Sunteți pe pagina 1din 81

Índice

Ficha Artística 8

Siegfried in breve
por João Pedro Cachopo 12

Das Rheingold e Die Walküre:


o Prólogo e a Primeira Jornada em imagens 24

Resumo de Das Rheingold e Die Walküre 30

Argumento de Siegfried 34

Libreto 48

O que é, afinal, um Leitmotiv?


por Paulo Ferreira de Castro 122

Biografias 145

Ficha Técnica 153

Ópera ao Largo (Calendário) 158

Fotografia da página 1:
Richard Wagner
(Franz von Lenbach, 1881/82).

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 7


Personagens e Intérpretes
Siegfried Direcção musical
Marko Letonja
Richard Wagner Siegfried
Encenação Stefan Vinke
Segunda jornada em três actos do festival cénico Graham Vick
Der Ring des Nibelungen (O Anel do Nibelungo). Mime
Libreto de Richard Wagner. Colin Judson
Cenografia e figurinos
Timothy O’Brien O Viajante [Wotan]
Samuel Youn
Desenho de luzes
Giuseppe di Iorio Alberich
Johann Werner Prein
Estreia absoluta Fafner
Festival de Bayreuth a 16 de Agosto de 1876 no Dieter Schweikart
âmbito da primeira apresentação integral de
Der Ring des Nibelungen. Erda
Gabriele May
Brünnhilde
Estreia em Portugal
Susan Bullock
Teatro de São Carlos a 13 de Abril de 1909 Kirsi Tiihonen [15. Out.]
Pássaro da Floresta
Chelsey Schill

Orquestra Sinfónica Portuguesa

Nova Produção Teatro Nacional de São Carlos

8 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 9


Maestro Assistente Novo Palco
Geoffrey Styles Weld-Fab Stage Engineering Ltd
Teatro Nacional de São Carlos
Assistentes de Encenação
Jacopo Spirei Nova Plateia
Matthias Janser Contubos
Teatro Nacional de São Carlos
Assistente de Cenografia
Victoria Marr Adereços
Souvenir Ltd
Assistente de Figurinos Teatro Nacional de São Carlos
Jessica Zambelli
Execução do Guarda-roupa
Técnico de Som Teatro Nacional de São Carlos
Phil Wright Maria Gonzaga

Director Musical de Cena


João Paulo Santos Cabeleiras
Teatro Nacional de São Carlos
Maestros Correpetidores
João Paulo Santos Caracterização
Nuno Lopes Fátima Sousa

Técnicos para a montagem (Weld-Fab)


Kim Knights

Figuração feminina
Andresa Soares; Catarina Pinheiro; Fabíola Oliveira;
Fátima Ferreira; Flávia Gusmão; Gabriela Ferreira;
Inês Pedrosa; Irina Tuvalkina; Lavínia Moreira; Agradecimentos especiais
Letícia Liesenfeld; Martha Cardozo; Rafaela Pinto; Hospital da Ordem Terceira
Sara De La Féria; Tânia Lopes; Teresa Mónica;
Verónica da Costa.
Colaboração
Figuração masculina
Companhia Nacional de Bailado
Arnaldo Fonseca; Edson Carvalho; João Senra;
João Rosa; Júnior Silva; Luciano Nobre; Luís Filipe
Costa; Nuno Barracas; Pedro Augusto; Pedro Garcia;
Sérgio Roque; Tiago Cruz; Tiago Faustino; Tiago Martins;
Yoann Auboyneau; Yann Gibert.

Stefan Vinke durante um ensaio de cena (Acto I)

10
João Pedro Cachopo lançando-se na composição da primeira ópera da A obra Embora Siegfried, ao contrário de Siegmund (que fora
tetralogia O ouro do Reno (Das Rheingold) no ano constantemente ajudado por Wotan), seja desse ponto
Siegfried in breve seguinte. A composição d’O anel decorrerá até 1874, A composição de Siegfried prolongou-se ao longo de de vista um autêntico herói livre, nem por isso estará
não sem intermitências e um longo interregno entre aproximadamente duas décadas, desde os primeiros iminente a realização do plano anteriormente traçado
O compositor 1857 e 1869, período durante o qual compôs Tristão e esboços para o então intitulado Der junge Siegfried de por Wotan n’A Valquíria – recuperar o anel
Isolda ([Tristan und Isolde] Munique, 1865) e Os 1851 (ano em que redige o poema), até à conclusão indirectamente, antecipando-se a Alberich que o
Ao contrário do que poderia supor-se dada a imensa mestres cantores de Nuremberga ([Die Meistersinger von da orquestração em 1871. Importa sublinhar, forjara em tempos (cf. O ouro do Reno) e com ele
notoriedade obtida por Wagner ainda em vida (já para Nürnberg] Munique, 1868). naturalmente, o hiato entre a composição dos Actos adquirira um poder capaz de rivalizar com o dos
não falar da persistente influência póstuma do seu I e II (levada a cabo sobretudo entre 1856/57) e a deuses. O encontro de Wotan (que parece precipitar
legado artístico e intelectual), a primeira fase da É também durante o exílio forçado que redige os elaboração do Acto III a partir de 1869. A experiência deliberadamente o declínio dos deuses) com
vida do compositor esteve isenta da precocidade ensaios A arte e a revolução (1849), A obra de arte do acumulada com a composição d’Os mestres cantores Siegfried, no Acto III de Siegfried, confirma a
mozartiana ou, atendo-nos ao séc. XIX, do brilhan- futuro (1849) e Ópera e Drama (1851), textos que, a de Nuremberga e Tristão e Isolda não poderia deixar de caducidade do poder divino e antecipa o iminente
tismo que caracterizou a infância e a juventude de par de Beethoven (1870), constituem uma importante fazer-se sentir. A inevitável e por vezes deplorada crepúsculo dos deuses: a destruição da lança divina
compositores como Liszt ou Mendelssohn. Nascido a chave para a compreensão de inúmeros aspectos da assimetria estilística entre os dois blocos é pela espada de Siegfried que não reconhece o deus é
22 de Maio de 1813, em Leipzig, Richard foi criado obra de Wagner, assim como fornecem uma compensada, se assim se pode dizer, pela maturidade disto testemunha. Siegfried, que não temera o
pela mãe e pelo pai adoptivo, o actor judeu Ludwig cartografia da evolução do seu ideário estético ao que atravessa o Acto III, coroando a terceira ópera da aspecto medonho do dragão, nem a terrível lança de
Geyer. Provavelmente sob a influência deste último, longo de mais de duas décadas: desde o entusiasmo tetralogia. A estreia de Siegfried teve lugar em Wotan, conhece agora o medo perante o corpo
com quem manteve, pelo que se sabe, óptimas revolucionário do final da década de 40 até ao Bayreuth, tal como Wagner desejava, a 16 de Agosto adormecido de Brünnhilde. É a iminência do amor que
relações, cedo se interessou pela música e pelo teatro, pessimismo conservador e nacionalista de inspiração de 1876, no contexto da apresentação integral d’O lho ensina. O destino de ambos, porém, jogar-se-á na
tendo ingressado em 1822 na Kreuzschule de Dresden. schopenhaueriana das últimas décadas. A descoberta anel do Nibelungo. última jornada, O crepúsculo dos deuses.
do filósofo deu-se através da leitura da sua principal
Apesar do seu esforço e entusiasmo (começara a obra, O mundo como vontade e representação, em Nesta segunda jornada da saga d’O anel do Nibelungo,
escrever e a compor desde muito jovem), Wagner não 1854, enquanto trabalhava na composição d’A assistimos finalmente à aparição de Siegfried – o
obteve, ao longo dos primeiros anos da sua carreira, Valquíria (Die Walküre) e influenciaria a posterior herói livre capaz de arrebatar o anel ao gigante
nenhum sucesso verdadeiramente assinalável. Este veio composição d’O anel do Nibelungo (Der Ring des Fafner que o detém há algumas gerações numa
a acontecer com a estreia, em Outubro de 1842, de Nibelungen), bem como, de modo flagrante, a caverna sob a forma de um dragão. Criado por Mime
Rienzi, em Dresden, uma ópera que o compositor concepção de Tristão e Isolda e d’Os mestres cantores (irmão de Alberich) após a morte prematura do pai
tentara malogradamente estrear em Paris. Seguiu-se, de Nuremberga e, já no final da vida do compositor, de (Siegmund) e da mãe (Sieglinde), Siegfried desconfia
em Fevereiro do ano seguinte, a estreia d’O navio Parsifal (Bayreuth, 1882). obstinadamente da pretensa paternidade de Mime.
fantasma (Der fliegende Holländer) que assinala um Só pela força é capaz de arrancar ao anão o relato da
verdadeiro salto qualitativo na produção wagneriana. Na década de 1860, com a amnistia de 1862, e o sua verdadeira origem. Sabendo-se livre, Siegfried
O sucesso obtido (sobretudo com Rienzi) em Dresden, interesse crescente de Luís II da Baviera, as deseja mais do que nunca partir. Contudo, não o fará
bem como a súbita morte do anterior director musical, dificuldades financeiras que tanto haviam perturbado sem antes refazer os estilhaços de Notung, a espada
garantiram a Wagner o cargo de Hofkapellmeister da a vida do compositor diminuem gradualmente. Além de seu pai (Siegmund), destruída por Wotan durante o
Corte da Saxónia que ocuparia até 1848. Ainda durante disso, graças ao apoio financeiro do monarca bávaro, combate com Hunding (cf. A Valquíria), e, com ela,
o período de Dresden, compôs Tannhäuser (estreado em começa a ganhar forma o projecto de construção de defrontar o dragão Fafner. Siegfried espera assim
Dresden, em 1845) e Lohengrin (que seria representado um teatro, destinado exclusivamente à representação conhecer o medo – sentimento de que lhe fala Mime,
em 1850, em Weimar, sob a direcção de Liszt). das suas óperas e dramas musicais. O Festival de na esperança de evitar que Siegfried se apodere do
Bayreuth tem início em 1876 com a representação do anel detido por Fafner, antes dele próprio. Já no
O envolvimento crescente de Wagner na realidade ciclo completo d’O anel do Nibelungo. Em 1882, pouco Acto II, após o combate vitorioso com o dragão,
política sua contemporânea, no contexto da qual tempo antes da morte do compositor em Veneza no Siegfried é advertido por este para as intenções
abraçou os ideais revolucionários republicanos, ano seguinte, será a vez da estreia de Parsifal. A ideia maléficas de Mime. Tendo provado involuntariamente
preconizando a utopia de uma arte capaz de de um teatro, não apenas dedicado à representação o sangue do dragão, Siegfried é agora capaz de ler os
transformar a sociedade, levou o compositor a exclusiva das óperas de um compositor, mas ainda pensamentos e decifrar a linguagem dos animais.
participar activa e entusiasticamente nos e sobretudo concebido de raiz à luz da suas Apercebe-se assim sem ambiguidades das intenções
acontecimentos revolucionários de 1848. Com o concepções estéticas, tornara-se realidade – um caso de Mime e mata-o. Parte então em busca da mulher
avanço das tropas prussianas, todavia, viu-se verdadeiramente extraordinário na história da adormecida rodeada por chamas pavorosas de que
obrigado a deixar Dresden, refugiando-se em Zurique, música ocidental. lhe fala um pássaro da floresta. Junto dela, Siegfried
com o auxílio de Liszt. Apesar das dificuldades, o espera conhecer finalmente o medo. Trata-se de
período de exílio revelou-se fértil do ponto de vista Brünnhilde, a valquíria castigada por Wotan e por este
criativo e intelectual. Concebeu o poema d’O anel do lançada num sono contínuo até que a intrepidez de
Nibelungo (começando pelo fim, pela Morte de um homem lograsse atravessar as chamas que a
Siegfried, posteriormente intitulada O crepúsculo dos separam do mundo, libertando-a do exílio a que se
deuses [Götterdämmerung]) entre 1848 e 1852, encontra condenada (cf. A Valquíria).

12 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 13


Siegfried de relance Siegfried no São Carlos Siegfried in breve composición de la primera ópera de la tetralogía El oro
del Rin (Das Rheingold) en el año siguiente. La
Acto I À semelhança das restantes óperas que constituem El compositor composición de El anillo transcurrirá hasta 1874, no
O anel do Nibelungo, Siegfried estreou-se no Teatro sin interrupciones y un largo intervalo entre 1857 y
Prelúdio
Nacional de São Carlos no âmbito da «temporada A lo contrario de lo que se podría suponer dada la 1869, período durante el cual compuso Tristán e Isolda
Cena 1 alemã» de 1908/1909. A direcção coube então ao inmensa notoriedad obtenida por Wagner aún en vida ([Tristan und Isolde] Múnich, 1865) y Los maestros
«Zwangvolle Plage!» (Mime, Siegfried) maestro Franz Beidler e o papel de Siegfried ao cantor (sin hablar de la persistente influencia póstuma de su cantores de Núremberg ([Die Meistersinger von
A. Pennarini. A ópera viria a ser representada ao longo legado artístico e intelectual), la primera fase de la Nürnberg] Múnich, 1868).
Cena 2 do século XX por mais cinco vezes, nas temporadas de vida del compositor estuvo exenta de la precocidad
«Heil dir, weiser Schmied!» (Viajante [Wotan], 1922/23, 1948/49, 1951/52, 1966/67 e 1981/82. mozartiana o, ateniéndonos al siglo XIX, del esplendor Es también durante el exilio forzado que escribe los
Mime) que caracterizó la infancia y la juventud de ensayos El arte y la revolución (1849), La obra de arte del
compositores como Liszt o Mendelssohn. Nacido el futuro (1849) y Ópera y Drama (1851), textos que, al
Cena3 22 de mayo de 1813, en Leipzig, Richard fue educado igual que Beethoven (1870), constituyen una
«Verfluchtes Licht!» (Mime, Siegfried) por la madre y por el padre adoptivo, el actor judío importante clave para la comprensión de innumerables
Ludwig Geyer. Probablemente bajo la influencia de aspectos de la obra de Wagner, así como brindan una
éste último, con quien mantuvo, por lo que se sabe, cartografía de la evolución de su ideario estético a lo
óptimas relaciones, desde temprana edad se interesó largo de más de dos décadas: desde el entusiasmo
Acto II por la música y por el teatro, habiendo ingresado en revolucionario del final de la década de los 40 hasta al
1822 en Kreuzschule de Dresden. pesimismo conservador y nacionalista de inspiración
Prelúdio
schopenhaueriana de las últimas décadas. El
Cena 1 A pesar de su esfuerzo y entusiasmo (comenzó a descubrimiento del filósofo se dio a través de la lectura
«In Wald und Nacht» (Alberich, Viajante [Wotan], escribir y a componer desde muy joven), Wagner no de su principal obra, El mundo como voluntad y
Fafner) obtuvo, a lo largo de los primeros años de su carrera, representación, en 1854, mientras trabajaba en la
ningún éxito verdaderamente significativo. Esto vino a composición de La Valquiria (Die Walküre) e influenciaría
Cena 2 suceder con el estreno, en octubre de 1842, de Rienzi, la posterior composición del El anillo del Nibelungo
«Wir sind zur Stelle!» (Mime, Siegfried, Fafner, en Dresden, una ópera que el compositor tratara en (Der Ring des Nibelungen), así como, de modo flagrante,
Pássaro da Floresta) vano de estrenar en París. Le continuó, en febrero del la concepción de Tristán e Isolda y de Los maestros
año siguiente, el estreno del El Holandés Errante (Der cantores de Núremberg y, ya en el final de la vida del
Cena 3 fliegende Holländer) que marca un verdadero salto compositor, de Parsifal (Bayreuth, 1882).
«Wohin schleichst du eilig» (Alberich, Mime, cualitativo en la producción wagneriana. El éxito
Siegfried, Pássaro da Floresta) obtenido (sobre todo con Rienzi) en Dresden, así como En la década de 1860, con la amnistía de 1862, y el
el súbito fallecimiento del anterior director musical, le interés creciente de Luis II de Baviera, las dificultades
garantizaron a Wagner el cargo de Hofkapellmeister financieras que tanto habían perturbado la vida del
de la Corte de Sajonia que ocuparía hasta 1848. compositor disminuyen gradualmente. Además de
Acto III También durante el período de Dresden, compuso eso, gracias a la ayuda financiera del monarca bávaro,
Tannhäuser (estrenado en Dresden, en 1845) y comienza a ganar forma el proyecto de construcción
Prelúdio
Lohengrin (que sería representado en 1850, en de un teatro, destinado exclusivamente a la
Cena 1 Weimar, bajo la dirección de Liszt). representación de sus óperas y dramas musicales. El
«Wache, Wala!» (Viajante [Wotan], Erda) Festival de Bayreuth tiene inicio en 1876 con la
La participación creciente de Wagner en la realidad representación del ciclo completo del El anillo del
Cena 2 política de su época, en el contexto de la cual se Nibelungo. En 1882, poco tiempo antes de la muerte
«Dort seh’ich Siegfried nahn» (Viajante [Wotan], acogió a los ideales revolucionarios republicanos, del compositor en Venecia en el año siguiente, será la
Siegfried) preconizando la utopía de un arte capaz de vez del estreno de Parsifal. La idea de un teatro, no
transformar a la sociedad, llevó al compositor a sólo dedicado a la representación exclusiva de las
Interlúdio orquestral
participar de forma activa y entusiasta en los óperas de un compositor, sino además y sobre todo
acontecimientos revolucionarios de 1848. Con el concebido de raíz a la luz de sus concepciones
Cena 3
avance de las tropas prusianas, sin embargo, se vio estéticas, se hace realidad – un caso verdaderamente
Prelúdio obligado a dejar Dresden, refugiándose en Zúrich, con extraordinario en la historia de la música occidental.
«Selige Öde auf wonniger Höh’» (Siegfried, la ayuda de Liszt. A pesar de las dificultades, el
Brünnhilde) período de exilio se reveló fértil desde el punto de vista
creativo e intelectual. Concibió el poema El anillo del
Nibelungo (comenzando por el final, por la Muerte de
Siegfried, posteriormente titulada El crepúsculo de los
dioses) entre 1848 y 1852, lanzándose en la

14 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 15


La obra Aunque Siegfried, al contrario de Siegmund (que fue Siegfried de relance Siegfried en São Carlos
constantemente ayudado por Wotan), sea desde ese
La composición de Siegfried se prolongó a lo largo de punto de vista un auténtico héroe libre, no será por Acto I Al igual que las restantes óperas que constituyen
aproximadamente dos décadas, desde los primeros eso inminente la realización del plan anteriormente El anillo del Nibelungo, Siegfried se estrenó en el Teatro
Preludio
esbozos para el entonces titulado Der junge Siegfried de trazado por Wotan en La Valquiria – recuperar el anillo Nacional de São Carlos en el ámbito de la «temporada
1851 (año en que escribe el poema), hasta la conclusión indirectamente, anticipándose a Alberich que le Escena 1 alemana» de 1908/1909. La dirección estuvo a cargo
de la orquestación en 1871. Es importante destacar, forjara en tiempos (ver El oro del Rin) y con él «Zwangvolle Plage!» (Mime, Siegfried) entonces del maestro Franz Beidler y el papel de
naturalmente, el hiato entre la composición de los Actos adquiriera un poder capaz de rivalizar con el de los Siegfried lo interpretó el cantante A. Pennarini.
I y II (llevada a cabo sobre todo entre 1856/57) y la dioses. El encuentro de Wotan (que parece precipitar Escena 1 La ópera vendría a ser representada a lo largo del siglo
elaboración del Acto III a partir de 1869. La experiencia deliberadamente la decadencia de los dioses) con «Heil dir, weiser Schmied!» (Viajante [Wotan], XX cinco veces más, en las temporadas de 1922/23,
acumulada con la composición de Los maestros cantores Siegfried, en el Acto III de Siegfried, confirma la Mime) 1948/49, 1951/52, 1966/67 y 1981/82.
de Núremberg y Tristán e Isolda no podría dejar de hacerse caducidad del poder divino y anticipa el inminente
sentir. La inevitable y a veces deplorada asimetría crepúsculo de los dioses: la destrucción de la lanza Escena 1
estilística entre los dos bloques está compensada, si así divina por la espada de Siegfried que no reconoce el «Verfluchtes Licht!» (Mime, Siegfried)
se puede decir, por la madurez que atraviesa el Acto III, dios es de esto testigo. Siegfried, que no temiera al
coronando la tercera ópera de la tetralogía. El estreno de aspecto tenebroso del dragón, ni a la terrible lanza de
Siegfried tuvo lugar en Bayreuth, tal como Wagner Wotan, conoce ahora el miedo ante el cuerpo
deseaba, el 16 de agosto de 1876, en el contexto de la adormecido de Brünnhilde. Es la inminencia del amor Acto II
presentación íntegra de El anillo del Nibelungo. que lo enseña. El destino de ambos, sin embargo se
Preludio
decidirá en la última jornada, El crepúsculo de los
En esta segunda jornada de la saga de El anillo del dioses. Escena 1
Nibelungo, presenciamos finalmente la aparición de «In Wald und Nacht» (Alberich, Viajero [Wotan],
Siegfried – el héroe libre capaz de arrebatar el anillo al Fafner)
gigante Fafner que lo guarda hace algunas generaciones
en una cueva transformado en un dragón. Educado por Escena 2
Mime (hermano de Alberich) tras la muerte prematura «Wir sind zur Stelle!» (Mime, Siegfried, Fafner,
del padre (Siegmund) y de la madre (Sieglinde), Pájaro del Bosque)
Siegfried desconfía obstinadamente de la pretendida
paternidad de Mime. Sólo por la fuerza es capaz de Escena 3
arrancarle al enano la historia de su verdadero origen. «Wohin schleichst du eilig» (Alberich, Mime,
Viéndose libre, Siegfried desea más que nunca partir. Siegfried, Pájaro del Bosque)
Sin embargo, no lo hará sin antes refundir los pedazos
de Nothung, la espada de su padre (Siegmund),
destruida por Wotan durante el combate con Hunding
(ver la Valquiria), y, con ella, enfrentar al dragón Fafner. Acto III
Siegfried espera así conocer el miedo – sentimiento de
Preludio
que le habla Mime, con la esperanza de evitar que
Siegfried se apodere del anillo guardado por Fafner, Escena 1
antes de él mismo. Ya en el Acto II, tras el victorioso «Wache, Wala!» (Viajero [Wotan], Erda)
combate con el dragón, Siegfried es advertido por éste
sobre las intenciones maléficas de Mime. Habiendo Escena 2
probado involuntariamente la sangre del dragón, «Dort seh’ich Siegfried nahn» (Viajero [Wotan],
Siegfried es ahora capaz de leer los pensamientos y Siegfried)
descifrar el lenguaje de los animales. Se da cuenta así
Interludio orquestal
sin ambigüedades de las intenciones de Mime y lo
mata. Parte entonces en busca de la mujer adormecida
Escena 3
rodeada por llamas pavorosas de que le habla un pájaro
del bosque. Con ella, Siegfried espera conocer Preludio
finalmente el miedo. Se trata de Brünnhilde, la valquiria «Selige Öde auf wonniger Höh’» (Siegfried,
castigada por Wotan y por éste lanzada a un sueño Brünnhilde)
perpetuo hasta que la intrepidez de un hombre lograse
atravesar las llamas que la separan del mundo,
liberándola del exilio a que se encuentra condenada (ver
la Valquiria).

16 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 17


Siegfried in breve composing the first opera of the trilogy The Rhinegold The work Although Siegfried, in contrast to Siegmund (who was
in the following year. The composing of The Ring constantly helped by Wotan), is from this point of view
The composer was to last up to 1874, not without interruptions and The writing of Siegfried extended over approximately a truly free hero, this does not imply the imminent
with a long interval between 1857 and 1869, the two decades, from the first drafts to the then entitled success of the plan previously conceived by Wotan in
In contrast to what might be expected in view of the period during which he composed Tristan and Isolde Der junge Siegfried (The young Siegfried) of 1851 (the The Valkyrie – to reclaim the ring indirectly, doing it
enormous fame achieved by Wagner already in his ([Tristan und Isolde] Munich 1865) and The year in which he wrote the poem), until the conclusion earlier than Alberich who had forged it long ago
lifetime (not to mention the continued posthumous Mastersingers of Nuremberg ([Die Meistersinger von of the orchestration in 1871. Obviously, it is important (cf. The Rhinegold) and with which he acquired power
influence of his artistic and intellectual legacy), the Nürnberg] Munich 1868). to underline the hiatus between the composing of Acts able to rival the gods. The encounter of Wotan (who
first phase of the life of the composer had none of the I and II (mainly occurring between 1856/57) and the appears to deliberately provoke the decline of the
precocity of Mozart or, in the nineteenth century, of It was also during his forced exile that he wrote the eventual creation of Act III after 1869. The experience gods) with Siegfried, in Act III of Siegfried, confirms
the brilliance which characterised the childhood and essays Art and revolution (1849), The art work of the accumulated with the composing of The Mastersingers the coming end of divine power and leads to the
youth of composers such as Liszt or Mendelssohn. future (1849) and Opera and Drama (1851), texts of Nuremberg and Tristan and Isolde could not but be imminent twilight of the gods: evidenced by the
Born on 22nd May 1813, in Leipzig, Richard was raised which, together with Beethoven (1870), constitute an felt. The inevitable and sometimes deplored stylistic destruction of the divine spear by the sword of
by his mother and adoptive father, the Jewish actor important key to understanding innumerable aspects asymmetry between the two blocks is compensated, if Siegfried who does not recognise the god. Siegfried,
Ludwig Geyer. Probably under the influence of the of the work of Wagner, as well as providing a map of we could call it so, by the maturity running through who had feared neither the horrendous figure of the
latter, with whom, as far as is known, he maintained the evolution of his aesthetic ideology over more than Act III, crowning the third opera of the tetralogy. dragon, nor Wotan’s terrible spear, now knows fear
excellent relations, he developed an interest in music two decades: from the revolutionary fervour of Siegfried was first performed in Bayreuth, just as through the sleeping body of Brünnhilde. It is the
and the theatre at an early age, entering the the end of the 1840s to the conservative and Wagner desired, on 16 August 1876, with the full imminence of love which teaches this to him. The
Kreuzschule of Dresden in 1822. nationalist pessimism inspired by Schopenhauer of performance of The Ring of the Nibelung. destiny of both, however, is played out in the last
the last decades. Wagner had discovered this journey, Twilight of the Gods.
In spite of his efforts and enthusiasm (he began philosopher through reading his most important work, On this second journey day of The Ring of the Nibelung
writing and composing when he was very young), The world as will and representation, in 1854, while he saga, we finally witness the appearance of Siegfried –
during the first few years of his career Wagner did not worked on composing The Valkyrie and which was to the hero able to wrench the ring from the clutches of
obtain any really notable success. This only occurred influence the subsequent composition of The Ring of the giant Fafner who, under the form of a dragon, has
with the first performance, in October of 1842, of the Nibelung, as well as, in a flagrant manner, the held it for some generations in a cavern. Raised by
Rienzi, in Dresden, an opera which the composer creation of Tristan and Isolde and The Mastersingers of Mime (brother of Alberich) after the premature deaths
unsuccessfully tried to perform in Paris. This was Nuremberg and, at the end of the composer’s life, of his father (Siegmund) and mother (Sieglinde),
followed, in February of the next year, by the first Parsifal (Bayreuth, 1882). Siegfried stubbornly suspects Mime’s claims to
performance of The Flying Dutchman (Der fliegende paternity. Only through the use of force can he prise
Holländer) which was to mark a real qualitative leap in In the 1860s, with the amnesty of 1862, and the from the dwarf the true account of his origins.
Wagnerian production. The success obtained (above growing interest of Ludwig II of Bavaria, the financial Knowing himself to be free, Siegfried desires nothing
all of Rienzi) in Dresden, as well as the sudden difficulties which had so plagued the life of the more than to leave. However, this he will not do before
death of the former musical director, guaranteed composer were gradually diminished. Furthermore, forging the shards of Nothung, the sword of his father
Wagner the position of Hofkapellmeister of the Court thanks to the financial support provided by the (Siegmund), destroyed by Wotan during the combat
of Saxony which he held until 1848. During the Bavarian monarch, progress started on the project to with Hunding (cf. The Valkyrie), and, with it,
Dresden period he also composed Tannhäuser (whose construct a theatre, destined exclusively for the confronting the dragon Fafner. Siegfried thus hopes to
first performance was in Dresden in 1845) and performance of his operas and musical dramas. The know fear – a feeling which Mime has spoken to him
Lohengrin (which would be performed in 1850, in Bayreuth Festival began in 1876 with the performance about, in his desire to avoid Siegfried seizing the ring
Weimar, under the direction of Liszt). of the complete cycle of The Ring of the Nibelung. held by Fafner, before Mime does so himself. In Act II,
In 1882, shortly before the composer’s death in Venice after the victorious combat with the dragon, Siegfried
Wagner’s growing involvement in the contemporary the following year, would be the premiere of Parsifal. is warned by the dragon on the evil intentions of
political reality, in the context of which he embraced The idea of a theatre, not only devoted exclusively to Mime. Having unwittingly tasted the blood of the
republican revolutionary ideas, proclaiming the utopia the performance of the operas of a composer, but also dragon, Siegfried is now able to read the thoughts of
of an ideal art able to transform society, led the and above all, designed entirely based on his aesthetic others and decipher the language of the animals. He
composer to actively and enthusiastically participate conceptions, became a reality – a truly extraordinary thus becomes fully aware of the intentions of Mime
in the revolutionary events of 1848. However, when the case in the history of Western music. and slays him. He then leaves in search of the sleeping
Prussian troops advanced, he was forced to flee from woman surrounded by terrible flames spoken of by a
Dresden, finding refuge in Zurich, with the help of woodbird. At her side, Siegfried hopes to finally know
Liszt. In spite of the difficulties, the period of exile fear. This woman is Brünnhilde, the Valkyrie punished
proved to be fertile from a creative and intellectual by Wotan who cast her into a deep sleep until the
perspective. He created the poem The Ring of the appearance of a man intrepid enough to cross the
Nibelung (beginning at the end, with Siegfried’s Death, flames separating her from the world, releasing her
subsequently entitled Twilight of the Gods) between from the exile to which she had been condemned (cf.
1848 and 1852, and worked enthusiastically on The Valkyrie).

18 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 19


Siegfried at a glance Siegfried in São Carlos Siegfried in breve Siegfried, qu’il intitulera plus tard Le Crépuscule des
dieux – et se lance dans la composition du premier
Act I As with the other operas comprising The Ring of the Le compositeur opéra de la tétralogie L’Or du Rhin dès l’année
Nibelung, Siegfried was first performed at the National suivante. La composition de l’Anneau se poursuit
Prelude
Theatre of São Carlos in the «German season» of À l’inverse de ce que pourrait suggérer l’immense jusqu’en 1874, non sans quelques interruptions,
Scene 1 1908/1909. It was conducted by the maestro Franz notoriété de Wagner de son vivant (sans parler de parmi lesquelles le long arrêt de 1857 à 1869,
«Zwangvolle Plage!» (Mime, Siegfried) Beidler and the role of Siegfried was performed by l’influence posthume marquante de son legs pendant lequel il compose Tristan et Isolde ([Tristan und
the singer A. Pennarini. The opera was then performed artistique et intellectuel), la première partie de la vie Isolde] Munich, 1865) et Les Maîtres Chanteurs de
Scene 2 on five more occasions over the twentieth century, du compositeur ne fut marquée d’aucune précocité Nuremberg ([Die Meistersinger von Nürnberg] Munich,
«Heil dir, weiser Schmied!» (Wanderer [Wotan], in the seasons of 1922/23, 1948/49, 1951/52, mozartienne ou, pour nous limiter au XIXème siècle, 1868).
Mime) 1966/67 and 1981/82. d’aucune virtuosité du genre de celle qui a pu
caractériser l’enfance et la jeunesse de compositeurs C’est également pendant son exil forcé qu’il rédige ses
Scene 3 tels que Liszt ou Mendelsohnn. Né le 22 mai 1813 à essais L’Art et la révolution (1849), L’Oeuvre d’art de
«Verfluchtes Licht!» (Mime, Siegfried) Leipzig, Richard est éduqué par sa mère et par son l’avenir (1849) et Opéra et drame (1851), textes dans
père adoptif, l’acteur juif Ludwig Geyer. C’est lesquels, avec Beethoven (1870), sont reprises les
probablement sous l’influence de ce dernier, avec qui principales clefs qui permettent de comprendre les
– pour autant qu’on le sache – il entretiendra toujours innombrables facettes de l’œuvre de Wagner et qui
Act II d’excellentes relations, qu’il s’intéresse très tôt à la donnent un véritable plan de l’évolution de son idéal
musique et au théâtre. En 1822, il est admis à la esthétique au cours des deux décennies suivantes,
Prelude
Kreuzschule de Dresde. de son enthousiasme révolutionnaire de la fin des
Scene 1 années 40 jusqu’au pessimisme conservateur et
«In Wald und Nacht» (Alberich, Wanderer [Wotan], Wagner commence à écrire et à composer très tôt nationaliste, qu’il va puiser chez Schopenhauer,
Fafner) mais en dépit de ses efforts et de son enthousiasme, des dernières années. Il découvre ce philosophe
il n’obtient, durant les premières années de sa par sa principale œuvre Le Monde comme volonté et
Scene 2 carrière, aucun succès véritablement marquant. Cela comme représentation, en 1854, alors qu’il travaillait
«Wir sind zur Stelle!» (Mime, Siegfried, Fafner, devait toutefois changer en octobre 1842, avec la à la composition de La Walkyrie (Die Walküre). La
Woodbird) première de Rienzi à Dresde, un opéra que le composition de L’Anneau du Nibelungen (Der Ring des
compositeur avait en vain tenté de créer à Paris. En Nibelungen) en sera aussi influencée, ainsi que, de
Scene 3 février de l’année suivante, la première du Vaisseau manière flagrante, la conception de Tristan et Isolde,
«Wohin schleichst du eilig» (Alberich, Mime, Fantôme (Der fliegende Holländer) montre le progrès des Maîtres Chanteurs de Nuremberg et, à la fin de sa
Siegfried, Woodbird) qualitatif notoire qui est survenu dans l’œuvre vie, de Parsifal (Bayreuth, 1882).
wagnérien. Le succès qu’il recueille à Dresde,
principalement grâce à Rienzi – ainsi que le décès Dans les années 1860, avec l’amnistie de 1862 et
inattendu du directeur musical précédent – grâce à l’intérêt croissant manifesté à son égard par
Act III permettent à Wagner d’accéder au poste de Louis II de Bavière, les difficultés financières qui
Hofkapellmeister à la cour de Saxe, fonction qu’il avaient tant troublé l’existence du compositeur se font
Prelude
occupera jusqu’en 1848. Alors qu’il est encore à moins sentir. Il affecte la manne du monarque
Scene 1 Dresde, il compose Tannhäuser, qui est crée à Dresde bavarois au projet de se faire construire un théâtre qui
«Wache, Wala!» (Wanderer [Wotan], Erda) en 1845, et Lohengrin, œuvre que Liszt dirigera en sera exclusivement destiné à représenter ses opéras et
1850 à Weimar. ses drames musicaux. Le Festival de Bayreuth naît
Scene 2 ainsi en 1876, avec la représentation du cycle complet
«Dort seh’ich Siegfried nahn» (Wanderer [Wotan], Wagner s’engage alors de manière croissante dans les de L’Anneau du Nibelungen. En 1882, soit un an avant
Siegfried) évènements politiques de son époque. Il embrasse que le compositeur ne meure à Venise, Parsifal y sera
ainsi les idéaux républicains de la révolution et se bat aussi créé. La construction de ce théâtre constitue un
Orchestral Interlude
en faveur de l’utopie d’un art qui serait en mesure de cas remarquable tout à fait à part dans l’histoire de la
transformer la société. Il participe également, de musique occidentale, puisque l’édifice est non
Scene 3
manière aussi active qu’enthousiaste, aux évènements seulement voué à la représentation exclusive des
Prelude révolutionnaires de 1848. Face à l’avancée des œuvres de Wagner, mais surtout parce qu’il a été
«Selige Öde auf wonniger Höh’» (Siegfried, troupes prussiennes, il doit cependant abandonner intégralement conçu d’après les conceptions
Brünnhilde) Dresde et se réfugie à Zurich avec l’aide de Liszt. artistiques du compositeur.
Malgré les difficultés de l’exil, cette période se révèle
fructueuse au plan créatif et intellectuel. Entre 1848
et 1852, il écrit le poème L’Anneau du Nibelungen – un
texte qu’il commence par la fin avec La mort de

20 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 21


L’œuvre Wotan et que celui-ci a plongée dans un sommeil qui Siegfried d’un coup d’oeil Siegfried au São Carlos
se prolongera jusqu’à ce qu’un homme intrépide ose
La composition de Siegfried a demandé à Wagner traverser les flammes qui la séparent du monde, en la Acte I Tout comme les autres opéras qui constituent
environ une vingtaine d’années de travail, entre les libérant ainsi de l’exil auquel elle est condamnée (cfr, L’Anneau du Nibelungen, Siegfried a été représenté
Prélude
premières ébauches de ce qui s’intitulait alors Der La Walkyrie). pour la première fois au Théâtre national São Carlos
junge Siegfried (Le Jeune Siegfried) de 1851 (année de Scène 1 dans le cadre de la « saison allemande » de
la rédaction du poème) et l’achèvement de la Bien que Siegfried, à l’inverse de Siegmund qui a en «Zwangvolle Plage!» (Mime, Siegfried) 1908/1909. L’orchestre fut alors dirigé par Franz
composition en 1871. Il faut cependant tenir compte permanence reçu l’aide de Wotan, soit de ce point de Beilder et le rôle de Siegfried fut incarné par
du temps d’arrêt qui a séparé la composition des vue un héros authentiquement libre, la réalisation du Scène 2 A. Pennarini. Au cours du XXème siècle, l’œuvre a été
Actes I et II (menée principalement en 1856/57) et plan que Wotan avait auparavant ourdi dans La «Heil dir, weiser Schmied!» le Voyageur [Wotan], représentée pas moins de cinq fois au cours des
l’élaboration, après 1869, de l’Acte III qui a bénéficié Walkyrie n’en sera pas imminente pour autant, à savoir Mime) saisons 1922/23, 1948/49, 1951/52, 1966/67
de l’expérience qu’il avait acquise au cours de la récupérer l’anneau par personne interposée – en et 1981/82.
composition des Maîtres Chanteurs de Nuremberg et de prenant de vitesse Alberich qui l’avait autrefois forgé Scène 3
Tristan et Isolde. Il en résulta inévitablement – certains (Cfr, L’Or du Rhin) – et acquérir le pouvoir qui lui «Verfluchtes Licht!» (Mime, Siegfried)
le déploreront – une asymétrie de style entre les deux permettra de se poser en rival des dieux. La rencontre,
blocs, que compense toutefois, d’une certaine à l’Acte III de Siegfried, entre Wotan (qui hâte à
manière, la maturité immanente de l’Acte III, véritable dessein le déclin des dieux) et Siegfried, confirme la
couronnement du troisième opéra de la Tétralogie. La caducité du pouvoir divin et annonce l’imminence du Acte II
première représentation de Siegfried eut lieu à crépuscule des dieux : Siegfried, de son épée, brise la
Prélude
Bayreuth, selon le souhait de Wagner, le 16 août 1876, lance divine, refuse de reconnaître le dieu et s’en
dans le cadre de la représentation intégrale de glorifie. Siegfried, qui n’a tremblé ni devant l’aspect Scène 1
L’Anneau du Nibelungen. effrayant du dragon ni face à la terrible lance de «In Wald und Nacht» (Alberich, le Voyageur
Wotan, fait finalement l’expérience de la peur lorsqu’il [Wotan], Fafner)
se retrouve devant le corps endormi de Brünnhilde. Tel
Deuxième jour de la saga de L’Anneau du Nibelungen. est l’enseignement de la confrontation avec l’amour. Scène 2
Siegfried apparaît finalement, héros libre capable de Le destin des deux jeunes se jouera cependant lors de «Wir sind zur Stelle!» (Mime, Siegfried, Fafner,
reprendre l’anneau au géant Fafner qui, transformé en l’ultime volet, Le Crépuscule des dieux. l’Oiseau de la Forêt)
dragon, le détient depuis plusieurs générations dans
sa caverne. Éduqué par Mime (frère d’Alberich) après Scène 3
le décès prématuré de son père (Siegmund) et de sa «Wohin schleichst du eilig» (Alberich, Mime,
mère (Sieglinde), Siegfried a toujours douté de la Siegfried, l’Oiseau de la Forêt)
prétendue paternité de Mime. Faisant usage de la
force, il oblige le nain à lui révéler la véritable histoire
de ses origines. Se sachant libre, Siegfried est, plus
que jamais, résolu de s’en aller. Avant de partir, il Acte III
parvient à reforger les morceaux brisés de Nothung,
Prélude
l’épée de son père (Siegmund), qui avait été brisée par
Wotan, lors de son combat contre Hunding (cfr, La Scène 1
Walkyrie). Grâce à cette arme, Siegfried peut affronter «Wache, Wala!» (le Voyageur [Wotan], Erda)
le dragon Fafner dans l’espoir de connaître la peur,
sentiment qu’il ignore et dont Mime lui parle Scène 2
précisément pour empêcher celui-ci de s’emparer «Dort seh’ich Siegfried nahn» (le Voyageur
avant lui de l’anneau détenu par le dragon. Après son [Wotan], Siegfried)
combat victorieux contre le dragon, déjà à l’Acte II, ce
Interlude orchestral
dernier met Siegfried en garde contre les intentions
maléfiques de Mime. Ayant porté involontairement
Scène 3
un peu du sang du dragon à sa bouche, Siegfried
acquiert le pouvoir de lire les pensées et de Prélude
comprendre le langage des animaux. Il découvre ainsi «Selige Öde auf wonniger Höh’» (Siegfried,
la fourberie de Mime, qu’il tue. Il part ensuite en quête Brünnhilde)
de la femme endormie cernée de flammes terrifiantes
dont lui parle l’Oiseau de la forêt. Une fois aux côtés
de celle-ci, Siegfried espère enfin pouvoir connaître la
peur. Il s’agit de Brünnhilde, la Walkyrie châtiée par

22 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 23


DAS RHEINGOLD Só aquele que renunciar ao amor
alcançará o poder de transformar
em anel o ouro.
Nasceu um dia sombrio para os deuses.
Aconselho-te: separa-te do anel!
Gigantes, recebam
o vosso anel!

Maio/Junho 2006

Vou roubar o ouro e forjar


o anel que me vingará!
Assim eu amaldiçoo o amor!

Freia pertence-nos. Até se encontrar


pronto para a troca o ouro do Reno!

Vem a mim, Freia! Estás salva.


Que a juventude, que agora Fafner mata Fasolt
pago, para nós volte de novo! de um só golpe.
Procura agora
o olhar de Freia!
No anel já não
tocas mais!

O elmo serve-me. Fizeste bem o teu trabalho! A Alberich estão


submetidos para todo o sempre! O senhor dos nibelungos!

Irmã! Irmãos!
Salvem-me! Acudam-me!

Assim seja
amaldiçoado este anel!
Ousas tu, ladrão, O senhor do anel será
acusar-me de fazer o que o escravo do anel! Fafner termina de arrebanhar o tesouro. Os deuses estão
gostarias de ter feito? horrorizados. Wotan apercebe-se da terrível força da maldição.

Precipitam-se para o seu fim,


Os que crêem a sua vida tão segura!

Agora possuo, o que me


tornará o mais poderoso Assim te saúdo, ó castelo,
entre os poderosos! Onde não cabem o medo e o terror!
Desposava contrariada Hunding. Um desconhecido, com um chapéu Contra aquele que tu me Seguir-me-ás até ao
DIE WALKÜRE escondendo-lhe um dos olhos, cravou uma espada no tronco do freixo.
A lâmina obedeceria àquele que a conseguisse arrancar.
ensinaste a amar, nunca me farão
marchar as tuas ordens dúbias!
Valhalla. Aquele que fez
a espada para ti, agora
promete-te a morte.
Fevereiro/Março 2007

Os meus inimigos em matilha


perseguiram-me até à exaustão.

Revoltas-te contra mim? Que


morra Siegmund – que seja
essa a tarefa da valquíria!

Virgem cruel! Se tenho de Duas vidas aqui te


Dou-te guarida por esta noite,
morrer, levarei comigo a mais riem: leva-as, Notung,
mas amanhã pagar-me-ás os Onde Sieglinde viver, quer
triste de todas as esposas! lâmina odiada!
mortos que fizeste. Siegmund viver. Não te seguirei!

A própria irmã Que Brünnhilde se precipite Que se parta a espada


conquistaste para o combate para dar a de Siegmund!
juntamente com vitória ao Wälsung!
a espada!

Que Sieglinde viva –


e com ela Siegmund!
Vou inverter a sorte
da batalha.

Wotan, apoiado na sua lança, olha dolorosamente para


o cadáver de Siegmund. Com um gesto de desprezo da
sua mão, Hunding cai morto por terra.
Para o irmão
és esposa e irmã,
assim há-de
florescer o sangue
de Wälse! Vem aí Fricka, a tua esposa,
irada para a disputa.

Mulher, aqui vês Siegmund,


Leva a minha palavra!
filho de Wälse! Como dote Brünnhilde!
traz-te esta espada! Notung! Que a atrevida seja Depressa! A cavalo
punida, quando o para eu te salvar!
meu cavalo a
alcançar!
Hunding pediu-me vingança.
Prometi punir o casal pecaminoso.

Necessitamos
de um herói
que consiga o
feito essencial
para os deuses.

A honra sagrada da tua eterna O Pai dos exércitos está à tua


esposa seja hoje protegida. O espera! Ele que te informe de qual
Wälsung morrerá em minha honra! vai ser a escolha do destino!
A lança de Wotan vingou o Deves viver, mulher, Ao secundares os Não me fales mais dos
que tanto ultrajava Fricka. no teu seio trazes um pensamentos de Wälsung! Separei-me de ti,
Wälsung! Fricka tornaste-te o separei-me deles.
teu próprio inimigo.

Deixa-me dar o nome àquele


que há-de reforjar e brandir a
espada: «Siegfried», o vitorioso! O herói supremo –
eu bem o sei –
será descendente dos
Desrespeitou Brünnhilde Wälsungen.
as ordens sagradas do
Pai dos exércitos?

Tu que eu amo,
Ouve apenas a que para ti se
Protejam-me, irmãs! súplica que um ateie um fogo
supremo terror nupcial como
me inspira! nunca uma noiva
Ousam vocês esconder-me
Protege a o teve!
a malvada?
adormecida de
modo a que só
um herói me
possa encontrar
neste rochedo!

O bosque é uma boa


defesa contra a ira de
Wotan. Foi para lá que
Fafner, sob a forma
de um dragão, levou o
tesouro dos nibelungos.

Meu pai: ordena Aquela de vós que me


o meu castigo! desafiar há-de partilhar o
O Deus te abandona,
mesmo castigo. Cavalguem
assim com um beijo te
para bem longe!
retira a divindade!

Já não és a filha
dos meus desejos, Loge! Ergue-te, chama dançante, envolve, ardendo
deixaste de ser este rochedo! Aquele que temer a minha lança, que
Valquíria. nunca tente atravessar este fogo!
Preâmbulo Preâmbulo Preamble Préambule

Decidido a tornar-se mestre do Universo, o deus Decidido a convertirse en el maestro del Universo, el Having decided to become master of the Universe, the Ayant décidé de s’emparer de l’univers, le dieu
germânico Wotan corrompe as leis da Natureza. Bebe dios germánico Wotan corrompe las leyes de la Germanic god Wotan corrupts the laws of Nature. He germanique Wotan corrompt les lois de la Nature. Il
da fonte da sabedoria e talha as suas próprias leis naturaleza. Bebe de la fuente de la sabiduría y talla drinks from the fountain of wisdom and carves his boit à la source de la sagesse et forge ses propres lois
numa lança feita da madeira da árvore universal. sus propias leyes en una lanza hecha con la madera own laws on a spear made of the wood of the qu’il place sur une lance faite du bois de l’arbre
Assiste-se então ao princípio do declínio: seca a fonte del árbol universal. Se presencia entonces el principio universal tree. This is when the beginning of decline universel. Commence alors le déclin : la source tarit et
da sabedoria e fenecem as folhas da árvore universal. de la decadencia: se seca la fuente de la sabiduría y occurs: the drying up of the fountain of knowledge les feuilles de l’arbre universel dépérissent.
fenecen las hojas del árbol universal. and the wilting of the leaves of the universal tree.

