Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
Naturais e Sociais:
Pesquisa Quantitativa
e Qualitativa
PION E IRA
)tE
T t-I O M SON LEARNIN G
Australia Brasil Canadá (ingapura Espanha Estados Unidos México Reino Unido
CAPÍTULO 7
o Planejamento de Pesquisas
Qualitativas
1. O termo rlesigll, no que se refere ~ pcsCjui sé1, tcm sid o tradu zido como desenho o u pla-
ncjamenlo. O rlesigll corresponde ao plnllo e lIs cstr.l légias utilizndCls pelo pesqui sndor para responder
às C]ucstõcs propost(lS pelo estudo, incl uindo os procedimentos c instrumentos d e coleta, análise
c interpretação dos dados, bem como ii lógica que liga entre si diversos aspectos da pesqu isa .
148 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOrn & FERNANDO GEWANDSZNAjDER
experientes precisam ter seus projetos aprovados, seja por colegiados das insti-
tuições em que traba lham, seja por agências de fin anciamento. Por isso, o
projeto precisa ser convincente, demonstrando ao ava li ador que: a) vale a pena
fazer a pesq uisa; b) o pesq uisador tem condições de realizá-Ia; c) o estudo es tá
cuidadosamente planejado e pode ser implementado com sucesso (Marshall &
Rossman, 1989). Nunca é demais lembrar que comissões avaliadoras, sejam elas de
un.iversid ades, de centros de pesquisa ou de agências financiadoras, difici lmente
aprovarão um projeto que não define nem o foco, nem o quadro teórico, nem o
rlesign, nem o cronograma, nem as contribuições que pretende dm; como defendem
alguns constl'l\tivistas (vel; por exemplo, Lincoln & Guba, 1985, pp. 224-225).
Concluindo, diante das dificuldades mencionadas, d ecorrentes da história
e da própria natlll'eza da s p esquisas qualitativas, é compreensível que p esqui-
sadores inexperien tes que optam por utili za r uma metodologia qualitativa
fiquem inseglll'os quanto ao planejamento de sua p esqui sa e, mais esp ecifica-
mente, quanto à elaboração do projeto. Consciente d essas dificuldades, procu-
ramos, com base na litera tura recente e em nossa própria experiência como
p esquisadora e orientadora d e teses e di ssertações, di scutir alternativas e ofere-
cer sugestões, acompanhadas de exe mplos e indicações bibliográficas, que
possa m ser de utilidade no p la nejamento de pesqu isas qualitativas. Tais suges-
tões d evem ser v is tas com a flexibilidad e que, sendo inerente a qua lquer projeto
d e pesquisa, é essencial aos es tudos qualitativos.
Um projeto d e p esqui sa consis te ba sicamente em um plano para uma
inves tigação sistemática que busca uma melhor comprensão d e um dado
problema. Não é uma "ca misa-de-força" nem um contrato civil que prevê
penalidades, caso alguma das promessas feitas for quebrada . É um g uia, uma
orientação que indica onde o pesquisador quer chegar e os caminhos que
pre tende tomar.
Assim, seja qual for o paradigma em que se es tá op erand o, o projeto deve
indicar: (a) o que se pretende inves tigar (o problema, o objetivo ou as ques tões
do estudo); (b) como se p lanejou condu zir a investi gação de modo a atingir o
objetivo e/ ou a responder as ques tões propostas (procedimentos me todológi-
cos); e (c) porque o es tudo é relevan te (em termos de contribui ções teóricas e/ ou
práticas que o estudo p ode oferecer).
Esses aspec tos serão d iscutid os a seguir.
No seu sentido mais es trito, "problema de pesqu isa" é definid o como uma
indagação referente à relação entre d uas ou m ais va riáveis. Essas variáveis
podem ser diferentes aspectos da conduta de indivíduos, como, por exemplo,
fru stração e agressividade; d ois eventos socia is, como, exclusão socia l e crimi-
nalidad e; e assim por diante. Al'elação esperada (a hipótese) é d ed uz ida de uma
150 ALDA )UDITH ALVES-MAzzorn & FERNANDO GEWANDSZNA)DER
2. Dada s ua impo rt ância na pCSqu iSél e, t,lInbélll, as d ificuld ndes cnvolvidns, a "revisão
da bibliografia" se rá objc lo de um capí tul o à péll' tC.
152 ALDA JU DITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER
No que se refere ao projeto, a foca lização do problema cos tuma ser feita
nas seções:3 de "Introdução", "Obje ti vo e/o u Questões ou Hipóteses cio Estu-
do", aí podendo se incluir também o "Q uadro Teórico", quando isto não fere os
pressupostos do paradigma em que se es tá opera nd o. Esses aspectos serão
analisados a seg uir.
