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A Escuta na Clínica Fenomenológica e os Fundamentos da Fenomenologia Husserliana1

Jean Marlos Pinheiro Borba2


Lidiane Verônica Collares da Silva3
Thayane Cristhine Amaral Oliveira4

“Não é da filosofia que deve partir o impulso da


investigação . . . Mas sim das coisas e dos
problemas”. (Edmund Husserl).

1 Prolegômenos a Clínica Fenomenológica de Base Husserliana.

Discorrer sobre Psicologia Clínica é sempre ingressar em um terreno de múltiplas


camadas. Nesse sentido, quando nos referimos à Psicologia de orientação fenomenológica
apontamos que existem vários modos de pensar e conceber a clínica que se sustentam na
literatura utilizada nos referenciais teórico, psicológico e filosófico escolhidos pelo psicólogo
que orientam ou apoiam sua prática. Há ainda a influência do local e instituição da qual
recebeu formação. Os agentes formadores são sempre aqueles com os quais o psicólogo
reflete e/ou orienta seu trabalho.
Em geral quando se fala, na maioria das apresentações, em clínica fenomenológica, os
autores mais citados são: Martin Heidegger, Sören Aabye Kierkegaard, Maurice Merleau-
Ponty, Jean-Paul Sartre e Martin Buber. Todavia, há autores pouco estudados e/ou
conhecidos, como membros do movimento fenomenológico que se forem revisitados com
seriedade podem apresentar inúmeras contribuições à clínica de orientação fenomenológica,
tais como: Edmund Husserl, José Ortega y Gasset, Edith Stein e Alfred Schutz. Essa riqueza
de olhares predomina no exercício da clínica fenomenológica no Brasil e também tem aberto

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Capítulo publicado em BORBA, Jean Marlos Pinheiro, SILVA, Lidiane Verônica Collares da, OLIVEIRA,
Thayane Cristhine Amaral A esculta na clínica fenomenológica e os fundamentos da fenomenologia
husserliana.In.: PIMENTEL, Adelma, LEMOS, Flávia, NICOLAU, Roseane (orgs.). A escuta clínica na
Amazônia. Vol.I. Belém: EDUFPA, 2017.
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Doutor em Psicologia Social, Pós-doutor em Filosofia, Professor do Programa de Pós-graduação em Psicologia
– PPGPSI da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, linha de Pesquisa Avaliação e Clínica Psicológica,
Psicólogo, Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica – GEPFPF.
e-mail: jean.marlos@ufma.br
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Bacharel em Psicologia, mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia (linha de Pesquisa Avaliação
e Clínica Psicológica) da Universidade Federal do Maranhão, - UFMA; Membro do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica – GEPFPF e-mail: . e-mail:
lidianecollares@hotmail.com
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Psicóloga, mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia (linha de Pesquisa Avaliação e Clínica
Psicológica) da Universidade Federal do Maranhão, - UFMA; Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em
Fenomenologia e Psicologia Fenomenológica – GEPFPF . e-mail: thayane.amaraloliveira@hotmail.com
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espaço para os pesquisadores que buscam o retorno à coisa mesma, ou seja, aos fundamentos
da fenomenologia husserliana que estão na base da clínica e da escuta fenomenológica.
Percebemos em nossas pesquisas que muitos psicólogos de orientação fenomenológica
possuem pré-conceitos a respeito de Edmund Husserl, contribuindo assim para o afastamento
da leitura dos seus textos originais em detrimento de outros autores, o que inviabiliza o
aprofundamento sobre a possibilidade de uma clínica de base fenomenológica husserliana.
Entretanto, os estudos que realizamos na linha de pesquisa de Saúde, Psicologia
Clínica e Fenomenologia da Psicopatologia e Fenomenologia Husserliana e Psicologia
Fenomenológica Fenomenologia da Psicologia Clínica apontam quais fundamentos da
fenomenologia e da psicologia fenomenológica de Edmund Husserl podem ser evidenciados e
colocados a serviço, rigorosamente, do psicólogo clínico, quer no exercício da psicoterapia ou
da clínica ampliada.
O pai da fenomenologia não teve atuação clínica, mas deixou bases sólidas que ainda
são pouco conhecidas, contudo de importância crucial para a atuação do psicólogo de
qualquer abordagem teórica, epistemológica ou metodológica. Como bem corrobora Peres
(2013, p. 40) “Husserl, no artigo da Logos, argumenta que a nova ciência, a fenomenologia,
teria o papel (entre outros tantos), de fundamentar e clarear os conceitos da psicologia”.
Posto isso, a fenomenologia contribui com um novo modo de ação do psicólogo que, por
vezes é enraizada em pressupostos dogmáticos, que decorrem de uma orientação natural e
acrítica dos fenômenos.
Tomar como base a atitude fenomenológica e o método fenomenológico são os
fundamentos mais divulgados, porém pouco aprofundados na leitura husserliana o que acaba
levando muitos profissionais a ingenuamente reduzirem-nos a uma “técnica”.
Este capítulo tem como intenção central apresentar resultados iniciais do levantamento
bibliográfico e reflexões sobre a escuta clínica baseada nos fundamentos da fenomenologia de
Edmund Husserl (1859-1938). Para tal alcance, o capítulo está estruturado da seguinte forma:
primeiro apresentamos breves considerações sobre a clínica, a fenomenologia e a
fenomenologia da clínica; em seguida, discutimos sobre a na clínica fenomenológica: ética,
disponibilidade e responsabilidade, para além das normas atuação do psicólogo, na sequência,
apontamos o caminho utilizado nesta investigação e, ao final apresentamos nossas
considerações e contribuições.

