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3 3 | julho 2017
NÃO VAMOS AO HIPER, NOS MUDAMOS PARA O
HIPER (E LÁ PERMANECEMOS POR QUATRO DIAS)

Maria Luiza (Malu) Fragoso

arte tecnologia biotelemática


Hiperorgânicos NANO

A atual sedução por máquinas e tecnologia, especialmente aquelas que têm a capa-
cidade de interagir/comunicar, ou seja, máquinas “inteligentes”, desperta uma produ-
ção simbólica na arte que lida com processos de tomada de consciência sobre cone-
xões entre seres vivos e máquinas. Tratamos aqui de descrever um pouco da vivência
de um acontecimento/dispositivo que provoca essas conexões, o Hiperorgânicos.

Apresentação

Cada vez mais, a pesquisa acadêmica nos di- WE DON’T GO TO HIPEROGÂNICOS, WE MOVE
reciona para o compartilhar das experiências THERE (AND STAY FOR FOUR DAYS) | The
e processos com o que mais nos seduz como current seduction of machines and technology,
expressão da vida: o fazer artístico como ex- especially those that have the ability to interact/
pressão do conhecimento compartilhado. 1 communicate, that is, “intelligent” machines,
awakens a symbolic production in art that deals
Em 2011 escrevemos um artigo sob o título
with processes of awareness about connections
Tecnologia e arte: a estranha conjunção entre
between living beings and machines. Here we
“estar vivo” e subitamente “estar morto”, em
describe a little of the experience of an event/
que tratamos de discutir a atual sedução pela
device that causes these connections, the
produção de máquinas, especialmente aquelas
Hiperorgânicos. | Art, technology, biotelematics,
que têm a capacidade de interagir/comunicar
hiperorgânicos, NANO.
e, de preferência, surpreender as pessoas; má-
quinas “inteligentes” que parecem ter vida.
Convivemos cada vez mais “com máquinas que, além de interagir e comunicar, inventam e ino-
vam, e, para mantê-las vivas, basta ligá-las numa fonte de energia elétrica que iniciam suas fun-
ções pré-programadas. Da mesma forma, um simples toque torna tudo subitamente ‘morto’”.2
Ao mesmo tempo, esse convívio desperta uma produção simbólica na arte tecnológica compu-
tacional atual, produção que lida com processos de tomada de consciência sobre “estar vivo”,