Das Rheingold Das Rheingold Das Rheingold Das Rheingold

O ouro do Reno dará todo o poder a quem dele fizer El oro del Rin dará todo el poder a quien con él haga un The Rhine gold will provide all powers to whoever L’or du Rhin donnera le pouvoir absolu à celui qui en
um anel e renunciar ao amor. anillo y renuncie al amor, por lo que el nibelungo forges a ring from it and renounces love. fera un anneau et renoncera à l’amour.
O nibelungo Alberich rouba o ouro, renega o amor e Alberich roba el oro, reniega del amor y hace el anillo. The Nibelung Alberich steals the gold, forswears love Alberich, le Nibelung, dérobe l’or, maudit l’amour et
faz o anel. Wotan, rey de los dioses, tiene que entregar a Freia and forges a ring. forge l’anneau.
Wotan, rei dos deuses, tem que entregar Freia (irmã (hermana de su mujer, Fricka) a los gigantes por que Wotan, king of the gods, must reward the giants who Wotan, roi des dieux, doit livrer Freia (sœur de Fricka)
de sua mulher, Fricka) aos gigantes por lhe terem éstos le han construido un castillo. Sin embargo, sin built the castle, with Freia. However, without Freia, aux géants qui lui ont bâti un palais. Cependant, sans
construído um castelo. Mas sem Freia, deusa da Freia, diosa de la juventud, el resto de los dioses goddess of Youth (Fricka’s sister), the other gods Freia, déesse de la Jeunesse, les dieux périront.
Juventude, os outros deuses perecerão. perecerá. will perish. Wotan maîtrise Alberich et récupère l’anneau, ainsi
Wotan domina Alberich e subtrai-lhe o anel, um elmo Wotan domina a Alberich y obtiene de él el anillo y un Wotan overcomes Alberich and seizes the ring, a que le heaume magique et l’or. Avant de disparaître,
mágico e o ouro. Alberich desaparece não sem antes yelmo mágico. Alberich desaparece pero antes lanza magic helmet and the gold from him. Before he Alberich lance une malédiction sur quiconque
amaldiçoar todos os que cobiçarem e possuírem o una maldición a todos los que codicien y posean el disappears, Alberich curses all those who will ever convoite et possède l’anneau. Erda, prophétesse et
anel. Erda, profetisa e deusa da terra, deixa a Wotan o anillo. Erda, profeta y diosa de la tierra, le advierte a covet and possess the ring. Erda, prophetess and god déesse de la terre, laisse à Wotan le présage du déclin
prenúncio do declínio dos deuses caso ele não se Wotan del presagio de la decadencia de los dioses en el of the earth, predicts the decline of the gods if he des dieux s’il ne renonce pas à l’anneau. Afin de
desfaça do anel. caso que él no se deshaga del anillo. doesn’t give up the ring. To free Freia Wotan délivrer Freia, c’est un Wotan contrarié qui remet aux
Em troca da liberdade de Freia, Wotan entrega A cambio de la libertad de Freia, Wotan entrega reluctantly delivers the ring, the gold and the magic géants l’anneau, l’or et le heaume magique. Les
relutantemente o anel, o ouro e o elmo mágico aos reluctantemente el anillo, el oro y el yelmo mágico a los helmet to the giants. They will be the first victims of géants seront les premières victimes de la malédiction
gigantes. Estes serão as primeiras vítimas da gigantes. Éstos serán las primeras víctimas de la Alberich’s curse: hunger for power leads the giant d’Alberich : poussée par l’ambition du pouvoir, Fafner
maldição de Alberich: movido pela ambição do poder, maldición de Alberich: motivado por la ambición del Fafner to slaughter his brother Fasolt. The ring and tue son frère, Fasolt. L’anneau, l’or et le heaume se
Fafner mata o irmão Fasolt e fica com o anel, o elmo poder, Fafner mata al hermano Fasolt y se queda con el the helmet remain under Fafner’s power. retrouvent alors entre les mains de Fafner.
e o tesouro em seu poder. anillo, el yelmo y el tesoro. The gods enter the castle, known as Walhall. Les dieux entrent au palais, appelé Walhall.
Os deuses entram no castelo, cujo nome é Valhala. Los dioses entran en el castillo, cuyo nombre es Walhalla.

Die Walküre Die Walküre Die Walküre Die Walküre

Obcecado em recuperar o poder perdido, Wotan Obcecado por recuperar el poder perdido, Wotan Obsessed with recovering his lost power, Wotan Hanté par la perte de son pouvoir, qu’il veut récupérer,
concebe nove filhas com Erda, deusa da terra e da concibe nueve hijas con Erda, diosa de la tierra y de la conceives nine daughters with Erda, goddess of the Wotan conçoit neuf filles avec Erda, déesse de la terre
sabedoria, de entre as quais Brünnhilde merece a sua sabiduría, de entre las cuales Brünnhilde merece su earth and wisdom, amongst whom Brünnhilde is his et de la sagesse. Brünnhilde est sa préférée. Les neufs
predilecção. As nove valquírias, virgens e intrépidas predilección. Las nueve valquirias, vírgenes e intrépidas favourite. The nine Valkyries, virgins and intrepid Walkyries, guerrières vierges et intrépides reçoivent la
guerreiras, têm por missão formar um exército com os guerreras, tienen como misión formar un ejército con warriors, whose mission is to form an army of the mission de constituer une armée en rassemblant les
heróis caídos no campo de batalha que protegerá os las almas de los héroes caídos en el campo de batalla souls of heroes fallen in battlefields to protect the héros tombés au champ de bataille, afin d’empêcher
deuses do declínio vaticinado por Erda. Wotan não que protegerá a los dioses de la decadencia vaticinada gods from the decline predicted by Erda. Wotan does le déclin prédit par Erda. Wotan n’oublie pas non plus
esquece um outro aviso de Erda: a continuação da por Erda. Wotan no se olvida de otro aviso de Erda: la not forget another warning delivered by Erda: the qu’Erda l’a mis en garde contre la perpétuation de la
linhagem de Alberich, o seu eterno rival na luta pela continuación del linaje de Alberich, su eterno rival en la continuation of Alberich’s lineage, his eternal rival in lignée d’Albérich, son éternel rival dans la lutte pour
conquista do anel. lucha por la conquista del anillo. the fight for the conquest of the ring. la conquête de l’anneau.
Atraiçoando de novo Fricka, Wotan cria a linhagem dos Traicionando de nuevo a Fricka, Wotan crea el linaje de Once again betraying Fricka, Wotan fathers the lineage Trahissant à nouveau Fricka, Wotan donne naissance à
Wälsungen gerando dois gémeos, Siegmund e los Wälsungen generando dos gemelos, Siegmund y of the Wälsung begetting twins, Siegmund and la lignée des Wälsungen en concevant, avec une
Sieglinde, com uma mortal. Separados à nascença, Sieglinde, con una mortal. Separados al nacer, sólo Sieglinde, with a mortal. Separated at birth, only mortelle, les deux jumeaux Siegmund et Sieglinde.
apenas Siegmund convive com Wälse, aliás Wotan, Siegmund convive con Wälse, alias Wotan, cazando en Siegmund lives with Wälse, who is in fact Wotan, Séparés à la naissance, seul Siegmund connaît Wälse,
caçando na floresta. Wotan promete ao jovem el bosque. Wotan le promete al joven Siegmund que hunting in the forest. Wotan promises the young en fait Wotan, qui chasse avec lui dans la forêt. Wotan

30 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 31


Siegmund a descoberta de uma espada capaz de o encontraría una espada capaz de salvarlo en tiempos Siegmund that he will find a sword able to save him in promet au jeune Siegmund de lui faire découvrir une
salvar em tempos de aflição. Separados pelos seus de aflicción. Separados por sus enemigos, padre e hijo times of difficulty. Separated by their enemies, father épée qui pourra le sauver lors des temps difficiles.
inimigos, pai e filho seguem caminhos diferentes. siguen caminos diferentes. Wotan, disfrazado de and son follow different paths. Wotan, disguised as a Ayant été séparés par leurs ennemis, les chemins du
Wotan, disfarçado de viajante, surge no dia da boda de viajero, aparece en el día de la boda de Sieglinde con wanderer, appears on the wedding day of Sieglinde with père et du fils se séparent. Wotan se déguise en
Sieglinde com o guerreiro Hunding e crava no tronco el guerrero Hunding y clava en el tronco del fresno a the warrior Hunding and hurls Nothung, the sword, into voyageur et reparaît lors du mariage de Sieglinde et du
do freixo, Notung, a espada que predestina a Nothung, la espada que predestina a Siegmund, el the trunk of an ash tree, where it becomes embedded. guerrier Hunding. Il plante dans le tronc d’un frêne
Siegmund, o único herói capaz de o salvar quando se único héroe capaz de salvarlo cuando se aproxime la Nothung is the sword which he predestined to l’épée Nothung, qu’il destine à Siegmund, le seul
aproximar o profetizado declínio dos deuses. profetizada decadencia de los dioses. Siegmund, the only hero able to save him when the héros qui pourra le sauver lorsque la prophétie du
prophecy of the decline of the gods draws close. déclin des dieux sera proche.
Em fuga dos seus inimigos, Siegmund é acolhido por En fuga de sus enemigos, Siegmund es acogido por
Sieglinde mas encontra em Hunding um novo inimigo Sieglinde, pero encuentra en Hunding a un nuevo Fleeing from his enemies, Siegmund is offered the Fuyant ses ennemis, Siegmund est accueilli par
da raça dos Wälsung. Ao ouvir de Sieglinde a história enemigo de la raza de los Wälsung. Al oír de Sieglinde hospitality of Sieglinde but finds in Hunding a new Sieglinde mais trouve en la personne de Hunding un
da passagem do viajante (Wotan) no dia da sua boda, la historia del paso del viajero (Wotan) en el día de su enemy of the Wälsung race. Upon hearing Sieglinde nouvel ennemi de la race des Wälsung. Apprenant de la
Siegmund recorda a promessa do pai, Wälse, e boda, Siegmund recuerda la promesa del padre, recount the story of the appearance of the Wanderer bouche de Sieglinde qu’un voyageur (Wotan) est apparu
desenterra sem esforço a espada. Irmão e irmã fogem Wälse, y libera sin esfuerzo la espada. Hermano y (Wotan) on her wedding day, Siegmund recalls the au jour du mariage, Siegmund se rappelle de la
para viver livremente o seu amor. hermana huyen para vivir libremente su amor. promise made by his father, Wälse, and effortlessly promesse que lui a faite son père, Wälse, et dégage
Wotan convoca Brünnhilde a quem ordena que proteja Wotan convoca a Brünnhilde a quien le ordena que draws the sword forth. And brother and sister flee to l’épée sans efforts. Le frère et la sœur fuient pour vivre
Siegmund contra a ira de Hunding. Este último, proteja a Siegmund contra la ira de Hunding. Este live their great love for one another in freedom. leur amour en toute liberté.
porém, pede a intervenção de Fricka, guardiã das último, sin embargo, pide la intervención de Fricka, Wotan calls Brünnhilde and instructs her to protect Wotan convoque Brünnhilde à qui il ordonne de
virtudes do casamento, para que os dois irmãos guardiana de las virtudes del matrimonio, para que Siegmund against the wrath of Hunding. Hunding, protéger Siegmund de la colère de Hunding.
sejam castigados pelos crimes de incesto e adultério. los dos hermanos sean castigados por los crímenes however, seeks the assistance of Fricka, guardian of Cependant, ce dernier demande à Fricka d’intervenir,
Invocando a nobreza da raça dos deuses e as de incesto y adulterio. Invocando la nobleza de la raza the virtues of wedlock, requesting that the brother puisqu’elle est la gardienne des vertus matrimoniales,
repetidas traições do marido, Fricka consegue de los dioses y las repetidas traiciones del marido, and sister be punished for their crimes of incest and et de punir le frère et la sœur pour leur crime d’inceste
arrancar a Wotan a promessa da morte de Siegmund Fricka consigue arrancarle a Wotan la promesa de la adultery. Invoking the nobility of the race of the gods et d’adultère, Invoquant la noblesse de la race des dieux
com a ajuda de Brünnhilde. muerte de Siegmund con la ayuda de Brünnhilde. and the repeated betrayals of her husband, Fricka et les trahisons à répétition de son mari, Fricka réussit
A Valquíria surpreende a fuga dos dois irmãos e tenta La Valquiria sorprende la fuga de los dos hermanos y manages to prise from Wotan a promise of the death à arracher à Wotan la promesse de faire périr Siegmund
cumprir as ordens do pai, porém, ao ser-lhe revelado trata de cumplir las órdenes del padre, sin embargo, of Siegmund with the help of Brünnhilde. avec l’aide de Brünnhilde.
que Sieglinde traz no seu ventre a descendência de al serle revelado que Sieglinde trae en su vientre la The Valkyrie appears, surprising the flight of the La Walkyrie rattrape les jumeaux dans leur fuite pour
Siegmund, Brünnhilde é invadida por sentimentos de descendencia de Siegmund, Brünnhilde es invadida brother and sister, and attempts to carry out her exécuter les ordres de son père, Cependant, apprenant
compaixão que não consegue explicar e protege por sentimientos de compasión que no consigue father’s orders. However, upon hearing that Sieglinde que Sieglinde porte en elle la descendance de
Siegmund na luta contra Hunding. Mas Wotan explicar y protege a Siegmund en la lucha contra carries the child of Siegmund in her womb, Brünnhilde Siegmund, Brünnhilde est prise d’une compassion
intervém e quebra a espada (Notung) de Siegmund Hunding. Pero Wotan interviene y quiebra la espada is overwhelmed by inexplicable feelings of compassion inexplicable à ses yeux. Elle se range aux côtés de
que sucumbe à investida assassina de Hunding. (Nothung) de Siegmund, el cual sucumbe a la and protects Siegmund in the fight against Hunding. Siegmund dans sa lutte contre Hunding. Intervient
Wotan, perante o cadáver do filho, fulmina o vencedor. investida asesina de Hunding. Wotan, ante el cadáver But Wotan appears and shatters Siegmund’s sword cependant Wotan, qui brise l’épée (Nothung) de
Brünnhilde resgata os pedaços da espada de del hijo, fulmina al vencedor. Brünnhilde rescata los (Nothung), and Siegmund is slain by Hunding. Wotan Siegmund. Celui-ci finit par succomber à l’assaut
Siegmund e dá a fuga a Sieglinde indicando-lhe o pedazos de la espada de Siegmund y le facilita la fuga looks down on his son’s corpse, and strikes Hunding meurtrier de Hunding. Devant le corps de son fils,
caminho para a floresta onde agora vive o gigante a Sieglinde indicándole el camino para el bosque dead. Brünnhilde gathers up the pieces of Siegmund’s Wotan foudroie le vainqueur d’un de ses traits.
Fafner, transformado num dragão, o novo guardião do donde ahora vive el gigante Fafner, transformado en sword and helps Sieglinde to escape, showing her the Brünnhilde réunit les morceaux de l’épée de
anel e do tesouro. Brünnhilde assegura-lhe que Wotan un dragón, el nuevo guardián del anillo y del tesoro. path to the forest now lived in by the giant Fafner, Siegmund et aide Sieglinde à fuir en la guidant vers la
jamais se acercará daquele local. Sieglinde guarda Brünnhilde le asegura que Wotan jamás se acercará transformed into a dragon, the new guardian of the forêt où demeure à présent le géant Fafner. Celui-ci a
consigo os pedaços de Notung para que um dia seja de aquel lugar. Sieglinde guarda los pedazos de ring and of the treasure. Brünnhilde assures her that été transformé en dragon et est le nouveau gardien de
brandida pelo filho, baptizado por Brünnhilde com o Nothung para que un día sea empuñada por el hijo, Wotan will never venture near this place. Sieglinde l’anneau et du trésor. Brünnhilde l’assure que Wotan
nome de Siegfried. bautizado por Brünnhilde con el nombre de Siegfried. keeps closely guarded with her the pieces of Nothung ne s’en prendra jamais à ces lieux. Sieglinde conserve
Brünnhilde procura refúgio junto das irmãs, mas filha Brünnhilde busca refugio en sus hermanas, pero hija so that it may one day be brandished by her son, les morceaux de Nothung qui devra être un jour
obediente a seu pai, sai do seu esconderijo e, obediente a su padre, sale de su escondrijo y, baptised by Brünnhilde with the name of Siegfried. brandie par son fils. À ce dernier, Brünnhilde a donné
resignada, ouve a sentença que Wotan lhe destina: resignada, oye la sentencia que Wotan le destina: Brünnhilde seeks refuge with her sisters, but as a le nom de Siegfried.
privá-la da imortalidade e rebaixá-la à condição de prívala de la inmortalidad y rebájala a la condición de daughter owing obedience to her father, she leaves her Brünnhilde se réfugie chez ses sœurs, mais, en fille
uma simples mulher. Será deixada num sono una simple mujer. Será dejada en un sueño encantado hideout and, resigned to her fate, hears the sentence obéissante, elle renonce à se cacher et se résigne à
encantado no alto da montanha, protegida por um en la cima de la montaña, protegida por un círculo de passed by Wotan: she is to be stripped of her entendre le sort que lui réserve la sentence de Wotan:
círculo de chamas até que o mais intrépido dos heróis llamas hasta que el más intrépido de los héroes la immortality and lowered to the condition of a mere elle sera privée de son immortalité et ramenée à la
a desperte com um beijo. despierte con un beso. woman. She is to be held in an enchanted sleep on the condition d’une simple femme. Elle dormira d’un
top of a mountain, protected by a circle of flames until sommeil enchanté au sommet de la montagne, où un
the most intrepid of heroes will awaken her with a kiss. cercle de feu la protègera jusqu’à ce que le plus
intrépide des héros la réveille d’un baiser.

32 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 33


Argumento Argumento Synopsis Argument

Siegfried Siegfried Siegfried Siegfried

Introdução Introducción Introduction Introduction


Na eterna esperança de reconquistar o tesouro, os En la eterna esperanza de reconquistar el tesoro, los In an eternal desire to reconquer the treasure, the Espérant sans relâche reconquérir le trésor, les frères
irmãos Mime e Alberich isolam-se, cada um para seu hermanos Mime y Alberich se separan (cada uno para brothers Mime and Alberich isolate themselves (each Mime et Albérich s’isolent, chacun de son côté, non
lado, perto da caverna de Fafner. su lado) cerca de la cueva de Fafner. on his own) close to the cavern dwelling of Fafner. loin de la caverne de Fafner.
O anão Nibelungo, Mime, recebeu das mãos de uma El enano Nibelungo, Mime, recibió de las manos de una The Nibelung dwarf, Mime, received from a dying- Des mains de Sieglinde déjà mourante, le nain Mime,
Sieglinde já moribunda, o recém-nascido Siegfried, Sieglinde ya moribunda, el recién nacido Siegfried, -mother’s hands, Sieglinde, the recently-born un Nibelung, a reçu Siegfried, qui vient de naître, fruit
fruto do amor pelo próprio irmão, Siegmund, e os fruto del amor por el propio hermano, Siegmund, y los Siegfried, fruit of her love for own brother Siegmund, de ses amours avec son propre frère Siegmund, ainsi
sólidos pedaços de Notung, a espada empunhada por sólidos pedazos de Nothung, la espada empuñada por and the solid pieces of Nothung, the sword wielded by que les durs morceaux de l’épée Nothung que
Siegmund no combate fatal que travou contra Wotan. Siegmund en el combate fatal que sostuvo contra Siegmund in the fatal battle fought against Wotan. Siegmund avait à la main lors du combat contre Wotan
Recolhido e educado por Mime, Siegfried é agora, sem Wotan. Recogido y educado por Mime, Siegfried es Taken in and raised by Mime, Siegfried is now, qui devait lui être fatal. Recueilli et adopté par Mime,
o saber, o mais poderoso da prole dos Wälsungen. ahora, sin él saberlo, el más poderoso de la prole de los unbeknown to him, the most powerful of the Wälsung Siegfried est à présent, à son insu, le plus puissant
No auge da sua juventude, emergem dúvidas sobre as Wälsungen. En el auge de su juventud surgen dudas offspring. At the height of his youth doubts emerge rejeton des Wälsungen. Au faîte de sa jeunesse, il
suas verdadeiras origens. sobre sus verdaderos orígenes. about his true origins. doute à présent de sa véritable origine.

Acto I Acto I Act I Acte I


Numa floresta En un bosque In a forest Dans une Forêt

Cena 1 Escena 1 Scene 1 Scène 1


Mime, irmão de Alberich, tenta forjar uma espada Mime, hermano de Alberich, trata de forjar una Mime, brother of Alberich, is trying to forge a sword Mime, frère d’Albérich, veut forger une épée qui soit
capaz de resistir à força de Siegfried. Incapaz de espada que sea capaz de resistir a la fuerza de able to resist the strength of Siegfried. Unable to capable de résister à la force de Siegfried. Ne
refundir os pedaços de Notung, Mime desdobra-se em Siegfried. Incapaz de reforjar los pedazos de Nothung, re-forge the broken fragments of Nothung, Mime réussissant pas à refondre ensemble les morceaux de
malogrados esforços enquanto revela o desígnio que Mime se esfuerza en vano mientras revela la intención concentrates on his unsuccessful efforts while he Nothung, Mime, qui se démène en efforts forcenés,
se propôs cumprir: recuperar o ouro, o anel e o elmo que se propuso cumplir: recuperar el oro, el anillo y el reveals the order he is committed to undertaking: the révèle son véritable dessein : récupérer l’or, l’anneau
mágico, outrora propriedade dos Nibelungos. Planeia yelmo mágico, en otros tiempos propiedad de los recovery of the gold, ring and magic helmet, formerly et le heaume magique qui appartenaient autrefois aux
usar-se de Siegfried para matar o gigante Fafner, Nibelungos. Planea usar a Siegfried para matar al owned by the Nibelung. He plans to use Siegfried to Nibelung. Son plan prévoit d’utiliser Siegfried pour
agora transformado no dragão guardião do tesouro. gigante Fafner, ahora transformado en el dragón kill the giant Fafner, now transformed into the tuer le géant Fafner, qui a été transformé en dragon et
Siegfried regressa da floresta e, como é seu hábito, guardián del tesoro. guardian dragon of the treasure. qui garde le trésor.
tudo faz para espavorir o Nibelungo. Ao despedaçar a Siegfried regresa del bosque y, como es su hábito, Siegfried returns from the forest and, as usual, does Siegfried revient de la forêt et, comme à son habitude,
última espada saída da forja de Mime, Siegfried hace de todo para que el Nibelungo entre en pánico. everything he can to terrify the Nibelung. As he breaks fait tout pour faire peur au Nibelung. Brisant la
provoca nova querela com o anão e tenta que este lhe Al despedazar la última espada salida de la forja de the last sword forged by Mime, Siegfried provokes a dernière épée sortie des forges de Mime, Siegfried
revele a verdade sobre os seus pais. O seu reflexo na Mime, Siegfried lanza sobre el enano una nueva queja new quarrel with the dwarf and tries to prise from him cherche noise au nain afin de l’obliger à lui dire la
água foi prova suficiente de que Mime jamais poderia y trata que éste le revele la verdad sobre sus padres. the truth on his parentage. His reflection in the water vérité sur ses parents. Son reflet dans l’eau prouve à
ser seu progenitor. Mime acaba por contar, sob a Su reflejo en el agua fue prueba suficiente de que was proof enough that Mime could never be his father. suffisance que Mime ne peut en aucun cas être son
forma de ladainha, o encontro na floresta com Mime jamás podría ser su progenitor. Mime acaba por Mime ends up by recounting, in the form of a litany, père. Mime finit par raconter, en une sorte de litanie,
Sieglinde, a sua mãe, que o confiou, ainda criança, à relatarle con gran retórica el encuentro en el bosque his encounter in the forest with Sieglinde, his mother, comment sa mère Sieglinde l’a rencontré et comment
sua guarda. Com a criança, foram-lhe também con Sieglinde, su madre, que le confió, aún siendo who entrusted him as his guardian, while still a child. elle l’a confié à sa garde alors qu’il était encore enfant.
entregues os restos de Notung, a espada empunhada niño, su tutela. Con el niño, también le fueron Also handed over with the child were the remains of En outre, elle lui a aussi donné les morceaux de
pelo seu verdadeiro pai no combate que lhe custou a entregados los restos de Nothung, la espada Nothung, the sword wielded by his true father in the Nothung, l’épée que son vrai père avait à la main lors
vida. Siegfried exige então que Mime refaça Notung. empuñada por su verdadero padre en el combate que combat which cost him his life. Siegfried then orders du combat qui lui coûta la vie. Siegfried exige alors de
le costó la vida. Siegfried le exige entonces que Mime Mime to re-forge Nothung. Mime qu’il reconstruise Nothung.
rehaga Nothung.

34 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 35


Nesta página: Colin Judson (Mime) e Samuel Youn (O Viajante)
Página seguinte: Stefan Vinke (Siegfried)
Fotografias de ensaio.
Cena 2 Escena 2 Scene 2 Scène 2
Enquanto Mime lamenta que a sua arte não resulte Mientras que Mime se lamenta que su arte no resulte As Mime despairs that it is beyond his skill to repair Alors que Mime se lamente que son art de la forge ne
para forjar Notung, aparece um homem misterioso. para forjar a Nothung, aparece un hombre misterioso. Nothung, a mysterious man appears. Mime does vaut rien pour reconstituer Nothung, apparaît un
Mime não reconhece Wotan no Viajante que se lhe Mime no reconoce a Wotan en el Viajero que se le not recognise Wotan in the Wanderer facing him in homme mystérieux. Mime ne reconnaît pas Wotan sous
apresenta em busca de hospitalidade. Tenta presenta en busca de hospitalidad. Trata de search of hospitality. He tries to drive him away, but les traits du Voyageur qui se présente à lui en quête
escorraçá-lo, mas o Viajante atiça-lhe a curiosidade expulsarlo, pero el Viajero le despierta la curiosidad the Wanderer rouses his curiosity by proposing a d’hospitalité. Il tâche de s’en débarrasser, mais le
propondo-lhe um desafio de desenlace fatal: cada um proponiéndole un reto de desenlace fatal: cada uno le challenge with a fatal outcome: each should present Voyageur parvient à éveiller sa curiosité en lui
colocará três enigmas ao outro; o que falhar perderá planteará tres enigmas al otro, el que falle perderá the other with three riddles, and whoever should fail proposant un défi dont l’issue est fatale : chacun
a vida. Wotan responde sem embaraço, mas Mime la vida. Wotan responde sin dificultad, pero Mime would lose his life. Wotan answers without difficulty, soumettra l’autre à trois énigmes. Celui qui perdra
ignora a resposta ao terceiro enigma: «Dos sólidos ignora la respuesta del tercer enigma: «Dos sólidos but Mime is unable to answer the third riddle: perdra aussi la vie. Wotan répond sans embarras.
pedaços, quem será capaz de soldar Notung, a pedazos, ¿quién será capaz de soldar Nothung, la «Of the solid fragments, who will forge Nothung, the Mime, quant à lui, ne connaît pas la réponse à la
espada?» Wotan deixa Mime aterrorizado com a espada?» Wotan deja a Mime aterrorizado con la sword?» Wotan leaves Mime utterly horrified with troisième énigme qui lui est posée : « Des forts
ameaça de que a sua cabeça ficará à mercê daquele amenaza de que dejará su cabeza como prenda para the threat that his head will henceforth be at the morceaux, qui pourra ressouder Nothung, l’épée ? »
que fará renascer Notung, «Aquele que nunca aquél que haga renacer Nothung, «Aquél que nunca ha mercy of he who forges Nothung anew, «He who Wotan laisse Mime terrifié, brandissant la menace que
conheceu o medo». conocido el miedo». knows no fear». sa tête sera à la merci de celui qui fera renaître
Nothung, « Celui qui n’a jamais connu la peur ».

Cena 3 Escena 3
Ao regressar, Siegfried encontra Mime ainda Al regresar, Siegfried encuentra a Mime aún escondido Scene 3 Scène 3
escondido por detrás de uma bigorna. O anão por detrás de un yunque. El enano aprovecha la Upon his return, Siegfried finds Mime still hiding De retour, Siegfried retrouve Mime, qui se cache encore
aproveita a oportunidade para convencer Siegfried oportunidad para convencer a Siegfried que estaba en behind an anvil. The dwarf takes this opportunity to derrière une enclume. Profitant de l’occasion, le nain
que estava em plena aprendizagem do sentimento de pleno aprendizaje del sentimiento del miedo para convince Siegfried that he was trying to learn the convainc Siegfried qu’il était en plein apprentissage du
medo para lhe poder transmitir esse tão importante poderle transmitir ese tan importante conocimiento, a meaning of fear so as to be able to convey such sentiment de peur afin d’être en mesure de lui
conhecimento, a ele que o desconhece. À medida que él que le desconoce. A la medida que Mime describe important knowledge, to him, who has no knowledge transmettre ce savoir si important, que, lui, il ne connaît
Mime descreve os sintomas do medo, Siegfried los síntomas del miedo, Siegfried manifiesta su of it. As Mime describes the symptoms of fear, pas. À mesure que Mime lui décrit les symptômes de la
manifesta a sua perplexidade. É então que Mime lhe perplejidad. Es entonces que Mime le habla de Fafner, Siegfried shows his perplexity. This is when Mime tells peur, Siegfried se montre sans cesse plus perplexe.
fala de Fafner, o gigante transformado em dragão e o el gigante transformado en dragón y el mejor him of Fafner, the giant transformed into a dragon and Mime lui parle alors de Fafner, le géant qui a été
melhor «professor» para lhe dar a conhecer a «profesor» para darle a conocer la experiencia del best «teacher» to explain the experience of fear before transformé en dragon, et qui sera assurément son
experiência do medo antes de partir à descoberta do miedo antes de adentrarse en el Mundo. Impetuoso, departing on to discover the World. Impetuous, meilleur « professeur de peur » avant son départ à la
Mundo. Impetuoso, Siegfried mete mãos à obra na Siegfried mete manos a la obra en la forja de Nothung. Siegfried throws himself into the work of re-forging découverte du Monde. Impétueusement, Siegfried se
forja de Notung. Ao mesmo tempo, Mime prepara Al mismo tiempo, Mime prepara una bebida Nothung. Meanwhile, Mime brews a poisoned potion met au travail pour reforger Nothung. Dans le même
uma bebida envenenada que oferecerá a Siegfried envenenada que ofrecerá a Siegfried después de la to offer Siegfried after his victorious fight against the temps, Mime prépare un breuvage empoisonné qu’il
depois da luta vitoriosa contra o dragão. Assim, lucha victoriosa contra el dragón. Así, se podrá dragon. This would mean the gold, ring and magic offrira à boire à Siegfried après sa lutte victorieuse
ficarão para si, o ouro, o anel e o elmo mágico. Mime quedar con el oro, el anillo y el yelmo mágico. Mime helmet would be his to keep. Mime is overcome with contre le dragon. Il gardera ainsi pour lui l’or, l’anneau
rende-se à visão de si próprio no papel de novo mestre se rinde a la visión de si mismo en el papel de nuevo the vision of himself as the new master of the et le heaume magique. Mime se voit déjà comme le
do Universo. Siegfried arbora a espada reconstruída, maestro del Universo. Siegfried empuña la espada Universe. Siegfried brandishes the reconstructed nouveau maître de l’Univers. Siegfried brandit l’épée
proferindo orgulhosamente o nome de Notung. reconstruida, pronunciando orgullosamente el nombre sword, proudly announcing the name of Nothung. He enfin reconstruite, en clamant fièrement le nom de
Confirma o poder da lâmina despedaçando uma de Nothung. Confirma el poder de la lámina confirms the strength of the blade by cleaving the Nothung. Il confirme les pouvoirs de la lame en brisant
bigorna de um só golpe. despedazando un yunque de un sólo golpe. anvil in two with one mighty blow. une enclume d’un seul coup.

Acto II Acto II Act II Acte II


Nas profundezas da floresta En las profundidades del bosque In the depths of the forest Dans les profondeurs de la forêt

Cena 1 Escena 1 Scene 1 Scène 1


Alberich, escondido numa rocha, vigia Neidhöhle, a Alberich, escondido en una roca, vigila a Neidhöhle, la Alberich, hidden inside a rock, keeps vigil over Alberich, sous le couvert d’un rocher, surveille
Caverna da Cobiça, onde se encontra o «seu» tesouro. Cueva de la Codicia, donde se encuentra «su» tesoro. Se Neidhöhle, the Cavern of Avarice, where «his» treasure Neidhöhle, la Caverne de la Convoitise, qui renferme
Aproxima-se o Viajante (Wotan) que Alberich aproxima el Viajero (Wotan) que Alberich reconoce de is to found. The Wanderer (Wotan) approaches, « son » trésor. S’approche le Voyageur (Wotan),
reconhece de imediato. Rancoroso e vingativo, inmediato. Rencoroso y vengativo, Alberich le recuerda immediately recognised by Alberich. Grudging and qu’il reconnaît immédiatement. Plein de rancœur et de
Alberich lembra Wotan que o seu objectivo é destruir a Wotan que su objetivo es destruir el Walhalla así tan vindictive, Alberich reminds Wotan that his intention is désir de vengeance, Albérich rappelle à Wotan que son
o Valhala mal consiga recuperar o anel que lhe foi pronto logre recuperar el anillo que le fue sustraído por to destroy Walhalla as soon as he has managed to objectif est de détruire le Walhalla sitôt après avoir
subtraído por meio de artimanhas. Wotan alerta-o medio de artimañas. Wotan lo alerta sobre la amenaza recover the ring which was scheming stolen from him. récupéré l’anneau qui lui a été subtilisé par subterfuge.
para a ameaça que Mime representa e aconselha-o a que Mime representa y lo aconseja a que advierta a Wotan warns him of the threat represented by Mime Wotan le met en garde : Mime est dangereux. Il lui

38 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 39


Nesta página: Chelsey Schill (Pássaro da Floresta); Dieter Schweikart (Fafner); Colin Judson e Stefan Vinke.
Página seguinte: Johann Werner Prein (Alberich)
Fotografias de ensaio.
advertir Fafner, o dragão, da chegada iminente de Fafner, el dragón, de la llegada inminente de Mime y de and advises him to warn Fafner, the dragon, of the conseille d’avertir Fafner, le dragon, de l’arrivée
Mime e de um herói que o conseguirá matar. Aliviado un héroe que lo conseguirá matar. Aliviado por el imminent arrival of Mime and of a hero who will imminente de Mime et d’un héros qui parviendra
pelo desinteresse de Wotan em obter o tesouro, desinterés de Wotan en obtener el tesoro, Alberich trata succeed in slaying him. Relieved by Wotan’s lack of à le tuer. Rassuré quant au désintéressement de
Alberich tenta alertar Fafner com a ajuda de Wotan. de alertar a Fafner con la ayuda de Wotan. En vano. interest in obtaining the treasure, Alberich tries to Wotan pour le trésor, Alberich tente d’alerter Fafner
Em vão. Fafner retoma o seu sono, Wotan afasta-se e Fafner retoma su sueño, Wotan se aleja y Alberich warn Fafner with the help of Wotan. In vain. Fafner avec l’aide de Wotan. En vain. Fafner se rendort.
Alberich regressa ao seu esconderijo na rocha. regresa a su escondrijo en la roca. falls asleep again, Wotan wanders off and Alberich Wotan s’éloigne et Alberich retourne à son rocher
returns to his hideout inside the rock. pour se cacher.

Cena 2 Escena 2 Scene 2 Scène 2


Mime e Siegfried aproximam-se de Neidhöhle. Mime Mime y Siegfried se aproximan de Neidhöhle. Mime se Mime and Siegfried approach Neidhöhle. Scared, Mime et Siegfried s’approchent de Neidhöle. Mime
afasta-se apavorado. Arrebatado pelos murmúrios da aleja aterrorizado. Arrebatado por los murmurios del Mime draws back. Entranced by the murmurs of the prend ses distances. Sous le charme des murmures de
floresta, Siegfried entrega-se a divagações sobre os bosque, Siegfried se entrega a divagaciones sobre sus forest, Siegfried is lost in daydreams about his la forêt, Siegfried se laisse aller à des rêveries sur ses
seus pais, Siegmund e Sieglinde. É interrompido por padres, Siegmund y Sieglinde. Es interrumpido por un parents, Siegmund and Sieglinde. He is interrupted by parents, Siegmund et Sieglinde. Il est interrompu par
um Pássaro da Floresta que chilreia com entusiasmo Pájaro del Bosque que trina con entusiasmo y decide a Woodbird singing enthusiastically and decides to un Oiseau de la Forêt qui pépie gaiement, et il décide
e decide «conversar» com ele utilizando a sua trompa «conversar» con él utilizando su cuerno de caza. La «befriend» it with a tune on his hunting-horn. The de « converser » avec lui en utilisant son olifant. Ce
de caça. A «conversa» musical acaba por despertar «conversación» musical acaba por despertar al dragón musical «conversation» ends up by awakening the dialogue musical finit par réveiller le dragon. Fafner
o dragão Fafner que aparece à boca da caverna e Fafner que aparece en la boca de la cueva y provoca a dragon Fafner which comes out into the cavern paraît à l’entrée de la caverne et défie Siegfried en
provoca Siegfried para o combate. O jovem herói Siegfried para el combate. El joven héroe clava a entrance and challenges Siegfried to a fight. The combat. Le jeune héros frappe Fafner et lui plante
enterra Notung em pleno coração de Fafner. Moribundo, Nothung en pleno corazón de Fafner. Moribundo, el young hero plunges Nothung deep into Fafner’s heart. Nothung en plein cœur. Mourant, le géant raconte sa
o gigante conta a sua trágica história e alerta Siegfried gigante cuenta su trágica historia y alerta a Siegfried In the throes of death, the giant recounts his tragic tragique histoire et met Siegfried en garde contre la
para a traição daquele que o levou a tirar-lhe a vida. sobre la traición de aquel que le incitó a matarle. Al story and warns Siegfried of the betrayal of he who traîtrise de celui qui l’a incité à lui ôter la vie. En retirant
Ao arrancar a espada do corpo inerte do dragão, uma retirar la espada del cuerpo inerte del dragón, una gota led him to take Fafner’s life. As he wrenches the sword l’épée du corps sans vie du dragon, une goutte de sang
gota de sangue escorre por sobre a mão do jovem de sangre corre por la mano del joven héroe, from the lifeless body of the dragon, a drop of blood coule sur la main du jeune héros, en lui brûlant la peau.
herói, queimando-lhe a pele. Instintivamente, Siegfried quemándole la piel. Instintivamente, Siegfried lleva la trickles onto the hand of the young hero, burning his Par réflexe, Siegfried porte la main à la bouche pour
leva a mão à boca para aliviar a dor. Apercebe-se mano a la boca para aliviar el dolor. Se da cuenta de skin. Instinctively, Siegfried puts his hand to his mouth diminuer la douleur. Immédiatement après, il se rend
de imediato que o gesto lhe possibilitou a compreensão inmediato que el gesto le ha posibilitado la comprensión to relieve the pain. He immediately realizes that the compte que ce simple geste lui a conféré le pouvoir de
do chilreio dos pássaros. O Pássaro da Floresta revela del canto de los pájaros. El Pájaro del Bosque le revela gesture has enabled him to understand birdsong. The comprendre le chant des oiseaux. L’Oiseau de la Forêt
o segredo dos tesouros escondidos na Caverna, el secreto de los tesoros escondidos en la Cueva, Woodbird reveals the secret of the treasures hidden in lui révèle le secret des trésors cachés dans la Caverne,
incentivando Siegfried a nela entrar. incentivando a Siegfried para que entrara en ella. the Cavern, spurring Siegfried to enter into it. dans laquelle il encourage Siegfried à pénétrer.

Cena 3 Escena 3 Scene 3 Scène 3


Os irmãos Alberich e Mime acercam-se furtivamente Los hermanos Alberich y Mime se acercan furtivamente The brothers Alberich and Mime furtively approach the Les frères Albérich et Mime s’approchent furtivement
do cadáver de Fafner. Discutem fervorosamente del cadáver de Fafner. Discuten fervorosamente sobre la corpse of Fafner. They quarrel vehemently about to du cadavre de Fafner. Fiévreusement, ils discutent du
sobre a posse dos tesouros, mas são interrompidos posesión de los tesoros, pero son interrumpidos por which one of them the treasure belongs, but are partage des trésors. Ils sont interrompus par
por Siegfried que sai da caverna com o elmo mágico Siegfried que sale de la cueva con el yelmo mágico y el interrupted by Siegfried who emerges from the cavern Siegfried, qui sort de la caverne portant le heaume
e o anel. Alberich embosca-se de novo na rocha. anillo. Alberich se esconde de nuevo en la roca. with the magic helmet and the ring. Alberich returns magique enchanté et l’anneau. Albérich retourne au
O Pássaro da Floresta adverte Siegfried que o sangue El Pájaro del Bosque le advierte a Siegfried que la to hiding in the rock. The Woodbird warns Siegfried rocher se mettre en position d’embûche. L’Oiseau de
do dragão lhe conferiu a faculdade de perceber o sangre del dragón le confiere la facultad de comprender that the dragon’s blood has given him the gift of read la Forêt avertit Siegfried que le sang du dragon lui a
verdadeiro sentido das palavras falsas de Mime. Assim el verdadero sentido de las palabras dudosas de Mime. the real meaning of Mime’s equivocal words. As soon donné le pouvoir de comprendre le sens véritable des
que o jovem herói se apercebe do que Mime pretende, Tan pronto el joven se da cuenta de lo que Mime as the young hero perceives Mime’s intentions, he propos sournois de Mime. Dès que le jeune héros
recusa a bebida que este lhe estende e mata o anão pretende, rechaza la bebida que éste le extiende y mata refuses the potion offered by the dwarf and comprend les desseins poursuivis par Mime, il refuse
sem piedade. Ouvem-se as gargalhadas triunfantes de al enano sin piedad. Se oyen las carcajadas triunfantes mercilessly slays him. Triumphant chuckles are heard le breuvage que lui tend le nain, et le tue sans pitié.
Alberich. Siegfried atira os cadáveres de Mime e do de Alberich. Siegfried arroja los cadáveres de Mime y from Alberich. Siegfried throws the corpses of Mime Alberich jubile en éclats de rire triomphants. Siegfried
dragão para dentro da caverna e aproveita para del dragón para dentro de la cueva y aprovecha para and the dragon into the cavern and rests under the jette les corps de Fafner et du nain dans la caverne et
descansar à sombra de uma tília. O Pássaro da descansar a la sombra de un tilo. El Pájaro del Bosque shade of a linden tree. The Woodbird returns to prend quelques moments de repos sous un tilleul.
Floresta regressa à companhia de Siegfried com uma regresa hasta donde está Siegfried con un presente. Siegfried with a gift. He talks to him of the most L’Oiseau de la Forêt va retrouver Siegfried, en lui
dádiva. Fala-lhe da mais esplêndida entre as Le habla de la más espléndida entre las mujeres, una splendid of all women, one who lies in an eternal sleep apportant un présent. Il lui parle de la plus splendide
mulheres, uma que repousa num sono eterno que reposa en un sueño eterno protegida por un círculo protected by a circle of flames. If he could overcome des femmes qui dort d’un éternel sommeil, protégée
protegida por um círculo de chamas. Se ele conseguir de llamas. Si él consigue vencer a las llamas, the flames, Brünnhilde will be his. Siegfried stands up par un cercle de flammes. S’il parvient à triompher
vencer as chamas, Brünnhilde será sua. Siegried Brünnhilde será suya. Siegried se levanta y parte a la and departs to conquer the new challenge. des flammes, Brünnhilde sera sienne. Siegfried se
ergue-se e parte à conquista do novo desafio. conquista del nuevo reto. redresse et part relever ce nouveau défi.

42 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 43


Nesta página: Gabriele May (Erda); Stefan Vinke e Samuel Youn; Stefan Vinke e Susan Bullock (Brünnhilde).
Página seguinte: Stefan Vinke e Susan Bullock.
Fotografias de ensaio.
Acto III Acto III Act III Acte III
Região selvagem, perto de uma montanha rochosa. Paisaje silvestre, cerca de una montaña rocosa. Noche A region of wilderness, close to a rocky mountain. A Région sauvage, près d’une montagne rocheuse. Nuit
Noite de tempestade. de tempestad. stormy night. de tempête.

Cena 1 Escena 1 Scene 1 Scène 1


Perto da montanha onde repousa Brünnhilde, o Cerca de la montaña donde reposa Brünnhilde, el Viajero Close to the mountain where Brünnhilde lies sleeping, Près de la montagne où repose Brünnhilde, le
Viajante (Wotan) procura Erda, a deusa da terra, para (Wotan) busca a Erda, la diosa de la tierra, para que the Wanderer (Wotan) searches for Erda, goddess of Voyageur (Wotan) cherche Erda, la déesse de la terre
que ela lhe revele o futuro. Mas Erda, de alma ella le revele el futuro. Pero Erda, de alma oscurecida the earth, so that she can reveal the future to him. But afin que celle-ci lui prédise l’avenir. Mais Erda, l’âme
obscurecida pelos actos dos homens, ao saber por por los actos de los hombres, al saber por Wotan, con Erda, whose soul has been obscured by the acts of hantée par les agissements des hommes, apprenant
Wotan, com quem concebeu a Valquíria, que esta se quien concibió a la Valquiria, que ésta se encuentra en mankind, when knowing through Wotan, with whom de la bouche de Wotan, avec lequel elle a conçu la
encontra em expiação por ter cumprido o mais íntimo penitencia por haber cumplido el más íntimo deseo de she conceived the Valkyrie, that she is being punished Walkyrie, que celle-ci doit expier pour avoir concrétisé
desejo de Wotan, não deseja ver perturbado o seu Wotan, no desea ver perturbado su sueño eterno. Cae en for having fulfilled Wotan’s deepest desire, has herself le plus intime désir de Wotan, ne souhaite pas que son
sono eterno. Mergulha no seu sono mesmo antes da un sueño profundo incluso antes de la salida de Wotan no desire to see her eternal sleep disturbed. She sinks sommeil éternel soit perturbé. Elle se rendort avant
saída de Wotan e já sem ouvir a grande revelação: y ya sin oír la gran revelación: Wotan anhela ahora por el back into her slumber even before Wotan’s departure même que Wotan ne soit sorti, ce qui l’empêche
Wotan anseia agora pelo crepúsculo dos deuses e crepúsculo de los dioses y anuncia a Brünnhilde como la and without hearing the great revelation: Wotan now d’entendre la grande révélation : Wotan n’attend plus
anuncia em Brünnhilde a grande redentora do Mundo. gran redentora del Mundo. craves the twilight of the gods and announces que le crépuscule des dieux et annonce que
Brünnhilde as the great redeemer of the World. Brünnhilde sera la grande rédemptrice du Monde.

Cena 2 Escena 2 Scene 2 Scène 2


Guiado pelo Pássaro da Floresta, Siegfried aproxima- Guiado por el Pájaro del Bosque, Siegfried se Guided by the Woodbird, Siegfried approaches the Guidé par l’Oiseau de la Forêt, Siegfried s’approche du
-se do rochedo onde se encontra Brünnhilde, mas aproxima de la roca donde se encuentra Brünnhilde, rocky outcrop where Brünnhilde lies, but comes rocher où se trouve Brünnhilde. Surgit cependant le
depara com o Viajante (Wotan) que procura impedir a pero se encuentra con el Viajero (Wotan) que trata de across the Wanderer (Wotan) who seeks to block his Voyageur (Wotan) qui l’empêche de passer. Wotan,
sua passagem. As palavras ameaçadoras de Wotan impedir su paso. Las palabras amenazadoras de path. The threatening words uttered by Wotan par ses paroles pleines de menaces, se trahit lui-
acabam por denunciá-lo e Siegfried percebe que Wotan acaban por denunciarlo y Siegfried se da eventually denounce his identity and Siegfried realises -même et Siegfried comprend que c’est l’assassin de
defronta o assassino de seu pai, desafiando então a cuenta que confronta al asesino de su padre, that he stands before the murderer of his father, son père qui se tient devant lui, et qu’il défie la lance
lança que quebrou Notung. O jovem herói sem medo desafiando la lanza que quebró Nothung. El joven challenging him with the spear which shattered qui a brisé Nothung. Le jeune héros sans peur brise la
quebra a lança de Wotan e este, assumindo a sua héroe sin miedo quiebra la lanza de Wotan y éste, Nothung. The young hero who knows no fear breaks lance de Wotan qui, impuissant et ne pouvant plus
impotência em travar Siegfried, apanha do chão os reconociendo su impotencia para impedir a Siegfried, Wotan’s spear who, realising his impotence to stand in rien contre Siegfried, ramasse les morceaux tombés à
pedaços caídos e desaparece engolido pela escuridão recoge del suelo los pedazos caídos y desaparece Siegfried’s way, gathers up the broken pieces and terre et disparaît comme avalé par la noirceur de la
da tempestade. O jovem Wälsung lança-se à conquista entre la oscuridad de la tempestad. El joven Wälsung disappears, vanishing into the darkness of the storm. tempête. Le jeune Wälsung se lance à l’assaut du
do rochedo envolto em chamas onde se encontra a se lanza a la conquista de la roca envuelta en llamas The young Wälsung throws himself into conquering rocher entouré de flammes, sur lequel se trouve la
mulher que procura salvar. donde se encuentra la mujer que pretende salvar. the flames surrounding the rocky mountain where he femme qu’il veut sauver.
can find the woman he seeks to save.

Cena 3 Escena 3 Scene 3 Scène 3


No cimo do rochedo, Siegfried apercebe um corpo En la cima de la roca, Siegfried descubre un cuerpo At the top of the mountain, Siegfried sees a body Au sommet du rocher, Siegfried aperçoit un corps
fechado numa armadura. A pouco e pouco, desfaz a cubierto por en una armadura. A los pocos rompe la encased in armour. He slowly undoes the armour and enfermé dans une sorte d’armure. Patiemment, il
couraça e descobre uma magnífica mulher. Invadido coraza y descubre a una magnífica mujer. Invadido por discovers a magnificent woman. Overwhelmed by démonte cette cuirasse et y découvre une femme
por sensações que desconhece, Siegfried toma sentimientos que desconoce, Siegfried toma unknown feelings, Siegfried becomes aware of the magnifique. Envahi par des sentiments inconnus,
consciência do medo que lhe causa a mulher que conciencia del miedo que le causa la mujer que ha fear instilled in him by the woman he has reclaimed Siegfried comprend la peur que lui cause cette femme
resgatara às chamas. Despertada pelos lábios do rescatado de las llamas. Despertada por los labios del from the flames. Awakened by the lips of the young qu’il a sauvée des flammes. Réveillée par le baiser du
jovem herói, Brünnhilde saúda o renascer dos seus joven héroe, Brünnhilde saluda el renacer de sus hero, Brünnhilde welcomes the rebirth of her senses, jeune héros, Brünnhilde se réjouit de son réveil, mais
sentidos, mas de seguida lamenta a sua condição de sentidos, pero a continuación lamenta su condición de then despairs of her condition as a mortal woman ensuite, elle se lamente que sa condition est désormais
mulher mortal e repudia, num gesto de nobre mujer mortal y repudia, en un gesto de noble and, in a gesture of noble sacrifice, refuses her celle d’une de femme mortelle. Elle repousse son
sacrifício, o seu salvador. O diálogo entre os dois sacrificio, a su salvador. El diálogo entre los dos saviour. The dialogue between the two ends with a sauveur, dans un geste de noble sacrifice. Le dialogue
termina com a confissão mútua do amor glorioso a termina con la confesión mutua del amor glorioso al mutual declaration of the glorious love to which they entre les deux prend fin sur la confession mutuelle du
que estavam destinados. cual estaban destinados. were destined. glorieux amour auquel ils étaient destinés.

