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INFORMAÇÃO, REDE E REDES SOCIAIS –

FUNDAMENTOS E TRANSVERSALIDADES

Regina Maria Marteleto

Resumo
“Globalmente, as tecnologias, leves, tomam
O artigo pretende explorar a noção de rede,
das técnicas, pesadas, o poder de dar as cores
buscando algumas pistas dos seus fundamen-
mais fortes ao momento da história e a domi-
tos histórico-conceituais, suas incidências e
nação universal àqueles que as detêm. Eis um
alianças com o conceito de informação. O obje-
mapa-múndi extenso, atravessado por canais,
tivo é situar os modos de emprego do conceito
do novo universo, utópico e sombrio”.
de rede em campo de estudos com pouca den-
(SERRES, 1994, p 139).
sidade teórico-conceitual, como é o caso da
ciência da informação. Transversal como as
idéias de “informação-sistêmica” ou “informa-
ção-fluxo”, o conceito de rede convida as per-
guntas de pesquisa sobre a informação a se
associarem a um enfoque do fenômeno onde
os sujeitos coletivos são seus protagonistas
centrais, ao mobilizarem redes sociais de co-
nhecimentos. Para pensar assim, é relevante
introduzir a idéia de uma “terceridade” do co-
nhecimento, da informação e das próprias con-
figurações das redes sociais.

Palavras-Chave
Informação; conhecimento; rede; redes sociais.

1 INTRODUÇÃO nômica neoliberal“, os quais seriam natu-

A ambientação histórico-epistemoló- ralmente importantes de serem estudados

gica das noções de rede e informação é e gerenciados na medida em que fazem

importante de ser considerada por duas parte de um cenário globalizante, onde o

razões principais. Primeiro, para não “natu- mundo e a sociedade se encontrariam atu-

ralizar” esses conceitos, atribuindo-lhes almente instalados.

inadvertidamente o estatuto de fenômenos Segundo, e mais fundamentalmente,


dos “dias de hoje”, da “globalização”, das para perceber a sua transversalidade nos
“sociedades da comunicação, conhecimen- tempos epistemológicos, históricos e soci-
to, informação”, ou da nova “política eco- ais – seus trânsitos inter e transdisciplina-
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Informação, rede e redes sociais – fundamentos e transversalidades Regina Maria Marteleto

res - quando uma “informação-sistema” vos para o estudo das redes sociais de
que gera memória e registro, tem perma- conhecimentos e informações.
nência no tempo e coloração local, parece
dar lugar a uma “informação-fluxo”, fluida, 2 INFORMAÇÃO E REDE – RASTROS
rizomática, enredada nos movimentos das HISTÓRICOS E CONCEITUAIS
redes, canais e dispositivos técnicos de Para iniciar as reflexões aqui apre-
comunicação e informação. sentadas sobre rede e informação, buscou-
As primeiras partes do artigo procu- se auxílio no “Dictionnaire Critique de la
ram dicionarizar os dois conceitos – rede e Communication”, dirigido por Lucien Sfez,
informação – para fundamentar suas raízes composto por dois volumes divididos em
disciplinares e questões essenciais, ressal- duas partes cada um, totalizando 13 capí-
tando a sua transversalidade quando se tulos. No primeiro volume as partes se inti-
trata de estudar fenômenos relacionados à tulam “Os dados de base” e “As teorias
produção social de sentidos. Em seguida operacionais”. No segundo, “Os grandes
buscam-se perspectivas de emprego da domínios de aplicação” e “Comunicação e
noção de rede associando-a aos conceitos Sociedade” (SFEZ, 1993).
de informação-conhecimento-saber, para o Essa fonte de inspiração inicial justifi-
equacionamento de questões caras à ciên- ca-se pelo papel que esse pensador fran-
cia da informação. Para esse fim, reto- cês tem desempenhado no debate público
mam-se alguns elementos da sociologia do e acadêmico por conta de suas pesquisas
conhecimento e da nova sociologia da ci- sobre os fenômenos contemporâneos da
ência, que miram as práticas e disputas no comunicação e outros que lhe são associ-
campo científico. ados, como a informação. Já na introdução
A noção de redes sociais apresenta da obra, Sfez afirma que “Podemos, deve-
uma “terceridade” na composição dos elos mos denunciar os perigos de uma comuni-
sociais que, vista pelos ângulos teórico e cação generalizada, uma nova religião
metodológico das perguntas de pesquisa, mundial que pretende resolver todos os
pode levar à construção teórico-prática de problemas da humanidade, sua felicidade,
um “terceiro conhecimento”, que envolve a igualdade entre os homens, a fraternida-
sujeitos coletivos nos processos de apro- de, o desenvolvimento econômico, a inte-
priação social dos sentidos e dos dispositi- ração social”. A comunicação não é ape-
vos informacionais. nas uma “religião”, uma moda ou uma for-

É nessa perspectiva que se apresen- ma simbólica, pois “além da ‘comunicação’,


existem ‘as’ comunicações, uma episteme
tam, nas conclusões, elementos prospecti-
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em formação, uma ideologia a criticar, co- b) um “quase oxímoro”1: a expressão “con-


mo também, simplesmente, as suas práti- ceitos transversais” serve para dar conta
cas” (SFEZ, 1993, v.1, p.VII). da estranha e contraditória ocorrência an-

