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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO


FACULDADE DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Gilliard Medeiros Borges

PETROGRAFIA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS DA REGIÃO


DE SÃO VALÉRIO DA NATIVIDADE (TO) E LITOQUÍMICA E
GEOCRONOLOGIA DOS GNAISSES

Orientador
Profº. Dr. Ronaldo Pierosan

Co-orientadora
Profª. Dra. Rúbia Ribeiro Viana

CUIABÁ
2016
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

REITORIA

Reitora
Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder

Vice-Reitor
Prof. Dr. João Carlos de Souza Maia

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Pró-Reitora
Profª. Drª. Leny Caselli Anzai

FACULDADE DE GEOCIÊNCIAS
Diretor
Prof. Dr. Paulo César Correa da Costa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Coordenador
Prof. Dr. Ronaldo Pierosan

Vice-Coordenador
Prof. Dr. Jayme Alfredo Dexheimer Leite
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
N° 80

PETROGRAFIA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS DA REGIÃO


DE SÃO VALÉRIO DA NATIVIDADE (TO) E LITOQUÍMICA E
GEOCRONOLOGIA DOS GNAISSES

Gilliard Medeiros Borges

Orientador
Profº. Dr Ronaldo Pierosan

Co-orientadora
Profª. Dra Rúbia Ribeiro Viana

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geociências do Faculdade de
Geociências da Universidade Federal de Mato
Grosso como requisito parcial para a obtenção
do Título de Mestre em Geociências.

CUIABÁ
2016
PETROGRAFIA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS DA REGIÃO
DE SÃO VALÉRIO DA NATIVIDADE (TO) E LITOQUÍMICA E
GEOCRONOLOGIA DOS GNAISSES

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________
Profº. Dr. Ronaldo Pierosan
Orientador (UFMT)

_______________________________________
Prof. Dr. João Batista de Matos
Examinador Interno (UFMT)

_______________________________________
Profª. Drª. Maria Emilia Schutesky Della Giustina
Examinador Externo (UnB)
Dedicatória
Aos meus irmãos.
Agradecimentos

Agradeço aos amigos que sustentaram seu apoio na crença do potencial


demostrado nesses anos de empenho e trabalho.
A minha família que mesmo distante apoia o intento deste manifesto pretexto em
incumbir a escavação do passado além das linhas compostas pelos homens.
O apoio do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Geociências pelo
apoio e fomento do conhecimento necessário pelo qual este trabalho seria
imensuravelmente mais árduo. Em especial ao orientador Ronaldo Pierosan, ao qual
nunca retrocedeu, seja quão forte fosse o desafio, e a co-orientadora, Rúbia Ribeiro
Viana, pela confiança em meu trabalho e potencial.
Ao corpo discente Programa de Pós-Graduação em Geociências, pela
amabilidade, companheirismo, espirito de corpo e solidariedade, que proporciona
ambiente propicio a evolução e desenvolvimento científico. Em especial a Raiza Batalha,
Newton Diego Couto e Ana Carolina Gueller Marques que auxiliaram em discussões de
grande valia para aplicação de técnicas realizadas nesse trabalho e enriquecimento do
conhecimento aplicado.
Ao CNPq, a FAPEMAT (Proc. Nº 843461/2009) e ao Programa de Pós-graduação
em Geociências da UFMT pelo suporte financeiro no desenvolvimento da pesquisa e a
CAPES e pela concessão de bolsa de mestrado.

i
Sumário
Agradecimentos .................................................................................................................. i
Resumo .............................................................................................................................vii
Abstract ...........................................................................................................................viii
CAPÍTULO 1 ...................................................................................................................... 9
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 9
1.1 Apresentação do tema ............................................................................................................ 9
1.2 Problemática e Relevância ...................................................................................................... 9
1.3 Objetivos ................................................................................................................................ 10
1.4 Localização e vias de acesso .................................................................................................. 10
1.5 Materiais e Métodos ............................................................................................................. 11
1.4.1 Etapa Preliminar ............................................................................................. 11
1.4.1.1 Revisão Bibliográfica ................................................................................ 12
1.4.1.2 Interpretação Fotogeológica ..................................................................... 12
1.4.2. Etapa de Aquisição de Dados ........................................................................ 12
1.4.2.1 Trabalhos de Campo ................................................................................. 12
1.4.2.2 Trabalhos de Laboratório ......................................................................... 13
Análises Petrográficas....................................................................................... 13
Análises Geoquímicas ....................................................................................... 14
Análises Geocronológicas ................................................................................. 14
1.4.3. Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados ...................................... 15
1.6 Contexto Geológico Regional ................................................................................................ 15
1.5.1 Faixa Brasília ................................................................................................... 16
1.5.1.1 Maciço Goiás ....................................................................................... 17
1.5.1.2 Bloco Crustal Cavalcante-Natividade ................................................. 19
1.5.1.3 Grupo Araí ........................................................................................... 19
CAPÍTULO 2 .................................................................................................................... 21
ARTIGO SUBMETIDO A SERIE CIÊNTIFICA DA USP ........................................ 21
RESUMO........................................................................... Erro! Indicador não definido.
ABSTRACT ...................................................................... Erro! Indicador não definido.
1 - INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 22
2 - MÉTODOS ................................................................................................................. 23
3 - GEOLOGIA REGIONAL ......................................................................................... 23
3. 1 Geologia Estrutural e Evolução Tectônica ............................................................................. 26

ii
4 - GEOLOGIA LOCAL ................................................................................................ 27
4.1 - Bloco Crustal Cavalcante-Natividade .................................................................................... 28
4.1.1. Biotita migmatito metatexítico ......................................................................... 28
4.1.2. - Biotita gnaisse ................................................................................................ 29
4.1.3 – Quartzitos – Grupo Araí...................................................................................................... 30
4.2 - Maciço de Goiás .................................................................................................................... 31
4.2.1 - Muscovita-biotita gnaisses .............................................................................. 31
4.2.3 - Muscovita gnaisses ......................................................................................... 33
4.2.2 – Xenólitos pelíticos .......................................................................................... 34
5 - LITOQUIMICA ......................................................................................................... 37
6 - GEOCRONOLOGIA ................................................................................................. 42
7 - DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ............................................................................. 44
Agradecimentos ................................................................. Erro! Indicador não definido.
BIBLIOGRAFIA .............................................................. Erro! Indicador não definido.
CAPÍTULO 3 .................................................................................................................... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 51
Referências Bibliográficas .............................................................................................. 52

iii
Lista de Figuras

CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO

Figura 1: Mapa de Localização e vias de acesso do município de São Valério da


Natividade - TO, imagens de OpenStreetMap. ................................................................. 11
Figura 2: Mapa de Localização de Afloramentos da área estudada (imagens BingMaps)
........................................................................................................................................... 13
Figura 3: Mapa da Província Tocantins, suas faixas orogênicas (modificado de Delgado
et al. 2003) e divisão da Faixa Brasília (modificado de Delgado et al. 2003 e Fuck et al.
2014) .................................................................................................................................. 16
Figura 4: Faixa Brasília norte e domínios do Bloco Crustal Cavalcante Natividade e
Maciço de Goiás, (modificado de Fuck et al. 2014 e Cordeiro et al. 2015). .................. 188

CAPÍTULO 2- ARTIGO SUBMETIDO A SERIE CIENTIFICA DA USP

Figura 1: a) Contexto geológico regional da Faixa Brasília setentrional segundo, Fuck et


al. (2014), b) Domínios geológicos da porção sudeste do estado de Tocantins, a direita,
(adaptado de Fuck et al., 2014; Drago et al., 1981) ....................................................... 25
Figura 2: Mapa geológico da região de São Valério da Natividade (lineamentos extraídos
de Frasca et al. 2010, Abdallah et al. 2013) .................................................................... 27
Figura 3: Aspecto de campo do Bloco Crustal Cavalcante-Natividade: a) biotita
migmatito com dobras com eixo sub-horizontal, com dique pegmatítico discordante (seta
preta); d) dique pegmatítico em biotita gnaisse discordantes do bandamento estromático
(seta preta). c) Biotita migmatito, rb - ribbons de quartzo, bm - bandamento máfico
marcado por biotita e epidoto, Plg - porfiroclastos de plagioclásio; d) plagioclásio em
BM, inclusões de quartzo, epidoto (seta branca) e biotita (seta clara), mx – matriz....... 28
Figura 4: a) bandamento gnáissico; b) Porfiroclasto de plagioclásio com bordas de
crescimento (seta branca) em BG, a esquerda matriz (mx) recristalizada por SGR e GMB;
c) Mirmequita (seta branca) em BG, e no canto inferior esquerdo migração de borda
(setas pretas); d) feldspato alcalino em substituição para muscovita, alteração
sericítica........................................................................................................................... 30
Figura 5: a) estratificação plano paralela; b) fotomicrografia dos quartzitos, laminas de
muscovita (seta cinza) ..................................................................................................... 31
Figura 6: Aspecto de campo do Maciço de Goiás: a) migmatito estomático com selvedge
de biotita (seta branca) e leucossoma de migração em dique pegmatítico (seta preta); b)
selvedge de biotita (seta branca) e leucossoma com porfiroclastos rotacionados (seta
preta); c) orientação de biotita marcando a foliação S4 (setas pretas), feldspato alcalino
com inclusões de quartzo globular (setas brancas); d) ao centro: mimerquita vermicular, a
esquerda, migração de borda (setas pretas), cristalização de melt em junção tríplice (seta
cinza); e) fratura em shear band (seta branca) em plagioclásio com maclas deformadas; f)
muscovita gnaisses com textura granolepidoblásticas..................................................... 32
Figura 7: a) estaurolita-granada-muscovita xistos com porfiroblasto de granada em
matriz micácea marcando a xistosidade b) porfiroblastos de granada e estaurolita com
trilas de inclusão em granada; c) detalhe de estaurolita com foliação relíquiar dobrada; d)
cianita-granada-biotita xistos matriz micácea com porfiroclasto de granada e) inclusão de

iv
estaurolita (St), em granada; f) Textura coronitíca em estaurolita; g) Cianita em truncated
fish com matriz lepidoblástica; h) Fibrollita em muscovita-biotita-silimanita
gnaisses............................................................................................................................ 35
Figura 8: Diagramas classificatórios. A) diagrama AFM de Irvine e Baragar (1971); B)
Diagrama SiO2 vs K2O de Peccerillo e Taylor (1976) C) Barker e Arth (1976)
modificado por Moyen (2011), CA - trens cálcio-alcalino, Tj - trend trondjemitico; D)
classificação por mineral normativo de O’ Connor (1965); E) índice de alumina saturação
com campo dos granitos tipo S (Frost et al., 2001) ......................................................... 39
Figura 9: Diagramas binários de elementos maiores, menores e traços......................... 40
Figura 10: gráficos de elementos menores a) classificação quanto a fonte por Pearce et
al. (1984) demostra a afinidade para rochas de arco vulcânico; b) Moyer (2011) diagrama
Sr/Y e La/Yb para diferentes magmas TTG, alta pressão (HP), média pressão (MP), baixa
pressão (LP) e granitos potássicos; c) Amostra vs. Manto Primitivo segundo Sun e
McDonough (1989), para elementos incompatíveis. Campo cinza corresponde a
composição média a 1σ para TTG paleoproterozóico segundo Condie (2005); d)
elementos terras raras normalizados por condrito (Boynton, 1984), campo em cinza
pertence a composições de TTG s.s. e campo preto a outros gnaisses cinzas, segundo
Moyen e Martin (2012) ................................................................................................... 41
Figura 11: Figura 11: Imagem de catodoluminescência dos zircões: em azul, zircões
usados para o diagrama concórdia; em vermelho, zircões analisados com confiança >
95%; em amarelo idade concordante; em branco dado com confiança
<95%................................................................................................................................ 42
Figura 12: Diagrama concórdia para as idades U-Pb, acima idades Pb/Pb, abaixo relação
com idades Pb/Pb e razão Th/U, evidencia da origem ígnea das idades U/Pb................ 44

v
Lista de Tabelas

CAPÍTULO 2 – ARTIGO SUBMETIDO A SERIE CIENTIFICA DA USP

Tabela 1: Dados litoquímicos dos gnaisses da região de São Valério da Natividade


(elementos maiores e menores expressos em % peso e traços em ppm)......................... 38
Tabela 2: Dados de isótopos de U-Pb de zircões do biotita gnaisse (Bloco Crustal
Cavalcante-Natividade) da região de São Valério da Natividade.................................... 43

vi
Resumo

A geologia da região de São Valério da Natividade no estado de Tocantins está


relacionada ao Maciço de Goiás e ao Bloco Cavalcante Natividade, ambos relacionados
ao embasamento da Faixa Brasília. A área de estudo é constituída dominantemente por
rochas Paleoproterozóicas em complexos gnáissicos ortoderivados de composição
granodiorítica a tonalítica e migmatitos. Localmente, ocorrem xenólitos de xistos
metapelíticos, com porfiroblastos de granada e estaurolita, gnaisses paraderivados e
quartzitos. Os gnaisses ortoderivados apresentam um bandamento contínuo com
orientação NE e mergulhos subverticais, enquanto os migmatitos são representados por
metatexitos formados em regime compressional e sob influência de zonas de
cisalhamento. A xistosidade dos metapelitos é paralela à dos gnaisses e sua associação
mineralógica registra um pico metamórfico da fácies anfibolito com retrometamorfismo
da fácies xisto verde. Com base nas foliações internas dos porfiroblastos de estaurolita
dos metapelitos foi possível identificar duas fases de deformação dúctil, além de uma
terceira fase marcada pela xistosidade e pelo bandamento gnássico, essas unidades
apresentam uma quarta fase de deformação, de caráter rúptil. A composição química dos
gnaisses ortoderivados sugere protólito granodiorítico, com características de suítes TTG
cálcio-alcalinas, contribuição de fusão parcial de fontes tipo MORB, no bloco crustal
Cavalcante-Natividade, e retrabalhamento crustal nos gnaisses do Maciço de Goiás. Os
dados geocronológicos U-Pb de gnaisse ortoderivado em diagrama concórdia apresentam
um intercepto superior de 2229±13 Ma, interpretado como idade do protólito, e um
intercepto inferior de 614±85 Ma, interpretado como a idade do último evento
metamórfico. Idades de cristalização semelhantes foram obtidas para o Domínio Almas-
Conceição do Tocantins, também relacionadas a suítes TTG cálcio-alcalinas (Suíte
Almas-Dianópolis). A idade do metamorfismo é compatível com as idades estimadas
para o Ciclo Brasiliano-Pan Africano na Faixa Brasília.

