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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Divisão de Informação e Documentação


Correa, Gilberto Mohr
Resultados da Política de Offset da Aeronáutica: Incremento nas Capacidades Tecnológicas das
Organizações do Setor Aeroespacial Brasileiro / Gilberto Mohr Correa.
São José dos Campos, 2017.
152f.

Dissertação de mestrado – Curso de Ciências e Tecnologias Espaciais, Área de Gestão Tecnológica –


Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 2017. Orientador: Profa. Dra. Ligia Maria Soto Urbina

1. Offset. 2. Setor Aeroespacial. 3. Capacidades tecnológicas. 4. Transferência de tecnologia. I.


Instituto Tecnológico de Aeronáutica. II. Resultados da Política de Offset da Aeronáutica: Incremento nas
Capacidades Tecnológicas das Organizações do Setor Aeroespacial Brasileiro

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CORREA, Gilberto Mohr. Resultados da Política de Offset da Aeronáutica: Incremento nas
Capacidades Tecnológicas das Organizações do Setor Aeroespacial Brasileiro. 2017. 152f.
Dissertação de mestrado em Ciências e Tecnologias Espaciais, Área Gestão Tecnológica – Instituto
Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos.

CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Gilberto Mohr Correa
TÍTULO DO TRABALHO: Resultados da Política de Offset da Aeronáutica: Incremento nas
Capacidades Tecnológicas das Organizações do Setor Aeroespacial Brasileiro
TIPO DO TRABALHO/ANO: Dissertação / 2017

É concedida ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica permissão para reproduzir cópias desta


dissertação e para emprestar ou vender cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O
autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação pode ser reproduzida
sem a sua autorização (do autor).

__________________________________
Gilberto Mohr Corrêa
Praça Marechal Eduardo Gomes, 50
Vila das Acácias,
12228-900
São José dos Campos/SP - Brasil
RESULTADOS DA POLÍTICA DE OFFSET DA

AERONÁUTICA: INCREMENTO NAS CAPACIDADES

TECNOLÓGICAS DAS ORGANIZAÇÕES DO SETOR

AEROESPACIAL BRASILEIRO

Gilberto Mohr Corrêa

Composição da Banca Examinadora:

Prof. Dr. Rodrigo Arnaldo Scarpel Presidente - ITA


Prof. Dr. Ligia Maria Soto Urbina Orientador - ITA
Prof. Dr. Thiago Caliari Silva Membro interno - ITA
Prof. Dr. Mauro Zilbovicius Membro externo - USP
Prof. Dr. Renato Galvão da Silveira Mussi Membro externo - IFI/DCTA

ITA
iv

Para Ana Carolina


v

RESUMO

Políticas de offset, são um instrumento de comércio internacional amplamente difundido, por


meio do qual países exigem benefícios adicionais para comprar produtos de fornecedores
estrangeiros. Utilizados principalmente com objetivos de desenvolvimento industrial, no
Brasil os offsets vêm sendo aplicados há décadas pelo Estado em suas compras militares de
produtos de defesa para ampliar a oferta de tecnologia estrangeira no setor aeroespacial.
Entretanto, longe de ser um consenso, os offsets são um assunto particularmente polêmico,
sendo constantemente questionados quanto a sua eficiência econômica e a sua eficácia em
transferir tecnologia. A notória escassez de informações sobre os resultados dessa prática, faz
com que seja difícil concluir em que medida os offsets são benéficos ou maléficos. Este
trabalho visa justamente descrever as formas de implementação dos offsets e medir seus
resultados com relação à transferência de tecnologia para organizações do setor aeroespacial
brasileiro. Com base na teoria disponível sobre os offsets, nas principais características do
setor aeroespacial e na literatura sobre o processo de acumulação de capacidades tecnológicas,
são analisadas as entradas, as atividades e os resultados de políticas de offset. É realizado um
levantamento dos Projetos de Offset implementados a partir das compras de produtos de
defesa geridas pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC) da
Aeronáutica. São identificados 67 Projetos de Offset implementados entre 2000 e 2016, dos
quais 55 (82%) levaram à capacitação tecnológica de organizações do setor aeroespacial
brasileiro. A distribuição das variáveis levantadas para os 55 projetos analisados, descrita por
meio de tabelas, gráficos e análises de correspondência, mostra que os offsets possuem uma
grande permeabilidade na cadeia aeroespacial brasileira, beneficiando 34 diferentes
organizações, predominantemente empresas. Com relação aos resultados, observa-se uma
grande concentração de offsets relacionados ao incremento em capacidades de produção e a
ausência de incremento em capacidades de inovação avançadas. Conclui-se que a Política de
Offset da Aeronáutica é um importante instrumento para a ampliação da oferta de tecnologia
estrangeira no setor aeroespacial brasileiro, pois promove transferências de tecnologia de
forma diversificada e oportunidades de relacionamentos tecnológicos relevantes entre
organizações brasileiras e estrangeiras. Entretanto, não é possível afirmar que a tecnologia
transferida por meio dos offsets analisados está próxima da fronteira tecnológica.

Palavras-chave: Offset. Setor Aeroespacial. Capacidades tecnológicas. Transferência


de tecnologia.
vi

ABSTRACT

Offset policies are a widely used international trade instrument, in which countries require
additional benefits to purchase products from foreign suppliers. Employed mainly for
industrial development, in Brazil offsets have been used for decades by the State in its
military purchases to expand the supply of foreign technology in the aerospace sector.
However, far from being a consensus, offsets are a particularly controversial subject, in which
questions are constantly asked about its economic efficiency and technology transfer
effectiveness. The notorious scarcity of information on the results of this practice makes it
difficult to distinguish to what extent are offsets beneficial or detrimental. The primary
concern of this research is to describe the ways in which offsets are implemented and to
measure its results regarding the technology being transferred to the Brazilian aerospace
industry. Based on the theory available from offsets and on the main features of the aerospace
industry and the literature about the process of technological capabilities accumulation, I
analyze the inputs, activities and results of offset policies. A survey is carried out on the
implemented Offset Projects that are connected to defense products purchases managed by the
Coordinating Commission of the Combat Aircraft Program (COPAC) of the Brazilian Air
Force. Sixty-seven (67) Offset Projects implemented between 2000 and 2016 were identified,
of which 55 (82%) led to the accumulation of technological capabilities by Brazilian
aerospace organizations. The distributions of the variables, collected for the 55 analyzed
projects, described through tables, graphs and correspondence analysis, show that offsets have
a great permeability in the Brazilian aerospace sector, benefiting 34 different organizations,
predominantly companies. The results show a great concentration in the increase related to
production capabilities and a lack of increment related to advanced innovation capabilities.
The dissertation concludes that the Brazilian Aeronautics Offset Policy is an important
instrument to expand the supply of foreign technology in the Brazilian aerospace industry, as
it yields diversified technology transfers and opportunities for relevant technological
relationships between Brazilian and foreign organizations. However, it is not possible to
ascertain that the transferred technology is close to the technological frontier.

Keywords: Offset. Aerospace industry. Technological capabilities. Transfer of


technology.
vii

LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estrutura típica da cadeia produtiva aeroespacial .................................................... 50

Figura 2 - Aprendizado movido a exportação atrás da fronteira tecnológica........................... 69

Figura 3 - Caminho estilizado através de diferentes níveis e tipos de capacidade de inovação


.................................................................................................................................................. 72

Figura 4 - Modelo conceitual da pesquisa ................................................................................ 75

Figura 5 - Avião F-5 modernizado da Força Aérea Brasileira ................................................. 96

Figura 6 - Avião presidencial VC-1 da Força Aérea Brasileira ............................................... 97

Figura 7 - Avião C-295 na versão Search and Rescue (SAR) ................................................. 98

Figura 8 - Avião P-3 Orion da Força Aérea Brasileira ............................................................. 99

Figura 9 - Helicóptero H-36 Caracau da Força Aérea Brasileira ........................................... 100

Figura 10 - Protótipo do avião KC-390 da Força Aérea Brasileira ........................................ 101

Figura 11 - Avião A-1 modernizado da Força Aérea Brasileira............................................. 102

Figura 12 - VANT RQ-450 da Força Aérea Brasileira .......................................................... 103

Figura 13 - Distribuição dos tipos de resultados dos projetos de offset ................................. 105

Figura 14 - Distribuição dos projetos de offset com relação a organizações estrangeiras


envolvidas. .............................................................................................................................. 107

Figura 15 - Distribuição de projetos de offset com relação ao tipo de organização beneficiada


................................................................................................................................................ 108

Figura 16 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tamanho das empresas
beneficiadas. ........................................................................................................................... 110

Figura 17 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tipo de offset ........................ 111

Figura 18 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tipo de interação .................. 112

Figura 19- Distribução dos projetos de offset com relação ao incremento na capacidade
tecnológica .............................................................................................................................. 113

Figura 20 - Tipo de organização beneficiada e incremento em capacidades tecnológicas .... 116


viii

Figura 21 - Mapa simétrico da AC entre tipos de organizações brasileiras – com tamanho das
empresas como variável suplementar – e o incremento na capacidade tecnológica .............. 118

Figura 22 - Relação entre tipo de offset e incremento na capacidade tecnológica ................. 120

Figura 23 - Mapa simétrico da AC das variáveis tipo de offset e tipo de organização brasileira
codificadas interativamente e a variável incremento na capacidade tecnológica ................... 121

Figura 24 – Mapa simétrico da AC: relação de categorias de relacionamento com o


incremento em capacidades tecnológicas. .............................................................................. 123

Figura 25 – Mapa simétrico da AC: Intensidade de relacionamento e incremento em


capacidades tecnológicas ........................................................................................................ 124

Figura 26 – Mapa simétrico da AC: Intensidade de relacionamento interativamente codificada


com tipo de organização brasileira e incremento em capacidades tecnológicas .................... 126
ix

LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Modalidades de offset ............................................................................................ 31

Quadro 2 - Matriz ilustrativa das capacidades tecnológicas..................................................... 64

Quadro 3 – Categorias da variável INTERAÇÃO e exemplos das atividades envolvidas em


cada categoria ........................................................................................................................... 82

Quadro 4 – Matriz de capacitação tecnológica adotada na pesquisa ........................................ 85

Quadro 5 – Sumário das variáveis da pesquisa ........................................................................ 86

Quadro 6 - Características da Política de Offset da Aeronáutica.............................................. 93

Quadro 7 – Características dos Acordos de Offset estudados .................................................. 95


x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipo de organização beneficiada e incremento em capacidades tecnológicas ..... 116

Tabela 2 – Relação entre tipo de offset e incremento na capacidade tecnológica .................. 119

Tabela 3– Intensidade de relacionamento e incremento em capacidades tecnológicas ......... 124

Tabela 4 - Estatísticas da AC entre tipos de organizações brasileiras – com tamanho das


empresas como variável suplementar – e o incremento na capacidade tecnológica .............. 148

Tabela 5 - Estatísticas da AC das variáveis tipo de offset e tipo de organização brasileira


codificadas interativamente e a variável incremento na capacidade tecnológica ................... 149

Tabela 6 - Estatísticas da AC: relação de categorias de relacionamento obtidas com a


codificação interativa das variáveis tipo de empresa brasileira e tipo de empresa estrangeira
com o incremento em capacidades tecnológicas. ................................................................... 150

Tabela 7 - Estatísticas da AC: Intensidade de relacionamento e incremento em capacidades


tecnológicas ............................................................................................................................ 151

Tabela 8 - Estatísticas da AC: Intensidade de relacionamento interativamente codificada com


tipo de organização brasileira e incremento em capacidades tecnológicas ............................ 152
xi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 14

1.1 Objetivos 17

1.2 Justificativa 17

1.3 Estrutura da dissertação 21

2 DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE OFFSET 22

2.1 Contrapartidas 23

2.2 Conceito de offset 23

2.3 Histórico dos offsets 25

2.3.1 Surgimento 25

2.3.2 Anos 1960 e 1970 26

2.3.3 Anos 1980 até a atualidade 27

2.4 Formas de offset 29

2.4.1 Offset direto x offset indireto 29

2.4.2 Tipologias de benefícios de offset 30

2.5 Críticas aos offsets 33

2.6 Evidência empírica disponível sobre offsets 36

2.7 Offsets no setor aeroespacial brasileiro: uma visão histórica 39

3 CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA AEROESPACIAL 44

3.1 Contexto da indústria aeroespacial 44

3.1.1 Segmentos 45

3.1.2 O Produto aeroespacial 46

3.2 Organização da produção 47


xii

3.2.1 Estrutura da cadeia produtiva 49

3.2.2 Clusters e trajetórias tecnológicas 52

4 O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADES TECNOLÓGICAS 55

4.1 Inovação e transferência de tecnologia 55

4.2 A construção de uma visão baseada em capacidades 57

4.3 Conceito e operacionalização das capacidades tecnológicas 61

4.3.1 Capacidade de produção 62

4.3.2 Capacidade de inovação 62

4.3.3 Operacionalização do conceito de capacidades tecnológicas 63

4.4 Aprendizado e aquisição de capacidades tecnológicas 64

4.5 Trajetória de acumulação de capacidades tecnológicas 67

4.6 As capacidades na fronteira tecnológica 70

5 MÉTODO DE PESQUISA 73

5.1 Delineamento da pesquisa 73

5.2 Procedimento metodológico 74

5.2.1 Unidade de análise 77

5.2.2 Definição da amostra e recorte temporal 78

5.2.3 Coleta de dados 78

5.3 Operacionalização dos conceitos 79

5.3.1 Tipo de offset 80

5.3.2 Características da organização beneficiária 80

5.3.3 Características da organização fornecedora 81

5.3.4 Tipo de interação 81

5.3.5 Incremento na capacidade tecnológica 83

5.3.6 Sumário das variáveis da pesquisa 85

5.4 Método empregado 87


xiii

6 DESCRIÇÃO DA POLÍTICA DE OFFSET DA AERONÁUTICA 90

6.1 Institucionalização recente e características da Política de Offset da Aeronáutica


90

6.2 Apresentação dos Programas estudados 94

7 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E INCREMENTO NAS


CAPACIDADES TECNOLÓGICAS DAS ORGANIZAÇÕES DO SETOR
AEROESPACIAL BRASILEIRO 104

7.1 Descrição da amostra 104

7.2 Descrição dos atores envolvidos 105

7.3 Distribuição das variáveis com relação aos projetos. 106

7.4 Formas de implementação de offset e incremento em capacidades tecnológicas 115

7.4.1 Organizações brasileiras e incremento nas capacidades 115

7.4.2 Tipos de offset e incremento na capacidade tecnológica 119

7.4.3 Tipos de relacionamento e incremento em capacidades tecnológicas 122

7.4.4 Diferentes arranjos de interação e o incremento em capacidades tecnológicas 124

8 CONCLUSÃO 128

8.1 Contribuições do trabalho 130

8.2 Limitações e sugestões de pesquisas futuras 133

REFERÊNCIAS 135

APÊNDICE A –ESTATÍSTICAS DAS ANÁLISES DE CORRESPONDÊNCIA 148


14

1 INTRODUÇÃO

Os produtos aeroespaciais são essenciais para o estilo de vida contemporâneo.


Aeronaves, foguetes e satélites são fundamentais ao desenvolvimento de setores como os
transportes e as comunicações, além de possuir óbvias ligações com a aplicação militar. Do
ponto de vista nacional e local, a indústria aeroespacial é altamente valorizada, pois possui o
potencial de gerar empregos altamente especializados e de ser um dos motores de
desenvolvimento industrial, devido a alta intensidade tecnológica e ao grande valor agregado
de seus produtos.

Nessa indústria, o sucesso é dependente de progresso tecnológico rápido, em grande


parte proporcionado por um intenso esforço em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Além de
barreiras tecnológicas, os entrantes na indústria aeroespacial enfrentam grandes barreiras
financeiras. Esposito (2004) mostra que o preço das plataformas aeroespaciais aumenta
exponencialmente com relação ao seu conteúdo tecnológico. Esse custo, associado à pequena
escala de produção faz com que uma nova aeronave demore de 10 a 18 anos para se tornar
lucrativa (NIOSI; ZHEGU, 2010).

Além disso, a demanda espalhada pelo mundo e o fato de que o custo do transporte
não seja tão relevante no valor final dos produtos, faz com que a competição no setor seja
efetivamente global (NIOSI; ZHEGU, 2005). Esses fatores fazem com que a indústria
apresente, tipicamente, uma estrutura de mercado oligopolista, na qual players são
especializados em módulos ou tecnologias específicos.

Como é de se esperar, a intervenção estatal é uma característica constante no setor


aeroespacial, marcado por subsídios e políticas públicas especificamente voltadas para o seu
desenvolvimento.

No Brasil não é diferente; a evolução do setor esteve historicamente marcada pela


intervenção estatal, pautada pelo fomento a uma capacidade endógena de desenvolvimento
voltada à produção de produtos finais. A própria Embraer, atualmente uma das maiores
fabricantes de aviões do mundo, nasceu como uma empresa estatal a partir da estrutura do
Centro Tecnológico de Aeronáutica (CTA).

Além disso, a fabricação de seu primeiro produto - o avião Bandeirante – só foi


possível a partir de importação de know how de industrialização na forma de assistência
15

técnica da fabricante de aviões italiana Aermacchi, obtida como condição para a compra de
seus aviões militares MB 326 (Xavante) (NETTO, 2005; SILVA, 1998).

Práticas como essa são amplamente utilizadas no setor aeroespacial e ocorrem muitas
vezes sob a forma de offsets. Offsets são instrumentos de comércio internacional, nos quais
compradores governamentais impõem a fornecedores estrangeiros a obrigação de apresentar
benefícios adicionais que desenvolvam o país comprador (HENNART 1989; TAYLOR,
2001).

Este tipo de política é praticada ao redor do mundo desde a década de 1950,


principalmente com objetivos de desenvolvimento industrial. Inicialmente implementado na
Europa Ocidental para a recuperação da indústria no pós-guerra, os offsets se difundiram e
foram adaptados por todo o mundo (TAYLOR, 2001). Segundo levantamento do governo
americano, entre 1993 e 2015, 55 empresas dos EUA firmaram 1050 contratos de exportação
associados a offsets no valor de 180,7 bilhões de dólares com 50 países (BIS, 2016).

No Brasil, sob o nome de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica (CCIT)


os offsets foram usados com frequência desde a década de 1970 para ampliar a oferta de
tecnologia estrangeira no setor aeroespacial. Recentemente essa prática ganhou uma renovada
relevância para o setor – haja visto que somente no Comando da Aeronáutica no âmbito da
Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), entre 2000 e 2016
foram firmados Acordos de Offset no valor de aproximadamente 13,3 bilhões de dólares
americanos, relacionados a compras de novos sistemas de defesa no valor aproximado de 9,5
bilhões de dólares americanos1.

Apesar de amplamente praticados, os offsets são particularmente polêmicos.


Importantes questões sobre a sua eficiência econômica e a restrição ao livre comércio são
levantadas pelos Estados Unidos da América (EUA), pela União Europeia (UE) e pela
Organização Mundial do Comércio para desincentivar essa prática. Questionamentos mais
específicos também são presentes com relação à transferência de tecnologia obsoleta

1
O valor acordado dos offsets pode ser superior ao valor da compra. No caso, a
diferença pode ser explicada praticamente pelo Projeto F-X2, referente a compra de 36 caças
Gripen NG da empresa sueca SAAB, cujo valor contabilizado dos offsets excede o da compra
comercial em 3,7 bilhões de dólares).
16

(MATTHEWS, 2004; TAYLOR, 2004); a quais benefícios são realmente proporcionados


pelos offsets (TAYLOR, 2001; MARTIN 1996b) e a seu reconhecido uso como propaganda
política para convencer a opinião pública sobre a importância de compras de defesa
(BRAUER; DUNNE, 2004; ERIKSON et al, 2007).

Entretanto essas críticas convivem com a argumentação de que os offsets podem ser
eficientes em condições imperfeitas de mercado (TAYLOR, 2001) e com evidências
empíricas de casos bem-sucedidos (MARTIN, 1996a; BRAUER; DUNNE, 2004). Isto leva ao
reconhecimento de que, pelo menos em alguns casos, os offsets são efetivos em transferir a
geração de valor dos países líderes para outros países (BIS, 2007; ERIKSON et al. 2007).

Uma vez que existe uma reconhecida escassez internacional de informações e estudos
adequados sobre os resultados de offsets, as dúvidas sobre os reais benefícios e malefícios da
prática estão longe de estar resolvidas (UDIS; MASKUS, 1991). Os governos são receosos de
avaliar seus resultados e impactos, sob a alegação de que são matéria de segurança nacional.
Os fornecedores, por sua vez, também não revelam informações, tratando o assunto de
maneira sensível, em alto nível estratégico, que possui o potencial de afetar o seu desempenho
de vendas. Essas dificuldades resultam em uma baixa disponibilidade de dados confiáveis e
específicos sobre offsets.

No Brasil, apesar da importância histórica da prática e do recente crescimento de sua


exigência, são muito poucas as pesquisas que abordam os offsets. Apesar de algumas
descrições confiáveis de benefícios de offset - como em Francelino (2016) e Carlos (2013) –
inexistem trabalhos que contabilizem de forma sistemática e consistente os benefícios obtidos
de fato após a implementação dos offsets.

Essa pesquisa visa, justamente, preencher esta lacuna ao responder a seguinte questão:

Quais são os resultados dos offsets em termos do incremento nas capacidades


tecnológicas das organizações do setor aeroespacial brasileiro?
17

1.1 Objetivos
O objetivo principal do trabalho é a descrição das formas de implementação de offsets
e a análise de seus resultados com relação à acumulação tecnológica no setor aeroespacial
brasileiro.

O objetivo principal pode ser desdobrado nos seguintes objetivos específicos:

 Descrever os resultados diretos dos Projetos de Offset implementados com


relação ao incremento nas capacidades tecnológicas de organizações do setor aeroespacial
brasileiro

 Relacionar as diferentes formas de implementação de offsets com seus


resultados; e
 Contribuir com evidências empíricas para a melhoria do entendimento sobre o
funcionamento dos offsets.

1.2 Justificativa

A motivação para este trabalho tem origem em problemas e questionamentos


levantados, mesmo que informalmente, pela comunidade praticante que lida diretamente com
o objeto da pesquisa: políticas de offset. Esta comunidade é carente com relação a trabalhos
sobre offsets que forneçam feedbacks e insights sobre as escolhas realizadas e os resultados
obtidos.

Assim, de certa forma, o trabalho busca empregar o método científico a uma


problemática situada na prática, que possui suas próprias convenções e soluções, baseadas em
grande parte no senso comum e nas experiências de diversos praticantes que contribuem para
a implementação dos offsets.

A posição desse pesquisador, no caso desse trabalho, pode-se dizer que é ambivalente.
Por um lado se situa como um especialista em offset e, portanto, está diretamente envolvido
no acompanhamento e controle da Política de Offset da Aeronáutica. Essa fato faz com que o
trabalho se beneficie do acesso a informações reservadas e de estar em condições de
considerar aspectos que são vivenciados na realidade da implementação dos offsets.
Entretanto, inserido como membro atuante desse espaço, o pesquisador é provido de
motivações, interesses, tensões e constrangimentos que, de certo modo, limitam e repercutem
no ofício e na prática científica. Um exemplo dessa condição é a impossibilidade de revelar as
18

especificidades de cada projeto executado - como atores, vulto e tecnologias envolvidas -


devido à natureza reservada dessas informações. Entretanto, mesmo diante de um conjunto de
restrições e reservas, esta pesquisa busca, de uma maneira original, a descrição de detalhes da
forma de execução dos offsets.

Como ponto de partida da análise são exploradas as singularidades e as características


marcantes do offset. No plano internacional é buscada uma visão histórica sobre como o
instituto do offset se estabeleceu e evoluiu a partir de autores como Hennart (1989), Taylor
(2001) e Udis e Maskus (1996) para então se buscar uma conceituação prática da
operacionalização dos offsets com base na evidência empírica disponível, principalmente no
presente em coletâneas como Martin (1996a) e Brauer e Dunne (2004) e em estudos como
BIS (2007;2016), Erikson et al. (2007) e Taylor (2012).

No contexto brasileiro, são descritos os aspectos idiossincráticos da Política de Offset


da Aeronáutica por meio de contextualizações históricas dos casos de offset presentes em
livros como Silva (2004) e Warwar (2004) e em teses e dissertações como Menezes (1989),
Netto (2005) e Carlos (2013). Esse contexto é trazido para a prática de offsets atual, a partir da
descrição da estrutura normativa vigente, com o benefício de incorporar o conhecimento
técnico do pesquisador sobre o que de fato é implementado como offset pela Aeronáutica.

De forma a ambientar o objeto de pesquisa, são estudados alguns aspectos gerais


importantes com relação a organização da cadeia produtiva aeroespacial, a partir de artigos
como os de Lefebvre e Lefebvre (1998), Esposito (2004), Smith e Transfield (2005) e Niozi e
Zhegu (2005; 2010).

Do ponto de vista do arcabouço teórico que embasa o modelo conceitual, é adotada a


literatura dos chamados economistas evolucionistas, que derivam principalmente da
referência fundamental Nelson e Winter (1982). Os teóricos identificados com essa tradição
adotam a premissa de que o desenvolvimento econômico é baseado em avanços tecnológicos
e que o mercado age selecionando as empresas que se adaptam nesse ambiente competitivo.
Ainda sob essa visão, as empresas evoluem ao longo do tempo e são restringidas pelas suas
escolhas passadas, ou seja, são path dependents (NELSON; WINTER, 1982; KOGUT;
ZANDER, 1992; WINTER, 2004).

Para esses autores, a diferenciação e a vantagem competitiva das empresas são frutos
das formas como essas mobilizam suas habilidades na forma de rotinas organizacionais e em
19

capacidades (TEECE; PIZANO; SCHUEN, 1997; DOSI; NELSON; WINTER, 2000; RUSH;
BESSANT; HOBDAY, 2007).

No caso brasileiro faz sentido buscar, dentro desse repertório analítico, um enfoque
específico que nos ajude a compreender a especificidade local. Esse é o foco em empresas
latecomer: empresas que iniciam sua atuação em ambientes menos favorecidos
tecnologicamente, ou seja, longe dos mercados líderes e de tecnologias de ponta (HOBDAY,
1995; BELL; FIGUEIREDO, 2012). Essas empresas são comumente associadas a países de
industrialização recente.

A literatura com foco neste tipo de empresas é a chamada abordagem das capacidades
tecnológicas (technological capabilities), cuja preocupação primordial é a descrição de como
as organizações latecomer acumulam as habilidades para manipular a tecnologia e lidar com
as mudanças tecnológicas, conforme definido por autores como Lall (1992), Bell e Pavitt
(1993, 1995), Figueiredo (2003), Dutrenit (2000; 2004) e Bell e Figueiredo (2012).

Nesse contexto, o aprendizado tecnológico, considerado como um esforço


(MALERBA, 1992), tem um papel fundamental, pois é a base para a acumulação dessas
habilidades (BELL, 1984). Nesse âmbito, os principais autores preocupados com as formas
como as empresas adquirem e empregam as capacidades citados neste trabalho são Cohen e
Levinthal (1990), Hobday (1995, 1998), Kim (1997, 1999), Lane e Lubatkin (1998) e Lema e
Lema (2013).

De forma a medir os resultados tecnológicos dos offsets, este trabalho traz uma análise
comum da abordagem de capacidades tecnológicas: a matriz de capacitação tecnológica. Essa
ferramenta consiste na classificação das habilidades de manipular a tecnologia em diferentes
áreas de aplicação e em diferentes níveis de complexidade. Esta operacionalização visa
descrever de forma qualitativa as atividades inovativas que as organizações são capazes de
realizar por meio da medição do agregado das rotinas que representam “como as coisas são
feitas” nas organizações. As principais aplicações dessa medição utilizadas como referência
são Lall (1992), Figueiredo (1999), Iammarino et al. (2008); Yoruk (2009), Marques (2011),
Bell e Figueiredo (2012), Francelino (2016) e Pinheiro et al. (2017).

O modelo conceitual proposto com base nessas fontes teóricas e práticas, busca
fornecer uma estrutura de análise que permita observar as entradas, as atividades e os
resultados de políticas de offset. Nesse framework as entradas são compostas das aquisições
que causaram os offsets, os agentes envolvidos nos offsets e o seu relacionamento. As
20

atividades envolvem a ligação a nível de interação que propicia o fluxo de tecnologia por
meio de arranjos que facilitam o aprendizado tecnológico. Os resultados, por sua vez são
operacionalizados por meio do incremento nas capacidades tecnológicas de organizações
brasileiras beneficiárias da Política de Offset da Aeronáutica.

A pesquisa, delineada na forma de um levantamento, está interessada em levantar o


que de fato foi implementado em termos de offset em compras de produtos de defesa geridas
pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), órgão
responsável por gerir as aquisições de grande vulto de novos sistemas de defesa do Comando
da Aeronáutica. A COPAC é atualmente referência nacional no que diz respeito a aquisição
no ambiente militar e os offsets oriundos de suas aquisições podem ser considerados como o
“estado da arte” em termos de volume, complexidade e intensidade tecnológica no Brasil.

O levantamento acontece ao nível de análise da organização, se referindo a unidade de


análise como Projetos de Offset. São analisados todos os Projetos de Offset implementados no
período de 2000 a 2016, que compreende a retomada das aquisições de defesa envolvendo os
offsets após um hiato na década de 1990. Da amostra selecionada, são identificados 67
Projetos de Offset implementados satisfatoriamente, dos quais 55 projetos (82%) envolvem
incremento nas capacidades tecnológicas das organizações brasileiras. Esses projetos foram
executados como compensação aos seguintes programas de aquisição e modernização: F-
5BR, VC-X, CL-X, P-3BR, AM-X, LINK BR2, VANT, H-XBR, KC-390 e CL-X2. O
Programa F-X2 não é analisado devido ao início recente de sua implementação.

A análise dos dados é feita de forma a compreender as relações entre as variáveis


categóricas levantadas para cada um dos 55 Projetos de Offset. É realizada a descrição da
distribuição de cada variável, seguida da tabulação na forma de tabelas de contingência, que
são tabelas cruzadas de duas variáveis. A interpretação dos resultados é feita a partir da
análise dessas tabelas com o auxílio de gráficos e por meio de análise de correspondência
(AC).

A AC é uma técnica de estatística multivariada que permite visualizar associações


entre variáveis de maneira relativa. É possível destacar quais categorias de variáveis possuem
uma relação maior e quais estão menos relacionadas. Este método é desenhado de forma que
as diferenças entre as associações das variáveis sejam representadas por distâncias em
diagramas apresentados na forma de gráficos. Assim, a partir da representação gráfica é
possível realizar interpretações exploratórias e descritivas sobre o conjunto de dados
analisado.
21

1.3 Estrutura da dissertação


Objetivando o desenvolvimento do que foi apresentado nessa seção introdutória, a
dissertação divide-se em 8 seções, sendo que na seção seguinte a esta (Seção 2) serão
discutidas as peculiaridades e os conceitos relativos à prática de offsets, especificamente como
esta prática se estabeleceu e evoluiu para a prática que conhecemos hoje, assim como as
evidências sobre os seus resultados presentes na literatura e o estudo do histórico brasileiro.

A Seção 3 descreve o contexto tecnológico e de organização industrial do setor


aeroespacial, enquanto que a Seção 4 apresenta os conceitos e a teoria associada ao processo
de acumulação de capacidades tecnológicas. Já a seção 5 apresenta o delineamento da
pesquisa e a estrutura de análise e a Seção 6 apresenta as idiossincrasias da Política de Offset
da Aeronáutica e os offsets implementados pela Comissão Coordenadora do Programa
Aeronave de Combate (COPAC), objeto deste trabalho.