Nessa volumosa obra coletiva que re- teriormente apontada, pois “na hierarquia

pertoria teorias, conceitos, questões, práti- dos produtos do espírito humano, por or-

cas e objetos do vasto campo da comuni- dem de rigor crescente, um conceito se

cação, em formato enciclopédico, busca- situa bem ao alto, pois ele representa algo

ram-se os conceitos de informação e rede enquadrado, preciso, consistente, nítido

para extrair algumas questões de base na em relação ao recorte que ele efetua na

aproximação entre os dois. Informação, tal “realidade”, dotando-se de fronteiras identi-

qual rede, aparecem no segundo capítulo ficáveis...” (BAREL; CAUQUELIN,1993,

da Parte 1, intitulado “Conceitos transver- v.1, p. 181).

sais”, de autoria de Barel e Cauquelin Mas, o que é conceito para um pode


(1993, v.1, p.179-290). não ser conceito para outro. Além disso,

Para apresentar os conceitos trans- existe o subjetivo no objetivo. E eis que,

versais ao campo dos fenômenos da co- assim, o conceito se transversaliza, o que

municação, os autores consideram a trans- faz com que ele perca uma grande porção

versalidade como: a) uma “passagem”: a de suas qualidades de conceito, quando

transversalidade se define na e pela indefi- entranha parcialmente o reino da indefini-

nição de uma “passagem”. Essa indefini- ção, esquecendo-se de suas fronteiras ou

ção, por sua vez, não é uma ausência de limites, perdendo aparentemente ou real-

definição: mente sua precisão.

é, ao mesmo tempo, a multiplicidade Segundo Barel e Cauquelin (1993,


de definições, a sua transformação in- p.181), é dessa “coincidência na oposição”
terna, assim como essa ocorrência
estranha onde a definição e a trans- às vezes presente na realidade, que um
gressão da definição coabitam sem
oxímoro de boa qualidade pode dar conta.
se destruírem mutuamente. A mesma
palavra, a mesma expressão, a mes- Daí a necessidade “epistemológica” dessa
ma frase, falam de alguma coisa pre-
cisa, ao menos relativamente, e no figura da retórica, pois ela pode exprimir
entanto dispersam sentidos sobre um alguma coisa que a linguagem comum não
vasto território...
é capaz de significar: “A obscura claridade

1
“Figura que consiste em reunir palavras contraditórias;
paradoxismo. Ex.: “inocente culpa” (Cecília Meireles,
Obra poética, p.487), ou “silêncio eloqüente”, “covarde
valentia” (Almeida Garret, Frei Luis de Sousa, p. 47)” In:
Ferreira, 1986, p. 1242

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das estrelas tem um sentido, o conceito No interior e no exterior das ciências


transversal também”. ou disciplinas da comunicação, o “Diction-
naire Critique de la Communication” ins-
No caso das disciplinas científicas, o
creve informação e rede no rol dos concei-
que é transversal em relação a uma paisa-
tos transversais ao meio ambiente históri-
gem disciplinar desenhada em linhas para-
co, teórico, metodológico e prático da co-
lelas, sem jamais se cruzarem umas com
municação, da linguagem, da técnica, da
as outras, é o que convencionalmente se
identidade, da interação e suas variadas
denomina interdisciplinaridade ou transdis-
constelações epistemológicas.
ciplinaridade. Esses seriam os dois primei-
ros entendimentos da transversalidade,
3 INFORMAÇÃO – CONCEITO
quando uma disciplina se dispõe a acom-
FUNDANTE E TRANSVERSAL
panhar eventuais conceitos transversais
compartilhados com outras disciplinas, ou Informação surge no Capítulo 2 da
que transcenderiam todas essas discipli- Parte 1, “Conceitos Transversais”, na se-
nas, alçando-as a um nível mais elevado ção “Fundamentos históricos”, subseção
de abstração ou de generalização. “Teoria da Informação”. Os outros concei-
tos presentes nessa seção são “cibernética
Um caminho alternativo, segundo os
e conexionismo”, “ideologia” e “sistema”. A
autores, seria compreender o conceito
transversal numa terceira perspectiva, a- informação, recebendo no seu nascedouro
uma formulação matemática elaboradora
lém do inter e do transdisciplinar, como
“conceito-passagem”, nem imobilizado no por engenheiros (Teoria Matemática da
Informação, de Shannon e Weaver, 1948),
lugar preciso de uma disciplina, nem o
“conceito imperial”, presente em todos os espraia-se para outros campos disciplina-
res, como a cibernética (Norbert Wiener,
lugares, da transdisciplinaridade. O concei-
to transversal seria um “conceito-viajante”, 1948), que se define como uma teoria do

situado tanto no interior quanto no exterior controle e da comunicação como transmis-

das disciplinas: “Ele muda as paisagens são de informação, entendida essa última
no sentido de Shannon, associada à incer-
nas quais se desloca, e ele próprio muda
com elas, sem perder, no entanto, a sua teza reduzida pela mensagem. Segundo o
Dictionnaire Critique, em rubrica assinada
identidade. Os conceitos de viagem, assim
como as pessoas de viagem, assumem por Breton (1993, p.214), deve-se distinguir
entre o “núcleo duro” da teoria matemática
uma função de junção e de superposição
do específico e do universal...” (BAREL; da informação e os múltiplos usos matemá-
ticos ou metafóricos da noção de informa-
CAUQUELIN, 1993, p.184-185).
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ção nas diversas disciplinas que se apro- portância na elaboração e funcionamento