46 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 47


Siegfried Siegfried der Niblungen Hort guarda o tesouro
hütet er dort. dos Nibelungos.
Libreto Siegfrieds kindischer Kraft A força pueril de Siegfried
erläge wohl Fafners Leib: decerto poderia vencer aquele colosso –
I. Aufzug Acto I des Niblungen Ring e conquistaria para mim
erränge er mir. o Anel do Nibelungo.
Wald Uma Floresta Ein Schwert nur taugt zu der Tat; Mas só uma espada está à altura desta proeza,
Den Vordergrund bildet ein Teil einer Felsenhöhle, die Em primeiro plano, parte de uma gruta escavada na nur Notung nützt meinem Neid, só Notung pode servir os meus desejos
sich links tiefer nach innen zieht, nach rechts aber rocha que se prolonga do lado esquerdo para o fundo, wenn Siegfried sehrend ihn schwingt: quando Siegfried a brandir nos seus braços.
gegen drei Vierteile der Bühne einnimmt. Zwei natürlich ocupando do lado direito cerca de três quartos da cena. und ich kann’s nicht schweissen, E eu que não sei como forjá-la,
gebildete Eingänge stehen dem Walde zu offen: der À direita, duas entradas naturais dão para a floresta: Notung, das Schwert! Notung, a espada!
eine nach rechts, unmittelbar im Hintergrunde, der uma mais ampla e outra que dá directamente para o (Er hat das Schwert wieder zurechtgelegt und hämmert (Volta a pegar na espada e de novo, mal-humorado,
andere, breitere, ebenda seitwärts. An der Hinterwand, fundo da cena. Na parede do fundo, à esquerda, um in höchstem Unmut daran weiter.) retoma o seu trabalho.)
nach links zu, steht ein grosser Schmiedeherd, aus grande fogão de ferreiro feito de pedaços de rocha; só o Zwangvolle Plage! Martírio sem fim!
Felsstücken natürlich geformt; künstlich ist nur der grande fole é feito pela mão do homem: uma chaminé Müh’ ohne Zweck! Tanto trabalho para nada!
grosse Blasebalg: die rohe Esse geht – ebenfalls rudimentar – também ela construída com materiais Das beste Schwert, A melhor espada
natürlich –durch das Felsendach hinauf. Ein sehr grosser naturais – atravessa o tecto da rocha; uma bigorna das je ich geschweisst, que alguma vez forjei
Amboss und andre Schmiedegerätschaften. enorme e outros utensílios de ferreiro. nie taugt es je não poderá servir
zu der einzigen Tat! para aquela tarefa única!
Ich tappre und hämmre nur, E eu bato o ferro e martelo
1. Szene Cena 1 weil der Knabe es heischt: porque o rapaz assim o deseja:
Mime, Siegfried. Mime, Siegfried. er knickt und schmeisst es entzwei, e ele parte-as e atira fora os pedaços,
und schmäht doch, schmied’ ich ihm nicht! e insulta-me por eu não as saber fazer!
Mime (sitzt, als der Vorhang nach einem kurzen Mime (Quando o pano sobe após um curto prelúdio (Er lässt den Hammer fallen) (deixa cair o martelo)
Orchestervorspiel aufgeht, am Ambosse und hämmert orquestral, está sentado junto à bigorna e, com
mit wachsender Unruhe an einem Schwerte: endlich crescente nervosismo, martela uma espada; por fim, Siegfried, in wilder Waldkleidung, mit einem silbernen Siegfried, com vestes primitivas, uma trompa
hält er unmutig ein) interrompe contrariado o seu trabalho.) Horn an einer Kette, kommt mit jähem Ungestüm aus de prata presa numa corrente à cintura, entra com
Zwangvolle Plage! Martírio sem fim! dem Walde herein; er hat einen grossen Bären mit alarido vindo da floresta; traz consigo um grande urso
Müh’ ohne Zweck! Tanto trabalho para nada! einen Bastseile gezäumt und treibt diesen mit lustigem selvagem preso a uma corda e diverte-se a atiçá-lo
Das beste Schwert, A melhor espada Übermute gegen Mime an. contra Mime.
das je ich geschweisst, que alguma vez forjei
in der Riesen Fäusten resistiria Siegfried Siegfried
hielte es fest: nas mãos de um gigante. Hoiho! Hoiho! Hoiho! Hoiho!
doch dem ich’s geschmiedet, Mas o odioso rapaz Hau’ ein! Hau’ ein! Bate-lhe! Dá-lhe!
der schmähliche Knabe, para quem esta se destina, Friss ihn! Friss ihn! Morde! Morde!
er knickt und schmeisst es entzwei, parte-a e atira fora os pedaços Den Fratzenschmied! Olha, que ferreiro tão feio!
als schüf’ ich Kindergeschmeid! como se fosse um brinquedo! (Er lacht.) Hahahaha! (rindo) Hahahaha!
(Mime wirft das Schwert unmutig auf den Amboss, (Mal-humorado, atira a espada sobre a bigorna, finca os
stemmt die Arme ein und blickt sinnend zu Boden.) braços e olha pensativo por terra.) Mime entsinkt vor Schreck das Schwert; er flüchtet hinter Com medo, Mime deixa cair a espada; corre a esconder-
Es gibt ein Schwert, Existe uma espada den Herd; Siegfried treibt ihm den Bären überall nach. se por detrás do fogão. Siegfried persegue-o com o urso.
das er nicht zerschwänge: que ele não conseguiria destruir:
Notungs Trümmer os destroços de Notung Mime Mime
zertrotzt’ er mir nicht, haviam de lhe resistir Fort mit dem Tier! Fora com o animal!
könnt’ ich die starken se eu soubesse como soldar Was taugt mir der Bär? Para que trouxeste esse urso?
Stücke schweissen, os pedaços robustos
die meine Kunst que a minha arte Siegfried Siegfried
nicht zu kitten weiss! não sabe como juntar! Zu zwei komm ich, Vim acompanhado
Könnt’ ich’s dem Kühnen schmieden, Se conseguisse forjá-la para o audacioso rapaz dich besser zu zwicken: para melhor te atormentar:
meiner Schmach erlangt’ ich da Lohn! a minha vergonha seria então vingada! Brauner, frag’ nach dem Schwert! urso, pergunta-lhe pela espada!
(Er sinkt tiefer zurück und neigt sinnend das Haupt.) (baixa ainda mais a cabeça reflectindo)
Fafner, der wilde Wurm, Fafner, o terrível dragão, Mime Mime
lagert im finstren Wald; vela na sombria floresta; He! Lass das Wild! He! Manda-o embora!
mit des furchtbaren Leibes Wucht com o peso descomunal do seu corpo Dort liegt die Waffe: A tua arma está aí,
fertig fegt’ ich sie heut’. acabei-a hoje mesmo.

48 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 49


Siegfried Siegfried und rüstigen Kämpfen, e de combates valorosos,
So fährst du heute noch heil! Então podes ir são e salvo! von kühnen Taten de actos heróicos
(Er löst dem Bären den Zaum und gibt ihm damit einen (solta o urso e dá-lhe uma chicotada com a corda und tüchtiger Wehr; e armaduras fabulosas;
Schlag auf den Rücken.) no lombo) will Waffen mir schmieden, diz que me forjará armas
Lauf’, Brauner! Corre, urso! Schwerte schaffen; e espadas;
Dich brauch’ ich nicht mehr! Já não preciso de ti! rühmt seine Kunst, gaba a sua arte,
(Der Bär läuft in den Wald zurück.) (o urso corre de volta para a floresta) als könnt’ er was Rechts: como se soubesse fazer algo bem feito;
nehm’ ich zur Hand nun, e quando pego
Mime (kommt zitternd hinter dem Herde hervor) Mime (sai a tremer detrás do fogão) was er gehämmert, no produto do seu trabalho
Wohl leid’ ich’s gern, Posso bem suportar mit einem Griff de um só golpe
erlegst du Bären: que abatas ursos: zergreif’ ich den Quark! desfaço estas porcarias!
was bringst du lebend mas porquê trazê-los Wär’ mir nicht schier Se não achasse o malandro
die braunen heim? vivos para casa? zu schäbig der Wicht, tão desprezível,
ich zerschmiedet’ ihn selbst era dele próprio e de toda a sua tralha
Siegfried (setzt sich, um sich vom Lachen zu erholen) Siegfried (Senta-se, cansado de tanto rir.) mit seinem Geschmeid, que eu dava cabo!
Nach bessrem Gesellen sucht’ ich, Ando à procura de melhor companhia den alten albernen Alp! Anão velho e maldito!
als daheim mir einer sitzt; do que a que tenho aqui em casa; Des Ärgers dann hätt’ ich ein End’! Ao menos acabavam-se os meus problemas!
im tiefen Walde mein Horn fiz ecoar a minha trompa
liess ich hallend da ertönen: na profunda floresta: Siegfried wirft sich wütend auf eine Steinbank Siegfried senta-se furioso num banco de pedra do lado
ob sich froh mir gesellte com o seu som perguntava zur Seite rechts. Mime ist ihm immer vorsichtig direito. Mime manteve-se sempre prudentemente à
ein guter Freund, se um bom companheiro ausgewichen. distância.
das frug ich mit dem Getön! gostaria de se juntar a mim!
Aus dem Busche kam ein Bär, Do arvoredo saiu um urso Mime Mime
der hörte mir brummend zu; que me escutava rugindo; Nun tobst du wieder wie toll: Lá estás tu outra vez a berrar feito louco:
er gefiel mir besser als du, sempre é melhor do que tu, dein Undank, traun, ist arg! és mesmo ingrato!
doch bessre fänd’ ich wohl noch! mas acho que hei-de encontrar ainda melhor! Mach’ ich dem bösen Buben Se não executo prontamente
Mit dem zähen Baste Prendi-o com uma corda resistente nicht alles gleich zu best, tudo o que o raio do rapaz quer,
zäumt’ ich ihn da, para aqui vir, malandro, was ich ihm Gutes schuf, ele esquece-se logo do bem
dich, Schelm, nach dem Schwerte zu fragen. perguntar-te pela espada. vergisst er gar zu schnell! que já lhe fiz.
(Er springt auf und geht auf den Amboss zu.) (de um salto dirige-se à bigorna) Willst du denn nie gedenken, Será que nunca te vais lembrar
was ich dich lehrt’ vom Danke? do que te ensinei sobre a gratidão?
Mime (nimmt das Schwert auf, um es Siegfried zu reichen) Mime (pega na espada para a dar a Siegfried) Dem sollst du willig gehorchen, Deves obedecer de bom grado
Ich schuf die Waffe scharf, Afiei bem a lâmina, der je sich wohl dir erwies. a quem sempre foi bom para ti.
ihrer Schneide wirst du dich freun. vais gostar desta espada. (Siegfried wendet sich unmutig um, mit dem Gesicht (Siegfried impacientemente vira a sua cara para a
(Er hält das Schwert ängstlich in der Hand fest, das (Segura ansioso na espada. Siegfried arranca-a nach der Wand, so dass er Mime den Rücken kehrt.) parede, ficando de costas para Mime.)
Siegfried ihm heftig entwindet.) brutalmente das suas mãos.) Das willst du wieder nicht hören! Não gostas de ouvir o que te digo?
(Er steht verlegen; dann geht er in die Küche am Herd.) (Por um momento fica indeciso; depois dirige-se
Siegfried Siegfried Doch speisen magst du wohl? à cozinha junto ao fogão.)
Was frommt seine helle Schneide, De que me serve a sua lâmina afiada Vom Spiesse bring’ ich den Braten: Mas gostas de comer?
ist der Stahl nicht hart und fest! se o aço não for resistente! versuchtest du gern den Sud? O assado acabou de sair do espeto,
(Das Schwert mit der Hand prüfend.) (com as mãos experimenta a robustez da espada) Für dich sott ich ihn gar. queres provar este caldinho?
Hei! Was ist das He! Mas que (Er bietet Siegfried Speise hin; dieser, ohne sich Foi para ti que o apurei.
für müss’ger Tand! brinquedo tão desgraçado! umzuwenden, schmeisst ihm Topf und Braten aus der (Oferece de comer a Siegfried que, sem sequer se virar,
Den schwachen Stift Chamas espada Hand.) faz saltar assado e panela das mãos de Mime.)
nennst du ein Schwert? a este pauzito frágil?!
(Er zerschlägt es auf dem Amboss, dass die Stücken (parte a espada batendo com ela na bigorna; os Siegfried Siegfried
ringsum fliegen; Mime weicht erschrocken aus.) pedaços voam em redor; Mime foge apavorado.) Braten briet ich mir selbst: Sei fazer assados para mim!
Da hast du die Stücken, Aqui tens os seus bocados, deinen Sudel sauf’ allein! Come sozinho as tuas mistelas!
schändlicher Stümper: desavergonhado ignorante:
hätt’ ich am Schädel devia tê-la partido Mime (mit kläglich kreischender Stimme) Mime (guinchando e lamentando-se)
dir sie zerschlagen! em cima da tua cabeça! Das ist nun der Liebe É assim que tu pagas
Soll mich der Prahler Quanto tempo mais vai o fanfarrão schlimmer Lohn! o meu amor!
länger noch prellen? tentar enganar-me? Das der Sorgen É assim que recompensas
Schwatzt mir von Riesen Fala-me de gigantes schmählicher Sold! as minhas preocupações!

50 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 51


Als zullendes Kind Desde bebé Seh’ ich dir erst se te observo atentamente
zog ich dich auf, que te eduquei, mit den Augen zu, com estes meus olhos,
wärmte mit Kleidern dei roupas quentes zu übel erkenn’ ich, acho que tudo quanto fazes
den kleinen Wurm: ao fedelho; was alles du tust: é mal feito;
Speise und Trank dei-lhe também seh’ ich dich stehn, quando te vejo
trug ich dir zu, de comer e de beber. gangeln und gehn, andar e saltitar,
hütete dich Tomei conta de ti knicken und nicken, fazer cortesias e acenar,
wie die eigne Haut. como de mim próprio. mit den Augen zwicken: ou piscar os olhos,
Und wie du erwuchsest, E enquanto crescias, beim Genick möcht’ ich tenho vontade de agarrar
wartet’ ich dein; zelei pelo teu bem, den Nicker packen, o gnomo pelo pescoço
dein Lager schuf ich, fiz-te uma cama den Garaus geben e de dar cabo dele,
dass leicht du schliefst. para que dormisses descansado; dem garst’gen Zwicker! do feioso intrometido!
Dir schmiedet’ ich Tand construí-te brinquedos So lernt’ ich, Mime, dich leiden. É este, Mime, o amor que me inspiras.
und ein tönend Horn; e uma trompa sonante. Bist du nun weise, E já que és tão esperto,
dich zu erfreun, Esforcei-me muito so hilf mir wissen, ajuda-me a entender
müht’ ich mich froh. para te alegrar. worüber umsonst ich sann: algo que em vão procuro perceber:
Mit klugem Rate Os meus bons conselhos in den Wald lauf’ ich, corro pela floresta
riet ich dir klug, deram-te sabedoria, dich zu verlassen, para te abandonar,
mit lichtem Wissen o meu alegre saber wie kommt das, kehr ich zurück? porque será que todavia regresso?
lehrt’ ich dich Witz. nutriu o teu espírito. Alle Tiere sind Tenho mais amizade
Sitz’ ich daheim Fico em casa mir teurer als du: a qualquer animal do que a ti;
in Fleiss und Schweiss, a trabalhar e suar Baum und Vogel, as árvores, os pássaros,
nach Herzenslust para que tu possas andar por aí die Fische im Bach, os peixes no rio,
schweifst du umher. alegremente ao sabor do teu desejo. lieber mag ich sie são-me mais queridos
Für dich nur in Plage, Só por ti me atormento, leiden als dich: do que tu.
in Pein nur für dich só por ti tenho cuidados, wie kommt das nun, kehr’ ich zurück? Porque será então que regresso?
verzehr’ ich mich alter, e vou envelhecendo, Bist du klug, so tu mir’s kund. Se és tão esperto, diz-me porquê.
armer Zwerg! pobre anão!
(schluchzend) (soluçando) Mime (sucht sich ihm traulich zu nähern) Mime (tenta aproximar-se dele com um ar conciliador)
Und aller Lasten E por todos os meus trabalhos Mein Kind, das lehrt dich kennen, Meu filho, que isso te prove
ist das nun mein Lohn, o que recebo em paga wie lieb ich am Herzen dir lieg. quanto sou caro ao teu coração.
dass der hastige Knabe do estouvado rapaz
mich quält (schluchzend) und hasst! são tormentos e (soluçando) ódio! Siegfried (lachend) Siegfried (rindo)
Ich kann dich ja nicht leiden, Não te deves esquecer
Siegfried hat sich wieder umgewendet und ruhig in Siegfried voltou-se de novo e escrutina calmamente vergiss das nicht so leicht! de que não te suporto!
Mimes Blick geforscht. Mime begegnet Siegfrieds Blick Mime com o olhar. Mime cruza o seu olhar
und sucht den seinigen scheu zu bergen. com o de Siegfried e baixa-o envergonhado. Mime (Fährt zurück und setzt sich wieder abseits, Mime (Recua um pouco e senta-se afastado, frente a
Siegfried gegenüber.) Siegfried.)
Siegfried Siegfried Des ist deine Wildheit schuld, Isso é culpa do teu temperamento bravio,
Vieles lehrtest du, Mime, Instruíste-me muito, Mime, die du, Böser, bänd’gen sollst. que devias, malvado, saber dominar.
und manches lernt’ ich von dir; e alguma coisa aprendi contigo; Jammernd verlangen Junge Os pequenotes choramingam
doch was du am liebsten mich lehrtest, mas nunca consegui aprender nach ihrer Alten Nest; para ter o ninho dos pais –
zu lernen gelang mir nie: o que tanto gostarias de me ensinar: Liebe ist das Verlangen: é o amor que os impele.
wie ich dich leiden könnt’. a maneira de te suportar! so lechzest du auch nach mir, E assim também tu me chamas,
Trägst du mir Trank A comida e a bebida so liebst du auch deinen Mime – também tu amas o teu Mime –
und Speise herbei, que me trazes, so musst du ihn lieben! tens de o amar!
der Ekel speist mich allein; só me sabem mal; Was dem Vögelein ist der Vogel, O que o pássaro é para os passarinhos,
schaffst du ein leichtes preparas-me uma cama wenn er im Nest es nährt quando no ninho os alimenta
Lager zum Schlaf, suave para o meu sono, eh’ das flügge mag fliegen: antes que saibam voar,
der Schlummer wird mir da schwer; e eu não durmo bem; das ist dir kind’schem Spross é o que o zeloso Mime
willst du mich weisen, quando me queres ensinar der kundig sorgende Mime – representa para o jovem rapaz –
witzig zu sein, a ser esperto, das muss er dir sein! é o que tem de ser!
gern bleib’ ich taub und dumm. de bom grado não te oiço;

52 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 53


Siegfried Siegfried Nun kam ich zum klaren Bach: Ao chegar junto a um claro ribeiro
Ei, Mime, bist du so witzig, Ai, Mime, que esperto que és! da erspäht’ ich die Bäum pude nele ver espelhados
so lass mich eines noch wissen! Ainda quero saber mais uma coisa: und Tier’ im Spiegel; animais e árvores;
Es sangen die Vöglein na Primavera os pássaros Sonn’ und Wolken, o Sol e as nuvens,
so selig im Lenz, cantavam tão maravilhosamente, wie sie nur sind, tal qual são,
das eine lockte das andre: um chamava pelo outro: im Glitzer erschienen sie gleich. apareceram-me nas ondas cintilantes.
du sagtest selbst, foste tu que disseste, Da sah ich denn auch E então vi também
da ich’s wissen wollt’, quando te perguntei, mein eigen Bild; como eu sou;
das wären Männchen und Weibchen. que eram um macho e uma fêmea. ganz anders als du pareceu-me que não somos
Sie kosten so lieblich, Afagavam-se amorosamente dünkt’ ich mir da: nada parecidos!
und liessen sich nicht; e não se largavam; so glich wohl der Kröte Tal como um peixe luzidio
sie bauten ein Nest construíam um ninho ein glänzender Fisch; se assemelha a um sapo.
und brüteten drin: e lá chocavam os ovos; doch kroch nie ein Fisch aus der Kröte! E nunca um sapo engendrou um peixe!
da flatterte junges Geflügel auf, e quando esvoaçavam os passarinhos,
und beide pflegten der Brut. ambos cuidavam da sua prole. Mime (höchst ärgerlich) Mime (muito irritado)
So ruhten im Busch Também assim repousavam Gräulichen Unsinn Mas que grandes disparates
auch Rehe gepaart, as corças por pares no arvoredo kramst du da aus! estás tu a inventar!
selbst wilde Füchse und Wölfe: e até os selvagens lobos e raposas:
Nahrung brachte o macho trazia para a sua morada Siegfried (immer lebendiger) Siegfried (cada vez mais entusiasmado)
zum Nest das Männchen, a comida para a fêmea, Siehst du, nun fällt Vês, acabo
das Weibchen säugte die Welpen. a fêmea amamentava as crias. auch selbst mir ein, de perceber
Da lernt’ ich wohl, Foi assim que eu aprendi was zuvor umsonst ich besann: o que há pouco não entendia:
was Liebe sei: o que era o amor: wenn zum Wald ich laufe, quando fujo para a floresta
der Mutter entwandt’ ich nunca roubei a uma mãe dich zu verlassen, para abandonar-te de vez
die Welpen nie. as suas crias. wie das kommt, kehr’ ich doch heim? porque é que volto sempre?
Wo hast du nun, Mime, Onde está, Mime, (er springt auf) (dando um pulo)
dein minniges Weibchen, a tua amorosa fêmea, Von dir erst muss ich erfahren, Porque tenho de saber da tua boca
dass ich es Mutter nenne? para que eu lhe chame mãe? wer Vater und Mutter mir sei! quem são o meu pai e a minha mãe!

Mime (ärgerlich) Mime (irritado) Mime (weicht ihm aus) Mime (esquivando-se)
Was ist dir, Tor? Que se passa contigo, idiota? Was Vater! Was Mutter! Qual pai! Qual mãe!
Ach, bist du dumm! Ai, como és parvo! Müssige Frage! Perguntas vãs!
Bist doch weder Vogel noch Fuchs? Então és igual a um pássaro ou a uma raposa?
Siegfried (packt ihn bei der Kehle) Siegfried (agarrando-o pelo pescoço)
Siegfried Siegfried So muss ich dich fassen, Tenho pois de te agarrar
Das zullende Kind Desde bebé um was zu wissen: para conseguir que me respondas!
zogest du auf, que me educaste, gutwillig Com bons modos
wärmtest mit Kleiden deste roupas quentes erfahr’ ich doch nichts! nunca saberei nada!
den kleinen Wurm: ao fedelho. So musst’ ich alles Como sempre, tenho
wie kam dir aber Mas como foi que ab dir trotzen: de extorquir-te tudo!
der kindische Wurm? te apareceu o fedelho? kaum das Reden Por pouco
Du machtest wohl gar Se calhar fizeste-me hätt’ ich erraten, não aprendia a falar
ohne Mutter mich? sem o auxílio de uma mãe? entwandt ich’s mit Gewalt se não tivesse obrigado
nicht dem Schuft! este patife a ensinar-me!
Mime (in grosser Verlegenheit) Mime (muito atrapalhado) Heraus damit, Vamos, depressa,
Glauben sollst du, Deves acreditar räudiger Kerl! anão sarnoso!
was ich dir sage: no que te digo: Wer ist mir Vater und Mutter? Quem são o meu pai e a minha mãe?
ich bin dir Vater sou teu pai
und Mutter zugleich. e também tua mãe. Mime (nachdem er mit dem Kopfe genickt und mit den Mime (Siegfried solta-o depois de ele ter feito sinal que
Händen gewinkt, ist von Siegfried losgelassen worden) sim com a cabeça e as mãos)
Siegfried Siegfried Ans Leben gehst du mir schier! Quase me mataste!
Das lügst du, garstiger Gauch! Mentes, asquerosa assombração! Nun lass! Was zu wissen dich geizt, Larga-me! Vou dizer-te, tal como sei,
Wie die Jungen den Alten gleichen, Felizmente também pude observar erfahr’ es, ganz wie ich’s weiss. aquilo que queres saber.
das hab’ ich mir glücklich ersehn. como os jovens se parecem com os pais. O undankbares, Rapaz ingrato

54 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 55


arges Kind! e violento! Siegfried Siegfried
Jetzt hör’, wofür du mich hassest! Ouve porque me odeias! Den Namen sollst du mir nennen! Tens de me dizer o seu nome!
Nicht bin ich Vater Não sou teu pai
noch Vetter dir, nem sequer teu parente, Mime Mime
und dennoch verdankst du mir dich! e no entanto tudo me deves! Entfiel er mir wohl? Doch halt! Será que não me lembro? Espera!
Ganz fremd bist du mir, És-me totalmente estranho, Sieglinde mochte sie heissen, Acho que se chamava Sieglinde
dem einzigen Freund; a mim, teu único amigo; die dich in Sorge mir gab. aquela que na aflição te entregou a mim.
aus Erbarmen allein só por piedade «Ich hütete dich «tomei conta de ti
barg ich dich hier: te alberguei eu aqui: wie die eigne Haut...» como de mim mesmo...»
nun hab’ ich lieblichen Lohn! vê como tu me pagas!
Was verhofft’ ich Tor mir auch Dank? Serei tão parvo em esperar que me agradeças? Siegfried (immer drängender) Siegfried (insistindo mais)
Einst lag wimmernd ein Weib Um dia encontrei caída, na floresta, Dann frag’ ich, wie hiess mein Vater? E agora diz-me como se chamava o meu pai?
da draussen im wilden Wald: uma mulher gemendo.
zur Höhle half ich ihr her, Ajudei-a a chegar aqui a esta gruta Mime (barsch) Mime (rude)
am warmen Herd sie zu hüten. para que se pudesse aquecer ao calor. Den hab’ ich nie gesehn. Esse nunca o vi.
Ein Kind trug sie im Schosse; Estava grávida
traurig gebar sie’s hier; e triste, e aqui deu à luz. Siegfried Siegfried
sie wand sich hin und her, Agitava-se para cá e para lá… Doch die Mutter nannte den Namen? Decerto que a minha mãe o nomeou!
ich half, so gut ich konnt’. Ajudei-a o melhor que pude.
Gross war die Not! Sie starb, Foi aflitivo! Ela morreu, Mime Mime
doch Siegfried, der genas. mas Siegfried sobreviveu. Erschlagen sei er, A única coisa que disse
das sagte sie nur; foi que ele tinha sido morto;
Siegfried (langsam) Siegfried (lentamente) dich Vaterlosen e a mim te entregou
So starb meine Mutter an mir? Então a minha mãe morreu por minha causa? befahl sie mir da. órfão de pai.
«Und wie du erwuchsest, «E ao cresceres
Mime Mime wartet’ ich dein; zelei pelo teu bem,
Meinem Schutz übergab sie dich: Entregou-te aos meus cuidados: dein Lager schuf ich, fiz-te uma cama
(Siegfried steht sinnend.) (Siegfried está em pé, pensativo.) dass leicht du schliefst...» para que dormisses descansado...»
ich schenkt’ ihn gern dem Kind. de bom grado não te teria aceite.
Was hat sich Mime gemüht, Ah, quanto se esforçou Mime, Siegfried Siegfried
was gab sich der Gute für Not! a que trabalhos o bondoso não se poupou. Still mit dem alten Pára com essa
«Als zullendes Kind «Desde bebé Starenlied! lenga-lenga!
zog ich dich auf...» que te eduquei,...» Soll ich der Kunde glauben, Se devo acreditar no que me dizes
hast du mir nichts gelogen, dá-me uma prova
Siegfried Siegfried so lass mich Zeichen sehn! em como não me mentiste!
Mich dünkt, des gedachtest du schon! Parece-me que já me contaste essa parte!
Jetzt sag’: woher heiss’ ich Siegfried? Diz-me lá: porque me chamo Siegfried? Mime Mime
Was soll dir’s noch bezeugen? Que queres que prove mais?
Mime Mime
So hiess mich die Mutter, Assim mandou a tua mãe Siegfried Siegfried
möcht’ ich dich heissen: que te chamasse: Dir glaub’ ich nicht mit dem Ohr’, Contigo não acredito no que ouço,
als «Siegfried» würdest chamando-te «Siegfried» dir glaub’ ich nur mit dem Aug’: só no que vejo.
du stark und schön. crescerias forte e belo. welch Zeichen zeugt für dich? Que prova me podes mostrar?
«Ich wärmte mit Kleidern «dei roupas quentes
den kleinen Wurm....» ao fedelho...» Mime (holt nach einigem Besinnen die zwei Stücke Mime (depois de um curto momento de reflexão vai
eines zerschlagenen Schwerts herbei) buscar dois pedaços de uma espada partida)
Siegfried Siegfried Das gab mir deine Mutter: Isto foi-me dado pela tua mãe
Nun melde, wie hiess meine Mutter? Diz-me como se chamava a minha mãe? für Mühe, Kost und Pflege como fraca paga
liess sie’s als schwachen Lohn. do meu trabalho, despesa e cuidados.
Mime Mime Sieh’ her, ein zerbrochnes Schwert! Vê! Uma espada partida…!
Das weiss ich wahrlich kaum! Sei lá eu! Dein Vater, sagte sie, führt’ es, Segundo ela disse, o teu pai
«Speise und Trank «dei-te também als im letzten Kampf er erlag. empunhou-a na batalha em que morreu.
trug ich dir zu...» de comer e de beber...»

56 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 57


Siegfried (begeistert) Siegfried (entusiasmado) Da stürmt er hin! Aí vai ele!
Und diese Stücken Tens de me forjar Nun sitz’ ich da: E eu para aqui!
sollst du mir schmieden: estes pedaços zur alten Not Às minhas costumadas preocupações
dann schwing’ ich ein rechtes Schwert! e então terei uma verdadeira espada! hab’ ich die neue; vem juntar-se uma nova!
Auf! Eile dich, Mime! Vamos! Rápido Mime! vernagelt bin ich nun ganz! – Estou completamente perdido! –
Mühe dich rasch; Mãos à obra e depressa! Wie helf’ ich mir jetzt? Que posso fazer?
kannst du was Rechts, Se é que disso és capaz, Wie halt’ ich ihn fest? Como fazê-lo ficar?
nun zeig’ deine Kunst! mostra agora a tua arte! Wie führ’ ich den Huien Como conseguirei conduzir o herói
Täusche mich nicht Não me enganes zu Fafners Nest? até ao antro de Fafner?
mit schlechtem Tand: com brinquedos defeituosos! Wie füg’ ich die Stücken Como vou soldar as duas partes
den Trümmern allein Só confio des tückischen Stahls? deste aço traiçoeiro?
trau’ ich was zu! nestes pedaços! Keines Ofens Glut Não há chama de fogão
Find’ ich dich faul, Se te encontrar a fazer ronha, glüht mir die echten; que subjugue este metal tão forte;
fügst du sie schlecht, se não fizeres bem o teu trabalho, keines Zwergen Hammer não há martelo de anão
flickst du mit Flausen e consertares atabalhoadamente zwingt mir die harten. capaz de dominar este aço firme.
den festen Stahl, estes pedaços de aço, (grell) (estridente)
dir Feigem fahr’ ich zu Leib’, dou cabo de ti Des Niblungen Neid, Nem toda a inveja de um Nibelungo,
das Fegen lernst du von mir! e num instante aprendes logo a brunir! Not und Schweiss o seu suor e aflições,
Denn heute noch, schwör’ ich, Pois digo-te: ainda hoje nietet mir Notung nicht, poderão soldar Notung,
will ich das Schwert; quero esta espada! schweisst mir das Schwert nicht zu ganz! nunca forjarão esta espada!
die Waffe gewinn’ ich noch heut’! É hoje que ganho a minha arma! (Mime knickt verzweifelnd auf dem Schemel hinter dem (Mime dobra-se desesperado sentado no banco por trás
Amboss zusammen) da bigorna)
Mime (erschrocken) Mime (apavorado)
Was willst du noch heut’ mit dem Schwert? Para que queres a espada ainda hoje?

Siegfried Siegfried 2. Szene Cena 2


Aus dem Wald fort Quero sair da floresta, Wanderer, Mime. Viajante, Mime.
in die Welt ziehn: conhecer mundo,
nimmer kehr’ ich zurück! e nunca mais voltar! Der Wanderer (Wotan) tritt aus dem Wald an das hintere O Viajante (Wotan) entrou na gruta pela porta mais
Wie ich froh bin, Como estou feliz Tor der Höhle heran. Er trägt einen dunkelblauen, langen distante vindo da floresta. Coberto com um amplo
dass ich frei ward, de me saber livre Mantel; einen Speer führt er als Stab. Auf dem Haupte capote azul-escuro tem uma lança como bastão.
nichts mich bindet und zwingt! sem nada que aqui me prenda! hat er einen grossen Hut mit breiter runder Krämpe, die Um chapéu de largas abas cobre o olho
Mein Vater bist du nicht; Não és meu pai, über das fehlende eine Auge tief hereinhängt. que lhe falta.
in der Ferne bin ich heim; a minha pátria fica distante;
dein Herd ist nicht mein Haus, a tua casa não é o meu lar, Wanderer O Viajante
meine Decke nicht dein Dach. o meu telhado não é o teu. Heil dir, weiser Schmied! Salve, sábio ferreiro!
Wie der Fisch froh Tal como um peixe Dem wegmüden Gast Concede a um hóspede
in der Flut schwimmt, que alegre nada na água, gönne hold fatigado do seu caminho,
wie der Fink frei tal como o pássaro des Hauses Herd! o conforto do teu lar!
sich davon schwingt: que livre voa para longe,
flieg’ ich von hier, vou voar daqui para fora! Mime (erschrocken auffahrend) Mime (erguendo-se assustado)
flute davon, Nadar para longe Wer ist’s, der im wilden Quem me vem procurar
wie der Wind übern Wald como o vento que sopra sobre a floresta, Walde mich sucht? no fundo desta floresta densa?
weh’ ich dahin, vou eu fugir Wer verfolgt mich im öden Forst? Quem me persegue nestes bosques desertos?
dich, Mime, nie wieder zu sehn! para nunca mais te ver, Mime!
(Er läuft in den Wald.) (corre para a floresta) Wanderer (sehr langsam, immer nur einen Schritt sich O Viajante (Muito devagar, dando só um passo na sua
nähernd) direcção.)
Mime (in höchster Angst) Mime (muito aflito) «Wand’rer» heisst mich die Welt; O mundo chama-me «Viajante».
Halte! Halte! Halte! Wohin? Espera! Pára! Espera! Para onde vais? weit wandert’ ich schon: Já fiz longas viagens,
He! Siegfried! Eh! Siegfried! auf der Erde Rücken já muito percorri
Siegfried! He! Siegfried! Eh! rührt’ ich mich viel! a superfície da terra!
(Er sieht dem Fortstürmenden eine Weile staunend (Por um pouco fica atónito a olhar na direcção do
nach; dann kehrt er in die Schmiede zurück und setzt fugitivo; volta para a sua forja e senta-se por detrás da
sich hinter den Amboss.) bigorna.)

58 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 59


Mime Mime Wanderer (am Herd sich setzend) O Viajante (sentando-se junto ao fogão)
So rühre dich fort Então continua Hier sitz’ ich am Herd Aqui estou junto ao fogão
und raste nicht hier, e não pares aqui und setze mein Haupt e ofereço a minha cabeça
heisst dich «Wand’rer» die Welt! já que o mundo te chama «Viajante»! der Wissenswette zum Pfand: como prémio de um concurso de sabedoria:
mein Kopf ist dein, a minha cabeça é tua,
Wanderer O Viajante du hast ihn erkiest, é o teu prémio
Gastlich ruht’ ich bei Guten, Muita gente me ofereceu guarida, entfrägst du dir nicht, se eu não responder
Gaben gönnten viele mir: muitos me presentearam. was dir frommt, ao que te interessa saber,
denn Unheil fürchtet, Só os malvados temem lös’ ich’s mit Lehren nicht ein. se os meus ensinamentos não te servirem.
wer unhold ist. as desgraças.
Mime (der zuletzt den Wanderer mit offenem Munde Mime (Que tinha estado a olhar boquiaberto para o
Mime Mime angestaunt hat, schrickt jetzt zusammen; kleinmütig Viajante, treme agora apavorado; medrosamente,
Unheil wohnte As desgraças sempre foram für sich) em aparte.)
immer bei mir: minhas companheiras. Wie werd’ ich den Lauernden los? Como vou ver-me livre deste curioso?
willst du dem Armen es mehren? Queres aumentá-las ainda mais? Verfänglich muss ich ihn fragen. Vou fazer-lhe perguntas insidiosas.
(Er ermannt sich wie zu Strenge) (esforçando-se por ter um ar severo)
Wanderer (langsam immer näher schreitend) O Viajante (aproximando-se lentamente) Dein Haupt pfänd’ ich A tua cabeça é o penhor
Viel erforscht’ ich, Muito procurei für den Herd: pela minha hospitalidade:
erkannte viel: e muito aprendi: nun sorg’, es sinnig zu lösen! esforça-te por salvá-la com o que sabes!
Wicht’ges konnt’ ich a alguns revelei Drei der Fragen Vou fazer-te
manchem künden, coisas importantes, stell’ ich mir frei. três perguntas.
manchem wehren, e a alguns aliviei
was ihn mühte: os tormentos Wanderer O Viajante
nagende Herzensnot. que lhes pesavam no coração. Dreimal muss ich’s treffen. E três vezes tenho de te responder.

Mime Mime Mime (sammelt sich zum Nachdenken) Mime (concentra-se para reflectir)
Spürtest du klug Se muito adivinhaste Du rührtest dich viel Dizes-me que muito percorreste
und erspähtest du viel, e muito te foi dado observar, auf der Erde Rücken, a superfície da terra,
hier brauch’ ich nicht Spürer noch Späher. aqui não preciso de um adivinho ou de um observador. die Welt durchwandert’st du weit; que viajaste muito pelo mundo.
Einsam will ich Quero estar só nun sage mir schlau: Então responde-me:
und einzeln sein, e isolado. welches Geschlecht qual é a raça
Lungerern lass’ ich den Lauf. Que os vagabundos sigam o seu caminho. tagt in der Erde Tiefe? que vive nas profundezas da terra?

Wanderer (tritt wieder etwas näher) O Viajante (volta a aproximar-se) Wanderer O Viajante
Mancher wähnte Houve quem se vangloriasse In der Erde Tiefe Nas profundezas da terra
weise zu sein, de ser sábio tagen die Nibelungen: vivem os Nibelungos:
nur was ihm not tat, e no entanto ignorava Nibelheim ist ihr Land. Nibelheim é o seu território.
wusste er nicht; aquilo que gostaria de saber; Schwarzalben sind sie; São espíritos das trevas;
was ihm frommte, fiz com que me perguntasse Schwarz-Alberich o sombrio Alberich
liess ich erfragen: o que precisava de saber: hütet’ als Herrscher sie einst! reinou em tempos sobre eles!
lohnend lehrt’ ihn mein Wort. as minhas palavras foram-lhe úteis. Eines Zauberringes Este povo trabalhador
zwingende Kraft foi subjugado pela força
Mime (immer ängstlicher, da er den Wanderer sich Mime (em crescente aflição porque vê o Viajante zähmt’ ihm das fleissige Volk. de um anel mágico.
nahen sieht) aproximar-se cada vez mais) Reicher Schätze Para ele reuniram
Müss’ges Wissen Há quem tenha schimmernden Hort um tesouro resplandecente
wahren manche: uma inútil sabedoria: häuften sie ihm: de riquezas incalculáveis:
ich weiss mir grade genug. o que sei basta-me. der sollte die Welt ihm gewinnen. com ele deveria conquistar o mundo.
(Der Wanderer schreitet vollends bis an den Herd vor) (O Viajante chega perto do fogão) Zum zweiten was frägst du, Zwerg? Qual é a tua segunda pergunta, anão?
mir genügt mein Witz, O espírito que possuo é-me suficiente,
ich will nicht mehr: não desejo ter mais: Mime (versinkt in immer tieferes Nachsinnen) Mime (isolando-se cada vez mais nos seus pensamentos)
dir Weisem weis’ ich den Weg! segue o teu caminho, ó sábio! Viel, Wanderer, Sabes muito,
weisst du mir Viajante,

60 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 61


aus der Erde Nabelnest; sobre as entranhas da terra; Mime (nachdem er den Wanderer mit dem Speer Mime (Depois de observar atentamente o Viajante
nun sage mir schlicht, então diz-me agora aufmerksam beobachtet hat, gerät nun in grosse Angst, e a sua lança, é tomado de grande medo,
welches Geschlecht qual é a raça sucht verwirrt nach seinen Gerätschaften und blickt fixa os seus utensílios com o olhar e deita olhares
ruht auf der Erde Rücken? que vive à superfície da terra? scheu zur Seite) furtivos de lado.)
Fragen und Haupt hast du gelöst: Salvaste a cabeça e respondeste bem:
Wanderer O Viajante nun, Wand’rer, geh’ deines Wegs! e agora segue o teu caminho, Viajante!
Auf der Erde Rücken Na superfície da terra
wuchtet der Riesen Geschlecht: vivem os gigantes: Wanderer O Viajante
Riesenheim ist ihr Land. Riesenheim é o seu país. Was zu wissen dir frommt, Devias ter perguntado
Fasolt und Fafner, Fasolt e Fafner, solltest du fragen: aquilo que precisavas saber:
der Rauhen Fürsten, os príncipes desse rude povo, Kunde verbürgte mein Kopf. a minha cabeça contém muitos conhecimentos.
neideten Nibelungs Macht; cobiçaram o poder do Nibelungo; Dass du nun nicht weisst, Mas como não sabes
den gewaltigen Hort conquistaram o seu enorme tesouro was dir frommt, aquilo que te pode ser útil,
gewannen sie sich, e com ele des fass’ ich jetzt deines als Pfand. agora está a tua cabeça em jogo.
errangen mit ihm den Ring. ganharam também o anel. Gastlich nicht O teu acolhimento
Um den entbrannte Por sua causa galt mir dein Gruss, não foi amigável,
den Brüdern Streit; lutaram os irmãos; mein Haupt gab ich pus a minha cabeça
der Fasolt fällte, Fafner, que matou Fasolt, in deine Hand, nas tuas mãos
als wilder Wurm guarda agora o tesouro um mich des Herdes zu freun. para poder aquecer-me junto ao teu fogo.
hütet nun Fafner den Hort. transformado em dragão. Nach Wettens Pflicht Pelas regras do jogo
Die dritte Frage nun droht. Depressa, a terceira pergunta. pfänd’ ich nun dich, a tua vida é minha
lösest du drei se não responderes
Mime (der ganz in Träumerei entrückt ist) Mime (completamente absorto nas suas ideias) der Fragen nicht leicht. às minhas perguntas.
Viel, Wanderer, Sabes muito, Drum frische dir, Mime, den Mut! Vamos, Mime, coragem!
weisst du mir Viajante,
von der Erde rauhem Rücken. sobre a superfície terrestre; Mime (sehr schüchtern und zögernd, endlich in Mime (Muito tímido e hesitante, por fim controla-se com
Nun sage mir wahr, então diz-me agora furchtsamer Ergebung sich fassend) grande esforço.)
welches Geschlecht qual é a raça Lang’ schon mied ich Há muito que saí
wohnt auf wolkigen Höh’n? que vive nas alturas por sobre as nuvens? mein Heimatland, da minha terra natal,
lang’ schon schied ich há muito que saí
Wanderer O Viajante aus der Mutter Schoss; do ventre de minha mãe;
Auf wolkigen Höh’n wohnen die Götter: Por sobre as nuvens vivem os Deuses: mir leuchtete Wotans Auge, em tempos o olhar de Wotan
Walhall heisst ihr Saal. a sua casa é o Valhala. zur Höhle lugt’ es herein: espreitou na minha gruta:
Lichtalben sind sie; São espíritos da luz; vor ihm magert o que sei não é nada
Licht-Alberich, Wotan, waltet der Schar. Wotan, um Alberich luminoso, é o seu chefe. mein Mutterwitz. perante ele.
Aus der Welt-Esche weihlichstem Aste Criou para si uma lança Doch frommt mir’s nun weise zu sein, Mas visto que o meu saber me tem de ajudar
schuf er sich einen Schaft: com os ramos sagrados do freixo do mundo. Wand’rer, frage denn zu! faz as tuas perguntas, Viajante!
dorrt der Stamm, nie verdirbt doch der Speer; Se o seu tronco definhou nunca a lança morreu, Vielleicht glückt mir’s, gezwungen Talvez sob tensão
mit seiner Spitze sperrt Wotan die Welt. e Wotan avassala o mundo com a ponta da lança. zu lösen des Zwerges Haupt. consiga salvar a minha cabeça.
Heil’ger Verträge Treuerunen Nela gravou ele
schnitt in den Schaft er ein. as runas de fidelidade aos pactos sagrados. Wanderer (wieder gemächlich sich niederlassend) O Viajante (de novo sentando-se comodamente)
Den Haft der Welt hält in der Hand, A lança agora segura Nun, ehrlicher Zwerg, Então diz-me em primeiro lugar,
wer den Speer führt, pelo punho de Wotan, sag’ mir zum ersten: honrado anão,
den Wotans Faust umspannt. dará o controle do mundo welches ist das Geschlecht, qual é a raça
Ihm neigte sich der Niblungen Heer; àquele que a detiver. dem Wotan schlimm sich zeigte para quem Wotan sempre se mostrou hostil
der Riesen Gezücht zähmte sein Rat: Perante Wotan se curvaram os Nibelungos, und das doch das liebste ihm lebt? e que, no entanto, muito amava?
ewig gehorchen sie alle ele dominou a raça dos gigantes.
des Speeres starkem Herrn. Para sempre todos obedecem Mime (sich ermunternd) Mime (retomando a coragem)
(Er stösst wie unwillkürlich mit dem Speer auf den ao poderoso senhor da lança. Wenig hört’ ich Pouco ouvi falar
Boden; ein leiser Donner lässt sich vernehmen, wovon (Como por acaso bate com a sua lança no chão; von Heldensippen; de estirpes de heróis
Mime heftig erschrickt) ouve-se um trovão abafado que assusta Mime.) der Frage doch mach’ ich mich frei. e, no entanto, sei dar-te resposta.
Nun rede, weiser Zwerg: E então, sábio anão, Die Wälsungen sind A raça eleita
wusst’ ich der Fragen Rat? respondi bem às tuas perguntas? das Wunschgeschlecht, que Wotan criou
Behalte mein Haupt ich frei? Salvei a minha cabeça? das Wotan zeugte e ternamente amou

62 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 63


und zärtlich liebte, são os Wälsung, Wanderer (lachend) O Viajante (rindo)
zeigt’ er auch Ungunst ihm. apesar de sempre ter aparentado detestá-los. Der witzigste bist du És o mais esperto
Siegmund und Sieglind, Siegmund e Sieglinde unter den Weisen: de entre os sábios:
stammten von Wälse, são filhos de Wälse, wer käm’ dir an Klugheit gleich? quem tem a tua sabedoria?
ein wild-verzweifeltes gémeos selvagens, Doch bist du so klug, Mas já que és tão esperto
Zwillingspaar: unidos pelo desespero. den kindischen Helden para manipular o infantil herói,
Siegfried zeugten sie selbst, Siegfried é o seu filho, für Zwergenzwecke zu nützen, para os teus propósitos de anão
den stärksten Wälsungenspross. o mais forte entre os Wälsung. mit der dritten Frage aqui te faço
Behalt’ ich, Wand’rer, Para já, Viajante, droh’ ich nun! a terceira pergunta!
zum ersten mein Haupt? posso conservar a minha cabeça? Sag’ mir, du weiser Diz-me,
Waffenschmied: sábio ferreiro,
Wanderer (gemütlich) O Viajante (amável) wer wird aus den starken Stücken quem é que, com os robustos pedaços de espada,
Wie doch genau Quão acertadamente Notung, das Schwert, wohl schweissen? conseguirá de novo forjar Notung?
das Geschlecht du mir nennst: me nomeaste a sua raça:
schlau eracht’ ich dich Argen! és uma fina raposa! Mime (fährt im höchsten Schrecken auf) Mime (em pânico)
Der ersten Frage Libertaste-te Die Stücken! Das Schwert! Os pedaços! A espada!
wardst du frei. da primeira pergunta. O weh! Mir schwindelt! Ai! Desfaleço!
Zum zweiten nun sag’ mir, Zwerg: Em segundo lugar diz-me, anão: Was fang’ ich an? Que posso fazer?
ein weiser Niblung um sábio Nibelungo Was fällt mir ein? Que hei-de inventar?
wahret Siegfried; guarda Siegfried; Verfluchter Stahl, Maldita lâmina,
Fafner soll er ihm fällen, este deve matar Fafner dass ich dich gestohlen! porque te roubei!
dass den Ring er erränge, para que ele conquiste o anel, Er hat mich vernagelt Acorrentou-me
des Hortes Herrscher zu sein. e possuir o tesouro. in Pein und Not! às minhas penas!
Welches Schwert Qual é a espada Mir bleibt er hart, Sempre se recusou a moldar-se,
muss Siegfried nun schwingen, que Siegfried deve brandir ich kann ihn nicht hämmern: não a consigo martelar:
taug’ es zu Fafners Tod? se quiser matar Fafner? Niet’ und Löte a solda e os rebites
lässt mich im Stich! deixaram-me ficar mal!
Mime (seine gegenwärtige Lage immer mehr vergessend Mime (esquecendo-se da sua actual situação e (Er wirft wie sinnlos sein Gerät durcheinander und bricht (como louco atira os seus utensílios para o chão em
und von dem Gegenstande lebhaft angezogen, reibt sich entusiasmado pelo assunto esfrega as mãos de in helle Verzweiflung aus.) desordem deixando transparecer um enorme desespero)
vergnügt die Hände) contente) Der weiseste Schmied O mais experiente dos ferreiros
Notung heisst Notung é o nome weiss sich nicht Rat! não sabe como fazer!
ein neidliches Schwert; da cobiçada espada; Wer schweisst nun das Schwert, Quem soldará a espada
in einer Esche Stamm Wotan cravou-a schaff’ ich es nicht? se eu não o consigo?
stiess es Wotan: no tronco de um freixo: Das Wunder, wie soll ich’s wissen? Como hei-de obter um milagre?
dem sollt’ es geziemen, aquele que a arrancasse
der aus dem Stamm es zög’. seria o seu dono e senhor. Wanderer (ist ruhig vom Herd aufgestanden) O Viajante (levanta-se calmamente)
Der stärksten Helden Tal não foi concedido Dreimal solltest du fragen, Podias fazer três perguntas,
keiner bestand’s: aos mais fortes heróis. dreimal stand ich dir frei: três vezes te podia responder:
Siegmund, der Kühne, Só Siegmund, o bravo, nach eitlen Fernen quiseste saber novidades
konnt’s allein: o conseguiu: forschtest du; de terras longínquas;
fechtend führt’ er’s im Streit, foi a sua arma no combate doch was zunächst dir sich fand, mas não te ocorreu ter respostas
bis an Wotans Speer es zersprang. até que a lança de Wotan a partiu. was dir nützt, fiel dir nicht ein. sobre aquilo que te é próximo e te interessa.
Nun verwahrt die Stücken Os seus pedaços Nun ich’s errate, E prevejo
ein weiser Schmied; guarda-os um sábio ferreiro; wirst du verrückt: que isso há-de enlouquecer-te:
denn er weiss, dass allein ele sabe que só gewonnen hab’ ich a tua sábia cabeça
mit dem Wotansschwert com a espada de Wotan das witzige Haupt! é minha!
ein kühnes dummes Kind, o jovem e ignorante Siegfried Jetzt, Fafners kühner Bezwinger, Grande vencedor de Fafner,
Siegfried, den Wurm versehrt. poderá matar o dragão. hör’, verfall’ner Zwerg: anão destronado, ouve bem:
(ganz vergnügt) (muito satisfeito) «Nur wer das Fürchten «Só aquele
Behalt’ ich Zwerg O anão pela segunda vez nie erfuhr, que não sabe o que é o medo
auch zweitens mein Haupt? pode conservar a sua cabeça? schmiedet Notung neu.» poderá forjar Notung de novo.»
(Mime starrt ihn gross an: er wendet sich zum (Mime olha para ele estarrecido: o Viajante dirige-se
Fortgange.) para a saída.)