Laboratório aberto no Lab do Museu do Amanhã, maio 2017 – Acervo NANO


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sobre conexões entre seres vivos e consequen- Aparentemente delegamos ao mundo virtual a
temente entre seres vivos e máquinas. Não atualização de nossas “vidas” e perdemos a po-
afirmamos que essa seja uma nova perspectiva tência do pirilampo, ou melhor, perdemos a cons-
na arte, mas, antes, que as investigações que ciência dessa potência. Entramos em modo de-
conjugam arte, ciência e tecnologia hoje, muitas ve- fault e permitimos que o tempo escorra enquanto
zes conseguem estabelecer conexões vitais a partir nada, ou quase nada, acontece. Zapeamos pelas
da criação de objetos/dispositivos/acontecimentos mídias sociais, isolados e moribundos. Esse pre-
que provocam confrontos éticos, estéticos e emo- tende ser um quadro precário do cenário em que
cionais perturbadores. Confrontos que geram uma nos encontramos, e não seria preciso nos delon-
consciência para além do cotidiano, para além do garmos mais para descrever a morosidade social
olhar comum, simplesmente porque a tecnologia contemporânea. Pois foi justamente nesse con-
está aos poucos fornecendo recursos para revelar de texto, procurando olhar para os fenômenos que
forma mais efetiva o que a ciência investiga e que o surgem a partir do desenvolvimento tecnológico,
artista intui e constrói simbolicamente. O trabalho que vislumbramos a oportunidade de reanimar
desenvolvido por vários artistas hoje provoca esses os espaços de pesquisa, reativar o conceito de la-
questionamentos, como, por exemplo, o que reali- boratório de arte e devolver a vitalidade essencial
zamos no NANO,3 e, portanto, neste artigo, descre- para nossas práticas de artistas-pesquisadores-o-
vemos parte do processo e vivência de um de nossos rientadores. Essas práticas vêm de trajetórias em
projetos acontecimento/dispositivo que provoca es- que espaços laboratoriais substituem ateliês, má-
ses confrontos e conexões: o Hiperorgânicos. quinas fazem parte dos sistemas de criação, pes-
quisas articulam campos de conhecimentos diver-
sos, produções surgem de colaborações, discursos
Pirilampos
são construídos coletivamente.5
O artigo mencionado no início deste texto tra-
tou da inevitabilidade do desconectar, do desli- Laboratório vivo
gar, que a cultura digital traz em sua natureza,
Em 2010 Guto Nóbrega6 criou o Núcleo de Arte
e consequentemente da ansiedade que isso gera.
e Novos Organismos − NANO, me convidou para
Nos vemos na busca de uma imortalidade digital.
fazer parte do laboratório, e no mesmo ano reali-
Não queremos que “morram” nossos arquivos,
zamos o primeiro Hiperorgânicos. Nossa colabo-
que nossa memória desapareça dos computado-
ração partiu de vários pontos de convergência;
res, dos celulares, das redes sociais. Como se a
os principais foram (e são até hoje): acreditar no
nossa vitalidade e identidade (social) dependesse
potencial da tecnologia e dos processos em rede
da preservação e atualização constante de nossas
distribuídos e interconectados; acreditar na arte
“vidas” digitais.
como tecnologia para promover esses processos;
Mas o instante é um pirilampo que acende e acreditar no ambiente acadêmico como espaço
apaga, acende e apaga. O presente é o instante agregador de pessoas, ideias, oportunidades e
em que a roda do automóvel em alta velocidade germinador de propostas interdisciplinares; acre-
toca minimamente no chão. E a parte da roda ditar no papel do artista educador; acreditar na
que ainda não tocou, tocará num imediato que conjunção entre arte e ciência como campo con-
absorve o instante presente e torna-o passado.4 temporâneo de pesquisa; acreditar que a univer-

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Laboratório aberto no Lab do Museu do Amanhã, maio 2017 – Acervo NANO

sidade precisa estar em sintonia com a sociedade Uma das premissas do laboratório é permitir
neste momento acelerado de absorção e produ- aos seus participantes explorar por meio de
ção tecnológica; e reconhecer no trabalho do ar- processos individuais uma sensibilidade cole-
tista e pesquisador Roy Ascott, pioneiro da arte te- tiva amparada pelas redes e pelas instalações
lemática, bases teóricas e práticas que norteavam e seu entorno. Para o laboratório é muito cara
nossas pesquisas. Foi com essas certezas que des- a ideia de ecologia híbrida e a integração de
montamos nosso pequeno laboratório, descemos diversos agentes (naturais e artificiais) para a
com tudo que tínhamos para o hall de entrada emergência do que identificamos no concei-
do prédio e montamos um espaço laboratorial
7
to de “organismos estéticos”.8 As diferentes
aberto, para o qual convidamos artistas, alunos, temáticas dão o tom das inter-relações entre
professores, além de toda a comunidade local, artes visuais, musicais, tecnologia, ciência e
para passar algumas horas trocando experiências natureza, que podem compor o cenário de
e mostrando/compartilhando seus processos ar- eventos produzidos pelos artistas, investiga-
tísticos e pesquisas. Foi tão bom, tão intenso e dores, cientistas…9
produtivo, que o dia poderia ter-se estendido por
muitas horas e aqueles que ali estavam não per- Considerando a efervescência de questões que
ceberiam ou não se incomodariam. Era o início de surgem durante o laboratório aberto e a necessi-
um projeto, de um fazer e refletir sobre processos dade de trocar não apenas as experiências práti-
artísticos em contextos colaborativos de investiga- cas, mas também as reflexões sobre os processos,
ção científica e tecnológica. Foi o primeiro de, até após a segunda edição, foi incluído um simpó-
o presente momento, sete Hiperorgânicos. sio ao final de três dias de práticas. Trata-se não