priaram desse conceito, entre elas a ciber- da noção de informação na Ciência da In-
nética. Por outro lado, observa que o cará- formação, desde a sua organização como
ter múltiplo e polivalente da teoria matemá- disciplina ou área de estudos.
tica da informação deve-se a que essa teo- Numa via aberta pela cibernética
ria apresenta desde a sua elaboração o (WIENER, 1948), pela teoria matemática
princípio de uma generalização de suas da informação (SHANNON; WEAVER,
noções e postulados. 1948), por algumas pesquisas biológicas
A esse propósito, Escarpit (1976), te- (BERTALANFFY, 1956) e outras vias con-
órico das ciências da informação e da co- vergentes como a teoria das organizações
municação na França, desde os anos se- (BOULDING, 1953) e as pesquisas sobre
tenta do século 20 advertia que, para guar- inteligência artificial (SIMON, 1965), o con-
dar fidelidade ao núcleo inicial dessa teori- ceito de sistema obteve uma formulação
a, é importante distinguir claramente entre científica mais precisa quando, em pesqui-
os conceitos de “informação”, “conheci- sas interdisciplinares sobre totalidades
mento” e “saber” (savoir), pois a informa- complexas e os problemas ligados à sua
ção de Shannon é “um duplo sinal negati- regulação ou organização, evidenciou-se a
vo”, uma vez que o objetivo do engenheiro relação entre a existência perene dessas
é obter, pela informação, a anulação da totalidades e os fenômenos de comunica-
entropia, isto é, daquilo que o ruído provo- ção de informações. O conceito de sistema
ca. A teoria da informação é então condu- que resulta desses diversos trabalhos refe-
zida a distinguir entre o símbolo (objeto da re-se a “um conjunto organizado de pro-
codificação), o sinal (que é o suporte físico) cessos ligados entre eles por uma rede de
e o ruído (que é a perturbação da informa- interações ao mesmo tempo razoavelmen-
ção). O símbolo, nessa formulação, é um te coerente e leve para torná-lo capaz de
objeto com dupla face, pois sua codificação funcionar com um certo grau de autonomia,
é realizada por processos lógicos e mate- isto é, de agir sobre si próprio, de alguma
máticos neutros, enquanto o seu sentido maneira, no lugar de ser inteiramente de-
depende da apreciação humana. terminado por processos externos”

Dentre outros conceitos que o Dicti- (LAPIERRE, 1993, p.215).

onnaire Critique arrola como fundantes do A informação é o agente neguentrópi-


campo de estudos da “comunicação como co que torna possível a organização de um
transmissão de informação”, interessa aqui sistema, enquanto as mudanças de ener-
reter o conceito de sistema, pela sua im- gia estão submetidas ao princípio da en-
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tropia, de degradação das formas mais seus dispositivos de tratamento da infor-


ordenadas às mais desordenadas: “A or- mação e os ingredientes discursivos da
ganização informacional permite o uso, a interdisciplinaridade, de modo a reunir, tra-
manipulação, a transformação, o controle, tar e fazer dialogar os fragmentos da ciên-
etc, da energia de maneira cada vez mais cia por conta da sua dispersão epistemoló-
complexa, precisa e econômica” (MORIN, gica e disciplinar.
1977, p. 343, apud LAPIERRE, 1993, p.
De modo diferente do que se acredita
218).
comumente, de que a rede veio a substitu-
Sistema, de acordo com o Dictionnai- ir, com nova roupagem conceitual e epis-
re Critique, é um conceito transdisciplinar, temológica, o conceito de sistema, afirma-
pois as pesquisas que o empregam como se a continuação de um no outro, ou de um
ferramenta de análise e de síntese desen- pelo outro, continuidade essa representada
volveram-se por reação contrária à especi- pela idéia de conexionismo.
alização excessiva das disciplinas científi-
cas. Enquanto as disciplinas especializa- 4 REDE – CONCEITO OPERATÓRIO E
das se fecham em seu próprio jargão téc- TRANSVERSAL
nico, a análise de sistemas lhes oferece O conceito de Rede (assim como o de
algo em comum, logo, um meio de se co- informação), encontra-se no Capítulo 2 da
municarem entre elas (LAPIERRE, 1993, p. Parte 1, “Conceitos Transversais”, na se-
217). ção “Ferramentas de análise”, acompa-
Em seu contexto histórico e epistemo- nhado de “analogia”, “metáfora” e “parado-
lógico de conformação inicial como disci- xo”. É apresentado como conceito operató-
plina, a ciência da informação recebeu in- rio-metodológico, que se movimenta nas
fluência da “engenharia de sistemas”, mais análises realizadas no campo de estudos
do que da “teoria geral de sistemas”, dado da comunicação e suas questões (BAREL;
o caráter aplicativo e político da necessi- CAUQUELIN, 1993, p.273-276).
dade de controle, organização e recupera- O caráter onipresente do conceito de
ção das informações produzidas pela ciên- rede nos mais variados campos das disci-
cia nos anos durante e pós segunda guerra plinas científicas, segundo esses autores,
mundial, para o que os recursos tecnológi- seria suficiente para lançar dúvidas sobre a
cos de então foram empregados. sua coerência e consistência. Essas pode-
Não se estranha, nesse contexto, que riam ser reforçadas pelas inúmeras metáfo-
duas demarcações configurem o perfil ini- ras que cercam a noção e seus usos, con-
cial da ciência da informação: a técnica e denando-a, como se a quantidade de apli-
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cações “em extensão” provocasse um es- próprio ao século XX. De forma diferente, é
vaziamento “em compreensão”, ou mesmo relevante salientar que, a partir de sua lon-
sua diluição. Entretanto, os autores per- ga história até sua presente utilização, o
guntam se não se poderia concluir o con- conceito tenha guardado, desde Hipócra-
trário, ou seja, que o uso constante de uma tes, a memória da sua origem orgânica e
noção seria uma prova de sua eficácia. próxima do imaginário do corpo.