1 . 1 Introdução
3. USíll110S o termo "seção" à fa lta de o ut ro melhor, mns is to não quer d ize r que cad"
urna dessas informações precise co n ~ titll i r 1I1l1íl scçfi.o do projeto, o importémte é que estej ,m1
presentes.
4. De fato, mes mo ao es tud<ll' um "CílSO" específico, o pesq uisador deverá, sempre que
possível, ind ica r íl que rcnômcllo mais am plo o "Cíl 50" cs tud élclo se relaciolla, m as não Clpenas
para in teressaI" um nlimero mêlior de leitores c sim parn 'l llC ii ilcul1llilnçi'io do con hec imento,
nccess<Ír ia aO cl escnvo lvilnento da 'lllcla <Í rcôI cm 'lue o caso se in scrc, possa ocorreI".
o Mi'rrODO NAS CI~NCIAS NATURAIS E SOCIAIS 153
[Apresentação do problema):
Durante a década de 80, a população das grandes cidades brasileiras viu,
entre assustada e perplexa, os espaços urbanos serem ocupados por um
crescente contingente de crianças e adolescentes que buscavam, nas ruas,
meios de sobrevivência. Embora o problema da "infância desvalida" não seja
novo nem circunscrito aos parses pobres, constitura-se ar um novo objeto social,
uma vez que, por seu número e modos de agir, aqueles que passaram a ser
chamados genericamente de "meninos de rua" representavam um fenômeno
ainda desconhecido.
154 ALDA JUDITH ALVE5-MA ZZOm & FERNANDO GEWANDSZNA1DER
Tais expli cações, porém, deixam de lado uma questão crucia l para a
comprensão do problema dos meninos e meninas de rua, e que procuramos
investigar em estudo anterior: "o que faz com que, aparentemente enfrentando
condições socioeconôm icas igualmente desfavoráveis, algumas crianças perma-
neçam ligadas a suas famrlias enquanto outras trocam a casa pela rua?" IAlves,
1992, p. 119). Os resultados desse estudo, que distinguiu e comparou familias
de meninos trabalhadores e de meninos de rua - aqueles que romperam os
vrnculos familiares e moram na rua - indicaram que os rendimentos desses dois
grupos eram equivalentes, não constituindo, portanto, fator relevante na distin-
ção entre eles. Mais ainda, a investigação de fatores socioeconômicos, familia-
res e individuais nos permitiu conc luir que somente a análise da interação entre
esses fatores seria capaz de levar a uma compreensão mais acurada do
problema. Em outras palavras, uma abordagem psicossocial fazia-se necessária.
Por que algumas esco las co nseg uem rndic es de aprovação t ão mais altos
que a média das que trabalham com alunos de baixo nrvel sócio-económ ico?
O que seus professo res e administradores t êm de especia l? O que distingue
a prática doce nte desses professores dos demais?
Qu al o impacto do Projeto X sob re o desenvolvimento da ca pac idade de
organização co munitári a do s moradores da fave la Y?
o MéTODO NAS C I ~NCIAS NATURA IS E SOCIAIS 157
S. Oqua dro tc6 r i coser~ discutido em d ct<llhc l1oc<lpítulo rcfcrcnte à revisão da bibliografia.
o MÉTODO NAS CI ~NCIAS NATURAIS E SOCIA IS 159
6. Embora vários especia li s tas CIl'\ pesquisa 'lu<llitativa use m o termo "a mos tra" (além
de Lincoln e Guba podemos citar Huber man c Miles, 1984, Pattoll, 1986, Mars hal e ROSSl11iUl,
1989), concordamos co m Yin (1985) qu e o termo n ~o é adequêldo, lima vez que n50 se pretende
fazer genera li zações de ti po estatístico.
o M ÚTODO NAS c i êN CIAS NAT URAIS E SOCIAIS 163
As p esquisas qua litativas são carac teri stica mente multimetodol ógicas, isto
é, u sam uma grande variedad e de procedimentos e instrumentos d e coleta de
dados. Podemos dizer, entreta nto, que observação (participante ou não), a
entrevista em profundid ad e e a análise de d ocumentos são os m ais utili zad os,
embora possam ser complementad os por outras técnicas. Para uma descrição
d essas técnicas, suas vantagens e principais apli cações, bem como indicações d e
bibliogra fi a esp ecífi ca sobre cad a uma, ver Lincoln e Denzin (1994), Ludke &
André (1986), Le Compte, Mill roy e Preissle (1992), Marshall e Ross l~1an (1989)
e Yin (1985). Para técnicas quantita tivas, ver Kidder (1987). Na impossibilidad e
d e analisar aqui tod as essas técnicas, focali zarem os apenas as mais utili zad as.