Palavras-Chave: Faixa Brasília Norte; Gnaisses paleoproterozóicos; Fácies anfibolito

vii
Abstract

The geological context of the São Valério da Natividade region in the Tocantins state
consist of the Goiás Massif and the Cavalcante-Natividade Crustal Block, both related to
the Brasília Belt basement. The studied area is composed mainly by Paleoproterozoic
rocks such as orthogneisses of granodioritic and tonalitic composition and migmatites.
Xenoliths of metapelitic schists with garnet and staurolite porphyroblasts, psamitic
gneisses and quartzites occur locally. Orthogneisses show a continuous banding with NE
direction and subvertical deeps and the migmatites consist of metatexites formed under
compressional regime and shear zones. The metapelite schistosity is concordant to the
gneisses and its mineralogical association record a metamorphic peak of the upper
amphibolite facies with a green schist facies retrometamorphism. Based on the internal
foliation of the staurolite, two ductile deformational phases were identified and the third
phase is marked by the schistosity and the gneissic banding. A fourth deformational
phase, of brittle character, can also be observed The chemical composition of the
orthogneisses suggests a granodioritic protholith with affinity with TTG calc-alkaline
suites, crustal reworking and contribution of MORB sources, the crustal block
Cavalcante-Natividade, and crustal reworking in the Goiás Massif gneisses.
Geochronological data (U-Pb LA-ICP-MS) of the orthogneiss show, in the concordia
diagram, an upper intercept of 2229±13 Ma, interpreted as the protholith age of
crystallization, and a lower intercept of 614±85, interpreted as the metamorphism
younger age. Similar crystallization ages were obtained in the Almas-Conceição Domain,
also related to calc-alkaline TTG suites (Almas-Dianópolis Suite). The metamorphism
age is consistent with the Brazilian-Pan African Cycle in the Brasília Belt.

Keywords: North Brasília Belt, Paleoproterozoic gneisses, amphibolite facies.

viii
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do tema

A presente dissertação consiste no estudo petrográfico, litoquímico e geocronológico do


embasamento da Faixa Brasília na região de São Valério da Natividade, município localizado
no sudeste do Estado de Tocantins. A geologia é composta pelo embasamento da Faixa
Brasília, formado por gnaisses e migmatitos com xenólitos pelíticos, recobertos por rochas
psamíticas da Bacia do Araí.

Segundo Drago et al. (1989) o embasamento é composto por granodioritos gnáissicos a


migmáticos, e pertencentes a suítes TTG calci-alcalinas paleporteozoicas ricas em biotita
(Delgado et al., 2003), associados a Faixa Brasília. A Faixa Brasília compõe a porção oeste da
Província Tocantins, cujo a origem é relacionada ao ciclo Neoproterozóico Brasiliano-Pan-
Africano (850-500 Ma). A área de trabalho pertence a porção Norte da Faixa Brasília (Fuck et
al., 2014), e está localizada na região limite entre dois grandes Domínio: o Domínio
Cavalcante-Arrais a leste, pertencente ao Bloco Crustal Cavalcante-Natividade; e Domínio
Campinorte, a oeste, pertencente ao Maciço de Goiás (Fuck et al., 2014, Cordeiro et al., 2014,
Praxedes, 2015). O domínio Cavalcante-Arrais é sobreposto, em sua maior parte, por
sedimentos psamíticos pertencentes a uma bacia tipo rift paleoproterozoica, denominados de
Grupo Araí (Frasca et al. 2010).

Os resultados desta dissertação são apresentados na forma de artigo científico, e está


estruturada conforme as normas do Programa de Pós-Graduação em Geociências da
Universidade Federal de Mato Grosso, composta por quatro capítulos, onde o primeiro traz
uma abordagem sobre a problemática e relevância do tema, objetivos, localização da área de
estudo, materiais e métodos e, finalmente, o contexto geológico regional. No capítulo 2,
consta o artigo submetido ao Serie Cientifica da USP, intitulado “PETROGRAFIA DAS
ROCHAS METAMÓRFICAS DA REGIÃO DE SÃO VALÉRIO DA NATIVIDADE (TO) E
LITOQUÍMICA E GEOCRONOLOGIA DOS GNAISSES”. As considerações finais
encontram-se no capítulo 3 e as referências bibliográficas no capítulo 4.

1.2 Problemática e Relevância

9
A região sudeste do Estado de Tocantins é palco de discussões a respeito da evolução e
seu envolvimento na formação da Faixa Brasília e sua respectiva relação com o Cráton São
Francisco. A compreensão das fases de metamorfismo e seus respetivos graus de evolução em
um terreno polifásico e ainda mal compreendido, sendo o objetivo desse trabalho relacionar as
fases a respetivas faces metamórficas correspondentes a determinados domínios, e a relação
com prováveis eventos relacionáveis as estas unidades. Em consideração ao caráter limitado
da área desde trabalho, o mesmo, não tem como objetivo principal, sanar todas as dúvidas
com relação a terrenos complexos e extensões aos qual essas rochas pertencem, mas
contribuir para o enriquecimento do conhecimento local ao passo de atualizar e contribuir ao
conjunto de dados relacionados a estes domínios, sobre a evolução metamórfica, geoquímica
e geocronológica das unidades encontradas explorando técnicas petrográficas,
litogeoquímicas e geocronológicas.

1.3 Objetivos

O objetivo é detalhar as fases e faces metamórficas presentes nas unidades do


embasamento da Faixa Brasília Norte, composta por gnaisses e xenólitos pelíticos,
encontradas na região em foco, bem como as estruturas e texturas expressas pelos dados de
campo e petrografia, bem como dados litoquímicos e geocronológicos (U/Pb).

1.4 Localização e vias de acesso

A região estudada localiza-se na porção sudeste do Estado de Tocantins, no município de


São Valério da Natividade, a 1400 km da capital de Mato Grosso, Cuiabá. Contextualizada na
Folha SC 21 ocupando parte da porção norte da Província Tocantins.

O acesso à área, a partir da capital Cuiabá, se faz através da BR-070 até a BR-153 já no
estado de Goiás, tomando o sentido norte. Já no estado de Tocantins, próximo a cidade de
Alvorada toma-se, no sentido leste, a TO- 248 até o município de São Valério da Natividade
em Tocantins (fig. 1). A área é acessada, em porção norte pela TO-248, e de sul a norte pela
estrada para Paranã (TO-490), sem pavimentação, as demais porções são acessadas através de
estradas vicinais (fig. 2).

10
Figura 1: Mapa de Localização e vias de acesso do município de São Valério da Natividade - TO, imagens de
OpenStreetMap.

1.5 Materiais e Métodos

A pesquisa se desenvolve em etapas formuladas para a realização de coleta de dados e


processamento e interpretação, tais etapas são descritas nos subtítulos a seguir.

1.4.1 Etapa Preliminar

Esta etapa consiste em revisão bibliográfica aplicada a revisão de metodologia ao qual


destina-se a aplicação de métodos de analises, revisão bibliográfica da região e compilação
dos dados geológicos disponíveis sobre a área. Além da revisão bibliográfica, foram
11
utilizados imagens e dados georreferenciadas, para composição da base cartográfica de
localização e previa seleção de possíveis afloramentos, através de interpretação fotogeológica.

1.4.1.1 Revisão Bibliográfica

A revisão bibliográfica explorou toda a literatura acessível aos portais públicos, livros e no
portal de periódicos da CAPES, envolvendo a área em estudo, bem como as técnicas
aplicáveis as unidades previamente encontradas na literatura.

1.4.1.2 Interpretação Fotogeológica

Os sensores remotos de domínio público encontrados no portal do Serviço Geológico


Americano (USGS), em sensores LANDSAT - 8, SRTM (Suttle Radar Topography Mission),
imagem dos sensores CERB encontrado no portal no INPE (Instituto Acional de Pesquisas
Espaciais), processados através de softwares gestores de SIG (sistema de Informação
Geográfica), seja Qgis, Argis e Google Earth. Os produtos gerados através desses dados são
usados para elaborar mapas de vias de acessos e localização, bem como previa localização de
possíveis alvos e possível domínios litológicos através de zonas homologas definidas por
critérios de reconhecimentos de feições estruturais, texturas, geomorfológicas e padrões de
drenagens. Em etapas posteriores esses dados são integrados aos demais dados, seja com
dados da etapa de campo, onde são usados para confecção de mapa esquemático geológico,
para representar a distribuição e localização das unidades encontradas, ao qual são formuladas
através da integração dos demais dados, bibliografia, litoquimica, petrografia e geocronologia.

1.4.2. Etapa de Aquisição de Dados

A etapa de aquisição consistiu no processo de obtenção de dados determinados por


trabalhos de campo e de laboratório.

1.4.2.1 Trabalhos de Campo

Realizado no período de março de 2015 onde foram encontrados 11 afloramentos


representativos (fig. 2), ao qual a amostragem de campo culminou em 68 amostras de rocha.
Após seleção preliminar ainda em campo, esse material é destinado as etapas seguintes de
12
laboratório, como as etapas de litogeoquimica, geocronologia e petrografia. Além das
amostras, dados de descrição macroscópica e estruturais são envolvidas na determinação de
texturas e estruturas macroscópicas determinantes para a classificação dos litotipos, bem
como dos processos metamórficos envolvidos em sua evolução.

Figura 2: Mapa de Localização de Afloramentos da área estudada (imagens BingMaps)

1.4.2.2 Trabalhos de Laboratório

Consiste em revisão, em primeiro passo, em aprofundar e revisar a descrição macroscópica,


com o propósito de refinar a seleção previa de amostras, elaborada em campo, no intuito de
selecionar as amostras, seguindo critérios de representatividade, grau de preservação e qualidade,
com finalidade de suprir a demanda por amostras das etapas que envolvem análise laboratorial, no
qual são descritas nos itens a seguir.

Análises Petrográficas

Foram confeccionadas 62 lâminas delgadas, de 30 amostras, distribuídas em 42 gnaisses e


migmatitos, 12 xenólitos pelíticos e 10 quartzitos. A laminas foram confeccionadas no
Laboratório de Laminação da Faculdade de Geociências - UFMT, com exceção de 5 laminas
de xenólitos confeccionadas no Laboratório de Laminação no Departamento de Geologia na
Universidade Federal de Ouro Preto. A descrição microscópica foi realizada com auxílio de
13
microscópio binocular modelo BX41 marca Olympus, localizado no Laboratório de
Microscopia, na Faculdade de Geociências - UFMT. O estudo petrográfico focou na descrição
da assembleia mineralógica e feições texturais das amostras. As fotomicrografias foram
adquiridas utilizando-se um aparelho modelo Fugitsu General Limitad acopladas ao
microscópio.

Análises Geoquímicas
São selecionadas 11 amostras para a analises litoquímicas, britadas manualmente com
auxílio de marretas e posteriormente pulverizadas no Laboratório Multiusuário de Técnicas
Analíticas (LAMUTA) da Faculdade de Geociências - UFMT, com o uso de um moinho de
disco da Marca AMEF modelo AMP1-S com panela de carbeto de tungstênio, com ciclos de
100 segundos, utilizando o sistema pneumático e motor de alta rotação acoplado a um
compressor de ar da marca Schulz com pressão máxima de 8Pa.

Os resultados obtidos através das análises efetuadas pelo laboratório da Australian


Laboratory Services-ALS BRASIL CHEMEX, para quantificar os elementos maiores
expresso em mols de oxido por porcentagem em peso (SiO2, TiO2, Al2O3, Fe2O3, MnO, CaO,
Na2O, K2O, Cr2O3, MgO e P2O5, SrO e BaO), e menores são expressos em parte por milhão
(Ba, Rb, Sr, Zr, Y, Zr, Y, Hf, Nb, Ga, Ta, Th, Cr, Cs, U, V, W, Sn, La, Ce, Pr, Nd, Sm, Eu,
Gd, Tb, Dy, Ho, Er, Tm, Yb e Lu), cujos dados foram obtidos pelo método ICP-MS.

Análises Geocronológicas
Para análise geocronológica, pelo geocronometro U-Pb, foi selecionada uma amostra de
gnaisses no afloramento MG-04, previamente preparada no laboratório de preparação de
amostras do DRM-UFMT, com britagem manual com auxílio de marreta seguido de moagem
em moinho de disco, e peneiramento nas frações 63, 90 e 250 mesh. As frações passam por
remoção dos minerais magnéticos com a utilização de ímã.

As frações são enviadas ao Laboratório de Estudos Geocronológicos, Geodinâmicos e


Ambientais do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília-UnB. A amostra passa
por processo de batiamento manual, ao obter o concentrado de minerais pesados, segue para o
separador magnético Frantz. A concentrado em seguida segue para lupa onde foram
selecionados 100 (cem) grãos de zircão com o auxílio de lupa binocular, sendo que 50 deles
foram concentrados para confecção dos mount, seguido de polimentos, utilizando pasta de

14
diamante de 3 a 1 μm de diâmetro, após o polimento o mount limpos com ultrassom em
HNO3 a 3% e água purificada.

A análise foi realizada pelo método MC-ICP-MS Lasers Ablation (Multi-collector


inductively coupled plasma mass spectrometry) em um aparelho modelo Thermo Finnigan
Neptune acoplado a um sistema laser New Wave de 213 μm Nd-YAG, para obtenção de
isótopos de U-Pb, segundo os preceitos formulados por Buhn et al. (2009). Os
posicionamentos do feixe do laser durante a fase de ablação, é auxiliado por imagens de
catodoluminescência (CL), obtidas por microscópico eletrônico de varredura.

1.4.3. Etapa de Tratamento e Sistematização dos Dados

Esta etapa consiste no tratamento dos dados coletados nas etapas anteriores, desde a etapa
preliminar a etapas de laboratório, onde é elaborado a selecionados os dados qualitativos e
representativos e seu refinamento, obedecendo a parâmetros e metodologias encontrados na
revisão bibliográficas, com o auxílio de softwares, como Argis e Qgis para dados vetoriais
georeferenciados, Excel com extensão Isoplot, para dados geocronológicos, GCDKit 4.0 e
Excel para os dados geoquímicos, e Infinit Capture e Adobe Illustrator para fotomicrografias.
Os dados foram integrados e sumarizados em artigo cientifico e nesta dissertação com auxílio
de Microsoft Word.

