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Elias Souza dos Santos.

Ó TUPÃ DEUS DO BRASIL: O CANTO ORFEÔNICO NA


ESCOLA NORMAL DE ARACAJU (1934 -1971). 1. ed. São Paulo: Paco Editorial,
2015. v. 1. 336p .

APRESENTAÇÃO

Prof. Dra. Susana Cecília Igayara-Souza


Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
São Paulo, 29 de julho de 2014.

O livro que vem a público é fruto de uma dissertação de Mestrado defendida


na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), com orientação da
experiente professora Cynthia Pereira de Sousa. A linha de pesquisa – História da
Educação e Historiografia – propiciou o olhar abrangente e crítico sobre a presença da
disciplina Canto Orfeônico nos currículos da escola brasileira, direcionando a análise
para as práticas encontradas na escola sergipana e, em especial, para o papel da
Escola Normal de Aracaju.

Elias Souza dos Santos parte da ideia de que o Canto Orfeônico, assim como a
Geografia e a Educação Física, ocupava o lugar de disciplina estratégica na política
educacional do governo de Getúlio Vargas. Isso significa que, além dos conteúdos
específicos musicais, a disciplina tinha objetivos que eram considerados mais amplos
e profundos, ligados aos ideais nacionalistas e civilizadores e à formação de
mentalidades a partir da vivência escolar.

Além de estabelecer uma relação das práticas sergipanas com as


transformações que aconteciam em um plano nacional, Elias Souza dos Santos lança-
se a uma abordagem biográfica dos atores responsáveis pelas práticas musicais nas
escolas, analisando aspectos das histórias de vida e percursos de formação dos
professores de Canto Orfeônico que atuaram em Sergipe.

Nas palavras do autor, “o eu profissional (social), juntamente com o eu pessoal


(individual), ou ainda, o ser particular com o ser público, acrescentando-se aí, os
espaços e os tempos vividos pelos (as) professores (as) de Canto Orfeônico, geraram
as identidades desses (as) docentes”. Ficamos sabendo, por exemplo, que de dez
professores cujas trajetórias foram analisadas, sete tiveram sua formação em Canto
Orfeônico realizada no Rio de Janeiro, e três no Recife.

A dinâmica de circulação de pessoas e ideias vai-se revelando na leitura dessas


trajetórias pessoais e profissionais, vai-se percebendo como os cargos à disposição
iam sendo ocupados a partir de carreiras singulares. O professor ou professora de
Canto Orfeônico incorpora sua formação como pianista, forma-se tanto em escolas
públicas como privadas, frequenta cursos emergenciais de Canto Orfeônico no
Distrito Federal, compõe hinos escolares, funda sociedades litero musicais e escolas
particulares de música.

Além da consulta a diversas bibliotecas e arquivos contendo documentação


sobre as atividades musicais, no Brasil e em Portugal (sob orientação de Margarida
Felgueiras, graças a uma bolsa de estudos para realização da pesquisa), Elias
apresenta também algumas entrevistas que muito enriqueceram o trabalho.

O uso das fontes escritas e orais faz com que sua discussão considere a
memória dos atores sociais, que é sempre reelaborada, e leva a relativizar um pouco
um tipo de fonte em relação à outra. Assim, as práticas orfeônicas realizadas na escola
ganham uma corporificação nos percursos da memória e nos registros das atividades
de professores-músicos ou músicos-professores.

A legislação não é vista como um marco absoluto, pois interessa ao


pesquisador examinar as práticas e a efetiva implantação dos programas oficiais. Ao
leitor especializado, são oferecidos inúmeros detalhes sobre métodos e materiais
didáticos, o repertório musical estudado, currículos e programas dos diversos ciclos
escolares, dinâmica de funcionamento de aulas e apresentações públicas.

A documentação iconográfica, em que se destacam as fotos de apresentações


dos orfeões, não é mera ilustração. Ali estão importantes informações sobre os
espaços onde as práticas corais aconteciam, ali estão os corpos de professores e
alunos em um momento vivo desse passado, oferecido à leitura do historiador.

Um dos méritos do trabalho é ser movido por perguntas. O leitor vai sendo
levado a pensar, junto com o autor, nas hipóteses para as questões que são
formuladas. A escolha do período de investigação (1934-1971) ajuda neste aspecto,
principalmente por sua preocupação em discutir a participação de Sergipe no início
das atividades orfeônicas do governo Vargas e, como contrapartida, analisar as razões
do desaparecimento da disciplina Canto Orfeônico dos currículos brasileiros.

