28 E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma
disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, 29 cheios de toda
injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, 30 caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, 31 insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia.32 Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem. Para facilitar o entendimento desta passagem bíblica, vamos dividi-la em três partes. A primeira parte diz respeito ao versículo 28; a segunda parte contém os versículos 29 a 31 e consequentemente, a última parte está no versículo 32. 1ª parte – 28 E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes. Uma vez que eles não se importaram em reconhecer Deus, Deus desistiu deles e os deixou por conta própria. (A Mensagem – Eugene Peterson) Vamos separar o versículo em três partes: (1) E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus; (2) O próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável; (3) Para praticarem coisas inconvenientes. (1) E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus. O que significa o fato deles haverem desprezado o conhecimento de Deus? Significa que eles testaram, examinaram, provaram, verificaram o conhecimento que Deus deu de si mesmo e depois de examinado tudo, desprezaram esse conhecimento. Eles trataram com desprezo; não deram a devida importância, o devido valor; não levaram em conta. Qual a consequência disso? (2) O próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável. Deus os deixou fazer tudo quanto suas mentes malignas poderiam imaginar. (NBV) Este permitiu que se tornassem escravos de suas mentes degeneradas. (CPH) (3) Para praticarem coisas inconvenientes. Que coisas inconvenientes são estas? 2ª parte - 29 cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, 30 caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, 31 insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Injustiça (adikia). O homem injusto é aquele que rouba tanto aos homens como a Deus os seus direitos. Ele levantou um altar a si mesmo no centro das coisas e assim se adora a si mesmo com exclusão de Deus e do homem. Perversidade (poneria). É o desejo de fazer o mal. É a ativa e deliberada vontade de perverter e infligir injúria. Em grego, um dos títulos mais comuns para Satanás é o de hoponeros, o maligno, aquele que deliberadamente assalta, ataca e aspira destruir a inocência e a bondade dos homens. Poneros descreve o homem que não só é mau, mas também quer fazer a outros tão maus quanto ele; o homem que quer arrastar a outros até seu próprio baixo nível. É uma maldade destruidora. Avareza (pleonexia). O termo grego está construído sobre duas palavras que significam ter mais. É o desejo que não conhece leis. A avidez por ter cada vez mais posses, não importando como são obtidas. Maldade (kakia). Esta palavra descreve o caso do homem desprovido de toda qualidade que possa fazê-lo bom. Ela também foi descrita como a precursora de todo tipo pecado. É a degradação da qual crescem e florescem todos os pecados. Possuídos de inveja — A palavra grega descreve o terrível sentimento de sentir-se desconfortável com o sucesso dos outros, não só desejando o que lhes pertence, mas também alegrando-se com suas tragédias. É a mais tortuosa e retorcida das emoções humanas. Possuídos de homicídio — A palavra grega “fonos” usada aqui por Paulo se refere a desejo, intenção ou atitude de ferir o outro para tirar-lhe a vida. O assassino é também aquele que odeia a seu irmão. Possuídos de contenda — A palavra grega eris diz respeito ao sentimento e à atitude daquela pessoa que é dominada pela inveja e por isso se torna facciosa e briguenta. Possuídos de dolo — A palavra grega dolos retrata a pessoa que não age de maneira reta, usando sempre métodos tortuosos e clandestinos para tirar alguma vantagem. A palavra era usada para referir-se à falsificação de metais preciosos e a adulteração de vinhos. Descreve a qualidade do homem que tem uma mente tortuosa e retorcida, o homem que não pode agir de uma maneira reta, o homem que se inclina a usar métodos tortuosos e clandestinos para fazer sua própria vontade Possuídos de malignidade — A palavra grega kakoetheia descreve a pessoa que sempre supõe o pior acerca dos outros. É a pessoa que sempre vê as coisas pelo lado mais sombrio. Alguém disse que é aterrador pensar quantas reputações foram assassinadas com falatórios de comadres, quando a pessoa atribui maliciosamente uma má interpretação a uma ação totalmente inocente. Murmuradores e caluniadores (psithyristes e katalalos). Estes dois termos descrevem as pessoas de línguas infamantes. Mas há uma diferença entre eles. Caluniador, é o homem que proclama publicamente suas infâmias. Com toda publicidade faz suas acusações e relata seus contos; mas murmurador descreve o homem que murmura suas histórias maliciosas ao ouvido, é aquele que leva um homem a um canto à parte e murmura suas histórias destruidoras. Ambos são maus, mas o murmurador é o pior. A pessoa, pelo menos pode defender-se de um caluniador público, mas é impotente contra o murmurador secreto que se deleita em destruir reputações. Aborrecedores de Deus (theostygeis). Esta expressão descreve o homem que odeia a Deus, porque sabe que O está desafiando. Sabe que se houver um Deus, tanto pior para ele. Deus é para ele a barreira entre ele e seus prazeres. Deus