Lembram em seguida dois entendi- Até o fim do século XVIII, de fato, a


mentos embutidos na idéia de rede. De um noção de rede se desenvolveu numa rela-
lado, um conceito e uma “tecnologia do ção estreita com o organismo e o corpo,
espírito”, segundo Sfez (1988). De outro, até adquirir sua concepção moderna, defi-
uma “matriz técnica” e a simbologia que ela nindo uma matriz técnica de arranjo do ter-
veicula (MIÈGE, 1989). Logo, “a rede seria ritório, quando ele se separa do fato obser-
ao mesmo tempo uma técnica do espírito e vado e da sua conivência com o corpo físi-
de arranjo do território: modo de pensa- co para tornar-se um objeto construído e
mento e de esquadrejamento, estabelece autônomo: “com efeito, conjugando o seu
elo entre dois lugares, sejam eles inscritos caráter arcaico – que se refere ao corpo
em processos conceituais ou em espaço humano – e a acepção moderna, abstrata,
material. Nessas duas vertentes, a rede a rede é uma noção transversal por exce-
mobiliza uma simbologia comum da circu- lência para o domínio da comunicação...
lação e da ligação”, ou, para propor uma Ela freqüenta e, de certa forma, constrói o
definição geral: “A rede é uma estrutura de imaginário técnico e social do mundo con-
interconexão instável, composta de ele- temporâneo” (BAREL; CAUQUELIN, 1993,
mentos em interação, cuja variabilidade p. 274).
obedece a alguma regra de funcionamen-
to” (BAREL; CAUQUELIN, 1993, p. 274). 5 INFORMAÇÃO, REDE E

O trânsito do conceito de rede através CONHECIMENTO – UMA PERSPECTIVA

dos campos científicos e culturais contem- PARA A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

porâneos não deve deixar esquecido quan- Segundo Parrochia (1993, p.179) a
to o conceito viajou ao longo dos séculos, possibilidade de articulação de saberes
acumulando e abandonando diversos signi- num sistema de correspondências orgâni-
ficados, na medida da sua extensão e a- cas situa-se na centralidade da cultura oci-
climatação em novas ambientações disci- dental. As “artes da memória”, as primeiras
plinares e discursivas. Segundo os autores, enciclopédias, e mais tarde os sistemas
seria ingênuo considerá-lo como um aporte filosóficos, as bases de dados, parecem
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obedecer, desse ponto de vista, a um ram sucessivamente: o “seqüencial-linear”,


mesmo projeto: realizar um agenciamento (a lista); o “central-circular” (a organização
de conhecimentos cuja estruturação permi- sistemática-enciclopédica) e, enfim, o “re-
ta não apenas o arquivamento e a indexa- lacional-reticular” (a base ou banco de da-
ção, como a satisfação das demandas e a dos, o “neo-arquivo”). Os problemas que
previsibilidade. norteiam essas três formas de estruturas
de conhecimento referem-se sempre a co-
Numa perspectiva que aproxima os
mo organizar para facilitar a pesquisa e
conceitos de rede e informação, o autor
otimizar a combinatória que resultará no
lembra a idéia de conectividade para res-
“novo”. O modelo linear e arborescente
saltar que os produtores de conhecimentos
dominou por longos anos a cultura ociden-
raramente trabalham isoladamente, mas
tal. Hoje a “rede” parece ser mais perfor-
inseridos em amplas redes das quais fa-
mática para as tentativas modernas de or-
zem parte os laboratórios, as universida-
ganização e sistematização, tanto material
des, os organismos nacionais e internacio-
quanto cognitiva dos saberes
nais, dentre outras múltiplas mediações. O
(PARROCHIA, 1993, p.181-182).
conhecimento adquire assim um compo-
nente sociológico cada vez mais reconhe- Ao se relacionarem os conceitos de
cido pela epistemologia. Em seguida apre- informação, rede, conhecimento e saber
senta uma pergunta que parece fundamen- pode-se imaginar que o saber, na sua or-
tal aos estudos das redes de conhecimen- ganização abstrata e geral, toma a forma
tos e suas materialidades informacionais: de uma rede, à qual as tecnologias moder-
“A idéia de uma síntese geral é ainda pos- nas de organização e arquivamento podem
sível? Ou devemos nos contentar, ao con- conferir uma realidade concreta e palpável.
trário, com uma circulação implícita dos No entanto o saber, enquanto conjunto de
fluxos?” (PARROCHIA, 1993, p. 179-180). conhecimentos teóricos reunidos em dife-
rentes corpus, não representa mais do que
O autor observa que, no esforço de
uma ínfima parte do sistema geral de pro-
reunião e sistematização dos saberes, o
dução de conhecimentos. Parrocchia
primeiro procedimento foi a enumeração
(1993, p.193) observa que a consideração
das coisas vistas no mundo; depois a reu-
da estrutura da pesquisa e da produção do
nião (as grandes enciclopédias antigas,
que se denomina um “fato” científico, leva
medievais e modernas); e, enfim, a classi-
a ampliar a imagem da ciência nos tempos
ficação e a organização, com os arquivos
atuais e principalmente a dimensão socio-
automatizados. Desde então, três tipos de
lógica dos conhecimentos.
ordenamento dos saberes se apresenta-
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Para seguir essa trilha aberta pelo au- ências da gestão e das organizações, as
tor sobre a dimensão sociológica dos pro- ciências da linguagem, as ciências cogniti-
cessos de institucionalização da ciência e vas, a filosofia do conhecimento, dentre
suas implicações para o dimensionamento outros. Pergunta:
de redes sociais de conhecimentos, é im- Em que a ciência da informação po-
portante ocupar um espaço nesse artigo de se diferenciar? O que pode mar-
car a sua especificidade? O que po-
para registrar o entendimento, e portanto o de permitir a sua distinção? A elabo-
ração e o compartilhamento passam
uso, que na língua francesa se faz das no-
essencialmente pela produção,
ções de conhecimento e saber, especial- transferência, apreensão cognitiva
de ‘objetos’, acessíveis a um ou ou-
mente no campo de estudos da informa- tro dos nossos sentidos, o que cer-
ção, uma vez que o texto se apóia forte- tos autores denominam ‘informa-
ções sensíveis’, outros ‘objetos que
mente em autores franceses. contêm informação’, ou outros ainda
‘conhecimentos explícitos’
Metzger (2002) em “Les trois pôles de (METZGER, 2002, p.19).