A Seção 7, por sua vez, descreve os casos analisados e discute os resultados obtidos
com a análise. Por fim, na Seção 8 são apresentadas as considerações finais do trabalho,
limitações sobre os resultados da pesquisa e as propostas de continuidades da pesquisa, a
partir de trabalhos futuros.
22

2 DESCRIÇÃO DA PRÁTICA DE OFFSET


Os offsets existem sob uma grande diversidade de formas de implementação, mas, via
de regra, estão associados a grandes aquisições governamentais, principalmente de defesa,
relacionadas a produtos de alta complexidade tecnológica, sobretudo no setor aeroespacial
(UNCITRAL, 1993).

Essa forma de política pública é altamente difundida no comércio internacional.


Segundo levantamento do governo americano, entre 1993 e 2015, 55 empresas dos EUA
firmaram 1050 contratos de exportação associados a offsets no valor de 180,7 bilhões de
dólares com 50 países (BIS, 2016).

Apesar de sua grande difusão, existem poucas pesquisas sobre a implementação de


offsets. Isso decorre principalmente de dificuldades, como as associadas ao comércio de
produtos de defesa e de alta tecnologia, que é reconhecido pela restrição ao acesso a
informações (DUMAS, 2004).

Consequentemente, existem muito poucas informações disponíveis que não sejam


demasiadamente agregadas e generalistas (BRAUER; DUNNE, 2004). Na prática, a maioria
dos dados atualmente disponíveis sobre offsets, como os presentes em coletâneas de estudos e
em relatórios governamentais, se restringem à revelação do montante financeiro da
negociação e da descrição genérica dos benefícios esperados. Mesmo esses dados, não podem
ser considerados confiáveis e consistentes (MARTIN, 1996b), muito menos convincentes
(ERIKSSON et al., 2007) para a avaliação dos resultados dos offsets.

Em 1991, Udis e Maskus, em um importante artigo, lançaram um pedido para que a


comunidade acadêmica realize “um sério esforço para desenvolver critérios para distinguir
entre offsets benéficos e prejudiciais” (UDIS; MASKUS, 1991, p. 163). Este artigo
influenciou alguns autores a deixar de realizar uma abordagem teórica em favor de estudos
mais empíricos sobre os offsets.

Nesse contexto, a revisão teórica aqui apresentada não procura uma razão econômica
sobre as transações de offset – tema que por si só é controverso na literatura econômica - mas
objetiva descrever os offsets como esses ocorrem na prática.

Este estudo se inicia com a definição teórica e operacional dos offsets, seguida de uma
revisão histórica de como esse instrumento que conhecemos hoje evoluiu e se estabeleceu. Na
23

sequência são abordados os principais conceitos e tipologias associados à prática e a evidência


empírica existente sobre os offsets e seus resultados. Por fim, a seção termina com uma
contextualização histórica dos offsets no setor aeroespacial brasileiro.

2.1 Contrapartidas
Offsets são uma modalidade das transações comerciais que envolvem contrapartidas.
Segundo Hennart (1989), “contrapartidas” é um termo genérico utilizado para descrever
práticas não convencionais de comércio que impõem alguma forma de reciprocidade2.

Mais especificamente, o termo contrapartidas cobre contratos de duas formas


principais: por um lado contratos de barter (simples troca de uma mercadoria pela outra), que
são utilizados para evitar o uso de dinheiro ou a colocação de preços; por outro lado existem
diversas modalidades com diferentes graus de complexidade que usam dinheiro ou crédito e
são desenhadas de forma a promover benefícios adicionais aos compradores (HENNART,
1989).

Uma característica marcante das contrapartidas é que elas são uma alternativa para os
países resolverem seus problemas de convertibilidade de moedas e de deficit de comércio
exterior (HENNART, 1989), por meio da garantia de compra de seus produtos locais, por
exemplo.

A negociação de contrapartidas, portanto, apresenta uma solução flexível em termos


de possíveis arranjos de transações e é vista como uma alternativa do comprador para a
negociação de diversos benefícios possíveis junto ao fornecedor.

2.2 Conceito de offset


Os offsets são uma modalidade de contrapartidas que trata especificamente de
condições impostas por compradores governamentais sobre empresas estrangeiras
fornecedoras (HENNART, 1989; TALOR, 2001). Os offsets muitas vezes são associados à
palavra compensação - como no caso brasileiro -, devido à percepção de que a importação de

2
Nesse sentido, a reciprocidade deve ser entendida sob sua perspectiva social que significa dar, receber
e retribuir
24

bens e serviços estrangeiros é ruim e que a economia local merece alguma forma de
compensação (TAYLOR, 2001).

Essa lógica por trás dos offsets faz com que os governos insistam que o valor gasto na
compra seja compensado de alguma forma e, assim, obrigam o vendedor a concordar com
benefícios adicionais que desenvolvam o país comprador (HENNART, 1989), como a
subcontratação de parte da produção para produtores locais ou a realização de transferência de
tecnologia, por exemplo.

Embora sejam muitas vezes chamados também de cooperação industrial, programas de


benefícios industriais ou política de contrapartidas, na prática trata-se de uma mesma forma
de estratégia de desenvolvimento e de política industrial.

Cabe ressaltar que, embora o conceito envolvido com os offsets seja simples – um
governo obriga um fornecedor estrangeiro a incluir benefícios extras no fornecimento de um
produto – a delimitação do seu escopo de atuação é alvo de grandes divergências.

Segundo Taylor (2001), uma característica fundamental de Acordos de Offset é que


eles são contratos fora do padrão pois requerem condicionalidade e adicionalidade.
Condicionalidade significa que o comprador só irá comprar do vendedor se este fornecer
offsets. Já, a adicionalidade se refere ao fato de que o vendedor deve demonstrar que o pacote
de benefícios transferidos para o país comprador é adicional à compra do produto e não
aconteceria de outra forma.

Cabe esclarecer que, segundo esses critérios, acordos de cooperação internacional


entre empresas com vistas ao desenvolvimento de um produto, ou de cooperação entre
governos, como foi o caso do Programa AMX3 por exemplo, não podem ser classificados
como offsets. Isso porque esses arranjos são uma colaboração e não possuem condicionalidade
– não são impostos como a condição para uma compra. Além disso, não apresentam
adicionalidade – benefícios adicionais ao produto comprado - uma vez que o desenvolvimento
é em si a parte central do acordo e o compartilhamento de trabalho, de custos e da produção
são apenas consequências do cumprimento do contrato.

3
O Programa AMX, implementado na década de 1980, é um exemplo de co-desenvolvimento e
coprodução entre os governos brasileiro e italiano que incluiu a indústria aeroespacial de ambos os países. O
projeto focava na construção de uma aeronave de caça de alta tecnologia.
25

2.3 Histórico dos offsets


Desde a sua origem, no período pós Segunda Guerra Mundial, até os dias atuais, a
prática da exigência de offsets sofreu grandes mudanças. Essas mudanças são o reflexo,
principalmente, de diferentes condições do mercado e de diferentes necessidades dos países.

2.3.1 Surgimento

A prática de contrapartidas remonta aos primórdios da civilização e do comércio entre


nações. Entretanto, a prática de offsets surgiu formalmente somente após a Segunda Guerra
Mundial (TAYLOR, 2001).

Taylor (2001), fornece uma das melhores revisões sobre o surgimento dos offsets nos
tempos modernos. Segundo o autor, essa prática, teve a sua inspiração em práticas de
contrapartidas realizadas na primeira metade do século XX.

Uma dessas experiências ocorreu na Alemanha da década de 1930, em um período


marcado pela recuperação econômica da hiperinflação e uma massiva campanha militar. De
forma a contornar problemas monetários, como a não aceitação do marco alemão e a falta de
reservas e para aumentar o mercado para seus produtos, o governo central alemão assumiu o
papel de grande comprador da economia e passou a implementar acordos bilaterais de trocas
de mercadorias (SCHLACHT, 1967 apud TAYLOR, 2001).

Outra experiência que constrói o pano de fundo para o que viria a se tornar a prática de
offsets como a conhecemos hoje, é a situação vivida pela União das Repúblicas Socialista
Soviética (URSS) logo após a Segunda Guerra Mundial. Também enfrentando problemas
monetários, a URSS resolveu criar um sistema de comércio bilateral com os países satélites
para conservar sua moeda. Esse sistema adotava as contrapartidas de maneira sistemática sob
um comando centralizado da economia (TAYLOR, 2001; MARKOWSKI; HALL, 2004). Da
mesma forma, a relação comercial dos países ocidentais com os países do bloco soviético era
feita por meio de contrapartidas (MARKOWSKI; HALL, 2004).

Os offsets surgem na mesma época na Europa Ocidental, sob o contexto da


implementação do Plano Marshall e o fortalecimento da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN) conduzidos pelos EUA com a óbvia intenção de influenciar os países para
longe do Bloco Soviético. Entretanto, com sua economia devastada e sob a vigência do
26

padrão ouro, os países europeus eram praticamente obrigados a adotar uma posição de
austeridade fiscal, principalmente com relação à sua balança de pagamentos externos.

A forma encontrada para equacionar este problema foi o oferecimento, por parte dos
EUA, de ajuda de curto prazo em termos de pagamentos e incentivos, com o objetivo de
conquistar esses mercados no longo prazo. A forma da ajuda americana, que viria a ficar
conhecida como offset, trazia bolsas e empréstimos ao mesmo tempo em que apoiava a
infraestrutura, a manufatura e a reconstrução das indústrias locais por meio do
compartilhamento de técnicas das empresas americanas relacionadas à produção, métodos de
organização e estratégias de gestão (TAYLOR, 2001).

Particularmente, as indústrias de defesa de países como a Inglaterra, França, Alemanha


e Itália, que estavam em ruínas, foram impulsionadas. Por meio de suas empresas, os EUA
mantiveram as indústrias de defesa desses países em operação e, mais importante,
aumentaram a chance desses países usarem tecnologia americana no seu desenvolvimento.
Esta chamada interoperabilidade entre os sistemas da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (OTAN) garantiria as exportações de defesa dos EUA no futuro, e aumentaria a escala
da indústria norte-americana (TAYLOR, 2001).

2.3.2 Anos 1960 e 1970

Nos anos 1960, a partir da melhoria da economia dos países europeus e a evolução
para um mercado internacional mais desenvolvido, uma linha divisória na história dos offsets
é traçada (TAYLOR, 2001). Os países percebem que podem alterar esses arranjos para
acomodar novos objetivos, principalmente com relação ao desenvolvimento industrial.

Em meados dos anos 1960, passou-se a incluir cláusulas especiais de incentivos à


produção local (TAYLOR, 2001) e a desejar-se cada vez mais a transferência de tecnologia
para a indústria do país comprador (UDIS; MASKUS, 1996). Nesta época também, surgem os
primeiros relatos de que os offsets passam a ser usados como propaganda dos governos para
convencer a população de que os benefícios das compras de defesa justificariam seus custos.

É vista, portanto, uma mudança na relação entre a oferta e a demanda dos offsets nesta
época. Os países da Europa Ocidental começam a demandar offsets mais do que os EUA os
oferecem e sua concentração aumenta em indústrias estratégicas de alta sofisticação
tecnológica, principalmente no setor aeroespacial (BALAKSISHNAN, 2008).
27

Uma transação que mudaria para sempre as relações de compras de aeronaves


militares e os offsets foi a compra, por um grupo de países europeus, de uma aeronave de
combate nos anos 1970 (UDIS; MASKUS, 1996).

No que ficaria conhecida como a venda do século, Bélgica, Dinamarca, Holanda e


Noruega tomaram a decisão de combinar suas encomendas e selecionar somente um
fornecedor de modo a diminuir os custos da aquisição. A competição para a compra
combinada de 350 aeronaves se concentrou entre caças da Suécia (Saab Viggen), EUA
(Northrop F-17 e General Dinamics F-16) e Franceses (Dassault F-1). A grande escala da
ordem de compra, aliada à feroz competição entre os potenciais fornecedores, acabou
envolvendo complexos elementos políticos e econômicos em diversas rodadas de negociação
(HIBERT, 1996).

As propostas elaboradas incluíram diversas cláusulas criativas de offset para o país


comprador, levando ao fim à compra dos caças americanos F-16 em 19754. Os benefícios
incluíam a geração de 5000 empregos na Europa, a manutenção dos caças por parte dos países
europeus, contra-compras de produtos de defesa, transferência de tecnologia de ponta e até
promessas de facilitar a circulação de aeronaves europeias em aeroportos americanos
(HIBERT, 1996).

A partir de então, os offsets começaram a aparecer frequentemente em contratos


internacionais de vendas de aeronaves e outros produtos que incorporam tecnologia avançada
e possuem alto valor agregado (UDIS; MASKUS, 1991).

2.3.3 Anos 1980 até a atualidade

Principalmente a partir dos anos 1980, os países do Leste Europeu e os países de


industrialização recente começam a copiar as práticas dos países mais desenvolvidos,
tornando o offset de grande relevância para esses novos entrantes (BALAKSISHNAN, 2008).
Além disso, neste período, a indústria europeia se torna forte a ponto de competir com a
norte-americana e passa também a oferecer offsets (MODESTI, 2004).

4
Para assegurar a venda, o governo dos Estados Unidos decidiu apoiar o programa F-16, que à época
era um programa em desenvolvimento com somente um protótipo, e garantiu a compra adicional de 650
aeronaves F-16 da General Dinamics.
28

O final da Guerra Fria marcou uma grande mudança no mercado de defesa: houve a
retirada da mobilização militar dos EUA de outros países e a diminuição em 40 % da
demanda por produtos de defesa (MARKUSSEN, 2004).

Esses fatores acirraram ainda mais a concorrência no mercado de defesa, propiciando


um grande poder no mercado para os compradores, que passaram a possuir o poder de extrair
benefícios substanciais, e tornaram as demandas por offset praticamente universais
(BRAUER; DUNNE, 2006).

Dessa forma, os anos 1990 viram o aumento na porcentagem de offsets exigido: os


valores dos offsets europeus de contratos americanos subiram de uma média de 72% do valor
do contrato nos anos 1980 para 88% nos anos 1990 (MARKUSSEN, 2004).

Também durante os anos 1990, vários países mudaram a ênfase dos objetivos de suas
políticas de offsets: objetivos gerais de desenvolvimento econômico viraram objetivos mais
específicos, relacionados a assistências e transferências especiais de tecnologia para a sua
própria cadeia produtiva (BRAUER; DUNNE, 2006).

Ao longo da década de 2000 os offsets surgem novamente com um novo ciclo de


investimentos e a entrada de novos demandantes na Europa como Estônia, Grécia, Portugal,
República Checa, Hungria, Bulgária e Croácia. Na década de 2010 houve ainda o
endurecimento de algumas políticas de offset notadamente na Índia e nos Emirados Árabes
Unidos.

Diante do reconhecido impacto sobre as empresas americanas (BIS, 2007), os EUA


vêm adotando uma posição cada vez mais restritiva com relação às exigências de offset. No
ano de 1990, a prática passou a ser oficialmente combatida pelos EUA e considerada
antiética, com a justificativa de que tem levado a supostas distorções no comércio
internacional5. Entretanto as empresas americanas continuam a fornecer offsets
extensivamente.

5
Entretanto, a posição dos EUA com relação aos offsets não desfruta de muito crédito perante a
comunidade internacional. Os próprios EUA tem uma política de desenvolvimento industrial chamada de Buy
American Act. O Buy American estipula que as compras de defesa de fornecedores estrangeiros realizadas pelo
Pentágono devem ser efetivadas por meio da subcontratação de fornecedores americanos com parte da
fabricação feita nos EUA e que se utilizem somente peças sobressalentes americanas (MARKUSEN, 2004)
29

A União Europeia, por sua vez, enxerga os offsets como um entrave nos seus esforços
de abertura dos mercados segregados e de criação de um mercado de defesa europeu comum.
Apesar disso, os offsets têm permanecido relativamente intocados na Europa, sendo
considerados um “mal necessário” do mercado de defesa, que enquanto não puderem ser
eliminados devem ser, pelo menos, contidos (GEORGOPOULOS, 2011).

Apesar dessas posições de agentes importantes, existe um quase consenso de que a


prática de offsets é quase impossível de ser extinta e que o seu uso tem aumentado nas últimas
décadas (BIS, 2007).

2.4 Formas de offset


Os offsets são implementados por meio de cláusulas adicionais no contrato comercial,
ou mesmo um contrato específico chamado de Acordo de Offset. Particularmente para grandes
contratos, os Acordos de Offset irão se constituir de muitos projetos e transações que formam
um pacote de benefícios de diversos tipos. Uma característica comum desses pacotes é que os
ofertantes têm flexibilidade considerável para encontrar parceiros no lado recebedor
(ERIKSSON et al., 2007).

2.4.1 Offset direto x offset indireto

A primeira categorização que se faz com relação aos offsets é a relação dos benefícios
fornecidos por meio de offset com o produto comprado. Casos em que os benefícios são
diretamente relacionados com o objeto da compra são chamados offsets diretos, enquanto que
casos em que os benefícios não estão diretamente relacionados ao objeto da compra são
chamados offsets indiretos. Esta diferenciação é importante pois os dois tipos de offset
possuem implicações bem distintas sobre os tipos de benefícios ofertados.

Para a compra de aeronaves, um exemplo de offset direto é a criação de capacidade no


país comprador para o desenvolvimento e a atualização dos equipamentos importados. De
outro modo, uma transação de offset indireto seria a capacitação de uma instituição de
pesquisa local em projeto de aeronaves, por exemplo.

Tipicamente no caso de offsets diretos, o conhecimento e o trabalho transferidos para a


indústria do país comprador estão relacionados ao produto, suas peças e componentes que são
produzidos por fornecedores estrangeiros.
30

Os offsets indiretos, por sua vez, oferecem uma gama maior de possibilidades de áreas
de atuação, inclusive em outros setores da economia, não sendo necessário transferir
conhecimento relacionado às competências do fornecedor. Os offsets indiretos também
requerem menor capacidade de absorção do país comprador e incluem modalidades mais
baratas como investimento e parcerias (ERIKSON et al., 2007).

Segundo Erikson et al. (2007), o tipo de offset que mais afeta na escolha do fornecedor
é o offset direto, seguido do offset indireto militar e por último do offset indireto civil, que não
têm aplicação militar. Entretanto, os autores afirmam que os fornecedores relatam diversas
dificuldades em fornecer offsets diretos, principalmente relacionadas a modificações nas suas
cadeias de fornecimento e, portanto, existe um movimento em favor de offsets indiretos e
particularmente indiretos não relacionados a áreas intensas em tecnologia por parte dos
fornecedores.

2.4.2 Tipologias de benefícios de offset

Taylor (2004) propõe duas categorias principais de benefícios de offset com relação
aos seus objetivos: requisitos diversos e política de conteúdo local.

Requisitos diversos de offset objetivam ampliar a oferta de bens e serviços no mercado


nacional. Nesta categoria recursos como equipamentos, software, instrução e capacidades, que
são de difícil obtenção, são fornecidas (TAYLOR, 2004).

A política de conteúdo local objetiva a substituição de importações e cria uma


demanda na cadeia produtiva nacional por produtos e serviços. O aumento da demanda é
muitas vezes feito pela inserção no mercado internacional por meio da exigência de
assistência a exportações e de criação de redes de fornecimento bem desenvolvidas com
empresas nacionais.

Essa categoria inclui modalidades do tipo contra-compras – aquisição de produtos de


fabricação nacional pelo fornecedor estrangeiro -, investimento estrangeiro direto em
capacidade produtiva, arranjos de produção sob-licença e subcontratação (TAYLOR, 2004).
Nesse sentido, esse tipo de offset é uma alternativa mais flexível para desenvolver o mercado
doméstico do que outras políticas econômicas, como incentivos fiscais. (ERIKSON et al.,
2007).
31

Esses objetivos são atingidos por meio da realização de diversas atividades entre um
fornecedor estrangeiro e uma organização beneficiária local. Estas atividades são chamadas
de transações de offset e podem assumir diversas formas, inclusive formas não padronizadas,
a depender do contrato.

Em seu esforço de medir os impactos dos offsets sobre a indústria americana, o


Departamento de Comércio Americano, por meio do Bureau of Industry and Security (BIS)
elabora um relatório anual desde 1993 e o apresenta ao Congresso Americano. Esses
documentos acabaram por estabelecer a categorização mais amplamente reconhecida
internacionalmente para as diferentes modalidades de transações de offset. Essa classificação,
apresentada no Quadro 1 foi posteriormente adotada e refinada por diversos países (inclusive
o Brasil) e pela academia.

Quadro 1 - Modalidades de offset

Modalidade Descrição
Coprodução/ produção Produção no país recebedor de offsets por meio da aquisição
sob licença de informação técnica
Financiamento e Inclui benefícios financeiros como facilidades de crédito e
investimento acesso e recebimento de capital estrangeiro
Produção, no país recebedor de offset, de bens e serviços
Subcontratação utilizados em uma cadeia de fornecimento por uma outra
empresa
Contra-
compra/buyback/barter Compras de bens e serviços do país recebedor de offset

Transferência de Inclui pesquisa e desenvolvimento, assistência técnica, troca


tecnologia de dados, integração de maquinário e equipamentos e outras
atividades
Treinamento Relacionados a produção, manutenção ou uso do
equipamento adquirido
Assitência à Auxílio na inserção de produtores locais em cadeias de
exportação fornecimento internacionais
Outros Outras formas de benefícios
Fonte: Elaborado com base em Eriksson et al. 2007; BIS 2011 e Taylor, 2012

Um elemento importante da operacionalização do offset é a contabilização dos


benefícios em créditos de offset. Os créditos de offset são utilizados para valorar o offset em
termos da obrigação gerada pela aquisição do produto de defesa estrangeiro. Se um país
realiza uma aquisição de produtos no valor de 5 milhões de dólares, por exemplo, e pede
32

como offset 100% deste valor, serão necessários 5 milhões de dólares em créditos de offset
para cumprir essa obrigação.

O estabelecimento do valor dos créditos de offset envolve a aplicação de fatores


multiplicadores. O fator multiplicador é um número aplicado sobre o valor nominal – valor
dos tangíveis ou intangíveis fornecidos - de uma transação para a determinação do crédito
referente à execução das atividades.

Por exemplo, uma empresa oferece transferir uma tecnologia que foi avaliada em 1
milhão de dólares como parte de seu offset. Se um fator multiplicador de 5 foi estabelecido,
essa transação valerá 5 milhões de dólares em créditos de offset, que serão utilizados para
cumprir a obrigação da empresa.

Como o valor dos fatores multiplicadores difere para as diferentes modalidades de


transações, o comprador pode encorajar os fornecedores a oferecer modalidades de offset de
acordo com a sua preferência. Por exemplo, se um fornecedor estrangeiro tem a opção de
realizar investimentos financeiros no país ou fornecer treinamento em uma certa área do
conhecimento ao mesmo custo, este escolherá a modalidade de offset que possui um fator
multiplicador maior, pois o montante de créditos obtidos será maior.

Segundo Eriksson et al. (2007), modalidades que não necessitam de uma estrutura
industrial, como contra-compras, assistência à exportação e investimento direto são
consideradas mais simples e geralmente envolvem a aplicação de fatores multiplicadores
menores.

Já, no contexto de uma base industrial preexistente, offsets com elementos de


subcontratação incluindo significativa transferência de carga de trabalho para o país assim
como elementos de capacitação tecnológica em produção, acompanhada de equipamentos e
bens de capital são, geralmente, associados a fatores multiplicadores maiores (ERIKSSON et
al., 2007).
33

2.5 Críticas aos offsets


Offsets são um assunto particularmente polêmico e existem importantes críticas à sua
implementação. Um ponto de relevante destaque na literatura é eficiência econômica dos
offsets. Neste âmbito existe a questão de que os offsets inibem a troca de bens por meio de
dinheiro, impõem cláusulas restritivas (TAYLOR, 2001) e que prejudicam o livre-comércio
internacional por meio de contratos bilaterais (UNCITRAL, 1993)6.

Entretanto, essa lógica tem sido questionada com argumentos de que os offsets podem
ser eficientes economicamente sob condições de mercados imperfeitos, protecionismo e
informação limitada (ERIKSSON et al., 2007).

Outro ponto importante, do ponto de vista econômico, é a razão dos benefícios obtidos
com o custo incorrido nas atividades adicionais. A famosa anedota de que não existe almoço
grátis é frequentemente utilizada no contexto dos offsets para lembrar que alguém deve pagar
pelos custos gerados com o aumento dos benefícios com a exigência de offsets.

A partir de uma ampla revisão bibliográfica e em questionários e entrevistas


conduzidas, Erikson et al. (2007) afirmam que, de maneira geral, o custo associado aos offsets
está situado entre 5 e 10% do valor do contrato. Entretanto, devido à natureza altamente
heterogênea dos offsets é de se esperar que o custo irá variar grandemente conforme o caso.

Um estudo conduzido pela empresa Price Waterhouse Consulting (PWC) sobre o caso
holandês chegou a um valo próximo de 3% (ERIKSSON et al., 2007). Já, segundo Struys
(2004), a Bélgica teve de pagar de 20 a 30% a mais em suas aquisições por causa dos offsets.
No Japão existem relatos que o país pagou um sobrepreço de pelo menos 50% na maioria dos
sistemas e em alguns casos mais do que 100% (CHINWORTH; MATTHEWS, 1996)7.

A transferência de tecnologia é tratada como um assunto crítico no offset e existe de


fato uma sensação de parte da literatura de que os offsets falham em entregar neste quesito
(MATTHEWS, 2004). As questões associadas a esse assunto são as mais variadas e vão desde

6
Esta alegação é formalmente utilizada pela Organização Mundial do Comércio, por meio do acordo
plurilateral Government Procurement Agreement (GPA), para inibir a prática de offsets. Embora tal acordo
preveja uma exceção para casos que envolvam a segurança nacional.
7
Apesar das alegações japonesas de que do ponto de vista do ciclo de vida do produto as aeronaves não
foram mais caras do que as dos EUA, devido à melhoria da eficiência operacional conseguida pelos japoneses
(CHINWORTH; MATTHEWS, 1996).
34

restrições internacionais de fluxo de tecnologia como as impostas pelo Departamento de


Defesa Americano até preocupações de se garantir contratualmente que a tecnologia será
transferida de maneira apropriada.

Nesse âmbito, não é incomum presenciar a afirmação de que o offset é uma forma de
se desfazer de tecnologias obsoletas ou que estão à beira de se tornarem obsoletas (TAYLOR,
2004). Em uma conferência diante do senado americano em 2000, Cahill apud Matthews
(2004) afirmou que 85% da transferência de tecnologia realizada por empresas americanas
tinha mais de 10 anos de idade. Nessa mesma conferência, Watkins apud Matthews (2004)
descreveu a tecnologia transferida por meio de offsets, como sendo principalmente
relacionada ao conhecimento tácito de fabricação no nível básico, não se relacionando ao
conhecimento ligado a projeto ou a tecnologias de fabricação avançadas.

Uma preocupação particularmente relevante no caso dos offsets é a origem dos


benefícios - causalidade. Assim como em qualquer política ligada à inovação, nas quais os
benefícios são difíceis de serem medidos, levanta-se rotineiramente a hipótese de que as
atividades contabilizadas aconteceriam de qualquer forma, sem a presença dos offsets.

Um exemplo notório sobre a questão da causalidade é a compra dos aviões de


vigilância - Airboune Warning and Control System (AWACS) - da Inglaterra em 1986, no
qual a vencedora Boeing forneceu 7 aeronaves num valor de 1,15 bilhões de dólares. O offset
desta aquisição envolvia 40.000 homens/ano de carga de trabalho para a indústria inglesa, que
seria subfornecedora de empresas americanas. Apesar das exigências de “nova carga de
trabalho”, questionamentos começaram a surgir por parte da imprensa sobre a origem dessa
carga de trabalho, o que levou a uma investigação do parlamento. Este raro caso de prestação
de contas do offset, constatou que é quase impossível julgar se as empresas inglesas teriam
ganho os contratos de fornecimento sem o offset.

O estudo concluiu que o já existente fluxo de ordens de serviço correspondia a 40% do


benefício, mesmo esse número foi considerado amplamente favorável para a Boeing pelos
sindicatos. Além disso, foi considerado que essas compras não se concentravam em produtos
de alta tecnologia ou estavam centrados em áreas estratégicas, conforme acordado
anteriormente. A dúvida sobre se a carga de trabalho gerou efetivamente novos empregos não
foi completamente sanada (MARTIN, 1996b).

Uma outra possibilidade que pode ser levantada, como os arranjos de offsets são
geralmente bem flexíveis, outras empresas podem atuar como fornecedoras de offset em nome
35

do fornecedor do equipamento original. Neste caso, principalmente com relação a offsets


indiretos, a empresa contratada pode prospectar empresas internacionais dentro da sua rede de
contatos que já possuem intenções de realizar negócios no país comprador. A empresa
devedora de offsets, neste caso, atua somente como uma intermediária entre esta terceira
empresa internacional e o país contratante e coloca este negócio, que poderia acontecer de
qualquer forma, na conta dos offsets.

Markussen (2004) afirma que grandes empresas montam grandes operações exclusivas
para o offset cujo trabalho é essencialmente de uma empresa de negócios:

Avaliar as demandas, vender os produtos de offset, construir plantas ou


trabalhar com fornecedores estrangeiros potenciais, a procura de tecnologia
transferível, treinamento de gestores e engenheiros de empresas estrangeiras,
identificando fontes de créditos, barganhando com compradores sobre
compromissos e desempenho, e cumprindo as demandas burocráticas
(MARKUSSEN, 2004, p. 74).

Para corroborar com esta hipótese existe, declaradamente, por parte de consultorias
especializadas, a recomendação da utilização de offsets indiretos como uma forma das
empresas superarem as dificuldades de offsets (REDLICH; MICAVAGE, 1996).

Outra preocupação relacionada à efetividade dos offsets é a confusa distinção entre os


entregáveis que devem vir embutidos no contrato comercial dos que devem vir sob a forma de
offset. Algumas vezes, itens que naturalmente deveriam ser tratados no contrato comercial
como conhecimento para operar o equipamento, garantia e atividades de apoio necessárias ao
cumprimento do contrato principal acabam sendo aceitas como offset. Nesse caso, os
benefícios não são adicionais a compra, mas fazem parte do objeto original da compra.

Diante dessas questões, um benefício do offset que deve ser compreendido é o ganho
político com relação à opinião pública. Os offsets são reconhecidamente utilizados
politicamente para fazer com que a compra de bens no exterior – principalmente armamentos
– seja relacionada também com ganhos sociais, tecnológicos, econômicos, dentre outros para
o país.

Além disso, segundo alguns autores, a atratividade dos offsets também se deve ao fato
de que os benefícios percebidos são mais visíveis que os custos esperados por parte da
36

população (TAYLOR, 2004) e que os argumentos usados pelos apoiadores de offset se


centram em fatos anunciados antes da implementação dos offsets, ao invés de evidências
empíricas (BRAUER; DUNNE, 2004).

Todas essas condições levam aos críticos do offset a afirmar que os offsets não
funcionam exatamente como são anunciados (BRAUER; DUNNE, 2004) e que os benefícios
são deliberadamente exagerados pelos governos e vendidos sob a forma de um “jogo de
fumaça e espelhos” para convencer a opinião pública da compra de produtos de defesa
(UDIS; MASKUS, 1991).

A escassez de evidências empíricas faz com que o debate em torno dessas questões
esteja longe de terminar. Apesar disso, tanto entre teóricos como entre praticantes, parece
imperar a noção de que os custos e benefícios dos offsets devem ser avaliados caso a caso.

2.6 Evidência empírica disponível sobre offsets


Diversos estudos de caso estão presentes na literatura, que apesar de serem em sua
grande maioria descritivos, servem para pintar um panorama sobre as formas e maneiras em
que o offset foi utilizado em diversas situações ao longo do tempo.