1.6 Contexto Geológico Regional

A geologia da região de São Valério da Natividade pertence à porção nordeste da


Província Tocantins, e envolve o embasamento paleoproterozóico da Faixa Brasília Norte,
formado pelo Bloco Crustal Cavalcante-Natividade e Maciço de Goiás, recobertos por
sedimentos psamíticos paleo a mesoproterozoicos e com intrusões de granitoides
neoproterozoicos do Arco Magmático de Goiás.

A Província Tocantins (Almeida et al., 1981) teve sua origem durante o


Neoproterozóico, pela convergência dos crátons Amazônico, São Francisco e Paranapanema,
formando um sistema de erógenos composto por três faixa orogênicas: Faixa Araguaia a
noroeste, Faixa Brasília a leste e sudeste, e Faixa Paraguai a oeste (Fig. 3).

15
1.5.1 Faixa Brasília

A Faixa Brasília é formada na borda oeste do Cráton São Francisco, e se estende por
aproximadamente 1000 Km em direção norte-sul, sendo composta por unidades arqueanas,
embasamento e bacias paleo a mesoproterozoicas, e arcos juvenis neoproterozoicos. Em
relação aos ramos principais, pode ser dividida em: Faixa Brasília extremo sul (Fig. 3), com
orientação E-W; centro-sul de direção NNW-SSE, ao qual e segmentada da porção norte, pela
sintaxe dos Pirineus, cujo as direções NNE-SSW (Fuck et al. 2014). Em relação aos diversos
estilos estruturais Fuck et al. (2014) segmenta em zona externa e zona interna.

Figura 3: Mapa da Província Tocantins, suas faixas orogênicas (modificado de Delgado et al. 2003) e divisão da
Faixa Brasília (modificado de Delgado et al. 2003 e Fuck et al. 2014)

A zona Externa é marcada por espessar coberturas sedimentar de margem passiva, em


sistema de fold-and-thrust belt, sob baixo grau metamórfico, em fácies xisto verde. A norte,
áreas de finas sequencias metassedimentares dobradas, dão espaço á grandes áreas de
embasamento sialicos, juntas com raras sequencias vulcanossedimentares, considerado como
Bloco Crustal Cavalcante-Natividade.

16
Zona interna é constituída: Núcleo Metamórfico formado por terrenos de alto grau,
complexo granulítico Anápolis-Itauçu, separado por falhas de com coberturas
neoproterozoicas de baixo grau (Grupo Araxá), e sequencias ofiolíticas remanescentes.
Maciço de Goiás formado por terrenos granito-greenstone arqueanos e ortognaisses
paleoproterozoicos, recobertos por metassedimentos e sequencias máfica-ultamáfica
acamadada do meso a neoproterozoicos. E por fim o Arco Magmático de Goiás, considerado
como um terreno neoproterozoico de arco juvenil.

A área deste trabalho está relacionada ao norte da porção norte da Faixa Brasília (Fig. 4),
ao qual, a zona externa é composta pelo embasamento (Bloco Crustal Almas-Cavalcante)
recoberto por sedimentos da Bacia do Araí. A zona interna é constituída pelos Maciço de
Goiás. O limite entre a zona externa e interna e marcada pela Zona de Cisalhamento Rio
Maranhão (ZCRM), essas unidades são descritas nos itens a seguir.

1.5.1.1 Maciço Goiás


O Maciço de Goiás e formado por terrenos granitos-greenstone arqueanos e granitoides
paleoproterozoicos, dividido em Domínio Crixás-Goiás, a sudoeste, composto por sequências
komatiítos arqueanos e sequencias tipo greenstone e metassedimentos paleproterozóico; e
Domínio Campinorte, a norte, dominado pelas sequencias metavulcanossedimentares e
metagranitos da suíte Pau de Mel juntamente com granito-gnaisse, milonitos félsicos e
ultramilonitos paleoproterozóicos (Cordeiro et al., 2014).
O Domínio Campinorte é formado um arco paleopretorozoico marcado pela sequência
metavulcanossedimentar Campinorte, suíte Pau de Mel, juntamente com granito-gnaisse e
milonitos félsicos, ultramilonitos e granulitos paleoproterozóicos (Cordeiro, 2014). A
sequência metassedimentar Campinorte é dominada por quartzo-muscovita xisto, quartzitos e
lentes de gondito, com raras metavulcanicas associadas, cujo as idades, em metatulfo felsico e
de 2179+4Ma, e com um máximo deposicional de 2,2 Ga (Giustina et al, 2009). Intrusiva
nessa sequência a Suíte Pau de Mel é formada por metagranitos, metatonalitos e
metagranodioritos com idades entre 2,17 e 2,07 Ga com idades modelo Sm-NdTDM entre 2.1 e
2.4 Ga.
Os gnaisses graníticos e granodioríticos encontrados no município de São Valério da
Natividade, segundo Fuck et al. (2014) pertencentes ao Maciço de Goiás, e, portanto,
representando sua extensão a norte, apresentam idades do protólito ígneo por U-Pb de 2143 ±

17
11 Ma, e Sm-Nd (TDM) 2,46 Ga, como idade da fonte, o que implica em retrabalhamento de
crosta Arqueana.

Figura 4: Faixa Brasília Norte e domínios do Bloco Crustal Cavalcante Natividade e Maciço de Goiás,
modificado de Fuck et al. 2014 e Cordeiro et al. 2015.

Os paragranulitos e granulitos máficos marcam um pico metamórfico entre 2,11 a 2,09 Ga,
encerrando o ciclo de formação do Maciço de Goiás (Cordeiro, 2014). Já as idades em
granulito do Complexo Barro Alto marcam um pico metamórfico neoproterozoico, com
idades 750 Ma (Guistina et al. 2009), o que é registrado no intercepto inferior de idades U-Pb
em zircões de meta-ígneas da região (Cordeiro, 2014; Oliveira, 2015). Essas idades são
relacionadas a um retrabalhamento neoproterozoico e uma possível colagem do domínio
Campinorte ao Domínio Cavalcante-Arrais.

18
1.5.1.2 Bloco Crustal Cavalcante-Natividade

O Bloco Crustal Cavalcante-Natividade (CN) é dividido em Domínio Almas-Conceição


do Tocantins (Grupo Riachão do Ouro e Suíte Almas-Dianópolis) e Domínio Cavalcante-
Arrais (Suíte Aurumina e Formação Ticunzal), ambos recobertos em sua porção extremo
norte pelo Grupo Natividade (Praxedes, 2015) e a mais ao sul, desse domínio, pelo Grupo
Araí (Cordeiro et al., 2014).
Domínio Almas-Conceição do Tocantins é formado por uma associação de granitos
gnaisses associados as rochas supracrustais com anfibolitos, basaltos, sericita e clorita filitos,
formação ferrífera bandada e tufos félsicos localizado em torno dos granitos gnaisses. Duas
suítes de granitos cálcio-alcalinos, são encontradas a mais antiga forma uma suíte de baixo Al
com tonalito, trondhjemito, granodiorito e quartzo diorito rico em hornblenda, com idades
entre 2,3 Ga, e a mais jovem de tonalito e granodiorito ricos em biotita e de alto-Al, com
idades entre 2,18 e 2,14 Ga (Fuck et al. 2014).
Domínio Cavalcante-Arrais é formado pela Suíte Aurumina formada por metagranitos
peraluminosos associados a metassedimentos representados por grafita xisto e paragnaisses da
formação Ticunzal, associados a essa formação é comum a presença de granitos peraluminoso
de caráter sin-colisional (Cordeiro et al., 2014), relacionado a Suíte Aurumina, cujo idades U-
Pb LA-ICPMS realizadas em metatonalitos, revelam idades de cristalização magmática 2172
± 16 Ma (Praxedes, 2015). Segundo Marques (2009), essa suíte se restringe ao Terreno Jaú-
Cavalcante, análogo ao Domínio Cavalcante-Arrais (Fuck et al. 2014), a sul da Falha de
Paranã, limitando sua extensão a norte, fora da área alvo deste trabalho. Contudo Abdallah &
Rodrigues (2014), relacionam uma suíte de granitos peraluminosos com idades U-Pb LA-
ICPMS de 2265±9,6 Ma como idade de cristalização, cujo as idades da fonte são de 2456±6
Ma, relaciona a Suíte Granítica Ribeirão Areias, associada a um arco intraoceânico por
Cordeiro (2014).

1.5.1.3 Grupo Araí

O Grupo Araí é relacionado a uma bacia do tipo rift do final do Paleoproterozóico,


constituída por rochas supracrustais e vulcanismo bimodal intraplaca (Alvarenga et al., 2007),
em ambiente plataformal e continental (Marques, 2010) desenvolvida entre aproximadamente
1,8 e 1,6 Ga, ambas metamorfizadas em fácies xisto verde inferior. Segundo Alvarenga et al.

19
(2007) é dividida em duas formações, Arrais e Traíras, enquanto Marques, (2010) define três
sequencias.
Formação Arraias na fase sin-rift formada por arenitos, conglomerados, sequencias de
leques aluviais, arenitos fluviais e vulcanismo bimodal, segundo Alvarenga et al., (2007).
Enquanto Marques (2010), define as três sequencias: sedimentação continental, pré rift, com
conglomerado polímiticos, quartzitos eólicos e conglomerados oligomítcios, seguido de uma
sequência sin rift, formado por metapiroclásticas líticas. A sequência transicional de caráter
marinho e continental com intercalações de quartzitos, conglomerados oligomíticos e
localmente metagrauvaca, seguido por quartzitos, metapelitos e subordinadamente
conglomerado oligomítico, e por fim uma sequência pós rift (Formação Traíras) de plataforma
marinho silico-carbonatada com granodecrescência ascendente. Já Alvarenga et al., (2007)
define a Formação Traíras como conjunto heterolítico de siltitos estratificados e arenitos, em
ambiente marinho raso e transicional.

20
CAPÍTULO 2
ARTIGO SUBMETIDO A SERIE CIÊNTIFICA DA USP
PETROGRAFIA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS DA REGIÃO DE SÃO VALÉRIO DA
NATIVIDADE (TO) E LITOQUIMICA E GEOCRONOLOGIA DOS GNAISSES.
PETROGRAPHY OF METAMORPHIC ROCKS OF THE SÃO VALÉRIO DA NATIVIDADE (TO)
REGION AND LITHOCHEMISTRY AND GEOCHRONOLOGY OF GNEISSES
Gilliard Medeiros Borges ˡ, Ronaldo Pierosan ², Rubia Ribeiro Viana3.
ˡ Programa de Pós-Graduação em Geociência, Faculdade de Geociências, Universidade Federal de
Mato Grosso – UFMT – Cuiabá (MT) E-mail: gilliardgeo@gmail.com
² Faculdade de Geociências, Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT – Cuiabá (MT). E-mail:
ronaldo.pierosan@yahoo.com.br;
3 Instituto de Ciências e Tecnologia, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri –
UFVJM – Diamantina (MG). E-mail: rubia.viana@ ict.ufvjm.edu.br

RESUMO
A geologia da região de São Valério da Natividade no estado de Tocantins está relacionada ao
Maciço de Goiás e ao Bloco Cavalcante Natividade, ambos relacionados ao embasamento da
Faixa Brasília. A área de estudo é constituída dominantemente por rochas Paleoproterozóicas
que consistem de complexos gnáissicos ortoderivados de composição granodiorítica a
tonalítica e migmatitos. Localmente, ocorrem megaxenólitos de xistos metapelíticos, com
porfiroblastos de granada e estaurolita e gnaisses de origem psamítica e quartzitos. Os
gnaisses ortoderivados apresentam um bandamento contínuo com orientação NE e mergulhos
subverticais, enquanto os migmatitos são representados por metatexitos formados em regime
compressional e sob influência de zonas de cisalhamento. A xistosidade dos metapelitos é
paralela à dos gnaisses e sua associação mineralógica registra um pico metamórfico da fácies
anfibolito superior com retrometamorfismo da fácies xisto verde. Com base nas foliações
internas dos porfiroblastos de estaurolita dos metapelitos foi possível identificar duas fases de
deformação dúctil, além de uma terceira fase marcada pela xistosidade dos mesmos e pelo
bandamento gnássico. Uma quarta fase de deformação, de caráter rúptil, também pode ser
observada. A composição química dos gnaisses ortoderivados sugere protólito granodiorítico,
com características de suítes TTG’s cálcio-alcalinas, contribuição de fusão parcial de fontes
tipo MORB, no bloco crustal Cavalcante-Natividade e retrabalhamento crustal nos gnaisses
do Maciço de Goiás. Os dados geocronológicos U-Pb de gnaisse ortoderivado em diagrama
concórdia apresentam um intercepto superior de 2229±13 Ma, interpretado como idade do
protólito e um intercepto inferior de 614±85 Ma, interpretado como a idade do metamorfismo
mais jovem. Idades de cristalização semelhantes foram obtidas para o Domínio Almas-
Conceição do Tocantins, também relacionadas a suítes TTG’s cálcio-alcalinas (Suíte Almas-
Dianópolis). A idade do metamorfismo é compatível com as idades estimadas para o Ciclo
Brasiliano-Pan Africano na Faixa Brasília.
PALAVRAS-CHAVES: Faixa Brasília Norte; Gnaisses paleoproterozóicos; Fácies anfibolito.

21
ABSTRACT
The geological context of the São Valério da Natividade region in the Tocantins state consist
of the Goiás Massif and the Cavalcante-Natividade Crustal Block, both related to the Brasília
Belt basement. The studied area is composed mainly by Paleoproterozoic rocks such as
orthogneisses of granodioritic and tonalitic composition and migmatites. Xenoliths of
metapelitic schists with garnet and staurolite porphyroblasts, psamitic gneisses and quartzites
occur locally. Orthogneisses show a continuous banding with NE direction and subvertical
deeps while the migmatites consist of metatexites formed under compressional regime and
shear zones. The metapelite schistosity is concordant to the gneisses and its mineralogical
association records a metamorphic peak of the upper amphibolite facies with a green schist
facies retrometamorphism. Based on the internal foliation of the staurolite, two ductile
deformational phases were identified and the third phase is marked by the schistosity and the
gneissic banding. A fourth deformational phase, of brittle character, can also be observed The
chemical composition of the orthogneisses suggests a granodioritic protholith with affinity
with TTG calc-alkaline suites, crustal reworking and contribution of MORB sources, the
crustal block Cavalcante-Natividade, and crustal reworking in the Goiás Massif gneisses.
Geochronological data (U-Pb LA-ICP-MS) of the orthogneiss show, in the concordia
diagram, an upper intercept of 2229±13 Ma, interpreted as the protholith age of
crystallization, and a lower intercept of 614±85, interpreted as the metamorphism younger
age. Similar crystallization ages were obtained in the Almas-Conceição Domain, also related
to calc-alkaline TTG suites (Almas-Dianópolis Suite). The metamorphism age is consistent
with the Brazilian-Pan African Cycle in the Brasília Belt.
KEYWORDS: North Brasília Belt, Paleoproterozoic gneisses, amphibolite facies.