la science de l’information” (Os três pólos Informação, nesse entendimento, possui

da ciência da informação), ao afirmar que uma materialidade que contém nela mes-
essa disciplina se interessa essencialmen- ma dimensões institucionais, contextuais,

te pela construção social e o compartilha- sociais, culturais com permanência no


mento do saber, prefere o emprego, nesse tempo e no espaço.
caso, da palavra saber, e não conhecimen- No “Dictionnaire Alphabéthique & A-
to, em razão deste último ter uma concep- nalogique de la Langue Française: le Petit
ção acentuadamente mentalista. Em se- Robert”, de Paul Robert, conhecimento é
guida, reflete que “Todo tipo de saber é definido como: a) o fato ou a maneira de
relativo e pertence a algo, seja ele prático, conhecer; b) ter conhecimento de: conhe-
técnico, científico, enciclopédico ou outro. cer, saber; c) faculdade de conhecer pró-
Sua elaboração e compartilhamento ocor- pria a um ser vivo: discernimento, entendi-
rem em contextos sociais e culturais diver- mento, inteligência; d) o fato de sentir, de
sos...” (METZGER, 2002, p. 19). perceber: consciência, sentimento, lucidez;
Reconhecendo a amplitude desse en- e)os conhecimentos (sentido objetivo), a-
tendimento da noção de saber, comenta quilo que é conhecido; aquilo que se sabe,
que outras disciplinas ou setores de pes- porque se aprendeu; cultura, educação,
quisa também se interessam em estudar a erudição, instrução, saber, ciência
elaboração e o compartilhamento de sabe- (ROBERT, 1973, p.330). Saber é apresen-
res, como as ciências da educação, a so- tado como: “conjunto de conhecimentos
ciologia das ciências e da inovação, as ci- mais ou menos sistematizados, adquiridos
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por uma atividade mental contínua”. Co- cessos e fluxos sociais de sentidos – as
nhecimento(s), cultura, erudição, instrução, redes sociais de conhecimentos.
luz, ciência (ROBERT, 1973, p.1613).
6 “A CIÊNCIA É O PASSADO DA
Entende-se, assim, a preferência de
PESQUISA” – AS REDES SOCIAIS DE
Metzger por saber, ao invés de conheci-
CONHECIMENTOS
mento, para delinear um campo epistemo-
lógico para a ciência da informação, pois A sociologia do conhecimento e da
saber (savoir) diz respeito ao grau mais cultura (BOURDIEU, 1997; 2001) e a teoria
profundo de apreensão e sistematização ator-rede da nova sociologia da ciência
dos sentidos e aprendizados, resultando na (LATOUR; WOOGAR, 1996; CALLON,
sabedoria, enquanto forma de cognição a 1989 e outros), dentre outras vertentes,
mais elevada, presente em todos os modos inauguraram um enfoque inovador para o
e sistemas de conhecimento, aliada à ex- estudo dos saberes modernos da ciência,
periência. quando passaram a estudar as práticas e
condições da pesquisa, no lugar de consi-
Num encadeamento didático dos con-
derar a “ciência feita” como objeto do en-
ceitos de informação-conhecimento-saber,
tendimento dos processos de produção de
a informação estaria situada num primeiro
conhecimentos. Dessa vez a idéia de rede,
grau do processo de apropriação, expres-
por via conceitual ou metafórica, serve pa-
são e sistematização dos significados, en-
ra estudar os processos coletivos de pro-
quanto o conhecimento corresponde a um
dução dos conhecimentos, o sistema de
grau mais internalizado desse mesmo pro-
posições dos atores e as disputas no cam-
cesso, o de produção de sentidos sobre as
po científico, os capitais sociais, informaci-
coisas e o mundo. O saber situa-se numa
onais e simbólicos investidos nas práticas
terceira zona que reúne os cabedais soci-
e políticas da pesquisa, a interação de ato-
ais, técnicos e cognitivos de instituições,
res humanos e não-humanos e suas com-
pessoas e grupos, em grau de internaliza-
plexas mediações nas redes sócio-técnicas
ção e externalização que alia os conheci-
de conhecimentos.
mentos às práticas e às experiências, for-
mando acervos, registros e documentos Segundo P. Bourdieu, os campos so-
individuais e coletivos – a sabedoria. ciais - dentre eles o campo científico - re-
sultam de um longo processo de diferenci-
Para cada entendimento um emprego
ação e autonomização em relação aos re-
ou para cada emprego um entendimento, a
gimes de poder e de verdade prevalecen-
noção de conhecimento é geralmente utili-
tes no ordenamento das sociedades. Cada
zada quando se trata de analisar os pro-
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um deles possui objetos, regras, interesses Ao demonstrarem que os fatos cientí-