64 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 65


Dein weises Haupt A partir de hoje Siegfried (lachend) Siegfried (rindo)
wahre von heut’: toma cuidado com a tua preciosa cabeça: Hinter dem Amboss? Atrás da bigorna?
verfallen lass’ ich es dem, eu ofereço-a àquele Sag’, was schufest du dort? Diz-me lá, o que fazes aí?
der das Fürchten nicht gelernt! que não conhece o medo! Schärftest du mir das Schwert? Estás a trabalhar na espada?
(Er wendet sich lächelnd ab und verschwindet schnell (Sorrindo vira costas e desaparece na floresta. Mime
im Walde. Mime ist wie vernichtet auf den Schemel caiu como que aniquilado sobre o banco por detrás da Mime (höchst verstört und zerstreut hervorkommend) Mime (Avançando, muito perturbado e ausente.)
hinter dem Amboss zurückgesunken.) bigorna.) Das Schwert? Das Schwert? A espada? A espada?
Wie möcht’ ich’s schweissen? Como a hei-de forjar?
«Nur wer das Fürchten «Só aquele
nie erfuhr, que não sabe o que é o medo
3. Szene Cena 3 schmiedet Notung neu.» poderá forjar Notung de novo.»
Mime, Siegfried. Mime, Siegfried. Zu weise ward ich Sei demais para
für solches Werk! poder completar tal trabalho!
Mime (stiert grad vor sich aus in den sonnig Mime (olha fixamente para a floresta soalheira à sua
beleuchteten Wald hinein und gerät zunehmend in frente, e é tomado aos poucos de tremores cada vez Siegfried (heftig) Siegfried (bruscamente)
heftiges Zittern) mais violentos) Wirst du mir reden? Queres falar comigo?
Verfluchtes Licht! Maldita luz! Soll ich dir raten? Queres que diga o que penso?
Was flammt dort die Luft? Que brilha ali no ar?
Was flackert und lackert, O que é que ali estremece e pula, Mime (wie zuvor) Mime (como antes)
was flimmert und schwirrt, cintila e vibra, Wo nähm’ ich redlichen Rat? Quem me pode dar um bom conselho?
was schwebt dort und webt o que é que ali paira e flutua Mein weises Haupt A minha sábia cabeça
und wabert umher? e em redor vacila? hab’ ich verwettet: perdi-a na aposta:
Da glimmert’s und glitzt’s Brilha e crepita (vor sich hin starrend) (Olhando em frente, fixamente.)
in der Sonne Glut! no fogo do sol! verfallen, verlor ich’s an den, Perdi-a, ela pertence,
Was säuselt und summt O que é que murmura e zumbe «der das Fürchten nicht gelernt». «ao que não conhece o medo».
und saust nun gar? e até sussurra?
Es brummt und braust Vem nesta direcção a rugir, Siegfried (ungestüm) Siegfried (impetuoso)
und prasselt hieher! troar e crepitar! Sind mir das Flausen? Quantas aldrabices!
Dort bricht’s durch den Wald, Vem a sair da floresta Willst du mir fliehn? Tentas escapar-me?
will auf mich zu! e dirige-se a mim!
(Er bäumt sich vor Entsetzen auf.) (arqueia-se com o terror) Mime (allmählich sich etwas fassend) Mime (aos poucos ganhando controle)
Ein grässlicher Rachen Uma enorme bocarra Wohl flöh’ ich dem, Deveria fugir àquele
reisst sich mir auf: abre-se à minha frente: der’s Fürchten kennt! que não conhece o medo!
der Wurm will mich fangen! o dragão quer apanhar-me! Doch das liess ich dem Kinde zu lehren! Foi coisa que não ensinei ao rapaz!
Fafner! Fafner! Fafner! Fafner! Ich Dummer vergass, Esqueci-me, estúpido que sou,
(Er sinkt laut schreiend hinter dem breiten Amboss (por entre gritos desfalece por detrás da grande was einzig gut: do que era importante.
zusammen.) bigorna) Liebe zu mir Deveria aprender
sollt’ er lernen; a ter-me amor:
Siegfried (bricht aus dem Waldgesträuch hervor und ruft Siegfried (saindo da floresta e chamando já do fundo das gelang nun leider faul! e isso não consegui!
noch hinter der Szene, während man seine Bewegung da cena quando nos apercebemos da sua Wie bring’ ich das Fürchten ihm bei? Como lhe poderei ensinar o medo?
an dem zerkrachenden Gezweige des Gesträuches aproximação pelos movimentos e barulho
gewahrt) dos ramos das árvores) Siegfried (packt ihn) Siegfried (agarra-o)
Heda, du Fauler! Então, preguiçoso! He! Muss ich helfen? Eh! Precisas de ajuda?
Bist du nun fertig? Já está tudo pronto? Was fegtest du heut’? Que engendraste hoje?
(Er tritt in die Höhle herein und hält verwundert an.) (entra na gruta e estaca admirado)
Schnell, wie steht’s mit dem Schwert? Depressa, diz-me como vai a espada? Mime Mime
Wo steckt der Schmied? Onde é que está o ferreiro? Um dich nur besorgt, Preocupado contigo,
Stahl er sich fort? Fugiu? versank ich in Sinnen, estava para aqui a pensar
Hehe! Mime, du Memme! Eh! Mime, cobarde! wie ich dich Wichtiges wiese. como explicar-te algo de muito importante.
Wo bist du? Wo birgst du dich? Onde estás? Onde te escondes?
Siegfried (lachend) Siegfried (rindo)
Mime (mit schwacher Stimme hinter dem Amboss) Mime (Com uma voz débil, por detrás da bigorna.) Bis unter den Sitz E para isso
Bist du es, Kind? És tu, rapaz? warst du versunken: sentaste-te no chão:
Kommst du allein? Vens sozinho? was Wichtiges fandest du da? o que há aí de tão importante?

66 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 67


Mime (sich immer mehr fassend) Mime (cada vez mais seguro de si) Siegfried (nachsinnend) Siegfried (reflectindo)
Das Fürchten lernt’ ich für dich, Estou aqui para aprender a ter medo Sonderlich seltsam Que estranho
dass ich’s dich Dummen lehre. para depois, ignorante, to poder ensinar. muss das sein! que isso deve ser!
Hart und fest, O meu coração
Siegfried (mit ruhiger Verwunderung) Siegfried (calmamente surpreendido) fühl’ ich, steht mir das Herz. sinto-o sempre seguro e firme.
Was ist’s mit dem Fürchten? Que é isso de medo? Das Grieseln und Grausen, Estremecer e vibrar,
das Glühen und Schauern, ter calor e tremer,
Mime Mime Hitzen und Schwindeln, latejar e ter vertigens,
Erfuhrst du’s noch nie Não sabes o que isso é Hämmern und Beben: sentir o coração martelar e fraquejar:
und willst aus dem Wald e queres atravessar a floresta gern begehr’ ich das Bangen, gostaria de ter essa sensação,
doch fort in die Welt? e ir ver o mundo? sehnend verlangt mich’s der Lust! de bom grado desejo esse prazer!
Was frommte das festeste Schwert, De que serve a melhor das espadas Doch wie bringst du, Mas como vais fazer, Mime,
blieb dir das Fürchten fern? se não sabes o que é o medo? Mime, mir’s bei? que eu o sinta?
Wie wärst du, Memme, mir Meister? Como vais ser meu professor, ó poltrão?
Siegfried (ungeduldig) Siegfried (impaciente)
Faulen Rat Estás a inventar Mime Mime
erfindest du wohl? fracas desculpas! Folge mir nur, Vem comigo,
ich führe dich wohl: sei onde levar-te.
Mime (immer zutraulicher Siegfried näher tretend) Mime (Chegando-se a Siegfried, cada vez mais cordial.) sinnend fand ich es aus. Ao reflectir descobri como fazer;
Deiner Mutter Rat É um conselho da tua mãe Ich weiss einen schlimmen Wurm, Sei de um terrível dragão
redet aus mir; que te estou a repetir; der würgt’ und schlang schon viel: que já estrangulou e devorou mais de um:
was ich gelobte, o que prometi Fafner lehrt dich das Fürchten, Fafner ensina-te a ter medo
muss ich nun lösen: tenho agora de cumprir. folgst du mir zu seinem Nest. se fores até à sua caverna.
in die listige Welt Não te posso deixar partir
dich nicht zu entlassen, para o mundo traiçoeiro Siegfried Siegfried
eh’ du nicht das Fürchten gelernt. sem te ter ensinado a ter medo. Wo liegt er im Nest? Onde é que ele se encontra?

Siegfried (heftig) Siegfried (brusco) Mime Mime


Ist’s eine Kunst, Se é uma arte Neidhöhle Chamam-lhe
was kenn’ ich sie nicht? porque não a sei eu? wird es genannt: Neidhöhle (Caverna da inveja)
Heraus! Was ist’s mit dem Fürchten? Vamos! Que história é essa de medo? im Ost, am Ende des Walds. Fica a oriente, no fim da floresta.

Mime Mime Siegfried Siegfried


Fühltest du nie Nunca sentiste, Dann wär’s nicht weit von der Welt? Daí o mundo não fica longe?
im finstren Wald, na floresta profunda
bei Dämmerschein quando se aproxima a noite, Mime Mime
am dunklen Ort, num local sombrio, Bei Neidhöhle liegt sie ganz nah. Fica bem perto de Neidhöhle.
wenn fern es säuselt, quando ao longe sussurra
summt und saust, murmura e zumbe, Siegfried Siegfried
wildes Brummen um rugido Dahin denn sollst du mich führen: Então leva-me até lá!
näher braust, que se aproxima, lernt’ ich das Fürchten, Vou saber o que é o medo
wirres Flackern chamas confusas dann fort in die Welt! e depois sigo mundo fora!
um dich flimmert, que à tua volta crepitam, Drum schnell! Schaffe das Schwert, Depressa! Forja-me a espada,
schwellend Schwirren estremecendo e vibrando in der Welt will ich es schwingen. que a quero brandir pelo mundo.
zu Leib dir schwebt: penetram o teu corpo,
fühltest du dann nicht grieselnd nunca sentiste então um tremor Mime Mime
Grausen die Glieder dir fahen? de medo invadir os teus membros? Das Schwert? O Not! A espada? Que desgraça!
Glühender Schauer Um terror ardente
schüttelt die Glieder, faz tremer o teu corpo, Siegfried Siegfried
in der Brust bebend und bang e no teu peito uma angústia, Rasch in die Schmiede! Depressa para a forja!
berstet hämmernd das Herz? que faz o teu coração pulsar violentamente? Weis’, was du schufst! Mostra-me o que fizeste!
Fühltest du das noch nicht, Se nunca sentiste nada disto
das Fürchten blieb dir dann fremd. então é porque não sabes o que é o medo.

68 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 69


Mime Mime Siegfried Siegfried
Verfluchter Stahl! Maldito aço! Fort mit dem Brei! Fora com ela!
Zu flicken versteh’ ich ihn nicht: Não sei como o reparar – Ich brauch’ ihn nicht: Não preciso das tuas mistelas!
den zähen Zauber a força de um anão Mit Bappe back’ ich kein Schwert! Não vou cozer lá nenhuma espada!
bezwingt keines Zwergen Kraft. não chega para dominar o seu poder tenaz.
Wer das Fürchten nicht kennt, Aquele que não conhece o medo Mime Mime
der fänd’ wohl eher die Kunst. é bem capaz de o conseguir. Du zerfeilst die Feile, Estás a estragar a lâmina,
zerreibst die Raspel: a moer a lima.
Siegfried Siegfried wie willst du den Stahl zerstampfen? Pensas que se pode triturar o aço?
Feine Finten O preguiçoso arranja
weiss mir der Faule; sempre boas desculpas; Siegfried Siegfried
dass er ein Stümper, como não quer confessar Zersponnen muss ich Tenho de o reduzir
sollt’ er gestehn: que é um incapaz, in Späne ihn sehn: a pequenos pedaços:
nun lügt er sich listig heraus! tem de inventar mentiras! was entzwei ist, zwing’ ich mir so. é assim que conseguirei unir tudo.
Her mit den Stücken, Dá cá os pedaços (Er feilt mit grossem Eifer fort.) (continua a triturar com grande energia)
fort mit dem Stümper! e desaparece, inútil!
(auf den Herd zuschreitend) (dirigindo-se ao fogão) Mime (für sich) Mime (aparte)
Des Vaters Stahl A arma de meu pai Hier hilft kein Kluger, Aqui não interessa o saber,
fügt sich wohl mir: deve decerto obedecer-me: das seh’ ich klar: bem o vejo.
ich selbst schweisse das Schwert! eu próprio a vou forjar! hier hilft dem Dummen A ignorância é que deve
(Er macht sich, Mimes Gerät durcheinander werfend, (Deitando ao chão os utensílios de Mime, atira-se ao die Dummheit allein! ajudar o ignorante!
mit Ungestüm an die Arbeit.) trabalho com impaciência.) Wie er sich rührt Como ele se agita
und mächtig regt! e como está atarefado!
Mime Mime lhm schwindet der Stahl, O aço está a desfazer-se
Hättest du fleissig Se tivesses aprendido doch wird ihm nicht schwül! e ele não se importa!
die Kunst gepflegt, com aplicação a minha arte (Siegfried hat das Herdfeuer zur hellsten Glut angefacht.) (Siegfried ateou energicamente o lume do fogão)
jetzt käm’ dir’s wahrlich zugut; agora sabias como fazer, Nun ward ich so alt Sou tão velho
doch lässig warst du mas sempre foste distraído wie Höhl’ und Wald, quanto esta gruta e esta floresta
stets in der Lehr’: quando te ensinava. und hab’ nicht so was geseh’n! e nunca vi tal coisa!
was willst du Rechtes nun rüsten? Como vais conseguir agora algo de jeito? (Während Siegfried mit ungestümem Eifer fortfährt, (Enquanto Siegfried energicamente continua a
die Schwertstücken zu zerfeilen, setzt sich Mime noch limar os pedaços da espada, Mime
Siegfried Siegfried mehr beiseite.) vai sentar-se um pouco mais longe.)
Was der Meister nicht kann, O professor não sabe como fazer! Mit dem Schwert gelingt’s, Já estou a ver
vermöcht’ es der Knabe, Se o rapaz tivesse aprendido com ele das lern’ ich wohl: que vai conseguir
hätt’ er ihm immer gehorcht? achas que agora seria capaz de conseguir? furchtlos fegt er’s zu ganz. sem medo forjar a espada.
(Er dreht ihm eine Nase) (faz-lhe uma careta) Der Wand’rer wusst’ es gut! O Viajante sabia o que dizia!
Jetzt mach’ dich fort, Desaparece Wie berg’ ich nun Como salvar
misch’ dich nicht drein: e não te metas no meu trabalho. mein banges Haupt? a minha pobre cabeça?
sonst fällst du mir mit ins Feuer! Olha que ainda te atiro ao lume! Dem kühnen Knaben verfiel’s, Ela pertence ao corajoso rapaz
(Er hat eine grosse Menge Kohlen auf dem Herd (Junta uma grande quantidade de carvão onde ateia o lehrt’ ihn nicht Fafner die Furcht! se com Fafner não aprender a ter medo!
aufgehäuft und unterhält in einem fort die Glut, während lume. Prende a espada num torno limando-a para a (mit wachsender Unruhe aufspringend und sich beugend) (levanta-se e curva-se irrequietamente)
er die Schwertstücke in den Schraubstock einspannt und reduzir a pequenas lascas.) Doch weh’ mir Armen! Ai de mim!
sie zu Spänen zerfeilt. Wie würgt’ er den Wurm, Se ele tiver medo
erführ’ er das Fürchten von ihm? como é que vai matar o dragão?
Mime (der sich etwas abseits niedergesetzt hat, sieht Mime (que se sentou um pouco de lado observa a Wie erräng’ er mir den Ring? Como vou então conquistar o anel?
Siegfried bei der Arbeit zu) actividade de Siegfried) Verfluchte Klemme! Maldito dilema!
Was machst du denn da? Que estás a fazer? Da klebt’ ich fest, Estou preso a ele
Nimm doch die Löte: Pega na solda, fänd’ ich nicht klugen Rat, se não encontrar uma solução!
den Brei braut’ ich schon längst. há muito que já está preparada. wie den Furchtlosen selbst ich bezwäng’. Como poderei eu dominar o corajoso?

70 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 71


Siegfried (hat nun die Stücken zerfeilt und in einem Siegfried (reuniu os pequenos pedaços num recipiente Mit Witz und List Com astúcia e manha
Schmelztiegel gefangen, den er jetzt in die Herdglut stellt) que coloca sobre o lume) erlang’ ich beides tenho de conseguir obtê-los
He, Mime! Geschwind! Eh, Mime! Depressa! und berge heil mein Haupt. e salvar a minha cabeça.
Wie heisst das Schwert, Como se chama a espada
das ich in Späne zersponnen? que reduzi a limalhas? Siegfried (nochmals am Blasebalg) Siegfried (de novo com o fole)
Hoho! Hoho! Hoho! Hoho!
Mime (fährt zusammen und wendet sich zu Siegfried) Mime (assusta-se e vira-se para Siegfried) Hohei! Hohei! Hohei! Hohei! Hohei! Hohei!
Notung nennt sich A espada cobiçada
das neidliche Schwert: chama-se Notung, Mime (im Vordergrunde für sich) Mime (No proscénio, para si.)
deine Mutter gab mir die Mär. foi a tua mãe que mo disse. Rang er sich müd mit dem Wurm, Depois da luta com o dragão estará cansado
von der Müh’ erlab’ ihn ein Trunk: e quererá beber para se refrescar:
Siegfried (nährt unter dem folgenden die Glut mit dem Siegfried (durante o que se segue atiça o lume com um aus würz’gen Säften, vou preparar uma zurrapa
Blasebalg) fole) die ich gesammelt, feita do suco de ervas
Notung! Notung! Notung! Notung! brau’ ich den Trank für ihn; que recolhi;
Neidliches Schwert! Espada desejada! wenig Tropfen nur bastará beber
Was musstest du zerspringen? Porque te partiste? braucht er zu trinken, poucas gotas
Zu Spreu nun schuf ich Reduzi a tua forte lâmina sinnenlos sinkt er in Schlaf. para ficar adormecido.
die scharfe Pracht, a farripas, Mit der eignen Waffe, Com a sua espada,
im Tiegel brat’ ich die Späne. neste cadinho aqueço a tua limalha. die er sich gewonnen, a que ele conquistou,
Hoho! Hoho! Hoho! Hoho! räum’ ich ihn leicht aus dem Weg, posso facilmente fazê-lo desaparecer
Hohei! Hohei! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho! erlange mir Ring und Hort. e possuir o anel e o tesouro.
Blase, Balg! Sopra fole! (Er reibt sich vergnügt die Hände.) (esfrega as mãos de contentamento)
Blase die Glut! Sopra o lume! Hei! Weiser Wand’rer! Então, sábio Viajante,
Wild im Walde Uma árvore selvagem Dünkt’ ich dich dumm? sou assim tão parvo?
wuchs ein Baum, crescia na floresta. Wie gefällt dir nun O que achas
den hab’ ich im Forst gefällt: Fui eu quem a abateu: mein feiner Witz? da minha ideia?
die braune Esche o seu tronco Fand ich mir wohl Terei eu encontrado solução
brannt’ ich zur Kohl’, reduzi ao carvão Rat und Ruh’? que assegure o meu bem-estar?
auf dem Herd nun liegt sie gehäuft. que agora está sobre este fogão.
Hoho! Hoho! Hoho! Hoho! Siegfried Siegfried
Hohei! Hohei! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho! Notung! Notung! Notung! Notung!
Blase, Balg! Sopra fole! Neidliches Schwert! Espada desejada!
Blase die Glut! Sopra o lume! Nun schmolz deines Stahles Spreu! Os pedaços do teu aço já derreteram!
Des Baumes Kohle, O carvão dessa árvore Im eignen Schweisse Já nadas
wie brennt sie kühn; como arde bem, schwimmst du nun. no teu próprio suor.
wie glüht sie hell und hehr! que lume espevitado e forte! (Er giesst den glühenden Inhalt des Tiegels in eine (escorre o conteúdo do cadinho para dentro de um
In springenden Funken Crepitam alegres Stangenform und hält diese in die Höhe.) molde em forma de vara e agita-a no ar)
sprühet sie auf: fagulhas: Bald schwing’ ich dich als mein Schwert! Em breve te brandirei como minha espada!
Hohei! Hohei! Hohei! Hohei! Hohei! Hohei! (Er stösst die gefüllte Stangenform in den (Mergulha o molde que acabou de encher num balde
Zerschmilzt mir des Stahles Spreu. Façam fundir-se toda essa limalha. Wassereimer; Dampf und lautes Gezisch com água; do metal que arrefece soltam-se
Hoho! Hoho! Hoho! Hoho! der Kühlung erfolgen.) vapor e silvos.)
Hohei! Hohei! Hoho! Hohei! Hohei! Hoho! In das Wasser floss Um rio de fogo
Blase, Balg! Sopra fole! ein Feuerfluss: desaguou nestas águas:
Blase die Glut! Sopra o lume! grimmiger Zorn colérico,
zischt’ ihm da auf! lançou silvos de fúria!
Mime (immer für sich, entfernt sitzend) Mime (Sentado à distância, para si.) Wie sehrend er floss, Que violento se precipitou!
Er schmiedet das Schwert, Vai forjar a espada in des Wassers Flut Mas agora, nas águas,
und Fafner fällt er: e matar Fafner. fliesst er nicht mehr. já não se mexe.
das seh’ ich nun sicher voraus. Já quase vejo como vai acontecer. Starr ward er und steif, O forte e orgulhoso aço
Hort und Ring Na luta herrisch der harte Stahl: está agora rígido e duro.
erringt er im Harst: ganhará o tesouro e o anel: heisses Blut doch Em breve lhe farei
wie erwerb’ ich mir den Gewinn? como lhos vou tirar? fliesst ihm bald! correr um novo sangue!

72 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 73


(Er stösst den Stahl in die Herdglut und zieht die (coloca o aço no lume e violentamente faz Heiaho! Haha! Heiaho! Haha!
Blasebälge mächtig an.) soprar o fole) Haheiaha! Haheiaha!
Nun schwitze noch einmal, De novo vais suar Nun hat die Glut Agora o fogo
dass ich dich schweisse, para que te possa forjar dich rot geglüht; voltou a avermelhar-te;
Notung, neidliches Schwert! Notung, espada desejada! deine weiche Härte a tua doce força
(Mime ist vergnügt aufgesprungen; er holt verschiedene (Mime levantou-se satisfeito; escolhe vários frascos dem Hammer weicht: cede a este martelo.
Gefässe hervor, schüttet aus ihnen Gewürz und Kräuter de onde tira raízes e ervas para dentro de um zornig sprühst du mir Funken, Irada, lanças fagulhas
in einen Kochtopf und sucht, diesen auf dem Herd tacho que tenta pôr ao lume. Enquanto trabalha, dass ich dich Spröden gezähmt! porque, áspera, estou a dominar-te!
anzubringen. Siegfried beobachtet während der Arbeit Siegfried observa Mime que, do outro lado Heiaho! Heiaho! Heiaho! Heiaho!
Mime, welcher vom andern Ende des Herdes her seinen do fogão, pousa cautelosamente o seu tacho Heiahohoho! Heiahohoho!
Topf sorgsam an die Glut stellt.) no lume.) Hahei! Hahei!
Was schafft der Tölpel O que é que este tonto
dort mit dem Topf? está ali a fazer com o seu tacho? Mime (beiseite) Mime (aparte)
Brenn’ ich hier Stahl, Enquanto eu aqui forjo o aço, Er schafft sich ein scharfes Schwert, Ele está a forjar uma sólida espada
braust du dort Sudel? tu preparas mistelas? Fafner zu fällen, para matar Fafner,
der Zwerge Feind: o inimigo dos anões.
Mime Mime ich braut’ ein Truggetränk, Eu preparo uma poção envenenada
Zuschanden kam ein Schmied, Era uma vez um ferreiro que passou pela vergonha Siegfried zu fangen, para apanhar Siegfried,
den Lehrer sein Knabe lehrt: de ser ensinado pelo seu aluno; dem Fafner fiel. que vencerá o dragão.
mit der Kunst nun ist’s beim Alten aus, este velhote já não quer exercer a sua arte, Gelingen muss mir die List; A minha ideia há-de resultar;
als Koch dient er dem Kind. agora passou a cozinheiro do rapaz. lachen muss mir der Lohn! hei-de ter a minha recompensa!
Brennt es das Eisen zu Brei, Enquanto ele derrete o aço, (Er beschäftigt sich während des folgenden damit, den (durante o que se segue ocupa-se a verter o conteúdo
aus Eiern braut o anão faz-lhe uma sopa Inhalt des Topfes in eine Flasche zu giessen.) do tacho para um frasco)
der Alte ihm Sud. com ovos.
(Er fährt fort zu kochen.) (prossegue com os seus cozinhados) Siegfried Siegfried
Hoho! Hoho! Hoho! Hoho!
Siegfried Siegfried Hohei! Hahei! Hohei! Hahei!
Mime, der Künstler, Mime, o artista, Schmiede, mein Hammer, Forja-me, martelo
lernt jetzt kochen; está agora a aprender a cozinhar; ein hartes Schwert! uma forte espada!
das Schmieden schmeckt ihm nicht mehr. já não tem gosto em ser ferreiro. Hoho! Hahei! Hoho! Hahei!
Seine Schwerter alle Parti todas as espadas Hoho! Hahei! Hoho! Hahei!
hab’ ich zerschmissen; que ele fez para mim; Der frohen Funken Como me alegro
was er kocht, ich kost’ es ihm nicht! acho que não vou experimentar os seus cozinhados! wie freu’ ich mich; com as tuas vivas fagulhas,
(Unter dem Folgenden zieht Siegfried die Stangenform (Durante o que se segue, Siegfried retira o molde es ziert den Kühnen a violência da tua cólera
aus der Glut, zerschlägt sie und legt den glühenden do lume, parte-o e coloca o aço incandescente des Zornes Kraft: bem honra a tua coragem.
Stahl auf dem Amboss zurecht.) sobre a bigorna.) lustig lachst du mich an, Alegre, ris-te para mim
Das Fürchten zu lernen, Vai levar-me até ao sítio stellst du auch grimm dich und gram! apesar de te mostrares assanhada e agressiva!
will er mich führen; onde posso conhecer o medo, Heiaho, haha, Heiaho, haha,
ein Ferner soll es mich lehren: um outro mo há-de ensinar: haheiaha! haheiaha!
was am besten er kann, aquilo que ele sabe fazer bem Durch Glut und Hammer Com o fogo e o martelo
mir bringt er’s nicht bei: não me quer ensinar: glückt’ es mir; consegui;
als Stümper besteht er in allem! não serve mesmo para nada! mit starken Schlägen com grandes golpes
(während des Schmiedens) (enquanto martela a espada) streckt’ ich dich: te endireito;
Hoho! Hoho! Hohei! Hoho! Hoho! Hohei! nun schwinde die rote Scham; não cores mais de vergonha;
Schmiede, mein Hammer, Forja-me, martelo, werde kalt und hart, wie du kannst. mostra-te fria e dura como és.
ein hartes Schwert! uma forte espada! Heiaho! Heiaho! Heiaho! Heiaho!
Hoho! Hahei! Hoho! Hahei! Heiahohoho! Heiahohoho!
Hoho! Hahei! Hoho! Hahei! Heiah! Heiah!
Einst färbte Blut Em tempo o sangue (Er schwingt den Stahl und stösst ihn in den (Agita a espada e mergulha-a no balde com água.
dein falbes Blau; coloriu o teu reflexo azulado; Wassereimer. Er lacht bei dem Gezisch laut auf. Diverte-se com o barulho que provocou. Enquanto
sein rotes Rieseln as suas gotas de púrpura Während Siegfried die geschmiedete Schwertklinge in Siegfried ajusta a lâmina ao cabo da espada, Mime
rötete dich: avermelharam-te. dem Griffhefte befestigt, treibt sich Mime mit der anda de um lado para o outro no proscénio.)
kalt lachtest du da, Ainda frígida rias tu Flasche im Vordergrunde umher.)
das warme lecktest du kühl! e esgotavas o seu calor!

74 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 75


Mime Mime nun lacht ihm sein heller Schein, E agora o seu claro brilho sorri
Den der Bruder schuf, O luminoso anel seine Schärfe schneidet ihm hart e a sua dura lâmina corta.
den schimmernden Reif, que o meu irmão criou, (das Schwert vor sich schwingend) (brandindo a espada)
in den er gezaubert em que ele fixou por magia Notung! Notung! Notung! Notung!
zwingende Kraft, um grande poder, Neidliches Schwert! Espada desejada!
das helle Gold, esse ouro brilhante Zum Leben weckt’ ich dich wieder, De novo te acordei para a vida,
das zum Herrscher macht, que me torna senhor do mundo, tot lagst du estavas morta,
ihn hab’ ich gewonnen! já é meu! in Trümmern dort, feita em pedaços,
Ich walte sein! Sou o seu dono! jetzt leuchtest du trotzig und hehr! e agora brilhas nobre e altiva!
(Er trippelt, während Siegfried mit dem kleinen Hammer (Enquanto Siegfried trabalha com um pequeno martelo Zeige den Schächern Mostra aos atrevidos
arbeitet und schleift und feilt, mit zunehmender afiando e limando a espada, Mime saltita por toda a nun deinen Schein! o teu brilho!
Vergnügtheit lebhaft umher.) parte com crescente alegria.) Schlage den Falschen, Mata os falsos,
Alberich selbst, E agora até Alberich fälle den Schelm! aniquila os pérfidos!
der einst mich band, que dantes me subjugou, Schau, Mime, du Schmied: Olha, Mime, ferreiro:
zur Zwergenfrone vai servir-me (Er holt mit dem Schwert aus) (levanta a espada)
zwing’ ich ihn nun; como todos os anões. so schneidet Siegfrieds Schwert! assim corta a espada de Siegfried!
als Niblungenfürst Desço até eles (Er schlägt auf den Amboss, welcher von oben bis unten (Atinge com a espada a bigorna que se parte em dois,
fahr’ ich darnieder; como seu príncipe; in zwei Stücke zerspaltet, so dass er unter grossem fazendo grande ruído ao cair. Mime, que se pendurou
gehorchen soll mir todos eles Gepolter auseinander fällt. Mime, welcher in höchster muito encantado em cima de um banco, cai sentado
alles Heer! me devem obedecer! Verzückung sich auf einen Schemel geschwungen hatte, no chão com o susto. Siegfried eleva alegre a espada
Der verachtete Zwerg, O anão que desprezaram, fällt vor Schreck sitzlings zu Boden. Siegfried hält no ar. Cai o pano.)
wie wird er geehrt! agora como o respeitam! jauchzend das Schwert in die Höhe. Der Vorhang fällt.)
Zu dem Horte hin drängt sich Heróis e deuses
Gott und Held: precipitam-se para o tesouro:
(mit immer lebhafteren Gebärden) (com gestos cada vez mais vivos)
vor meinem Nicken a um sinal meu
neigt sich die Welt, o mundo inclina-se 2. Aufzug Acto II
vor meinem Zorne e tem medo
zittert sie hin! da minha cólera! Tiefer Wald Floresta densa
Dann wahrlich müht sich E então Mime Ganz im Hintergrunde die Öffnung einer Höhle. Der Ao fundo, a entrada para uma caverna. O solo
Mime nicht mehr: não precisa de se preocupar – Boden hebt sich bis zur Mitte der Bühne, wo er eine eleva-se até meio do palco onde forma uma pequena
ihm schaffen andre outros encarregam-se kleine Hochebene bildet; von da senkt er sich nach plataforma; daí inclina-se para o fundo até à caverna
den ew’gen Schatz. de lhe conseguir um tesouro sem fim. hinten, der Höhle zu, wieder abwärts, so dass von de modo a que apenas a parte de cima desta se
Mime, der kühne, Mime, o intrépido, dieser nur der obere Teil der Öffnung dem Zuschauer encontra visível para o espectador. À esquerda
Mime ist König, Mime é rei, sichtbar ist. Links gewahrt man durch Waldbäume eine pressente-se, através das árvores, uma parede rochosa
Fürst der Alben, soberano dos gnomos, zerklüftete Felsenwand. Finstere Nacht, am dichtesten com penhascos. Noite profunda ao fundo do palco
Walter des Alls! dono do universo! über dem Hintergrunde, wo anfänglich der Blick des de modo a que os espectadores a princípio
Hei, Mime! Wie glückte dir das! Ei, Mime! Como é que conseguiste! Zuschauers gar nichts zu unterscheiden vermag. nada distingam.
Wer hätte wohl das gedacht? Quem poderia imaginar tal coisa?

Siegfried (hat während der letzten Absätze von Mimes Siegfried (Que, durante a tirada de Mime cravou
Lied mit den letzten Schlägen die Nieten des Griffheftes os rebites com algumas marteladas, empunha 1. Szene Cena 1
geglättet und fasst nun das Schwert) agora a espada.) Alberich, Fafner, Wanderer. Alberich, Fafner, Viajante.
Notung! Notung! Notung! Notung!
Neidliches Schwert! Espada desejada! Alberich (an der Felsenwand zur Seite gelagert, düster Alberich (Encostado à parede rochosa, meditando
Jetzt haftest du wieder im Heft. De novo tens um punho! brütend) sombriamente.)
Warst du entzwei, Estavas partida em dois, In Wald und Nacht Estou de vigia frente a Neidhöhle,
ich zwang dich zu ganz; eu reconstruí-te; vor Neidhöhl’ halt’ ich Wacht: de noite, na floresta.
kein Schlag soll nun dich mehr zerschlagen. nenhum golpe mais poderá destruir-te. es lauscht mein Ohr, Os meus ouvidos estão atentos,
Dem sterbenden Vater O teu aço quebrou mühvoll lugt mein Aug’. a custo o meu olhar observa.
zersprang der Stahl, nas mãos de meu pai ao morrer, Banger Tag, Dia de angústia,
der lebende Sohn o seu filho que agora vive, bebst du schon auf? já despontaste?
schuf ihn neu: de novo a refez. Dämmerst du dort É já a madrugada
durch das Dunkel her? através da escuridão?

76 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 77


(Aus dem Walde von rechts her erhebt sich ein (Eleva-se um vento de tempestade na floresta vindo da Alberich (lacht tückisch auf) Alberich (com um riso sarcástico)
Sturmwind; ein bläulicher Glanz leuchtet von direita; uma luz azulada brilha vinda da mesma Du Rat wütender Ränke! Ó conselheiro de furiosas intrigas!
ebendaher.) direcção.) Wär’ ich dir zulieb Como gostarias
Welcher Glanz glitzert dort auf? Que brilho é este lá no fundo? doch noch dumm wie damals, que eu ainda fosse tão parvo como dantes,
Näher schimmert Uma luz clara als du mich Blöden bandest, quando, então cego, me enganaste.
ein heller Schein; aproxima-se; wie leicht geriet’ es, Que fácil seria
es rennt wie ein leuchtendes Ross, parece um cavalo de luz den Ring mir nochmals zu rauben! roubar-me de novo o anel!
bricht durch den Wald que atravessa a floresta Hab’ acht! Deine Kunst Tem cuidado! Conheço bem
brausend daher. correndo furioso. kenne ich wohl; as tuas artimanhas;
Naht schon des Wurmes Würger? Será já aquele que matará o dragão? doch wo du schwach bist, mas também sei
Ist’s schon, der Fafner fällt? É já o assassino de Fafner? blieb mir auch nicht verschwiegen. quais são as tuas fraquezas.
(Der Sturmwind legt sich wieder; der Glanz verlischt.) (O vento abranda, a luz desaparece.) Mit meinen Schätzen Com as minhas riquezas
Das Licht erlischt, A luz desapareceu, zahltest du Schulden; pagaste as tuas dívidas;
der Glanz barg sich dem Blick: o seu brilho escondeu-se ao meu olhar: mein Ring lohnte o meu anel
Nacht ist’s wieder. está escuro de novo. der Riesen Müh’, compensou o trabalho dos gigantes
(Der Wanderer tritt aus dem Wald und hält Alberich (O Viajante sai da floresta e pára die deine Burg dir gebaut. que construíram o teu castelo.
gegenüber an.) em frente de Alberich.) Was mit den trotzigen O pacto que nesse tempo
Wer naht dort schimmernd im Schatten? Quem se aproxima cintilando na sombra? einst du vertragen, fizeste com esses orgulhosos
des Runen wahrt noch heut’ ainda se encontra gravado em runas
Der Wanderer O Viajante deines Speeres herrischer Schaft. na tua lança soberana.
Zur Neidhöhle Vim até Neidhöhle Nicht du darfst, was als Zoll du gezahlt, Não podes tirar aos gigantes
fuhr ich bei Nacht: durante a noite. den Riesen wieder entreissen: aquilo que lhes deste como paga:
wen gewahr’ ich im Dunkel dort? Quem encontro eu no escuro? du selbst zerspelltest tu próprio quebrarias
(Wie aus einem plötzlich zerreissenden Gewölk bricht (o luar atravessa uma nuvem iluminando a figura deines Speeres Schaft; a tua lança,
Mondschein herein und beleuchtet des Wanderers Gestalt.) do Viajante) in deiner Hand e na tua mão
der herrische Stab, o bastão do teu poder
Alberich (erkennt den Wanderer, fährt erschrocken Alberich (Reconhecendo-o, recua assustado, mas logo der starke, zerstiebte wie Spreu! seria reduzido a pó!
zurück, bricht aber sogleich in höchste Wut aus) irrompe em grande fúria.)
Du selbst lässt dich hier sehn? Tu próprio vens até aqui? Wanderer O Viajante
Was willst du hier? Que queres daqui? Durch Vertrages Treuerunen Não é nenhum pacto
Fort, aus dem Weg! Sai deste lugar! band er dich que garante a tua obediência,
Von dannen, schamloser Dieb! Vai-te, ladrão sem vergonha! Bösen mir nicht: anão malvado,
dich beugt’ er mir durch seine Kraft; mas sim a sua força;
Wanderer (ruhig) O Viajante (calmo) zum Krieg drum wahr’ ich ihn wohl! é para o combate que eu a guardo!
Schwarz-Alberich, Sombrio Alberich,
schweifst du hier? andas aqui a rondar? Alberich Alberich
Hütest du Fafners Haus? Estás de guarda ao antro de Fafner? Wie stolz du dräust Como sabes ameaçar
in trotziger Stärke, no orgulho da tua força
Alberich Alberich und wie dir’s im Busen doch bangt! e, no entanto, como tens medo!
Jagst du auf neue Andas à procura Verfallen dem Tod A minha maldição
Neidtat umher? de cometer novos crimes? durch meinen Fluch atinge de morte
Weile nicht hier, Não te detenhas, ist des Hortes Hüter: o guardião do tesouro:
weiche von hinnen! retira-te daqui! wer wird ihn beerben? mas quem o vai herdar?
Genug des Truges Demasiadas perfídias Wird der neidliche Hort Será que o cobiçado tesouro
tränkte die Stätte mit Not. trouxeram desgraça a este lugar. dem Niblungen wieder gehören? vai de novo pertencer ao Nibelungo?
Drum, du Frecher, Por isso, atrevido, Das sehrt dich mit ew’ger Sorge! É isso que te atormenta!
lass sie jetzt frei! deixa-o em paz! Denn fass’ ich ihn wieder Porque se de novo
einst in der Faust, o anel estiver na minha mão
Wanderer O Viajante anders als dumme Riesen acredita que utilizarei o seu poder
Zu schauen kam ich, Vim para ver, üb’ ich des Ringes Kraft: de modo muito diverso que os estúpidos gigantes:
nicht zu schaffen: não para agir. dann zittre der Helden que trema então o eterno
wer wehrte mir Wand’rers Fahrt? Vais barrar o caminho ao Viajante? heiliger Hüter! guardião dos heróis!

78 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 79


Walhalls Höhen Atacarei o Valhala Wanderer O Viajante
stürm’ ich mit Hellas Heer: com os exércitos infernais Ausser dir begehrt er Ele é o único, além de ti,
der Welt walte dann ich! e serei dono do mundo! einzig das Gold. a cobiçar o ouro.

Wanderer (ruhig) O Viajante (calmo) Alberich Alberich


Deinen Sinn kenn’ ich wohl; Sei quais são os teus pensamentos, Und dennoch gewänn’ ich ihn nicht? E hei-de deixá-lo escapar?
doch sorgt er mich nicht. mas não me preocupo com eles.
Des Ringes waltet, O anel pertencerá Wanderer (ruhig nähertretend) O Viajante (aproximando-se calmamente)
wer ihn gewinnt. a quem o conquistar. Ein Helde naht, Aproxima-se um herói
den Hort zu befrei’n; para libertar o tesouro;
Alberich Alberich zwei Niblungen geizen das Gold; dois Nibelungos cobiçam o ouro:
Wie dunkel sprichst du, Dizes sombriamente Fafner fällt, Fafner, que guardava o anel,
was ich deutlich doch weiss! aquilo que me é claro! der den Ring bewacht: vai morrer;
An Heldensöhne O teu orgulho wer ihn rafft, hat ihn gewonnen. o anel é de quem o apanhar.
hält sich dein Trotz, prende-se a filhos de heróis, Willst du noch mehr? Que queres mais?
(höhnisch) (irónico) Dort liegt der Wurm: Ali está o dragão.
die traut deinem Blute entblüht. Que, nascidos do teu sangue, tu amas. (er wendet sich nach der Höhle) (dirige-se à caverna)
Pflegtest du wohl eines Knaben, Não tomas conta de um rapaz warnst du ihn vor dem Tod, Se o avisares da sua morte
der klug die Frucht dir pflücke, que sabiamente há-de colher o fruto willig wohl liess’ er den Tand. talvez ele te dê o teu brinquedo.
(immer heftiger) (sempre mais violento) Ich selber weck’ ihn dir auf. Vou eu próprio acordá-lo.
die du nicht brechen darfst? que tu não podes colher? (Er stellt sich auf die Anhöhe vor der Höhle und ruft (coloca-se na elevação frente à caverna e chama lá
hinein.) para dentro)
Wanderer O Viajante Fafner! Fafner! Fafner! Fafner!
Mit mir nicht, Não fales comigo Erwache, Wurm! Acorda, dragão!
hadre mit Mime: mas sim com Mime:
dein Bruder bringt dir Gefahr; é o teu irmão que te traz o perigo. Alberich (in gespanntem Erstaunen, für sich) Alberich (Para si, espantado e tenso.)
einen Knaben führt er daher, Ele conduz para aqui um rapaz Was beginnt der Wilde? Que está este selvagem a fazer?
der Fafner ihm fällen soll. que, para ele, deverá matar Fafner. Gönnt er mir’s wirklich? Será que o vou conseguir?
Nichts weiss der von mir; O rapaz não sabe da minha existência; (Aus der finstern Tiefe des Hintergrundes hört man (ouve-se através de um porta-voz a voz de Fafner
der Niblung nützt ihn für sich. o Nibelungo utiliza-o para os seus próprios fins. Fafners Stimme durch ein starkes Sprachrohr.) vinda do fundo da caverna)
Drum sag’ ich dir, Gesell: Por isso digo-te, companheiro:
tue frei, wie dir’s frommt! faz como achares melhor! Fafner Fafner
(Alberich macht eine Gebärde heftiger Neugierde) (Alberich demonstra uma grande curiosidade) Wer stört mir den Schlaf? Quem perturba o meu sono?
Höre mich wohl, Ouve-me com atenção,
sei auf der Hut! toma cuidado! Wanderer (der Höhle zugewandt) O Viajante (na direcção da caverna)
Nicht kennt der Knabe den Ring; O rapaz nada sabe sobre o anel, Gekommen ist einer, Está aqui alguém
doch Mime kundet’ ihn aus. mas Mime não deixará de o informar. Not dir zu künden: para te anunciar desgraças:
er lohnt dir’s mit dem Leben, ele salva-te a vida
Alberich (heftig) Alberich (veemente) lohnst du das Leben ihm se tu o compensares
Deine Hand hieltest du vom Hort? Não vais tocar no tesouro? mit dem Horte, den du hütest? com o tesouro que aí guardas.
(Er beugt sein Ohr lauschend der Höhle zu.) (escuta na direcção da caverna)
Wanderer O Viajante
Wen ich liebe, Aquele que eu amo Fafners Stimme A voz de Fafner
lass’ ich für sich gewähren; deixo-o ser livre nos seus actos; Was will er? Que quer ele?
er steh’ oder fall’, se vencer ou sucumbir
sein Herr ist er: é dono de si próprio. Alberich (ist dem Wanderer zur Seite getreten und ruft in Alberich (colocou-se ao lado do Viajante e grita para a
Helden nur können mir frommen. Só heróis me podem servir. die Höhle) caverna)
Wache, Fafner! Acorda, Fafner!
Alberich Alberich Wache, du Wurm! Acorda, dragão!
Mit Mime räng’ ich É só com Mime Ein starker Helde naht, Vem aí um valente herói
allein um den Ring? que devo disputar o anel? dich heil’gen will er bestehn. que te quer aniquilar, ó sagrado.