164 ALDA JUDITH ALVES-MAZZOTTI & FERNANDO GEWANDSZNAJDER
2.4.1 Observação
tes para respondê-las. Este tipo de observação é muito usado para identificar
práticas que a teoria indica que são efi cazes e eventualmente pode u sa r alguma
forma de quantificação.
O lúvel d e quantificação pode apresentar as seg uintes variações:
o professor:
se dirige à classe como um todo 111111
trabalha com pequeno s grupos III
traba lha ind ividua lmente com aluno 1111
não está envo lvido em qu alquer intera ção II
(
alta 2 mOd;rada 0 ba~xa J
"--------
x
exce lente bom reg ul ar so frrvel péssimo
2.4.2 Entrevistas
2.4.3 Documentos
coleta de dados e na análi se fin al, e inclui suges tões específi cas para pesquisas
desenvolvidas em um único contex to e parn aq uelas qu e comparam dois ou
mais contex tos, Tai s sugestões, desde que usa das com a fl exibilidade que p er-
mita a emergência de achad os não antecipados, podem ser de grand e utilid ade,
principalmente para o pesqui sador ini cian te,
Q uanto ao projeto de pesquisa, embora de um modo geral pouco possa ser
antecipado, em decorrência d a próp ria natureza do processo de análi se de
dados qualitativos, o grau de especificação possível vai variar em função do
grau de focalização prévia do problema, Se o pesqui sa dor adotou um referen-
ciai teórico que lhe permite des tacar dimensões e ca tegori as inici ais de análi se,
ou mesmo relações esperadas, estas devem ser explicitadas, Se, ao contrário,
op tou por uma focali zação mais aberta, sem um referencia l interpretativo,
dimensões ou categorias definidas, pode, ao menos, antecipar os proced imen-
tos gerais que permiti rão que emerjam dimensões e ca tegorias relevantes, bem
como suas relações e significados, Em ou tras palavras, o pesquisador pode
informar que sua análi se será desenvolvida durante tod a a investigação, a través
de teorizações progressivas em um processo interativo com a cole ta de dados,
Como observam Marshall e Rossman (1989), nesta seção do projeto o
pesquisador deve descrever suas decisões iniciais sobre a análise dos dados e
convencer o leitor de que está consciente das dificuld ades inerentes a essa
análise e é suficientemente competente para rea lizá-la,
É necessário lembrm; ainda, que, quando dados quantitativos são usados
p ara complementar os qualitativ os, o tratamento dado a cada um deles deve ser
descri to separadamen te,
Tri ang ul ação. Já d issemos anteriormente que as pesqu isas q uali ta tivas costu-
mam usar várias maneiras de ob ter seus dados. Q uando buscamos d ife rentes
maneiras para investiga r UIll IllesnlQ ponto, estmn os lIsando tuna forma de
tri angul ação. Denzin (1978) apresenta quatro ti pos de triangulação: de fontes,
de mé todos, d e investigadores e de teorias. Q uando u m pesq uisad or compara
o rela to de um informante sobre o que ocorreu em uma re união com a ata dessa
mesma reunião, es tá fazendo uma triangulação de fontes. A triangulação d e
métodos gera lmente se refere à com paração de d ados coletados por mé todos
qualitativos e quantita tivos (Patton, 1986), mas também pode se referir à com-
p aração d e d ados de entrevistas com dados obtidos em um teste de associ ação
livre, por exemplo. As duas outras formas de triangulação - d e investigadores
e d e teorias - são menos usadas, não apenas por aca rretarem maiores dificulda-
d es, mas também por terem implicações epistemológicas que entra m em cho-
que com características d o pa rad igma construtivista, impedind o s ua aceitação
pelos adeptos dessa corrente. Q uanto ao primeiro, Lincoln e Guba (1985) argu-
mentam que, se o design é emergente e se sua form a depende d a interação do
investigad or com o contexto, não se pode esperar que diferentes pesquisad ores
cheguem aos mesmos resultados . Quanto à triangulação de teori as, esses auto-
res afirm am que, se as teorias de terminam os fatos, a confirmação d e um fa to
por duas teorias ind ica ria m uito m ais uma semelhança entre elas que uma
maior significação d o fa to.
3. Conclusão