estados Partes cooperarão estreitamente,
criminosos organizados; em conformidade com os seus respectivos or-
denamentos jurídicos e administrativos, a fim
ii) As conexões, inclusive conexões interna- de reforçar a eficácia das medidas de controle
cionais, com outros grupos criminosos orga- do cumprimento da lei destinadas a combater
nizados; as infrações previstas na presente Convenção.
Especificamente, cada Estado Parte adotará
iii) As infrações que os grupos criminosos or- medidas eficazes para:
ganizados praticaram ou poderão vir a praticar;
a) Reforçar ou, se necessário, criar canais de
b) A prestarem ajuda efetiva e concreta às auto- comunicação entre as suas autoridades, orga-
ridades competentes, susceptível de contribuir nismos e serviços competentes, para facilitar a
Tráfico de Pessoas

para privar os grupos criminosos organizados rápida e segura troca de informações relativas
dos seus recursos ou do produto do crime. a todos os aspectos das infrações previstas na
presente Convenção, incluindo, se os Estados
2. Cada Estado Parte poderá considerar a pos- Partes envolvidos o considerarem apropriado,
sibilidade, nos casos pertinentes, de reduzir a ligações com outras atividades criminosas;
30
b) Cooperar com outros Estados Partes, quando sibilidade de os alterar. Na ausência de tais
se trate de infrações previstas na presente Con- acordos entre os Estados Partes envolvidos,
venção, na condução de investigações relativas estes últimos poderão basear-se na presente
aos seguintes aspectos: Convenção para instituir uma cooperação em
matéria de detecção e repressão das infrações
i) Identidade, localização e atividades de previstas na presente Convenção. Sempre que
pessoas suspeitas de implicação nas referidas tal se justifique, os Estados Partes utilizarão
infrações, bem como localização de outras plenamente os acordos ou protocolos, incluin-
pessoas envolvidas; do as organizações internacionais ou regionais,
para intensificar a cooperação entre as suas
ii) Movimentação do produto do crime ou dos autoridades competentes para a aplicação da lei.
bens provenientes da prática destas infrações;
3. Os Estados Partes procurarão cooperar, na
iii) Movimentação de bens, equipamentos ou medida das suas possibilidades, para enfrentar
outros instrumentos utilizados ou destinados a o crime organizado transnacional praticado
ser utilizados na prática destas infrações; com recurso a meios tecnológicos modernos.

c) Fornecer, quando for caso disso, os elementos ARTIGO 28 – Coleta, Intercâmbio e Análise
ou as quantidades de substâncias necessárias de Informações sobre a Natureza do Crime
para fins de análise ou de investigação; Organizado

d) Facilitar uma coordenação eficaz entre as au- 1. Cada Estado Parte considerará a possibili-
toridades, organismos e serviços competentes e dade de analisar, em consulta com os meios
promover o intercâmbio de pessoal e de peritos, científicos e universitários, as tendências da
incluindo, sob reserva da existência de acordos criminalidade organizada no seu território, as
ou protocolos bilaterais entre os Estados Partes circunstâncias em que opera e os grupos pro-
envolvidos, a designação de agentes de ligação; fissionais e tecnologias envolvidos.

e) Trocar informações com outros Estados 2. Os Estados Partes considerarão a possibilida-


Partes sobre os meios e métodos específicos uti- de de desenvolver as suas capacidades de análise
lizados pelos grupos criminosos organizados, das atividades criminosas organizadas e de as
incluindo, se for caso disso, sobre os itinerários partilhar diretamente entre si e por intermédio
e os meios de transporte, bem como o uso de de organizações internacionais e regionais. Para
identidades falsas, de documentos alterados ou este efeito, deverão ser elaboradas e aplicadas,
falsificados ou outros meios de dissimulação quando for caso disso, definições, normas e
das suas atividades; metodologias comuns.

f) Trocar informações e coordenar as medidas 3. Cada Estado Parte considerará o estabeleci-


administrativas e outras tendo em vista detec- mento de meios de acompanhamento das suas
tar o mais rapidamente possível as infrações políticas e das medidas tomadas para combater
previstas na presente Convenção. o crime organizado, avaliando a sua aplicação
e eficácia.
2. Para dar aplicação à presente Convenção,
os Estados Partes considerarão a possibilidade ARTIGO 29 – Formação e Assistência
Atos internacionais

de celebrar acordos ou protocolos bilaterais ou Técnica


multilaterais que prevejam uma cooperação
direta entre as suas autoridades competentes 1. Cada Estado Parte estabelecerá, desenvolverá
para a aplicação da lei e, quando tais acordos ou melhorará, na medida das necessidades,
ou protocolos já existam, considerarão a pos- programas de formação específicos destinados
31
ao pessoal das autoridades competentes para a 2. Os Estados Partes deverão cooperar entre si
aplicação da lei, incluindo promotores públicos, no planejamento e execução de programas de
juizes de instrução e funcionários aduaneiros, investigação e de formação concebidos para o
bem como outro pessoal que tenha por função intercâmbio de conhecimentos especializados
prevenir, detectar e reprimir as infrações pre- nos domínios referidos no parágrafo 1 do
vistas na presente Convenção. Estes programas, presente Artigo e, para este efeito, recorrerão
que poderão prever cessões e intercâmbio de também, quando for caso disso, a conferências
pessoal, incidirão especificamente, na medida e seminários regionais e internacionais para
em que o direito interno o permita, nos seguin- promover a cooperação e estimular as trocas
tes aspectos: de pontos de vista sobre problemas comuns,
incluindo os problemas e necessidades especí-
a) Métodos utilizados para prevenir, detectar ficos dos Estados de trânsito.
e combater as infrações previstas na presente
Convenção; 3. Os Estados Partes incentivarão as atividades
de formação e de assistência técnica suscetíveis
b) Rotas e técnicas utilizadas pelas pessoas de facilitar a extradição e a cooperação judiciá-
suspeitas de implicação em infrações previstas ria. Estas atividades de cooperação e de assistên-
na presente Convenção, incluindo nos Estados cia técnica poderão incluir ensino de idiomas,
de trânsito, e medidas adequadas de combate; cessões e intercâmbio do pessoal das autoridades
centrais ou de organismos que tenham respon-
c) Vigilância das movimentações dos produtos sabilidades nos domínios em questão.
de contrabando;
4. Sempre que se encontrem em vigor acordos
d) Detecção e vigilância das movimentações bilaterais ou multilaterais, os Estados Partes
do produto do crime, de bens, equipamen- reforçarão, tanto quanto for necessário, as
tos ou outros instrumentos, de métodos de medidas tomadas no sentido de otimizar as
transferência, dissimulação ou disfarce destes atividades operacionais e de formação no âm-
produtos, bens, equipamentos ou outros ins- bito de organizações internacionais e regionais
trumentos, bem como métodos de luta contra e no âmbito de outros acordos ou protocolos
a lavagem de dinheiro e outras infrações bilaterais e multilaterais na matéria.
financeiras;
ARTIGO 30 – Outras Medidas: Aplicação
e) Coleta de provas; da Convenção através do Desenvolvimento
Econômico e da Assistência Técnica
f) Técnicas de controle nas zonas francas e nos
portos francos; 1. Os Estados Partes tomarão as medidas
adequadas para assegurar a melhor aplicação
g) Equipamentos e técnicas modernas de de- possível da presente Convenção através da
tecção e de repressão, incluindo a vigilância cooperação internacional, tendo em conta os
eletrônica, as entregas vigiadas e as operações efeitos negativos da criminalidade organizada
de infiltração; na sociedade em geral e no desenvolvimento
sustentável em particular.
h) Métodos utilizados para combater o crime
organizado transnacional cometido por meio 2. Os Estados Partes farão esforços concretos, na
Tráfico de Pessoas

de computadores, de redes de telecomunicações medida do possível, em coordenação entre si e


ou outras tecnologias modernas; e com as organizações regionais e internacionais:

i) Métodos utilizados para a proteção das víti- a) Para desenvolver a sua cooperação a vários
mas e das testemunhas. níveis com os países em desenvolvimento, a
32
fim de reforçar a capacidade destes para pre- internacional previstos na presente Convenção,
venir e combater a criminalidade organizada e para prevenir, detectar e combater a crimina-
transnacional; lidade organizada transnacional.

b) Para aumentar a assistência financeira e ARTIGO 31 – Prevenção


material aos países em desenvolvimento, a
fim de apoiar os seus esforços para comba- 1. Os Estados Partes procurarão elaborar e ava-
ter eficazmente a criminalidade organizada liar projetos nacionais, bem como estabelecer
transnacional e ajudá-los a aplicar com êxito a e promover as melhores práticas e políticas
presente Convenção; para prevenir a criminalidade organizada
transnacional.
c) Para fornecer uma assistência técnica aos
países em desenvolvimento e aos países com 2. Em conformidade com os princípios fun-
uma economia de transição, a fim de ajudá-los damentais do seu direito interno, os Estados
a obter meios para a aplicação da presente Con- Partes procurarão reduzir, através de medidas
venção. Para este efeito, os Estados Partes pro- legislativas, administrativas ou outras que sejam
curarão destinar voluntariamente contribuições adequadas, as possibilidades atuais ou futuras
adequadas e regulares a uma conta constituída de participação de grupos criminosos organi-
especificamente para este fim no âmbito de um zados em negócios lícitos utilizando o produto
mecanismo de financiamento das Nações Uni- do crime. Estas medidas deverão incidir:
das. Os Estados Partes poderão também consi-
derar, especificamente, em conformidade com o a) No fortalecimento da cooperação entre au-
seu direito interno e as disposições da presente toridades competentes para a aplicação da lei
Convenção, a possibilidade de destinarem à ou promotores e entidades privadas envolvidas,
conta acima referida uma percentagem dos incluindo empresas;
fundos ou do valor correspondente do produto
do crime ou dos bens confiscados em aplicação b) Na promoção da elaboração de normas e pro-
das disposições da presente Convenção; cedimentos destinados a preservar a integridade
das entidades públicas e privadas envolvidas,
d) Para incentivar e persuadir outros Estados e bem como de códigos de conduta para determi-
instituições financeiras, quando tal se justifique, nados profissionais, em particular advogados,
a associarem-se aos esforços desenvolvidos tabeliães, consultores tributários e contadores;
em conformidade com o presente Artigo,
nomeadamente fornecendo aos países em de- c) Na prevenção da utilização indevida, por
senvolvimento mais programas de formação e grupos criminosos organizados, de concursos
material moderno, a fim de os ajudar a alcançar públicos, bem como de subvenções e licenças
os objetivos da presente Convenção. concedidas por autoridades públicas para a
realização de atividades comerciais;
e) Tanto quanto possível, estas medidas serão
tomadas sem prejuízo dos compromissos exis- d) Na prevenção da utilização indevida de
tentes em matéria de assistência externa ou de pessoas jurídicas por grupos criminosos orga-
outros acordos de cooperação financeira a nível nizados; estas medidas poderão incluir:
bilateral, regional ou internacional.
i) O estabelecimento de registros públicos de
Atos internacionais

4. Os Estados Partes poderão celebrar acordos pessoas jurídicas e físicas envolvidas na criação,
ou protocolos bilaterais ou multilaterais relati- gestão e financiamento de pessoas jurídicas;
vos a assistência técnica e logística, tendo em
conta os acordos financeiros necessários para ii) A possibilidade de privar, por decisão judicial
assegurar a eficácia dos meios de cooperação ou por qualquer outro meio adequado, as pes-
33
soas condenadas por infrações previstas na pre- a criminalidade organizada transnacional,
sente Convenção, por um período adequado, atuando, por exemplo, sobre os fatores que
do direito de exercerem funções de direção de tornam os grupos socialmente marginalizados
pessoas jurídicas estabelecidas no seu território; vulneráveis à sua ação.

iii) O estabelecimento de registos nacionais de ARTIGO 32 – Conferência das Partes na


pessoas que tenham sido privadas do direito Convenção
de exercerem funções de direção de pessoas
jurídicas; e 1. Será instituída uma Conferência das Partes
na Convenção, para melhorar a capacidade
iv) O intercâmbio de informações contidas dos Estados Partes no combate à criminalidade
nos registros referidos nas incisos i) e iii) da organizada transnacional e para promover e
presente alínea com as autoridades competentes analisar a aplicação da presente Convenção.
dos outros Estados Partes.
2. O Secretário Geral da Organização das
3. Os Estados Partes procurarão promover a Nações Unidas convocará a Conferência das
reinserção na sociedade das pessoas condenadas Partes, o mais tardar, um ano após a entrada em
por infrações previstas na presente Convenção. vigor da presente Convenção. A Conferência
das Partes adotará um regulamento interno e
4. Os Estados Partes procurarão avaliar pe- regras relativas às atividades enunciadas nos
riodicamente os instrumentos jurídicos e as parágrafos 3 e 4 do presente Artigo (incluindo
práticas administrativas aplicáveis, a fim de regras relativas ao financiamento das despesas
determinar se contêm lacunas que permitam decorrentes dessas atividades).
aos grupos criminosos organizados fazerem
deles utilização indevida. 3. A Conferência das Partes acordará em
mecanismos destinados a atingir os objetivos
5. Os Estados Partes procurarão sensibilizar referidos no parágrafo 1 do presente Artigo,
melhor o público para a existência, as causas e nomeadamente:
a gravidade da criminalidade organizada trans-
nacional e para a ameaça que representa. Pode- a) Facilitando as ações desenvolvidas pelos
rão fazê-lo, quando for o caso, por intermédio Estados Partes em aplicação dos Artigos 29,
dos meios de comunicação social e adotando 30 e 31 da presente Convenção, inclusive
medidas destinadas a promover a participação incentivando a mobilização de contribuições
do público nas ações de prevenção e combate voluntárias;
à criminalidade.
b) Facilitando o intercâmbio de informações
6. Cada Estado Parte comunicará ao Secretário entre Estados Partes sobre as características e
Geral da Organização das Nações Unidas o tendências da criminalidade organizada trans-
nome e o endereço da(s) autoridade(s) que nacional e as práticas eficazes para a combater;
poderão assistir os outros Estados Partes na
aplicação das medidas de prevenção do crime c) Cooperando com as organizações regionais
organizado transnacional. e internacionais e as organizações não-gover-
namentais competentes;
7. Quando tal se justifique, os Estados Partes
Tráfico de Pessoas

colaborarão, entre si e com as organizações d) Avaliando, a intervalos regulares, a aplicação


regionais e internacionais competentes, a fim da presente Convenção;
de promover e aplicar as medidas referidas no
presente Artigo. A este título, participarão em e) Formulando recomendações a fim de me-
projetos internacionais que visem prevenir lhorar a presente Convenção e a sua aplicação.
34
4. Para efeitos das alíneas d) e e) do parágrafo 3 do no direito interno de cada Estado Parte, inde-
presente Artigo, a Conferência das Partes inteirar- pendentemente da sua natureza transnacional
-se-á das medidas adotadas e das dificuldades ou da implicação de um grupo criminoso or-
encontradas pelos Estados Partes na aplicação da ganizado nos termos do parágrafo 1 do Artigo
presente Convenção, utilizando as informações 3 da presente Convenção, salvo na medida
que estes lhe comuniquem e os mecanismos em que o Artigo 5 da presente Convenção
complementares de análise que venha a criar. exija o envolvimento de um grupo criminoso
organizado.
5. Cada Estado Parte comunicará à Conferência
das Partes, a solicitação desta, informações sobre 3. Cada Estado Parte poderá adotar medidas
os seus programas, planos e práticas, bem como mais estritas ou mais severas do que as previs-
sobre as suas medidas legislativas e administra- tas na presente Convenção a fim de prevenir
tivas destinadas a aplicar a presente Convenção. e combater a criminalidade organizada trans-
nacional.
ARTIGO 33 – Secretariado
ARTIGO 35 – Solução de Controvérsias
1. O Secretário Geral da Organização das
Nações Unidas fornecerá os serviços de secre- 1. Os Estados Partes procurarão solucionar con-
tariado necessários à Conferência das Partes trovérsias relativas à interpretação ou aplicação
na Convenção. da presente Convenção por negociação direta.

2. O secretariado: 2. Qualquer controvérsia entre dois ou mais


Estados Partes relativa à interpretação ou apli-
a) Apoiará a Conferência das Partes na realiza- cação da presente Convenção que não possa ser
ção das atividades enunciadas no Artigo 32 da resolvida por via negocial num prazo razoável
presente Convenção, tomará as disposições e será, a pedido de um destes Estados Partes,
prestará os serviços necessários para as sessões submetida a arbitragem. Se, no prazo de seis
da Conferência das Partes; meses a contar da data do pedido de arbitragem,
os Estados Partes não chegarem a acordo sobre
b) Assistirá os Estados Partes, a pedido destes, a organização da arbitragem, qualquer deles
no fornecimento à Conferência das Partes das poderá submeter a controvérsia ao Tribunal In-
informações previstas no parágrafo 5 do Artigo ternacional de Justiça, mediante requerimento
32 da presente Convenção; e em conformidade com o Estatuto do Tribunal.

c) Assegurará a coordenação necessária com 3. Qualquer Estado Parte poderá, no momento


os secretariados das organizações regionais e da assinatura, da ratificação, da aceitação ou da
internacionais. aprovação da presente Convenção, ou da adesão
a esta, declarar que não se considera vinculado
ARTIGO 34 – Aplicação da Convenção pelo parágrafo 2 do presente Artigo. Os outros
Estados Partes não estarão vinculados pelo
1. Cada Estado Parte adotará as medidas neces- parágrafo 2 do presente Artigo em relação a
sárias, incluindo legislativas e administrativas, qualquer Estado Parte que tenha formulado
em conformidade com os princípios funda- esta reserva.
mentais do seu direito interno, para assegurar
Atos internacionais

o cumprimento das suas obrigações decorrentes 4. Um Estado Parte que tenha formulado uma
da presente Convenção. reserva ao abrigo do parágrafo 3 do presente
Artigo poderá retirá-la a qualquer momento,
2. As infrações enunciadas nos Artigos 5, 6, 8 e mediante notificação do Secretário Geral da
23 da presente Convenção serão incorporadas Organização das Nações Unidas.
35
ARTIGO 36 – Assinatura, Ratificação, ARTIGO 37 – Relação com os Protocolos
Aceitação, Aprovação e Adesão
1. A presente Convenção poderá ser completa-
1. A presente Convenção será aberta à assi- da por um ou mais protocolos.
natura de todos os Estados entre 12 e 15 de
Dezembro de 2000, em Palermo (Itália) e, 2. Para se tornar Parte num protocolo, um Esta-
seguidamente, na sede da Organização das do ou uma organização regional de integração
Nações Unidas, em Nova Iorque, até 12 de econômica deverá igualmente ser Parte na
Dezembro de 2002. presente Convenção.

2. A presente Convenção estará igualmente 3. Um Estado Parte na presente Convenção não


aberta à assinatura de organizações regionais estará vinculado por um protocolo, a menos
de integração econômica, desde que pelos que se torne Parte do mesmo protocolo, em
menos um Estado-Membro dessa organiza- conformidade com as disposições deste.
ção tenha assinado a presente Convenção, em
conformidade com o parágrafo 1 do presente 4. Qualquer protocolo à presente Convenção
Artigo. será interpretado conjuntamente com a pre-
sente Convenção, tendo em conta a finalidade
3. A presente Convenção será submetida a do mesmo protocolo.
ratificação, aceitação ou aprovação. Os instru-
mentos de ratificação, aceitação ou aprovação ARTIGO 38 – Entrada em Vigor
serão depositados junto do Secretário Geral
da Organização das Nações Unidas. Uma or- 1. A presente Convenção entrará em vigor no
ganização regional de integração econômica nonagésimo dia seguinte à data de depósito
poderá depositar os seus instrumentos de do quadragésimo instrumento de ratificação,
ratificação, aceitação ou aprovação se pelo aceitação, aprovação ou adesão. Para efeitos do
menos um dos seus Estados-Membros o tiver presente número, nenhum dos instrumentos
feito. Neste instrumento de ratificação, acei- depositados por uma organização regional de
tação ou aprovação, a organização declarará integração econômica será somado aos instru-
o âmbito da sua competência em relação às mentos já depositados pelos Estados membros
questões que são objeto da presente Conven- dessa organização.
ção. Informará igualmente o depositário de
qualquer alteração relevante do âmbito da 2. Para cada Estado ou organização regional
sua competência. de integração econômica que ratifique, aceite
ou aprove a presente Convenção ou a ela adira
4. A presente Convenção estará aberta à adesão após o depósito do quadragésimo instrumento
de qualquer Estado ou de qualquer organiza- pertinente, a presente Convenção entrará em
ção regional de integração econômica de que, vigor no trigésimo dia seguinte à data de de-
pelo menos, um Estado membro seja parte pósito do instrumento pertinente do referido
na presente Convenção. Os instrumentos de Estado ou organização.
adesão serão depositados junto do Secretário
Geral da Organização das Nações Unidas. No ARTIGO 39 – Emendas
momento da sua adesão, uma organização
regional de integração econômica declarará 1. Quando tiverem decorrido cinco anos a con-
Tráfico de Pessoas

o âmbito da sua competência em relação às tar da entrada em vigor da presente Convenção,


questões que são objeto da presente Conven- um Estado Parte poderá propor uma emenda e
ção. Informará igualmente o depositário de depositar o respectivo texto junto do Secretário
qualquer alteração relevante do âmbito dessa Geral da Organização das Nações Unidas, que
competência. em seguida comunicará a proposta de emenda
36
aos Estados Partes e à Conferência das Partes ARTIGO 40 – Denúncia
na Convenção, para exame da proposta e ado-
ção de uma decisão. A Conferência das Partes 1. Um Estado Parte poderá denunciar a pre-
esforçar-se-á por chegar a um consenso sobre sente Convenção mediante notificação escrita
qualquer emenda. Se todos os esforços nesse dirigida ao Secretário Geral da Organização das
sentido se tiverem esgotado sem que se tenha Nações Unidas. A denúncia tornar-se-á efetiva
chegado a acordo, será necessário, como últi- um ano após a data da recepção da notificação
mo recurso para que a emenda seja aprovada, pelo Secretário Geral.
uma votação por maioria de dois terços dos
votos expressos dos Estados Partes presentes 2. Uma organização regional de integração
na Conferência das Partes. econômica cessará de ser Parte na presente
Convenção quando todos os seus Estados-
2. Para exercerem, ao abrigo do presente Arti- -Membros a tenham denunciado.
go, o seu direito de voto nos domínios em que
sejam competentes, as organizações regionais 3. A denúncia da presente Convenção, em
de integração econômica disporão de um conformidade com o parágrafo 1 do presente
número de votos igual ao número dos seus Artigo, implica a denúncia de qualquer proto-
Estados-Membros que sejam Partes na presente colo a ela associado.
Convenção. Não exercerão o seu direito de voto
quando os seus Estados-Membros exercerem os ARTIGO 41 – Depositário e Línguas
seus, e inversamente.
1. O Secretário Geral da Organização das
3. Uma emenda aprovada em conformidade Nações Unidas será o depositário da presente
com o parágrafo 1 do presente Artigo estará Convenção.
sujeita à ratificação, aceitação ou aprovação
dos Estados Partes. 2. O original da presente Convenção, cujos tex-
tos em inglês, árabe, chinês, espanhol, francês
4. Uma emenda aprovada em conformidade e russo fazem igualmente fé, será depositado
com o parágrafo 1 do presente Artigo entrará junto do Secretário Geral da Organização das
em vigor para um Estado Parte noventa dias Nações Unidas.
após a data de depósito pelo mesmo Estado
Parte junto do Secretário Geral da Organiza- EM FÉ DO QUE os plenipotenciários abaixo
ção das Nações Unidas de um instrumento de assinados, devidamente mandatados para o
ratificação, aceitação ou aprovação da referida efeito pelos respectivos Governos, assinaram a
emenda. presente Convenção.

5. Uma emenda que tenha entrado em vigor será Aprovada pelo Decreto Legislativo n o 231 de
vinculativa para os Estados Partes que tenham 19/5/2003, publicado no DOU de 30/5/2003, e
declarado o seu consentimento em serem por promulgada pelo Decreto no 5.015 de 12/3/2004,
ela vinculados. Os outros Estados Partes perma- publicado no DOU de 15/3/2004.
necerão vinculados pelas disposições da presen-
te Convenção e por todas as emendas anteriores
que tenham ratificado, aceite ou aprovado.
Atos internacionais

37
Protocolo Adicional à Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional, Relativo ao Combate ao
Tráfico de Migrantes por Via Terrestre,
Marítima e Aérea

PREÂMBULO todos os aspectos do tráfico ilícito de migrantes


e de outras questões conexas,
Os Estados Partes no presente Protocolo,
PREOCUPADOS com o aumento significa-
DECLARANDO que uma ação eficaz para pre- tivo das atividades dos grupos criminosos
venir e combater o tráfico ilícito de migrantes organizados relacionadas com tráfico ilícito
por via terrestre, marítima e aérea exige uma de migrantes e outras atividades criminosas
abordagem internacional abrangente, incluindo conexas, enunciadas no presente Protocolo,
a cooperação, a troca de informações e outras que causam grandes prejuízos aos Estados
medidas apropriadas, especialmente medidas afetados,
sócio-econômicas de alcance nacional, regional
e internacional, PREOCUPADOS também com fato de o
tráfico ilícito de migrantes poder pôr em
RELEMBRANDO a Resolução 54/212 da As- risco as vidas ou a segurança dos migrantes
sembléia Geral, de 22 de dezembro de 1999, na envolvidos,
qual a Assembléia instou os Estados Membros e
os organismos das Nações Unidas a reforçarem RECORDANDO a Resolução 53/111 da As-
a cooperação internacional no domínio das sembléia Geral, de 9 de dezembro de 1998,
migrações internacionais e do desenvolvimen- na qual a Assembléia decidiu criar um comitê
to, de forma a combater as causas profundas intergovernamental especial, de composição
das migrações, especialmente aquelas ligadas aberta, encarregado de elaborar uma convenção
à pobreza, e a otimizar os benefícios que as internacional global contra o crime organizado
migrações internacionais proporcionam aos transnacional e de examinar a possibilidade de
interessados e a incentivar, quando pertinente, elaborar, entre outros (ou inter alia), um instru-
os mecanismos inter-regionais, regionais e sub- mento internacional de luta contra o tráfico e
-regionais a continuar a tratar da questão da o transporte ilícito de migrantes, inclusive por
migrações e do desenvolvimento, via marítima,

CONVENCIDOS da necessidade de tratar os CONVENCIDOS de que a suplementação da


migrantes com humanidade e proteger plena- Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Tráfico de Pessoas

mente seus direitos, Organizado Transnacional com um instru-


mento internacional de combate ao tráfico
TENDO em conta que, apesar do trabalho efe- ilícito de migrantes por via terrestre, aérea e
tuado em outras instâncias internacionais, não marítima ajudará a prevenir e a combater esse
existe um instrumento universal que trate de tipo de crime,
38
ACORDARAM o seguinte: (i) Que tenha sido falsificado ou alterado de
forma substancial por uma pessoa ou uma
I. DISPOSIÇÕES GERAIS entidade que não esteja legalmente autorizada
a fazer ou emitir documentos de viagem ou de
ARTIGO 1 – Relação com a Convenção das identidade em nome de um Estado; ou
Nações Unidas Contra o Crime Organizado
Transnacional (ii) Que tenha sido emitido ou obtido de
forma irregular, através de falsas declarações,
1. O presente Protocolo complementa a Con- corrupção ou coação ou qualquer outro meio
venção das Nações Unidas contra o Crime ilícito; ou
Organizado Transnacional e será interpretado
em conjunto com a Convenção. (iii) Que seja utilizado por uma pessoa que não
seja seu titular legítimo;
2. As disposições da Convenção aplicar-se-ão
mutatis mutandis ao presente Protocolo, salvo d) O termo “navio” significa todo tipo de em-
disposição em contrário. barcação, incluindo embarcações sem calado
e hidroaviões, utilizados ou que possam ser
3. As infrações estabelecidas em conformidade utilizados como meio de transporte sobre a
com o Artigo 6 do presente Protocolo serão água, com excepção dos vasos de guerra, navios
consideradas como infrações estabelecidas em auxiliares da armada ou outras embarcações
conformidade com a Convenção. pertencentes a um Governo ou por ele explora-
das, desde que sejam utilizadas exclusivamente
ARTIGO 2 – Objetivo por um serviço público não comercial.

O objetivo do presente Protocolo é prevenir ARTIGO 4 – Âmbito de Aplicação


e combater o tráfico de migrantes, bem como
promover a cooperação entre os Estados Partes O presente Protocolo aplicar-se-á, salvo dispo-
com esse fim, protegendo ao mesmo tempo sição em contrário, à prevenção, investigação e
os direitos dos migrantes objeto desse tráfico. repressão das infrações estabelecidas em con-
formidade com o Artigo 6 do presente Proto-
ARTIGO 3 – Definições colo, quando essas infrações forem de natureza
transnacional e envolvam um grupo criminoso
Para efeitos do presente Protocolo: organizado, bem como à proteção dos direitos
das pessoas que foram objeto dessas infrações.
a) A expressão “tráfico de migrantes” significa
a promoção, com o objetivo de obter, direta ou ARTIGO 5 – Responsabilidade Penal dos
indiretamente, um beneficio financeiro ou ou- Migrantes
tro benefício material, da entrada ilegal de uma
pessoa num Estado Parte do qual essa pessoa Os migrantes não estarão sujeitos a processos
não seja nacional ou residente permanente; criminais nos termos do presente Protocolo,
pelo fato de terem sido objeto dos atos enun-
b) A expressão “entrada ilegal” significa a pas- ciados no seu Artigo 6.
sagem de fronteiras sem preencher os requisitos
necessários para a entrada legal no Estado de ARTIGO 6 – Criminalização
Atos internacionais

acolhimento.
1. Cada Estado Parte adotará as medidas le-
c) A expressão “documento de viagem ou de gislativas e outras que considere necessárias
identidade fraudulento” significa qualquer para caracterizar como infração penal, quando
documento de viagem ou de identificação: praticada intencionalmente e de forma a obter,
39
direta ou indiretamente, um beneficio financei- estabelecidas em conformidade com as alíneas
ro ou outro benefício material: a), b) (i) e c) do parágrafo 1 do presente Artigo
e, sem prejuízo dos conceitos fundamentais
a) O tráfico de migrantes; do seu sistema jurídico, das infrações esta-
belecidas em conformidade com as alíneas
b) Os seguintes atos quando praticados com b) e c) do parágrafo 2 do presente Artigo, as
o objetivo de possibilitar o tráfico ilícito de circunstâncias:
migrantes:
a) Que ponham em perigo ou ameaçar pôr em
(i) Elaboração de documento de viagem ou de perigo a vida e a segurança dos migrantes em
identidade fraudulento; causa; ou

(ii) Obtenção, fornecimento ou posse tal do- b) Que acarretem o tratamento desumano ou
cumento; degradante desses migrantes, incluindo sua
exploração.
c) Viabilizar a permanência, no Estado em
causa, de uma pessoa que não seja nacional ou 4. Nenhuma disposição do presente Protocolo
residente permanente, sem preencher as con- impedirá um Estado Parte de tomar medidas
dições necessárias para permanecer legalmente contra uma pessoa cuja conduta constitua uma
no Estado, recorrendo aos meios referidos na infração nos termos do seu direito interno.
alínea b) do presente parágrafo ou de qualquer
outro meio ilegal.
II. TRÁFICO DE MIGRANTES POR VIA
2. Cada Estado Parte adotará também medidas MARÍTIMA
legislativas e outras que considere necessárias
para caracterizar como infração penal: ARTIGO 7 – Cooperação

a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais Os Estados Partes cooperarão, na medida do


do seu sistema jurídico, a tentativa de praticar possível, para prevenir e suprimir o tráfico de
infração estabelecida em conformidade com o migrantes por via marítima, em conformidade
parágrafo 1 do presente Artigo; com o direito internacional do mar.

b) A participação como cúmplice numa in- ARTIGO 8 – Medidas Contra o Tráfico de


fração estabelecida em conformidade com as Migrantes por Via Marítima
alíneas a), b) (i) ou c) do parágrafo 1 do presente
Artigo e, sem prejuízo dos conceitos funda- 1. Um Estado Parte que tenha motivos razoáveis
mentais do seu sistema jurídico, a participação para suspeitar que um navio que, sem nacio-
como cúmplice numa infração estabelecida em nalidade, arvore o seu pavilhão ou invoque
conformidade com a alínea b) (ii) do parágrafo o registro de matrícula neste Estado ou que,
1 do presente Artigo; apesar de arvorar um pavilhão estrangeiro
ou recusar mostrar o seu pavilhão, tenha na
c) Organizar a prática de uma infração esta- verdade a nacionalidade do Estado Parte em
belecida em conformidade com o parágrafo 1 questão, se encontra envolvido no tráfico ilícito
do presente Artigo ou dar instruções a outras de migrantes por via marítima, poderá pedir o
Tráfico de Pessoas

pessoas para que a pratiquem. auxílio de outros Estados Partes para pôr termo
à utilização do referido navio para esse fim. Os
3. Cada Estado Parte adotará as medidas Estados Partes aos quais tenham sido solicitado
legislativas e outras que entenda necessárias, o auxílio prestá-lo-ão, na medida do possível,
para considerar como agravantes das infrações tendo em conta os meios disponíveis.
40
2. Um Estado Parte que tenha motivos razo- lhão, exceto aquelas que se considerem neces-
áveis para suspeitar que um navio que exerce sárias para afastar um perigo iminente para a
a liberdade de navegação em conformidade vida das pessoas ou aquelas que resultem de
com o direito internacional e arvora o pavilhão acordos bilaterais ou multilaterais pertinentes.
ou exibe sinais de matrícula de outro Estado
Parte se encontra envolvido no tráfico ilícito 6. Cada Estado Parte designará uma ou mais
de migrantes por via marítima pode notificar autoridades, se necessário, para receber e
o Estado do pavilhão, solicitar a confirmação responder a pedidos de auxílio de confirma-
do registro da matrícula e, se este se confirmar, ção de registro de matrícula ou do direito de
solicitar autorização a esse Estado para tomar as uma embarcação arvorar o seu pavilhão e a
medidas apropriadas relativamente ao navio. O pedidos de autorização para tomar as medidas
Estado do pavilhão pode, entre outras medidas, apropriadas. Essa designação será notificada
autorizar o Estado requerente a: pelo Secretário-Geral a todos os outros Estados
Partes no prazo de um mês após a designação.
a) Abordar o navio;
7. Um Estado Parte que tenha motivos razoáveis
b) Revistar o navio; e para suspeitar que um navio se encontra envol-
vido no tráfico de migrantes por via marítima
c) Se forem encontradas provas de que o navio e não tem nacionalidade ou é equiparado a
se encontra envolvido no tráfico de migrantes um navio sem nacionalidade pode abordá-lo
por via marítima, tomar as medidas que con- e revistá-lo. Se forem encontradas provas que
sidere apropriadas relativamente ao navio, às confirmem a suspeita, esse Estado Parte tomará
pessoas e à carga que se encontrem a bordo, as medidas apropriadas em conformidade com
nos termos em que foi autorizado pelo Estado o direito interno e internacional aplicáveis.
do pavilhão.
ARTIGO 9 – Cláusulas de Proteção
3. Um Estado Parte que tenha tomado qualquer
medida em conformidade com o parágrafo 2 1. Quando um Estado Parte tomar medidas
do presente Artigo informará imediatamente contra um navio em conformidade com o
o Estado do pavilhão em causa sobre os resul- Artigo 8 do presente Protocolo:
tados das referidas medidas.
a) Velará pela segurança e pelo tratamento
4. Um Estado Parte responderá imediatamente humano das pessoas a bordo;
a qualquer pedido de outro Estado Parte com
vista a determinar se um navio que invoca o b) Terá devidamente em conta a necessidade
registro da matrícula neste Estado ou arvore de não pôr em perigo a segurança do navio ou
o seu pavilhão está autorizada a fazê-lo, bem da sua carga;
como a um pedido de autorização efetuado em
conformidade com o parágrafo 2 do presente c) Terá devidamente em conta a necessidade de
Artigo. não prejudicar os interesses comerciais ou os
direitos do Estado do pavilhão ou de qualquer
5. O Estado do pavilhão pode, em conformi- outro Estado interessado;
dade com o Artigo 7 do presente Protocolo,
condicionar sua autorização a termos a serem d) Velará para que, na medida do possível,
Atos internacionais

acordados entre ele e o Estado requerente, in- quaisquer medidas tomadas em relação ao
clusive a condições relativas à responsabilidade navio sejam ecologicamente razoáveis.
e ao alcance das medidas efetivas a tomar. Um
Estado Parte não tomará medidas adicionais 2. Se os motivos das medidas tomadas em
sem a autorização expressa do Estado do pavi- conformidade com o Artigo 8 do presente
41
Protocolo se revelarem infundados, o navio será b) A identidade e os métodos de organizações
indenizado por qualquer eventual prejuízo ou ou grupos criminosos organizados dos quais
dano, desde que o navio não tenha praticado se tenha conhecimento ou suspeita de envolvi-
nenhum ato que tenha justificado a medida mento na prática de atos enunciados no Artigo
tomada. 6 do presente Protocolo;

3. Qualquer medida tomada, adotada ou aplica- c) A autenticidade e as características dos do-


da em conformidade com o presente capítulo, cumentos de viagem emitidos por um Estado
terá devidamente em conta a necessidade de Parte e o furto ou a utilização indevida de docu-
não prejudicar ou afetar: mentos de viagem ou de identidade em branco;

a) Os direitos e obrigações dos Estados costeiros d) Os meios e métodos de dissimulação e trans-


e o exercício da sua jurisdição em conformidade porte de pessoas, a modificação, a reprodução
com o direito internacional do mar; ou ou a aquisição ilícitas ou outra utilização inde-
vida de documentos de viagem ou de identida-
b) O poder do Estado do pavilhão de exercer de utilizados nos atos enunciados no Artigo 6
jurisdição e controle relativamente às questões do presente Protocolo e formas de detectá-los;
administrativas, técnicas e sociais relacionadas
com o navio. e) Elementos da experiência legislativa, bem
como práticas e medidas para prevenir e
4. Qualquer medida tomada no mar, em con- combater os atos enunciados no Artigo 6 do
formidade com o disposto no presente capítulo, presente Protocolo; e
será executada apenas por navios de guerra ou
aeronaves militares, ou por outros navios ou f) Questões científicas e tecnológicas úteis para
aeronaves devidamente autorizados para esse a investigação e a repressão, a fim de reforçar
efeito, que ostentem sinais claros e identificáveis mutuamente a capacidade de prevenir e detec-
de que estão a serviço do Estado. tar os atos enunciados no Artigo 6 do presente
Protocolo, conduzir investigações sobre esses
atos e processar os seus autores.
III. PREVENÇÃO, COOPERAÇÃO E
OUTRAS MEDIDAS 2. Um Estado Parte que tenha recebido infor-
mações respeitará qualquer pedido do Estado
ARTIGO 10 – Informação Parte que transmitiu essas informações, no
sentido de restringir a sua utilização.
1. Sem prejuízo do disposto nos Artigos 27 e 28
da Convenção, os Estados Partes, em especial ARTIGO 11 – Medidas nas Fronteiras
aqueles com fronteiras comuns ou situados em
itinerários utilizados para o tráfico de migran- 1. Sem prejuízo dos compromissos internacio-
tes, trocarão entre si, para lograr os objetivos do nais relativos à livre circulação de pessoas, os
presente Protocolo, e em conformidade com os Estados Partes reforçarão, na medida do pos-
respectivos sistemas jurídicos e administrativos sível os controlos fronteiriços que considerem
internos, informações pertinentes, tais como: necessários para prevenir e detectar o tráfico
ilícito de migrantes.
a) Os pontos de embarque e de destino, bem
Tráfico de Pessoas

como os itinerários, os transportadores e os 2. Cada Estado Parte adotará as medidas le-


meios de transporte, dos quais se tenha conhe- gislativas ou outras medidas apropriadas para
cimento ou suspeita de serem utilizados por um prevenir, na medida do possível, a utilização de
grupo criminoso organizado que pratique atos meios de transporte explorados por transporta-
enunciados no Artigo 6 do presente Protocolo; dores comerciais para a prática da infração es-
42
tabelecida em conformidade com a alínea a) do ARTIGO 13 – Legitimidade e Validade dos
parágrafo 1 do Artigo 6 do presente Protocolo. Documentos

3. Quando se considere apropriado, e sem pre- A pedido de outro Estado Parte, um Estado
juízo das convenções internacionais aplicáveis, Parte verificará, em conformidade com o seu
essas medidas consistirão, entre outras, na obri- direito interno e dentro de um prazo razoável,
gação dos transportadores comerciais, inclusive a legitimidade e validade dos documentos de
as empresas de transportes, os proprietários ou viagem ou de identidade emitidos ou presumi-
os operadores de qualquer meio de transporte, damente emitidos em seu nome e que suspeite
verificarem que todos os passageiros são porta- terem sido utilizados para a prática dos atos es-
dores dos documentos de viagem exigidos para tabelecidos no Artigo 6 do presente Protocolo.
a entrada no Estado de acolhimento.
ARTIGO 14 – Formação e Cooperação
4. Cada Estado Parte tomará as medidas ne- Técnica
cessárias, em conformidade com o seu direito
interno, para prever sanções nos casos de vio- 1. Os Estados Partes assegurarão ou refor-
lação da obrigação constante do parágrafo 3 do çarão a formação especializada dos agentes
presente Artigo. dos serviços de imigração e de outros agentes
competentes para a prevenção dos atos estabe-
5. Cada Estado Parte considerará a possibi- lecidos no Artigo 6 do presente Protocolo e o
lidade de tomar medidas que permitam, em tratamento humano dos migrantes que foram
conformidade com o seu direito interno, re- objeto desses atos, respeitando os direitos que
cusar a entrada ou anular os vistos de pessoas lhes são reconhecidos no presente Protocolo.
envolvidas na prática de infrações estabelecidas
em conformidade com o presente Protocolo. 2. Os Estados Partes cooperarão entre si e com
organizações internacionais, organizações
6. Sem prejuízo do disposto no Artigo 27 da não-governamentais, outras organizações
Convenção, os Estados Partes considerarão a competentes e outros elementos da sociedade
possibilidade de reforçar a cooperação entre civil, na medida do possível, para assegurar trei-
os serviços de controle de fronteiras, inclusive namento adequado do pessoal nos respectivos
mediante a criação e a manutenção de canais territórios com vistas a prevenir, combater e
de comunicação diretos. erradicar os atos estabelecidos no Artigo 6 do
presente Protocolo e proteger os direitos dos
ARTIGO 12 – Segurança e Controle de migrantes que foram objeto desses atos. Esse
Documentos treinamento incluirá:

Cada Estado Parte tomará as medidas necessá- a) A melhoria da segurança e da qualidade dos
rias, de acordo com os meios disponíveis para: documentos de viagem;

a) Assegurar a qualidade dos documentos de b) O reconhecimento e detecção de documen-


viagem ou de identidade que emitir, de forma tos de viagem e de identidade fraudulentos;
a que não sejam indevidamente utilizados nem
facilmente falsificados ou modificados, repro- c) A coleta de informações de caráter criminal,
duzidos ou emitidos de forma ilícita; e especialmente relacionada com a identificação
Atos internacionais

de grupos criminosos organizados dos quais se


b) Assegurar a integridade e a segurança dos tem conhecimento ou suspeita de envolvimento
documentos de viagem ou de identidade emi- na prática dos atos estabelecidos no Artigo 6
tidos pelo Estado Parte ou em seu nome e im- do presente Protocolo, os métodos utilizados
pedir a sua criação, emissão e utilização ilícitas. no transporte de migrantes objeto de tráfico, a
43
utilização indevida de documentos de viagem prestando especial atenção a zonas econômica e
ou de identidade para a prática dos atos estabe- socialmente desfavorecidas, de forma a comba-
lecidos no Artigo 6 e os meios de dissimulação ter as causas profundas do tráfico de migrantes,
utilizados no tráfico de migrantes; tais como a pobreza e o subdesenvolvimento.

d) A melhoria de procedimentos para a detec- ARTIGO 16 – Medidas de Proteção e de


ção de pessoas vítimas de tráfico nos pontos Assistência
de entrada e de saída tradicionais e não tra-
dicionais; e 1. Ao aplicar o presente Protocolo, cada Estado
Parte adotará, em conformidade com as obriga-
e) O tratamento humano de migrantes e a pro- ções que lhe incumbem nos termos do direito
teção dos direitos que lhes são reconhecidos no internacional, todas as medidas apropriadas,
presente Protocolo. incluindo as medidas legislativas que consi-
dere necessárias a fim de preservar e proteger
3. Os Estados Partes que tenham conhecimen- os direitos das pessoas que foram objeto dos
tos especializados relevantes considerarão a atos estabelecidos no Artigo 6 do presente
possibilidade de prestar assistência técnica aos Protocolo, que lhes são reconhecidos pelo di-
Estados que são freqüentemente países de ori- reito internacional aplicável, especialmente o
gem ou de trânsito de pessoas que foram objeto direito à vida e o direito a não ser submetido a
dos atos estabelecidos no Artigo 6 do presente tortura ou outras penas ou tratamentos cruéis,
Protocolo. Os Estados Partes envidarão esforços desumanos ou degradantes.
para fornecer os recursos necessários, tais como
veículos, sistemas de informática e leitores de 2. Cada Estado Parte tomará as medidas
documentos, para combater os atos estabeleci- apropriadas para conceder aos migrantes uma
dos no Artigo 6. proteção adequada contra a violência que lhes
possa ser infligida tanto por pessoas como por
ARTIGO 15 – Outras Medidas de Prevenção grupos, pelo fato de terem sido objeto dos atos
enunciados no Artigo 6 do presente Protocolo.
1. Cada Estado Parte tomará medidas desti-
nadas a instituir ou a reforçar programas de 3. Cada Estado Parte concederá uma assistência
informação para sensibilizar o público para adequada aos migrantes, cuja vida ou segu-
o fato de os atos enunciados no Artigo 6 do rança tenham sido postas em perigo pelo fato
presente Protocolo constituírem uma ativi- de terem sido objeto dos atos estabelecidos no
dade criminosa freqüentemente perpetrada Artigo 6 do presente Protocolo.
por grupos criminosos organizados com fins
lucrativos e que apresentam grande risco para 4. Ao aplicar as disposições do presente Artigo,
os migrantes em questão. os Estados Partes terão em conta as necessi-
dades específicas das mulheres e das crianças.
2. Em conformidade com o disposto no Artigo
31 da Convenção, os Estados Partes cooperarão 5. No caso de detenção de uma pessoa que foi
no domínio da informação a fim de impedir objeto dos atos estabelecidos no Artigo 6 do
que potenciais migrantes se tornem vítimas de presente Protocolo, cada Estado Parte dará
grupos criminosos organizados. cumprimento às obrigações que lhe incumbam
nos termos da Convenção de Viena sobre as
Tráfico de Pessoas

3. Cada Estado Parte promoverá ou reforçará, Relações Consulares, quando aplicável, in-
de forma apropriada, programas de desenvol- cluindo a obrigação de informar sem demora
vimento e cooperação em âmbito nacional, a pessoa em causa sobre as disposições relativas
regional e internacional, tendo em conta as à notificação e comunicação aos funcionários
realidades sócio-econômicas das migrações e consulares.
44
ARTIGO 17 – Acordos e Ajustes de viagem ou qualquer outra autorização que
considere necessária para permitir à pessoa
Os Estados Partes considerarão a possibilidade viajar e ser readmitida no seu território.
de celebrar acordos bilaterais ou regionais,
ajustes operacionais ou entendimentos com o 5. Cada Estado Parte envolvido no regresso
objetivo de: de uma pessoa que tenha sido objeto dos atos
enunciados no Artigo 6 do presente Protocolo
a) Estabelecer as medidas mais apropriadas e adotará todas as medidas apropriadas para
eficazes para prevenir e combater os atos enun- organizar esse regresso de forma ordenada e
ciados no Artigo 6 do presente Protocolo; ou tendo devidamente em conta a segurança e a
dignidade da pessoa.
b) Desenvolver entre si as disposições constan-
tes do presente Protocolo. 6. Os Estados Partes podem cooperar com
organizações internacionais competentes na
ARTIGO 18 – Regresso de Migrantes Objeto execução do presente Artigo.
do Tráfico
7. O disposto no presente Artigo não prejudica
1. Cada Estado Parte acorda em facilitar e qualquer direito reconhecido às pessoas, nos
aceitar, sem demora indevida ou injustificada, termos da legislação do Estado Parte de aco-
o regresso de uma pessoa que tenha sido objeto lhimento, que tenham sido objeto dos atos es-
dos atos estabelecido no Artigo 6 do presente tabelecidos no Artigo 6 do presente Protocolo.
Protocolo e que seja seu nacional ou que tenha
o direito de residência permanente no seu ter- 8. O presente Artigo não prejudica as obriga-
ritório no momento do regresso. ções decorrentes de qualquer outro tratado
bilateral ou multilateral aplicável ou qualquer
2. Cada Estado Parte considerará a possibilida- outro acordo operacional que regule, no todo
de de facilitar e aceitar, em conformidade com ou em parte, o regresso das pessoas que tenham
o seu direito interno, o regresso de uma pessoa sido objeto dos atos estabelecidos no Artigo 6
que tenha sido objeto de um ato estabelecido do presente Protocolo.
no Artigo 6 do presente Protocolo e que tinha
o direito de residência permanente no território
do Estado Parte no momento da sua entrada no DISPOSIÇÕES FINAIS
Estado de acolhimento.
ARTIGO 19 – Cláusula de Salvaguarda
3. A pedido do Estado Parte de acolhimento,
um Estado Parte requerido verificará, sem de- 1. Nenhuma disposição do presente Protocolo
mora indevida ou injustificada, se uma pessoa prejudicará outros direitos, obrigações e res-
que foi objeto dos atos enunciados no Artigo 6 ponsabilidades dos Estados e dos particulares
do presente Protocolo é nacional desse Estado nos termos do direito internacional, incluindo
Parte ou se tem o direito de residência perma- o direito internacional humanitário e o direito
nente no seu território. internacional relativo aos direitos humanos e,
em particular, quando aplicáveis, a Convenção
4. A fim de facilitar o regresso de uma pessoa de 1951 e o Protocolo de 1967 relativos ao
que tenha sido objeto dos atos enunciados no Estatuto do Refugiado e ao princípio do non-
Atos internacionais

Artigo 6 do presente Protocolo e não possui os -refoulement neles enunciado.


documentos devidos, o Estado Parte do qual
essa pessoa é nacional ou no qual tem direito de 2. As medidas constantes do presente Protocolo
residência permanente aceitará emitir, a pedido serão interpretadas e aplicadas de forma a que
do Estado Parte de acolhimento, os documentos as pessoas que tenham sido objeto dos atos
45
enunciados no Artigo 6 do presente Protocolo sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, até
não sejam discriminadas. A interpretação e 12 de dezembro de 2002.
aplicação das referidas medidas serão efetuadas
em conformidade com os princípios da não-dis- 2. O presente Protocolo será igualmente aberto
criminação internacionalmente reconhecidos. à assinatura de organizações regionais de inte-
gração econômica, desde que pelo menos um
ARTIGO 20 – Resolução de Controvérsias Estado membro dessa organização tenha assi-
nado o presente Protocolo em conformidade
1. Os Estados Partes envidarão esforços para com o parágrafo 1 do presente Artigo.
resolver os controvérsias relativos à interpre-
tação e à aplicação do presente Protocolo por 3. O presente Protocolo está sujeito a ratifica-
via negocial. ção, aceitação ou aprovação. Os instrumentos
de ratificação, aceitação ou aprovação serão
2. Qualquer controvérsia entre dois ou mais depositados junto do Secretário-Geral das
Estados Partes relativa à aplicação ou interpre- Nações Unidas. Uma organização regional de
tação do presente Protocolo que não possa ser integração econômica pode depositar o seu
resolvido pela via negocial dentro de um prazo instrumento de ratificação, de aceitação ou de
razoável será submetido, a pedido de um desses aprovação se pelo menos um dos seus Estados
Estados Partes, a arbitragem. Se, no prazo de membros o tiver feito. Nesse instrumento de
seis meses após a data do pedido de arbitragem, ratificação, de aceitação ou de aprovação essa
esses Estados Partes não chegarem a um acordo organização declarará o âmbito da sua compe-
sobre a organização da arbitragem, qualquer tência relativamente às matérias reguladas pelo
desses Estados Partes poderá submeter o litígio presente Protocolo. Informará igualmente o
ao Tribunal Internacional de Justiça, mediante depositário de qualquer modificação relevante
requerimento, em conformidade com o Esta- no âmbito da sua competência.
tuto do Tribunal.
4. O presente Protocolo está aberto à adesão
3. Cada Estado Parte pode, no momento da de qualquer Estado ou de qualquer organiza-
assinatura, da ratificação, da aceitação ou da ção regional de integração econômica da qual
aprovação do presente Protocolo ou adesão pelo menos um Estado membro seja Parte do
ao mesmo, declarar que não se considera vin- presente Protocolo. Os instrumentos de adesão
culado ao parágrafo 2 do presente Artigo. Os serão depositados junto do Secretário-Geral das
outros Estados Partes não ficarão vinculados Nações Unidas. No momento da sua adesão
ao parágrafo 2 do presente Artigo em relação uma organização regional de integração econô-
a qualquer outro Estado Parte que tenha for- mica declarará o âmbito da sua competência re-
mulado essa reserva. lativamente às questões reguladas pelo presente
Protocolo. Informará igualmente o depositário
4. Qualquer Estado Parte que tenha formulado de qualquer modificação relevante do âmbito
uma reserva nos termos do parágrafo 3 do da sua competência.
presente Artigo poderá, a qualquer momento,
retirar essa reserva através de notificação ao ARTIGO 22 – Entrada em Vigor
Secretário-Geral das Nações Unidas.
1. O presente Protocolo entrará em vigor no
ARTIGO 21 – Assinatura, Ratificação, nonagésimo dia seguinte à data do depósito do
Tráfico de Pessoas

Aceitação, Aprovação e Adesão quadragésimo instrumento de ratificação, de


aceitação, de aprovação ou de adesão, mas não
1. O presente Protocolo será aberto à assinatura entrará em vigor antes da entrada em vigor da
de todos os Estados de 12 a 15 de dezembro de Convenção. Para efeitos do presente parágra-
2000 em Palermo, Itália, e, posteriormente, na fo, nenhum instrumento depositado por uma
46
organização regional de integração econômica 4. Uma emenda adotada em conformidade com
será somado aos que foram depositados pelos o parágrafo 1 do presente Protocolo entrará em
Estados membros dessa organização. vigor em relação a um Estado Parte noventa
dias após a data do depósito do instrumento
2. Em relação a cada Estado ou organização de ratificação, de aceitação ou de aprovação da
regional de integração econômica que ratifique, referida emenda junto do Secretário-Geral das
aceite, aprove ou adira ao presente Protocolo Nações Unidas.
após o depósito do quadragésimo instrumento
pertinente, o presente Protocolo entrará em 5. A entrada em vigor de uma emenda vincula
vigor no trigésimo dia seguinte ao depósito todos os Estados Partes que tenham manifesta-
desse instrumento por parte do referido Estado do seu consentimento em vincular-se por essa
ou organização ou na data de entrada em vigor emenda. Os outros Estados Partes permanece-
do presente Protocolo, em conformidade com rão vinculados pelas disposições do presente
o parágrafo 1 do presente Artigo, se esta for Protocolo bem como por qualquer emenda an-
posterior. terior que tenham ratificado, aceito ou aprovado.