80 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 81


Fafners Stimme A voz de Fafner 2. Szene A cena fica vazia. Nasce o dia.)
Mich hungert sein. Acho que me vai abrir o apetite. Mime, Siegfried, Fafner, Waldvogel. Cena 2
Mime, Siegfried, Fafner, Pássaro da Floresta.
Wanderer O Viajante Bei anbrechendem Tage treten Mime und Siegfried auf.
Kühn ist des Kindes Kraft, O rapaz é forte e corajoso, Siegfried trägt das Schwert in einem Gehenke von Com o nascer do dia entram Mime e Siegfried.
scharf schneidet sein Schwert. a sua espada é afiada. Bastseil. Mime erspäht genau die Stätte; er forscht Siegfried traz a sua espada presa a um cinto de corda.
endlich dem Hintergrunde zu, welcher – während die Mime verifica onde estão com precisão; por fim,
Alberich Alberich Anhöhe im mittleren Vordergrunde später immer heller espreita para o fundo que, apesar da plataforma
Den goldnen Reif Ele só cobiça von der Sonne beleuchtet wird – in finstrem Schatten central se apresentar a pouco e pouco cada vez mais
geizt er allein: o anel dourado. bleibt; dann bedeutet er Siegfried. iluminada, está imerso em escuridão. Por fim,
lass mir den Ring zum Lohn, Dá-mo como recompensa faz sinal a Siegfried.
so wend’ ich den Streit; e eu evito a batalha; Mime
du wahrest den Hort, ficarás com o tesouro Wir sind zur Stelle! Mime
und ruhig lebst du lang’! e viverás em paz para sempre! Bleib hier stehn! Chegámos!
É aqui que deves ficar!
Fafners Stimme A voz de Fafner Siegfried (setzt sich unter einer grossen Linde nieder
Ich lieg’ und besitz’, Estou sentado e tenho posses, und schaut sich um) Siegfried (senta-se sob uma grande tília e olha
(gähnend) (bocejando) Hier soll ich das Fürchten lernen? em redor)
lasst mich schlafen! deixa-me dormir! Fern hast du mich geleitet: É aqui que vou conhecer o medo?
eine volle Nacht im Walde Trouxeste-me para longe:
Wanderer (lacht auf und wendet sich dann wieder zu Alberich) O Viajante (dá uma risada e de novo vira-se para selbander wanderten wir. caminhámos juntos
Nun, Alberich, das schlug fehl. Alberich) Nun sollst du, Mime, uma noite inteira através da floresta.
Doch schilt mich nicht mehr Schelm! Pois é, Alberich, não resultou. mich meiden! Agora deves
Dies eine, rat’ ich, Mas não me insultes mais! Lern’ ich hier nicht, deixar-me, Mime!
achte noch wohl: Dou-te mais um conselho, was ich lernen soll, Se aqui não aprender
(vertraulich zum ihm tretend) ouve com atenção: allein zieh’ ich dann weiter: o que quero,
Alles ist nach seiner Art, (aproximando-se dele em tom de confidência) dich endlich werd’ ich da los! continuo o meu caminho sozinho.
an ihr wirst du nichts ändern. Tudo é como tem de ser, Finalmente, vejo-me livre de ti!
Ich lass’ dir die Stätte, tu nada podes mudar. Mime (setzt sich ihm gegenüber, so dass er die Höhle
stelle dich fest! Deixo-te aqui sozinho, immer noch im Auge behält) Mime (senta-se à sua frente de modo a não perder de
Versuch’s mit Mime, dem Bruder, instala-te! Glaube, Liebster! vista a caverna)
der Art ja versiehst du dich besser. Experimenta entender-te com o teu irmão, com Mime, Lernst du heut’ und hier Tem confiança, meu querido!
(zum Abgange gewendet) saberás lidar melhor com os da tua raça. das Fürchten nicht, Se hoje e aqui
Was anders ist, (preparando-se para partir) an andrem Ort, não conheceres o medo,
das lerne nun auch! Descobre zu andrer Zeit a muito custo o conhecerás
(Er verschwindet im Walde. Sturmwind erhebt sich, o que agora deixou de ser! schwerlich erfährst du’s je. noutra altura
heller Glanz bricht aus; dann vergeht beides schnell.) (Desaparece na floresta. Levanta-se um vento de Siehst du dort e noutro local.
tempestade, uma claridade brilha; extinguem-se em breve.) den dunklen Höhlenschlund? Vês ali
Alberich (blickt dem davonjagenden Wanderer nach) Darin wohnt a escura entrada para a caverna?
Da reitet er hin, Alberich (olhando na direcção que tomou o Viajante ao sair) ein greulich wilder Wurm: Lá dentro
auf lichtem Ross; Aí vai ele unmassen grimmig vive um terrível dragão.
mich lässt er in Sorg’ und Spott. cavalgando o seu cavalo de luz; ist er und gross; É enorme
Doch lacht nur zu, abandona-me humilhado e preocupado. ein schrecklicher Rachen e muito feroz;
ihr leichtsinniges, Riam pois reisst sich ihm auf; ele abre a sua
lustgieriges fúteis mit Haut und Haar horrível bocarra
Göttergelichter! deuses auf einen Happ e de uma só vez
Euch seh’ ich ávidos de prazer! verschlingt der Schlimme dich wohl. todo inteiro
noch alle vergehn! Ainda hei-de presenciar te quer engolir.
Solang’ das Gold o vosso fim! Siegfried (immer unter der Linde sitzend)
am Lichte glänzt, Enquanto o ouro Gut ist’s, den Schlund ihm zu schliessen: Siegfried (sempre sentado sob a tília)
hält ein Wissender Wacht. brilhar à luz, drum biet’ ich mich nicht dem Gebiss. Então faço bem em fechar-lhe a boca,
Trügen wird euch sein Trotz! aquele que sabe montará a guarda. e devo evitar as suas mandíbulas.
(Er schlüpft zur Seite in das Geklüft. Die Bühne bleibt Ele vos desafia e vos enganará!
leer. Morgendämmerung.) (Esgueira-se por uma fenda da rocha num dos lados.

82 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 83


Mime Mime ihn selber musst du espera por o
Giftig giesst sich A sua saliva hören und sehn, veres e ouvires,
ein Geifer ihm aus: é venenosa: die Sinne vergehn dir dann schon! verás como perderás a cabeça!
wen mit des Speichels a pele e os ossos desfazem-se Wenn dein Blick verschwimmt, Quando o olhar se te turvar,
Schweiss er bespeit, ao entrarem em contacto der Boden dir schwankt, sentires o chão a fugir debaixo dos pés
dem schwinden wohl Fleisch und Gebein. com o seu veneno. im Busen bang e o coração
dein Herz erbebt: a bater no teu peito:
Siegfried Siegfried (sehr freundlich) (muito amável)
Dass des Geifers Gift mich nicht sehre, Para que o seu veneno não me atinja, dann dankst du mir, der dich führte, Então hás-de agradecer a quem aqui te trouxe,
weich’ ich zur Seite dem Wurm. evitarei o ataque frontal. gedenkst, wie Mime dich liebt. constatarás o quanto Mime te ama.

Mime Mime Siegfried Siegfried


Ein Schlangenschweif Ele ergue no ar Du sollst mich nicht lieben! Não podes gostar de mim!
schlägt sich ihm auf: uma cauda de serpente, Sagt’ ich dir’s nicht? Quantas vezes preciso dizer-to?
wen er damit umschlingt e quem ela abraça Fort aus den Augen mir! Desaparece da minha vista!
und fest umschliesst, e segura com força, Lass mich allein: Deixa-me sozinho:
dem brechen die Glieder wie Glas! parte-lhe os ossos como se fossem de vidro. sonst halt’ ich’s hier länger nicht aus, vou perder a paciência
fängst du von Liebe gar an! se continuas a falar de amor!
Siegfried Siegfried Das eklige Nicken Quando vou
Vor des Schweifes Schwang mich zu wahren, Terei os sentidos em alerta und Augenzwicken, deixar de ver
halt’ ich den Argen im Aug’. para esquivar-me aos golpes da sua cauda. wann endlich soll ich’s esse piscar de olhos
Doch heisse mich das: Mas diz-me: nicht mehr sehn, e esses pulinhos desajeitados?
hat der Wurm ein Herz? o dragão tem um coração? wann werd’ ich den Albernen los? Quando é que me vejo livre de ti?

Mime Mime Mime Mime


Ein grimmiges, hartes Herz! Um coração mau e feroz! Ich lass’ dich schon. Já te deixo em paz.
Am Quell dort lagr’ ich mich; Vou deitar-me ao pé do rio,
Siegfried Siegfried steh’ du nur hier; fica por aqui.
Das sitzt ihm doch, E está situado steigt dann die Sonne zur Höh’, Quando o Sol estiver no auge
wo es jedem schlägt, no mesmo lado merk’ auf den Wurm: está atento ao dragão:
trag’ es Mann oder Tier? que em qualquer homem ou animal? aus der Höhle wälzt er sich her, arrasta-se da sua caverna até aqui,
hier vorbei biegt er dann, para depois se dirigir
Mime Mime am Brunnen sich zu tränken. ao riacho para aí beber.
Gewiss, Knabe, É isso, rapaz,
da führt’s auch der Wurm. é onde o dragão o tem. Siegfried (lachend) Siegfried (rindo)
Jetzt kommt dir das Fürchten wohl an? Já começas a sentir medo? Mime, weilst du am Quell, Mime, se ficares perto do rio,
dahin lass’ ich den Wurm wohl gehn: vou deixar o monstro chegar até lá:
Siegfried (bisher nachlässig ausgestreckt, erhebt sich Siegfried (que até agora tinha estado estendido e Notung stoss’ ich só enterrarei Notung
rasch zum Sitz) relaxado senta-se veloz) ihm erst in die Nieren, no seu corpo
Notung stoss’ ich Enfiarei Notung wenn er dich selbst dort depois de ele te ter sugado
dem Stolzen ins Herz! no coração desse arrogante! mit weggesoffen. enquanto bebe água.
Soll das etwa Fürchten heissen? É assim que se tem medo? Darum, hör’ meinen Rat, Portanto, ouve o meu conselho,
He, du Alter! Então, velhote! raste nicht dort am Quell; não fiques junto ao rio;
Ist das alles, Isto é tudo kehre dich weg, vai-te embora
was deine List o que a tua esperteza so weit du kannst, para o mais longe que puderes
mich lehren kann? tem para me ensinar? und komm’ nie mehr zu mir! e nunca mais apareças à minha frente!
Fahr’ deines Wegs dann weiter; Segue o teu caminho;
das Fürchten lern’ ich hier nicht. não é aqui que vou aprender a ter medo. Mime Mime
Nach freislichem Streit Depois da batalha
Mime Mime dich zu erfrischen, não vais recusar
Wart’ es nur ab! Espera um pouco! wirst du mir wohl nicht wehren? que eu te venha refrescar-te?
Was ich dir sage, O que te descrevi (Siegfried wehrt ihn hastig ab) (Siegfried afasta-o com violência)
dünke dich tauber Schall: parece-te de pouca monta:

84 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 85


Rufe mich auch, Chama por mim Ach, möcht’ ich Sohn Ah, como o filho
darbst du des Rates – se precisares dos meus conselhos – meine Mutter sehen! gostaria de ver a sua mãe!
(Siegfried wiederholt die Gebärde mit Ungestüm.) (Siegfried faz de novo um gesto de impaciência) Meine Mutter – A minha mãe –
oder wenn dir das Fürchten gefällt. ou se te agradar o ter medo. ein Menschenweib! uma mulher!
(Siegfried erhebt sich und treibt Mime mit wütender (Siegfried ergue-se e, furioso, obriga Mime (Er seufzt leise und streckt sich tiefer zurück. Grosse (Suspira suavemente e estende-se ainda um pouco mais.
Gebärde zum Fortgehen.) a afastar-se.) Stille. Wachsendes Waldweben. Siegfrieds Profundo silêncio. Crescentes murmúrios da floresta.
Aufmerksamkeit wird endlich durch den Gesang der A atenção de Siegfried concentra-se no canto dos
Mime (im Abgehen für sich) Mime (Ao sair, em aparte.) Waldvögel gefesselt. Er lauscht mit wachsender pássaros da floresta. Escuta com interesse um pássaro
Fafner und Siegfried, Fafner e Siegfried, Teilnahme einem Waldvogel in den Zweigen über ihm.) pousado num ramo sobre a sua cabeça.)
Siegfried und Fafner – Siegfried e Fafner – Du holdes Vöglein! Passarinho encantador!
Oh, brächten beide sich um! Oh, quem me dera que ambos morressem! Dich hört’ ich noch nie: Nunca te tinha ouvido antes:
(Er verschwindet rechts im Wald.) (Desaparece à direita na floresta.) bist du im Wald hier daheim? moras aqui nesta floresta?
Verstünd’ ich sein süsses Stammeln! Quem me dera perceber os teus chilreios!
Siegfried (streckt sich behaglich unter der Linde aus und Siegfried (estende-se confortavelmente sob a tília Gewiss sagt’ es mir was, Decerto que me queres dizer alguma coisa,
blickt dem davongehenden Mime nach) olhando para Mime que se afasta) vielleicht von der lieben Mutter? se calhar sobre a minha mãe?
Dass der mein Vater nicht ist, Fico satisfeito por saber Ein zankender Zwerg Um anão embirrante
wie fühl’ ich mich drob so froh! que este não é o meu pai! hat mir erzählt, disse-me
Nun erst gefällt mir Começo agora a saborear der Vöglein Stammeln que era possível
der frische Wald; a frescura do arvoredo. gut zu verstehn, perceber
nun erst lacht mir Só agora o dia alegre dazu könnte man kommen. a fala dos pássaros.
der lustige Tag, me sorri, Wie das wohl möglich wär’? Como será isso possível?
da der Garstige von mir schied agora que este monstro me deixou (Er sinnt nach. Sein Blick fällt auf ein Rohrgebüsch (Fica pensativo. O seu olhar encontra um canavial
und ich gar nicht ihn wiederseh’! e que nunca mais o vou voltar a ver! unweit der Linde.) perto da tília.)
(Er verfällt in schweigendes Sinnen.) (abandona-se aos seus pensamentos) Hei! Ich versuch’s, Ei! Vou experimentar
Wie sah mein Vater wohl aus? – Como seria o meu pai? – sing’ ihm nach: cantar como ele:
Ha, gewiss wie ich selbst! Ha! Decerto parecido comigo! auf dem Rohr tön’ ich ihm ähnlich! com uma cana vou imitar o seu canto!
Denn wär’ wo von Mime ein Sohn, Pois se Mime tivesse um filho Entrat’ ich der Worte, Se não procurar palavras
müsst’ er nicht ganz não teria ele de se parecer achte der Weise, e só pensar na melodia
Mime gleichen? com Mime? sing’ ich so seine Sprache, falarei como ele
Grade so garstig, Tão feio quanto ele, versteh’ ich wohl auch, was er spricht. e talvez assim o consiga perceber.
griesig und grau, cinzento e esquálido, (Er eilt an den nahen Quell, schneidet mit dem (Precipita-se para o ribeiro e corta uma cana com a sua
klein und krumm, pequeno e disforme, Schwerte ein Rohr ab und schnitzt sich hastig eine espada para fazer uma flauta. Durante o seu trabalho
höckrig und hinkend, coxo e corcunda, Pfeife daraus. Währenddem lauscht er wieder.) escuta de novo.)
mit hängenden Ohren, com as orelhas pendentes, Es schweigt und lauscht: Calou-se e está a ouvir:
triefigen Augen – os olhos remelentos – so schwatz’ ich denn los! vou então eu falar!
fort mit dem Alp! fora com o gnomo! (Er bläst auf dem Rohr. Er setzt ab, schnitzt wieder und (Sopra na cana. Pára, faz novo corte para melhorar.
Ich mag ihn nicht mehr seh’n. Não quero voltar a vê-lo. bessert. Er bläst wieder. Er schüttelt mit dem Kopfe und Sopra de novo. Abana a cabeça descontente e de novo
(Er lehnt sich tiefer zurück und blickt durch die (Encosta-se mais para trás e contempla a copa das bessert wieder. Er wird ärgerlich, drückt das Rohr mit der aperfeiçoa o instrumento. Irrita-se, aperta a cana com
Baumwipfel auf. Tiefe Stille. Waldweben.) árvores. Silêncio profundo. Murmúrios da floresta.) Hand und versucht wieder. Er setzt lächelnd ganz ab.) os dedos e faz nova tentativa. Desiste sorrindo.)
Aber – wie sah Mas – como seria Das tönt nicht recht; Não soa muito bem.
meine Mutter wohl aus? a minha mãe? auf dem Rohre taugt Numa cana a bela melodia
Das kann ich Isso é que die wonnige Weise mir nicht. não resultou muito bem.
nun gar nicht mir denken! não consigo imaginar! Vöglein, mich dünkt, Passarinho, acho
Der Rehhindin gleich Semelhante a uma corça ich bleibe dumm: que vou ficar sem te perceber:
glänzten gewiss com os seus olhos von dir lernt sich’s nicht leicht! não é fácil aprender o teu canto!
ihr hell schimmernde Augen, muito brilhantes, (Er hört den Vogel wieder und blickt zu ihm auf.) (de novo escuta o pássaro e olha para ele)
nur noch viel schöner! só que muito mais bonita! Nun schäm’ ich mich gar Estou com vergonha
Da bang sie mich geboren, Porque teve de morrer em dor vor dem schelmischen Lauscher: deste maroto que me está a ouvir:
warum aber starb sie da? quando me deu à luz? er lugt und kann nichts erlauschen. olha para mim e não percebe nada.
Sterben die Menschenmütter Será que as mães dos homens Heida! So höre Ei! Ouve então
an ihren Söhnen morrem todas nun auf mein Horn. o som da minha trompa.
alle dahin? ao dar vida aos filhos? (Er schwingt das Rohr und wirft es weit fort.) (atira a cana pelos ares para muito longe)
Traurig wäre das, traun! Seria muito triste! Auf dem dummen Rohre Com esta estúpida cana
gerät mir nichts. não consegui nada.

86 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 87


Einer Waldweise, Vais agora ouvir Gut wär’ es, den Schlund dir zu schliessen; Acho que vou ter de ta fechar,
wie ich sie kann, uma canção da floresta dein Rachen reckt sich zu weit! a tua goela está muito aberta!
der lustigen sollst du nun lauschen. assim como eu a sei tocar.
Nach liebem Gesellen Costumo tocá-la Fafner Fafner
lockt’ ich mit ihr: para aliciar bons companheiros: Zu tauben Reden Não é muito boa
nichts Bessres kam noch até agora não consegui mais taugt er schlecht: para conversa fiada,
als Wolf und Bär. que atrair lobos e ursos. dich zu verschlingen, mas serve bem
Nun lass mich sehn, Deixa ver quem frommt der Schlund. para te engolir.
wen jetzt sie mir lockt: é que agora me aparece: (Er droht mit dem Schweife.) (ameaça com a cauda)
ob das mir ein lieber Gesell? será que um bom companheiro?
(Er nimmt das silberne Hifthorn und bläst darauf. Im (Pega na sua trompa de prata e sopra. No fundo Siegfried Siegfried
Hintergrunde regt es sich. Fafner, in der Gestalt eines da cena algo se começa a mexer. Fafner, Hoho! Du grausam Hoho! Que tipo
ungeheuren eidechsenartigen Schlangenwurmes, hat transformado num enorme dragão, levantou-se grimmiger Kerl! mais mau e feroz!
sich in der Höhle von seinem Lager erhoben; er bricht do seu pouso na caverna; vem pelo meio Von dir verdaut sein, Não tenho vontade
durch das Gesträuch und wälzt sich aus der Tiefe nach do arvoredo arrastando-se das profundidades dünkt mich übel: de que me comas:
der höheren Stelle vor, so dass er mit dem Vorderleibe para um ponto mais alto. O seu corpo está rätlich und fromm doch scheint’s, parece-me útil e bom
bereits auf ihr angelangt ist, als er jetzt einen starken, já completamente visível quando solta du verrecktest hier ohne Frist. matar-te sem mais tardar.
gähnenden Laut ausstösst.) um bocejo aterrador.)
Fafner (brüllend) Fafner (rugindo)
Siegfried (sieht sich um und heftet den Blick verwundert Siegfried (vira-se e olha admirado para Fafner) Pruh! Komm, Bah! Vem daí
auf Fafner) Haha! A minha canção devia prahlendes Kind! rapazola fanfarrão!
Haha! Da hätte mein Lied ter atraído alguém de simpático!
mir was Liebes erblasen! Que rico companheiro que tu dás! Siegfried Siegfried
Du wärst mir ein saub’rer Gesell! Hab’ acht, Brüller! Toma cuidado, resmungão!
Der Prahler naht! Aí vai o fanfarrão!
Fafner (hat beim Anblick Siegfrieds auf der Höhe Fafner (ao ver Siegfried parou sobre a plataforma e aí (Er zieht sein Schwert, springt Fafner an und bleibt (Saca da espada, avança para Fafner numa atitude de
angehalten und verweilt nun daselbst.) permanece) herausfordernd stehen. Fafner wälzt sich weiter auf die desafio. Fafner arrasta-se até ao fim da plataforma e
Was ist da? O que é isto? Höhe herauf und sprüht aus den Nüstern auf Siegfried. expele um jacto de veneno pelas narinas.
Dieser weicht dem Geifer aus, springt näher zu und Siegfried evita o veneno, aproximando-se e
Siegfried Siegfried stellt sich zur Seite. Fafner sucht ihn mit dem Schweife colocando-se de lado. Fafner tenta acertar-lhe com a
Ei, bist du ein Tier, Ei, és um animal zu erreichen. Siegfried, welchen Fafner fast erreicht hat, cauda e Siegfried, que escapa por pouco, dá um pulo
das zum Sprechen taugt, e sabes falar, springt mit einem Satze über diesen hinweg und por cima do monstro e fere-o na cauda. Fafner ruge,
wohl liess’ sich von dir was lernen? talvez me possas ajudar! verwundet ihn an dem Schweife. Fafner brüllt, zieht den recua a cauda e ergue todo o seu corpo para tombar
Hier kennt einer Está aqui um Schweif heftig zurück und bäumt den Vorderleib, um mit em peso sobre Siegfried, deixando assim o peito a
das Fürchten nicht: que não sabe o que é o medo: dessen voller Wucht sich auf Siegfried zu werfen; so descoberto; Siegfried agilmente faz pontaria ao
kann er’s von dir erfahren? podes tu ensiná-lo? bietet er diesem die Brust dar; Siegfried erspäht schnell coração e nele crava a espada até ao punho. O corpo
die Stelle des Herzens und stösst sein Schwert bis an das de Fafner arqueia de dor e tomba sobre o ferimento
Fafner Fafner Heft hinein. Fafner bäumt sich vor Schmerz noch höher fatal no momento em que Siegfried retira a sua espada
Hast du Übermut? És audacioso? und sinkt, als Siegfried das Schwert losgelassen und zur e pula para o lado.)
Seite gesprungen ist, auf die Wunde zusammen.)
Siegfried Siegfried
Mut oder Übermut, Coragem ou audácia, Siegfried Siegfried
was weiss ich! eu sei lá! Da lieg’, neidischer Kerl! Fica aí, animal raivoso!
Doch dir fahr’ ich zu Leibe, Mas vou atacar-te Notung trägst du im Herzen. Notung atingiu-te no coração.
lehrst du das Fürchten mich nicht! se te recusas a dar-me a conhecer o medo!
Fafner (mit schwächerer Stimme) Fafner (com uma voz enfraquecida)
Fafner (stösst einen lachenden Laut aus) Fafner (como que rindo) Wer bist du, kühner Knabe, Quem és tu, rapaz audaz,
Trinken wollt’ ich: Vinha beber, der das Herz mir traf? que me feriu no coração?
nun treff’ ich auch Frass! mas acho que encontrei comida! Wer reizte des Kindes Mut Quem te incitou, jovem corajoso,
(Er öffnet seinen Rachen und zeigt die Zähne) (abre a bocarra e mostra os dentes) zu der mordlichen Tat? a cometeres este crime?
Dein Hirn brütete nicht, O teu cérebro não premeditou
Siegfried Siegfried was du vollbracht. tal tarefa.
Eine zierliche Fresse zeigst du mir da, Que lindo focinho que tu aí tens,
lachende Zähne im Leckermaul! belos dentes numa boca cheia de apetite!

88 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 89


Siegfried Siegfried Ist mir doch fast, Parece-me que os pássaros
Viel weiss ich noch nicht, Não sei muito, als sprächen die Vöglein zu mir! estão a falar comigo!
noch nicht auch, wer ich bin. nem sequer ao certo quem sou. Nützte mir das Será que foi
Mit dir mordlich zu ringen, Foste tu que me provocaste des Blutes Genuss? o sangue do dragão?
reiztest du selbst meinen Mut. para este combate mortífero. Das seltne Vöglein hier, Este pássaro tão invulgar,
horch, was singt es nur? que me diz ele?
Fafner Fafner
Du helläugiger Knabe, Rapaz de olhos claros Stimme eines Waldvogels (aus den Zweigen der Linde Voz do Pássaro da Floresta (dos ramos da tília por cima
unkund deiner selbst, que a ti próprio ignoras, über Siegfried) de Siegfried)
wen du gemordet ouve da minha boca Hei! Siegfried gehört Ei! Siegfried é agora dono
meld’ ich dir. quem tu aqui mataste. nun der Niblungen Hort! do tesouro dos Nibelungos!
Der Riesen ragend Geschlecht, Fasolt e Fafner, os irmãos O, fänd’ in der Höhle Oh, que ele descubra agora
Fasolt und Fafner, da raça altiva dos gigantes den Hort er jetzt! na caverna o tesouro!
die Brüder – fielen nun beide. pereceram agora ambos. Wollt’ er den Tarnhelm gewinnen, Que encontre o Tarnhelm
Um verfluchtes Gold, Eu matei Fasolt der taugt’ ihm zu wonniger Tat: e o utilize nas suas maravilhosas aventuras:
von Göttern vergabt, pelo ouro maldito doch möcht’ er den Ring sich erraten, mas se ele souber entender o sentido do anel
traf ich Fasolt zu Tod. que os deuses nos deram. der macht’ ihn zum Walter der Welt! será senhor do mundo!
Der nun als Wurm Fafner, o último dos gigantes,
den Hort bewachte, que transformado em dragão Siegfried (hat mit verhaltenem Atem und verzückter Siegfried (escutou-o sustendo a respiração de
Fafner, den letzten Riesen, guardava o tesouro, Miene gelauscht) encantamento)
fällte ein rosiger Held. foi morto por um herói ingénuo. Dank, liebes Vöglein, Obrigado, querido pássaro,
Blicke nun hell, Abre os olhos für deinen Rat! pelos teus conselhos!
blühender Knabe: formoso rapaz: Gern folg’ ich dem Ruf! De bom grado farei o que dizes!
der dich Blinden reizte zur Tat, aquele que te levou a cometer este acto (Er wendet sich nach hinten und steigt in die Höhle (dirige-se para o fundo e entra na caverna por onde
berät jetzt des Blühenden Tod! já medita a tua morte! hinab, wo er alsbald gänzlich verschwindet.) desaparece)
(ersterbend) (morrendo)
Merk’, wie’s endet! Vê como tudo acaba!
Acht’ auf mich! Põe os olhos em mim!
3. Szene Cena 3
Siegfried Siegfried Alberich, Mime, Siegfried, Waldvogel. Alberich, Mime, Siegfried, Pássaro da Floresta.
Woher ich stamme, Diz-me ainda
rate mir noch; de quem eu descendo; Mime schleicht heran, scheu umherblickend, um sich Mime aproxima-se, olhando com receio para se
weise ja scheinst du, ao morrer von Fafners Tod zu überzeugen. Gleichzeitig kommt von certificar de que Fafner está morto. Ao mesmo tempo,
Wilder, im Sterben: pareces-me bem sábio, monstro. der anderen Seite Alberich aus dem Geklüft; er do outro lado da cena, entra Alberich pela fenda
rat’ es nach meinem Namen: O meu nome talvez o revele, beobachtet Mime genau. Als dieser Siegfried nicht mehr rochosa; observa Mime atentamente. Quando este já
Siegfried bin ich genannt. chamam-me Siegfried. gewahrt und vorsichtig sich nach hinten der Höhle não avista Siegfried, e cuidadosamente se dirige em
zuwendet, stürzt Alberich auf ihn zu und vertritt ihm direcção à caverna, Alberich bruscamente barra-lhe o
Fafner Fafner den Weg. caminho.
Siegfried...! Siegfried...!
(Er seufzt, hebt sich und stirbt.) (Suspira, ergue-se e morre.) Alberich Alberich
Wohin schleichst Por onde te esgueiras,
Siegfried Siegfried du eilig und schlau, tão ligeiro e manhoso,
Zur Kunde taugt kein Toter. Um morto não me pode ajudar. schlimmer Gesell? malvada criatura?
So leite mich denn Então conduz-me tu
mein lebendes Schwert! espada cheia de vida! Mime Mime
(Fafner hat sich im Sterben zur Seite gewälzt. Siegfried (Fafner ao morrer caiu de lado; Verfluchter Bruder, Maldito irmão,
zieht ihm jetzt das Schwert aus der Brust: dabei wird Siegfried ao retirar a espada do seu peito suja dich braucht’ ich hier! não preciso aqui de ti!
seine Hand vom Blute benetzt: er fährt heftig mit der a mão com sangue. Was bringt dich her? Que queres deste lugar?
Hand auf.) Retira-a rapidamente.)
Wie Feuer brennt das Blut! O seu sangue arde como fogo! Alberich Alberich
(Er führt unwillkürlich die Finger zum Munde, um das (Sem dar por isso leva a mão à boca para sugar Geizt es dich, Schelm, Patife, cobiças
Blut von ihnen abzusaugen. Wie er sinnend vor sich o sangue. Sonhador, olha em frente e a sua atenção nach meinem Gold? o meu ouro?
hinblickt, wird seine Aufmerksamkeit immer mehr von fixa-se cada vez mais no canto dos pássaros Verlangst du mein Gut? Queres o que é meu?
dem Gesange der Waldvögel angezogen.) da floresta.)

90 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 91


Mime Mime schäbige Knecht mesquinho e incapaz
Fort von der Stelle! Sai daqui! keck und kühn transformar-se num rei
Die Stätte ist mein: O lugar é meu! wohl gar König nun sein? orgulhoso e audaz?
was stöberst du hier? Que vens cá cheirar? Dem räudigsten Hund O cão mais tinhoso
wäre der Ring é mais digno de possuir o anel
Alberich Alberich geratner als dir: do que tu!
Stör’ ich dich wohl Acaso perturbo nimmer erringst Nunca será teu, maltrapilho,
im stillen Geschäft, o roubo silencioso du Rüpel den Herrscherreif! o anel do poder!
wenn du hier stiehlst? que aqui vais cometer?
Mime (kratzt sich den Kopf) Mime (coçando a cabeça)
Mime Mime Behalt’ ihn denn, Guarda-o então
Was ich erschwang O que conquistei und hüt’ ihn wohl, e toma conta dele,
mit schwerer Müh’, com muito esforço den hellen Reif! do anel luminoso!
soll mir nicht schwinden. não me há-de fugir. Sei du Herr: Sê tu o senhor:
doch mich heisse auch Bruder! mas não te esqueças que sou teu irmão!
Alberich Alberich Um meines Tarnhelms Troco-o
Hast du dem Rhein Foste tu que roubaste lustigen Tand pelo meu Tarnhelm,
das Gold zum Ringe geraubt? o ouro do anel ao Reno? tausch’ ich ihn dir: divertido brinquedo.
Erzeugtest du gar Soubeste dotar o anel uns beiden taugt’s, Assim é bom para ambos
den zähen Zauber im Reif? dos seus poderes? teilen die Beute wir so. dividir o tesouro.
(Er reibt sich zutraulich die Hände) (esfrega as mãos cheio de confiança)
Mime Mime
Wer schuf den Tarnhelm, Quem fez o Tarnhelm, Alberich (mit Hohnlachen) Alberich (com um riso sarcástico)
der die Gestalten tauscht? que permite trocar de forma? Teilen mit dir? Partilhar contigo?
Der seiner bedurfte, Tu que precisavas dele, Und den Tarnhelm gar? Ainda por cima o Tarnhelm?
erdachtest du ihn wohl? soubeste como o fazer? Wie schlau du bist! Que esperto tu és!
Sicher schlief’ ich Nunca mais poderia dormir descansado
Alberich Alberich niemals vor deinen Schlingen! com medo das tuas armadilhas!
Was hättest du Stümper Como é que, desajeitado,
je wohl zu stampfen verstanden? tu o saberias criar? Mime (ausser sich) Mime (fora de si)
Der Zauberring Só o anel mágico Selbst nicht tauschen? Nada em troca?
zwang mir den Zwerg erst zur Kunst. ensinou ao anão a sua arte. Auch nicht teilen? Nem nada partilhar?
Leer soll ich gehn? Ir de mãos a abanar?
Mime Mime Ganz ohne Lohn? Sem nenhuma recompensa?
Wo hast du den Ring? Onde está o anel? (kreischend) (guinchando)
Dir Zagem entrissen ihn Riesen! Os gigantes roubaram-to, cobarde! Gar nichts willst du mir lassen? Não me vais dar nada?
Was du verlorst, O que perdeste,
meine List erlangt es für mich. conquistei-o com a minha habilidade. Alberich Alberich
Nichts von allem! Nada mesmo!
Alberich Alberich Nicht einen Nagel Nem um alfinete
Mit des Knaben Tat O desajeitado quer valer-se sollst du dir nehmen! tu hás-de levar!
will der Knicker nun knausern? dos feitos do rapaz?
Dir gehört sie gar nicht, A ti não te pertence nada, Mime (in höchster Wut) Mime (furioso)
der Helle ist selbst ihr Herr! o radioso herói é que é o dono! Weder Ring noch Tarnhelm Não hás-de ficar
soll dir denn taugen! nem com o anel, nem com o Tarnhelm!
Mime Mime Nicht teil’ ich nun mehr! Não divido nada contigo!
Ich zog ihn auf; Fui eu que o criei. Gegen dich doch ruf’ ich E vou virar Siegfried
für die Zucht zahlt er mir nun: Assim vai pagar-me a sua educação: Siegfried zu Rat e a sua espada justiceira
für Müh’ und Last esperei muito para ser recompensado und des Recken Schwert; contra ti;
erlauert’ ich lang meinen Lohn! pelo meu trabalho e encargos! der rasche Held, ele depressa dá cabo de ti,
der richte, Brüderchen, dich! irmãozinho!
Alberich Alberich (Siegfried erscheint im Hintergrund) (Siegfried aparece ao fundo da cena)
Für des Knaben Zucht Só porque criou o rapaz,
will der knickrige quer este servo

92 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 93


Alberich Alberich Wie sein Herz es meint, O sangue do dragão
Kehre dich um! Olha para trás! kann er Mime verstehn: permite-lhe ouvir
Aus der Höhle kommt er daher! Ele vem a sair da caverna! so nützt’ ihm des Blutes Genuss. as verdadeiras intenções de Mime.
(Siegfrieds Miene und Gebärde drücken aus, dass er (A expressão de Siegfried demonstra ter percebido
Mime (sich umblickend) Mime (virando-se) den Sinn des Vogelgesanges wohl vernommen. Er sieht o que o Pássaro lhe disse. Vê Mime avançar
Kindischen Tand Decerto apanhou Mime sich nähern und bleibt, ohne sich zu rühren, auf e fica imóvel em pé no alto da plataforma,
erkor er gewiss. os primeiros brinquedos que viu. sein Schwert gestützt, beobachtend und in sich apoiado na sua espada, observando-o, e fechado
geschlossen, in seiner Stellung auf der Anhöhe bis zum em si próprio até ao fim da próxima cena.)
Alberich Alberich Schlusse des folgenden Auftrittes.)
Den Tarnhelm hält er! Traz o Tarnhelm!
Mime (schleicht heran und beobachtet vom Mime (avança furtivamente e observa Siegfried do
Mime Mime Vordergrunde aus Siegfried) proscénio)
Doch auch den Ring! E o anel também! Er sinnt und erwägt Medita e tenta avaliar
der Beute Wert. quanto vale o que apanhou.
Alberich Alberich Weilte wohl hier Será que um
Verflucht! Den Ring! Maldição! O anel! ein weiser Wand’rer, sábio Viajante
schweifte umher, por aqui passou
Mime (hämisch lachend) Mime (com um riso malicioso) beschwatzte das Kind e aconselhou o rapaz
Lass ihn den Ring dir doch geben! Vai-lhe lá agora pedir o anel! mit list’ger Runen Rat? de maneira insidiosa?
Ich will ihn mir schon gewinnen. Eu é que o vou possuir. Zwiefach schlau O anão vai ser
(Er schlüpft mit den letzten Worten in den Wald zurück) (com as últimas palavras desaparece na floresta) sei nun der Zwerg; duplamente desconfiado;
die listigste Schlinge vou estender-lhe
Alberich Alberich leg’ ich jetzt aus, uma astuta
Und doch seinem Herrn E no entanto ele pertencerá dass ich mit traulichem armadilha:
soll er allein noch gehören! sempre só ao seu senhor! Truggerede com palavras falsas
(Er verschwindet im Geklüfte. Siegfried ist mit Tarnhelm (Desaparece pela rocha. Entretanto Siegfried betöre das trotzige Kind. vou enganar o tolo.
und Ring während des letzteren langsam und sinnend saiu lento e pensativo da caverna com o anel e o (Er tritt näher an Siegfried heran und bewillkommt (Aproxima-se de Siegfried dando-lhe as boas-vindas de
aus der Höhle vorgeschritten: er betrachtet gedankenvoll Tarnhelm: olha meditando para o que tem diesen mit schmeichelnden Gebärden.) um modo lisonjeador.)
seine Beute und hält, nahe dem Baume, auf der Höhe na mão e, de novo, fica parado a meio caminho Willkommen, Siegfried! Bem-vindo, Siegfried!
des Mittelgrundes wieder an.) junto à árvore.) Sag’, du Kühner, Diz-me, audaz,
hast du das Fürchten gelernt? aprendeste a ter medo?
Siegfried Siegfried
Was ihr mir nützt, Não sei para o que Siegfried Siegfried
weiss ich nicht; servem vocês; Den Lehrer fand ich noch nicht! Não encontrei o professor!
doch nahm ich euch escolhi-vos
aus des Horts gehäuftem Gold, de entre todo o ouro do tesouro Mime Mime
weil guter Rat mir es riet. porque me deram esse bom conselho. Doch den Schlangenwurm, Mas mataste
So taug’ eure Zier Que o vosso esplendor du hast ihn erschlagen? o dragão?
als des Tages Zeuge, seja testemunho Das war doch ein schlimmer Gesell? Era um monstro terrível, não era?
es mahne der Tand, do dia em que
dass ich kämpfend Fafner erlegt, em combate matei Fafner, Siegfried Siegfried
doch das Fürchten noch nicht gelernt! sem ter conhecido o medo! So grimm und tückisch er war, Por muito mau e pérfido que fosse
(Er steckt den Tarnhelm sich in den Gürtel und den Reif (Põe o Tarnhelm preso à cintura e o anel no dedo. sein Tod grämt mich doch schier, tenho pena de o ter morto,
an den Finger. Stillschweigen. Wachsendes Waldweben. Silêncio. Crescentes murmúrios da floresta. De novo da viel üblere Schächer pois outros muito piores
Siegfried achtet unwillkürlich wieder des Vogels und Siegfried presta atenção ao pássaro e escuta-o sustendo unerschlagen noch leben! ainda estão vivos!
lauscht ihm mit verhaltenem Atem.) a respiração.) Der mich ihn morden hiess, Mais que o dragão, odeio
den hass’ ich mehr als den Wurm! aquele me incitou a matá-lo!
Stimme des Waldvogels Voz do Pássaro da Floresta
Hei! Siegfried gehört Ei! A Siegfried pertencem agora Mime (sehr freundlich) Mime (muito amigável)
nun der Helm und der Ring! elmo e anel! Nur sachte! Nicht lange Tem calma! Não me vais ver
O, traute er Mime, Oh, que ele não confie siehst du mich mehr: por muito mais tempo:
dem treulosen, nicht! em Mime, o traidor! zum ew’gen Schlaf em breve vou fechar-te os olhos
Hörte Siegfried nur scharf Que Siegfried preste atenção schliess’ ich dir die Augen bald! com um sono eterno!
auf des Schelmen Heuchlergered’! ao que o patife diz! Wozu ich dich brauchte, Já fizeste tudo

94 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 95


(zärtlich) (carinhoso) Siegfried Siegfried
hast du vollbracht; que precisava que fizesses; So willst du mein Schwert Então queres roubar a minha espada,
jetzt will ich nur noch agora só te quero roubar und was ich erschwungen, anel e tesouro,
die Beute dir abgewinnen. o que tiraste do tesouro. Ring und Beute, mir rauben? tudo o que conquistei?
Mich dünkt, das soll mir gelingen; Acho que o vou conseguir:
zu betören bist du ja leicht! é tão fácil enganar-te! Mime (heftig) Mime (enérgico)
Was du doch falsch mich verstehst! Mas não percebes mesmo nada do que eu digo?
Siegfried Siegfried Stamml’ ich, fasl’ ich wohl gar? Será que não me explico com clareza?
So sinnst du auf meinen Schaden? Planeias fazer-me mal? Die grösste Mühe Estou a fazer
geb’ ich mir doch, grandes esforços
Mime (verwundert) Mime (admirado) mein heimliches Sinnen para habilmente
Wie sagt’ ich denn das? – Eu disse isso? – heuchelnd zu bergen, esconder as minhas intenções,
Siegfried! Hör doch, mein Söhnchen! Siegfried! Ouve meu filhinho! und du dummer Bube e tu, estúpido,
Dich und deine Art Sempre te odiei, deutest alles doch falsch! percebes tudo mal!
hasst’ ich immer von Herzen; a ti e aos teus, do fundo do meu coração; Öffne die Ohren Abre bem os ouvidos
(zärtlich) (carinhoso) und vernimm genau: e escuta com atenção:
aus Liebe erzog ich Não foi por amor Höre, was Mime meint! ouve bem o que Mime te quer dizer!
dich Lästigen nicht: que te eduquei, a ti, ser importuno: (wieder sehr freundlich, mit ersichtlicher Mühe) (de novo muito simpático e com evidente esforço)
dem Horte in Fafners Hut, a minha única preocupação era o ouro, Hier nimm und trinke dir Labung! Vamos, pega nesta bebida!
dem Golde galt meine Müh’. o tesouro que Fafner guardava. Mein Trank labte dich oft: As bebidas que te preparei sempre te refrescaram;
(als verspräche er ihm hübsche Sachen) (no tom de quem promete coisas boas) tat’st du wohl unwirsch, mesmo quando estavas mal-humorado
Gibst du mir das Se não mo deres stelltest dich arg: ou zangado,
gutwillig nun nicht – de boa vontade – was ich dir bot, sempre aceitaste
(Als wäre er bereit, sein Leben für ihn zu lassen.) (como se estivesse pronto a dar a sua vida por Siegfried) erbost auch, nahmst du’s doch immer. o que te oferecia.
Siegfried, mein Sohn, Siegfried, meu filho,
das siehst du wohl selbst, tens de perceber, Siegfried (ohne eine Miene zu verziehen) Siegfried (impassível)
(mit freundlichem Scherz) (como se fosse um gracejo) Einen guten Trank De boa vontade
dein Leben musst du mir lassen! que vou ter de te matar! hätt’ ich gern: beberia agora algo.
wie hast du diesen gebraut? Como preparaste essa que aí tens?
Siegfried Siegfried
Dass du mich hassest, É com prazer que ouço Mime (lustig scherzend, als schildere er ihm einen Mime (Brincalhão, como se descrevesse a agradável
hör’ ich gern: que me odeias. angenehm berauschten Zustand, den ihm der Saft sensação que a bebida deveria proporcionar a
doch auch mein Leben muss ich dir lassen? Mas porque é que também tens de me matar? bereiten soll) Siegfried.)
Hei! So trink nur, Vamos! Bebe,
Mime (ärgerlich) Mime (zangado) trau’ meiner Kunst! confia no meu saber!
Das sagt’ ich doch nicht? Eu disse isso? In Nacht und Nebel Logo que beberes vais sentir-te
Du verstehst mich ja falsch! Ouves tudo ao contrário! sinken die Sinne dir bald: envolto em escuridão e nevoeiro;
(Er sucht sein Fläschchen hervor. Er gibt sich die (tira um pequeno frasco fazendo claramente grandes ohne Wach’ und Wissen sem consciência e adormecido,
ersichtlichste Mühe zur Verstellung.) esforços para dissimular as suas intenções) stracks streckst du die Glieder. vais esticar os teus membros.
Sieh’, du bist müde Vê, o grande esforço, Liegst du nun da, Quando estiveres nesse estado
von harter Müh’; cansou-te muito; leicht könnt’ ich facilmente poderei roubar
brünstig wohl brennt dir der Leib: o teu corpo deve estar quente. die Beute nehmen und bergen: e esconder o que agora ganhaste.
dich zu erquicken Tive a preocupação doch erwachtest du je, Mas eu nunca mais
mit queckem Trank de te preparar esta bebida nirgends wär’ ich estaria a salvo
säumt’ ich Sorgender nicht. para te refrescares. sicher vor dir, quando tu acordasses,
Als dein Schwert du dir branntest, Enquanto forjavas a tua espada hätt’ ich selbst auch den Ring. mesmo se possuísse o anel.
braut’ ich den Sud; preparei esta mistela; Drum mit dem Schwert, Por isso com a espada
trinkst du nun den, se tu a beberes, das so scharf du schufst, que tão afiada forjaste,
gewinn’ ich dein trautes Schwert, a tua fiel espada será minha (mit einer Gebärde ausgelassener Lustigkeit) (com gestos de alegria transbordante)
und mit ihm Helm und Hort. e com ela elmo e tesouro. hau’ ich dem Kind den Kopf erst ab: vou cortar a cabeça ao meu menino
(er kichert dazu) (ri disfarçadamente) dann hab’ ich mir Ruh’ und auch den Ring! e assim terei paz e o anel!
(Er kichert wieder) (rindo de novo disfarçadamente)

96 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 97


Siegfried Siegfried dass er vor Dieben dich deckt. que te protegerá dos ladrões.
Im Schlafe willst du mich morden? Queres matar-me enquanto estiver adormecido? (Er wälzt mit grosser Anstrengung den Leichnam des (com grande esforço arrasta o corpo de Fafner até à
Wurmes vor den Eingang der Höhle, so dass er diesen entrada da caverna que assim fica totalmente
Mime (wütend ärgerlich) Mime (colérico) ganz damit verstopft.) obstruída)
Was möcht’ ich? Sagt’ ich denn das? Eu quero o quê? Foi isso que eu disse? Da lieg’ auch du, Repousa também tu
(Er bemüht sich, den zärtlichsten Ton anzunehmen.) (esforça-se por empregar a voz mais suave que consegue) dunkler Wurm! negro dragão!
Ich will dem Kind O que eu quero é Den gleissenden Hort Guarda
(mit sorglichster Deutlichkeit) (com muito cuidado a articular) hüte zugleich o luzidio tesouro
nur den Kopf abhaun! cortar-te a cabeça! mit dem beuterührigen Feind: juntamente com o teu ávido inimigo:
(mit dem Ausdruck herzlicher Besorgtheit für Siegfrieds (como se estivesse preocupado com a saúde e so fandet beide ihr nun Ruh’! que assim encontrem ambos a paz!
Gesundheit) bem-estar de Siegfried) (Er blickt eine Weile sinnend in die Höhle hinab und (Por momentos contempla a caverna e volta
Denn hasste ich dich Pois mesmo que não wendet sich dann langsam, wie ermüdet, in den devagar para o proscénio muito cansado.
auch nicht so sehr, te odiasse tanto Vordergrund. Es ist Mittag. Er führt sich die Hand über Meio-dia. Passa a mão
und hätt’ ich des Schimpfs e que não tivesse de me vingar die Stirn.) pela fronte.)
und der schändlichen Mühe de tantas ofensas Heiss ward mir Fiquei com calor
auch nicht so viel zu rächen: e trabalhos aviltantes, von der harten Last! com este grande esforço!
(sanft) (doce) Brausend jagt O meu sangue
aus dem Wege dich zu räumen, não posso perder tempo mein brünst’ges Blut; arde-me nas veias;
darf ich doch nicht rasten: e tenho de te fazer desaparecer. die Hand brennt mir am Haupt. a minha testa queima-me a mão.
wie käm’ ich sonst anders zur Beute, Que outra maneira tenho de ganhar o tesouro Hoch steht schon die Sonne: O Sol vai alto:
da Alberich auch nach ihr lugt? que Alberich também cobiça? aus lichtem Blau lá do azul luminoso
(Er giesst den Saft in das Trinkhorn und führt dieses (verte o conteúdo do frasco numa corna e serve-o blickt ihr Aug’ o seu olhar
Siegfried mit aufdringlicher Gebärde zu.) com insistência a Siegfried) auf den Scheitel steil mir herab. fere-me a cabeça.
Nun, mein Wälsung, Vamos, meu Wälsung, Linde Kühlung Vou refrescar-me
Wolfssohn du! descendente de Wolfe! erkies’ ich unter der Linde! debaixo da tília!
Sauf und würg dich zu Tod: Bebe e morre: (Er streckt sich unter der Linde aus und blickt wieder (De novo se estende debaixo da árvore e olha para o
Nie tust du mehr ‘nen Schluck! Hihihihi! é a última vez que bebes na vida! Hihihihi! die Zweige hinauf.) alto, para os seus ramos.)
(Siegfried holt mit dem Schwert aus. Er führt, wie in (Siegfried empunha a sua espada. Com uma expressão Noch einmal, liebes Vöglein, Mais uma vez, querido pássaro,
einer Anwandlung heftigen Ekels einen jähen Streich de repugnância atinge com um golpe violento Mime da wir so lang depois destas interrupções
nach Mime; dieser stürzt sogleich tot zu Boden. Man que cai imediatamente morto por terra. Vindo das lästig gestört, desagradáveis e inoportunas,
hört Alberichs höhnisches Gelächter aus dem Geklüfte.) rochas, ouve-se o riso sarcástico de Alberich.) lauscht’ ich gerne deinem Sange: gostava de ouvir o teu canto.
auf dem Zweige seh’ ich Vejo-te baloiçando
Siegfried Siegfried wohlig dich wiegen; prazenteiramente num ramo;
Schmeck’ du mein Schwert, Prova a minha espada, zwitschernd umschwirren à tua volta gorjeiam
ekliger Schwätzer! asqueroso orador! dich Brüder und Schwestern, os teus irmãos e irmãs,
(Auf den am Boden Liegenden blickend, hängt er ruhig (embainha a espada calmamente olhando para o corpo umschweben dich lustig und lieb! rodeando-te em amor e alegria!
sein Schwert wieder ein.) que jaz no chão) Doch ich – bin so allein, Pois eu estou tão só,
hab’ nicht Brüder noch Schwestern: não tenho nem irmão nem irmã,
Alberichs Stimme (hohnlachend aus dem Geklüft) A Voz de Alberich (rindo sarcasticamente por entre as rochas) meine Mutter schwand, a minha mãe morreu,
Haha! Haha! Haha! Haha! Haha! Haha! mein Vater fiel: o meu pai foi morto,
nie sah sie der Sohn! nunca o filho os viu!
Siegfried Siegfried Mein einziger Gesell O meu único companheiro
Neides Zoll Notung puniu war ein garstiger Zwerg; foi até hoje um anão repugnante;
zahlt Notung: a inveja: Güte zwang nunca nada de bom houve entre nós,
dazu durft’ ich ihn schmieden. foi para isso que a forjei. (warm) (com intenção)
(Er rafft Mimes Leichnam auf, trägt ihn auf die Anhöhe (Pega no cadáver de Mime, sobe com ele até à plataforma uns nie zu Liebe; o amor nunca nos uniu;
vor den Eingang der Höhle und wirft ihn dort hinein.) frente à entrada da caverna e atira-o lá para dentro.) listige Schlingen o pérfido quis apanhar-me
In der Höhle hier Aqui ficarás, nesta caverna, warf mir der Schlaue; nas suas hábeis armadilhas;
lieg’ auf dem Hort! com o tesouro! nun musst’ ich ihn gar erschlagen! tive de o matar!
Mit zäher List Sem cessar (Er blickt schmerzlich bewegt wieder nach den Zweigen auf.) (olha comovido para os ramos da árvore)
erzieltest du ihn: o tentaste conquistar: Freundliches Vöglein, Pergunto-te a ti,
jetzt magst du des wonnigen walten! agora para sempre o poderás possuir! dich frage ich nun: querido passarinho:
Einen guten Wächter Dou-te também gönntest du mir será que me podes indicar
geb’ ich dir auch, um bom guarda wohl ein gut Gesell? um bom companheiro?