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apenas do momento do diálogo, do exercício do Chegamos ao evento com malas, de mudança
discurso, mas também da oportunidade de trazer temporária, para oferecer e compartilhar esse
convidados específicos para abordar temas pon- momento de possibilidades. Não vamos ao Hiper;
tuais e promover uma expansão de perspectivas nos mudamos para o Hiper, e lá permanecemos
a partir das propostas dos participantes. São or- por quatro dias. Apenas quatro dias. À medida
ganizadas mesas temáticas como fóruns de dis- que o laboratório se monta, se instala, cada par-
cussão com o intuito de estimular uma reflexão ticipante encontra um espaço físico onde vai po-
contextualizada na pesquisa contemporânea em der abrir sua bagagem. Essa ocupação mobiliza
arte. Muitas vezes são realizadas trocas via in- todos, e espaços são conquistados e comparti-
ternet com colaboradores de diversos pontos do lhados a partir das trocas, dos processos. Obser-
planeta, dando continuidade ao sistema de fluxos vamos esses movimentos como coreografias afe-
dinâmicos aplicados no laboratório aberto. Em tivas, em que os corpos se projetam, se recolhem
várias edições do Hiperorgânicos foi possível con- e se subdividem. Esse espaço de laboratório tem
tar com o incentivo e parceria da Rede Nacional um limite mínimo, que possa todos abarcar, mas
de Pesquisa – RNP10 para viabilizar e impulsionar não tem um limite máximo. A expansão ocorre
os sistemas de conexão em rede, como no caso naturalmente. Os participantes vão-se espalhando
da terceira edição, realizada no Palácio Capanema pelos lugares − íntimos, externos, físicos, virtuais.
junto com a Funarte. O que oferecemos como estrutura são concei-
tos, ideias, estratégias que atuam como pon-
Organismos emparelhados tos de convergência, lugares de encontro. Esses
Primeira proposição: a arte é um tipo de co- lugares formam o núcleo das ações. Um deles
nhecimento; segunda proposição: este tipo relaciona-se com o servidor da rede, a porta de
de conhecimento utiliza com sucesso, com entrada e de saída de dados. Também é um ponto
eficácia, algumas formas de conhecimento de expansão, que reflete as diferentes dimensões
como o processo discursivo, como o processo exploradas naquele espaço-tempo de convergên-
intuitivo, como o processo tácito.11 cia. O servidor é máquina que integra os proces-
sos e os distribui − o sistema neural do organis-
Uma pré-produção sem saber exatamente o que mo. Outro ponto de convergência está na atitude,
esperar, o que se vai encontrar, o que vai ser pe- na generosidade. Cada um que se integra no pro-
dido de cada um. Uma preparação laboratorial cesso do laboratório aberto se abre, abre sua mala,
em que se deseja prever necessidades, materiais, se expõe. Sujeito e obra/processo se disponibilizam
máquinas ou ferramentas, possíveis caminhos. É enquanto conjunto: nós (processo + sujeito) deseja-
quando construímos mentalmente o processo, mos conhecer vocês (processo + sujeito). As expec-
imaginamos possíveis ações, acontecimentos, tativas parecem exageradas e são redimensionadas,
antecipamos dificuldades, organizamos crono- os detalhes se revelam e crescem. A capacidade de
gramas e nos disponibilizamos. O Hiperorgâni- cada um de compartilhar e de se concentrar está
cos não é apenas um evento, é um deslocamento diretamente relacionada com o sentimento de sa-
de tempo e espaço, para um lugar onde é pos- tisfação. O olhar dos outros guia nossos olhares,
sível se conectar, pensar junto, produzir e ouvir, somos seduzidos pelo desejo de apreender. É jus-
sentir e imaginar. tamente nos momentos de conjunção, de sinapse,