ARTIGO 23 – Emendas ARTIGO 24 – Denúncia

1. Cinco anos após a entrada em vigor do 1. Um Estado Parte pode denunciar o presente
presente Protocolo, um Estado Parte pode Protocolo mediante notificação por escrito
propor uma emenda e depositar o texto junto dirigida ao Secretário-Geral das Nações Uni-
do Secretário-Geral das Nações Unidas que, das. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano
em seguida, comunicará a emenda proposta após a data de recepção da notificação pelo
aos Estados Partes e à Conferência das Partes Secretário-Geral.
na Convenção, para analisar a proposta e tomar
uma decisão. Os Estados Partes no presente 2. Uma organização regional de integração
Protocolo, reunidos em Conferência das Partes, econômica deixará de ser Parte no presente Pro-
farão todos os esforços para chegarem a um tocolo quando todos os seus Estados membros
consenso sobre qualquer emenda. Se forem o tiverem denunciado.
esgotados todos os esforços sem que se tenha
chegado a um acordo, será necessário, em últi- ARTIGO 25 – Depositário e Línguas
mo caso, para que a emenda seja adotada, uma
maioria de dois terços dos votos expressos dos 1. O Secretário-Geral das Nações Unidas é o
Estados Partes no presente Protocolo presentes depositário do presente Protocolo.
na Conferência das Partes.
2. O original do presente Protocolo, cujos textos
2. As organizações regionais de integração em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e rus-
econômica, em matérias da sua competência, so são igualmente autênticos, será depositado
exercerão o seu direito de voto nos termos do junto do Secretário-Geral das Nações Unidas.
presente Artigo com um número de votos igual
ao número dos seus Estados membros que sejam EM FÉ DO QUE, os plenipotenciários abaixo
Partes no presente Protocolo. Essas organizações assinados, devidamente autorizados pelos
não exercerão o seu direito de voto se os seus respectivos governos, assinaram o presente
Estados membros exercerem o seu e vice-versa. Protocolo.
Atos internacionais

3. Uma emenda adotada em conformidade Aprovado pelo Decreto Legislativo n o 231 de


com o parágrafo 1 do presente Artigo estará 19/5/2013, publicado no DOU de 30/5/2003, e
sujeita a ratificação, aceitação ou aprovação promulgado pelo Decreto no 5.016 de 12/3/2004,
dos Estados Partes. publicado no DOU de 15/3/2004.
47
Protocolo Adicional à Convenção
das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional Relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do
Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres
e Crianças

PREÂMBULO global contra o crime organizado transnacional


e examinar a possibilidade de elaborar, desig-
Os Estados Partes deste Protocolo, nadamente, um instrumento internacional de
luta contra o tráfico de mulheres e de crianças.
DECLARANDO que uma ação eficaz para
prevenir e combater o tráfico de pessoas, em CONVENCIDOS de que para prevenir e
especial mulheres e crianças, exige por parte combater esse tipo de criminalidade será útil
dos países de origem, de trânsito e de destino completar a Convenção das Nações Unidas
uma abordagem global e internacional, que contra o Crime Organizado Transnacional
inclua medidas destinadas a prevenir esse trá- com um instrumento internacional destinado
fico, punir os traficantes e proteger as vítimas a prevenir, reprimir e punir o tráfico de pessoas,
desse tráfico, designadamente protegendo os em especial mulheres e crianças,
seus direitos fundamentais, internacionalmente
reconhecidos, ACORDARAM o seguinte:

TENDO em conta que, apesar da existência de I. DISPOSIÇÕES GERAIS


uma variedade de instrumentos internacionais
que contêm normas e medidas práticas para ARTIGO 1 – Relação com a Convenção das
combater a exploração de pessoas, especial- Nações Unidas Contra o Crime Organizado
mente mulheres e crianças, não existe nenhum Transnacional
instrumento universal que trate de todos os
aspectos relativos ao tráfico de pessoas, 1. O presente Protocolo completa a Convenção
das Nações Unidas contra o Crime Organizado
PREOCUPADOS com o fato de na ausência Transnacional e será interpretado em conjunto
desse instrumento, as pessoas vulneráveis ao com a Convenção.
tráfico não estarem suficientemente protegidas,
2. As disposições da Convenção aplicar-se-ão
Tráfico de Pessoas

RECORDANDO a Resolução 53/111 da Assem- mutatis mutandis ao presente Protocolo, salvo


bléia Geral, de 9 de dezembro de 1998, na qual se no mesmo se dispuser o contrário.
a Assembléia decidiu criar um comitê intergo-
vernamental especial, de composição aberta, 3. As infrações estabelecidas em conformidade
para elaborar uma convenção internacional com o Artigo 5 do presente Protocolo serão
48
consideradas como infrações estabelecidas em d) O termo “criança” significa qualquer pessoa
conformidade com a Convenção. com idade inferior a dezoito anos.

ARTIGO 2 – Objetivo ARTIGO 4 – Âmbito de Aplicação

Os objetivos do presente Protocolo são os O presente Protocolo aplicar-se-á, salvo dispo-


seguintes: sição em contrário, à prevenção, investigação
e repressão das infrações estabelecidas em
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, conformidade com o Artigo 5 do presente
prestando uma atenção especial às mulheres Protocolo, quando essas infrações forem de
e às crianças; natureza transnacional e envolverem grupo
criminoso organizado, bem como à proteção
b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, res- das vítimas dessas infrações.
peitando plenamente os seus direitos humanos; e
ARTIGO 5 – Criminalização
c) Promover a cooperação entre os Estados
Partes de forma a atingir esses objetivos. 1. Cada Estado Parte adotará as medidas legisla-
tivas e outras que considere necessárias de forma
ARTIGO 3 – Definições a estabelecer como infrações penais os atos des-
critos no Artigo 3 do presente Protocolo, quan-
Para efeitos do presente Protocolo: do tenham sido praticados intencionalmente.

a) A expressão “tráfico de pessoas” significa o re- 2. Cada Estado Parte adotará igualmente as me-
crutamento, o transporte, a transferência, o aloja- didas legislativas e outras que considere neces-
mento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo sárias para estabelecer como infrações penais:
à ameaça ou uso da força ou a outras formas de
coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais do
de autoridade ou à situação de vulnerabilidade seu sistema jurídico, a tentativa de cometer uma
ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou infração estabelecida em conformidade com o
benefícios para obter o consentimento de uma parágrafo 1 do presente Artigo;
pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins
de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, b) A participação como cúmplice numa in-
a exploração da prostituição de outrem ou outras fração estabelecida em conformidade com o
formas de exploração sexual, o trabalho ou servi- parágrafo 1 do presente Artigo; e
ços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos; c) Organizar a prática de uma infração esta-
belecida em conformidade com o parágrafo 1
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico do presente Artigo ou dar instruções a outras
de pessoas tendo em vista qualquer tipo de ex- pessoas para que a pratiquem.
ploração descrito na alínea a) do presente Artigo
será considerado irrelevante se tiver sido utiliza-
do qualquer um dos meios referidos na alínea a); II. PROTEÇÃO DE VÍTIMAS DE
TRÁFICO DE PESSOAS
c) O recrutamento, o transporte, a transfe-
Atos internacionais

rência, o alojamento ou o acolhimento de ARTIGO 6 – Assistência e Proteção às


uma criança para fins de exploração serão Vítimas de Tráfico de Pessoas
considerados “tráfico de pessoas” mesmo que
não envolvam nenhum dos meios referidos da 1. Nos casos em que se considere apropriado
alínea a) do presente Artigo; e na medida em que seja permitido pelo seu
49
direito interno, cada Estado Parte protegerá a de pessoas enquanto estas se encontrarem no
privacidade e a identidade das vítimas de tráfico seu território.
de pessoas, incluindo, entre outras (ou inter
alia), a confidencialidade dos procedimentos 6. Cada Estado Parte assegurará que o seu sis-
judiciais relativos a esse tráfico. tema jurídico contenha medidas que ofereçam
às vítimas de tráfico de pessoas a possibilidade
2. Cada Estado Parte assegurará que o seu de obterem indenização pelos danos sofridos.
sistema jurídico ou administrativo contenha
medidas que forneçam às vítimas de tráfico de ARTIGO 7 – Estatuto das Vítimas de Tráfico
pessoas, quando necessário: de Pessoas nos Estados de Acolhimento

a) Informação sobre procedimentos judiciais e 1. Além de adotar as medidas em conformidade


administrativos aplicáveis; com o Artigo 6 do presente Protocolo, cada
Estado Parte considerará a possibilidade de
b) Assistência para permitir que as suas opi- adotar medidas legislativas ou outras medidas
niões e preocupações sejam apresentadas e adequadas que permitam às vítimas de tráfico
tomadas em conta em fases adequadas do de pessoas permanecerem no seu território a
processo penal instaurado contra os autores das título temporário ou permanente, se for caso
infrações, sem prejuízo dos direitos da defesa. disso.

3. Cada Estado Parte terá em consideração a 2. Ao executar o disposto no parágrafo 1 do pre-


aplicação de medidas que permitam a recupe- sente Artigo, cada Estado Parte terá devidamen-
ração física, psicológica e social das vítimas de te em conta fatores humanitários e pessoais.
tráfico de pessoas, incluindo, se for caso disso,
em cooperação com organizações não-gover- ARTIGO 8 – Repatriamento das Vítimas de
namentais, outras organizações competentes Tráfico de Pessoas
e outros elementos de sociedade civil e, em
especial, o fornecimento de: 1. O Estado Parte do qual a vítima de tráfico
de pessoas é nacional ou no qual a pessoa
a) Alojamento adequado; tinha direito de residência permanente, no
momento de entrada no território do Estado
b) Aconselhamento e informação, especialmen- Parte de acolhimento, facilitará e aceitará, sem
te quanto aos direitos que a lei lhes reconhece, demora indevida ou injustificada, o regresso
numa língua que compreendam; dessa pessoa, tendo devidamente em conta a
segurança da mesma.
c) Assistência médica, psicológica e material; e
2. Quando um Estado Parte retornar uma víti-
d) Oportunidades de emprego, educação e ma de tráfico de pessoas a um Estado Parte do
formação. qual essa pessoa seja nacional ou no qual tinha
direito de residência permanente no momento
4. Cada Estado Parte terá em conta, ao aplicar de entrada no território do Estado Parte de
as disposições do presente Artigo, a idade, o acolhimento, esse regresso levará devidamente
sexo e as necessidades específicas das vítimas em conta a segurança da pessoa bem como a
de tráfico de pessoas, designadamente as ne- situação de qualquer processo judicial relacio-
Tráfico de Pessoas

cessidades específicas das crianças, incluindo o nado ao fato de tal pessoa ser uma vítima de
alojamento, a educação e cuidados adequados. tráfico, preferencialmente de forma voluntária.

5. Cada Estado Parte envidará esforços para 3. A pedido do Estado Parte de acolhimento,
garantir a segurança física das vítimas de tráfico um Estado Parte requerido verificará, sem de-
50
mora indevida ou injustificada, se uma vítima 3. As políticas, programas e outras medidas
de tráfico de pessoas é sua nacional ou se tinha estabelecidas em conformidade com o presente
direito de residência permanente no seu terri- Artigo incluirão, se necessário, a cooperação
tório no momento de entrada no território do com organizações não-governamentais, outras
Estado Parte de acolhimento. organizações relevantes e outros elementos da
sociedade civil.
4. De forma a facilitar o regresso de uma vítima
de tráfico de pessoas que não possua os docu- 4. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão
mentos devidos, o Estado Parte do qual essa as medidas, inclusive mediante a cooperação
pessoa é nacional ou no qual tinha direito de bilateral ou multilateral, para reduzir os fatores
residência permanente no momento de entrada como a pobreza, o subdesenvolvimento e a
no território do Estado Parte de acolhimento desigualdade de oportunidades que tornam as
aceitará emitir, a pedido do Estado Parte de aco- pessoas, especialmente as mulheres e as crian-
lhimento, os documentos de viagem ou outro ças, vulneráveis ao tráfico.
tipo de autorização necessária que permita à
pessoa viajar e ser readmitida no seu território. 5. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão
as medidas legislativas ou outras, tais como
5. O presente Artigo não prejudica os direitos medidas educacionais, sociais ou culturais,
reconhecidos às vítimas de tráfico de pessoas inclusive mediante a cooperação bilateral ou
por força de qualquer disposição do direito multilateral, a fim de desencorajar a procura
interno do Estado Parte de acolhimento. que fomenta todo o tipo de exploração de
pessoas, especialmente de mulheres e crianças,
6. O presente Artigo não prejudica qualquer conducentes ao tráfico.
acordo ou compromisso bilateral ou multilate-
ral aplicável que regule, no todo ou em parte, o ARTIGO 10 – Intercâmbio de Informações e
regresso de vítimas de tráfico de pessoas. Formação

1. As autoridades competentes para a aplica-


III. PREVENÇÃO, COOPERAÇÃO E ção da lei, os serviços de imigração ou outros
OUTRAS MEDIDAS serviços competentes dos Estados Partes,
cooperarão entre si, na medida do possível, me-
ARTIGO 9 – Prevenção doTráfico de diante troca de informações em conformidade
Pessoas com o respectivo direito interno, com vistas a
determinar:
1. Os Estados Partes estabelecerão políticas
abrangentes, programas e outras medidas para: a) Se as pessoas que atravessam ou tentam
atravessar uma fronteira internacional com
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e documentos de viagem pertencentes a terceiros
ou sem documentos de viagem são autores ou
b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, vítimas de tráfico de pessoas;
especialmente as mulheres e as crianças, de
nova vitimação. b) Os tipos de documentos de viagem que as
pessoas têm utilizado ou tentado utilizar para
2. Os Estados Partes envidarão esforços para atravessar uma fronteira internacional com o
Atos internacionais

tomarem medidas tais como pesquisas, cam- objetivo de tráfico de pessoas; e


panhas de informação e de difusão através dos
órgãos de comunicação, bem como iniciativas c) Os meios e métodos utilizados por grupos
sociais e econômicas de forma a prevenir e criminosos organizados com o objetivo de
combater o tráfico de pessoas. tráfico de pessoas, incluindo o recrutamento
51
e o transporte de vítimas, os itinerários e as de transporte, de certificar-se de que todos os
ligações entre as pessoas e os grupos envolvi- passageiros sejam portadores dos documentos
dos no referido tráfico, bem como as medidas de viagem exigidos para a entrada no Estado
adequadas à sua detecção. de acolhimento.

2. Os Estados Partes assegurarão ou reforçarão 4. Cada Estado Parte tomará as medidas


a formação dos agentes dos serviços compe- necessárias, em conformidade com o seu di-
tentes para a aplicação da lei, dos serviços de reito interno, para aplicar sanções em caso de
imigração ou de outros serviços competentes descumprimento da obrigação constante do
na prevenção do tráfico de pessoas. A formação parágrafo 3 do presente Artigo.
deve incidir sobre os métodos utilizados na
prevenção do referido tráfico, na ação penal 5. Cada Estado Parte considerará a possibi-
contra os traficantes e na proteção das vítimas, lidade de tomar medidas que permitam, em
inclusive protegendo-as dos traficantes. A conformidade com o direito interno, recusar a
formação deverá também ter em conta a ne- entrada ou anular os vistos de pessoas envol-
cessidade de considerar os direitos humanos vidas na prática de infrações estabelecidas em
e os problemas específicos das mulheres e das conformidade com o presente Protocolo.
crianças bem como encorajar a cooperação
com organizações não-governamentais, outras 6. Sem prejuízo do disposto no Artigo 27 da
organizações relevantes e outros elementos da Convenção, os Estados Partes procurarão
sociedade civil. intensificar a cooperação entre os serviços de
controle de fronteiras, mediante, entre outros,
3. Um Estado Parte que receba informações o estabelecimento e a manutenção de canais de
respeitará qualquer pedido do Estado Parte comunicação diretos.
que transmitiu essas informações, no sentido
de restringir sua utilização. ARTIGO 12 – Segurança e Controle dos
Documentos
ARTIGO 11 – Medidas nas Fronteiras
Cada Estado Parte adotará as medidas necessá-
1. Sem prejuízo dos compromissos interna- rias, de acordo com os meios disponíveis para:
cionais relativos à livre circulação de pessoas,
os Estados Partes reforçarão, na medida do a) Assegurar a qualidade dos documentos
possível, os controles fronteiriços necessários de viagem ou de identidade que emitir, para
para prevenir e detectar o tráfico de pessoas. que não sejam indevidamente utilizados nem
facilmente falsificados ou modificados, repro-
2. Cada Estado Parte adotará medidas legis- duzidos ou emitidos de forma ilícita; e
lativas ou outras medidas apropriadas para
prevenir, na medida do possível, a utilização b) Assegurar a integridade e a segurança dos
de meios de transporte explorados por trans- documentos de viagem ou de identidade por
portadores comerciais na prática de infrações si ou em seu nome emitidos e impedir a sua
estabelecidas em conformidade com o Artigo criação, emissão e utilização ilícitas.
5 do presente Protocolo.
ARTIGO 13 – Legitimidade e Validade dos
3. Quando se considere apropriado, e sem pre- Documentos
Tráfico de Pessoas

juízo das convenções internacionais aplicáveis,


tais medidas incluirão o estabelecimento da A pedido de outro Estado Parte, um Estado
obrigação para os transportadores comerciais, Parte verificará, em conformidade com o seu
incluindo qualquer empresa de transporte, direito interno e dentro de um prazo razoável,
proprietário ou operador de qualquer meio a legitimidade e validade dos documentos de
52
viagem ou de identidade emitidos ou supos- 3. Cada Estado Parte pode, no momento da
tamente emitidos em seu nome e de que se assinatura, da ratificação, da aceitação ou da
suspeita terem sido utilizados para o tráfico aprovação do presente Protocolo ou da adesão ao
de pessoas. mesmo, declarar que não se considera vinculado
ao parágrafo 2 do presente Artigo. Os demais
Estados Partes não ficarão vinculados ao pará-
IV. DISPOSIÇÕES FINAIS grafo 2 do presente Artigo em relação a qualquer
outro Estado Parte que tenha feito essa reserva.
ARTIGO 14 – Cláusula de Salvaguarda
4. Qualquer Estado Parte que tenha feito uma
1. Nenhuma disposição do presente Protocolo reserva em conformidade com o parágrafo 3
prejudicará os direitos, obrigações e respon- do presente Artigo pode, a qualquer momento,
sabilidades dos Estados e das pessoas por retirar essa reserva através de notificação ao
força do direito internacional, incluindo o Secretário-Geral das Nações Unidas.
direito internacional humanitário e o direito
internacional relativo aos direitos humanos e, ARTIGO 16 – Assinatura, Ratificação,
especificamente, na medida em que sejam apli- Aceitação, Aprovação e Adesão
cáveis, a Convenção de 1951 e o Protocolo de
1967 relativos ao Estatuto dos Refugiados e ao 1. O presente Protocolo será aberto à assinatura
princípio do non-refoulement neles enunciado. de todos os Estados de 12 a 15 de dezembro de
2000 em Palermo, Itália, e, em seguida, na sede
2. As medidas constantes do presente Protocolo da Organização das Nações Unidas em Nova
serão interpretadas e aplicadas de forma a que Iorque até 12 de dezembro de 2002.
as pessoas que foram vítimas de tráfico não se-
jam discriminadas. A interpretação e aplicação 2. O presente Protocolo será igualmente aberto
das referidas medidas estarão em conformidade à assinatura de organizações regionais de in-
com os princípios de não-discriminação inter- tegração econômica na condição de que pelo
nacionalmente reconhecidos. menos um Estado membro dessa organização
tenha assinado o presente Protocolo em confor-
ARTIGO 15 – Solução de Controvérsias midade com o parágrafo 1 do presente Artigo.

1. Os Estados Partes envidarão esforços para 3. O presente Protocolo está sujeito a ratifica-
resolver as controvérsias relativas à interpre- ção, aceitação ou aprovação. Os instrumentos
tação ou aplicação do presente Protocolo por de ratificação, de aceitação ou de aprovação
negociação direta. serão depositados junto ao Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas. Uma organi-
2. As controvérsias entre dois ou mais Estados zação regional de integração econômica pode
Partes com respeito à aplicação ou à interpre- depositar o seu instrumento de ratificação, de
tação do presente Protocolo que não possam aceitação ou de aprovação se pelo menos um
ser resolvidas por negociação, dentro de um dos seus Estados membros o tiver feito. Nesse
prazo razoável, serão submetidas, a pedido de instrumento de ratificação, de aceitação e de
um desses Estados Partes, a arbitragem. Se, no aprovação essa organização declarará o âmbito
prazo de seis meses após a data do pedido de da sua competência relativamente às matérias
arbitragem, esses Estados Partes não chegarem reguladas pelo presente Protocolo. Informará
Atos internacionais

a um acordo sobre a organização da arbitragem, igualmente o depositário de qualquer modifi-


qualquer desses Estados Partes poderá subme- cação relevante do âmbito da sua competência.
ter o diferendo ao Tribunal Internacional de
Justiça mediante requerimento, em conformi- 4. O presente Protocolo está aberto à adesão
dade com o Estatuto do Tribunal. de qualquer Estado ou de qualquer organiza-
53
ção regional de integração econômica da qual ços para chegar a um consenso forem esgotados
pelo menos um Estado membro seja Parte do e não se chegar a um acordo, será necessário, em
presente Protocolo. Os instrumentos de adesão último caso, para que a alteração seja aprovada,
serão depositados junto do Secretário-Geral das uma maioria de dois terços dos Estados Partes
Nações Unidas. No momento da sua adesão, no presente Protocolo, que estejam presentes e
uma organização regional de integração econô- expressem o seu voto na Conferência das Partes.
mica declarará o âmbito da sua competência re-
lativamente às matérias reguladas pelo presente 2. As organizações regionais de integração
Protocolo. Informará igualmente o depositário econômica, em matérias da sua competência,
de qualquer modificação relevante do âmbito exercerão o seu direito de voto nos termos
da sua competência. do presente Artigo com um número de votos
igual ao número dos seus Estados membros
ARTIGO 17 – Entrada em Vigor que sejam Partes no presente Protocolo. Essas
organizações não exercerão seu direito de voto
1. O presente Protocolo entrará em vigor no se seus Estados membros exercerem o seu e
nonagésimo dia seguinte à data do depósito vice-versa.
do quadragésimo instrumento de ratificação,
de aceitação, de aprovação ou de adesão mas 3. Uma emenda adotada em conformidade
não antes da entrada em vigor da Convenção. com o parágrafo 1 do presente Artigo estará
Para efeitos do presente número, nenhum sujeita a ratificação, aceitação ou aprovação
instrumento depositado por uma organização dos Estados Partes.
regional de integração econômica será soma-
do aos instrumentos depositados por Estados 4. Uma emenda adotada em conformidade com
membros dessa organização. o parágrafo 1 do presente Protocolo entrará
em vigor para um Estado Parte noventa dias
2. Para cada Estado ou organização regional após a data do depósito do instrumento de
de integração econômica que ratifique, aceite, ratificação, de aceitação ou de aprovação da
aprove ou adira ao presente Protocolo após o referida emenda junto ao Secretário-Geral das
depósito do quadragésimo instrumento perti- Nações Unidas.
nente, o presente Protocolo entrará em vigor no
trigésimo dia seguinte à data de depósito desse 5. A entrada em vigor de uma emenda vincula
instrumento por parte do Estado ou organiza- as Partes que manifestaram o seu consentimen-
ção ou na data de entrada em vigor do presente to em obrigar-se por essa alteração. Os outros
Protocolo, em conformidade com o parágrafo 1 Estados Partes permanecerão vinculados pelas
do presente Artigo, se esta for posterior. disposições do presente Protocolo, bem como
por qualquer alteração anterior que tenham
ARTIGO 18 – Emendas ratificado, aceito ou aprovado.

1. Cinco anos após a entrada em vigor do pre- ARTIGO 19 – Denúncia


sente Protocolo, um Estado Parte no Protocolo
pode propor emenda e depositar o texto junto 1. Um Estado Parte pode denunciar o presente
do Secretário-Geral das Nações Unidas, que Protocolo mediante notificação por escrito
em seguida comunicará a proposta de emenda dirigida ao Secretário-Geral das Nações Uni-
aos Estados Partes e à Conferência das Partes das. A denúncia tornar-se-á efetiva um ano
Tráfico de Pessoas

na Convenção para analisar a proposta e tomar após a data de recepção da notificação pelo
uma decisão. Os Estados Partes no presente Secretário-Geral.
Protocolo reunidos na Conferência das Partes
farão todos os esforços para chegar a um con- 2. Uma organização regional de integração
senso sobre qualquer emenda. Se todos os esfor- econômica deixará de ser Parte no presente Pro-
54
tocolo quando todos os seus Estados membros EM FÉ DO QUE, os plenipotenciários abaixo
o tiverem denunciado. assinados, devidamente autorizados pelos seus
respectivos Governos, assinaram o presente
ARTIGO 20 – Depositário e Idiomas Protocolo.

1. O Secretário-Geral das Nações Unidas é o Aprovado pelo Decreto Legislativo n o 231 de


depositário do presente Protocolo. 19/5/2003, publicado no DOU de 30/5/2003, e
promulgado pelo Decreto no 5.017 de 12/3/2004,
2. O original do presente Protocolo, cujos textos publicado no DOU de 15/3/2004.
em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e rus-
so são igualmente autênticos, será depositado
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.

Atos internacionais

55
Estatuto de Roma do Tribunal Penal
Internacional

PREÂMBULO dência política de qualquer Estado, ou de atuar


por qualquer outra forma incompatível com os
Os Estados Partes no presente Estatuto, Objetivos das Nações Unidas,

CONSCIENTES de que todos os povos estão SALIENTANDO, a este propósito, que nada no
unidos por laços comuns e de que suas cultu- presente Estatuto deverá ser entendido como
ras foram construídas sobre uma herança que autorizando qualquer Estado Parte a intervir
partilham, e preocupados com o fato deste em um conflito armado ou nos assuntos inter-
delicado mosaico poder vir a quebrar-se a nos de qualquer Estado,
qualquer instante,
DETERMINADOS em perseguir este objetivo
TENDO presente que, no decurso deste século, e no interesse das gerações presentes e vindou-
milhões de crianças, homens e mulheres têm ras, a criar um Tribunal Penal Internacional
sido vítimas de atrocidades inimagináveis com caráter permanente e independente, no
que chocam profundamente a consciência da âmbito do sistema das Nações Unidas, e com
humanidade, jurisdição sobre os crimes de maior gravidade
que afetem a comunidade internacional no
RECONHECENDO que crimes de uma tal seu conjunto,
gravidade constituem uma ameaça à paz, à
segurança e ao bem-estar da humanidade, SUBLINHANDO que o Tribunal Penal Inter-
nacional, criado pelo presente Estatuto, será
AFIRMANDO que os crimes de maior gravida- complementar às jurisdições penais nacionais,
de, que afetam a comunidade internacional no
seu conjunto, não devem ficar impunes e que a DECIDIDOS a garantir o respeito duradouro
sua repressão deve ser efetivamente assegurada pela efetivação da justiça internacional,
através da adoção de medidas em nível nacional
e do reforço da cooperação internacional, CONVIERAM no seguinte:

DECIDIDOS a pôr fim à impunidade dos au-


tores desses crimes e a contribuir assim para a CAPÍTULO I – Criação do Tribunal
prevenção de tais crimes,
ARTIGO 1o – O Tribunal
RELEMBRANDO que é dever de cada Estado
exercer a respectiva jurisdição penal sobre os É criado, pelo presente instrumento, um
responsáveis por crimes internacionais, Tribunal Penal Internacional (“o Tribunal”).
O Tribunal será uma instituição permanente,
Tráfico de Pessoas

REAFIRMANDO os Objetivos e Princípios com jurisdição sobre as pessoas responsáveis


consignados na Carta das Nações Unidas e, pelos crimes de maior gravidade com alcan-
em particular, que todos os Estados se devem ce internacional, de acordo com o presente
abster de recorrer à ameaça ou ao uso da força, Estatuto, e será complementar às jurisdições
contra a integridade territorial ou a indepen- penais nacionais. A competência e o funciona-
56
mento do Tribunal reger-se-ão pelo presente nidade internacional no seu conjunto. Nos
Estatuto. termos do presente Estatuto, o Tribunal terá
competência para julgar os seguintes crimes:

ARTIGO 2o – Relação do Tribunal com as a) O crime de genocídio;


Nações Unidas
b) Crimes contra a humanidade;
A relação entre o Tribunal e as Nações Unidas
será estabelecida através de um acordo a ser c) Crimes de guerra;
aprovado pela Assembléia dos Estados Partes
no presente Estatuto e, em seguida, concluído d) O crime de agressão.
pelo Presidente do Tribunal em nome deste.
2. O Tribunal poderá exercer a sua compe-
ARTIGO 3o – Sede do Tribunal tência em relação ao crime de agressão desde
que, nos termos dos artigos 121 e 123, seja
1. A sede do Tribunal será na Haia, Países Bai- aprovada uma disposição em que se defina
xos (“o Estado anfitrião”). o crime e se enunciem as condições em que
o Tribunal terá competência relativamente a
2. O Tribunal estabelecerá um acordo de sede este crime. Tal disposição deve ser compatível
com o Estado anfitrião, a ser aprovado pela As- com as disposições pertinentes da Carta das
sembléia dos Estados Partes e em seguida conclu- Nações Unidas.
ído pelo Presidente do Tribunal em nome deste. ...............................................................................

3. Sempre que entender conveniente, o Tribunal ARTIGO 7o – Crimes contra a Humanidade


poderá funcionar em outro local, nos termos
do presente Estatuto. 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-
-se por “crime contra a humanidade”, qualquer
ARTIGO 4o – Regime Jurídico e Poderes do um dos atos seguintes, quando cometido no
Tribunal quadro de um ataque, generalizado ou sistemá-
tico, contra qualquer população civil, havendo
1. O Tribunal terá personalidade jurídica inter- conhecimento desse ataque:
nacional. Possuirá, igualmente, a capacidade
jurídica necessária ao desempenho das suas a) Homicídio;
funções e à prossecução dos seus objetivos.
b) Extermínio;
2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e
funções nos termos do presente Estatuto, no ter- c) Escravidão;
ritório de qualquer Estado Parte e, por acordo
especial, no território de qualquer outro Estado. d) Deportação ou transferência forçada de uma
população;

CAPÍTULO II – Competência, e) Prisão ou outra forma de privação da li-


Admissibilidade e Direito Aplicável berdade física grave, em violação das normas
fundamentais de direito internacional;
Atos internacionais

ARTIGO 5o – Crimes da Competência do


Tribunal f) Tortura;

1. A competência do Tribunal restringir-se-á g) Agressão sexual, escravatura sexual, prosti-


aos crimes mais graves, que afetam a comu- tuição forçada, gravidez forçada, esterilização
57
forçada ou qualquer outra forma de violência legalmente, sem qualquer motivo reconhecido
no campo sexual de gravidade comparável; no direito internacional;

h) Perseguição de um grupo ou coletividade e) Por “tortura” entende-se o ato por meio do


que possa ser identificado, por motivos po- qual uma dor ou sofrimentos agudos, físicos ou
líticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, mentais, são intencionalmente causados a uma
religiosos ou de gênero, tal como definido no pessoa que esteja sob a custódia ou o controle
parágrafo 3o, ou em função de outros critérios do acusado; este termo não compreende a dor
universalmente reconhecidos como inaceitáveis ou os sofrimentos resultantes unicamente de
no direito internacional, relacionados com sanções legais, inerentes a essas sanções ou por
qualquer ato referido neste parágrafo ou com elas ocasionadas;
qualquer crime da competência do Tribunal;
f) Por “gravidez à força” entende-se a privação
i) Desaparecimento forçado de pessoas; ilegal de liberdade de uma mulher que foi en-
gravidada à força, com o propósito de alterar
j) Crime de apartheid; a composição étnica de uma população ou de
cometer outras violações graves do direito in-
k) Outros atos desumanos de caráter seme- ternacional. Esta definição não pode, de modo
lhante, que causem intencionalmente grande algum, ser interpretada como afetando as dis-
sofrimento, ou afetem gravemente a integridade posições de direito interno relativas à gravidez;
física ou a saúde física ou mental.
g) Por “perseguição’’ entende-se a privação in-
2. Para efeitos do parágrafo 1o: tencional e grave de direitos fundamentais em
violação do direito internacional, por motivos
a) Por “ataque contra uma população civil” relacionados com a identidade do grupo ou da
entende-se qualquer conduta que envolva a coletividade em causa;
prática múltipla de atos referidos no parágrafo
1o contra uma população civil, de acordo com h) Por “crime de apartheid” entende-se qual-
a política de um Estado ou de uma organiza- quer ato desumano análogo aos referidos no
ção de praticar esses atos ou tendo em vista a parágrafo 1o, praticado no contexto de um re-
prossecução dessa política; gime institucionalizado de opressão e domínio
sistemático de um grupo racial sobre um ou
b) O “extermínio” compreende a sujeição inten- outros grupos nacionais e com a intenção de
cional a condições de vida, tais como a privação manter esse regime;
do acesso a alimentos ou medicamentos, com
vista a causar a destruição de uma parte da i) Por “desaparecimento forçado de pessoas”
população; entende-se a detenção, a prisão ou o seqüestro
de pessoas por um Estado ou uma organização
c) Por “escravidão” entende-se o exercício, rela- política ou com a autorização, o apoio ou a
tivamente a uma pessoa, de um poder ou de um concordância destes, seguidos de recusa a reco-
conjunto de poderes que traduzam um direito nhecer tal estado de privação de liberdade ou a
de propriedade sobre uma pessoa, incluindo prestar qualquer informação sobre a situação ou
o exercício desse poder no âmbito do tráfico localização dessas pessoas, com o propósito de
de pessoas, em particular mulheres e crianças; lhes negar a proteção da lei por um prolongado
Tráfico de Pessoas

período de tempo.
d) Por “deportação ou transferência à força de
uma população” entende-se o deslocamento 3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se
forçado de pessoas, através da expulsão ou ou- que o termo “gênero” abrange os sexos masculi-
tro ato coercivo, da zona em que se encontram no e feminino, dentro do contexto da sociedade,
58
não lhe devendo ser atribuído qualquer outro só poderá exercer a sua competência em relação
significado. a crimes cometidos depois da entrada em vigor
............................................................................... do presente Estatuto relativamente a esse Estado,
a menos que este tenha feito uma declaração nos
ARTIGO 9o – Elementos Constitutivos dos termos do parágrafo 3o do artigo 12.
Crimes
ARTIGO 12 – Condições Prévias ao
1. Os elementos constitutivos dos crimes que Exercício da Jurisdição
auxiliarão o Tribunal a interpretar e a aplicar os
artigos 6o, 7o e 8o do presente Estatuto, deverão 1. O Estado que se torne Parte no presente
ser adotados por uma maioria de dois terços dos Estatuto, aceitará a jurisdição do Tribunal rela-
membros da Assembléia dos Estados Partes. tivamente aos crimes a que se refere o artigo 5o.

2. As alterações aos elementos constitutivos dos 2. Nos casos referidos nos parágrafos a) ou c)
crimes poderão ser propostas por: do artigo 13, o Tribunal poderá exercer a sua
jurisdição se um ou mais Estados a seguir iden-
a) Qualquer Estado Parte; tificados forem Partes no presente Estatuto ou
aceitarem a competência do Tribunal de acordo
b) Os juízes, através de deliberação tomada por com o disposto no parágrafo 3o:
maioria absoluta;
a) Estado em cujo território tenha tido lugar
c) O Procurador. a conduta em causa, ou, se o crime tiver sido
cometido a bordo de um navio ou de uma
As referidas alterações entram em vigor depois aeronave, o Estado de matrícula do navio ou
de aprovadas por uma maioria de dois terços aeronave;
dos membros da Assembléia dos Estados
Partes. b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem
é imputado um crime.
3. Os elementos constitutivos dos crimes e
respectivas alterações deverão ser compatí- 3. Se a aceitação da competência do Tribunal
veis com as disposições contidas no presente por um Estado que não seja Parte no presente
Estatuto. Estatuto for necessária nos termos do parágrafo
2o, pode o referido Estado, mediante declaração
ARTIGO 10 depositada junto do Secretário, consentir em
que o Tribunal exerça a sua competência em
Nada no presente capítulo deverá ser interpre- relação ao crime em questão. O Estado que tiver
tado como limitando ou afetando, de alguma aceito a competência do Tribunal colaborará
maneira, as normas existentes ou em desen- com este, sem qualquer demora ou exceção, de
volvimento de direito internacional com fins acordo com o disposto no Capítulo IX.
distintos dos do presente Estatuto.
ARTIGO 13 – Exercício da Jurisdição
ARTIGO 11 – Competência Ratione Temporis
O Tribunal poderá exercer a sua jurisdição
1. O Tribunal só terá competência relativamente em relação a qualquer um dos crimes a que se
Atos internacionais

aos crimes cometidos após a entrada em vigor refere o artigo 5o, de acordo com o disposto no
do presente Estatuto. presente Estatuto, se:

2. Se um Estado se tornar Parte no presente Esta- a) Um Estado Parte denunciar ao Procurador,


tuto depois da sua entrada em vigor, o Tribunal nos termos do artigo 14, qualquer situação em
59
que haja indícios de ter ocorrido a prática de da documentação de apoio que tiver reunido.
um ou vários desses crimes; As vítimas poderão apresentar representações
no Juízo de Instrução, de acordo com o Regu-
b) O Conselho de Segurança, agindo nos lamento Processual.
termos do Capítulo VII da Carta das Nações
Unidas, denunciar ao Procurador qualquer 4. Se, após examinar o pedido e a documen-
situação em que haja indícios de ter ocorrido tação que o acompanha, o Juízo de Instrução
a prática de um ou vários desses crimes; ou considerar que há fundamento suficiente para
abrir um Inquérito e que o caso parece caber
c) O Procurador tiver dado início a um inqué- na jurisdição do Tribunal, autorizará a abertura
rito sobre tal crime, nos termos do disposto do inquérito, sem prejuízo das decisões que
no artigo 15. o Tribunal vier a tomar posteriormente em
matéria de competência e de admissibilidade.
ARTIGO 14 – Denúncia por um Estado
Parte 5. A recusa do Juízo de Instrução em autorizar
a abertura do inquérito não impedirá o Procu-
1. Qualquer Estado Parte poderá denunciar ao rador de formular ulteriormente outro pedido
Procurador uma situação em que haja indícios com base em novos fatos ou provas respeitantes
de ter ocorrido a prática de um ou vários cri- à mesma situação.
mes da competência do Tribunal e solicitar ao
Procurador que a investigue, com vista a de- 6. Se, depois da análise preliminar a que se refe-
terminar se uma ou mais pessoas identificadas rem os parágrafos 1o e 2o, o Procurador concluir
deverão ser acusadas da prática desses crimes. que a informação apresentada não constitui
fundamento suficiente para um inquérito, o
2. O Estado que proceder à denúncia deverá, Procurador informará quem a tiver apresen-
tanto quanto possível, especificar as circuns- tado de tal entendimento. Tal não impede que
tâncias relevantes do caso e anexar toda a o Procurador examine, à luz de novos fatos
documentação de que disponha. ou provas, qualquer outra informação que lhe
venha a ser comunicada sobre o mesmo caso.
ARTIGO 15 – Procurador
ARTIGO 16 – Adiamento do Inquérito e do
1. O Procurador poderá, por sua própria inicia- Procedimento Criminal
tiva, abrir um inquérito com base em informa-
ções sobre a prática de crimes da competência Nenhum inquérito ou procedimento crime
do Tribunal. poderá ter início ou prosseguir os seus termos,
com base no presente Estatuto, por um período
2. O Procurador apreciará a seriedade da in- de doze meses a contar da data em que o Con-
formação recebida. Para tal, poderá recolher selho de Segurança assim o tiver solicitado em
informações suplementares junto aos Estados, resolução aprovada nos termos do disposto no
aos órgãos da Organização das Nações Unidas, Capítulo VII da Carta das Nações Unidas; o
às Organizações Intergovernamentais ou Não pedido poderá ser renovado pelo Conselho de
Governamentais ou outras fontes fidedignas que Segurança nas mesmas condições.
considere apropriadas, bem como recolher de-
poimentos escritos ou orais na sede do Tribunal. ARTIGO 17 – Questões Relativas à
Tráfico de Pessoas

Admissibilidade
3. Se concluir que existe fundamento sufi-
ciente para abrir um inquérito, o Procurador 1. Tendo em consideração o décimo parágrafo
apresentará um pedido de autorização nesse do Preâmbulo e o artigo 1o, o Tribunal decidirá
sentido ao Juízo de Instrução, acompanhado sobre a não admissibilidade de um caso se:
60
a) O caso for objeto de inquérito ou de proce- 3. A fim de determinar se há incapacidade
dimento criminal por parte de um Estado que de agir num determinado caso, o Tribunal
tenha jurisdição sobre o mesmo, salvo se este verificará se o Estado, por colapso total ou
não tiver vontade de levar a cabo o inquérito substancial da respectiva administração da
ou o procedimento ou, não tenha capacidade justiça ou por indisponibilidade desta, não
para o fazer; estará em condições de fazer comparecer
o acusado, de reunir os meios de prova e
b) O caso tiver sido objeto de inquérito por depoimentos necessários ou não estará, por
um Estado com jurisdição sobre ele e tal Es- outros motivos, em condições de concluir o
tado tenha decidido não dar seguimento ao processo.
procedimento criminal contra a pessoa em
causa, a menos que esta decisão resulte do fato ARTIGO 18 – Decisões Preliminares sobre
de esse Estado não ter vontade de proceder Admissibilidade
criminalmente ou da sua incapacidade real
para o fazer; 1. Se uma situação for denunciada ao Tribunal
nos termos do artigo 13, parágrafo a), e o Pro-
c) A pessoa em causa já tiver sido julgada pela curador determinar que existem fundamentos
conduta a que se refere a denúncia, e não puder para abrir um inquérito ou der início a um
ser julgada pelo Tribunal em virtude do dispos- inquérito de acordo com os artigos 13, pará-
to no parágrafo 3o do artigo 20; grafo c) e 15, deverá notificar todos os Estados
Partes e os Estados que, de acordo com a in-
d) O caso não for suficientemente grave para formação disponível, teriam jurisdição sobre
justificar a ulterior intervenção do Tribunal. esses crimes. O Procurador poderá proceder à
notificação a título confidencial e, sempre que
2. A fim de determinar se há ou não vontade de o considere necessário com vista a proteger
agir num determinado caso, o Tribunal, tendo pessoas, impedir a destruição de provas ou a
em consideração as garantias de um processo fuga de pessoas, poderá limitar o âmbito da
eqüitativo reconhecidas pelo direito interna- informação a transmitir aos Estados.
cional, verificará a existência de uma ou mais
das seguintes circunstâncias: 2. No prazo de um mês após a recepção da
referida notificação, qualquer Estado poderá
a) O processo ter sido instaurado ou estar informar o Tribunal de que está procedendo,
pendente ou a decisão ter sido proferida no ou já procedeu, a um inquérito sobre nacionais
Estado com o propósito de subtrair a pessoa seus ou outras pessoas sob a sua jurisdição,
em causa à sua responsabilidade criminal por por atos que possam constituir crimes a que se
crimes da competência do Tribunal, nos termos refere o artigo 5o e digam respeito à informação
do disposto no artigo 5o; constante na respectiva notificação. A pedido
desse Estado, o Procurador transferirá para ele
b) Ter havido demora injustificada no proces- o inquérito sobre essas pessoas, a menos que,
samento, a qual, dadas as circunstâncias, se a pedido do Procurador, o Juízo de Instrução
mostra incompatível com a intenção de fazer decida autorizar o inquérito.
responder a pessoa em causa perante a justiça;
3. A transferência do inquérito poderá ser
c) O processo não ter sido ou não estar sendo reexaminada pelo Procurador seis meses após
Atos internacionais

conduzido de maneira independente ou impar- a data em que tiver sido decidida ou, a todo o
cial, e ter estado ou estar sendo conduzido de momento, quando tenha ocorrido uma altera-
uma maneira que, dadas as circunstâncias, seja ção significativa de circunstâncias, decorrente
incompatível com a intenção de levar a pessoa da falta de vontade ou da incapacidade efetiva
em causa perante a justiça; do Estado de levar a cabo o inquérito.
61
4. O Estado interessado ou o Procurador pode- b) Um Estado que detenha o poder de jurisdi-
rão interpor recurso para o Juízo de Recursos da ção sobre um caso, pelo fato de o estar investi-
decisão proferida por um Juízo de Instrução, tal gando ou julgando, ou por já o ter feito antes; ou
como previsto no artigo 82. Este recurso poderá
seguir uma forma sumária. c) Um Estado cuja aceitação da competência
do Tribunal seja exigida, de acordo com o
5. Se o Procurador transferir o inquérito, nos artigo 12.
termos do parágrafo 2o, poderá solicitar ao
Estado interessado que o informe periodica- 3. O Procurador poderá solicitar ao Tribunal
mente do andamento do mesmo e de qualquer que se pronuncie sobre questões de jurisdição
outro procedimento subseqüente. Os Estados ou admissibilidade. Nas ações relativas a juris-
Partes responderão a estes pedidos sem atrasos dição ou admissibilidade, aqueles que tiverem
injustificados. denunciado um caso ao abrigo do artigo 13,
bem como as vítimas, poderão também apre-
6. O Procurador poderá, enquanto aguardar sentar as suas observações ao Tribunal.
uma decisão a proferir no Juízo de Instrução,
ou a todo o momento se tiver transferido o in- 4. A admissibilidade de um caso ou a juris-
quérito nos termos do presente artigo, solicitar dição do Tribunal só poderão ser impugna-
ao tribunal de instrução, a título excepcional, das uma única vez por qualquer pessoa ou
que o autorize a efetuar as investigações que Estado a que se faz referência no parágrafo
considere necessárias para preservar elementos 2o. A impugnação deverá ser feita antes do
de prova, quando exista uma oportunidade julgamento ou no seu início. Em circunstân-
única de obter provas relevantes ou um risco cias excepcionais, o Tribunal poderá autorizar
significativo de que essas provas possam não que a impugnação se faça mais de uma vez ou
estar disponíveis numa fase ulterior. depois do início do julgamento. As impug-
nações à admissibilidade de um caso feitas
7. O Estado que tenha recorrido de uma decisão no início do julgamento, ou posteriormente
do Juízo de Instrução nos termos do presente com a autorização do Tribunal, só poderão
artigo poderá impugnar a admissibilidade de fundamentar-se no disposto no parágrafo 1o,
um caso nos termos do artigo 19, invocando alínea c) do artigo 17.
fatos novos relevantes ou uma alteração signi-
ficativa de circunstâncias. 5. Os Estados a que se referem as alíneas b) e
c) do parágrafo 2o do presente artigo deverão
ARTIGO 19 – Impugnação da Jurisdição do deduzir impugnação logo que possível.
Tribunal ou da Admissibilidade do Caso
6. Antes da confirmação da acusação, a impug-
1. O Tribunal deverá certificar-se de que detém nação da admissibilidade de um caso ou da
jurisdição sobre todos os casos que lhe sejam jurisdição do Tribunal será submetida ao Juízo
submetidos. O Tribunal poderá pronunciar-se de Instrução e, após confirmação, ao Juízo de
de ofício sobre a admissibilidade do caso em Julgamento em Primeira Instância. Das deci-
conformidade com o artigo 17. sões relativas à jurisdição ou admissibilidade
caberá recurso para o Juízo de Recursos, de
2. Poderão impugnar a admissibilidade do caso, acordo com o artigo 82.
por um dos motivos referidos no artigo 17, ou
Tráfico de Pessoas

impugnar a jurisdição do Tribunal: 7. Se a impugnação for feita pelo Estado re-


ferido nas alíneas b) e c) do parágrafo 2o, o
a) O acusado ou a pessoa contra a qual tenha sido Procurador suspenderá o inquérito até que
emitido um mandado ou ordem de detenção ou o Tribunal decida em conformidade com o
de comparecimento, nos termos do artigo 58; artigo 17.
62
8. Enquanto aguardar uma decisão, o Procu- artigo 5o, relativamente ao qual já tenha sido
rador poderá solicitar ao Tribunal autorização condenada ou absolvida pelo Tribunal.
para:
3. O Tribunal não poderá julgar uma pessoa
a) Proceder às investigações necessárias previs- que já tenha sido julgada por outro tribunal,
tas no parágrafo 6o do artigo 18; por atos também punidos pelos artigos 6o, 7o
ou 8o, a menos que o processo nesse outro
b) Recolher declarações ou o depoimento de tribunal:
uma testemunha ou completar o recolhimento
e o exame das provas que tenha iniciado antes a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado
da impugnação; e à sua responsabilidade criminal por crimes da
competência do Tribunal; ou
c) Impedir, em colaboração com os Estados in-
teressados, a fuga de pessoas em relação às quais b) Não tenha sido conduzido de forma inde-
já tenha solicitado um mandado de detenção, pendente ou imparcial, em conformidade com
nos termos do artigo 58. as garantias de um processo eqüitativo reco-
nhecidas pelo direito internacional, ou tenha
9. A impugnação não afetará a validade de ne- sido conduzido de uma maneira que, no caso
nhum ato realizado pelo Procurador, nem de concreto, se revele incompatível com a intenção
nenhuma decisão ou mandado anteriormente de submeter a pessoa à ação da justiça.
emitido pelo Tribunal.
ARTIGO 21 – Direito Aplicável
10. Se o Tribunal tiver declarado que um caso
não é admissível, de acordo com o artigo 17, o 1. O Tribunal aplicará:
Procurador poderá pedir a revisão dessa deci-
são, após se ter certificado de que surgiram no- a) Em primeiro lugar, o presente Estatuto, os
vos fatos que invalidam os motivos pelos quais Elementos Constitutivos do Crime e o Regu-
o caso havia sido considerado inadmissível nos lamento Processual;
termos do artigo 17.
b) Em segundo lugar, se for o caso, os tratados e
11. Se o Procurador, tendo em consideração as os princípios e normas de direito internacional
questões referidas no artigo 17, decidir trans- aplicáveis, incluindo os princípios estabele-
ferir um inquérito, poderá pedir ao Estado em cidos no direito internacional dos conflitos
questão que o mantenha informado do segui- armados;
mento do processo. Esta informação deverá, se
esse Estado o solicitar, ser mantida confidencial. c) Na falta destes, os princípios gerais do di-
Se o Procurador decidir, posteriormente, abrir reito que o Tribunal retire do direito interno
um inquérito, comunicará a sua decisão ao dos diferentes sistemas jurídicos existentes,
Estado para o qual foi transferido o processo. incluindo, se for o caso, o direito interno dos
Estados que exerceriam normalmente a sua
ARTIGO 20 – Ne bis in idem jurisdição relativamente ao crime, sempre que
esses princípios não sejam incompatíveis com o
1. Salvo disposição contrária do presente Esta- presente Estatuto, com o direito internacional,
tuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada pelo nem com as normas e padrões internacional-
Atos internacionais

Tribunal por atos constitutivos de crimes pelos mente reconhecidos.


quais este já a tenha condenado ou absolvido.
2. O Tribunal poderá aplicar princípios e nor-
2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por mas de direito tal como já tenham sido por si
outro tribunal por um crime mencionado no interpretados em decisões anteriores.
63
3. A aplicação e interpretação do direito, nos aplicar-se-á o direito mais favorável à pessoa
termos do presente artigo, deverá ser compatível objeto de inquérito, acusada ou condenada.
com os direitos humanos internacionalmente
reconhecidos, sem discriminação alguma base- ARTIGO 25 – Responsabilidade Criminal
ada em motivos tais como o gênero, definido no Individual
parágrafo 3o do artigo 7o, a idade, a raça, a cor, a
religião ou o credo, a opinião política ou outra, 1. De acordo com o presente Estatuto, o Tribunal
a origem nacional, étnica ou social, a situação será competente para julgar as pessoas físicas.
econômica, o nascimento ou outra condição.
2. Quem cometer um crime da competência
do Tribunal será considerado individualmente
CAPÍTULO III – Princípios Gerais de responsável e poderá ser punido de acordo com
Direito Penal o presente Estatuto.