Nesse sentido, a maioria dos relatos sobre a implementação de offsets está presente na
forma de estudos de caso, como os presentes em capítulos de livros e artigos diversos. Com
relação aos estudos de caso, duas coletâneas fornecem a maioria das informações disponíveis
sobre a prática internacional: Martin (1996) e Brauer e Dunne (2004). Existem também
levantamentos mais amplos e sistemáticos sobre os offsets na forma de artigos e relatórios,
como Taylor (2012), Erikson et al.(2007) e os relatórios anuais emitidos do Bureau of
Industry and Security (BIS) americano.

Um excelente panorama geral da prática internacional, não somente à relacionada a


produtos americanos, é fornecido por Taylor (2012) que, a partir da coleta de dados presentes
nos artigos da publicação internacional “Countertrade and Offsets”, conseguiu montar uma
base de dados com 235 transações de compras públicas entre 2003 e 2007 que geraram
offsets. Destas, o setor aeroespacial corresponde a 48,51% do total, seguido de longe pelo
setor marítimo (10,8%), automotivo (9,9%), munições (9,6%) e transporte (6,44%).
37

Destas 235 transações, 30,95% correspondem a produção local ou montagem local,


seguidas de transferência de tecnologia (23,81%) e subcontratação (20,63%) (TAYLOR,
2012).

Taylor (2012) concluiu que países menos desenvolvidos usam contra-compras e offsets
indiretos mais do que países industrializados, que utilizam offsets diretos que demandam uma
base industrial mais desenvolvida. O autor também aponta que as contra-compras declinaram
consideravelmente se comparado às décadas anteriores.

Os relatórios do BIS refletem a preocupação do governo americano com os impactos


do offset sobre a sua base industrial e se concentram na quantificação das transações de offset
realizada. Segundo o relatório de 2016, entre 1993 e 2015, 55 empresas dos EUA firmaram
1050 contratos de exportação associados a offsets no valor de 180,7 bilhões de dólares com 50
países. Esses contratos geraram obrigações de offset no valor de 110,9 bilhões de dólares
(BIS, 2016).

Dentre os achados do BIS, encontra-se que o uso de offsets diretos e indiretos criam
competidores estrangeiros que contribuem para a perda de contratos e empregos no país que
fornece offsets. Além disso, algumas vezes se estabelece uma relação de fornecimento de
longo prazo após a implementação de offsets, que pode até levar fornecedores americanos à
falência. Nesse sentido, as pequenas e médias empresas dos países fornecedores que possuem
capacidades tecnológicas específicas, têm um risco maior de ter suas competências adquiridas
pelos beneficiários de offset (BIS, 2007).

Os capítulos presentes nos livros de Martin (1996) e Brauer e Dunne (2004) fornecem
importantes insights sobre como os offsets foram implementados e os seus principais
benefícios percebidos. Dentre os casos mais interessantes podemos destacar o da Coreia do
Sul e o do Japão, por serem amplamente estudados e apresentarem resultados importantes no
desenvolvimento de uma indústria aeroespacial de grande intensidade tecnológica.

Segundo Chinworth e Matthews (1996), nenhum país recebeu mais licenças militares
(28 licenças entre 1960 e 1988) dos EUA do que o Japão. É interessante notar que a filosofia
de defesa japonesa chamada “Kokusanka” estabelece que “tecnologia é poder, uma vez que
promove a chave para a autodeterminação e a autonomia”. Assim, a peculiar política de offset
do Japão estipula que mais de 90% de seus armamentos devam ser produzidos localmente por
meio de, principalmente, produção sob licença, com vistas ao controle da tecnologia e com
foco em aplicações que não sejam específicas do projeto em questão (MATTHEWS, 2004)
38

Embora fatores externos ao offset como o alto investimento e o foco em transferência


de tecnologia no setor civil sejam muito importantes para desenvolvimento japonês, pode-se
dizer que a participação em programas de offset produziu importantes spin-offs no Japão
(CHINWORTH; MATTHEWS, 1996). Como exemplos Chinworth e Matthews (1996) citam
a sinergia industrial, a gestão de projetos e a expertise em integração de sistemas que
contribuíram para a presença japonesa competitiva no setor aeroespacial.

De uma maneira similar, a política perseguida pela Coreia do Sul envolve o foco em
transferência de tecnologia ao invés de simples carga de trabalho. Como o Japão, sua opção
mais desejada tem sido a produção sob licença de produtos aeroespaciais americanos
(MARTIN, 1996b). A política de offsets da Coreia do Sul tem deliberadamente cultivado um
setor militar-industrial de uso dual, usando o manto militar para expandir sua capacidade em
setores civis (LEE; MARKUSSEN, 2003 apud MARKUSSEN, 2004).

Experiências anteriores mostraram à Coreia que a simples fabricação de alguns


componentes específicos não resulta em benefício tanto quanto a transferência de know-how
geral de fabricação (MARKUSSEN, 2004). Portanto sua política de offset evoluiu e se tornou,
atualmente, uma referência em demanda de offsets de alta tecnologia e de aplicação civil e
militar.

Na Europa, países como a França e a Alemanha, embora não adotem mais o offset na
forma de uma política sistemática (ERIKSSON et al, 2007), utilizaram-se desses arranjos para
construir capacidades, particularmente no setor aeroespacial com aplicação civil e militar
(MAWDSLEY; BRZOSKA, 2004). Na Alemanha, por exemplo, somente as empresas alemãs
são efetivamente permitidas em concorrências para fornecimento de produtos aeroespaciais.
Os fornecedores estrangeiros participam dos contratos por meio de consórcios com as
empresas locais que propiciam aos parceiros alemães ganhos em termos de tecnologia e
capacidade de produção de longo prazo (MAWDSLEY; BRZOSKA, 2004).

Ao avaliar os impactos da política de offset na Índia, Misra (2013), utilizando os


contratos realizados entre 2005 e 2011 com valor total de 2 bilhões de dólares, encontrou que
os offsets associados eram em sua grande maioria relacionados à subcontratação de produtos
de baixo valor agregado, à montagem de centros de Maintenance Repair and Overhaul
39

(MRO)8 e a treinamentos em simuladores. Não houve o fluxo esperado de investimento


estrangeiro direto por meio de joint ventures e alianças comerciais de longo prazo,
subcontratações e desenvolvimento, junto com Original Equipament Manufacturers (OEMs)
estrangeiros, assim como a promoção de exportações (MISRA, 2013).

Em seu questionário, o autor concluiu que os offsets ajudaram a principal empresa


estatal indiana, assim como pequenas e médias empresas a aumentar suas exportações e
aumentar sua penetração de mercado. Entretanto, enquanto uma substancial internalização de
tecnologias não críticas foi atingida, a percepção é a de que, em tecnologias críticas, o OEM
raramente fornece o know-how de fabricação e mantém a dependência do país comprador para
realizar upgrades.

Eriksson et al. (2007), a partir de uma pesquisa que envolveu um levantamento de


dados por meio de questionários e entrevistas com praticantes de offset, concluiu que acordos
que não possuem envolvimento substancial dentro da companhia receptora parecem não ter
efeitos duradouros. Várias empresas vivenciam que, embora offsets contenham carga de
trabalho que tem efeitos positivos a curto prazo, como fluxo de caixa e emprego, podem haver
custos de longo prazo associados com distorções geradas na indústria. Mesmo em empresas
que recebem pedidos de offsets com um modelo de negócios competitivo não é claro se o
trabalho de manufatura teve qualquer efeito além do fluxo financeiro de curto prazo
(ERIKSSON et al., 2007).

2.7 Offsets no setor aeroespacial brasileiro: uma visão histórica

Assim como em outros países, o desenvolvimento da indústria aeroespacial brasileira


sempre esteve muito associado à forte intervenção do Estado. Nesse sentido, o Brasil se
utilizou, como outros países, de offsets para desenvolver a cadeia produtiva aeroespacial.

Entretanto, diferentemente de países que buscaram a inserção de sua cadeia produtiva


aeroespacial numa cadeia global de fornecimento, a estratégia brasileira esteve mais focada no
desenvolvimento de uma capacidade endógena de desenvolvimento de produtos e a produção
do produto acabado em solo brasileiro.

8
As atividades de MRO envolvem a resolução de quaisquer problemas de funcionamento dos
equipamentos como manutenção corretiva e preventiva.
40

Modesti (2004) estabelece o caso da compra das aeronaves Gloster Meteor TF-7 e F-8
nos anos 1950 como a primeira compra com a realização de contrapartida no setor
aeroespacial brasileiro. Essa compra envolveu a barter (troca) das aeronaves inglesas pelo seu
valor equivalente em algodão. Apesar do início de uma perseguição de uma estratégia de
desenvolvimento da indústria aeroespacial mais atuante nos anos 1960, foram poucos os casos
de offsets relevantes industrialmente e tecnologicamente neste período, inibidos também pelo
inicial estágio de desenvolvimento da indústria aeroespacial nesta época.

O caso emblemático da compra de dos aviões MB-326G da Aermacchi, mais tarde


batizados de Xavantes, pode ser considerado o primeiro arranjo de offset da Aeronáutica que
possuía o objetivo de desenvolver a indústria nacional.

O caso envolveu um processo de seleção de fornecedores americanos, ingleses e


franceses, culminando com a seleção, em 1970, da fábrica italiana Aermacchi. Segundo
Ozires Silva (2004), aspectos relacionados com a oportunidade de absorver conhecimentos da
empresa italiana e a fabricação no Brasil foram determinantes para modificar as condições da
seleção de fornecedores em prol do avião italiano.

Para a fabricação dos 112 aviões Xavante adquiridos pelo Ministério da Aeronáutica,
foram requisitados 600 homens/mês de assistência técnica italiana para a recém criada
Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), então uma empresa pública. Embora não
estipulado inicialmente no contrato, essa assistência foi também utilizada no processo de
industrialização dos aviões de projeto brasileiro Bandeirante e Ipanema (SILVA, 2004).

Com base na literatura e por meio de uma série de entrevistas, Netto (2005)
determinou que os principais benefícios tecnológicos da aquisição dos Xavante foram o
estabelecimento normas e processos de fabricação e controle da produção; a transferência de
tecnologia de integração e ensaio de motor à reação; o desenvolvimento de ferramental de
fabricação para produção em larga escala; e a elaboração de manuais técnicos.

Embora não seja retratado na literatura como offset, o caso da aquisição e


industrialização dos Xavante teve todas as características de um offset: a compra
governamental de um produto de empresa estrangeira acompanhada de exigências de
benefícios adicionais para desenvolver o país comprador.

O grande marco relatado em termos de offsets para o Brasil foi a compra dos caças F-5
da empresa americana Northrop em 1973. A compra de 42 caças incluiu a subcontratação da
Embraer para a produção e montagem de “wing pylons” e “vertical fins” e significativa
41

transferência de tecnologia em técnicas de materiais compostos “honeycomb and metal


bonding”. Sob o mesmo acordo, a Metal Leve S.A. foi subcontratada para produzir o controle
da aeronave e o conjunto de bombas (MENEZES, 1989).

De acordo com Serra (2005) apud Netto (2005), o acordo com a Northrop foi
conscientemente elaborado para aquisição de novas tecnologias que eram consideradas
estratégicas pela direção da Embraer. Nesse sentido, mais do que os benefícios financeiros
auferidos pela venda dos componentes para a Northrop, o principal ganho da Embraer foi
realmente a aquisição de conhecimentos tecnológicos que se tornaram recursos valiosos para
a empresa (NETTO, 2005).

Também na década de 1970, em 1977, 35 helicópteros foram adquiridos pela Marinha


da empresa francesa Aeroespatiale. A compra previa a execução de offsets para beneficiar
principalmente a recém-criada Helibrás S.A. - uma joint venture de capital nacional com a
empresa Aerospatiale – que seria responsável pelo fornecimento de partes e componentes e
receberia uma progressiva transferência de tecnologia sem o pagamento de royalties para a
matriz (MENEZES, 1989).

Entretanto, a implementação deste offset não foi totalmente bem-sucedida devido ao


constante atraso no cronograma de entrega das peças, resultando em 70 aeronaves produzidas
até 1984 contra a projeção de mais de 200. Além disso, não foram observados inputs
significativos de tecnologia nacional no produto em relação ao esperado levando à baixa
quantidade de conteúdo local dos helicópteros (MENEZES, 1989).

Já, em 1979, aconteceu um dos poucos casos de offsets na área de aviação civil, que
foi a negociação da obrigatoriedade da instalação de poltronas de fabricação brasileira em
aeronaves adquiridas pela Vasp e Varig com a transferência de tecnologia e o treinamento
adequado (MODESTI, 2004).

Na aviação civil, o caso mais notório de offset envolveu a aquisição, por parte da
empresa aérea Varig, de 10 aeronaves MD-11 da empresa norte-americana McDonnell
Douglas (MCD) em meados da década de 1980. O contrato estimado em 1 bilhão de dólares à
época previu um offset equivalente a 10% do valor do contrato (MENEZES, 1989).

Como resultado, foi assinado no final de 1987 entre a MCD e a Embraer, um contrato
para o desenvolvimento e a manufatura dos flaps das asas em material composto para o MD-
11. O contrato implicou no fornecimento de 200 conjuntos e a opção para entregar mais 100
42

conjuntos em uma data futura, no valor de 120 milhões de dólares (MENEZES, 1989),
transformando a Embraer em uma parceira de risco do programa MD-11 (NETTO, 2005).

Em 1985 a Aeronáutica e o Exército abriram novas seleções para compra de


helicópteros, selecionando de novo a Aerospatiale. Os offsets provenientes destes contratos
incluíram a compra, por parte da França, de aviões Bandeirante e Tucano respectivamente,
além do desenvolvimento de infraestrutura nas Forças Armadas e na indústria nacional para a
manutenção das aeronaves adquiridas (MENEZES, 1989; CHAGAS, 2004).

A compra dos helicópteros Sikorsky por parte da Aeronáutica nos anos 1980 também
previu a realização de offset, com a transferência de tecnologia em materiais compósitos
(MENEZES, 1989) e de usinagem química (NETTO, 2005) para a Embraer

Já, na área espacial, o Governo Brasileiro assinou um contrato no valor de 131 milhões
de dólares em 1982 com a empresa canadense Spar para a aquisição de dois satélites e os
respectivos serviços de lançamento (MENEZES, 1989).

O offset dessa aquisição incluiu benefícios para a Telebrás relacionados ao projeto,


desenvolvimento, manufatura e operação dos sistemas de comunicações aeroespaciais de
defesa e de mapeamento. Além disso, houve o treinamento do pessoal da empresa estatal
Embratel (MENEZES, 1989).

Apesar das condições favoráveis nos anos 1990, a partir da experiência adquirida com
offsets implementados, a falta de projetos de aquisição por parte das Forças Armadas
impossibilitou que fossem firmados acordos de compensação relevantes em benefício do setor
aeroespacial (MODESTI, 2004).

A demanda por offsets somente teve o seu fôlego renovado a partir do lançamento do
Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (PFCEAB), que previa a
utilização de recursos na ordem de 2,8 bilhões de dólares entre o período de 2000 a 2007.

Apesar da implementação de diversos programas de offset a partir dos anos 2000,


poucos pesquisadores se debruçaram empiricamente sobre os resultados de sua
implementação. Apesar dos offsets serem constantemente citados em pesquisas sobre o setor
aeroespacial brasileiro, na grande maioria das vezes não é possível a distinção entre os
benefícios obtidos com essa política e outros tipos de programas cooperação, como o
Programa AMX, e de alianças estratégicas. Como exceções de estudos exclusivamente
focados em offsets, podemos citar Modesti (2004), Lima Neto (2012) e Carlos (2013).
43

Modesti (2004), a partir de sua ampla experiência como praticante de offsets, destaca
que o cumprimento de exigências de offset não implica em atingimento dos objetivos
industriais e tecnológicos de longo prazo. Como condicionantes, o autor cita o excessivo foco
na nacionalização de itens com pequena escala de produção no Brasil, somente atendendo à
demanda gerada pelo acordo de offset no mercado nacional e sem o fornecimento para outros
mercados.

Lima Neto (2012), a partir de entrevistas com especialistas e questionários realizados


junto à indústria aeroespacial brasileira, concluiu que há uma forte percepção de que a difusão
das lições aprendidas com a gestão dos Acordos de Offset, assim como o registro de
informações pertinentes desses processos são deficientes.

Carlos (2013) realizou um levantamento com 45 empresas da base de defesa. Sua


pesquisa aborda as barreiras à inovação nas empresas e a sua relação com os projetos de offset
no triênio 2009 a 2011. De sua amostra, somente 5 empresas foram consideradas beneficiárias
de acordos de offset no período e a única relação relevante encontrada pela pesquisa foi o
benefício relacionado a fontes de financiamento. Carlos conclui que “a crença no instrumento
de offset enquanto instrumento eficaz no combate às barreiras à inovação é, por hora, maior
do que a realidade pode confirmar (empiricamente).” (CARLOS, 2013, p. 76).
44

3 CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA AEROESPACIAL

Esta seção tem como objetivo descrever as principais características do setor industrial
aeroespacial com foco nas tecnologias envolvidas e na organização da cadeia produtiva. Para
este trabalho, o setor industrial aeroespacial exclui os serviços de transporte aéreo, mas inclui
a manutenção e reparo aeroespacial, assim como o desenvolvimento, a fabricação, a
montagem e a integração de componentes aeroespaciais.

A seguir, as principais características dos produtos aeroespaciais – que são produtos e


sistemas complexos – são abordadas. Na sequência, a estrutura básica da cadeia produtiva é
descrita, assim como a lógica do sistema de integração de sistemas e as tendências de
internacionalização. Por fim, é feita uma breve contextualização sobre os clusters
aeroespaciais e a trajetória tecnológica comum adotada pelo entrantes tardios.

3.1 Contexto da indústria aeroespacial


Os produtos aeroespaciais são essenciais para o estilo de vida contemporâneo. As
plataformas de aviões e helicópteros possuem potencialidades únicas como meios de
transporte, já foguetes e satélites são a infraestrutura que possibilita a aplicação das
tecnologias de comunicação e informação. Além disso, a aplicação militar destes produtos é
primordial para questões de segurança.

Do ponto de vista nacional e local, a indústria aeroespacial é altamente valorizada.


Além de gerar empregos altamente especializados, esse setor também é visto como um dos
motores de desenvolvimento industrial, uma vez que possui potencial para fornecer
tecnologias para outras indústrias.

Uma das características marcantes do setor como um todo é a alta intensidade


tecnológica e o alto valor agregado de seus produtos. Na indústria aeroespacial, o sucesso
depende de progresso tecnológico rápido, em grande parte proporcionado por um intenso
esforço em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

Esposito (2004) mostra que o preço das plataformas aeroespaciais aumenta


exponencialmente com relação ao seu conteúdo tecnológico. Esse custo associado à pequena
escala de produção faz com que uma aeronave, leve entre 10 e 18 anos para se tornar lucrativa
45

(NIOSI; ZHEGU, 2010). Portanto além de barreiras tecnológicas, os entrantes na indústria


aeroespacial enfrentam grandes barreiras financeiras.

Além disso, o alto valor agregado dos produtos, faz com que os custos de transporte
não sejam relevantes nos custos totais. Esse fator, juntamente a uma demanda espalhada pelo
mundo inteiro, faz com que a competição no setor seja global (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Por esses motivos, muitos países veem a indústria aeroespacial como um símbolo de
competência e orgulho. Assim, é de se esperar que o setor aeroespacial seja grandemente
subsidiado por governos e encontre uma competição feroz e bastante dinâmica (LEFEBVRE;
LEFEBVRE, 1998).

3.1.1 Segmentos

Do ponto de vista de mercado, a indústria aeroespacial não é uma indústria


homogênea, mas consiste no conjunto dos segmentos de aeronáutica e espaço.

Apesar das particularidades dos segmentos espacial e aeronáutico, as tecnologias


empregadas em seus produtos estão fundamentalmente relacionadas às mesmas áreas de
conhecimento: aerodinâmica, propulsão, eletrônica, navegação e ciência dos materiais
(BROEKEL; BOSCHMA, 2011).

Broekel e Boschma (2011) afirmam que a base de conhecimentos entre o segmento


espacial e o aeronáutico difere com relação às fontes e às formas de mobilização: enquanto os
conhecimentos do setor espacial são primordialmente derivados da ciência e da
experimentação com base em modelos formais e racionais, na cadeia produtiva aeronáutica o
conhecimento está principalmente baseado em engenharia por meio da aplicação e
recombinação de conhecimentos existentes de forma interativa focada na solução de
problemas.

Com relação a redes de conhecimento, a partir de sua pesquisa, Broekel e Boschma


(2011) não encontraram diferenças significativas com relação ao conhecimento tecnológico.
Para os autores, organizações sem fins lucrativos são as principais pontes entre as duas redes
de conhecimento.

A maior diferenciação entre os segmentos da indústria aeroespacial ocorre com


relação à quantidade produzida. Ao passo que se espera vender algumas centenas de aviões,
produtos espaciais como satélites podem ter somente um único exemplar. Isso faz com que as
46

tecnologias de fabricação sejam muito mais importantes no segmento aeronáutico do que no


espacial (BROEKEL; BOSCHMA, 2011).

É importante ressaltar que o padrão de mecanização das montagens aeroespaciais mais


complexas e da sua integração é extremamente baixo, fazendo com que a qualificação de mão
de obra seja determinante nessa cadeia produtiva (OLIVEIRA, 2005).

3.1.2 O Produto aeroespacial

O produto aeroespacial é fruto da integração de sistemas. Os sistemas são ditos


integrados, pois não são simplesmente montados, mas suas interfaces funcionais devem se
inter-relacionar de maneira harmoniosa, tornando-se integradas.

Enquanto a fabricação consiste na conformação e tratamentos de componentes ou


peças primárias, são as montagens destes componentes que geram subsistemas. Já, a
montagem de subsistemas gera um item de tecnologia complexo elétrico, mecânico ou
estrutural chamado na indústria de sistema (GUERRA, 2011).

Atualmente os produtos aeroespaciais são frequentemente contextualizados como


Complex Products and Systems (CoPS). CoPS são produtos de alto custo, intensivos em
engenharia e compostos de sistemas em rede (HOBDAY, 1998).

Para Hobday (1998), o termo complexo pode ser usado para refletir o número de
componentes customizados, a profundidade do conhecimento, as habilidades necessárias e o
nível de novos conhecimentos envolvidos. Os CoPS são, em suma, bens de alto custo e alta
intensidade tecnológica feitos por meio de projetos e em pequenos lotes.

Essas características são importantes pois fazem com que a dinâmica da inovação e a
coordenação industrial associadas a esses produtos sejam diferentes de produtos produzidos
em massa (HOBDAY, 1998).

A complexidade desses sistemas pode ser muito alta e se tornar crescentemente alta
devido a demandas de performance, capacidade e confiabilidade. Uma das formas de lidar
com esta complexidade é aplicar fatores simplificadores aos produtos e processos como a
modularização e padronização de componentes antes customizados (HOBDAY, 1998).

Um módulo pode ser definido como uma unidade funcional que mantém suas
características a despeito de onde estiver conectado. A modularização faz com que seja
possível a separação de processos de fabricação e de montagem.
47

Portanto, o uso da modularidade possui as vantagens de tornar o projeto mais fácil,


com a consequente redução de custo, ao mesmo tempo em que aumenta a possibilidade de
gerir a complexidade por meio da redução da interação entre elementos e tarefas (NIOSI;
ZHEGU, 2010).

A modularização faz com que a indústria aeroespacial, mesmo que intensiva em


ciência, possua grande parte de seu conhecimento de fabricação codificado e apto a ser
transmitido na forma eletrônica ou impressa sem dificuldade (NIOSI; ZHEGU, 2005). Esta
característica possibilita a terceirização (outsourcing) para fornecedores independentes de
peças, componentes e subsistemas que poderiam ser produzidos dentro da organização
(NIOSI; ZHEGU, 2010).

Assim, existe a oportunidade do estabelecimento de novas formas de organização da


cadeia produtiva aeroespacial do que a simples verticalização das atividades. A cadeia pode se
tornar altamente globalizada como no caso de um avião: a montagem final da aeronave
acontece em uma região, a montagem do motor em outra e as partes críticas como aviônicos e
trem de pouso são produzidas em outro lugar ainda (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Outra consequência é que a inovação de produto e a sua posterior produção podem não
andar juntas. Os produtos podem ser desenvolvidos em um lugar e produzidos em outro,
proporcionando a ascensão de produtos globais, nos quais a competição, pelo menos por
produção, acontece ao redor do mundo (NIOSI; ZHEGU, 2005).

3.2 Organização da produção

Dentre as principais tendências com relação à organização da cadeia produtiva


aeroespacial, podemos citar a concentração em poucos players globais que começou nos anos
1960 e se intensificou nos anos 1990 e a subcontratação, impulsionada nos anos 1980 (NIOSI;
ZHEGU, 2010).

Apesar do grande destaque dados aos prime contractors (Airbus, Boeing, Bombardier
e Embraer no segmento aeronáutico), até 70% do valor final de uma plataforma aeroespacial
típica é subcontratada ao longo da cadeia produtiva (WILLIAMS; MAUL; ELLIS, 2002).

Para entender as consequências da subcontratação, primeiramente devemos entender


as principais formas de sua operacionalização na indústria aeroespacial: a subcontratação do
tipo build to print e a subcontratação do tipo design to build ou build to specification.
48

Build to print - também definida como contrato arm’s lenght – é a forma mais
convencional de subcontratação. Neste arranjo, o subcontratado realiza operações de
processamento sob uma especificação determinada pelo contratante. O subcontratado,
portanto, somente segue as instruções e o projeto fornecidos pelo contratante, realizando o
serviço de manufatura.

Já, arranjos do tipo design to build ou build to specifications ocorrem quando a


empresa recebe de seu cliente os requisitos do produto desejado. O subcontratado, além de
produzir a peça, deve também desenvolvê-la ou projetá-la. Nesse caso, a extensão da
responsabilidade de desenvolvimento pode variar de redesenhar uma única peça a criar um
novo projeto de produto. No caso em que o subcontratado é detentor da marca do produto,
este também é chamado de Original Equipment Manufacturer (OEM).

A realização de subcontratações deriva da tendência da terceirização de atividades não


estratégicas (outsourcing) que, segundo Niosi e Zhegu (2010), começou com os prime
contractors e se expandiu para toda a cadeia produtiva aeroespacial por meio de um efeito
cascata.

Segundo os autores, o uso generalizado da terceirização na cadeia produtiva


aeroespacial se iniciou com a definição, por parte dos prime contractors, das atividades chave
a serem mantidas internamente e aquelas que seriam subcontratadas (NIOSI; ZHEGU, 2010).
Essa decisão foi reforçada com o efeito da implementação de práticas de produção enxuta
(lean manufacturing) (WILLIAMS; MAUL; ELLIS, 2002) focada em redução de custos e
racionalização da cadeia de fornecimento.

Assim, subcontratados, distribuidores e fornecedores são importantes players para a


pesquisa, desenvolvimento e engenharia dos produtos aeroespaciais (GOLICH; PINELLI,
1998) e são fundamentais para o aumento do nível tecnológico dos produtos.

A terceirização, juntamente com vantagens relativas e habilidades de fornecer acesso a


mercados locais é responsável pela criação de uma colaboração internacional na cadeia
produtiva aeroespacial (ESPOSITO, 2004) e pelo deslocamento da manufatura aeroespacial
de países desenvolvidos como os EUA, Europa Ocidental e Canadá, para grandes países de
industrialização recente como Brasil, Rússia, China e Índia (ESPOSITO, 2004; NIOSI;
ZHEGU, 2005).

Países com grande poder de compra como a China e o Japão podem exercer influência
considerável sobre os prime contractors ocidentais com relação a localização das atividades
49

subcontratados (LEFEBVRE; LEFEBVRE, 1998). Uma estratégia para acessar esses


mercados é o estabelecimento de parceiros estrangeiros na cadeia produtiva por meio do
compartilhamento de risco, de pesquisa e desenvolvimento, da produção e do suporte a
vendas (GOLICH; PINELLI, 1998). Outra prática que é comum é a implementação de
condições de offset para as compras (LEFEBVRE; LEFEBVRE, 1998; GOLICH; PINELLI,
1998).

Entretanto, mesmo sob pressão de mercados estrangeiros, as empresas líderes e seus


governos continuam a valorizar a liderança tecnológica e a importância estratégica do lugar de
comando nas inovações aeroespaciais (GOLICH; PINELLI, 1998).

O caso dos fornecedores de motores para aeronaves é notório nesse sentido. O


mercado global é dominado somente por 3 ou 4 players que optam por centralizar as
atividades de maior valor agregado, como a produção, em suas matrizes, enquanto atividades
menos estratégicas de manutenção são realizadas em suas filiais espalhadas ao redor do globo
(OLIVEIRA, 2005).

Assim, grandes empresas inovadoras muitas vezes criam estabelecimentos


estrangeiros (subsidiárias) com vistas a aproveitar os benefícios da presença internacional ao
mesmo tempo em que restringem a entrada de novos competidores (NIOSI; ZHEGU, 2005).

3.2.1 Estrutura da cadeia produtiva

Sob o ponto de vista da cadeia de fornecimento, a indústria aeroespacial é


constantemente representada sob a forma de uma pirâmide, dividida em 3 níveis de
especialização (tiers) conforme a Figura 1.

O topo da pirâmide, ou primeiro tier, é composto pelos prime contractors ou grandes


integradores de aeronaves e outros sistemas aeroespaciais. Essas empresas prospectam o
mercado de usuários finais e trabalham principalmente com o projeto de produtos finais e
montagem final, subcontratando sistemas e subsistemas dos fornecedores de segundo tier e
terceiro tiers (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Os fornecedores de segundo tier são contratados para desenvolver e fornecer produtos


que atendam às especificações ditadas pelos primes. A diferença entre fornecedores de
segundo tier de fornecedores de terceiro tier é a propriedade e a responsabilidade pela
tecnologia. Os fornecedores de segundo tier são geralmente responsáveis por suas próprias
50

tecnologias e tendem a se consolidar e especializar em áreas nas quais os prime contractors


não estão interessados ou não estão aptos a competir devido à grande complexidade
tecnológica e aos investimentos necessários (GOLICH; PINELLI 1998). Esses fornecedores
são altamente especializados e possuem seu próprio know-how, assim como detém patentes e
marcas de produtos próprios (AMESSE et al., 2001).

Figura 1 - Estrutura típica da cadeia produtiva aeroespacial

Fonte: Adaptado de Niosi e Zhegu (2005)

Os fornecedores do segundo tier são constantemente divididos em três áreas, conforme


o tipo de sistema fornecido: sistemas de propulsão, sistemas embarcados e subconjuntos e
subsistemas (este último composto principalmente por fornecedores de estruturas, mas
também de outros sistemas).

Os fornecedores de terceiro tier fornecem subsistemas, componentes ou serviços sob a


forma de subcontratação tradicional build to print, na qual as especificações do produto são
fornecidas pelo cliente. Esses fornecedores abrangem um grande espectro de produtos e
serviços nos campos de mecânica, eletrônica, hidráulica e outros.
51

Serviços menos especializados e menos intensivos tecnologicamente como


tratamentos térmicos de superfície, usinagem e transformação de materiais compósitos são
geralmente classificados como tier 4. Essas empresas são geralmente pequenas e médias
empresas e são subcontratadas em grande número pelas empresas de tiers mais altos, que
impõem as diretrizes técnicas, projetos e cronogramas (AMESSE et al., 2001).