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que a vitalidade se faz presente. Por mais digital Como apontado por Roy Ascott,13 as redes de base
que se configure a conexão, dentro e/ou fora da tecnológica refletem modelos de fluxos inerente-
rede internet, é possível ter a sensação de gerar mente orgânicos,14 cujos comportamentos são
vida, de potência que se torna “coisa” e que se fontes de inspiração para criação, desenvolvimen-
valida pela cumplicidade entre criadores. Essa to e implementação de novas possibilidades co-
sensação é tão prazerosa, que a maior dificulda- nectivas. Ascott busca essas conexões em diversos
de é desligar os corpos e as máquinas entre um ambientes e sistemas, incluindo conhecimentos
dia e outro de trabalho, o que acaba acontecen- tradicionais oriundos de grupos indígenas ou na-
do pelo cansaço... tivos de diferentes continentes. Compreendemos

Após três dias de ações, passamos para o mo- essa busca como tentativa de revelar possibilida-
mento de escuta, reflexão e análise dos processos. des inerentes aos seres vivos que as máquinas hoje
Pensar a prática artística nesse contexto de expe- tentam imitar, ou melhor, que tentamos imitar por
rimentação compartilhada é também promover a meio de máquinas/dispositivos tecnológicos. Nesse
expressão desse fazer pelo discurso. Não é preciso sentido, esforços oriundos de ambientes científicos
moldar o discurso, mas é necessário tê-lo. Cada de- e artísticos se aproximam, se contaminam e se en-
poimento revela um pouco do invisível, daquilo que riquecem com novas trocas e parcerias. Esse não
permeia todo o Hiperorgânicos, constituído durante é um cenário corriqueiro, muito pelo contrário. As
os três dias de laboratório aberto. O simpósio fun- aproximações ocorrem normalmente a partir de
ciona como uma reverberação de ideias, de conhe- provocações dos artistas, muitas vezes estimuladas
cimento coletivo que estimula iniciativas de cará- por programas ou projetos científicos com recursos
ter investigativo, exploratório e transdisciplinar. A destinados também à inovação e produção cultu-
escuta se torna mais ativa e favorece proposições ral, o que ainda é raro no Brasil.
que poderão dar continuidade ao trabalho reali- O projeto Hiperorgânicos adota o formato de
zado durante o laboratório.
laboratório aberto e simpósio, como já des-
crito, mas, além da estratégia metodológica,
Inter-relações estrutura-se sobre os eixos conceituais inves-
O ser humano convive desde sempre com o tigativos: arte, hibridação e biotelemática
mistério da vida: um sopro, luz, ou energia que enquanto tecnologia, processo e campo de
faz com que identifiquemos a existência de ani- investigação, respectivamente − todos entre-
ma no nosso entorno. Muitas vezes nos perce- cruzando arte, ciência e as tecnologias da infor-
bemos dedicando atenção a aqueles seres com mação/comunicação. Entendemos a biotelemática
os quais conseguimos interagir ou perceber in- como a possibilidade de conectividade entre orga-
teração, seja entre corpos ou mentes, no físico nismos naturais e artificiais – homem-máquina, plan-
ou no virtual, no visível ou no invisível, no orgâ- ta-máquina, inseto-máquina etc. Grande parte
nico ou no maquínico. Temos mais dificuldade das experimentações artísticas propostas para
de nos sensibilizar pelas coisas inanimadas com o Hiperorgânicos envolvem questões relativas à
as quais não conseguimos interagir ou comuni- biotelemática, e esse é assunto também direta-
car, como por exemplo vegetais e minerais, ou mente relacionado com a noção de vitalidade
até mesmo o ar que nos rodeia. 12
nas investigações em arte e tecnologia.