ARTIGO 22 – Nullum crimen sine lege 3. Nos termos do presente Estatuto, será con-
siderado criminalmente responsável e poderá
1. Nenhuma pessoa será considerada crimi- ser punido pela prática de um crime da com-
nalmente responsável, nos termos do presente petência do Tribunal quem:
Estatuto, a menos que a sua conduta constitua,
no momento em que tiver lugar, um crime da a) Cometer esse crime individualmente ou em
competência do Tribunal. conjunto ou por intermédio de outrem, quer essa
pessoa seja, ou não, criminalmente responsável;
2. A previsão de um crime será estabelecida de
forma precisa e não será permitido o recurso à b) Ordenar, solicitar ou instigar à prática desse
analogia. Em caso de ambigüidade, será inter- crime, sob forma consumada ou sob a forma
pretada a favor da pessoa objeto de inquérito, de tentativa;
acusada ou condenada.
c) Com o propósito de facilitar a prática desse
3. O disposto no presente artigo em nada afetará crime, for cúmplice ou encobridor, ou colaborar
a tipificação de uma conduta como crime nos de algum modo na prática ou na tentativa de
termos do direito internacional, independen- prática do crime, nomeadamente pelo forneci-
temente do presente Estatuto. mento dos meios para a sua prática;

ARTIGO 23 – Nulla poena sine lege d) Contribuir de alguma outra forma para a
prática ou tentativa de prática do crime por
Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só um grupo de pessoas que tenha um objetivo
poderá ser punida em conformidade com as comum. Esta contribuição deverá ser intencio-
disposições do presente Estatuto. nal e ocorrer, conforme o caso:

ARTIGO 24 – Não retroatividade ratione i) Com o propósito de levar a cabo a atividade


personae ou o objetivo criminal do grupo, quando um
ou outro impliquem a prática de um crime da
1. Nenhuma pessoa será considerada criminal- competência do Tribunal; ou
mente responsável, de acordo com o presente
Tráfico de Pessoas

Estatuto, por uma conduta anterior à entrada ii) Com o conhecimento da intenção do grupo
em vigor do presente Estatuto. de cometer o crime;

2. Se o direito aplicável a um caso for modi- e) No caso de crime de genocídio, incitar,


ficado antes de proferida sentença definitiva, direta e publicamente, à sua prática;
64
f) Tentar cometer o crime mediante atos que a) O chefe militar, ou a pessoa que atue efetiva-
contribuam substancialmente para a sua exe- mente como chefe militar, será criminalmente
cução, ainda que não se venha a consumar responsável por crimes da competência do
devido a circunstâncias alheias à sua vontade. Tribunal que tenham sido cometidos por forças
Porém, quem desistir da prática do crime, ou sob o seu comando e controle efetivos ou sob
impedir de outra forma que este se consuma, a sua autoridade e controle efetivos, conforme
não poderá ser punido em conformidade com o caso, pelo fato de não exercer um controle
o presente Estatuto pela tentativa, se renunciar apropriado sobre essas forças quando:
total e voluntariamente ao propósito delituoso.
i) Esse chefe militar ou essa pessoa tinha co-
4. O disposto no presente Estatuto sobre a res- nhecimento ou, em virtude das circunstâncias
ponsabilidade criminal das pessoas físicas em do momento, deveria ter tido conhecimento
nada afetará a responsabilidade do Estado, de de que essas forças estavam a cometer ou
acordo com o direito internacional. preparavam-se para cometer esses crimes; e

ARTIGO 26 – Exclusão da Jurisdição ii) Esse chefe militar ou essa pessoa não te-
Relativamente a Menores de 18 anos nha adotado todas as medidas necessárias e
adequadas ao seu alcance para prevenir ou
O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas reprimir a sua prática, ou para levar o assunto
que, à data da alegada prática do crime, não ao conhecimento das autoridades competen-
tenham ainda completado 18 anos de idade. tes, para efeitos de inquérito e procedimento
criminal.
ARTIGO 27 – Irrelevância da Qualidade
Oficial b) Nas relações entre superiores hierárquicos
e subordinados, não referidos na alínea a),
1. O presente Estatuto será aplicável de forma o superior hierárquico será criminalmente
igual a todas as pessoas sem distinção alguma responsável pelos crimes da competência
baseada na qualidade oficial. Em particular, a do Tribunal que tiverem sido cometidos por
qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Go- subordinados sob a sua autoridade e controle
verno, de membro de Governo ou do Parlamen- efetivos, pelo fato de não ter exercido um
to, de representante eleito ou de funcionário controle apropriado sobre esses subordinados,
público, em caso algum eximirá a pessoa em quando:
causa de responsabilidade criminal nos termos
do presente Estatuto, nem constituirá de per se a) O superior hierárquico teve conhecimento
motivo de redução da pena. ou deliberadamente não levou em consideração
a informação que indicava claramente que os
2. As imunidades ou normas de procedimento subordinados estavam a cometer ou se prepa-
especiais decorrentes da qualidade oficial de ravam para cometer esses crimes;
uma pessoa; nos termos do direito interno ou
do direito internacional, não deverão obstar a b) Esses crimes estavam relacionados com ati-
que o Tribunal exerça a sua jurisdição sobre vidades sob a sua responsabilidade e controle
essa pessoa. efetivos; e

ARTIGO 28 – Responsabilidade dos Chefes c) O superior hierárquico não adotou todas as


Atos internacionais

Militares e Outros Superiores Hierárquicos medidas necessárias e adequadas ao seu alcance


para prevenir ou reprimir a sua prática ou para
Além de outras fontes de responsabilidade levar o assunto ao conhecimento das autori-
criminal previstas no presente Estatuto, por dades competentes, para efeitos de inquérito e
crimes da competência do Tribunal: procedimento criminal.
65
ARTIGO 29 – Imprescritibilidade tureza da sua conduta, ou da capacidade para
controlar essa conduta a fim de não transgredir
Os crimes da competência do Tribunal não a lei, a menos que se tenha intoxicado volunta-
prescrevem. riamente em circunstâncias que lhe permitiam
ter conhecimento de que, em conseqüência da
ARTIGO 30 – Elementos Psicológicos intoxicação, poderia incorrer numa conduta
tipificada como crime da competência do Tri-
1. Salvo disposição em contrário, nenhuma bunal, ou, de que haveria o risco de tal suceder;
pessoa poderá ser criminalmente responsável e
punida por um crime da competência do Tribu- c) Agir em defesa própria ou de terceiro com
nal, a menos que atue com vontade de o cometer razoabilidade ou, em caso de crimes de guerra,
e conhecimento dos seus elementos materiais. em defesa de um bem que seja essencial para a
sua sobrevivência ou de terceiro ou de um bem
2. Para os efeitos do presente artigo, entende-se que seja essencial à realização de uma missão
que atua intencionalmente quem: militar, contra o uso iminente e ilegal da força,
de forma proporcional ao grau de perigo para
a) Relativamente a uma conduta, se propuser si, para terceiro ou para os bens protegidos.
adotá-la; O fato de participar em uma força que realize
uma operação de defesa não será causa bastante
b) Relativamente a um efeito do crime, se de exclusão de responsabilidade criminal, nos
propuser causá-lo ou estiver ciente de que ele termos desta alínea;
terá lugar em uma ordem normal dos aconte-
cimentos . d) Tiver incorrido numa conduta que presu-
mivelmente constitui crime da competência
3. Nos termos do presente artigo, entende-se do Tribunal, em conseqüência de coação de-
por “conhecimento” a consciência de que existe corrente de uma ameaça iminente de morte ou
uma circunstância ou de que um efeito irá ter ofensas corporais graves para si ou para outrem,
lugar, em uma ordem normal dos aconteci- e em que se veja compelida a atuar de forma
mentos. As expressões “ter conhecimento” e necessária e razoável para evitar essa ameaça,
“com conhecimento” deverão ser entendidas desde que não tenha a intenção de causar um
em conformidade. dano maior que aquele que se propunha evitar.
Essa ameaça tanto poderá:
ARTIGO 31 – Causas de Exclusão da
Responsabilidade Criminal i) Ter sido feita por outras pessoas; ou

Sem prejuízo de outros fundamentos para a ii) Ser constituída por outras circunstâncias
exclusão de responsabilidade criminal previs- alheias à sua vontade.
tos no presente Estatuto, não será considerada
criminalmente responsável a pessoa que, no 2. O Tribunal determinará se os fundamentos
momento da prática de determinada conduta: de exclusão da responsabilidade criminal pre-
vistos no presente Estatuto serão aplicáveis no
a) Sofrer de enfermidade ou deficiência men- caso em apreço.
tal que a prive da capacidade para avaliar a
ilicitude ou a natureza da sua conduta, ou da 3. No julgamento, o Tribunal poderá levar em
Tráfico de Pessoas

capacidade para controlar essa conduta a fim consideração outros fundamentos de exclusão
de não violar a lei; da responsabilidade criminal; distintos dos
referidos no parágrafo 1o, sempre que esses
b) Estiver em estado de intoxicação que a prive fundamentos resultem do direito aplicável em
da capacidade para avaliar a ilicitude ou a na- conformidade com o artigo 21. O processo de
66
exame de um fundamento de exclusão deste a) A Presidência;
tipo será definido no Regulamento Processual.
b) Uma Seção de Recursos, uma Seção de Jul-
ARTIGO 32 – Erro de Fato ou Erro de Direito gamento em Primeira Instância e uma Seção
de Instrução;
1. O erro de fato só excluirá a responsabilidade
criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime. c) O Gabinete do Procurador;

2. O erro de direito sobre se determinado tipo d) A Secretaria.


de conduta constitui crime da competência do
Tribunal não será considerado fundamento de ARTIGO 35 – Exercício das Funções de Juiz
exclusão de responsabilidade criminal. No en-
tanto, o erro de direito poderá ser considerado 1. Os juízes serão eleitos membros do Tribunal
fundamento de exclusão de responsabilidade para exercer funções em regime de exclusivi-
criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime dade e deverão estar disponíveis para desem-
ou se decorrer do artigo 33 do presente Estatuto. penhar o respectivo cargo desde o início do
seu mandato.
ARTIGO 33 – Decisão Hierárquica e
Disposições Legais 2. Os juízes que comporão a Presidência de-
sempenharão as suas funções em regime de
1. Quem tiver cometido um crime da compe- exclusividade desde a sua eleição.
tência do Tribunal, em cumprimento de uma
decisão emanada de um Governo ou de um 3. A Presidência poderá, em função do volume
superior hierárquico, quer seja militar ou civil, de trabalho do Tribunal, e após consulta dos
não será isento de responsabilidade criminal, seus membros, decidir periodicamente em que
a menos que: medida é que será necessário que os restantes
juízes desempenhem as suas funções em regime
a) Estivesse obrigado por lei a obedecer a de exclusividade. Estas decisões não prejudica-
decisões emanadas do Governo ou superior rão o disposto no artigo 40.
hierárquico em questão;
4. Os ajustes de ordem financeira relativos aos
b) Não tivesse conhecimento de que a decisão juízes que não tenham de exercer os respecti-
era ilegal; e vos cargos em regime de exclusividade serão
adotadas em conformidade com o disposto
c) A decisão não fosse manifestamente ilegal. no artigo 49.

2. Para os efeitos do presente artigo, qualquer ARTIGO 36 – Qualificações, Candidatura e


decisão de cometer genocídio ou crimes contra Eleição dos Juízes
a humanidade será considerada como manifes-
tamente ilegal. 1. Sob reserva do disposto no parágrafo 2o, o
Tribunal será composto por 18 juízes.

CAPÍTULO IV – Composição e 2. a) A Presidência, agindo em nome do Tribu-


Administração do Tribunal nal, poderá propor o aumento do número de
Atos internacionais

juízes referido no parágrafo 1o fundamentando


ARTIGO 34 – Órgãos do Tribunal as razões pelas quais considera necessária e
apropriada tal medida. O Secretário comu-
O Tribunal será composto pelos seguintes nicará imediatamente a proposta a todos os
órgãos: Estados Partes;
67
b) A proposta será seguidamente apreciada em profissões jurídicas com relevância para a
em sessão da Assembléia dos Estados Partes função judicial do Tribunal;
convocada nos termos do artigo 112 e deverá
ser considerada adotada se for aprovada na c) Os candidatos a juízes deverão possuir um
sessão por maioria de dois terços dos membros excelente conhecimento e serem fluentes em,
da Assembléia dos Estados Partes; a proposta pelo menos, uma das línguas de trabalho do
entrará em vigor na data fixada pela Assembléia Tribunal.
dos Estados Partes;
4. a) Qualquer Estado Parte no presente Esta-
c) i) Logo que seja aprovada a proposta de tuto poderá propor candidatos às eleições para
aumento do número de juízes, de acordo com juiz do Tribunal mediante:
o disposto na alínea b), a eleição dos juízes
adicionais terá lugar no período seguinte de i) O procedimento previsto para propor candi-
sessões da Assembléia dos Estados Partes, nos datos aos mais altos cargos judiciais do país; ou
termos dos parágrafos 3o a 8o do presente artigo
e do parágrafo 2o do artigo 37; ii) O procedimento previsto no Estatuto da
Corte Internacional de Justiça para propor
ii) Após a aprovação e a entrada em vigor de candidatos a esse Tribunal.
uma proposta de aumento do número de juízes,
de acordo com o disposto nas alíneas b) e c) As propostas de candidatura deverão ser
i), a Presidência poderá, a qualquer momento, acompanhadas de uma exposição detalhada
se o volume de trabalho do Tribunal assim o comprovativa de que o candidato possui os
justificar, propor que o número de juízes seja requisitos enunciados no parágrafo 3o;
reduzido, mas nunca para um número inferior
ao fixado no parágrafo 1o. A proposta será apre- b) Qualquer Estado Parte poderá apresentar
ciada de acordo com o procedimento definido uma candidatura de uma pessoa que não tenha
nas alíneas a) e b). Caso a proposta seja apro- necessariamente a sua nacionalidade, mas que
vada, o número de juízes será progressivamente seja nacional de um Estado Parte;
reduzido, à medida que expirem os mandatos e
até que se alcance o número previsto. c) A Assembléia dos Estados Partes poderá
decidir constituir, se apropriado, uma Comissão
3. a) Os juízes serão eleitos dentre pessoas de consultiva para o exame das candidaturas, neste
elevada idoneidade moral, imparcialidade e caso, a Assembléia dos Estados Partes determi-
integridade, que reunam os requisitos para o nará a composição e o mandato da Comissão.
exercício das mais altas funções judiciais nos
seus respectivos países. 5. Para efeitos da eleição, serão estabelecidas
duas listas de candidatos:
b) Os candidatos a juízes deverão possuir:
A lista A, com os nomes dos candidatos que
i) Reconhecida competência em direito penal reúnam os requisitos enunciados na alínea b)
e direito processual penal e a necessária expe- i) do parágrafo 3o; e
riência em processos penais na qualidade de
juiz, procurador, advogado ou outra função A lista B, com os nomes dos candidatos que
semelhante; ou reúnam os requisitos enunciados na alínea b)
Tráfico de Pessoas

ii) do parágrafo 3o.


ii) Reconhecida competência em matérias
relevantes de direito internacional, tais como O candidato que reúna os requisitos constantes
o direito internacional humanitário e os direi- de ambas as listas, poderá escolher em qual
tos humanos, assim como vasta experiência delas deseja figurar. Na primeira eleição de
68
membros do Tribunal, pelo menos nove juízes não poderão ser reeleitos, salvo o disposto na
serão eleitos entre os candidatos da lista A e alínea c) e no parágrafo 2o do artigo 37;
pelo menos cinco entre os candidatos da lista
B. As eleições subseqüentes serão organizadas b) Na primeira eleição, um terço dos juízes
por forma a que se mantenha no Tribunal uma eleitos será selecionado por sorteio para exercer
proporção equivalente de juízes de ambas as um mandato de três anos; outro terço será sele-
listas. cionado, também por sorteio, para exercer um
mandato de seis anos; e os restantes exercerão
6. a) Os juízes serão eleitos por escrutínio secre- um mandato de nove anos;
to, em sessão da Assembléia dos Estados Partes
convocada para esse efeito, nos termos do artigo c) Um juiz selecionado para exercer um man-
112. Sob reserva do disposto no parágrafo 7, dato de três anos, em conformidade com a
serão eleitos os 18 candidatos que obtenham o alínea b), poderá ser reeleito para um mandato
maior número de votos e uma maioria de dois completo.
terços dos Estados Partes presentes e votantes;
10. Não obstante o disposto no parágrafo 9, um
b) No caso em que da primeira votação não juiz afeto a um Juízo de Julgamento em Primei-
resulte eleito um número suficiente de juízes, ra Instância ou de Recurso, em conformidade
proceder-se-á a nova votação, de acordo com com o artigo 39, permanecerá em funções até
os procedimentos estabelecidos na alínea a), até à conclusão do julgamento ou do recurso dos
provimento dos lugares restantes. casos que tiver a seu cargo.

7. O Tribunal não poderá ter mais de um juiz ARTIGO 37 – Vagas


nacional do mesmo Estado. Para este efeito, a
pessoa que for considerada nacional de mais de 1. Caso ocorra uma vaga, realizar-se-á uma
um Estado será considerada nacional do Estado eleição para o seu provimento, de acordo com
onde exerce habitualmente os seus direitos civis o artigo 36.
e políticos.
2. O juiz eleito para prover uma vaga, concluirá
8. a) Na seleção dos juízes, os Estados Partes o mandato do seu antecessor e, se esse período
ponderarão sobre a necessidade de assegurar for igual ou inferior a três anos, poderá ser re-
que a composição do Tribunal inclua: eleito para um mandato completo, nos termos
do artigo 36.
i) A representação dos principais sistemas
jurídicos do mundo; ARTIGO 38 – A Presidência

ii) Uma representação geográfica eqüitativa; e 1. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente e


o Segundo Vice-Presidente serão eleitos por
iii) Uma representação justa de juízes do sexo maioria absoluta dos juízes. Cada um desem-
feminino e do sexo masculino; penhará o respectivo cargo por um período de
três anos ou até ao termo do seu mandato como
b) Os Estados Partes levarão igualmente em juiz, conforme o que expirar em primeiro lugar.
consideração a necessidade de assegurar a pre- Poderão ser reeleitos uma única vez.
sença de juízes especializados em determinadas
Atos internacionais

matérias incluindo, entre outras, a violência 2. O Primeiro Vice-Presidente substituirá o Pre-


contra mulheres ou crianças. sidente em caso de impossibilidade ou recusa
deste. O Segundo Vice-Presidente substituirá o
9. a) Salvo o disposto na alínea b), os juízes Presidente em caso de impedimento ou recusa
serão eleitos por um mandato de nove anos e deste ou do Primeiro Vice-Presidente.
69
3. O Presidente, o Primeiro Vice-Presidente em conformidade com o presente Estatuto e
e o Segundo Vice-Presidente constituirão a com o Regulamento Processual;
Presidência, que ficará encarregada:
c) Nada no presente número obstará a que se
a) Da adequada administração do Tribunal, constituam simultaneamente mais de um Juízo
com exceção do Gabinete do Procurador; e de Julgamento em Primeira Instância ou Juízo
de Instrução, sempre que a gestão eficiente do
b) Das restantes funções que lhe forem conferi- trabalho do Tribunal assim o exigir.
das de acordo com o presente Estatuto.
3. a) Os juízes adstritos às Seções de Julgamento
4. Embora eximindo-se da sua responsabilidade em Primeira Instância e de Instrução desempe-
nos termos do parágrafo 3o a), a Presidência nharão o cargo nessas Seções por um período
atuará em coordenação com o Gabinete do de três anos ou, decorrido esse período, até
Procurador e deverá obter a aprovação deste em à conclusão dos casos que lhes tenham sido
todos os assuntos de interesse comum. cometidos pela respectiva Seção;

ARTIGO 39 – Juízos b) Os juízes adstritos à Seção de Recursos


desempenharão o cargo nessa Seção durante
1. Após a eleição dos juízes e logo que possível, todo o seu mandato.
o Tribunal deverá organizar-se nas seções refe-
ridas no artigo 34 b). A Seção de Recursos será 4. Os juízes adstritos à Seção de Recursos de-
composta pelo Presidente e quatro juízes, a Seção sempenharão o cargo unicamente nessa Seção.
de Julgamento em Primeira Instância por, pelo Nada no presente artigo obstará a que sejam
menos, seis juízes e a Seção de Instrução por, adstritos temporariamente juízes da Seção de
pelo menos, seis juízes. Os juízes serão adstritos Julgamento em Primeira Instância à Seção de
às Seções de acordo com a natureza das funções Instrução, ou inversamente, se a Presidência
que corresponderem a cada um e com as respec- entender que a gestão eficiente do trabalho do
tivas qualificações e experiência, por forma a que Tribunal assim o exige; porém, o juiz que tenha
cada Seção disponha de um conjunto adequado participado na fase instrutória não poderá, em
de especialistas em direito penal e processual caso algum, fazer parte do Juízo de Julgamento
penal e em direito internacional. A Seção de em Primeira Instância encarregado do caso.
Julgamento em Primeira Instância e a Seção de
Instrução serão predominantemente compostas ARTIGO 40 – Independência dos Juízes
por juízes com experiência em processo penal.
1. Os juízes serão independentes no desempe-
2. a) As funções judiciais do Tribunal serão nho das suas funções.
desempenhadas em cada Seção pelos juízos.
2. Os juízes não desenvolverão qualquer ativi-
b) i) O Juízo de Recursos será composto por dade que possa ser incompatível com o exercí-
todos os juízes da Seção de Recursos; cio das suas funções judiciais ou prejudicar a
confiança na sua independência.
ii) As funções do Juízo de Julgamento em Pri-
meira Instância serão desempenhadas por três 3. Os juízes que devam desempenhar os seus
juízes da Seção de Julgamento em Primeira cargos em regime de exclusividade na sede
Tráfico de Pessoas

Instância; do Tribunal não poderão ter qualquer outra


ocupação de natureza profissional.
iii) As funções do Juízo de Instrução serão
desempenhadas por três juízes da Seção de 4. As questões relativas à aplicação dos parágra-
Instrução ou por um só juiz da referida Seção, fo 2o e 3o serão decididas por maioria absoluta
70
dos juízes. Nenhum juiz participará na decisão 2. O Gabinete do Procurador será presidido
de uma questão que lhe diga respeito. pelo Procurador, que terá plena autoridade para
dirigir e administrar o Gabinete do Procurador,
ARTIGO 41 – Impedimento e incluindo o pessoal, as instalações e outros re-
Desqualificação de Juízes cursos. O Procurador será coadjuvado por um
ou mais Procuradores-Adjuntos, que poderão
1. A Presidência poderá, a pedido de um juiz, desempenhar qualquer uma das funções que
declarar seu impedimento para o exercício de incumbam àquele, em conformidade com o
alguma das funções que lhe confere o presente disposto no presente Estatuto. O Procurador e
Estatuto, em conformidade com o Regulamento os Procuradores-Adjuntos terão nacionalidades
Processual. diferentes e desempenharão o respectivo cargo
em regime de exclusividade.
2. a) Nenhum juiz pode participar num caso
em que, por qualquer motivo, seja posta em 3. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos
dúvida a sua imparcialidade. Será desqua- deverão ter elevada idoneidade moral, elevado
lificado, em conformidade com o disposto nível de competência e vasta experiência prática
neste número, entre outras razões, se tiver em matéria de processo penal. Deverão possuir
intervindo anteriormente, a qualquer titulo, um excelente conhecimento e serem fluentes
em um caso submetido ao Tribunal ou em em, pelo menos, uma das línguas de trabalho
um procedimento criminal conexo em ní- do Tribunal.
vel nacional que envolva a pessoa objeto de
inquérito ou procedimento criminal. Pode 4. O Procurador será eleito por escrutínio
ser igualmente desqualificado por qualquer secreto e por maioria absoluta de votos dos
outro dos motivos definidos no Regulamento membros da Assembléia dos Estados Partes.
Processual; Os Procuradores-Adjuntos serão eleitos da
mesma forma, de entre uma lista de candidatos
b) O Procurador ou a pessoa objeto de inquérito apresentada pelo Procurador. O Procurador
ou procedimento criminal poderá solicitar a proporá três candidatos para cada cargo de
desqualificação de um juiz em virtude do dis- Procurador-Adjunto a prover. A menos que,
posto no presente número; ao tempo da eleição, seja fixado um período
mais curto, o Procurador e os Procuradores-
c) As questões relativas à desqualificação de -Adjuntos exercerão os respectivos cargos por
juízes serão decididas por maioria absoluta dos um período de nove anos e não poderão ser
juízes. O juiz cuja desqualificação for solicitada, reeleitos.
poderá pronunciar-se sobre a questão, mas não
poderá tomar parte na decisão. 5. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos
não deverão desenvolver qualquer atividade
ARTIGO 42 – O Gabinete do Procurador que possa interferir com o exercício das suas
funções ou afetar a confiança na sua indepen-
1. O Gabinete do Procurador atuará de forma dência e não poderão desempenhar qualquer
independente, enquanto órgão autônomo do outra função de caráter profissional.
Tribunal. Competir-lhe-á recolher comuni-
cações e qualquer outro tipo de informação, 6. A Presidência poderá, a pedido do Procura-
devidamente fundamentada, sobre crimes da dor ou de um Procurador-Adjunto, escusá-lo
Atos internacionais

competência do Tribunal, a fim de os examinar de intervir num determinado caso.


e investigar e de exercer a ação penal junto ao
Tribunal. Os membros do Gabinete do Procu- 7. O Procurador e os Procuradores-Adjuntos não
rador não solicitarão nem cumprirão ordens poderão participar em qualquer processo em
de fontes externas ao Tribunal. que, por qualquer motivo, a sua imparcialidade
71
possa ser posta em causa. Serão recusados, em consideração as recomendações da Assembléia
conformidade com o disposto no presente nú- dos Estados Partes. Se necessário, elegerão um
mero, entre outras razões, se tiverem intervindo Secretário-Adjunto, por recomendação do
anteriormente, a qualquer título, num caso sub- Secretário e pela mesma forma.
metido ao Tribunal ou num procedimento crime
conexo em nível nacional, que envolva a pessoa 5. O Secretário será eleito por um período de
objeto de inquérito ou procedimento criminal. cinco anos para exercer funções em regime
de exclusividade e só poderá ser reeleito uma
8. As questões relativas à recusa do Procurador vez. O Secretário-Adjunto será eleito por um
ou de um Procurador-Adjunto serão decididas período de cinco anos, ou por um período
pelo Juízo de Recursos. mais curto se assim o decidirem os juízes por
deliberação tomada por maioria absoluta, e
a) A pessoa objeto de inquérito ou proce- exercerá as suas funções de acordo com as
dimento criminal poderá solicitar, a todo o exigências de serviço.
momento, a recusa do Procurador ou de um
Procurador-Adjunto, pelos motivos previstos 6. O Secretário criará, no âmbito da Secretaria,
no presente artigo; uma Unidade de Apoio às Vítimas e Teste-
munhas. Esta Unidade, em conjunto com o
b) O Procurador ou o Procurador-Adjunto, Gabinete do Procurador, adotará medidas de
segundo o caso, poderão pronunciar-se sobre proteção e dispositivos de segurança e prestará
a questão. assessoria e outro tipo de assistência às teste-
munhas e vítimas que compareçam perante
9. O Procurador nomeará assessores jurídicos o Tribunal e a outras pessoas ameaçadas em
especializados em determinadas áreas incluin- virtude do testemunho prestado por aquelas.
do, entre outras, as da violência sexual ou vio- A Unidade incluirá pessoal especializado para
lência por motivos relacionados com a pertença atender as vítimas de traumas, nomeadamente
a um determinado gênero e da violência contra os relacionados com crimes de violência sexual.
as crianças.
ARTIGO 44 – O Pessoal
ARTIGO 43 – A Secretaria
1. O Procurador e o Secretário nomearão o pes-
1. A Secretaria será responsável pelos aspectos soal qualificado necessário aos respectivos ser-
não judiciais da administração e do funciona- viços, nomeadamente, no caso do Procurador,
mento do Tribunal, sem prejuízo das funções e o pessoal encarregado de efetuar diligências no
atribuições do Procurador definidas no artigo 42. âmbito do inquérito.

2. A Secretaria será dirigida pelo Secretário, 2. No tocante ao recrutamento de pessoal, o


principal responsável administrativo do Tri- Procurador e o Secretário assegurarão os mais
bunal. O Secretário exercerá as suas funções na altos padrões de eficiência, competência e
dependência do Presidente do Tribunal. integridade, tendo em consideração, mutatis
mutandis, os critérios estabelecidos no pará-
3. O Secretário e o Secretário-Adjunto deverão grafo 8 do artigo 36.
ser pessoas de elevada idoneidade moral e
possuir um elevado nível de competência e um 3. O Secretário, com o acordo da Presidência e
Tráfico de Pessoas

excelente conhecimento e domínio de, pelo me- do Procurador, proporá o Estatuto do Pessoal,
nos, uma das línguas de trabalho do Tribunal. que fixará as condições de nomeação, remu-
neração e cessação de funções do pessoal do
4. Os juízes elegerão o Secretário em escrutí- Tribunal. O Estatuto do Pessoal será aprovado
nio secreto, por maioria absoluta, tendo em pela Assembléia dos Estados Partes.
72
4. O Tribunal poderá, em circunstâncias excep- b) No caso do Procurador, por maioria absoluta
cionais, recorrer aos serviços de pessoal coloca- dos Estados Partes;
do à sua disposição, a título gratuito, pelos Es-
tados Partes, organizações intergovernamentais c) No caso de um Procurador-Adjunto, por
e organizações não governamentais, com vista maioria absoluta dos Estados Partes, com base
a colaborar com qualquer um dos órgãos do na recomendação do Procurador.
Tribunal. O Procurador poderá anuir a tal even-
tualidade em nome do Gabinete do Procurador. 3. A decisão relativa à cessação de funções do
A utilização do pessoal disponibilizado a título Secretário ou do Secretário-Adjunto, será ado-
gratuito ficará sujeita às diretivas estabelecidas tada por maioria absoluta de votos dos juízes.
pela Assembléia dos Estados Partes.
4. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-
ARTIGO 45 – Compromisso Solene -Adjuntos, o Secretário ou o Secretário-
-Adjunto, cuja conduta ou idoneidade para o
Antes de assumir as funções previstas no exercício das funções inerentes ao cargo em
presente Estatuto, os juízes, o Procurador, os conformidade com o presente Estatuto tiver
Procuradores-Adjuntos, o Secretário e o Se- sido contestada ao abrigo do presente artigo,
cretário-Adjunto declararão solenemente, em terão plena possibilidade de apresentar e obter
sessão pública, que exercerão as suas funções meios de prova e produzir alegações de acordo
imparcial e conscienciosamente. com o Regulamento Processual; não poderão,
no entanto, participar, de qualquer outra forma,
ARTIGO 46 – Cessação de Funções na apreciação do caso.

1. Um Juiz, o Procurador, um Procurador- ARTIGO 47 – Medidas Disciplinares


-Adjunto, o Secretário ou o Secretário-Adjunto
cessará as respectivas funções, por decisão Os juízes, o Procurador, os Procuradores-
adotada de acordo com o disposto no parágrafo -Adjuntos, o Secretário ou o Secretário-Adjunto
2o, nos casos em que: que tiverem cometido uma falta menos grave
que a prevista no parágrafo 1o do artigo 46
a) Se conclua que a pessoa em causa incorreu incorrerão em responsabilidade disciplinar nos
em falta grave ou incumprimento grave das termos do Regulamento Processual.
funções conferidas pelo presente Estatuto, de
acordo com o previsto no Regulamento Pro- ARTIGO 48 – Privilégios e Imunidades
cessual; ou
1. O Tribunal gozará, no território dos Esta-
b) A pessoa em causa se encontre impossibili- dos Partes, dos privilégios e imunidades que
tada de desempenhar as funções definidas no se mostrem necessários ao cumprimento das
presente Estatuto. suas funções.

2. A decisão relativa à cessação de funções de 2. Os juízes, o Procurador, os Procuradores-


um juiz, do Procurador ou de um Procurador- -Adjuntos e o Secretário gozarão, no exercício
-Adjunto, de acordo com o parágrafo 1o, será das suas funções ou em relação a estas, dos mes-
adotada pela Assembléia dos Estados Partes em mos privilégios e imunidades reconhecidos aos
escrutínio secreto: chefes das missões diplomáticas, continuando a
Atos internacionais

usufruir de absoluta imunidade judicial relati-


a) No caso de um juiz, por maioria de dois vamente às suas declarações, orais ou escritas,
terços dos Estados Partes, com base em reco- e aos atos que pratiquem no desempenho de
mendação adotada por maioria de dois terços funções oficiais após o termo do respectivo
dos restantes juízes; mandato.
73
3. O Secretário-Adjunto, o pessoal do Gabi- gulamento Processual, determinará quais as
nete do Procurador e o pessoal da Secretaria decisões que poderão ser consideradas como
gozarão dos mesmos privilégios e imunidades decisões sobre questões fundamentais, para os
e das facilidades necessárias ao cumprimento efeitos do presente parágrafo.
das respectivas funções, nos termos do acordo
sobre os privilégios e imunidades do Tribunal. 2. As línguas francesa e inglesa serão as línguas de
trabalho do Tribunal. O Regulamento Processual
4. Os advogados, peritos, testemunhas e outras definirá os casos em que outras línguas oficiais
pessoas, cuja presença seja requerida na sede poderão ser usadas como línguas de trabalho.
do Tribunal, beneficiarão do tratamento que se
mostre necessário ao funcionamento adequado 3. A pedido de qualquer Parte ou qualquer
deste, nos termos do acordo sobre os privilégios Estado que tenha sido admitido a intervir num
e imunidades do Tribunal. processo, o Tribunal autorizará o uso de uma
língua que não seja a francesa ou a inglesa, sem-
5. Os privilégios e imunidades poderão ser pre que considere que tal autorização se justifica.
levantados:
ARTIGO 51 – Regulamento Processual
a) No caso de um juiz ou do Procurador, por de-
cisão adotada por maioria absoluta dos juízes; 1. O Regulamento Processual entrará em vigor
mediante a sua aprovação por uma maioria de
b) No caso do Secretário, pela Presidência; dois terços dos votos dos membros da Assem-
bléia dos Estados Partes.
c) No caso dos Procuradores-Adjuntos e do pes-
soal do Gabinete do Procurador, pelo Procurador; 2. Poderão propor alterações ao Regulamento
Processual:
d) No caso do Secretário-Adjunto e do pessoal
da Secretaria, pelo Secretário. a) Qualquer Estado Parte;

ARTIGO 49 – Vencimentos, Subsídios e b) Os juízes, por maioria absoluta; ou


Despesas
c) O Procurador.
Os juízes, o Procurador, os Procuradores-
-Adjuntos, o Secretário e o Secretário-Adjunto Estas alterações entrarão em vigor mediante
auferirão os vencimentos e terão direito aos a aprovação por uma maioria de dois terços
subsídios e ao reembolso de despesas que fo- dos votos dos membros da Assembléia dos
rem estabelecidos em Assembléia dos Estados Estados partes.
Partes. Estes vencimentos e subsídios não serão
reduzidos no decurso do mandato. 3. Após a aprovação do Regulamento Processual,
em casos urgentes em que a situação concreta
ARTIGO 50 – Línguas Oficiais e Línguas de suscitada em Tribunal não se encontre prevista
Trabalho no Regulamento Processual, os juízes poderão,
por maioria de dois terços, estabelecer normas
1. As línguas árabe, chinesa, espanhola, fran- provisórias a serem aplicadas até que a Assem-
cesa, inglesa e russa serão as línguas oficiais do bléia dos Estados Partes as aprove, altere ou rejei-
Tráfico de Pessoas

Tribunal. As sentenças proferidas pelo Tribu- te na sessão ordinária ou extraordinária seguinte.


nal, bem como outras decisões sobre questões
fundamentais submetidas ao Tribunal, serão 4. O Regulamento Processual, e respectivas al-
publicadas nas línguas oficiais. A Presidência, terações, bem como quaisquer normas provisó-
de acordo com os critérios definidos no Re- rias, deverão estar em consonância com o pre-
74
sente Estatuto. As alterações ao Regulamento b) O caso é ou seria admissível nos termos do
Processual, assim como as normas provisórias artigo 17; e
aprovadas em conformidade com o parágrafo
3o, não serão aplicadas com caráter retroativo c) Tendo em consideração a gravidade do crime
em detrimento de qualquer pessoa que seja ob- e os interesses das vítimas, não existirão, contu-
jeto de inquérito ou de procedimento criminal, do, razões substanciais para crer que o inquérito
ou que tenha sido condenada. não serve os interesses da justiça.

5. Em caso de conflito entre as disposições do Se decidir que não há motivo razoável para
Estatuto e as do Regulamento Processual, o abrir um inquérito e se esta decisão se basear
Estatuto prevalecerá. unicamente no disposto na alínea c), o Procu-
rador informará o Juízo de Instrução.
ARTIGO 52 – Regimento do Tribunal
2. Se, concluído o inquérito, o Procurador
1. De acordo com o presente Estatuto e com o chegar à conclusão de que não há fundamento
Regulamento Processual, os juízes aprovarão, suficiente para proceder criminalmente, na
por maioria absoluta, o Regimento necessário medida em que:
ao normal funcionamento do Tribunal.
a) Não existam elementos suficientes, de fato
2. O Procurador e o Secretário serão consulta- ou de direito, para requerer a emissão de um
dos sobre a elaboração do Regimento ou sobre mandado de detenção ou notificação para com-
qualquer alteração que lhe seja introduzida. parência, de acordo com o artigo 58;

3. O Regimento do Tribunal e qualquer alte- b) O caso seja inadmissível, de acordo com o


ração posterior entrarão em vigor mediante a artigo 17; ou
sua aprovação, salvo decisão em contrário dos
juízes. Imediatamente após a adoção, serão cir- c) O procedimento não serviria o interesse da
culados pelos Estados Partes para observações e justiça, consideradas todas as circunstâncias, tais
continuarão em vigor se, dentro de seis meses, como a gravidade do crime, os interesses das
não forem formuladas objeções pela maioria vítimas e a idade ou o estado de saúde do presu-
dos Estados Partes. mível autor e o grau de participação no alegado
crime, comunicará a sua decisão, devidamente
fundamentada, ao Juízo de Instrução e ao Estado
CAPÍTULO V – Inquérito e Procedimento que lhe submeteu o caso, de acordo com o artigo
Criminal 14, ou ao Conselho de Segurança, se se tratar de
um caso previsto no parágrafo b) do artigo 13.
ARTIGO 53 – Abertura do Inquérito
3. a) A pedido do Estado que tiver submetido o
1. O Procurador, após examinar a informação caso, nos termos do artigo 14, ou do Conselho
de que dispõe, abrirá um inquérito, a menos que de Segurança, nos termos do parágrafo b) do
considere que, nos termos do presente Estatuto, artigo 13, o Juízo de Instrução poderá exami-
não existe fundamento razoável para proceder nar a decisão do Procurador de não proceder
ao mesmo. Na sua decisão, o Procurador terá criminalmente em conformidade com os pará-
em conta se: grafos 1o ou 2o e solicitar-lhe que reconsidere
Atos internacionais

essa decisão;
a) A informação de que dispõe constitui fun-
damento razoável para crer que foi, ou está b) Além disso, o Juízo de Instrução poderá, ofi-
sendo, cometido um crime da competência ciosamente, examinar a decisão do Procurador
do Tribunal; de não proceder criminalmente, se essa decisão
75
se basear unicamente no disposto no parágrafo 3. O Procurador poderá:
1o, alínea c), e no parágrafo 2o, alínea c). Nesse
caso, a decisão do Procurador só produzirá a) Reunir e examinar provas;
efeitos se confirmada pelo Juízo de Instrução.
b) Convocar e interrogar pessoas objeto de
4. O Procurador poderá, a todo o momento, inquérito e convocar e tomar o depoimento de
reconsiderar a sua decisão de abrir um inqué- vítimas e testemunhas;
rito ou proceder criminalmente, com base em
novos fatos ou novas informações. c) Procurar obter a cooperação de qualquer
Estado ou organização intergovernamental ou
ARTIGO 54 – Funções e Poderes do instrumento intergovernamental, de acordo
Procurador em Matéria de Inquérito com a respectiva competência e/ou mandato;

1. O Procurador deverá: d) Celebrar acordos ou convênios compatíveis


com o presente Estatuto, que se mostrem neces-
a) A fim de estabelecer a verdade dos fatos, sários para facilitar a cooperação de um Estado,
alargar o inquérito a todos os fatos e provas de uma organização intergovernamental ou de
pertinentes para a determinação da respon- uma pessoa;
sabilidade criminal, em conformidade com o
presente Estatuto e, para esse efeito, investigar, e) Concordar em não divulgar, em qualquer fase
de igual modo, as circunstâncias que interessam do processo, documentos ou informação que
quer à acusação, quer à defesa; tiver obtido, com a condição de preservar o seu
caráter confidencial e com o objetivo único de
b) Adotar as medidas adequadas para assegu- obter novas provas, a menos que quem tiver faci-
rar a eficácia do inquérito e do procedimento litado a informação consinta na sua divulgação; e
criminal relativamente aos crimes da jurisdição
do Tribunal e, na sua atuação, o Procurador f) Adotar ou requerer que se adotem as medidas
terá em conta os interesses e a situação pessoal necessárias para assegurar o caráter confiden-
das vítimas e testemunhas, incluindo a idade, cial da informação, a proteção de pessoas ou a
o gênero tal como definido no parágrafo 3o do preservação da prova.
artigo 7o, e o estado de saúde; terá igualmente
em conta a natureza do crime, em particular ARTIGO 55 – Direitos das Pessoas no
quando envolva violência sexual, violência Decurso do Inquérito
por motivos relacionados com a pertença a
um determinado gênero e violência contra as 1. No decurso de um inquérito aberto nos
crianças; e termos do presente Estatuto:

c) Respeitar plenamente os direitos conferidos a) Nenhuma pessoa poderá ser obrigada a de-
às pessoas pelo presente Estatuto. por contra si própria ou a declarar-se culpada;

2. O Procurador poderá realizar investigações b) Nenhuma pessoa poderá ser submetida a


no âmbito de um inquérito no território de qualquer forma de coação, intimidação ou
um Estado: ameaça, tortura ou outras formas de penas
ou tratamentos cruéis, desumanos ou degra-
Tráfico de Pessoas

a) De acordo com o disposto na Parte IX; ou dantes; e

b) Mediante autorização do Juízo de Instrução, c) Qualquer pessoa que for interrogada numa
dada nos termos do parágrafo 3o, alínea d), do língua que não compreenda ou não fale fluen-
artigo 57. temente, será assistida, gratuitamente, por um
76
intérprete competente e disporá das traduções entender necessárias para assegurar a eficácia e
que são necessárias às exigências de equidade; a integridade do processo e, em particular, para
proteger os direitos de defesa;
d) Nenhuma pessoa poderá ser presa ou de-
tida arbitrariamente, nem ser privada da sua c) Salvo decisão em contrário do Juízo de Ins-
liberdade, salvo pelos motivos previstos no trução, o Procurador transmitirá a informação
presente Estatuto e em conformidade com os relevante à pessoa que tenha sido detida, ou que
procedimentos nele estabelecidos. tenha comparecido na seqüência de notificação
emitida no âmbito do inquérito a que se refere
2. Sempre que existam motivos para crer que a alínea a), para que possa ser ouvida sobre a
uma pessoa cometeu um crime da competência matéria em causa.
do Tribunal e que deve ser interrogada pelo
Procurador ou pelas autoridades nacionais, em 2. As medidas a que se faz referência na alínea
virtude de um pedido feito em conformidade b) do parágrafo 1o poderão consistir em:
com o disposto na Parte IX do presente Estatuto,
essa pessoa será .informada, antes do interroga- a) Fazer recomendações ou proferir despachos
tório, de que goza ainda dos seguintes direitos: sobre o procedimento a seguir;

a) A ser informada antes de ser interrogada de b) Ordenar que seja lavrado o processo;
que existem indícios de que cometeu um crime
da competência do Tribunal; c) Nomear um perito;

b) A guardar silêncio, sem que tal seja tido em d) Autorizar o advogado de defesa do detido, ou
consideração para efeitos de determinação da de quem tiver comparecido no Tribunal na se-
sua culpa ou inocência; qüência de notificação, a participar no processo
ou, no caso dessa detenção ou comparecimento
c) A ser assistida por um advogado da sua não se ter ainda verificado ou não tiver ainda
escolha ou, se não o tiver, a solicitar que lhe sido designado advogado, a nomear outro
seja designado um defensor dativo, em todas defensor que se encarregará dos interesses da
as situações em que o interesse da justiça assim defesa e os representará;
o exija e sem qualquer encargo se não possuir
meios suficientes para lhe pagar; e e) Encarregar um dos seus membros ou, se neces-
sário, outro juiz disponível da Seção de Instrução
d) A ser interrogada na presença do seu advogado, ou da Seção de Julgamento em Primeira Ins-
a menos que tenha renunciado voluntariamente tância, de formular recomendações ou proferir
ao direito de ser assistida por um advogado. despachos sobre o recolhimento e a preservação
de meios de prova e a inquirição de pessoas;
ARTIGO 56 – Intervenção do Juízo de
Instrução em Caso de Oportunidade Única f) Adotar todas as medidas necessárias para
de Proceder a um Inquérito reunir ou preservar meios de prova.

1. a) Sempre que considere que um inquérito 3. a) Se o Procurador não tiver solicitado as


oferece uma oportunidade única de recolher de- medidas previstas no presente artigo mas o
poimentos ou declarações de uma testemunha ou Juízo de Instrução considerar que tais medidas
Atos internacionais

de examinar, reunir ou verificar provas, o Procu- serão necessárias para preservar meios de prova
rador comunicará esse fato ao Juízo de Instrução; que lhe pareçam essenciais para a defesa no
julgamento, o Juízo consultará o Procurador
b) Nesse caso, o Juízo de Instrução, a pedido a fim de saber se existem motivos poderosos
do Procurador, poderá adotar as medidas que para este não requerer as referidas medidas. Se,
77
após consulta, o Juízo concluir que a omissão proferir despachos, incluindo medidas tais
de requerimento de tais medidas é injustificada, como as indicadas no artigo 56, ou procurar
poderá adotar essas medidas de ofício. obter, nos termos do disposto na Parte IX, a
cooperação necessária para auxiliar essa pessoa
b) O Procurador poderá recorrer da decisão a preparar a sua defesa;
do Juízo de Instrução de ofício, nos termos
do presente número. O recurso seguirá uma c) Sempre que necessário, assegurar a proteção
forma sumária. e o respeito pela privacidade de vítimas e teste-
munhas, a preservação da prova, a proteção de
4. A admissibilidade dos meios de prova pre- pessoas detidas ou que tenham comparecido na
servados ou recolhidos para efeitos do processo seqüência de notificação para comparecimento,
ou o respectivo registro, em conformidade com assim como a proteção de informação que afete
o presente artigo, reger-se-ão, em julgamento, a segurança nacional;
pelo disposto no artigo 69, e terão o valor que
lhes for atribuído pelo Juízo de Julgamento em d) Autorizar o Procurador a adotar medidas
Primeira Instância. específicas no âmbito de um inquérito, no
território de um Estado Parte sem ter obtido
ARTIGO 57 – Funções e Poderes do Juízo de a cooperação deste nos termos do disposto na
Instrução Parte IX, caso o Juízo de Instrução determine
que, tendo em consideração, na medida do
1. Salvo disposição em contrário contida no possível, a posição do referido Estado, este
presente Estatuto, o Juízo de Instrução exer- último não está manifestamente em condições
cerá as suas funções em conformidade com o de satisfazer um pedido de cooperação face à
presente artigo. incapacidade de todas as autoridades ou órgãos
do seu sistema judiciário com competência
2. a) Para os despachos do Juízo de Instrução para dar seguimento a um pedido de coope-
proferidos ao abrigo dos artigos 15, 18, 19, ração formulado nos termos do disposto na
54, parágrafo 2o, 61, parágrafo 7, e 72, deve Parte IX.
concorrer maioria de votos dos juízes que o
compõem; e) Quando tiver emitido um mandado de
detenção ou uma notificação para compareci-
b) Em todos os outros casos, um único juiz do mento nos termos do artigo 58, e levando em
Juízo de Instrução poderá exercer as funções consideração o valor das provas e os direitos
definidas no presente Estatuto, salvo dispo- das partes em questão, em conformidade com
sição em contrário contida no Regulamento o disposto no presente Estatuto e no Regula-
Processual ou decisão em contrário do Juízo de mento Processual, procurar obter a cooperação
Instrução tomada por maioria de votos. dos Estados, nos termos do parágrafo 1o, alínea
k) do artigo 93, para adoção de medidas caute-
3. Independentemente das outras funções lares que visem à apreensão, em particular no
conferidas pelo presente Estatuto, o Juízo de interesse superior das vítimas.
Instrução poderá:
ARTIGO 58 – Mandado de Detenção e
a) A pedido do Procurador, proferir os des- Notificação para Comparecimento do Juízo
pachos e emitir os mandados que se revelem de Instrução
Tráfico de Pessoas

necessários para um inquérito;


1. A todo o momento após a abertura do inqué-
b) A pedido de qualquer pessoa que tenha sido rito, o Juízo de Instrução poderá, a pedido do
detida ou tenha comparecido na seqüência de Procurador, emitir um mandado de detenção
notificação expedida nos termos do artigo 58, contra uma pessoa se, após examinar o pedido
78
e as provas ou outras informações submetidas c) Uma descrição sucinta dos fatos que alega-
pelo Procurador, considerar que: damente constituem o crime.

a) Existem motivos suficientes para crer que 4. O mandado de detenção manter-se-á válido
essa pessoa cometeu um crime da competência até decisão em contrário do Tribunal.
do Tribunal; e
5. Com base no mandado de detenção, o Tri-
b) A detenção dessa pessoa se mostra neces- bunal poderá solicitar a prisão preventiva ou a
sária para: detenção e entrega da pessoa em conformidade
com o disposto na Parte IX do presente Estatuto.
i) Garantir o seu comparecimento em tribunal;
6. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de
ii) Garantir que não obstruirá, nem porá em Instrução que altere o mandado de detenção no
perigo, o inquérito ou a ação do Tribunal; ou sentido de requalificar os crimes aí indicados
ou de adicionar outros. O Juízo de Instrução
iii) Se for o caso, impedir que a pessoa continue alterará o mandado de detenção se considerar
a cometer esse crime ou um crime conexo que que existem motivos suficientes para crer que
seja da competência do Tribunal e tenha a sua a pessoa cometeu quer os crimes na forma que
origem nas mesmas circunstâncias. se indica nessa requalificação, quer os novos
crimes.
2. Do requerimento do Procurador deverão
constar os seguintes elementos: 7. O Procurador poderá solicitar ao Juízo de Ins-
trução que, em vez de um mandado de detenção,
a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro emita uma notificação para comparecimento.
elemento útil de identificação; Se o Juízo considerar que existem motivos sufi-
cientes para crer que a pessoa cometeu o crime
b) A referência precisa do crime da competên- que lhe é imputado e que uma notificação para
cia do Tribunal que a pessoa tenha presumivel- comparecimento será suficiente para garantir a
mente cometido; sua presença efetiva em tribunal, emitirá uma
notificação para que a pessoa compareça, com
c) Uma descrição sucinta dos fatos que alega- ou sem a imposição de medidas restritivas de
damente constituem o crime; liberdade (distintas da detenção) se previstas no
direito interno. Da notificação para compareci-
d) Um resumo das provas e de qualquer outra mento deverão constar os seguintes elementos:
informação que constitua motivo suficiente
para crer que a pessoa cometeu o crime; e a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro
elemento útil de identificação;
e) Os motivos pelos quais o Procurador considere
necessário proceder à detenção daquela pessoa. b) A data de comparecimento;

3. Do mandado de detenção deverão constar c) A referência precisa ao crime da competência


os seguintes elementos: do Tribunal que a pessoa alegadamente tenha
cometido; e
a) O nome da pessoa em causa e qualquer outro
Atos internacionais

elemento útil de identificação; d) Uma descrição sucinta dos fatos que alega-
damente constituem o crime.
b) A referência precisa do crime da compe-
tência do Tribunal que justifique o pedido de Esta notificação será diretamente feita à pessoa
detenção; e em causa.
79
ARTIGO 59 – Procedimento de Detenção no ções periódicas sobre a situação de liberdade
Estado da Detenção provisória.