Elias Souza dos Santos estuda as instituições escolares e retrocede ao século


XIX e à Primeira República para demonstrar que já havia ensino musical escolar em
Sergipe desde 1860. Com relação à obrigatoriedade nacional do ensino de música nas
escolas pela Reforma Francisco Campos, a partir de 1931, o autor conclui, apoiado
em evidência documental, que foi em 1934 que se iniciaram as atividades da
disciplina Canto Orfeônico na Escola Normal de Aracaju, ministrada pelo professor
Domicio Fraga.

A atuação de José Vieira Brandão, figura de destaque nacional na formação de


professores e na educação estética pelo Canto Orfeônico, também é detalhada neste
livro, explicitando o papel desses líderes que eram enviados em verdadeiras missões
artístico-educacionais a diferentes pontos do país, coordenados a partir do Rio de
Janeiro pela Superintendência de Educação Musical e Artística (Sema) e pelo
Conservatório Nacional de Canto Orfeônico (CNCO), dirigidos por Heitor Villa-
Lobos.

Outro aspecto importante revelado pela investigação das práticas orfeônicas


em Sergipe é a distinção entre os orfeões gerais, formados por todos os escolares, e os
orfeões artísticos, formados por membros selecionados que se dedicavam à execução
de um repertório com maior complexidade musical. A organização das atividades
orfeônicas e a diversificação de perfis desses orfeões é um aspecto por vezes
negligenciado por outros pesquisadores. Certamente, no caso desta obra, a relação
prática do autor com a atividade coral colaborou para que as questões intrinsecamente
musicais fossem consideradas com cuidado, dando importância não só aos aspectos
relacionados à política educacional e à cultura escolar, mas reservando espaço para
importantes considerações sobre o conteúdo das aulas, o repertório, as relações entre
teoria e prática, por exemplo.

A pesquisa sobre a educação musical escolar em Sergipe insere-se em um


conjunto de trabalhos que tem investigado, a partir de diferentes perspectivas e fontes
de pesquisa, a história das práticas escolares, das disciplinas “Música”, “Canto” e
“Canto Orfeônico”, da profissão docente e das funções políticas da escola, entre os
temas mais recorrentes.

A partir da década de 1980 do século XX, a ênfase da pesquisa acadêmica


recaiu sobre a relação entre música e poder, detalhando a legislação e as estratégias da
disciplina Canto Orfeônico. Alguns desses trabalhos foram desenvolvidos no âmbito
da pós-graduação em História Social e tornaram-se importantes referências para os
estudos posteriores. Nos anos 1990, vimos surgir um interesse pelos arquivos
escolares, pelos manuais escolares, pelos métodos didáticos. Os conceitos de “cultura
escolar” e de “cultura material” trouxeram novos objetos de estudo e novas
abordagens, já no âmbito da História da Educação.

Em diferentes estados do país, pesquisadores lançaram-se aos arquivos em


busca da análise das instituições escolares, dos livros didáticos e da profissão docente,
incluindo as relações de gênero. Trabalhos sobre as realidades específicas de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, para citar alguns,
foram produzidos em diferentes programas de pós-graduação.

Ao mesmo tempo, proliferaram estudos publicados em forma de artigos,


livros, teses e dissertações com abordagem biográfica, histórias de vida e análise de
trajetórias profissionais, em que o Canto Orfeônico e o ensino de música comparecem
como temas principais ou acessórios. Dentre os profissionais ligados à educação
musical, mesmo que não figurem nos títulos, foram estudados Villa-Lobos, Liddy
Chiaffarelli, Vieira Brandão, Fabiano Lozano, Martin Braunwieser, João Baptista
Julião, Lorenzo Fernández, Ceição de Barros Barreto, Maria Amorim Ferrara, Gazzi
de Sá, entre outros.
Há ainda muito a se fazer em termos de uma história da educação musical no
Brasil. A cada novo trabalho, mais questões são formuladas, novas fontes são
reveladas, datas são confrontadas e aprofunda-se um pouco mais o conhecimento dos
atores sociais, de suas disposições e de suas realizações. A pesquisa histórica
alimenta-se de cada uma dessas pesquisas, com destaque para o diálogo
interdisciplinar tão necessário a um campo do conhecimento como a história da
educação musical.

Por seus méritos, e também por uma infinidade de detalhes que são postos em
discussão a partir de uma vasta e diversificada rede de documentação e referenciais
teóricos, o trabalho torna-se uma referência. Não só para o estudo do Canto Orfeônico
em Sergipe, mas para todos os que se interessam por entender as funções atribuídas à
escola em nossa história e, de maneira particular, para aqueles que querem investigar
a presença e o desaparecimento da música nos currículos. Esperamos que seja lido por
historiadores, músicos, professores, alunos, administradores escolares e por todos
aqueles que se interessam por discutir a importância da educação no Brasil,
reservando um lugar para a música em sua história e em seu futuro.

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