Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
INTRODUÇÃO
Constantemente, no contexto acadêmico e escolar, ouvimos falar que muitos
alunos não aprendem. Todavia, ainda que se ouça falar muito sobre esses alunos,
ditos com dificuldades de aprendizagem, em nenhum ou em raros os momentos,
existe a preocupação de ouvi-los, uma vez que temos a prática social e cultural de
desconsiderar o que as crianças e adolescentes têm a nos dizer, sobretudo, aqueles
rotulados por algum motivo, deixando-os calados diante de uma realidade social da
qual também fazem parte.
Considerando os estudos referentes à construção do conhecimento social, a
partir da epistemologia genética piagetiana, apresentamos dados de uma pesquisa
que objetivou investigar as representações de estudantes, com queixas de
dificuldades de aprendizagem, sobre o aprender e o não aprender.
A construção do conhecimento social, embora menos explorada por Piaget
(1896-1980), vem sendo alvo de trabalhos no contexto internacional (ENESCO et
al.,1995; DELVAL, 2002; DELVAL, 2007; RODRIGUEZ et al., 2008) e nacional
(ARAÚJO, 2007; CANTELLI, 2009; SARAVALI et al., 2012). Nesses estudos, observa-
se: 1) o longo processo percorrido pelos indivíduos ao se apropriarem das informações
provenientes do meio social, isto é, apesar de se tratar de um conhecimento
socialmente difundido, ele é reorganizado pelo próprio sujeito (MONTEIRO;
SARAVALI, 2013; SARAVALI; SILVA, 2014); 2) as crenças específicas elaboradas, ao
longo do desenvolvimento, sobre diferentes noções sociais (TREVISOL, 2002;
OTHMAN, 2006); 3) a semelhança dessas crenças entre sujeitos de diferentes
contextos (AMAR et al., 2006; ARAÚJO; GOMES, 2010); 4) as implicações
OBJETIVOS
MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diálogo estabelecido após o desenho: VIC (9;7) – Por que essa pessoa aprende, por
que ela consegue aprender? Porque ela estuda e obedece a professora. Todo mundo
que estuda e obedece a professora aprende? Aprende. [...] Por que essa pessoa não
aprende? Porque ela faz bagunça, não quer aprender nada. Quem faz bagunça, não
aprende? Não. Só quem faz bagunça que não aprende? É só..
Diálogo estabelecido após o desenho: GLO (12;2) – O que você acha que está
acontecendo com o Marcelo? Ele fica fazendo baderna dentro da sala de aula. Por
que ele não aprende? Porque não presta atenção nas coisas e não fica quieto. Quem
pode ajudar o Marcelo? A professora. O que a professora pode fazer para ajudar?
No segundo nível, que se estende dos 10-11 anos aos 13-14 anos, há o início
da consideração de aspectos não visíveis das questões sociais e começa a aparecer a
percepção de processos que devem ser inferidos, pois estão inicialmente ocultos. Os
conflitos são melhores compreendidos, embora a coordenação de diferentes pontos de
vista seja algo ainda difícil de ocorrer. As respostas desse nível começam a considerar
o papel do professor de forma mais crítica. Dessa forma, o aluno pode não aprender
porque o professor não ensina bem. Não se justifica mais a aprendizagem somente
por fatores sempre e apenas inerentes aos próprios alunos.
Ressaltamos apenas 10% da amostra, tanto em relação ao desenho como na
história, respondeu de forma mais abrangente como o problema do não aprender
poderia ser solucionado e encarou o conflito da não aprendizagem como um
fenômeno social que traz ao indivíduo influências sociais, como o previsto para o nível
II de compreensão da realidade social. Alguns exemplos:
Diálogo estabelecido após o desenho: IGO (16;11) – [...] E essa outra pessoa que
você desenhou, por que não aprende? Não sei [...] Pode ser o professor, o jeito que a
pessoa ensina. Tem pessoa que tipo você errou numa coisa, ela vai te ensinar e é
muito grossa. Fala que você é meio que burro. Aí, por exemplo, se fosse comigo, eu
não ía aprender com uma pessoa dessa, ía ficar meio assim de aprender [...]
Diálogo estabelecido após o desenho: ANA (12;10) – O que está acontecendo com o
Marcelo? Ele não deve tá prestando atenção [...] Pra ele aprender tinha que parar e
pensar no que ele tá perdendo, pra professora ajudar também. Tem professor que é
relaxado e fica falando que esse aluno não tem mais jeito, só que ele tem [...]
No terceiro nível, cujo início ocorre por volta dos 13-14 anos, observa-se que
os processos ocultos, bem como as diferentes possibilidades de uma mesma situação,
passam a ser considerados. Os sujeitos estão de posse de mais informações sobre o
meio social, mas aqui conseguem relacioná-las e integrá-las num sistema mais
coerente. “Os sujeitos se tornam muito mais críticos em relação à ordem social
Tabela 1. Distribuição dos sujeitos por faixa etária e por nível de compreensão da
realidade social
IDADES
NÍVEL
6 9 12 16 TOTAL %
Nível I 90,0
10 10 9 7 36
Nível II
- - 1 3 4 -
Nível III - - - - - -
Fonte: Elaborada pela autora.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ELBAUM, B., VAUGHN, V. Self-Concept and Students with Learning Disabilities. In:
H.L. Swanson, K.R. Harris; S. Graham. Handbook of learning disabilities. United
States: Guilford Press, 2003. p. 229-241.
LADD, G. W.; BUHS, E. S.; TROOP, W. Children's interpersonal skills and relationship
in school settings: adaptive significance and implications for school based prevention
and intervention programs. In: SMITH, P.K.; HART, C.H. Blackwell Handbook of
Childhood Social Development. Padstown: Backwell, 2002. p. 394-415.