1. O Estado Parte que receber um pedido de 7. Uma vez que o Estado da detenção tenha or-
prisão preventiva ou de detenção e entrega, denado a entrega, o detido será colocado, o mais
adotará imediatamente as medidas necessárias rapidamente possível, à disposição do Tribunal.
para proceder à detenção, em conformidade
com o respectivo direito interno e com o dis- ARTIGO 60 – Início da Fase Instrutória
posto na Parte IX.
1. Logo que uma pessoa seja entregue ao
2. O detido será imediatamente levado à pre- Tribunal ou nele compareça voluntariamente
sença da autoridade judiciária competente do em cumprimento de uma notificação para
Estado da detenção que determinará se, de comparecimento, o Juízo de Instrução deverá
acordo com a legislação desse Estado: assegurar-se de que essa pessoa foi informada
dos crimes que lhe são imputados e dos direitos
a) O mandado de detenção é aplicável à pessoa que o presente Estatuto lhe confere, incluindo
em causa; o direito de solicitar autorização para aguardar
o julgamento em liberdade.
b) A detenção foi executada de acordo com a lei;
2. A pessoa objeto de um mandado de detenção
c) Os direitos do detido foram respeitados, poderá solicitar autorização para aguardar jul-
gamento em liberdade. Se o Juízo de Instrução
3. O detido terá direito a solicitar à autoridade considerar verificadas as condições enunciadas
competente do Estado da detenção autorização no parágrafo 1o do artigo 58, a detenção será
para aguardar a sua entrega em liberdade. mantida. Caso contrário, a pessoa será posta
em liberdade, com ou sem condições.
4. Ao decidir sobre o pedido, a autoridade com-
petente do Estado da detenção determinará se, 3. O Juízo de Instrução reexaminará perio-
em face da gravidade dos crimes imputados, se dicamente a sua decisão quanto à liberdade
verificam circunstâncias urgentes e excepcionais provisória ou à detenção, podendo fazê-lo a
que justifiquem a liberdade provisória e se exis- todo o momento, a pedido do Procurador ou
tem as garantias necessárias para que o Estado de do interessado. Ao tempo da revisão, o Juízo po-
detenção possa cumprir a sua obrigação de en- derá modificar a sua decisão quanto à detenção,
tregar a pessoa ao Tribunal. Essa autoridade não à liberdade provisória ou às condições desta, se
terá competência para examinar se o mandado de considerar que a alteração das circunstâncias
detenção foi regularmente emitido, nos termos o justifica.
das alíneas a) e b) do parágrafo 1o do artigo 58.
4. O Juízo de Instrução certificar-se-á de que
5. O pedido de liberdade provisória será noti- a detenção não será prolongada por período
ficado ao Juízo de Instrução, o qual fará reco- não razoável devido a demora injustificada por
mendações à autoridade competente do Estado parte do Procurador. Caso se produza a referida
da detenção. Antes de tomar uma decisão, a demora, o Tribunal considerará a possibilidade
autoridade competente do Estado da detenção de por o interessado em liberdade, com ou sem
terá em conta essas recomendações, incluindo condições.
Tráfico de Pessoas

as relativas a medidas adequadas para impedir


a fuga da pessoa. 5. Se necessário, o Juízo de Instrução poderá
emitir um mandado de detenção para garantir
6. Se a liberdade provisória for concedida, o o comparecimento de uma pessoa que tenha
Juízo de Instrução poderá solicitar informa- sido posta em liberdade.
80
ARTIGO 61 – Apreciação da Acusação 4. Antes da audiência, o Procurador poderá
Antes do Julgamento reabrir o inquérito e alterar ou retirar parte dos
fatos constantes da acusação. O acusado será
1. Salvo o disposto no parágrafo 2 o, e em notificado de qualquer alteração ou retirada
um prazo razoável após a entrega da pessoa em tempo razoável, antes da realização da au-
ao Tribunal ou ao seu comparecimento vo- diência. No caso de retirada de parte dos fatos
luntário perante este, o Juízo de Instrução constantes da acusação, o Procurador informa-
realizará uma audiência para apreciar os fatos rá o Juízo de Instrução dos motivos da mesma.
constantes da acusação com base nos quais o
Procurador pretende requerer o julgamento. 5. Na audiência, o Procurador produzirá provas
A audiência ocorrerá lugar na presença do satisfatórias dos fatos constantes da acusação,
Procurador e do acusado, assim como do nos quais baseou a sua convicção de que o
defensor deste. acusado cometeu o crime que lhe é imputado.
O Procurador poderá basear-se em provas
2. O Juízo de Instrução, de ofício ou a pedido documentais ou um resumo das provas, não
do Procurador, poderá realizar a audiência na sendo obrigado a chamar as testemunhas que
ausência do acusado, a fim de apreciar os fatos irão depor no julgamento.
constantes da acusação com base nos quais o
Procurador pretende requerer o julgamento, 6. Na audiência, o acusado poderá:
se o acusado:
a) Contestar as acusações;
a) Tiver renunciado ao seu direito a estar pre-
sente; ou b) Impugnar as provas apresentadas pelo Pro-
curador; e
b) Tiver fugido ou não for possível encontrá-lo,
tendo sido tomadas todas as medidas razoáveis c) Apresentar provas.
para assegurar o seu comparecimento em Tri-
bunal e para o informar dos fatos constantes 7. Com base nos fatos apreciados durante a au-
da acusação e da realização de uma audiência diência, o Juízo de Instrução decidirá se existem
para apreciação dos mesmos. provas suficientes de que o acusado cometeu os
crimes que lhe são imputados. De acordo com
Neste caso, o acusado será representado por um essa decisão, o Juízo de Instrução:
defensor, se o Juízo de Instrução decidir que tal
servirá os interesses da justiça. a) Declarará procedente a acusação na parte re-
lativamente à qual considerou terem sido reuni-
3. Num prazo razoável antes da audiência, o das provas suficientes e remeterá o acusado para
acusado: o juízo de Julgamento em Primeira Instância, a
fim de aí ser julgado pelos fatos confirmados;
a) Receberá uma cópia do documento especi-
ficando os fatos constantes da acusação com b) Não declarará procedente a acusação na par-
base nos quais o Procurador pretende requerer te relativamente à qual considerou não terem
o julgamento; e sido reunidas provas suficientes;

b) Será informado das provas que o Procurador c) Adiará a audiência e solicitará ao Procurador
Atos internacionais

pretende apresentar em audiência. que considere a possibilidade de:

O Juízo de Instrução poderá proferir despacho i) Apresentar novas provas ou efetuar novo
sobre a divulgação de informação para efeitos inquérito relativamente a um determinado fato
da audiência. constante da acusação; ou
81
ii) Modificar parte da acusação, se as provas ARTIGO 63 – Presença do Acusado em
reunidas parecerem indicar que um crime Julgamento
distinto, da competência do Tribunal, foi co-
metido. 1. O acusado estará presente durante o julga-
mento.
8. A declaração de não procedência relativa-
mente a parte de uma acusação, proferida pelo 2. Se o acusado, presente em tribunal, per-
Juízo de Instrução, não obstará a que o Procu- turbar persistentemente a audiência, o Juízo
rador solicite novamente a sua apreciação, na de Julgamento em Primeira Instância poderá
condição de apresentar provas adicionais. ordenar a sua remoção da sala e providenciar
para que acompanhe o processo e dê instruções
9. Tendo os fatos constantes da acusação sido ao seu defensor a partir do exterior da mesma,
declarados procedentes, e antes do início do utilizando, se necessário, meios técnicos de
julgamento, o Procurador poderá, mediante comunicação. Estas medidas só serão adotadas
autorização do Juízo de Instrução e notifica- em circunstâncias excepcionais e pelo período
ção prévia do acusado, alterar alguns fatos estritamente necessário, após se terem esgotado
constantes da acusação. Se o Procurador pre- outras possibilidades razoáveis.
tender acrescentar novos fatos ou substituí-los
por outros de natureza mais grave, deverá, ARTIGO 64 – Funções e Poderes do Juízo de
nos termos do preserve artigo, requerer uma Julgamento em Primeira Instância
audiência para a respectiva apreciação. Após
o início do julgamento, o Procurador poderá 1. As funções e poderes do Juízo de Julgamento
retirar a acusação, com autorização do Juízo em Primeira Instância, enunciadas no presente
de Instrução. artigo, deverão ser exercidas em conformida-
de com o presente Estatuto e o Regulamento
10. Qualquer mandado emitido deixará de Processual.
ser válido relativamente aos fatos constantes
da acusação que tenham sido declarados não 2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância
procedentes pelo Juízo de Instrução ou que zelará para que o julgamento seja conduzido de
tenham sido retirados pelo Procurador. maneira eqüitativa e célere, com total respeito
dos direitos do acusado e tendo em devida
11. Tendo a acusação sido declarada proce- conta a proteção das vítimas e testemunhas.
dente nos termos do presente artigo, a Pre-
sidência designará um Juízo de Julgamento 3. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância
em Primeira Instância que, sob reserva do a que seja submetido um caso nos termos do
disposto no parágrafo 9 do presente artigo e presente Estatuto:
no parágrafo 4o do artigo 64, se encarregará
da fase seguinte do processo e poderá exercer a) Consultará as partes e adotará as medidas
as funções do Juízo de Instrução que se mos- necessárias para que o processo se desenrole
trem pertinentes e apropriadas nessa fase do de maneira eqüitativa e célere;
processo.
b) Determinará qual a língua, ou quais as lín-
guas, a utilizar no julgamento; e
CAPÍTULO VI – O Julgamento
Tráfico de Pessoas

c) Sob reserva de qualquer outra disposição


ARTIGO 62 – Local do Julgamento pertinente do presente Estatuto, providenciará
pela revelação de quaisquer documentos ou
Salvo decisão em contrário, o julgamento terá da informação que não tenha sido divulgada
lugar na sede do Tribunal. anteriormente, com suficiente antecedência
82
relativamente ao início do julgamento, a fim artigo 68 ou com vista a proteger informação
de permitir a sua preparação adequada para de caráter confidencial ou restrita que venha a
o julgamento. ser apresentada como prova.

4. O Juízo de Julgamento em Primeira Instân- 8. a) No início da audiência de julgamento, o


cia poderá, se mostrar necessário para o seu Juízo de Julgamento em Primeira Instância or-
funcionamento eficaz e imparcial, remeter denará a leitura ao acusado, dos fatos constantes
questões preliminares ao Juízo de Instrução da acusação previamente confirmados pelo
ou, se necessário, a um outro juiz disponível Juízo de Instrução. O Juízo de Julgamento em
da Seção de Instrução. Primeira Instância deverá certificar-se de que o
acusado compreende a natureza dos fatos que
5. Mediante notificação às partes, o Juízo de lhe são imputados e dar-lhe a oportunidade
Julgamento em Primeira Instância poderá, de os confessar, de acordo com o disposto no
conforme se lhe afigure mais adequado, ordenar artigo 65, ou de se declarar inocente;
que as acusações contra mais de um acusado
sejam deduzidas conjunta ou separadamente. b) Durante o julgamento, o juiz presidente
poderá dar instruções sobre a condução da au-
6. No desempenho das suas funções, antes ou no diência, nomeadamente para assegurar que esta
decurso de um julgamento, o Juízo de Julgamen- se desenrole de maneira eqüitativa e imparcial.
to em Primeira Instância poderá, se necessário: Salvo qualquer orientação do juiz presidente, as
partes poderão apresentar provas em conformi-
a) Exercer qualquer uma das funções do Juízo dade com as disposições do presente Estatuto.
de Instrução consignadas no parágrafo 11 do
artigo 61; 9. O Juízo de Julgamento em Primeira Instância
poderá, inclusive, de ofício ou a pedido de uma
b) Ordenar a comparência e a audição de tes- das partes, a saber:
temunhas e a apresentação de documentos e
outras provas, obtendo para tal, se necessário, a) Decidir sobre a admissibilidade ou pertinên-
o auxílio de outros Estados, conforme previsto cia das provas; e
no presente Estatuto;
b) Tomar todas as medidas necessárias para
c) Adotar medidas para a proteção da informa- manter a ordem na audiência.
ção confidencial;
10. O Juízo de Julgamento em Primeira Ins-
d) Ordenar a apresentação de provas adicionais tância providenciará para que o Secretário
às reunidas antes do julgamento ou às apresen- proceda a um registro completo da audiência
tadas no decurso do julgamento pelas partes; de julgamento onde sejam fielmente relatadas
todas as diligências efetuadas, registro que
e) Adotar medidas para a proteção do acusado, deverá manter e preservar.
testemunhas e vítimas; e
ARTIGO 65 – Procedimento em Caso de
f) Decidir sobre qualquer outra questão per- Confissão
tinente.
1. Se o acusado confessar nos termos do pa-
Atos internacionais

7. A audiência de julgamento será pública. No rágrafo 8, alínea a), do artigo 64, o Juízo de
entanto, o Juízo de Julgamento em Primeira Julgamento em Primeira Instância apurará:
Instância poderá decidir que determinadas
diligências se efetuem à porta fechada, em a) Se o acusado compreende a natureza e as
conformidade com os objetivos enunciados no conseqüências da sua confissão;
83
b) Se essa confissão foi feita livremente, após presente Estatuto, caso em que considerará a
devida consulta ao seu advogado de defesa; e confissão como não tendo tido lugar e poderá
transmitir o processo a outro Juízo de Julga-
c) Se a confissão é corroborada pelos fatos que mento em Primeira Instância.
resultam:
5. Quaisquer consultas entre o Procurador e a
i) Da acusação deduzida pelo Procurador e defesa, no que diz respeito à alteração dos fatos
aceita pelo acusado; constantes da acusação, à confissão ou à pena a
ser imposta, não vincularão o Tribunal.
ii) De quaisquer meios de prova que confirmam
os fatos constantes da acusação deduzida pelo ARTIGO 66 – Presunção de Inocência
Procurador e aceita pelo acusado; e
1. Toda a pessoa se presume inocente até prova
iii) De quaisquer outros meios de prova, tais da sua culpa perante o Tribunal, de acordo com
como depoimentos de testemunhas, apresen- o direito aplicável.
tados pelo Procurador ou pelo acusado.
2. Incumbe ao Procurador o ônus da prova da
2. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Ins- culpa do acusado.
tância estimar que estão reunidas as condições
referidas no parágrafo 1o, considerará que a 3. Para proferir sentença condenatória, o Tri-
confissão, juntamente com quaisquer provas bunal deve estar convencido de que o acusado
adicionais produzidas, constitui um reco- é culpado, além de qualquer dúvida razoável.
nhecimento de todos os elementos essenciais
constitutivos do crime pelo qual o acusado ARTIGO 67 – Direitos do Acusado
se declarou culpado e poderá condená-lo por
esse crime. 1. Durante a apreciação de quaisquer fatos
constantes da acusação, o acusado tem direito
3. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Ins- a ser ouvido em audiência pública, levando
tância estimar que não estão reunidas as con- em conta o disposto no presente Estatuto, a
dições referidas no parágrafo 1o, considerará a uma audiência conduzida de forma eqüitativa
confissão como não tendo tido lugar e, nesse e imparcial e às seguintes garantias mínimas,
caso, ordenará que o julgamento prossiga de em situação de plena igualdade:
acordo com o procedimento comum estipu-
lado no presente Estatuto, podendo transmitir a) A ser informado, sem demora e de forma
o processo a outro Juízo de Julgamento em detalhada, numa língua que compreenda e fale
Primeira Instância. fluentemente, da natureza, motivo e conteúdo
dos fatos que lhe são imputados;
4. Se o Juízo de Julgamento em Primeira Ins-
tância considerar necessária, no interesse da b) A dispor de tempo e de meios adequados
justiça, e em particular no interesse das vítimas, para a preparação da sua defesa e a comunicar-
uma explanação mais detalhada dos fatos inte- -se livre e confidencialmente com um defensor
grantes do caso, poderá: da sua escolha;

a) Solicitar ao Procurador que apresente provas c) A ser julgado sem atrasos indevidos;
Tráfico de Pessoas

adicionais, incluindo depoimentos de testemu-


nhas; ou d) Salvo o disposto no parágrafo 2o do artigo
63, o acusado terá direito a estar presente na
b) Ordenar que o processo prossiga de acordo audiência de julgamento e a defender-se a si
com o procedimento comum estipulado no próprio ou a ser assistido por um defensor da
84
sua escolha; se não o tiver, a ser informado do e psicológico, a dignidade e a vida privada das
direito de o tribunal lhe nomear um defensor vítimas e testemunhas. Para tal, o Tribunal
sempre que o interesse da justiça o exija, sendo levará em conta todos os fatores pertinentes,
tal assistência gratuita se o acusado carecer de incluindo a idade, o gênero tal como definido
meios suficientes para remunerar o defensor no parágrafo 3o do artigo 7o, e o estado de saúde,
assim nomeado; assim como a natureza do crime, em particular,
mas não apenas quando este envolva elementos
e) A inquirir ou a fazer inquirir as testemunhas de agressão sexual, de violência relacionada
de acusação e a obter o comparecimento das com a pertença a um determinado gênero ou
testemunhas de defesa e a inquirição destas de violência contra crianças. O Procurador
nas mesmas condições que as testemunhas de adotará estas medidas, nomeadamente du-
acusação. O acusado terá também direito a apre- rante o inquérito e o procedimento criminal.
sentar defesa e a oferecer qualquer outra prova Tais medidas não poderão prejudicar nem ser
admissível, de acordo com o presente Estatuto; incompatíveis com os direitos do acusado ou
com a realização de um julgamento eqüitativo
f) A ser assistido gratuitamente por um intér- e imparcial.
prete competente e a serem-lhe facultadas as
traduções necessárias que a equidade exija, se 2. Enquanto excepção ao princípio do caráter
não compreender perfeitamente ou não falar a público das audiências estabelecido no artigo
língua utilizada em qualquer ato processual ou 67, qualquer um dos Juízos que compõem o
documento produzido em tribunal; Tribunal poderá, a fim de proteger as vítimas
e as testemunhas ou o acusado, decretar que
g) A não ser obrigado a depor contra si próprio, um ato processual se realize, no todo ou em
nem a declarar-se culpado, e a guardar silêncio, parte, à porta fechada ou permitir a produção
sem que este seja levado em conta na determi- de prova por meios eletrônicos ou outros
nação da sua culpa ou inocência; meios especiais. Estas medidas aplicar-se-ão,
nomeadamente, no caso de uma vítima de
h) A prestar declarações não ajuramentadas, violência sexual ou de um menor que seja víti-
oralmente ou por escrito, em sua defesa; e ma ou testemunha, salvo decisão em contrário
adotada pelo Tribunal, ponderadas todas as
i) A que não lhe seja imposta quer a inversão circunstâncias, particularmente a opinião da
do ônus da prova, quer a impugnação. vítima ou da testemunha.

2. Além de qualquer outra revelação de infor- 3. Se os interesses pessoais das vítimas forem
mação prevista no presente Estatuto, o Procu- afetados, o Tribunal permitir-lhes-á que expres-
rador comunicará à defesa, logo que possível, sem as suas opiniões e preocupações em fase
as provas que tenha em seu poder ou sob o seu processual que entenda apropriada e por forma
controle e que, no seu entender, revelem ou a não prejudicar os direitos do acusado nem a
tendam a revelar a inocência do acusado, ou ser incompatível com estes ou com a realiza-
a atenuar a sua culpa, ou que possam afetar a ção de um julgamento eqüitativo e imparcial.
credibilidade das provas de acusação. Em caso Os representantes legais das vítimas poderão
de dúvida relativamente à aplicação do presente apresentar as referidas opiniões e preocupações
número, cabe ao Tribunal decidir. quando o Tribunal o considerar oportuno e em
conformidade com o Regulamento Processual.
Atos internacionais

ARTIGO 68 – Proteção das Vítimas e das


Testemunhas e sua Participação no Processo 4. A Unidade de Apoio às Vítimas e Teste-
munhas poderá aconselhar o Procurador e o
1. O Tribunal adotará as medidas adequadas Tribunal relativamente a medidas adequadas de
para garantir a segurança, o bem-estar físico proteção, mecanismos de segurança, assessoria
85
e assistência a que se faz referência no parágrafo 4. O Tribunal poderá decidir sobre a relevância
6 do artigo 43. ou admissibilidade de qualquer prova, tendo
em conta, entre outras coisas, o seu valor pro-
5. Quando a divulgação de provas ou de in- batório e qualquer prejuízo que possa acarretar
formação, de acordo com o presente Estatuto, para a realização de um julgamento eqüitativo
representar um grave perigo para a segurança ou para a avaliação eqüitativa dos depoimentos
de uma testemunha ou da sua família, o Procu- de uma testemunha, em conformidade com o
rador poderá, para efeitos de qualquer diligên- Regulamento Processual.
cia anterior ao julgamento, não apresentar as
referidas provas ou informação, mas antes um 5. O Tribunal respeitará e atenderá aos privi-
resumo das mesmas. As medidas desta natureza légios de confidencialidade estabelecidos no
deverão ser postas em prática de uma forma que Regulamento Processual.
não seja prejudicial aos direitos do acusado ou
incompatível com estes e com a realização de 6. O Tribunal não exigirá prova dos fatos do
um julgamento eqüitativo e imparcial. domínio público, mas poderá fazê-los constar
dos autos.
6. Qualquer Estado poderá solicitar que sejam
tomadas as medidas necessárias para assegurar 7. Não serão admissíveis as provas obtidas com
a proteção dos seus funcionários ou agentes, violação do presente Estatuto ou das normas de
bem como a proteção de toda a informação de direitos humanos internacionalmente reconhe-
caráter confidencial ou restrito. cidas quando:

ARTIGO 69 – Prova a) Essa violação suscite sérias dúvidas sobre a


fiabilidade das provas; ou
1. Em conformidade com o Regulamento Pro-
cessual e antes de depor, qualquer testemunha b) A sua admissão atente contra a integridade
se comprometerá a fazer o seu depoimento do processo ou resulte em grave prejuízo deste.
com verdade.
8. O Tribunal, ao decidir sobre a relevância ou
2. A prova testemunhal deverá ser prestada pela admissibilidade das provas apresentadas por
própria pessoa no decurso do julgamento, salvo um Estado, não poderá pronunciar-se sobre a
quando se apliquem as medidas estabelecidas aplicação do direito interno desse Estado.
no artigo 68 ou no Regulamento Processual.
De igual modo, o Tribunal poderá permitir que ARTIGO 70 – Infrações contra a
uma testemunha preste declarações oralmente Administração da Justiça
ou por meio de gravação em vídeo ou áudio,
ou que sejam apresentados documentos ou 1. O Tribunal terá competência para conhecer das
transcrições escritas, nos termos do presente seguintes infrações contra a sua administração
Estatuto e de acordo com o Regulamento Pro- da justiça, quando cometidas intencionalmente:
cessual. Estas medidas não poderão prejudicar
os direitos do acusado, nem ser incompatíveis a) Prestação de falso testemunho, quando há a
com eles. obrigação de dizer a verdade, de acordo com o
parágrafo 1o do artigo 69;
3. As partes poderão apresentar provas que
Tráfico de Pessoas

interessem ao caso, nos termos do artigo 64. b) Apresentação de provas, tendo a parte conheci-
O Tribunal será competente para solicitar de mento de que são falsas ou que foram falsificadas;
ofício a produção de todas as provas que enten-
der necessárias para determinar a veracidade c) Suborno de uma testemunha, impedimento
dos fatos. ou interferência no seu comparecimento ou de-
86
poimento, represálias contra uma testemunha ARTIGO 71 – Sanções por Desrespeito ao
por esta ter prestado depoimento, destruição Tribunal
ou alteração de provas ou interferência nas
diligências de obtenção de prova; 1. Em caso de atitudes de desrespeito ao
Tribunal, tal como perturbar a audiência ou
d) Entrave, intimidação ou corrupção de um recusar-se deliberadamente a cumprir as suas
funcionário do Tribunal, com a finalidade de instruções, o Tribunal poderá impor sanções
o obrigar ou o induzir a não cumprir as suas administrativas que não impliquem privação
funções ou a fazê-lo de maneira indevida; de liberdade, como, por exemplo, a expulsão
temporária ou permanente da sala de audiên-
e) Represálias contra um funcionário do Tri- cias, a multa ou outra medida similar prevista
bunal, em virtude das funções que ele ou outro no Regulamento Processual.
funcionário tenham desempenhado; e
2. O processo de imposição das medidas a que
f ) Solicitação ou aceitação de suborno na se refere o número anterior reger-se-á pelo
qualidade de funcionário do Tribunal, e em Regulamento Processual.
relação com o desempenho das respectivas
funções oficiais. ARTIGO 72 – Proteção de Informação
Relativa à Segurança Nacional
2. O Regulamento Processual estabelecerá os
princípios e procedimentos que regularão o 1. O presente artigo aplicar-se-á a todos os
exercício da competência do Tribunal relati- casos em que a divulgação de informação ou de
vamente às infrações a que se faz referência no documentos de um Estado possa, no entender
presente artigo. As condições de cooperação deste, afetar os interesses da sua segurança
internacional com o Tribunal, relativamente nacional. Tais casos incluem os abrangidos
ao procedimento que adote de acordo com o pelas disposições constantes dos parágrafos
presente artigo, reger-se-ão pelo direito interno 2o e 3o do artigo 56, parágrafo 3o do artigo
do Estado requerido. 61, parágrafo 3o do artigo 64, parágrafo 2o do
artigo 67, parágrafo 6 do artigo 68, parágrafo
3. Em caso de decisão condenatória, o Tribunal 6 do artigo 87 e do artigo 93, assim como os
poderá impor uma pena de prisão não superior que se apresentem em qualquer outra fase do
a cinco anos, ou de multa, de acordo com o processo em que uma tal divulgação possa
Regulamento Processual, ou ambas. estar em causa.

4. a) Cada Estado Parte tornará extensivas as 2. O presente artigo aplicar-se-á igualmente


normas penais de direito interno que punem aos casos em que uma pessoa a quem tenha
as infrações contra a realização da justiça às sido solicitada a prestação de informação ou
infrações contra a administração da justiça a provas, se tenha recusado a apresenta-las ou
que se faz referência no presente artigo, e que tenha entregue a questão ao Estado, invocan-
sejam cometidas no seu território ou por um do que tal divulgação afetaria os interesses
dos seus nacionais; da segurança nacional do Estado, e o Estado
em causa confirme que, no seu entender, essa
b) A pedido do Tribunal, qualquer Estado Parte divulgação afetaria os interesses da sua segu-
submeterá, sempre que o entender necessário, rança nacional.
Atos internacionais

o caso à apreciação das suas autoridades com-


petentes para fins de procedimento criminal. 3. Nada no presente artigo afetará os requisitos
Essas autoridades conhecerão do caso com de confidencialidade a que se referem as alíne-
diligência e acionarão os meios necessários para as e) e f) do parágrafo 3o do artigo 54, nem a
a sua eficaz condução. aplicação do artigo 73.
87
4. Se um Estado tiver conhecimento de que Procurador ou o Tribunal nesse sentido, indi-
informações ou documentos do Estado estão cando as razões precisas que fundamentaram a
a ser, ou poderão vir a ser, divulgados em sua decisão, a menos que a descrição específica
qualquer fase do processo, e considerar que dessas razões prejudique, necessariamente, os
essa divulgação afetaria os seus interesses de interesses de segurança nacional do Estado.
segurança nacional, tal Estado terá o direito
de intervir com vista a ver alcançada a reso- 7. Posteriormente, se decidir que a prova é
lução desta questão em conformidade com o relevante e necessária para a determinação
presente artigo. da culpa ou inocência do acusado, o Tribunal
poderá adotar as seguintes medidas:
5. O Estado que considere que a divulgação de
determinada informação poderá afetar os seus a) Quando a divulgação da informação ou do
interesses de segurança nacional adotará, em documento for solicitada no âmbito de um
conjunto com o Procurador, a defesa, o Juízo de pedido de cooperação, nos termos da Parte IX
Instrução ou o Juízo de Julgamento em Primei- do presente Estatuto ou nas circunstâncias a
ra Instância, conforme o caso, todas as medidas que se refere o parágrafo 2o do presente artigo,
razoavelmente possíveis para encontrar uma e o Estado invocar o motivo de recusa estatuído
solução através da concertação. Estas medidas no parágrafo 4o do artigo 93:
poderão incluir:
i) O Tribunal poderá, antes de chegar a qual-
a) A alteração ou o esclarecimento dos motivos quer uma das conclusões a que se refere o
do pedido; ponto ii) da alínea a) do parágrafo 7o, solicitar
consultas suplementares com o fim de ouvir
b) Uma decisão do Tribunal relativa à relevância o Estado, incluindo, se for caso disso, a sua
das informações ou dos elementos de prova realização à porta fechada ou à revelia de uma
solicitados, ou uma decisão sobre se as provas, das partes;
ainda que relevantes, não poderiam ser ou ter
sido obtidas junto de fonte distinta do Estado ii) Se o Tribunal concluir que, ao invocar o
requerido; motivo de recusa estatuído no parágrafo 4o do
artigo 93, dadas as circunstâncias do caso, o
c) A obtenção da informação ou de provas de Estado requerido não está a atuar de harmo-
fonte distinta ou em uma forma diferente; ou nia com as obrigações impostas pelo presente
Estatuto, poderá remeter a questão nos termos
d) Um acordo sobre as condições em que a do parágrafo 7 do artigo 87, especificando as
assistência poderá ser prestada, incluindo, razões da sua conclusão; e
entre outras, a disponibilização de resumos ou
exposições, restrições à divulgação, recurso ao iii) O Tribunal poderá tirar as conclusões, que
procedimento à porta fechada ou à revelia de entender apropriadas, em razão das circunstân-
uma das partes, ou aplicação de outras medidas cias, ao julgar o acusado, quanto à existência ou
de proteção permitidas pelo Estatuto ou pelas inexistência de um fato; ou
Regulamento Processual.
b) Em todas as restantes circunstâncias:
6. Realizadas todas as diligências razoavelmente
possíveis com vista a resolver a questão por i) Ordenar a revelação; ou
Tráfico de Pessoas

meio de concertação, e se o Estado considerar


não haver meios nem condições para que as ii) Se não ordenar a revelação, inferir, no jul-
informações ou os documentos possam ser gamento do acusado, quanto à existência ou
fornecidos ou revelados sem prejuízo dos seus inexistência de um fato, conforme se mostrar
interesses de segurança nacional, notificará o apropriado.
88
ARTIGO 73 – Informação ou Documentos 3. Os juízes procurarão tomar uma decisão
Disponibilizados por Terceiros por unanimidade e, não sendo possível, por
maioria.
Se um Estado Parte receber um pedido do
Tribunal para que lhe forneça uma infor- 4. As deliberações do Juízo de Julgamento
mação ou um documento que esteja sob sua em Primeira Instância serão e permanecerão
custódia, posse ou controle, e que lhe tenha secretas.
sido comunicado a título confidencial por um
Estado, uma organização intergovernamental 5. A decisão será proferida por escrito e conterá
ou uma organização internacional, tal Estado uma exposição completa e fundamentada da
Parte deverá obter o consentimento do seu apreciação das provas e as conclusões do Juízo
autor para a divulgação dessa informação ou de Julgamento em Primeira Instância. Será pro-
documento. Se o autor for um Estado Parte, ferida uma só decisão pelo Juízo de Julgamento
este poderá consentir em divulgar a referida em Primeira Instância. Se não houver unani-
informação ou documento ou comprometer- midade, a decisão do Juízo de Julgamento em
-se a resolver a questão com o Tribunal, Primeira Instância conterá as opiniões tanto da
salvaguardando-se o disposto no artigo 72. maioria como da minoria dos juízes. A leitura
Se o autor não for um Estado Parte e não da decisão ou de uma sua súmula far-se-á em
consentir em divulgar a informação ou o audiência pública.
documento, o Estado requerido comunicará
ao Tribunal que não lhe será possível forne- ARTIGO 75 – Reparação em Favor das
cer a informação ou o documento em causa, Vítimas
devido à obrigação previamente assumida
com o respectivo autor de preservar o seu 1. O Tribunal estabelecerá princípios apli-
caráter confidencial. cáveis às formas de reparação, tais como a
restituição, a indenização ou a reabilitação,
ARTIGO 74 – Requisitos para a Decisão que hajam de ser atribuídas às vítimas ou aos
titulares desse direito. Nesta base, o Tribunal
1. Todos os juízes do Juízo de Julgamento em poderá, de ofício ou por requerimento, em
Primeira Instância estarão presentes em cada circunstâncias excepcionais, determinar a
uma das fases do julgamento e nas deliberações. extensão e o nível dos danos, da perda ou do
A Presidência poderá designar, conforme o prejuízo causados às vítimas ou aos titulares
caso, um ou vários juízes substitutos, em função do direito à reparação, com a indicação dos
das disponibilidades, para estarem presentes princípios nos quais fundamentou a sua
em todas as fases do julgamento, bem coma decisão.
para substituírem qualquer membro do Juízo
de Julgamento em Primeira Instância que se 2. O Tribunal poderá lavrar despacho contra
encontre impossibilitado de continuar a parti- a pessoa condenada, no qual determinará a
cipar no julgamento. reparação adequada a ser atribuída às vítimas
ou aos titulares de tal direito. Esta reparação
2. O Juízo de Julgamento em Primeira Instân- poderá, nomeadamente, assumir a forma de
cia fundamentará a sua decisão com base na restituição, indenização ou reabilitação. Se for
apreciação das provas e do processo no seu caso disso, o Tribunal poderá ordenar que a
conjunto. A decisão não exorbitará dos fatos e indenização atribuída a título de reparação
Atos internacionais

circunstâncias descritos na acusação ou nas al- seja paga por intermédio do Fundo previsto
terações que lhe tenham sido feitas. O Tribunal no artigo 79.
fundamentará a sua decisão exclusivamente nas
provas produzidas ou examinadas em audiência 3. Antes de lavrar qualquer despacho ao abrigo
de julgamento. do presente artigo, o Tribunal poderá solicitar
89
e levar em consideração as pretensões formu- 4. A sentença será proferida em audiência
ladas pela pessoa condenada, pelas vítimas, pública e, sempre que possível, na presença
por outras pessoas interessadas ou por outros do acusado.
Estados interessados, bem como as observações
formuladas em nome dessas pessoas ou desses
Estados. CAPÍTULO VII – As Penas

4. Ao exercer os poderes conferidos pelo ARTIGO 77 – Penas Aplicáveis


presente artigo, o Tribunal poderá, após a
condenação por crime que seja da sua com- 1. Sem prejuízo do disposto no artigo 110, o Tri-
petência, determinar se, para fins de aplicação bunal pode impor à pessoa condenada por um
dos despachos que lavrar ao abrigo do pre- dos crimes previstos no artigo 5o do presente
sente artigo, será necessário tomar quaisquer Estatuto uma das seguintes penas:
medidas em conformidade com o parágrafo
1o do artigo 93. a) Pena de prisão por um número determinado
de anos, até ao limite máximo de 30 anos; ou
5. Os Estados Partes observarão as decisões
proferidas nos termos deste artigo como se b) Pena de prisão perpétua, se o elevado grau
as disposições do artigo 109 se aplicassem ao de ilicitude do fato e as condições pessoais do
presente artigo. condenado o justificarem,

6. Nada no presente artigo será interpretado 2. Além da pena de prisão, o Tribunal poderá
como prejudicando os direitos reconhecidos às aplicar:
vítimas pelo direito interno ou internacional.
a) Uma multa, de acordo com os critérios pre-
ARTIGO 76 – Aplicação da Pena vistos no Regulamento Processual;

1. Em caso de condenação, o Juízo de Julgamen- b) A perda de produtos, bens e haveres prove-


to em Primeira Instância determinará a pena a nientes, direta ou indiretamente, do crime, sem
aplicar tendo em conta os elementos de prova e prejuízo dos direitos de terceiros que tenham
as exposições relevantes produzidos no decurso agido de boa-fé.
do julgamento,
ARTIGO 78 – Determinação da pena
2. Salvo nos casos em que seja aplicado o artigo
65 e antes de concluído o julgamento, o Juízo 1. Na determinação da pena, o Tribunal
de Julgamento em Primeira Instância poderá, atenderá, em harmonia com o Regulamento
oficiosamente, e deverá, a requerimento do Processual, a fatores tais como a gravidade do
Procurador ou do acusado, convocar uma crime e as condições pessoais do condenado.
audiência suplementar, a fim de conhecer de
quaisquer novos elementos de prova ou expo- 2. O Tribunal descontará, na pena de prisão
sições relevantes para a determinação da pena, que vier a aplicar, o período durante o qual
de harmonia com o Regulamento Processual. o acusado esteve sob detenção por ordem
daquele. O Tribunal poderá ainda descontar
3. Sempre que o parágrafo 2o for aplicável, as qualquer outro período de detenção que tenha
Tráfico de Pessoas

pretensões previstas no artigo 75 serão ouvidas sido cumprido em razão de uma conduta cons-
pelo Juízo de Julgamento em Primeira Instância titutiva do crime.
no decorrer da audiência suplementar referida
no parágrafo 2o e, se necessário, no decorrer de 3. Se uma pessoa for condenada pela prática
qualquer nova audiência. de vários crimes, o Tribunal aplicará penas
90
de prisão parcelares relativamente a cada um ii) Erro de fato; ou
dos crimes e uma pena única, na qual será
especificada a duração total da pena de prisão. iii) Erro de direito;
Esta duração não poderá ser inferior à da pena
parcelar mais elevada e não poderá ser superior b) O condenado ou o Procurador, no interesse
a 30 anos de prisão ou ir além da pena de pri- daquele; poderá interpor recurso com base num
são perpétua prevista no artigo 77, parágrafo dos seguintes fundamentos:
1o, alínea b).
i) Vício processual;
ARTIGO 79 – Fundo em Favor das Vítimas
ii) Erro de fato;
1. Por decisão da Assembléia dos Estados Par-
tes, será criado um Fundo a favor das vítimas iii) Erro de direito; ou
de crimes da competência do Tribunal, bem
como das respectivas famílias. iv) Qualquer outro motivo suscetível de afetar
a equidade ou a regularidade do processo ou
2. O Tribunal poderá ordenar que o produto da sentença.
das multas e quaisquer outros bens declarados
perdidos revertam para o Fundo. 2. a) O Procurador ou o condenado poderá, em
conformidade com o Regulamento Processual,
3. O Fundo será gerido em harmonia com os interpor recurso da pena decretada invocando
critérios a serem adotados pela Assembléia dos desproporção entre esta e o crime;
Estados Partes.
b) Se, ao conhecer de recurso interposto da
ARTIGO 80 – Não Interferência no Regime pena decretada, o Tribunal considerar que
de Aplicação de Penas Nacionais e nos há fundamentos suscetíveis de justificar a
Direitos Internos anulação, no todo ou em parte, da sentença
condenatória, poderá convidar o Procurador
Nada no presente Capítulo prejudicará a apli- e o condenado a motivarem a sua posição nos
cação, pelos Estados, das penas previstas nos termos da alínea a) ou b) do parágrafo 1o do
respectivos direitos internos, ou a aplicação da artigo 81, após o que poderá pronunciar-se
legislação de Estados que não preveja as penas sobre a sentença condenatória nos termos do
referidas neste capítulo. artigo 83;

c) O mesmo procedimento será aplicado sem-


CAPÍTULO VIII – Recurso e Revisão pre que o Tribunal, ao conhecer de recurso in-
terposto unicamente da sentença condenatória,
ARTIGO 81 – Recurso da Sentença considerar haver fundamentos comprovativos
Condenatória ou Absolutória ou da Pena de uma redução da pena nos termos da alínea
a) do parágrafo 2o.
1. A sentença proferida nos termos do artigo
74 é recorrível em conformidade com o dis- 3. a) Salvo decisão em contrário do Juízo de Jul-
posto no Regulamento Processual nos seguintes gamento em Primeira Instância, o condenado
termos: permanecerá sob prisão preventiva durante a
Atos internacionais

tramitação do recurso;
a) O Procurador poderá interpor recurso com
base num dos seguintes fundamentos: b) Se o período de prisão preventiva ultrapassar
a duração da pena decretada, o condenado será
i) Vício processual; posto em liberdade; todavia, se o Procurador
91
também interpuser recurso, a libertação ficará Juízo de Recursos poderia, no entender do
sujeita às condições enunciadas na alínea c) Juízo de Instrução ou do Juízo de Julgamento
infra; em Primeira Instância, acelerar a marcha do
processo.
c) Em caso de absolvição, o acusado será ime-
diatamente posto em liberdade, sem prejuízo 2. Quer o Estado interessado quer o Procurador
das seguintes condições: poderão recorrer da decisão proferida pelo
Juízo de Instrução, mediante autorização deste,
i) Em circunstâncias excepcionais e tendo nos termos do artigo 57, parágrafo 3o, alínea
em conta, nomeadamente, o risco de fuga, a d). Este recurso adotará uma forma sumária.
gravidade da infração e as probabilidades de
o recurso ser julgado procedente, o Juízo de 3. O recurso só terá efeito suspensivo se o Juízo
Julgamento em Primeira Instância poderá, a de Recursos assim o ordenar, mediante requeri-
requerimento do Procurador, ordenar que o mento, em conformidade com o Regulamento
acusado seja mantido em regime de prisão Processual.
preventiva durante a tramitação do recurso;
4. O representante legal das vítimas, o conde-
ii) A decisão proferida pelo juízo de julgamento nado ou o proprietário de boa fé de bens que
em primeira instância nos termos da sub-alínea hajam sido afetados por um despacho proferido
i), será recorrível em harmonia com as Regula- ao abrigo do artigo 75 poderá recorrer de tal
mento Processual. despacho, em conformidade com o Regula-
mento Processual.
4. Sem prejuízo do disposto nas alíneas a) e b)
do parágrafo 3o, a execução da sentença conde- ARTIGO 83 – Processo Sujeito a Recurso
natória ou da pena ficará suspensa pelo período
fixado para a interposição do recurso, bem 1. Para os fins do procedimentos referido no
como durante a fase de tramitação do recurso. artigo 81 e no presente artigo, o Juízo de Recur-
sos terá todos os poderes conferidos ao Juízo de
ARTIGO 82 – Recurso de Outras Decisões Julgamento em Primeira Instância.

1. Em conformidade com o Regulamento 2. Se o Juízo de Recursos concluir que o pro-


Processual, qualquer uma das Partes poderá cesso sujeito a recurso padece de vícios tais que
recorrer das seguintes decisões: afetem a regularidade da decisão ou da senten-
ça, ou que a decisão ou a sentença recorridas
a) Decisão sobre a competência ou a admissi- estão materialmente afetadas por erros de fato
bilidade do caso; ou de direito, ou vício processual, ela poderá:

b) Decisão que autorize ou recuse a libertação a) Anular ou modificar a decisão ou a pena; ou


da pessoa objeto de inquérito ou de procedi-
mento criminal; b) Ordenar um novo julgamento perante um
outro Juízo de Julgamento em Primeira Ins-
c) Decisão do Juízo de Instrução de agir por tância.
iniciativa própria, nos termos do parágrafo 3o
do artigo 56; Para os fins mencionados, poderá o Juízo de
Tráfico de Pessoas

Recursos reenviar uma questão de fato para o


d) Decisão relativa a uma questão suscetível Juízo de Julgamento em Primeira Instância à
de afetar significativamente a tramitação qual foi submetida originariamente, a fim de
eqüitativa e célere do processo ou o resultado que esta decida a questão e lhe apresente um
do julgamento, e cuja resolução imediata pelo relatório, ou pedir, ela própria, elementos de
92
prova para decidir. Tendo o recurso da deci- determinação da culpa, eram falsos ou tinham
são ou da pena sido interposto somente pelo sido objeto de contrafação ou falsificação;
condenado, ou pelo Procurador no interesse
daquele, não poderão aquelas ser modificadas c) Um ou vários dos juízes que intervieram na
em prejuízo do condenado. sentença condenatória ou confirmaram a acusa-
ção hajam praticado atos de conduta reprovável
3. Se, ao conhecer, do recurso de uma pena, o ou de incumprimento dos respectivos deveres
Juízo de Recursos considerar que a pena é des- de tal forma graves que justifiquem a sua cessa-
proporcionada relativamente ao crime, poderá ção de funções nos termos do artigo 46.
modificá-la nos termos do Capítulo VII.
2. O Juízo de Recursos rejeitará o pedido se o
4. O acórdão do Juízo de Recursos será tirado considerar manifestamente infundado. Caso
por maioria dos juízes e proferido em audiência contrário, poderá o Juízo, se julgar oportuno:
pública. O acórdão será sempre fundamenta-
do. Não havendo unanimidade, deverá conter a) Convocar de novo o Juízo de Julgamento
as opiniões da parte maioria e da minoria de em Primeira Instância que proferiu a sentença
juízes; contudo, qualquer juiz poderá exprimir inicial;
uma opinião separada ou discordante sobre
uma questão de direito. b) Constituir um novo Juízo de Julgamento em
Primeira Instância; ou
5. O Juízo de Recursos poderá emitir o seu
acórdão na ausência da pessoa absolvida ou c) Manter a sua competência para conhecer da
condenada. causa, a fim de determinar se, após a audição
das partes nos termos do Regulamento Proces-
ARTIGO 84 – Revisão da Sentença sual, haverá lugar à revisão da sentença.
Condenatória ou da Pena
ARTIGO 85 – Indenização do Detido ou
1. O condenado ou, se este tiver falecido, o Condenado
cônjuge sobrevivo, os filhos, os pais ou qual-
quer pessoa que, em vida do condenado, dele 1. Quem tiver sido objeto de detenção ou prisão
tenha recebido incumbência expressa, por ilegal terá direito a reparação.
escrito, nesse sentido, ou o Procurador no seu
interesse, poderá submeter ao Juízo de Recur- 2. Sempre que uma decisão final seja poste-
sos um requerimento solicitando a revisão riormente anulada em razão de fatos novos
da sentença condenatória ou da pena pelos ou recentemente descobertos que apontem
seguintes motivos: inequivocamente para um erro judiciário, a
pessoa que tiver cumprido pena em resultado
a) A descoberta de novos elementos de prova: de tal sentença condenatória será indenizada,
em conformidade com a lei, a menos que fique
i) De que não dispunha ao tempo do julga- provado que a não revelação, em tempo útil, do
mento, sem que essa circunstância pudesse ser fato desconhecido lhe seja imputável, no todo
imputada, no todo ou em parte, ao requerente; e ou em parte.

ii) De tal forma importantes que, se tivessem 3. Em circunstâncias excepcionais e em face


Atos internacionais

ficado provados no julgamento, teriam prova- de fatos que conclusivamente demonstrem a


velmente conduzido a um veredicto diferente; existência de erro judiciário grave e manifesto,
o Tribunal poderá, no uso do seu poder discri-
b) A descoberta de que elementos de prova, cionário, atribuir uma indenização, de acordo
apreciados no julgamento e decisivos para a com os critérios enunciados no Regulamento
93
Processual, à pessoa que, em virtude de sen- 3. O Estado requerido manterá a confidencia-
tença absolutória ou de extinção da instância lidade dos pedidos de cooperação e dos docu-
por tal motivo, haja sido posta em liberdade. mentos comprovativos que os instruam, salvo
quando a sua revelação for necessária para a
CAPÍTULO IX – Cooperação Internacional execução do pedido.
e Auxílio Judiciário
4. Relativamente aos pedidos de auxílio for-
ARTIGO 86 – Obrigação Geral de Cooperar mulados ao abrigo do presente Capítulo, o
Tribunal poderá, nomeadamente em matéria
Os Estados Partes deverão, em conformidade de proteção da informação, tomar as medidas
com o disposto no presente Estatuto, cooperar necessárias à garantia da segurança e do bem-
plenamente com o Tribunal no inquérito e no -estar físico ou psicológico das vítimas, das
procedimento contra crimes da competência potenciais testemunhas e dos seus familiares.
deste. O Tribunal poderá solicitar que as informações
fornecidas ao abrigo do presente Capítulo se-
ARTIGO 87 – Pedidos de Cooperação: jam comunicadas e tratadas por forma a que a
Disposições Gerais segurança e o bem-estar físico ou psicológico
das vítimas, das potenciais testemunhas e dos
1. a) O Tribunal estará habilitado a dirigir pe- seus familiares sejam devidamente preservados.
didos de cooperação aos Estados Partes. Estes
pedidos serão transmitidos pela via diplomática 5. a) O Tribunal poderá convidar qualquer Es-
ou por qualquer outra via apropriada escolhida tado que não seja Parte no presente Estatuto a
pelo Estado Parte no momento de ratificação, prestar auxílio ao abrigo do presente Capítulo
aceitação, aprovação ou adesão ao presente com base num convênio ad hoc, num acordo
Estatuto. celebrado com esse Estado ou por qualquer
outro modo apropriado.
Qualquer Estado Parte poderá alterar poste-
riormente a escolha feita nos termos do Regu- b) Se, após a celebração de um convênio ad hoc
lamento Processual. ou de um acordo com o Tribunal, um Estado
que não seja Parte no presente Estatuto se
b) Se for caso disso, e sem prejuízo do disposto recusar a cooperar nos termos de tal convênio
na alínea a), os pedidos poderão ser igualmente ou acordo, o Tribunal dará conhecimento des-
transmitidos pela Organização internacional de se fato à Assembléia dos Estados Parles ou ao
Polícia Criminal (INTERPOL) ou por qualquer Conselho de Segurança, quando tiver sido este
outra organização regional competente. a referenciar o fato ao Tribunal.

2. Os pedidos de cooperação e os documentos 6. O Tribunal poderá solicitar informações


comprovativos que os instruam serão redigidos ou documentos a qualquer organização inter-
na língua oficial do Estado requerido ou acom- governamental. Poderá igualmente requerer
panhados de uma tradução nessa língua, ou outras formas de cooperação e auxílio a serem
numa das línguas de trabalho do Tribunal ou acordadas com tal organização e que estejam
acompanhados de uma tradução numa dessas em conformidade com a sua competência ou
línguas, de acordo com a escolha feita pelo Esta- o seu mandato.
do requerido no momento da ratificação, aceita-
Tráfico de Pessoas

ção, aprovação ou adesão ao presente Estatuto. 7. Se, contrariamente ao disposto no presente


Estatuto, um Estado Parte recusar um pedi-
Qualquer alteração posterior será feita de har- do de cooperação formulado pelo Tribunal,
monia com o Regulamento Processual. impedindo-o assim de exercer os seus poderes e

94
funções nos termos do presente Estatuto, o Tri- b) Um pedido de trânsito formulado pelo Tri-
bunal poderá elaborar um relatório e remeter a bunal será transmitido em conformidade com
questão à Assembléia dos Estados Partes ou ao o artigo 87. Do pedido de trânsito constarão:
Conselho de Segurança, quando tiver sido este
a submeter o fato ao Tribunal. i) A identificação da pessoa transportada;

ARTIGO 88 – Procedimentos Previstos no ii) Um resumo dos fatos e da respectiva quali-


Direito Interno ficação jurídica;

Os Estados Partes deverão assegurar-se de que iii) O mandado de detenção e entrega.


o seu direito interno prevê procedimentos que
permitam responder a todas as formas de coo- c) A pessoa transportada será mantida sob
peração especificadas neste Capítulo. custódia no decurso do trânsito.

ARTIGO 89 – Entrega de Pessoas ao d) Nenhuma autorização será necessária se a


Tribunal pessoa for transportada por via aérea e não es-
teja prevista qualquer aterrissagem no território
1. O Tribunal poderá dirigir um pedido de do Estado de trânsito.
detenção e entrega de uma pessoa, instruído
com os documentos comprovativos referidos e) Se ocorrer, uma aterrissagem imprevista no
no artigo 91, a qualquer Estado em cujo terri- território do Estado de trânsito, poderá este
tório essa pessoa se possa encontrar, e solicitar a exigir ao Tribunal a apresentação de um pedi-
cooperação desse Estado na detenção e entrega do de trânsito nos termos previstos na alínea
da pessoa em causa. Os Estados Partes darão b). O Estado de trânsito manterá a pessoa sob
satisfação aos pedidos de detenção e de entrega detenção até a recepção do pedido de trânsito
em conformidade com o presente Capítulo e e a efetivação do trânsito. Todavia, a detenção
com os procedimentos previstos nos respecti- ao abrigo da presente alínea não poderá pro-
vos direitos internos. longar-se para além das 96 horas subseqüentes
à aterrissagem imprevista se o pedido não for
2. Sempre que a pessoa cuja entrega é solicitada recebido dentro desse prazo.
impugnar a sua entrega perante um tribunal
nacional com, base no princípio ne bis in idem 4. Se a pessoa reclamada for objeto de proce-
previsto no artigo 20, o Estado requerido dimento criminal ou estiver cumprindo uma
consultará, de imediato, o Tribunal para de- pena no Estado requerido por crime diverso
terminar se houve uma decisão relevante sobre do que motivou o pedido de entrega ao Tribu-
a admissibilidade. Se o caso for considerado nal, este Estado consultará o Tribunal após ter
admissível, o Estado requerido dará seguimento decidido anuir ao pedido.
ao pedido. Se estiver pendente decisão sobre
a admissibilidade, o Estado requerido poderá ARTIGO 90 – Pedidos Concorrentes
diferir a execução do pedido até que o Tribunal
se pronuncie. 1. Um Estado Parte que, nos termos do artigo
89, receba um pedido de entrega de uma pessoa
3. a) Os Estados Partes autorizarão, de acordo formulado pelo Tribunal, e receba igualmente,
com os procedimentos previstos na respectiva de qualquer outro Estado, um pedido de extra-
Atos internacionais

legislação nacional, o trânsito, pelo seu territó- dição relativo à mesma pessoa, pelos mesmos
rio, de uma pessoa entregue ao Tribunal por um fatos que motivaram o pedido de entrega por
outro Estado, salvo quando o trânsito por esse parte do Tribunal, deverá notificar o Tribunal
Estado impedir ou retardar a entrega. e o Estado requerente de tal fato.