1 - INTRODUÇÃO
A área de estudo se encontra no sudeste do Estado de Tocantins, próximo a cidade de
São Valério da Natividade. Esta região está geologicamente inserida na Província Tocantins
(Almeida et al., 1981), composta por três faixas orogênicas: Paraguai, Araguaia e Brasília;
localizadas entre os Crátons São Francisco, Amazônico e Paranapanema. Correspondente a
porção norte da Faixa Brasília, a área é cortada pela Zona de Cisalhamento Rio Maranhão
(ZCRM), que delimita o Maciço de Goiás e o Bloco Crustal Cavalcante-Natividade (Fuck et
al., 2014) ao qual é fortemente influenciada por esse sistema de falhas, reativado no
Neoproterozóico (Frasca et al., 2010).
Segundo Drago et al. (1981), a área é constituída por biotita gnaisses de composição
granítica e migmatitos, contendo quartzo, feldspato alcalino, plagioclásio e biotita.
Recentemente, os trabalhos desenvolvidos nos gnaisses graníticos e granodioríticos
encontrados no município de São Valério da Natividade apontam uma idade do protólito
ígneo por U-Pb de 2143±11 Ma e idade modelo Nd de 2,46 Ga, relacionadas ao
retrabalhamento de crosta Arqueana, associados ao Maciço de Goiás (Fuck et al., 2014).
Trabalhos anteriores (Delgado et al., 2003; Frasca et al., 2010) relacionavam os gnaisses à
faixa móvel paleoproterozóica Dianópolis-Silvânia, ao qual compõem o Complexo Almas-
Cavalcante (Abdallah e Rodrigues, 2014). Esta faixa móvel é relacionada a colagens de arcos

22
de origem primitiva ainda no paleoproterozóico (Delgado et al., 2003; Frasca et al. 2010;
Abdallah e Rodrigues, 2014; Cordeiro, 2014). Contudo, outros autores (Fuck et al., 2014;
Marques, 2009), afirmam que a convergência desses blocos ocorre apenas no
neoproterozoico, durante a formação da Faixa Brasília. É consenso entre estes autores a
reativação de estruturas pretéritas em eventos metamórficos, ocorridas no Neoproterozóico,
relacionada à ZCRM e ao Lineamento Transbrasiliano (LT).
A região estudada ainda é alvo de muita controvérsia relacionada à sua evolução, às
fases metamórficas, disposição e correlação temporal dos eventos tectônicos ocorridos, fatos
que motivaram o desenvolvimento desse trabalho. Assim, esse trabalho utiliza de análises
litoquímicas, técnicas petrográficas em microtectônica, caracterização da associação mineral e
dados geocronológicos U-Pb, na tentativa de elucidar algumas dessas questões, especialmente
no que diz respeito a formação e evolução do embasamento na região e a da evolução
metamórfica dos litotipos encontrados nas proximidades da cidade de São Valério da
Natividade.

2 - MÉTODOS
As amostras e dados estruturais foram coletados em trabalho de campo, guiados por
mapas, confeccionados a partir de interpretações de imagens de satélite com sensores
LANDSAT-8 e SRTM, disponível no portal do serviço geológico dos Estados Unidos da
América (USGS) e base cartográfica e geológica da Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais - Serviço Geológico do Brasil (CPRM), cartas Gurupi SC.22-Z-D e Alvorada
SD.22-X-B, sumarizados pelo software Qgis 2.8.2. O produto dessa integração de dados é o
mapa esquemático geológico em escala 1:100.000.
Um total de sessenta e quatro lâminas delgadas foram confeccionadas a partir de
amostras de rocha coletadas em 11 pontos (MG01-11). A preparação das laminas se deu no
Laboratório Laminação no Departamento de Recursos Minerais na Universidade Federal de
Mato Grosso.
As análises litoquímicas dos gnaisses foram obtidas no laboratório ALS CHEMEX. Os
elementos maiores foram analisados por emissão atômica por plasma acoplado indutivamente
(ICP-AES), enquanto os elementos menores e traço por espectrometria de massa por plasma
acoplado indutivamente (ICP-MS). Os dados foram tratados para base anidra, com os
softwares Excel e GCDkit 3.0.
Os dados de geocronologia U-Pb foram produzidos por LA-MC-ICP-MS (Lasers
Ablation Multi-collector inductively coupled plasma mass spectrometry), modelo Thermo
Finnigan Neptune acoplado a um sistema laser NewWave de 213 μm Nd-YAG, realizado em
zircão, no laboratório de geocronologia da UnB, conforme os procedimentos gerais propostos
por Bühn et al. (2009). Utilizou-se do software Isoplot 4.1, segundo os procedimentos de
Ludwig (2012) para análise dos dados.

3 - GEOLOGIA REGIONAL
A parte norte da Província Tocantins (Almeida et al., 1981), compõe parte centro e
leste do sudeste do estado de Tocantins. Essa província é formada por três faixas orogênicas
23
denominadas de Faixa Paraguai a sudoeste, Faixa Araguaia a noroeste, e Brasília, localizada
margem ocidental do Cráton São Francisco (Pimentel et al., 2000b; Fuck et al., 2014).
A área de estudo é representada pela Faixa Brasília, que é definida como um orógeno
de aproximadamente 1000 km em direção norte-sul, formada pela convergência dos Crátons
Amazônico e Paranapanema com o Cráton São Francisco (Pimentel et al., 2000b; Fuck et al.,
2014). Esta faixa foi dividida em uma porção norte, com trends estruturais NNE-SSW,
separada da porção centro-sul, de direção NNW-SSE, pela Sintaxe dos Pirineus (WNW-ESE)
e uma porção no extremo sul, bordejando o Cráton São Francisco, com direções E-W (Fuck et
al., 2014).
Quanto aos estilos estruturais Fuck et al. (2014) segmenta em zona externa e zona
interna. A zona externa é composta por espessar coberturas sedimentar de margem passiva
(grupos Natividade, Araí, Paranoá, Canastra), em sistema de fold-and-thrust belt, sob baixo
grau metamórfico, em fácies xisto verde. A norte, essas sequencias dão espaço à grandes áreas
de embasamento sialicos, juntas com raras sequencias vulcanossedimentares do Bloco Crustal
Cavalcante-Natividade. A zona interna é constituída por um Núcleo Metamórfico (complexo
granulítico Anápolis-Itauçu), separado por falhas de sequencias neoproterozoicas de baixo
grau (Grupo Araxá e Serra da Mesa) e sequencias ofiolíticas remanescentes. A zona interna,
ainda abrange o Maciço de Goiás (terrenos granito-greenstone arqueanos e ortognaisses
paleoproterozoicos) e um terreno neoproterozoico de arco juvenil, denominado Arco
Magmático de Goiás.
A região de São Valério da Natividade está situada na zona limítrofe entre o Maciço
de Goiás e o Domínio Cavalcante-Arrais (Fuck et al., 2014). Segundo Delgado et al. (2003)
esses terrenos pertencem a faixa paleoproterozoica Dianópolis-Silvania. Contudo, a faixa
paleoproterozoica Dianópolis-Silvania tem entrado em desuso, a partir dos trabalhos de
Marques (2009), Cordeiro et al. (2014) e Praxedes (2015).
O Bloco Crustal Cavalcante-Natividade (CN) é dividido em Domínio Almas-
Conceição do Tocantins (Grupo Riachão do Ouro e Suíte Almas-Dianópolis) e Cavalcante-
Arrais (Suíte Aurumina e Formação Ticunzal). Segundo Praxedes (2015) e Frasca et al.,
(2010) o bloco é recoberto pelo Grupo Natividade e Araí, respectivamente e tem seu limite
com o Maciço de Goiás marcado pela Zona de Cisalhamento Rio Maranhão (ZCRM). O
Maciço de Goiás é dividido em dois Domínios: i) Crixás-Goiás, composto por sequencias de
greenstone belt arqueano e metassedimentos paleproterozóico; e ii) Campinorte, dominados
por metagranitos da suíte Pau de Mel, juntamente com granito-gnaisse, milonitos félsicos e
ultramilonitos paleoproterozóicos (Cordeiro et al., 2014) e uma sequência metassedimentar
Campinorte (ESSA SEQUENCIA FAZ PARTE DO DOMINIO CAMPINORTE????),
dominada por quartzo-muscovita xisto, quartzitos e lentes de gondito, com raras associações
de rochas metavulcânicas (Guistina et al, 2009).
O Maciço de Goiás limita com o Arco Magmático de Goiás através da Zona de
Cisalhamento Rio dos Bois. O Arco Magmático de Goiás é formado por duas granitogênese
neoproterozóicas, uma de arco juvenil entre 930 a 800 Ma e outra de arco continental entre
630 a 600 Ma com sequencias vulcânicas e granitoides pós orogênicos mais jovens (Pimentel
et al., 2000a; Fuck et al., 2014).

24
Figura 1: a) Contexto geológico regional da Faixa Brasília setentrional segundo, Fuck et al. (2014), b) Domínios geológicos da porção sudeste do estado de Tocantins, a
direita, (adaptado de Fuck et al., 2014; Drago et al., 1981).
25
Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

O Maciço de Goiás, na região estudada, consiste de ortognaisses do Domínio


Campinorte, cujo protólito ígneo forneceu idade U-Pb de 2143±11 Ma e idade modelo Nd de
2,46 Ga (Fuck et al., 2014), relacionado ao Arco Campinorte formado entre 2.19 e 2.14 Ga
(Cordeiro, 2014). Já o Domínio Cavalcante-Arrais é representado pela Suíte Arumina,
considerada com uma suíte sin colisional peraluminosa com idades de cristalização de U-Pb
LA-ICP-MS de 2172±16 Ma realizadas em zircão de metatonalitos (Praxedes 2015).
O embasamento é encoberto por rochas metassedimentares relacionadas com o Grupo
Araí (Drago et al., 1981; Delgado et al., 2003; Frasca et al., 2010; Alvarenga et al., 2007),
formado por uma bacia do tipo rift do final do Paleoproterozóico, constituída por rochas
supracrustais e vulcanismo bimodal intraplaca desenvolvida entre aproximadamente 1,8 e 1,6
Ga (Alvarenga et al., 2007). O Grupo Araí é formado por arenitos, conglomerados,
sequencias de leques aluviais, arenitos fluviais e vulcanismo bimodal da Formação Arraias na
fase sin-rift (Alvarenga et al., 2007) e um conjunto heterolítico de siltitos estratificados e
arenitos, em ambiente marinho raso e transicional da Formação Traíras, fase pós-rift, ambas
metamorfizadas em fácies xisto verde inferior.

3. 1 Geologia Estrutural e Evolução Tectônica


Os domínios estruturais da Faixa Brasília, compreendidos nos trabalhos de Fonseca et
al. (1995) e Uhlein et al. (2012) envolvem os domínios de antepaís interno ou domínio interno
com sequências metassedimentares e terrenos do embasamento, deformados por uma
tectônica thick-skinned com foliação sub-horizontal ou suavemente dobrada, de médio a alto
grau de metamorfismo, e o domínio externo com estrutura de dobras e empurrões, médio a
baixo grau de metamorfismo onde predomina um estilo thin-skinned. O núcleo metamórfico
compreende terrenos do embasamento s.s., complexos máfico-ultramáficos (Barro Alto,
Niquelândia e Canabrava), e seqüências vulcano-sedimentares, que apresentam característica
de um sistema transpressivo, relacionadas ao lineamento Transbrasiliano.
Frasca et al. (2010) apresentaram quatro domínios estruturais relacionados à região: 1)
Domínio Dúctil do Embasamento, marcado por um forte encurtamento crustal em regime
dúctil e contracional, com dobras apertadas expostas em raras superfícies preservadas N03°E
84°SE e N26°E 48°SE (S1), transpostas pelo bandamento gnáissico de atitude N21°W 17°NE
(S2) e. 2) Domínio Dúctil Compressional, o qual corresponde à predominância de um regime
sob cisalhamento puro e encurtamento crustal, com dobras (N33°E 64°NW – N27°E 57°SE)
que envolvem cisalhamento paralelo ao acamadamento estratigráfico (S3), em um processo
combinado entre deslocamento e fluxo flexural. 3) Domínio Dúctil Transcorrente –
Transtracional, correspondente a zonas de cisalhamento com mergulhos altos e vergências
opostas, caracterizadas ainda por feições de boudinage de estruturas previamente dobradas,
com planos axiais subverticais e subconcordantes aos planos de cisalhamento e eixos verticais
a sub-horizontalizados, com planos preferenciais (S4) na direção N26°E 69°NW e com
padrões de fraturas extensionais tardias e preenchidas por veios de quartzo com atitude
N38°E/86°SE. 4) Domínio de Intrusões Pós-orogênicas a Anorogênicas, correspondente a

26
Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

zonas de intrusões tardias e de caráter extensional ou isótropa em regime rúptil e rúptil/dúctil,


correspondente a zonas de falhas e fraturas de direção N36°E 82°SE.

4 - GEOLOGIA LOCAL

Figura 2: Mapa geológico da região de São Valério da Natividade (lineamentos extraídos de Frasca et al. 2010,
Abdallah et al. 2013).

Ao todo, foram descritos 20 afloramentos de rocha, sendo que em 11 pontos foram


coletadas amostras representativas para petrografia, gerando o mapa da Fig. 2 em escala
1:100.000, representando as unidades descritas. No Bloco Crustal Cavalcante-Natividade
ocorrem biotita migmatitos metatexíticos e biotita gnaisses, recobertos por quartzitos do
Grupo Araí. Na área relacionada ao Maciço de Goiás afloram, dominantemente, muscovita-
biotita gnaisses, com muscovita gnaisses subordinados. Localmente se observa a presença de
27
Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

megaxenólitos de xistos metapelíticos e muscovita-biotita-silimanita gnaisses, de origem


psamítica, hospedados no muscovita-biotita gnaisse (Fig. 2).