e procedimentos específicos, os quais são ficos não se limitam a simples enunciados
relativamente autônomos e livres para es- ou teorias, e que eles remetem aos labora-
tabelecerem. Esse processo de diferencia- tórios onde são fabricados e às alianças
ção do mundo social produz a diferencia- nas quais se inserem, Latour e Woolgar
ção dos modos de conhecimento do mun- (1996) não somente reconduziram a ciên-
do, pois a cada um dos campos corres- cia à arena dos conhecimentos tácitos, dos
ponde um ponto de vista fundamental so- saberes informais ou das práticas implíci-
bre o mundo, “que cria o seu próprio objeto tas, como também transformaram a visão
e que encerra nele próprio o princípio de um tanto purificada do desenvolvimento do
compreensão e de explicação que convém conhecimento (uma herança da epistemo-
a esse objeto” (BOURDIEU, 1997, p.119). logia clássica) numa visão mais “áspera”,

Os atores que preenchem o espaço compósita, mais inspirada, também, pela

estrutural de um campo desenvolvem es- reticularidade moderna, observa Parrochia


(1993, p.194-195).
tratégias para a sua reprodução e/ou reno-
vação. No campo científico essas estraté- Callon (1989, p.30), na obra coletiva
gias dependem das posições relativas dos “A ciência e suas redes: gênese e circula-
atores em relação uns aos outros e estão ção dos fatos científicos”, afirmava: “Resti-
associadas à posse de credenciais de títu- tuindo à ciência as redes que a constituem,
los, diplomas, prêmios, nomeações e à podemos explicar a sua solidez em termos
participação em redes sociais fora e dentro que permitem ultrapassar a controvérsia
do próprio campo, dentre outros elementos entre Popper e Kuhn. A força de um fato
que agregam valores materiais e simbóli- científico não é o resultado de uma decisão
cos ao fazer científico. O campo científico, racional tomada por um espírito livre que
do mesmo modo que outros campos soci- se obrigaria a seguir e dar continuidade às
ais é, pois, um terreno de lutas simbólicas. experiências acumuladas. Sua solidez é
composta, da mesma forma que os com-
Os “estudos de laboratório” da nova
postos químicos, pelas redes que ele mobi-
sociologia da ciência, por outro lado, tam-
liza e pelos elementos que estas associ-
bém têm destaque no entendimento do
am”.
modo de estrutura e funcionamento das
redes de conhecimentos, uma vez que A “nova sociologia da ciência” consi-
rompem com a visão distanciada e global dera que essas são “redes sócio-técnicas”,
da ciência para se aproximarem dos espa- que suportam a estrutura da produção ci-
ços de produção das pesquisas. entífica moderna: “[...] são fluxos de ins-
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trumentos, de competências, de literatura, campo científico e os capitais materi-


de dinheiro, que ligam e conectam labora- ais e simbólicos investidos para a sua re-
tórios, empresas ou administrações. A produção e/ou alteração.
quem compete analisar essa complexa
O estudo das redes de conhecimen-
dinâmica para recuperar a sociologia da
tos, tanto no campo científico quanto em
construção e da disseminação dos fatos outros campos sociais, permitiria recolocar
científicos?” (CALLON, 1989, p.31).
a pergunta de Parrochia (1993, p. 179-180)
A partir da pergunta sobre como se anteriormente evocada nesse artigo, sobre
constrói um fato científico, Latour e Wool- a possibilidade de uma síntese geral dos
gar (1996) buscaram acompanhar e inter- conhecimentos por oposição a uma circu-
pretar a produção da ciência nos laborató- lação implícita dos fluxos, de modo a orien-
rios, pela descrição do processo longo que tar as perguntas sobre a informação nos
consiste em estabelecer rotinas, efetuar tempos atuais. De um lado, uma estrutura
manipulações, utilizar equipamentos para dada e acumulada de conhecimentos ou
chegar à redação de um texto destinado a “edifícios informacionais” e, de outro, uma
uma demonstração científica. Segundo os estrutura rizomática e relacional de conhe-
autores, o que é relevante no processo da cimentos ou “tecidos informacionais”.
pesquisa são essas “inscrições” que permi- Para desenvolver nessa direção a re-
tem a continuidade do laboratório e da car-
ticularidade e a transversalidade dos con-
reira dos pesquisadores, dentro de um ceitos de informação-rede-conhecimento e
quadro sociocultural e do modo de ser pró-
introduzir a idéia de uma terceridade cogni-
prio ao laboratório que inclui crenças, hábi-
tiva e social, é importante em seguida con-
tos, savoir-faire, tradição oral, heróis fun- siderar a noção de redes sociais.
dadores e revoluções.

Essa rápida passagem por alguns 7 INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO E


conceitos, tanto de P. Bourdieu quanto de REDES SOCIAIS
B. Latour e seu grupo, aponta para a opor- A noção de redes sociais designa em
tunidade de se estudarem os processos de geral um conjunto de métodos, conceitos,
produção de conhecimentos numa pers- teorias e modelos das ciências sociais,
pectiva estrutural, reticular e relacional, de com diferentes matizes disciplinares e epis-
modo a apreender os modos de geração e
temológicos, que conservam princípios
circulação dos fatos científicos, assim co- comuns entre eles. O mais geral desses
mo o sistema de posições dos atores no
princípios consiste em considerar como

Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.