95
2. Se o Estado requerente for um Estado Parte, a extraditará para o Estado requerente. Na sua
o Estado requerido dará prioridade ao pedido decisão, o Estado requerido terá em conta todos
do Tribunal: os fatores relevantes, incluindo, entre outros:

a) Se o Tribunal tiver decidido, nos termos do a) A ordem cronológica dos pedidos;


artigo 18 ou 19, da admissibilidade do caso a
que respeita o pedido de entrega, e tal deter- b) Os interesses do Estado requerente, incluin-
minação tiver levado em conta o inquérito do, se relevante, se o crime foi cometido no
ou o procedimento criminal conduzido pelo seu território bem como a nacionalidade das
Estado requerente relativamente ao pedido de vítimas e da pessoa reclamada; e
extradição por este formulado; ou
c) A possibilidade de o Estado requerente vir
b) Se o Tribunal tiver tomado a decisão referida a proceder posteriormente à entrega da pessoa
na alínea a) em conformidade com a notificação ao Tribunal.
feita pelo Estado requerido, em aplicação do
parágrafo 1o. 7. Se um Estado Parte receber um pedido de
entrega de uma pessoa formulado pelo Tribu-
3. Se o Tribunal não tiver tomado uma decisão nal e um pedido de extradição formulado por
nos termos da alínea a) do parágrafo 2 o, o um outro Estado Parte relativamente à mesma
Estado requerido poderá, se assim o entender, pessoa, por fatos diferentes dos que constituem
estando pendente a determinação do Tribunal o crime objeto do pedido de entrega:
nos termos da alínea b) do parágrafo 2o, dar
seguimento ao pedido de extradição formulado a) O Estado requerido dará prioridade ao pe-
pelo Estado requerente sem, contudo, extradi- dido do Tribunal, se não estiver obrigado por
tar a pessoa até que o Tribunal decida sobre a uma norma internacional a extraditar a pessoa
admissibilidade do caso. A decisão do Tribunal para o Estado requerente;
seguirá a forma sumária.
b) O Estado requerido terá de decidir se entre-
4. Se o Estado requerente não for Parte no ga a pessoa ao Tribunal ou a extradita para o
presente Estatuto, o Estado requerido, desde Estado requerente, se estiver obrigado por uma
que não esteja obrigado por uma norma inter- norma internacional a extraditar a pessoa para
nacional a extraditar o acusado para o Estado o Estado requerente. Na sua decisão, o Estado
requerente, dará prioridade ao pedido de en- requerido considerará todos os fatores relevan-
trega formulado pelo Tribunal, no caso de este tes, incluindo, entre outros, os constantes do
se ter decidido pela admissibilidade do caso. parágrafo 6; todavia, deverá dar especial aten-
ção à natureza e à gravidade dos fatos em causa.
5. Quando um caso previsto no parágrafo 4o não
tiver sido declarado admissível pelo Tribunal, 8. Se, em conformidade com a notificação
o Estado requerido poderá, se assim o enten- prevista no presente artigo, o Tribunal se tiver
der, dar seguimento ao pedido de extradição pronunciado pela inadmissibilidade do caso
formulado pelo Estado requerente. e, posteriormente, a extradição para o Estado
requerente for recusada, o Estado requerido
6. Relativamente aos casos em que o disposto no notificará o Tribunal dessa decisão.
parágrafo 4o seja aplicável, mas o Estado reque-
Tráfico de Pessoas

rido se veja obrigado, por força de uma norma ARTIGO 91 – Conteúdo do Pedido de
internacional, a extraditar a pessoa para o Estado Detenção e de Entrega
requerente que não seja Parte no presente Esta-
tuto, o Estado requerido decidirá se procederá 1. O pedido de detenção e de entrega será for-
à entrega da pessoa em causa ao Tribunal ou se mulado por escrito. Em caso de urgência, o pe-
96
dido poderá ser feito através de qualquer outro genéricas ou a uma questão específica, consul-
meio de que fique registro escrito, devendo, no tas com o Tribunal sobre quaisquer requisitos
entanto, ser confirmado através dos canais pre- previstos no seu direito interno que possam ser
vistos na alínea a) do parágrafo 1o do artigo 87, aplicados nos termos da alínea c) do parágrafo
2o. No decurso de tais consultas, o Estado Parte
2. O pedido de detenção e entrega de uma informará o Tribunal dos requisitos específicos
pessoa relativamente à qual o Juízo de Instru- constantes do seu direito interno.
ção tiver emitido um mandado de detenção
ao abrigo do artigo 58, deverá conter ou ser ARTIGO 92 – Prisão Preventiva
acompanhado dos seguintes documentos:
1. Em caso de urgência, o Tribunal poderá so-
a) Uma descrição da pessoa procurada, con- licitar a prisão preventiva da pessoa procurada
tendo informação suficiente que permita a sua até a apresentação do pedido de entrega e os
identificação, bem como informação sobre a documentos de apoio referidos no artigo 91.
sua provável localização;
2. O pedido de prisão preventiva será transmi-
b) Uma cópia do mandado de detenção; e tido por qualquer meio de que fique registro
escrito e conterá:
c) Os documentos, declarações e informações
necessários para satisfazer os requisitos do a) Uma descrição da pessoa procurada, con-
processo de entrega pelo Estado requerido; tendo informação suficiente que permita a sua
contudo, tais requisitos não deverão ser mais identificação, bem como informação sobre a
rigorosos dos que os que devem ser observados sua provável localização;
em caso de um pedido de extradição em confor-
midade com tratados ou convênios celebrados b) Uma exposição sucinta dos crimes pelos
entre o Estado requerido e outros Estados, quais a pessoa é procurada, bem como dos
devendo, se possível, ser menos rigorosos face à fatos alegadamente constitutivos de tais crimes
natureza específica de que se reveste o Tribunal. incluindo, se possível, a data e o local da sua
prática;
3. Se o pedido respeitar à detenção e à entrega
de uma pessoa já condenada, deverá conter ou c) Uma declaração que certifique a existência de
ser acompanhado dos seguintes documentos: um mandado de detenção ou de uma decisão
condenatória contra a pessoa procurada; e
a) Uma cópia do mandado de detenção dessa
pessoa; d) Uma declaração de que o pedido de entrega
relativo à pessoa procurada será enviado pos-
b) Uma cópia da sentença condenatória; teriormente.

c) Elementos que demonstrem que a pessoa 3. Qualquer pessoa mantida sob prisão preven-
procurada é a mesma a que se refere a sentença tiva poderá ser posta em liberdade se o Estado
condenatória; e requerido não tiver recebido, em conformida-
de com o artigo 91, o pedido de entrega e os
d) Se a pessoa já tiver sido condenada, uma respectivos documentos no prazo fixado pelo
cópia da sentença e, em caso de pena de prisão, Regulamento Processual. Todavia, essa pessoa
Atos internacionais

a indicação do período que já tiver cumprido, poderá consentir na sua entrega antes do termo
bem como o período que ainda lhe falte cumprir. do período se a legislação do Estado requerido
o permitir. Nesse caso, o Estado requerido pro-
4. Mediante requerimento do Tribunal, um Es- cede à entrega da pessoa reclamada ao Tribunal,
tado Parte manterá, no que respeite a questões o mais rapidamente possível.
97
4. O fato de a pessoa reclamada ter sido posta k) Identificar, localizar e congelar ou apreender
em liberdade em conformidade com o pará- o produto de crimes, bens, haveres e instrumen-
grafo 3o não obstará a que seja de novo detida tos ligados aos crimes, com vista à sua eventual
e entregue se o pedido de entrega e os docu- declaração de perda, sem prejuízo dos direitos
mentos em apoio, vierem a ser apresentados de terceiros de boa-fé; e
posteriormente.
l) Prestar qualquer outra forma de auxílio não
ARTIGO 93 – Outras Formas de Cooperação proibida pela legislação do Estado requerido,
destinada a facilitar o inquérito e o julgamento
1. Em conformidade com o disposto no pre- por crimes da competência do Tribunal.
sente Capítulo e nos termos dos procedimentos
previstos nos respectivos direitos internos, os 2. O Tribunal tem poderes para garantir à
Estados Partes darão seguimento aos pedidos testemunha ou ao perito que perante ele
formulados pelo Tribunal para concessão de compareça de que não serão perseguidos,
auxílio, no âmbito de inquéritos ou procedi- detidos ou sujeitos a qualquer outra restrição
mentos criminais, no que se refere a: da sua liberdade pessoal, por fato ou omissão
anteriores à sua saída do território do Estado
a) Identificar uma pessoa e o local onde se requerido.
encontra, ou localizar objetos;
3. Se a execução de uma determinada medida
b) Reunir elementos de prova, incluindo os de auxílio constante de um pedido apresentado
depoimentos prestados sob juramento, bem ao abrigo do parágrafo 1o não for permitida no
como produzir elementos de prova, incluindo Estado requerido em virtude de um princípio
perícias e relatórios de que o Tribunal necessita; jurídico fundamental de aplicação geral, o
Estado em causa iniciará sem demora consul-
c) Interrogar qualquer pessoa que seja objeto de tas com o Tribunal com vista à solução dessa
inquérito ou de procedimento criminal; questão. No decurso das consultas, serão con-
sideradas outras formas de auxílio, bem como
d) Notificar documentos, nomeadamente do- as condições da sua realização. Se, concluídas
cumentos judiciários; as consultas, a questão não estiver resolvida, o
Tribunal alterará o conteúdo do pedido con-
e) Facilitar o comparecimento voluntária, pe- forme se mostrar necessário.
rante o Tribunal, de pessoas que deponham na
qualidade de testemunhas ou de peritos; 4. Nos termos do disposto no artigo 72, um
Estado Parte só poderá recusar, no todo ou em
f ) Proceder à transferência temporária de parte, um pedido de auxílio formulado pelo
pessoas, em conformidade com o parágrafo 7o; Tribunal se tal pedido se reportar unicamente
à produção de documentos ou à divulgação de
g) Realizar inspeções, nomeadamente a exu- elementos de prova que atentem contra a sua
mação e o exame de cadáveres enterrados em segurança nacional.
fossas comuns;
5. Antes de denegar o pedido de auxílio pre-
h) Realizar buscas e apreensões; visto na alínea l) do parágrafo 1o, o Estado
requerido considerará se o auxílio poderá ser
Tráfico de Pessoas

i) Transmitir registros e documentos, nomea- concedido sob determinadas condições ou se


damente registros e documentos oficiais; poderá sê-lo em data ulterior ou sob uma outra
forma, com a ressalva de que, se o Tribunal ou
j) Proteger vítimas e testemunhas, bem como o Procurador aceitarem tais condições, deverão
preservar elementos de prova; observá-las.
98
6. O Estado requerido que recusar um pedido ii) Não sendo possível, os pedidos concor-
de auxílio comunicará, sem demora, os motivos rentes observarão os princípios fixados no
ao Tribunal ou ao Procurador. artigo 90.

7. a) O Tribunal poderá pedir a transferência b) Todavia, sempre que o pedido formulado


temporária de uma pessoa detida para fins de pelo Tribunal respeitar a informações, bens
identificação ou para obter um depoimento ou pessoas que estejam sob o controle de um
ou outras forma de auxílio. A transferência Estado terceiro ou de uma organização inter-
realizar-se-á sempre que: nacional ao abrigo de um acordo internacional,
os Estados requeridos informarão o Tribunal
i) A pessoa der o seu consentimento, livremente em conformidade, este dirigirá o seu pedido ao
e com conhecimento de causa; e Estado terceiro ou à organização internacional.

ii) O Estado requerido concordar com a trans- 10. a) Mediante pedido, o Tribunal cooperará
ferência, sem prejuízo das condições que esse com um Estado Parte e prestar-lhe-á auxílio na
Estado e o Tribunal possam acordar; condução de um inquérito ou julgamento rela-
cionado com fatos que constituam um crime da
b) A pessoa transferida permanecerá detida. jurisdição do Tribunal ou que constituam um
Esgotado o fim que determinou a transferência, crime grave à luz do direito interno do Estado
o Tribunal reenviá-la-á imediatamente para o requerente.
Estado requerido.
b) i) O auxílio previsto na alínea a) deve com-
8. a) O Tribunal garantirá a confidencialidade preender, a saber:
dos documentos e das informações recolhidas,
exceto se necessários para o inquérito e os pro- a. A transmissão de depoimentos, documentos
cedimentos descritos no pedido; e outros elementos de prova recolhidos no
decurso do inquérito ou do julgamento con-
b) O Estado requerido poderá, se necessário, duzidos pelo Tribunal; e
comunicar os documentos ou as informações
ao Procurador a título confidencial. O Procu- b. O interrogatório de qualquer pessoa detida
rador só poderá utilizá-los para recolher novos por ordem do Tribunal;
elementos de prova;
ii) No caso previsto na alínea b), i), a;
c) O Estado requerido poderá, de ofício ou a
pedido do Procurador, autorizar a divulgação a. A transmissão dos documentos e de outros
posterior de tais documentos ou informações; elementos de prova obtidos com o auxílio de
os quais poderão ser utilizados como meios de um Estado necessita do consentimento desse
prova, nos termos do disposto nos Capítulos V Estado;
e VI e no Regulamento Processual.
b. A transmissão de depoimentos, documentos
9. a) i) Se um Estado Parte receber pedidos e outros elementos de prova fornecidos quer
concorrentes formulados pelo Tribunal e por por uma testemunha, quer por um perito,
um outro Estado, no âmbito de uma obrigação será feita em conformidade com o disposto
internacional, e cujo objeto não seja nem a en- no artigo 68.
Atos internacionais

trega nem a extradição, esforçar-se-á, mediante


consultas com o Tribunal e esse outro Estado, c) O Tribunal poderá, em conformidade com
por dar satisfação a ambos os pedidos adiando as condições enunciadas neste número, deferir
ou estabelecendo determinadas condições a um um pedido de auxílio formulado por um Estado
ou outro pedido, se necessário; que não seja parte no presente Estatuto.
99
ARTIGO 94 – Suspensão da Execução de um 2. O pedido deverá conter, ou ser instruído com,
Pedido Relativamente a um Inquérito ou a os seguintes documentos:
Procedimento Criminal em Curso
a) Um resumo do objeto do pedido, bem como
1. Se a imediata execução de um pedido preju- da natureza do auxílio solicitado, incluindo os
dicar o desenrolar de um inquérito ou de um fundamentos jurídicos e os motivos do pedido;
procedimento criminal relativos a um caso
diferente daquele a que se reporta o pedido, o b) Informações tão completas quanto possível
Estado requerido poderá suspender a execução sobre a pessoa ou o lugar a identificar ou a
do pedido por tempo determinado, acordado localizar, por forma a que o auxílio solicitado
com o Tribunal. Contudo, a suspensão não deve possa ser prestado;
prolongar-se além do necessário para que o
inquérito ou o procedimento criminal em causa c) Um exposição sucinta dos fatos essenciais
sejam efetuados no Estado requerido. Este, an- que fundamentam o pedido;
tes de decidir suspender a execução do pedido,
verificará se o auxílio não poderá ser concedido d) A exposição dos motivos e a explicação
de imediato sob determinadas condições. pormenorizada dos procedimentos ou das
condições a respeitar;
2. Se for decidida a suspensão de execução do
pedido em conformidade com o parágrafo e) Toda a informação que o Estado requerido
1o, o Procurador poderá, no entanto, solicitar possa exigir de acordo com o seu direito interno
que sejam adotadas medidas para preservar os para dar seguimento ao pedido; e
elementos de prova, nos termos da alínea j) do
parágrafo 1o do artigo 93. f) Toda a informação útil para que o auxílio
possa ser concedido.
ARTIGO 95 – Suspensão da Execução de um
Pedido por Impugnação de Admissibilidade 3. A requerimento do Tribunal, um Estado Par-
te manterá, no que respeita a questões genéricas
Se o Tribunal estiver apreciando uma impug- ou a uma questão específica, consultas com o
nação de admissibilidade, de acordo com os Tribunal sobre as disposições aplicáveis do seu
artigos 18 ou 19, o Estado requerido poderá direito interno, susceptíveis de serem aplicadas
suspender a execução de um pedido formulado em conformidade com a alínea e) do parágrafo
ao abrigo do presente Capítulo enquanto aguar- 2o. No decurso de tais consultas, o Estado Parte
da que o Tribunal se pronuncie, a menos que o informará o Tribunal das disposições específi-
Tribunal tenha especificamente ordenado que cas constantes do seu direito interno.
o Procurador continue a reunir elementos de
prova, nos termos dos artigos 18 ou 19. 4. O presente artigo aplicar-se-á, se for caso
disso, a qualquer pedido de auxílio dirigido
ARTIGO 96 – Conteúdo do Pedido sob ao Tribunal.
Outras Formas de Cooperação previstas no
Artigo 93 ARTIGO 97 – Consultas

1. Todo o pedido relativo a outras formas de Sempre que, ao abrigo do presente Capítulo, um
cooperação previstas no artigo 93 será formu- Estado Parte receba um pedido e verifique que
Tráfico de Pessoas

lado por escrito. Em caso de urgência, o pedido este suscita dificuldades que possam obviar à
poderá ser feito por qualquer meio que permita sua execução ou impedi-la, o Estado em causa
manter um registro escrito, desde que seja con- iniciará, sem demora, as consultas com o Tri-
firmado através dos canais indicados na alínea bunal com vista à solução desta questão. Tais
a) do parágrafo 1o do artigo 87. dificuldades podem revestir as seguintes formas:
100
a) Informações insuficientes para dar segui- nos que o seu direito interno o proíba, na forma
mento ao pedido; especificada no pedido, aplicando qualquer
procedimento nele indicado ou autorizando as
b) No caso de um pedido de entrega, o para- pessoas nele indicadas a estarem presentes e a
deiro da pessoa reclamada continuar desco- participarem na execução do pedido.
nhecido a despeito de todos os esforços ou a
investigação realizada permitiu determinar que 2. Em caso de pedido urgente, os documentos e
a pessoa que se encontra no Estado Requerido os elementos de prova produzidos na resposta
não é manifestamente a pessoa identificada no serão, a requerimento do Tribunal, enviados
mandado; ou com urgência.

c) O Estado requerido ver-se-ia compelido, para 3. As respostas do Estado requerido serão


cumprimento do pedido na sua forma atual, a transmitidas na sua língua e forma originais.
violar uma obrigação constante de um tratado
anteriormente celebrado com outro Estado. 4. Sem prejuízo dos demais artigos do presente
Capítulo, sempre que for necessário para a exe-
ARTIGO 98 – Cooperação Relativa à cução com sucesso de um pedido, e não haja
Renúncia, à Imunidade e ao Consentimento que recorrer a medidas coercitivas, nomeada-
na Entrega mente quando se trate de ouvir ou levar uma
pessoa a depor de sua livre vontade, mesmo
1. O Tribunal pode não dar seguimento a um sem a presença das autoridades do Estado Parte
pedido de entrega ou de auxílio por força do requerido se tal for determinante para a execu-
qual o Estado requerido devesse atuar de forma ção do pedido, ou quando se trate de examinar,
incompatível com as obrigações que lhe incum- sem proceder a alterações, um lugar público ou
bem à luz do direito internacional em matéria um outro local público, o Procurador poderá
de imunidade dos Estados ou de imunidade dar cumprimento ao pedido diretamente no
diplomática de pessoa ou de bens de um Estado território de um Estado, de acordo com as
terceiro, a menos que obtenha, previamente a seguintes modalidades:
cooperação desse Estado terceiro com vista ao
levantamento da imunidade. a) Quando o Estado requerido for o Estado em
cujo território haja indícios de ter sido cometido
2. O Tribunal pode não dar seguimento à exe- o crime e existir uma decisão sobre a admissi-
cução de um pedido de entrega por força do bilidade tal como previsto nos artigos 18 e 19, o
qual o Estado requerido devesse atuar de forma Procurador poderá executar diretamente o pe-
incompatível com as obrigações que lhe incum- dido, depois de ter levado a cabo consultas tão
bem em virtude de acordos internacionais à luz amplas quanto possível com o Estado requerido;
dos quais o consentimento do Estado de envio
é necessário para que uma pessoa pertencente a b) Em outros casos, o Procurador poderá exe-
esse Estado seja entregue ao Tribunal, a menos cutar o pedido após consultas com o Estado
que o Tribunal consiga, previamente, obter a Parte requerido e tendo em conta as condições
cooperação do Estado de envio para consentir ou as preocupações razoáveis que esse Estado
na entrega. tenha eventualmente argumentado. Sempre que
o Estado requerido verificar que a execução
ARTIGO 99 – Execução dos Pedidos de um pedido nos termos da presente alínea
Atos internacionais

Apresentados ao Abrigo dos Artigos 93 e 96 suscita dificuldades, consultará de imediato o


Tribunal para resolver a questão.
1. Os pedidos de auxílio serão executados de
harmonia com os procedimentos previstos na 5. As disposições que autorizam a pessoa ou-
legislação interna do Estado requerido e, a me- vida ou interrogada pelo Tribunal ao abrigo
101
do artigo 72, a invocar as restrições previstas seguida, condenada ou detida por condutas
para impedir a divulgação de informações anteriores à sua entrega, salvo quando estas
confidenciais relacionadas com a segurança constituam crimes que tenham fundamentado
nacional, aplicar-se-ão de igual modo à exe- a sua entrega.
cução dos pedidos de auxílio referidos no
presente artigo. 2. O Tribunal poderá solicitar uma derrogação
dos requisitos estabelecidos no parágrafo 1o ao
ARTIGO 100 – Despesas Estado que lhe tenha entregue uma pessoa e,
se necessário, facultar-lhe-á, em conformidade
1. As despesas ordinárias decorrentes da com o artigo 91, informações complementares.
execução dos pedidos no território do Estado Os Estados Partes estarão habilitados a con-
requerido serão por este suportadas, com ceder uma derrogação ao Tribunal e deverão
exceção das seguintes, que correrão a cargo envidar esforços nesse sentido.
do Tribunal:
ARTIGO 102 – Termos Usados
a) As despesas relacionadas com as viagens e
a proteção das testemunhas e dos peritos ou Para os fins do presente Estatuto:
com a transferência de detidos ao abrigo do
artigo 93; a) Por “entrega”, entende-se a entrega de uma
pessoa por um Estado ao Tribunal nos termos
b) As despesas de tradução, de interpretação e do presente Estatuto;
de transcrição;
b) Por “extradição”, entende-se a entrega de uma
c) As despesas de deslocação e de estada dos pessoa por um Estado a outro Estado conforme
juízes, do Procurador, dos Procuradores- previsto em um tratado, em uma convenção ou
-adjuntos, do Secretário, do Secretário-Adjunto no direito interno.
e dos membros do pessoal de todos os órgãos
do Tribunal; CAPÍTULO X – Execução da Pena

d) Os custos das perícias ou dos relatórios ARTIGO 103 – Função dos Estados na
periciais solicitados pelo Tribunal; Execução das Penas Privativas de Liberdade

e) As despesas decorrentes do transporte das 1. a) As penas privativas de liberdade serão


pessoas entregues ao Tribunal pelo Estado de cumpridas num Estado indicado pelo Tribunal
detenção; e a partir de uma lista de Estados que lhe tenham
manifestado a sua disponibilidade para receber
f) Após consulta, quaisquer despesas extraordi- pessoas condenadas.
nárias decorrentes da execução de um pedido.
b) Ao declarar a sua disponibilidade para re-
2. O disposto no parágrafo 1o aplicar-se-á, ceber pessoas condenadas, um Estado poderá
sempre que necessário, aos pedidos dirigidos formular condições acordadas com o Tribunal
pelos Estados Partes ao Tribunal. Neste caso, o e em conformidade com o presente Capítulo.
Tribunal tomará a seu cargo as despesas ordi-
nárias decorrentes da execução. c) O Estado indicado no âmbito de um deter-
Tráfico de Pessoas

minado caso dará prontamente a conhecer se


ARTIGO 101 – Regra da Especialidade aceita ou não a indicação do Tribunal.

1. Nenhuma pessoa entregue ao Tribunal nos 2. a) O Estado da execução informará o Tri-


termos do presente Estatuto poderá ser per- bunal de qualquer circunstância, incluindo o
102
cumprimento de quaisquer condições acorda- ARTIGO 104 – Alteração da Indicação do
das nos termos do parágrafo 1o, que possam Estado da Execução
afetar materialmente as condições ou a duração
da detenção. O Tribunal será informado com, 1. O Tribunal poderá, a qualquer momento,
pelo menos, 45 dias de antecedência sobre qual- decidir transferir um condenado para uma
quer circunstância dessa natureza, conhecida prisão de um outro Estado.
ou previsível. Durante este período, o Estado
da execução não tomará qualquer medida que 2. A pessoa condenada pelo Tribunal poderá, a
possa ser contrária às suas obrigações ao abrigo qualquer momento, solicitar-lhe que a transfira
do artigo 110. do Estado encarregado da execução.

b) Se o Tribunal não puder aceitar as circuns- ARTIGO 105 – Execução da Pena


tâncias referidas na alínea a), deverá informar
o Estado da execução e proceder em harmonia 1. Sem prejuízo das condições que um Estado
com o parágrafo 1o do artigo 104. haja estabelecido nos termos do artigo 103,
parágrafo 1o, alínea b), a pena privativa de
3. Sempre que exercer o seu poder de indicação liberdade é vinculativa para os Estados Partes,
em conformidade com o parágrafo 1o, o Tribu- não podendo estes modificá-la em caso algum.
nal levará em consideração:
2. Será da exclusiva competência do Tribunal
a) O princípio segundo o qual os Estados pronunciar-se sobre qualquer pedido de revisão
Partes devem partilhar da responsabilidade na ou recurso. O Estado da execução não obstará
execução das penas privativas de liberdade, em a que o condenado apresente um tal pedido.
conformidade com os princípios de distribui-
ção eqüitativa estabelecidos no Regulamento ARTIGO 106 – Controle da Execução da
Processual; Pena e das Condições de Detenção

b) A aplicação de normas convencionais do 1. A execução de uma pena privativa de liberda-


direito internacional amplamente aceitas, que de será submetida ao controle do Tribunal e ob-
regulam o tratamento dos reclusos; servará as regras convencionais internacionais
amplamente aceitas em matéria de tratamento
c) A opinião da pessoa condenada; e dos reclusos.

d) A nacionalidade da pessoa condenada; 2. As condições de detenção serão reguladas pela


legislação do Estado da execução e observarão as
e) Outros fatores relativos às circunstâncias do regras convencionais internacionais amplamente
crime, às condições pessoais da pessoa conde- aceitas em matéria de tratamento dos reclusos.
nada ou à execução efetiva da pena, adequadas Em caso algum devem ser menos ou mais favorá-
à indicação do Estado da execução. veis do que as aplicáveis aos reclusos condenados
no Estado da execução por infrações análogas.
4. Se nenhum Estado for designado nos termos
do parágrafo 1o, a pena privativa de liberdade 3. As comunicações entre o condenado e o Tri-
será cumprida num estabelecimento prisional bunal serão livres e terão caráter confidencial.
designado pelo Estado anfitrião, em conformi-
Atos internacionais

dade com as condições estipuladas no acordo ARTIGO 107 – Transferência do Condenado


que determinou o local da sede previsto no depois de Cumprida a Pena
parágrafo 2o do artigo 3o. Neste caso, as despesas
relacionadas com a execução da pena ficarão a 1. Cumprida a pena, a pessoa que não seja
cargo do Tribunal. nacional do Estado da execução poderá, de
103
acordo com a legislação desse mesmo Estado, pelo Tribunal ao abrigo do Capítulo VII, sem
ser transferida para um outro Estado obrigado prejuízo dos direitos de terceiros de boa-fé e em
a aceitá-la ou ainda para um outro Estado que conformidade com os procedimentos previstos
aceite acolhê-la tendo em conta a vontade ex- no respectivo direito interno.
pressa pela pessoa em ser transferida para esse
Estado; a menos que o Estado da execução auto- 2. Sempre que um Estado Parte não possa tor-
rize essa pessoa a permanecer no seu território. nar efetiva a declaração de perda, deverá tomar
medidas para recuperar o valor do produto, dos
2. As despesas relativas à transferência do con- bens ou dos haveres cuja perda tenha sido de-
denado para um outro Estado nos termos do clarada pelo Tribunal, sem prejuízo dos direitos
parágrafo 1o serão suportadas pelo Tribunal se de terceiros de boa-fé.
nenhum Estado as tomar a seu cargo.
3. Os bens, ou o produto da venda de bens
3. Sem prejuízo do disposto no artigo 108, o imóveis ou, se for caso disso, da venda de outros
Estado da execução poderá igualmente, em bens, obtidos por um Estado Parte por força da
harmonia com o seu direito interno, extraditar execução de uma decisão do Tribunal, serão
ou entregar por qualquer outro modo a pessoa a transferidos para o Tribunal.
um Estado que tenha solicitado a sua extradição
ou a sua entrega para fins de julgamento ou de ARTIGO 110 – Reexame pelo Tribunal da
cumprimento de uma pena. Questão de Redução de Pena

ARTIGO 108 – Restrições ao Procedimento 1. O Estado da execução não poderá libertar o


Criminal ou à Condenação por Outras recluso antes de cumprida a totalidade da pena
Infrações proferida pelo Tribunal.

1. A pessoa condenada que esteja detida no Esta- 2. Somente o Tribunal terá a faculdade de de-
do da execução não poderá ser objeto de procedi- cidir sobre qualquer redução da pena e, ouvido
mento criminal, condenação ou extradição para o condenado, pronunciar-se-á a tal respeito,
um Estado terceiro em virtude de uma conduta
anterior à sua transferência para o Estado da 3. Quando a pessoa já tiver cumprido dois
execução, a menos que a Tribunal tenha dado a terços da pena, ou 25 anos de prisão em caso
sua aprovação a tal procedimento, condenação de pena de prisão perpétua, o Tribunal reexa-
ou extradição, a pedido do Estado da execução. minará a pena para determinar se haverá lugar
a sua redução. Tal reexame só será efetuado
2. Ouvido o condenado, o Tribunal pronunciar- transcorrido o período acima referido.
-se-á sobre a questão.
4. No reexame a que se refere o parágrafo 3o,
3. O parágrafo 1 deixará de ser aplicável se o
o
o Tribunal poderá reduzir a pena se constatar
condenado permanecer voluntariamente no ter- que se verificam uma ou várias das condições
ritório do Estado da execução por um período seguintes:
superior a 30 dias após o cumprimento integral
da pena proferida pelo Tribunal, ou se regressar a) A pessoa tiver manifestado, desde o início e
ao território desse Estado após dele ter saído. de forma contínua, a sua vontade em cooperar
com o Tribunal no inquérito e no procedimento;
Tráfico de Pessoas

ARTIGO 109 – Execução das Penas de Multa


e das Medidas de Perda b) A pessoa tiver, voluntariamente, facilitado a
execução das decisões e despachos do Tribunal
1. Os Estados Partes aplicarão as penas de mul- em outros casos, nomeadamente ajudando-o a
ta, bem como as medidas de perda ordenadas localizar bens sobre os quais recaíam decisões
104
de perda, de multa ou de reparação que poderão b) Promoverá junto à Presidência, ao Procu-
ser usados em benefício das vítimas; ou rador e ao Secretário as linhas orientadoras
gerais no que toca à administração do Tri-
c) Outros fatores que conduzam a uma clara bunal;
e significativa alteração das circunstâncias
suficiente para justificar a redução da pena, c) Examinará os relatórios e as atividades da
conforme previsto no Regulamento Processual; Mesa estabelecido nos termos do parágrafo 3o
e tomará as medidas apropriadas;
5. Se, no reexame inicial a que se refere o
parágrafo 3o, o Tribunal considerar não haver d) Examinará e aprovará o orçamento do
motivo para redução da pena, ele reexaminará Tribunal;
subseqüentemente a questão da redução da
pena com a periodicidade e nos termos pre- e) Decidirá, se for caso disso, alterar o número
vistos no Regulamento Processual. de juízes nos termos do artigo 36;

ARTIGO 111 – Evasão f) Examinará, em harmonia com os parágrafos


5 e 7 do artigo 87, qualquer questão relativa à
Se um condenado se evadir do seu local de não cooperação dos Estados;
detenção e fugir do território do Estado da
execução, este poderá, depois de ter consultado g) Desempenhará qualquer outra função com-
o Tribunal, pedir ao Estado no qual se encontra patível com as disposições do presente Estatuto
localizado o condenado que o entregue em ou do Regulamento Processual.
conformidade com os acordos bilaterais ou
multilaterais em vigor, ou requerer ao Tribunal 3. a) A Assembléia será dotada de uma Mesa
que solicite a entrega dessa pessoa ao abrigo do composta por um presidente, dois vice-
Capítulo IX. O Tribunal poderá, ao solicitar a -presidentes e 18 membros por ela eleitos por
entrega da pessoa, determinar que esta seja en- períodos de três anos;
tregue ao Estado no qual se encontrava a cumprir
a sua pena, ou a outro Estado por ele indicado. b) A Mesa terá um caráter representativo,
atendendo nomeadamente ao princípio da
distribuição geográfica eqüitativa e à ne-
CAPÍTULO XI – Assembléia dos Estados cessidade de assegurar uma representação
Partes adequada dos principais sistemas jurídicos
do mundo;
ARTIGO 112 – Assembléia dos Estados
Partes c) A Mesa reunir-se-á as vezes que forem ne-
cessárias, mas, pelo menos, uma vez por ano.
1. É constituída, pelo presente instrumento, uma Assistirá a Assembléia no desempenho das
Assembléia dos Estados Partes. Cada um dos Es- suas funções.
tados Partes nela disporá de um representante,
que poderá ser coadjuvado por substitutos e as- 4. A Assembléia poderá criar outros órgãos sub-
sessores. Outros Estados signatários do Estatuto sidiários que julgue necessários, nomeadamen-
ou da Ata Final poderão participar nos trabalhos te um mecanismo de controle independente
da Assembléia na qualidade de observadores. que proceda a inspeções, avaliações e inquéritos
Atos internacionais

em ordem a melhorar a eficiência e economia


2. A Assembléia: da administração do Tribunal.

a) Examinará e adotará, se adequado, as reco- 5. O Presidente do Tribunal, o Procurador e o


mendações da Comissão Preparatória; Secretário ou os respectivos representantes po-
105
derão participar, sempre que julguem oportuno, oficiais e de trabalho da Assembléia Geral da
nas reuniões da Assembléia e da Mesa. Organização das Nações Unidas.

6. A Assembléia reunir-se-á na sede do Tri-


bunal ou na sede da Organização das Nações CAPÍTULO XII – Financiamento
Unidas uma vez por ano e, sempre que as
circunstâncias o exigirem, reunir-se-á em ARTIGO 113 – Regulamento Financeiro
sessão extraordinária. A menos que o presente
Estatuto estabeleça em contrário, as sessões Salvo disposição expressa em contrário, todas
extraordinárias são convocadas pela Mesa, de as questões financeiras atinentes ao Tribunal e
ofício ou a pedido de um terço dos Estados às reuniões da Assembléia dos Estados Partes,
Partes. incluindo a sua Mesa e os seus órgãos subsidi-
ários, serão reguladas pelo presente Estatuto,
7. Cada um dos Estados Partes disporá de um pelo Regulamento Financeiro e pelas normas
voto. Todos os esforços deverão ser envidados de gestão financeira adotados pela Assembléia
para que as decisões da Assembléia e da Mesa dos Estados Partes.
sejam adotadas por consenso. Se tal não for
possível, e a menos que o Estatuto estabeleça ARTIGO 114 – Pagamento de Despesas
em contrário:
As despesas do Tribunal e da Assembléia dos
a) As decisões sobre as questões de fundo serão Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus
tomadas por maioria de dois terços dos mem- órgãos subsidiários, serão pagas pelos fundos
bros presentes e votantes, sob a condição que a do Tribunal.
maioria absoluta dos Estados Partes constitua
quorum para o escrutínio; ARTIGO 115 – Fundos do Tribunal e da
Assembléia dos Estados Partes
b) As decisões sobre as questões de procedi-
mento serão tomadas por maioria simples dos As despesas do Tribunal e da Assembléia dos
Estados Partes presentes e votantes. Estados Partes, incluindo a sua Mesa e os seus
órgãos subsidiários, inscritas no orçamento
8. O Estado Parte em atraso no pagamento da aprovado pela Assembléia dos Estados Partes,
sua contribuição financeira para as despesas do serão financiadas:
Tribunal não poderá votar nem na Assembléia
nem na Mesa se o total das suas contribuições a) Pelas quotas dos Estados Partes;
em atraso igualar ou exceder a soma das con-
tribuições correspondentes aos dois anos ante- b) Pelos fundos provenientes da Organização
riores completos por ele devidos. A Assembléia das Nações Unidas, sujeitos à aprovação da As-
Geral poderá, no entanto, autorizar o Estado sembléia Geral, nomeadamente no que diz res-
em causa a votar na Assembléia ou na Mesa peito às despesas relativas a questões remetidas
se ficar provado que a falta de pagamento é para o Tribunal pelo Conselho de Segurança.
devida a circunstâncias alheias ao controle do
Estado Parte. ARTIGO 116 – Contribuições Voluntárias

9. A Assembléia adotará o seu próprio Regi- Sem prejuízo do artigo 115, o Tribunal poderá
Tráfico de Pessoas

mento. receber e utilizar, a título de fundos adicionais,


as contribuições voluntárias dos Governos, das
10. As línguas oficiais e de trabalho da As- organizações internacionais, dos particulares,
sembléia dos Estados Partes serão as línguas das empresas e demais entidades, de acordo

106
com os critérios estabelecidos pela Assembléia Estado Parte poderá propor alterações ao Es-
dos Estados Partes nesta matéria. tatuto. O texto das propostas de alterações será
submetido ao Secretário-Geral da Organização
ARTIGO 117 – Cálculo das Quotas das Nações Unidas, que o comunicará sem
demora a todos os Estados Partes.
As quotas dos Estados Partes serão calculadas
em conformidade com uma tabela de quotas que 2. Decorridos pelo menos três meses após a
tenha sido acordada, com base na tabela adotada data desta notificação, a Assembléia dos Estados
pela Organização das Nações Unidas para o seu Partes decidirá na reunião seguinte, por maioria
orçamento ordinário, e adaptada de harmonia dos seus membros presentes e votantes, se deverá
com os princípios nos quais se baseia tal tabela. examinar a proposta. A Assembléia poderá tratar
desta proposta, ou convocar uma Conferência
ARTIGO 118 – Verificação Anual de Contas de Revisão se a questão suscitada o justificar.

Os relatórios, livros e contas do Tribunal, in- 3. A adoção de uma alteração numa reunião
cluindo os balanços financeiros anuais, serão da Assembléia dos Estados Partes ou numa
verificados anualmente por um revisor de Conferência de Revisão exigirá a maioria de
contas independente. dois terços dos Estados Partes, quando não for
possível chegar a um consenso.

CAPÍTULO XIII – Cláusulas Finais 4. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 5,


qualquer alteração entrará em vigor, para
ARTIGO 119 – Resolução de Diferendos todos os Estados Partes, um ano depois que
sete oitavos de entre eles tenham depositado
1. Qualquer diferendo relativo às funções ju- os respectivos instrumentos de ratificação ou
diciais do Tribunal será resolvido por decisão de aceitação junto do Secretário-Geral da Or-
do Tribunal. ganização das Nações Unidas.

2. Quaisquer diferendos entre dois ou mais 5. Qualquer alteração ao artigo 5o, 6o, 7o e 8o do
Estados Partes relativos à interpretação ou à presente Estatuto entrará em vigor, para todos
aplicação do presente Estatuto, que não forem os Estados Partes que a tenham aceitado, um
resolvidos pela via negocial num período de ano após o depósito dos seus instrumentos de
três meses após o seu início, serão submetidos ratificação ou de aceitação. O Tribunal não
à Assembléia dos Estados Partes. A Assembléia exercerá a sua competência relativamente a um
poderá procurar resolver o diferendo ou fazer crime abrangido pela alteração sempre que este
recomendações relativas a outros métodos de tiver sido cometido por nacionais de um Estado
resolução, incluindo a submissão do diferendo Parte que não tenha aceitado a alteração, ou no
à Corte Internacional de Justiça, em conformi- território desse Estado Parte.
dade com o Estatuto dessa Corte.
6. Se uma alteração tiver sido aceita por sete
ARTIGO 120 – Reservas oitavos dos Estados Partes nos termos do pará-
grafo 4, qualquer Estado Parte que não a tenha
Não são admitidas reservas a este Estatuto. aceito poderá retirar-se do Estatuto com efeito
imediato, não obstante o disposto no parágrafo
Atos internacionais

ARTIGO 121 – Alterações 1o do artigo 127, mas sem prejuízo do disposto


no parágrafo 2o do artigo 127, mediante notifi-
1. Expirado o período de sete anos após a en- cação da sua retirada o mais tardar um ano após
trada em vigor do presente Estatuto, qualquer a entrada em vigor desta alteração.

107
7. O Secretário-Geral da Organização das no parágrafo 1o, o Secretário-Geral da Organi-
Nações Unidas comunicará a todos os Estados zação das Nações Unidas, mediante aprovação
Partes quaisquer alterações que tenham sido da maioria dos Estados Partes, convocará uma
adotadas em reunião da Assembléia dos Esta- Conferência de Revisão.
dos Partes ou numa Conferência de Revisão.
3. A adoção e a entrada em vigor de qual-
ARTIGO 122 – Alteração de Disposições de quer alteração ao Estatuto examinada numa
Caráter Institucional Conferência de Revisão serão reguladas pelas
disposições do artigo 121, parágrafos 3o a 7o.
1. Não obstante o artigo 121, parágrafo 1o,
qualquer Estado Parte poderá, em qualquer ARTIGO 124 – Disposição Transitória
momento, propor alterações às disposições do
Estatuto, de caráter exclusivamente institucio- Não obstante o disposto nos parágrafos 1o e 2o
nal, a saber, artigos 35, 36, parágrafos 8 e 9, ar- do artigo 12, um Estado que se torne Parte no
tigos 37, 38, 39, parágrafos 1o (as primeiras duas presente Estatuto, poderá declarar que, durante
frases), 2o e 4o, artigo 42, parágrafos 4 a 9, artigo um período de sete anos a contar da data da
43, parágrafos 2o e 3o e artigos 44, 46, 47 e 49. entrada em vigor do Estatuto no seu território,
O texto de qualquer proposta será submetido não aceitará a competência do Tribunal relativa-
ao Secretário-Geral da Organização das Nações mente à categoria de crimes referidos no artigo
Unidas ou a qualquer outra pessoa designada 8o, quando haja indícios de que um crime tenha
pela Assembléia dos Estados Partes, que o sido praticado por nacionais seus ou no seu ter-
comunicará sem demora a todos os Estados ritório. A declaração formulada ao abrigo deste
Partes e aos outros participantes na Assembléia. artigo poderá ser retirada a qualquer momento.
O disposto neste artigo será reexaminado na
2. As alterações apresentadas nos termos deste Conferência de Revisão a convocar em confor-
artigo, sobre as quais não seja possível chegar a midade com o parágrafo 1o do artigo 123.
um consenso, serão adotadas pela Assembléia
dos Estados Partes ou por uma Conferência de ARTIGO 125 – Assinatura, Ratificação,
Revisão ,por uma maioria de dois terços dos Es- Aceitação, Aprovação ou Adesão
tados Partes. Tais alterações entrarão em vigor,
para todos os Estados Partes, seis meses após 1. O presente Estatuto estará aberto à assinatura
a sua adoção pela Assembléia ou, conforme o de todos os Estados na sede da Organização
caso, pela Conferência de Revisão. das Nações Unidas para a Alimentação e a
Agricultura, em Roma, a 17 de julho de 1998,
ARTIGO 123 – Revisão do Estatuto continuando aberto à assinatura no Ministério
dos Negócios Estrangeiros de Itália, em Roma,
1. Sete anos após a entrada em vigor do presente até 17 de outubro de 1998. Após esta data, o
Estatuto, o Secretário-Geral da Organização das Estatuto continuará aberto na sede da Organi-
Nações Unidas convocará uma Conferência zação das Nações Unidas, em Nova Iorque, até
de Revisão para examinar qualquer alteração 31 de dezembro de 2000.
ao presente Estatuto. A revisão poderá incidir
nomeadamente, mas não exclusivamente, 2. O presente Estatuto ficará sujeito a ratificação,
sobre a lista de crimes que figura no artigo 5o. aceitação ou aprovação dos Estados signatários.
A Conferência estará aberta aos participantes Os instrumentos de ratificação, aceitação ou
Tráfico de Pessoas

na Assembléia dos Estados Partes, nas mesmas aprovação serão depositados junto do Secretá-
condições. rio-Geral da Organização das Nações Unidas.

2. A todo o momento ulterior, a requerimento 3. O presente Estatuto ficará aberto à adesão de


de um Estado Parte e para os fins enunciados qualquer Estado. Os instrumentos de adesão
108
serão depositados junto do Secretário-Geral da 2. A retirada não isentará o Estado das obri-
Organização das Nações Unidas. gações que lhe incumbem em virtude do
presente Estatuto enquanto Parte do mesmo,
ARTIGO 126 – Entrada em Vigor incluindo as obrigações financeiras que tiver
assumido, não afetando também a cooperação
1. O presente Estatuto entrará em vigor no com o Tribunal no âmbito de inquéritos e de
primeiro dia do mês seguinte ao termo de um procedimentos criminais relativamente aos
período de 60 dias após a data do depósito quais o Estado tinha o dever de cooperar e que
do sexagésimo instrumento de ratificação, de se iniciaram antes da data em que a retirada
aceitação, de aprovação ou de adesão junto do começou a produzir efeitos; a retirada em nada
Secretário-Geral da Organização das Nações afetará a prossecução da apreciação das causas
Unidas. que o Tribunal já tivesse começado a apreciar
antes da data em que a retirada começou a
2. Em relação ao Estado que ratifique, aceite ou produzir efeitos.
aprove o Estatuto ,ou a ele adira após o depósito
do sexagésimo instrumento de ratificação, de ARTIGO 128 – Textos Autênticos
aceitação, de aprovação ou de adesão, o Estatuto
entrará em vigor no primeiro dia do mês se- O original do presente Estatuto, cujos textos em
guinte ao termo de um período de 60 dias após árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo
a data do depósito do respectivo instrumento fazem igualmente fé, será depositado junto
de ratificação, de aceitação, de aprovação ou do Secretário-Geral das Nações Unidas, que
de adesão. enviará cópia autenticada a todos os Estados.

ARTIGO 127 – Retirada EM FÉ DO QUE, os abaixo assinados, devida-


mente autorizados pelos respectivos Governos,
1. Qualquer Estado Parte poderá, mediante no- assinaram o presente Estatuto.
tificação escrita e dirigida ao Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas, retirar-se Aprovado pelo Decreto Legislativo n o 112 de
do presente Estatuto. A retirada produzirá 6/6/2002, publicado no DOU de 7/6/2002, e
efeitos um ano após a data de recepção da no- promulgado pelo Decreto no 4.388 de 25/9/2002,
tificação, salvo se esta indicar uma data ulterior. publicado no DOU de 26/9/2002.

Atos internacionais

109
Convenção 182 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT)
Convenção sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para a sua
Eliminação.

A Conferência Geral da Organização Interna- econômico sustentado conducente ao progresso


cional do Trabalho: social, em particular à mitigação da pobreza e
à educação universal;
Convocada em Genebra pelo Conselho de
Administração da Repartição Internacional do RECORDANDO a Convenção sobre Direitos
Trabalho e reunida naquela cidade em 1o de ju- da Criança adotada pela Assembléia Geral das
nho de 1999 em sua octogésima sétima reunião; Nações Unidas em 20 de novembro de 1989;

CONSIDERANDO a necessidade de adotar no- RECORDANDO a Declaração da OIT relativa


vos instrumentos para a proibição e eliminação aos princípios e direitos fundamentais no traba-
das piores formas de trabalho infantil, principal lho e seu seguimento, adotada pela Conferência
prioridade da ação nacional e internacional, Internacional do Trabalho em sua 86a reunião,
incluídas a cooperação e a assistência inter- celebrada em 1998;
nacionais, como complemento da Convenção
e Recomendação sobre a idade mínima de RECORDANDO que algumas das piores for-
admissão ao emprego 1973, que continuam mas de trabalho infantil são objeto de outros
sendo instrumentos fundamentais sobre o instrumentos internacionais, em particular a
trabalho infantil; Convenção sobre o trabalho forçado, 1930, e
a Convenção suplementar das Nações Unidas
CONSIDERANDO que a eliminação efetiva sobre a abolição da escravidão, o tráfico de
das piores formas de trabalho infantil requer escravos e as instituições e práticas análogas à
uma ação imediata e abrangente que leve em escravidão, 1956;
conta importância da educação básica gratuita
e a necessidade de liberar de todas essas formas TENDO decidido adotar diversas propostas
de trabalho as crianças afetadas e assegurar a relativas ao trabalho infantil, questão que
sua reabilitação e sua inserção social ao mesmo constitui o quarto ponto da agenda da reu-
tempo em que são atendidas as necessidades de nião, e
suas famílias;
TENDO determinado que essas propostas
RECORDANDO a Resolução sobre a elimi- tornem a forma de uma convenção interna-
nação do trabalho infantil, adotada pela Con- cional,
ferência Internacional do Trabalho em sua 83a
reunião, celebrada em 1996; ADOTA, com data de dezessete de junho de
Tráfico de Pessoas

mil novecentos e noventa e nove, a seguin-


RECONHECENDO que o trabalho infantil é te Convenção, que poderá ser citada como
em grande parte causado pela pobreza e que Convenção sobre as piores formas de trabalho
a solução no longo prazo está no crescimento infantil, 1999:

110
ARTIGO 1 de trabalhadores interessadas e levando em
consideração as normas internacionais na
Todo Membro que ratifique a presente Conven- matéria, em particular os parágrafos 3 e 4 da
ção deverá adotar medidas imediatas e eficazes Recomendação sobre as piores formas de tra-
para assegurar a proibição e eliminação das balho infantil, 1999.
piores formas de trabalho infantil, em caráter
de urgência. 2. A autoridade competente, após consulta às
organizações de empregados e de trabalhado-
ARTIGO 2 res interessadas, deverá localizar os tipos de
trabalho determinados conforme o parágrafo
Para efeitos da presente Convenção, o termo 1o deste Artigo.
“criança” designa toda pessoa menor de 18
anos. 3. A lista dos tipos de trabalho determinados
conforme o parágrafo 1o deste Artigo deverá ser
ARTIGO 3 examinada periodicamente e, caso necessário,
revista, em consulta com às organizações de
Para efeitos da presente Convenção, a expressão empregados e de trabalhadores interessadas.
“as piores formas de trabalho infantil” abrange:
ARTIGO 5
a) todas as formas de escravidão ou práticas
análogas à escravidão, tais como a venda e 1. Todo Membro, após consulta às organizações
tráfico de crianças, a servidão por dívidas e de empregadores e de trabalhadores, deverá es-
a condição de servo, e o trabalho forçado ou tabelecer ou designar mecanismos apropriados
obrigatório, inclusive o recrutamento forçado para monitorar a aplicação dos dispositivos que
ou obrigatório de crianças para serem utilizadas colocam em vigor a presente Convenção.
em conflitos armados;
ARTIGO 6
b) a utilização, o recrutamento ou a oferta de
crianças para a prostituição, a produção de 1. Todo membro deverá elaborar e implementar
pornografia ou atuações pornográficas; programas de ação para eliminar, como me-
dida prioritária, as piores formas de trabalho
c) a utilização, recrutamento ou a oferta de infantil.
crianças para a realização para a realização de
atividades ilícitas, em particular a produção e o 2. Esses programas de ação deverão ser elabo-
tráfico de entorpecentes, tais com definidos nos rados e implementados em consulta com as
tratados internacionais pertinentes; e, instituições governamentais competentes e as
organizações de empregadores e de trabalha-
d) o trabalho que, por sua natureza ou pelas dores, levando em consideração as opiniões de
condições em que é realizado, é suscetível de outros grupos interessados, caso apropriado.
prejudicar a saúde, a segurança ou a moral das
crianças. ARTIGO 7

ARTIGO 4 1. Todo Membro deverá adotar todas as medi-


das necessárias para garantir a aplicação efetiva
Atos internacionais

1. Os tipos de trabalhos a que se refere o Artigo e o cumprimento dos dispositivos que colocam
3, d), deverão ser determinados pela legislação em vigor a presente Convenção, inclusive o
nacional ou pela autoridade competente, após estabelecimento e a aplicação de sanções penais
consulta às organizações de empregadores e ou outras sanções, conforme o caso.

111
2. Todo Membro deverá adotar, levando em ARTIGO 10
consideração a importância para a eliminação
de trabalho infantil, medidas eficazes e em 1. Esta Convenção obrigará unicamente aqueles
prazo determinado, com o fim de: Membros da Organização Internacional do Tra-
balho cujas ratificações tenham sido registradas
a) impedir a ocupação de crianças nas piores pelo Diretor-Geral da Repartição Internacional
formas de trabalho infantil; do Trabalho.

b) prestar a assistência direta necessária e ade- 2. Entrará em vigor 12 (doze) meses depois
quada para retirar as crianças das piores formas da data em que as ratificações de 2 (dois) dos
de trabalho infantil e assegurar sua reabilitação Membros tenham sido registradas pelo Diretor-
e inserção social; -Geral.

c) assegurar o acesso ao ensino básico gratuito 3. A partir desse momento, esta Convenção
e, quando for possível e adequado, à formação entrará em vigor, para cada Membro, 12 (doze)
profissional a todas as crianças que tenham meses apos a data em que tenha sido registrada
sido retiradas das piores formas de trabalho sua ratificação.
infantil;
ARTIGO 11
d) identificar as crianças que estejam particu-
larmente expostas a riscos e entrar em contato 1. Todo Membro que tenha ratificado esta Con-
direto com elas; e, venção poderá denunciá-la ao expirar um perí-
odo de dez anos, a partir da data em que tenha
e) levar em consideração a situação particular entrado em vigor, mediante ata comunicada,
das meninas. para registro, ao Diretor-Geral da Repartição
Internacional do Trabalho. A denúncia não
3. Todo Membro deverá designar a autorida- surtirá efeito até 1 (um) ano após a data em que
de competente encarregada da aplicação dos tenha sido registrada.
dispositivos que colocam em vigor a presente
Convenção. 2. Todo Membro que tenha ratificado esta
Convenção e que, no prazo de um ano após
ARTIGO 8 a expiração do período de dez anos mencio-
nados no parágrafo precedente, não faça uso
Os Membros deverão tomar medidas apropria- do direito de denúncia previsto neste Artigo
das para apoiar-se reciprocamente na aplicação ficará obrigado durante um novo período de
dos dispositivos da presente Convenção por dez anos, podendo, sucessivamente, denun-
meio de uma cooperação e/ou assistência in- ciar esta Convenção ao expirar cada período
ternacionais intensificadas, as quais venham de dez anos, nas condições previstas neste
a incluir o apoio ao desenvolvimento social e Artigo.
econômico, aos programas de erradicação da
pobreza e à educação universal. ARTIGO 12

ARTIGO 9 1. O Diretor-Geral da Repartição Internacional


do Trabalho notificará todos os membros da
Tráfico de Pessoas

As ratificações formais da presente Conven- Organização Internacional do Trabalho do re-


ção serão comunicadas, para registro, ao gistro de todas as ratificações e atas de denúncia
Diretor-Geral da Repartição Internacional do que lhe forem comunicadas pelos Membros da
Trabalho. Organização.

112
2. Ao notificar os Membros da Organização do e a menos que a nova Convenção contenha
registro da segunda ratificação que lhe tenha dispositivos em contrário:
sido comunicada, o Diretor-Geral informará
os Membros da Organização sobre a data de a) a ratificação, por um Membro, da nova Con-
entrada em vigor da presente Convenção. venção revisora implicará ipso jure a denúncia
imediata desta Convenção, não obstante os
ARTIGO 13 dispositivos contidos no Artigo 11, desde que
a nova Convenção revisora tenha entrado em
O Diretor-Geral da Repartição Internacional vigor;
do Trabalho apresentará ao Secretário-Geral
das Nações Unidas, para efeitos de registro e b) a partir da data em que entrar em vigor a
em conformidade com o Artigo 102 da Carta nova Convenção revigora, a presente Con-
das Nações Unidas, informação completa sobre venção cessará de estar à ratificação pelos
todas as ratificações e atas de denúncia que tenha Membros.
registrado de acordo com os Artigos precedentes.
2. Esta Convenção continuará em vigor em
ARTIGO 14 qualquer hipótese, em sua forma e conteúdo
atuais, para os Membros que a tenham ratifi-
Sempre que julgar necessário, o Conselho de cado, mas não tenham ratificado a Convenção
Administração da Repartição Internacional revisora.
do Trabalho apresentará à Conferência Geral
um relatório sobre a aplicação da Convenção e ARTIGO 16
examinará a conveniência de incluir na agenda
da Conferência a questão de sua revisão total As versões inglesa e francesa do texto desta
ou parcial. Convenção são igualmente autênticas.

ARTIGO 15 Aprovada pelo Decreto Legislativo n o 178 de


14/12/99, publicado no DOU de 15/12/99, e
1. Caso a Conferência adote uma nova Conven- promulgada pelo Decreto no 3.597 de 12/9/2000,
ção que revise, total ou parcialmente, a presente, publicado no DOU de 13/9/2000.

Atos internacionais

113
Recomendação 190 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT)
Recomendação sobre a Proibição das Piores Fomas de Trabalho Infantil e a Ação Imediata para a
sua Eliminação.