4.1 - Bloco Crustal Cavalcante-Natividade


4.1.1. Biotita migmatito metatexítico
O biotita migmatito metatexítico do Bloco Crustal Cavalcante-Natividade está exposto
na porção sudeste da área (ponto MG-08 e algumas porções no afloramento MG-02) na
margem do Rio São Valério. Sua ocorrência é na forma de lajedos e blocos alongados de
rochas de cor cinza e granulação média a grossa. São compostos por plagioclásio, quartzo,
biotita e feldspato alcalino, além de minerais acessórios como opacos, zircão, titanita e
granada. O paleossoma consiste de uma rocha gnássica com bandamento marcado pela
alternância de bandas félsicas (plagioclásio + quartzo + feldspato alcalino) e máficas (biotita
+ epidoto). O bandamento gnássico possui orientação preferencial de N50°E 25°SE, que varia
até N25°W 08°NE, quando dobrado. O leucossoma é constituído por uma rocha leucocrática
de composição granítica e textura grossa a muito grossa, formando corpos estromáticos
centimétricos contínuos (Fig. 3a) e injeções discordantes do bandamento do paleossoma (Fig.
3b).

Figura 3: Aspectos de campo e petrográfico do Bloco Crustal Cavalcante-Natividade: a) biotita migmatito com
dobras com eixo sub-horizontal, com dique pegmatítico discordante (seta preta); b) dique pegmatítico em biotita
gnaisse discordantes do bandamento estromático (seta preta). c) Biotita migmatito, rb - ribbons de quartzo, bm -

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Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

bandamento máfico marcado por biotita e epidoto, Plg - porfiroclastos de plagioclásio; d) plagioclásio em BM,
inclusões de quartzo, epidoto (seta branca) e biotita (seta clara), mx – matriz.

A textura do paleossoma varia de granoblástica interlobada inequigranular média a


fina até porfiroclástica com porfiroclastos de feldspato alcalino em matriz granolepidoblástica
média. O plagioclásio é anédrico a subédrico com macla albita muito fina, parcialmente
apagadas (Fig. 3c). Inclusões de biotita sagenítica, zircão e quartzo globular (Fig. 3d) estão
presentes nos plagioclágios, que se encontram parcialmente substituído por minerais de
alteração argílica e sericítica. O quartzo ocorre principalmente na matriz com granulação fina
e bordas ameboides serrilhadas e em sombras de pressão dos porfiroclastos, apresentando
contatos poligonais e, muitas vezes, estiramento formando ribbons (Fig. 3c). Texturas de
recristalização do tipo rotação de subgrão (subgrain rotation - SGR) e migração de borda de
grão (grain boundary migration - GBM), são comuns nos cristais de quartzo, assim como
inclusões de biotita e epidoto. O feldspato alcalino é do tipo ortoclásio e ocorre como
porfiroclastos rotacionados de até 10 mm. A biotita possui forma subédrica, pleocroísmo
verde claro a castanho escuro e, quando associada ao epidoto, não apresenta pleocroísmo. O
zircão é euédrico, prismático e extremamente metamítico. Opacos, allanita subédrica com
alteração para clinozoizita, constituem os minerais acessórios juntamente com o zircão.
Minerais de alteração consistem de epidoto, como produto de saussuritização, mica branca e
argilominerais.

4.1.2. - Biotita gnaisse


O biotita gnaisse aflora principalmente em forma de lajedos nas margens da estrada
em direção ao município de Paranã e no leito do Rio São Valério (pontos M-G02, 03 e 04), na
porção sudeste e leste da área. Ocorre como corpos contínuos e tabulares com bandamento
gnássico de orientação preferencial entre N70°E 76°NW e N68°E 84°SE. Estas rochas
apresentam cor cinza, granulação inequigranular média a fina, com porfiroclastos de feldspato
alcalino. O bandamento é marcado pela orientação da biotita nas bandas máficas e de quartzo
e feldspatos na banda félsica (Fig. 4a). Uma lineação de estiramento mineral, com orientação
sub-horizontal, é marcada por grãos estirados de quartzo.
Estas rochas apresentam cristais predominantemente xenomórficos com textura
granoblástica interlobada e constituídos por plagioclásio, quartzo, feldspato alcalino e biotita.
Os acessórios são allanita, zircão, apatita e opacos. Muscovita, epidoto e clorita são produtos
de processos de alteração. O plagioclásio é anédrico a subédrico com bordas ameboides ou
serrilhadas, podendo apresentar bordas de crescimento (Fig. 4b) e inclusões de quartzo
globular e vermicular, bem como de biotita. A matriz (Fig. 4b) consiste de cristais anédricos
com bordas interlobadas desenvolvidas entre os grãos de quartzo, formando microestruturas
de recristalização dinâmica por migração de borda de grão do tipo left-over e window. O
feldspato alcalino (microclina e ortoclásio) é subédrico a anédrico e ocorre como porfiroclasto
geralmente não maclados ou na matriz, como microclina com macla, concentrada no núcleo e
bodas ameboides, sem macla. Possui lamelas de exsolução (pertitas) e forma intercrescimento
micrográfico com quartzo (Fig. 4c). O quartzo é anédrico e restrito a matriz, formando
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geralmente textura granoblástica interlobada ou poligonal, principalmente em sombras de


pressão. Ocorre também em ribbons de cristais anédricos e ameboides. Contém inclusões de
zircão e apatita. A biotita é subédrica a anédrica com pleocroísmo de amarelo pálido a
castanho escuro e sob forma lamelar em ripas. Alguns cristais de biotita não apresentam a
extinção mosqueada característica. A allanita ocorre como cristais geminados ou zonados e
associada com clinozoisita. O zircão é prismático euédrico. A granada granular euédrica. Os
minerais de alteração são pistacita, mica branca e argilominerais, como resultado de processos
de saussuritização e sericitização (Fig. 4b).

Figura 4: a) bandamento gnáissico; b) Porfiroclasto de plagioclásio com bordas de crescimento (seta branca) em
BG, a esquerda matriz (mx) recristalizada por SGR e GMB; c) Textura mirmequítica (seta branca) em BG, e no
canto inferior esquerdo migração de borda (setas pretas); d) feldspato alcalino em substituição para muscovita,
alteração sericítica.

4.1.3 – Quartzitos – Grupo Araí


Os quartzitos estão agrupados no Grupo Araí e afloram como blocos em cristas de
serras alongadas segundo direção NE. Consistem de rochas de cor cinza clara a avermelhada,
com estratificação (S0) plano paralela (Fig. 5a) de direção N30°E e mergulhos 60° a 89° para
SE ou NW. Estão frequentemente cortados por veios milimétricos de quartzo concordantes
com a S0 e localmente discordantes.

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São rochas de textura seriada interlobada, com granulação media a fina, composta
essencialmente por quartzo, com aproximadamente 3% de muscovita, além de opacos, apatita,
alanita e zircão em quantidades inferiores a 1%, constituindo os minerais acessórios. Os grãos
de quartzo são orientados, recristalizado, com grãos variando entre 2,0 e 0,2mm, e com
microestruturas de deformação de subgrão do tipo chessboard e ribbons. A muscovita possui
granulação fina, grãos anédricos e lamelas orientadas paralelamente à foliação principal da
rocha (Fig. 5b), em relação a orientação do quartzo a direção da muscovita configura uma
foliação obliqua. O contato com os grãos de quartzo frequentemente forma microestrutura do
tipo window e, mais raramente, microestrutura do tipo pinning. Os minerais acessórios
mostram formas preferencialmente arredondadas e subordinadamente prismáticos.

Figura 5: a) estratificação plano paralela; b) fotomicrografia dos quartzitos, laminas de muscovita (seta cinza).

4.2 - Maciço de Goiás


4.2.1 - Muscovita-biotita gnaisses
Os muscovita-biotita gnaisses ocorrem em uma ampla área a oeste da ZCRM, desde o
ponto MG-11 (mina da Fazenda Rodolita) até os pontos MG-01 e 09 e na margem do Rio São
Valério (ponto MG-10). O bandamento gnássico dos muscovita-biotita gnaisses é
lateralmente contínuo e marcado pela orientação de muscovita e biotita nas bandas máficas e
de quartzo e feldspatos nas bandas félsicas (Fig. 6b). A orientação preferencial do
bandamento é de N20°E 70°NW. Na margem do Rio São Valério pode ocorrer porções
migmáticas centimétricas onde o peleossoma é representado pelos gnaisses com leucossoma
estromático com porfiroclastos rotacionados e margeado por selvedge de biotita (Fig. 6b). Na
mina da Fazenda Rodolita estas rochas estão associadas a rochas psamíticas (xistos pelíticos e
muscovita-biotita-silimanita gnaisses), interpretados como xenólitos. Paralelos ao
bandamento ocorrem diques pegmatíticos, metamorfizados e formando porfiroclastos de
feldspato alcalino.
A mineralogia dos muscovita-biotita gnaisses é composta por plagioclásio, feldspato
alcalino, quartzo, biotita e muscovita. Os minerais acessórios são zircão, apatita e opacos, e os
minerais de alteração são pistacita, clinozoisita, mica branca e clorita. A rocha é leucocrática,
inequigranular xenomórfica com abundante textura granoblástica interlobada (Fig. 6c), com
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porfiroclastos de feldspato alcalino e alguns cristais de plagioclásio. As bandas máficas são


marcadas pela orientação de biotita e muscovita (Fig. 6c).

Figura 6: Aspecto de campo do Maciço de Goiás: a) Bandamento estromático continuo com bandas máficas (seta
preta) e banda félsica (seta branca); b) migmatito estromático com selvedge de biotita (seta branca) e leucossoma
de migração em dique pegmatítico (seta preta) em paleossoma gnáissico; c) orientação de biotita marcando a
foliação S4 (setas pretas), feldspato alcalino com inclusões de quartzo globular (setas brancas); d) ao centro:
mirmequita vermicular, a esquerda, migração de borda (seta preta), cristalização de melt em junção tríplice (seta
cinza); e) fratura em shear band (seta branca) em plagioclásio com maclas deformadas; f) muscovita gnaisses
com textura granolepidoblásticas.

O plagioclásio é subédrico com bordas ameboides a interlobadas, com dimensões entre


2,0 e 0,4 mm, mostram maclas da albita, combinação albita + carlsbad e podem apresentar
intercrescimento mirmequítico, quando associado ao quartzo (Fig. 6d). Os grãos de feldspato
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alcalino (microclima) são anédricos a euédricos, granulação média a fina e bordas ameboides,
podendo conter inclusões de quartzo (Fig. 6c), plagioclásio e zircão e desenvolvem
intercrescimento micrográfico quando associado ao quartzo. O quartzo é anédrico com bordas
ameboides a interlobadas, apresenta forte extinção ondulante e localmente desenvolve
subgrãos. Feições de migração de borda nos contatos entre outros grãos de quartzo ou
plagioclásio podem ser observadas (Fig. 6d). Biotita apresenta granulação fina, grãos
subédricos a anédricos e hábito lamelar. O pleocroísmo é amarelo a castanho, levemente
avermelhado e, geralmente, grãos bem orientados, marcando o bandamento. A muscovita está
presente como cristais subédricos lamelares de granulação média, portando inclusões de
zircão. A clorita ocorre substituindo pseudomorficamente a biotita e pode representar uma
fase retrometamórfica de baixo grau (fácies xisto verde inferior) e ou produto de alteração. Os
minerais acessórios consistem de zircão prismático a acicular, apatita subédrica prismática a
anédrica e minerais opacos de granulação grossa a fina, frequentemente associados a biotita.
Minerais de alteração são pistacita, clinozoisita, mica branca, além da clorita.
Os diques pegmatíticos são compostos principalmente por porfiroclastos de microclina
que desenvolvem pertitas e lamelas de deformação no interior dos grãos. Possuem inclusões
de plagioclásio, quartzo e ortoclásio, formando textura poiquilítica. O plagioclásio é anédrico,
principalmente em contato com a microclina e apresenta bordas angulosas ou ameboides
Lamelas de deformação e intercrescimento mirmequítico são observados em alguns grãos de
feldspatos e, em alguns casos, desenvolve fraturas ortogonais preenchidas por quartzo e
biotita (shear band) (Fig. 6e). As bordas dos cristais são serrilhadas a levemente ameboides e
desenvolvem textura do tipo manto-núcleo. O quartzo é anédrico com bordas ameboides e
ocorre em agregados ou como grãos isolados, e com aumento do grau de deformação
desenvolve extinção do tipo tabuleiro de xadrez (Fig. 6d). A muscovita possui em torno de 1,0
mm, e possuí bordas de reação com quartzo, biotita e plagioclásio e é portadora de inclusões
de quartzo e zircão. Os minerais acessórios são zoisita, zircão e, mais raramente, granada.

4.2.3 - Muscovita gnaisses


Os muscovita gnaisses ocorrem como lentes associadas aos muscovita-biotita gnaisses,
na porção oeste da área (pontos MG-05 e 17). As feições estruturais dos muscovita gnaisses
se assemelham às dos muscovita-biotita gnaisses, apresentando bandamento gnássico
contínuo com orientação preferencial NE e mergulhos de alto ângulo (N22°E 78°NW-SE) e
diques pegmatíticos paralelos ao bandamento. São rochas dominantemente granoblásticas de
granulação média, com lentes granolepidoblásticas (Fig. 6f) de granulação grossa. Composta
por quartzo, plagioclásio, feldspato alcalino e muscovita. Biotita, granada, apatita, zircão e
opacos ocorrem em quantidades acessórias. Minerais de alteração são mica branca, clorita,
epidoto e argilominerais. Os cristais de quartzo são subédricos com bordas ameboides e
extinção ondulante característica, formando subgrãos, com fraturas preenchidas por quartzo e
biotita. O feldspato alcalino representado pela microclina ocorre como grãos anédricos a
subédricos e podem formar porfiroclastos, por vezes rotacionados. Os contatos são
ameboides, exceto quando em contato com a muscovita, onde forma microestruturas de
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deformação em pinning. O plagioclásio é subédrico a anédrico, apresenta macla albita e


contem inclusões de quartzo globular e muscovita. A muscovita é subédrica lamelar de
granulação média a grossa, com forte orientação, marcando uma foliação subvertical.
Minerais acessórios são biotita em reação com muscovita, apatita em grão anédricos, zircão
prismático e fortemente metamítico e, minerais opacos, anédricos associados a muscovita. Os
minerais de alteração mais comum são mica branca, como produto de alteração dos
feldspatos, assim como epidoto, e clorita relacionada a alteração da biotita.