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Público no Museu do Amanhã, obra Nós Abelhas, de Malu Fragoso, maio 2017 – Acervo NANO

Acreditamos que ao reunir arte e ciência e fa- zes, à lógica programada das máquinas e dos
zer uso dos recursos tecnológicos disponíveis, sistemas por ela operados. Esse vem a ser o
por meio de um pensamento lúdico e sensível, mote de todo Hiperorgânicos.15
novos horizontes se abrem e possíveis univer-
Breve histórico do projeto Hiperorgânicos16
sos se antecipam. Na interseção arte, ciência e
tecnologia, vemos um campo potencial para Como já mencionado, a primeira edição ocorreu,
pensar um mundo que se tornou complexo em 2010, no hall dos elevadores do Prédio da
de forma demasiada, cujo avanço tecnológi- Reitoria da UFRJ, na Ilha do Fundão, e teve a
co abre portas à vontade humana, ao mesmo duração de apenas um dia, com a participação
tempo em que esta também se dobra, por ve- dos alunos da Escola de Belas Artes (licenciatura,

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comunicação visual, desenho industrial, escultura, A quinta edição do Hiperorgânicos foi realizada
mestrado, doutorado etc.). Para a segunda edição, no contexto do Congresso de Arte Computacional
realizada durante o evento Cúpula dos Povos, – CAC.4, que teve como co-organizadores o
em junho 2012, durante a Conferência Rio+20, Laboratoire Paragraphe, da Universidade de Paris
montamos o laboratório na tenda de Comunicação, VIII, e o Instituto de Matemática e Arte de São
Criação e Produção Editorial, disponibilizando um Paulo. Ocorreu no auditório Samira Mesquita
sistema que possibilitou o uso de plantas como e no Salão Azul no Prédio da Reitoria da UFRJ,
sensores orgânicos e criou conectividade entre em setembro de 2014, sob a temática “Abrigos
os demais aparelhos para produção de uma Sensíveis”, derivada da pesquisa Telebiosfera,
experiência sonoro-visual. A terceira edição foi a apoiada pelo CNPq. Foi construído um de dois
primeira no formato de três dias de laboratório domos biotelecomunicantes, onde uma superfície
aberto (open lab) mais o quarto dia de simpósio. interativa foi desenvolvida para permitir uma
Realizada no Palácio Gustavo Capanema (Rio de arquitetura responsiva, que serviu de base para
Janeiro) e instalada na sala Cândido Portinari, com projeções de imagens mapeadas e visualização
acesso aos jardins de Burle Marx, em outubro de dados. Na ocasião recebemos o professor
de 2012, com apoio da Faperj, 17
da Funarte, Roy Ascott e seu grupo de pesquisa, o Planetary
da RNP e da Escola de Belas Artes/UFRJ, dela Collegium. O tema das mesas – Field and Flow.
participaram artistas e pesquisadores convidados Neeting the Nature of Nature –, foi sugerido por
de oito estados brasileiros e seis países. O simpósio Ascott, e os resumos foram publicados nos Anais
abordou três eixos temáticos, tecnologia, poética do CAC.4 O evento foi realizado com o apoio do
e política, bem como os subtemas Organismos CLA/UFRJ, do PPGAV/UFRJ, da Capes, da Faperj,
distribuídos; Laboratórios em rede; Topologias do além de um apoio especial da Reitoria/UFRJ. A
afeto; Conexões, hibridações e poética; Sistemas sexta edição do evento aconteceu em novembro
emergentes sensíveis; e Novos paradigmas para de 2015, no Solar do Jambeiro, Niterói (RJ), com
uma política. A quarta edição, que teve como tema – a colaboração da UFF e parcerias com o MediaLab
Concha/Ressonâncias –, foi realizado em novembro da Universidade Federal de Goiás e da Rede Lati
de 2013, no auditório Samira Mesquita e no Salão – Laboratórios de Arte, Tecnologia e Inovação.18
Azul no Prédio da Reitoria da UFRJ com o apoio do O tema central, – TransBORDA –, explorou a
Centro de Letras e Artes – CLA/UFRJ, do PPGAV/ subversão de fronteiras, a noção de emergência
UFRJ, da Super TIC/UFRJ e da Faperj. O evento e buscou observar aquilo que não se contém,
passou a identificar o simpósio como Simpósio fomentando um corpo/recipiente que ultrapassa
Internacional e Laboratório Aberto de Pesquisa certo modelo biológico e que ainda assim pode conter
em Arte, Hibridação e Biotelemática. A parceria o (trans)bordar de uma rede. O edifício do século 19
mais atuante foi com a Escola de Música. Pela e seu jardim serviram de cenário para explorações
primeira vez tinha-se uma estrutura cenográfica: no espaço arquitetônico, instalações ao ar livre,
um terrário, conectado telematicamente à rede e mapeamento de superfícies e projeções de imagens.
cercado por sistema de áudio e telas para projeção, A inserção de objetos técnicos, eletrônicos e robóticos
no qual estavam dois pequenos robôs com sensores nesse cenário/ambiente de época produziram
que capturavam dados e transmitiam via internet registros magníficos. O Hiperorgânicos 7 abordou
para o servidor local aberto a interações remotas. o tema “Ações Transensoriais” e reuniu, em maio