A Conferência Geral da Organização Interna- consulta com as instituições governamentais


cional do Trabalho: competentes e as organizações de empregadores
e de trabalhadores, levando em consideração
Convocada em Genebra pelo Conselho de as opiniões das crianças diretamente afetadas
Administração da Repartição Internacional pelas piores formas de trabalho infantil, de suas
do Trabalho e reunida naquela cidade em 1o famílias e, caso apropriado, de outros grupos
de junho de 1999, em sua octogésima sétima interessados comprometidos com os objetivos
reunião: da Convenção e da presente Recomendação.
Os objetivos de tais programas deveriam ser,
TENDO adotado a Convenção sobre as piores entre outros:
formas de trabalho infantil, 1999;
a) identificar e denunciar as piores formas de
TENDO decidido adotar diversas propostas trabalho infantil;
relativas ao trabalho infantil, questão que cons-
titui o quarto ponto da agenda da reunião; e b) impedir a ocupação de crianças nas piores
formas de trabalho infantil ou retirá-las dessas
TENDO determinado que essas propostas formas de trabalho, protegê-las de represálias e
tomem a forma de uma recomendação que garantir sua reabilitação e inserção social atra-
complemente a Convenção sobre as piores vés de medidas que atendam a suas necessidade
formas de trabalho infantil, 1999, educacionais, físicas e psicólogas;

ADOTA, nesta data de dezessete de junho de c) dispensar especial atenção;


mil novecentos e noventa e nove, a seguinte
Recomendação, que poderá ser citada como i) às crianças mais jovens;
a Recomendação sobre as Piores Formas de
Trabalho Infantil, 1999. ii) às meninas;

1. Os dispositivos da presente Recomendação iii) ao problema do trabalho oculto, no qual


complementam os da Convenção sobre as pio- as meninas estão particularmente expostas a
res formas de trabalho infantil, 1999 (doravante riscos; e,
denominada “a Convenção”), e deveriam ser
aplicados em conjuntos com os mesmos. iv) a outros grupos de crianças que sejam espe-
cialmente vulneráveis ou tenham necessidades
particulares;
Tráfico de Pessoas

I. PROGRAMAS DE AÇÃO
d) identificar as comunidades nas quais as
1. Os programas de ação mencionados no Ar- crianças estejam especialmente expostas a
tigo 6 da Convenção deveriam ser elaborados riscos, entrar em contato direto e trabalhar
e implementados em caráter de urgência, em com elas; e
114
e) informar, sensibilizar e mobilizar a opinião III. APLICAÇÃO
públicas e os grupos interessados, inclusive as
crianças e suas famílias. 5. 1) Deveriam ser compilados e mantidos
atualizados dados estatísticos e informações
pormenorizadas sobre a natureza e extensão
II. TRABALHO PERIGOSO do trabalho infantil, de modo a servir de base
para o estabelecimento das prioridades da ação
1. Ao determinar e localizar onde se praticam nacional dirigida à eliminação do trabalho in-
os tipos de trabalho a que se refere o Artigo fantil, em particular à proibição e à eliminação
3, d) da Convenção, deveriam ser levadas em de suas piores formas, em caráter de urgência.
consideração, entre outras coisas:
2) Na medida do possível, essas informações e
a) os trabalhos em que a criança ficar expos- esses dados estatísticos deveriam incluir dados
ta a abusos de ordem física, psicológica ou desagregados por sexo, faixa etária, ocupação,
sexual; setor de atividade econômica, situação no
emprego, freqüência escolar e localização geo-
b) os trabalhos subterrâneos, debaixo d’água, gráfica. Deveria ser levada em consideração a
em alturas perigosas ou em locais confinados; importância de um sistema eficaz de registros
de nascimentos, que compreenda a expedição
c) os trabalhos que se realizam com máquinas, de certidões de nascimento.
equipamentos e ferramentas perigosos, ou
que impliquem a manipulação ou transporte 3) Deveriam ser compilados e mantidos atu-
manual de cargas pesadas; alizados os dados pertinentes em matéria de
violação das normas jurídicas nacionais sobre
d) os trabalhos realizados em um meio insalu- a proibição e a eliminação das piores formas de
bre, no qual as crianças estiverem expostas, por trabalho infantil.
exemplo, a substâncias, agentes ou processos
perigosos ou a temperaturas, níveis de ruído 6. A compilação e o processamento das infor-
ou de vibrações prejudiciais à saúde; e mações e dos dados a que se refere o parágrafo
5 anterior deveriam ser realizados com o devido
e) os trabalhos que sejam executados em con- respeito ao direito à privacidade.
dições especialmente difíceis, como os horários
prolongados ou noturnos, ou trabalhos que re- 7. As informações compiladas conforme o
tenham injustificadamente a criança em locais disposto no parágrafo 5 anterior deveriam ser
do empregador. comunicadas periodicamente à Repartição
Internacional do Trabalho.
4. No que concerne os tipos de trabalho a que
se faz referência no Artigo 3, d) da Convenção 8. Os Membros, após consulta às organizações
e no parágrafo 3 da presente Recomendação, de empregadores e de trabalhadores, deveriam
a legislação nacional ou a autoridade com- estabelecer ou designar mecanismos nacionais
petente, após consulta às organizações de apropriados para monitorar a aplicação das
empregadores e de trabalhadores interessadas, normas jurídicas nacionais sobre a proibição
poderá autorizar o emprego ou trabalho a e a eliminação das piores formas de trabalho
partir da idade de 16 anos, desde que fiquem infantil.
Atos internacionais

plenamente garantidas a saúde, a segurança


e a moral dessas crianças e que tenham re- 9. Os Membros deveriam assegurar que as au-
cebido instruções ou formação profissional toridades competentes incumbidas da aplicação
adequada e específica na área da atividade das normas jurídicas nacionais sobre a proibi-
correspondente. ção e eliminação das piores formas de trabalho
115
infantil colaborem entre si e coordenem suas entorpecentes, tais com definidos nos tratados
atividades. internacionais pertinentes, ou para a realização
de atividades que impliquem o porte ou o uso
10. A legislação nacional ou autoridade compe- ilegais de armas de fogo ou outras armas.
tente deveria determinar a quem será atribuída
a responsabilidade em caso de descumprimento 13. Os Membros deveriam assegurar que sejam
das normas jurídicas nacionais sobre a proibi- impostas sanções, inclusive de caráter penal,
ção e eliminação das piores formas de trabalho quando proceda, em caso de violação das nor-
infantil. mas jurídicas nacionais sobre a proibição e a
eliminação de qualquer dos tipos de trabalho a
11. Os Membros deveriam colaborar, na medida que se refere o artigo 3 d) da Convenção.
em que for compatível com a legislação nacio-
nal, com os esforços internacionais tendentes à 14. Quando apropriado, os Membros também
proibição e eliminação das piores formas de tra- deveriam estabelecer em caráter de urgência
balho infantil, em caráter de urgência, mediante: outras medidas penais, civis ou administrativas
para garantir a aplicação efetiva das normas ju-
a) a compilação e o intercâmbio de informações rídicas nacionais sobre a proibição e eliminação
relativas a atos delituosos, incluídos aqueles que das piores formas de trabalho infantil, tais como
envolvam redes internacionais; a supervisão especial das empresas que tiverem
utilizado as piores formas de trabalho infantil e,
b) a investigação e a instauração de inquérito nos casos de violação reiterada, a revogação tem-
contra aqueles que estiverem envolvidos na ven- porária ou permanente das licenças para operar.
da e tráfico de crianças ou na utilização, recru-
tamento ou oferta de crianças para a realização 15. Dentre outras medidas voltadas para a
de atividades ilícitas, prostituição, produção de proibição e eliminação das piores formas de
pornografia ou atuações pornográficas; e, trabalho infantil, poderiam ser incluídas as
seguintes:
c) o registro dos autores de tais delitos.
a) informar, sensibilizar e mobilizar o público
12. Os Membros deveriam adotar dispositi- em geral e, em particular, os dirigentes políticos
vos com o fim de considerar atos delituosos nacionais e locais, os parlamentares e as auto-
as piores formas de trabalho infantil que são ridades judiciárias;
indicadas a seguir:
b) tornar partícipes e treinar as organizações de
a) todas as formas de escravidão ou as práticas empregadores e trabalhadores e as organizações
análogas à escravidão, como a venda e o tráfico da sociedade civil;
de crianças, a servidão por dívidas e a condição
de servo, e o trabalho forçado ou obrigatório, c) dar formação adequada aos funcionários
inclusive o recrutamento forçado ou obriga- públicos competentes, em particular aos fiscais
tório de crianças para serem utilizadas em e aos funcionários encarregados do cumpri-
conflitos armados; mento da lei, bem como a outros profissionais
pertinentes;
b) a utilização, recrutamento ou oferta de
crianças para a prostituição, a produção de d) permitir a todo Membro que processe em
Tráfico de Pessoas

pornografia ou atuações pornográficas; e, seu território seus nacionais por infringir sua
legislação nacional sobre a proibição e elimi-
c) a utilização, recrutamento ou oferta de nação imediata das piores formas de trabalho
criança para a realização de atividades ilícitas, infantil, ainda que estas infrações tenham sido
em particular para a produção e tráfico de cometidas fora de seu território;
116
e) simplificar os procedimentos judiciais e ad- crianças que trabalham nas condições referidas
ministrativos e assegurar que sejam adequados na Convenção; e
e rápidos;
ii) sensibilizar os pais sobre o problema das
f) estimular o desenvolvimento de políticas crianças que trabalham nessas condições.
empresariais que visem à promoção dos fins
da Convenção; 16. Uma cooperação e/ou assistência interna-
cional maior entre os Membros destinada a
g) registrar e difundir as melhores práticas em proibir e eliminar efetivamente as piores formas
matéria de eliminação do trabalho infantil; de trabalho infantil deveria complementar os
esforços nacionais e poderia, segundo proceda,
h) difundir, nos idiomas e dialetos correspon- desenvolver-se e implementar-se em consulta
dentes, as normas jurídicas ou de outro tipo com as organizações de empregadores e de
sobre o trabalho infantil; trabalhadores. Essa cooperação e/ou assistência
internacional deveria incluir:
i) prever procedimentos especiais para queixas,
adotar medidas para proteger da discrimina- a) a mobilização de recursos para os programas
ção e de represálias aqueles que denunciem nacionais ou internacionais;
legitimamente toda violação dos dispositivos
da Convenção, criar serviços telefônicos de b) a assistência jurídica mutua;
assistência e estabelecer centros de contato ou
designar mediadores; c) a assistência técnica, inclusive o intercâmbio
de informações; e
j) adotar medidas apropriadas para melhorar
a infra-estrutura educativa e a capacitação de d) o apoio ao desenvolvimento econômico e so-
professores que atendam às necessidades dos cial, aos programas de erradicação da pobreza
meninos e das meninas; e e à educação universal.

k) na medida do possível, levar em conta, nos Aprovada pelo Decreto Legislativo n o 178 de
programas de ação nacionais, a necessidade de: 14/12/99, publicado no DOU de 15/12/99, e
promulgada pelo Decreto no 3.597 de 12/9/2000,
i) promover o emprego e a capacitação pro- publicado no DOU de 13/9/2000.
fissional dos pais e adultos das famílias das

Atos internacionais

117
Convenção Interamericana sobre Tráfico
Internacional de Menores

Os Estados Partes nesta Convenção, a) garantir a proteção do menor, levando em


consideração os seus interesses superiores;
CONSIDERANDO a importância de assegurar
proteção integral e efetiva ao menor, mediante a b) instituir entre os Estados Partes um sistema
implementação de mecanismos adequados que de cooperação jurídica que consagre a pre-
garantam o respeito aos seus direitos; venção e a sanção do tráfico internacional de
menores, bem como a adoção das disposições
CONSCIENTES de que o tráfico internacio- jurídicas e administrativas sobre a referida
nal de menores constitui uma preocupação matéria com essa finalidade;
universal;
c) assegurar a pronta restituição do menor
LEVANDO em conta o direito convencional em vítima do tráfico internacional ao Estado onde
matéria de proteção internacional do menor e, tem residência habitual, levando em conta os
em especial, o disposto nos Artigos 11 e 35 da interesses superiores do menor.
Convenção sobre os Direitos do Menor, ado-
tada pela Assembléia Geral da Nações Unidas ARTIGO 2
em 20 de novembro de 1989;
Esta Convenção aplicar-se-á a qualquer menor
CONVENCIDOS da necessidade de regular os que resida habitualmente em um Estado Parte
aspectos civis e penais do tráfico internacional ou nele se encontre no momento em que ocorra
de menores; e um ato de tráfico internacional de menores
que o afete.
REAFIRMANDO a importância da cooperação
internacional no sentido de proteger eficazmen- Para os efeitos desta Convenção, entende-se:
te os interesses superiores do menor,
a) por “menor”, todo ser humano menor de 18
Convêm no seguinte: anos de idade;

b) por “tráfico internacional de menores”, a


CAPÍTULO PRIMEIRO – Disposições subtração, a transferência ou retenção, ou a ten-
Gerais tativa de subtração, transferência ou retenção de
um menor, com propósitos ou por meios ilícitos;
ARTIGO 1
c) por “propósitos ilícitos”, entre outros, prosti-
O objeto desta Convenção, com vistas à prote- tuição, exploração sexual, servidão ou qualquer
ção dos direitos fundamentais e dos interesses outro propósito ilícito, seja no Estado em que
Tráfico de Pessoas

superiores do menor, é a prevenção e sanção do o menor resida habitualmente, ou no Estado


tráfico internacional de menores, bem como a Parte em que este se encontre; e
regulamentação de seus aspectos civis e penais.
d) por “meios ilícitos”, entre outros, o seqüestro,
Neste sentido, os Estados Partes obrigam-se a: o consentimento mediante coação ou fraude,
118
a entrega ou o recebimento de pagamentos ou municação à Secretaria-Geral da organização
benefícios ilícitos com vistas a obter o consen- dos Estados Americanos.
timento dos pais, das pessoas ou da instituição
responsáveis pelo menor, ou qualquer outro ARTIGO 6
meio ilícito utilizado seja no Estado de resi-
dência habitual do menor ou no Estado Parte Os Estados Partes cuidarão do interesse do me-
em que este se encontre. nor, mantendo os procedimentos de aplicação
desta Convenção sempre confidenciais.
ARTIGO 3

Esta Convenção também abrangerá os aspectos CAPÍTULO II – Aspectos Penais


civis não previstos da subtração, transferência
e retenção ilícitas de menores no âmbito inter- ARTIGO 7
nacional, não previstos em outras convenções
internacionais sobre a matéria. Os Estados Partes comprometem-se a adotar,
em conformidade com seu direito interno,
ARTIGO 4 medidas eficazes para prevenir e sancionar se-
veramente a ocorrência de tráfico internacional
Os Estados Partes cooperarão com os Estados de menores definido nesta Convenção.
não Partes, na medida do possível, na pre-
venção e sanção do tráfico internacional de ARTIGO 8
menores e na proteção e cuidado dos menores
vítimas do fato ilícito. Os Estados Partes comprometem-se a:

Nesse sentido, as autoridades competentes dos a) prestar, por meio de suas autoridades cen-
Estados Partes deverão notificar as autoridades trais e observados os limites da lei interna de
competentes de um Estado não Parte, nos cada Estado Parte e os tratados internacionais
casos em que se encontrar em seu território aplicáveis, pronta e expedita assistência mútua
um menor que tenha sido vítima do tráfico para as diligências judiciais e administrativas,
internacional de menores. obtenção de provas e demais atos processuais
necessários ao cumprimento dos objetivos
ARTIGO 5 desta Convenção;

Para os efeitos desta Convenção, cada Estado b) estabelecer, por meio de sua autoridades
Parte designará uma Autoridade Central e co- centrais, mecanismos de intercâmbio de in-
municará essa designação à Secretaria-Geral da formação sobre legislação nacional, jurispru-
Organização dos Estados Americanos. dência, práticas administrativas, estatísticas
e modalidades que tenha assumido o tráfico
Um Estado federal, um Estado em que vigorem internacional de menores em seu territórios; e
diferentes sistemas jurídicos ou um Estado com
unidades territoriais autônomas pode designar c) dispor sobre as medidas necessárias para
mais de uma Autoridade Central e especificar a remoção dos obstáculos capazes de afetar a
a extensão jurídica ou territorial de suas fun- aplicação desta Convenção em seus respectivos
ções. O Estado que fizer uso dessa faculdade Estados.
Atos internacionais

designará a Autoridade Central a que possam


ser dirigidas todas as comunicações. ARTIGO 9

O Estado Parte que designar mais de uma Serão competentes para conhecer de delitos
Autoridade Central enviará a pertinente co- relativos ao tráfico internacional de menores:
119
a) o Estado Parte em que tenha ocorrido a CAPÍTULO III – Aspectos Civis
conduta ilícita;
ARTIGO 12
b) o Estado Parte em que o menor resida ha-
bitualmente; A solicitação de localização e restituição do
menor decorrente desta Convenção será
c) o Estado Parte em que se encontre o suposto promovida pelos titulares determinados pelo
delinqüente, no caso de não ter sido extradi- direito do Estado de residência habitual do
tado; e mesmo.

d) o Estado Parte em que se encontre o menor ARTIGO 13


vítima de tráfico.
São competentes para conhecer da solicitação
Para os efeitos do parágrafo anterior, ficará pre- de localização e de restituição, por opção dos
vento o Estado Parte que haja sido o primeiro reclamantes, as autoridades judiciais ou ad-
a conhecer do fato ilícito. ministrativas do Estado Parte de residência
habitual do menor ou as do Estado Parte onde
ARTIGO 10 se encontrar ou se presuma encontrar-se retido.

O Estado Parte que, ao condicionar a extradi- Quando, a juízo dos reclamantes, existirem
ção à existência de tratado, receber pedido de motivos de urgência, a solicitação também po-
extradição de outro Estado Parte com a qual derá ser submetida às autoridades judiciais ou
não mantenha tratado de extradição ou, se o administrativos do local onde tenha ocorrido
mantiver, este não inclua o tráfico internacio- o ato ilícito.
nal de menores como delito que possibilite
a extradição, poderá considerar esta Con- ARTIGO 14
venção como a base jurídica necessária para
concedê-la no caso de tráfico internacional A solicitação de localização e de restituição
de menores. será tramitada por intermédio das Autoridades
Centrais ou diretamente perante as autoridades
Além disso, os Estados Partes que não con- competentes indicadas no Artigo 13 desta
dicionam a extradição à existência de tratado Convenção. As autoridades requeridas estabe-
reconhecerão, entre si, o tráfico internacional lecerão os procedimentos mais expedidos para
de menores como causa de extradição. torná-la efetiva.

Na inexistência de tratado de extradição, esta Recebida a respectiva solicitação, a autoridade


ficará sujeita às demais condições exigíveis pelo requerida estipulará as medidas que, de acordo
direito interno do Estado requerido. com seu direito interno, sejam necessárias para
iniciar, facilitar e coadjuvar os procedimentos
ARTIGO 11 judiciais e administrativos referentes à loca-
lização e restituição do menor. Adotar-se-ão,
As ações instauradas em conformidade com o ademais, as medidas para providenciar a ime-
disposto neste Capítulo não impedem que as diata restituição do menor e, conforme o caso,
autoridades competentes do Estado Parte em assegurar sua proteção, custódia ou guarda
Tráfico de Pessoas

que encontre o menor determinem, a qualquer provisória, de acordo com as circunstâncias,


momento, em consideração aos seus interesses bem como as medidas preventivas para impedir
superiores, sua imediata restituição ao Estado que o menor seja indevidamente transferido
em que resida habitualmente. para outro Estado.

120
As solicitações de localização e de restituição, impeçam a transferência indevida do menor
devidamente fundamentadas, será formulada para outro Estado.
dentro dos 120 dias de conhecida a subtração,
transferência ou retenção ilícitas do menor. Estas medidas serão comunicadas por inter-
Quando a solicitação de localização e de resti- médio das Autoridades Centrais às autoridades
tuição partir de um Estado Parte, este disporá competentes do Estado onde o menor tenha
do prazo de 180 dias para sua apresentação. tido, anteriormente, sua residência habitual.
As autoridades intervenientes adotarão todas
Havendo necessidade prévia de localizar o as providências necessárias para comunicar
menor, o prazo anterior será contado a partir as medidas adotadas aos titulares das ações de
do dia em que o titular da ação tiver tomado localização e restituição do menor.
conhecimento da respectiva localização.
ARTIGO 17
Não obstante o disposto nos parágrafos ante-
riores, as autoridades do Estado Parte em que Em conformidade com os objetivos desta Con-
o menor tenha sido retido poderão, a qualquer venção, as Autoridades Centrais dos Estados
momento, determinar sua restituição, atenden- Partes intercambiarão informação e colabora-
do aos interesses superiores do mesmo. rão com suas competentes autoridades judiciais
e administrativas em tudo o que se refira ao
ARTIGO 15 controle de saída de menores de seu território
e de sua entrada no mesmo.
Os pedidos de cooperação previstos nesta
Convenção, formulados por via consular ou ARTIGO 18
diplomática ou por intermédio das Autoridades
Centrais, dispensarão o requisito de legalização As adoções internacionais e outros institutos
ou outras formalidades semelhantes. Os pedi- afins, constituídos em um Estado Parte, serão
dos de cooperação formulados diretamente passíveis de anulação quando tiveram como
entre tribunais das áreas fronteiriças dos Es- origem ou objetivo o tráfico internacional de
tados Partes também dispensarão legalização. menores.
Ademais, estarão isentos de legalização, para
efeitos de validade jurídica no Estado solici- Na respectiva ação de anulação, levar-se-ão sem-
tante, os documentos pertinentes que sejam pre em conta os interesses superiores do menor.
devolvidos por essas mesmas vias.
A anulação será submetida à lei e às autoridades
Os pedidos deverão estar traduzidos, em cada do Estado de constituição da adoção ou do
caso, para o idioma oficial ou idiomas oficiais instituto de que se trate.
do Estado Parte ao qual esteja dirigido. Com
relação aos anexos, é suficiente a tradução de ARTIGO 19
um sumário, contendo os dados essenciais.
A guarda ou custódia será passível de revogação
ARTIGO 16 quando sua origem ou objetivo for o tráfico in-
ternacional de menores, nas mesmas condições
As autoridades competentes de um Estado previstas no artigo anterior.
Parte que constatem, no território sujeito à sua
Atos internacionais

jurisdição, a presença de um menor vítima de ARTIGO 20


tráfico internacional deverão adotar as medi-
das imediatas necessárias para sua proteção, A solicitação de localização e de restituição do
inclusive as que tenham caráter preventivo e menor poderá ser apresentada sem prejuízo

121
da ação de anulação e revogação previstas nos Parte no que se refere à indenização por perdas
Artigos 18 e 19. e danos decorrentes do tráfico internacional
de menores.
ARTIGO 21
ARTIGO 24
Em qualquer procedimento previsto neste
Capítulo, a autoridade competente poderá Com relação a um Estado que, relativamente
determinar que a pessoa física ou jurídica res- a questões tratadas nesta Convenção, tenha
ponsável pelo tráfico internacional de menores dois ou mais sistemas jurídicos aplicáveis em
pague os gastos e as despesas de localização e unidades territoriais diferentes:
restituição, contanto que essa pessoa física ou
jurídica tenha sido parte desse procedimento. a) toda referência à lei do Estado será inter-
pretada com referência à lei correspondente à
Os titulares da ação ou, se for o caso, qualquer respectiva unidade territorial;
autoridade competente, poderão propor ação
civil para ressarcir-se das despesas, nestas in- b) toda referência à residência habitual no refe-
cluídas os honorários advocatícios e os gastos rido Estado será interpretada como à residência
de localização e restituição do menor, a não ser habitual em uma unidade territorial do estado
que estas tenham sido fixadas em ação penal ou mencionado;
em processo de restituição, nos termos desta
Convenção. c) toda referência às autoridades competentes
do referido Estado será entendida em relação
A autoridade competente ou qualquer parte às autoridades competentes para agir na res-
prejudicada poderá propor ação civil objetivan- pectiva unidade territorial.
do perdas e danos contra as pessoas físicas ou
jurídicas responsáveis pelo tráfico internacional ARTIGO 25
do menor.
Os Estados que tenham duas ou mais unidades
ARTIGO 22 territoriais onde se apliquem sistemas jurídicos
diferentes a questões tratadas nesta Convenção
Os Estados Partes adotarão as medidas ne- poderão declarar, no momento da assinatura,
cessárias para possibilitar gratuidade aos ratificação ou adesão, que a Convenção se
procedimentos de restituição do menor, nos aplicará a todas as suas unidades territoriais
termos de seu direito interno, e informarão aos ou somente a uma ou mais.
legítimos interessados na respectiva restituição
os benefícios decorrentes de pobreza e quando Tais declarações podem ser modificadas me-
possam ter direito à assistência gratuita, em diante declarações posteriores, que especifi-
conformidade com as suas leis e regulamentos. carão expressamente a unidade territorial ou
as unidades territoriais a que se aplicará esta
Convenção. Essas declarações posteriores serão
CAPÍTULO IV – Disposições Finais encaminhadas à Secretaria-Geral da Organiza-
ção dos Estados Americanos e produzirão efeito
ARTIGO 23 noventa dias a partir da data do recebimento.
Tráfico de Pessoas

Os Estados Partes poderão declarar, seja no ARTIGO 26


momento da assinatura e da ratificação desta
Convenção ou da adesão à mesma, ou poste- Os Estados Partes poderão declarar, no mo-
riormente, que reconhecerão e executarão as mento da assinatura e ratificação desta Conven-
sentenças penais proferidas em outro Estado ção ou de adesão à mesma, ou posteriormente,
122
que não se poderá opor em juízo civil deste refira a uma ou mais disposições específicas e
Estado Parte exceção ou defesa alguma que que não seja incompatível com o objetivo e fins
tenda a demonstrar a inexistência do delito ou desta Convenção.
eximir de responsabilidade uma pessoa quando
houver sentença condenatória proferida por ARTIGO 32
outro Estado Parte em conexão com este delito
e já transitada em julgado. Nenhuma cláusula desta Convenção será inter-
pretada de modo a restringir outros tratados
ARTIGO 27 bilaterais ou multilaterais ou outros acordos
subscritos pelas partes.
As autoridades competentes das zonas frontei-
riças dos Estados Partes poderão acordar, dire- ARTIGO 33
tamente e a qualquer momento, com relação a
procedimentos de localização e restituição mais Para os Estados ratificantes, esta Convenção
expeditos que os previstos nesta Convenção e entrará em vigor no trigésimo dia a partir da
sem prejuízo desta. data em que haja sido depositado o segundo
instrumento de ratificação.
O disposto nesta Convenção não será interpre-
tado no sentido de restringir as práticas mais Para cada Estado que ratificar esta Convenção
favoráveis que as autoridades competentes dos ou a ela aderir depois de haver sido depositado
Estados Partes puderem observar entre si, para o segundo instrumento de ratificação, a Con-
os propósitos desta Convenção. venção entrará em vigor no trigésimo dia a
partir da data em que tal Estado haja depositado
ARTIGO 28 seu instrumento de ratificação ou de adesão.

Esta Convenção está aberta à assinatura de ARTIGO 34


todos os Estados membros da Organização dos
Estados Americanos. Esta Convenção vigorará por prazo indetermi-
nado, mas qualquer dos Estados Partes poderá
ARTIGO 29 denunciá-la. O instrumento de denúncia será
depositado na Secretaria-Geral da Organização
Esta Convenção está sujeita à ratificação. Os dos Estados Americanos. Transcorrido um ano
instrumentos de ratificação serão depositados da data do depósito do instrumento de denún-
na Secretaria-Geral da Organização dos Esta- cia, os efeitos da Convenção cessarão para o
dos Americanos. Estado denunciante.

ARTIGO 30 ARTIGO 35

Esta Convenção ficará aberta à adesão de qual- O instrumento original desta Convenção, cujos
quer outro Estado, uma vez que entre em vigor. textos em português, espanhol, francês e inglês
Os instrumentos de adesão serão depositados são igualmente autênticos, será depositado na
na Secretaria-Geral da Organização dos Esta- Secretaria-Geral da Organização dos Estados
dos Americanos. Americanos, que enviará cópia autenticada do
seu texto à Secretaria das Nações Unidas para
Atos internacionais

ARTIGO 31 seu registro e publicação, de conformidade


com o Artigo 102 da sua Carta constitutiva. A
Cada Estado poderá formular reservas a esta Secretaria-Geral da Organização dos Estados
Convenção, no momento de assiná-la, ratificá- Americanos notificará aos Estados membros
-la ou de a ela aderir, desde que a reserva se da referida Organização e aos Estados que
123
houverem aderido à Convenção, as assinaturas respectivos Governos, assinam esta Conven-
e os depósitos de instrumentos de ratificação, ção.
adesão e denúncia, bem como as reservas exis-
tentes e a retirada destas. Aprovada pelo Decreto Legislativo n o 105 de
30/10/96, publicado no DOU de 31/10/96, e
Em FÉ DO QUE os plenipotenciários infra- promulgada pelo Decreto no 2.740 de 20/8/98,
-assinados, devidamente autorizados por seus publicado no DOU de 21/8/98.
Tráfico de Pessoas

124
Convenção para a Repressão do Tráfico
de Pessoas e do Lenocínio

PREÂMBULO venção que unifique os instrumentos acima


mencionados e inclua o essencial do projeto
CONSIDERANDO que a prostituição e o mal da Convenção de 1937, com as emendas que
que a acompanha, isto é, o trafico de pessoas se julgou conveniente introduzir;
para fins de prostituição, são incompatíveis
com a dignidade e o valor da pessoa humana e EM CONSEQÜÊNCIA, AS PARTES CON-
põem em perigo o bem-estar do indivíduo, da TRATANTES CONVÊM NO SEGUINTE:
família e da comunidade,
ARTIGO 1
CONSIDERANDO que, com relação à repres-
são do tráfico de mulheres e crianças estão em As Partes na presente Convenção convêm em
vigor os seguintes instrumentos internacionais: punir tôda pessoa que, para satisfazer às paixões
de outrem:
1. Acôrdo Internacional de 18 de maio de
1904 para a repressão do tráfico de mulheres 1. aplicar, induzir ou desencaminhar para fins
brancas, emendado pelo Protocolo aprovado de prostituição, outra pessoa, ainda que com
pela Assembléia Geral das Nações Unidas a 3 seu consentimento;
de dezembro de 1948.
2. explorar a prostituição de outra pessoa, ainda
2. Convenção Internacional de 4 de maio de que com seu consentimento.
1910, relativa à repressão do tráfico de mulhe-
res brancas, emendada pelo Protocolo acima ARTIGO 2
mencionado.
As partes na presente Convenção convêm
3. Convenção Internacional de 30 de setembro igualmente em punir tôda pessoa que:
de 1921 para a repressão do tráfico das mu-
lheres e crianças, emendada pelo Protocolo 1. Mantiver, dirigir ou, conscientemente, finan-
aprovado pela Assembléia Geral das Nações ciar uma casa de prostitução ou contribuir para
Unidas a 20 de outubro de 1947. êsse financiamento.

4. Convenção Internacional de 11 de outubro de 2. Conscientemente, der ou tomar de aluguel,


1933 relativa à repressão do tráfico de mulheres total ou parcialmente, um imóvel ou outro local,
maiores emendada pelo Protocolo acima referido, para fins de porstituição de outrem.

CONSIDERANDO que a Liga das Nações havia ARTIGO 3


elaborado em 1937 um projeto de Convenção
Atos internacionais

para ampliar o campo de ação dos aludidos Deverão ser também punidos, na medida
instrumentos e permitida pela legislação nacional, tôda
tentativa e ato preparatório efetuados com o
CONSIDERANDO que a evolução ocorrida fim de cometer as infrações de que tratam os
depois de 1937 permite concluir uma con- Artigos 1 e 2.
125
ARTIGO 4 casos de extradição em todos os tratados de
extradição, concluídos ou por concluir, entre
Será também punível na medida permitida pela Partes na presente Convenção.
legislação nacional, a participação intencional
nos atos de que tratam os Artigos 1 e 2 acima. As Partes na presente Convenção, que não
subordinem a extradição à existência de um
Os atos de participação serão considerados, tratado, reconhecerão de agora em diante os
na medida permitida pela legislação nacional atos de que convenção como caso de extradição
como infrações distintas, em todos os casos em entre elas.
que fôr necessário assim proceder para impedir
a impunidade. A extradição será concedida de acôrdo com o
direito do Estado ao qual foi requerida.
ARTIGO 5
ARTIGO 9
Em todos os casos em que uma pessoa ofendi-
da fôr autorizada pela legislação nacional a se Os nacionais de um Estado, cuja legislação não
constituir parte civil por causa de qualquer das admitir a extradição de nacionais que regres-
infrações de que trata a Presente Convenção, os saram a êsse Estado após haver cometido no
estrangeiros estarão igualmente autorizados a estrangeiro qualquer dos atos de que tratam os
se constituir parte civil, em igualdade de con- Artigos 1 e 2 da presente Convenção, deverão
dições, com os nacionais. ser julgados e punidos pelos tribunais de seu
próprio Estado.
ARTIGO 6
Esta disposição não será obrigatória se, em caso
Cada Parte na presente Convenção convém análogo e que interessar a Partes na presente
em adotar tôdas as medidas necessárias para Convenção, não puder ser concedida a extra-
abrogar ou abolir tôda lei, regulamento e prática dição de um estrangeiro.
administrativa que obriguem a inscrever-se
em registros especiais, possuir documentos ARTIGO 10
especiais ou conforma-se a condições excepcio-
nais de vigilância ou de notificação as pessoas As disposições do Artigo 9 não se aplicarão
que se entregam ou que supõem entregar-se à quando o réu tiver sido julgado em um Esta-
prostituição. do estrangeiro e, em caso de condenação, se
cumpriu a pena ou se gozou do benefício de
Qualquer condenação anterior pronunciada comutação ou redução da pena prevista pela
em Estado estrangeiro por um dos atos de que Lei do referido Estado estrangeiro.
trata a Convenção, será, na medida permitida
pela legislação nacional, tomada em conside- ARTIGO 11
ração:
Nenhuma das disposições da presente Conven-
1. Para estabelecer a reincidência. ção poderá ser interpretada como prejudicial
à situação de uma Parte na Convenção com
2. Para declarar incapacidades, perda ou inter- referência à questão geral da competência da
dição de direito público ou privado. jurisdição penal em direito internacional.
Tráfico de Pessoas

ARTIGO 8 ARTIGO 12

Os atos de que tratam os Artigos 1 e 2 da pre- A presente Convenção não afeta o princípio
sente Convenção serão considerados como de que os atos a que se refere deverão, em cada
126
Estado, ser qualificados, processados e julgados A execução das cartas rogatórias não poderá
de acôrdo com a legislação nacional. ocasionar o reembôlso de quaisquer direitos ou
despesas, salvo as de perícia.
ARTIGO 13
Nenhuma das disposições do presente Artigo
As Partes na presente Convenção serão obri- deverá ser interpretada como compromisso das
gadas a executar as cartas rogatória relativas às Partes na presente Convenção em admitir uma
infrações de que trata a Convenção, de acôrdo derrogação de suas leis, no que se refere ao pro-
com as leis e costumes nacionais. cesso e aos métodos empregados para estabelecer
a prova em matéria penal.
A transmissão de cartas rogatórias será efetuada:
ARTIGO 14
1. Por comunicação direta entre as autoridades
judiciárias; Cada uma das Partes na presente Convenção
deverá criar ou manter um serviço encarregado
2. Por correspondência direta entre os Minis- de coordenar e centralizar os resultados das
tros da Justiça dos dois Estados, ou por comu- investigações relativas às infrações de que trata
nicação direta, de outra autoridade competente a presente Convenção.
do Estado requerente ao Ministro da Justiça do
Estado requerido; Êsses serviços deverão reunir tôdas as infor-
mações que possam facilitar a prevenção e a
3. Por intermédio do representante diplo- repressão das infrações de que trata a presente
mático ou consular do Estado requerente no Convenção e deverão manter estreitas relações
Estado requerido; êsse representante enviará com os serviços correspondentes dos demais
diretamente as cartas rogatórias à autoridade Estados.
judiciária competente ou à autoridade indicada
pelo Govêrno do Estado requerido e dela rece- ARTIGO 15
berá diretamente os documentos necessários à
execução das cartas regatórias. As autoridades encarregadas dos serviços men-
cionados no Artigo 14 fornecerão às autorida-
Nos casos 1 e 3, uma cópia da carta rogatória des encarregadas dos serviços correspondentes
deverá ser, na mesma ocasião, encaminhada à nos demais Estados, na medida permitida pela
autoridade superior do Estado requerido. Legislação nacional, e quando julgarem útil, as
seguintes informações:
Salvo acôrdo em contrário, a carta rogatória
deverá ser redigida no idioma da autoridade 1. dados pormenorizados relativos a qualquer
requerente, ressalvando-se ao Estado requeri- infração ou tentativa de infrações de que trata
do o direito de solicitar uma tradução em seu a presente Convenção;
próprio idioma, devidamente autenticada pela
autoridade requerente. 2. dados pormenorizados relativos às inves-
tigações, processos, detenções, condenações,
Cada Parte na Presente Convenção comunicará recusas de admissão ou expulsões de pessoas
a cada uma das outras Partes Contratantes a culpadas de qualquer das infrações de que trata
forma ou formas de transmissão dentre as aci- a presente Convenções, bem como aos desloca-
Atos internacionais

ma mencionadas que admitirá para as cartas mentos dessas pessoas e quaisquer informações
rogatórias da referida Parte. úteis a respeito das mesmas.

Até que um Estado faça tal comunicação, o proces- As informações que serão fornecidas compre-
so em vigor para cartas rogatórias será mantido. enderão notadamente a descrição dos delin-
127
qüentes, suas impressões digitais e fotografia, ARTIGO 18
indicações sôbre os métodos habituais, autos
policiais e registros criminais. As Partes na presente Convenção convêm em
tomas de acôrdo com as condições estipula-
ARTIGO 16 das pelas respectivas legislações nacionais,
as declarações das pessoas de nacionalidade
As Partes na presente Convenção se compro- estrangeiras que se entregam à prostituição,
metem a adotar medidas para a prevenção da a fim de estabelecer sua identidade e estado
prostituição e para assegurar a reeducação e civil e procurar quem as induziu a deixar seu
readaptação social das vítimas da prostituição e Estado. Tais informações serão comunicadas às
das infrações de que trata a presente Convenção autoridades de Estado de origem das referidas
bem como a estimular a adoção dessas medi- pessoas para eventual repatriação.
das por seus serviços públicos ou privados de
caráter educativo sanitário, social, econômico ARTIGO 19
e outros serviços conexos.
As Partes na presente Convenção se compro-
ARTIGO 17 metem, conforme as condições estipuladas
pelas respectivas legislações nacionais, e sem
No que se refere à imigração e emigração, as prejuízo de processos ou de qualquer outra
Partes na presente Convenção convém em ação motivada por infrações a suas disposições
adotar ou manter em vigor, nos limites de suas e tanto quanto possível:
obrigações definidas pela presente Convenção,
as medidas destinadas a combater o tráfico 1. A tomar as medidas apropriadas para prover
de pessoas de um ou outro sexo para fins de as necessidades e assegurar a manutenção, pro-
prostituição. visoriamente, das vítimas do tráfico internacio-
nal para fins de prostituição, quando destituídas
Comprometem-se principalmente: de recursos, até que sejam tomadas tôdas as
providências para repatriação;
1. a promulgar os regulamentos necessários
para a proteção dos imigrantes ou emigrantes, 2. A repatriar as pessoas de que trata o artigo
em particular das mulheres e crianças, quer 18, que o desejarem ou que forem reclamadas
nos lugares de partida e chegada quer durante por pessoas que sôbre elas tenham autoridade
a viagem; e aquelas cuja explusão foi decretada conforme
a lei. A repatriação não será efetuada senão
2. a adotar disposições para organizar uma depois de entendimento com o Estado de
propaganda apropriada destinada a advertir o destino, sôbre a identidade e a nacionalidade,
público contra os perigos dêsse tráfico; assim como sôbre o lugar e a data da chegada
às fronteiras. Cada uma das Partes na presente
3. a adotar medidas apropriadas para manter a Convenção facilitará o trânsito das pessoas em
vigilância nas estações ferroviarias, aeroportos, aprêço no seu território. Quando as pessoas de
portos marítimos, em viagens e lugares públi- que trata a alínea precedente não puderem pes-
cos, a fim de impedir o tráfico internacional de soalmente arcar com as despesas de repatriação
pessoas para fim de prostituição, e quando não tiverem cônjuge, nem parentes,
nem tutor que pague, por elas, as despesas de
Tráfico de Pessoas

4. a adotar as mediada apropriadas para que as repatriação estarão a cargo do Estado onde elas
autoridades competentes estejam ao corrente se encontram até à fronteira, pôrto de embar-
da chegada de pessoas que pareçam prima que ou aeropôrto mais próximo na direção do
facie culpadas, coautoras ou vítimas dêsse Estado de origem, e, em seguida, a cargo do
tráfico. Estado de origem.
128
ARTIGO 20 ela aderir. A adesão se fará com o depósito de
um instrumento de adesão junto ao Secretário
As partes na presente Convenção convém, se já Geral da Organização das Nações Unidas.
não o fizeram, em adotar as medidas necessá-
rias para exercer vigilância nos escritórios ou Para os fins da presente Convenção, a palavra
agências da colocação, para evitar que as pes- “Estado” designará também tôdas as colônias
soas que procuram emprêgo, especialmente as e territórios sob tutela, dependentes do Estado
mulheres e crianças, fiquem sujeitas ao perigo que assina ou ratifica a Convenção, ou que a
da prostituição. ela adere, assim como todos os territorios que
êste Estado represente no plano internacional.
ARTIGO 21
ARTIGO 24
As Partes na Presente Convenção comunicarão
ao Secretário Geral da Organização das Nações A presente Convenção entrará em vigor noven-
Unidas suas leis e regulamentos em vigor e ta dias depois da data do depósito do segundo
posteriormente, cada ano, os novos textos de instrumento de ratificação ou de adesão.
leis ou regulamentos relativos à matéria da
presente Convenção, assim como tôdas as me- Para cada um dos Estados que ratificarem ou
didas que tomarem para aplicar a convenção. aderirem depois do depósito do segundo ins-
As informações recebidas serão publicadas pe- trumento de ratificação ou adesão, ela entrará
riodicamente pelo Secretário Geral e enviadas a em vigor noventa dias depois do depósito por
todos os Membros da Organização das Nações êste Estado de seu instrumento de ratificação
Unidas e aos Estados não membros aos quais ou de adesão.
a presente Convenção tiver sido oficalmente
comunicada, de acôrdo com as disposições ARTIGO 25
do Artigo 23.
Ao término do prazo de cinco anos a partir
ARTIGO 22 da entrada em vigor na presente Convenção,
qualquer Parte na Convenção pode denunciá-la
Se surgir entre as Partes na presente Convenção por notificação escrita endereçada ao Secretário
qualquer dúvida, relativa à sua interpretação Geral da Organização das Nações Unidas.
ou aplicação, e se esta dúvida não puder ser
resolvida por outros meios será, apedido de A denúncia produzirá efeitos, para a Parte
qualquer das Partes em litígio, submetida à interessada, um ano depois de recebida pelo
Côrte Internacional de Justiça. Secretário Geral da Organização das Nações
Unidas.
ARTIGO 23
ARTIGO 26
A presente Convenção será aberta a assinatura
de todos os Estados Membros da Organização O Secretário Geral da Organização das Nações
das Nações Unidas e de qualquer outro Es- Unidas notificará a todos os Estados Membros
tado convidado para êsse fim pelo Conselho da Organização das Nações Unidas e aos Esta-
Econômico e Social. Ela será ratificada e os dos não membros mencionados no Artigo 23:
instrumentos de ratificação serão depositados
Atos internacionais

junto ao Secretário Geral da Organização das a) As assinaturas, ratificações e adesões recebi-


Nações Unidas. das nos têrmos do artigo 23;

Os Estados mencionados no parágrafo primei- b) A data da entrada em vigor da presente


ro, que não assinaram a Convenção, poderão a Convenção nos têrmos do artigo 24;
129
c) As denúncias recebidas nos têrmos do artigo PROTOCOLO FINAL
25.
Nenhuma das disposições da presente Conven-
ARTIGO 27 ção poderá ser interpretada em detrimento de
qualquer legislação que, para a aplicação das
Cada uma das Partes na presente Convenção disposições destinadas à supressão do tráfico
se compromete a tomar, conforme sua Cons- internacional de pessoas e do lenocínio, preveja
tituição, as medidas legislativas ou outras, ne- condições mais rigorosas do que as estipuladas
cessárias a assegurar a aplicação da Convenção. na presente Convenção.

ARTIGO 28 As disposições dos artigos 23 a 26, inclusive, da


Convenção aplicar-se-ão ao presente Protocolo.
As disposições da presente Convenção anulam
e substituem, entre as Partes, as disposições A presente é a tradução oficial, em idioma
dos instrumentos internacionais mencionados português, do texto original e autêntico da Con-
nas alíneas 1, 2, 3, e 4 do segundo parágrafo venção para a Supressão do Tráfico de Pessoas
do Preâmbulo; cada um deles será conside- e do Lenocínio, e do respectivo Protocolo Final
rado caduco, quando tôdas as Partes neste concluídos em Lake Success, Nova York, a 21 de
instrumento se tornarem Partes na Presente março de 1950.
Convenção.
Secretaria de Estado das Relações Exteriores,
EM FÉ DO QUE, os baixo assinados, de- Rio de Janeiro, D.F., em 4 de setembro de 1959.
vidamente autorizados por seus Governos,
assinaram a presente Convenção aberta à assi- ALOYSIO REGIS BITTENCOURT – Chefe
natura em Lake Success, Nova York, aos vinte da Divisão de Atos, Congressos e Conferências
e um de março de mil novecentos e cinqüenta, Internacionais
uma cópia da qual devidamente autenticada
será enviada pelo Secretário Geral a todos os Aprovada pelo Decreto Legislativo no 6 de 11/6/58,
Estados Membros da Organização das Nações publicado no DOU de 12/6/58, e promulgada pelo
Unidas e aos Estados não Membros de que Decreto no 46.981 de 8/10/59, publicado no DOU
trata o artigo 23. de 9/10/59.
Tráfico de Pessoas

130
Normas pertinentes
Decreto no 7.901/2013
Institui a Coordenação Tripartite da Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e o
Comitê Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – CONATRAP.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da e Municípios e com as organizações privadas,


atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso internacionais e da sociedade civil;
VI, alínea “a”, da Constituição, V – elaborar relatórios para instâncias nacio-
nais e internacionais e disseminar informações
DECRETA: sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas; e
VI – subsidiar os trabalhos do Comitê Na-
Art. 1o Fica instituída a Coordenação Tripar- cional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas,
tite da Política Nacional de Enfrentamento ao propondo temas para debates.
Tráfico de Pessoas, para coordenar a gestão
estratégica e integrada da Política Nacional de Art. 3o Ato conjunto dos Ministros de Estado
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, aprovada com representação na Coordenação Tripartite
pelo Decreto no 5.948, de 26 de outubro de 2006, da Política Nacional de Enfrentamento ao
e dos Planos Nacionais de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas disporá sobre o II Plano
Tráfico de Pessoas. Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Parágrafo único. A Coordenação Tripartite Pessoas – II PNETP, para o período de 2013 a
da Política Nacional de Enfrentamento ao Trá- 2016, e instituirá grupo interministerial para
fico de Pessoas será integrada pelos seguintes seu monitoramento e avaliação.
órgãos: § 1o O II PNETP terá os seguintes objetivos:
I – Ministério da Justiça; I – ampliar e aperfeiçoar a atuação de ins-
II – Secretaria de Políticas para as Mulheres tâncias e órgãos envolvidos no enfrentamento
da Presidência da República; e ao tráfico de pessoas, na prevenção e repressão
III – Secretaria de Direitos Humanos da do crime, na responsabilização dos autores,
Presidência da República. na atenção às vítimas e na proteção de seus
direitos;
Art. 2o São atribuições da Coordenação Tri- II – fomentar e fortalecer a cooperação entre
partite da Política Nacional de Enfrentamento órgãos públicos, organizações da sociedade
ao Tráfico de Pessoas: civil e organismos internacionais no Brasil e
I – analisar e decidir sobre aspectos rela- no exterior envolvidos no enfrentamento ao
cionados à coordenação das ações de enfren- tráfico de pessoas;
tamento ao tráfico de pessoas no âmbito da III – reduzir as situações de vulnerabilidade
administração pública federal; ao tráfico de pessoas, consideradas as identida-
II – conduzir a construção dos planos des e especificidades dos grupos sociais;
nacionais de enfrentamento ao tráfico de pes- IV – capacitar profissionais, instituições e
soas e coordenar os trabalhos dos respectivos organizações envolvidas com o enfrentamento
grupos interministeriais de monitoramento e ao tráfico de pessoas;
avaliação; V – produzir e disseminar informações
Tráfico de Pessoas

III – mobilizar redes de atores e parceiros sobre o tráfico de pessoas e as ações para seu
envolvidos no enfrentamento ao tráfico de enfrentamento; e
pessoas; VI – sensibilizar e mobilizar a sociedade para
IV – articular ações de enfrentamento ao prevenir a ocorrência, os riscos e os impactos
tráfico de pessoas com Estados, Distrito Federal do tráfico de pessoas.
132
§ 2o O II PNETP deverá ser implementa- IV – um representante do Ministério de
do por meio de ações articuladas nas esferas Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
federal, estadual, distrital e municipal, e em § 1o Será assegurada, na composição da
colaboração com organizações da sociedade CONATRAP, a participação de:
civil e organismos internacionais. I – sete representantes de organizações da
§ 3o Os Ministérios responsáveis por ações sociedade civil ou especialistas em enfrenta-
desenvolvidas no âmbito do II PNETP deverão mento ao tráfico de pessoas;
ser consultados sobre seu conteúdo previamente II – um representante de cada um dos se-
à assinatura do ato conjunto de que trata o caput. guintes colegiados:
a) Conselho Nacional de Assistência Social;
Art. 4o Fica instituído o Comitê Nacional de b) Conselho Nacional dos Direitos da Crian-
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – CO- ça e do Adolescente;
NATRAP, para articular a atuação dos órgãos e c) Conselho Nacional dos Direitos da Mulher;
entidades públicas e privadas no enfrentamento d) Comissão Nacional Para a Erradicação
ao tráfico de pessoas. do Trabalho Escravo;
e) Conselho Nacional de Promoção da
Art. 5o São atribuições do CONATRAP: Igualdade Racial;
I – propor estratégias para gestão e imple- f) Conselho Nacional de Imigração;
mentação de ações da Política Nacional de g) Conselho Nacional de Saúde;
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, aprovada h) Conselho Nacional de Segurança Pública;
pelo Decreto no 5.948, de 2006; i) Conselho Nacional de Turismo; e
II – propor o desenvolvimento de estudos j) Conselho Nacional de Combate à Discri-
e ações sobre o enfrentamento ao tráfico de minação e Promoção dos Direitos de Lésbicas,
pessoas; Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais;
III – acompanhar a implementação dos III – um representante a ser indicado pelos
planos nacionais de enfrentamento ao tráfico Núcleos Estaduais de Enfrentamento ao Tráfico
de pessoas; de Pessoas e pelos Postos Avançados de Atendi-
IV – articular suas atividades àquelas dos mento Humanizado ao Migrante formalmente
Conselhos Nacionais de políticas públicas que constituídos; e
tenham interface com o enfrentamento ao IV – um representante a ser indicado pelos
tráfico de pessoas, para promover a interseto- comitês estaduais e do Distrito Federal de en-
rialidade das políticas; frentamento ao tráfico de pessoas.
V – articular e apoiar tecnicamente os § 2o O CONATRAP será presidido pelo
comitês estaduais, distrital e municipais de en- Secretário Nacional de Justiça do Ministério da
frentamento ao tráfico de pessoas na definição Justiça ou por pessoa por ele designada.
de diretrizes comuns de atuação, na regulamen- § 3o Os representantes titulares referidos nos
tação e no cumprimento de suas atribuições; incisos I, II, III e IV do caput e seus suplentes
VI – elaborar relatórios de suas atividades; e serão indicados pelos titulares dos órgãos que
VII – elaborar e aprovar seu regimento representam e designados por ato do Ministro
interno. de Estado da Justiça.
§ 4o Os representantes titulares referidos
Art. 6o O CONATRAP será integrado por: nos incisos I, II, III e IV do § 1o e seus suplentes
I – quatro representantes do Ministério da serão designados por ato do Ministro de Esta-
Normas pertinentes

Justiça; do da Justiça, após indicação pelas entidades,


II – um representante da Secretaria de conselhos, núcleos, postos ou comitês.
Políticas para as Mulheres da Presidência da § 5o A designação dos representantes titu-
República; lares referidos nos incisos II, III e IV do § 1o e
III – um representante da Secretaria de Di- seus suplentes deverá atender à proporção de
reitos Humanos da Presidência da República; e cinquenta por cento de representantes gover-
133
namentais e cinquenta por cento de represen- trabalhos e o funcionamento dos colegiados
tantes da sociedade civil, observada a paridade instituídos por este Decreto.
da composição do CONATRAP, na forma do
regimento interno. Art. 9o Este Decreto entra em vigor na data de
§ 6o O mandato dos integrantes do CONA- sua publicação.
TRAP referidos nos incisos I, II, III e IV do
§ 1o será de dois anos, admitida apenas uma Art. 10. Ficam revogados os arts. 2o a 9o do
recondução, por igual período. Decreto no 5.948, de 26 de outubro de 2006.
§ 7o Poderão ser convidados a participar
das reuniões do CONATRAP especialistas e Brasília, 4 de fevereiro de 2013; 192o da Inde-
representantes de outros órgãos ou entidades pendência e 125o da República.
públicas e privadas, com atribuições relacio-
nadas ao enfrentamento ao tráfico de pessoas. DILMA ROUSSEFF – José Eduardo Cardozo –
Carlos Daudt Brizola – Alexandre Rocha Santos
Art. 7o A participação nos colegiados instituí- Padilha – Tereza Campello – Gastão Vieira –
dos por este Decreto será considerada prestação Luiza Helena de Bairros – Eleonora Menicucci
de serviço público relevante, não remunerada. de Oliveira – Maria do Rosário Nunes

Art. 8o O Ministério da Justiça prestará suporte Decretado em 4/2/2013, publicado no DOU de


técnico e administrativo para a execução dos 5/2/2013 e retificado no DOU de 6/2/2013.
Tráfico de Pessoas

134
Decreto no 6.347/2008
Aprova o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – PNETP e institui Grupo Assessor
de Avaliação e Disseminação do referido Plano.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da IV – promover sua difusão junto a órgãos


atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, e entidades governamentais e não-governa-
alínea “a”, da Constituição, mentais; e
V – elaborar relatório semestral de acom-
DECRETA: panhamento.