4.2.2 – Xenólitos pelíticos


Os xenólitos pelíticos ocorrem como lentes de dimensões métricas de até 50m de
extensão, com orientação NE-SW. Afloram como blocos e lajedos na margem do Rio São
Valério (ponto MG-10) e na cava da mina da Fazenda Rodolita (ponto MG-11), nas porções
norte e sudoeste da área de estudo. As litologias consistem de estaurolita-granada-muscovita
xistos, cianita-granada-biotita xistos e muscovita-biotita-silimanita gnaisses.
Os estaurolita-granada-muscovita xistos são caracterizados por uma xistosidade bem
desenvolvida, marcada pela orientação dos minerais micáceos, com direção N20°E 82° NW-
SE. A textura porfiroblástica é marcada por expressivos porfiroblastos de granada e
estaurolita (Fig. 7a), de até 10 mm. A matriz é composta por muscovita e biotita, formando
textura lepidoblástica proeminente, além de quartzo em ribbons. A muscovita compõe a maior
parte da matriz, com feições de deformação que desenvolvem texturas do tipo mica fish com
deslizamento destral. A biotita possui pleocroismo de bege a castanho avermelhado e também
forma textura do tipo mica fish. A disposição dos grãos de quartzo forma, principalmente,
textura granoblástica orientada e ribbons com bordas interlobadas. Inclusões orientadas de
muscovita, que evoluem, em porções de maior deformação, para microestruturas de
deformação por migração de borda de grão do tipo pinning, são observadas. A estaurolita
forma preferencialmente porfiroblastos de granulação grossa, com formas prismáticas
subédricas a euédricas e hábito tabular (Fig. 7b). Possui uma foliação interna que, por sua vez,
está crenulada (Fig. 7c). A clivagem de crenulação interna da estaurolita é paralela à
xistosidade da rocha, porém não apresenta continuidade da borda dos porfiroblastos para a
matriz lepidoblástica. Estas feições permitem classificar os porfiroblastos de estaurolita como
pré-tectônico a fase D₃. A granada é subédrica a euédrica e ocorre, principalmente, como
porfiroblastos de granulação grossa, com inclusões de quartzo, biotita, turmalina e opacos. As
trilhas de inclusões da granada definem uma foliação interna levemente rotacionada (Fig. 7b)
com orientação paralela a foliação da matriz, o que permite classificar os porfiroblastos de
granada como sintectônicos a fase D₃. Os minerais acessórios consistem de turmalina
subédrica a euédrica prismática, minerais opacos, feldspato alcalino de granulação fina
compondo a matriz e, localmente, formando textura micrográfica, além de zircão com fortes
halos pleocróicos. A alteração mais comum é argílica e, em alguns casos, sericítica.

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Figura 7: a) estaurolita-granada-muscovita xistos com porfiroblasto de granada em matriz micácea marcando a


xistosidade b) porfiroblastos de granada e estaurolita com trilas de inclusão em granada; c) detalhe de estaurolita
com foliação relíquiar dobrada; d) cianita-granada-biotita xistos matriz micácea com porfiroclasto de granada e)

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inclusão de estaurolita (St), em granada; f) Textura coronítica em estaurolita; g) Cianita em truncated fish com
matriz lepidoblástica; h) Fibrollita em muscovita-biotita-silimanita gnaisses.

Os cianita-granada-biotita xistos são inequigranulares, médios a grossos, com


porfiroblastos de cianita, granada e estaurolita, geralmente de 1,0 a 2,0 cm. Alguns
porfiroblastos de granada atingem 20 cm, conforme observado em exemplares explotados
pela mineradora da Fazenda Rodolita. A matriz é constituída dominantemente por quartzo,
biotita, clorita, anfibólio, cianita e cordierita e marcada por uma textura lepidoblástica bem
desenvolvida, que confere a xistosidade da rocha. A orientação da xistosidade é N30°E
86°NW-SE. A biotita é levemente pleocróica em tons verdes, com lamelas alongadas ou
cristais anédricos substituídos por clorita e/ou anfibólio. Podem formar microestruturas do
tipo mica fish, quando deformados, sendo reequilibrada para biotita neoformada em equilíbrio
com clorita asbestiforme. A clorita, classificada petrograficamente como clinocloro, possui
cor verde claro, é levemente pleocróica e possui hábito fibroso. Forma microestruturas de
deformação do tipo kink e também dobras abertas e, alguns cristais indeformados, o que
sugere que esta fase mineral é tardi- a pós-tectônica a fase D₃. Os porfiroblastos de granada
são euédricos com zonação composicional e inclusões de clorita, quartzo e estaurolita (Fig.
7e). O anfibólio, classificado petrograficamente como da série gedrita-antofilita, ocorre como
prismas alongados e levemente dobrados, com cor de interferência de primeira ordem.
Localmente apresenta bordas de reação para cordierita, biotita e clorita. Os porfiroblastos de
estaurolita são subédricos a anédricos, com hábito tabular prismático, geminação 010 e a 60°
e inclusões de quartzo. Frequentemente forma textura corona quando manteado por cordierita
(Fig. 7f). Cianita, em seção basal apresenta clivagem boa com alteração em seus planos,
anisotropia de pleocroísmo típico e evidente em seções longitudinais, apresentando reação
com clorita e texturas truncated fish com matriz de biotita (Fig. 7g). Os cristais de cordierita
da matriz são subédricos de hábito tabular, com geminação complexa e leve extinção
ondulante. Forma textura granoblástica poligonal quando associada a outros cristais de
estaurolita e está parcialmente substituída por biotita e clorita.
Os muscovita-biotita-silimanita gnaisses são observados apenas no afloramento da
mina da Fazenda Rodolita (ponto MG-11), em contato com o estaurolita-granada-cianita xisto
e com os muscovita-biotita gnaisses. Seu bandamento composicional é marcado pela
alternância de bandas félsicas (quartzo+feldspatos) com bandas máficas
(silimanita+biotita+muscovita) com orientação de N27°E com mergulhos de 79°NW. Esses
gnaisses apresentam textura inequigranular caracterizada por porfiroclastos de feldspato
alcalino formando textura em augen. O feldspato alcalino também pode ocorrer em menores
dimensões constituindo a banda félsica do gnaisse. Silimanita forma prismas alongados
paralelos à foliação principal, que podem formar camadas (sillimanite folia), agregados
anastomosados e microdobras (Fig. 7h), a silimanita, de forma subordinada, ainda pode
apresentar sem orientação, localizada na interface entre plagioclásio e quartzo ou plagioclásio
e microclina, ou alinhada a planos de fratura na rocha geralmente inclusa em grão de quartzo,
plagioclásio e feldspato alcalino. A silimanita, também, pode ser encontrado em pequenos
grãos aciculares nos planos de clivagem de biotita e plagioclásio, no caso da biotita a reação

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gera migração de melt rico em fase de minerais opacos que migram entre fraturas. Nas
microdobras e agregados anastomosados, os núcleos podem conter feldspato alcalino
(porfiroclasto) e muscovita, ambos xenomorfos, porém a muscovita é interpretada como
retrometamórfica. O quartzo é ameboide de granulação média e ocorre em agregados de
contato poligonal entre outros cristais de quartzo e/ou agregados com feldspato alcalino e
plagioclásio. Plagioclásio apresenta-se anédrico de granulação grossa, com maclas simples ou
na matriz de granulação fina com leve extinção ondulante. Granada pode ocorrer em
pequenos cristais de 0,4mm, inclusos em quartzo e plagioclásio ou em grandes cristais de
2mm, com presença de fraturas e inclusões de minerais de granulação muito fina. Fraturas e
juntas podem ocorrer perpendicular ou paralelas a foliação. Em ambos os casos são
preenchidas com fluidos de composição alumino-silicática, representado por precipitados de
sericita e sillimanita, ou opacos, resultado de decomposição de biotita. Epidoto, sericita e
argilomineral estão presentes como produto de alteração.

5 - LITOQUIMICA
Foram analisadas 11 amostras de gnaisses para elementos maiores e traços, incluindo
terras raras. Os dados litoquímicos estão apresentados na tabela 1 e representam o paleossoma
do migmatito metatexítico e o biotita gnaisse, ambos do Maciço de Goiás. O Bloco Crustal
Cavalcante-Natividade está representado pelas análises do muscovita-biotita gnaisse.
As principais caraterísticas são os valores de SiO2 maiores que 70%, Al2O3 entre
13,5% e 15%, Na2O ~ 4,0% e razões Na2O/K2O > 2, e de ~1,4 para as amostras de MBG. Os
índices AFM de Irvine e Baragar (1971) indicam afinidade com suítes não toleíticas (Fig. 8a)
e os valores de Na2O + K2O vs SiO2 relacionam os gnaisses com séries subalcalinas. Seus
valores de K2O entre 1,4 e 1,9 sugerem relação com a série cálcio-alcalina (Fig. 8b) de médio
potássio (Le Maitre et al., 1989; Rickwood, 1989; Peccerillo e Taylor, 1976).
Quanto à afinidade com suítes TTG, o diagrama K-Na-Ca (Fig. 8c) de Barker e Arth
(1976) mostra que as amostras não plotam no campo dos throndjemitos (Martin, 1994),
enquanto as amostras do Domínio Cavalcante-Arrais seguem o trend trondjemitico, as
amostras do Maciço de Goiás seguem um trend paralelo ao cálcio-alcalino. Elementos com
afinidade ferromagnesiana (Fe2O3 + MgO + MnO + TiO2) apresentam conteúdos inferiores
5%), exceto para os BM, cujos valores são aproximadamente 6%. As razões K2O/Na2O < 0,5,
em sua maioria, são compatíveis com series TTG (Martin, 1999). Os valores baixos de Mg#,
menor 0,20, são menores que a média pra TTG de Moyen e Martin (2012).
Os elementos maiores permitem, segundo Le Maitre et al. (1989), a determinação de
um domínio de termos tonalíticos, com granitos e granodiorito subordinados. Dados de
minerais normativos para sistema anidro em Mesonorma mostram valores de quartzo entre 39
e 34%, anortita de 12% a 15%, exceto para três amostras de MBG que ficam entre 5% e 8%,
albita entre 32% e 38% e ortoclásio de 8% a 18%. Ao plotar os valores de Ab, An e Or no
diagrama triangular de O’Connor (1965), as amostras ocupam o campo dos tonalitos e
trondhjemitos para as amostras do Domínio Cavalcante-Arrais, enquanto as amostras do
Maciço de Goiás ocupam o campo dos granitos (Fig. 8d). Além disso, o coríndon normativo é
entre 1,2 e 0,7%, e, segundo Chappell e White (2001), rochas com valores de coríndon >1%

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podem estar relacionadas a fusão de sedimentos ou a granitos Tipo-I extremamente


fracionados. Contudo, o decréscimo de P2O5 com o aumento da sílica contraria a evolução de
granitos Tipo-S. Os dados de saturação em alumina são levemente maiores que 1,0 e
compatíveis, segundo Frost et. al. (2001), com granitos peraluminosos a fracamente
metaluminosos (Fig. 8e). Os valores de álcalis e da razão FeOt/ (FeOt+MgO) indicam relação
com rochas magnesianas e cálcicos (Frost et. al. 2001).

Tabela 2: Dados litoquímicos dos gnaisses da região de São Valério da Natividade (elementos maiores e
menores expressos em % peso e traços em ppm).
MG 01E MG 01F MG 09B MG 02D MG 02G MG 04A MG 04J MG 04H MG 08A MG 08B MG 08C
Uni MBG MBG MBG BG BG BG BG BG BM BM BM
SiO₂ % 75,25 76,24 74,04 74,22 72,69 74,53 74,20 71,34 72,56 72,48 70,94
Al₂O₃ % 13,73 13,71 13,95 14,28 14,80 13,81 14,28 15,90 13,89 13,94 14,03
Fe₂O₃ % 1,39 1,40 2,33 2,63 2,85 2,40 2,39 3,22 4,05 4,44 4,68
CaO % 1,08 1,05 1,80 2,72 2,79 2,55 2,44 2,99 2,85 3,20 2,77
MgO % 0,28 0,24 0,81 0,76 0,85 0,62 0,71 0,89 1,06 1,09 1,38
Na₂O % 4,42 4,39 4,10 4,18 4,33 3,89 4,10 4,64 4,25 4,01 4,06
K₂O % 2,93 3,06 2,51 1,69 1,74 1,88 1,80 1,67 1,44 1,48 1,70
TiO₂ % 0,21 0,18 0,24 0,26 0,29 0,24 0,25 0,33 0,50 0,53 0,54
MnO % 0,02 0,02 0,03 0,04 0,04 0,03 0,03 0,04 0,06 0,07 0,07
P₂O₅ % 0,01 0,01 0,03 0,06 0,05 0,02 0,04 0,07 0,09 0,12 0,10
SrO % 0,03 0,03 0,02 0,03 0,03 0,03 0,03 0,03 0,01 0,02 0,01
BaO % 0,09 0,09 0,05 0,04 0,04 0,05 0,04 0,02 0,05 0,04 0,05
Total % 99,44 100,43 99,91 100,92 100,50 100,06 100,32 101,14 100,81 101,43 100,33
LOI % 0,60 0,45 0,74 0,58 0,68 0,45 0,54 0,63 0,65 0,68 0,91