Informação, rede e redes sociais – fundamentos e transversalidades Regina Maria Marteleto

objetos de estudo não os atributos qual ela se insere. Uma díade só tem sen-
dos indivíduos (idade, profissão, classe tido em relação ao conjunto das outras dí-
social, etc), mas as relações entre eles e ades da rede, porque a posição estrutural
as regularidades que apresentam a fim de tem necessariamente um efeito sobre a
descrevê-las, dar conta da sua formação e sua forma, seu conteúdo ou sua função”.
de suas transformações, analisar os seus
Desta feita, a posição dos indivíduos
efeitos sobre os comportamentos individu-
nas redes sociais é interdependente em
ais. Nessa perspectiva uma rede social
relação a todas as outras posições dos
pode ser definida, de um modo geral , “[...]
outros indivíduos e de seus elos. A função
como sendo constituída de um conjunto de
de uma relação depende da sua posição
unidades sociais e das relações que essas
estrutural, o que é também verdadeiro para
unidades sociais mantêm umas com as
o status e o papel de um ator, resultando
outras, direta ou indiretamente, por meio
que uma rede não se reduz a uma simples
de encadeamentos de extensões variá-
soma de relações, pois sua forma interfere
veis.” (MERCKLÉ, 2004, p. 4). Essas uni-
em cada relação.
dades, por sua vez, podem ser indivíduos,
Na prática e na teoria, a análise das
grupos informais ou estruturas mais for-
redes sociais, segundo Mercklé (2004),
mais como organizações, associações ou
necessita de uma definição preliminar das
empresas.
unidades de análise observadas, no que os
Logo, a unidade de análise quando se
estudiosos das redes em geral concordam.
estudam redes sociais é variável. O essen-
A questão é saber se uma díade (relação
cial, segundo Degenne e Forsé (1994, p.9),
entre dois indivíduos) pode ou não repre-
é que o objetivo seja a relação entre ele-
sentar essa unidade básica, remetendo a
mentos, ou elementos que estão ligados ou
uma pergunta basilar das correntes intera-
suscetíveis de estarem ligados uns aos
cionistas nas ciências sociais. Forsé (2002)
outros. Por outro lado, centrar a análise
lembra que para G. Simmel a forma socio-
sobre a relação não significa que se consi-
lógica mais simples do ponto de vista me-
dere a relação diádica de interação entre
todológico é a relação entre dois elemen-
duas pessoas como um objeto em si para o
tos, chamada “díade”, considerada por
estudo das redes sociais: “Da mesma for-
muitos autores como a unidade relacional
ma que não é possível analisar as caracte-
elementar. Entretanto, continua Forsé, a
rísticas dos indivíduos independentemente
díade apresenta um caráter específico que
das suas relações uns com os outros, não
impede que ela seja considerada o “átomo”
é possível isolar uma díade da estrutura na
da análise de redes sociais, na medida em
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
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que depende da “pura individualidade” de duas díades. A lógica não é mais aditiva,
cada um dos seus membros, o que resulta ela se torna combinatória, abrindo a possi-
em que, se um dos indivíduos que a com- bilidade de estudar as estratégias de coali-
põe desaparece, a relação entre eles de- são, de mediação, a transitividade das afi-
saparece. nidades, etc” (MERCKLÉ, 2004, p.9).

Dando seqüência a essas considera- Dentre uma infinidade de possibilida-


ções fundamentais para o entendimento da des analíticas, metodológicas e interpreta-
composição das redes sociais, Mercklé tivas da noção de redes sociais, ressalta-
(2004, p.8-9) complementa que a díade se aqui essa composição “triádica” para
representa uma escala de observação que vislumbrar sinais de uma “terceridade” no
torna impossível a análise das relações estudo dos processos de produção do co-
entre relações e a maneira como uma rela- nhecimento e da circulação da informação.
ção entre dois indivíduos influencia a rela- Seja quando se considere a “informação-
ção desses indivíduos com um terceiro in- sistema” ou a “informação-fluxo”, tradicio-
divíduo: “Logo, a díade, assim como o indi- nalmente o esquema “usuário-sistema” ou
víduo, não poderia ser o átomo último da “emissor-receptor” fundamenta a relação
análise das redes sociais. Por outro lado, entre duas partes ou entidades.
quando as relações são consideradas não A inclusão de um terceiro elemento
mais entre dois, mas entre três elementos nesses processos, que não seria adição
ou seja, na escala de uma “tríade”, as rela-
nem seqüência, poderia abrir novas vias
ções inter-pessoais adquirem uma dimen-
para se interpretarem diferentes configura-
são impessoal. Citando G. Simmel, o autor
ções sociais, cognitivas e práticas de co-
acrescenta que “Desde que há associação
nhecimentos e informações, fora do es-
de três, o grupo continua a existir, mesmo
quema individual-comportamental ou dual-
que um dos seus membros se retire”
interacional com que usualmente se estu-
(SIMMEL, 1950, apud MERCKLÉ, 2004, p.
dam os processos de produção, mediação,
9).
uso e apropriações de conhecimentos e
Desse modo a “tríade” se apresenta, informações. O “terceiro” é abertura para
para um grande número de estudiosos das ver a cultura, os sentidos, a ideologia, o
redes sociais, como a figura elementar do desejo, a política, a sabedoria, enquanto
social. Entre ela e uma díade existiria uma elementos inscritos nos atos e processos
diferença de natureza, e não apenas de de informar, conhecer e comunicar, envol-
número: “Uma tríade não é a soma de três vidos nas teias, fluxos e dispositivos textu-
indivíduos, ela não é tão pouco a soma de ais, imagéticos, tecnológicos. Uma “terceira
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
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informação”, um “terceiro conhecimento” Henri de La Fontaine e Paulo Otlet, quando