98 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 99


Willst du mir das Rechte raten? Dás-me um bom conselho? Siegfried (lacht auf vor Entzücken) Siegfried (ri de alegria)
Ich lockte so oft, Tanto por ele chamei Der dumme Knab’, Pois eu sou, querido pássaro,
und erlost’ es mir nie: e nunca consegui: der das Fürchten nicht kennt, o tal rapaz estúpido
Du, mein Trauter, Tu, meu amigo, mein Vöglein, der bin ja ich! que não sabe o que é o medo!
träfst es wohl besser, talvez o saibas melhor que eu Noch heute gab ich Ainda hoje
so recht ja rietest du schon. pois já me deste bons conselhos. vergebens mir Müh, tentei em vão
Nun sing’! Ich lausche dem Gesang. Canta pois! Vou prestar atenção ao teu canto. das Fürchten von Fafner zu lernen: aprendê-lo com Fafner.
nun brenn’ ich vor Lust, Agora ardo de prazer
Stimme des Waldvogels Voz do Pássaro da Floresta es von Brünnhilde zu wissen! de o aprender com Brünnhilde!
Hei! Siegfried erschlug Ei! Siegfried finalmente matou Wie find’ ich zum Felsen den Weg? Como encontrar o caminho para o tal rochedo?
nun den schlimmen Zwerg! o anão malvado!
Jetzt wüsst’ ich ihm noch Vou indicar-lhe agora Der Vogel flattert auf, kreist über Siegfried und fliegt O pássaro levanta voo fazendo um círculo sobre a
das herrlichste Weib: a mais bela das mulheres: ihm zögernd voran. cabeça de Siegfried e afasta-se com cautela.
auf hohem Felsen sie schläft, adormecida está, no alto dum rochedo
Feuer umbrennt ihren Saal: envolto por fogo. Siegfried (jauchzend) Siegfried (rejubilando)
durchschritt’ er die Brunst, Se Siegfried atravessar o fogo So wird mir der Weg gewiesen: É assim que me vais indicar o caminho:
weckt’ er die Braut, e acordar a noiva, wohin du flatterst seguir-te-ei
Brünnhilde wäre dann sein! Brünnhilde será sua! folg’ ich dem Flug! para onde voares!
(Er läuft dem Vogel, welcher ihn neckend einige (Corre atrás do pássaro que, durante algum tempo,
Siegfried (fährt mit jäher Heftigkeit vom Sitze auf) Siegfried (levanta-se com entusiasmo) Zeitlang unstet nach verschiedenen Richtungen brinca com ele fazendo-o correr em diversas direcções;
O holder Sang! Que canto delicioso! hinleitet, nach und folgt ihm endlich, als dieser mit por fim, escolhe decidido um caminho
Süssester Hauch! Sopro suavíssimo! einer bestimmten Wendung nach dem Hintergrunde que Siegfried também segue.
Wie brennt sein Sinn Como o seu sentido davonfliegt. Der Vorhang fällt.) O pano cai.)
mir sehrend die Brust! me devora a alma!
Wie zückt er heftig Como faz arder
zündend mein Herz! e palpitar o meu coração!
Was jagt mir so jach O que é que assim me agita 3. Aufzug Acto III
durch Herz und Sinne? coração e sentidos? Wilde Gegend am Fusse eines Felsenberges, welcher Paisagem selvagem no sopé de uma montanha rochosa
Sag’ es mir, süsser Freund! Diz-me querido amigo! links nach hinten steil aufsteigt. Nacht, Sturm und que se eleva a pique do lado esquerdo. Noite de
Wetter, Blitz und heftiger Donner, welch letzterer dann tempestade, borrasca, relâmpagos e fortes trovões;
Stimme des Waldvogels Voz do Pássaro da Floresta schweigt, während Blitze noch längere Zeit die Wolken estes vão desaparecendo ao passo que os relâmpagos
Lustig im Leid Alegre na dor, durchkreuzen. entrecortarão as nuvens ainda durante algum tempo.
sing’ ich von Liebe; canto sobre o amor;
wonnig aus Weh de tormentos deliciosos
web’ ich mein Lied: faço a minha canção. 1. Szene Cena 1
nur Sehnende kennen den Sinn! Só os que desejam a podem compreender! Wanderer, Erda. Viajante, Erda.

Siegfried Siegfried Wanderer (schreitet entschlossen auf ein gruftähnliches O Viajante (Avança decidido para a entrada de uma
Fort jagt’s mich Quero ir-me daqui Höhlentor in einem Felsen des Vordergrundes zu und espécie de gruta situada num rochedo do fundo e aí
jauchzend von hinnen, alegremente, nimmt dort, auf seinen Speer gestützt, eine Stellung ein, permanece, apoiado na sua lança, chamando para o
fort aus dem Wald auf den Fels! sair da floresta e procurar o rochedo! während er das Folgende dem Eingange der Höhle zu ruft) interior da gruta.)
Noch einmal sage mir, Diz-me outra vez, Wache, Wala! Acorda, Wala!
holder Sänger: cantor maravilhoso: Wala, erwach’! Wala, acorda!
werd’ ich das Feuer durchbrechen? poderei atravessar o fogo? Aus langem Schlaf Tu que dormias um longo sono,
Kann ich erwecken die Braut? Saberei como acordar a virgem? weck’ ich dich Schlummernde wach. estou eu a despertar-te.
Ich rufe dich auf: Por ti chamo:
Stimme des Waldvogels Voz do Pássaro da Floresta Herauf! Herauf! sobe! Sobe!
Die Braut gewinnt, Nunca um cobarde Aus nebliger Gruft, Abandona a tua gruta nebulosa,
Brünnhilde erweckt poderá acordar a virgem aus nächtigem Grunde herauf! deixa o abismo sombrio!
ein Feiger nie: e ganhar Brünnhilde: Erda! Erda! Erda! Erda!
nur wer das Fürchten nicht kennt! só aquele que desconhece o medo! Ewiges Weib! Mulher eterna!
Aus heimischer Tiefe Das profundezas onde vives,
tauche zur Höh! sobe até mim!

100 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 101


Dein Wecklied sing’ ich, Canto a canção do teu acordar und spinnen fromm, was ich weiss. e fiam obedientes o que eu sei.
dass du erwachest; para te despertar; Was frägst du nicht die Nornen? Porque não interrogas as Nornas?
aus sinnendem Schlafe arranco-te ao teu
weck’ ich dich auf. sono de meditação. Wanderer O Viajante
Allwissende! Omnisciente! Im Zwange der Welt As Nornas tecem
Urweltweise! Sabedoria primordial! weben die Nornen: submetidas ao mundo:
Erda! Erda! Erda! Erda! sie können nichts wenden noch wandeln. nada podem mudar ou desviar.
Ewiges Weib! Mulher eterna! Doch deiner Weisheit Mas da tua sabedoria
Wache, erwache, Acorda, desperta dankt’ ich den Rat wohl, gostava de saber
du Wala! Erwache! Wala! Acorda! wie zu hemmen ein rollendes Rad? como parar uma roda em movimento?
(Die Höhlengruft erdämmert. Bläulicher Lichtschein: von (Na gruta começa a brilhar uma ténue claridade.
ihm beleuchtet steigt mit dem Folgenden Erda sehr Envolta numa luz azulada, Erda emerge lentamente Erda Erda
allmählich aus der Tiefe auf. Sie erscheint wie von Reif das profundezas. Parece como que coberta de orvalho: Männertaten Os actos dos homens
bedeckt: Haar und Gewand werfen einen glitzernden o seu cabelo e o seu traje brilham.) umdämmern mir den Mut: obscurecem a minha mente.
Schimmer von sich.) mich Wissende selbst Em tempos um poderoso
bezwang ein Waltender einst. me subjugou, a mim, aquela que tudo sabe.
Erda Erda Ein Wunschmädchen Dei a Wotan
Stark ruft das Lied; O chamamento é forte, gebar ich Wotan: uma filha de sonho,
kräftig reizt der Zauber. o encantamento poderoso. der Helden Wal a escolha dos heróis
Ich bin erwacht Fui acordada hiess für sich er sie küren. a ela foi confiada.
aus wissendem Schlaf: do meu sono de sabedoria. Kühn ist sie É corajosa
wer scheucht den Schlummer mir? Quem perturba o meu dormir? und weise auch: e sábia também.
was weckst du mich Porque me acordas
Wanderer O Viajante und frägst um Kunde em vez de interrogar
Der Weckrufer bin ich, Sou eu quem te chama, nicht Erdas und Wotans Kind? a filha de Erda e Wotan?
und Weisen üb’ ich, e conheço cantos
dass weithin wache, que por toda a parte Wanderer O Viajante
was fester Schlaf verschliesst. acordam o que dorme. Die Walküre meinst du, Falas de Brünnhilde,
Die Welt durchzog ich, Corri o mundo, Brünnhild’, die Maid? a virgem, a Valquíria?
wanderte viel, muito viajei Sie trotzte dem Stürmebezwinger, Desafiou o senhor das tempestades
Kunde zu werben, para adquirir o saber wo er am stärksten selbst sich bezwang. onde ele mais se controlava.
urweisen Rat zu gewinnen. e os conselhos de antiga sabedoria. Was den Lenker der Schlacht O que o senhor das batalhas
Kundiger gibt es Ninguém no mundo zu tun verlangte, mais desejava fazer,
keine als dich; sabe mais do que tu; doch dem er wehrte e contudo reprimia
bekannt ist dir, conheces tudo - zuwider sich selbst, contrariando a sua própria vontade,
was die Tiefe birgt, o que as profundezas escondem, allzu vertraut Brünnhilde, a rebelde,
was Berg und Tal, e tudo o que atravessa montanhas e vales, wagte die Trotzige, demasiado sagaz,
Luft und Wasser durchwebt. ar e água. das für sich zu vollbringen, ousou realizar no meio da ardente batalha.
Wo Wesen sind, Onde existe vida, Brünnhild’ in brennender Schlacht. O senhor dos exércitos
wehet dein Atem; aí habitas tu; Streitvater puniu a rapariga:
wo Hirne sinnen, onde existe pensamento, strafte die Maid: adormeceu-a profundamente
haftet dein Sinn: está presente o teu espírito: in ihr Auge drückte er Schlaf; no alto de um rochedo.
alles, sagt man, dizem que auf dem Felsen schläft sie fest: A sagrada rapariga,
sei dir bekannt. nada desconheces. Erwachen wird agora tão-somente mulher,
Dass ich nun Kunde gewänne, Acordei-te do teu sono die Weihliche nur, só acordará para amar
weck’ ich dich aus dem Schlaf! para que me possas instruir! um einen Mann zu minnen als Weib. um homem.
Frommten mir Fragen an sie? De que serve interrogá-la?
Erda Erda
Mein Schlaf ist Träumen, O meu sono é sonho, Erda (ist in Sinnen versunken und beginnt erst nach Erda (absorta na sua meditação só depois de um longo
mein Träumen Sinnen, o meu sonho é pensamento, längerem Schweigen) silêncio começa a falar)
mein Sinnen Walten des Wissens. o meu pensamento é detentor de sabedoria. Wirr wird mir, Desde que acordei
Doch wenn ich schlafe, Mas enquanto durmo seit ich erwacht: que me sinto perturbada:
wachen Nornen: as Nornas estão acordadas; wild und kraus o mundo gira
sie weben das Seil tecem o seu fio kreist die Welt! confuso e agitado!

102 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 103


Die Walküre, A Valquíria, froh und freudig alegre e livremente
der Wala Kind, a filha de Wala, führe frei ich nun aus. levo agora a bom termo.
büsst’ in Banden des Schlafs, punida com um sono letárgico Weiht’ ich in wütendem Ekel Se sob a cólera e o desprezo
als die wissende Mutter schlief? enquanto a sua sábia mãe dormia? des Niblungen Neid schon die Welt, votei o mundo ao ódio do Nibelungo,
Der den Trotz lehrte, Aquele que ensina a desafiar, dem herrlichsten Wälsung agora entrego a minha herança
straft den Trotz? pune quem desafia? weis’ ich mein Erbe nun an. nas mãos do sublime Wälsung.
Der die Tat entzündet, Aquele que incita à acção, Der von mir erkoren, Aquele que eu escolhi
zürnt um die Tat? condena os actos? doch nie mich gekannt, e, no entanto, nunca me conheceu,
Der die Rechte wahrt, O protector dos direitos, ein kühnester Knabe, um audacioso rapaz
der die Eide hütet, o guardião dos juramentos, bar meines Rates, a quem nunca dei conselhos,
wehret dem Recht, nega os mesmos direitos, errang des Niblungen Ring. conquistou o anel do Nibelungo.
herrscht durch Meineid? – reina por perjúrio? – Liebesfroh, Alegre de amor,
Lass mich wieder hinab! Deixa-me voltar ao abismo! ledig des Neides, livre de inveja,
Schlaf verschliesse mein Wissen! Que o sono envolva a minha sabedoria! erlahmt an dem Edlen torna inútil
Alberichs Fluch; a maldição de Alberich,
Wanderer O Viajante denn fremd bleibt ihm die Furcht. pois ele desconhece o medo.
Dich, Mutter, lass’ ich nicht ziehn, Não, mãe, não te deixo partir, Die du mir gebarst, Aquela que tu concebeste para mim,
da des Zaubers mächtig ich bin. já que possuo esse poder. Brünnhild’, Brünnhilde,
Urwissend Pela tua sabedoria, weckt sich hold der Held: vai ser despertada pelo herói.
stachest du einst noutros tempos, wachend wirkt Acordada, a tua sábia filha
der Sorge Stachel atingiste o coração de Wotan dein wissendes Kind zelará pelos actos
in Wotans wagendes Herz: com o dardo envenenado das preocupações. erlösende Weltentat. – que hão-de salvar o mundo.
mit Furcht vor schmachvoll O teu saber fez nascer Drum schlafe nun du, Portanto, podes dormir,
feindlichem Ende o temor de um fim schliesse dein Auge; fecha os olhos;
füllt’ ihn dein Wissen, vergonhoso e cruel träumend erschau’ mein Ende! em sonhos contempla o meu fim!
dass Bangen band seinen Mut. e a sua alma foi invadida pelo medo. Was jene auch wirken, Faça o que fizer, ao casal
Bist du der Welt Se és a mulher dem ewig Jungen o deus com prazer cede o passo
weisestes Weib, mais sábia do mundo, weicht in Wonne der Gott. à eterna juventude.
sage mir nun: diz-me: Hinab denn, Erda! Desce então, Erda!
wie besiegt die Sorge der Gott? como poderá o deus vencer os seus medos? Urmütterfurcht! Medo primordial!
Ursorge! Fonte de preocupações!
Erda Erda Hinab! Desce!
Du bist – nicht Tu não és Hinab, Afunda-te
was du dich nennst! o que pretendes ser! zu ewigem Schlaf! no teu sono eterno!
Was kamst du, störrischer Wilder, Porque vieste, bárbaro inoportuno, (Nachdem Erda bereits die Augen geschlossen hat und (Erda, depois de fechar os olhos, começa a afundar-se
zu stören der Wala Schlaf? perturbar o sono de Wala? allmählich tiefer versunken ist, verschwindet sie jetzt lentamente até desaparecer por completo; a caverna
gänzlich; auch die Höhle ist jetzt wiederum durchaus encontra-se agora em completa escuridão. O luar
Wanderer O Viajante verfinstert. Monddämmerung erhellt die Bühne, der ilumina a cena, a tempestade cessou.)
Du bist – nicht, Tu não és Sturm hat aufgehört.)
was du dich wähnst! o que proclamas ser!
Urmütter-Weisheit O saber primordial da mãe
geht zu Ende: chega ao seu fim: 2. Szene Cena 2
dein Wissen verweht o teu saber desaparece Wanderer, Siegfried. Viajante, Siegfried.
vor meinem Willen. perante a minha vontade.
Weisst du, was Wotan will? Sabes o que quer Wotan? Der Wanderer ist dicht an die Höhle getreten und lehnt O Viajante avançou até à gruta e encosta-se à parede
(langes Schweigen) (longo silêncio) sich dann mit dem Rücken an das Gestein derselben, virado para a frente da cena.
Dir Unweisen A ti que o ignoras, das Gesicht der Szene zugewandt.
ruf’ ich ins Ohr, digo ao ouvido
dass sorglos ewig du nun schläfst! para que em paz possas dormir eternamente! Wanderer O Viajante
Um der Götter Ende Já não temo Dort seh’ ich Siegfried nahn. Vejo ali Siegfried que se aproxima.
grämt mich die Angst nicht, o fim dos deuses (Er verbleibt in seiner Stellung an der Höhle. Siegfrieds (Permanece nessa posição junto à gruta. O pássaro de
seit mein Wunsch es will! agora que o desejo! Waldvogel flattert dem Vordergrunde zu. Plötzlich hält Siegfried vem a voar do fundo da cena. De repente
Was in des Zwiespalts wildem Schmerze Aquilo que, por desespero, decidi der Vogel in seiner Richtung ein, flattert ängstlich hin hesita, voa para trás e para diante, e desaparece veloz
verzweifelnd einst ich beschloss, na angústia de um grande sofrimento, und her und verschwindet hastig dem Hintergrunde zu.) ao fundo.)

104 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 105


Siegfried (tritt rechts im Vordergrunde auf und hält an) Siegfried (entra ao fundo pela direita e pára) Siegfried Siegfried
Mein Vöglein schwebte mir fort! O meu passarinho voava à minha frente! Mich führte Mime, Foi Mime, um anão traiçoeiro
Mit flatterndem Flug Esvoaçava ein falscher Zwerg; quem a ele me conduziu;
und süssem Sang e cantava docemente, das Fürchten wollt’ er mich lehren: com ele deveria aprender a ter medo,
wies es mich wonnig des Wegs: indicando-me o caminho: zum Schwertstreich aber, mas foi o próprio dragão
nun schwand es fern mir davon! agora fugiu para longe! der ihn erschlug, que me provocou para o combate
Am besten find’ ich mir O melhor é ser eu reizte der Wurm mich selbst; em que havia de perecer.
selbst nun den Berg: a descobrir o caminho para a montanha. seinen Rachen riss er mir auf. Abriu a sua grande bocarra para me tragar.
wohin mein Führer mich wies, Vou tomar a direcção
dahin wandr’ ich jetzt fort. que o meu guia indicou. Wanderer O Viajante
(Er schreitet weiter nach hinten.) (dirige-se para o fundo) Wer schuf das Schwert Quem é que te forjou uma espada
so scharf und hart, tão dura e afiada
Wanderer (in seiner Stellung an der Höhle verbleibend) O Viajante (na sua posição junto à gruta) dass der stärkste Feind ihm fiel? para matar os mais fortes inimigos?
Wohin, Knabe, Rapaz, para onde,
heisst dich dein Weg? te diriges? Siegfried Siegfried
Das schweisst’ ich mir selbst, Fui eu próprio que a forjei,
Siegfried (hält an und wendet sich um) Siegfried (pára e volta-se para o Viajante) da’s der Schmied nicht konnte: pois o ferreiro não o conseguia;
Da redet’s ja: Alguém falou: schwertlos noch wär’ ich wohl sonst. senão ainda hoje andaria desarmado.
wohl rät das mir den Weg. vou informar-me do caminho.
(Er tritt dem Wanderer näher.) (aproxima-se do Viajante) Wanderer O Viajante
Einen Felsen such’ ich, Procuro um rochedo Doch, wer schuf Mas quem foi que fez
von Feuer ist der umwabert: envolto em fogo: die starken Stücken, os sólidos pedaços
dort schläft ein Weib, lá se encontra adormecida uma mulher daraus das Schwert du dir geschweisst? com os quais forjaste a tua espada?
das ich wecken will. que quero acordar.
Siegfried Siegfried
Wanderer O Viajante Was weiss ich davon? Que sei eu disso?
Wer sagt’ es dir, Quem foi que te disse Ich weiss allein, Só sei
den Fels zu suchen? para procurar esse rochedo? dass die Stücke mir nichts nützten, que tais pedaços não me serviam para nada
Wer, nach der Frau dich zu sehnen? Quem te levou a desejar essa mulher? schuf ich das Schwert mir nicht neu. se eu os não tivesse soldado de novo.

Siegfried Siegfried Wanderer (bricht in ein freudig gemütliches Lachen aus) O Viajante (solta uma gargalhada alegre e cordial)
Mich wies ein singend Um pássaro da floresta Das – mein’ ich wohl auch! Lá nisso tens razão!
Waldvöglein: cantando, (Er betrachtet Siegfried wohlgefällig.) (observa Siegfried com prazer)
das gab mir gute Kunde. deu-me esse bom conselho.
Siegfried (verwundert) Siegfried (admirado)
Wanderer O Viajante Was lachst du mich aus? Estás a rir-te de mim?
Ein Vöglein schwatzt wohl manches; Um pássaro canta muita coisa; Alter Frager! Velho bisbilhoteiro!
kein Mensch doch kann’s verstehn. mas nenhum homem pode perceber o seu falar. Hör’ einmal auf; Pára de fazer perguntas
Wie mochtest du Sinn Como conseguiste entender lass mich nicht länger hier schwatzen! não tenho tempo para mais conversa!
dem Sang entnehmen? o que ele cantava? Kannst du den Weg Se sabes para onde é o caminho
mir weisen, so rede: diz-me,
Siegfried Siegfried vermagst du’s nicht, se não o sabes,
Das wirkte das Blut Foi graças ao sangue so halte dein Maul! cala o bico!
eines wilden Wurms, de um feroz dragão
der mir vor Neidhöhl’ erblasste: que morreu frente a Neidhöhle: Wanderer O Viajante
kaum netzt’ es zündend mal o seu sangue ardente Geduld, du Knabe! Calma, rapaz!
die Zunge mir, tocou a minha língua, Dünk’ ich dich alt, Se te pareço velho,
da verstand ich der Vöglein Gestimm’. comecei a entender a linguagem dos pássaros. so sollst du Achtung mir bieten. então tem-me respeito.

Wanderer O Viajante Siegfried Siegfried


Erschlugst den Riesen du, Abateste o gigante, Das wär’ nicht übel! Era só o que faltava!
wer reizte dich, mas quem te incitou Solang’ ich lebe, Toda a minha vida
den starken Wurm zu bestehn? a vencer o possante dragão? stand mir ein Alter tive um velho

106 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 107


stets im Wege; a impedir o meu caminho, deine lichte Art, a tua raça luminosa,
den hab’ ich nun fortgefegt. já dei cabo dele. Grauen auch zeugt’ ihr embora a minha cólera
Stemmst du dort länger Se teimas em mein zürnender Grimm. lhes tenha sido pesada.
steif dich mir entgegen, barrar-me a estrada, Dem ich so hold bin, Tens a protecção
sieh dich vor, sag’ ich, digo-te que tomes cuidado, Allzuhehrer, do mais sublime,
(mit entsprechender Gebärde) (fazendo um gesto ilustrativo) heut’ nicht wecke mir Neid: não despertes o meu ódio:
dass du wie Mime nicht fährst! não sigas o caminho de Mime! er vernichtete dich und mich! ambos seríamos aniquilados!
(Er tritt noch näher an den Wanderer heran) (aproxima-se do Viajante)
Wie siehst du denn aus? Olha para ti? Siegfried Siegfried
Was hast du gar Mas que grande chapéu Bleibst du mir stumm, Quando é que te calas
für ‘nen grossen Hut? tens tu? störrischer Wicht? malandro teimoso?
Warum hängt er dir so ins Gesicht? Porque o tens tão enterrado na cabeça? Weich’ von der Stelle, Deixa-me passar,
denn dorthin, ich weiss, sei que esse é o caminho
Wanderer (immer ohne seine Stellung zu verlassen) O Viajante (sempre sem se mover do seu lugar) führt es zur schlafenden Frau. que conduz à mulher adormecida.
Das ist so Wand’rers Weise, É assim que o Viajante o usa So wies es mein Vöglein, Assim o indicou o pássaro
wenn dem Wind entgegen er geht. quando caminha contra o vento. das hier erst flüchtig entfloh. antes de fugir daqui.
(Es wird schnell wieder ganz finster.) (de repente faz-se escuro)
Siegfried (immer näher ihn betrachtend) Siegfried (olhando de mais perto)
Doch darunter fehlt dir ein Auge! Mas debaixo dele falta-te um olho! Wanderer (in Zorn ausbrechend und in gebieterischer O Viajante (soltando a sua ira e com uma atitude
Das schlug dir einer De certeza Stellung) imperiosa)
gewiss schon aus, que alguém a quem Es floh dir zu seinem Heil! Fugiu para se salvar!
dem du zu trotzig tu barraste atrevidamente o caminho Den Herrn der Raben Aqui reconheceu
den Weg vertratst? to arrancou! erriet es hier: o senhor dos corvos:
Mach dich jetzt fort, Sai da frente weh’ ihm, holen sie’s ein! ai dele se o apanhassem!
sonst könntest du leicht se não queres perder Den Weg, den es zeigte, O caminho que ele te indicou
das andere auch noch verlieren. o outro que te resta. sollst du nicht ziehn! não o podes seguir!

Wanderer O Viajante Siegfried (tritt mit Verwunderung in trotziger Stellung zurück) Siegfried (espantado toma uma atitude de desafio)
Ich seh’, mein Sohn, Vejo, meu filho, Hoho, du Verbieter! Hoho, olha quem o proíbe!
wo du nichts weisst, que quando não sabes do que se trata, Wer bist du denn, Quem és tu
da weisst du dir leicht zu helfen. tens sempre uma resposta rápida. dass du mir wehren willst? para me impedir?
Mit dem Auge, Com o olho
das als andres mir fehlt, que me falta, Wanderer O Viajante
erblickst du selber das eine, tu podes ver o outro Fürchte des Felsens Hüter! Teme o guardião do rochedo!
das mir zum Sehen verblieb. que guardo para ver. Verschlossen hält O meu poder
meine Macht die schlafende Maid: mantém prisioneira a virgem adormecida:
Siegfried (der sinnend zugehört hat, bricht jetzt Siegfried (que escutou com atenção deixa escapar uma wer sie erweckte, quem a acordar
unwillkürlich in helles Lachen aus) gargalhada sonora) wer sie gewänne, e a conquistar,
Hahahaha! Hahahaha! machtlos macht’ er mich ewig! retira-me os poderes para sempre!
Zum Lachen bist du mir lustig! Tens mesmo muita graça! Ein Feuermeer Um mar de fogo
Doch hör’, nun schwatz’ ich nicht länger: Mas ouve, não vou ficar aqui a falar mais tempo: umflutet die Frau, envolve a donzela,
geschwind, zeig’ mir den Weg, depressa, indica-me o caminho glühende Lohe labaredas ardentes
deines Weges ziehe dann du; e depois segue o teu; umleckt den Fels: lambem o rochedo.
zu nichts andrem parece que não tens wer die Braut begehrt, O fogo virá consumir
acht’ ich dich nütz’: outra utilidade. dem brennt entgegen die Brunst. aquele que a desejar.
drum sprich, sonst spreng’ ich dich fort! Vamos, fala, ou mando-te pelos ares! (Er winkt mit dem Speere nach der Felsenhöhe) (com a sua lança indica o rochedo)
Blick’ nach der Höh’! Olha para o alto!
Wanderer (weich) O Viajante (docemente) Erlugst du das Licht? Vês aquele brilho?
Kenntest du mich, Se soubesses quem sou, Es wächst der Schein, A luz aumenta,
kühner Spross, jovem audaz, es schwillt die Glut; o fogo cresce;
den Schimpf spartest du mir! não falavas assim! sengende Wolken, nuvens ardentes
Dir so vertraut, Desejo o teu bem wabernde Lohe de chamas dançantes
trifft mich schmerzlich dein Dräuen. e as tuas ameaças desgostam-me. wälzen sich brennend avançam para nós;
Liebt’ ich von je Sempre amei und prasselnd herab: crepitando e queimando,

108 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 109


ein Lichtmeer um mar de luz Im Feuer mich baden! Banhar-me no fogo!
umleuchtet dein Haupt: circunda a tua cabeça: Im Feuer zu finden die Braut – Nele encontrar a virgem –
(Mit wachsender Helle zeigt sich von der Höhe des (no alto do rochedo cresce a luz irrequieta de um Hoho! Hahei! Hoho! Hahei!
Felsens her ein wabernder Feuerschein.) braseiro) Jetzt lock’ ich ein liebes Gesell! Agora sim, vou atrair um bom companheiro!
bald frisst und zehrt dich em breve serás consumido (Siegfried setzt sein Horn an und stürzt, seine (Siegfried pega na sua trompa e precipita-se tocando o
zündendes Feuer. por um fogo destruidor. Lockweise blasend, sich in das wogende Feuer, welches seu habitual chamamento por entre o fogo que,
Zurück denn, rasendes Kind! Recua pois, jovem enraivecido! sich, von der Höhe herabdringend, nun auch über den descendo das alturas, agora submerge também o
Vordergrund ausbreitet. Siegfried, den man bald nicht proscénio. Em breve, Siegfried é perdido de vista à
Siegfried Siegfried mehr erblickt, scheint sich nach der Höhe zu entfernen. medida que se afasta em direcção ao cume do rochedo.
Zurück, du Prahler, mit dir! Para trás, fanfarrão! Hellstes Leuchten der Flammen. Danach beginnt die As chamas atingem o auge. De seguida, a claridade
Dort, wo die Brünste brennen, Tenho de ir para onde ardem as chamas Glut zu erbleichen und löst sich allmählich in ein immer começa a diminuir dissolvendo-se aos poucos em
zu Brünnhilde muss ich dahin! para lá, onde está Brünnhilde! feineres, wie durch die Morgenröte beleuchtetes ligeiras nuvens que parecem iluminadas pela
(Er schreitet weiter, der Wanderer stellt sich ihm (Continua a avançar, o Viajante barra-lhe Gewölk auf.) madrugada.)
entgegen.) o caminho.)

Wanderer O Viajante
Fürchtest das Feuer du nicht, Se não temes o fogo, 3. Szene Cena 3
(den Speer vorhaltend) (mostrando a sua lança) Siegfried, Brünnhilde . Siegfried, Brünnhilde.
so sperre mein Speer dir den Weg! então que a minha lança te vede o caminho!
Noch hält meine Hand A minha mão ainda segura Das immer zarter gewordene Gewölk hat sich in einen As nuvens cada vez mais ligeiras deram lugar a uma
der Herrschaft Haft: este símbolo de poder: feinen Nebelschleier von rosiger Färbung aufgelöst und fina neblina rosada que, por sua vez, sobe deixando
das Schwert, das du schwingst, já uma vez ele quebrou zerteilt sich nun in der Weise, dass der Duft sich aperceber um céu azul e sereno. Na base do rochedo
zerschlug einst dieser Schaft: a espada que tu brandes! gänzlich nach oben verzieht und endlich nur noch den que agora avistamos – o mesmo cenário do terceiro
noch einmal denn Que a lança eterna heiteren, blauen Tageshimmel erblicken lässt, während acto de A Valquíria – uma névoa rosada permanece
zerspring’ es am ew’gen Speer! a parta de novo! am Saume der nun sichtbar werdenden Felsenhöhe suspensa fazendo lembrar as chamas encantadas
(Er streckt den Speer vor) (estende a lança) ganz die gleiche Szene wie im dritten Aufzug der que se encontram agora na base do rochedo.
Walküre – ein morgenrötlicher Nebelschleier haften A disposição da cena é a mesma que deixámos
Siegfried (das Schwert ziehend) Siegfried (desembainhando a espada) bleibt, welcher zugleich an die in der Tiefe noch no final de A Valquíria: em primeiro plano, sob
Meines Vaters Feind! O inimigo de meu pai! lodernde Zauberlohe erinnert. Die Anordnung der Szene a árvore frondosa, encontra-se Brünnhilde mergulha
Find’ ich dich hier? Vim encontrar-te aqui? ist durchaus dieselbe wie am Schlusse der Walküre: im da num sono profundo, envergando a sua armadura
Herrlich zur Rache geriet mir das! Não poderia haver melhor ocasião para a vingança! Vordergrunde, unter der breitästigen Tanne, liegt brilhante, com o elmo na cabeça e o grande escudo
Schwing’ deinen Speer: Brande a tua lança, Brünnhilde in vollständiger, glänzender Panzerrüstung, que a cobre.
in Stücken spalt’ ihn mein Schwert! a minha espada a há-de quebrar! mit dem Helm auf dem Haupte, den langen Schild über
(Er haut dem Wanderer mit einem Schlage den Speer in (Com um golpe da sua espada parte a lança em dois; sich gedeckt, in tiefem Schlafe.
zwei Stücken; ein Blitzstrahl fährt daraus nach der dela parte um relâmpago que atinge o alto do rochedo
Felsenhöhe zu, wo von nun an der bisher mattere onde as chamas, que até agora emanavam uma ténue Siegfried (gelangt von aussen her auf den felsigen Siegfried (Vindo do fundo chega ao bordo do rochedo
Schein in immer helleren Feuerflammen zu lodern claridade, vão crescendo de intensidade. Um forte Saum der Höhe und zeigt sich dort zuerst nur mit dem sendo só visível a parte superior do seu corpo: daí
beginnt. Starker Donner, der schnell sich abschwächt, trovão, que depressa se extingue, acompanha o golpe Oberleibe: so blickt er lange staunend um sich) contempla em seu redor em prolongada admiração.)
begleitet den Schlag. Die Speerstücken rollen zu des da espada. Os pedaços da lança caem aos pés do Selige Öde Divina solidão
Wanderers Füssen. Er rafft sie ruhig auf.) Viajante, que os apanha com calma.) auf sonniger Höh’! a deste cume radioso!
(Er steigt vollends herauf und betrachtet, auf einem (Acaba a subida e, sobre uma rocha no fundo,
Wanderer (zurückweichend) O Viajante (recuando) Felsensteine des hinteren Abhanges stehend, mit observa maravilhado a cena. Olha em direcção
Zieh hin! Ich kann dich nicht halten! Vai! Não te posso deter! Verwunderung die Szene. Er blickt zur Seite in den Tann à floresta e dá alguns passos
(Er verschwindet plötzlich in völliger Finsternis.) (desaparece de repente no meio da escuridão) und schreitet etwas vor.) na sua direcção.)
Was ruht dort schlummernd Quem repousa lá longe
Siegfried Siegfried im schattigen Tann? na sombra dos pinheiros?
Mit zerfocht’ner Waffe O cobarde fugiu Ein Ross ist’s, É um cavalo
wich mir der Feige? com a sua arma despedaçada? rastend in tiefem Schlaf! que aí dorme profundamente!
(Die wachsende Helle der immer tiefer sich senkenden (a claridade das chamas aumenta nas nuvens que (Langsam näher kommend, hält er verwundert an, als er (Lentamente aproxima-se e pára admirado
Feuerwolken trifft Siegfrieds Blick.) descem chamando a atenção do olhar de Siegfried) noch aus einiger Entfernung Brünnhildes Gestalt quando, de longe, avista o vulto
Ha! Wonnige Glut! Ha! Chamas deliciosas! wahrnimmt.) de Brünnhilde.)
Leuchtender Glanz! Brilho luminoso! Was strahlt mir dort entgegen? Que brilho é este?
Strahlend nun offen O caminho está agora aberto Welch glänzendes Stahlgeschmeid? Que armadura reluzente!
steht mir die Strasse. com todo o seu esplendor. Blendet mir noch Estarei ainda cego

110 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 111


die Lohe den Blick? do brilho das chamas? Das Auge mir öffne? Para que ela me veja?
(Er tritt näher hinzu.) (aproxima-se) Blende mich auch noch der Blick? O seu olhar não me cegará?
Helle Waffen! Armas resplandecentes! Wagt’ es mein Trotz? Serei assim tão corajoso?
Heb’ ich sie auf? Devo erguê-las? Ertrüg’ ich das Licht? Suportarei a sua luz?
(Er hebt den Schild ab und erblickt Brünnhildes Gestalt, (Levanta o escudo e descobre Brünnhilde, Mir schwebt und schwankt À minha volta tudo treme,
während ihr Gesicht jedoch noch zum grossen Teil vom cuja face ainda se encontra quase toda und schwirrt es umher! flutua e vibra!
Helm verdeckt ist.) coberta pelo elmo.) Sehrendes Sehnen Um desejo doloroso
Ha! In Waffen ein Mann! Ah! Um homem armado! zehrt meine Sinne; invade os meus sentidos;
Wie mahnt mich wonnig sein Bild! Com o seu aspecto me encanta! am zagenden Herzen O meu coração bate
Das hehre Haupt O elmo ainda aperta zittert die Hand! e a minha mão treme!
drückt wohl der Helm? a sua nobre cabeça… Wie ist mir Feigem? Que se passa, cobarde?
Leichter würd’ ihm, Ficará melhor Ist dies das Fürchten? Estarás com medo?
löst’ ich den Schmuck. se eu a libertar. O Mutter! Mutter! Mãe, minha mãe!
(Vorsichtig löst er den Helm und hebt ihn der (Cuidadosamente retira o elmo. Os compridos cabelos Dein mutiges Kind! Que corajoso era o teu filho!
Schlafenden vom Haupte ab: langes lockiges Haar ondulados de Brünnhilde soltam-se. Siegfried Im Schlafe liegt eine Frau: Uma mulher que aqui está adormecida
bricht hervor. Siegfried erschrickt.) estremece.) die hat ihn das Fürchten gelehrt! fez-lhe conhecer o medo!
Ach! Wie schön! Ah! Como é belo! Wie end’ ich die Furcht? Como o poderei dominar?
(Er bleibt in den Anblick versunken.) (fica abismado na contemplação) Wie fass’ ich Mut? Como encontrar coragem?
Schimmernde Wolken As nuvens cintilantes Dass ich selbst erwache, Para eu próprio acordar,
säumen in Wellen envolvem como ondas muss die Maid mich erwecken! tenho de a despertar!
den hellen Himmelssee; o claro lago do céu; (Indem er sich der Schlafenden von neuem nähert, wird (Ao aproximar-se de novo da adormecida fica como
leuchtender Sonne o sorriso luminoso er wieder von zarteren Empfindungen an ihren Anblick que preso ternamente com o que vê. Debruça-se
lachendes Bild do Sol brilhante gefesselt. Er neigt sich tiefer hinab.) ainda mais.)
strahlt durch das Wogengewölk! atravessa o mar de nuvens! Süss erbebt mir Um doce tremor passa
(Er neigt sich tiefer zu der Schlafenden hinab.) (curva-se sobre a adormecida) ihr blühender Mund. pela sua boca encantadora.
Von schwellendem Atem O seu peito arqueia Wie mild erzitternd Como me encanta
schwingt sich die Brust: com a respiração: mich Zagen er reizt! e ao mesmo tempo me faz tremer!
brech’ ich die engende Brünne? devo quebrar a couraça que o aperta? Ach! Dieses Atems Ah! O perfume
(Er versucht mit grosser Behutsamkeit, die Brünne (Com cuidado, tenta libertar Brünnhilde wonnig warmes Gedüft! da sua inebriante respiração!
zu lösen) da sua couraça.) (wie in Verzweiflung) (como que desesperado)
Komm, mein Schwert, schneide das Eisen! Vamos, espada, rompe o metal! Erwache! Erwache! Acorda! Acorda!
(Er zieht sein Schwert, durchschneidet mit zarter (Pega na espada e com cuidado corta os anéis Heiliges Weib! Mulher divina!
Vorsicht die Panzerringe zu beiden Seiten der ganzen que prendem de ambos os lados a armadura; (Er starrt auf sie hin) (olhando-a fixamente)
Rüstung und hebt dann die Brünne und die Schienen de seguida, levanta a couraça e as braçadeiras Sie hört mich nicht. Não me ouve.
ab, so dass nun Brünnhilde in einem weichen fazendo aparecer Brünnhilde nas suas leves (gedehnt mit gepresstem, drängendem Ausdruck) (Amplamente, num tom oprimido e insistente.)
weiblichen Gewande vor ihm liegt. Er fährt erschreckt vestes femininas. Ergue-se assustado So saug’ ich mir Leben Então aspiro a vida
und staunend auf.) e espantado.) aus süssesten Lippen, desses doces lábios,
Das ist kein Mann! Mas não é um homem! sollt’ ich auch sterbend vergehn! nem que depois tenha de morrer!
(Er starrt mit höchster Aufgeregtheit auf die Schlafende (olha fixamente para a adormecida com grande (Er sinkt, wie ersterbend, auf die Schlafende und heftet (Tomba como que moribundo sobre a adormecida e de
hin.) nervosismo) mit geschlossenen Augen seine Lippen auf ihren Mund. olhos fechados cola os seus lábios nos seus. Brünnhilde
Brennender Zauber Um fogo mágico Brünnhilde schlägt die Augen auf. Siegfried fährt auf abre os olhos. Siegfried levanta-se num salto e fica
zückt mir ins Herz; arde no meu coração; und bleibt vor ihr stehen. Brünnhilde richtet sich imóvel à sua frente. Brünnhilde ergue-se lentamente
feurige Angst um temor ardente langsam zum Sitze auf. Sie begrüsst mit feierlichen para se sentar. Com gestos solenes, de braços
fasst meine Augen: turba o meu olhar: Gebärden der erhobenen Arme ihre Rückkehr zur erguidos, saúda o céu e a terra consciente do seu
mir schwankt und schwindelt der Sinn! tremo e desfaleço! Wahrnehmung der Erde und des Himmels.) regresso à vida.)
(Er gerät in höchste Beklemmung) (num estado de ansiedade extrema)
Wen ruf’ ich zum Heil, Quem posso chamar Brünnhilde Brünnhilde
dass er mir helfe? para me ajudar? Heil dir, Sonne! Louvado sejas, Sol!
Mutter! Mutter! Mãe, minha mãe! Heil dir, Licht! Louvada sejas, luz!
Gedenke mein! Lembra-te de mim! Heil dir, leuchtender Tag! E tu também, dia luminoso!
(Er sinkt, wie ohnmächtig, an Brünnhildes Busen. (Cai, como que desfalecendo, sobre o peito de Lang war mein Schlaf; O meu sono foi longo,
Langes Schweigen. Dann fährt er seufzend auf.) Brünnhilde. Longo silêncio. Ergue-se de novo, suspirando.) ich bin erwacht. acordei.
Wie weck’ ich die Maid, Como a vou acordar Wer ist der Held, Quem é o herói
dass sie ihr Auge mir öffne? para que abra os seus olhos? der mich erweckt’? que me despertou?

112 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 113


Siegfried (von ihrem Blicke und ihrer Stimme feierlich Siegfried (Em quem o olhar e a voz de Brünnhilde Brünnhilde (lächelnd, freundlich die Hand nach ihm Brünnhilde (Sorrindo, estendendo para ele
ergriffen, steht wie festgebannt) produziram uma admiração solene, parece paralisado.) ausstreckend) amigavelmente a sua mão.)
Durch das Feuer drang ich, Atravessei o fogo Du wonniges Kind! Rapaz maravilhoso!
das den Fels umbrann; que envolvia o rochedo; Deine Mutter kehrt dir nicht wieder. A tua mãe já não volta para ti.
ich erbrach dir den festen Helm: forcei a tua forte armadura: Du selbst bin ich, Se me amares, abençoada,
Siegfried bin ich, sou Siegfried, wenn du mich Selige liebst. serei o teu eu.
der dich erweckt’. eu que te acordei. Was du nicht weisst, O que ignoras
weiss ich für dich; saberei eu por ti;
Brünnhilde (hoch aufgerichtet sitzend) Brünnhilde (Sentada, de busto erguido.) doch wissend bin ich mas só serei sábia
Heil euch, Götter! Louvados sejam, deuses! nur – weil ich dich liebe! porque te amo!
Heil dir, Welt! Louvado tu, mundo! O Siegfried! Siegfried! Siegfried! Siegfried!
Heil dir, prangende Erde! Louvada sejas, terra esplendorosa! Siegendes Licht! Luz triunfante!
Zu End’ ist nun mein Schlaf; O meu sono chegou ao fim; Dich liebt’ ich immer; Sempre te amei;
erwacht, seh’ ich: ao despertar vi denn mir allein pois só eu percebi
Siegfried ist es, Siegfried erdünkte Wotans Gedanke. os pensamentos de Wotan.
der mich erweckt! que me acordou! Der Gedanke, den ich nie O pensamento que ele
nennen durfte; nunca poderia formular,
Siegfried (in erhabenste Verzückung ausbrechend) Siegfried (dando curso a um sublime entusiasmo) den ich nicht dachte, o pensamento que não pensei
O Heil der Mutter, Louvada a mãe sondern nur fühlte; mas apenas pressenti,
die mich gebar; que me gerou; für den ich focht, pelo qual lutei,
Heil der Erde, louvada a terra kämpfte und stritt; combati e batalhei,
die mich genährt! que me alimentou! für den ich trotzte pelo qual desafiei
Dass ich das Aug’ erschaut, Por agora poder contemplar, bem-aventurado, dem, der ihn dachte; aquele que o tinha pensado,
das jetzt mir Seligem lacht! estes olhos que me sorriem! für den ich büsste, pelo qual sofri
Strafe mich band, uma punição
Brünnhilde (mit grösster Bewegtheit) Brünnhilde (muito comovida) weil ich nicht ihn dachte porque não o pensei
O Heil der Mutter, Louvada a mãe und nur empfand! e apenas o senti!
die dich gebar! que me gerou; Denn der Gedanke – Pois esse pensamento –
Heil der Erde, louvada a terra dürftest du’s lösen! – se o pudesses entender! –
die dich genährt! que me alimentou! mir war er nur Liebe zu dir! Foi apenas o meu amor por ti!
Nur dein Blick durfte mich schau’n, Só os teus olhos me podiam contemplar,
erwachen durft’ ich nur dir! só para ti deveria despertar! Siegfried Siegfried
(Beide bleiben voll strahlenden Entzückens in ihren (ambos ficam perdidos em mútua contemplação num Wie Wunder tönt, Como é maravilhoso
gegenseitigen Anblick verloren.) grande êxtase resplandecente) was wonnig du singst; o teu canto,
O Siegfried! Siegfried! Siegfried! Siegfried! doch dunkel dünkt mich der Sinn. mas o seu sentido é-me obscuro.
Seliger Held! Herói sublime! Deines Auges Leuchten Vejo o brilho luminoso
Du Wecker des Lebens, Tu que despertas a vida, seh’ ich licht; dos teus olhos;
siegendes Licht! luz vitoriosa! deines Atems Wehen sinto o sopro quente
O wüsstest du, Lust der Welt, Oh se soubesses, alegria do mundo, fühl’ ich warm; da tua respiração;
wie ich dich je geliebt! como sempre te amei! deiner Stimme Singen ouço o doce som
Du warst mein Sinnen, Foste o meu pensamento hör’ ich süss: da tua voz.
mein Sorgen du! a minha preocupação! doch was du singend mir sagst, Mas o que ela me diz
Dich Zarten nährt’ ich, Antes de nascer, frágil, staunend versteh’ ich’s nicht. não o consigo perceber.
noch eh’ du gezeugt; alimentei-te; Nicht kann ich das Ferne Não consigo perceber
noch eh’ du geboren, antes de nascer, sinnig erfassen, o que me está distante
barg dich mein Schild: já o meu escudo te protegeu: wenn alle Sinne quando todos os meus sentidos
so lang’ lieb’ ich dich, Siegfried! desde esse tempo que te amo, Siegfried! dich nur sehen und fühlen! te vêem e sentem!
Mit banger Furcht Paralisas-me
Siegfried (leise und schüchtern) Siegfried (Timidamente, a meia voz.) fesselst du mich: de angústia:
So starb nicht meine Mutter? Então a minha mãe não morreu? du Einz’ge hast foste a única
Schlief die minnige nur? Só está adormecida? ihre Angst mich gelehrt. a dar-me a conhecer o medo.