Art. 1o Fica aprovado o Plano Nacional de Art. 4o O Grupo Assessor será integrado por
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas – PNETP, um representante, e respectivo suplente, de cada
com o objetivo de prevenir e reprimir o tráfico órgão a seguir indicado:
de pessoas, responsabilizar os seus autores I – Ministérios:
e garantir atenção às vítimas, nos termos da a) da Justiça, que o coordenará;
legislação em vigor e dos instrumentos interna- b) do Desenvolvimento Social e Combate
cionais de direitos humanos, conforme Anexo à Fome;
a este Decreto. c) da Saúde;
§ 1o O PNETP será executado no prazo de d) do Trabalho e Emprego;
dois anos. e) do Desenvolvimento Agrário;
§ 2o Compete ao Ministério da Justiça, em f) da Educação;
articulação com o órgão responsável pelo cum- g) das Relações Exteriores;
primento de cada meta estabelecida no PNETP: h) do Turismo;
I – definir as metas de curto, médio e longo i) da Cultura;
prazos; e II – da Presidência da República:
II – definir os órgãos e entidades que atuarão a) Secretaria Especial dos Direitos Huma-
como parceiros no cumprimento de cada meta, nos;
levando-se em consideração suas atribuições e b) Secretaria Especial de Políticas para as
competências institucionais. Mulheres; e
c) Secretaria Especial de Políticas de Promo-
Art. 2o Caberá ao Ministério da Justiça a fun- ção da Igualdade Racial; e
ção de avaliar e monitorar o PNETP. III – Advocacia-Geral da União.
§ 1o Os integrantes do Grupo Assessor
Art. 3o Fica instituído, no âmbito do Ministé- serão indicados pelos titulares dos órgãos
rio da Justiça, o Grupo Assessor de Avaliação representados e designados pelo Ministro de
e Disseminação do PNETP, com as seguintes Estado da Justiça.
atribuições: § 2o Poderão ser convidados a participar das
I – apoiar o Ministério da Justiça no moni- reuniões do Grupo Assessor representantes do
toramento e avaliação do PNETP; Ministério Público Federal, do Ministério Pú-
Normas pertinentes

II – estabelecer a metodologia de monito- blico do Trabalho e de outros órgãos e entidades


ramento e avaliação do PNETP e acompanhar da administração pública e da sociedade civil.
a execução das ações, atividades e metas esta-
belecidas; Art. 5o As atividades desenvolvidas no âmbito
III – efetuar ajustes na definição de suas do Grupo Assessor serão consideradas serviço
prioridades; público relevante, não remunerado.
135
Art. 6o Este Decreto entra em vigor na data de LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Tarso Genro
sua publicação.
Decretado em 8/1/2008 e publicado no DOU de
Brasília, 8 de janeiro de 2008; 187o da Indepen- 9/1/2008.
dência e 120o da República.

ANEXO

Plano Nacional de Enfrentamento ao


Tráfico de Pessoas – PNETP
EIXO ESTRATÉGICO 1 – Prevenção ao Tráfico de Pessoas

Prioridade no 1: Levantar, sistematizar, elaborar e divulgar estudos, pesquisas,


informações e experiências sobre o tráfico de pessoas.

Levantar, sistematizar e disseminar estudos, pesquisas,


Ação 1.A. informações e experiências já existentes no âmbito nacional
ou internacional sobre tráfico de pessoas.
Atividade
Elaborar levantamento de pesquisas realizadas no Brasil ou em outros
1.A.1.
países.
Meta Um levantamento realizado e publicado. MJ
Atividade
Elaborar levantamento de boas práticas de serviços e experiências de
1.A.2 prevenção ao tráfico de crianças e adolescentes realizadas no Brasil ou
em outros países.
Meta Um levantamento realizado e publicado. SEDH
Atividade
Realizar levantamento de serviços e experiências referenciais da Pro-
1.A.3. teção Social Especial no âmbito do Sistema Unificado de Assistência
Social (SUAS) realizadas no Brasil.
Meta Um levantamento realizado e publicado. MDS
Atividade
Realizar jornada de debates para troca de experiências e conhecimen-
1.A.4.
Tráfico de Pessoas

tos.
Meta Uma jornada realizada. MJ
Atividade
1.A.5. Realizar evento de divulgação dos resultados.
Meta Um evento realizado. MJ
136
Atividade
Elaborar programa sobre Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico
1.A.6.
de Pessoas para a TV Senasp.
Meta Um programa realizado. MJ
Atividade
Realizar seminário informativo envolvendo funcionários da área
1.A.7.
consular.
Meta Um seminário realizado. MRE
Atividade
1.A.8. Criar prêmio de incentivo a boas práticas.
Meta Uma premiação realizada. MJ
Atividade
Elaborar levantamento das políticas sociais básicas mais afetas aos
1.A.9.
grupos vulneráveis ao tráfico de pessoas.
Meta Um levantamento realizado. MJ

Ação 1.B. Realizar estudos e pesquisas sobre tráfico de pessoas.


Atividade
Realizar mapeamento da dinâmica territorial do tráfico de pessoas no
1.B.1.
Brasil.
Meta Um mapeamento realizado e publicado. SEDH
Atividade
Realizar pesquisa sobre o perfil de atores relacionados ao tráfico de
1.B.2
pessoas no Brasil.
Meta Uma pesquisa realizada e publicada. MJ
Atividade
1.B.3. Realizar pesquisa específica sobre tráfico para fins de remoção de órgão.
Meta Uma pesquisa realizada. MS
Atividade
Fomentar a elaboração de monografias nos cursos da Rede Nacional
1.B.4.
de Altos Estudos em Segurança Pública (RENAESP).
Meta Uma estratégia de fomento implementada. MJ
Atividade
Produzir estudo sobre o processo de estruturação e disseminação dos
1.B.5.
dados.
Meta Um estudo realizado. MEC
Atividade
Desenvolver metodologias para identificação de interfaces do tráfico
1.B.6. de pessoas com outras situações de violências ou vulnerabilidade para
subsidiar ações de prevenção ao tráfico e atenção às vítimas.
Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à DST/AIDS e o
Normas pertinentes

Meta MS
tráfico de pessoas desenvolvida.
Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à discriminação
Meta SEDH
por procedência e por tráfico de pessoas desenvolvida.
Uma metodologia que identifique as interfaces entre trabalho degra-
Meta MTE
dante, situação migratória e o tráfico de pessoas desenvolvida.
137
Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade à discriminação ho-
Meta SEDH
mofóbica, lesbofóbica e transfóbica e o tráfico de pessoas desenvolvida.
Uma metodologia que identifique a relação entre discriminação
Meta SEPPIR
étnico-racial e a vulnerabilidade ao tráfico de pessoas desenvolvida.
Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade de crianças, ado-
Meta SEDH
lescentes e jovens em relação ao tráfico de pessoas desenvolvida.
Uma metodologia que identifique a vulnerabilidade de idosos em
Meta SEDH
relação ao tráfico de pessoas desenvolvida.
Atividade
Elaborar estudo sobre a legislação que disciplina o funcionamento de
agências de recrutamento de trabalhadores, estudantes, esportistas,
1.B.7.
modelos, casamentos no Brasil e no exterior, entre outros, propondo,
se for o caso, sua alteração.
Meta Um estudo realizado e publicado. MJ

Incentivar a criação de linhas de pesquisa e extensão sobre


Ação 1.C.
tráfico de pessoas em universidades.
Atividade
1.C.1. Criar prêmio anual de pesquisas.
Meta Duas premiações realizadas. MJ
Atividade
Orientar a concessão de bolsas e apoio financeiro específicos, por meio de
1.C.2
edital voltado para os programas de Instituição de Ensino Superior (IES).
Meta Um edital publicado. MEC

Prioridade no 2: Capacitar e formar atores envolvidos direta ou indiretamente com o


enfrentamento ao tráfico de pessoas na perspectiva dos direitos humanos.

Realizar cursos e oficinas, com a produção de material de


Ação 2.A. referência quando necessário, para profissionais e agentes
específicos.
Atividade
Desenvolver material voltado para a formação dos trabalhadores da
2.A.1.
educação nos níveis e modalidades de ensino.
Um material voltado para os trabalhadores da educação sobre Educa-
Meta MEC
ção em Direitos Humanos e Tráfico de Pessoas produzido.
Um material voltado para os alunos sobre Educação em Direitos Hu-
Meta MEC
manos e Tráfico de Pessoas produzido.
Atividade
Capacitar profissionais de saúde e agentes, direta ou indiretamente
2.A.2
envolvidos na prevenção ao tráfíco de pessoas.
250 agentes formadores envolvidos nas comunidades tradicionais
Tráfico de Pessoas

Meta SEPPIR
capacitados.
500 equipes de Saúde da Família dos três Estados com maior índice de
tráfico de pessoas capacitados e 100% dos Centros de Referência do
Meta MS
Trabalhador dos três Estados com maior índice de tráfico de pessoas
capacitados.
138
Cinco capacitações regionais para profissionais de comunicação social
Meta SEDH
realizadas.
500 trabalhadores da educação nos níveis e modalidades de ensino
Meta MEC
capacitados.
Cinco capacitações regionais para os operadores do sistema de garan-
Meta SEDH
tia de direitos da criança e do adolescente realizadas.
800 agentes multiplicadores para a promoção dos direitos da mulher
Meta SPM
capacitados.
1.400 profissionais de segurança pública capacitados por meio da Rede
Meta MJ
Nacional de Ensino à Distância.

Prioridade no 3: Mobilizar e sensibilizar grupos específicos e comunidade em geral


sobre o tema do tráfico de pessoas.

Apoiar projetos artísticos e culturais com enfoque no


Ação 3.A.
enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Atividade
3.A.1. Criar premiação para elaboração de slogan contra o tráfico de pessoas.
Meta Uma premiação nacional. MinC
Atividade
Estabelecer, nos editais de fomento à cultura, critérios condicionantes
3.A.2 de divulgação de slogan do enfrentamento ao tráfico de pessoas, de
acordo com a linguagem do projeto a ser financiado.
Meta 100 projetos condicionados. MinC

Promover e realizar campanhas nacionais de enfrentamento


Ação 3.B.
ao tráfico de pessoas.
Atividade
3.B.1. Realizar campanha nacional referente ao tráfico de pessoas.
Uma campanha nacional dirigida aos usuários de produtos ou servi-
Meta MJ
ços oriundos do tráfico de pessoas realizada.
Meta Uma campanha de prevenção ao tráfico de pessoas realizada. SPM
Atividade
3.B.2. Apoiar campanhas promovidas por entidades envolvidas com o tema.
Meta Duas campanhas apoiadas. MJ

Sensibilizar atores de setores específicos com relação ao


Ação 3.C.
tráfico de pessoas.
Atividade
Normas pertinentes

Realizar encontro com profissionais da indústria do turismo, seguindo


3.C.1. o calendário de encontros do Programa Turismo Sustentável e Infân-
cia (TSI), com inclusão do tema do tráfico de pessoas.
Meta 18 encontros realizados. MTur
Atividade
139
Sensibilizar a cadeia produtiva do turismo através da realização de
3.C.2. seminários e da confecção de cartilhas educativas direcionadas a esse
setor, nas regiões de maior vulnerabilidade.
Meta 5.000 cartilhas produzidas. MTur
Meta 18 seminários realizados. MTur
Atividade
Realizar encontros com as entidades de pais e mestres, e grupos de
3.C.3.
jovens.
Meta Dois encontros realizados. MS
Atividade
Realizar encontros técnicos com os gestores para a priorização dos
3.C.4.
grupos vulneráveis ao tráfico de pessoas nas políticas sociais básicas.
Meta Dois encontros realizados. MJ

Prioridade nº 4: Diminuir a vulnerabilidade ao tráfico de pessoas de grupos sociais


específicos.

Disponibilizar mecanismos de acesso a direitos, incluindo


documentos básicos, preferencialmente nos Municípios e
Ação 4.A.
comunidades identificadas como focos de aliciamento de
vítimas de tráfico de pessoas.
Atividade
Fomentar e apoiar comitês interinstitucionais, balcões de direitos e
4.A.1.
outras iniciativas que possibilitem o acesso a direitos.
Meta Cinco parcerias realizadas. SEDH
Atividade
Estabelecer parcerias com órgãos competentes para o fornecimento de
4.A.2
documentação civil básica.
Meta 12 parcerias estaduais estabelecidas. SEDH
Atividade
Elaborar e divulgar material informativo sobre condições de acesso a
4.A.3.
direitos.
Meta Cinco materiais elaborados e divulgados. SEDH

Promover a regularização do recrutamento, deslocamento e


Ação 4.B.
contratação de trabalhadores.
Atividade
Divulgar nas entidades representativas de empregadores e trabalha-
dores e em outras instâncias, como a Polícia Rodoviária Federal, a
4.B.1. obrigatoriedade da solicitação da certidão liberatória para transportar
trabalhadores recrutados em Municípios distintos daquele onde se
Tráfico de Pessoas

localiza a unidade produtiva.


Meta Uma cartilha produzida. MTE
Atividade
Elaborar e implementar projeto-piloto de centro público de interme-
4.B.2. diação de mão-de-obra rural em Município identificado como foco de
aliciamento para o trabalho escravo.
140
Meta Um projeto-piloto elaborado e implementado. MTE
Atividade
Criar mecanismo de monitoramento da emissão da certidão liberató-
4.B.3.
ria, em articulação com a Polícia Rodoviária Federal.
Meta Um mecanismo criado. MTE

Prioridade nº 5: Articular, estruturar e consolidar, a partir dos serviços e redes


existentes, um sistema nacional de referência e atendimento às vítimas de tráfico.

Formular e implementar um programa permanente e


Ação 5.A. integrado de formação em atendimento, na perspectiva dos
direitos humanos.
Atividade
Inventariar os programas de capacitação e conteúdos existentes nos
setores públicos governamentais e não-governamentais, bem como
5.A.1.
nos organismos internacionais com vistas a definir conteúdos básicos
(referenciais mínimos) para a abordagem do tema.
Meta Um inventário elaborado. MJ
Atividade
Incentivar a incorporação dos conteúdos básicos (referenciais míni-
5.A.2 mos) referidos nos programas de capacitação já existentes nos órgãos
governamentais.
Uma estratégia de incorporação de conteúdos básicos nos programas
Meta MJ
inventariada implementada.

Integrar, estruturar, fortalecer, articular e mobilizar os


Ação 5.B.
serviços e as redes de atendimento.
Atividade
Ampliar e consolidar serviços de recepção a brasileiros deportados e
5.B.1. não admitidos nos principais pontos de entrada e saída do País, como
núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta Dois serviços de recepção organizados. MJ
Atividade
Apoiar o desenvolvimento de núcleos de enfrentamento ao tráfico de
5.B.2.
pessoas.
Meta Dois núcleos apoiados. MJ
Atividade
Criar e fortalecer os Centros de Referência Especializados de Atendi-
5.B.3.
mento à Mulher.
Meta 120 centros de referência criados ou fortalecidos. SPM
Atividade
Normas pertinentes

Desenvolver projeto-piloto a partir de um Centro de Referência Es-


pecializado no Atendimento à Mulher em um Município selecionado
5.B.4.
para a estruturação de uma rede de atendimento às mulheres vítimas
de tráfico de pessoas.
Meta Um projeto-piloto desenvolvido. SPM
Atividade
141
Apoiar a estruturação da rede de acolhimento (abrigos) a mulheres
5.B.5.
vítimas de violência ou traficadas e seus filhos.
Meta 138 abrigos estruturados. MDS
Atividade
Apoiar a estruturação dos Centros de Referência Especializado em
5.B.6. Assistência Social (CREAS) existentes para atender às vítimas de
violência e tráfico.
Meta 996 CREAS mapeados e implantados. MDS
Atividade
Apoiar a estruturação de novos Centros de Referência Especializados
5.B.7. em Assistência Social (CREAS) para atender a violações dos direitos
de vítimas de violência ou tráfico.
Meta 567 novos CREAS estruturados. MDS
Atividade
Incorporar o tema do tráfico de pessoas nas ações de atendimento das
5.B.8.
áreas de Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).
Meta Três ações com tema de tráfico de pessoas incorporado. MS

Definir metodologias e fluxos de atendimento,


Ação 5.C. procedimentos e responsabilidades nos diferentes níveis de
complexidade da atenção à vítima.
Atividade
Formalizar parceria entre órgãos de governo e entidades da socie-
5.C.1. dade civil, definindo papéis e responsabilidades para o atendimento
adequado às vítimas.
Meta Um protocolo de intenções formalizado. SEDH
Atividade
Desenvolver metodologia de atendimento às mulheres vítimas de
5.C.2.
tráfico de pessoas.
Meta Uma metodologia desenvolvida. SPM
Atividade
Avaliar as atuações dos escritórios estaduais, entre outras experiências,
5.C.3. como subsídio para apoiar a criação ou o desenvolvimento de núcleos
de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Meta Uma avaliação realizada. MJ
Atividade
Elaborar manual de orientação e acompanhamento jurídico na pro-
5.C.4. teção, defesa e garantia dos direitos das vítimas de tráfico de pessoas
para utilização nos serviços e redes existentes.
Meta Um manual elaborado. SEDH
Atividade
Tráfico de Pessoas

Definir fluxos de atendimento, procedimentos e responsabilidades


entre os órgãos de defesa e responsabilização e os serviços de atendi-
5.C.5. mento de saúde, assistência social, justiça e direitos humanos atuantes
nas áreas de fronteira internacional, bem como nos casos de tráfico
interestadual e intermunicipal.
Meta Um fluxograma definido conjuntamente pelos órgãos envolvidos. MJ
142
Atividade
Definir fluxos de atendimento e procedimentos entre a rede consular
5.C.6. brasileira no exterior e os serviços de atendimento às vítimas de tráfi-
co de pessoas no Brasil.
Meta Um fluxograma definido conjuntamente pelos órgãos envolvidos. MRE

Realizar capacitações articuladas entre as três esferas de


Ação 5.D. governo, organizações da sociedade civil e outros atores
estratégicos.
Atividade
Capacitar profissionais e demais atores no adequado encaminhamento
5.D.1.
ou atendimento de vítimas de tráfico de pessoas.
400 militares e profissionais de segurança pública atuantes priorita-
Meta riamente nas áreas de fronteira capacitados com foco na abordagem e MJ
encaminhamento das vítimas do tráfico de pessoas.
100 profissionais atuantes no atendimento no Aeroporto Internacional
Meta de São Paulo/Guarulhos capacitados em tráfico e migração, com vistas MJ
à integração com o serviço de recepção a deportados e não-admitidos.
Rede de assistência capacitada nos 996 CREAS e respectivos CRAS, a
Meta partir do cruzamento com as áreas de fronteira, capitais, pesquisas e MDS
experiências já existentes.
20.000 profissionais da Rede de Atendimento à Mulher capacitados na
Meta SPM
área de atendimento às vítimas de tráfico de pessoas.
500 profissionais de saúde capacitados na área de atendimento às
Meta MS
vítimas de tráfico de pessoas.

Realizar articulações internacionais para garantir os direitos


Ação 5.E.
das vítimas de tráfico de pessoas.
Atividade
Fomentar debates com organizações internacionais atuantes no
5.E.1. enfrentamento ao tráfico de pessoas com ênfase em atenção às pessoas
traficadas, na perspectiva do respeito aos direitos humanos.
Meta Quatro debates realizados. MRE

Prioridade nº 6: Aperfeiçoar a legislação brasileira relativa ao enfrentamento ao


tráfico de pessoas e crimes correlatos.

Criar um subgrupo de especialistas para elaborar proposta


intergovernamental de aperfeiçoamento da legislação
Ação 6.A.
brasileira relativa ao enfrentamento ao tráfico de pessoas e
crimes correlatos.
Atividade
Normas pertinentes

Analisar projetos de lei sobre o tema e propor o aperfeiçoamento da


6.A.1.
legislação brasileira para o enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Um relatório de análise legislativa com propostas de aperfeiçoamento
Meta MJ
elaborado.
Atividade
143
Elaborar um anteprojeto de lei com proposta de uniformização
do conceito de tráfico de pessoas, em consonância com a Política
Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, com o Protocolo
6.A.2 Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organiza-
do Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico
de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças (Protocolo de Palermo) e
com acordos internacionais ratificados pelo Brasil.
Meta Um anteprojeto de lei elaborado. MJ
Atividade
Elaborar um anteprojeto de lei com proposta de criação de Fun-
6.A.3. do específico para financiar ações de enfrentamento ao tráfico de
pessoas.
Meta Um anteprojeto de lei elaborado. MJ

Prioridade nº 7: Ampliar e aperfeiçoar o conhecimento sobre o enfrentamento ao


tráfico de pessoas nas instâncias e órgãos envolvidos na repressão ao crime e
responsabilização dos autores.

Capacitar profissionais de segurança pública e operadores


Ação 7.A.
do direito, federais, estaduais e municipais.
Atividade
Elaborar material de formação com conteúdos básicos para capa-
7.A.1. citação dos diversos atores envolvidos na repressão ao tráfico de
pessoas.
Meta Uma apostila com conteúdo referencial elaborada. MJ
Atividade
Realizar oficinas regionais em matéria de investigação, fiscalização e
7.A.2
controle do tráfico de pessoas.
Meta Cinco oficinas realizadas. MJ
Atividade
Promover a realização de cursos sobre tráfico de pessoas, para mem-
bros e servidores dos órgãos de justiça e segurança pública, preferen-
7.A.3.
cialmente por meio de suas instituições de formação, em parceria com
entidades de direitos humanos.
Meta Seis cursos realizados. MJ
Atividade
Incluir o tema do tráfico de pessoas nos currículos de formação dos
7.A.4. profissionais de órgãos de justiça e segurança pública federais, estadu-
ais e municipais.
Cinco propostas de inclusão do tema do tráfico de pessoas apresenta-
Meta MJ
das.
Atividade
Tráfico de Pessoas

Incluir o tema nos cursos realizados no âmbito da Estratégia Na-


7.A.5. cional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (ENC-
CLA).
Meta 50 agentes públicos capacitados. MJ

144
Prioridade nº 8: Fomentar a cooperação entre os órgãos federais, estaduais e
municipais envolvidos no enfrentamento ao tráfico de pessoas para atuação
articulada na repressão do tráfico de pessoas e responsabilização de seus autores.

Padronizar e fortalecer o intercâmbio de informações entre


Ação 8.A. os órgãos de segurança pública em matéria de investigação
dos casos de tráfico de pessoas.
Atividade
Ampliar as ações do enfrentamento ao tráfico de pessoas no âmbito
8.A.1.
dos Gabinetes de Gestão Integrada (GGIs).
Meta 27 GGIs com propostas de ampliação das ações negociadas. MJ
Atividade
Designar responsáveis nos Estados, indicados pelas corporações poli-
8.A.2
ciais, para intercâmbio de informações.
Meta Um representante por Estado designado. MJ
Atividade
Desenvolver mecanismo-piloto para coibir o aliciamento para fins
8.A.3. de tráfico de pessoas, por meio da rede mundial de computadores, e
responsabilizar seus autores.
Meta Um mecanismo desenvolvido. MJ

Promover a aproximação e integração dos órgãos e


Ação 8.B. instituições envolvidos no enfrentamento ao tráfico de
pessoas.
Atividade
Realizar seminário de âmbito nacional para aproximação e troca de
8.B.1. experiências de repressão ao tráfico de pessoas e responsabilização de
seus autores pelas várias modalidades do tráfico de pessoas.
Meta Um seminário realizado. MJ

Prioridade nº 9: Criar e aprimorar instrumentos para o enfrentamento ao tráfico de


pessoas.

Desenvolver, em âmbito nacional, mecanismos de repressão


Ação 9.A. ao tráfico de pessoas e conseqüente responsabilização de
seus autores.
Atividade
Elaborar guia de referência para facilitar a identificação de vítimas de
9.A.1. tráfico pelos profissionais envolvidos no enfrentamento, observando o
princípio de não-discriminação e o respeito aos direitos humanos.
Normas pertinentes

Meta Um guia elaborado. MJ


Atividade
Capacitar os operadores do Ligue 100 de forma a incluir o tema do
9.A.2
tráfico de pessoas em todas as suas modalidades.

145
Meta Três capacitações realizadas. SEDH
Atividade
Capacitar os operadores da Central de Atendimento à Mulher – 180
9.A.3. de forma a incluir o tema do tráfico de pessoas em todas as suas
modalidades.
Meta 100 operadoras capacitados. SPM
Atividade
Definir de forma conjunta/articulada fluxo de encaminhamento que
9.A.4. inclua competências e responsabilidades das instituições inseridas no
sistema do Ligue 100.
Meta Um fluxo de encaminhamento definido. SEDH
Atividade
Definir fluxo de encaminhamento que inclua competências e res-
9.A.5. ponsabilidades das instituições inseridas no sistema da Central de
Atendimento à Mulher – 180.
Meta Uma proposta de encaminhamento construída. SPM
Atividade
Apresentar, por meio de um grupo de trabalho, proposta de banco de
9.A.6. dados sobre tráfico de pessoas, a partir da análise dos bancos de dados
existentes relacionados direta ou indiretamente ao tema.
Meta Uma proposta de banco de dados elaborada. MJ

Prioridade nº 10: Estruturar órgãos responsáveis pela repressão ao tráfico de


pessoas e responsabilização de seus autores.

10.A. Ampliar os recursos humanos e estrutura logística


das unidades específicas para o enfrentamento ao tráfico de
Ação 10.A. pessoas, como um dos crimes contra os direitos humanos,
nas Superintendências Regionais do Departamento de
Polícia Federal.
Atividade
Criar estruturas específicas de repressão aos crimes contra os direitos
humanos nas Superintendências Regionais do Departamento de Po-
10.A.1.
lícia Federal, nos locais indicados pela Coordenação-Geral de Defesa
Institucional, dotando-as de recursos humanos e estrutura logística.
Meta Duas propostas de criação negociadas. MJ

Prioridade nº 11: Fomentar a cooperação internacional para repressão ao tráfico de


pessoas.

Propor e elaborar instrumentos de cooperação bilateral e


Ação 11.A.
Tráfico de Pessoas

multilateral na área de repressão ao tráfico de pessoas.


Atividade
Fomentar a cooperação internacional por meio de oficiais de ligação
11.A.1.
nos três países que mais recebem vítimas brasileiras de tráfico.
Meta Três negociações para designação de oficiais de ligação realizadas. MJ
146
Atividade
Estabelecer instrumentos de cooperação bilateral e multilateral que in-
11.A.2
cluam o reconhecimento e repressão ao tráfico de pessoas no exterior.
Meta Quatro instrumentos negociados. MRE
Atividade
Fomentar a utilização dos instrumentos internacionais que servem de
base para a cooperação jurídica internacional para o efetivo enfrenta-
11.A.3.
mento ao tráfico internacional de pessoas, proporcionando o correto
desenvolvimento de ações penais.
Quatro acordos bilaterais de cooperação jurídica internacional em
Meta MJ
matéria penal negociados.
Atividade
Realizar evento para discussão da Convenção Internacional sobre a
11.A.4. Proteção dos Direitos de todos Trabalhadores Migrantes e dos Mem-
bros de suas Famílias e outros instrumentos internacionais.
Meta Um evento realizado. MRE

Fortalecer e integrar projetos de cooperação internacional


Ação 11.B.
na área de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Atividade
Identificar os projetos de cooperação com organismos internacionais
11.B.1.
relacionados direta ou indiretamente ao tráfico de pessoas.
Meta Um levantamento elaborado. MRE
Atividade
Articular os projetos de cooperação internacional a fim de evitar
11.B.2.
sobreposição de ações.
Meta Uma estratégia de articulação elaborada. MRE

Articular ações conjuntas de enfrentamento ao tráfico de


Ação 11.C.
pessoas em regiões de fronteira.
Atividade
Incluir na agenda das reuniões bilaterais de fronteira com países vizi-
11.C.1.
nhos o tema da repressão do tráfico de pessoas.
Meta Duas propostas de inclusão negociadas. MRE
Atividade
Incluir na agenda das comissões mistas bilaterais antidrogas o tema da
11.C.2.
repressão ao tráfico de pessoas.
Meta Quatro propostas de inclusão negociadas. MRE
Normas pertinentes

147
Decreto no 5.948/2006
Aprova a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e institui Grupo de Trabalho
Interministerial com o objetivo de elaborar proposta do Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas – PNETP.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da Art. 2o a Art. 9o. (Revogado)2


atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI,
alínea “a”, da Constituição, Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data
de sua publicação.
DECRETA:
Brasília, 26 de outubro de 2006; 185o da Inde-
Art. 1o Fica aprovada a Política Nacional de pendência e 118o da República.
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que tem
por finalidade estabelecer princípios, diretrizes LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA – Márcio
e ações de prevenção e repressão ao tráfico de Thomaz Bastos
pessoas e de atendimento às vítimas, conforme
Anexo a este Decreto. Decretado em 26/10/2006 e publicado no DOU de
27/10/2006.

2
Decreto no 7.901/2013.

ANEXO

Política Nacional de Enfrentamento ao


Tráfico de Pessoas
CAPÍTULO I – Disposições Gerais nal Relativo à Prevenção, Repressão e Punição
do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e
Art. 1o A Política Nacional de Enfrentamento Crianças, que a define como o recrutamento, o
ao Tráfico de Pessoas tem por finalidade estabe- transporte, a transferência, o alojamento ou o
lecer princípios, diretrizes e ações de prevenção acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça
e repressão ao tráfico de pessoas e de atenção ou uso da força ou a outras formas de coação, ao
às vítimas, conforme as normas e instrumentos rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autorida-
nacionais e internacionais de direitos humanos de ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega
e a legislação pátria. ou aceitação de pagamentos ou benefícios para
Tráfico de Pessoas

obter o consentimento de uma pessoa que tenha


Art. 2o Para os efeitos desta Política, adota-se autoridade sobre outra para fins de exploração.
a expressão “tráfico de pessoas” conforme o A exploração incluirá, no mínimo, a exploração
Protocolo Adicional à Convenção das Nações da prostituição de outrem ou outras formas
Unidas contra o Crime Organizado Transnacio- de exploração sexual, o trabalho ou serviços
148
forçados, escravatura ou práticas similares à III – proteção e assistência integral às víti-
escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. mas diretas e indiretas, independentemente de
§ 1o O termo “crianças” descrito no caput nacionalidade e de colaboração em processos
deve ser entendido como “criança e adolescen- judiciais;
te”, de acordo com a Lei no 8.069, de 13 de julho IV – promoção e garantia da cidadania e dos
de 1990, Estatuto da Criança e do Adolescente. direitos humanos;
§ 2o O termo “rapto” descrito no caput deste V – respeito a tratados e convenções inter-
artigo deve ser entendido como a conduta defi- nacionais de direitos humanos;
nida no art. 148 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 VI – universalidade, indivisibilidade e inter-
de dezembro de 1940, Código Penal Brasileiro, dependência dos direitos humanos; e
referente ao seqüestro e cárcere privado. VII – transversalidade das dimensões de
§ 3o A expressão “escravatura ou práticas si- gênero, orientação sexual, origem étnica ou
milares à escravatura” deve ser entendida como: social, procedência, raça e faixa etária nas
I – a conduta definida no art. 149 do Decre- políticas públicas.
to-Lei no 2.848, de 1940, referente à redução à Parágrafo único. A Política Nacional de
condição análoga à de escravo; e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas observará
II – a prática definida no art. 1o da Conven- os princípios da proteção integral da criança e
ção Suplementar sobre a Abolição da Escrava- do adolescente.
tura, do Tráfico de Escravos e das Instituições
e Práticas Análogas à Escravatura, como sendo SEÇÃO II – Diretrizes Gerais
o casamento servil.
§ 4o A intermediação, promoção ou fa- Art. 4o São diretrizes gerais da Política Nacio-
cilitação do recrutamento, do transporte, da nal de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas:
transferência, do alojamento ou do acolhimento I – fortalecimento do pacto federativo, por
de pessoas para fins de exploração também meio da atuação conjunta e articulada de todas
configura tráfico de pessoas. as esferas de governo na prevenção e repressão
§ 5o O tráfico interno de pessoas é aquele re- ao tráfico de pessoas, bem como no atendimen-
alizado dentro de um mesmo Estado-membro to e reinserção social das vítimas;
da Federação, ou de um Estado-membro para II – fomento à cooperação internacional
outro, dentro do território nacional. bilateral ou multilateral;
§ 6o O tráfico internacional de pessoas é III – articulação com organizações não-
aquele realizado entre Estados distintos. -governamentais, nacionais e internacionais;
§ 7o O consentimento dado pela vítima é IV – estruturação de rede de enfrentamento
irrelevante para a configuração do tráfico de ao tráfico de pessoas, envolvendo todas as esfe-
pessoas. ras de governo e organizações da sociedade civil;
V – fortalecimento da atuação nas regiões
de fronteira, em portos, aeroportos, rodovias,
CAPÍTULO II – Princípios e Diretrizes estações rodoviárias e ferroviárias, e demais
SEÇÃO I – Princípios áreas de incidência;
VII – verificação da condição de vítima e
Art. 3o São princípios norteadores da Políti- respectiva proteção e atendimento, no exterior
ca Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de e em território nacional, bem como sua rein-
Pessoas: serção social;
Normas pertinentes

I – respeito à dignidade da pessoa humana; VIII – incentivo e realização de pesquisas,


II – não-discriminação por motivo de considerando as diversidades regionais, orga-
gênero, orientação sexual, origem étnica ou nização e compartilhamento de dados;
social, procedência, nacionalidade, atuação IX – incentivo à formação e à capacitação de
profissional, raça, religião, faixa etária, situação profissionais para a prevenção e repressão ao
migratória ou outro status; tráfico de pessoas, bem como para a verificação
149
da condição de vítima e para o atendimento e IV – integração com políticas e ações de
reinserção social das vítimas; repressão e responsabilização dos autores de
X – harmonização das legislações e proce- crimes correlatos.
dimentos administrativos nas esferas federal,
estadual e municipal relativas ao tema; Art. 7o São diretrizes específicas de atenção às
XI – incentivo à participação da sociedade vítimas do tráfico de pessoas:
civil em instâncias de controle social das po- I – proteção e assistência jurídica, social e de
líticas públicas na área de enfrentamento ao saúde às vítimas diretas e indiretas de tráfico
tráfico de pessoas; de pessoas;
XII – incentivo à participação dos órgãos de II – assistência consular às vítimas diretas e
classe e conselhos profissionais na discussão indiretas de tráfico de pessoas, independente-
sobre tráfico de pessoas; e mente de sua situação migratória e ocupação;
XIII – garantia de acesso amplo e adequado III – acolhimento e abrigo provisório das
a informações em diferentes mídias e estabe- vítimas de tráfico de pessoas;
lecimento de canais de diálogo, entre o Estado, IV – reinserção social com a garantia de
sociedade e meios de comunicação, referentes acesso à educação, cultura, formação profis-
ao enfrentamento ao tráfico de pessoas. sional e ao trabalho às vítimas de tráfico de
pessoas;
SEÇÃO III – Diretrizes Específicas V – reinserção familiar e comunitária de
crianças e adolescentes vítimas de tráfico de
Art. 5o São diretrizes específicas de prevenção pessoas;
ao tráfico de pessoas: VI – atenção às necessidades específicas das
I – implementação de medidas preventivas vítimas, com especial atenção a questões de gê-
nas políticas públicas, de maneira integrada nero, orientação sexual, origem étnica ou social,
e intersetorial, nas áreas de saúde, educação, procedência, nacionalidade, raça, religião, faixa
trabalho, segurança, justiça, turismo, assis- etária, situação migratória, atuação profissional
tência social, desenvolvimento rural, esportes, ou outro status;
comunicação, cultura, direitos humanos, dentre VII – proteção da intimidade e da identidade
outras; das vítimas de tráfico de pessoas; e
II – apoio e realização de campanhas socio- VIII – levantamento, mapeamento, atuali-
educativas e de conscientização nos âmbitos zação e divulgação de informações sobre insti-
internacional, nacional, regional e local, con- tuições governamentais e não-governamentais
siderando as diferentes realidades e linguagens; situadas no Brasil e no exterior que prestam
III – monitoramento e avaliação de cam- assistência a vítimas de tráfico de pessoas.
panhas com a participação da sociedade civil;
IV – apoio à mobilização social e fortaleci-
mento da sociedade civil; e CAPÍTULO III – Ações
V – fortalecimento dos projetos já existentes
e fomento à criação de novos projetos de pre- Art. 8o Na implementação da Política Nacional
venção ao tráfico de pessoas. de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, caberá
aos órgãos e entidades públicos, no âmbito de
Art. 6o São diretrizes específicas de repressão suas respectivas competências e condições,
ao tráfico de pessoas e de responsabilização de desenvolver as seguintes ações:
seus autores: I – na área de Justiça e Segurança Pública:
Tráfico de Pessoas

I – cooperação entre órgãos policiais nacio- a) proporcionar atendimento inicial hu-


nais e internacionais; manizado às vítimas de tráfico de pessoas que
II – cooperação jurídica internacional; retornam ao País na condição de deportadas ou
III – sigilo dos procedimentos judiciais e não admitidas nos aeroportos, portos e pontos
administrativos, nos termos da lei; e de entrada em vias terrestres;
150
b) elaborar proposta intergovernamental de n) celebrar acordos de cooperação técnica
aperfeiçoamento da legislação brasileira relativa com entidades públicas e privadas para subsi-
ao enfrentamento do tráfico de pessoas e crimes diar a atuação judicial e extrajudicial;
correlatos; o) incluir o tema de tráfico de pessoas nos
c) fomentar a cooperação entre os órgãos cursos de combate à lavagem de dinheiro, ao
federais, estaduais e municipais ligados à tráfico de drogas e armas e a outros crimes
segurança pública para atuação articulada na correlatos;
prevenção e repressão ao tráfico de pessoas e p) desenvolver, em âmbito nacional, meca-
responsabilização de seus autores; nismos de prevenção, investigação e repressão
d) propor e incentivar a adoção do tema ao tráfico de pessoas cometido com o uso da
de tráfico de pessoas e direitos humanos nos rede mundial de computadores, e conseqüente
currículos de formação dos profissionais de responsabilização de seus autores; e
segurança pública e operadores do Direito, q) incluir a possível relação entre o desapa-
federais, estaduais e municipais, para capaci- recimento e o tráfico de pessoas em pesquisas
tação, quando do ingresso na instituição e de e investigações policiais;
forma continuada, para o enfrentamento a este II – na área de Relações Exteriores:
tipo de crime; a) propor e elaborar instrumentos de coope-
e) fortalecer as rubricas orçamentárias exis- ração internacional na área do enfrentamento
tentes e criar outras voltadas para a formação ao tráfico de pessoas;
dos profissionais de segurança pública e de b) iniciar processos de ratificação dos ins-
justiça na área de enfrentamento ao tráfico de trumentos internacionais referentes ao tráfico
pessoas; de pessoas;
f) incluir nas estruturas específicas de inte- c) inserir no Manual de Serviço Consular e
ligência policial a investigação e repressão ao Jurídico do Ministério das Relações Exteriores
tráfico de pessoas; um capítulo específico de assistência consular
g) criar, nas Superintendências Regionais do às vítimas de tráfico de pessoas;
Departamento de Polícia Federal e da Polícia d) incluir o tema de tráfico de pessoas nos
Rodoviária Federal, estruturas específicas para cursos de remoção oferecidos aos servidores do
o enfrentamento do tráfico de pessoas e outros Ministério de Relações Exteriores;
crimes contra direitos humanos; e) promover a coordenação das políticas
h) promover a aproximação dos profissionais referentes ao enfrentamento ao tráfico de
de segurança pública e operadores do Direito pessoas em fóruns internacionais bilaterais e
com a sociedade civil; multilaterais;
i) celebrar acordos de cooperação com f) propor e apoiar projetos de cooperação
organizações da sociedade civil que atuam na técnica internacional na área de enfrentamento
prevenção ao tráfico de pessoas e no atendi- ao tráfico de pessoas;
mento às vítimas; g) coordenar e facilitar a participação bra-
j) promover e incentivar, de forma perma- sileira em eventos internacionais na área de
nente, cursos de atualização sobre tráfico de enfrentamento ao tráfico de pessoas; e
pessoas, para membros e servidores dos órgãos h) fortalecer os serviços consulares na defesa
de justiça e segurança pública, preferencialmen- e proteção de vítimas de tráfico de pessoas;
te por meio de suas instituições de formação; III – na área de Educação:
l) articular os diversos ramos do Ministério a) celebrar acordos com instituições de ensi-
Normas pertinentes

Público dos Estados e da União, da Magistra- no e pesquisa para o desenvolvimento de estudos


tura Estadual e Federal e dos órgãos do sistema e pesquisas relacionados ao tráfico de pessoas;
de justiça e segurança pública; b) incluir a questão do tráfico de pessoas
m) organizar e integrar os bancos de dados nas ações e resoluções do Fundo Nacional de
existentes na área de enfrentamento ao tráfico Desenvolvimento da Educação do Ministério
de pessoas e áreas correlatas; da Educação (FNDE/MEC);
151
c) apoiar a implementação de programas pios, Estados e organizações da sociedade civil
e projetos de prevenção ao tráfico de pessoas voltadas à prevenção ao tráfico de pessoas e
nas escolas; atendimento às vítimas; e
d) incluir e desenvolver o tema do enfren- c) promover a realização de estudos e pes-
tamento ao tráfico de pessoas nas formações quisas sobre o perfil das vítimas de tráfico de
continuadas da comunidade escolar, em espe- pessoas, com ênfase na população negra e ou-
cial os trabalhadores da educação; tros segmentos étnicos da população brasileira;
e) promover programas intersetoriais de VII – na área do Trabalho e Emprego:
educação e prevenção ao tráfico de pessoas para a) orientar os empregadores e entidades sin-
todos os atores envolvidos; e dicais sobre aspectos ligados ao recrutamento
f) fomentar a educação em direitos huma- e deslocamento de trabalhadores de uma loca-
nos com destaque ao enfrentamento ao tráfico lidade para outra;
de pessoas em todas modalidades de ensino, b) fiscalizar o recrutamento e o deslocamen-
inclusive no ensino superior; to de trabalhadores para localidade diversa do
IV – na área de Saúde: Município ou Estado de origem;
a) garantir atenção integral para as vítimas c) promover articulação com entidades pro-
de tráfico de pessoas e potencializar os serviços fissionalizantes visando capacitar e reinserir a
existentes no âmbito do Sistema Único de Saúde; vítima no mercado de trabalho; e
b) acompanhar e sistematizar as notificações d) adotar medidas com vistas a otimizar
compulsórias relativas ao tráfico de pessoas a fiscalização dos inscritos nos Cadastros de
sobre suspeita ou confirmação de maus-tratos, Empregadores que Tenham Mantido Traba-
violência e agravos por causas externas relacio- lhadores em Condições Análogas à de Escravo;
nadas ao trabalho; VIII – na área de Desenvolvimento Agrário:
c) propor a elaboração de protocolos espe- a) diminuir a vulnerabilidade do trabalhador
cíficos para a padronização do atendimento às e prevenir o recrutamento mediante políticas
vítimas de tráfico de pessoas; e específicas na área de desenvolvimento rural;
d) capacitar os profissionais de saúde na área b) promover ações articuladas com parceiros
de atendimento às vítimas de tráfico de pessoas; que atuam nos Estados de origem dos trabalha-
V – na área de Assistência Social: dores recrutados;
a) oferecer assistência integral às vítimas de c) formar parcerias no que tange à assis-
tráfico de pessoas no âmbito do Sistema Único tência técnica para avançar na implementação
de Assistência Social; da Política Nacional de Assistência Técnica e
b) propiciar o acolhimento de vítimas de trá- Extensão Rural;
fico, em articulação com os sistemas de saúde, d) excluir da participação em certames
segurança e justiça; licitatórios e restringir o acesso aos recursos
c) capacitar os operadores da assistência do crédito rural a todas as pessoas físicas ou
social na área de atendimento às vítimas de jurídicas que explorem o trabalho forçado ou
tráfico de pessoas; e em condição análoga a de escravo;
d) apoiar a implementação de programas e e) promover a reinclusão de trabalhadores
projetos de atendimento específicos às vítimas libertados e de resgate da cidadania, mediante
de tráfico de pessoas; criação de uma linha específica, em parceria
VI – na área de Promoção da Igualdade com o Ministério da Educação, para alfabeti-
Racial: zação e formação dos trabalhadores resgatados,
a) garantir a inserção da perspectiva da de modo que possam atuar como agentes
Tráfico de Pessoas

promoção da igualdade racial nas políticas multiplicadores para a erradicação do trabalho


governamentais de enfrentamento ao tráfico forçado ou do trabalho em condição análoga a
de pessoas; de escravo; e
b) apoiar as experiências de promoção da f) incentivar os Estados, Municípios e de-
igualdade racial empreendidas por Municí- mais parceiros a acolher e prestar apoio espe-
152
cífico aos trabalhadores libertados, por meio c) apoiar e incentivar programas e projetos
de capacitação técnica; de qualificação profissional, geração de em-
IX – na área dos Direitos Humanos: prego e renda que tenham como beneficiárias
a) proteger vítimas, réus colaboradores e diretas mulheres traficadas;
testemunhas de crimes de tráfico de pessoas; d) fomentar debates sobre questões estru-
b) receber denúncias de tráfico de pessoas turantes favorecedoras do tráfico de pessoas e
através do serviço de disque-denúncia nacional, relativas à discriminação de gênero;
dando o respectivo encaminhamento; e) promover ações de articulação interseto-
c) incluir ações específicas sobre enfrenta- riais visando a inserção da dimensão de gênero
mento ao tráfico de pessoas e fortalecer ações nas políticas públicas básicas, assistenciais e
existentes no âmbito de programas de preven- especiais;
ção à violência e garantia de direitos; f) apoiar programas, projetos e ações de edu-
d) proporcionar proteção aos profissionais cação não-sexista e de promoção da diversidade
que atuam no enfrentamento ao tráfico de no ambiente profissional e educacional;
pessoas e que, em função de suas atividades, g) participar das capacitações visando ga-
estejam ameaçados ou se encontrem em situ- rantir a temática de gênero; e
ação de risco; h) promover, em parceria com organizações
e) incluir o tema do tráfico de pessoas nas ca- governamentais e não-governamentais, debates
pacitações dos Conselhos de Direitos da Crian- sobre metodologias de atendimento às mulhe-
ça e do Adolescente e Conselhos Tutelares; res traficadas;
f) articular ações conjuntas de enfrenta- XI – na área do Turismo:
mento ao tráfico de crianças e adolescentes em a) incluir o tema do tráfico de pessoas, em
regiões de fronteira; especial mulheres, crianças e adolescentes nas
g) promover, em parceira com os órgãos e en- capacitações e eventos de formação dirigidos à
tidades diretamente responsáveis, a prevenção cadeia produtiva do turismo;
ao trabalho escravo, através da sensibilização de b) cruzar os dados dos diagnósticos feitos
operadores de Direito, orientação a produtores nos Municípios para orientar os planos de
rurais acerca dos direitos trabalhistas, educação desenvolvimento turístico local através do
e capacitação de trabalhadores rurais; e programa de regionalização; e
h) disponibilizar mecanismos de acesso a c) promover campanhas de sensibilização
direitos, incluindo documentos básicos, pre- contra o turismo sexual como forma de pre-
ferencialmente nos Municípios identificados venção ao tráfico de pessoas;
como focos de aliciamento de mão-de-obra XII – na área de Cultura:
para trabalho escravo; a) desenvolver projetos e ações culturais
X – na área da Proteção e Promoção dos com foco na prevenção ao tráfico de pessoas; e
Direitos da Mulher: b) fomentar e estimular atividades culturais,
a) qualificar os profissionais da rede de aten- tais como programas regionais de rádio, peças
dimento à mulher em situação de violência para e outros programas veiculados por radiodifu-
o atendimento à mulher traficada; sores, que possam aumentar a conscientização
b) incentivar a prestação de serviços de aten- da população com relação ao tráfico de pessoas,
dimento às mulheres traficadas nos Centros trabalho escravo e exploração sexual, respeita-
de Referência de Atendimento à Mulher em das as características regionais.
Situação de Violência;
Normas pertinentes

153
Lei no 10.608/2002
Altera a Lei no 7.998, de 11 de janeiro de 1990, para assegurar o pagamento de seguro-desemprego
ao trabalhador resgatado da condição análoga à de escravo.

Faço saber que o PRESIDENTE DA REPÚ- § 1o O trabalhador resgatado nos termos do


BLICA adotou a Medida Provisória no 74, de caput deste artigo será encaminhado, pelo
2002, que o Congresso Nacional aprovou, e eu, Ministério do Trabalho e Emprego, para
Ramez Tebet, Presidente da Mesa do Congresso qualificação profissional e recolocação no
Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62 mercado de trabalho, por meio do Sistema
da Constituição Federal, com a redação dada Nacional de Emprego – SINE, na forma esta-
pela Emenda constitucional no 32, de 2001, belecida pelo Conselho Deliberativo do Fun-
promulgo a seguinte Lei: do de Amparo ao Trabalhador – CODEFAT.
§ 2o Caberá ao CODEFAT, por proposta do
Art. 1o O art. 2o da Lei no 7.998, de 11 de janeiro Ministro de Estado do Trabalho e Emprego,
de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação: estabelecer os procedimentos necessários ao
“Art. 2o ........................................................... recebimento do benefício previsto no caput
I – prover assistência financeira temporária deste artigo, observados os respectivos limi-
ao trabalhador desempregado em virtude tes de comprometimento dos recursos do
de dispensa sem justa causa, inclusive a in- FAT, ficando vedado ao mesmo trabalhador
direta, e ao trabalhador comprovadamente o recebimento do benefício, em circunstân-
resgatado de regime de trabalho forçado ou cias similares, nos doze meses seguintes à
da condição análoga à de escravo; percepção da última parcela.”
........................................................................ ”
Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua
Art. 2o A Lei no 7.998, de 1990, passa a vigorar publicação.
acrescida do seguinte art. 2o-C:
“Art. 2o-C. O trabalhador que vier a ser Congresso Nacional, em 20 de dezembro de
identificado como submetido a regime de 2002; 181o da Independência e 114o da Repú-
trabalho forçado ou reduzido a condição blica.
análoga à de escravo, em decorrência de ação
de fiscalização do Ministério do Trabalho e Senador RAMEZ TEBET – Presidente da Mesa
Emprego, será dessa situação resgatado e terá do Congresso Nacional
direito à percepção de três parcelas de seguro-
-desemprego no valor de um salário mínimo Promulgada em 20/12/2002 e publicada no DOU
cada, conforme o disposto no § 2o deste artigo. de 23/12/2002.
Tráfico de Pessoas

154
Decreto no 2.268/1997
Regulamenta a Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos
e partes do corpo humano para fim de transplante e tratamento, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da III – as Secretarias de Saúde dos Municípios


atribuição que lhe confere o artigo 84, inciso IV, ou órgãos equivalentes;
da Constituição, e tendo em vista o disposto na IV – os estabelecimentos hospitalares au-
Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, torizados;
V – a rede de serviços auxiliares necessários
DECRETA: à realização de transplantes.