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de 2017, laboratórios de investigação artística, 2 Fragoso, Maria Luiza P. G. Tecnologia e arte:
científica e tecnológica da Escola de Belas Artes – a estranha conjunção entre “estar vivo” e
EBA, do Laboratório de Métodos Computacionais subitamente “estar morto”. Revista Palíndromo
em Engenharia – Lamce e Laboratório de (online), v. 4, 2011: 59-67.
Realidade Virtual – Lab3D, da Coppe/UFRJ, do
3 Núcleo de Arte e Novos Organismos, núcleo
Laboratório Lamo 3D – FAU/UFRJ e do Laboratório
laboratorial instituído em setembro de 2010,
do Amanhã do Museu do Amanhã. Os campos atua no âmbito da graduação e do Programa
de investigação do evento foram: performance, de Pós-Graduação em Artes Visuais/PPGAV
arte sonora, interfaces vestíveis, ecologias da Escola de Belas Artes – EBA/UFRJ. Tem
híbridas, transculturalidade, bioarte, intervenções, por finalidade desenvolver pesquisas prático-
telemática, vídeo, robótica, arquitetura, teóricas na área de artes com foco específico
biofeedback, microcontroladores, gambiarras em sua intersecção com a tecnologia e a
e DIY. Explorou a utilização de tecnologias de ciência. A motivação desse grupo de pesquisa
reconhecimento de gestos; a realidade aumentada; é consolidar um espaço transdisciplinar para
a realização de experiências no campo telemático; a reflexão e o fomento de novos modelos
o desenvolvimento de arquiteturas que cognitivos com base na prática e em trocas
potencializem a noção de presença em campo dialógicas com foco nas artes assistidas pelas
aumentado; a experimentação e interação com tecnologias da comunicação/informação.
materiais inteligentes para construção de interfaces
4 Lispector, Clarice. Água viva. São Paulo: Círculo
vestíveis; e a experimentação com sistemas
do Livro S/A, 1973: 16.
híbridos com a relação sistêmica e sensorial entre
organismos naturais e artificiais. Paralelamente foi 5 Impossível deixar de mencionar: cinco
montada uma exposição com trabalhos realizados anos (1994-1999) de trabalho de pesquisa e
no NANO e por seus coordenadores, que teve a aprendizado junto ao grupo Corpos Informáticos
duração do Hiperorgânicos, mas que foi vista por e a orientação de Maria Beatriz (Bia) Medeiros.
centenas de visitantes que circulam pelo Museu Grupo e fuleragem; quatro anos de trabalho
diariamente. Processos artísticos se espalharam pelo de pesquisa e aprendizado junto ao grupo
Museu em intervenções e performances resultantes WaWrWt depois Poéticas Digitais (1999-2003)
das pesquisas desenvolvidas e apresentadas ao e a orientação de Gilbertto Prado; nove anos de
longo do laboratório aberto. O simpósio reuniu grupo de pesquisa Rede em colaboração com
três mesas temáticas: Sistemas Verdes, Ambientes Hellen Cristina de Souza, Marinez Cargnin-Stieler
e Ivanete Parzienello do Need de Tangará da Serra
Sensíveis e Transensoriais.
Unemat; atualmente e desde 2010 coordenando
NOTAS o NANO junto com Guto Nóbrega.
1 Fragoso, Maria Luiza P. G. Arte e vida: tecnologia 6 Carlos Augusto (Guto) Nóbrega é artista e
como ferramenta de integração cultural. In: pesquisador, professor doutor credenciado
Venturelli, S.; Rocha, Cleomar. Mutações, no Programa de Pós-Graduação em Artes
confluências e experimentações na arte e tecnologia, Visuais da Escola de Belas Artes da UFRJ. http://
Brasília: Editora PPGArte UnB, 2016: 45-51. cargocollective.com/gutonobrega.