Como as empresas de tier 4 muitas vezes prestam serviços também para outras
indústrias e não possuem uma especialização específica, alguns autores optam por deixá-las
de fora da representação da indústria aeroespacial. Entretanto, essas empresas formam o nível
mais básico de fornecimento da cadeia produtiva aeroespacial.

Cabe ressaltar que as empresas quase sempre operam em mais de um tier na cadeia de
fornecimento. A Embraer, por exemplo, embora receba vários sistemas aeroestruturais de
fornecedores, também fabrica este tipo de sistema (além dos seus subsistemas e
componentes): as asas dos modelos de aviões do programa 145, por exemplo, são fornecidas
pela Aernnova, mas as do programa 170/190 são fabricadas pela própria Embraer (GUERRA,
2011).

Segundo Guerra (2011), principalmente nos níveis mais baixos, as atividades


relacionadas a um mesmo componente podem ocorrer em mais de uma empresa, ou mesmo ao
longo de uma cadeia de fornecimento própria. Uma peça acabada, por exemplo, pode receber
conformação em uma empresa, tratamentos térmicos e químicos em outra empresa, antes de
chegar a uma terceira, na qual seja ainda processada.

Mais recentemente, a ascensão do modelo de integração de sistemas é considerada


como um dos elementos determinantes para a organização da cadeia produtiva aeroespacial.
Neste modelo, o prime contractor parte para a compra de sistemas completos ou subsistemas
na forma de módulos ao invés de comprar componentes individuais e realizar sua montagem.

Desta forma, os prime contractors procuram deixar as atividades relacionadas a


componentes e integração de pequena escala para focar mais em integração de larga escala e
montagem de plataformas (WILLIAMS; MAUL; ELLIS, 2002). Com relação ao
desenvolvimento de produtos, a maioria dos primes contractors, passaram a somente projetar
produtos finais e a demandar de fornecedores de tier 2 e 3, propostas técnicas e comerciais de
sistemas, subsistemas e componentes (NIOSI; ZHEGU, 2005), envolvendo esses fornecedores
já nos estágios iniciais de desenvolvimento (SMITH; TRANSFIELD, 2005).
52

O resultado foi a construção de relacionamentos de grande dependência entre os prime


contractors e seus subcontratados diretos, que envolvem rígidos controles de qualidade,
construídos a partir de uma cooperação intensiva, proativa e de longo prazo (NIOSI; ZHEGU,
2010) com foco na circulação de tecnologias e transferências de know-how dentro do setor
(SMITH; TRANSFIELD, 2005).

Esse comportamento também foi replicado em grande parte pelos fornecedores de


segundo tier, que se tornaram eles mesmos integradores de sistemas e gestores de sua própria
rede. Mesmo em níveis mais baixos da cadeia, nos quais somente pequenos componentes são
fornecidos, os fornecedores têm assumido a responsabilidade por iniciar melhorias em termos
das operações de fabricação. Ao assumir essas funções, anteriormente gerenciadas pelos
contratantes, praticamente elimina-se a noção dos contratos build to print convencionais no
setor aeroespacial (SMITH; TRANSFIELD, 2005).

3.2.2 Clusters e trajetórias tecnológicas

Um tópico importante na organização industrial do setor aeroespacial é a tendência a


formação de clusters.

Porter (1998), citado por Niosi e Zhegu (2005), define clusters como concentrações
geográficas de empresas interconectadas e instituições em campos particulares. A dinâmica
destes clusters é baseada na competição local; no fornecimento de equipamentos e serviços e
em fatores de entrada (capital humano, infraestrutura e capital) e fatores de demanda (usuários
locais sofisticados) (PORTER 1998 apud NIOSI; ZHEGU, 2005).

Assim, o desenvolvimento de clusters está associado à exploração de vantagens


específicas de uma região, como a força de trabalho barata e incentivos fiscais. Aglomerações
regionais surgem, portanto, para aproveitar essas condições e acabam por formar uma rede de
interação e aprendizado que fortalece a região (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Um cluster aeroespacial típico consiste de uma ou algumas OEMs (tiers 1, 2 ou


mesmo 3) cercadas de centenas de pequenos e médios fornecedores de peças e componentes
de tier 4 que obtêm a maior parte de suas receitas da indústria aeroespacial, mas também
oferecem seus produtos e serviços para um grande número de outras indústrias (NIOSI;
ZHEGU, 2005).
53

Uma característica peculiar com relação aos clusters aeroespaciais é que, como os
custos de transporte representam somente uma fração dos custos totais – mesmo grandes
componentes podem ser transportados a grandes distâncias e serem economicamente viáveis –
nem todos os componentes precisam ser fabricados em localidades próximas. Os fornecedores
competem, portanto, em um ambiente global e a localização geográfica não depende muito de
fatores logísticos.

Clusters aeroespaciais são também caracterizados pela grande inércia geográfica


devido ao grande custo irrecuperável (sunk cost) em grandes plantas com equipamentos que
são utilizados por décadas e não podem ser facilmente movidos. Além disso, a indústria é
caracterizada por retornos que aumentam ao longo do tempo: empresas bem-sucedidas
tendem a ganhar o mercado e, portanto, aumentar o tamanho de suas plantas existentes,
construir novas plantas na mesma região ou absorver outras companhias ao longo do tempo
(NIOSI; ZHEGU, 2005).

Por essas razões, os clusters aeroespaciais são um fenômeno de longo prazo que
tendem a se tornar cada vez mais especializados em uma determinada área, para aproveitar
suas vantagens relativas (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Apesar da sinergia proporcionada pelos clusters aeroespaciais, segundo Amesse et al.


(2001) a maioria do conhecimento transferido dentro dos clusters não é estratégico. Segundo
os autores o fluxo de conhecimento dentro de um cluster aeroespacial é predominantemente
unidirecional, indo do contratante para o subcontratado, e está usualmente relacionado às
atividades das pequenas e médias empresas voltadas para atividades de baixo valor agregado
(NIOSI; ZHEGU, 2005), como a conformação de componentes metálicos, por exemplo.
Nesse sentido, o fluxo internacional de conhecimentos principalmente entre os tiers 1 e 2 se
torna mais relevante estrategicamente que o fluxo dentro dos clusters (NIOSI; ZHEGU,
2005).

Segundo Niosi e Zhegu (2005), ao contrário do que ocorre em outros setores, como o
de biotecnologia, o papel de universidades e laboratórios governamentais na indústria
aeroespacial é secundário e geralmente está atrelado a capacidade que as corporações têm em
atrair essas instituições ou modificá-las. Essa característica é reforçada por estudos sobre
análise de patentes, como o de McGuire e Islan (2015), que mostram que a atividade inovativa
de grande impacto está geralmente internalizada em algumas grandes empresas.
54

É interessante o fato que, apesar da globalização do setor aeroespacial, poucos países


conseguiram chegar em estágios de desenvolvimento da indústria que possibilitem o
desenvolvimento e a produção endógena de plataformas como aeronaves e lançadores
espaciais. Essas capacidades estão principalmente concentradas na Europa Ocidental e na
América do Norte, sendo o Brasil uma notável exceção.

Segundo McGuire e Islan (2015), uma trajetória tecnológica típica das empresas no
setor aeroespacial começa com a prestação de serviços simples como a manufatura de
componentes básicos e a realização de pequenas modificações. A tecnologia é adquirida por
empresas latecomers principalmente por meio de investimento direto por corporações
multinacionais ou a contratação por grandes prime contractors baseados na América do Norte
e na Europa Ocidental, ou seja, a inserção de empresas locais na cadeia global de valor
(NIOSI; ZHEGU, 2010).

Para evoluir de fato de posição na cadeia de fornecimento, as empresas de países de


industrialização tardia devem realizar um esforço endógeno em desenvolvimento de
processos, por meio de inovação em processos e investimentos na capacidade instalada. Deve-
se focar também em desenvolvimento de produto, com cada vez maior valor agregado
(BERNARDES; PINHO, 2000).
55

4 O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO DE CAPACIDADES


TECNOLÓGICAS
O objetivo desta seção é apresentar a base teórica sob a qual analisamos a
problemática da pesquisa. Inicialmente realizamos a ambientação com relação ao referencial
teórico adotado de dois conceitos e expressões amplamente utilizados na área de investigação:
inovação e transferência de tecnologia. A seguir são apresentados os fundamentos da teoria
evolucionista e seus desdobramentos para os conceitos relacionados à empresa latecomer, às
capacidades tecnológicas e seus principais modelos analíticos. Então, é descrita a trajetória de
acumulação de capacidades tecnológicas, com destaque para o importante papel que inputs
estrangeiros de tecnologias trazem às empresas latecomer. Por fim, é realizada a
contextualização do referencial teórico abordado em termos da literatura correlata que trata
das capacidades no nível da fronteira tecnológica

4.1 Inovação e transferência de tecnologia


O conceito inovação possui uma grande gama de usos em diversos contextos. Alguns
desses usos envolvem a sua próxima relação com o conceito de invenção. Entretanto a
invenção por si só não pode ser considerada uma inovação, uma vez que um aspecto essencial
de uma inovação é a sua implementação, ou seja, a sua difusão para outros domínios além da
sua concepção (GARCIA; CALANTONE, 2002). Outra ideia constantemente associada à
inovação é a introdução de algo revolucionário no mercado.

De acordo com o manual de Oslo (OCDE, 2005), documento referência para a


Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o requisito mínimo
para se definir uma inovação é a implementação de algo novo (ou significativamente
melhorado) no nível da empresa. Assim, quando se fala de inovação, fala-se de mudança
(TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005; OCDE, 2005). Esta mudança é um processo de
renovação não somente do que a empresa oferece (seus produtos), mas o modo como estes
são gerados e entregues.

Uma dimensão importante de uma inovação é seu grau de novidade, ou seja, o


potencial de mudança que a inovação pode gerar, sua capacidade de criar um paradigma para
a empresa e para o mercado (GARCIA; CALANTONE, 2002). Nesse caso a novidade pode
ser fruto de uma mudança radical que altera percepção do consumidor e pode transformar a
56

base da sociedade (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2005), mas também pode advir de pequenas
mudanças incrementais, isto é, explorar as habilidades de uma empresa para que ela possa
continuar a fazer o que vem fazendo, só que melhor (DODGSON; GANN; SALTER, 2000)9.

Transferência de tecnologia é outro termo amplamente utilizado para se referir fluxos


de conhecimento através de fronteiras (LEONARD-BARTON, 1998). Para começar, existem
diversas definições sobre o que constitui a tecnologia a ser transferida, além disso delimitar
um único processo de transferência de tecnologia é virtualmente impossível devido à
multiplicidade de processos envolvidos (BOZEMAN, 2000).

Lema e Lema (2013) definem duas formas de se olhar a transferência de tecnologia


internacional. A primeira é a chamada visão restrita, porque apresenta uma noção limitada de
tecnologia, se referindo somente a bens de capital, projetos de produtos e conhecimento
operacional. Esse tipo de definição é insuficiente em muitos casos, pois leva a uma
simplificação demasiada das atividades envolvidas com a transferência de tecnologia
(LEONARD-BARTON, 1998).

A segunda visão proposta por Lema e Lema (2013) inclui não somente o uso, mas o
domínio e a modificação da tecnologia. Essa visão envolve a noção de contínum, que vai
desde a aquisição, por parte de uma empresa, de um equipamento, ou de conhecimentos
básicos, até a absorção de conhecimentos que propiciam a realização de pesquisa e
desenvolvimento próprios, com a capacidade de reverter o fluxo original de conhecimento
(LEONARD-BARTON, 1998).

De acordo com essa visão, a transferência de tecnologia pode ser contextualizada


como um fluxo de capacidades tecnológicas (LEONARD-BARTON, 1998). Esse tipo de
definição é mais adequado para entender as formas pelas quais a tecnologia importada pode
contribuir para a mudança tecnológica.

9
Da mesma forma, ao falarmos de inovação, estamos falando de conhecimento e da combinação de
diferentes informações para a criação de novas possibilidades através de um processo rodeado de incertezas.
Assim, embora possa parecer evidente o que vem a ser uma inovação, a gestão da inovação envolve muito mais
do que decisões relativas a produtos e processos. Ao mesmo tempo em que as empresas se esforçam para tomar
decisões relativas a estes aspectos, elas têm de lidar com a estratégia, organização e gestão, finanças, marketing,
entre outros (TIDD, BESSANT, PAVITT, 2005).
57

4.2 A construção de uma visão baseada em capacidades


Nos anos 1980 retorna ao debate acadêmico uma leitura que busca aplicar a teoria
econômica de Schumpeter, principalmente no que diz respeito à mudança tecnológica no nível
das empresas. O grupo chamado de neo-Schumpeterianos ou economistas evolucionistas
critica a resolução dos problemas econômicos por meio de conceitos como estados de
equilíbrio da indústria e custos de transação. Para os evolucionistas esta ortodoxia econômica
é simplificada demais e insuficiente.

Ao invés disso, esses pesquisadores partem de uma analogia à seleção natural: o


mercado atua da mesma forma que a natureza, por meio de uma seleção natural que determina
quais empresas serão lucrativas e quais não serão, com base nos seus padrões de atuação
(NELSON; WINTER, 1982).

Essa seleção ocorre a partir das decisões das empresas em resposta a estímulos
externos, que são restritas pelas suas regras internas, procedimentos e capacidades de seus
indivíduos. As empresas cujas regras de decisão são lucrativas, dado o ambiente de mercado,
expandem, as empresas que não são lucrativas, contraem (NELSON; WINTER, 1982).

Portanto, uma dimensão significativa nesta teoria é o poder que a seleção de mercado
tem na promoção de padrões de comportamento bem-sucedidos, e na modificação da empresa
ao longo do tempo (DOSI; NELSON; WINTER, 2000).

Outra premissa fundamental que marca o argumento dos evolucionistas é a questão da


heterogeneidade das empresas: empresas diferem mesmo nas formas que elas realizam tarefas
similares e, portanto, diferem com relação as suas respostas a diversos tipos de estímulos
externos - políticas públicas, sistemas de inovação, normas e instituições. Além disso, as
formas de realizar as atividades internas mostram elementos fortes de continuidade ao longo
do tempo (DOSI; NELSON; WINTER, 2000).

De uma maneira simplificada, os atributos que importam ao analisar a empresa – as


unidades de análise – são principalmente seus padrões de ação e sua história recente
(WINTER, 2004). O foco de análise a nível micro, então, se volta para o padrão de ação da
empresa, medido por meio das suas habilidades, rotinas e capacidades e a forma como estes
foram moldados ao longo do tempo e são dependentes de sua trajetória.

Segundo originalmente proposto por Nelson e Winter (1982), os elementos que


caracterizam o comportamento da empresa são constituídos, em seu nível mais básico, pelas
58

habilidades individuais. Os autores propõem que essas habilidades são uma sequência
harmônica de comportamentos coordenados; uma sequência de passos, na qual diversas
decisões com provável sucesso são tomadas, mesmo que muitas vezes inconscientemente.

Um exemplo de tal habilidade seria a de operar uma máquina que realiza um processo
produtivo específico. Apesar de que alguma parte do conhecimento relacionado à esta
habilidade possa existir de maneira modular e codificada, essa habilidade somente pode ser
aprendida por meio da execução das atividades – da experiência (DOSI; NELSON; WINTER,
2000).

Para serem efetivamente úteis às organizações, essas habilidades devem ser agregadas
e coordenadas coletivamente. Esta organização é proporcionada pelas rotinas organizacionais
que efetivamente transformam habilidades em ativos úteis às empresas (DOSI; NELSON;
WINTER, 2000).

As rotinas organizacionais exprimem, efetivamente, soluções bem-sucedidas para


problemas particulares das empresas (TEECE; PIZANO; SHUEN, 1997), ou “a forma como
as coisas são feitas”, sendo portanto difíceis de serem explicadas sem uma relação direta com
um objetivo evidente (DOSI; NELSON; WINTER, 2000).

Podemos citar, como exemplo de rotina organizacional, o modo pelo qual um produto
específico é usinado: apesar de possuir uma instrução definida em termos de requisitos, o
processo segue uma rotina dependente das habilidades individuais e dos padrões de ação
presentes no contexto organizacional.

Uma função importante das rotinas organizacionais é que elas são a forma que a
empresa dispõe de armazenar seu conhecimento. As informações essenciais de coordenação
são guardadas nas rotinas de uma organização e são lembradas enquanto são executadas,
muitas vezes não estando codificadas de outra forma (WINTER, 2004).

Assim, segundo Winter (2004), as únicas técnicas que podem ser apropriadamente
consideradas perfeitamente conhecidas pela empresa, são aquelas que essa está efetivamente
realizando, e vêm realizando repetidamente.

Embasado sobre essas noções, o conceito de capacidade veio a ganhar uma grande
importância na literatura. A capacidade reflete a aptidão para fazer alguma coisa (RUSH;
BESSANT; HOBDAY, 2007) e, além da habilidade de seus membros e das rotinas
organizacionais, inclui a mobilização de todos os ativos disponíveis na empresa para conectar
as habilidades e a tecnologia à organização (NELSON; WINTER, 1982).
59

A capacidade está totalmente relacionada com a ação ou o resultado pretendido por


meio de atividades planejadas de desenvolvimento e aplicação, mobilizando o agregado das
rotinas organizacionais (DOSI; NELSON; WINTER, 2000). Um exemplo de capacidade seria
a aptidão para a fabricação de produtos usinados conforme especificações fornecidas pelo
cliente.

Ao avaliar-se como as rotinas e as capacidades foram moldadas ao longo do tempo,


chega-se à noção de dependência do caminho (path-dependence). O esforço prévio em
estabelecer rotinas organizacionais materializa-se na história da empresa ao mesmo tempo em
que restringe o seu comportamento futuro, já que a natureza constante das rotinas torna as
empresas muito melhores em tarefas de manutenção do status quo em um ambiente constante,
do que aptas a realizar uma grande mudança (NELSON; WINTER, 1982).

Conforme colocado por Kogut e Zander (1992), de uma maneira simples, a


dependência de caminho nada mais é do que a tendência das empresas de persistir em
continuar fazendo o que vinham fazendo no passado. Assim, na prática, o que a firma pode
fazer e para onde pode ir são bastante restritos por seus caminhos passados.

Face a este fenômeno, torna-se central para os evolucionistas a questão de como a


empresa se comporta em um ambiente inovador, na transição entre a aplicação de técnicas
conhecidas pela empresa e técnicas desconhecidas. Para observar essa transição, a literatura
diferencia entre o comportamento rotineiro e o comportamento inovador.

Ao contrário de outros conceitos de inovação, a inovação não é vista como uma


ruptura pontual pelos evolucionistas, mas uma mudança de comportamento que varia
gradativamente entre comportamento altamente rotineiro e comportamento altamente
inovador (WINTER, 2004).

Um novo método de produção, por exemplo, é uma pequena mudança de um processo


antigo à medida que indivíduos atualmente contêm as habilidades relevantes, em quantidades
apropriadas e somente uma pequena recombinação é necessária para criar uma nova rotina
organizacional. Uma vez que a relação entre as novas técnicas e as velhas está corretamente
conceituada pela maioria dos indivíduos, eles se tornam aptos a realizar a mudança
(WINTER, 2004). Mudanças mais intensas, por sua vez, requerem um esforço maior e só são
possíveis por meio de investimentos específicos em aprendizado.
60

A partir dessa base conceitual surgiram diversas perspectivas teóricas. Uma dessas
abordagens, comumente chamada de perspectiva latecomer, aborda a empresa que atua em
países de industrialização recente.

Em vez de analisar como as capacidades podem ser recombinadas ou alavancadas10,


esta corrente se preocupa primeiramente em como as empresas adquirem as capacidades e
posteriormente como elas as acumulam para diminuir a distância entre as empresas que atuam
na fronteira tecnológica.

O objeto de análise desses pesquisadores é, portanto, as empresas ditas latecomer. De


acordo com Hobday (1995), as empresas latecomer são caracterizadas como empresas de
manufatura (existentes ou potenciais) que iniciam suas operações enfrentando as
desvantagens de estar deslocadas das principais fontes de tecnologia internacional e de estar
longe dos mercados líderes.

Embora a emergência de sistemas de inovação cada vez mais interligados, faz com que
as fontes de tecnologia e sobretudo os mercados líderes em tecnologia estejam cada vez mais
acessíveis, diversas dificuldades são impostas às empresas latecomers. Essas empresas estão
longe de centros de pesquisa e desenvolvimento de ponta, são amparadas por uma base
institucional fraca, sofrem com a falta de infraestrutura avançada e não possuem ligações
significativas dentro dos grandes clusters de usuários e fornecedores de tecnologia de ponta
(HOBDAY, 1995).

Portanto, essas empresas devem partir de um estado no qual possuem apenas


capacidades limitadas, sem grandes condições de realizar inovações, e precisam adquirir
conhecimento para acumular suas próprias habilidades e capacidades, muitas vezes com base
em capacidades desenvolvidas em empresas de outros países (FIGUEIREDO, 1999) se
tornando, portanto, “inicialmente imitadoras” (BELL; FIGUEIREDO, 2012).

A trajetória realizada pela empresa latecomer para alcançar as empresas na fronteira


tecnológica em termos de capacidades tecnológicas, é chamada de catch-up tecnológico.
Conforme colocado por Bell e Figueiredo (2012), o catch-up tecnológico é o estreitamento
com a fronteira tecnológica internacional.

10
A literatura que está preocupada com estas questões pode ser chamada de focada na fronteira
tecnológica.
61

As empresas podem fazer catch-up em termos de capacidades de produção, no qual os


seus produtos e processos podem vir a incorporar cada vez mais tecnologia associada e
diminuir o gap de desempenho e qualidade com as indústrias líderes, assim como podem
realizam catch-up em termos de capacidades de inovação. No segundo caso, as empresas
aumentam o nível de complexidade de suas capacidades até estarem em condições de atuar na
fronteira tecnológica internacional por meio de progressivos estágios de inovações
tecnológicas (BELL; FIGUEIREDO, 2012).

4.3 Conceito e operacionalização das capacidades tecnológicas


Devido à condição rasa da base de conhecimento das empresas estudadas, a literatura
baseada na perspectiva latecomer está preocupada primordialmente com a construção das
capacidades relacionadas à tecnologia – - em vez de se envolver em questões mais
organizacionais (DUTRENIT, 2004). Grande parte dos estudos nessa área objetiva o processo
de construção de capacidades tecnológicas necessárias para que as empresas latecomers,
possam inicialmente sobreviver no mercado e posteriormente buscar alcançar níveis mais
altos de valor agregado.

Existem diversas definições de capacidades tecnológicas na literatura. Ao longo do


tempo esse conceito evoluiu de uma visão mais restrita, associada à atividade inventiva, ao
indivíduo e aos sistemas físicos, para uma abordagem mais ampla focada na organização e no
conhecimento (FIGUEIREDO, 1999).

Bell e Pavitt (1995) definiram a capacidade tecnológica como o domínio sobre o uso
dos recursos tecnológicos e também as capacidades necessárias para gerar e gerenciar a
mudança tecnológica.

Embutida nessa definição de capacidade tecnológica existe uma importante distinção:


as capacidades tecnológicas de nível mais básico e rotineiro estão ligadas ao simples uso da
tecnologia, enquanto as capacidades tecnológicas avançadas estão relacionadas às atividades
inovativas que permitem que a empresa realize mudanças tecnológicas. Embora não exista
uma fronteira clara entre esses dois tipos de capacidades (BELL; FIGUEIREDO, 2012), essa
diferenciação é importante por pontuar conceitualmente os diferentes níveis de domínio
tecnológico.
62

4.3.1 Capacidade de produção

O tipo mais básico de capacidades tecnológicas é denominado por diversos autores


(Lall, Bell, Pavitt, Figueiredo, Amsden e Ariffin) como capacidades de produção. As
capacidades de produção são as capacidades inerentes ao processo de industrialização e são as
responsáveis por incorporar os recursos usados para produzir bens industriais a partir da
incorporação de equipamentos, know-how, experiência operacional, experiência gerencial e
métodos organizacionais (BELL; PAVITT, 1993, 1995).

Esse tipo de capacidade está associada à assimilação de conhecimento na forma de


imitação (KIM, 1997; KOGUT; ZANDER, 1992), que não necessariamente inclui o
conhecimento sobre o funcionamento das coisas ou as formas para criá-las (KOGUT;
ZANDER, 1992).

Mais especificamente, a capacidade de produção é a capacidade de produzir bens com


níveis de eficiência satisfatórios que possam cumprir com os requisitos (ARIFFIN;
FIGUEIREDO, 2004), ou seja, basicamente as habilidades necessárias para transformar inputs
em outputs (AMSDEN, 2001).

4.3.2 Capacidade de inovação

Já, as capacidades relativas ao domínio sobre a mudança tecnológica, incluem


habilidades, conhecimento e experiência que geralmente diferem substancialmente daquelas
necessárias somente para operar sistemas técnicos existentes (BELL; PAVITT, 1995). A
capacidade de inovação consiste na capacidade de gerar mudança, ou seja, habilidades para
modificar a tecnologia, conhecimento, experiências e arranjos organizacionais. Efetivamente,
são as capacidades que proporcionam a criação e melhoria de produtos, processos e aspectos
organizacionais (AMSDEN, 2001, ARIFFIN; FIGUEIREDO, 2004), assim como a criação de
novos conhecimentos (KIM, 1997).

Apesar de se apoiar nas capacidades de produção, a acumulação de capacidades de


inovação - de nível mais avançado - não é automática, mas tem de ser feita por meio de um
esforço específico da empresa, o aprendizado tecnológico.
63

4.3.3 Operacionalização do conceito de capacidades tecnológicas

Por ser um conceito abstrato e que agrega diversas dimensões, a operacionalização de


capacidades tecnológicas em uma medida objetiva não é tarefa fácil.

A abordagem desenvolvida pela perspectiva das capacidades tecnológicas não confia


somente nos indicadores convencionais de medição da inovação, pois estes, muitas vezes,
estão fora do contexto de empresas latecomer e/ou não possuem o detalhamento adequado
para descrever os processos que ocorrem dentro das empresas.

A medição de depósitos de patentes e de gastos em P&D, por exemplo, não tem muito
significado para empresas que não possuem a capacidade de gerar inovações a nível global e
que possuem insuficiência de recursos direcionados a atividades inovativas. Já, a popular
medição de número de inovações introduzidas, é mais uma medição do resultado final, que
não captura em profundidade adequada o esforço realizado pela empresa, muito menos a
forma como as empresas conseguiram introduzir estas inovações.

Para representar mais fielmente as atividades inovativas dentro da empresa, a


abordagem mais utilizada no contexto das capacidades tecnológicas é a distinção de diversos
níveis de complexidade das capacidades tecnológicas. Essa abordagem, inicialmente proposta
por Lall (1992) e aperfeiçoada por Bell e Pavitt (1993, 1995), se pauta fundamentalmente na
diferenciação entre capacidades mais básicas (rotineiras) e capacidades mais avançadas (de
inovação) e as aprofunda em subclassificações que diferenciam níveis de domínio da
mudança tecnológica.

Para realizar esta medição seria muito difícil observar a capacidade tecnológica
diretamente, como por meio da quantificação dos ativos das empresas que podem ser
mobilizados em capacidade tecnológica, como conhecimento, habilidades, recursos humanos
e sistemas físicos. Assim, a literatura tem adotado uma abordagem inferencial (BELL;
FIGUEIREDO, 2012), na qual as capacidades tecnológicas são medidas indiretamente por
meio das atividades inovativas realizadas pelas empresas.

Este modelo envolve a observação dos diferentes tipos de atividades realizadas pelas
empresas e seus níveis de novidade e complexidade servem como parâmetros para estimar os
diferentes níveis das capacidades tecnológicas dominadas pela empresa. Esse método foi
aplicado e aperfeiçoado ao longo dos últimos 25 anos nas mais diversas indústrias de diversos
países como a indústria de papel e celulose, a indústria de petróleo, a indústria metalúrgica e
64

inclusive a indústria aeroespacial, em países como o Brasil, Indonésia, México, Uganda,


Zimbábue entre tantos outros.

Apesar dos diversos formatos encontrados na literatura, a operacionalização das


capacidades tecnológicas busca distinguir diferentes níveis de complexidade de atividades
inovadoras que a empresa é capaz de empreender e o contexto em que são aplicadas – locais
da empresa, áreas do conhecimento ou tipo de inovação.

A formulação original de Lall (1992), representada no Quadro 3, distingue entre três


(3) níveis de capacidades tecnológicas: de rotina, duplicativa adaptativa e de inovação, ao
longo de diversas funções (áreas) presentes na empresa.

Quadro 2 - Matriz ilustrativa das capacidades tecnológicas

FUNÇÕES
EXECUÇÃO
PRE ENGENHARIA ENGENHARIA ENGENHARIA LIGAÇÕES COM
DE
INVESTIMENTO DE PROCESSO DE PRODUTO INDUSTRIAL A ECONOMIA
PROJETO
SIMPLES,
ROTINA
NÍVEL DE CAPACIDADE

(baseada na
experiência)

ADAPTATIVA
DUPLICATIVA
(baseada na busca)

INOVATIVA
ARRISCADA
(baseada em pequisa)

Fonte: Adaptado de Lall (1992)

Em estudos aprofundados, autores chegaram a distinguir 7 níveis de complexidade


como em Figueiredo (1999) e 9 funções tecnológicas, incluindo dimensões organizacionais,
como em Francelino (2016).

4.4 Aprendizado e aquisição de capacidades tecnológicas


A base para a acumulação de capacidades tecnológicas é o aprendizado (learning). No
uso comum, o termo se refere a vários processos pelos quais habilidades e conhecimento são
adquiridos por indivíduos e organizações.
65

Entretanto, para a visão baseada em capacidades, o aprendizado é um esforço


específico que as empresas fazem para acumular capacidades. Assim, o aprendizado não
ocorre naturalmente, mas é custoso para empresa (MALERBA, 1992), podendo ser
considerado um investimento (BELL; FIGUEIREDO, 2012).

Além da noção convencional de esforço de P&D, o esforço de aprendizado


tecnológico envolve a dedicação em diversos tipos de atividades como as relacionadas à
engenharia e ao projeto de produtos e processos. Essas atividades são vistas como fontes para
acumulação de novo conhecimento (BELL; PAVITT, 1993). Com relação à acumulação de
capacidades tecnológicas, o aprendizado é contextualizado como um processo organizacional
e o seu resultado é o aumento do estoque de capacidades tecnológicas (BELL, 1984)

O aprendizado tecnológico é operacionalizado por meio de uma ampla gama de


mecanismos para adquirir conhecimento de fontes externas e internas como inputs para a
acumulação de capacidades tecnológicas nas empresas (BELL; FIGUEIREDO, 2012)

Muito embora este seja considerado um assunto relativamente novo e promissor


(BELL; FIGUEIREDO, 2012), uma abordagem aprofundada com relação aos diferentes
mecanismos de aprendizagem, no nível de atividade, utilizados pela empresa, está fora do
escopo deste trabalho. Além disso, como o foco desta pesquisa são exclusivamente inputs de
tecnologia estrangeira nas empresas, o interesse se volta a fontes externas de conhecimento.

De acordo com os objetivos dessa pesquisa, relacionados a identificar o locus da


aquisição de capacidades tecnológicas, a questão de processos de aprendizagem tecnológica
no nível da forma de interação entre duas organizações e o fluxo de capacidades tecnológicas
resultante é particularmente importante.

Um elemento extremamente útil dentro deste contexto conceitual é o conceito de


capacidade de absorção. Em um artigo de 1990 intitulado “Absorptive Capacity: A New
Perspective on Learning and Innovation”, que viria a se tornar o artigo mais citado pelas
abordagens de capacidade, Cohen e Levinthal (1990) definem a capacidade de absorção como
a habilidade de uma empresa de reconhecer o valor nas informações externas novas, assimilá-
las e aplicá-las a um fim comercial.