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES SEÇÃO II – Do Órgão Central

Art. 1o A remoção de órgãos, tecidos e partes Art. 4o Ministério da Saúde, por intermédio
do corpo humano e sua aplicação em transplan- de unidade própria, prevista em sua estrutura
tes, enxertos ou outra finalidade terapêutica, regimental, exercerá as funções de órgão central
nos termos da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro do SNT, cabendo-lhe, especificamente:
de 1997, observará o disposto neste Decreto. I – coordenar as atividades de que trata este
Parágrafo único. Não estão compreendidos Decreto;
entre os tecidos a que se refere este Decreto o II – expedir normas e regulamentos técnicos
sangue, o esperma e o óvulo. para disciplinar os procedimentos estabelecidos
neste Decreto e para assegurar o funcionamen-
to ordenado e harmônico do SNT e o controle,
CAPÍTULO I – Do Sistema Nacional de inclusive social, das atividades que desenvolva;
Transplante – SNT III – gerenciar a lista única nacional de re-
SEÇÃO I – Da Estrutura ceptores, com todas as indicações necessárias
à busca, em todo o território nacional, de te-
Art. 2o Fica organizado o Sistema Nacional de cidos, órgãos e partes compatíveis com as suas
Transplante – SNT, que desenvolverá o processo condições orgânicas;
de captação e distribuição de tecidos, órgãos e IV – autorizar estabelecimentos de saúde e
partes retirados do corpo humano para finali- equipes especializadas a promover retiradas,
dades terapêuticas. transplantes ou enxertos de tecidos, órgãos e
Parágrafo único. O SNT tem como âmbito partes;
de intervenção as atividades de conhecimento V – avaliar o desempenho do SNT, mediante
de morte encefálica verificada em qualquer análise de relatórios recebidos dos órgãos esta-
ponto do território nacional e a determina- duais e municipais que o integram;
ção do destino dos tecidos, órgãos e partes VI – articular-se com todos os integrantes do
retirados. SNT para a identificação e correção de falhas
Normas pertinentes

verificadas no seu funcionamento;


Art. 3o Integram o SNT: VII – difundir informações e iniciativas
I – o Ministério da Saúde; bem sucedidas, no âmbito do SNT, e promover
II – as Secretarias de Saúde dos Estados e do intercâmbio com o exterior sobre atividades de
Distrito Federal ou órgãos equivalentes; transplantes;

155
VIII – credenciar centrais de notificação, II – promover a inscrição de potenciais
captação e distribuição de órgãos, de que trata receptores, com todas as indicações necessá-
a Seção IV deste Capítulo; rias à sua rápida localização e à verificação de
IX – indicar, dentre os órgãos mencionados compatibilidade do respectivo organismo para
no inciso anterior, aquele de vinculação dos o transplante ou enxerto de tecidos, órgãos e
estabelecimentos de saúde e das equipes es- partes disponíveis, de que necessite;
pecializadas, que tenha autorizado, com sede III – classificar os receptores e agrupá-los
ou exercício em Estado, onde ainda não se segundo às indicações do inciso anterior, em
encontre estruturado ou tenha sido cancelado ordem estabelecida pela data de inscrição,
ou desativado o serviço, ressalvado o disposto fornecendo-se-lhes o necessário comprovante;
no § 3o do artigo seguinte. IV – comunicar ao órgão central do SNT as
inscrições que efetuar para a organização da
lista nacional de receptores;
SEÇÃO III – Dos Órgãos Estaduais V – receber notificações de morte encefálica
ou outra que enseje a retirada de tecidos, órgãos
Art. 5o As Secretarias de Saúde dos Estados, e partes para transplante, ocorrida em sua área
do Distrito Federal e dos Municípios ou órgãos de atuação;
equivalentes, para que se integrem ao SNT, VI – determinar o encaminhamento e provi-
deverão instituir, na respectiva estrutura orga- denciar o transporte de tecidos, órgãos e partes
nizacional, unidade com o perfil e as funções retirados ao estabelecimento de saúde auto-
indicadas na Seção seguinte. rizado, em que se encontrar o receptor ideal,
§ 1o Instituída a unidade referida neste observado o disposto no inciso IlI deste artigo
artigo, a Secretaria de Saúde, a que se vincular, e em instruções ou regulamentos técnicos,
solicitará ao órgão central o seu credenciamen- expedidos na forma do artigo 28 deste Decreto;
to junto ao SNT, assumindo os encargos que VII – notificar o órgão central do SNT de te-
lhes são próprios, após deferimento. cidos, órgãos e partes não aproveitáveis entre os
§ 2o O credenciamento será concedido por receptores inscritos em seus registros, para uti-
prazo indeterminado, sujeito a cancelamento, lização dentre os relacionados na lista nacional;
em caso de desarticulação com o SNT. VIII – encaminhar relatórios anuais ao órgão
§ 3o Os Estados poderão estabelecer meca- central do SNT sobre o desenvolvimento das ati-
nismos de cooperação para o desenvolvimento vidades de transplante em sua área de atuação;
em comum das atividades de que trata este IX – exercer controle e fiscalização sobre as
Decreto, sob coordenação de qualquer unidade atividades de que trata este Decreto;
integrante do SNT. X – aplicar penalidades administrativas por
infração às disposições da Lei no 9.434, de 1997;
XI – suspender, cautelarmente, pelo prazo
SEÇÃO IV – Das Centrais de Notificação, máximo de sessenta dias, estabelecimentos e
Captação e Distribuição de órgãos – equipes especializadas, antes ou no curso do
CNCDOs processo de apuração de infração que tenham
cometido, se, pelos indícios conhecidos, hou-
Art. 6o As Centrais de Notificação, Captação ver fundadas razões de continuidade de risco
e Distribuição de Órgãos – CNCDOs serão as de vida ou de agravos intoleráveis à saúde das
unidades executivas das atividades do SNT, pessoas;
afetas ao Poder Público, como previstas neste XII – comunicar a aplicação de penalidade
Tráfico de Pessoas

Decreto. ao órgão central do SNT, que a registrará para


consulta quanto às restrições estabelecidas
Art. 7o Incumbe às CNCDOs: no § 2o do art. 21 da Lei no 9.434, de 1997, e
I – coordenar as atividades de transplantes cancelamento, se for o caso, da autorização
no âmbito estadual; concedida;
156
XIII – acionar o Ministério Público do Esta- § 4o Os estabelecimentos de saúde e as
do e outras instituições públicas competentes, equipes especializadas firmarão compromisso,
para reprimir ilícitos cuja apuração não esteja no pedido de autorização, de que se sujeitam
compreendida no âmbito de sua atuação. à fiscalização e ao controle do Poder Público,
§ 1o O Município considerado pólo de re- facilitando o acesso de seus agentes creden-
gião administrativa poderá instituir CNCDO, ciados a instalações, equipamentos e prontu-
que ficará vinculada à CNCDO estadual. ários, observada, quanto a estes a necessária
§ 2o Os receptores inscritos nas CNCDOs habilitação, em face do caráter sigiloso destes
regionais, cujos dados tenham sido previamen- documentos, conforme for estabelecido pelo
te encaminhados às CNCDOs estaduais, pode- Conselho Federal de Medicina.
rão receber tecidos, órgãos e partes retirados no § 5o A autorização terá validade pelo prazo
âmbito de atuação do órgão regional. de dois anos, renovável por períodos iguais e
§ 3o Às centrais regionais aplica-se o dispos- sucessivos, verificada a observância dos requi-
to nos inciso deste artigo, salvo a apuração de sitos estabelecidos nas Seções seguintes.
infrações e a aplicação de penalidades. § 6o A renovação deverá ser requerida ses-
§ 4o Para o exercício da competência esta- senta dias antes do término de sua vigência,
belecida no inciso X deste artigo, a CNCDO prorrogando-se automaticamente a autoriza-
observará o devido processo legal, assegurado ção anterior até a manifestação definitiva do
ao infrator o direito de ampla defesa, com Ministério da Saúde.
os recursos a ela inerentes e, em especial, as § 7o Os pedidos formulados depois do prazo
disposições da Lei no 9.434, de 1997, e, no que fixado no parágrafo precedente sujeitam-se à
forem aplicáveis, as da Lei no 6.437, de 20 de manifestação ali prevista, ficando sem eficácia
agosto de 1977, e do Decreto no 77.052, de 19 a autorização a partir da data de expiração de
de janeiro de 1976. sua vigência e até a decisão sobre o pedido de
renovação.
§ 8o Salvo motivo de força maior, devida-
CAPÍTULO II – Da Autorização mente justificado, a decisão de que trata os §§ 6o
SEÇÃO I – Das Condições Gerais e Comuns e 7o será tomada no prazo de até sessenta dias,
a contar do pedido de renovação, sob pena de
Art. 8o A retirada de tecidos, órgãos e partes responsabilidade administrativa.
e o seu transplante ou enxerto só poderão ser
realizados por equipes especializadas e em
estabelecimentos de saúde, públicos ou priva- SEÇÃO II – Dos Estabelecimentos de Saúde
dos, prévia e expressamente autorizados pelo
Ministério da Saúde. Art. 9o Os estabelecimentos de saúde deverão
§ 1o O pedido de autorização poderá ser contar com serviços e instalações adequados à
formulado para uma ou mais atividades de que execução de retirada, transplante ou enxerto
trata este Regulamento, podendo restringir-se a de tecidos, órgãos ou partes, atendidas, no
tecidos, órgãos ou partes especificados. mínimo, as seguintes exigências, comprovadas
§ 2o A autorização será concedida, distinta- no requerimento de autorização:
mente, para estabelecimentos de saúde, equipes I – atos constitutivos, com indicação da re-
especializadas de retirada e de transplante ou presentação da instituição, em juízo ou fora dele;
enxerto. II – ato de designação e posse da diretoria;
Normas pertinentes

§ 3o Os membros de uma equipe especia- III – equipes especializadas de retirada,


lizada poderão integrar a de outra, desde que transplante ou enxerto, com vínculo sob qual-
nominalmente identificados na relação de quer modalidade contratual ou funcional, au-
ambas, assim como atuar em qualquer esta- torizadas na forma da Seção III deste Capítulo;
belecimento de saúde autorizado para os fins IV – disponibilidade de pessoal qualificado
deste Decreto. e em número suficiente para desempenho de
157
outras atividades indispensáveis à realização Parágrafo único. Eventuais condenações,
dos procedimentos; anotadas no documento a que se refere o
V – condições necessárias de ambientação e inciso II deste artigo, não são indutoras do
de infra-estrutura operacional; indeferimento do pedido, salvo em casos de
VI – capacidade para a realização de exames omissão ou de erro médico que tenha resul-
e análises laboratoriais necessários aos proce- tado em morte ou lesão corporal de natureza
dimentos de transplantes; grave.
VII – instrumental e equipamento indis-
pensáveis ao desenvolvimento da atividade a
que se proponha. SEÇÃO IV – Disposições Complementares
§ 1 o A transferência da propriedade, a
modificação da razão social e a alteração das Art. 12. O Ministério da Saúde poderá estabe-
equipes especializadas por outros profissionais, lecer outras exigências, que se tornem indispen-
igualmente autorizados, na forma da Seção sáveis à prevenção de quaisquer irregularidades
seguinte, quando comunicadas no decêndio nas práticas de que trata este Decreto.
posterior à sua ocorrência, não prejudicam a
validade da autorização concedida. Art. 13. O pedido de autorização será apre-
§ 2o O estabelecimento de saúde, autorizado sentado às Secretarias de Saúde do Estado
na forma deste artigo, só poderá realizar trans- ou do Distrito Federal, que o instruirão com
plante, se, em caráter permanente, observar o relatório conclusivo quanto à satisfação das
disposto no § 1o do artigo seguinte. exigências estabelecidas neste Decreto e em
normas regulamentares, no âmbito de sua área
SEÇÃO III – Das Equipes Especializadas de competência definida na Lei no 8.080, de 19
de setembro de 1990.
Art. 10. A composição das equipes especiali- § 1o A Secretaria de Saúde diligenciará
zaras será determinada em função do proce- junto ao requerente para a satisfação de exi-
dimento, mediante integração de profissionais gência acaso não cumprida, de verificação a
autorizados na forma desta Seção. seu cargo.
§ 1o Será exigível, no caso de transplante, a § 2o Com manifestação favorável sob os
definição, em número e habilitação, de profis- aspectos pertinentes à sua análise, a Secretaria
sionais necessários à realização do procedimen- de Saúde remeterá o pedido ao órgão central do
to, não podendo a equipe funcionar na falta de SNT, para expedir a autorização, se satisfeitos
algum deles. todos os requisitos estabelecidos neste Decreto
§ 2 o A autorização será concedida por e em normas complementares.
equipes especializadas, qualquer que seja a
sua composição, devendo o pedido, no caso
do parágrafo anterior, ser formalizado em con- CAPÍTULO III – Da Doação das Partes
junto e só será deferido se todos satisfizerem os SEÇÃO I – Da Disposição para Post Mortem
requisitos exigidos nesta Seção.
Art. 14. A retirada de tecidos, órgãos e partes,
Art. 11. Além da necessária habilitação pro- após a morte, poderá ser efetuada, indepen-
fissional, os médicos deverão instruir o pedido dentemente de consentimento expresso da
de autorização com: família, se, em vida, o falecido a isso não tiver
I – certificado de pós-graduação, em nível, manifestado sua objeção.
Tráfico de Pessoas

no mínimo, de residência médica ou título de § 1o A manifestação de vontade em sentido


especialista reconhecido no País; contrário à retirada de tecidos, órgãos e partes
II – certidão negativa de infração ética, será plenamente reconhecida se constar da
passada pelo órgão de classe em que forem Carteira de Identidade Civil, expedida pelos
inscritos. órgãos de identificação da União, dos Estados
158
e do Distrito Federal, e da Carteira Nacional SEÇÃO II – Da Disposição do Corpo Vivo
de Habilitação, mediante inserção, nesses do-
cumentos, da expressão “não-doador de órgãos Art. 15. Qualquer pessoa capaz, nos termos
e tecidos”. da lei civil, pode dispor de tecidos, órgãos e
§ 2o Sem prejuízo para a validade da mani- partes de seu corpo para serem retirados, em
festação de vontade, como doador presumido, vida, para fins de transplantes ou terapêuticas.
resultante da inexistência de anotações nos § 1o Só é permitida a doação referida neste
documentos de pessoas falecidas, admitir-se-á artigo, quando se tratar de órgãos duplos ou
a doação expressa para retirada após a morte, partes de órgãos, tecidos ou partes, cuja retirada
na forma prevista no Decreto no 2.170, de 4 de não cause ao doador comprometimento de suas
março de 1997, e na Resolução no 828, de 18 funções vitais e aptidões físicas ou mentais e
de fevereiro de 1977, expedida pelo Conselho nem lhe provoque deformação.
Nacional de Trânsito, com a anotação “doador § 2o A retirada, nas condições deste artigo,
de órgãos e tecidos” ou, ainda, a doação de só será permitida, se corresponder a uma
tecidos, órgãos ou partes específicas, que serão necessidade terapêutica, comprovadamente
indicados após a expressão “doador de ...”. indispensável e inadiável, da pessoa receptora.
§ 3o Os documentos de que trata o § 1o § 3o Exigir-se-á, ainda, para a retirada de
deste artigo, que venham a ser expedidos, na rins, a comprovação de, pelo menos, quatro
vigência deste Decreto, conterão, a pedido do compatibilidades em relação aos antígenos
interessado, as indicações previstas nos pará- leucocitários humanos (HLA), salvo entre
grafos anteriores. cônjuges e consangüíneos, na linha reta ou
§ 4o Os órgãos públicos referidos no § 1o colateral, até o terceiro grau inclusive.
deverão incluir, nos formulários a serem pre- § 4o O doador especificará, em documento
enchidos para a expedição dos documentos ali escrito, firmado também por duas testemunhas,
mencionados, espaço a ser utilizado para quem qual tecido, órgão ou parte do seu corpo está
desejar manifestar, em qualquer sentido, a sua doando para transplante ou enxerto em pessoa
vontade em relação à retirada de tecidos, órgãos que identificará, todos devidamente qualifica-
e partes, após a sua morte. dos, inclusive quanto à indicação de endereço.
§ 5o É vedado aos funcionários dos órgãos § 5o O documento de que trata o parágrafo
de expedição dos documentos mencionados anterior, será expedido, em duas vias, uma das
neste artigo, sob pena de responsabilidade quais será destinada ao órgão do Ministério
administrativa, induzir a opção do interessado, Público em atuação no lugar de domicílio do
salvo a obrigatoriedade de informá-lo de que, doador, com protocolo de recebimento na ou-
se não assinalar qualquer delas, será conside- tra, como condição para concretizar a doação.
rado doador presumido de seus órgãos para a § 6o Excetua-se do disposto nos §§ 2o, 4o e
retirada após a morte. 5 a doação de medula óssea.
o

§ 6o Equiparam-se à Carteira de Identidade § 7o A doação poderá ser revogada pelo


Civil, para os efeitos deste artigo, as carteiras doador a qualquer momento, antes de iniciado
expedidas pelos órgãos de classe, reconhecidas o procedimento de retirada do tecido, órgão ou
por lei como prova de identidade. parte por ele especificado.
§ 7 o O interessado poderá comparecer § 8o A extração de parte da medula óssea
aos órgãos oficiais de identificação civil e de de pessoa juridicamente incapaz poderá ser
trânsito, que procederão à gravação da sua autorizada judicialmente, com o consentimento
Normas pertinentes

opção na forma dos §§ 1o e 2o deste artigo, de ambos os pais ou responsáveis legais, se o ato
em documentos expedidos antes da vigência não oferecer risco para a sua saúde.
deste Decreto. § 9o A gestante não poderá doar tecidos,
§ 8o A manifestação de vontade poderá ser órgãos ou partes de seu corpo, salvo da medula
alterada, a qualquer tempo, mediante renova- óssea, desde que não haja risco para a sua saúde
ção dos documentos. e a do feto.
159
CAPÍTULO IV – Da Retirada de Partes Parágrafo único. Excetuam-se, do disposto
SEÇÃO I – Da Comprovação da Morte neste artigo os casos de morte ocorrida sem
assistência médica ou em decorrência de causa
Art. 16. A retirada de tecidos, órgãos e partes mal definida ou que necessite de ser esclarecida
poderá ser efetuada no corpo de pessoas com diante da suspeita de crime, quando a retirada,
morte encefálica. observadas as demais condições estabelecidas
§ 1o O diagnóstico de morte encefálica será neste Decreto, dependerá de autorização ex-
confirmado, segundo os critérios clínicos e tec- pressa do médico patologista ou legista.
nológicos definidos em resolução do Conselho
Federal de Medicina, por dois médicos, no mí-
nimo, um dos quais com título de especialista SEÇÃO II – Do Procedimento de Retirada
em neurologia reconhecido no País.
§ 2o São dispensáveis os procedimentos Art. 18. Todos os estabelecimentos de saúde
previstos no parágrafo anterior, quando a morte deverão comunicar à CNCDO do respectivo
encefálica decorrer de parada cardíaca irrever- Estado, em caráter de urgência, a verificação em
sível, comprovada por resultado incontestável suas dependências de morte encefálica.
de exame eletrocardiográfico. Parágrafo único. Se o estabelecimento
§ 3o Não podem participar do processo de de saúde não dispuser de condições para a
verificação de morte encefálica médicos inte- comprovação da morte encefálica ou para a
grantes das equipes especializadas autorizadas, retirada de tecidos, órgãos e partes, segundo as
na forma deste Decreto, a proceder à retirada, exigências deste Decreto, a CNCDO acionará
transplante ou enxerto de tecidos, órgãos e os profissionais habilitados que te encontrarem
partes. mais próximos para efetuarem ambos os pro-
§ 4o Os familiares, que estiverem em compa- cedimentos, observado o disposto no § 3o do
nhia do falecido ou que tenham oferecido meios art. 16 deste Decreto.
de contato, serão obrigatoriamente informados
do início do procedimento para a verificação Art. 19. Não se efetuará a retirada se não for
da morte encefálica. possível a identificação do falecido por qual-
§ 5o Será admitida a presença de médico quer dos documentos previstos nos §§ 1o e 6o
de confiança da família do falecido no ato de do art. 14 deste Decreto.
comprovação e atestação da morte encefálica, § 1o Se dos documentos do falecido cons-
se a demora de seu comparecimento não tomar, tarem opções diferentes, será considerado
pelo decurso do tempo, inviável a retirada, válido, para interpretação de sua vontade, o de
mencionando-se essa circunstância no respec- expedição mais recente.
tivo relatório. § 2o Não supre as exigências deste artigo
§ 6o A família carente de recursos financei- o simples reconhecimento de familiares, se
ros poderá pedir que o diagnóstico de morte nenhum dos documentos de identificação do
encefálica seja acompanhado por médico falecido for encontrado.
indicado pela direção local do SUS, observado § 3o Qualquer rasura ou vestígios de adul-
o disposto no parágrafo anterior. teração dos documentos, em relação aos dados
previstos nos §§ 1o e 6o do art. 14, constituem
Art. 17. Antes da realização da necropsia, impedimento para a retirada de tecidos, órgãos
obrigatória por lei, a retirada de tecidos, e partes, salvo se, no mínimo, dois consangüí-
órgãos ou partes poderá ser efetuada se estes neos do falecido, seja na linha reta ou colateral,
Tráfico de Pessoas

não tiverem relação com a causa mortis, cir- até o segundo grau inclusive, conhecendo a sua
cunstância a ser mencionada no respectivo vontade, quiserem autorizá-la.
relatório, com cópia que acompanhará o corpo § 4o A retirada de tecidos, órgãos e partes
à instituição responsável pelo procedimento do cadáver de pessoas incapazes dependerá
médico-legal. de autorização expressa de ambos os pais, se
160
vivos, ou de quem lhes detinha, ao tempo da § 3o os riscos considerados aceitáveis pela
morte, o pátrio poder, a guarda judicial, a tutela equipe de transplante ou enxerto, em razão
ou curatela. dos testes aplicados na forma do art. 24, serão
informados ao receptor que poderá assumi-
Art. 20. A retirada de tecidos, órgãos e partes -los, mediante expressa concordância, aposta
do corpo vivo será precedida da comprovação no documento previsto no parágrafo anterior,
de comunicação ao Ministério Público e da com indicação das seqüelas previsíveis.
verificação das condições de saúde do doador
para melhor avaliação de suas conseqüências e
comparação após o ato cirúrgico. SEÇÃO II – Do Procedimento de Transplante
Parágrafo único. O doador será prévia e obri-
gatoriamente informado sobre as conseqüências Art. 23. Os transplantes somente poderão ser
e riscos possíveis da retirada de tecidos, órgãos realizados em pacientes com doença progres-
ou partes de seu corpo, para doação, em docu- siva ou incapacitante, irreversível por outras
mento lavrados na ocasião, lido em sua presença técnicas terapêuticas, cuja classificação, com
e acrescido de outros esclarecimentos que pedir esse prognóstico, será lançada no documento
e, assim, oferecido à sua leitura e assinatura e de previsto no § 2o do artigo anterior.
duas testemunhas, presentes ao ato.
Art. 24. A realização de transplantes ou en-
xertos de tecidos, órgãos ou partes do corpo
SEÇÃO III – Da Recomposição do Cadáver humano só será autorizada após a realização,
no doador, de todos os testes para diagnóstico
Art. 21. Efetuada a retirada, o cadáver será de infecções e afecções, principalmente em re-
condignamente recomposto, de modo a recu- lação ao sangue, observando-se, quanto a este,
perar, tanto quanto possível, sua aparência an- inclusive os exigidos na triagem para doação,
terior, com cobertura das regiões com ausência segundo dispõem a Lei no 7.649, de 25 de janei-
de pele e enchimento, com material adequado, ro de 1988, e regulamentos do Poder Executivo.
das cavidades resultantes da ablação. § 1o As equipes de transplantes ou enxertos
só poderão realizá-los se os exames previstos
CAPÍTULO V – Do Transplante ou Enxerto neste artigo apresentarem resultados que afas-
SEÇÃO I – Do Consentimento do Receptor tem qualquer prognóstico de doença incurável
ou letal para o receptor.
Art. 22. O transplante ou enxerto só se fará § 2 o Não serão transplantados tecidos,
com o consentimento expresso do receptor, órgãos e partes de portadores de doenças que
após devidamente aconselhado sobre a excep- constem de listas de exclusão expedidas pelo
cionalidade e os riscos do procedimento. órgão central do SNT.
§ 1o Se o receptor for juridicamente incapaz § 3o O transplante dependerá, ainda, dos
ou estiver privado dos meios de comunicação exames necessários à verificação de compati-
oral ou escrita ou, ainda, não souber ler e bilidade sangüínea e histocompatibilidade com
escrever, o consentimento para a realização o organismo de receptor inscrito, em lista de
do transplante será dado por um de seus pais espera, nas CNCDOs.
ou responsáveis legais, na ausência dos quais, § 4o A CNCDO, em face das informações
a decisão caberá ao médico assistente, se não que lhe serão passadas pela equipe de retirada,
Normas pertinentes

for possível, por outro modo, mantê-lo vivo. indicará a destinação dos tecidos, órgãos e par-
§ 2o A autorização será aposta em docu- tes removidos, em estrita observância à ordem
mento, que conterá as informações sobre o de receptores inscritos, com compatibilidade
procedimento e as perspectivas de êxito ou para recebê-los.
insucesso, transmitidas ao receptor, ou, se for o § 5o A ordem de inscrição, prevista no pará-
caso, às pessoas indicadas no parágrafo anterior. grafo anterior, poderá deixar de ser observada,
161
se, em razão da distância e das condições de DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
transporte, o tempo estimado de deslocamen-
to do receptor selecionado tornar inviável o Art. 27. Aplica-se o disposto no § 3o do art. 19
transplante de tecidos, órgãos ou partes reti- à retirada de tecido, órgãos ou partes de pessoas
rados ou se deles necessitar quem se encontre falecidas, até seis meses após a publicação deste
em iminência de óbito, segundo avaliação da Decreto, cujo documentos tenham sido expe-
CNCDO, observados os critérios estabelecidos didos em data anterior à sua vigência.
pelo órgão central do SNT.
Art. 28. É o Ministério da Saúde autorizado a
expedir instruções e regulamentos necessários
SEÇÃO III – Dos prontuários à aplicação deste Decreto.

Art. 25. Além das informações usuais e sem Art. 29. Enquanto não for estabelecida a es-
prejuízo do disposto no § 1o do art. 3o da Lei no trutura regimental do Ministério da Saúde, a
9.434, 1997, os prontuários conterão: sua Secretaria de Assistência à Saúde exercerá
I – no do doador morto, os laudos dos exa- as funções de órgão central do SNT.
mes utilizados para a comprovação da morte
encefálica e para a verificação da viabilidade Art. 30. A partir da vigência deste Decreto,
da utilização, nas finalidades previstas neste tecidos, órgãos ou partes não poderão ser
Decreto, dos tecidos, órgãos ou portes que lhe transplantados em receptor não indicado pelas
tenham sido retirados e, assim, relacionados, CNCDOs.
bem como o original ou cópia autenticada dos Parágrafo único. Até a criação das CN-
documentos utilizados para a sua identificação; CDOs, as competências que lhes são cometidas
II – no do doador vivo, o resultado dos exa- por este Decreto, poderão, pelo prazo máximo
mes realizados para avaliar as possibilidades de um ano, ser exercidos pelas Secretarias de
de retirada e transplante dos tecidos, órgãos Saúde dos Estados e do Distrito Federal.
e partes doados, assim como a comunicação,
ao Ministério Público, da doação efetuada de Art. 31. Não se admitirá inscrição de receptor
acordo com o disposto nos §§ 4o e 5o do art. 15 de tecidos, órgãos ou partes em mais de uma
deste Decreto; CNCDO.
III – no do receptor, a prova de seu consen- § 1o Verificada a duplicidade de inscrição,
timento, na forma do art. 22, cópia dos laudos o órgão central do SNT notificará o receptor
dos exames previstos nos incisos anteriores, para fazer a sua opção por uma delas, no prazo
conforme o caso e, bem assim, os realizados de quinze dias, vencido o qual, sem resposta,
para o estabelecimento da compatibilidade excluirá da lista a mais recente e comunicará o
entre seu organismo e o do doador. fato à CNCDO, onde ocorreu a inscrição, para
igual providência.
Art. 26. Os prontuários, com os dados espe- § 2o A inscrição em determinada CNCDO
cificados no artigo anterior, serão mantidos não impedirá que o receptor se submeta a trans-
pelo prazo de cinco anos nas instituições plante ou enxerto em qualquer estabelecimento
onde foram realizados os procedimentos que de saúde autorizado, se, pela lista sob controle
registram. do órgão central do SNT, for o mais indicado
Parágrafo único. Vencido o prazo previsto para receber tecidos, órgãos ou partes retirados
neste artigo, os prontuários poderão ser confia- e não aproveitados, de qualquer procedência.
Tráfico de Pessoas

dos à responsabilidade da CNCDO do Estado


de sede da instituição responsável pelo proce- Art. 32. Ficam convalidadas as inscrições de
dimento a que se refiram, devendo, de qualquer receptores efetuadas por CNCDOs ou órgãos
modo, permanecer disponíveis pelo prazo de equivalentes, que venham funcionando em
20 anos, para eventual investigação criminal. Estados da Federação, se atualizadas pela ordem
162
crescente das respectivas datas e comunicadas receptor, ou, no caso de óbito, por sua família,
ao órgão central do SNT. na presença de funcionários da CNCDO, de que
tais serviços não lhe foram cobrados.
Art. 33. Caberá aos estabelecimentos de saú-
de e às equipes especializadas autorizados a Art. 34. Este Decreto entrará em vigor na data
execução de todos os procedimentos médicos de sua publicação.
previstos neste Decreto, que serão remunera-
dos segundo os respectivos valores fixados em Art. 35. Fica revogado o Decreto no 879, de 22
tabela aprovada pelo Ministério da Saúde. de julho de 1993.
Parágrafo único. Os procedimentos de
diagnóstico de morte encefálica, de manu- Brasília, 30 de junho de 1997; 176o da Indepen-
tenção homeostática do doador e da retirada dência e 109o da República.
de tecidos, órgãos ou partes, realizados por
estabelecimento hospitalar privado, poderão, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO – Carlos
conjunta ou separadamente, ser custeados César de Albuquerque
na forma do caput, independentemente de
contrato ou convênio, mediante declaração do Decretado em 30/6/97 e publicado no DOU de 1o/7/97.

Normas pertinentes

163
Lei no 9.434/1997
Dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e
tratamento e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA SEÇÃO II – Das Sanções Administrativas

Faço saber que o Congresso Nacional decreta Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts.
e eu sanciono a seguinte Lei: 14, 15, 16 e 17, o estabelecimento de saúde e as
............................................................................... equipes médico-cirúrgicas envolvidas poderão
ser desautorizadas temporária ou permanente-
CAPÍTULO V – Das Sanções Penais e mente pelas autoridades competentes.
Administrativas § 1o Se a instituição é particular, a autoridade
SEÇÃO I – Dos Crimes competente poderá multá-la em 200 a 360 dias-
............................................................................... -multa e, em caso de reincidência, poderá ter
suas atividades suspensas temporária ou defini-
Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos tivamente, sem direito a qualquer indenização
ou partes do corpo humano: ou compensação por investimentos realizados.
Pena – reclusão, de três a oito anos, e multa, § 2o Se a instituição é particular, é proibida
de 200 a 360 dias-multa. de estabelecer contratos ou convênios com
Parágrafo único. Incorre na mesma pena entidades públicas, bem como se beneficiar de
quem promove, intermedeia, facilita ou aufere créditos oriundos de instituições governamen-
qualquer vantagem com a transação. tais ou daquelas em que o Estado é acionista,
pelo prazo de cinco anos.
Art. 16. Realizar transplante ou enxerto ...............................................................................
utilizando tecidos, órgãos ou partes do corpo
humano de que se tem ciência terem sido CAPÍTULO VI – Das Disposições Finais
obtidos em desacordo com os dispositivos
desta Lei: Art. 24. (Vetado)
Pena – reclusão, de um a seis anos, e multa,
de 150 a 300 dias-multa. Art. 25. (Revogado)3

Art. 17. Recolher, transportar, guardar ou Brasília, 4 de fevereiro de 1997; 176o da Inde-
distribuir partes do corpo humano de que se pendência e 109o da República.
tem ciência terem sido obtidos em desacordo
com os dispositivos desta Lei: FERNANDO HENRIQUE CARDOSO –
Pena – reclusão, de seis meses a dois anos, e Nelson A. Jobim – Carlos César de Albuquerque
multa, de 100 a 250 dias-multa.
............................................................................... Promulgada em 4/2/97 e publicada no DOU de 5/2/97.
Tráfico de Pessoas

3
Lei no 8.489/92 e Decreto no 879/93.
164
Lei no 9.034/1995
Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas
por organizações criminosas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA tituída pelos órgãos especializados pertinentes,


mediante circunstanciada autorização judicial.
Faço saber que o Congresso Nacional decreta Parágrafo único. A autorização judicial será
e eu sanciono a seguinte lei: estritamente sigilosa e permanecerá nesta con-
dição enquanto perdurar a infiltração.

CAPÍTULO I – Da Definição de Ação


Praticada por Organizações Criminosas e dos CAPÍTULO II – Da Preservação do Sigilo
Meios Operacionais de Investigação e Prova Constitucional

Art. 1o Esta Lei define e regula meios de prova Art. 3o Nas hipóteses do inciso III do art. 2o
e procedimentos investigatórios que versem desta lei, ocorrendo possibilidade de violação de
sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a
por quadrilha ou bando ou organizações ou diligência será realizada pessoalmente pelo juiz,
associações criminosas de qualquer tipo.4 adotado o mais rigoroso segredo de justiça.6
§ 1o Para realizar a diligência, o juiz poderá
Art. 2 o Em qualquer fase de persecução requisitar o auxílio de pessoas que, pela nature-
criminal são permitidos, sem prejuízo dos já za da função ou profissão, tenham ou possam
previstos em lei, os seguintes procedimentos ter acesso aos objetos do sigilo.
de investigação e formação de provas:5 § 2o O juiz, pessoalmente, fará lavrar auto
I – (Vetado) circunstanciado da diligência, relatando as
II – a ação controlada, que consiste em retar- informações colhidas oralmente e anexando
dar a interdição policial do que se supõe ação cópias autênticas dos documentos que tiverem
praticada por organizações criminosas ou a ela relevância probatória, podendo para esse efeito,
vinculado, desde que mantida sob observação designar uma das pessoas referidas no parágra-
e acompanhamento para que a medida legal se fo anterior como escrivão ad hoc.
concretize no momento mais eficaz do ponto § 3o O auto de diligência será conservado
de vista da formação de provas e fornecimento fora dos autos do processo, em lugar seguro,
de informações; sem intervenção de cartório ou servidor, so-
III – o acesso a dados, documentos e in- mente podendo a ele ter acesso, na presença
formações fiscais, bancárias, financeiras e do juiz, as partes legítimas na causa, que não
eleitorais. poderão dele servir-se para fins estranhos à
IV – a captação e a interceptação ambiental mesma, e estão sujeitas às sanções previstas pelo
de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, Código Penal em caso de divulgação.
e o seu registro e análise, mediante circunstan- § 4o Os argumentos de acusação e defesa
Normas pertinentes

ciada autorização judicial; que versarem sobre a diligência serão apresen-


V – infiltração por agentes de polícia ou de tados em separado para serem anexados ao auto
inteligência, em tarefas de investigação, cons- da diligência, que poderá servir como elemento
na formação da convicção final do juiz.
4
Lei no 10.217/2001.
5
Lei no 10.217/2001. 6
ADI no 1.570-2.
165
§ 5o Em caso de recurso, o auto da diligência Art. 8o O prazo para encerramento da instru-
será fechado, lacrado e endereçado em separa- ção criminal, nos processos por crime de que
do ao juízo competente para revisão, que dele trata esta Lei, será de 81 (oitenta e um) dias,
tomará conhecimento sem intervenção das quando o réu estiver preso, e de 120 (cento e
secretarias e gabinetes, devendo o relator dar vinte) dias, quando solto.7
vistas ao Ministério Público e ao Defensor em
recinto isolado, para o efeito de que a discussão Art. 9o O réu não poderá apelar em liberdade,
e o julgamento sejam mantidos em absoluto nos crimes previstos nesta lei.
segredo de justiça.
Art.10. Os condenados por crime decorrentes
de organização criminosa iniciarão o cumpri-
CAPÍTULO III – Das Disposições Gerais mento da pena em regime fechado.

Art. 4o Os órgãos da polícia judiciária estru- Art. 11. Aplicam-se, no que não forem incom-
turarão setores e equipes de policiais espe- patíveis, subsidiariamente, as disposições do
cializados no combate à ação praticada por Código de Processo Penal.
organizações criminosas.
Art. 12. Esta lei entra em vigor na data de sua
Art. 5o A identificação criminal de pessoas en- publicação.
volvidas com a ação praticada por organizações
criminosas será realizada independentemente Art. 13. Revogam-se as disposições em con-
da identificação civil. trário.

Art. 6o Nos crimes praticados em organização Brasília, 3 de maio de 1995; 174o da Indepen-
criminosa, a pena será reduzida de um a dois dência e 107o da República.
terços, quando a colaboração espontânea do
agente levar ao esclarecimento de infrações FERNANDO HENRIQUE CARDOSO –
penais e sua autoria. Milton Seligman

Art. 7o Não será concedida liberdade pro- Promulgada em 3/5/95 e publicada no DOU de
visória, com ou sem fiança, aos agentes que 4/5/95.
tenham tido intensa e efetiva participação na
organização criminosa.
Tráfico de Pessoas

7
Lei no 9.303/96.
166
Lei no 8.069/1990
Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA c) preferência na formulação e na execução


das políticas sociais públicas;
Faço saber que o Congresso Nacional decreta d) destinação privilegiada de recursos pú-
e eu sanciono a seguinte Lei: blicos nas áreas relacionadas com a proteção à
infância e à juventude.

TÍTULO I – Das Disposições Preliminares Art. 5o Nenhuma criança ou adolescente será


objeto de qualquer forma de negligência, dis-
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a proteção inte- criminação, exploração, violência, crueldade
gral à criança e ao adolescente. e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
Art. 2o Considera-se criança, para os efeitos fundamentais.
desta Lei, a pessoa até doze anos de idade in-
completos, e adolescente aquela entre doze e Art. 6o Na interpretação desta Lei levar-se-ão
dezoito anos de idade. em conta os fins sociais a que ela se dirige, as
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, exigências do bem comum, os direitos e deveres
aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pes- individuais e coletivos, e a condição peculiar
soas entre dezoito e vinte e um anos de idade. da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento.
Art. 3o A criança e o adolescente gozam de to-
dos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de TÍTULO II – Dos Direitos Fundamentais
que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei CAPÍTULO I – Do Direito à Vida e à Saúde
ou por outros meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvi- Art. 7o A criança e o adolescente têm direito a
mento físico, mental, moral, espiritual e social, proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
em condições de liberdade e de dignidade. de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e har-
Art. 4o É dever da família, da comunidade, monioso, em condições dignas de existência.
da sociedade em geral e do poder público ...............................................................................
assegurar, com absoluta prioridade, a efetiva-
ção dos direitos referentes à vida, à saúde, à Art. 9o O poder público, as instituições e os
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, empregadores propiciarão condições ade-
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao quadas ao aleitamento materno, inclusive aos
respeito, à liberdade e à convivência familiar e filhos de mães submetidas a medida privativa
comunitária. de liberdade.
Normas pertinentes

Parágrafo único. A garantia de prioridade ...............................................................................


compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro Art. 11. É assegurado atendimento integral à
em quaisquer circunstâncias; saúde da criança e do adolescente, por inter-
b) precedência de atendimento nos serviços médio do Sistema Único de Saúde, garantido
públicos ou de relevância pública; o acesso universal e igualitário às ações e ser-
167
viços para promoção, proteção e recuperação CAPÍTULO III – Do Direito à Convivência
da saúde.8 Familiar e Comunitária
............................................................................... ...............................................................................

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação SEÇÃO III – Da Família Substituta


de maus-tratos contra criança ou adolescente SUBSEÇÃO I – Disposições Gerais
serão obrigatoriamente comunicados ao Con-
selho Tutelar da respectiva localidade, sem Art. 28. A colocação em família substituta
prejuízo de outras providências legais. far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
............................................................................... independentemente da situação jurídica da
criança ou adolescente, nos termos desta Lei.9
CAPÍTULO II – Do Direito à Liberdade, ao § 1o Sempre que possível, a criança ou o
Respeito e à Dignidade adolescente será previamente ouvido por equi-
pe interprofissional, respeitado seu estágio de
Art. 15. A criança e o adolescente têm direito desenvolvimento e grau de compreensão sobre
à liberdade, ao respeito e à dignidade como as implicações da medida, e terá sua opinião
pessoas humanas em processo de desenvol- devidamente considerada.
vimento e como sujeitos de direitos civis, § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos
humanos e sociais garantidos na Constituição de idade, será necessário seu consentimento,
e nas leis. colhido em audiência.
§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á
Art. 16. O direito à liberdade compreende os em conta o grau de parentesco e a relação de
seguintes aspectos: afinidade ou de afetividade, a fim de evitar
I – ir, vir e estar nos logradouros públicos e ou minorar as consequências decorrentes da
espaços comunitários, ressalvadas as restrições medida.
legais; ...............................................................................
II – opinião e expressão;
III – crença e culto religioso; Art. 29. Não se deferirá colocação em família
IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; substituta a pessoa que revele, por qualquer
V – participar da vida familiar e comunitá- modo, incompatibilidade com a natureza
ria, sem discriminação; da medida ou não ofereça ambiente familiar
VI – participar da vida política, na forma adequado.
da lei;
VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 30. A colocação em família substituta não
admitirá transferência da criança ou adolescen-
Art. 17. O direito ao respeito consiste na in- te a terceiros ou a entidades governamentais ou
violabilidade da integridade física, psíquica e não-governamentais, sem autorização judicial.
moral da criança e do adolescente, abrangendo
a preservação da imagem, da identidade, da Art. 31. A colocação em família substituta
autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos estrangeira constitui medida excepcional,
espaços e objetos pessoais. somente admissível na modalidade de adoção.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o
da criança e do adolescente, pondo-os a salvo responsável prestará compromisso de bem e
Tráfico de Pessoas

de qualquer tratamento desumano, violento, fielmente desempenhar o encargo, mediante


aterrorizante, vexatório ou constrangedor. termo nos autos.
...............................................................................
8
Lei no 11.185/2005. 9
Lei no 12.010/2009.
168
CAPÍTULO IV – Do Direito à Art. 68. O programa social que tenha por base
Profissionalização e à Proteção no Trabalho o trabalho educativo, sob responsabilidade de
entidade governamental ou não-governamental
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a meno- sem fins lucrativos, deverá assegurar ao ado-
res de quatorze anos de idade, salvo na condição lescente que dele participe condições de capa-
de aprendiz.10 citação para o exercício de atividade regular
remunerada.
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adoles- § 1o Entende-se por trabalho educativo a
centes é regulada por legislação especial, sem atividade laboral em que as exigências peda-
prejuízo do disposto nesta Lei. gógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e
social do educando prevalecem sobre o aspecto
Art. 62. Considera-se aprendizagem a forma- produtivo.
ção técnico-profissional ministrada segundo § 2o A remuneração que o adolescente re-
as diretrizes e bases da legislação de educação cebe pelo trabalho efetuado ou a participação
em vigor. na venda dos produtos de seu trabalho não
desfigura o caráter educativo.
Art. 63. A formação técnico-profissional obe-
decerá aos seguintes princípios: Art. 69. O adolescente tem direito à profissio-
I – garantia de acesso e freqüência obrigató- nalização e à proteção no trabalho, observados
ria ao ensino regular; os seguintes aspectos, entre outros:
II – atividade compatível com o desenvolvi- I – respeito à condição peculiar de pessoa
mento do adolescente; em desenvolvimento;
III – horário especial para o exercício das II – capacitação profissional adequada ao
atividades. mercado de trabalho.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de


idade é assegurada bolsa de aprendizagem. TÍTULO III – Da Prevenção
CAPÍTULO I – Disposições Gerais
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de
quatorze anos, são assegurados os direitos Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência
trabalhistas e previdenciários. de ameaça ou violação dos direitos da criança
e do adolescente.
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiên- ...............................................................................
cia é assegurado trabalho protegido.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, PARTE ESPECIAL


em regime familiar de trabalho, aluno de escola TÍTULO I – Da Política de Atendimento
técnica, assistido em entidade governamental CAPÍTULO I – Disposições Gerais
ou não-governamental, é vedado trabalho:
I – noturno, realizado entre as vinte e duas Art. 86. A política de atendimento dos direitos
horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte; da criança e do adolescente far-se-á através
II – perigoso, insalubre ou penoso; de um conjunto articulado de ações governa-
III – realizado em locais prejudiciais à sua mentais e não-governamentais, da União, dos
Normas pertinentes

formação e ao seu desenvolvimento físico, estados, do Distrito Federal e dos municípios.


psíquico, moral e social;
IV – realizado em horários e locais que não Art. 87. São linhas de ação da política de
permitam a freqüência à escola. atendimento:11
10
Vide art. 227, § 3o, I, da Constituição Federal. 11
Lei no 12.010/2009.
169
............................................................................... VI – aplicar penalidades administrativas nos
III – serviços especiais de prevenção e aten- casos de infrações contra norma de proteção à
dimento médico e psicossocial às vítimas de criança ou adolescente;
negligência, maus-tratos, exploração, abuso, ...............................................................................
crueldade e opressão;
IV – serviço de identificação e localização TÍTULO VII – Dos Crimes e das Infrações
de pais, responsável, crianças e adolescentes Administrativas
desaparecidos; CAPÍTULO I – Dos Crimes
V – proteção jurídico-social por entidades SEÇÃO I – Disposições Gerais
de defesa dos direitos da criança e do adoles-
cente. Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes
............................................................................... praticados contra a criança e o adolescente, por
ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na
CAPÍTULO II – Da Justiça da Infância e da legislação penal.
Juventude
SEÇÃO I – Disposições Gerais Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos
nesta Lei as normas da Parte Geral do Código
Art. 145. Os estados e o Distrito Federal po- Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao
derão criar varas especializadas e exclusivas Código de Processo Penal.
da infância e da juventude, cabendo ao Poder
Judiciário estabelecer sua proporcionalidade Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de
por número de habitantes, dotá-las de infra- ação pública incondicionada
-estrutura e dispor sobre o atendimento, inclu-
sive em plantões.
SEÇÃO II – Dos Crimes em Espécie
...............................................................................
SEÇÃO II – Do Juiz
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de
Art. 146. A autoridade a que se refere esta filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou
Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, ou o recompensa:
juiz que exerce essa função, na forma da lei de Pena – reclusão de um a quatro anos, e multa.
organização judiciária local. Parágrafo único. Incide nas mesmas penas
............................................................................... quem oferece ou efetiva a paga ou recompensa.

Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de
é competente para: ato destinado ao envio de criança ou adolescen-
I – conhecer de representações promovidas te para o exterior com inobservância das for-
pelo Ministério Público, para apuração de ato malidades legais ou com o fito de obter lucro:12
infracional atribuído a adolescente, aplicando Pena – reclusão de quatro a seis anos, e
as medidas cabíveis; multa.
II – conceder a remissão, como forma de Parágrafo único. Se há emprego de violên-
suspensão ou extinção do processo; cia, grave ameaça ou fraude:
III – conhecer de pedidos de adoção e seus Pena – reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos,
incidentes; além da pena correspondente à violência.
Tráfico de Pessoas

IV – conhecer de ações civis fundadas em


interesses individuais, difusos ou coletivos Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotogra-
afetos à criança e ao adolescente, observado o far, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena
disposto no art. 209;
............................................................................... 12
Lei no 10.764/2003.
170
de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput
criança ou adolescente:13 deste artigo.
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito)
anos, e multa. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar,
§ 1 o Incorre nas mesmas penas quem por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra
agencia, facilita, recruta, coage, ou de qual- forma de registro que contenha cena de sexo
quer modo intermedeia a participação de explícito ou pornográfica envolvendo criança
criança ou adolescente nas cenas referidas no ou adolescente:16
caput deste artigo, ou ainda quem com esses Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
contracena. e multa.
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3
se o agente comete o crime: (dois terços) se de pequena quantidade o ma-
I – no exercício de cargo ou função pública terial a que se refere o caput deste artigo.
ou a pretexto de exercê-la; § 2o Não há crime se a posse ou o arma-
II – prevalecendo-se de relações domésticas, zenamento tem a finalidade de comunicar
de coabitação ou de hospitalidade; às autoridades competentes a ocorrência das
............................................................................... condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A
e 241-C desta Lei, quando a comunicação for
Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, feita por:
vídeo ou outro registro que contenha cena de I – agente público no exercício de suas
sexo explícito ou pornográfica envolvendo funções;
criança ou adolescente:14 II – membro de entidade, legalmente
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) constituída, que inclua, entre suas finalidades
anos, e multa. institucionais, o recebimento, o processamento
e o encaminhamento de notícia dos crimes
Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, referidos neste parágrafo;
transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por III – representante legal e funcionários
qualquer meio, inclusive por meio de sistema responsáveis de provedor de acesso ou serviço
de informática ou telemático, fotografia, vídeo prestado por meio de rede de computadores,
ou outro registro que contenha cena de sexo até o recebimento do material relativo à notícia
explícito ou pornográfica envolvendo criança feita à autoridade policial, ao Ministério Públi-
ou adolescente:15 co ou ao Poder Judiciário.
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo
e multa. deverão manter sob sigilo o material ilícito
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem: referido.
I – assegura os meios ou serviços para o ar-
mazenamento das fotografias, cenas ou imagens Art. 241-C. Simular a participação de criança
de que trata o caput deste artigo; ou adolescente em cena de sexo explícito ou
II – assegura, por qualquer meio, o acesso pornográfica por meio de adulteração, mon-
por rede de computadores às fotografias, cenas tagem ou modificação de fotografia, vídeo ou
ou imagens de que trata o caput deste artigo. qualquer outra forma de representação visual:17
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos,
e II do § 1o deste artigo são puníveis quando e multa.
Normas pertinentes

o responsável legal pela prestação do serviço, Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas
oficialmente notificado, deixa de desabilitar o quem vende, expõe à venda, disponibiliza, dis-
tribui, publica ou divulga por qualquer meio,
13
Lei no 11.829/2008.
14
Lei no 11.829/2008. 16
Lei no 11.829/2008.
15
Lei no 11.829/2008. 17
Lei no 11.829/2008.
171
adquire, possui ou armazena o material produ- ...............................................................................
zido na forma do caput deste artigo.
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente,
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou cons- como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei,
tranger, por qualquer meio de comunicação, à prostituição ou à exploração sexual:21
criança, com o fim de com ela praticar ato Pena – reclusão de quatro a dez anos, e
libidinoso:18 multa.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, § 1o Incorrem nas mesmas penas o pro-
e multa. prietário, o gerente ou o responsável pelo local
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre em que se verifique a submissão de criança
quem: ou adolescente às práticas referidas no caput
I – facilita ou induz o acesso à criança de deste artigo.
material contendo cena de sexo explícito ou § 2o Constitui efeito obrigatório da conde-
pornográfica com o fim de com ela praticar nação a cassação da licença de localização e de
ato libidinoso; funcionamento do estabelecimento.
II – pratica as condutas descritas no caput
deste artigo com o fim de induzir criança a se Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrup-
exibir de forma pornográfica ou sexualmente ção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele
explícita. praticando infração penal ou induzindo-o a
praticá-la:22
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ...............................................................................
ou pornográfica” compreende qualquer situação
que envolva criança ou adolescente em ativi- Brasília, 13 de julho de 1990; 169o da Indepen-
dades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou dência e 102o da República.
exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
adolescente para fins primordialmente sexuais.19 FERNANDO COLLOR – Bernardo Cabral –
Carlos Chiarelli – Antônio Magri – Margarida
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuita- Procópio
mente ou entregar, de qualquer forma, a criança
ou adolescente arma, munição ou explosivo:20 Promulgada em 13/7/90, publicada no DOU de
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. 16/7/90 e retificada no DOU de 27/9/90.
Tráfico de Pessoas

18
Lei no 11.829/2008.
19
Lei no 11.829/2008. 21
Lei no 9.975/2000.
20
Lei no 10.764/2003. 22
Lei no 12.015/2009.
172
Decreto-Lei no 2.848/1940
Código Penal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da TÍTULO IV – Dos Crimes Contra a


atribuição que lhe confere o art. 180 da Cons- Organização do Trabalho
tituição, decreta a seguinte Lei: ...............................................................................
...............................................................................
Aliciamento de trabalhadores de um local
para outro do território nacional
PARTE ESPECIAL
TÍTULO I – Dos Crimes Contra a Pessoa Art. 207. Aliciar trabalhadores, com o fim
............................................................................... de levá-los de uma para outra localidade do
território nacional:24
CAPÍTULO VI – Dos Crimes Contra a Pena – detenção de um a três anos, e multa.
Liberdade Individual § 1o ncorre na mesma pena quem recrutar
SEÇÃO I – Dos Crimes Contra a Liberdade trabalhadores fora da localidade de execução
Pessoal do trabalho, dentro do território nacional,
............................................................................... mediante fraude ou cobrança de qualquer
quantia do trabalhador, ou, ainda, não asse-
Redução a condição análoga à de escravo gurar condições do seu retorno ao local de
origem.
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga § 2o A pena é aumentada de um sexto a um
à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos terço se a vítima é menor de dezoito anos, idosa,
forçados ou a jornada exaustiva, quer sujei- gestante, indígena ou portadora de deficiência
tando-o a condições degradantes de trabalho, física ou mental.
quer restringindo, por qualquer meio, sua ...............................................................................
locomoção em razão de dívida contraída com
o empregador ou preposto:23 TÍTULO VI – Dos Crimes Contra a
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa, Dignidade Sexual
além da pena correspondente à violência. ...............................................................................
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de trans- CAPÍTULO V – Do Lenocínio e do Tráfico
porte por parte do trabalhador, com o fim de de Pessoa para Fim de Prostituição ou Outra
retê-lo no local de trabalho; Forma de Exploração Sexual
II – mantém vigilância ostensiva no local ...............................................................................
de trabalho ou se apodera de documentos ou
objetos pessoais do trabalhador, com o fim de Tráfico internacional de pessoa para fim de
retê-lo no local de trabalho. exploração sexual
§ 2o A pena é aumentada de metade, se o
Normas pertinentes

crime é cometido: Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no


I – contra criança ou adolescente; território nacional, de alguém que nele venha
II – por motivo de preconceito de raça, cor, a exercer a prostituição ou outra forma de ex-
etnia, religião ou origem.
23
Lei no 10.803/2003. 24
Lei no 9.777/98.
173
ploração sexual, ou a saída de alguém que vá vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma,
exercê-la no estrangeiro.25 obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. ou
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que IV – há emprego de violência, grave ameaça
agenciar, aliciar ou comprar a pessoa trafica- ou fraude.
da, assim como, tendo conhecimento dessa § 3o Se o crime é cometido com o fim de
condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. obter vantagem econômica, aplica-se também
§ 2o A pena é aumentada da metade se: multa.
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II – a vítima, por enfermidade ou deficiência Art. 232. (Revogado)26
mental, não tem o necessário discernimento ...............................................................................
para a prática do ato;
III – se o agente é ascendente, padrasto, ma- TÍTULO VII – Dos Crimes Contra a Família
drasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, ...............................................................................
tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, CAPÍTULO III – Dos Crimes Contra a
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; Assistência Familiar
ou
IV – há emprego de violência, grave ameaça Entrega de filho menor a pessoa inidônea
ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de Art. 245. Entregar filho menor de 18 (dezoito)
obter vantagem econômica, aplica-se também anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva
multa. saber que o menor fica moral ou materialmente
em perigo:27
Tráfico interno de pessoa para fim de Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
exploração sexual § 1o A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de
reclusão, se o agente pratica delito para obter
Art. 231-A. Promover ou facilitar o desloca- lucro, ou se o menor é enviado para o exterior.
mento de alguém dentro do território nacional § 2o Incorre, também, na pena do parágrafo
para o exercício da prostituição ou outra forma anterior quem, embora excluído o perigo moral
de exploração sexual: ou material, auxilia a efetivação de ato destina-
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. do ao envio de menor para o exterior, com o
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que fito de obter lucro.
agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa ...............................................................................
traficada, assim como, tendo conhecimento
dessa condição, transportá-la, transferi-la ou Art. 361. Este Código entrará em vigor no dia
alojá-la. 1o de janeiro de 1942.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I – a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; Rio de Janeiro, 7 de dezembro de 1940; 119o da
II – a vítima, por enfermidade ou deficiência Independência e 52o da República.
mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato; GETÚLIO VARGAS – Francisco Campos
III – se o agente é ascendente, padrasto, ma-
drasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro,
Tráfico de Pessoas

Decretado em 7/12/40, publicado no DOU de


tutor ou curador, preceptor ou empregador da 30/12/40 e retificado no DOU de 3/1/41.

26
Lei no 12.015/2009.
25
Lei n 12.015/2009.
o 27
Lei no 7.251/84.
174
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