seriam portanto obras de sujeitos coletivos fundam, em 1895, o Instituto Internacional
que ocupam determinados espaços e re- de Bibliografia, em Bruxelas. A palavra re-
presentam determinados papéis nas confi- de surge em 1908 por ocasião da Confe-
gurações das redes sociais. rência Internacional de Bibliografia e Do-
cumentação, orientada pela idéia de que
8 CONCLUSÕES PARCIAIS E DESAFIOS “os resultados da cooperação universal
PROSPECTIVOS devem estar disponíveis para todos, por

Na abertura de uma conferência no meio de uma vasta rede de serviços de

ano de 2005, em Salvador, BA, intitulada documentação, estabelecidos nos grandes

“Sociedade do conhecimento e controle da centros por grupos autônomos (associa-

informação e da comunicação” Armand ções ou administrações, instituições oficiais

Mattelart relembrava um momento chave ou privadas),aderindo a um projeto coletivo

da trajetória das utopias sociais baseadas e realizando-o por meio de métodos unifi-

no poder dos meios de produção e trans- cados” (MATTELART, 2005, p.2).

missão do conhecimento para criar um O autor assinala que hoje, se consi-


mundo mais humano, construído graças à deradas as possibilidades do avanço das
partilha dos conhecimentos e ao acesso tecnologias de comunicação e informação,
universal ao saber. nunca se esteve tão próximo da possibili-

Esse momento fora demarcado pelos dade de realização do sonho de Otlet e La

primeiros passos da formalização científica Fontaine e dos precursores do mundialis-

dos conceitos de “documento” e de “docu- mo solidário. Por outro lado, permanece

mentação”, ou seja, bem antes da defini- uma enorme distância entre as capacida-

ção da noção cibernético-matemática de des virtuais da ferramenta técnica e as

“informação”. Ele coincide, retoma o autor, possibilidades geopolítico-econômicas de

com dois nascimentos: o de uma disciplina sua mobilização para confrontar as enor-

que conhecemos hoje como “ciência da mes desigualdades sociais prevalecentes

informação” e o da noção de “globaliza- no mundo.

ção”. Considerando esse cenário, e no in-

Dois personagens inauguram e sim- tuito de bem se apropriarem dos conceitos

bolizam o projeto de constituição do “Livro de rede e redes sociais para o estudo da

universal do conhecimento”, uma vasta informação e do conhecimento nos tempos

“enciclopédia documental abarcando o uni- atuais, os atores do campo informacional

verso”: os advogados pacifistas belgas necessitariam exercitar seus cabedais teó-


Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Informação, rede e redes sociais – fundamentos e transversalidades Regina Maria Marteleto

rico-críticos para recuperar a utopia do lu- dMattelartPortugues.pdf>. Acesso em: abr.


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vie de laboratoire: la production des faits Information, Network and Social Networks fo-
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MATTELART, Armand. Sociedade do co- Abstract


nhecimento e controle da informação e da
comunicação. In: ENCONTRO LATINO DE In this paper we explore the notion of network,
ECONOMIA POLÍTICA DA INFORMAÇÃO, looking for hints of its conceptual and historic
roots, its incidences and its ties with the con-
COMUNICAÇÃO E CULTURA-ENLEPICC,
cept of information. The goal is to spot the
5., 2005, Salvador. Anais... Salvador: cases where the network concept is deployed
ENLEPICC, 2005. Disponível em: in fields with low theoric-conceptual methodo-
<http://www.gepicc.ufba.br/enlepicc/Arman logical density, as is the case of Information
Science. Transversal such as the idea of 'sys-
Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.
Informação, rede e redes sociais – fundamentos e transversalidades Regina Maria Marteleto

temic-information' or 'information flow', the net-


work concept makes the questions raised by
field research on information converge to a
phenomenon where collective subjects become
the essence, once they mobilize social knowl-
edge networks. In order to reason this way, it is
relevant to introduce the idea of a third-party
nature of knowledge, of information and of the
social networks' own internal configurations.

Keywords
Information; knowledge; network; social net-
works

Título
Información, red y redes sociales - fundamen-
tos y transversalidades

Resumen
El artículo pretende explorar la noción de red,
buscando algunas pistas de sus fundamentos
históricos conceptuales, sus incidencias y
alianzas con el concepto de información. El
objetivo es situar los modos de empleo del
concepto de red en el campo de estudios con
poca densidad teórico conceptual, como es el
caso de la ciencia de la información. Transver-
sal como las ideas de “información sistémica” o
“información flujo”, el concepto de red invita a
preguntas de investigación sobre la informa-
ción a asociarse a un enfoque del fenómeno
donde los sujetos colectivos son sus protago-
nistas centrales, al movilizar redes sociales de
conocimientos. Para pensar así, es relevante
introducir la idea de “tercerear” el conocimien-
to, de la información y de las propias configu-
raciones de las redes sociales.

Palabras Clave
Información; conocimiento; red; redes sociales.

Inf.Inf., Londrina, v. 12, n. esp., 2007.

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