Neste constructo teórico, duas dimensões específicas que compõem a noção de


capacidade de absorção são: o nível prévio de conhecimento dominado pela empresa, e o seu
esforço em adquirir, assimilar e aplicar novas informações (COHEN; LEVINTHAL, 1990).
66

A primeira dimensão – nível prévio de conhecimento - descreve a natureza cumulativa


do aprendizado. A empresa deve possuir conhecimento básico, como o entendimento geral
das tradições e técnicas nas quais uma disciplina é baseada, se deseja aumentar o desempenho
de seu aprendizado (COHEN; LEVINTHAL, 1990; LANE; LUBATKIN, 1998).

Essa conclusão pode parecer trivial, mas leva à condição contra-intuitiva de que a
diversidade de conhecimento é importante para a empresa. Uma vez que é muito difícil se
determinar qual será a origem da informação útil para a introdução de uma inovação, uma
base de conhecimento diversa aumenta as chances da empresa possuir expertise na área de
conhecimento que irá conduzir a mudança (COHEN; LEVINTHAL, 1990).

Por sua vez, a outra dimensão do conceito – esforço realizado - leva ao resultado de
que não basta somente expor um indivíduo a um conhecimento relevante, mas que é o esforço
da organização em internalizar o conhecimento que realmente importa. Assim, a empresa
deve efetivamente transferir o conhecimento a partir da interface externa para dentro da
empresa e para os locais nos quais o conhecimento será aplicado (COHEN; LEVINTHAL,
1990).

Lane e Lubatkin (1998) mudam a unidade de análise da capacidade de absorção para a


díade de aprendizado aluno professor. Para os autores existem três formas de aprender novos
conhecimentos externos: aprendizado passivo, aprendizado ativo e aprendizado interativo.

O aprendizado passivo ocorre quando a empresa adquire conhecimento codificado


sobre processos técnicos e gerenciais de fontes como publicações, seminários e consultores.
Já, formas mais ativas de aprendizado como bench-marking e inteligência competitiva podem
prover uma visão geral das capacidades da outra empresa. Entretanto estes dois tipos de
aprendizado, por estarem baseados principalmente em conhecimento articulável, permitem
somente o desenvolvimento de capacidades na forma replicar receitas já consagradas (LANE;
LUBATKIN, 1998).

Um maior incremento em termos de capacidades valiosas só pode ser feito por meio
de um aprendizado interativo entre as empresas. Com este método, as empresas podem se
aproximar o suficiente para que uma empresa entenda não somente os componentes objetivos
e observáveis das capacidades do professor, mas também componentes mais tácitos – que não
podem ser explicados – que dependem do contexto específico da empresa (LANE;
LUBATKIN, 1998).
67

Observa-se que ao extrapolar a unidade de análise da capacidade de absorção para um


contexto entre empresas, o arranjo em que ocorre a interação entre as empresas se torna um
objeto importante. Para distinguir entre as diferentes formas de interação entre empresas,
Lema e Lema (2013), definem diferentes arranjos organizacionais para a transferência de
tecnologia a partir da distinção entre arranjos intra-firmas (subsidiárias) e inter-firmas
(comércio, joint ventures e licenciamento/subcontratação).

A formação de subsidiárias é muitas vezes tratada sob a forma de investimento direto


estrangeiro, relacionado ao estabelecimento de uma empresa inteiramente controlada com a
transferência de recursos de volta para a matriz (LEMA; LEMA, 2013).

Os arranjos inter-firmas para a transferência de tecnologia puramente comerciais


acontecem na forma de “arms-lenght”, na qual pouca interação ocorre entre as empresas além
da transação em questão - como a importação de bens de capital e de pacotes de tecnologia -
mas podem envolver também interfaces mais abrangentes como plantas turnkey e contratos de
fornecimento e serviços (LEMA; LEMA, 2013).

São exemplos deste tipo de interação o fornecimento de informações sobre projetos de


produtos, assim como conselhos sobre procedimentos de qualidade e contabilidade
(HOBDAY, 1995).

Uma outra forma de associação entre uma empresa multinacional e uma empresa local
é a formação de joint ventures para desenvolvimento de novos produtos e mercados, que
envolve a divisão de capital, riscos e a autoridade de realizar decisões (LEMA; LEMA, 2013).
Geralmente neste tipo de arranjo o parceiro sênior treina a empresa latecomer para a
manufatura (HOBDAY, 1995).

Já, o arranjo de licenciamento e subcontratação envolve um contrato no qual direitos


como a propriedade intelectual são transferidos para as empresas locais durante um certo
período de tempo com o propósito de possibilitar a fabricação de um produto com tecnologia
estrangeira (LEMA; LEMA, 2013).

4.5 Trajetória de acumulação de capacidades tecnológicas


Cabe destacar que existem, pelo menos, dois tipos de estudos com relação ao processo
de acumulação de capacidades tecnológicas na literatura adensada sobre o tema. Estudos
como Kim (1997), Hobday (1995), Lee e Lim (2001), Jin e Zedwist (2008) e Iammarino,
68

Padilla-Pérez e von Tunzelman (2008) são mais focados nas capacidades tecnológicas
centradas em produtos e processos. Já, estudos de autores como Dutrenit (2004), Ariffin e
Figueiredo (2004), Lima e Urbina (2009) e Bell e Figueiredo (2012), expandem esse foco
para incluir atividades de suporte e gestão, gestão de projetos e organização da produção, por
exemplo. Devido ao seu foco, este trabalho se limita à primeira abordagem.

Com base em uma extensa pesquisa empírica longitudinal em diversas indústrias na


Coreia do Sul, Kim (1997) postula que em países de industrialização tardia a maioria das
indústrias pujantes está situada em estágios posteriores do ciclo de vida do produto,
relacionados a tecnologias mais maduras, nas quais não existe muita incerteza quanto ao
padrão de tecnologia dominante.

Além disso, as empresas destes países não seguem o caminho de inovação tradicional
que ocorre na fronteira tecnológica: pesquisa básica, seguida de pesquisa aplicada e, por fim,
desenvolvimento e engenharia de produto e processo (P, D & E); mas realizam um caminho
praticamente inverso, composto das etapas de imitação seguida de assimilação e inovação
(KIM, 1999).

Inicialmente, sem uma capacidade local para estabelecer suas operações de produção,
as empresas latecomers começam suas operações de produção por meio da adquisição de
tecnologia estrangeira empacotada – como montagem, especificações do produto, know-how
de produção, componentes e partes acabadas e até a contratação de pessoal técnico - imitando
as operações estrangeiras (KIM, 1997).

Nesse estágio, as operações consistem basicamente de montagens e fabricação em


níveis básicos de itens provenientes do exterior em uma operação relativamente ineficiente.
Somente alguns serviços de engenharia são necessários para implementar a tecnologia
estrangeira madura e consolidada. Nesse estágio, inputs estrangeiros na forma de assistência
técnica são significativos na implementação inicial de operações de produção, que vai sendo
progressivamente substituída pela experiência adquirida pelos técnicos locais, enquanto
assimilam a tecnologia transferida (KIM, 1997).

Uma vez que a tarefa de implementação foi completada, a ênfase técnica é colocada na
engenharia e no desenvolvimento para realização de melhorias incrementais em produtos e
processos, gerando então inovações de baixa complexidade e, posteriormente, até inovações
de maior complexidade (KIM, 1997).
69

Esse caminho ocorre de maneira repetida em níveis de menor até maior intensidade
tecnológica, inicialmente com foco em tecnologias maduras e depois em tecnologias
emergentes. Enquanto a maioria das empresas permanece no estágio de tecnologias maduras,
algumas empresas eventualmente podem alcançar os líderes mundiais na fronteira tecnológica
(KIM, 1997).

Implícito neste modelo está a distinção entre os estágios de montagem,


desenvolvimento de baixa tecnologia, desenvolvimentos de alta tecnologia e por último
domínio das atividades de criação e concepção de produtos e processos por parte das
empresas. Especificamente para o caso coreano, Kim (1997; 1999) observou que esse
processo começa por meio da engenharia reversa e que a fonte de aprendizado mais
importante é a comunidade internacional.

A partir de uma extensa pesquisa sobre o progresso tecnológico na indústria de


eletrônicos em países do Sudeste Asiático (Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura),
Hobday (1995) desenvolveu seu modelo sobre o aprendizado tecnológico das empresas
latecomer focadas em exportação. Esse modelo propõe que as tecnologias de processo e
produto estão intimamente ligadas e que o feedback ocorre de uma para outra durante o
processo de catching-up (Figura 2).

Figura 2 - Aprendizado movido a exportação atrás da fronteira tecnológica

Fonte: Adaptado de Hobday (1995)

A partir de sua observação, o autor induziu que as empresas iniciam seu caminho na
montagem e absorção de habilidades básicas de manufatura e, à medida que a empresa
começa a adquirir habilidades operacionais mais avançadas, como as necessárias para realizar
melhorias no processo produtivo, ela passa também a realizar inovações em produtos
(HOBDAY, 1995).
70

Já, nos estágios mais avançados de capacidades tecnológicas, a distinção entre


inovação de produto e de processo se torna mais turva. Nesses estágios, melhorar o processo
de produção geralmente requer conhecimento sobre o design do produto. De maneira similar,
melhorias em design de produtos e confiabilidade podem necessitar habilidades de produção e
processos (HOBDAY, 1995).

Portanto, a interligação do conhecimento de design de produto e de manipulação de


processos faz com que a empresa que se engaja inicialmente em aprendizado sobre processos
passe a realizar mudanças incrementais em produtos e eventualmente introduzir seus próprios
designs. Finalmente, a empresa pode atingir um nível de capacidades tecnológicas que a
permitam realizar pesquisa e desenvolvimento cada vez mais avançada (HOBDAY, 1995).

4.6 As capacidades na fronteira tecnológica


Após acumular capacidades tecnológicas que proporcionem condições de competir
com as empresas líderes em tecnologia, as empresas passam a atuar em outro ambiente
competitivo em termos de inovação e tecnologia.

Existe uma ampla literatura focada na empresa situada na fronteira tecnológica.


Apesar de não ser o enfoque principal desta pesquisa, uma vez que as empresas latecomers
geralmente não possuem os atributos necessários para se encaixar em premissas adotadas
nessa abordagem, é importante para situar o embasamento teórico apresentado até aqui em um
contexto mais amplo e influente em termos de abordagens recentes baseadas em capacidades.

Um ramo da literatura particularmente relevante no contexto da fronteira tecnológica


são as competências organizacionais. Essa corrente concentra suas atenções especificamente
nos processos organizacionais que ocorrem dentro das empresas e como esses são
mobilizados para criar competências.

Prahalad e Hamel (1990) conceitualizam as competências que definem o negócio


fundamental de uma empresa como competências essenciais (core competencies). Essas
competências são efetivamente como a empresa coordena suas diversas habilidades de
produção e as integra em múltiplas linha de tecnologia, assim como a organização do trabalho
e a entrega de valor.

Para ser considerada essencial, uma competência deve possibilitar o acesso a uma
variedade de mercados; realizar uma significativa contribuição para os benefícios percebidos
71

pelos consumidores do produto final; e ser difícil de imitar (PRAHALAD; HAMEL, 1990).
Um exemplo de competência essencial é a integração de sistemas para produção de um
produto complexo, como o avião.

As competências essenciais se situam em um patamar acima hierarquicamente com


relação às capacidades e podem ser contextualizadas como “clusters de capacidades” (DOSI;
NELSON; WINTER, 2000) importantes a nível estratégico para a corporação (PRAHALAD;
HAMEL, 1990).

Outro conceito, as capacidades dinâmicas, aprecia de uma posição de destaque na


literatura de gestão estratégica focada na fronteira tecnológica. Em 1997, Teece, Pizano e
Shuen formalizaram a definição de capacidades dinâmicas como a habilidade da empresa de
integrar, construir e reconfigurar competências externas e internas para lidar com ambientes
em rápida mudança.

A ideia que permeia esse conceito é a de que as empresas devem estar sempre
reconstruindo e recriando sua posição de vantagem estratégica. Esse processo é catalisado
pela coordenação e combinação de diferentes áreas tecnológicas nas quais as empresas
inovam, com a integração de competências centradas em inovação (TEECE; PIZANO;
SHUEN, 1997).

Assim, as capacidades dinâmicas se concentram em processos organizacionais


relativos à integração/coordenação (um conceito estático); aprendizagem (um conceito
dinâmico), e reconfiguração (um conceito transformacional) (TEECE; PIZANO; SHUEN,
1997).

Talvez a tentativa mais reconhecida de unir as perspectivas latecomer e da fronteira


tecnológica em um único framework foi apresentada por Dutrenit (2000; 2004). Para tanto, a
autora definiu três estágios de construção de capacidades tecnológicas: a construção de uma
base mínima de conhecimento imprescindível; um processo de transição; e a construção de
capacidades tecnológicas estratégicas.

A fase de construção de uma base de conhecimento mínimo compreende a construção


de capacidades tecnológicas básicas e intermediárias necessárias para realizar pequenas
adaptações em processos e produtos, como a diminuição de custos e a melhoria na sua
qualidade. Essas capacidades consistem em uma base relativamente simples de conhecimento
(DUTRENIT, 2004).
72

Durante o processo de transição, a empresa passa a acumular capacidades estratégicas


que as distinguem na competição, permitindo a construção de algumas capacidades avançadas
em certos contextos que possibilitam a realização de inovações, mais ainda básicas em outros
contextos (DUTRENIT, 2004).

Já, na fase de construção de capacidades estratégicas, a empresa possui capacidades


estratégicas que as diferencia da competição - capacidades avançadas de inovação – com o
domínio da base complexa dos conhecimentos necessários. O foco nesse estágio é manter
essas capacidades e renová-las (DUTRENIT, 2004).

Ao passo que a literatura da empresa latecomer está focada nos dois primeiros estágios
de desenvolvimento, ou seja, uma ascensão vertical nos níveis de complexidade de
capacidades tecnológicas, a literatura focada na fronteira tecnológica se preocupa em
recombinar as capacidades tecnológicas existentes e articulá-las com uma crescente base de
conhecimento que a permitirá realizar inovações (DUTRENIT, 2004).

A Figura 3 ilustra o caminho de acumulação de capacidades conforme proposto por


Dutrenit (2000; 2004) e Bell e Figueiredo (2012).

Figura 3 - Caminho estilizado através de diferentes níveis e tipos de capacidade de


inovação

Fonte: Adaptado de Dutrenit (2000, 2004) e Bell e Figueiredo (2012)


73

5 MÉTODO DE PESQUISA

Muitos dos problemas científicos são gerados a partir do senso comum (ALVES,
1981). Da mesma forma, este trabalho foi iniciado a partir de problemas e questionamentos
levantados, mesmo que informalmente, por especialistas que lidam com políticas de offsets.
Esta problemática situada na prática, aliás, possui suas próprias convenções e soluções
baseadas em grande parte no senso comum e nas experiências de diversos agentes que
contribuem para a implementação dos offsets.

Entretanto, conforme destaca Alves (1981), ordens geradas pelo senso comum são
fortemente vinculadas a um ponto de vista específico, que embora pareça lógico para uns,
pode não ser tão lógico para outros. O conhecimento científico, por outro lado, procura a
determinação de uma ordem universalmente aceita para uma problemática (ALVES, 1981).

Apesar do fato de que mesmo a ordem científica está sujeita a preconceitos, as


soluções propostas para os problemas encontrados, devem ser resistentes a testes de validade,
do contrário novas proposições devem ser elaboradas, em linha com a vertente filosófica do
falsificacionismo adotada pelo autor.

O conhecimento gerado de acordo com esta abordagem é dinâmico, a medida que é


constantemente reconstruído a partir de questionamentos e da identificação de falhas nos
modelos vigentes provisórios (MIGUEL et al., 2012).

Esta seção se preocupa em descrever a abordagem metodológica utilizada neste


trabalho, suas etapas e procedimentos. Esta formalização do método é importante, pois é o
rigor que garante que o conhecimento gerado, produto da pesquisa, atenda aos critérios
científicos (MIGUEL et al., 2012).

5.1 Delineamento da pesquisa

Esse trabalho está interessado em compreender como as políticas de offset contribuem


para a capacitação tecnológica, especificamente no setor aeroespacial brasileiro. Essa
compreensão é buscada por meio da descrição e análise dos resultados da Política de Offset da
Aeronáutica e da forma como esses resultados se relacionam com os diferentes arranjos
utilizados na sua implementação.
74

Dessa forma, o delineamento adotado para o trabalho é o levantamento, no qual é feita


uma enumeração de elementos para responder a questão de pesquisa (YIN, 2003). Essa
abordagem propicia que a análise apresente conteúdo relevante sem que informações
consideradas reservadas ou secretas, do ponto de vista da segurança nacional, sejam
reveladas. Nesse sentido, busca-se um equilíbrio que permita quantificar os objetos da
pesquisa e as unidades de análise, sem se aprofundar em detalhes que podem ser considerados
sensíveis e, ao mesmo tempo, propicie contribuições relevantes.

Conforme apresentado durante o embasamento teórico, são poucos os estudos sobre


offsets que oferecem uma enumeração com o nível de detalhe que este trabalho pretende
realizar. Assim, mesmo sendo o foco somente a condução de um levantamento neste formato
complementa a abordagem de estudo de caso predominante na literatura sobre offsets.

Especificamente, este trabalho não está preocupado em realizar inferências a partir de


uma amostra, mas em interagir com os dados obtidos, sob a perspectiva de uma análise
descritiva que proporciona insights e subsídios para o refinamento da teoria vigente. Uma vez
que as evidências coletadas estão imersas nas perspectivas dos indivíduos estudados, esta
pesquisa pode ser classificada como primordialmente qualitativa (MIGUEL et. al, 2012).

5.2 Procedimento metodológico


A pesquisa pode ser dividida em duas grandes etapas: a etapa teórico-conceitual e a
etapa empírica.

A etapa teórica foi responsável por estabelecer o arcabouço teórico da pesquisa como
as premissas e as suposições básicas. Esta etapa envolveu o estudo de políticas de offsets, as
principais características do setor aeroespacial e o processo de acumulação de capacidades
tecnológicas e é complementado por uma estrutura de conhecimento implícita presente na
implementação de offsets, que deriva em grande parte da experiência acumulada por parte da
Aeronáutica e da interação com atores internacionais (instituições e empresas).

O modelo conceitual da pesquisa (Figura 4), obtido a partir dessas fontes, se concentra
em torno de constructos principais introduzidos anteriormente, que são melhor detalhados a
seguir.
75

Figura 4 - Modelo conceitual da pesquisa

Fonte: Elaborado pelo autor

Em linha com o objetivo proposto, o trabalho se restringe a analisar as entradas, as


atividades e os resultados da política de offset. Apesar disso, outros elementos foram descritos
de forma a contextualizar a análise realizada.

Implícito neste modelo conceitual está o foco no nível da empresa. Assim, aspectos
externos às empresas como instituições, ambiente setorial, fatores econômicos e os diversos
sistemas em que as empresas estão inseridas, apesar de importantes, não são o objeto direto
deste trabalho, que considera as capacidades como situadas dentro das empresas.

Alguns fatores internos à empresa, embora importantes do ponto de vista


organizacional, também não fazem parte do escopo padrão dos pesquisadores focados em
capacidades tecnológicas. Como exemplos desses fatores podemos citar: planejamento
estratégico, perfil da liderança e governança corporativa.

Com relação às entradas, a execução da política de offset é consequência de uma


obrigação feita à empresa estrangeira que deseja fornecer produtos para as Forças Armadas
Brasileiras. De forma a cumprir com esta exigência, são acordados entre a empresa e o Estado
Brasileiro os recursos necessários e as partes que participarão das atividades: o fornecedor
estrangeiro e a organização brasileira beneficiária.

A execução de atividades ocorre sob diferentes arranjos entre organizações


estrangeiras e brasileiras. No caso brasileiro, a maioria desses arranjos envolvem processos de
76

aprendizagem tecnológica - processos nos quais as empresas criam, adquirem, assimilam e


melhoram seus conhecimentos e habilidades.

Com a execução das atividades previstas, geram-se diferentes resultados. No caso do


foco deste trabalho, a aprendizagem tecnológica propicia que as organizações beneficiárias
brasileiras adquiram habilidades e conhecimentos que incrementem suas capacidades
tecnológicas – suas capacidades para criar, gerir e implementar mudanças em produtos e
processos da empresa.

Conforme destacado na seção 4.4, este trabalho adota uma abordagem mais restrita,
com relação às capacidades tecnológicas, voltada a aspectos mais técnicos de domínio da
tecnologia, como os diretamente associados ao produto e ao processo. Além do alinhamento
com uma literatura menos heterogênea do que a que trata das diversas outras capacidades
organizacionais, este foco é justificado por se alinhar com o objetivo e a forma de atuação da
Política de Offset da Aeronáutica.

O processo de aprendizagem tecnológica de fontes externas, que resulta em


incremento de capacidades tecnológicas, é muitas vezes tratado pela literatura e pelos
praticantes como transferência de tecnologia. Conforme exposto na seção 4.1, a transferência
de tecnologia pode ser contextualizada como um fluxo de capacidades tecnológicas
(LEONARD-BARTON, 1998). Portanto, quando este trabalho se refere à transferência de
tecnologia, está se referindo ao fluxo de capacidades tecnológicas facilitado por atividades de
aprendizagem tecnológica.

Os impactos dos offsets, por sua vez, são entendidos sob uma perspectiva de longo
prazo em relação às atividades e aos resultados. Nesse sentido, extrapolando o foco do
trabalho, teríamos como impacto o catch-up tecnológico e a melhoria na performance das
empresas. O catch-up tecnológico pode ser entendido como a trajetória percorrida pela
empresa desde as capacidades tecnológicas mais básicas e limitadas até níveis mais avançados
de capacidades, equivalentes ao das empresas líderes globais. Em termos de melhoria na
performance das empresas, pode-se observar a implementação de inovações e a melhoria
operacional da empresa.

Como a política de offset apresenta diversas possibilidades, outros tipos de resultados


e impactos podem ser consequência de diversos arranjos possíveis para execução das
atividades. Podem existir, por exemplo, consultoria em marketing e auxílio a exportações, que
77

resultam em aumento da carga de trabalho e impactam na expansão da indústria como um


todo. Esses elementos não fazem parte da presente análise.

5.2.1 Unidade de análise

Com base na forma que se apresenta o objeto de estudo – a Política de Offset da


Aeronáutica- e no nível de referência da pesquisa – empresa/organização - a unidade de
análise definida para o levantamento são os chamados Projetos de Offset. Os Projetos de
Offset podem ser considerados um conjunto de atividades executadas entre uma organização
fornecedora estrangeira e uma organização beneficiária brasileira de forma a atingir um
objetivo específico. Nesse sentido, são o instrumento que operacionaliza os benefícios
previstos em Acordos de Offset (equivalentes a contratos administrativos) ao estipular as
condições de entrega, os recursos utilizados, os atores envolvidos e mesmo as medidas dos
benefícios previstos.

Os outros níveis de análise que poderiam ser escolhidos seriam os Acordos de Offset e
as transações de offset. O Acordo de offset, representa o nível mais agregado de análise no
qual as descrições dos resultados da implementação acabam sendo muito superficiais, como
somente descrições genéricas de obtidos recebidos.

As transações de offset, por sua vez são a unidade de análise menos agregadas
relacionadas às atividades específicas a serem realizadas e estão mais focadas na forma de
realização das atividades e menos focadas nos resultados da implementação do projeto, com
relação ao modelo conceitual proposto. A operacionalização dessas transações também
depende muito da percepção dos agentes envolvidos. Por exemplo, uma atividade de
treinamento pode ser classificada sob a forma de transferência de tecnologia, assistência
técnica ou mesmo ambos dependendo do ponto de vista de quem escreveu o contrato.

Cabe ressaltar que alguns ajustes na forma de agregação dos Projetos de Offset foram
necessários para adequar a amostra à análise. Devido à heterogeneidade dos projetos –
principalmente com variação do tamanho, do escopo e da complexidade desses projetos –
esses foram delimitados como os esforços para o atingimento de um objetivo específico.
78

5.2.2 Definição da amostra e recorte temporal

O universo selecionado para a análise é composto de todos os projetos de offset


satisfatoriamente executados sob a gerência da Comissão Coordenadora do Programa
Aeronave de Combate (COPAC) no período de 2000 a 2016.

Apesar de existirem outros Projetos de Offset, como por exemplo os oriundos de


aquisições da Aeronáutica de equipamentos de prateleira, suporte logístico e do setor espacial,
os offsets associados às aquisições de aeronaves para a Força Aérea Brasileira sob a gestão da
COPAC, podem ser considerados os de melhor qualidade e os mais intensivos em tecnologia
de todas as Forças Armadas Brasileiras.

O início em 2000 foi escolhido primordialmente em decorrência da disponibilidade de


informações no nível de profundidade requerido para a análise. Muito embora esse período
marque também a retomada nas aquisições de defesa envolvendo offset por parte do
COMAER. De fato, a atividade no Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), com
relação aos offsets tinha sido interrompida durante a década de 1990 devido à falta de
demanda pelos seus serviços.

Pode-se afirmar, portanto, que os Projetos de Offset selecionados correspondem a uma


amostra extensa particularmente relevante em termos de qualidade dos benefícios de offset e
representam, efetivamente, o “estado da arte” em termos de execução de offsets no Brasil.

5.2.3 Coleta de dados

A coleta de dados foi feita com o levantamento de informações após a execução dos
dos Projetos de Offset analisados, com foco na determinação do que foi efetivamente
implementado. Para tanto, a coleta de dados foi feita a partir de evidências documentais e da
própria experiência do pesquisador com os casos estudados.

O autor desta pesquisa trabalha na Seção de Compensação Comercial, Industrial e


Tecnológica do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), órgão do Departamento
de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) do Comando da Aeronáutica (COMAER)
responsável pelo acompanhamento e controle da implementação de praticamente todos os
Acordos de Offset geridos pela COPAC.

O IFI atua como um assessor técnico em assuntos de offset, em auxílio a organizações


contratantes. As atividades do IFI com relação a execução de Acordos de Offset envolvem
79

principalmente a observação direta e a coleta de dados primária junto aos participantes –


empresas, institutos de pesquisa e órgãos governamentais brasileiros e estrangeiros.

Os documentos oficiais firmados pelo COMAER analisados incluem editais de


convocação de compras públicas, acordos de intenções, planos e programas de trabalho
firmados entre o governo brasileiro e as organizações participantes.

Além dos documentos oficiais foram utilizados os dados coletados pelo IFI na
condução das atividades de sua competência. Esta coleta de dados é composta de documentos
técnicos elaborados por empresas e organizações como notas fiscais, relatórios, descrição de
trabalho, planilhas, material didático, apresentações e outros documentos gerados durante a
implementação dos projetos. Essas evidências são complementadas pela realização de
entrevistas e aplicação questionários com os participantes de projetos de offset, além de visitas
in loco às organizações.

O IFI organiza essas informações na forma de Pareceres Técnicos, emitidos pelos seus
especialistas, que fornecem uma opinião informada acerca dos resultados dos Projetos de
Offset e da sua conformidade com o que estava previsto em contrato. Durante este trabalho
foram consultados mais de 120 Pareceres Técnicos do IFI emitidos no período de análise,
subsidiariamente foram consultadas as evidências primárias apresentadas pelas empresas.

Além dessas evidências, a experiência direta do pesquisador como membro da equipe


do IFI, interagindo diretamente com os casos e com os agentes, por meio da atividade diária
de acompanhamento dos Projetos de Offset, é importante para o trabalho. Inserido como
membro atuante desse espaço o pesquisador é provido de motivações, interesses, tensões e
constrangimentos que, de certo modo, limitam e repercutem no ofício e na prática científica,
mas também está em posição de perceber nuances que escapariam a uma análise distanciada
do objeto de pesquisa.

5.3 Operacionalização dos conceitos


Em conformidade com o modelo conceitual proposto (Figura 4), quatro (4) elementos
foram utilizados para analisar os Projetos de Offset implementados. Esses são o tipo de offset,
a organização brasileira, a organização estrangeira e o modo de interação entre ambas. Para
tanto, foi usada uma variável para o tipo de offset, duas (2) variáveis para descrever a
organização brasileira, uma variável para a organização estrangeira e uma variável que
80

descreve o tipo de relação de aprendizado. Para medir os resultados foi utilizada uma variável
para medir o incremento em capacidades tecnológicas das organizações beneficiadas. As
variáveis são descritas a seguir.

5.3.1 Tipo de offset

Esta variável busca refletir a principal tipologia utilizada com relação aos offsets. Essa
tipologia captura a relação entre o produto adquirido pelo país de uma empresa e o conteúdo
da tecnologia transferida por meio do offset.

OFFSET: tipo de offset

Conforme convencionado na prática e na literatura é realizada uma diferenciação entre


offsets que estão diretamente relacionados ao objeto da aquisição (offset direto), que seriam,
por exemplo, a capacidade de manter e atualizar o produto adquirido; de offsets que não
possuem relação direta com o produto adquirido (offset indireto), projetos que são
relacionados a outras tecnologias que não a comprada. Offsets que não estão inseridos no
contexto da indústria aeroespacial (offsets indiretos não relacionados) não são objeto do
trabalho.

5.3.2 Características da organização beneficiária

Este elemento visa descrever as organizações brasileiras recebedoras de tecnologia


estrangeira beneficiadas por projetos offset. A operacionalização em variáveis busca
contextualizar essas organizações, em termos do papel que essas empresas ocupam na cadeia
produtiva aeroespacial brasileira. Duas variáveis foram usadas para caracterizar essas
organizações: o tipo de organização e o seu tamanho.

BENEFICIÁRIO: tipo da organização brasileira que recebeu benefícios de offsets

Representa a constituição e o propósito da organização. A forte presença de empresas


multinacionais é uma estratégia marcante do setor aeroespacial que tem o poder de mudar a
estrutura de um setor produtivo nacional. Portanto, foi proposta a classificação em empresas
que possuem capital estrangeiro que estão instaladas no Brasil (empresas subsidiárias) de
empresas que possuem capital nacional (empresas locais) em linha com o que é considerado
pelos praticantes. Além de empresas, outros agentes do setor foram classificados como
Instituições Científicas Tecnológicas e de Inovação (ICT’s) e unidades operacionais das
81

Forças Armadas (Organização Militar). Cabe ressaltar que, todos os órgãos pertencentes a
estrutura militar são chamados de Organizações Militares – inclusive algumas ICT’s. Para
efeitos deste trabalho, todas as organizações que constituídas como uma Instituições
Científicas Tecnológicas e de Inovação, militares ou não, foram classificadas como ICT’s.

TAMANHO: tamanho das empresas

Esta variável somente se aplica a empresas. O tamanho de empresas é relevante em


diversos aspectos que influenciam o papel desempenhado dentro do contexto produtivo. A
categorização utilizada segue o método aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que categoriza as empresas com até 100 funcionários em micro e
pequenas, empresas com até 500 funcionários como médias e empresas acima de 500
funcionários como grandes. As empresas foram classificadas de acordo com o número de
funcionários durante o período de implementação do Projeto de Offset, uma vez que este
número é variável no tempo.

5.3.3 Características da organização fornecedora

Essa variável visa descrever o tipo da fonte de tecnologia estrangeira. Embutida nesta
noção está também a relação entre a organização brasileira e a organização estrangeira.
Conforme caracterizado por Niosi e Zhegu (2005), a cadeia produtiva aeroespacial é
caracterizada pelo fluxo de tecnologias por meio de canais específicos.