114 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 115


Den du gebunden Tornaste-me prisioneiro in blühender Brunst; queimando o meu peito;
in mächtigen Banden, sob fortes amarras, ein zehrendes Feuer um fogo consumidor
birg meinen Mut mir nicht mehr! não roubes toda a minha coragem! ist mir entzündet: arde em mim.
(Er verweilt in grosser Aufregung, sehnsuchtsvollen Blick (contempla Brünnhilde com um olhar de desejo e de die Glut, die Brünnhilds As chamas, que envolviam
auf sie heftend.) grande emoção) Felsen umbrann, o rochedo de Brünnhilde,
die brennt mir nun in der Brust! ardem agora no meu peito!
Brünnhilde (wendet sanft das Haupt zur Seite und richtet Brünnhilde (vira docemente a sua cabeça para o lado na O Weib, jetzt lösche den Brand! Mulher, extingue este fogo!
ihren Blick nach dem Tann) direcção da floresta) Schweige die schäumende Glut! Amansa este incêndio transbordante!
Dort seh’ ich Grane, Ali vejo Grane, (Er hat sie heftig umfasst: sie springt auf, wehrt ihm mit (Abraça-a com ímpeto; ela foge com
mein selig Ross: o meu glorioso cavalo. der höchsten Kraft der Angst, und entflieht nach der a poderosa força do medo escapando para
wie weidet er munter, Como pasta alegremente, anderen Seite.) o outro lado.)
der mit mir schlief! ele que comigo esteve adormecido!
Mit mir hat ihn Siegfried erweckt. Siegfried também o acordou. Brünnhilde Brünnhilde
Kein Gott nahte mir je! Nenhum deus alguma vez se aproximou de mim!
Siegfried (in der vorigen Stellung verbleibend) Siegfried (na mesma atitude de antes) Der Jungfrau neigten Os heróis inclinavam-se
Auf wonnigem Munde O meu olhar pousa-se scheu sich die Helden: com respeito perante a virgem:
weidet mein Auge: sobre a tua boca maravilhosa. heilig schied sie aus Walhall! pura abandonou o Valhala!
in brünstigem Durst A sede ardente Wehe! Wehe! Ai de mim!
doch brennen die Lippen, dos meus lábios Wehe der Schmach, Que vergonha,
dass der Augen Weide sie labe! quer ser saciada pelo esplendor desses olhos! der schmählichen Not! que dor humilhante!
Verwundet hat mich, Fui ferida por aquele
Brünnhilde (deutet ihm mit der Hand nach ihren Waffen, Brünnhilde (Reparando nas suas armas, indica-as com der mich erweckt! que me despertou!
die sie gewahrt) um gesto da mão.) Er erbrach mir Brünne und Helm: Despedaçou o meu elmo e a minha couraça:
Dort seh’ ich den Schild, Ali está o escudo Brünnhilde bin ich nicht mehr! já não sou Brünnhilde!
der Helden schirmte; com que protegia os heróis;
dort seh’ ich den Helm, ali o elmo Siegfried Siegfried
der das Haupt mir barg: que cobria a minha cabeça; Noch bist du mir Ainda és para mim
er schirmt, er birgt mich nicht mehr! não mais me protegem, não mais me cobrem! die träumende Maid: a virgem adormecida,
Brünnhildes Schlaf ainda não quebrei
Siegfried Siegfried brach ich noch nicht. o sono de Brünnhilde.
Eine selige Maid Uma virgem gloriosa Erwache, sei mir ein Weib! Acorda, sê mulher!
versehrte mein Herz; feriu meu coração,
Wunden dem Haupte uma mulher abriu Brünnhilde (in Betäubung) Brünnhilde (perturbada)
schlug mir ein Weib: feridas na minha cabeça; Mir schwirren die Sinne, Perco os sentidos,
ich kam ohne Schild und Helm! eu não trazia nem escudo nem elmo! mein Wissen schweigt: o meu saber está mudo:
soll mir die Weisheit schwinden? irei perder a minha sabedoria?
Brünnhilde (mit gesteigertem Wehmut) Brünnhilde (com crescente melancolia)
Ich sehe der Brünne Vejo o brilhante metal Siegfried Siegfried
prangenden Stahl: da minha couraça: Sangst du mir nicht, Não foste tu quem me disse
ein scharfes Schwert uma espada afiada dein Wissen sei que a tua sabedoria era
schnitt sie entzwei; cortou-a em dois. das Leuchten der Liebe zu mir? o brilho do teu amor por mim?
von dem maidlichen Leibe Retirou a um corpo virginal
löst’ es die Wehr: a sua protecção. Brünnhilde (vor sich hinstarrend) Brünnhilde (olhando fixamente no vazio)
ich bin ohne Schutz und Schirm, Não tenho protecção nem defesa, Trauriges Dunkel Uma triste escuridão
ohne Trutz ein trauriges Weib! sou apenas uma mulher triste e indefesa! trübt meinen Blick; perturba a minha visão;
mein Auge dämmert, os meus olhos fecham-se,
Siegfried Siegfried das Licht verlischt: a luz apaga-se:
Durch brennendes Feuer Através de um fogo ardente Nacht wird’s um mich. à minha volta faz-se noite.
fuhr ich zu dir! cheguei a ti! Aus Nebel und Grau’n Entre névoas e brumas
Nicht Brünne noch Panzer Nem couraça nem armadura windet sich wütend desponta feroz
barg meinen Leib: protegiam o meu corpo: ein Angstgewirr: uma enorme angústia:
nun brach die Lohe agora as chamas Schrecken schreitet já o terror avança
mir in die Brust. agitam o meu coração. und bäumt sich empor! e cresce!
Es braust mein Blut O meu sangue ferve (Sie birgt heftig die Augen mit beiden Händen.) (tapa os olhos com as mãos)

116 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 117


Siegfried (indem er ihr sanft die Hände von den Augen löst) Siegfried (retirando-lhe docemente as mãos dos olhos) Siegfried Siegfried
Nacht umfängt A noite invade Dich lieb’ ich: Amo-te:
gebund’ne Augen. os olhos fechados. o liebtest mich du! oh, se me pudesses amar!
Mit den Fesseln schwindet A angústia desaparece Nicht hab’ ich mehr mich: Já não me pertenço:
das finstre Grau’n. quando as amarras se soltam. o, hätte ich dich! quem me dera possuir-te!
Tauch’ aus dem Dunkel und sieh: Ergue-te da escuridão e vê: Ein herrlich Gewässer Águas encantadas
sonnenhell leuchtet der Tag! o dia é luminoso e cheio de sol! wogt vor mir; ondulam à minha frente;
mit allen Sinnen todos os meus sentidos
Brünnhilde (in höchster Ergriffenheit) Brünnhilde (com grande emoção) seh’ ich nur sie, apenas vêem
Sonnenhell A luz do Sol ilumina die wonnig wogende Welle. essa onda de prazer.
leuchtet der Tag meiner Schmach! o dia da minha vergonha! Brach sie mein Bild, Se ela perdeu a minha imagem
O Siegfried! Siegfried! Siegfried! Siegfried! so brenn’ ich nun selbst, agora só tenho um desejo:
Sieh’ meine Angst! Vê o meu medo! sengende Glut afogar esse incêndio
(Ihre Miene verrät, dass ihr ein anmutiges Bild vor die (A sua expressão revela que um sentimento amável lhe in der Flut zu kühlen; nessas águas;
Seele tritt, von welchem ab sie den Blick mit Sanftmut passou pela alma, de novo volta a olhar com ternura ich selbst, wie ich bin, tal como sou,
wieder auf Siegfried richtet.) para Siegfried.) spring’ in den Bach: atiro-me para a água.
Ewig war ich, Fui eterna, o, dass seine Wogen Quem me dera que as suas águas
ewig bin ich, sou eterna, mich selig verschlängen, me submergissem,
ewig in süss eterna no encanto mein Sehnen schwänd’ in der Flut! que o meu desejo se perdesse nesse rio!
sehnender Wonne, de um doce desejo, Erwache, Brünnhilde! Acorda, Brünnhilde!
doch ewig zu deinem Heil! mas sempre para o teu bem! Wache, du Maid! Desperta, ó virgem!
(feurig, doch zart) (com ardor mas doce) Lache und lebe, Sê alegre e vive,
O Siegfried! Herrlicher! Siegfried! Ser maravilhoso! süsseste Lust! imenso prazer!
Hort der Welt! Tesouro do mundo! Sei mein! Sei mein! Sei mein! Sê minha! Sê minha! Sê minha!
Leben der Erde! Vida desta terra!
Lachender Held! Herói sorridente! Brünnhilde (sehr innig) Brünnhilde (muito intenso)
Lass, ach lass, Deixa-me, O Siegfried! Dein Siegfried! Sempre
lasse von mir! afasta-te de mim! war ich von je! fui tua!
Nahe mir nicht Não te aproximes de mim
mit der wütenden Nähe! nesse ímpeto feroz! Siegfried (feurig) Siegfried (com ardor)
Zwinge mich nicht Não me violentes Warst du’s von je, Se sempre o foste,
mit dem brechenden Zwang, com a tua força avassaladora, so sei es jetzt! sê-o agora!
zertrümmre die Traute dir nicht! não destruas aquela que amas!
Sahst du dein Bild Alguma vez contemplaste Brünnhilde Brünnhilde
im klaren Bach? a tua imagem num claro ribeiro? Dein werd’ ich Tua serei
Hat es dich Frohen erfreut? Deu-te alegria? ewig sein! para sempre!
Rührtest zur Woge Se agitasses as águas
das Wasser du auf, criando ondas, Siegfried Siegfried
zerflösse die klare se quebrasses a superfície Was du sein wirst, Sê hoje
Fläche des Bachs: do límpido ribeiro, sei es mir heut’! o que serás para sempre!
dein Bild sähst du nicht mehr, deixarias de ver a tua imagem, Fasst dich mein Arm, Quando te abraço,
nur der Welle schwankend Gewog’! verias apenas a ondulação das vagas! umschling’ ich dich fest; e te agarro nos meus braços,
So berühre mich nicht, Não me toques então, schlägt meine Brust quando o meu peito bate
trübe mich nicht! não me perturbes! brünstig die deine; ardentemente sobre o teu,
Ewig licht E assim para sempre zünden die Blicke, quando os nossos olhares se acendem,
lachst du selig dann reflectirei a tua imagem zehren die Atem sich; a nossa respiração se funde,
aus mir dir entgegen, herói alegre e sereno, Aug’ in Auge, olhos nos olhos,
froh und heiter ein Held! para sempre luminoso! Mund an Mund: boca sobre boca,
O Siegfried! Siegfried! dann bist du mir, então és para mim
Leuchtender Spross! Jovem luminoso! was bang du mir warst und wirst! tudo o que, ansiosa, foste e serás!
Liebe dich Ama-te a ti próprio Dann brach sich die brennende Sorge, Será que então saberei
und lasse von mir: e deixa-me. ob jetzt Brünnhilde mein? se Brünnhilde me pertence?
vernichte dein Eigen nicht! Não destruas o teu eu! (Er hat sie umfasst.) (abraça-a)

118 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 119


Brünnhilde Brünnhilde deine stolze Burg! se desfaça em pó!
Ob jetzt ich dein? Se agora sou tua? Leb’ wohl, prangende Adeus, fausto resplandecente
Göttliche Ruhe A calma divina Götterpracht! dos deuses!
rast mir in Wogen; transforma-se em impetuosas ondas; End’ in Wonne, Raça eterna,
keuschestes Licht a luz casta du ewig Geschlecht! morre em alegria!
lodert in Gluten: é agora um grande incêndio; Zerreisst, ihr Nornen, Nornas, rompam
himmlisches Wissen o saber divino das Runenseil! o fio das runas!
stürmt mir dahin, abandona-me veloz, Götterdämm’rung, Que chegue
Jauchzen der Liebe a alegria do amor dunkle herauf! o crepúsculo dos deuses!
jagt es davon! o faz fugir! Nacht der Vernichtung, Noite do aniquilamento
Ob jetzt ich dein? Se agora sou tua? neble herein! espalha a tua névoa!
Siegfried! Siegfried! Siegfried! Siegfried! Mir strahlt zur Stunde Nesta hora brilha para mim
Siehst du mich nicht? Não me vês? Siegfrieds Stern; a estrela de Siegfried.
Wie mein Blick dich verzehrt, O meu olhar devora-te er ist mir ewig, Ele é-me eterno,
erblindest du nicht? e tu não cegas? ist mir immer, para sempre,
Wie mein Arm dich presst, O meu braço envolve-te Erb’ und Eigen, minha herança e minha posse,
entbrennst du mir nicht? e tu não ardes? ein’ und all’: o único e o todo.
Wie in Strömen mein Blut O meu sangue corre em torrentes leuchtende Liebe, Amor luminoso,
entgegen dir stürmt, para ti, lachender Tod! risonha morte!
das wilde Feuer, não sentes o seu
fühlst du es nicht? fogo selvagem? Siegfried Siegfried
Fürchtest du, Siegfried, Não tens medo, Siegfried, Lachend erwachst Em alegria tu despertaste,
fürchtest du nicht das wild wütende Weib? não temes esta mulher feroz e descontrolada? du Wonnige mir: ó sublime mulher:
(Sie umfasst ihn heftig) (ela abraça-o com força) Brünnhilde lebt, Brünnhilde vive,
Brünnhilde lacht! Brünnhilde ri!
Siegfried (in freudigem Schreck) Siegfried (num alegre temor) Heil dem Tage, Louvado o dia
Ha! Ha! der uns umleuchtet! que nos ilumina!
Wie des Blutes Ströme sich zünden, Quando os rios do meu sangue se acendem, Heil der Sonne, Louvado o Sol
wie der Blicke Strahlen sich zehren, quando o brilho dos teus olhos me fere, die uns bescheint! que nos dá luz!
Wie die Arme brünstig sich pressen, - quando os braços se apertam com força, Heil der Welt, Louvado o mundo
kehrt mir zurück então regressa der Brünnhilde lebt! em que vive Brünnhilde!
mein kühner Mut, a minha coragem Sie wacht, sie lebt, Está acordada, ama,
und das Fürchten, ach! e o medo, ai… sie lacht mir entgegen. e para mim ri.
Das ich nie gelernt, que nunca consegui aprender, Prangend strahlt A estrela de Brünnhilde
das Fürchten, das du o medo, que tu mir Brünnhildes Stern! brilha para mim!
mich kaum gelehrt: quase me ensinaste, Sie ist mir ewig, Ela é-me eterna
das Fürchten, – mich dünkt, o medo – parece-me ist mir immer, para sempre,
ich Dummer vergass es nun ganz! que, estúpido, já nem sei como ele era! Erb’ und Eigen, minha herança e minha posse
(Er hat bei den letzten Worten Brünnhilde unwillkürlich (sem dar por isso largou Brünnhilde com as suas ein’ und all’: a única e o todo.
losgelassen.) últimas palavras) leuchtende Liebe, Amor luminoso,
lachender Tod! risonha morte!
Brünnhilde (im höchsten Liebesjubel Brünnhilde (Soltando um riso selvagem, (Brünnhilde stürzt sich in Siegfrieds Arme. (Brünnhilde cai nos braços de Siegfried.
wild auflachend) no apogeu da alegria do seu amor.) Der Vorhang fällt.) Cai o pano.)
O kindischer Held! Jovem herói!
O herrlicher Knabe! Rapaz divino!
Du hehrster Taten Ingénuo poço de Ende Fim
töriger Hort! feitos heróicos!
Lachend muss ich dich lieben, Alegre, devo amar-te,
lachend will ich erblinden, Alegre, devo cegar,
lachend lass uns verderben, Alegres, ambos sucumbiremos,
lachend zugrunde gehn! Alegres, morreremos! Tradução do libreto para efeitos de legendagem
Fahr’ hin, Walhalls Desaparece mundo luminoso e publicação no programa
leuchtende Welt! do Valhala! João Paulo Santos
Zerfall in Staub Que o teu orgulhoso castelo

120 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 121


Paulo Ferreira de Castro com variação em cordas dobradas, para indicar que
[o executante] pretende fazer muito ruído; da sétima,
[ele] canta, sem acompanhamento, apenas metade
O que é, afinal, um Leitmotiv? do refrão; da oitava, na peça de conjunto ‘Oui,
chevaliers...’, canta [a] melodia num compasso
diferente [...]. Da nona vez, por fim, no último coro, [a]
melodia é cantada em trio”. E acrescenta: “Sem
dúvida, era necessário apresentar a melodia sob
O facto de precisamente esta palavra equívoca tantas formas diferentes para ousar repeti-la tantas
se ter naturalizado entre nós é uma infelicidade, vezes: contudo, não ouvi ninguém dizer que fosse
para a qual só existe a consolação duvidosa demasiadamente repetida, porque o público sentiu
de que não se encontrou outra melhor. que a melodia era o pivot em torno do qual girava toda
a peça”.2
Hans von Wolzogen1 O que pretendia Grétry dizer com “o pivot da
peça”? Algo de muito evidente, sem dúvida, mas ao
mesmo tempo uma verdadeira trouvaille musico-
-dramatúrgica. Tratava-se, nem mais nem menos, de
Nos seus Mémoires, ou Essais sur la musique, inventar (ou quase) o que se poderia chamar a
publicados em Paris no ano fatídico de 1789 (e de melodia-protagonista, cujo papel na economia geral
novo, em versão aumentada, em 1797), o compositor da obra é comparável à de um verdadeiro agente
André-Ernest-Modeste Grétry (Liège, 1741 – Paris, dramático.3 No decurso da acção, ambientada em
1813) detém-se na explicação de uma ocorrência finais do século XII, o fiel trovador Blondel (baseado
peculiar, a propósito do seu opéra-comique de 1784, na figura histórica de Blondel de Nesle) consegue
Richard Coeur-de-lion: o facto de uma mesma melodia identificar o paradeiro do Rei Richard (Ricardo
– a melodia da romança “Une fièvre brûlante” (“Uma Coração-de-leão), traiçoeiramente capturado no
febre ardente”) – se repetir nada menos que nove regresso das Cruzadas, graças a uma canção que este
vezes ao longo da obra. Mas “repetir” não é o termo reconhece, e retoma, do fundo do seu cativeiro –
exacto. Nas palavras de Grétry, “seria fácil enfastiar os assim despoletando as peripécias que hão-de
espectadores, repetindo tantas vezes a mesma culminar na respectiva libertação, segundo o
melodia; mas é de notar que da primeira vez ela é afortunado padrão da pièce à sauvetage.4 É pois
tocada sem acompanhamento; da segunda vez, com graças à música que se dá o encontro de Blondel e
variação; da terceira, com acompanhamento; da Richard na cena-chave do II Acto da ópera, sem que
quarta e quinta, com a letra; da sexta, tocada apenas nenhum dos dois possa avistar o outro (“sans le voir,

1 4
Musikalisch-dramatische Parallelen (Leipzig, 1906), cit. in Christoph É curioso registar a presença de uma personagem de nome Florestan
von Blumröder, “Leitmotiv” (1990, p. 13), in Hans Heinrich Eggebrecht/ em Richard Coeur-de-lion, tal como no Fidelio beethoveniano, embora na
Albrecht Riethmüller (eds.), Handwörterbuch der musikalischen Terminologie ópera de Grétry se trate, não do prisioneiro, mas do governador da
III, Stuttgart: F. Steiner [1972-2006]. Todas as traduções incluídas no fortaleza. O libreto, de Michel-Jean Sedaine (1719-1797), inspira-se
presente artigo, realizadas a partir dos textos originais, são da possivelmente na versão da aventura do Rei Ricardo veiculada pela
responsabilidade do autor. Bibliothèque universelle des romans de 1776, em que a sequência dos
acontecimentos surge já centrada num lai supostamente escrito pelo
2
Citação da edição de Bruxelas: Académie de musique/Paris: La lyre monarca na Palestina (cf. David Charlton, Grétry and the Growth of Opéra-
moderne, 1829, pp. 292-3. -comique, Cambridge: Cambridge University Press, 1986, pp. 229-30).
Grétry, que declara ter aceite sem reservas a “bela obra dramática” do
3
Como é habitual no jogo de atribuição de prioridades, é possível aduzir seu colaborador, confessa nos Mémoires ter hesitado longamente sobre
diversos precedentes históricos neste processo. Mozart, por exemplo, o modo de conferir a necessária patine histórica à música da romança:
parece ter utilizado conscientemente motivos recorrentes na partitura “fi-la de várias maneiras, sem achar o que procurava, isto é, o estilo
de Idomeneo, re di Creta (1781), e possivelmente noutras obras. antigo [le vieux style] capaz de agradar aos modernos”. Em última
instância, o compositor declarar-se-á satisfeito: “Fui bem sucedido? É de
crer que sim, pois que cem vezes me perguntaram se tinha achado a
melodia no fabliau de onde foi retirado o argumento” (Mémoires, p. 289).

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 123


je lui ai parlé ce matin”, dirá Blondel);5 mas é a identidade do rei, o amor que o une a Marguerite, e
igualmente graças à mesma melodia que, já antes, a aspiração de todos à liberdade. Nesse momento
fazendo-se passar por músico ambulante (e cego), crucial, a canção afirma-se com todo o potencial
Blondel atrai a atenção de Marguerite, Condessa da utópico de um desafio à realidade. No entanto, desde
Flandres e amante do protagonista, que prontamente o início da ópera, a música parece já “falar” com mais
identifica a canção outrora composta em sua honra, e eloquência do que as palavras, em virtude da sua
convida o trovador a associar-se ao seu séquito e a capacidade intrínseca para gerar uma pluralidade de
repeti-la com frequência. emoções e sentidos, subliminarmente conjugados no
Se considerarmos a utilização da melodia na Cena espírito do espectador mais analítico.
4 do II Acto como o verdadeiro eixo dramatico-musical É no III Acto que nos deparamos com a utilização
dos acontecimentos (é nesse momento que a romança dramaturgicamente mais original – e porventura
é efectivamente cantada – com letra – pela primeira mais premonitória de futuros desenvolvimentos –
vez, motivando a resposta de Richard), torna-se claro da melodia recorrente. Blondel relata perante
como a articulação “sentimental” dos actos extremos Marguerite e outras personagens o momento da
se organiza segundo esquemas de antecipação e revelação da presença de Richard: “Sa voix a pénétré
rememoração em torno de um momento de mon âme”, afirma, comovido (“A sua voz penetrou
presentificação privilegiado – e são mais uma vez os na minha alma”). Pela primeira vez, o tema abandona
usos da melodia a possibilitar essa articulação. a métrica e o tom originais, para se insinuar
No I Acto, a melodia da romança (tocada em cena por momentaneamente na voz de Blondel, num tom e num
Blondel no seu violino, sucedâneo de uma qualquer compasso diferentes, integrado – ou, de certo modo,
vièle medieva) é assimilada a um puro sinal, cujo dissimulado – no seio de um morceau d’ensemble.
significado inequívoco é “Richard” – mas apenas, em Despojada da sua autonomia enquanto peça
sentido estrito, para Marguerite. Para o público em independente, a romança reduz-se agora a um
geral, a romança constitui-se antes como abertura de precipitado melódico, quase uma reminiscência,
um espaço de ressonância romanesca, graças em claramente perceptível enquanto tal no seu contorno
particular ao efeito de cor local “histórica”, veiculada intervalar, mas subtilmente entretecida numa linha
pelo estilo arcaizante da melodia. Esse efeito é vocal mais ampla, de que constitui um parêntesis
reforçado desde logo por uma variação instrumental revelador. A um primeiro nível de leitura, a intenção
cuja funcionalidade enquanto música de cena dramática corresponde à constatação de que o
(assegurando a transição para outro número reconhecimento fora operado por intermédio da
característico, a Canção do Cruzado) não invalida o própria romança; contudo, como sugere David
propósito de amplificação emocional; pelo contrário, Charlton, “é possível que o compositor quisesse dar
é a extensão da melodia ao domínio orquestral que às palavras de Blondel um significado puramente
verdadeiramente confere à ingénua romança a sua ‘subconsciente’: a sua explicação não define a
qualidade de objecto transcendente: “a orquestra respectiva intenção”.7 Nessa cena, a música parece
Grétry, Richard Coeur-de-lion: Acto II, Cena 4. aparentemente ‘comenta’ a romança, fazendo-nos deter a verdade psicológica profunda da situação
sentir que este objecto musical há-de ‘superar’ teatral, uma verdade que facilmente escapa à suposta
quaisquer obstáculos no seu caminho”.6 Esse é o racionalidade das personagens – senão mesmo às
espaço semanticamente indeterminado que intenções conscientes dos seus criadores. Em tempos
a associação entre voz humana, melodia e texto de sobre-interpretação (e de sub-psicanálise) como os
poético, no acto seguinte, virá enfim preencher, fixando- nossos, não faltará quem pretenda ver, ou ouvir, na
-se então sem ambiguidades a ligação entre a canção, passagem a que nos referimos a sublimação de uma

5 7
Acto III, Cena 4. Id., p. 247.
6
Charlton, Grétry, p. 243.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 125


projecção afectiva que, de acordo com as bienséances obscuros de Grétry, como Dalayrac, Méhul e Catel,
da época, não poderia facilmente ser expressa de como também pelos iniciadores, não menos obscuros,
outro modo. Mas não é isso o que mais importa do romantismo musical alemão, tais como Louis
(deixemos a questão aos futuros encenadores de Richard Spohr e E. T. A. Hoffmann (mas também pela
Coeur-de-lion, caso venham a existir). O que importa exploração, no terreno puramente sinfónico, das
é o vislumbre, por parte de um compositor menor em virtualidades da idée fixe à maneira de Berlioz, a partir
finais de Setecentos, de um sofisticado princípio da Symphonie fantastique (1830)). Note-se, de novo, a
musico-dramatúrgico, susceptível de um número perspicácia de Carl Maria von Weber, numa apreciação
potencialmente ilimitado de derivações a partir da produzida por ocasião da estreia (sob a sua direcção)
plasticidade de uma ideia-base. Após o desfecho feliz de Faust de Spohr, em 1816: “Certas melodias,
da aventura de Richard e dos seus aliados (envolvendo, calculadas de modo feliz e certeiro, atravessam a obra
entre outros condimentos melodramáticos, o assalto como fios delicados, dando consistência espiritual
a uma fortaleza, cinco anos antes da Bastilha...), [geistig] ao todo”.9 Manifestamente, a ideia andava no
a romança é evocada uma última vez pelo trio de ar desde a viragem do século. Mediada e desenvolvida
protagonistas, integrando, com letra apropriada por Weber (Der Freischütz, Euryanthe) e Marschner (Der
à circunstância, a celebração catártica da fidelidade. Vampyr, Hans Heiling), que ensaiaram com diversa
Richard Coeur-de-lion não é exactamente uma eficácia a manipulação dramatúrgica de motivos
obra-prima. Não obstante, a importância histórica de característicos nas décadas de 20 e 30, a ideia viria a
Grétry está longe de ser negligenciável, entre outras frutificar na experiência wagneriana de Der fliegende
razões pela sensibilidade “gótica” que ajudou a Holländer (O holandês volante, ou O navio fantasma,
aclimatar ao domínio operático, em pleno Século das 1841), cujo impulso musico-dramático liminar procede
Luzes – e isso mesmo era reconhecido por um precisamente – tal como no longínquo Richard de
observador tão insuspeito (e tão pouco dado à Grétry – de um episódio de “música dentro da
francofilia...) como o compositor Carl Maria von música”: a balada de Senta, também ela colocada
Weber, quando em 1817 escrevia, numa recensão sensivelmente no centro nevrálgico da ópera.
crítica a outra obra do músico de Liège: “Talvez Grétry Dez anos mais tarde, Wagner descreveria nos
tenha sido o único dos compositores florescentes em seguintes termos (em Uma comunicação aos meus
França dotado de verdadeiro sentido lírico, senão amigos, o escrito autobiográfico de 1851) o processo
mesmo, por vezes, romântico”.8 A palavra mágica composicional da sua primeira obra-prima:
estava lançada.
Lembro-me que, ainda antes de começar
* propriamente a escrever o Holandês volante, esbocei
primeiro a balada de Senta, do II Acto, escrevendo quer
Não se pretende aqui traçar a crónica das os versos, quer a melodia; nesta peça, coloquei
utilizações de motivos recorrentes, e da evolução das inconscientemente o gérmen temático de toda a música
Grétry, Richard Coeur-de-lion: Acto III, Cena 4.
suas variáveis funções simbólicas e estruturais, ao da ópera: tratava-se da imagem condensada do drama no
longo da história da ópera. Essa crónica (que, seu todo, tal como se apresentava ao meu espírito; e
diga-se de passagem, está largamente por fazer) quando precisei de dar um título ao trabalho concluído,
passaria pelos contemporâneos e sucessores mais estive inclinado a designá-lo como “balada dramática”.

8 9
“‘Raoul Blaubart’, Oper von Grétry”, in Kunstansichten. Ausgewählte Schriften, “‘Faust’, Oper von Spohr”, ibid., p. 194.
Wilhelmshaven: Heinrichshofen, 1978, p. 204 (itálico acrescentado).

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 127


Por fim, aquando da composição, a imagem temática romântica da primeira metade do século; os motivos
previamente concebida expandiu-se de modo totalmente têm indubitavelmente relevância dramatúrgica, mas
espontâneo como um tecido contínuo sobre a totalidade não são plenamente integrados do ponto de vista
do drama; restava-me apenas desenvolver plenamente estrutural.12 Seria apenas com a Tetralogia – e mais
os vários gérmens temáticos contidos na balada, de com Siegfried e O crepúsculo dos deuses do que com
acordo com as suas tendências próprias, para ter diante O ouro do Reno – que Wagner viria a realizar o seu
de mim todos os ambientes principais do poema ideal de uma forma musical (a unendliche Melodie, ou
realizados, quase por si sós, em configurações temáticas “melodia infinita”) quase inteiramente despojada das
determinadas.10 regras da sintaxe tradicional, em que a lógica motívica,
geralmente associada a formações irregulares do ponto
O excerto pode tomar-se, in nuce, como exposição de vista métrico mas retoricamente eficazes, se
da poética wagneriana do drama musical, tal como sobrepõe de modo sistemático à estrutura periódica da
laboriosamente desenvolvida, poucos meses antes, frase musical herdada da tradição classico-romântica.
na III Parte de Ópera e drama.11 Curiosamente, porém, Ao julgar (ou pretender julgar?) dar-nos um relato fiel
o texto não é uma boa descrição d’O navio fantasma, a da génese da sua obra de juventude, Wagner estava,
respeito do qual dificilmente se poderia defender com na verdade, a fantasiar sobre a teoria do drama
objectividade que a “imagem temática” da balada se musical, tal como procuraria pô-la em prática, alguns
estende “como um tecido contínuo sobre a totalidade anos depois, no Anel – como se a necessidade de
do drama” (a menos que se entenda por “imagem” ou legitimação do radicalismo do projecto em gestação
“gérmen temático” pouco mais do que uma simples convidasse o compositor à construção retrospectiva
atmosfera poetico-musical, concebida em termos de um precedente imaginário.
excessivamente genéricos). Na verdade, a coerência Como encarava Wagner, em termos conceptuais, a
formal da ópera depende menos de uma rede de sua revolução poetico-musical? Vejamos, de relance,
relações motívicas do que de um enquadramento algumas das teses exaustivamente elaboradas em
sintáctico amplamente tradicional. Há relativamente Ópera e drama. Como quase sempre em Wagner (para
poucas passagens d’O navio fantasma das quais se não dizer, no romantismo), tudo começa pela
possa afirmar com rigor que derivam do complexo consciência da perda. À medida que, no mundo
motívico da balada, e mesmo nos casos em que tais moderno, a poesia deixou de se assumir como função
motivos são postos em destaque, estes funcionam da sensibilidade para se subordinar ao intelecto,
principalmente como interpolações, à maneira dos foi-se dissolvendo a união reputada essencial,
motivos de reminiscência do opéra-comique e da ópera intrínseca e originária, entre gesto, som e palavra:

10 12
Eine Mitteilung an meine Freunde, in Gesammelte Schriften und Em Eine Mitteilung an meine Freunde, Wagner afirma ter procedido de
Dichtungen IV, Leipzig: Fritzsch, 18882, p. 323. forma semelhante em Tannhäuser e Lohengrin: “[C]om a diferença de
André-Ernest-Modeste Grétry (1741-1813)
que, aqui, não tinha diante de mim à partida uma peça musical
E. T. A. Hoffmann (1776-1822) 11
A expressão “drama musical” (Musikdrama, musikalisches Drama) completa como [a] Balada, começando por criar a própria imagem
Louis Spohr (1784-1859)
parece ter-se imposto desde a década de 60 do século XIX para designar [Bild] na qual convergiam os raios temáticos, a partir da construção
Carl Maria von Weber (1786-1826)
a especificidade do género inaugurado por Wagner, por oposição à das cenas, do seu crescimento orgânico umas a partir das outras,
Heinrich Marschner (1795-1861)
“ópera” no sentido tradicional, mas o termo é submetido a crítica e fazendo-a reaparecer sob diferentes formas sempre que necessário para
rejeitado pelo compositor no seu artigo de 1872, “Über die Benennung a compreensão das situações principais” (in Gesammelte Schriften und
‘Musikdrama’” (“Sobre a designação ‘drama musical’”); cf. Gesammelte Dichtungen IV, pp. 323-4).
Schriften und Dichtungen IX, pp. 302 e ss. Perto da conclusão de Eine
Mitteilung an meine Freunde, Wagner havia escrito, em nota de rodapé:
“Eu não escrevo mais óperas: como não desejo inventar um nome
arbitrário para os meus trabalhos, designo-os por dramas, já que pelo
menos deste modo se descreve com a maior clareza o ponto de vista a
partir do qual aquilo que proponho deve ser acolhido” (op. cit., p. 343).
Por trás da desconfiança manifestada pela mera atribuição da
paternidade de um “novo” género dramático, pode ler-se a ambição
wagneriana de marcar com a sua obra um verdadeiro apogeu (e fim!) da
história do drama, na sua totalidade.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 129


Wagner descreve detalhadamente o processo de Segundo Wagner, a obra de arte orgânica – aquilo a
despoetização da linguagem, em direcção à prosa, que hoje chamaríamos talvez o espectáculo multimedia
à língua “abstracta”, “lógica”, de “convenção”, que já – é a que inclui em si tanto o “condicionante”
não podemos captar a partir do puro sentimento.13 (o conceito) como o “condicionado” (a sensação, a
Nesta linguagem, só podemos descrever o sentimento, fisicalidade), conjugando-os e comunicando-os ao
de maneira indirecta (pretexto para a condenação espectador da maneira mais completa e imediatamente
da vocação normativa das Academias, o que lhe perceptível. A progressão do drama musical – o único
permite, de passagem, fustigar uma vez mais o drama digno desse nome na actualidade, segundo
espírito da civilização francesa, e em especial Wagner – é motivada pela intenção poética, mas esta
o absolutismo de Luís XIV, que representa para só é viabilizada através do elemento intrinsecamente
Wagner a “convenção personificada”). Desertado pelo feminino da harmonia. De acordo com a narrativa
intelecto, o sentimento buscou refúgio na linguagem magistral de Ópera e drama, poeta e músico são como
musical absoluta, ou seja, a música actual. Na língua dois viajantes que, partindo do mesmo lugar, se
moderna não é possível criar (dichten); uma autêntica separam em direcções opostas: o poeta pela “terra
intenção poética (dichterische Absicht) não pode ser firme” (o poema, com o seu suporte conceptual),
realizada através dela, isto é, comunicada ao, e pelo, o músico através do oceano (a harmonia, domínio por
sentimento. Mas o verdadeiro dramaturgo só poderá excelência do vago, do irracional, do insondável).
realizar plenamente a sua intenção na medida em que Chegados ao ponto extremo do seu percurso autónomo,
não se satisfaça com a linguagem do puro intelecto. os dois voltam a encontrar-se: cada um percorreu
Na esteira do debate travado no século precedente exactamente metade do planeta. Cada um partilha com
sobre as origens da linguagem, Wagner acredita o outro as suas experiências individuais; depois,
que a palavra nasceu da música e que a ela deve separam-se de novo, a fim de experimentarem
regressar. O entendimento (masculino, separador, directamente o outro de si próprios. Por fim, poeta e
“egoísta”) deve aliar-se ao sentimento (o “eterno músico reencontram-se no ponto de partida. A partir de
feminino”, o elemento fusional e matricial) para agora não se separam mais; confundidos num só,
reconstituir o paradigma perdido do “puramente o poeta tornou-se músico, o músico, poeta; juntos,
humano” (das Reinmenschliche) a partir da constituem o homem-artista completo segundo Wagner
simplicidade originária do mito, desvinculado de todas – o genuíno artista do futuro.
as convenções e contingências falsificadoras. O ponto de contacto entre poeta e músico é a
Na linguagem fortemente sexualizada do futuro autor melodia: a “melodia do verso” (ou melodia vocal) é o
de Tristão, o sémen procriador do artista é elo primordial entre a linguagem verbal e a linguagem
literalmente a intenção poética “condensada” musical, o elemento “erótico” do enlace entre as duas
(verdichtet – note-se a afinidade etimológica, na língua artes, redentor da falsa autonomia de ambas. Quanto
alemã, entre “criação” e “condensação”) com que o à orquestra, afirma Wagner, é o navio seguro que o
autor do Gesamtkunstwerk (a “obra de arte total”), se músico empresta ao poeta para navegar nos mares
propõe fecundar a música absoluta – isto é, a música revoltos da harmonia. A orquestra deve ser vista não
poeticamente “indeterminada” do seu tempo.14 só como a dominadora das vagas da harmonia, mas

Wagner, Der fliegende Holländer: Acto II (Balada de Senta)

13
O tema wagneriano da “crise” da linguagem ressoará através de toda a declínio da tragédia: assim como o espírito colectivo se fragmentou em
cultura europeia do final do século XIX, ilustrada sob diferentes múltiplas direcções “egoístas”, assim também a obra de arte total
perspectivas por Nietzsche, Maeterlinck, Bergson, Fritz Mauthner e (Gesamtkunstwerk) da tragédia se dissolveu nas suas componentes
Hofmannsthal, entre outros, a partir de uma problemática que ocupava já individuais (Gesammelte Schriften und Dichtungen III, Leipzig: Fritzsch,
um lugar central na filosofia de Schopenhauer (lido por Wagner a partir de 18872, p. 12; cf. também p. 29). Em Das Kunstwerk der Zukunft (A obra de
Outubro de 1854, precisamente durante a composição de Die Walküre). arte do futuro, igualmente 1849), o compositor sugere que a obra de arte
total, devendo abarcar todos os géneros artísticos na representação
14
Cf. Oper und Drama (ed. Klaus Kropfinger), Stuttgart: Reclam, 1994, incondicionada e imediata da plena natureza humana, será a obra
pp. 236-44. Em Die Kunst und die Revolution (A arte e a revolução, 1849), colectiva da humanidade do futuro (ibid., p. 60; cf. também p. 159).
Wagner expõe a sua visão (amplamente glosada pelo jovem Nietzsche) Curiosamente, o termo Gesamtkunstwerk não voltará a ser utilizado por
segundo a qual a dissolução do estado ateniense arrastou consigo o Wagner nos seus textos teóricos.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 131


como as próprias vagas dominadas, e, nesta acepção, pela orquestra em correlação com outro inexprimível:
Wagner propõe uma outra metáfora “aquática”: a o do gesto (Gebärde). Os movimentos do corpo,
orquestra é agora assimilada a um límpido lago de determinados por um sentimento interior, relevam do
montanha, cujas margens são visíveis de qualquer inexprimível na medida em que a linguagem verbal só
ponto (trata-se de submeter ao controlo artístico o o pode indicar ou interpretar; exprimi-lo, só os
poder ilimitado, um tanto monstruoso, da harmonia; o membros ou a face o podem. Aquilo que a linguagem
seu carácter “oceânico”, como diria Freud). A melodia verbal é capaz de comunicar plenamente (do intelecto
do verso é a barca navegando ao sabor das águas, ao intelecto) não precisa de ser acompanhado
mas não exactamente deslizando à superfície: a barca de gestos; mas a comunicação verbal de um
só pode navegar se mergulhar parcialmente na água; objecto não inteiramente comunicável por esse
e ainda graças ao leme (a palavra) e aos remos meio – nomeadamente, um afecto –, necessita de um
(o ritmo). A orquestra é pois a ideia da harmonia gesto de acompanhamento; olho e ouvido reforçam-se
realizada na sua plena mobilidade; a linguagem assim reciprocamente. Se o “inexprimível” sonoro é
instrumental possui, desse ponto de vista, uma restituído pela linguagem não-verbal da orquestra,
afinidade com a linguagem verbal profundamente tal capacidade foi adquirida por esta a partir de
enraizada na corporalidade – como parece próprio de uma longa associação histórica motivada pelo
um discípulo de Feuerbach.15 acompanhamento do gesto na dança.16 O gesto está
A orquestra possui, segundo Wagner, uma pois para a melodia orquestral como o verso verbal
faculdade linguística própria, que nos foi revelada pela para a melodia vocal; o ritmo é o verdadeiro plano de
moderna música instrumental, e em particular pelo intersecção entre gesto, palavra e música. A intenção
génio sinfónico de Beethoven, na sua tentativa de poética, tal como o artista procura realizá-la no
exprimir mesmo o que é vedado à música absoluta. drama, deve determinar a expressão diferenciada do
Essa faculdade linguística da orquestra reside na sua gesto, a figura, a fisionomia, a postura, o movimento
capacidade de comunicar o inexprimível (das e mesmo o traje do intérprete, em todos os seus
Unaussprechliche); não enquanto abstracção pseudo- detalhes. Na melodia do verso funde-se não só a
-filosófica, mas como algo de eminentemente real e linguagem verbal com a linguagem musical, mas
acessível aos sentidos. Ao contrário da linguagem também o expresso por ambos os órgãos, a saber,
verbal, a linguagem musical instrumental não se o ausente (o pensamento, Gedanke) com o presente
condensa numa expressão só acessível ao órgão do (o sentimento ou sensação, Empfindung). Gedanke
entendimento; enquanto puro órgão do sentimento, é a imagem de algo real, mas ausente, que nos
esta exprime aquilo que a linguagem verbal deixou uma impressão retida na memória (Gedenken).
não pode exprimir, ou seja, aquilo que do ponto de O caminho do poeta (artista) afasta-se do da
vista intelectual se designa precisamente por filosofia em direcção à realização sensorial do
“inexprimível”. Esse inexprimível, sublinha Wagner, pensado; o pensamento nasce da sensação/
não o é em si mesmo, mas apenas sob o ponto de /sentimento e deve converter-se de novo em
vista intelectual. Aquilo que não podemos sensação/sentimento. A melodia do verso presentifica
absolutamente exprimir através de qualquer órgão ou o pensamento; a orquestra dá-nos, por seu turno, a
da utilização conjunta de todos os órgãos, mesmo que presentificação do conteúdo sentimental/sensorial do
o quiséssemos, é um absurdo, o nada; para Wagner, pensamento. A música, se não pode pensar, pode
Wagner, Siegfried: Acto III (Siegfried despedaça com a sua espada tudo aquilo que tem expressão é real. Wagner convida- realizar ideias, desde que plenamente condicionada
a lança de Wotan – e também o respectivo Leitmotiv). -nos, de resto, a considerar o “inexprimível” expresso pela intenção poética.17

15 16
Cf. Oper und Drama, pp. 309-20. Ver também o meu artigo “Arte, De notar que, na estética wagneriana, a expressão “dança” tende a
mito e revolução: o prólogo”, no programa de sala de Das Rheingold, abarcar por extensão o domínio da mímica e da acção cénica em geral.
TNSC, 2006.
17
Cf. Oper und Drama, pp. 329-42.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 133


Wagner nota ainda que a faculdade linguística da Os elementos ou factores melódicos (melodische
orquestra surge simultaneamente da sua ligação com Momente), em si mesmos adequados à manutenção
o gesto e da sua capacidade de relembrar ou antecipar do sentimento a um nível intenso e elevado, tornam-
a melodia do verso; quando o gesto repousa e o -se, graças à orquestra, como que em guias/
discurso melódico se silencia, a orquestra pode /indicadores do sentimento (Gefühlswegweiser) ao longo
ainda exprimir a premonição (Ahnung), que é o anúncio da estrutura global do drama. Entre premonição e
de um conteúdo ainda inexprimível, ou seja, ainda rememoração, situa-se a melodia do verso como
não “condicionado” pelo objecto correspondente. momento privilegiado de presença; quando esta
O dramaturgo, afirma Wagner, deve suscitar em nós predomina, a orquestra suporta simplesmente a
essa ânsia, para fazer de nós co-criadores da obra de melodia, na sua função de clarificação harmónica e
arte. Nenhuma outra linguagem é capaz de exprimir tonal. Os elementos melódicos decorrem dos “motivos
com tanta energia (de forma tão co-movente) um fundamentais” do drama (Grundmotive, ou, como
momento preparatório – uma expectativa – como a Wagner também escreve, “elementos plásticos de
linguagem “indeterminadamente determinante” da sentimento”, plastische Gefühlsmomente), na base da
música pura, a música instrumental. Os momentos forma musical. A técnica motívica wagneriana
em que a orquestra se deve exprimir autonomamente estabelece uma relação permanente entre o todo e a
são precisamente aqueles que não possibilitam ainda parte, fazendo com que esta se constitua
a completa absorção do pensamento verbal pelo necessariamente em função daquele, nos antípodas
sentimento musical: a “melodia orquestral” é de uma pretensa autonomia do momento cenico-
comentário – um pouco à maneira do coro na tragédia -musical: o “efeito sem causa” que Wagner não se
grega – sem deixar de ser expressão de afectos.18 cansa de fustigar na sua tomada de posição polémica
Resta-nos entender como se articulam entre si os contra a estética do grand opéra judaico-parisiense.
vários aspectos que concorrem para a expressão una Nesta unidade da expressão encontra-se, afinal, a
do drama – como uma forma una deve corresponder a resolução do problema ancestral da unidade de
uma substância, ou conteúdo (Gehalt), também unos. espaço e tempo no drama.19
O drama é a única obra de arte que não se resume ao
produto acabado, mas que nos faz participar no seu *
devir. O ponto de partida é aquele em que a intenção
poética se começa a separar da vida quotidiana; Até que ponto podemos considerar a prática
a expectativa voluntária do espectador é o limiar da criativa wagneriana concordante com a teoria exposta
obra de arte. O drama consiste numa cadeia orgânica em Ópera e drama e escritos circunstantes? O projecto
de situações assim geradas, mas é um corpo sempre revolucionário de uma genuína linguagem de palavra e
em formação; as formas não podem ser fixadas som (Worttonsprache) implicava uma conjunção de
arbitrariamente, ao contrário do que sucede, segundo requisitos simultaneamente técnicos e estéticos de
Wagner, na ópera tradicional. A forma artística unitária difícil realização, o que ajuda a compreender a longa
só é concebível enquanto manifestação de um hesitação – para não dizer a paralisia criativa – que
conteúdo unitário; a “vontade instintiva” da intenção caracteriza a pré-história da composição musical
Wagner, Oper und Drama.
artística é comunicar-se inteiramente ao sentimento. do Anel.20 A concepção de um drama musical assente

18 19
Cf., a este respeito, Carl Dahlhaus, Wagners Konzeption des Cf. Oper und Drama, pp. 343-63.
musikalischen Dramas (ed. orig. 1971), München: DTV/Kassel:
20
Bärenreiter, 1990, p. 26. Entre a conclusão da partitura de Lohengrin (28 de Abril de 1848)
e os primeiros esboços de Das Rheingold (1 de Novembro de 1853)
situa-se um período praticamente improdutivo na vida de Wagner, do
ponto de vista composicional.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 135


numa trama proliferante de “elementos melódicos”,
em número e variedade suficiente para prestar
justiça à extensão e complexidade do drama no seu
todo, e não apenas como meio intermitente (senão
trivial) de sinalização semântica, poderia torná-la
pouco compatível com as exigências de unidade
formal do discurso musical, e as marcas da luta do
criador com a sua obra manifestar-se-ão ao longo do
processo composicional da partitura. A solução
progressivamente elaborada por Wagner apresenta-se
como o resultado de uma adaptação idiossincrática
das técnicas de variação e desenvolvimento Vale a pena transcrever aqui o comentário de Carl
previamente naturalizadas sobretudo no domínio da Dahlhaus a este respeito:
música instrumental, relativamente às quais, para
além do modelo beethoveniano, os dispositivos da O motivo da natureza (1), símbolo musical do
“metamorfose temática” elaborados por Liszt à volta elementar, da origem das coisas, consiste em simples
de 1850 parecem ter desempenhado um papel articulações do acorde de mi bemol maior, que, no Prelúdio
catalisador fundamental. No seu Relatório epilogal do Ouro do Reno, se espraia numa sublime monotonia por
sobre a redacção do Anel (1871), Wagner evocava nos 136 compassos. O motivo de Erda (2), emblema musical
seguintes termos o problema composicional com que da divindade representante da terra-mãe, não é mais do
se debatera no início da década de 50: que uma variante no modo menor do motivo da natureza.
A diminuição rítmica do motivo de Erda, o motivo da
Com grande entusiasmo, e após uma interrupção de inquietude (3), simboliza o temor que se apossa de Wotan
cinco anos na minha produção musical, empreendi a na sequência do oráculo de Erda, anunciando o crepúsculo
realização da composição do meu poema na viragem do dos deuses; a diminuição, expressão da inquietação, surge
ano de 1853 para 1854. Com o Ouro do Reno inaugurei como elemento psicológico, a relação com o motivo de
o novo caminho, no qual se mostrou desde logo Erda, por sua vez, como elemento conceptual. Movimento
necessário encontrar os motivos plásticos da natureza ascensional significa evolução, movimento descendente,
(die plastischen Natur-Motive) destinados a constituir declínio: da inversão do motivo da natureza resulta o motivo
os veículos das tendências passionais da acção nas suas do crepúsculo dos deuses (4) [...]. O canto das filhas do
múltiplas ramificações, e das personagens nela se Reno (5), do qual o motivo do pássaro da floresta (6),
expressando, através de um desenvolvimento cada vez igualmente expressão musical de um ser natural, constitui
mais individualizado.21 uma variante rítmica, diferencia-se das simples articulações
do acorde inicial pelo facto de a primeira nota ser uma
O trabalho de invenção e elaboração dos “motivos apogiatura: sugestão de uma dissonância, de um desvio
Moritz von Schwind, Na floresta (Des Knaben Wunderhorn).
plásticos” que constituem a substância musical do característico relativamente à simplicidade do elementar.
Anel – dito de outro modo, a técnica da derivação A apogiatura dissonante, por seu turno, enfaticamente
“orgânica” de temas e motivos a partir de um núcleo prolongada e exposta como nona de um acorde, constitui o
primário de configurações melódicas e rítmicas – motivo do ouro do Reno (7). Uma variante do motivo do
pode ser evidenciada através da comparação entre ouro do Reno, cujo cromatismo implica obscurecimento, é
alguns dos temas mais imediatamente reconhecíveis o motivo da servidão (8a e b): expressão da opressão
de toda a Tetralogia: provocada pelo anel forjado a partir do ouro.22

21 22
“Epilogischer Bericht”, in Gesammelte Schriften und Dichtungen VI, Richard Wagners Musikdramen (ed. orig. 1971), Stuttgart: Reclam,
Leipzig: Fritzsch, 18882, p. 266. 1996, pp. 168-70.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 137


Deve acrescentar-se que é fundamentalmente combinação, entrosamento e sobreposição dos
enganador ver nos “motivos” wagnerianos o resultado motivos musicais são potencialmente infinitas,
da simples associação circunstancial entre uma produzindo planos de significação em permanente
determinada configuração musical (um motivo mobilidade (a “magia das conexões” de que falava
propriamente dito, um tema, mas também um Thomas Mann) e condicionando a articulação formal
intervalo, um ritmo, uma harmonia, um timbre) e uma da obra – sobretudo a partir de Siegfried e Tristão – de
personagem (um objecto, uma ideia), já que a maioria um modo inédito no contexto do repertório musico-
desses motivos são baseados em dispositivos -dramático da época.24 Mais do que índices exteriores
retorico-musicais com uma longa tradição na música de legibilidade do argumento, os motivos wagnerianos
ocidental – daí a sua eficácia expressiva mesmo para poderiam ser descritos como pontos de cruzamento
o ouvinte não especializado (ou para o espectador que e disseminação dos múltiplos dispositivos de
não folheou o seu programa a tempo). Muitos dos produção de sentido da obra, contribuindo desse
motivos do Anel possuem uma afinidade intrínseca modo para orientar o imaginário do espectador sem
com esquemas de movimento e da gestualidade, pelo necessariamente o submeter a um código simbólico
que a sua adequação ao drama se faz, em geral, da demasiado explícito na sua literalidade. Como lembra
forma mais intuitiva possível (para Wagner, a oportunamente Dahlhaus, “[n]ão é o dizível que
“intenção” não inteiramente realizada através constitui o objecto primário da expressão musical, mas
da obra de arte é sempre esteticamente irrelevante). sim o quase- ou semi-inconsciente, que não se deixa
Os motivos não podem, de resto, ser descritos como captar por palavras, ou apenas de forma alusiva e
uma simples “etiqueta” (contrariamente ao que, de inarticulada”.25 A simples apreensão desta ideia, bem
forma assumidamente maliciosa, Debussy, um como a percepção de que diferentes media possuem
wagneriano “renegado”, insinuava num texto célebre):23 diferentes modos de articulação do significado,
a sua função é mais a de ligar entre si o diverso do que deveria permitir evitar os contra-sensos recorrentes
a de sinalizar a permanência do idêntico. Habituados sobre o carácter “assemântico” da música, na base de
que estamos a abordar a temática wagneriana a todas as estéticas da pura imanência.26 O indizível da
partir de inventários e nomenclaturas tendentes à música resulta em princípio de um excesso, não de um
fetichização, arriscamo-nos a perder de vista que, defeito de sentido. E são precisamente essa
numa obra como a Tetralogia, a organização musico- polissemia e ambiguidade características do modo de
-dramatúrgica dos motivos “plásticos”, ligada – mas significação musical que contribuem para explicar o
não subordinada – às complexas intenções metafóricas fascínio exercido pela obra de Wagner sobre todo o
e conceptuais do texto, se processa essencialmente movimento de ideias do fim de século, com o seu culto
segundo o modelo da ramificação (e mesmo mais à da fluidez, da sugestão e da alusão oblíqua,
maneira do rizoma do que da árvore, para recorrer à particularmente permeável à contaminação pelas
distinção proposta por Gilles Deleuze). Além disso, as temáticas do sonho, do mistério e do êxtase, no
possibilidades de proliferação, transformação, âmago das poéticas decadentistas e simbolistas.27

Marko Letonja à frente da Orquestra Sinfónica Portuguesa


(ensaio de orquestra e cena de Siegfried)

23 26
“Impressions sur la Tétralogie à Londres” (Gil Blas, 1.6.1903), in Mesmo uma comentadora tão perspicaz como Carolyn Abbate parece
Monsieur Croche et autres écrits, Paris: Gallimard, 1987, pp. 180 e ss. pronta a incorrer no contra-senso ao declarar que o “significado poético”
24
não é imanente aos Leitmotive (Unsung Voices. Opera and Musical
A tendência para a plena continuidade do discurso orquestral e a Narrative in the Nineteenth Century, Princeton: Princeton University
densificação “sinfónica” das relações motívicas, relativamente ao estádio Press, 1991, p. 168), o que revela uma concepção metafísica
representado por Das Rheingold e Die Walküre, é perceptível desde o início (ou ingénua) da significação: o significado é sempre o resultado de uma
de Siegfried (num possível reflexo da técnica lisztiana do poema sinfónico, prática significante, não uma determinação inerente ao signo.
revelada a Wagner a partir de 1856), e não apenas no último acto, 27
composto após uma longa interrupção de cerca de doze anos, durante a Nas palavras do próprio Wagner, neste ponto muito próximo de
qual se situa a criação de Tristan und Isolde e Die Meistersinger von Schopenhauer, “através do tom lendário, o espírito é transportado de
Nürnberg (além da revisão de Tannhäuser para a Ópera de Paris). É um dos imediato àquele estado onírico a partir do qual lhe é possível atingir a
milagres da Tetralogia o facto de esse hiato temporal não se traduzir numa completa clarividência, tornando-se consciente de uma nova coerência
discrepância estilística profunda entre o II e o III actos de Siegfried. dos fenómenos do mundo, uma coerência que precisamente lhe escapa
aos olhos da consciência comum” (“‘Zukunftsmusik’” [“‘Música do
25
Wagners Konzeption des musikalischen Dramas, pp. 41-2. futuro’”, 1860], in Gesammelte Schriften und Dichtungen VII, p. 121).

