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PROJETO DE DOUTORADO
RESUMO: A ética da responsabilidade proposta por Hans Jonas tornou-se uma das
principais referências quando se trata de discutir a moralidade diante das ações da
sociedade tecnicamente desenvolvida. Como afirma Jonas, a natureza das ações
humanas foi modificada radicalmente pela técnica moderna. Nosso agir agora está
dotado de um alcance temporal e uma magnitude causal antes inimagináveis.
Assim, uma modificação na natureza das ações requer uma atualização de nossa
reflexão moral, dado que nenhuma ética anterior à técnica moderna dá conta de
mobilizar integralmente os indivíduos para um agir responsável. O objetivo principal
deste trabalho é discutir os alcances da ética jonasiana em sua pretensão de ser
uma ética prática, bem como apontar as limitações da proposta de Jonas frente a
outras teorias éticas elaboradas para a sociedade tecnológica.
As éticas tradicionais não são mais eficazes, ao ver de Hans Jonas, diante da
natureza modificada no agir humano. As propostas éticas desenvolvidas até o início
do século passado trabalhavam ainda com a ideia de que as ações humanas não
dispunham de um poder tal que pudesse ameaçar seriamente a vida presente, quiçá
inviabilizar sua possibilidade de existência futura. A ciência moderna não só
proclamou a racionalidade como princípio guia para a vida humana, como também
colocou-se como detentora de um caráter moral neutro, isto é, justamente por
2
acreditar que a ciência estaria conforme os ditames da razão, suas práticas não
requereriam nenhum tipo de reflexão moral.
Jonas destaca que a técnica dotou-nos de uma nova natureza do agir, um
continente novo para a práxis, no qual nenhum imperativo moral nem legislação
nenhuma têm poderes para impedir o homem de cometer abusos. De fato, vemo-
nos cada vez mais diante de questões éticas que parecem irresolúveis a partir das
legislações vigentes. O filósofo avulta, e este é um ponto que distingue sua teoria
das que o precederam, que essa nova natureza do agir humano requer uma
mudança do ponto de vista espacial e temporal na reflexão ética. Somos capazes
de produzir ações que alcançam e comprometem até mesmo sujeitos do outro lado
do globo, assim como as consequências de nossas ações se prologam
temporalmente podendo prejudicar as gerações futuras, ou até mesmo inviabilizar o
ambiente necessário para a existência destas. Surge, assim, a urgente necessidade
de uma ética para a civilização tecnológica.
Uma ética do futuro, diz Jonas, não significa uma ética no futuro, mas uma
ética atual que se preocupe em proteger a humanidade vindoura dos efeitos das
ações que praticamos contemporaneamente. Jonas rompe os limites de uma
simples justificativa intersubjetiva, em que as pessoas só estariam responsáveis
umas pelas outras enquanto seres que compartilham um mesmo espaço, e
apresenta um novo tipo de relação, completamente isenta de reciprocidade, e
justificada metafisicamente. A responsabilidade com o meio ambiente e com as
gerações futuras é reconhecida como uma atribuição já postulada ontologicamente.
ao trato dos homens entre si. 3. A técnica não operava sobre o ser humano, e este
era considerado possuidor de uma essência fixa. 4. O bem e o mal eram
determinados a partir dos efeitos mais curtos e imediatos de uma ação,
desconsiderando-se qualquer consequência futura das ações. 5. Os imperativos ou
leis morais eram estabelecidos a partir das relações imediatas entre os homens1.
As éticas tradicionais estão edificadas somente sobre as relações entre os
homens (antropocentrismo) de um dado tempo e lugar. E além da natureza ser
desconsiderada pelo homem em seu agir, o próprio homem era tomado como
possuidor de uma essência, tida como determinada, não passível de modificação
por seu agir.
1
Cf. JONAS, 2006, p.35-36.
5
2
Jonas não pretendia com isso tornar-se um tecnofóbico. Sua atenção volta-se para a técnica
moderna graças ao fato de que agora ela se apresenta com uma configuração tal que as demais
teorias ética não deram-se conta de sua nova capacidade.
3
Cf. JONAS, Hans. Ética, medicina e técnica: sobre a prática do princípio responsabilidade. São
Paulo: Paulus, 2013, p.52.
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presença é imperativa, ela não nos deixa meios de revisar nossas ações, nem de
reverter nenhum erro cometido.