FORNECEDOR: Tipo da organização estrangeira que fornece offsets

Representa a fonte de tecnologia estrangeira com relação as suas características. As


organizações podem ser instituições de ensino e pesquisa (institutos de pesquisa) ou empresas.
No caso de empresas, foi realizada a diferenciação entre empresas estrangeiras, que controlam
a organização brasileira recebedora de tecnologia (matriz) de empresas estrangeiras que não
possuem um relacionamento vertical com empresas brasileiras (empresas). A categoria matriz
somente é designada nos casos nos quais ocorre uma transferência de tecnologia entre uma
matriz e uma filial, se houver uma transferência entre uma empresa subsidiária brasileira e
outra empresa estrangeira que não a sua matriz será empregada a categoria empresa.

5.3.4 Tipo de interação

Essa variável busca descrever a forma organizacional de interação predominante


82

durante a implementação do offset e está diretamente relacionada aos canais de transferência


de tecnologia entre uma organização estrangeira e uma organização brasileira.

INTERAÇÃO: tipo de arranjo no qual ocorre a interação entre a organização


estrangeira e brasileira.

Essa variável foi obtida a partir da literatura, aprofundada na seção 4.4, e com base na
interação com o objeto da pesquisa. Somente foram considerados relacionamentos
tecnológicos que envolvem atores externos à organização. A proposta das três (3) categorias,
conforme apresentada no Quadro 4, foi feita a partir do critério de diferentes níveis de
intensidade de interação observados por meio de diferentes atividades executadas. A interação
do tipo turnkey é caracterizada por um relacionamento pontual de curta duração, no qual
ocorre o compartilhamento de informações predominantemente codificadas caracterizadas por
um fluxo unidirecional, sem o compartilhamento de problemas em um contexto específico. A
categoria de instrução define um relacionamento de duração intermediária no qual um
fornecedor compartilha as suas experiências e auxilia o recebedor a resolver seus problemas.
Já, a relação de colaboração envolve relacionamentos mais intensos de prazos maiores no qual
existe uma efetiva colaboração na busca de solução de problemas conjuntos entre os dois
participantes, a partir de treinamentos on-the-job de longa duração e da realização de
pesquisa, desenvolvimento e engenharia conjunta, por exemplo.

Quadro 3 – Categorias da variável INTERAÇÃO e exemplos das atividades envolvidas em


cada categoria

CATEGORIA EXEMPLOS DE ATIVIDADES


TURNKEY Subcontratação
Transferência de informações codificadas
Treinamento introdutório
Transferência de harware
Transferência de software
INSTRUÇÃO Treinamento teórico
Treinamento prático
Auditorias
Assistência técnica
COLABORAÇÃO Treinamento on-the-job
Pesquisa, desenvolvimento e engenharia conjunta
Fonte: Elaborado pelo autor com base na literatura e em dados da pesquisa
83

5.3.5 Incremento na capacidade tecnológica

Esta variável examina o incremento na capacidade tecnológica que resulta diretamente


da implementação do projeto de offset. Esse incremento não é caracterizado pela acumulação
de uma nova capacidade na empresa, mas pela agregação de novos conhecimentos e
habilidades às capacidades tecnológicas existentes.

A medição do locus desse incremento foi operacionalizada por meio de uma métrica
amplamente aplicada pelos pesquisadores que se identificam com a perspectiva latecomer: a
matriz de capacitação tecnológica. Por ser amplamente testada e aplicada, essa aplicação
limita problemas de qualidade como alinhamento entre teoria e medidas (FORZA, 2002).

Conforme aprofundado na seção 4.3.3, a matriz de capacitação tecnológica visa


classificar a habilidade de manipular a tecnologia em diferentes níveis de intensidade e
complexidade. Diversas matrizes de capacitação tecnológica foram desenvolvidas pela
literatura. Apesar de possuírem uma estrutura comum, essas matrizes sempre refletem o
contexto empírico de cada pesquisa, como o setor industrial abordado e o delineamento da
pesquisa.

Nesse sentido, as matrizes de capacitação tecnológica diferem principalmente com


relação às diferentes funções de aplicação da tecnologia e o número de níveis de
complexidade. Dependendo dos objetivos da pesquisa e das habilidades organizacionais de
interesse, diferentes áreas podem ser utilizadas.

A experiência acumulada dos modelos anteriores, principalmente de Lall (1990), Bell


e Pavitt (1993), Figueiredo (1999), Iammarino et. al (2008), Marques (2011), Figueiredo
(2011), Bell e Figueiredo (2012), Francelino (2016) e Pinheiro et. al (2017) foram
fundamentais para essa concepção da matriz de capacitação tecnológica. Ao passo que as
referências fornecem o quadro teórico, a interação com o objeto de pesquisa permite o
refinamento desse modelo para a aplicação específica deste trabalho.

Conforme descrito anteriormente, a pesquisa foca especificamente em capacidades


tecnológicas diretamente relacionadas com produtos e processos. Neste âmbito, embora
alguns autores optem por segregar habilidades relacionadas a produto de habilidades
relacionadas a projeto, essa diferenciação é vista como difícil em algumas situações, como em
níveis mais complexos de capacidades, nos quais existe uma grande interdependência entre
estes dois tipos de habilidades (HOBDAY, 1995; IAMMARINO et al., 2008; BELL;
FIGUEIREDO, 2012). Para contornar essa dificuldade, em linha com propostas recentes
84

(BELL; FIGUEIREDO, 2012, PINHEIRO et al., 2017), este trabalho não propõe uma
diferenciação entre funções, o que aumenta mais a confiabilidade do constructo.

Com relação aos níveis empregados, ao passo que pesquisas de estudos de caso mais
aprofundadas como Figueiredo (1999), Piana (2016) e Francelino (2016) consideram
conveniente o desdobramento em diversos níveis tecnológicos, pesquisas mais abrangentes e
menos profundas optam por utilizar menos níveis.

Conforme apresentado na Seção 4.3, a primeira distinção que se realiza com relação a
diferentes capacidades tecnológicas é entre capacidades de produção e capacidades de
inovação. As capacidades de produção estão ligadas ao simples uso da tecnologia, à
assimilação de conhecimento na forma de imitação (KIM, 1997; KOGUT; ZANDER, 1992),
basicamente as habilidades necessárias para transformar inputs em outputs (AMSDEN, 2001),
e não inclui necessariamente o conhecimento sobre o funcionamento das coisas ou as formas
para criá-las (KOGUT; ZANDER, 1992).

Cabe ressaltar que mesmo organizações que não desempenhar processos produtivos,
como as voltadas ao ensino e à pesquisa, mobilizam esses tipos de capacidades para a
realização de suas atividades mais básicas e rotineiras relacionadas aos seus procedimentos
internos.

As capacidades de inovação, por sua vez, consiste na capacidade de gerar mudança na


forma de criação de novos conhecimentos (KIM, 1997) e criação e melhoria de produtos e
processos (AMSDEN, 2001, ARIFFIN; FIGUEIREDO, 2004), ou seja, habilidades para
modificar a tecnologia (BELL; PAVITT, 1995).

Inicialmente optamos por utilizar quatro níveis de capacidades tecnológicas, um nível


de capacidade de produção e 3 níveis de capacidade de inovação em linha com a formulação
original de Lall (1990) e de Bell e Pavitt (1995) e com base em outros estudos do setor
aeroespacial como em Marques (2011). A partir da interação com os Projetos de Offset,
identificou-se uma grande concentração em capacidades de produção e tornou-se claro que
dois níveis de capacidade de produção seriam mais adequados para a análise. Esses 2 níveis
de capacidades de produção foram derivados com base nas diferenciações de Figueredo
(2011) e Piana (2016).

Chegamos, portanto, a uma matriz (Quadro 5) que é adequada não só à amostra


observada mas também a outros casos de transferência de tecnologia envolvendo empresas
latecomers do setor aeroespacial.
85

Quadro 4 – Matriz de capacitação tecnológica adotada na pesquisa

Níveis de capacidade Exemplos ilustrativos destes níveis

Implementação de sistemas de produção relativamente


Capacidade de complexos que atendem a especificação de processos,
produção básica produção e produtos: montagem, fabricação de
componentes e peças de baixo valor agregado
Implementação de processos produtivos que incorporam
características tecnológicas avançadas. Produtos e
Capacidade de
serviços que incorporam especificações técnicas e
produção avançada
performance próximas aos dos mercados avançados:
fabricação de subsistemas e sistemas complexos
Capacidade para implementar pequenas adaptações e
Capacidade de
melhorias em tecnologias (produtos, processos, software,
Inovação básica
equipamentos, serviços)
Capacidade para implementar modificações
Capacidade de relativamente complexas em tecnologias (produtos,
Inovação Intermediária processos, software, equipamentos, serviços) existentes
baseadas em engenharia e experimentações
Capacidade para implementar atividades inovadoras
Capacidade de
próximas àquelas realizadas pelos líderes globais à base
inovação avançada
de P&D aplicado e engenharia
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Lall (1992), Bell e Pavitt (1993), Marques (2011), Figueiredo
(2011), Bell e Figueiredo (2012), Piana (2016) e Pinheiro et al. (2017) e com base nos dados da
pesquisa

5.3.6 Sumário das variáveis da pesquisa

A operacionalização do modelo conceitual proposto na seção 5.2 objetiva descrever os


incrementos de capacidades tecnológicas obtidos por organizações brasileiras do setor
aeroespacial como resultado direto de sua participação como beneficiários de offsets. Essa
análise, que segue a perspectiva latecomer e está situada no nível da empresa, é feita a partir
da quantificação e da determinação da relação entre as variáveis categóricas, conforme o
Quadro 6.
86

Quadro 5 – Sumário das variáveis da pesquisa

DESCRIÇÃO DA
VARIÁVEL CATEGORIAS DA VARIÁVEL
VARIÁVEL
OFFSET Tipologia dos offsets DIR: diretamente relacionando ao objeto
da compra
INDIR: indiretamente relacionado ao
objeto da compra
BENEFICIÁRIO Tipo da organização SUBS: empresa subsidiária de capital
brasileira que recebeu estrangeiro
offsets
LOCAL: empresa de capital local
ICT: Instituição Científica Tecnológica e
de Inovação
OM: Organização Militar
TAMANHO Tamanho das empresas PEQ: micro e pequena empresa
brasileiras (não aplicável a MED: empresa de médio porte
ICT´s e OM´s)
GRA: empresa de grande porte
FORNECEDOR Tipo da organização EMP: empresa estrangeira
estrangeira que fornece
offsets MATRIZ: empresa estrangeira que se
relaciona com sua subsidiária brasileira

INSP_PES: instituto de pesquisa


estrangeiro
INTERAÇÃO Tipo de arranjo no qual TURNKEY: sem compartilhamento de
ocorre a interação entre a problemas ou um contexto específico
organização estrangeira e
brasileira. INSTR: instrução que envolve
compartilhamento de experiências e ajuda
na resolução de problemas
COLAB: relacionamento intenso e de
longo prazo com busca conjunta de
soluções
CAPACIDADE Incremento na habilidade PROD.BAS: capacidade de produção
TECNOLÓGICA para manipular a tecnologia básica
PROD.AV: capacidade de produção
avançada
INOV.BAS: capacidade de inovação
básica
INOV.INTER: capacidade de inovação
intermediária
INOV.AV: capacidade de inovação
avançada
Fonte: Elaborado pelo autor
87

5.4 Método empregado


O objetivo da análise é gerar conclusões baseadas em generalizações dos dados
adquiridos, em consonância com as questões de pesquisa propostas. Entretanto, neste trabalho
estamos menos preocupados em obter estimativas e estatísticas inferenciais sobre uma
população e mais interessados em compreender as características e as relações entre as
variáveis levantadas da amostra.

Dessa forma, de modo a realizar uma análise exploratória, os dados foram analisados
de forma descritiva. Inicialmente foram feitos os levantamentos e as análises da distribuição
de cada variável. Esta quantificação foi seguida da tabulação, no formato de tabelas de
contingência - essas tabelas são conjuntos de tabulação cruzada (cross-tabulation) de
classificações e são uma forma de mostrar a relação entre duas variáveis.

Como a variável Incremento na Capacidade Tecnológica é a variável de maior


interesse, as outras variáveis foram tabuladas de forma cruzada com esta de modo a
evidenciar as suas relações. Estas relações foram melhor explicitadas por meio do uso da
ferramenta de estatística multivariada chamada de análise de correspondência (AC).

A AC não difere muito da análise dos componentes principais (principal component


analysis - PCA) amplamente utilizada em economia e finanças. Entretanto, enquanto a PCA é
particularmente adequada a dados quantitativos em escala de intervalões e escala de razão, a
AC é mais adequada a dados qualitativos em escala nominal ou ordinal com o
estabelecimento de categorias.

Segundo Benzecri (2005), a estrutura da análise de correspondência não é tanto uma


teoria de dados, nem uma teoria de interpretação de dados, mas uma filosofia – ou abordagem
conceitual – para com os dados e para com a sua visualização.

Os objetos de análise da AC são, geralmente, tabelas de contingência. Nessas tabelas o


total de uma linha ou coluna é geralmente bem significativo e usualmente calcula-se a
frequência relativa das células com relação ao total da tabela (MURTAGH, 2005).

A análise de correspondência é, na verdade, um método para representar dados


tabulares na forma gráfica e pode ser considerada uma generalização do método popular de
representar dados na forma bidimensional como em gráficos de dispersão (scatterplot)
(GREENACRE, 2007).

Dessa forma, assim como a prática usual de representar graficamente os dados em


88

duas dimensões, os resultados da análise de correspondência nos fornecem condições de


analisar os dados com maior profundidade de forma puramente interpretativa, sem a
realização de nenhum método estatístico que possua significância (GREENACRE, 2007).
Portanto, a AC gera um ambiente interativo e flexível de manipulação que apoia o diálogo do
analista com os seus dados (MURTAGH, 2005).

Para realizar a análise de correspondência a principal referência utilizada é o livro de


Grenacre (2007). Outras fontes de recursos utilizadas são as referências disponibilizadas pela
Correspondence Analysis and Related Methods Network (CARME-N): http://www.carme-
n.org/.

A AC fornece portanto uma forma de atribuir distâncias a elementos de uma tabela.


Entretanto, em muitos casos, a tabela de interesse tem muitas linhas e colunas, ou seja, possui
grande dimensionalidade. Como não é possível observar facilmente pontos em mais de três
dimensões, é necessária uma redução da dimensionalidade dos pontos para a sua visualização
gráfica. Esse passo somente pode ser realizado com certa perda de informação, mas o objetivo
é restringir esta perda a um mínimo de modo que o máximo de informação seja retido
(GREENACRE, 2007).

Uma forma de definir a teoria da AC é por meio da decomposição em valores


singulares ou single value decomposition (SVD), um resultado da teoria de matrizes. De
forma similar ao autovalor em uma matriz quadrada, o SVD fornece uma maneira de reduzir a
matriz a seus componentes, do mais para o menos importante. Em outras palavras, o SVD
fornece um mecanismo direto para a aproximação de uma matriz retangular por outra de
menor dimensão (GREENACRE, 2007)

Ao analisar a tabela de contingência é possível observar as frequências relativas para


as linhas e as colunas, essas frequências relativas são chamadas de perfis de linhas e colunas
respectivamente. (GREENACRE, 2007). Os valores destes perfis são chamados de massas na
AC, e são usados para contabilizar a importância do perfil para a análise (GREENACRE,
2007).

A distância entre os perfis é medida usando a chamada distância chi-quadrado


(GREENACRE, 2007), a mesma distância utilizada para a realização de testes de
homogeneidade como o teste de chi-quadrado (χ2). A quantidade chi-quadrado/n é chamada
de inércia total e é uma medida de quanta variância existe na tabela que não depende do
tamanho da amostra (GREENACRE, 2007).
89

Dessa forma, os perfis são pontos multidimensionais, ponderados por massas e a


distância entre os perfis é medida usando a distância χ2. Portanto na AC os conceitos pontos,
pesos e distâncias são chamados de perfis, massas e distâncias chi-quadrado, respectivamente.

Na AC, os perfis são visualizados por meio de sua projeção em um subespaço de baixa
dimensionalidade que melhor se adequa aos perfis, nos qual os eixos principais são a forma de
representar os displays ótimos de baixa dimensionalidade. Comumente o eixo horizontal da
análise é chamado de “primeiro eixo principal” e o eixo vertical é chamado de “segundo eixo
principal” (GREENACRE, 2007). Existem ainda outros eixos principais, mas somente os três
primeiros são utilizados na maioria das aplicações.

Por fim, a AC produz um mapa no qual as linhas e colunas são mostradas juntas como
pontos, com uma interpretação que depende da escolha entre as diversas opções de
representação para os pontos relativos às colunas e às linhas.

Para realizar a análise de correspondência utiliza-se o software R, por meio do pacote


ca.

Neste trabalho, a análise de correspondência foi realizada com o objetivo de explicitar


a associação entre os resultados dos projetos de offset, em termos do incremento na
capacitação tecnológica das organizações beneficiadas e as variáveis que caracterizam os
atores envolvidos e influenciam no processo de aprendizado tecnológico.

São feitas sucessivas análises de correspondência entre diversas combinações de


variáveis e as mais relevantes foram selecionadas e apresentadas no trabalho. As análises
apresentadas permitem conhecer a relação entre os resultados e os fatores determinantes na
implementação dos projetos.

Existem situações nas quais queremos suprimir alguns pontos da computação da


solução da AC e ao mesmo tempo inspecionar suas projeções no mapa. Outliers,
subcategorias ou agrupamentos de categorias, por exemplo, podem ser projetados
posteriormente no espaço, sem influenciar na composição dos eixos principais e são
chamados de pontos suplementares (GREENACRE, 2007).

As estatísticas das análises realizadas como massas, qualidades, inércias, coordenadas,


correlações ao quadrado e contribuições das análises podem ser observadas no Apêndice A.
90

6 DESCRIÇÃO DA POLÍTICA DE OFFSET DA


AERONÁUTICA
Essa sessão se inicia com considerações sobre a institucionalização dos offsets no setor
aeroespacial brasileiro e uma breve descrição das particularidades da Política de Offset da
Aeronáutica. Posteriormente é realizada a descrição das aquisições que geraram as obrigações
de offset, cuja implementação é o objeto deste trabalho. Cabe ressaltar que a apresentação
aqui realizada incorpora a objetivação do conhecimento do autor obtido a partir da
experiência prática com os offsets da Aeronáutica.

6.1 Institucionalização recente e características da Política de Offset da


Aeronáutica

Como vimos na seção anterior, o offset é uma prática antiga nas compras da
Aeronáutica. Entretanto, apesar de diversas negociações de offset terem acontecido nos anos
1970 e 1980, estas eram em grande parte baseadas no julgamento e na experiência dos
gestores.

De fato, a previsão normativa da realização de offsets na Aeronáutica somente veio a


partir de 1981, sob a forma do Decreto nº 86.010 de 15 de maio (LIMA NETO, 2012).
Entretanto, foi somente no final da década de 1980 que a prática de offsets passou a ser
regulamentada no sentido de ter suas diretrizes de atuação e operacionalização estabelecidas.
Isso foi conseguido principalmente com base na experiência do Ministério da Aeronáutica,
não só com offsets, mas principalmente, por meio das cooperações realizadas pela Embraer e
pelo CTA.

Após a publicação da portaria do Ministério da Aeronáutica nº 230/GM4 de 1989 que


previa a necessidade de incluir cláusulas de offsets nos contratos de aquisições da FAB,
empresas aéreas e Embraer (MENEZES, 1989) é aprovada, no ano de 1991, a Política de
Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica da Aeronáutica e no ano de 1992 sua
Diretriz associada.

Embora tenham sofrido modificações, as bases contidas nesses dois últimos


documentos são as mesmas utilizadas até hoje para a prática de offsets na Aeronáutica e nas
outras Forças Armadas.
91

A partir desta base e a partir da reformulação dos Ministérios da Aeronáutica, Marinha


e Exército em Ministério da Defesa, é aprovada no ano de 2002, por meio da Portaria nº
764/MD, de 27 de dezembro, a Política e as Diretrizes de Compensação Comercial, Industrial
e Tecnológica do Ministério da Defesa (MD), que se torna a principal referência normativa
para a execução de offsets no Brasil desde então.

Essa portaria define que compras de fornecedores internacionais que excedam o


montante de 5 milhões de dólares americanos anualmente devem prever a realização de
offsets. Para compras que se encaixam nesta descrição diz-se que o fornecedor possui uma
obrigação de realizar offset que corresponda a 100% do valor da obrigação, sempre que
possível (BRASIL, 2002).

Face a esta nova normativa, a Força Aérea publica em 2005 a Instrução do Comando
da Aeronáutica 360-1 (ICA 360-1) e a Diretriz do Comando da Aeronáutica 360-1 (DCA 360-
1). Ambas as normas definem as premissas específicas para a negociação e implementação de
Acordos de Offset no nível operacional no âmbito do Comando da Aeronáutica, atribuindo
responsabilidades e estabelecendo o processo como um todo11.

Em comparação às políticas de offset das outras Forças Armadas Brasileiras, a Política


de Offset da Aeronáutica se diferencia pelo seu maior foco na aquisição de tecnologia para
fomentar o setor aeroespacial como um todo.

Este anseio está capturado no prefácio da Política de Compensação da Aeronáutica


(DCA 360-1), que cita a dificuldade do desenvolvimento e da obtenção de tecnologia no setor
aeroespacial. A Política de Offset da Aeronáutica é então apresentada como uma alternativa
“ao desenvolvimento e à modernização tecnológica e industrial do setor aeroespacial
brasileiro” (BRASIL, 2005, p.7) Da mesma forma, o direcionamento no sentido de adquirir
tecnologia por meio do offsets é distinguido de forma clara no objetivo síntese desta política:

11
O processo normativo da prática de offsets no Brasil, entretanto, ainda não pode ser considerado
encerrado. Desdobramentos recentes incluem a modificação da lei de compras do poder público, Lei 8.666 pela
Lei 12.598 de 2010, prevendo a existência de exigências de compensação comercial, industrial e tecnológica em
casos especiais de aquisições governamentais. Atualmente este debate tem se estendido fora do domínio das
Forças Armadas para outros setores da economia como saúde e telecomunicações, por exemplo, com o objetivo
da formulação de uma Política Nacional de Compensação (PNAC).
92

A promoção do crescimento dos níveis tecnológico e de qualidade do Parque


Industrial Aeroespacial Brasileiro, com a modernização dos métodos e
processos de produção e implementação de novas tecnologias. (BRASIL,
2005 p.14)

Por estar associada a compras de produtos de defesa, a prática de offsets está incluída
na lógica do ciclo de vida do produto vigente na Aeronáutica. Neste âmbito, o documento de
referência é a Diretriz do Comando da Aeronáutica 400-6 (DCA 400-6) de 2007 que
estabelece o ciclo de vida de sistemas e materiais da aeronáutica.

Neste documento estão previstas 7 fases durante o ciclo de vida do produto: Fase de
Concepção, Fase de Viabilidade, Fase de Definição, Fase de Desenvolvimento e Aquisição,
Fase de Produção, Fase de Implantação, Fase de Utilização e Fase de Revitalização,
Modernização e Melhoria.

Na prática, o documento que prevê a implementação de offsets existe na forma de um


contrato administrativo, formalmente chamado de Acordo de Compensação Comercial,
Industrial e Tecnológica (ACCIT)12. Presente nesse acordo estão uma variedade de projetos,
caracterizados pelos seus objetivos, condições de execução, cronogramas, materiais
necessários e produtos entregáveis.

A negociação do ACCIT é paralela à negociação do contrato comercial e a forma de


negociação. Idealmente, de forma a obter uma melhor oferta, procura-se fomentar a
competição entre potenciais fornecedores durante diversas etapas de negociação13.) de forma
concomitante ao contrato comercial. Entretanto esse nem sempre é o caso e as condições de
negociação variam consideravelmente dependendo do arranjo contratual vigente e das
condições da aquisição.

O Quadro 6 resume as principais características da Política de Offset da Aeronáutica.

12
Neste trabalho nos referimos a esse instrumento jurídico como Acordo de Offset conforme linguagem
corrente dos praticantes e de forma a facilitar a compreensão do leitor.
13
Isso é possível pois as aquisições geralmente ocorrem de forma direta por meio de dispensa de
licitação e não seguem o rito tradicional das aquisições públicas
93

Quadro 6 - Características da Política de Offset da Aeronáutica

Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica


Título da política:
da Aeronáutica

Subordinada à Política do Ministério da Defesa, mas implementada


independentemente

Forma de Faz parte do processo de avaliação das propostas comerciais


implementação:
Atividades realizadas como consequência direta de uma aquisição
(geralmente sem execução prévia à assinatura do contrato
comercial e sem banco de créditos)

Desenvolvimento da indústria, principalmente a aeroespacial, com


Objetivo
foco na aquisição de tecnologia

Valor mínimo do
contrato 5 milhões de US$ por ano

Offset exigido (%) 100%, sempre que possível

Tipo Direto e indireto

Desejavelmente o mesmo do contrato comercial, geralmente entre


Duração
5 e 10 anos

Geralmente na faixa de 1 a 5 (com prioridade para modalidades


Fatores Multiplicadores relacionadas a transferência de tecnologia em detrimento das
modalidades relacionadas a subcontratação)

Portaria n°764 MD (27/12/2002), DCA 360-1 (2005) e ICA 360-1


Principais referências
(2005)

Fonte: Adaptado de Brasil (2002, 2005a, 2005b)


94

Cabe ressaltar que a Aeronáutica, via de regra, se limita somente ao estabelecimento


de condições gerais sobre os offsets aceitáveis, procurando não impor especificamente o tipo
de benefício desejado nem interferir na escolha dos parceiros brasileiros ou das
especificidades dos benefícios ofertados.

Essa forma de operacionalização é justificada, pela Aeronáutica, como


proporcionadora de maior isonomia com relação à escolha do parceiro brasileiro, ao mesmo
tempo em que exime a Aeronáutica de responsabilidades caso ocorra algum imprevisto na
execução dos offsets.

Na prática, portanto, os fornecedores estrangeiros dispõem de uma considerável


liberdade para estruturar a sua oferta e escolher os parceiros, inclusive com a opção de incluir
suas próprias subsidiárias presentes em solo brasileiro como beneficiárias, o que não é
restringido no âmbito da Política.

Após a assinatura do Acordo de Offset e da sua entrada em eficácia, as atividades


relativas ao offset são executadas conforme acordado pelas partes de forma paralela ao
Contrato Comercial durante as fases de Produção, Implantação, Utilização e mesmo
Revitalização/Modernização ou Melhoria (BRASIL, 2005). Cabe ressaltar que, embora não
seja a regra, os Acordos de Offset podem ter uma duração maior que o Contrato Comercial.

6.2 Apresentação dos Programas estudados

Geralmente cada Acordo de Offset está associado a um programa de aquisição no


âmbito da COPAC. Apesar da nomenclatura oficial adotada (COPAC) ser projeto (e.g.
Projeto KC-X), adotamos a convenção de programa para os diferenciar da unidade de análise
Projeto de Offset.

Conforme apresentado na seção 5.2.2, o período da análise é de 2000 a 2016. Os


Acordos de Offset estudados são todos os implementados pela Comissão Coordenadora do
Programa Aeronave de Combate (COPAC) que tiveram uma parcela significativa de execução
e que geraram benefícios de offset.

Cabe ressaltar que o Acordo de Offset relacionado ao Programa F-X2 - aquisição de 36


caças suecos Grippen N - não faz parte da análise. Apesar de ser o maior expoente do offset
atualmente, o início da execução das atividades é recente e a porcentagem de sua
implementação é pequena.
95

O Quadro 7 traz um sumário dos Programas estudados, que são apresentados de


maneira abrangente a seguir, com detalhes de informações que são públicas. Cabe ressaltar
que a maioria destes programas e os offsets relacionados ainda estão em execução. Portanto,
os valores apresentados não foram ainda totalmente compensados pelos offsets analisados.

Quadro 7 – Características dos Acordos de Offset estudados

Data de
Valor da Aquisição
Programa N° Acordo de Offset Entrada em Empresa
US$
Vigor

F-5BR 348.547.451,24 001/DEPED-SDDP/2000 04/01/2000 ELBIT (ISR)

VC-X 56.713.976,00 001/DEPED-SDDP/2004 06/02/2004 EADS CASA (ESP)

CL-X 392.192.400,00 001/DEPED-SDDP/2005 29/04/2005 EADS CASA (ESP)

P-3BR 502.552.050,00 002/DEPED-SDDP/2005 29/04/2005 EADS CASA (ESP)

AM-X 147.565.954,11 001/DCTA-COPAC/2012 28/12/2012 ELBIT (ISR)

LINK BR2 13.760.000,00 002/DCTA-COPAC/2012 28/12/2012 RAFAEL (ISR)

VANT 28.850.856,00 003/DCTA-COPAC/2012 24/05/2013 ELBIT (ISR)

KC-X (BAE) 47.105.372,00 001/DCTA-COPAC/2013 09/05/2013 BAE SYSTEMS (UK)

ROCKWELL
KC-X (RC) 67.965.430,40 004/DCTA-COPAC/2013 14/11/2013 COLLINS (EUA)

AIRBUS
H-XBR/CLS 42.137.800,00 001/DCTA-COPAC/2011 28/09/2011 HELICOPTERS (FRA)

AIRBUS
H-XBR 2.398.857.752,00 001/DCTA-COPAC/2008 23/12/2008 HELICOPTERS (FRA)

CL-X2 258.726.638,00 001/DCTA-COPAC/14 17/06/2014 EADS CASA (ESP)

Fonte: Elaborado com base em dados da pesquisa

Nota: Acordos com valores em euros foram convertidos para dólar com base na cotação do mês no qual foram
assinados
96

Programa F-5BR

O contrato prevê a modernização de 46 aeronaves F-5 (Figura 5) numa primeira fase,


seguida de 11 aeronaves adicionais na segunda fase. Embora a contratada principal seja a
Embraer, a subcontratação de serviços da empresa israelense Elbit Systems gerou a obrigação
da realização de offsets.

Figura 5 - Avião F-5 modernizado da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea

As atividades realizadas incluem investimentos financeiros e a subcontratação de


empresa brasileira (Aeroeletrônica) para o estabelecimento de um centro de desenvolvimento
e manutenção no Brasil, incluindo a transferência de tecnologia relacionada à fabricação e à
integração de aviônicos para a Aeroeletrônica. O Departamento de Ciência e Tecnologia
Aeroespacial (DCTA) da Aeronáutica também foi beneficiado com a transferência de
tecnologia em aviônicos. O Acordo de Offset prevê ainda o cadastramento de empresas
brasileiras no portal internacional Epicos & Exostar B2B (assessoria em marketing) (SOUZA,
2010).
97

Programa VC-X

Trata da aquisição da aeronave Airbus A319 com configuração vip para a Presidência
da República (Figura 6) e apoio logístico inicial, que gerou uma obrigação de offset para a
empresa espanhola EADS CASA, pertencente ao grupo Airbus.

Figura 6 - Avião presidencial VC-1 da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea

As atividades realizadas incluem a contratação de serviços de empresas brasileiras e o


estabelecimento de linhas de produção de tratamento de superfícies e de fabricação de peças
na Sopeçaero e na Pesola. O Acordo de Offset inclui também a capacitação da indústria
nacional na manutenção de turbinas industriais para a Rolls & Royce do Brasil e a realização
de um programa educacional na área aeroespacial para os institutos do DCTA e para a
comunidade científica brasileira (SOUZA, 2010).
98

Programa CL-X

Referente à aquisição de 12 aeronaves leves de transporte C-295 (Figura 7) juntamente


com simuladores, logística inicial e suporte logístico por 5 anos, essa contratação gerou uma
obrigação para a empresa espanhola EADS CASA, pertencente ao grupo Airbus.