2 Breves Considerações sobre a Clínica, a Fenomenologia e a Fenomenologia da Clínica.


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De acordo com Ferreira (1988, p. 155) o substantivo feminino clínica possui os


seguintes significados: “1. A prática da medicina. 2. A clientela de um médico. 3. Lugar
aonde vãos os doentes consultar um médico, receber tratamento ou submeter-se a exames
clínicos, radiografias, etc. 4. Casa de saúde. 5. Sanatório”. De imediato a leitura do vocábulo
direciona o leitor para a compreensão de que ela é uma prática exclusivamente médica
diretamente ligada aos binômios saúde-doença e tratamento-cura, como por exemplo, prática
exclusiva do médico, do médico veterinário ou de outro profissional do campo da saúde.
Mas antes disso, é preciso realizar uma fenomenologia da clínica. Fazê-la é debruçar-
se sobre esta prática para (des) velar, (des) cobrí-la e retirar dela tudo aquilo que a encobre e
que não permite que ela seja o que ela é em essência: um tipo de atuação profissional de ajuda
que permite a pessoa atendida entrar em contato em “carne e osso” como disse Husserl (2006)
com o seu vivido. A atuação do clínico requer tanto embasamento teórico quanto prático,
formação pessoal, supervisão, observância ao código de ética, às orientações e normas
técnicas disponibilizadas pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, bem como,
psicoterapia, atualização profissional. Precisa também de atuação com disponibilidade para
ajudar profissionalmente num agir ético que transcende normas e preceitos e que caminha na
direção de uma relação de encontro e de ajuda profissional.
Não será aqui retomado o percurso histórico do termo clínica, mas vimos como
necessário destacar que a adoção desse termo pela Psicologia está em sua própria constituição
e diretamente relacionado às práticas psicológicas que foram iniciadas no consultório, tal qual
o modelo médico e que perduram até hoje. É comum ouvir alguém dizer que quer consultar
um psicólogo. E o que seria, então, “consultar”?
Novamente, Ferreira (1988, p. 172) esclarece que o verbo consultar, transitivo direto,
indica:

1. Pedir conselho, opinião, instrução, parecer. 2. Procurar informar-se de alguma cosa


por meio de. 3. Sondar, examinar, antes de decidir. Dar ou apresentar a sua consulta ou
parecer sobre (algum assunto). 5. Pedir instrução, conselho, parecer. 6. Dar parecer. 7.
Tomar conselho na própria consciência, refletir, meditar.

Alvim e Castro (2015, p. 15) lembram o clássico significado do modelo clínico


hegemônico: “. . . de uma prática liberal, individual, focada no psíquico, no psicologizante,
identificada com o modelo médico que corresponde etimológico do Klino (grego): debruçar-
se sobre o leito do doente”.
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Na verdade, na perspectiva fenomenológica, a “inclinação” que se fala corresponde a