é a cadeia que o impede de fazer exatamente o que quer. De boa vontade eliminaria a Deus se pudesse; para ele um mundo sem Deus seria um mundo no qual poderia haver licença, embora não liberdade. Injuriosos (hybristes). Injuriar era para os gregos o vício que conduzia o homem a destruição à mão dos deuses. Há aqui duas linhas principais de pensamento. (1) Descreve o espírito do homem que é tão orgulhoso que desafia a Deus. É o orgulho insolente que precede à queda. É esquecer que o homem é uma criatura. É o espírito do homem que desafia o destino e a fortuna. É o espírito do homem tão crédulo em sua saúde, seu poder, sua própria força, que pensa que pode viver a vida sozinho. (2) Descreve o homem que é desenfreado e sadicamente cruel e insultante. Alguém descreveu o injurioso como o espírito que danifica, fere e prejudica a alguém, não por motivo de desforra, nem porque pode ganhar disso alguma utilidade ou vantagem, mas simplesmente pelo mero prazer de fazer mal. Há gente que sente prazer em ver como alguém reage diante de uma palavra cruel. Há pessoas que obtêm um deleite maligno infligindo tristezas mentais e físicas a outros. Isto é injuriar (hybris). É o sadismo que encontra prazer em machucar a outros pelo simples motivo de danificá-los. Soberbos (hyperefanos). Este é o termo duas vezes usado na Escritura quando se diz que Deus resiste aos soberbos. Tiago 4:6 Antes, dá maior graça. Portanto, diz: Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes. 1 Ped. 5:5 Semelhantemente vós, jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. O que é a soberba? 1) ato de mostrar-se acima dos outros, que se eleva sobre, que se coloca acima dos outros, preeminente. 2) que sobrevaloriza seus próprios meios ou méritos, que despreza os outros ou até trata-os com desprezo, arrogante. Soberbo é aquele que despreza a todos, exceto a si mesmo, e tem prazer em rebaixar e humilhar os outros. Presunçosos - A palavra grega alazon descreve a pessoa que pensa de si mesma além do que convém e exalta a si mesma acima da medida. Diz respeito a quem pretende ter o que não tem, saber o que não sabe e jacta-se de grandes negócios que só existem em sua imaginação. Inventores de males (efeuretes kakon). Esta frase descreve o homem que, por assim dizer, não está de acordo com as maneiras comuns e usuais de pecar, mas sim procura novos e recônditos vícios, porque chegou a cansar-se e fartar-se, e busca novas emoções em algum pecado novo. Desobedientes aos pais — Estas palavras se referem àquela atitude dos filhos de sacudir o jugo da obediência aos pais. Trata-se de filhos rebeldes e irreverentes. Néscios (asynetos). Este termo descreve ao homem tolo, aquele que é incapaz de aprender a lição da experiência, aquele que é culpado de incrível sandice, o homem que não quer usar a mente e o cérebro que Deus lhe deu. Pérfidos - (asynthetos) A palavra grega descreve a pessoa que não é confiável. -É aquele desonesto em quem não se pode confiar. Sem afeição natural— Sem amor à família. Trata do desamor dos pais aos filhos e dos filhos aos pais. É a falta de afeto entre irmãos de sangue. Era algo completamente evidente que aquela era uma época na qual o amor familiar estava morrendo. Nunca a vida da criança foi tão precária como naquele tempo. As crianças eram consideradas como uma coisa desafortunada. Quando nascia uma criança, esta era posto aos pés do pai. Se o pai a elevava significava que a reconhecia. Se ele se voltava e a deixava, a criança era literalmente arrojada fora. Não havia noite em que não fossem abandonados no fórum romano trinta ou quarenta crianças. A prática abusiva de abortos e os crimes familiares apontam para a gravidade desse pecado em nossos dias. Sem misericórdia — A expressão retrata a pessoa implacável, sem piedade, que fere e mata o outro sem compaixão. Não houve outra época em que a vida humana valesse tão pouco. O escravo podia ser morto ou torturado por seu amo, pois era só uma coisa, e a lei dava ao amo um poder ilimitado sobre ele. 3ª parte - 32 -Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem. Depois de descrever em cores vivas a situação de uma sociedade ou mesmo de um indivíduo que rejeita o conhecimento de Deus, Paulo faz duas declarações assombrosas: 1 – Os homens pecam conscientemente - Ora, conhecendo eles a sentença de Deus, de que são passíveis de morte os que tais coisas praticam. As pessoas agem sabendo que estão agindo errado. Elas sufocam a verdade, abafam a voz da consciência, apagam a luz vermelha do alarme, mas no íntimo sabem que aquilo que praticam é um ato de rebeldia contra Deus e passível de morte. O conhecimento do justo juízo de Deus não cria, porém, nenhum ódio contra o pecado nem fomenta alguma disposição para essas pessoas se arrependerem do pecado. (Hernandes Dias Lopes) 2 – Os homens aplaudem outros que fazem o mesmo que eles e incentivam outros a agirem de igual modo. “Não somente as fazem, mas também aprovam os que assim procedem”. Aqui a sociedade se mostra jactanciosa e até entusiasmada pelo pecado. O nível mais baixo da degradação moral de uma sociedade é quando ela não apenas pratica o mal, mas também o incentiva e o aplaude. Esse é o clímax da perversidade. E isso que vemos todos os dias na televisão e nos outros meios de comunicação. (Hernandes Dias Lopes) Eles não somente cometem o pecado, mas o defendem e justificam, e encorajam outros a fazer o mesmo.