Figura 7 - Avião C-295 na versão Search and Rescue (SAR)

Fonte: www.fab.mil.br

As atividades executadas, com relação a offset direto, incluem o fornecimento de


tecnologia do sistema “Multimedia Interactive Training System – MITS”; o fornecimento de
tecnologia relacionada ao desenvolvimento e à manutenção de simuladores; o estabelecimento
de um centro de manutenção dos motores da Pratt-Whitney PW127G no Brasil; e a
capacitação em manutenção da aeronave C-295 no Brasil (SOUZA, 2010).

Como offset indireto foram realizadas atividades relacionadas a transferência de


tecnologia em aerodinâmica transônica e subsônica; subcontratação de serviços industriais no
Brasil e a capacitação em manutenção de aviônicos da empresa Thales (SOUZA, 2010).
99

As organizações beneficiadas por este acordo foram a Aeroeletrônica, a TAP


Engenharia e Manutenção, a Fundação ATECH, institutos do DCTA, entre outras (SOUZA,
2010).

Programa CL-X2

Aquisição de 3 aeronaves C-295 configuradas para Search and Rescue (SAR) (Figura
7) diretamente à Airbus espanhola, que gerou obrigação de offset.

Programa P-3BR

O Programa trata da aquisição de 9 aeronaves de patrulha marítima Orion (Figura 8),


modernizados pela EADS CASA, juntamente com a logística inicial.

Figura 8 - Avião P-3 Orion da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea


100

As atividades apresentadas como compensação incluem o fornecimento de tecnologia


de desenvolvimento e integração dos sistemas de missão com a capacidade para a manutenção
do software ao longo de seu ciclo de vida. Na área de motores, a capacitação envolve o
“overhaul” e a conversão T56A. Os principais beneficiários são a ATECH e a TAP
Engenharia e Manutenção (SOUZA, 2010).

Programa H-XBR

Este programa do Ministério da Defesa é gerido pelo Comando da Aeronáutica por


meio da COPAC e visa a aquisição de 50 helicópteros de transporte de médio porte EC725
(Figura 9) - 16 para cada uma das Forças Armadas e 2 para a Presidência - de um consórcio
composto pela Airbus Helicopters francesa e sua subsidiária brasileira Helibrás.

Figura 9 - Helicóptero H-36 Caracau da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea


101

Um ambicioso programa de transferência de tecnologia e de nacionalização foi


previsto para esse offset com o objetivo de fomentar grande parte da cadeia produtiva por
meio de transferência de tecnologia para a produção, montagem e manutenção dos
helicópteros adquiridos.

Programa KC-X (KC-390)

O programa inicial prevê o desenvolvimento e aquisição de 28 aeronaves cargueiras


do tipo tático militar de 10 a 20 toneladas da Embraer (Figura 10). A subcontratação de
atividades gera obrigações de realização de offsets a diversos subfornecedores da Embraer.

Os offsets pretendidos visam primordialmente capacitações relacionadas aos sistemas


da aeronave (offset direto), sua produção e manutenção no Brasil.

Figura 10 - Protótipo do avião KC-390 da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea


102

Programa AM-X

O contrato inicial prevê a modernização de 43 aeronaves A-1 (Figura 11), por meio de
modificações e atualizações, principalmente de aviônicos. Embora a contratada principal seja
a Embraer, a subcontratação de serviços da empresa israelense Elbit systems gerou a
obrigação da realização de offsets. Os principais benefícios do offset são a transferência de
capacidades relacionadas a aviônicos.

Figura 11 - Avião A-1 modernizado da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea

Programa Link BR-2

Visa o desenvolvimento e a aquisição de um sistema nacional de enlace de dados em


tempo real ar-ar e ar-solo, que permite o processamento de informações entre aeronaves e
centros de controle. A subcontratação da empresa israelense Rafael gerou a obrigação de
realizar offsets.
103

Programa VANT

Aquisição dos Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTS) Hermes 450 (Figura12) e
Hermes 900 para vigilância e reconhecimento e o suporte logístico associado da empresa
Aeroeletrônica. Como o fornecimento envolveu subcontratação, existe a obrigação de
realização de offset por parte da empresa israelense Elbit.

Figura 12 - VANT RQ-450 da Força Aérea Brasileira

Fonte: Agência Força Aérea


104

7 TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E INCREMENTO


NAS CAPACIDADES TECNOLÓGICAS DAS
ORGANIZAÇÕES DO SETOR AEROESPACIAL
BRASILEIRO

Esta seção apresenta a análise de como os projetos de offset analisados propiciaram


fluxos de tecnologia que levaram a incrementos nas capacidades tecnológicas de organizações
brasileiras do setor aeroespacial. A seguir é descrita a amostra que foi alvo da análise seguida
pela análise da distribuição das variáveis. Finalmente, é feita a interação com os dados por
meio das tabelas de contingência, gráficos e análises de correspondência.

7.1 Descrição da amostra


Conforme esclarecido na seção 5.2.1, a unidade de análise dos resultados da Política
de Offset da Aeronáutica são os Projetos de Offset, caracterizados por um objetivo específico
e que envolvem a interação entre uma organização estrangeira (fornecedora) e uma
organização brasileira (beneficiária).

Foram identificados 67 projetos de offset implementados. Destes, 7 projetos (10,4%)


não estavam relacionados a capacitação tecnológica, mas estavam associados principalmente
a benefícios somente financeiros; 3 projetos (4,4%) estavam relacionados somente à
transferência de capacidades organizacionais ou de gestão. Finalmente, somente 2 projetos
(3,0%) não estavam situados na indústria aeroespacial e, portanto, foram descartados,
conforme ilustrado na Figura 13.

Assim, foram implementados 55 projetos (82,1% do total) diretamente relacionados ao


setor aeroespacial e que proporcionaram incremento em capacidades tecnológicas voltadas a
produtos e processos em organizações brasileiras. Esses 55 projetos consistem o conjunto
final que será analisado neste trabalho.
105

Figura 13 - Distribuição dos tipos de resultados dos projetos de offset

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Podemos afirmar, inicialmente, que a alta proporção (82,1%) de projetos voltados a


transferência de tecnologia indica que os offsets implementados nas aquisições estudadas
estão alinhados ao objetivo síntese da Política de Offset da Aeronáutica, que é o aumento dos
níveis tecnológicos do setor aeroespacial brasileiro (BRASIL, 2005a).

7.2 Descrição dos atores envolvidos


Com relação aos atores envolvidos nos 55 projetos analisados, observa-se que 27
organizações internacionais estiveram envolvidas na execução dos projetos como
fornecedoras de tecnologia. De 27 organizações, 23 são empresas e somente 4 organizações
são exclusivamente dedicadas à pesquisa e ao ensino.

Este número grande de organizações estrangeiras envolvidas (27) demonstra a


diversidade de fontes de tecnologia e de atores internacionais que interagem por meio de
offsets. Não somente os grandes players globais do setor aeroespacial estão presentes, mas
uma diversidade de organizações que atuam em diversos níveis da cadeia produtiva.

Com relação ao lado brasileiro envolvido, 34 diferentes organizações brasileiras foram


beneficiadas. Essas organizações são compostas de 21 empresas: sendo 9 empresas de capital
predominantemente estrangeiro (subsidiárias) e 12 de capital nacional. Das 21 empresas
106

envolvidas, 6 empresas são micro ou pequenas, 9 são empresas médias e 6 são empresas
grandes, de acordo com o número de funcionários no período de implementação dos projetos.
Outras organizações beneficiadas incluem 7 organizações militares (OM’s) e 6 Instituições
Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICT’s).

Observa-se uma grande abrangência em termos de organizações brasileiras envolvidas.


Mais especificamente, o número de empresas envolvidas (21) mostra que os offsets possuem a
capacidade de ser um instrumento com grande permeabilidade na cadeia produtiva
aeroespacial.

Do ponto de vista das Forças Armadas, existe uma boa abrangência no setor
aeroespacial, uma vez que além das 7 organizações militares beneficiadas, 5 instituições de
ciência de tecnologia estão inseridas na estrutura militar: o Instituto Tecnológico de
Aeronáutica (ITA), o Instituto de Estudos Avançados (IEAv), o Instituto de Aeronáutica e
Espaço (IAE), o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) e o Instituto de
Pesquisas e Ensaios em Voo (IPEV), todos institutos do Departamento de Ciência e
Tecnologia Aeroespacial (DCTA).

Somente uma ICT externa à estrutura militar foi beneficiada, a Universidade Federal
de Itajubá (UNIFEI) uma organização que está na esfera de influência de um grande
fabricante que é a Helibrás.

Desta forma, não existe, atualmente um expressivo envolvimento da comunidade


acadêmica e científica brasileira de um modo geral com relação aos offsets. Entretanto, esta
condição é esperada, uma vez que a literatura relata que grande parte do desenvolvimento
tecnológico que ocorre dentro de centros de pesquisa e desenvolvimento está associado a
proximidade destas instituições com grandes fabricantes (NIOZI; ZHEGU, 2005).

7.3 Distribuição das variáveis com relação aos projetos.

Com relação à distribuição das variáveis nos projetos analisados, 46 projetos (83,6%)
foram executados por empresas estrangeiras e 9 projetos (16,4%) foram executados por
instituições de pesquisa estrangeiras. Dos 46 projetos executados por empresas, 29 projetos
(52,7% do total) ocorreram entre empresas que não possuem relação societária e 17 projetos
(30,9% do total) foram executados entre uma empresa matriz e sua subsidiária no Brasil. Essa
distribuição pode ser visualizada na Figura 14.
107

Figura 14 - Distribuição dos projetos de offset com relação a organizações estrangeiras


envolvidas.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

A grande concentração de empresas em oposição a instituições de pesquisa mostra que


o locus das fontes de tecnologias internacional são predominantemente empresas. Isto reforça
a condição de que a transferência de tecnologia no setor aeroespacial ocorre
predominantemente a partir de empresas ou sob a sua influência (NIOSI; ZHEGU, 2005).

Um arranjo que representa praticamente um terço dos projetos (30,9%) é a relação


entre empresas matrizes e suas subsidiárias. Apesar de ser considerado controverso entre a
comunidade prática, esse arranjo corresponde a uma parcela significativa dos offsets
executados14.

Com relação às organizações brasileiras, não existem muitos casos de mais de um


beneficiário em um mesmo projeto. Mesmo nesses casos, sempre existe um beneficiário que
pode ser considerado principal em termos da quantidade e qualidade dos benefícios recebidos.

14
Segundo alguns pontos de vista, matriz e subsidiária são a mesma empresa. As atividades
contabilizadas como offset, neste caso, estão inseridas em estratégia global da empresa, tornando muito difícil a
determinação da sua adicionalidade – se as atividades ocorreriam sem a presença de offsets.
108

A baixa predominância de colaborações recíprocas de múltiplas organizações no setor


aeroespacial é relatada na literatura. Segundo Niozi e Zhegu (2005) a transferência de
conhecimento no setor aeroespacial geralmente ocorre entre 2 atores e geralmente no sentido
do contratante para o subcontratado (NIOZI; ZHEGU, 2005). Assim, é de se esperar que
colaborações múltiplas não sejam frequentes nos arranjos de offset.

Portanto, o levantamento somente levou em consideração o principal beneficiário de


cada projeto sem prejuízo para a análise. Dos 55 projetos, 37 (67,3%) tiveram como principais
beneficiários empresas: 22 projetos (40,0% do total) envolveram empresas subsidiárias de
capital estrangeiro e 15 projetos (27,3%) empresas de capital nacional. As Instituições
Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICT´s) e as organizações militares (OM´s) foram
beneficiadas 9 vezes (16,4%) cada uma, conforme mostra a Figura 15.

Figura 15 - Distribuição de projetos de offset com relação ao tipo de organização beneficiada

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

O destaque principal desta distribuição é o grande número de offsets relacionados a


empresas (praticamente dois terços), revelando a predominância de benefícios para a indústria
na amostra estudada em linha com a vocação histórica dos offsets de fomentar o setor
produtivo.

Com relação ao tipo de empresas envolvidas, o número de Projetos de Offset que


envolvem empresas subsidiárias é maior do que os relacionados a empresas de capital
109

nacional. Além das 17 interações que ocorreram entre matriz e beneficiárias, houve 5 projetos
envolvendo empresas subsidiárias brasileiras e outras empresas estrangeiras que não fazem
parte de seu grupo. Isto revela que os offsets influenciam ligações diversas e possivelmente
novas no setor.

O grande número de offsets entre matriz e subsidiária (17) não é surpreendente, uma
vez que não existe nenhum mecanismo na Política que desencoraje esse tipo de prática.
Naturalmente é de se esperar que as empresas que possuem essa opção escolham beneficiar
suas próprias controladas, devido a maior facilidade de implementação e da possibilidade de
obter retorno com esse investimento.

A presença de projetos com ICTs envolvidas é razoável, entretanto menos do que se


esperaria tendo em vista que a participação de ICTs está restrita praticamente a organizações
do DCTA.

Da mesma forma, a presença de organizações militares (OM’s) também é razoável e, a


partir do conteúdo dos projetos analisados, está muito relacionada a perseguição de autonomia
nacional em termos de manutenção e operação de produtos de defesa. Este objetivo é
constantemente perseguido nas negociações de offset da Aeronáutica. Entretanto esse tipo de
operacionalização dos offsets pode levar a condições ineficazes se misturar elementos que
deveriam fazer parte do contrato principal de aquisição do produto ou mesmo do contrato de
suporte logístico do produto.

Dos 37 projetos que envolveram empresas, somente 4 projetos (10,8%) possuíram


como principais beneficiárias micro e pequenas empresas, 26 projetos (70,3%) correspondem
a empresas brasileiras de tamanho médio e 7 projetos (18,9%) a grandes empresas, conforme
a Figura 16.
110

Figura 16 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tamanho das empresas
beneficiadas.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Observa-se um grande número projetos com médias empresas brasileiras (47,3% do


total). Uma análise do conteúdo dos projetos possibilita afirmar que os casos analisados estão
relacionados principalmente a níveis intermediários na cadeia produtiva, como os associados
a subsistemas. Desta forma, a concentração em grandes integradores como a Embraer e
Helibrás e em pequenas empresas, como pequenos fornecedores nos níveis mais baixos de
fornecimento da cadeia produtiva não é predominante nos casos estudados.

Entretanto, deve-se esclarecer que essa condição não é absoluta, uma vez que a
principal empresa beneficiada no Programa F-X2 – aquisição dos caças Gripen da SAAB –
não incluído na amostra, é a Embraer.

Uma característica, até certo ponto surpreendente é o pequeno número de projetos


(7,3%) com micro e pequenas empresas. Desta forma, observa-se que os offsets não são um
instrumento muito relacionado ao fomento a inovação em pequenas e micro empresas.

Com relação ao tipo de offset, houve um grande equilíbrio entre offsets diretos e
indiretos, correspondendo a 27 e 28 projetos respectivamente, praticamente 50% cada um
(Figura 17).
111

Figura 17 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tipo de offset

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Neste ponto cabe esclarecer que são geralmente feitas exigências de porcentagem
mínima de offsets diretos e indiretos. Entretanto, a aplicação desta exigência não explica uma
distribuição praticamente igual, pois as exigências de offset direto geralmente são da ordem de
40% e não são aplicadas em todos os casos. Além disso, com base na literatura acadêmica as
empresas preferem oferecer offsets indiretos devido ao seu menor impacto em termos de custo
e em termos de perda de ativos valiosos (REDLICH; MICAVAGE, 1996; ERIKSSON et al.,
2007).

Uma possibilidade para esse resultado pode ser a maturidade do setor aeroespacial
brasileiro. Conforme estabelecido por Eriksson et al. (2007) os offsets diretos estão mais
relacionados a países com maior capacidade de absorver tecnologia e os investimentos
necessários para realizar atividades diretamente relacionadas ao produto adquirido que
tendem a ser mais complexas.

A forma de interação entre as organizações envolvidas, que resulta em diferentes


mecanismos de aprendizado, apresentou uma distribuição relativamente equilibrada, com o
relacionamento do tipo turnkey representando 16 projetos (29,1%), a instrução
correspondendo a 22 projetos (40,0%) e a colaboração a 17 projetos (30,9%), conforme
representação gráfica da Figura 18.
112

Figura 18 - Distribuição dos projetos de offset com relação ao tipo de interação

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Apesar de um pequeno destaque para o tipo instrução, houve uma distribuição


relativamente homogênea entre as três categorias de interação. Esta distribuição também serve
para caracterizar a diversidade e heterogeneidade dos offsets.

Observa-se uma boa frequência de colaborações, interações que incluem o


desenvolvimento de produtos e processos conjuntamente ou com a presença prolongada de
representantes de uma organização dentro da outra, em condições de dividir os mesmos
problemas em um mesmo contexto. Esse tipo de interação, além de gerar os efeitos imediatos
observados nessa pesquisa, muitas vezes pode gerar spinoffs e chances para futuras
colaborações.

Já, com relação ao incremento de capacidades tecnológicas nas organizações


brasileiras, a distribuição dos projetos de offset relacionados a capacidades de produção e
capacidades de inovação é praticamente igual. Vinte e oito (28) projetos (50,9%) se referem
ao incremento em capacidades de produção - relacionado à replicação e à habilidade de
implementar a tecnologia conforme instruções prévias. Esse tipo de capacidade foi dividida
nas categorias capacidade de produção básica e capacidade de produção avançada, que
correspondem a 14 projetos (25,5%) cada uma.

Como é possível visualizar na Figura 19, dos 27 projetos relacionados ao incremento


em capacidades de inovação, 13 projetos (23,6%) correspondem a capacidades de inovação
113

básicas – relacionadas a adaptações, 14 projetos (25,5%) a capacidades de inovação


intermediárias – relacionadas a mudanças complexas a nível de engenharia, e nenhum projeto
(0) está relacionado ao incremento em capacidades de inovação avançada – relacionada à
condução de pesquisa e desenvolvimento a nível de excelência internacional.

Figura 19- Distribução dos projetos de offset com relação ao incremento na capacidade
tecnológica

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

É possível observar que praticamente metade do projetos estão associados a um


incremento nas habilidades de replicar a tecnologia (capacidades de produção). A diferença
entre a duas categorias de capacidade de produção, conforme estabelecido na seção 5.3.4, é
que a capacidade de produção básica está relacionada à replicação de tecnologias de baixa
complexidade e a capacidade avançada à replicação de tecnologias ao nível da fronteira
tecnológica.

Com base no conteúdo dos projetos analisados, observa-se que os incrementos nas
capacidades de produção estão relacionados ao fluxo de informações codificadas, como
características de produtos e processos e a implementação de linhas de produção e de
manutenção em empresas no Brasil. Outro fator contribuinte para a grande frequência das
capacidades de produção é a estratégia de incremento na autonomia nacional, na qual os
114

offsets são utilizados para adquirir condições de operar, manter e atualizar o equipamento
comprado sem a dependência de fornecedores estrangeiros.

Conforme amplamente relatado na literatura, quanto maior o nível de complexidade


das capacidades tecnológicas, maior deve ser a intensidade do esforço da empresa e menor é a
importância de inputs externos de tecnologia. Esse esforço deve acontecer principalmente
pelo desenvolvimento endógeno de tecnologia, por meio de P&D interno e de outras
atividades inovadoras.

Com relação à capacidade de inovação, a característica marcante é a ausência de


projetos que geraram incremento em capacidades tecnológicas avançadas. Apesar de projetos
que chegaram próximos a esse patamar, nenhum projeto apresentou características que
pudessem ser relacionados a esse incremento.

Mesmo que a aquisição de capacidades de inovação avançadas dependa muito mais


dos esforços internos às empresas do que de ligações externas, poderia se esperar que os
offsets proporcionassem fluxos de tecnologia relacionados a atividades relacionadas à
pesquisa e ao desenvolvimento de novos produtos, por exemplo.

Esses achados reforçam a preocupação de que os offsets falham em entregar tecnologia


de ponta e estão mais relacionados a tecnologias mais básicas (MATTHEWS, 2004; MISRA,
2013).

Para uma conclusão mais assertiva sobre esse resultado seria necessária uma
investigação mais aprofundada e contingencial do que este trabalho se propõe a realizar.
Entretanto, com base nas fontes teóricas e na experiência do pesquisador, é possível levantar
algumas hipóteses.

Um condicionante é a forma como é estruturada a negociação dos offsets. A ampla


liberdade de que dispõem os fornecedores para elaborar suas ofertas aliada à subjetividade
envolvida na avaliação da tecnologia faz com que o fornecedor estrangeiro possa ofertar
offsets menos avançados tecnologicamente e obter praticamente o mesmo retorno em termos
de compensação.

Além disso, mesmo nos casos em que os fornecedores prometem transferir tecnologia
no nível de capacidades de inovação avançadas, existem outros fatores contribuintes que
inibem a concretização dessa transferência: obrigações relacionadas à transferência de
tecnologia são difíceis de se estabelecer contratualmente; tecnologias de defesa são alvos de
restrições governamentais que algumas vezes não são conhecidas a priori; a empresa
115

recebedora não possui capacidade de absorção adequada; a volatilidade característica da


economia e das instituições brasileiras faz com que planos de negócios não se concretizem,
entre outras.

Nesse sentido, uma administração pública pouco gerencial e excessivamente


burocrática dificilmente irá superar essas condições e garantir que tecnologias de ponta sejam
de fato adquiridas por meio dos offsets.

Cabe ressaltar que, embora não tenha sido observado nenhum fluxo de tecnologia no
nível relacionado a capacidades de inovação avançadas, não é possível afirmar que os offsets
não contribuem para a acumulação deste tipo de capacidade. As habilidades adquiridas por
meio de projetos de offsets podem ser recombinadas com capacidades existentes e gerar novas
capacidades em níveis próximos à fronteira tecnológica. Entretanto a observação desses
efeitos se situa mais a longo prazo e não são resultado direto dos Projetos de Offset.

7.4 Formas de implementação de offset e incremento em capacidades


tecnológicas

Esta seção investiga quais formas de implementação de offsets levaram a que tipo de
incremento nas capacidades tecnológicas das organizações brasileiras. Especificamente, é
descrita a relação dos tipos de organizações envolvidas, o tipo de offset (direto ou indireto) e a
forma de interação entre os agentes com o incremento de capacidades tecnológicas em
organizações brasileiras do setor aeroespacial.

Essa investigação é feita por meio de tabelas de contingência (tabelas cruzadas), que
apresentam a relação entre duas variáveis. As representações dessas tabelas na forma de
gráficos e os mapas resultantes da análise de correspondência (AC) são usados como
ferramentas auxiliares para destacar e comentar as tabulações cruzadas das variáveis.

7.4.1 Organizações brasileiras e incremento nas capacidades

A tabela de contingência (Tabela 2), juntamente com a representação gráfica (Figura


20) das frequências relativas das células em relação às linhas, mostra a relação entre o
incremento em capacidades tecnológicas e o tipo de organização brasileira.
116

Tabela 1 – Tipo de organização beneficiada e incremento em capacidades tecnológicas

PROD.BAS PROD.AV INOV.BAS INOV.INTER TOTAL


SUBS 5 8 4 5 22
LOCAL 3 3 4 5 15
ICT 2 1 2 4 9
OM 4 2 3 0 9
TOTAL 14 14 13 14 55
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Figura 20 - Tipo de organização beneficiada e incremento em capacidades tecnológicas

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Com base nos resultados, é possível observar que as organizações militares (OM’s)
estão fortemente associadas com o incremento em capacidade tecnológicas de produção (66%
das vezes), inexistindo um projeto de offset com esses beneficiários que gerou incremento de
capacidades de inovação intermediárias. Essa distribuição pode ser explicada pela natureza
operacional destas organizações, que não exercem atividades em níveis elevados de
complexidade tecnológica e estão mais voltadas à aplicação e ao emprego dos produtos de
defesa.
117

As Instituições Científicas Tecnológicas e de Inovação (ICT´s) por outro lado, estão


mais relacionadas com capacidades de inovação, principalmente capacidades intermediárias,
como é de se esperar devido a sua missão de realizar pesquisa.

Uma comparação interessante pode ser feita com relação a empresas locais e empresas
subsidiárias. Observa-se que empresas locais estão proporcionalmente mais associadas a
capacidades de maior intensidade tecnológica do que empresas subsidiárias. A partir da
interação com os casos, existe a impressão de que as empresas locais estão mais relacionadas
a prestação de serviços para clientes estrangeiros que envolvem atividades de adaptações e
modificações aos produtos.

Assim, para os offsets analisados, empresas que não possuem participação societária
realizaram atividades que são mais intensivas em tecnologia em comparação aos offsets entre
empresas matrizes e subsidiárias.

Este fato corrobora com estratégias conhecidas de internacionalização de empresas,


que muitas vezes instalam subsidiárias ao redor do mundo somente associadas a atividades
mais básicas e de menor valor agregado. Essa condição proporciona às empresas expandir sua
presença ao mesmo tempo em que restringem a entrada de novos competidores (NIOSI;
ZHEGU, 2005).

Para analisar a relação entre o tamanho das empresas beneficiárias e o incremento em


sua capacidade tecnológica foi realizada a análise de correspondência (AC) da tabela de
contingência (Tabela 2) com a adição das três categorias de tamanho das empresas como
pontos suplementares (PEQ, MED, GRA) que não influenciam na geometria do espaço.

Essa codificação permite que variáveis com pequena distribuição – que é o caso de
projetos com micro e pequenas empresas - não distorçam a geometria do mapa gerado. Foi
inserido também outro ponto suplementar (EMPRESAS) que é uma agregação das categorias
empresas locais (LOCAL) e empresas subsidiárias (SUBS). Para efeitos da análise de
correspondência realizada, essa variável suplementar pode ser considerada uma média dos
diferentes tipos de empresas e de seus diferentes tamanhos. O mapa simétrico desta análise
pode ser visto na Figura 21.

Os dados da análise como massas, qualidades, inércias, coordenadas, correlações ao


quadrado e contribuições das análises podem ser conferidas no Apêndice A.
118

Figura 21 - Mapa simétrico da AC entre tipos de organizações brasileiras – com tamanho das
empresas como variável suplementar – e o incremento na capacidade tecnológica

PEQ
0.6
0.4
Dimension 2 (29.9%)

OM
ICT
INOV.BAS
0.2

PROD.BAS
LOCAL
INOV.INTER
0.0

GRA

EMPRESAS
-0.2

MED SUBS

PROD.AV

-0.4 -0.2 0.0 0.2 0.4 0.6

Dimension 1 (68.3%)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

A interpretação do mapa simétrico da análise de correspondência deve ser feita um


eixo de cada vez. No mapa simétrico não é recomendável fazer julgamentos sobre a
proximidade de pontos em duas dimensões simultaneamente, como seria usual em uma
análise de clusters. Além disso, pontos de linhas e colunas (com símbolos diferentes) devem
ser comparados separadamente (GREENACRE, 2007).

Com base na porcentagem de inércia capturada nos eixos podemos realizar afirmações
sobre a qualidade da representação. No caso da Figura 21, o primeiro eixo corresponde a
68,3% da inércia e, portanto, é mais representativo da heterogeneidade dos dados. O segundo
119

eixo corresponde a 29,9% da inércia, o que faz com que a representação em duas dimensões
totalize 98,2%, praticamente a totalidade da inércia do conjunto de dados.

A partir da Figura 21, é possível interpretar que a característica mais marcante no


primeiro eixo é uma grande diferença entre a capacidade de inovação intermediária e outros
tipos de capacidades tecnológicas. Também no primeiro eixo, existe uma grande diferença
entre as organizações militares (OM’s) e outros tipos de organizações. Esse resultado mostra
que as OM’s são as mais associadas a capacidades de produção e as ICTs são as mais
associadas a capacidades de inovação intermediárias. Empresas locais, por sua vez estão
ligeiramente mais associadas a capacidades de inovação intermediárias do que as empresas
subsidiárias. Essas interpretações são coerentes com as observações feitas anteriormente com
base na tabela de contingência (Tabela 2) e no gráfico (Figura 20).

Com relação ao tamanho das empresas, observa-se que as grandes empresas, à direita
no mapa, estão mais relacionadas com capacidades de produção do que as pequenas e médias
empresas. Assim, além de pouca participação (12,7% dos projetos), as grandes empresas
absorveram tecnologia menos complexa do que médias e pequenas empresas.

7.4.2 Tipos de offset e incremento na capacidade tecnológica

A relação entre os tipos de offset (direto ou indireto) e o incremento na capacidade


tecnológica pode ser visualizada na tabela de contingência (Tabela 3) e na Figura 22.

Tabela 2 – Relação entre tipo de offset e incremento na capacidade tecnológica

PROD.BAS PROD.AV INOV.BAS INOV.INTER TOTAL


DIR 7 6 7 7 27
INDIR 7 8 6 7 28
TOTAL 14 14 13 14 55
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa
120

Figura 22 - Relação entre tipo de offset e incremento na capacidade tecnológica

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Pode -se observar que existe uma mínima diferença entre offsets diretos e indiretos
com relação ao incremento nas capacidades tecnológicas. Para investigar mais profundamente
as diferenças entre os dois tipos de offsets, realizamos a codificação interativa (GRENACRE,
2007) dos dois tipos de empresas beneficiárias (subsidiárias e empresas locais) e os dois tipos
de offset (direto e indireto), obtendo 4 categorias: empresas locais e offset direto
(LOCAL:DIR), empresas locais e offset indireto (LOCAL:INDIR), empresas subsidiárias e
offset direto (SUBS:DIR) e empresas subsidiárias e offset indireto (SUBS:INDIR). Esta
codificação permite analisar a relação entre essas duas variáveis e sua relação com uma
terceira variável: o incremento na capacidade tecnológica.

Para as categorias OM e ICT´s essa mesma codificação foi realizada na forma de


pontos suplementares, que não afetam a geometria do espaço - OM:DIR, OM:INDIR,
ICT:DIR e ICT:INDIR -, uma vez que a pequena frequência encontrada nessas categorias iria
distorcer o mapa gerado pela AC (Figura 23). Os dados da análise podem ser consultados no
Apêndice A.
121

Figura 23 - Mapa simétrico da AC das variáveis tipo de offset e tipo de organização brasileira
codificadas interativamente e a variável incremento na capacidade tecnológica

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

O mapa simétrico da AC, (Figura 23), permite observar que o eixo 1 (horizontal)
distingue entre capacidade de inovação intermediária de outros tipos de incremento em
capacidades.

Assim, podemos observar também que os offsets diretos relacionados a empresas


locais, juntamente com os offsets relacionados a ICT’s, que estão mais à esquerda no mapa
simétrico, foram os que possuíram a maior complexidade tecnológica. Por outro lado, os tipos
de offset que estão mais associados com capacidades de produção, à direita, são os que
possuem como beneficiárias organizações militares e os offsets indiretos para subsidiárias.

Observa-se que, de uma maneira geral, os offsets diretos estão mais à esquerda do
mapa do que os offsets indiretos correspondentes, portanto estão mais associados ao
incremento em capacidades mais complexas, em conformidade com o relatado na literatura
(ERIKSSON et al., 2007).
122

Entretanto, as organizações militares (OM´s) são uma exceção a essa regra. Os offsets
diretos em OM’s estão mais relacionados ao incremento em capacidades tecnológicas mais
básicas do que os offsets indiretos. Este fato pode ser explicado pela implementação de
projetos de offset que visam obter capacidades de manter e operar os equipamentos adquiridos
(offset direto), principalmente capacidades de produção básicas e projetos de offset indireto
relacionados a melhorias em outros processos, capacidades de inovação básicas.

7.4.3 Tipos de relacionamento e incremento em capacidades tecnológicas

Para analisar o relacionamento entre as organizações e o incremento em capacidades


tecnológicas, é feita a codificação interativa de organizações estrangeiras (MATRIZ, EMP) e
organizações brasileiras (SUBS, OM, LOCAL, ICT). A categoria instituto de pesquisa
(INST_PES) não foi codificada interativamente com os beneficiários brasileiros pois não
apresenta uma frequência relativa muito alta, o que iria distorcer a representação. Outras
categorias possíveis não apareceram na amostra, sendo obtidas portanto 6 diferentes
categorias para este par de variáveis.