Ba ppm 794,00 816,00 399,00 340,00 346,00 501,00 362,00 210,00 426,00 395,00 468,00
Ce ppm 75,50 63,60 21,60 35,10 26,10 40,00 37,20 12,30 46,30 46,10 52,90
Cr ppm 30,00 30,00 40,00 40,00 40,00 40,00 30,00 40,00 40,00 40,00 60,00
Cs ppm 3,52 3,10 1,92 1,47 1,66 1,41 1,90 3,20 1,53 1,75 2,09
Dy ppm 0,69 0,59 0,75 1,48 1,73 1,22 1,22 1,01 4,68 5,38 5,77
Er ppm 0,15 0,24 0,33 0,81 0,97 0,73 0,55 0,52 3,11 3,38 3,47
Eu ppm 0,68 0,62 0,42 0,63 0,69 0,61 0,62 0,71 1,11 1,03 1,13
Ga ppm 25,80 24,60 19,50 24,70 20,90 22,80 20,90 23,90 20,30 20,20 21,40
Gd ppm 1,69 1,64 1,07 1,92 2,11 1,57 1,87 1,28 4,65 5,87 6,19
Hf ppm 3,50 3,30 3,30 3,10 2,90 2,70 3,60 6,90 5,40 6,00 5,20
Ho ppm 0,10 0,08 0,13 0,32 0,32 0,23 0,18 0,19 1,00 1,12 1,19
La ppm 39,90 34,00 8,80 17,20 13,20 23,00 19,90 7,10 22,30 21,60 21,30
Lu ppm 0,03 0,05 0,05 0,12 0,12 0,10 0,05 0,07 0,38 0,46 0,44
Nb ppm 3,70 3,10 4,50 3,90 4,20 3,90 4,80 7,60 7,70 7,90 8,20
Nd ppm 25,30 21,20 6,40 11,60 10,40 13,30 14,70 4,90 23,40 24,60 26,40
Pr ppm 7,20 6,15 1,87 3,33 2,77 3,78 3,93 1,37 5,59 5,86 6,21
Rb ppm 195,00 193,50 126,00 72,10 74,30 65,70 85,40 89,00 47,30 49,90 57,60
Sm ppm 3,55 3,09 1,27 2,09 2,03 1,94 2,45 1,12 4,62 4,96 6,09
Sn ppm 4,00 3,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 2,00 3,00 3,00
Sr ppm 320,00 326,00 212,00 293,00 281,00 286,00 289,00 307,00 191,50 201,00 199,00
Ta ppm 0,80 0,60 0,60 0,80 0,70 0,40 0,60 0,80 0,80 0,80 0,90
Tb ppm 0,15 0,17 0,17 0,30 0,28 0,24 0,24 0,20 0,78 0,87 0,96
Th ppm 9,31 8,03 3,35 2,91 2,33 3,73 4,19 0,95 4,43 4,28 3,50
Tm ppm 0,03 0,03 0,05 0,12 0,13 0,10 0,08 0,08 0,45 0,47 0,51
U ppm 3,03 3,41 0,27 0,28 0,26 0,42 0,46 0,69 0,94 0,83 1,17
V ppm 24,00 20,00 31,00 36,00 35,00 33,00 29,00 39,00 47,00 43,00 51,00
W ppm 642,00 445,00 602,00 654,00 531,00 321,00 668,00 693,00 680,00 601,00 688,00
Y ppm 2,30 2,20 4,00 8,70 9,00 7,30 5,20 5,10 27,70 30,30 35,40
Yb ppm 0,18 0,14 0,26 0,73 0,71 0,62 0,37 0,42 2,72 2,95 3,22
Zr ppm 135,00 131,00 124,00 128,00 121,00 98,00 142,00 258,00 231,00 243,00 214,00
La/Ybᶰ - 315,34 161,23 41,729 33,9839 26,0806 54,5323 94,365 24,0484 13,9138 11,1332 11,4776
Eu/Eu* - 1,07 0,85 0,84 0,96 1,02 0,89 1,81 0,73 0,58 0,56 1,10
Abreviações: MBG – muscovita-biotita gnaisse; BG – biotita gnaisse; BM – paleossoma do migmatito
metatexítico.

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Seguindo modelos de diagramas Harker (1901), para a tendência de diferenciação,


embora os valores de SiO2 tenham uma variação de apenas 6%, observa-se uma correlação
negativa dos elementos CaO, MgO, TiO2, P2O5, Fe2O3, Y e Zr, enquanto K2O, Ba, Rb, La e Sr
apresentam correlação positiva (Fig. 9). Os valores relativamente estáveis de Na2O e altos de
Cr são compatíveis com os esperados para suítes cálcio-alcalinas em magmas de alto Na2O
(Moyen, 2011) e se apresentam tanto no Maciço de Goiás quanto no Domínio Cavalcante-
Arrais.

Figura 8: Diagramas classificatórios. A) diagrama AFM de Irvine e Baragar (1971); B) Diagrama SiO2 vs K2O
de Peccerillo e Taylor (1976) C) Barker e Arth (1976) modificado por Moyen (2011), CA - trend cálcio-alcalino,
Tj - trend trondjemitico; D) classificação por mineral normativo de O’ Connor (1965); E) índice de alumina
saturação com campo dos granitos tipo S (Frost et al., 2001).

Elementos incompatíveis como Nb, Ta e Y indicam, para a amostra BM do Domínio


Cavalcante-Arrais similaridade com granitos de arco vulcânico para (Fig. 10a), segundo
Pearce et al. (1984). As amostras do Maciço de Goiás e a amostra BG seguem um
comportamento esperado para resultados de fusão parcial de granodioritos com sua evolução
para granitos sin-tectônico.

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Figura 9: Diagramas binários de elementos maiores, menores e traços.

As amostras da fácies biotita gnaisse apresentam anomalias negativas de Ba, Nb, Ta,
Th, P e Ti, relativas ao manto primitivo de Sun e McDonough (1989), ausência de anomalia
de Sr e valores de Yb abaixo de 4ppm, similares a granodioritos e trondhjemitos de suítes
TTG (Martin, 1999; Moyen e Martin, 2012). Os baixos valores de Sr (<300ppm) se
assemelham aos de suítes TTG de baixo alumínio, com cristalização fracionada de
plagioclásio (Condie, 2005), valores de Zr e anomalias de Nb e Ta compatíveis com o modelo
de Martin (1999) para fontes com restitos de eclogitos ricos em rutilo. As razões de Zr/Hf são
compatíveis com as de basaltos, portanto maiores que as composições de granitos Tipo-S,
segundo Thompson et al. (1984).
As altas razões de Zr/Sm (entre 30 e 230), Lu/Hf (entre 0,08 e 0,02), Nb/Ta (entre 4 e
12) e do conteúdo de Yb (entre 0,12 e 3,22), são próximas a valores médios de suítes TTG
(Moyen e Martin, 2012). A razão La/Yb, combinada com razões altas de Zr/Sm para os MBG,
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correspondem a magmas TTG de média pressão (Fig. 10b) em equilíbrio com clinopiroxênio,
anfibólio e granada (Moyen 2011). As amostras de BG apresentam baixa razão La/Yb
compatíveis com a evolução de um magma E-MORB. Porém, essas baixas razões de La/Yb,
aliadas a valores variados de Yb, foram relacionadas por Condie (2005) a suítes TTG com
afinidade cálcio-alcalinas pós arqueanas (Fig. 10c), que sofreram diferenciação magmática.
Os valores de anomalia de Eu/Eu* ≤1, por média geométrica (McLennan e Taylor, 2012), se
aproxima de magmas derivados do manto, com apenas uma amostra com valores de 1,8,
relativa ao BG.

Figura 10: Classificação das rochas estudadas baseada nos conteúdos de elementos menores a) classificação
quanto a fonte por Pearce et al. (1984) demostra a afinidade para rochas de arco vulcânico; b) Moyer (2011)
diagrama Sr/Y e La/Yb para diferentes magmas TTG, alta pressão (HP), média pressão (MP), baixa pressão (LP)
e granitos potássicos; c) Amostra vs. Manto Primitivo segundo Sun e McDonough (1989), para elementos
incompatíveis. Campo cinza corresponde a composição média a 1σ para TTG paleoproterozóico segundo Condie
(2005); d) elementos terras raras normalizados por condrito (Boynton, 1984), campo em cinza pertence a
composições de TTG s.s. e campo preto a outros gnaisses cinzas, segundo Moyen e Martin (2012).

Com relação ao condrito de Boynton (1984), é possível relacionar três grupos


distintos: o primeiro com baixa razão LaN/LuN e baixo fracionamento de ETRL em relação
ETRP, correspondente aos BM, mostrando uma relação de equilíbrio do liquido com granada,
mais similares aos plagiogranitos (Fig. 10d) do que a valores de TTG s.s., em comparação
com o trabalho de Moyen e Martin (2012). O segundo grupo com razão LaN/LuN média,
relativos aos BG, mostra uma possível relação com fracionamento de granada e cristalização
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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
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de biotita. O terceiro evidencia um alto fracionamento de elementos terras raras, com altas
razões LaN/LuN, relativo ao MBG, possivelmente relacionado ao fracionamento de granada e
biotita.

6 - GEOCRONOLOGIA
Os dados isotópicos U-Pb foram produzidos a partir da análise de 21 zircões (Tab. 2)
de uma amostra de biotita gnaisse (ponto MG-04). A maioria dos cristais são incolores a
translúcidos com comprimento entre 200 a 400 µm (Fig. 11), formas euédricas com hábitos
prismáticos bipiramidais e razão comprimento e largura de 1:3. Alguns grãos são subédricos
granulares com razões comprimento/largura entre 1:1 e 1:2, levemente castanhos e fraturados.
As imagens de catodoluminescência evidenciam zonações composicionais e a presença de
núcleos herdados em alguns cristais e com bordas recristalizadas (Corfu et al. 2003). A partir
das razões isotópicas foi elaborado um diagrama concórdia se utilizando do software Isoplot
4.1, seguindo as orientações de Ludwig (2012).

Figura 11: Imagem de catodoluminescência dos zircões: em azul, zircões usados para o diagrama concórdia; em
vermelho, zircões analisados com confiança > 95%; em amarelo idade concordante; em branco dado com
confiança <95%.

Segundo Schoene (2014) erros individuais, de desvio padrão ou de média ponderada,


podem facilitar o encontro de idades sem significado geológico, o que permite uma seleção de
dados e indicar a dispersão geradas por processos de perda de Pb. Hoskin e Black (2000)
indicam que valores ≥0,5 para razões Th/U estão relacionados a idades ígneas, e razões
abaixo de 0,1 podem ser consideradas idades de recristalização de zircão metamórficos.
Portanto, as razões Th/U dos zircões estudados não representam razões ígneas e se
aproximam de razões metamórficas por recristalização. A distribuição da razão Th/U pelas
idades Pb/Pb mostram uma leve perturbação isotópica do sistema na direção de idades mais
jovens e podem ser excluídos da obtenção da idade final mais apurada.

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A existência de uma idade concordante de 2175±14 Ma, obtida provavelmente em


uma frente de recristalização, determinada pelas análises de imagem de catodoluminescência,
porem fora da projeção da reta discórdia sobre a curva concórdia, não representa
necessariamente uma idade do protólito ígneo. Neste caso, pode resultar em uma idade
relativa a um evento metamórfico pretérito.
A elaboração do diagrama concórdia com as análises de 12 zircões, selecionados pelo
baixo erro individual das idades, pela maior probabilidade linear e, por fim, usando média
ponderada, resulta em uma coerência linear com MSWD=1 e uma probabilidade de ajuste de
0.44 aceitável (Ludwig, 2012). Com essa seleção há uma melhora significativa das idades do
sistema concórdia a partir de uma idade com MSWD = 6.6 para 1.0, com erros de ±20 Ma
para ±13 Ma para o intercepto superior e erros de ±140 para ±85Ma para intercepto inferior.
Assim assume-se que a idade de 2229±13 Ma obtida com os 12 zircões selecionados é mais
significativa e precisa.

Tabela 2: Dados de isótopos de U-Pb de zircões do biotita gnaisse (Bloco Crustal Cavalcante-Natividade) da
região de São Valério da Natividade.
Razões Idades (Ma)
MG-04 %206Pb ²³²Th/²³ ²⁰⁷Pb/ ²⁰⁶Pb/ ²⁰⁷Pb/ ²⁰⁷Pb/ ²⁰⁶Pb/ ²⁰⁷Pb/
1s(%) 1s(%) Rho 1s(%) 1s(Ma) 1s(Ma) 1s(Ma) Conc(%)
⁸U ²³⁵U ²³⁸U ²⁰⁶Pb ²³⁵U ²³⁸U ²⁰⁶Pb
Z-01 0.11649 0.44 5.60 0.84 0.31 0.71 0.82 0.13 0.45 1916.33 7.24 1742.15 10.87 2060.23 8.10 90.91
Z-03 0.01079 0.46 6.75 1.12 0.36 1.01 0.90 0.14 0.47 2078.64 9.88 1967.83 17.18 2140.54 8.48 94.67
Z-06 0.00517 0.36 7.26 1.14 0.38 1.03 0.89 0.14 0.50 2144.09 10.18 2095.83 18.38 2140.90 8.93 97.75
Z-07 0.42263 0.30 5.58 2.32 0.31 2.14 0.93 0.13 0.89 1912.41 19.78 1739.39 32.57 2055.40 15.64 90.95
Z-09 0.03584 0.36 7.48 1.01 0.40 0.77 0.74 0.14 0.65 2170.11 9.02 2175.76 14.25 2114.88 11.68 100.26
Z-08 0.05744 0.31 5.44 0.78 0.31 0.61 0.74 0.13 0.49 1891.31 6.72 1720.77 9.28 2033.69 8.83 90.98
Z-11 0.00783 0.45 6.95 0.98 0.37 0.86 0.86 0.14 0.47 2104.82 8.74 2034.10 15.09 2124.83 8.48 96.64
Z-12 0.00385 0.43 6.25 1.03 0.34 0.94 0.90 0.13 0.43 2011.86 9.04 1872.84 15.26 2107.82 7.77 93.09
Z-14 0.00803 0.37 7.40 1.17 0.39 0.84 0.69 0.14 0.81 2160.86 10.47 2126.94 15.25 2143.50 14.62 98.43
Z-15 0.12418 0.26 4.91 1.36 0.28 1.27 0.93 0.13 0.48 1804.65 11.47 1594.14 17.95 2006.79 8.79 88.33
Z-16 0.18455 0.48 5.87 1.02 0.31 0.90 0.88 0.14 0.47 1956.94 8.81 1762.80 13.90 2119.15 8.46 90.08
Z-17 0.04677 0.49 6.29 1.01 0.33 0.83 0.80 0.14 0.58 2016.51 8.88 1854.48 13.39 2136.97 10.44 91.97
Z-18 0.01246 0.35 6.84 0.96 0.36 0.79 0.80 0.14 0.54 2090.76 8.53 1974.79 13.52 2157.31 9.78 94.45
Z-19 0.01116 0.21 5.47 1.02 0.30 0.92 0.88 0.13 0.46 1896.29 8.78 1706.32 13.73 2060.91 8.27 89.98
Z-22 0.00759 0.43 6.98 1.01 0.37 0.93 0.91 0.14 0.40 2108.65 9.01 2023.88 16.21 2142.66 7.14 95.98
Z-23 0.00998 0.31 7.10 1.26 0.37 1.18 0.93 0.14 0.44 2124.33 11.20 2047.40 20.66 2149.91 8.00 96.38
Z-24 0.00411 0.41 6.93 0.88 0.37 0.76 0.84 0.14 0.45 2102.07 7.83 2021.05 13.14 2132.53 8.13 96.15
Z-25 0.00698 0.35 6.82 1.17 0.36 1.12 0.95 0.14 0.34 2087.88 10.36 1995.01 19.22 2130.92 6.09 95.55
Z-26 0.00878 0.37 7.11 1.04 0.37 0.94 0.90 0.14 0.44 2125.62 9.26 2043.83 16.53 2156.00 7.84 96.15
Z-27 0.00794 0.44 7.37 0.93 0.39 0.80 0.84 0.14 0.47 2156.83 8.31 2117.96 14.45 2144.30 8.51 98.20
Z-28 0.01933 0.32 6.21 0.91 0.33 0.78 0.84 0.13 0.46 2005.36 7.95 1858.47 12.66 2110.34 8.28 92.68
Z-29 0.10947 0.39 4.55 2.14 0.25 2.06 0.96 0.13 0.58 1741.04 17.80 1440.69 26.57 2073.44 10.48 82.75
Em negrito os zircões usados para o diagrama concórdia.