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 139


Curiosamente, Wagner nunca assumiria como sua da obra é, enquanto resultante, e não como
a designação Leitmotiv (“motivo condutor”, por fundamento, indissociável da contextura musical, e os
analogia com “fio condutor”), optando na sua obra verdadeiros “motivos” do drama (nos vários sentidos
literária por expressões mais flutuantes e menos do termo) são os motivos musicais. A ideia surge
vinculativas. No ensaio “Sobre a aplicação da música reforçada nos escritos teóricos tardios: no texto de
ao drama” (1879), por exemplo, Wagner tece 1872, por exemplo, a música é expressamente
considerações sobre o imperativo de unidade da obra referida como “seio materno” do drama, o que vem
como justificação para a extensão da música ao apenas confirmar – através da dicotomia implícita
drama na sua totalidade, em oposição à arquitectura entre “vontade” (o “interior”) e “representação”
fragmentada da ópera tradicional; e acrescenta que (o “exterior”) – a orientação schopenhaueriana do
essa unidade só pode ser garantida através de uma Wagner da maturidade.30 Para Wagner, contudo, a
“teia de temas fundamentais” ([ein] Gewebe von função estruturante do Leitmotiv estava longe de se
Grundthemen) percorrendo a obra no seu conjunto, “os poder considerar perfeitamente assimilada no limiar
quais, tal como num andamento sinfónico, se dos anos 80, mesmo entre os seus prosélitos mais
defrontam, completam, refazem, separam e voltam a fiéis. É justamente num contexto crítico que o termo
ligar”, em estreita concordância com as exigências do ocorre – excepcionalmente – num escrito da sua
drama28 – ou, mais exactamente, constituindo eles autoria: “menciono apenas um dos meus mais jovens
próprios a verdadeira trama dramática, de acordo amigos”, escreve em 1879, referindo-se ao esforçado
com a noção, de ressonância schopenhaueriana, Hans von Wolzogen (1848-1938), autor do primeiro
segundo a qual o drama deveria ser entendido como guia temático semi-oficial do Anel,31 “que tratou de
materialização da música (“as acções da música forma minuciosa o aspecto característico daquilo a
tornadas visíveis”, como se pode ler num outro texto, que chamou Leitmotive, tendo em vista no entanto
já em 1872).29 Com efeito, pode dizer-se que as mais a sua significação e eficácia dramáticas do que
“acções da música” no drama wagneriano assumem [...] a respectiva utilização em termos da construção
um papel decisivo relativamente ao significado musical”.32 E não é, de facto, sem alguma comicidade
patente do diálogo entre personagens: a dramaturgia involuntária que nos surgem hoje os guias temáticos

28 31
Wagner e Cosima recebem Liszt e Hans von Wolzogen em Bayreuth. “Über die Anwendung der Musik auf das Drama”, in Späte Schriften zur Thematischer Leitfaden durch die Musik zu Rich. Wagners Festspiel Der
Pintura de W. Beckmann. Dramaturgie der Oper (ed. Egon Voss), Stuttgart: Reclam, 1996, p. 202. Ring des Nibelungen (“Fio condutor temático através da música para o
29
festival de Rich. Wagner O anel do nibelungo”), Leipzig: E. Schloemp,
“Über die Benennung ‘Musikdrama’”, op. cit., p. 306. Cf. Schopenhauer: 1876, além de outras publicações; é na série de artigos “Die Motive in
“[A música de uma ópera], composta com vista ao drama, é como que a Wagners ‘Götterdämmerung’” (“Os motivos no ‘Crepúsculo dos deuses’
alma deste, na medida em que, na sua ligação com os eventos, de Wagner”), Musikalisches Wochenblatt VIII (1877) que Wolzogen parece
personagens e palavras, se converte na expressão do significado íntimo e ter introduzido o termo Leitmotiv. Deve notar-se no entanto que o
da necessidade última e secreta de todos esses eventos, dele decorrentes” conceito fora já empregue por August Wilhelm Ambros na década de 60,
(Die Welt als Wille und Vorstellung II, Ergänzungen [ed. orig. 1844], em relação às técnicas desenvolvidas por Wagner até Lohengrin e por
Stuttgart/Frankfurt a. M.: Cotta-Insel, 1960, p. 576). Liszt na sua obra sinfónica (cf. Kulturhistorische Bilder aus dem
30 Musikleben der Gegenwart, Leipzig: H. Matthes, 18652, p. 142). A história
Op. cit., p. 305. Relativamente à proclamação liminar de Oper und
do termo parece passar em seguida pelo catálogo da obra de Weber por
Drama, segundo a qual o equívoco estético inerente ao género “ópera”
Friedrich Wilhelm Jähns (Carl Maria von Weber in seinen Werken, Berlin:
consistiria na confusão entre um meio de expressão (a música) e o
Schlesinger/R. Lienau, 1871, pp. 2 e passim), cuja intenção polémica,
respectivo fim (o drama) (p. 19), é notória nos escritos tardios uma
evidenciada desde a primeira página do texto na contraposição
deslocação de ênfase materializada na concepção da música como
Weber/Wagner, faz supor uma familiaridade com o conceito que
origem e matriz do drama. Deve sublinhar-se, contudo, que a noção
antecede largamente a sua vulgarização após a estreia do Anel. Por
wagneriana de drama não pode em caso algum ser circunscrita ao
outro lado, o repertório motívico wagneriano tinha sido já descrito
simples texto poético, devendo entender-se desde os primeiros escritos
detalhadamente, antes de Wolzogen, por Heinrich Porges e Gottlieb
na acepção holística de totalidade da representação – o que tende a
Federlein, embora sem recurso ao termo Leitmotiv.
relativizar a aparente discrepância entre as diferentes fases do discurso
wagneriano. Parece, de resto, ter escapado à maioria dos comentadores 32
“Über die Anwendung der Musik auf das Drama”, pp. 202-3.
que a ideia da música como “elemento materno” do drama ocorre já
explicitamente em Ópera e drama (p. 242), motivando aliás uma
surpreendente referência por parte de Wagner à figura de Édipo, nascido
de Jocasta e gerando com esta a “redentora” Antígona (p. 243, nota).

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 141


escrupulosamente elaborados pelos exegetas
bayreuthianos, reflexo de um tempo em que o carácter
ilustrativo e emblemático dos motivos musicais
individualmente considerados parecia esgotar os
modos de escuta do “perfeito wagneriano”. De época
para época, contudo, os pressupostos e as
implicações das técnicas musico-dramatúrgicas
desenvolvidas por Wagner são reconstruídos à luz de
prioridades conceptuais e estéticas em permanente
mutação, e por isso mesmo o alcance do termo
Leitmotiv parece destinado a flutuar ele próprio ao
sabor do processo de recepção da obra. Nesse
sentido, a questão potencialmente interessante
perante uma determinada configuração musical, hoje
em dia, não parece ser tanto “que Leitmotiv é este?”,
mas antes: de que forma (graças à famosa “arte da
transição” wagneriana) o mesmo se transforma –
sempre de novo – em outro?

Em privado, Wagner parece ter-se servido da


expressão Leitmotiv com alguma ironia. A diligente
Cosima regista nos seus Diários (31 de Janeiro de
1879) uma observação curiosa do mestre, na
sequência da audição de uma fuga de J. S. Bach.
Referindo-se ao trabalho temático da peça, Wagner
terá então comentado: “Desenvolvimento canónico...
Isso também se repete. Bem podem suportar a
repetição dos meus Leitmotive”.33

33
Cosima Wagner, Die Tagebücher (ed. Martin Gregor-Dellin/Dietrich
Mack) II, München: Piper, 1977, p. 300.

Stefan Vinke durante um ensaio de cena (Acto III)

142
Marko Letonja
Direcção musical

Nomeado Maestro Convidado Principal da Orquestra «Victoria» de Melbourne no início


da actual temporada, o esloveno Marko Letonja estudou na Academia de Música de
Liubliana e na Academia de Música e Artes Teatrais de Viena. Entre 1991 e 2003, foi
Director Musical da Orquestra Filarmónica da Eslovénia. Também dirigiu as Orquestras
Sinfónica de Viena, Filarmónica de Munique, Staatsorchester de Estugarda, Sinfónica
de Melbourne e de Monterey, e Sinfónica «Giuseppe Verdi» de Milão em digressão.
Efectuou uma digressão de concertos pela Nova Zelândia e Austrália, no Verão de
2007, à frente das Orquestras Filarmonia de Auckland, Orquestra «Victoria» e Sinfónica
de Melbourne. Seguiram-se concertos com as Orquestras da Deutsche Oper de Berlim,
dos teatros líricos de Catânia, de Montpellier e Estocolmo, Filarmonia de Auckland,
Filarmónica de Bremen e Sinfónicas de Hamburgo.
Entre 2003 e 2006 foi Director Musical e Maestro Titular da Orquestra Sinfónica da Ópera de Basileia. Dirigiu
produções de A Dama de Espadas no Grand Théâtre de Genebra, Roméo et Juliette na Ópera de Roma, Il dissoluto
assolto e Sancta Susanna no Scala de Milão, La Cenerentola na Opéra National de Montpellier, Rigoletto na West
Australian Opera em Perth, Madama Butterfly na Staatsoper de Berlim e Die Walküre na Ópera de Estrasburgo e
no São Carlos. Futuros compromissos incluem Götterdämmerung na Ópera de Estrasburgo, I pagliacci e Cavalleria
rusticana no Teatro Lirico em Cagliari, Carmen (versão de concerto) com a Orquestra da Rádio de Munique e O
Caso Makropulos no Scala de Milão.

Graham Vick
Encenação

Director Artístico da Birmingham Opera Company, apresenta os seus trabalhos nos


principais teatros líricos internacionais em colaboração com maestros, tais como Muti,
Levine, Haitink, Mehta, Conlon e Andrew Davis. Foi Director de Produções em
Glyndebourne (1994/2000), destacando-se as produções de Così fan tutte, Le nozze di
Figaro, Don Giovanni, Evgeni Onegin e Pélleas et Mélisande.
As suas mais recentes produções incluem Otello e Macbeth (Scala de Milão), Moses und
Aaron, Lady Macbeth de Mtsensk (Metropolitan Opera, Nova Iorque), A Dama de Espadas
(Lyric Opera de Chicago), Tannhäuser (S. Francisco), Peter Grimes (Opéra national de
Paris), Les Troyens (Munique e Florença), Rigoletto (Madrid), Tamerlano e Idomeneo
(Florença), Simon Boccanegra (Turim), Werther, Das Rheingold e Die Walküre (São Carlos),
Die Zauberflöte (Salzburgo e Moscovo), Mefistofele (Amesterdão), Oedipe (Cagliari) e, em
Birmingham, Fidelio (também gravado pela BBC TV), Candide, Il ritorno d’Ulisse in patria de Monteverdi, Don
Giovanni e La traviata. Futuros compromissos incluem Der Ring des Nibelungen no São Carlos, Tamerlano na Royal
Opera House–Covent Garden, e a trilogia Mozart/Da Ponte em S. Francisco.
Muitas das suas produções foram gravadas pela televisão e lançadas em DVD, destacando-se: A Dama de
Espadas, Evgeni Onegin, Ermione, Lulu, Manon Lescaut e Pelléas et Melisande (Glyndebourne); The Rape of Lucretia
(English National Opera); Otello (Scala); Mitridate re di ponto, de Mozart (Royal Opera House); e Guerra e Paz
(S. Petersburgo). Em 2002 foi objecto de um documentário realizado pelo South Bank Show sobre o trabalho
pioneiro que desenvolve com a Birmingham Opera Company para o crescimento de novos públicos ao mesmo
tempo que procura tornar a ópera socialmente inclusiva.
Foi-lhe atribuído o Prémio «Abbiati» por duas vezes e o Prémio «1999 South Bank Show Award for Opera».
Recebeu a distinção de «Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres» e é Professor Honorário de Música na
Graham Vick com Stefan Vinke e Chelsey Schill durante um ensaio de cena;
Universidade de Birmingham.
Marko Letonja com Johann Werner Prein durante uma pausa.

Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 145


Timothy O’Brien Stefan Vinke
Cenografia e figurinos tenor

Nascido na Índia, estudou nas Universidades de Cambridge e Yale. Foi Responsável de Após a sua estreia no papel de Tristan, em 2003, no Teatro de Mannheim (Alemanha),
Imagem da ABC Television entre 1956 e 1965 (Londres). Em 1966 foi artista associado afirmou-se como um dos mais notáveis tenores heróicos do nosso tempo.
da Royal Shakespeare Company. Em 1975 ganhou a Medalha de Ouro de Design na Nas últimas temporadas interpretou os papéis de Siegfried no Teatro La Fenice em
Quadrienal de Praga. Entre 1984 e 1991 ocupou o cargo de Chairman da Society of Veneza e na Ópera de Colónia, Bacchus no Grand Théâtre de Genebra e na Ópera de
British Theatre Designers. No início da sua carreira trabalhou em produções, Filadélfia, e Lohengrin na Ópera de Leipzig, na Staatsoper de Nuremberga e no Teatro
apresentadas em Londres, de peças de Ionesco, Pinter e Beckett. Ao longo dos anos de Mannheim. Em Leipzig também interpretou Tristan, Rienzi e Parsifal.
tem colaborado em produções da Royal Shakespeare Company, Royal Opera House – Na Ópera de Colónia, onde já se fez ouvir como Florestan, irá cantar Siegfried na
Covent Garden, English National Opera e National Theatre. apresentação integral do Festival Cénico wagneriano (Der Ring des Nibelungen) em
Também apresentou trabalhos na Comédie Française, Staatsoper de Berlim, 2010 e, no mesmo ano, levará a sua interpretação ao palco da Deutsche Oper de
Staatsoper de Viena, Kirov de Leninegrado, Scala de Milão e em cidades, tais como Berlim, assim como a Xangai no âmbito da Exposição Mundial. No final desse ano, vai
Nova Iorque, Amesterdão, Oslo, Gotemburgo, Adelaide, Sydney, Atenas, Génova e estrear-se na Opéra de la Bastille (Paris) no papel de Bacchus, numa nova produção de
Colónia. Em 1978 criou os cenários de Evita, em parceria com Tazeena Firth, cuja Ariadne of Naxos. Foi convidado a inaugurar a temporada de 2009 do Teatro La Fenice, com o papel de Paul, na
produção foi apresentada posteriormente em Nova Iorque e noutras cidades. Nas Temporadas de 2004, nova produção de Die tote Stadt, seguindo-se Tristan und Isolde na Ópera de Leipzig e, de novo, Siegfried
2005/06 e 2006/07 do Teatro Nacional de São Carlos assinou, respectivamente, a cenografia e os figurinos das (Götterdämmerung) no Teatro La Fenice.
novas produções de Werther, Das Rheingold e Die Walküre. Para além dos papéis de Tannhäuser, Siegmund, Max, Flüchtling e Erik, o seu repertório também inclui os de
Don José, Andrea Chénier, Canio e Hoffmann.

Giuseppe di Iorio Colin Judson


Desenho de luz tenor

Nascido em Itália, estudou na Guildhall School of Music and Drama (Londres). Após os estudos na Guildhall School of Music apresentou-se na Scottish Opera,
Colaborou com Graham Vick nas produções de Die Walküre (São Carlos), Idomeneo e La Festival de Glyndebourne, English Touring Opera, Glyndebourne Touring Opera, English
traviata (Birmingham Opera), Tamerlano (Madrid), Anna Bolena (Verona, Palermo), La National Opera e Royal Opera House–Covent Garden. No Festival de Glyndebourne
Bohème (Ópera Nacional da Grécia), Die Zauberflöte (Teatro Bolchoi), Orfeo ed Euridice cantou os papéis de Remendado (Carmen), Coryphee (Le Comte Ory), Gaston (La
(Festival de Ravenna) e La clemenza di Tito (Turim). traviata) e Andrew (The Last Supper) que repetiu na Staatsoper de Berlim. Para a
Recentemente, assinou o desenho de luz das seguintes produções: Otello no Festival de Scottish Opera interpretou Borsa (Rigoletto), Alfred (Die Fledermaus), L’incroyable
Salzburgo e em Roma, The Turn of the Screw na Nationale Reisopera (Holanda), e (Andrea Chénier) e, na última temporada, Jaquino (Fidelio).
Salome na Ópera de Malmö, sempre com Stephen Langridge; Carmen (cenografia e Integrou a Companhia da Ópera de Colónia onde interpretou vários papéis,
desenho de luz) em Saarbrücken, com encenação de Inga Levant; Faust na Opéra destacando-se Goro (Madama Butterfly), Pedrillo (Die Entführung aus dem Serail) e o
National de Bordeaux, com encenação de Jean-Philippe Clarac e Olivier Deloeuil; L’elisir muito aclamado pela crítica Truffaldino (L’Amour des trois oranges). Estreou-se na Royal
d’amore na Glyndebourne Opera, com encenação de Annabel Arden, com estreia Opera House–Covent Garden, na temporada passada, com a interpretação de Pang em
prevista em Houston para 2009;Tamerlano, The Knot Garden, Aïda, Samson et Dalila na Scottish Opera; Ascanio in Turandot. Futuros compromissos incluem a sua participação nas produções de Die Zauberflöte e Salome na
Alba, de Mozart, na Academia do Scala de Milão, Simon Boccanegra (Trieste), Romanza una favola (Ópera de English National Opera, A Midsummer Night’s Dream (Snout) no Teatro Real de Madrid, Carmen (Remendado) na
Roma), e Carmen numa digressão italiana com a Operaoggi, sempre com Franco Ripa di Meana; Manon e King Scottish Opera e Der Ring des Nibelungen (Mime) no Festival de Erl (Tirol) e na Opéra National du Rhin.
Priam, com encenação de Anthony McDonald, na Nationale Reisopera; Le nozze di Figaro na Opera North; The
Shops e Blond Eckbert, para The Opera Group, com encenação de John Fulljames, numa digressão que incluiu o
Festival de Bregenz. Da sua carreira destacam-se também Faust (Roma e Turim), com encenação de Hugo De Ana
e Aïda (Cagliari), com encenação de Stephen Medcalf. Para além do desenho de luz, assinou também a cenografia
de Il trovatore (Nuremberga), Macbeth (Münster), Otello (Kiel), com encenação de Inga Levant, e de Semele, com
encenação de John La Bouchardière, para a Scotish Opera. Esta última será apresentada no Milwaukee em 2009.

146 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 147


Samuel Youn Dieter Schweikart
baixo-barítono baixo

Estudou Canto em Seul, a sua cidade natal, prosseguindo posteriormente a sua «Kammersänger», lecciona Canto na Universidade de Música de Colónia e na
formação no Conservatório «Giuseppe Verdi» em Milão e no Conservatório de Colónia. respectiva sucursal em Aachen. Posteriormente aos seus estudos na Universidade de
Enquanto membro da companhia da Ópera de Colónia, desde a temporada de Música de Wuppertal, teve o primeiro contacto com o teatro lírico em Saarbrücken em
1999/2000, enriqueceu o seu repertório e adquiriu uma vasta experiência. Naquele 1964. Apresentou-se em inúmeros teatros líricos incluindo a Ópera de Düsseldorf. A
Teatro participou nas produções de Carmen (Escamillo), La forza del destino (Carlo di partir de 1981 apresentou-se em diversos papéis, destacando-se, Fafner em Der Ring
Vargas), L’Amour des trois oranges (Tchelio), Cavalleria rusticana e I pagliacci (Alfio e des Nibelungen de Wagner, no Festival de Bayreuth. O seu repertório inclui os papéis
Tonio), Der Freischütz (Kaspar), Billy Budd (Mr. Redburn), tendo interpretado os papéis de Sarastro, Rei Marke, Landgraf, Fiesco, Fafner e Daland, entre muitos outros.
wagnerianos de Gunther e Donner (Der Ring des Nibelungen) e Herrufer (Lohengrin). É regularmente convidado a actuar nos principais teatros líricos europeus,
Paralelamente ao seu compromisso com a Ópera de Colónia, é regularmente destacando-se as cidades de Roma, Viena, Bruxelas, Paris, Berlim e Hamburgo.
convidado pelos teatros líricos internacionais, tais como Capitole de Toulouse (O É membro da Companhia da Ópera de Colónia desde a temporada de 1988/89 onde
Mensageiro dos Espíritos em Die Frau ohne Schatten, em 2006; Lindorf/Coppélius/Dr. pode ser ouvido nos principais papéis dramáticos para a sua voz.
Miracle/Dapertutto em Les Contes d’Hoffmann, em Junho de 2008), Festival de Bayreuth (Tannhäuser e Parsifal,
em 2005 e 2008) e Deutsche Oper de Berlim (A Raposinha Matreira). Com a companhia da Opéra de Paris cantou
em A Raposinha Matreira no âmbito de uma digressão japonesa em Julho de 2008. Os seus futuros
compromissos incluem Jochanaan (Salome), Kurwenal em Colónia (Outono 2008) e Berlim (Deutsche Oper,
Junho 2009), e O Mensageiro dos Espíritos no Scala de Milão em 2012.

Johann Werner Prein Gabriele May


baixo-barítono contralto

Nascido na Áustria, estudou Canto na Accademia Musical de Graz (1984) depois de ter Em 2003 foi finalista do Concurso «Richard Wagner» em Bayreuth com a interpretação
cursado Psicologia, Pedagogia e Filosofia. Nesse ano estreou-se no Festival de dos papéis de Kundry e Fricka. Estreou-se na Opernhaus de Frankfurt em Hänsel und
Bayreuth em Das Rheingold (Donner). Prosseguiu a sua carreira em Viena (Staatsoper, Gretel (2001), seguindo-se os papéis de Mulher em Un re in Ascolto, de Berio (2002) e
«Festwochen») Graz, Festival de Salzburgo, Düssedorf, Barcelona, Bona e Leipzig. Em Mrs. Sedley (Peter Grimes), de Britten (2003).
1989 integrou a Staatsoper de Wiesbaden, onde interpretou todos os grandes papéis Cantou pela primeira vez o papel de Brangäne (Tristan und Isolde) no Teatro de
inclusive para «Heldenbariton» wagneriano. Cantou Hans Sachs (Die Meistersinger von Meiningen (2003) e, na temporada de 2004/05, interpretou o mesmo papel no Teatro
Nürnberg), König Heinrich (Lohengrin) Biterolf e Landgraf (Tannhäuser), Gurnemanz e de Mannheim, sob a direcção de Adam Fischer.
Amfortas (Parsifal), Wotan e Gunther (Tetralogia), e o papel protagonista de Der Na temporada de 2005/06 cantou Erda (Das Rheingold) na Staatsoper de Nuremberga,
fliegende Holländer na Staatsoper de Wiesbaden, dirigido por Dovico (2000/01). O seu para além dos papéis de Primeira Norna e Sigrune. Na interpretação destes papéis
repertório inclui Sarastro (Die Zauberflöte), Filippo (Don Carlos), Amonasro (Aïda) e participou na digressão daquele Teatro no âmbito da primeira apresentação asiática
Jochanaan (Salome). Cantou em Wozzeck (Médico) no Teatro Verdi de Trieste (1998), de Der Ring des Nibelungen.
papel que retomou no Teatro Comunale de Bolonha (nova produção, 2000) e em Roma, Estreou-se no São Carlos com o papel de Erda (Das Rheingold) em 2006. Na última
sob a direcção de Gatti. Em 2001/02 firmou contrato com as Staatsopers de Nuremberga e de Wiesbaden. Em temporada cantou o papel de Madame La Perouse na ópera Melusine, de Aribert Reimanns, na Staatsoper de
2004 cantou na estreia mundial de Wolkenstein (W. Hiller) na Staatsoper de Nuremberga, uma co-produção com Nuremberga, e a sua primeira Erda em Siegfried, de Wagner.
o Teatro Nuovo de Bolzano. Nesse ano foi aclamado na interpretação de Simone (Eine florentinische Tragödie, nova
produção do Teatro São Carlos) e num recital dedicado a W. Rihm no CCB (co-apresentação com o São Carlos).
Em 2004/05 cantou Kurwenal (Der fliegende Holländer) em Halle, com encenação de René Kollo e direcção musical
de Klaus Weise, seguindo-se novos êxitos nos papéis de Thoas (Iphigénie en Tauride, Gluck) em Nuremberga, e de
Alberich (Das Rheingold) no Teatro São Carlos. Em concerto interpreta missas, oratória, Lieder e música
contemporânea. Gravou obras de Schubert. Na temporada de 2006/07 cantou a Nona Sinfonia (Beethoven) no
Porto e em Lisboa, e interpretou o papel de Médico (Wozzeck) numa produção do São Carlos. Seguiram-se Faninal
(Der Rosenkavalier) no Teatro Politeama Greco de Lecce, em co-produção com o Teatro Vorpommern
(Stralsund/Greifswald), sob a direcção de Husmann, e Simone (Eine florentinische Tragödie) numa nova produção
em Lyon e em Tenerife. Inaugurou a temporada de 2008 de Lecce com Samson et Dalila (Grande Sacerdote).

148 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 149


Susan Bullock Chelsey Schill
soprano soprano

Considerada uma das principais sopranos dramáticos tem-se destacado, em De origem canadiana, diplomou-se em Canto pela Universidade de Wilfrid Laurier.
temporadas recentes, na interpretação de Brünnhilde no New National Theatre de Prosseguiu estudos na Hochschule für Musik em Colónia com Monica Pick-Hieronimi.
Tóquio, com a Canadian Opera Company e no La Fenice de Veneza. Cantou o papel de Nos palcos dos teatros na Alemanha, cantou por diversas ocasiões o papel de Rainha
Isolde em Londres, Frankfurt, Verona, Leeds e Rouen. da Noite em Die Zauberflöte, papel que fez resplandecer com a sua coloratura.
De todos os papéis do seu repertório, foi com o de Elektra (R. Strauss) que obteve os Outros papéis incluíram Tytania em A Midsummer Night’s Dream (Britten), La Princesse
maiores êxitos nos teatros líricos internacionais, proporcionando-lhe também em La forêt bleue (Aubert), Phédra em L’abandon d’Ariane (Milhaud) e Nerone em
colaborações com maestros tais como Bychkov, Ozawa e De Waart, e as estreias no Agrippina (Handel).
Scala, Dresden, Estugarda e Hong-Kong. Em Dezembro de 2006 criou o papel de Despina na estreia mundial da ópera
Na actual temporada estreia-se na National Opera de Washington e no Maggio Fintenzauber de Camille Kerger e foi convidada a participar na reposição do mesmo
Musicale Fiorentino (Elektra), na Opéra de Lyon (Siegfried) e com a Orquestra Sinfónica papel no Luxemburgo. É frequentemente convidada a apresentar-se em recital na
da Rádio Húngara, sob a direcção de Adam Fisher (Der Ring des Nibelungen). Futuros cidade de Colónia, em particular para a interpretação de música contemporânea.
compromissos incluem o regresso ao Covent Garden (Elektra) e a estreia na Opera A jovem soprano conta no seu repertório com obras de oratória, incluindo Carmina Burana (Orff), Messiah
Australia (Lady Macbeth de Mtsensk) e no Gran Teatro del Liceu em Barcelona (Parsifal). (Handel) e Gloria (Vivaldi). A sua estreia no Concerto de Gala de 19 de Outubro de 2007 deu início a uma série
Interpretações recentes incluíram Marie (Wozzeck) no Covent Garden sob a direcção de Daniel Harding, Lady de participações nas Temporadas Líricas e Sinfónicas do Teatro Nacional de São Carlos.
Macbeth (Macbeth de Bloch) em Viena, Der Schatzgräber de Schreker com a Opernhaus de Frankfurt, Ellen Orford
(Peter Grimes) para a English National Opera e Ópera Real Dinamarquesa, e Brünnhilde (Die Walküre) na nova
produção do São Carlos.
A sua actividade em concerto é vasta e diversificada, destacando-se a sua estreia com a Orquestra Filarmónica
de Viena, dirigida por Mark Elder (Hänsel und Gretel); Erwartung de Schönberg com a BBC Symphony Orchestra
dirigida por David Robertson; o Prelúdio e Liebestod, da ópera Tristan und Isolde, com direcção de Esa-Pekka
Salonen à frente da Philharmonia; e com Zubin Mehta e a Orquestra da Staatsoper da Baviera.

Kirsi Tiihonen
soprano

Depois de ter vencido os principais concursos internacionais de Canto, tornou-se numa


das mais interessantes sopranos dramáticos da Europa. Iniciou a sua carreira na Ópera
Nacional Finlandesa, onde cantou, entre outros papéis, Elisabetta (Don Carlos), Donna
Anna (Don Giovanni), Leonore (Fidelio) e Desdemona (Otello). Durante os anos que se
seguiram, enriqueceu o seu repertório com os principais papéis wagnerianos e
straussianos, com grande êxito, destacando-se os de Elisabeth e Venus (Tannhäuser),
Sieglinde (Die Walküre), Gutrune (Götterdämmerung), Isolde (Tristan und Isolde), Ariadne
(Ariadne auf Naxos) e A Mulher do Tintureiro (Die Frau ohne Schatten). Cantou nas
cidades de Copenhaga, Gotemburgo, Tampere, Berlim, Leipzig, Halle, Essen, Hong-
-Kong, Praga, Milão, Bruxelas, Amesterdão, Lyon e Madrid. O seu repertório verdiano
inclui os papéis de Aïda, Leonora (Il trovatore) e Amelia (Un ballo in maschera). Na
temporada passada interpretou Leonore (Fidelio), de Beethoven, em Essen, Palm
Beach e Berlim. Na Primavera de 2008 cantou, pela primeira vez, Agathe (Der Freischütz) em Helsínquia, que
repetirá no Outono de 2009, seguindo-se Brünnhilde (Siegfried) em Essen. Outros compromissos incluem os
papéis de Senta em Basileia e Elisabeth em Santiago do Chile.
Paralelamente, desenvolve uma intensa carreira concertística apresentando-se nas principais salas de concerto
da Europa dirigida por notáveis maestros, tais como Ingo Metzmacher, Osmo Vänskä, Mark Wigglesworth, Paavo
Berglund, Jukka-Pekka Saraste, Jeffrey Tate, e Kazushi Ono, entre outros. A sua discografia inclui registos de
canções e óperas finlandesas para as etiquetas Naxos, Ondine e Bis.

150 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 151


Teatro Nacional de São Carlos Director Artístico do TNSC Cantores Residentes Violas
Christoph Dammann Chelsey Schill Pedro Saglimbeni Muñoz (Coordenador de Naipe)
Conselho de Administração do OPART E.P.E. Leandro Fischetti Céciliu Isfan (Coordenador de Naipe Adjunto)
Musa Nkuna
Presidente Maestro Titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa Galina Savova (Coordenador de Naipe Assistente)
Julia Jones Richard Bauer
Pedro Santos Moreira Cécile Pays (Coordenador de Naipe Assistente)
Etelka Dudas
Vogais Maestro Convidado do Coro Isabel Teixeira da Silva
Carlos Vargas do Teatro Nacional de São Carlos Orquestra Sinfónica Portuguesa
Henrique Ferreira Anton Tremmel Joaquim Lima
Maria Cecília Neves
I Violinos
Maria Lurdes Gomes
Director Técnico Xuan Du (Concertino Principal)
Francisco Vicente Massimo Mazzeo
Alexander Stewart (Concertino)
Rogério Gomes
Pavel Arefiev (Concertino)
Ruth Forbes
Director de Espectáculos Leonid Bykov (Concertino Assistente)
Nuno Pólvora Sandra Moura
Veliana Hristova (Concertino Assistente)
Ventzislav Grigorov
Alexander Mladenov
Directora de Espectáculos Adjunta Vladimir Demirev
Anabela Guerreiro
Alda Giesta
António Figueiredo
Asmik Bartikian
Director de Marketing Violoncelos
Mário Gaspar Ewa Michalska
Irene Lima (Coordenador de Naipe)
Iskrena Yordonova
Hilary Alper (Coordenador de Naipe Adjunto)
Jorge Gonçalves
Directora Financeira e Administrativa Kenneth Frazer (Coordenador de Naipe Adjunto)
Sónia Teixeira Laurentiu Ivan Coca
Aida Zupancic (Coordenador de Naipe Assistente)
Luís Santos
Alberto Campos (Coordenador de Naipe Assistente)
Margareta Sandros
Directora de Recursos Humanos Diana Savova
Sofia Dias Marjolein de Sterke
Emídio Coutinho
Natalia Roubtsova
Gueorgui Dimitrov
Nicholas Cooke
Luís Clode
Pedro Teixeira da Silva
Margarida Matias
Regina Stewart
Maria Lurdes Santos

II Violinos
Jan Schabowski (Coordenador de Naipe)
Contrabaixos
Klara Erdei (Coordenador de Naipe Adjunto)
Pedro Wallenstein (Coordenador de Naipe)
Rui Guerreiro (Coordenador de Naipe Adjunto)
Petio Kalomenski (Coordenador de Naipe)
Mário Anguelov (Coordenador de Naipe Assistente)
Adriano Aguiar (Coordenador de Naipe Adjunto)
Nariné Dellalian (Coordenador de Naipe Assistente)
Duncan Fox (Coordenador de Naipe Adjunto)
Aurora Voronova
Anita Hinkova (Coordenador de Naipe Assistente)
Carmélia Silva
João Diogo
Inna Reshetnikova
José Mira
Isabel Barão
Manuel Póvoa
Kamélia Dimitrova
Svetlin Chiskov
Katarina Majewska
Maria Filomena Sousa
Maria Lurdes Miranda
Slavomir Sadlowski
Sónia Carvalho
Tatiana Gaivoronskaia
Witold Dziuba

152 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 153


Flautas Trompetes Coro do Teatro Nacional de São Carlos Tenores
Katharine Rawdon (Coordenador de Naipe) Jorge Almeida (Coordenador de Naipe) Alberto Lobo da Silva
Nuno Ivo Cruz (Solista A) António Quítalo (Solista A) Sopranos Alcino Vaz
Anthony Pringsheim (Solista B) Latchezar Goulev (Solista B) Ana Cosme Álvaro de Campos
Anabela Malarranha (Solista B) Pedro Monteiro (Solista B) Ana Luísa Assunção Aníbal Real
Rui Marques* António Santos* Ana Rita Cunha Arménio Afonso Granjo
Angélica Neto Carlos Pocinho
Ana Maria Serro Carlos Silva
Oboés Trombones Filipa Lopes Diocleciano Pereira
Hristo Kasmetski (Coordenador de Naipe) Hugo Assunção (Coordenador de Naipe) Glória Saraiva Fernando Carvalho
Ricardo Lopes (Solista A) Jarrett Butler (Solista A) Isabel Biu Francisco Lobão
Elizabeth Kicks (Solista B) Fernando Faria (Solista B) Isabel Silva Pereira João Miguel Queirós
Luís Marques (Solista B) Vítor Faria (Solista B) Luísa Brandão João Miguel Rodrigues
Laura Marcos (Solista B) Alexandre Vilela* Maria do Anjo Albuquerque Luís Castanheira
Luís Alves* Andrew Lester* Rita Paiva Raposo Mário Silva
Luís Vieira* Sandra Lourenço Miguel Calado
Sónia Alcobaça Nuno Cardoso
Tuba Teresa Gomes Vítor Carvalho
Clarinetes Ilídio Massacote (Solista A)
Francisco Ribeiro (Coordenador de Naipe)
Joaquim Ribeiro (Solista A) Meio-sopranos Barítonos e baixos
Felício Figueiredo (Solista B) Tímpanos e Percussão Ana Cristina Carqueijeiro Aleksandr Jerebtsov
Jorge Trindade (Solista B) Elizabeth Davis (Coordenador de Naipe) Ana Margarida Serôdio António Louzeiro
Richard Buckley (Solista A) Ana Maria Neto Carlos Homem
Lídio Correia Ângela Roque Carlos Pedro Santos
Fagotes Pedro Araújo e Silva Cândida Simplício Ciro Telmo
David Harrison (Coordenador de Naipe) Isabel Assis Pacheco Costa Campos
Carolino Carreira (Solista A) Laryssa Savchenko Daniel Paixão
João Rolo Brito (Solista B) Harpa Luísa Lucena David Ruella
Piotr Pajak (Solista B) Carmen Cardeal (Solista A) Luísa Tavares Eduardo Viana
Andréia Marques* Maria Antónia Andrade Frederico Santiago
Anne Marie Camilleri* Maria da Conceição Martinho João Miranda
Trompas Lisetta Rossi* Natália Brito João Rosa
António Nogueira (Coordenador de Naipe) Neide Gil Joel Costa
Laurent Rossi (Solista A) Susana Moody Jorge Rodrigues
Paulo Guerreiro (Solista A) Mário Pegado
António Rodrigues (Solista B) Osvaldo Sousa
Carlos Rosado (Solista B) Simeon Dimitrov
Tracy Nabais (Solista B)
Bruno Hiron*
Kodo Yamagishi (pianista acompanhador)
Dário Ribeiro*
* Reforços

154 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 155


Gabinete de Estudos Musicais e Dramaturgia Sector das Costureiras Projectos Especiais Gabinete de Gestão do Património
Director de Estudos Musicais e Director Musical de Cena Zita Pires (Chefe do Sector) Maria Gil Nuno Cassiano (Coordenador)
João Paulo Santos (Coordenador) Maria de Lurdes Landeiro António Silva
Anabela Vicente Comunicação
Maestro Correpetidor Ana Paula Simaria* Maria João Franco
Nuno Lopes Maria José Santos* Gabinete de Sistemas de Informação
Mirian Mendonça* Bilheteira
Pedro Penedo (Coordenador)
Luísa Lourenço César Silva (Estagiário)
Direcção Técnica Rita Martins
Direcção de Espectáculos
Director Técnico
Francisco Vicente (Director) Nuno Pólvora (Director) Gabinete Jurídico
Joana Camacho* Alessandra Toffolutti (Coordenação de Programação) Direcção Financeira e Administrativa Fernanda Rodrigues (Coordenadora)
Maria Luisa Carles (Assessora) Sónia Teixeira (Directora) Juliana Mimoso*
Director de Cena Teresa Serradas Duarte (Secretária) João Pereira (Técnico Oficial de Contas)
Bernardo Azevedo Gomes Ana Maria Peixeiro
Gabinete de Gestão da Produção
António Pinheiro Secretárias do Conselho de Administração
Adjunta da Direcção de Cena Alda Giesta (Coordenadora do Gabinete e Directora Adjunta)
Fátima Ramos Regina Sutre
Paula Meneses Fátima Machado
Filomena Barros Rui Amado Gabriela Metello
Sector de Maquinistas Lucília Varela Susana Moura (Estagiária)
José Silvério (Chefe do Sector) Tiago Fonseca* Albano Pais (Tesoureiro)
Graciano Lopes (Maquinista Chefe)
Augusto Baptista Gabinete de Gestão do Coro e Orquestra Expediente e Arquivo
Carlos Pires Margarida Clode (Coordenadora) Susana Santos
Carlos Reis Patrícia Ribeiro Miguel Vilhena
Daniel Anselmo Beatriz Loureiro Rui Ivo Cruz
Fernando Correia Celeste Patarra Sandra Correia
Jacinto Matias Jerónimo Fonseca
João Soares Margarida Cruz Limpeza e Economato
Joaquim Cândido Costa Nuno Guimarães Lurdes Mesquita
José António Feio Maria Conceição Pereira
José Luís Reis Gabinete de Pesquisa e Documentação Musical Maria de Lurdes Branco
Luís Filipe Alves Paula Coelho da Silva (Coordenadora) Maria do Céu Gonçalves
Manuel Friães da Silva Agostinho Sorrilha Maria Teresa Gonçalves
Nilo Lopes José Carlos Costa
Maria Isabel Sousa*
Maria de Lurdes Moura*
Sector de Electricistas
Pedro Martins (Chefe do Sector) Direcção de Marketing
Serafim Baptista (Electricista Principal) Mário Gaspar (Director)
Carlos Vaz Direcção de Recursos Humanos
Paula Vilafanha (Coordenadora do Gabinete de Imagem,
Carlos Santos Comunicação, e Publicações) Sofia Dias (Directora)
José Diogo Anabela Tavares (Assistente) Lurdes Almeida
Paulo Godinho Edna Narciso (Estagiária) Manuel Alves
Victor Silva Venâncio Gomes (Estagiário) Marisa Leitão
Sofia Teopisto (Estagiária)
Sector do Som e Vídeo Relações Públicas Vânia Guerreiro (Estagiária)
Miguel Pessanha (Chefe do Sector) Ana Fonseca Zulmira Mendes (Estagiária)
Luís Santos * Prestadores de Serviço
Design
Contra-regra Ana Rego
João Lopes (Chefe do Sector)
Arnaldo Ferreira Desenvolvimento Comercial
Herlander Valente Bruno Silva
Nota: A ficha técnica encontra-se actualizada
Aderecistas Novos Canais a 19 de Setembro de 2008.
António Lameiro João Mendonça
José Luís Barata

156 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 157


Teatro Nacional de São Carlos
Informações úteis

Bilhetes
O Teatro reserva-se o direito de alterar a sua programação
em casos de força maior. A alteração substancial da sua
programação constitui causa única para efeitos de
reembolso de bilhetes adquiridos. Espectáculos para
maiores de seis anos.

Reserva e aquisição de bilhetes


ÓPERA AO LARGO As reservas podem ser efectuadas pelo telefone e/ou fax
da bilheteira, as quais serão garantidas por 48 horas após
Ópera em grande ecrã – Largo de São Carlos a reserva. Só serão aceites reservas até 48h antes do dia
do espectáculo. Tel. 213 253 045/6 | Fax 213 253 047

Horário das bilheteiras


Projecções Dias úteis – das 13:00h às 19:00h; Dias de espectáculo –
das 13:00h até trinta minutos após o início do espectáculo.
Duas horas antes do início do mesmo apenas poderão ser
9 Outubro 13h00 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) adquiridos bilhetes para o próprio dia.

Descontos – válidos para os bilhetes avulso


17h30 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) Jovens até 25 Anos e Maiores de 65 Anos – 35% de
desconto, sem limite temporal, para a plateia,
18h30 – Siegfried Transmissão em directo frisas grandes e camarotes de 1.ª e 2.ª Ordem.

Entidades Colectivas – 30% de desconto na aquisição


de, no mínimo, 15 bilhetes por espectáculo.

10 Outubro 13h00 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) Bilhetes de «Última Hora» – Duas horas antes de cada
espectáculo de ópera, os bilhetes disponíveis serão
17h30 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) colocados à venda ao preço de 20C para a plateia, frisas
e camarotes grandes de 1.ª e 2.ª Ordem grandes. Os
restantes lugares da sala poderão ser adquiridos a 15C.
18h30 – Die Walküre (produção TNSC 2007) Duas horas antes de cada concerto, os bilhetes
disponíveis serão colocados à venda ao preço de 10C.

Formas de pagamento
11 Outubro 15h00 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) Numerário, Cheque, Multibanco e Visa.

Legendas
16h00 – Das Rheingold (produção TNSC 2006) No caso de apresentação de óperas em língua estrangeira
o Teatro garante um sistema de legendagem em português.

Pontualidade
Depois do início do espectáculo não é permitido o acesso
12 Outubro 15h00 – Making of Das Rheingold (documentário RTP) à sala até que tenha lugar o primeiro intervalo, durante
o qual os espectadores serão conduzidos aos seus lugares
18h30 – Siegfried Transmissão em directo pelos assistentes de sala.

Gravações e fotografias
Não é permitida a utilização de qualquer tipo de
gravadores ou máquinas fotográficas no interior do Teatro.

Bengaleiro
O Teatro conta com um serviço de bengaleiro situado
dos dois lados exteriores da plateia.

Aparelhos sonoros
Agradecemos que sejam desligados telemóveis e relógios
electrónicos no interior da sala de espectáculos.

Cafetarias
Para além da cafetaria no Foyer, o Teatro conta com
um serviço de esplanada no Largo de São Carlos. Teatro Nacional de São Carlos
Rua Serpa Pinto, n.º 9 – 1200-442 Lisboa
Transportes Tel. 213 253 000 – Fax 213 253 083
Autocarros: 58, 100, 204* (*só serviço nocturno)
Eléctrico: 28; Metro: Baixa-Chiado Consulte a programação em www.saocarlos.pt

158 Siegfried _ Der Ring des Nibelungen 159

S-ar putea să vă placă și