uma relação de disponibilidade, de encontro, de alteridade, onde ocorre a suspensão
temporária do nosso mundo e do mundo das interpretações para que seja possível à pessoa
atendida expressar-se, tomar consciência de si, de suas possibilidades e limitações.
Fica claro então que a etimologia das palavras “clínica” e “consultar” não são
suficientes para dar conta do significado da clínica psicológica, ou melhor, da atuação do
psicólogo na clínica, mas serve inicialmente nesta discussão para clarificar o que nomeio de
clínica fenomenológica ou fenomenologia da clínica psicológica.
Interessante destacar em Ferreira (1988, p. 172) o item 7. “Tomar conselho na própria
consciência, refletir, meditar”. Nesse sentido, a atuação do psicólogo permitiria a pessoa
atendida voltar o olhar de sua vida, de suas ações, de suas decisões, de sua angústia, sobre si
mesma e sobre as relações que ela estabelece com o mundo, com os outros, consigo mesma e
com os fenômenos que surgem para ela, eis que este esclarecimento caminha na direção dos
fundamentos da clínica fenomenológica. Contudo, a atuação do profissional deve ser baseada
nos fundamentos da fenomenologia, preferencialmente husserliana e, desse modo, pautada no
exercício da atitude e do método fenomenológico.
A fenomenologia e a psicologia fenomenológica, inauguradas por Edmund Husserl
(1859-1938), não se propunham a ser uma prática clínica e isso não as desvaloriza, ao
contrário, as tornam mais relevantes e sérias já que a fenomenologia enquanto atitude e
método de rigor (HUSSERL, 1907/1992) pretende fornecer os fundamentos para a
compreensão dos fenômenos que surgem na consciência intencional diante do mundo-da-vida.
Ela pode subsidiar a ação do Psicólogo e de outros profissionais em diferentes contextos, quer
clínicos ou não.
As discussões propostas por alguns de que a fenomenologia não tem aplicação na
clínica ou que Husserl não era clínico são ingênuas, desnecessárias e inviabilizam o real valor
da proposta rigorosa da fenomenologia, que exige sempre o “voltar às coisas mesmas”. É dos
fenômenos e dos sentidos dados pela pessoa atendida, ainda que em atitude ingênua, que
devemos partir e não das interpretações que fazemos desconsiderando o modo de ver daquele
que vê.
O desconhecimento de muitos do teor das husserlianas5 e a não inclusão de forma
rigorosa e fidedigna das ideias deste intelectual nos livros que registram as contribuições da
fenomenologia para a Psicologia é um dos grandes entraves para o preconceito e ao

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Este termo é utilizado quando se faz referencia a um dos texto que compoem a obra de Husserl.
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pronunciamento de muitos de que fenomenologia é apenas método e filosofia. Enganam-se,


pois há dois desmembramentos da fenomenologia, um em que Husserl indica a
fenomenologia enquanto filosofia fenomenológica (Ideias I) e no outro ele apresenta uma
Psicologia Fenomenológica (proposta já iniciada com a crítica ao psicologismo em
Investigações Lógicas: prolegômenos à Lógica Pura, no artigo Fenomenologia da
Enciclopédia Britânica, na Psicologia Fenomenológica (1924-1925) e em A Crise da
Humanidade Européia e a Fenomenologia Transcendental (1935-1936).
Nas obras acima citadas, Husserl faz uma fenomenologia do apego da Psicologia à
ciência natural e seu método destacando que a Psicologia só poderia ser ela mesma se fizesse
uso da fenomenologia, voltando a ela mesma.
A fenomenologia husserliana é possível sim de ser vivenciada e “aplicada” à atitude
clínica e à psicoterapia quando se tem clareza de que ela não se reduz a uma metodologia ou
uma técnica específica, mas uma escuta ativa, uma observação atenta e uma espera pelo
fenômeno que emergirá do outro. (HOLANDA, 2014).
Cabe destacar que a Fenomenologia é, antes de ser método, uma atitude. Como
argumenta o próprio Husserl (1907/2008, p. 44): “Fenomenologia – designa uma ciência, uma
conexão de disciplinas científicas; mas, a mesmo tempo e acima de tudo, ‘fenomenologia’
designa um método e uma atitude intelectual: uma atitude intelectual especificamente
filosófica, o método especificamente filosófico.”.
O fato de Husserl afirmar ser ela uma atitude filosófica, não significa que possa
parecer ao leitor que ela é Filosofia, apenas que sem a Filosofia não pode haver
Fenomenologia ou Psicologia Fenomenológica. Eis que novamente Husserl (2009, p. 27):

Si esto es así, resultará entonces que, sin perjuicio de la verdade, la psicología es y


puede ser em tan escasa medida filosofia como la ciencia física de la naturaleza; pero
que la primera, por razones essenciales, habrá de estar próxima de la filosofia – a
través de la fenomenología – y los destinos de las dos deben quedar enlazados muy
íntimamente.