Nota-se pelo mapa simétrico da AC (Figura 24) que a distribuição das categorias de
capacidade tecnológica ao longo do primeiro eixo não segue a ordem do mais básico para o
mais complexo, mas que as categorias estão intercaladas com uma predominância de
capacidades mais avançadas à direita. Outra característica é a disposição em lados opostos no
primeiro eixo das categorias MATRIZ:SUBS e INS_PES de EMP:SUBS e EMP:OM.
Observa-se que as duas primeiras estão mais associados a capacidade de produção avançada e
capacidade de inovação intermediária e os dois últimos estão mais associados a capacidades
de produção básicas e capacidades de inovação básica.

Com relação ao relacionamento MATRIZ:SUBS, a relação com capacidades


avançadas de produção pode ser explicada pelo estabelecimento de linhas de montagem e
fabricação de sistemas no Brasil e a baixa relação com capacidades de produção básicas
evidencia que as capacidades adquiridas por essas empresas estão relacionadas a processos
complexos com alto padrão de exigência. A associação com capacidade de inovação
intermediária deste relacionamento pode ser explicada pela opção da engenharia de produtos
no Brasil, principalmente para atender os clientes locais.
123

Figura 24 – Mapa simétrico da AC: relação de categorias de relacionamento com o


incremento em capacidades tecnológicas.

PROD.AV

EMP:OM
MATRIZ:SUBS
0.2

EMP:SUBS
PROD.BAS
0.0
Dimension 2 (19.5%)

INOV.BAS INST_PES
-0.2

EMP:LOCAL

INOV.INTER
-0.4
-0.6

EMP:ICT

-1.0 -0.5 0.0 0.5

Dimension 1 (79.6%)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Por outro lado, o relacionamento de empresas subsidiárias com empresas que não
estão no seu grupo (EMP:SUBS) está relacionada com capacidades de produção básicas e de
inovação básicas. De fato, uma análise do conteúdo dos projetos casos demonstra que estas
interações estão focadas no conhecimento de características de produtos e dos conhecimentos
necessários para realizar adaptações de subsistemas (capacidade de inovação básica).

Além disso, o segundo eixo, que diferencia capacidades de inovação de outras


capacidades coloca os relacionamentos entre empresas estrangeiras com empresas locais e
com ICT’s como os mais avançados tecnologicamente, o que é coerente com achados
anteriores.
124

7.4.4 Diferentes arranjos de interação e o incremento em capacidades tecnológicas

A tabela de contingência (Tabela 3), relaciona as categorias de intensidade de


relacionamento com o incremento nas capacidades tecnológicas em organizações brasileiras.

Tabela 3– Intensidade de relacionamento e incremento em capacidades tecnológicas

PROD.BAS PROD.AV INOV.BAS INOV.INTER TOTAL


TURNKEY 11 4 1 0 16
INSTR 3 6 10 3 22
COLAB 0 4 2 11 17
TOTAL 14 14 13 14 55
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Figura 25 – Mapa simétrico da AC: Intensidade de relacionamento e incremento em


capacidades tecnológicas

INOV.INTER
COLAB
0.4

TURNKEY
PROD.BAS
0.2
Dimension 2 (28.1%)

0.0

PROD.AV
-0.2
-0.4

INSTR
-0.6

INOV.BAS
-0.8

-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0

Dimension 1 (71.9%)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa


125

O mapa simétrico obtido da AC (Figura 25) forma um padrão de “ferradura” ou “U”,


com a única exceção sendo a capacidade de produção avançada, que se encontra no meio da
“ferradura”. Este padrão é muito conhecido na análise de correspondência e acontece quando
a tabela de contingência está diagonalizada, ou seja, existe grande relação entre categorias
(linhas e colunas).

Observa-se que o padrão de ferradura segue da direita para à esquerda em termos de


intensidade da interação e de complexidade no incremento na capacidade tecnológica. É
possível verificar que as capacidades de produção básica estão associadas à interação do tipo
turnkey, as capacidades de inovação básica estão mais associadas à interação de instrução e as
capacidades de inovação intermediária estão associadas com a colaboração. A capacidade de
produção avançada não se encontra ao longo deste caminho, mas no meio da “ferradura”, o
que indica que esta não possui uma associação tão predominante com uma única categoria de
interação.

A relação direta entre intensidade da interação e incremento em capacidade


tecnológica é esperada, uma vez que seria muito difícil adquirir, por exemplo, capacidades de
inovação mais complexas apenas por meio de troca de especificações e apresentação de
características de produtos e sua operação.

Segundo Lane e Lubatkin (1998), quanto maior o tempo e a intensidade da interação,


mais a empresa que está aprendendo pode se aproximar e entender o contexto dos problemas
em que as soluções técnicas lhe são apresentadas. Além disso, o incremento na capacidade
tecnológica depende muito do esforço da empresa (COHEN; LEVINTHAL, 1990; BELL;
FIGUEIREDO, 2012), que está diretamente relacionado à intensidade de relacionamento.

A interessante exceção deste padrão se dá por conta da capacidade de produção


avançada. Como motivo é possível citar que a replicação de produtos e processos de alta
intensidade tecnológica depende muito da capacidade prévia da empresa e das características
dos produtos e processos relacionados (COHEN, LEVINTHAL, 1990). Além disso, esta
replicação envolve também o incremento em capacidades mais organizacionais como de
gestão, controle de qualidade, engenharia de processo, que não estão capturadas na variável
incremento na capacidade tecnológica. Essas implementações podem variar desde somente o
compartilhamento de especificações de produtos (build to print), treinamento dos funcionários
126

em procedimentos, até períodos maiores de on-the-job-training seguidos de assistências


técnicas.

Para explorar mais a fundo as diferentes formas de interação, é investigado por meio
de codificação interativa o tipo de interação e a empresa brasileira associada. A sub-amostra
com somente empresas beneficiadas é composta de 37 projetos.

Figura 26 – Mapa simétrico da AC: Intensidade de relacionamento interativamente codificada


com tipo de organização brasileira e incremento em capacidades tecnológicas

SUBS:COLAB

INOV.INTER
SUBS:TURNKEY
0.5

PROD.BAS
LOCAL:COLAB
Dimension 2 (27.4%)

LOCAL:TURNKEY
0.0

PROD.AV LOCAL:INSTR
-0.5

SUBS:INSTR

INOV.BAS

-1.5 -1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0

Dimension 1 (61.8%)

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da pesquisa

Assim como a Figura 25, a Figura 26 apresenta o formato de “ferradura”. Com relação
aos diferentes tipos de empresas, não existem grandes discrepâncias. Entretanto, existe uma
diferença entre a realização de instrução entre empresas locais e empresas subsidiárias.
Observa-se que a instrução em empresas subsidiárias esteve mais associada a capacidades
menos complexas do que a instrução em empresas locais.
127

Essa diferença pode ser explicada pela proximidade de relacionamento entre as


empresas de um mesmo grupo que possuem uma facilidade maior de realizar interações mais
prolongadas e intensas. A presença de estrangeiros para realizar assistência técnica no Brasil,
assim como a realização de treinamentos mais extensivos, por exemplo, são mais fáceis e
baratos entre matrizes e subsidiárias.
128

8 CONCLUSÃO

A seguir são apresentadas as conclusões finais, que puderam ser obtidas a partir da
revisão teórica conceitual e dos resultados empíricos, seguidas das limitações deste trabalho e
enfim propostas de questões para futuras pesquisas.

Inicialmente este trabalho teve que lidar com a imprecisão do que é compreendido por
offset, uma vez que a própria definição sobre o que é offset é constante alvo de divergências.
Mesmo um exame minucioso da literatura que trata deste objeto não é capaz de sanar as
inconsistências em termos das fronteiras do que é considerado offset.

Diante dessa inescapável condição, esta pesquisa escolheu a vertente da literatura que
afirma que os offsets são benefícios adicionais exigidos por governos em compras junto a
empresas estrangeiras. A adoção desse conceito é sustentada e justificada por condizer
perfeitamente com o que é praticado atualmente no Brasil. Além disso, essa definição de
offset se alinha ao adotado pelos players do mercado aeroespacial internacional.

Uma decorrência dessa delimitação conceitual é que o Programa AMX, uma


colaboração entre Brasil e Itália, considerado um importante marco no desenvolvimento
aeroespacial brasileiro e constantemente retratado como offset, não atende aos critérios
adotados para definir os offsets. Outra decorrência, advinda deste julgamento conceitual, é que
o caso da aquisição dos aviões Xavante em 1970 que impulsionou a criação da Embraer com
o fluxo de capacidades de produção imprescindíveis ao seu primeiro projeto – o Bandeirante -
, não pode ser descartado como um offset, uma vez que o caso envolveu exigências adicionais
à compra de aviões da empresa italiana Aermacchi.

Um ponto particular sobre a prática da exigência de offsets é que a sua eficácia é


constantemente questionada, tanto na literatura quanto pelos praticantes. Em contraste com
relatos de casos de sucesso, argumentos pertinentes contra os offsets incluem: a promoção de
condições imperfeitas de mercado; a relação com transferência de tecnologias obsoletas; a
falta de comprovação de benefícios efetivamente adicionais ao que já seria praticado sem a
sua presença – adicionalidade; e seu uso político de forma oportunista para convencer a
opinião pública da importância de grandes aquisições de defesa.

A partir da revisão da literatura sobre o histórico brasileiro, foi constatada a


importância histórica da prática de offsets para a evolução da indústria aeroespacial em casos
129

como a aquisição dos Xavante (1970) e dos F-5 (1973). Entretanto, também são observados
casos mal sucedidos, em relação aos benefícios esperados, como a aquisição de helicópteros
da Aeroespatiale (1977).

Diante da escassez de evidências empíricas confiáveis após a implementação das


políticas de offset, o debate - mal informado- sobre sua eficácia permanece. Nesse sentido, a
busca por evidências empíricas sobre a eficácia dos offsets em transferir tecnologia para o país
comprador pode ser considerada a melhor via para esclarecer o que é benéfico e o que é
maléfico em termos de offsets.

Essa pesquisa foi delineada justamente no sentido de investigar o que de fato foi
implementado em termos de offset em compras de produtos de defesa do Comando da
Aeronáutica. Desta forma, este trabalho buscou empregar o método científico à problemática
do offset, que, longe de ser um problema comum em estudos acadêmicos, possui sua base de
conhecimentos situada na prática, com suas próprias instituições e convenções consagradas no
senso comum.

Além disso, a investigação conduzida por meio do olhar de um especialista, que


participa e se relaciona constantemente neste ambiente coloca o trabalho em condições de
contribuir de forma original. Essa posição, ao mesmo tempo em que repercute na prática
científica, faz com que a disposição e interação com o objeto de estudo leve em consideração
outros aspectos que são vivenciados na realidade da implementação dos offsets.

De modo a fornecer uma métrica dos benefícios tecnológicos coerente com o ambiente
de industrialização recente em que se desenvolve o setor aeroespacial brasileiro, é adotado o
referencial teórico baseado em capacidades com foco nas empresas ditas latecomers –que
iniciam suas atividades em ambientes menos favoráveis ao desenvolvimento tecnológico e são
inicialmente imitadoras.

A partir desse eixo analítico, o processo de transferência de tecnologia, amplamente


utilizado de variadas formas, é contextualizado como um fluxo de capacidades tecnológicas
entre empresas. Isto permitiu se valer do conceito das capacidades tecnológicas para medir os
resultados dos fluxos de tecnologias, em termos do incremento nas habilidades e
conhecimento que compõem o estoque de capacidades das organizações brasileiras
beneficiadas pelos offsets.

Com base na tradição que considera as rotinas organizacionais como fontes de


diferenciação e vantagem competitiva, o conceito de capacidade tecnológica e sua
130

operacionalização se provaram úteis aos objetivos do trabalho. A ampla aplicação desse


conceito em diversos contextos, inclusive no contexto da indústria aeroespacial brasileira,
proporcionou à pesquisa partir de uma estrutura que se prova robusta em termos de qualidade
entre o alinhamento da teoria com a medida pretendida.

O framework aqui proposto busca fornecer uma estrutura de análise que permita
analisar as entradas, as atividades, os resultados e os impactos de políticas de offset. Esse
modelo conceitual foi especificamente proposto para aplicação direta aos offsets, com vistas a
melhorar o seu planejamento e a sua implementação. Entretanto, o mesmo modelo analítico
pode ser aplicado também em outras políticas públicas similares que envolvem fluxo de
capacidades tecnológicas.

8.1 Contribuições do trabalho


A amostra selecionada, que compreende todos os offsets implementados com sucesso
entre 2000 e 2016 em aquisições de produtos de defesa geridos pela Comissão Coordenadora
do Programa Aeronave de Combate (COPAC) da Aeronáutica, pode ser considerada o estado
da arte do que é praticado em termos de offsets no Brasil.

Apesar de não ser possível revelar os detalhes e as especificidades de cada projeto -


como atores, vulto e tecnologias envolvidas - devido à natureza reservada dessas informações,
esta pesquisa buscou uma operacionalização que possibilita a extração de informações
relevantes dos casos analisados. Observa-se que a publicação de dados no nível de análise de
Projetos de Offset, são raros na literatura internacional.

O levantamento inclui 67 projetos de offset implementados e revela que a grande


maioria (55 projetos ou 82%) está relacionada ao incremento em capacidades tecnológicas de
organizações brasileiras. Esse incremento foi observado em uma grande quantidade de
organizações diferentes (34 organizações, sendo 21 empresas), o que mostra que o offset,
mesmo pouco relatado na literatura, é um instrumento que possui uma grande permeabilidade
na cadeia produtiva aeroespacial brasileira.

Em relação ao locus de atuação dos offsets, observou-se a predominância em empresas


brasileiras, em contraste a Organizações Militares (OM’s) e Instituições Científicas
Tecnológicas e de Inovação (ICT’s). Com relação às ICT´s, observa-se que os offsets ficaram
praticamente restritos aos institutos de pesquisa que fazem parte da estrutura militar. Dentre
131

as empresas beneficiadas, observou-se uma grande concentração em médias empresas em


detrimento de pequenas e grandes empresas.

Sobre a qualidade do incremento em capacidades tecnológicas propiciado pelos


offsets, observa-se uma grande frequência do incremento em capacidades de produção
(praticamente a metade dos projetos), que não propiciam grandes ganhos em termos de
potencial de inovação. Além disso, não são observados projetos que propiciaram incrementos
a nível de capacidades de inovação avançadas em organizações brasileiras.

Esta distribuição faz com que não seja possível afirmar que os offsets proporcionaram
fluxos de tecnologia no nível próximo a da fronteira tecnológica. Ao contrário, os offsets, no
caso brasileiro, parecem estar mais relacionados ao fluxo de capacidades tecnológicas básicas
e intermediárias.

Por sua vez, as relações das variáveis, medidas por meio das tabelas de contingência,
de gráficos e da análise de correspondência, permitem obter insights mais profundos sobre a
forma de implementação dos offsets e seus resultados.

Com relação aos arranjos de interação em geral, é possível afirmar que os offsets
influenciam ligações diversas no setor. O número significativo de interações do tipo de
colaboração mostra que os offsets têm o potencial de impulsionar colaborações tecnológicas
de longo prazo entre empresas, que podem gerar impactos além do inicialmente previsto com
a sua implementação.

A relação entre diferentes tipos de organizações brasileiras e níveis de incremento em


capacidades tecnológicas apresenta as Organizações Militares (OM´s), como as mais
relacionadas a capacidades de produção e as Instituições Científicas Tecnológicas e de
Inovação (ICT’s) as mais associadas a capacidades de inovação intermediárias, como era de
se esperar.

Observa-se que empresas de capital nacional estão proporcionalmente mais associadas


a capacidades de maior intensidade tecnológica do que empresas subsidiárias. Portanto, a
opção controversa de permitir offsets entre empresas matrizes e suas subsidiárias possuem um
menor potencial de fomentar a inovação do que a interação entre empresas não relacionadas.

A descrição desses resultados tem grande utilidade para a comunidade acadêmica,


carente de pesquisas sobre os offsets, mas, principalmente, para a comunidade praticante e os
agentes públicos, no sentido de fornecer feedback e insights que propiciem o aprimoramento
da prática dos offsets.
132

Os casos analisados reforçam a característica histórica da utilização dos offsets para


adquirir tecnologia para o setor aeroespacial brasileiro. Embora existam exemplos de offsets
que envolvam arranjos de produção como a subcontratação, a Política de Offsets da
Aeronáutica está mais preocupada com o incremento nas capacidades tecnológica das
organizações do setor aeroespacial brasileiro, ao contrário da maioria das políticas de offset
que possuem foco no crescimento de receita e da produção nacional.

Em outras palavras, verifica-se que a Política de Offset da Aeronáutica opta por


ampliar a oferta de tecnologia em detrimento da expansão da demanda por produtos e serviços
aeroespaciais no mercado nacional, como aconteceria por meio da inserção de empresas
brasileiras na cadeia de fornecimento global, por exemplo.

É possível afirmar que a transferência de tecnologia que ocorre por meio dos offsets no
setor aeroespacial brasileiro é diversificada em termos de arranjos, tipos de interações e
intensidade. Entretanto, algumas condições como a opção por realizar offsets com objetivos
não expressamente previstos na estrutura normativa vigente, a concentração excessiva em
capacidades de produção e a ausência de promoção de fluxos relacionados a capacidades de
inovação avançadas, faz com que a implementação da Política de Offset da Aeronáutica
apresente desvios em relação ao seu objetivo de aumentar o nível tecnológico do setor
aeroespacial brasileiro.

A literatura e algumas práticas mostram que é melhor analisar a conveniência e a


oportunidade de se exigir offsets caso a caso e não sob a forma de uma imposição geral
associada a compras que excedem uma quantia mínima financeira, como é o caso do Brasil.

Além disso, para ser eficiente com relação à aquisição de tecnologia, a teoria
prescreve que os offsets devem ser focados em capacidades de inovação que são de difícil
obtenção ou em condições de fornecimento de tecnologia por um valor abaixo do de mercado.
Do ponto de vista estratégico, em um ambiente de competição global, deve-se objetivar a
aquisição de tecnologias relacionadas a nichos nos quais a cadeia produtiva brasileira pode ter
uma vantagem competitiva internacional.

Para atingir esses objetivos, uma alternativa é delinear os offsets mais no sentido de
uma cooperação de longo prazo e menos em uma imposição. Esta filosofia é a adotada na
recente aquisição dos caças da SAAB (Projeto F-X2) e existe a promessa de que este
programa propicie incrementos no nível de capacidades de inovação avançadas em
133

organizações brasileiras. Entretanto, com base nos resultados deste trabalho, a concretização
desta realidade por meio dos offsets, parece difícil de ser atingida.

Espera-se que os resultados e as considerações apresentados nesse trabalho contribuam


para o entendimento sobre as opções realizadas pela Política de Offset da Aeronáutica em
termos dos agentes beneficiados, as formas de implementação e a sua conversão em
resultados. Em última instância, espera-se colaborar para que a sociedade brasileira possua
mais informações e disponha de melhores condições para decidir sobre aquisições de produtos
de defesa. Também existe a expectativa de que os conhecimentos gerados aqui sejam de
utilidade em outros contextos além do setor aeroespacial brasileiro.

8.2 Limitações e sugestões de pesquisas futuras


Uma questão que não foi suficientemente abordada no trabalho é a incerteza se os
resultados observados aconteceriam de qualquer forma, sem a presença de offsets. Cabe
esclarecer que, embora considerado crítico para os offsets, esse é um tema comum em
avaliação de política de inovação e, de acordo com a literatura, não existe uma solução fácil
ou definitiva para este problema.

A dúvida com relação a se os benefícios aqui descritos aconteceriam de qualquer


forma é difícil de dirimir, entretanto, é fato que esses resultados ocorreram e que foram
implementados sob a forma de offsets.

Oportunidades de trabalhos futuros incluem a descrição do conteúdo dos offsets


implementados. Entretanto, uma descrição detalhada só será possível com a quebra do sigilo
das informações sobre offsets por parte das autoridades públicas. Nesse sentido, deve ser
buscada uma prestação de contas de maneira mais transparente e confiável sobre os offsets
implementados e seus resultados. A maior transparência possibilitará também a análise dos
custos e benefícios de se implementar offsets no Brasil e a determinação da sua eficiência.

Outro tema particularmente promissor para pesquisas futuras é a utilização dos


arranjos de offset como instâncias para se observar como o aprendizado entre duas
organizações ocorre de fato. Por estarem sujeitos ao acompanhamento de agentes externos de
controle, os offsets fornecem uma oportunidade de se entrar dentro das empresas e verificar
como é feito o fluxo internacional de conhecimentos e quais são os mecanismos envolvidos.
134

Esse estudo também deve passar pela avaliação da capacidade de absorção de tecnologia das
organizações brasileiras.

Conforme previsto no modelo conceitual deste trabalho, uma proposta de pesquisa


futura seria a descrição dos impactos a longo prazo dos offsets em termos de novos produtos e
processos gerados dentro da empresa, incremento em sua receita e a influência dos offsets na
trajetória das organizações como um todo. A influência dos offsets, a nível mais macro, na
dinâmica setorial de relacionamentos sob a perspectiva de sistemas de inovação, também
possui grande potencial.

Os offsets são somente uma das ferramentas disponíveis de intervenção do Estado na


economia, portanto é desejável a sua avaliação em um contexto mais amplo, inclusive em
articulação com outras políticas públicas de desenvolvimento industrial e econômico.

Espera-se que pesquisas como essas permitam derivar critérios mais assertivos para se
determinar quando e como se exigir offsets, de forma que esses se tornem menos um
instrumento de propaganda e mais um instrumento de desenvolvimento industrial efetivo.
135

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148

APÊNDICE A –ESTATÍSTICAS DAS ANÁLISES DE CORRESPONDÊNCIA

Tabela 4 - Estatísticas da AC entre tipos de organizações brasileiras – com tamanho das empresas como variável suplementar – e o
incremento na capacidade tecnológica

Objeto Massa Qualidade Inércia Eixo 1 Eixo 2


Correlação Correlação
Coordenada Contribuição Coordenada Contribuição
ao quadrado ao quadrado
Beneficiário
SUBS 400 997 175 52 41 10 956 -250 557
LOCAL 273 890 94 -196 743 103 147 87 46
ICT 164 972 249 -416 761 278 212 220 176
OM 164 1000 482 616 863 609 137 245 220
*PEQ <NA> 774 <NA> -24 1 <NA> 773 651 <NA>
*MED <NA> 958 <NA> -154 258 <NA> 700 -254 <NA>
*GRA <NA> 520 <NA> 328 517 <NA> 3 -27 <NA>
*EMPRESAS <NA> 970 <NA> -49 152 <NA> 818 -113 <NA>

Capacidade
PROD.BAS 255 961 189 292 767 212 147 194 122
PROD.AV 255 999 240 144 147 51 -346 853 682
INOV.BAS 236 885 85 106 208 26 191 677 193
INOV.INTER 255 999 486 -533 997 710 22 2 3
Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise dos dados da pesquisa
Nota: Todos os valores foram multiplicados por 1000 e as vírgulas decimais omitidas
*Variáveis suplementares (não influenciam na geometria do mapa)
<NA> Não aplicável
149

Tabela 5 - Estatísticas da AC das variáveis tipo de offset e tipo de organização brasileira codificadas interativamente e a variável
incremento na capacidade tecnológica

Objeto Massa Qualidade Inércia Eixo 1 Eixo 2


Correlação Correlação
Coordenada Contribuição Coordenada Contribuição
ao quadrado ao quadrado
Tipo de offset
SUBS:DIR 182 149 49 85 149 12 2 0 0
SUBS:INDIR 218 982 244 16 1 1 446 980 706
LOCAL:DIR 200 964 104 -266 753 133 -141 211 65
LOCAL:INDIR 73 570 0 7 42 0 -23 527 1
ICT 164 919 205 -414 752 263 -194 166 101
OM 164 982 398 620 873 591 -219 109 128

Capacidade
PROD.BAS 255 769 167 295 732 208 -66 37 18
PROD.AV 255 962 232 139 118 46 374 844 579
INOV.BAS 236 865 180 121 106 32 -323 759 403
INOV.INTER 255 994 421 -546 994 714 -7 0 0
Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise dos dados da pesquisa
Nota: Todos os valores foram multiplicados por 1000 e as vírgulas decimais omitidas
150

Tabela 6 - Estatísticas da AC: relação de categorias de relacionamento obtidas com a codificação interativa das variáveis tipo de empresa
brasileira e tipo de empresa estrangeira com o incremento em capacidades tecnológicas.

Objeto Massa Qualidade Inércia Eixo 1 Eixo 2


Correlação Correlação
Coordenada Contribuição Coordenada Contribuição
ao quadrado ao quadrado
Relacionamento
EMP:SUBS 91 998 275 -1038 988 341 104 10 14
EMP:LOCAL 218 1000 34 -35 22 1 -233 978 169
EMP:ICT 73 992 99 -79 13 2 -694 980 499
EMP:OM 145 998 257 -760 905 292 245 94 124
MATRIZ:SUBS 309 993 276 527 860 299 207 133 189
INST_PES 164 897 59 339 880 65 -47 17 5

Capacidade
PROD.BAS 255 989 313 -659 978 385 71 11 18
PROD.AV 255 1000 328 587 739 305 349 261 441
INOV.BAS 236 947 113 -403 938 134 -38 8 5
INOV.INTER 255 999 245 447 574 177 -385 425 536
Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise dos dados da pesquisa
Nota: Todos os valores foram multiplicados por 1000 e as vírgulas decimais omitidas
151

Tabela 7 - Estatísticas da AC: Intensidade de relacionamento e incremento em capacidades tecnológicas

Objeto Massa Qualidade Inércia Eixo 1 Eixo 2


Correlação Correlação
Coordenada Contribuição Coordenada Contribuição
ao quadrado ao quadrado
Beneficiário
TURNKEY 291 1000 443 1005 903 556 330 97 153
INSTR 400 1000 170 -60 12 3 -556 988 597
COLAB 309 1000 387 -868 818 441 409 182 250

Capacidade
PROD.BAS 255 1000 428 1069 924 550 308 76 116
PROD.AV 255 1000 1 18 86 0 -60 914 4
INOV.BAS 236 1000 185 -141 35 9 -746 965 636
INOV.INTER 255 1000 385 -956 822 441 445 178 243
Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise dos dados da pesquisa
Nota: Todos os valores foram multiplicados por 1000 e as vírgulas decimais omitidas
152

Tabela 8 - Estatísticas da AC: Intensidade de relacionamento interativamente codificada com tipo de organização brasileira e incremento
em capacidades tecnológicas

Objeto Massa Qualidade Inércia Eixo 1 Eixo 2


Correlação Correlação
Coordenada Contribuição Coordenada Contribuição
ao quadrado ao quadrado
Relacionamento
SUBS:TURNKEY 162 788 205 -904 639 209 436 149 149
SUBS:INSTR 297 808 121 -199 96 19 -543 713 422
SUBS:COLAB 135 846 200 977 635 204 562 211 206
LOCAL:TURNKEY 162 938 160 -938 882 226 237 56 44
LOCAL:INSTR 135 631 168 776 479 129 -437 152 124
LOCAL:COLAB 108 990 146 1118 912 214 327 78 56

Capacidade
PROD.BAS 216 931 312 -1042 743 371 525 188 287
PROD.AV 297 520 168 -450 354 95 -309 167 136
INOV.BAS 216 597 161 306 124 32 -597 473 371
INOV.INTER 270 989 359 1083 872 502 398 117 206
Fonte: Elaborado pelo autor com base na análise dos dados da pesquisa
Nota: Todos os valores foram multiplicados por 1000 e as vírgulas decimais omitidas
FOLHA DE REGISTRO DO DOCUMENTO
1. 2. 3. 4.
CLASSIFICAÇÃO/TIPO DATA REGISTRO N° N° DE PÁGINAS

DM 22 de janeiro de 2018 DCTA/ITA/DM-129/2017 152


5.
TÍTULO E SUBTÍTULO:

Resultados da política de offset da aeronáutica: incremento nas capacidades tecnológicas das organizações
do setor aeroespacial brasileiro.
6.
AUTOR(ES):

Gilberto Mohr Correa


7. INSTITUIÇÃO(ÕES)/ÓRGÃO(S) INTERNO(S)/DIVISÃO(ÕES):

Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA


8.
PALAVRAS-CHAVE SUGERIDAS PELO AUTOR:

1. Offset. 2. Setor Aeroespacial. 3. Capacidades tecnológicas. 4. Transferência de tecnologia.


9.PALAVRAS-CHAVE RESULTANTES DE INDEXAÇÃO:

Transferência de tecnologia; Capacidade tecnológica; Indústria aeroespacial; Inovações tecnológicas;


Ciência e tecnologia.
10.
APRESENTAÇÃO: (X) Nacional ( ) Internacional
ITA, São José dos Campos. Curso de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências e Tecnologias
Aeroespaciais. Área de Gestão Tecnológica. Orientadora: Profa. Dra. Ligia Maria Soto Urbina. Defesa em
14/12/2017. Publicada em 2017.
11.
RESUMO:

Políticas de offset, são um instrumento de comércio internacional amplamente difundido, por meio do qual
países exigem benefícios adicionais para comprar produtos de fornecedores estrangeiros. Utilizados
principalmente com objetivos de desenvolvimento industrial, no Brasil os offsets vêm sendo aplicados há
décadas pelo Estado em suas compras militares de produtos de defesa para ampliar a oferta de tecnologia
estrangeira no setor aeroespacial. Entretanto, longe de ser um consenso, os offsets são um assunto
particularmente polêmico, sendo constantemente questionados quanto a sua eficiência econômica e a sua
eficácia em transferir tecnologia. A notória escassez de informações sobre os resultados dessa prática, faz
com que seja difícil concluir em que medida os offsets são benéficos ou maléficos. Este trabalho visa
justamente descrever as formas de implementação dos offsets e medir seus resultados com relação à
transferência de tecnologia para organizações do setor aeroespacial brasileiro. Com base na teoria
disponível sobre os offsets, nas principais características do setor aeroespacial e na literatura sobre o
processo de acumulação de capacidades tecnológicas, são analisadas as entradas, as atividades e os
resultados de políticas de offset. É realizado um levantamento dos Projetos de Offset implementados a
partir das compras de produtos de defesa geridas pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de
Combate (COPAC) da Aeronáutica. São identificados 67 Projetos de Offset implementados entre 2000 e
2016, dos quais 55 (82%) levaram à capacitação tecnológica de organizações do setor aeroespacial
brasileiro. A distribuição das variáveis levantadas para os 55 projetos analisados, descrita por meio de
tabelas, gráficos e análises de correspondência, mostra que os offsets possuem uma grande
permeabilidade na cadeia aeroespacial brasileira, beneficiando 34 diferentes organizações,
predominantemente empresas. Com relação aos resultados, observa-se uma grande concentração de offsets
relacionados ao incremento em capacidades de produção e a ausência de incremento em capacidades de
inovação avançadas. Conclui-se que a Política de Offset da Aeronáutica é um importante instrumento para
a ampliação da oferta de tecnologia estrangeira no setor aeroespacial brasileiro, pois promove
transferências de tecnologia de forma diversificada e oportunidades de relacionamentos tecnológicos
relevantes entre organizações brasileiras e estrangeiras. Entretanto, não é possível afirmar que a
tecnologia transferida por meio dos offsets analisados está próxima da fronteira tecnológica.

12.
GRAU DE SIGILO:

(X ) OSTENSIVO ( ) RESERVADO ( ) SECRETO

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