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7 Até outubro de 2016, o NANO funcionava no 15 Fragoso; Nóbrega, 2017, op. cit.
Prédio da Reitoria da UFRJ.
16 Esse breve resumo foi extraído em parte
8 Nóbrega, Carlos Augusto M. Thinking de documentos redigidos em parceria com
Hyperorganisms. Art, technology, coherence, Guto Nóbrega e que apresentam propostas
connectedness, and the integrative field. e relatórios sobre o Hiperorgânicos. Mais
Saarbrücken: Lambert Academic Publishing, 2010. informações são encontradas em Fragoso, Maria
Luiza P.G.; Nóbrega, Carlos Augusto M. (Org.).
9 Fragoso, Maria Luiza P.G.; Nóbrega, Carlos
Hiperorgânicos: ressonâncias, arte, hibridação e
Augusto M. Hiperorgânicos: uma trajetória na
biotelemática. Rio de Janeiro: RioBooks, 2015.
arte telemática. Artigo apresentado para o 26o
Encontro Nacional da Anpap, em 2017. 17 Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à
Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – Edital APQ2.
10 A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa − RNP
é uma organização social − OS vinculada ao 18 O Ministério da Cultura brasileiro, em parceria
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa –
Comunicações − MCTIC e por ele mantida em RNP criou, em 2014, um projeto-piloto para
conjunto com os ministérios da Educação − MEC, aprimorar as ações colaborativas realizadas
Cultura − MinC, Saúde − MS e Defesa − MD, em rede de alta performance. Seis laboratórios
que participam do Programa Interministerial foram convidados para a tarefa de desenvolver,
da RNP − PI-RNP. Pioneira em 1992 como rede em conjunto, uma metodologia de uso da
nacional de acesso à internet no Brasil, a RNP rede de alta performance da RNP (conexão via
tem como principal incumbência promover o Internet em altíssima velocidade), voltado para
desenvolvimento tecnológico e apoiar a pesquisa a cultura. Os estados do Pará, Ceará, Bahia, Rio
de tecnologias de informação e comunicação, de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul sediam os
criando serviços e projetos inovadores e laboratórios selecionados para compor a Rede Lati
qualificando profissionais. – Laboratórios de Arte, Tecnologia e Inovação. O
projeto a ser desenvolvido é piloto e tem como
11 Vieira, Jorge A. Teoria do conhecimento e artes.
objetivo compor estratégias e metodologias de
Palestra proferida por ocasião do XIX Congresso
uso de rede para ações colaborativas.
da Associação Nacional de Pesquisa em Música,
Curitiba, agosto 2009.

12 Fragoso, 2011, op. cit.

13 Ascott, Roy. Is there love in the telematic Maria Luiza (Malu) Fragoso é artista, educadora,
embrace? Art Journal. Computer and Art: Issues doutora em multimídia pelo Instituto de Artes
of Content, v.49, n.3:241-247. 1990. da Unicamp e pós-doutora pela ECA/USP,
14 Ascott, Roy. Fluxo biofotônico. Unindo realidades coordenadora do grupo REDE – Arte e Tecnologia
virtual e vegetal. In: Maciel, Katia; Parente, André Redes Transculturais em Multimídia e Telemática
(Ed.). Redes sensoriais – arte, ciência e tecnologia. (2004), e do NANO (2010), e trabalha nos
Rio de Janeiro: Contra Capa, 2003. domínios da arte, ciência, tecnologia, e natureza.

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