Concordo com Holanda (2014) quando destaca que a prática clínica não está vinculada
a clássica concepção de psicoterapia, mas sim as práticas desenvolvidas por psicólogos. Estas
práticas resultam de seus embasamentos epistemológicos, teóricos, metodológicos e de suas
vivências para compreensão do homem, de sua humanidade e de seus modos de ser e de estar
no mundo consigo mesmo, com os outros e com o mundo, não se podendo apenas migrar
conceitos, acreditando ingenuamente que eles darão conta de compreender os fenômenos que
ali surgem.
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A atuação na clínica tendo como base os fundamentos da fenomenologia husserliana


exige do psicólogo uma doação ao sentido originário das vivências que são evidenciadas por
aquele que fala, chora, manifesta tensão, tristeza, alegria, que silencia, que tagarela ou até
mesmo quando utiliza um jogo racional acreditando ingenuamente estar capturando o
psicólogo. Cabe então ao psicólogo rigor e atenção, zelando pelo exercício da atitude
fenomenológica em sua prática recorrendo quando necessário aos fundamentos que
possibilitam dialogar com outros modos de compreender os fenômenos e que não se reduzem
à tecnificação do vivido.
A atenção do psicólogo de orientação fenomenológica husserliana visa estar
disponível para o encontro entropático/empático de modo a possibilitar nesta relação a
“captura” da evidência do fenômeno que se mostra. Ensina Husserl (2001, p. 28): “Na
evidência, a coisa ou o “fato” não é “somente vista”, de maneira distante e inadequada; ela
própria está diante de nós e o sujeito que julga tem dela uma consciência imanente. (grifo do
autor)”.
E para a coisa ser vista, é necessário que o psicólogo esteja livre temporariamente de
conceitos e teorias e da atitude científico-naturalizante, ou seja, a atitude intelectual natural
que tudo tenta encaixar e enquadrar para atender a sua intenção explicativa e cientifica. Para
então afastar da atitude científica natural recomenda Husserl (2008, p. 23) que: “. . . entre a
explicação científico-natural (psicológica) do conhecimento como facto natural e a elucidação
do conhecimento no pensamento o sentido da pergunta, por aquela possibilidade, precisa-se
da redução fenomenológica.”.
Nesse sentido, o estar disponível do psicólogo possibilitará via atitude fenomenológica
ao “inclinar-se” sobre o fenômeno do outro num contato imediato com o vivido e sua
evidência de mostração: “Na evidência, no sentido mais amplo desse termo, temos a
experiência de um ser; é portanto nela que o olhar de nosso espírito alcança a coisa em si”
(HUSSERL, 2001, p. 29).
E para chegar com originalidade à evidência e conhecer a intencionalidade, imbuído
da atitude fenomenológica deve o psicólogo lançar mão do método fenomenológico presente
nos fundamentos da fenomenologia, lembrando sempre que a Fenomenologia não é um
sistema de pensamento, não é apenas ciência ou teoria dos fenômenos, mas sim um
aprofundamento para compreensão do mundo. É um esforço radical que suspende as
explicações científicas do mundo, esforço este que reúne atitude e método num mesmo ato
(GUIMARÃES, 2013)
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É preciso também estar atento à presença da intencionalidade que segundo Husserl


(2001, p. 51): “A palavra intencionalidade não significa nada mais que essa particularidade
fundamental e geral que a consciência tem de ser consciência de alguma coisa, de conter, em
sua qualidade de cogito, seu cogitatum em si mesma.”.
Cabe ao psicólogo fazer o exercício de suspensão dos a priori que envolvem a prática
clínica para poder doar-se a experiência do inclinar-se de modo consciente. Pois:

“Toda consciência já tem em si mesma o caráter de evidência, isto é, mostra


autenticamente seu objeto intencional ou tende na essência a mostrá-lo
autenticamente, ou seja, a chegar a sínteses de confirmação e de verificação que
pertencem essencialmente ao domínio do eu posso [grifo do autor].” (HUSSERL,
2001, p. 74)

Como bem lembra Giovanetti (2012) é preciso pôr em cena que a atuação do
psicólogo, esta deve fundamentar-se de modo coerente com a visão de homem e mundo que
propõe baseada em fundamentos filosóficos, psicológicos, antropológicos e epistemológicos.
Outro desafio apontado pelo autor é o diálogo com outros modos de conhecer que
possibilitem um trabalho clínico mais consistente.

3 A Atuação do Psicólogo na Clínica Fenomenológica: Ética, disponibilidade e


responsabilidade, para além das normas.