Ao usar esses dados pode-se relacionar a idade de intercepto inferior de 614±84 Ma a


uma idade próxima à do último evento tectono-termal, relacionado ao evento Brasiliano. Esta
interpretação condiz com a evolução da Faixa Brasília, porém com a ressalva de que esta
idade não pode ser considerada absoluta pelo grande erro. O elevado erro na idade de
intercepto inferior pode evidenciar no mínimo 2 eventos tecno-termais, que pode ser gerado
pela rotação da reta discórdia. Esse evento intermediário, entre a cristalização e o último

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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

evento metamórfico, pode ter ocorrido entre 2114±11Ma e 2114±19Ma, marcado pela idade
concórdia e pela idade Pb/Pb, respectivamente, ou estar relacionadas as idades Pb/Pb mais
jovem de 2006±8 Ma.

Figura 12: Diagrama concórdia para as idades U-Pb, acima idades Pb/Pb, abaixo relação com idades Pb/Pb e
razão Th/U, evidencia da origem ígnea das idades U/Pb.

Sendo assim, tem-se que a idade de 2229±13 Ma a 1σ (Fig. 12), do intercepto superior
é interpretada com a idade de cristalização do protólito ígneo dos gnaisses. A idade
intermediaria, 2175±14 Ma e as idades Pb/Pb podem estar relacionadas a um evento tectono-
termal pretérito. A idade de 614±85 Ma para o intercepto inferior é interpretada como
resultado do último evento metamórfico que afetou os gnaisses, temporalmente correlato ao
Ciclo Brasiliano Pan-Africano.

7 - DISCUSSÕES E CONCLUSÕES
A região de São Valério da Natividade é constituída dominantemente por dois
complexos constituídos por gnaisses e migmatitos miloníticos ortoderivados associados a
xenólitos. Os gnaisses possuem um bandamento marcado pela alternância de bandas quartzo-
feldspáticas com bandas máficas onde dominam essencialmente biotita, biotita + muscovita e
muscovita. Os migmatitos são constituídos por um paleossoma gnássico cortado por
leucossomas de injeção. Os xenólitos consistem de xistos metapelíticos e gnaisses
metapsamíticos. O trend estrutural da área estudada é nordeste, marcado pela orientação do
bandamento gnássico do paleossoma dos migmatitos, bandamento dos gnaisses e
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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

xistosidades, que apontam para direções variando de N20º-70ºE, com mergulhos de 25º a 84º
SE ou 70º a 82º NW. Os porfiroblastos de estaurolita registram uma foliação interna (S1), cuja
crenulação marca uma foliação S2 que não apresenta continuidade com a xistosidade da rocha.
Dessa forma, a xistosidade e o bandamento dos gnaisses e do paleossoma do migmatito
marcam uma foliação S3, que é o trend dominante na área estudada e aproximadamente
paralelo a Zona de Cisalhamento Rio Maranhão.
A associação mineralógica dos gnaisses ortoderivados estudados não permite
significativos avanços quanto as condições de pressão e temperatura nas quais o
metamorfismo se desenvolveu. No entanto, podemos tecer algumas considerações baseadas
na associação mineralógica dos metapelitos e na presença de migmatitos. Migmatitos se
formam em temperaturas compatíveis com a fácies anfibolito superior (alto grau
metamórfico), ou mais elevada, especialmente associados a reações de desidratação, como a
da muscovita: muscovita+quartzoK-feldspato+silimanita+H2O. A associação mineralógica
e as texturas do estaurolita-granada-muscovita xisto sugerem a ocorrência de uma paragênese
metamórfica, em equilíbrio, típica da fácies anfibolito (médio grau metamórfico), zona da
estaurolita (muscovita+biotita+granada+estaurolita), de metamorfismo de média P/T do tipo
Barroviano. O cianita-granada-biotita xisto, que aflora na cava da mina da Fazenda Rodolita,
apresenta uma associação mineralógica com cianita e estaurolita que corroboram com a
hipótese de um metamorfismo de média P/T de médio grau metamórfico. Os porfiroblastos de
estaurolita do cianita-granada-biotita xisto apresentam coroas de reação para cordierita,
demonstrando seu caráter metaestável e sugerindo condições de mais baixa P. Além disso, as
texturas observadas nos porfiroblastos de cianita também sugerem que esta fase está
preservada em condições de metaestabilidade. A textura coronítica caracterizada por coroas
de cordierita no entorno de porfiroblastos de estaurolita, pode estar indicando uma inflexão da
trajetória metamórfica, no sentido horário, de média P/T para baixa P/T. A associação
clorita+mica branca indica a atuação de um retrometamorfismo da fácies xisto verde. Dados
de química mineral por microssonda eletrônica serão essenciais para a aplicação de métodos
geotermobarométricos que permitam uma melhor determinação das condições de pressão e
temperatura do metamorfismo na região de São Valério da Natividade.
A presença de silimanita em reação com biotita, feldspato e quartzo, geralmente são
creditadas a condições de alta temperatura (>630°C), em condições de faces anfibolito
superior, reconhecida pela associação Granada+Biotita+Cianita ou Sillimanita, ao qual é
compatível com a formação dos primeiros melt em migmatitos com presença de H2O. Além
disso, a grande quantidade de quartzo inibe a formação de estaurolita e a presença de biotita
metaestável, indica que a biotita não está longe do seu campo de estabilidade ~800°C (Bucher
e Grapes, 2011). Entretanto, segundo Vernon (1987) as concentrações de sillimanita são
devidas, em grande parte, à capacidade de agregados de fibrolita sofrer forte deformação não-
coaxial por deslizamento de borda de grão (grain-boundary sliding), enquanto outros minerais
são instáveis nestas zonas e se concentram em zonas interfoliar de menor tensão. Formação e
concentração de silimanita foliar pode ser assistida por fluxo de fluido e a lixiviação de
cátion-bases locais, por meio do qual os minerais instáveis, nas zonas de alta tensão não-
coaxial, são dissolvidos e removidos destas zonas. Musumeci (2002), relata o
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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

desenvolvimento da silimanita, como resultado da ação deformação heterogénea e pressão de


fluido, permitindo a substituição de feldspato e biotita magmáticos, com a remoção de álcalis
e sílica, por meio de solução incongruente sob pressão, contribuindo para a nucleação e
crescimento de silimanita em zonas de cisalhamento sob condições de fácies anfibolito. A
ocorrência de uma fase fluida sin-deformacional aumenta o desenvolvimento das reações de
substituição, pois permite a dissolução de minerais reagentes, lixiviação e precipitação de
minerais produtos, em fraturas de dilatação. O aparecimento de silimanita (fibrolita) em
associação com muscovita em rochas quartzo feldspática está associada a primeira isócrona
da silimanita (And>Sil ou Ky>Sil), ao qual a silimanita pode crescer como massas fibrosas
dentro da muscovita ou biotita em substituição (Sen, 2014).
Os dados litoquímicos apontam que tanto o gnaisse do Maciço de Goiás, quanto os
gnaisses do Domínio Cavalcante-Arrais pertencem a suítes cálcio-alcalinas de médio potássio,
com altos valores de sílica. Porém, enquanto o paleossoma do biotita migmatito do Domínio
Cavalcante-Arrais apresenta um caráter mais primitivo, ligados a uma fonte E-MORB, os
gnaisses apresentam protólitos que se comportam como suítes TTG’s cálcio-alcalinas
paleoproterozóicas. Estes gnaisses podem estar relacionados a uma fonte gerada sob média
pressão com retrabalhamento crustal, principalmente nos gnaisses do Maciço de Goiás, onde
os elementos menores apontam para um fracionamento em biotita e granada. Já os gnaisses do
Domínio Cavalcante-Arrais apresentam uma fonte com possível fracionamento de granada e
cristalização de biotita. Os dados litogeoquímicos mostraram, ainda, que os gnaisses do
Maciço de Goiás não podem ser tratados como TTG s.s, sendo mais compatíveis com
complexos gray gneisses, enquanto que o paleossoma do biotita migmatito do Domínio
Cavalcante-Arrais pode ser relacionado a arcos primitivos. Os gnaisses desse domínio
pertencem a suítes TTG’s cálcio-alcalinas paleproterozoicas, segundo Condie (2005), o que
não lhe compete um caráter de suíte TTG s.s. e sim como retrabalhamento de TTG mais
antigos.
A idade de 2229±13 Ma, obtida, neste trabalho, para um biotita gnaisse do Bloco
Crustal Cavalcante-Natividade é interpretada como a idade do protólito ígneo. Essa idade
difere das idades de 2143±11 Ma, apresentadas por Fuck et al. (2014), na região de São
Valério da Natividade, ao qual é relacionada a suíte Pau de Mel (Arco Campinorte), está suíte
apresenta idades entre 2,19 e 2,07 Ga segundo Cordeiro et al. (2014). Assim como, as idades
2172 ± 16 Ma, apresentadas por Praxedes (2015) da suíte Arumina, de caráter peraluminoso
sin colisional, relacionada ao Domínio Cavalcante-Arrais. Idades de cristalização entre 2,2 a
2,3 Ga são encontradas no Domínio Almas-Conceição do Tocantins (Cruz, 2001; Cruz et al.
2003), e são relacionadas a duas suítes TTG’s cálcio-alcalinas, da suíte Almas–Dianópolis. Já
Abdalla e Rodrigues (2014) correlacionam idades U-Pb de 2265 ±9.6 Ma a suíte
peraluminosa Ribeirão das Areias, ao qual apresenta mais afinidade com o provável protólito
do biotita gnaisse. Já a idade de idade de intercepto inferior 614±85 Ma, condiz com a
evolução neoproterozoica da Faixa Brasília (Pimentel et al. 2000a, Fuck et al. 2014).
A constatação de que os trends estruturais em ambos os lados da Zona de
Cisalhamento Rio Maranhão são paralelos, aliados a idade do intercepto inferior do diagrama
concórdia (614±85 Ma), sugerem que o evento metamórfico neoproterozóico relacionado ao
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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

Ciclo Brasiliano Pan-Africano na Faixa Brasília foi o responsável pela geração dos gnaisses,
migmatitos e xistos da região de São Valério da Natividade, tanto do Maciço de Goiás como
do Bloco Crustal Cavalcante-Natividade.

Agradecimentos
Agradecemos ao Programa de Pós-Graduação em Geociências da Universidade
Federal de Mato Grosso, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso pelo
apoio no projeto “Minerais não Metálicos da região Amazônica: Caracterização e Gênese. ”
Edital nº 009/2009 – PRONEX, Processo: Nº8434612009 e a CAPES pela concessão da bolsa
de mestrado do primeiro autor.

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Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

CAPÍTULO 3
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A área de estudo compreende dois domínios com origem distintas, formadas no


paleoproterozoico, o primeiro formado por arcos primitivos, representado pelo biotita
migmatito, com formação de gnaisses miloníticos associado a arcos acrescionários ao cráton
São Francisco, evolvidos na orogênese estateriana, nesse trabalho, compreende o domínio
Cavalcante-Arrais, ao qual o evento metamórfico seguinte é relativo a formação de uma suíte
sin colisional, relativa a suíte Aurumina. A seguir a formação de um complexo gray gneisses
(Moyen e Martin, 2012), com gnaisses peraluminosos, relativos a retrabalhamento crustal,
ricos em biotita e muscovita encaixados em sequencias peliticas e psamiticas metamorfisadas
em faces anfibolito, relacionados ao Domínio Campinorte. Embora, dado geocronológico
apontam para uma perda de Pb, relativa ao neoproterozoico, essa não é necessariamente uma
prova da colisão desses domínios no neoproterozoico, e sim marca o envolvimento desses
domínios na evolução da porção Norte da Faixa Brasília, ao qual seu desenvolvimento ocorre
entre 710Ma a 680Ma, idades relativas a granulitos (Giustina et al. 2009) associados ao
sistema de cisalhamento Rio Maranhão.
Os dados relativos a petrografia dos metapelitos, apontam caminhos para realização de
dados analíticos relativos a geobarômetros e geotermômetros, em principal granada e
cordierita, ao qual podem registrar dados importantes sobre a evolução desses domínios. Com
complemento de dados geocronológicos em monazita ou em zircão detritico na reconstrução
de eventos geológicos ou na proveniência desses metassedimentos, ao qual poderia apontar de
forma mais concisa as relativas sequencias ao qual pertença, seja a sequência Campinorte, ou
a complexo granulitico.
A presença de silimanita em muscovita-biotita-silimanita gnaisse apontam para um
evento metamórfico de alta temperatura na face anfibolito superior (Bucher & Grapes, 2011),
sin-cinético a zona de cisalhamento, sob regime dúctil-rúptil e/ou rúptil-dúctil, o que pode ser
diacrônico com a presença de cordierita e orto-anfibólio em metapelitos, e formação de
complexos gnáissicos migmatitos relativos a retrabalhamento crustal, em fase tardia de um
sistema orogênico.
Quanto a microtexturas de recristalização em quartzo e feldspatos relativos a
recristalização dinâmica, associados a foliação subvertical com lineação mineral sub-
horizontal e migmatitos estromáticos indicam a ação de deformação por regime de
cisalhamento sob pressões medias e alta temperatura, com desenvolvimento de uma fase
posterior de baixa temperatura e baixa deformação, com um caráter rúptil, tardio. A análise de
microestruturas unidas de geoquímica mineral, principalmente em bordas de crescimento, em
plagioclásio tem sido usada para a construção de dados relativos a geobarometria e
principalmente geotermometria, o que pode contribuir com os dados descritos nesse trabalho
relativos a microtectônica que apontam para temperaturas e pressões relativas a faces
anfibolito.
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Borges, M.B. 2016. Petrografia das Rochas Metamórficas da Região de São Valério da Natividade (TO) e
Litoquímica e Geocronologia dos Gnaisses.

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