O conceito de responsabilidade adequa-se a este panorama pois admite,
simultaneamente, uma atenção para com as intervenções tecnológicas, bem como
um minucioso cuidado em relação às implicações contemporâneas e,
principalmente, futuras de tais ações.
ser tomado como saída para superação das questões éticas suscitadas pela
tecnologia moderna. E se a fundamentação ontológica como pensada por Jonas
pode ser acusada de formalista ou se, apropriadamente, nos oferece uma base
segura para um imperativo.
Nesse sentido, pretendemos ainda avaliar a proposta jonasiana frente à ética
também centrada no conceito de responsabilidade de Karl-Otto Apel. Apresentando
como justificativa para essa escolha de um diálogo com Apel a necessidade de
ampliarmos a noção de responsabilidade para além de seu papel como princípio
deontológico, compreendendo-a também como um dos componentes centrais dos
discursos contemporâneos, como algo que deve ser incorporado e desenvolvido por
todos os membros de nossa sociedade, sobretudo por aqueles que manuseiam
aparatos e técnicas nocivos à vida em geral.
A pesquisa se faz necessária, primeiro, tendo em vista que Jonas ainda é um
filósofo pouco conhecido, como elemento de difusão e comentário de sua obra.
Segundo, é de grande importância a elaboração de uma leitura crítica que consiga
acrescentar ao pensamento de Jonas elementos que o tornem ainda mais objetivo e
adequado ao que se espera de uma ética para a era da civilização tecnológica.
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral:
- Elaborar uma análise da ética da responsabilidade de Hans Jonas com o
intuito de apontar o alcance de tal ética na sociedade tecnologicamente
desenvolvida, bem como os limites dessa proposta e sua fragilidade em
relação a outras teorias éticas.
2.2 Objetivos específicos:
- Explicitar o conceito de fundamentação ontológica para Hans Jonas;
- Apresentar a necessidade da responsabilidade ser assumida não
apenas como princípio deontológico, mas, especialmente em nossa
época, como uma virtude moral a ser desenvolvida pelo homem da era
tecnológica;
- Ampliar a noção de responsabilidade de Hans Jonas, destacando o
papel deste conceito, sobretudo na discussão política contemporânea;
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3. METODOLOGIA
Hans Jonas apresenta três fases em sua carreira como filósofo, o que se
destaca é que, para além da peculiaridade de cada uma, todas podem ser
compreendidas a partir de um horizonte comum: a superação do dualismo presente
na tradição filosófica ocidental. Tanto nos estudos sobre o gnosticismo dos
primeiros cristãos, passando pelos estudos sobre o organismo e chegando à
elaboração de uma ética para a sociedade tecnológica, Jonas defende a elaboração
de um monismo integral como ponto de superação do dualismo niilista no qual se
inscreve nossa tradição filosófica. Nossa tese procura destacar a importância do
conceito de liberdade tanto elaboração do monismo integral, quanto na
fundamentação da ética da responsabilidade.
4. CRONOGRAMA
Disciplinas X X
Estudo sistemático da
bibliografia principal e
X X X X
levantamento das fontes
secundárias.
Seleção e documentação
X X X X
das fontes secundárias
Redação do primeiro
X X
capítulo da tese
Redação do segundo
X X
capítulo da tese
Redação do terceiro
X X
capítulo da tese
Qualificação X
Redação do quarto
X X
capítulo da tese
Defesa X
5. REFERÊNCIAS:
FURIOSI, Maria L. Uomo e natura nel pensiero di Hans Jonas. Milão: Vita e
Pensiero, 2003.
JONAS, Hans. Mortality and morality: A Search for Good After Auschwitz.
Evanston: Northwestern University Press, 1996.
LEVY, David J. Hans Jonas: the integrity of thinking. Missouri: UMP, 2002.
VIANA, Wellistony C. Hans Jonas e seus críticos. Aufklärung, N.1, V.1, abril de
2014, p.59-86.
______. O monismo integral de Hans Jonas contra o fisicalismo. Rev. Fil. Aurora,
Curitiba, v.26, n.38, p.391-403, Jan./jun. 2014.
WOLIN, Richard. Los hijos de Heidegger: Hannah Arendt, Karl Löwith, Hans Jonas
y Herbert Marcuse. Madri: Cátedra, 2003.
6. BIBLIOGRAFIA AUXILIAR
WAGNER, Eugênia S. Hannah Arendt: ética & política. Cotia, SP: Ateliê Editorial,
2006.