São vários os pontos fundamentais e que merecem destaque, contudo seleciono alguns
que para a proposta deste ensaio mais se adequam às discussões levantadas podendo haver
outros, sem a expectativa de esgotá-los.
O IV Princípio Fundamental do Código de Ética do Psicólogo de acordo com a
Resolução 010/05 do Conselho Federal de Psicologia (CFP) (2005, p.7) orienta que: “O
psicólogo atuará com responsabilidade por meio do contínuo aprimoramento profissional,
contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico e de prática.” Na
sua atuação profissional o psicólogo deve quer atuando no espaço clínico, quer em espaço
institucional ou organizacional, quer atuando sozinho, quer atuado em equipes
multidisciplinares deverá sempre zelar pelo exercício ético, sigilo e profissional (CFP, 2005).
Para tratar do contemporâneo, das situações vivenciadas pelo sujeito que chega à
clínica, escolho por uma clínica da alteridade e da vivência empática, e sustentada também
nas normas profissionais. Como lembram Alvin e Castro (2015, p. 45):
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Pensar uma clínica como ética da alteridade, ou seja, comunalidade e direito à


diferença e como ética da transformação implica em considerá-las como dimensões
não excludentes, mas, ao contrário, intimamente relacionadas. Uma ética da alteridade
implica ter como ponto de partida o outro como sujeito e nós como sujeitos para o
outro.

Alteridade é sempre reconhecimento de um outro que não sou eu, numa relação que de
aproximação e distanciamento, já que ambos estamos no mundo e nele agimos.

4 Por onde caminhamos nesta investigação ...

Escolhemos um caminho rigoroso e genuinamente fenomenológico: o caminho de


retorno aos fundamentos husserlianos e a busca por produções brasileiras e internacionais que
buscam evidenciar a orientação de Husserl na clinica fenomenológica. Os autores visitados,
ao invés de se deterem a críticas, optam por evidenciar os fundamentos e contribuições,
caminho também adotado por mim desde a idealização deste artigo até a sua escrita. Os
autores localizados e selecionados para o diálogo aqui realizado foram: Giorgi (2005), Sousa
(2014), Holanda (2014).
A investigação realizada foi qualitativa de cunho fenomenológico, onde foi feito o
levantamento bibliográfico, documental e no meio virtual, em seguida houve a sistematização
de estudos envolvendo fenomenologia husserliana, psicologia e clínica fenomenológica. Após
o levantamento, o material foi adquirido ou impresso, lido, sistematizado e foram
identificadas as principais contribuições registradas na literatura sobre o tema em questão.
Estiveram presentes durante toda a investigação o modo fenomenológico de
compreender a realidade e evidenciar os sentidos e significados atribuídos pelos autores
investigados. Para isso todos os cuidados éticos foram tomados para garantir a revisitação dos
textos e a evidenciação de suas contribuições, afastando-se de pré-conceitos sobre os autores.
O seguinte esquema “lógico” foi seguido na descrição deste estudo:
Pesquisa  Seleção  Leitura  Redução eidética  Redução transcendental reflexão do
vivido  produção textual  reflexão.
Reunindo levantamento bibliográfico, documental e no meio virtual com as vivências
e reflexões do vivido, chego à descrição e teorização desta prática que em nenhum momento
esteve desvinculado de sua leitura teórica, pois em fenomenologia a relação teórico-prática é
sempre de ligação.
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O levantamento bibliográfico e no meio virtual apresentou os autores importantes,


citamos alguns: Giorgi (2005), Owen (2006), Holanda (2014), Sousa (2014) e Borba (2016)
com alguns dos autores que justificam sua prática em fundamentos husserlianos.

5 Considerações Finais

A Clínica Fenomenológica permite a suspensão da atitude científico natural e o acesso


ao mundo vivido, clínica esta que não corrobora com o modelo de psicodiagóstico apriorístico
e determinista da condição humana, mas se coloca sempre em atitude de suspensão quando
qualquer teoria explicativa.
A partir da reflexão de alguns dos fundamentos que alicerçam a Fenomenologia
apresentados por meio deste trabalho, é nítido que o psicólogo em sua ação prática e teórica
que se orienta pela atitude fenomenológica insere-se num movimento de implicação ética, de
abertura e disponibilidade frente ao que se manifesta, movimento esse que é capaz de fornecer
ao trabalho do psicólogo elucidações rigorosas e consistentes na compreensão de si mesmo,
do outro e do mundo. Afirmamos também que, embora as pesquisas e as próprias atuações
dos psicólogos – orientados através da Escuta Clínica Fenomenológica e dos Fundamentos da
Fenomenologia Husserliana - sustentam a relevância desses fundamentos em suas
intervenções, por isso é primordial um novo movimento de compreensão dos conceitos
essenciais que permeiam as práticas que dizem ter como fundamento a base husserliana.
Desse modo, um dos papéis primordiais da Fenomenologia, como dito por Husserl será
evidenciado, o que permite a clarificação de elementos epistemológicos, metodológicos e
atitudinais da Psicologia.

Referências

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